2. A TERCEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
duas linhas gerais
LIRISMO
SOCIAL
LIRISMO
AMOROSO
liberalismo
sensualismo
defesa
de
ideais
libertários
e
humanitários
envolvimento
amoroso
e
proximidade
da
amada
engajamento
em
causas
sociais
realização
eró<ca
3. A TERCEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO
características
envolvimento emocional do locutor;
poesia social;
poesia revolucionária [defesa da república];
carga emocional profunda [uso de exclamações e reticências];
poesia associada ao discurso e à oralidade [oratória];
sensualismo [o amor e a mulher são menos idealizados].
4. EIXOS TEMÁTICOS
a poesia de Castro Alves
a poesia social
engajamento
na
defesa
de
ideais
libertários
[no
caso
de
Espumas
flutuantes,
a
República]
lirismo amoroso
a
mulher
é
de
carne
e
osso
e
a
realização
eró<ca
plena
é
possível
[sensualismo]
amor e morte
em
alguns
poemas,
aparecem
traços
byronianos
[desejo
de
morrer]
a natureza
o
locutor
exalta
os
espaços
naturais
concepções poéticas
associa-‐se
a
imagem
do
poeta
à
do
condenado,
à
do
proscrito
e
à
do
maldito
6. O LIVRO E A AMÉRICA
Castro Alves
Talhado
para
as
grandezas,
Molhado
inda
do
dilúvio,
Pra
crescer,
criar,
subir,
Qual
Tritão
descomunal,
O
Novo
Mundo
nos
músculos
O
con<nente
desperta
Sente
a
seiva
do
porvir.
No
concerto
universal.
—
Estatuário
de
colossos
—
Dos
oceanos
em
tropa
Cansado
doutros
esboços
Um
—
traz-‐lhe
as
artes
da
Europa,
Disse
um
dia
Jeová:
Outro
—
as
bagas
de
Ceilão...
"Vai,
Colombo,
abre
a
cor<na
E
os
Andes
petrificados,
"Da
minha
eterna
oficina...
Como
braços
levantados,
"Tira
a
América
de
lá".
Lhe
apontam
para
a
amplidão.
Olhando
em
torno
então
brada:
"Tudo
marcha!...
Ó
grande
Deus!
As
cataratas
—
pra
terra,
As
estrelas
—
para
os
céus
Lá,
do
polo
sobre
as
plagas,
O
seu
rebanho
de
vagas
Vai
o
mar
apascentar...
Eu
quero
marchar
com
os
ventos,
Com
os
mundos...
co'os
firmamentos!!!"
E
Deus
responde
—
"Marchar!“
[...]
7. O LIVRO E A AMÉRICA
Castro Alves
Por
uma
fatalidade
Por
isso
na
impaciência
Dessas
que
descem
de
além,
Desta
sede
de
saber,
O
sec’lo,
que
viu
Colombo,
Como
as
aves
do
deserto
Viu
Gubenberg
também.
As
almas
buscam
beber...
Quando
no
tosco
estaleiro
Oh!
Bendito
o
que
semeia
Da
Alemanha
o
velho
obreiro
Livros...
livros
à
mão
cheia...
A
ave
da
imprensa
gerou...
E
manda
o
povo
pensar!
O
Genovês
salta
os
mares...
O
livro
caindo
n'alma
Busca
um
ninho
entre
os
palmares
É
germe
—
que
faz
a
palma,
E
a
pátria
da
imprensa
achou...
É
chuva
—
que
faz
o
mar.
Vós,
que
o
templo
das
ideias
Largo
—
abris
às
mul<dões,
Pra
o
ba<smo
luminoso
Das
grandes
revoluções,
Agora
que
o
trem
de
ferro
Acorda
o
<gre
no
cerro
E
espanta
os
caboclos
nus,
Fazei
desse
"rei
dos
ventos"
—
Ginete
dos
pensamentos,
—
Arauto
da
grande
luz!
[...]
8. O LIVRO E A AMÉRICA
Castro Alves
aspectos formais
décimas
rimas
pobres
heptassílabos
metáfora:
livro
paralelismos
imagens
grandiosas
personificação
anhtese
narração
argumentação
aspectos temáticos
defesa
da
instrução
[metaforizada
no
livro]
como
motor
do
progresso;
preferências
por
imagens
<tânicas:
mitologia
[segunda
estrofe]:
incompa<bilidade
entre
natureza
e
modernidade
[trem
x
<gre
no
cerro/caboclos
nus]
o
encantamento
pelo
progresso
supera
o
amor
à
natureza
9. ODE AO DOIS DE JULHO
Castro Alves
Era
no
Dous
de
Julho.
A
pugna
imensa
Travara-‐se
nos
cerros
da
Bahia...
O
anjo
da
morte
pálido
cosia
Uma
vasta
mortalha
em
Pirajá.
ASPECTOS
FORMAIS
"Neste
lençol
tão
largo,
tão
extenso,
oitavas
com
versos
decassílabos
"Como
um
pedaço
roto
do
infinito
...
O
mundo
perguntava
erguendo
um
grito:
poema
épico,
<tanismo,
metáforas,
hipérboles
"Qual
dos
gigantes
morto
rolará?!...
grande
volume
de
paralelismos
[tom
oratório]
Debruçados
do
céu...
a
noite
e
os
astros
ASPECTOS
TEMÁTICOS
Seguiam
da
peleja
o
incerto
fado...
celebração
da
Independência
da
Bahia
Era
tocha
–
o
fuzil
avermelhado!
Era
o
Circo
de
Roma
–
o
vasto
chão!
luta
em
defesa
da
Independência
do
Brasil
Por
palmas
–
o
troar
da
ar<lharia!
apresentação
do
cenário
onde
ocorrerá
a
luta
Por
feras
–
os
canhões
negros
rugiam!
Por
atletas
–
dous
povos
se
ba<am!
Enorme
anfiteatro
–
era
a
amplidão!
10. ODE AO DOIS DE JULHO
Castro Alves
Não!
Não
eram
dous
povos
os
que
abalavam
Naquele
instante
o
solo
ensanguentado...
Era
o
porvir
–
em
frente
do
passado,
A
liberdade
–
em
frente
à
escravidão.
ASPECTOS
FORMAIS
Era
a
luta
das
águias
–
e
do
abutre,
oitavas
com
versos
decassílabos
A
revolta
do
pulso
–
contra
os
ferros,
O
pugilato
da
razão
–
com
os
erros,
anhteses,
paralelismos,
hipérboles
O
duelo
da
treva
–
e
do
clarão!...
as
figuras
visam
a
tornar
ní<das
as
imagens
poé<cas
No
entanto
a
luta
recrescia
indômita
ASPECTOS
TEMÁTICOS
As
bandeiras
–
corno
águias
eriçadas
-‐
construção
de
uma
mitologia
brasileira
"Se
abismavam
com
as
asas
desdobradas
Na
selva
escura
da
fumaça
atroz...
defesa
de
ideais
libertários
Tonto
de
espanto,
cego
de
metralha
as
lutas
são
apresentadas
de
forma
grandiosa
O
arcanjo
do
triunfo
vacilava...
E
a
glória
desgrenhada
acalentava
O
cadáver
sangrento
dos
heróis!
11. ODE AO DOIS DE JULHO
Castro Alves
Mas
quando
a
branca
estrela
matu<na
Surgiu
do
espaço
e
as
brisas
forasteiras
No
verde
leque
das
gen<s
palmeiras
Foram
cantar
os
hinos
do
arrebol,
ASPECTOS
FORMAIS
Lá
do
campo
deserto
da
batalha
Uma
voz
se
elevou
clara
e
divina.
oitavas
com
versos
decassílabos
Eras
tu
-‐
liberdade
peregrina!
metáforas,
paralelismos,
imagens
grandiosas
Esposa
do
porvir
–
noiva
do
Sol!...
tom
oratório
e
imagens
ní<das
Eras
tu
que,
com
os
dedos
ensopados
No
sangue
dos
avós
mortos
na
guerra,
ASPECTOS
TEMÁTICOS
Livre
sagravas
a
Colúmbia
terra,
apresentação
do
final
do
combate
Sagravas
livre
a
nova
geração!
celebração
da
liberdade
Tu
que
erguias,
subida
na
pirâmide
Formada
pelos
mortos
do
Cabrito,
Um
pedaço
de
gládio
–
no
infinito...
Um
trapo
de
bandeira
–
n'amplidão!...
12. NAVIO NEGREIRO, parte I
Castro Alves
'Stamos
em
pleno
mar...
Doudo
no
espaço
Brinca
o
luar
—
dourada
borboleta;
E
as
vagas
após
ele
correm...
cansam
Como
turba
de
infantes
inquieta.
ASPECTOS
FORMAIS
'Stamos
em
pleno
mar...
Do
firmamento
onze
quartetos
decassílabos
Os
astros
saltam
como
espumas
de
ouro...
O
mar
em
troca
acende
as
arden<as,
sequências
descri<vas
e
narra<vas
—
Constelações
do
líquido
tesouro...
metáforas,
comparações
e
anhteses
'Stamos
em
pleno
mar...
Dois
infinitos
ASPECTOS
TEMÁTICOS
Ali
se
estreitam
num
abraço
insano,
Azuis,
dourados,
plácidos,
sublimes...
tomada
aérea
[locutor:
águia
do
oceano]
Qual
dos
dous
é
o
céu?
qual
o
oceano?...
acompanha-‐se
o
navio
que
corre
à
flor
dos
mares
'Stamos
em
pleno
mar...
Abrindo
as
velas
Ao
quente
arfar
das
virações
marinhas,
Veleiro
brigue
corre
à
flor
dos
mares,
Como
roçam
na
vaga
as
andorinhas...
13. NAVIO NEGREIRO, parte II
Castro Alves
Que
importa
do
nauta
o
berço,
Donde
é
filho,
qual
seu
lar?
Ama
a
cadência
do
verso
Que
lhe
ensina
o
velho
mar!
Cantai!
que
a
morte
é
divina!
Resvala
o
brigue
à
bolina
Como
golfinho
veloz.
Presa
ao
mastro
da
mezena
Saudosa
bandeira
acena
As
vagas
que
deixa
após.
Do
Espanhol
as
can<lenas
O
Inglês
—
marinheiro
frio,
Os
marinheiros
Helenos,
Requebradas
de
langor,
Que
ao
nascer
no
mar
se
achou,
Que
a
vaga
jônia
criou,
Lembram
as
moças
morenas,
(Porque
a
Inglaterra
é
um
navio,
Belos
piratas
morenos
As
andaluzas
em
flor!
Que
Deus
na
Mancha
ancorou),
Do
mar
que
Ulisses
cortou,
Da
Itália
o
filho
indolente
Rijo
entoa
pátrias
glórias,
Homens
que
Fídias
talhara,
Canta
Veneza
dormente,
Lembrando,orgulhoso,histórias
Vão
cantando
em
noite
clara
—
Terra
de
amor
e
traição,
De
Nelson
e
de
Aboukir...
Versos
que
Homero
gemeu
...
Ou
do
golfo
no
regaço
O
Francês
—
predes<nado
—
Nautas
de
todas
as
plagas,
Relembra
os
versos
de
Tasso,
Canta
os
louros
do
passado
Vós
sabeis
achar
nas
vagas
Junto
às
lavas
do
vulcão!
E
os
loureiros
do
porvir!
As
melodias
do
céu!...
quatro
décimas
heptassílabas;
marinheiros
que
estão
no
brigue;
convocação
dos
gregos
14. NAVIO NEGREIRO, parte III
Castro Alves
Desce
do
espaço
imenso,
ó
águia
do
oceano!
Desce
mais...
inda
mais...
não
pode
olhar
humano
Como
o
teu
mergulhar
no
brigue
voador!
Mas
que
vejo
eu
aí...
Que
quadro
d’amarguras!
É
canto
funeral!...
Que
tétricas
figuras!...
Que
cena
infame
e
vil...
Meu
Deus!
Meu
Deus!
Que
horror!
ASPECTOS
FORMAIS
uma
sex<lha
com
versos
alexandrinos
ASPECTOS
TEMÁTICOS
indignado
ante
as
cenas
que
contempla,
o
locutor
clama
por
Deus
15. NAVIO NEGREIRO, parte IV
Castro Alves
Era
um
sonho
dantesco...
o
tombadilho
Presa
nos
elos
de
uma
só
cadeia,
Que
das
luzernas
avermelha
o
brilho.
A
mul<dão
faminta
cambaleia,
Em
sangue
a
se
banhar.
E
chora
e
dança
ali!
Tinir
de
ferros...
estalar
de
açoite...
Um
de
raiva
delira,
outro
enlouquece,
Legiões
de
homens
negros
como
a
noite,
Outro,
que
marhrios
embrutece,
Horrendos
a
dançar...
Cantando,
geme
e
ri!
Negras
mulheres,
suspendendo
às
tetas
No
entanto
o
capitão
manda
a
manobra,
Magras
crianças,
cujas
bocas
pretas
E
após
fitando
o
céu
que
se
desdobra,
Rega
o
sangue
das
mães:
Tão
puro
sobre
o
mar,
Outras
moças,
mas
nuas
e
espantadas,
Diz
do
fumo
entre
os
densos
nevoeiros:
No
turbilhão
de
espectros
arrastadas,
"Vibrai
rijo
o
chicote,
marinheiros!
Em
ânsia
e
mágoa
vãs!
Fazei-‐os
mais
dançar!..."
E
ri-‐se
a
orquestra
irônica,
estridente...
E
ri-‐se
a
orquestra
irônica,
estridente...
E
da
ronda
fantás<ca
a
serpente
E
da
ronda
fantás<ca
a
serpente
Faz
doudas
espirais...
Faz
doudas
espirais...
Se
o
velho
arqueja,
se
no
chão
resvala,
Qual
um
sonho
dantesco
as
sombras
voam!...
Ouvem-‐se
gritos...
o
chicote
estala.
Gritos,
ais,
maldições,
preces
ressoam!
E
voam
mais
e
mais...
E
ri-‐se
Satanás!...
seis
sex<lhas
com
o
esquema
métrico
10-‐10-‐6-‐10-‐10-‐6
os
negros
se
irmanam
no
sofrimento
cruel
que
é
mo<vo
de
riso
para
Satanás
16. NAVIO NEGREIRO, parte V
Castro Alves
Senhor
Deus
dos
desgraçados!
Quem
são
estes
desgraçados
São
os
filhos
do
deserto,
Dizei-‐me
vós,
Senhor
Deus!
Que
não
encontram
em
vós
Onde
a
terra
esposa
a
luz.
Se
é
loucura...
se
é
verdade
Mais
que
o
rir
calmo
da
turba
Onde
vive
em
campo
aberto
Tanto
horror
perante
os
céus?!
Que
excita
a
fúria
do
algoz?
A
tribo
dos
homens
nus...
Ó
mar,
por
que
não
apagas
Quem
são?
Se
a
estrela
se
cala,
São
os
guerreiros
ousados
Co'a
esponja
de
tuas
vagas
Se
a
vaga
à
pressa
resvala
Que
com
os
<gres
mosqueados
De
teu
manto
este
borrão?...
Como
um
cúmplice
fugaz,
Combatem
na
solidão.
Astros!
noites!
tempestades!
Perante
a
noite
confusa...
Ontem
simples,
fortes,
bravos.
Rolai
das
imensidades!
Dize-‐o
tu,
severa
Musa,
Hoje
míseros
escravos,
Varrei
os
mares,
tufão!
Musa
libérrima,
audaz!...
Sem
luz,
sem
ar,
sem
razão...
São
mulheres
desgraçadas,
Lá
nas
areias
infindas,
Depois,
o
areal
extenso...
Como
Agar
o
foi
também.
Das
palmeiras
no
país,
Depois,
o
oceano
de
pó.
Que
sedentas,
alquebradas,
Nasceram
crianças
lindas,
Depois
no
horizonte
imenso
De
longe...
bem
longe
vêm...
Viveram
moças
gen<s...
Desertos...
desertos
só...
Trazendo
com
hbios
passos,
Passa
um
dia
a
caravana,
E
a
fome,
o
cansaço,
a
sede...
Filhos
e
algemas
nos
braços,
Quando
a
virgem
na
cabana
Ai!
quanto
infeliz
que
cede,
N'alma
—
lágrimas
e
fel...
Cisma
da
noite
nos
véus
...
E
cai
p'ra
não
mais
s'erguer!...
Como
Agar
sofrendo
tanto,
...
Adeus,
ó
choça
do
monte,
Vaga
um
lugar
na
cadeia,
Que
nem
o
leite
de
pranto
...
Adeus,
palmeiras
da
fonte!...
Mas
o
chacal
sobre
a
areia
Têm
que
dar
para
Ismael.
...
Adeus,
amores...
adeus!...
Acha
um
corpo
que
roer.
17. NAVIO NEGREIRO, parte V
Castro Alves
Ontem
a
Serra
Leoa,
Ontem
plena
liberdade,
Senhor
Deus
dos
desgraçados!
A
guerra,
a
caça
ao
leão,
A
vontade
por
poder...
Dizei-‐me
vós,
Senhor
Deus,
O
sono
dormido
à
toa
Hoje...
cúm'lo
de
maldade,
Se
eu
deliro...
ou
se
é
verdade
Sob
as
tendas
d'amplidão!
Nem
são
livres
p'ra
morrer.
.
Tanto
horror
perante
os
céus?!...
Hoje...
o
porão
negro,
fundo,
Prende-‐os
a
mesma
corrente
Ó
mar,
por
que
não
apagas
Infecto,
apertado,
imundo,
—
Férrea,
lúgubre
serpente
—
Co'a
esponja
de
tuas
vagas
Tendo
a
peste
por
jaguar...
Nas
roscas
da
escravidão.
Do
teu
manto
este
borrão?
E
o
sono
sempre
cortado
E
assim
zombando
da
morte,
Astros!
noites!
tempestades!
Pelo
arranco
de
um
finado,
Dança
a
lúgubre
coorte
Rolai
das
imensidades!
E
o
baque
de
um
corpo
ao
mar...
Ao
som
do
açoute...
Irrisão!...
Varrei
os
mares,
tufão!...
ASPECTOS
FORMAIS
nove
décimas
com
versos
heptassílabos;
presença
de
apóstrofes
e
hipérboles;
ASPECTOS
TEMÁTICOS
narra-‐se
a
história
do
negro
no
con<nente
africano;
o
trágico
des<no
dos
escravos
faz
o
locutor
clamar
por
Deus;
o
sofrimento
de
Agar
metaforiza
a
condição
do
povo
africano;
o
locutor
se
exaspera
porque
Deus
parece
não
se
comover
com
o
sofrimento
dos
negros.
18. NAVIO NEGREIRO, parte VI
Castro Alves
Existe
um
povo
que
a
bandeira
empresta
Auriverde
pendão
de
minha
terra,
P'ra
cobrir
tanta
infâmia
e
cobardia!...
Que
a
brisa
do
Brasil
beija
e
balança,
E
deixa-‐a
transformar-‐se
nessa
festa
Estandarte
que
a
luz
do
sol
encerra
Em
manto
impuro
de
bacante
fria!...
E
as
promessas
divinas
da
esperança...
Meu
Deus!
meu
Deus!
mas
que
bandeira
é
esta,
Tu
que,
da
liberdade
após
a
guerra,
Que
impudente
na
gávea
tripudia?
Foste
hasteado
dos
heróis
na
lança
Silêncio.
Musa...
chora,
e
chora
tanto
Antes
te
houvessem
roto
na
batalha,
Que
o
pavilhão
se
lave
no
teu
pranto!...
Que
servires
a
um
povo
de
mortalha!...
Fatalidade
atroz
que
a
mente
esmaga!
Ex<ngue
nesta
hora
o
brigue
imundo
O
trilho
que
Colombo
abriu
nas
vagas,
Como
um
íris
no
pélago
profundo!
Mas
é
infâmia
demais!
...
Da
etérea
plaga
Levantai-‐vos,
heróis
do
Novo
Mundo!
Andrada!
arranca
esse
pendão
dos
ares!
Colombo!
fecha
a
porta
dos
teus
mares!
três
oitavas
com
versos
decassílabos
denúncia
da
pros<tuição
da
bandeira
brasileira;
su<l
alusão
à
Guerra
do
Paraguai;
conclamam-‐se
os
heróis
do
Novo
Mundo
a
lutar
contra
a
escravidão.
20. O LAÇO DE FITA
Castro Alves
Não
sabes,
criança?
'Stou
louco
de
amores...
Prendi
meus
afetos,
formosa
Pepita.
Mas
onde?
No
templo,
no
espaço,
nas
névoas?!
ASPECTOS
FORMAIS
Não
rias,
prendi-‐me
versos
eneassílabos
[ritmo
lento]
Num
laço
de
fita.
Na
selva
sombria
de
tuas
madeixas,
estrofação
regular
Nos
negros
cabelos
da
moça
bonita,
laço
de
fita
[metáfora
e
metonímia]
Fingindo
a
serpente
qu'enlaça
a
folhagem,
Formoso
enroscava-‐se
ASPECTOS
TEMÁTICOS
O
laço
de
fita.
[...]
laço
de
fita
E
agora
enleada
na
tênue
cadeia
metáfora:
remete
a
uma
experiência
amorosa
Debalde
minh'alma
se
embate,
se
irrita...
O
braço,
que
rompe
cadeias
de
ferro,
metonímia:
representa
a
amada
Não
quebra
teus
elos,
experiência
amorosa
referida
concretamente
Ó
laço
de
fita!
[...]
laço
de
fita,
negros
cabelos,
braços
Mas
ai!
findo
o
baile,
despindo
os
adornos
N'alcova
onde
a
vela
ciosa...
crepita,
a
amada
é
de
carne
e
osso
Talvez
da
cadeia
libertes
as
tranças
o
amor
refere-‐se
a
elementos
reais,
palpáveis
Mas
eu...
fico
preso
No
laço
de
fita.
[...]
21. UM PARALELO COM A PRIMEIRA GERAÇÃO
um poema de Gonçalves Dias
SE
SE
MORRE
DE
AMOR,
Gonçalves
Dias
[fragmentos]
Se
se
morre
de
amor!
Não,
não
se
morre,
Quando
é
fascinação
que
nos
surpreende
De
ruidoso
sarau
entre
os
festejos;
Quando
luzes,
calor,
orquestra
e
flores
Assomos
de
prazer
nos
raiam
n’alma,
Que
embelezada
e
solta
em
tal
ambiente
No
que
ouve,
e
no
que
vê
prazer
alcança!
Simpá<cas
feições,
cintura
breve,
Graciosa
postura,
porte
airoso,
Uma
fita,
uma
flor
entre
os
cabelos,
Um
quê
mal
definido,
acaso
podem
Num
engano
d’amor
arrebatar-‐nos
Mas
isso
amor
é;
isso
é
delírio,
Devaneio,
ilusão,
que
se
esvanece
Ao
som
final
da
orquestra,
ao
derradeiro
Clarão,
que
as
luzes
no
morrer
despedem:
Se
outro
nome
lhe
dão,
se
amor
o
chamam,
D’amor
igual
ninguém
sucumbe
à
perda.
22. UM PARALELO COM A PRIMEIRA GERAÇÃO
um poema de Gonçalves Dias
SE
SE
MORRE
DE
AMOR,
Gonçalves
Dias
[fragmentos]
Amor
é
vida;
é
ter
constantemente
Alma,
sen<dos,
coração
–
abertos
Ao
grande,
ao
belo,
é
ser
capaz
d’extremos,
D’altas
virtudes,
té
capaz
de
crimes!
Compr’ender
o
infinito,
a
imensidade,
E
a
natureza
de
Deus;
gostar
dos
campos,
D’aves,
flores,
murmúrios
solitários;
Buscar
a
natureza,
a
soledade,
o
ermo,
E
ter
o
coração
em
riso
e
festa;
E
à
branda
festa,
ao
riso
da
nossa
alma
Fontes
de
pranto
intercalar
sem
custo;
No
mesmo
tempo,
e
ser
no
mesmo
ponto
O
ditoso,
o
misérrimo
dos
entes:
Isso
é
amor
e
desse
amor
se
morre!
ASPECTOS
TEMÁTICOS
o
amor
aparece
dissociado
de
eventos
corpóreos,
triviais,
concretos;
o
amor
é
uma
ideia:
associa-‐se
a
estados
de
espírito
e
a
subje<vidade.
23. UM PARALELO COM A SEGUNDA GERAÇÃO
um poema de Álvares de Azevedo
SONETO,
Álvares
de
Azevedo
Pálida,
à
luz
da
lâmpada
sombria,
Sobre
o
leito
de
flores
reclinada,
Como
a
lua
por
noite
embalsamada,
Entre
as
nuvens
do
amor
ela
dormia!
Era
a
virgem
do
mar!
Na
escuma
fria
Pela
maré
das
águas
embalada!
Era
um
anjo
entre
nuvens
d’alvorada
Que
em
sonhos
se
banhava
e
se
esquecia!
Era
mais
bela!
O
seio
palpitando...
Negros
olhos
as
pálpebras
abrindo...
Formas
nuas
no
leito
resvalando...
Não
te
rias
de
mim,
meu
anjo
lindo!
Por
<
–
as
noites
eu
velei
chorando,
Por
<
–
nos
sonhos
morrerei
sorrindo.
ASPECTOS
TEMÁTICOS
a
mulher
aparece
referida
através
de
elementos
concretos
e
o
locutor
está
próximo
a
ela;
apesar
da
concreção
e
da
proximidade,
a
mulher
é
idealizada
e
não
há
experiência
eró<ca
concreta
24. A DUAS FLORES
Castro Alves
São
duas
flores
unidas
Unidas,
bem
como
as
penas
São
duas
rosas
nascidas
das
duas
asas
pequenas
Talvez
do
mesmo
arrebol,
De
um
passarinho
do
céu...
Vivendo
no
mesmo
galho,
Como
um
casal
de
rolinhas,
Da
mesma
gota
de
orvalho,
Como
a
tribo
de
andorinhas
Do
mesmo
raio
de
sol.
Da
tarde
no
frouxo
véu.
Unidas,
bem
como
os
prantos,
Unidas...
Ai
quem
pudera
Que
em
parelha
descem
tantos
Numa
eterna
primavera
Das
profundezas
do
olhar...
Viver,
qual
vive
esta
flor.
Como
o
suspiro
e
o
desgosto,
Juntar
as
rosas
da
vida
Como
as
covinhas
do
rosto,
Na
rama
verde
e
florida,
Como
as
estrelas
do
mar.
Na
verde
rama
do
amor!
ASPECTOS
FORMAIS
quatro
sex<lhas
com
versos
heptassílabos
[apelo
popular],
rimas
AABCCB
metáfora;
exploração
de
paralelismos,
exclamações
e
intenso
lirismo
ASPECTOS
TEMÁTICOS
apesar
da
matriz
sen<mental
e
idealizante,
alguns
elementos
remetem
à
experiência
do
concreta
[as
flores
são
unidas,
nutrem-‐se
de
uma
mesma
fonte]
transcendência
da
experiência
eró<ca:
a
ligação
vai
do
nascimento
até
a
morte
25. GONDOLEIRO DO AMOR
Castro Alves
Teus
olhos
são
negros,
negros,
Sobre
o
barco
dos
amores,
Tua
voz
é
a
cava<na
Como
as
noites
sem
luar...
Da
vida
boiando
à
flor,
Dos
palácios
de
Sorrento,
São
ardentes,
são
profundos,
Douram
teus
olhos
a
fronte
Quando
a
praia
beija
a
vaga,
Como
o
negrume
do
mar;
do
Gondoleiro
do
amor.
Quando
a
vaga
beija
o
vento;
E
como
em
noites
de
Itália,
Teu
sorriso
é
uma
aurora,
Teu
seio
é
vaga
dourada
Ama
um
canto
o
pescador,
Que
o
horizonte
enrubesceu,
Ao
hbio
clarão
da
lua,
Bebe
a
harmonia
em
teus
cantos
-‐Rosa
aberta
com
o
biquinho
Que,
ao
murmúrio
das
volúpias,
O
Gondoleiro
do
amor.
Das
aves
rubras
do
céu.
Arqueja,
palpita
nua;
Como
é
doce,
em
pensamento,
Teu
amor
na
treva
é
-‐
um
astro,
Por
isso
eu
te
amo
querida,
Do
teu
colo
no
languor
No
silêncio
uma
canção,
Quer
no
prazer,
quer
na
dor...
Vogar,
naufragar,
perder-‐se
É
brisa
-‐
nas
calmarias,
Rosa!
Canto!
Sombra!
Estrela!
O
Gondoleiro
do
amor!?...
É
abrigo
-‐
no
tufão;
Do
Gondoleiro
do
amor.
ASPECTOS
FORMAIS
12
quadras
heptassílabas
com
rimas
nos
versos
pares;
metáforas
de
forte
pendor
sensual
ASPECTOS
TEMÁTICOS
a
poesia
amorosa
de
Castro
Alves
parte
da
experiência
eró<ca
concreta
vivida
[Eugênia
Câmara]
símiles:
olhos
[intensidade],
gondoleiro
[navegação
eró<ca]
cenas
de
forte
pendor
eró<co
estão
presentes
na
sexta
e
na
sé<ma
estrofes
26. ADORMECIDA
Castro Alves
Uma
noite,
eu
me
lembro...
Ela
dormia
'Stava
aberta
a
janela.
Um
cheiro
agreste
Numa
rede
encostada
molemente...
Exalavam
as
silvas
da
campina...
Quase
aberto
o
roupão...
solto
o
cabelo
E
ao
longe,
num
pedaço
do
horizonte,
E
o
pé
descalço
do
tapete
rente.
Via-‐se
a
noite
plácida
e
divina.
De
um
jasmineiro
os
galhos
encurvados,
Era
um
quadro
celeste!...
A
cada
afago
Indiscretos
entravam
pela
sala,
Mesmo
em
sonhos
a
moça
estremecia...
E
de
leve
oscilavam
ao
tom
das
auras,
Quando
ela
serenava...
a
flor
beijava-‐a...
Iam
na
face
trêmulos-‐
beijá-‐la.
Quando
ela
ia
beijar-‐lhe...
a
flor
fugia...
Dir-‐se-‐ia
que
naquele
doce
instante
E
o
ramo
ora
chegava
ora
afastava-‐se...
Brincavam
duas
cândidas
crianças...
Mas
quando
a
via
despeitada
a
meio,
A
brisa,
que
agitava
as
folhas
verdes,
Para
não
zangá-‐la...
sacudia
alegre
Fazia-‐lhe
ondear
as
negras
tranças!
Uma
chuva
de
pétalas
no
seio...
Eu,
fitando
esta
cena,
repe<a
Naquela
noite
lânguida
e
sen<da:
“Ó
flor!...
tu
és
a
virgem
das
campinas!”
“Virgem!...
tu
és
a
flor
da
minha
vida!...”
27. ADORMECIDA
Castro Alves
aspectos formais
sete
quadras
com
versos
decassílabos
[ritmo
lento]
rimas
nos
versos
pares
grande
volume
de
metáforas
de
cunho
eró<co
[alegoria]
paródia
do
mito
da
Bela
Adormecida
locutor
altamente
envolvido
na
cena
eró<ca,
compraz-‐se
com
o
quadro
que
apresenta
aspectos temáticos
alegoria
eró<ca:
virgem,
galhos
encurvados,
beijo,
chuva
de
pétalas;
a
natureza
é
solidária
ao
impulso
eró<co
cena
noturna
de
forte
pendor
eró<co
ruptura
com
o
modelo
român<co
de
idealização
feminina
28. BOA NOITE
Castro Alves
Boa
noite,
Maria!
Eu
vou-‐me
embora.
Boa
noite!...
E
tu
dizes
–
Boa
noite.
A
lua
nas
janelas
bate
em
cheio...
Mas
não
digas
assim
por
entre
beijos...
Boa
noite,
Maria!
É
tarde...
é
tarde...
Mas
não
me
digas
descobrindo
o
peito,
Não
me
apertes
assim
contra
teu
seio.
–
Mar
de
amor
onde
vagam
meus
desejos.
É
noite
ainda!
Brilha
na
cambraia
É
noite,
pois!
Durmamos,
Julieta!
–
Desmanchado
o
roupão,
a
espádua
nua
–
Recende
a
alcova
ao
trescalar
das
flores,
o
globo
de
teu
peito
entre
os
arminhos
Fechemos
sobre
nós
estas
cor<nas...
Como
entre
as
névoas
se
balouça
a
lua...
–
São
as
asas
do
arcanjo
dos
amores.
[...]
A
frouxa
luz
da
alabastrina
lâmpada
Mulher
do
meu
amor!
Quando
aos
meus
beijos
Lambe
voluptuosa
os
teus
contornos...
Treme
tua
alma,
como
a
lira
ao
vento,
Oh!
Deixa-‐me
aquecer
teus
pés
divinos
Das
teclas
de
teu
seio
que
harmonias,
Ao
doudo
afago
de
meus
lábios
mornos.
Que
escalas
de
suspiros,
bebo
atento!
Ai!
Canta
a
cava<na
do
delírio,
Ri,
suspira,
soluça,
anseia
e
chora...
Marion!
Marion!...
É
noite
ainda.
Que
importa
os
raios
de
uma
nova
aurora?!...
29. BOA NOITE
Castro Alves
aspectos formais
quadras
decassílabas
com
rimas
nos
versos
pares;
cena
noturna
e
ambiente
fechado
[alcova]
sequências
narra<vas
[cena
eró<ca]
e
argumenta<vas
[envolvimento
emocional
do
locutor]
metáforas
de
cunho
eró<co
e
intertextualidade
com
Romeu
e
Julieta,
de
Shakespeare
aspectos temáticos
apresentação
de
uma
cena
altamente
eróJca
o
discurso
se
ar<cula
como
tenta<va
de
recriação
narra<va
da
experiência
amorosa
o
forte
ero<smo
e
o
uso
do
decassílabo
aproximam
o
texto
do
realismo
31. MOCIDADE E MORTE
Castro Alves
Oh!
Eu
quero
viver,
beber
perfumes
Na
flor
silvestre
que
embalsama
os
ares;
Ver
minha
alma
adejar
pelo
infinito,
ASPECTOS
FORMAIS
Qual
branca
vela
na
amplidão
dos
mares.
No
seio
da
mulher
há
tanto
aroma...
versos
decassílabos
[ritmo
lento]
Nos
seus
beijos
de
fogo
há
tanta
vida...
estrofação
regular
-‐
Árabe
errante,
vou
dormir
à
tarde
metáforas
À
sombra
fresca
da
palmeira
erguida.
Mas
uma
voz
responde-‐me
sombria:
ASPECTOS
TEMÁTICOS
Terás
o
sono
sob
a
lájea
fria.
intenso
desejo
eró<co
Morrer...
quando
este
mundo
é
um
paraíso,
impossibilidade
de
sua
realização
E
a
alma
um
cisne
de
douradas
plumas:
Não!
O
seio
da
amante
é
um
lago
virgem...
ante
tal
impedimento,
revela-‐se
ao
Quero
boiar
à
tona
das
espumas...
desejo
de
morte
Vem!
Formosa
mulher
-‐
camélia
pálida,
[influência
de
Byron]
Que
banharam
de
pranto
as
alvoradas,
Minha
alma
é
a
borboleta,
que
espaneja
diferença
O
pó
das
asas
lúcidas,
douradas...
morte:
saída
para
a
não
realização
eró<ca
E
a
mesma
voz
repete-‐me
terrível,
Com
gargalhar
sarcás<co:
-‐
impossível.
33. AVES DE ARRIBAÇÃO
Castro Alves
É
noite!
Treme
a
lâmpada
medrosa
Velando
a
longa
noite
do
poeta...
Além,
sob
as
cor<nas
transparentes,
Ela
dorme,
formosa
Julieta!
Entram
pela
janela
quase
aberta
Da
meia-‐noite
os
preguiçosos
ventos
E
a
lua
beija
o
seio
alvinitente
Flor
que
abrira
das
noites
aos
relentos.
O
Poeta
trabalha!...
A
fonte
pálida
Guarda
talvez
fahdica
tristeza...
Que
importa?
A
inspiração
lhe
acende
o
verso
Tendo
por
musa
-‐
o
amor
e
a
natureza!
E
como
o
cacto
desabrocha
a
medo
Das
noites
tropicais
na
mansa
calma,
A
estrofe
entreabre
a
pétala
mimosa
Perfumada
da
essência
de
sua
alma.
metalinguagem:
no
roman<smo,
a
natureza
é
solidária
ao
impulso
poé<co;
ela
se
configura
como
desdobramento
das
inquietações
existenciais
do
eu-‐lírico;
a
experiência
poé<ca
e
amorosa
são
intermediadas
pela
natureza
34. MURMÚRIOS DA TARDE [fragmentos]
Castro Alves
Ontem
à
tarde,
quando
o
sol
morria,
E
tu
no
entanto
no
jardim
vagavas,
A
natureza
era
um
poema
santo,
Rosa
de
amor,
celes<al
Maria...
De
cada
moita
a
escuridão
saia,
Ai!
como
esquiva
sobre
o
chão
pisavas,
De
cada
gruta
rebentava
um
canto,
Ai!
como
alegre
a
tua
boca
ria...
Ontem
à
tarde,
quando
o
sol
morria.
E
tu
no
entanto
no
jardim
vagavas.
Do
céu
azul
na
profundeza
escura
Eras
a
estrela
transformada
em
virgem!
Que
bela
rosa!
que
fragrância
meiga!
"Colhe-‐me,
ó
virgem,
não
terei
mais
dores,
Dir-‐se-‐ia
um
riso
no
jardim
aberto,
Guarda-‐me,
ó
bela,
no
teu
seio
quente...
Dir-‐se-‐ia
um
beijo,
que
nasceu
na
veiga...
"E
eu
escutava
o
conversar
das
flores.
Flor!
Tu
chegaste
de
outra
flor
mais
perto!...
"Leva-‐me!
leva-‐me,
ó
gen<l
Maria!"
E
eu,
que
escutava
o
conversar
das
flores,
Também
então
eu
murmurei
cismando...
Ouvi
que
a
rosa
murmurava
ardente:
Minh'alma
é
rosa,
que
a
geada
esfria...
tal
qual
se
lê
em
“Adormecida”/“Aves
de
arribação”,
a
natureza
é
solidária
ao
impulso
eró<co
por
intermédio
de
metáforas
extraídas
da
natureza,
fala-‐se
do
desejo
de
cunho
sensual.
poemas
outros,
como
“Ode
ao
dois
de
julho”,
apresentam
a
natureza
como
plano
de
fundo
diante
do
qual
se
desenrolam
acontecimentos
tão
grandiosos
quanto
o
espaço
|sico.
35. UM PARALELO
Castro Alves
no
Arcadismo,
a
natureza
aparece
como
lugar
ameno,
calmo,
ordenado;
tal
locus
é
totalmente
dissociado
dos
sen<mentos
do
sujeito
poé<co,
tal
como
se
vê
em
“O
pequeno
parque”;
nos
três
quadros
seguintes,
percebe-‐se
intenso
emocionalismo,
tal
qual
se
na
paisagem
fossem
projetados
os
sen<mentos
do
locutor:
calma,
horror,
grandiosidade.
41. AHASVERUS E O GÊNIO
de Castro Alves
Sabes
quem
foi
Ahasverus?...—
o
precito,
Misérrimo!
Correu
o
mundo
inteiro,
O
mísero
Judeu,
que
<nha
escrito
E
no
mundo
tão
grande...
o
forasteiro
Na
fronte
o
selo
atroz!
Não
teve
onde...
pousar.
Eterno
viajor
de
eterna
senda...
Co'a
mão
vazia
—
viu
a
terra
cheia.
Espantado
a
fugir
de
tenda
em
tenda,
O
deserto
negou-‐lhe
—
o
grão
de
areia,
Fugindo
embalde
à
vingadora
voz!
A
gota
d'água
—
rejeitou-‐lhe
o
mar.
D'Ásia
as
florestas
—
lhe
negaram
sombra
Viu
povos
de
mil
climas,
viu
mil
raças,
A
savana
sem
fim
—
negou-‐lhe
alfombra.
E
não
pôde
entre
tantas
populaças
O
chão
negou-‐lhe
o
pó!...
Beijar
uma
só
mão
...
Tabas,
serralhos,
tendas
e
solares...
Desde
a
virgem
do
Norte
à
de
Sevilhas,
Ninguém
lhe
abriu
a
porta
de
seus
lares
Desde
a
inglesa
à
crioula
das
An<lhas
E
o
triste
seguiu
só.
Não
teve
um
coração!
...
E
caminhou!...
E
as
tribos
se
afastavam
No
entanto
à
noite,
se
o
Hebreu
passava,
E
as
mulheres
tremendo
murmuravam
Um
murmúrio
de
inveja
se
elevava,
Com
respeito
e
pavor.
Desde
a
flor
da
campina
ao
colibri.
Ai!
Fazia
tremer
do
vale
à
serra...
"Ele
não
morre",
a
mul<dão
dizia...
Ele
que
só
pedia
sobre
a
terra
E
o
precito
consigo
respondia:
—
Silêncio,
paz
e
amor!
—
—
"Ai!
mas
nunca
vivi!"
—
42. AHASVERUS E O GÊNIO
Castro Alves
O
Gênio
é
como
Ahasverus...
solitário
Pede
u'a
mão
de
amigo
—
dão-‐lhe
palmas:
A
marchar,
a
marchar
no
i<nerário
Pede
um
beijo
de
amor
—
e
as
outras
almas
Sem
termo
do
exis<r.
Fogem
pasmas
de
si.
Invejado!
a
invejar
os
invejosos.
E
o
mísero
de
glória
em
glória
corre...
Vendo
a
sombra
dos
álamos
frondosos...
Mas
quando
a
terra
diz:
—
"Ele
não
morre"
E
sempre
a
caminhar...
sempre
a
seguir...
Responde
o
desgraçado:
—
"Eu
não
vivi!..."
Ahasverus
é
uma
personagem
de
uma
lenda
sobre
um
judeu
que
maltratara
Jesus,
por
isso,
foi
condenado
a
vagar
até
a
volta
de
Cristo;
mito:
judeu
errante;
byronismo:
a
figura
do
poeta
é
associada
ao
gênio,
associado
à
segunda
geração.
43. POESIA E RETÓRICA
Castro Alves
oratória
arte
do
bem
falar
que
visa
ao
convencimento
do
interlocutor
por
intermédio
do
discurso;
conota<vamente,
o
htulo
remete
à
dispersão
temá<ca
dos
textos
por que oratória?
os
poemas
foram
escritos
para
serem
declamados,
por
isso
apresentam
traços
específicos
traços oratórios
metáforas
de
forte
plas<cidade
[cenários
grandiosos
+
croma<smo
+
ni<dez];
paralelismos;
anhteses;
personificação.