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e~atese ates
e ates arquitetura 1
estor goulart reis filho
QUADRO ,.
DA ARQUITETURA
NO BRASIL
N.Ciuun 72(8 I) R375q IO.ed
· 1utor: Reis Filho, Nestor Goulart, 193 t
Tft"lo Qlli~~illflil~lmtliiUlifs,asil
42463 Ac. 16088 ERSPECTIVA
BC No Pat.:56013
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Biblioteca Central
Quadro da arquitetura no Brasil.
Ac. 16088 - R. 42463 Ex. 5
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Quadro da Arquitelura no Brasil
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~ 'uh''llo Ik lmtt:s
Ill llfidn por J. Guinsburg
Equipe de Realizas;ao - Revisao: Geraldo Gerson de Souza; Programas;ao:
Andrefna Nigriello; Desenhos: Koishi Shidara; Produs;ao: Ricardo W.
Neves, Heda Maria Lopes e Raquel Fernandes Abranches.
j ( '.,
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nestor goulart reis filho
QUADRO
DA AROUITETURA
NO BRASIL
~l1l
:;a ~ PERSPECTIVA
01~
I0' cdi~ao / 1' rcimpressao
ISBN - 85,273-0113-X
Dircitos rc>ervados a
EDITORA PERSPECTIVA S.A.
Av. 13rigad<iro Lufs Antonio, 3025
01 401 -000 r Sao Paulo - SP - Brasil
T~:lcfax : (Q--11) 3885-8388
www.<·<li11,rapcrspectiva.com.br
1110·1
A Ruth,
minha mae
~--= ~/
SUMARIO
Nota lntrodut6ria
LOTE URBANO E ARQUITETURA
NO BRASIL
I . Lote urbano e arquitetura 15
l 0 lote urbano colonial 21
I A implanta~ao da arquitetura no seculo XIX 33
·I A implanta~ao da arquitetura no seculo XX 53
~ Brasilia 97
11 Uma nova perspectiva 105
7
ARQUITETURA BRASILEIRA NO
Sf:CULO XIX
1. 0 neoch'lssico na Academia Imperial 113
2 . 0 neoclassico nas prov!ncias 123
3. lnterpreta<;ao do neoclassico 135
4. As condic;6es da arquitetura na segunda
metade do seculo 145
5 . A evolu<;ao das tecnicas construtivas 155
6 . As residencias 169
7 . Critica do ecletismo 179
SOBRE 0 PATRIMONIO DE CULTURA 189
Bibliografia
Bibliografia do autor
lndice das ilustrar;oes
8
205
207
209
NOTA INTRODUTORIA
Em 1962, por apresentac;ao do mestre e amigo
Lourival Gomes Machado, comec;amos a preparar al-
gumas notas sobre Arquitetura para o "Suplemento Li-
ten1rio" de 0 Estado de Sao Paulo. Dessa colaborac;ao
resultaram alguns ensaios, com os quais procuravamos
delinear um quadro de referencias basicas para o es-
tudo da Arquitetura no Brasil, revelando urn esquema,
a partir do qual vinhamos desenvolvendo nossas pes-
quisas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Ten-
tando encarar os fenomenos arquitetonicos com a obje-
tividade de uma abordagem cientifica, tinhamos neces-
sidade de superar os limites das analises de problemas
9
z.
puramente formais, para relacionar a arquitetura com urn
quadro mais amplo, especialmente com as estruturas urbanas
e com as condic;:6es de evoluc;:ao social e cultural do Brasil isto
e, tfnh~<:_s necessid~de de deixar de encara-la como s~ples
transpos1c;:ao de arqmtetura europeia, para reconhecer a evolu-
c;:ao de suas condic;:6es concretas de produc;:ao e uso no pafs.
Assim, os ensaios publicados no ''Suplemento Litera-
rio',' ~ntre 1963 e 1969, - alguns deles, com pequenos
acresc1mos, apareceram em Acr6pole, revista especializada
em as~untos de arquitetura - ainda que tratando de proble-
mas d1versos entre si, tern uma linha comum de desenvol-
vimento. Por isso, talvez, a generosidade de Aracy Amaral
e ~os ~emais crfticos e artistas, que comp6em o Conselho
Ed1tonal da Colec;:ao "Debates", conseguiu encontrar inte-
resse em reuni-los sob a forma de livro.
Esse material, agora tratado com roupagem nova,
apresenta observac;:oes alinhadas ao Iongo de pesquisas sa-
bre tres are_as principais. A primeira serie de ensaios procura
dcstacar a mterdependencia entre os modelos de arquitetura
urbana utilizados no Brasil e as estruturas das cidades em
que cstao inseridos- isto e, 0 quadro urbano- indicando si-
multaneamente ~s diretrizes seguidas pela evoluc;:ao, no
tempo, ~esse conJunto de relac;:oes e as formas que atingem
na atual!dade, bern como suas perspectivas de desenvolvi-
mcnto. Esses estudos mostram o jogo complexo das relac;oes
cn_lrc os espac;:?s publicos e os espac;:os privados, entre a pro-
pnc~ht?e e os m~eresses coletivos, entre as determinac;:oes e
os lnmtes da cnac;:ao, focalizando, a partir do lote urbano,
!~mas d_epois ret~mados por varios autores e ainda hoje em
d1scussao. 0 sentldo com que foram ordcnadas essas obser-
vac;:oes e as Iimitac;:6es metodol6gicas do estudo realizado
cstao indicados em uma nota preliminar da propria serie.
0 segundo grupo reune as primeiras conclus6es de
urn programa de pesquisa, ainda em andamento, sobre a ar-
quitetura brasileira no seculo XIX, que tern contado com
auxflios da Fundac;:ao de Amparo aPesquisa do Estado de
S~o Paulo.. 0 tema _e_especialmente interessante, porque per-
rnJ~e focahzar as d1flculdades do emprego de uma interpre-
tac;:ao _puramente formal para a explicac;:ao das transformac;:oes
ocorndas durante aquele perfodo da hist6ria brasileira. De
fato, aprimeira vista a evoluc;:ao da Arquitetura no Brasil,
durante o seculo XIX, aparece como urn conjunto de feno-
10
menos de relativa simplicidade. Efacil perceber, por exem-
plo, que no _infciQ do seculo, com o processo de inde-
pendencia polftica, os padr6es barrocos, que haviam preva-
lecido durante o perfodo colonial, sao substitufdos pelo
Neoclassico, que se torna a arquitetura oficial do Primeiro e
do Segundo Imperio, mantendo-se em uso ate a Proclama-
c;:ao da Republica.
Da mesma forma, nao e diffcil reconhccer que na segun-
da metade do_gculo, com a instalac;:ao das estradas de ferro
eo desenvolvimento das cidades, ocorreu uma crescente in-
fluencia do Ecletismo- estilo que aproveitava as formas ar-
quitetOnicas de todas as epocas e de tOdOS OS pafses - que
passou a predominar a partir da proclamac;:ao da Republica.
Urn exame cuidadoso e menos formal, estabelecido com
urn quadro de referencias mais amplo, revela porem que essa
evoluc;:iio e muito mais complexa do que parece e que a his-
t6ria da Arquitetura no Brasil, durante o seculo XIX, e sobre-
tudo a hist6ria de urn pafs no qual arquitetos e engenheiros
procuram alcanc;:ar urn certo nfvel de independencia cultural e
tecnol6gica, enquanto as condic;:oes economico-sociais conti-
nuam a ser basicamente as mesmas do perfodo colonial.
Por fim, com o trabalho sobre o patrimonio cultural,
prctendemos par em evidencia a importancia da utilizac;:ao
mais intensa de nosso patrimonio de arte e hist6ria, para a
rcalizac;:ao de programas culturais criativos, nas regi6es
mais densamente urbanizadas do pafs. Ao mesmo tempo,
dcstacamos suas repercuss6es na integrac;:ao social das po-
pulac;:6es dessas areas e suas consequencias indiretas para as
industrias do turismo e da cultura. 0 assunto e analisado a
partir das condic;:oes culturais que estiio ocorrendo na Re-
giao Metropolitana de Sao Paulo mas poderia servir como
introduc;:ao aoestudo de problemas que ja vao ocorrendo em
diversas regi6es do pafs, como conseqiiencia de uma indus-
trializac;:ao acelerada. A forma pela qual o problema e foca-
lizado de certo modo complementa a perspectiva crftica es-
tabelecida para o seculo XIX: no momenta em que o pafs
sc prop6e a construir a sua independencia economica, a cui-
lura e a tecnologia deverao deixar de ser produtos de impor-
tac;:ao, para serem necessariamente elaboradas em nosso
pafs, para o consumo da propria populac;:ao.
Tanto o conteudo como a forma de exposic;:ao de
todos esses trabalhos evidenciam o seu carater de en-
11
saios, mais do que de obras com tratamento metodo-
l6gico sistematico. Por isso mesmo, sao escritos em lin-
guagem mais simples e mais direta do que a que eusa-
da em trabalhos tecnicos e seu tom consegue ser, as
vezes, mais ameno, atendendo aos interesses dos nao-
-especialistas. Por tudo isso acreditamos que sirvam
mais a abertura de debates do que ao seu encerramen-
to e favore~am aquela participa~ao, que afirmamos em
um dos capitulos, ser condi~ao da cultura no mundo
contemporaneo. Essa participa=ao se traduz no DE-
BATE, que e, afinal, o objetivo da cole~ao dirigida
por J. Guinsburg.
12
1
II u lJll
~
~
Lote urbano e arquitetura
Em cada epoea, a arquitetura e produzi-
da e utilizada de um modo diverso, re-
lacionando-se de uma forma c:aracteris-
tica com a estrutura urbana em que se
instala.
As princlpais cidades brasileiras e seus
edificlos foram em grande parte estru-
turados DOS seculos passados e funcloDam
pretariamente DOS dias atuais.
0 estudo de sua evolupo ajDdar8 a
transform-los.
15
)'
I
I
I
I
I
Urn tra<;o caracteristico da arquitetura urba_n~ e
a relac,:ao que a prende ao tipo de lote em que esta Jm-
plantada. Assim, as casas de fre?te ?e rua, do periodo
colonial, cujas raizes remontam as ctdades _medJe~o~re­
nascentistas da Europa, ou as casas de porao habttavel
com jardins do !ado, caracteristicas do seculo XIX ou,
ainda os edificios de apartamento das superquadras de
Brasiiia sao conjuntos tao coerentes, que nao e possivel
descrev~-los completamente sem fazer referenda a for-
ma de sua implantac,:ao. Ao mes~o tempo, nao .e dificil
constatar que os lo'tes urbanos tern correspond1do, em
principia, ao tipo de arquitetura que irao receber: os
lotes medievo-renascentistas aar9uitetura daqu~l~s. tern- )
pos, 9s lotes mais amplos do .seculo ?CIX e IlllCI~ do
seculo XX as casas com jardms parttculares e, fmal-
mente, as superquadras a complexida?e dos program~s
residenciais recomendados pelo urbamsmo contempora-
neo. As mudanc,:as ocorridas em .am.bos os se~orAes,
atraves da Hist6ria, sao de molde a md1car a pers.Jsten-
cia de urn conjunto de inter-relac,:oes, cujo conhecimen-
to e sempre da maior importancia, seja para o estu~o
da arquitetura, seja para o estudo dos aspectos urbams-
ticos. Como ressalva, apenas sera de notar que a ar-
quitetura e mais facilmente adaptavel as modificac,:o~s
do plano economico-social do que 0 lote urbanq_, PC:IS
as modificac,:oes deste exigem, em geral, uma alterac,:ao
do proprio trac,:ado urbano. Em. decorrencia, os sinais
da evoluc,:ao podem ser reconhec1dos quase sempre .-
senao sempre - em primeiro lugar no plano arqUite-
tonico e s6 depois no urbanistico, onde sao fruto de
uma adaptac,:ao mais lenta. Essa defasagem explica
algumas aparentes contradic,:oes, como, por exemplo,
a utilizac,:ao Corrente de esquemas do seculo XIX em
bairros novas das cidades brasileiras dos dias atuais,
quando o seu emprego ja vai sendo considerado como
urn arcaismo em paises mais desenvolvidos. Contudo, '
como se podeni observar do material a seguir apresen- )
tado, a arquitetura tera que aguardar a evolw;ao dos
modelos urbanisticos, para alcanc,:ar o pleno desenvol-
vimento das soluc,:6es arquitetonicas correspondentes.
A perspectiva que queremos destacar e, portanto,
a da interdependencia entre arquitetura e lote urbano,
16
IJIIIIIIdo sf1o amadurecidos pelas tradic,:oes, de modo infor-
111111. ou quando sao pensados e planejados racionalmente.
h lo significa que, ao examinarmos uma arquitetura condi-
' 1onndn por um certo estagio tecno16gico e por determina-
dit solicitar,;6cs de ordem socio-cultural e econ6mica e, si-
llllllluncamenle, ao examinmmos urn trar,;ado urbano condi-
rionmlo por outros fatores, admitimos que estes compromis-
:<os lcndcm a gerar, dentro das possibilidades colocadas, ti-
pos de rclac,:ocs e configurac,:oes que satisfac,:am as duas or-
d~ns de solicitac,:oes. Essas sao, basicamente, as relac,:oes en-
Il l' os cspac,:os publicos e os espac,:os privados.
Dcnlro de intervalos de tempo relativamente longos,
luis con!igurac,:oes devem conseguir uma certa validade e,
l'onscqlientemente, uma certa estabilidade, tornando-se
lmdicionais, uma vez que consigam satisfazer a urn nu-
1111.'1o grande de imposic,:oes e func,:oes, tanto arquitet6ni-
r ns, quanto urbanfsticas. Todavia, as transformac,:oes per-
lllaucnles dos difercntes fatores de influencia, sejam tec-
nol6gicos, sejam econ6mico-sociais, exigem uma adapta-
l,'lio pcrmanente daquelas relac,:oes. 0 desenvolvimento
dcslc processo constitui a evoluc,:ao da implantac,:ao da ar-
quilclura urbana. ·
A analise dessas relac,:oes e sua evoluc,:ao oferece, evi-
dculcmente, possibilidades explicativas relevantes, tanto
pnra o cstudo da arquitetura, quanta para o estudo dos pr6-
P' ios f'en6menos urbanos. Julgamos entao oportuno chamar
ltlr ui'io para o assunto e, sobretudo, para certas conclusoes
IJIW nos parecem validas, passfveis de serem tiradas com
1t.1se no material existente no Brasil.
Procuramos dividir o assunto, de modo sumario, fo-
' .llll.ando 0 perfodo colonial e OS seculos XIX c XX,
111. 1 ~ suas propor~5es resultaram desiguais, segundo as ne-
ll'ssidades de exposic,:ao c conforme a maior ou menor ri-
q ut·t.a do material. A dificuldade mais seria que encontra-
lnos !'oi, porem, a ausencia de bibliografia ampla sobrc a
n1qui1c1ura urbana, aqual pudcsscmos nos reportar. Desse
Jllodo, quase sempre que se tornava necessaria mencionar
,.,,.,llcnlos arquitet6nicos, eramos obrigados a apresentar
lllodrlos sumarios, desdobrando 0 trabalho, mas, princi-
17
I
I
I
As estruturas urbanas a arquitetura
----
l
I
~ .
--
palmcntc, dificultando a manutenc;ao de uma unica linha
de cxposic;ao.
Tratando-se de trabalhos com as caracterfsticas de
ensaio, onde nlio caberia uma tentativa de comprovac;ao
sistematica de nossas observac;oes, buscamos compensar-
nos com o recurso a uma exemplificac;ao mais ampla,
comprccndcndo material de diversas regi6es do pafs, o
que talvez venha a servir, quando nos aproxima dos lei-
tores de outros estados.
20
2 0 lote urbano colonial
A produ~o e o uso da arquitetura e dos
nucleos urbanos coloniais baseavam-se
no trabalbo escravo.
Por isso mesmo, o seu nivel tecnologico
era dos mais predrios.
As vilas e cidades apresentavam ruas de
aspecto uniforme, com casas terreas e
sobrados construldos sobre o alinbamen·
to das vias publicas e sobre os limites
laterais dos terrenos.
21
Pode-se afirmar com seguranc;a que durante o pe-
riodo colonial a arquitetura residencial urbana estava
baseada em urn tipo de lote com caracteristicas bastan-
te definidas. Aproveital19o antigas tradic;oe~...J.Idianis­
ticas de Portugal, nossas vilas e cidades apresentavam
ruas de aspecto uniforme, com residencias construfdas
sobre o alinhamento das vias publicas e paredes late-
rais sobre os limites dos terrenos. Nao havia meio-ter-
mo; as casas cram urbanas ou rurais, nao se conceben-
do casas urbanas recuadas e com jardins. pe fato, os
jardins, como os entendemos hoje, sao complementos
relativamente recentes, pois foram introduzidos nas re-
sidencias brasileiras durante o seculo XIX. Sabe-se que ·
o Pahicio de Friburgo do Principe de Nassau, no Reci-
fe, possufa urn, com a denominac;ao de jardim botani-
co, mas tal palacio era considerado como sua residencia
de verao e era situado em local urn pouco isolado, reu- ,;
nindo caracteristicas de chacara. Mesmo os Palacios
dos Governadores, na Bahia, Rio de Janeiro e Belem,
foram edificados como as residencias comuns, sobre o
alinhamento das vias pubiicas; nesses casas, a- ausen~
cia de elementos de acomodac;ao ao exterior era mais
sensivel, uma vez que tais edificios davam frente para
mais de uma via publica e eram de proporc;oes incomuns.
No Para ou no Recife, em Salvador ou em Porto
Alegre, encontram-se ainda hoje casas terreas e sobra-
dos dos tempos coloniais, edificados em lotes mais ou
menos uniformes, com cerca de dez metros de frente
e de grande profundidade. Tambem em Sao Paulo as
areas mais antigas do centro eram edificadas com resi-
dencias desse tipo; restam ainda hoje alguns exempla-
res, bastante significativos: urn a rua Jose Bonifacio,
antigo numero 20, em frente arua Senador Paulo Egi-
dio1 e outre a rua Tabatingi.iera.
0 esquema apontado envolvia ainda a pr6pria
ideia que se fazia de via publica. Numa epoca na qual
as ruas, com raras excec;oes, ainda nao tinham calc;amen-
to, nem eram conhecidos passeios - recursos desenvol-
vidos ja em epocas mais recentes, como meio de sele-
c;ao e aperfeic;oamento do trafego - nao seria possivel
pensar em ruas sem predios; ruas sem edificac;oes, defi-
nidas por cercas, eram as estradas. A rua existia sem-
<O Demolido em 1969.
22
pre como urn tra~o de uniao entre conjuntos de predios
e por eles era definida espacialmente.
Nessa epoca ainda eram desconhecidos OS equipa-
mentos de precisao da topografia e os trac;ados das
ruas eram praticados por meio de cordas e estacas e
nao havia portanto possibilidade de serem mantidos,
por muito tempo, tra~ados rigidos, sem que fossem eri-
gidos os edificios correspondentes. A impressao d~
monotonia era acentuada pela ausencia de verde. Joe--·
xistindo os jardins domesticos e publicos2
e a arboriza-
~ao das ruas, acentuava-se naturalmente a impressao de
concentra~ao, mesmo em nucleos de populac;ao redu-
zida. Atenuavam-na apenas os pomares derramando-se
por vezes sobre os muros.
A uniformidade dos terrenos correspondia a uni-
formidade dos partidos arquitetonicos: as casas eram
construidas de modo uniforme e, em certos casos, tal
padroniza~ao era fixada nas Cartas Regias ou em pos-
turas municipais. Dimens6es e numero de aberturas,
altura dos pavimentos e alinhamentos com as edificac;oes
vizinhas foram exigencias correntes no seculo XVIII.
Revelam uma preocupac;ao de caniter formal, cuja fi-
nalidade era, em grande parte, garantir para as vi-
las e cidades brasileiras uma aparencia portuguesa.
As repeti~6es nao ficavam porem somente nas fachadas.
Pelo contrario, mostrando que os padr6es oficiais apenas
vinham completar uma tendencia espontanea, as plan-
tas, deixadas ao gosto dos proprietarios, apresentavam
sempre uma surpreendente monotonia. As salas da
frente e as lojas aproveitavam as aberturas sobre a rua,
ficando as aberturas dos fundos para a iluminac;ao dos
comodos de permanencia das mulheres e dos locais de
trabalho. Entre estas partes com iluminac;ao natural,
situavam-se as alcovas, destinadas a permanencia no-
turna e onde dificilmente penetrava a luz do dia. A)
circulac;ao realizava-se sobretudo em urn corrector lon-
gitudinal que, em geral, conduzia da porta da rua aos
fundos. Esse corrector apoiava-se a uma das paredes
laterais, ou fixava-se no centro da planta, nos exemplos
maiores.
As tecnicas construtivas eram geralmente primiti-
vas. Nos casos mais simples as paredes eram de pau-
(2) 0 mais antigo, o Passeio PUblico do Rio de 1dteiro, 6 de fins
do Kc:ulo XVIII.
24
A casa terrea
era a versco mais modesta.
-a-pique, adobe ou taipa de piHio e nas residencias mais
importantes empregava-se pedra e barro, mais raramen-
te tijolos ou ainda pedra e cal. 0 sistema de cobertura,
em telhado de duas aguas, procurava lan<;ar uma parte
'-da chuva recebida sobre a rua e a outra sobre o quin-
tal, cuja extensao garantia, de modo geral, a sua absor-
<;lio pelo terreno. Eyitava-se, desse modo;- D'-emprego
de calhas ou quaisquer sistemas de capta<;ao e -condu£_a_p
das aguas pluviais, os quais constituiam verdadeira ra-
ridade. A constru<;ao sobre os limites laterais, na expec-
tativa de constru<;oes vizinhas de mesma altura, procura-
va garantir uma relativa estabilidade e a prote<;ao das
empenas contra a chuva, o que, quando nao era corres-
pondido, se alcan<;ava atraves do uso de telhas
aplicadas verticalmente. A simplicidade das tecnicas
denunciava, assim, claramente, o primitivismo tecnol6-
gico de nossa sociedade colonial: abundancia de mao-
-de-obra determinada pela existencia do trabalho es-
cravo, mas ausencia de aperfei<;oamentos. Os exem-
plares mais ricos apenas acentuavam essa tendencia:
apresentavam maiores dimensoes, maior numero de pe-
<;as, sem, contudo, chegar a caracterizar urn tipo dis-
tinto de habita<;ao.
As varia<;oes mais importantes apareciam nas casas
de esquina. Tendo a possibilidade de aproveitar duas
fachadas sobre a rua, alteravam em parte o esquema de
planta e telhado, menos para inovar, do que para con-
scguir o enquadramento de ambas nos modelos tradicio-
nais. Outras varia<;oes - se e que chegavam a se-lo
- correspondiam ao aparecimento de corpos elevados,
do tipo agua-furtada ou "camarinha"; sua existencia,
porem, pressupunha a presen<;a, fogo abaixo, do esque-
ma de telhado em duas aguas, capaz de evitar o empre-
go de calhas e rufos.
0 uso dos ediflcios tambem estava baseado na
presen<;a e mesmo na abundancia da mao-de-obra. Pa-
ra tudo servia o escravo. f: sempre a sua presen<;a que
resolve os problemas de bilhas d'agua, dos barris de
esgoto (os "tigres") ou do lixo, especialmente nos so-
brados mais altos das areas centrais, que chegavam a
alcan<;ar quatro, cinco e mesmo seis pavimentos. Era
todo urn sistema de uso da casa que, como a constru-
<;lio, estava apoiado sobre o trabalho escravo e, por isso
mesmo, ligava-se a nlvel tecnol6gico bastante primi-
26
As ruas
eram definidas
pelas casas
..1'
tivo. Esse rnesrno nfvel tecnol6gico era apresentado
pelas cidades, cujo uso, de modo indireto, estava basea-
do na escravidao. A ausencia _de ~q!lipamentos ade-
quados nos centros urbanolh-quer p~ra o fornecimento
de agua, quer para o servi9o de esgoto e, rnesmo, a de- _
ficiencia do abastecimento, eram situa<;oes que pressu-
punham a existencia de escravos IfQ rneio domestico; a
permane.ncia dessas falhas ate a aboli<;ao poderia ser
vista, ate certo ponto, como uma confirma<;ao dessa
rela<;ao.
Os principais tipos de habita<;ao eralll:. o sojlrado e
a casa terrea. Suas diferen<;as furulamentais consisbam
no tipo de piso: assoalhado no sobrado e de "chao
batido" na casa terrea. Definiam-se com isso as rela-
<;6es entre os tipos de habita<;lio e os estratos sociais:
habitar urn sobrado significavariqueza e habitar casa _
de "chao batido" caracterizava a pobreia. Por essa
razao OS pavimentos terreos dos sobrados, quando nao
eram utilizados como lojas, deixavam-se para acomo-
da<;lio dos escravos e animais ou ficavarn quase vazios,
mas olio eram utilizados pelas famflias dos proprieh-
rios. No rnais, as diferen<;as eram pequenas. Os pia-
nos maiores correspondiam, quase sernpre, apenas a urn
rebatimento ou sobreposi<;ao dos esquemas de plantas
mais simples. Ainda no inlcio do seculo passado, diria
Debret, examinando urn exemplo de grande casa resi-
dencial no Rio de Janeiro: "0 sistema de constru<;lio
encontra-se, sem nenhuma altera~ao, nas grandes ruas
comerciais, nas pra<;as publicas e nos arrabaldes da
cidade; a diferen<;a esta em que, nos bairros elegantes
do Rio de Janeiro, o alto funcionario e o negociante
reservam o andar terreo inteiro as cocheiras e estre-
barias, ao passo que na cidade o cornerciante nele ins-
tala os seus espa<;osos armazens"3
•••
Urn outro tipo caracteristico de habita<;ao do pe-
riodo colonial era a chacara. Situando-se na periferia
dos centros urbanos, as chacaras conseguiarn reunir as
vantagens dessa situa<;lio as facilidades de abastecimen-
to e dos servi<;os das casas rurais. Solu<;lio preferida pe-
las famflias abastadas, ainda no Imperio e rnesmo na
Republica, a chacara denunciava, no seu carater ru-
ral, a precariedade das solu<;oes da habita<;lio urbana
(3) Debr~t, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Htstclrla do Brasil.
Sao Paulo, Ed1tora Martins, 1949, vol. II, p. 262.
28
I /o)n: 2. corredor de entrada para residencia, 1im1eoem1entP
do lo)o: 3. saliio; 4. alcovas; 5. sala de viver ou varanda;
fJ , c·ozlnlw e servir;os.
•
A produ~ao e o uso da casa
baseavam-se no trabalho
escravo
da epoca. 0 principal problema que solucionavam era
o do abastecimento. Durante todo o periodo colonial
e, em parte, ate os dias atuais, as tendencias monoculto-
ras de nosso mundo rural contribuiram para a existen-
cia de uma permanente crise de abastecimento nas ci-
dades. Assim sendo, as c_:asas urbanas tentavam resolver
em parte o problema, por meio de pomares, criac;ao de
aves e porcos ou do cultivo da mandioca e de-urn ou
outro legume. Soluc;6es satisfat6rias eram porem
conseguidas somente nas chacaras, as quais aliavam, a
tais vantagens, as da presenc;a de cursos d'agua, subs-
titutes eficientes para os equipamentos hidraulicos ine-
xistentes nas moradas urbanas. Por-tais raz6es, tor-
naram-se-as chacaras habitac;6es caracteiisticasde-=Pes:-
soas abastadas, que utilizavam---a.s casas-urbanas em
ocasi6es especiais. Mesmo os funcionarios mais im-
portantes e os comerciantes abastados, acostumados
ao convivio social estreito e permanente, caracteristicos
de suas atividades, cuidavam de adquirir, sempre que
possivel, chacaras ou sitios, urn pouco afastados, para
onde transferiam suas residencias permanentes. Po-
rem, o afastamento espacial em que ficavam os mora-
dares das chacaras em relac;ao as cidades e vilas era
considerado como medida de conforto e nao como urn
desligamento daqueles centros.
Pelo contrario, o tipo de atividade economica por
eles desenvolvida deveria caracteriza-los como partici-
pantes da economia urbana. Alem disso, as areas, as ve-
zes maiores, daquelas propriedades, nao correspondiam
a atividades economicas especificamente rurais.
:£ famosa em Salvador a chacara do Unhao, cons-
trufda no seculo XVIII e ainda hoje conservada, com
sua majestosa residencia, senzalas, embarcadouros, ca-
pela e ate urn grande servic;o de abastecimento de agua.
Esses habitos, por certo, vinham acentuar a vin-
culac;ao, ao mundo rural, dos centros pequenos. Cons-
trufdas para acomodar apenas nos dias de festa os mo-
radores das fazendas, as vilas e cidades menores tinham
vida urbana intermitente, apresentando normalmente
urn terrivel aspecto de desolac;ao. Teni sido esta, por
certo, a impressao de Saint-Hilaire sobre Taubate, quan-
do comenta, ao chegar aquela cidade, em 1882, que
"como em toda a cidade do interior do Brasil, a maio-
30
ria das casas fica fechada durante a semana, s6 sendo
habitada nos domingos e dias de festa"'.
Vemos, portanto, que fundada no regime escravista,
quer para a constru~ao, quer para o uso, a habitac;ao
urbana tradicional correspondeu a _urn tipo de lote pa-
dronizadg e este a um tipo de arquitetJ!_ra bastante Ba-
dronizada, tanto nas suas plantas, q!!anto pas _suas tec-
nica,_s_ construtivas. Este esquema nao e_tipica.J!lente
brasileiro. Suas origens situam-se no urbanismo medie-
val-renascentista de Portugal. As cond~es locais ape-
nas selecionaram entre os modelos importados os de
maior conveniencia, desenvolvendo-os e adaptando-os
em termos de parcela do mundo luso-brasileiro. }'ais so-
lu~oes tern sido caracterizadas por forc;ar aparencia de
concentrac;ao, .JXI.esmo -em centros de populac;6ese di-
mensoes limitadas. De qualquer modo, epreciso des-
tacar que seu uso corresponde a uma epoca na qual os
recursos rurais e o proprio mundo rural estavam sem-
pre ao alcance da voz e da vista do homem urbano,
para solucionar muitos dos problemas fundamentais
dessas vilas e cidades. I~suficientes :eara resolverem
tais problemas de modo satislaf6rio, seiiLauxflio externot
nossas formac;6es urbanas eram, por isso mesmo, limita-
das em suas dimens6es, apoiando;;._se · largamente no
mundo europeu e no mundo rural circundante, dos
quais eram quase sempre uma decorrencia d1refa. "£
somente quando temos em vista esses fatores, que con-
seguimos compreender como puderam funcionar em
niveis tecnol6gicos tao primarios, mesmo as nossas
maiores cidades do periodo colonial.
Em outra oportunidade procuraremos examinar
0 desenvolvimento desse processo durante OS seculos
XIX e XX.
(4) Saint-Hilaire. Segunda Viagem a Sao Paulo. Slio Paulo, Martins
Editora, 1953, p. 95.
32
3 A implanta~Cio da
arquitetura no seculo XIX
1800-1850
Conservando-se as formas de habitar
dependentes do trabalho escravo nao
havia margem para grandes mud:m~as.
Todavia, na Corte, a presen~ da Missao
Cul~ral Francesa e a funda~ao da Aca·
dem1a de Belas-Artes iriam favorecer o
emprego de constru~Oes mais refinadas.
Urn novo tipo de residencia, a casa de
porao alto, representava uma transi~ao
entre os velbos sobrados e as casas iir-·
reas.
33
,,
0 seculo XIX, herdeiro direto das tradic;oes arqui-
tetonicas e urbanfsticas do periodo colonial, assistiria a
/ elaborac;ao de novos esquemas de implantac;ao da ar-
quitetura urbana, que representariam urn verdadeiro
1 esforc;o de adaptac;ao as condic;oes de ingresso do Bra-
sil no mundo contemporaneo e que podem ser vistas
como etapas de transic;ao entre aquelas tradic;oes e a
situac;ao presente.
Os primeiros anos do seculo, anteriores aindepen- _
dencia, pertencendo ainda ao periodo colonial, sao fa-
cilmente assimihiveis ao seculo XVIII, uma vez que
lhes nao corresponderam grandes modificac;oes do pro-
cesso em estudo, repetindo-se geralmente os esquemas
urbanfsticos e arquitetonicos coloniais, de origem ibe-
rica, com discretas modificac;6es. Sem receio de exa-
gerar, podemos dizer, mesmo, que 0 seculo pl_!ssado
conservou praticamente intato, ate asua.metade, o ve-
lho esquema de relac;oes entre a habitac;aQ. e..o lote-ur-
bano, que herdara do seculo XVIII. Persistindo o sis-
tema escravista, nas mesmas condic,:6es do periodo co-
lonial, e compreensfvel que, afora umas poucas tenta-
tivas de renovac;ao no Rio de Janeiro, continuassem a
ter ampla aceitac;ao as soluc;6es ate entao conhecidas.
Subsistiam comumente as formas de uso das habitac;6es
e os mesmos processes construtivos consagrados pelas
tradic;6es, em func;ao da existencia do trabalho escra-
vo. As edificac;oes dos comec,:os do seculo XIX avan-
c;avam sobre -os limites laterais e sobre o alinhamento
das ruas, como as casas coloniais. A essas assemelha-
'-':am-se pela simplicidade dos esquemas, com suas pa-
redes grossas, _suas alcovas e corredores, telhados ele-
mentares e balcoes de ferro batido. £ sempre diffcil,
ao observador desprevenido, determinar com clareza a
data das construc;oes de entao. e. o que acontece, por
exemplo, com quem observa o ediffcio onde hoje fun-
ciona a Cia. de Gas de Sao Paulo, a rua Roberto Si-
monsen; abstraindo-se algumas particularidades de aca-
bamento, ao gosto do seculo XIX - introduzidas em
reformas - pode servir como exemplo para o tipo de
residencia colonial.
Nossos principais centres urbanos, a par de urn
ou outre edificio publico, eventualmente uma residencia
com tratamento diferenciado, como seriam o Teatro
Santa Isabel e a cMcara da familia Uchoa, no Recife,
34
tru~ao aperfei~oada
rcvelavam. sob timidas modifica~oes de fachada, as mes-
mas casas formando linhas continuas sobre as vias pu-
blicas, de tal modo harmonizadas com suas antecessoras,
que niio chegavam a quebrar aquela monotomia, que
era urn de seus rra~os marcantes. Comprovam-no os
'·Panoramas" da epoca, sejam de Salvador ou Recife,
Belem ou Rio de Janeiro. A rua do Catete, a altura do
pal<icio do mesmo nome, conserva urn conjunto de
velhos sobrados dessa epoca. Sua aparencia difere ape-
nas em pequenos detalhes das constrw;oes coloniais.
Em alguns a porta de entrada, rnaior do que as outras,
ocupando posic;iio central, abre para urn saguao relativa-
mente arnplo, valorizado por barras de azulejos colo-
r.i.dos e pela presenc;a de uma escada de madeira tornea-
da. Em outros, como nos velhos modelos descritos por
Debret, essa passagern corresponderia ao acesso as es-
trebarias do quintal e abrigo para as carruagens.
As pr.imeiras transformac;oes apresentaram-se de
forma discreta. A existencia da Academia Imperial- de
Belas-Artes do Rio de Janeiro teria influfdo direta-
mente na adoc;ao de padr6es menos rigidos. De fato, a
presenc;a da Missao Cultural Francesa e da Academia,
prestigiando a difusao da arquitetura neoclassica, iria
favorecer, sirnultanearnente, a implantac;ao de tipos mais
refinados de construc;iio, contribuindo desse~odo ~a
o abandono das velhas soluc;6es coloniais. Escada-
rias, colunas e front6es de pedra ornavam com freqUen-
cia as fachadas de ediffcios principais, ostentando urn
refinarnento tecnico, que nao correspondia ainda ao
comurn das construc;6es. Tal era o tratamento das obras
/
de rnaior destaque, as quais viriam a constituir padr6es
para as demais; assim foi construido o Palacio de Pe-
tr6polis, assirn era composta a pr6pria Academia Im-
perial ·de Belas-Artes, projeto famoso de Grandjean de
Montigny, e o Palacio Itamarati, de seu discipulo Jose
Maria Rebello. Todavia, uma vista antiga do Rio de
Janeiro de autoria de Victor Frond, mostrando o Hos-
pfcio D. Pedro II, na Praia Vermelha, onde hoje se
instalou a Reitoria da Universidade do Brasil, embora
dentro dos mais adiantados padr6es da epoca, deixa
perceber que, aos avanc;os tecnicos e as dimens6es ex-
cepcionais do predio, nao correspondia qualquer nova
maneira de irnplantac;ao em relac;ao a via publica. JSomente em epocas mais recentes e que receberia
36
!Ill! p1 quono jardim na frente, .cir9!!!da<lg_po£_g.£adil
I r. 1111 Soluc;iio semelhante~ teria o edificio da antiga
II rhlrM"· na mesma cidade, projetado por Grandjean
~ tuutlj.lny. hoje valorizado pela abertura de uma
II 1'111 frentc aigreja da Candelaria. A simplicida-
' t u upuro dn composic;ao, a originalidade de sua so-
l ·~ 11 , ' " H'hH;Ao as tradic;oes coloniais de construc;ao,
11 11 hultr1l11arn que se adotasse uma implantac;ao tra~
II hollll
lntn~roc;ao do pais no mercado mundial, conse-
HhiK , uut n ubertura dos portos, iria possibilitar a im-
h In~ no lit' cquipamentos que contribuiriam para a al-
"' ~111 dn 11pur8ncia das construc;oes dos centros maio-
a ''" tltornl, respeitado, porem, o primitivismo das
I 111, 11 t•ndicionais. A presenc;a dos equipamentos
'"'l"'' lntloH insinuava-se nas construc;oes pelo uso de 
pi tllhlltdHH, ttue substituiam os. velhos beir~is, por con- )
lo111111 1111 culhas, ou pelo uso de vidros simples ou J
,,(.., hl•tN sobretudo nas bandeiras das portas ,e ja-
Il I 11 l'lll Iugar das velhas urppemas e gelosiaj. · Em
"" { <.;~JtJP-?Vf~ t 37rfr o- ,,.,
~.>(p rlt~ .J.ll_,r
b'- ~ I ' ·1'1"
rJ!'" 
.J
.-
outros casos, o que entao era entendido como "gosto"
n~oclassico revelava-se pela existencia de vasos e fi-
guras de lou~a do Porto, a marcar, nas fachadaS:SObre
as platibandas, a prumadl!_das pilastras. Aos poucQs
foram aparecendo algumas solu~oes de cobertura mais
complicadas, ja com quatro aguas, as laterais lan~ando
Iivremente sobre os telhados de vizinhos de menor al-
tura ou mesmo ja com suas calhas e· condutores im-
portados. A mudan~a. porem, nao chegaria para alterar
a aparencia dos predios. Em 1874, o engenheiro Bel.
Joao de Rocha Fragoso realizou urn levantamento do
centro da cidade do Rio de Janeiro onde aparecem as
eleva~oes principais de todos os edificios. Esse precioso
documento, na parte que pode ser vista, como ilustra-
~ao de urn Iivro de D. Clemente da Silva Nigra1
, revela
que a essa epoca ja a grande maioria dos edificios havia
adotado a solu~ao do telhado de quatro aguas, mesmo
sem platibanda. Em constru~oes de muita profundida-
de, o esquema era especialmente eficaz, uma vez que
evitava estruturas com ponto muito elevado. Outra
vista, de Victor Frond, do inicio do mesmo quartel e
do mesmo local, ja indicava com clareza a forma pela
qual se impunham essas pequenas mudan~as, surgidas
na primeira metade do seculo. Essas transforma~oes
discretas, possibilitando a adapta~ao das velhas receitas
coloniais, vinham, ao mesmo tempo, garantir a conti-
nuidade de sua aplica~ao numa epoca em que as ino-
va~oes do conjunto ·de vida brasileira ainda nao eram
muito profundas, na qual os habitos das camadas mais
favorecidas continuavam largamente a aproveitar as
facilidades oferecidas pela escravidao. Exemplos dessa
continuidade na Provincia de Sao Paulo podem ser en-
contrados no sobrado do Porto, em Ubatuba, que com-
pletou urn seculo em 1947, ou nos sobrados de Banana!,
construidos por volta de meados do seculo passado,
nos quais, por tras dos detalhes decorativos de tipo neo-
classico, esconde-se a solidez e rigidez das constru~oes
de_tip-2._ coloni_al. A versao fluminense nos e dada a
conhecer pelo trabalho do Prof. Sllva Telles sobre a ci-
dade de Vassouras2
•
(I) Silva Ni&ra. Construtores e A.rtistas do Mosteiro de Silo Bento
do Rio de Janeiro.
(2) Silva Telles. Vassouras - Estado da constru{;'iio residenclal
urbana.
38
ltura discrete
DO
xclusivamente residencial
Urn novo tipo de residencia, a casa de porao alto,
ainda "de frente da rua", representava uma transi!;iiO
entre os v'elhos sobrados e as casas terreas. Longe do
comercio, g.os bairros de caniter residencial, a nova
f6rmula de implanta!;ao permitiria aproximar as resi-
dencias da rua, sem os defeitos das terreas, gra!;as aos
_poroes mais au menos elevados, cuja presen!ra era mui-
tas vezes denunciada pela existencia de 6culos ou se-
teiras com gradis de ferro, sob as janelas dos sal6es.
Nesse caso, para solucionar o problema do desnfvel
entre o piso da habita!;iiO e o plano do passeio, surgia~
uma pequena escada, em seguida a porta de entrada.
Essa, com puxadores de cobre e com duas folhas <:Jr--
nadas de grandes almofadas, abria-se sobre um peque-
no patamar de marmore, quase sempre com desenhos
de xadrez em preto e branco. Ap6s a escada, a proteger
a intimidade do interior da vista dos passantes, ficava
uma porta em meia altura, geralmente de vidro ou de ma-
deira recortada. Antes dessa, porem, no patamar supe-
rior, situavam-se as portas dos saloes; aqueles saloes,
cujas janelas, como nos sobrados, abriam sobre a rua,
e nos quais se alinhava um mobiliario de genero for-
mal, junto as paredes decoradas com papel colada,
com dunquerques, espelhos, jarras de lou!;a e, em cer-
tos casas, o piano.
Esse tipo, que representava uma renova!riio, den-
tro dos velhos moldes construtivos, teve larga difusao.
Exemplos significativos ainda podem ser encontrados
em Campinas e nas cidades do Vale do Parafba, como,
por exemplo, uma velha residencia em Jacarei, em
frente ao gim'isio, ou em Taubate, a rua Visconde do
Rio Branco, esquina de Sao Jose. Sao Paulo guarda
em varios bairros - Campos EHsios, Liberdade, Con-
sola!;iio ou Bela Vista - alguns exemplares ainda que
com decora!riiO de fachada mais recente. Nestes, qua-
~e sempre, alem de anfor~statuas ou fruteira~e
a platibanda, compunham-se balaustradas e-Jillastx:as,
e, en_!!:.~elas, janelas de baic6es, com peitoris du~
e bandeiras de vidro ou mesmo com imita!;oes de mas-
sa em seu Iugar. Com esses tra!;OS alinhavam-se nas ruas
Santo Antonio e Santo Amaro, em Sao Paulo, junto ao
40
Pa!rO Municipal, exemplos variados. Urn outro tipo,
hibrido, reunia caracteristicas de sobrado e os elemen-
tos de inova!rao do andar terreo acima referidos. Dessa
forma iniciava-se nos sobrad~ utiliza9ao do primeiro
pavimento para fms mats valorizados socialmente..
Exemplo sugestivo pode ser observado no edificio onde
esta instalado o Museu Republicano de Itu. Outros,
que se aproximam do tipo, sao o predio do Ginasio de
Jacarei e o velho sobrado da famflia Marcondes, em
Pindamonhangaba.
A essas transforma!roes no campo da arquitetura
correspondiam modifica!roes significativas nos centros
urbanos. Nas cidades de maior importancia multipli-
cavam-se ruas cal!radas e apareciam os primeiros pas-
seios junto as casas. Consl!uiram-se tambem jardins,
ao gosto europeu, imitando o Passeio Publico do Rio
de Janeiro, cercados por altu grades de ferro, reser-
vando seu uso para as camadas mais abastadas.
No·mais, as diferen!ras eram poucas. Conservan-
do-se as condi!roes tecnol6gicas e as formas de habitar,
dependentes unicamente do trabalho escravo, que per-
sistia nas mesmas condi!rOeS do periodo colonial, nao
havia grande margem para mudancas. Usos, moradas
e cidades alteravam-se lentamente e seria necessario
aguardar a segunda metade do seculo, com a decaden-
cia da escravidao e o desenvolvimento da imigracao,
pata que surgissem modificacoes de maior importancia.
42
1850-1900
Com a decadencia do trabalho ·escravo
e com o inicio da imigra~o europeia,
desenvolveu-se o trabalho remunerado e
aperfei~oaram-se as tecnicas construtivas.
As cidades e as residencias sio dotadas
de servi~os de agua e esgoto, valendo-se
de equipameotos importados.
Surgem nessa epoca as casas urbanas
com novos esquemas de implanta~o,
afastados dos vizinhos e com jardins la-
terais,
43
~s transformas;oes s6cio-econ6micas e tecnol6gi-
cas pelas quais passaria a sociedade brasileira durante
a segunda metade do seculo XIX iriam provocar o des-
prestigio dos velhos babitos de construir e habitar. A
posis;ao cambial favon'ivel conseguida atraves das expor-
tas;oes crescentes de cafe possibilitaria a generalizas;ao
do uso de equipamentos importados, que libertariam
os construtores do primitivismo das tecnicas tradicio-
nais. A isto acrescentava-se a modernizac;ao dos trans-
partes, com o aparecimento de linhas ferreas ligando
o interior ao litoral e de linhas de navegac;ao nos gran-
des rios interiores. Equipamentos pesados, como ma-
quinas a vapor, serrarias etc., teriam entao a possibi-
Iidade de serem empregados em vastas regioes, auxilian-
do-as a romper com a rotina dos tempos ·coloniais.
Foi sob a inspirac;ao do ecletismo e com o apoio
dos babitos diferenciados das massas imigradas, que
apareceram as primeiras residencias urbanas com nova
implantar;ao, rompendo com as--t-r:aQ_ic;oes e-- exigindo
modificac;oes nos tipos de lotes e conStruc;oes. As for-
mas de uso ja nao estavam mais tao largamente apoia-
das no sistema servil. A presenc;a de instalac;oes hi-
draulicas, ainda que primarias, tornava desnecessaria
uma parcela dos servis;os bras;ais, ate entao indispen-
savel. Nos centros mais adiantados - sobretudo no Rio
de Janeiro, por influencia da viga da Corte - veri-
ficava-se mesmo uin crescente-desprestfgio dos babitos
tradicionais e uma valorizac;ao de novos costumes. A
concretizac;ao desses estava na dependencia da exis-
tencia de empregados domesticos de outro tipo, ge-
ralmente europeus, trabalhadores remunerados, capa-
zes de prestac;ao de servic;os com maior refinamento.
As primeiras transforma~ verificadas entao n~s
soluc;oes de implantas;ao llgavam-se aos esforc;os de h-
bertas;ao das construc;oes em relac;ao aos Ii~ft~s dos
totes. 0 esquema consistia em recuar o edlfiCIO dos
limites Iaterais, conservando-o freqlientemente sobre
o alinhamento da via publica. .Comumente o recuo era
apenas de urn dos !ados; do outro, quando existia, re-
duzia-se ao mlnimo.
0 processo era geral. Em todas as regioes onde
se fazia sentir o declfnio da escravidao e a presenc;a
do progresso tecnol6gico, encontravam-se os mesmos
44
OM NOVA IMPLANTA<;Ao
dim e entrada laterais
ullltiiiiH de adaptac;ao as novas condic;6es. Em Ma-
"" Porto Alegre, podiam ser encontrados os mes-
' tjiiN IUH apontados por Sylvia de Vasconcellos
•II • 11 u tudo sabre Bela Horizonte1
• As transfonna-
1 uuu, porem, de tal modo importantes, em face
1t • ,IJ~I'Io" que ate entao vigoravam, que em certos
•• ful necessaria alterar os c6digos municipais
V•~· utii.IIOI, Sylvto. A FamiiJG e a ArqUitetvra Ccm,.mpor4mla.
45
para permiti-las, uma vez que estes determinavam, de
acordo com as tendencias do urbanismo colonial, que
as casas seriam edificadas sobre o alinhamento das vias
publicas.
As ~side~ maio_res eram enriquecidas com
urn jardim do lado. EStanovidade, que vinha introdw
zir urn elemento paisagistico na arquitetura residencial,
oferecia a essa amplas possibilidades de arejamento e
ilumina9ao, ate entao desconhecidas nas tradi96es cons-
trutivas do Brasil. Ao mesmo tempo, a arquitetura
aproveitava o esquema da casa de porao alto, transferin-
do porem a entrada para a fachada lateral. Desse modo,
as casas conservavam uma altura discreta da rua, prote=-
gendo a intimidade e aproveitando simultaneamente os
por6es para alojamento de empregados e locais de servi-
90. 0 contato da arquitetura com os jardins laterais, difi-
cultado pela altura dos predios, era resolvido pela pre-
sen9a de varandas apoiadas em colunas de ferro, com
gradis, as quais se chegava por meio de caprichosas
escadas com degraus de marmore. Sao ainda comuns,
em bairros junto ao centro de Sao Paulo, exemplos
desse tipo; urn, modesto mas significativo, subsiste qua-
se isolado em pleno largo do Arouche, perto do edi-
ffcio da . Secretaria da Educa9ao. Ainda poder.ia-
mos considerar como representativo do tipo, ape-
sar da posi9ao diversa da porta da entrada, o Palacio
do Catete, no Rio de Janeiro. Exemplos variados po-
deriam tambem ser encontrados na Avenida Brigadeiro
Luis Antonio, entre a rua Santo Amaro e a rua Con-
selheiro Ramalho, em Sao Paulo.
AQ mesmo tempo conservava-se, em grande par-
te, a destina9ao geral dos compartimentos. A parte
fronteira, abrindo para a rua, era reservada para as
salas de visitas. Dispunham-se os-quartos em torno de ~
urn corredor ou sala de almo9o (varanda), na parte ~
central, ficando cozinha e banheiro ao fundo. Em inu- 1
( meros casos, o alpendre de ferro iria funcionar, ate I
l certo ponto, como urn corrector externo. Para ele abri- ·
-' , riam as portas das salas de visitas e almo9o, janelas ou
portas de alguns dos quartos e, por vezes, mesmo as
portas da cozinha.
As residencias menores nao podiam contar com
lotes laterais ajardinados para resolverem seus proble-
mas de ilumina9ao e arejamento. Apresentavam, entao,
46
Mesmo as casas menores
1fXll rnnooooooaa~
-
tim nova implanta~ao
pequenas entradas descobert~s, ~m port6es e escadas
de ferro. Internamente, lan<;:avam---mao de po<;:os
de iluminayiio, aproveitando as facilidades de ob-
ten<;:iio de calhas, condutores e manilhas, para contro-
1e das aguas pluviais e para resolver OS problemas dos
;telhados complicados, decorrentes das novas solu<;:6es
de plantas. Em todos os tipos, porem, suprimiam-se as
alcovas, com evidentes vantagens higienicas.
Tambem as chacaras, na periferia, sofriam as
transforma<;:6es dos tempos. Seus terrenos eram mais
reduzidos e sua arquitetura cada vez mais assumia ca-
racterfsticas urbanas. Notaveis foram as chacaras de
Botafogo e Laranjeiras, no Rio de Janeiro. No bairro
da Vit6ria, em Salvador, encontra-se ainda hoje uma
serie invulgar de exemplares. As ultimas, como a cha-
cara do Conselheiro Antonio Prado, em Sao Paulo, ou
o atual Palacio dos Campos Ellsios, na mesma cidade,
tinham ja urn tratamento que as aproximava das resi-
dencias da aristocracia europeia.. .
As primeiras manifesta<;6es da mecaniza<;:iio na
prodU<;ao de materiais de constru<;iio e a presen9a dos
imigrantes como trabalhadores assalariados respondiam
pelas altera<;:6es das tecnicas construtivas nessa epoca.
Surgiam entao as casas construfdas com tijolos e co-
bertas com telhas de tipo Marselha, onde a madeira
serrada permitia urn acabamento mais perfeito de ja-
nelas, portas e beirais. Estes ultimos ostentariam orna-
mentos de madeira serrada, conhecidos como lambre-
quins.
Foi, portanto, somente ap6s a supressao do tra-
fico de escravos e o infcio da imigra<;:iio europeia e o
desenvolvimento do trabalho remunerado e o sistema
ferroviario, que apareceram as primeiras residencias
urbanas com nova implanta9iio, com o que se poderia
chamar de "deslocamento" da constru<;:iio dos limites
do lote e urn esfor9o da conquista e incorpora<;:ao do
espa9o externo a arquitetura das residencias.
Essa tendencia obteria quase completa generali-
dade, nas casas construidas ap6s a liberta<riio dos es-
cravos e a proclama9ao da Republica. A mudan9a, po-
rem, nao ocorreu de urn s6 golpe, mas em processo
Iento. As experiencias sucessivas iriam confirmando
as vantagens de conservar por<;:6es sempre maiores de
48
espa9os extcrnos entre os limites dos totes e os edifi-
cios.
Os primeiros exemplares apresentavam. apenas
discreto afastam.ento em urn dos !ados. Com o tempo,
porem, definiam-se claramente os jardins do lado, va-
lorizando socialmente as eleva~oes laterais que para
eles se voltavam. Ao mesmo tempo, pelo progresso
das condi~oes higienicas e desprestfgio dos velhos ha-
bitos de dormir em alcovas, sem ilurnin~ao e insola-
~ao direta, apareciam discretos afastamentos em rela-
~ao ao segundo limite lateral. Esse, verdadeiro corredor,
ligava-se arua por meio de pequenos port6es de ferro,
ou mesmo de madeira; era utilizado comurnente como
entrada de servi~o - nas cidades menores sem servi~o
de gas, como entrada de lenha - e sua desvaloriza~io
social era tao acentuada, que por vezes nio era revela-
do no .exterior, ocultando-se sob urn pano falso da facha-
da, com platibandas e pilastras, a fingir, para os pas-
santes, um prolongamento da sala de visitas, apenas
desmentido pela presen~a do portio.
Surgiram. depois os afastamentos em rel~io as
vias publicas. Anteriormente, i' os ediffciorprinctpais
cram projetados com plantas em forma de "U" ou "T",
for9ando o aparecimento de "vazios" sobre os alinha-
mentos. 0 atual Asilo Sao Cornelio, no bairro da Gl6-
ria, no Rio de Janeiro, ou na mesma cidade, a Escola
D. Pedro II, no Largo do Machado, mostravam urn
49
tirnido esfors:o de movimenta<;lio nas fachadas. Feno-
meno curioso ocorreu na ladeira de Sao Bento, na
Bahia. Ao ser calc;:ada a via publica, foram incorpora-
dos os espas:os necessaries para a formac;:ao de pe-
quenos jardins fronteiros aos velhos sobrados de frente
de rua, conferindo-lhes uma aparencia menos arcaica;
avans;avam-se os limites dos lotes, por nao ser pos-
sivel recuar a arquitetura. Essa soluc;:ao era, porem,
excepcional; as velhas ruas, sempre estreitas, exigindo
alargamento, nao permitiam sua generalizas:ao.
Podemos constatar, durante o . Segundq Imperio,
urn avans:o tecnol6gico tanto maior - quanto mais nos
aproximamos .da abolic;:ao da escravatura. As residen-
cias maiores ja nao eram simples ampliac;:5es ou mul-
tiplicac;:5es dos modelos mais modestos. Ao aumento
das possibilidades financeiras dos proprietaries mais
abastados correspondia urn refinamento tecnico, uma
integras;ao crescente nos beneficios da civilizas:ao in-
dustrial e, conseqiientemente, urn refinamento de usos,
ate entao desconhecidos. 0 ,aperf~is:oamento dos habitos
higienicos coincidia com a instalas;lio dos primeiros ba-
nheiros com agua corrente e com o aparecimento das
venezianas. 0 emprego das madeiras serradas, com
juns;5es mais perfeitas, difundiu o uso de assoalhos en-
cerados, em substituis:ao aos antigos, de tabuas largas e
imperfeitas, lavados semanalmente, iniciando--se, em de-
correncia, 0 uso de tapetes e m6veis mais finos.
Desaparecera, portanto, a uniformidade dos es-
quemas das residencias, que fora o tras:o marcante da
fase colonial. Havia agora o ensejo de urn aperfeic;:oa-
mento permanente, de tal modo que, no fim do perfo-
do, com a extensao das influencias e beneflcios do
mundo industrial a proporc;:5es crescentes da populac;:lio,
ja seria possivel comes:ar a calcular o prazo de obso-
lescencia de uma edificac;:lio. Sucediam-se os esquemas,
num esfors:o para acompanhar as transformac;:5es da
tecnologia e dos costumes e, em torno de cada urn de-
les, multiplicavam-se os experimentos, em busca das
melhores formulas de aproveitamento.
"'- Por volta dos Ultimos anos do seculo XIX e no
infcio do XX, antes de 1914, podia-se considerar co-
mo completa a primeira etapa da libertas:ao da arqui-
tetura em relac;:lio aos limites dos lotes. Fundiam-se,
desse modo, duas tradic;:5es: a das chacaras e a dos
50
No chale,
olado no centro do terrene,
agu~s correm para as laterais.
sobrados. Exemplos excelentes dessa etapa, em Sao
Paulo, sao as construg6es mais antigas da Avenida
Pauli:.ta e algumas residencias de Higien6polis e Cam-
pos Elisios.
Vencia-se portanto uma etapa tecnol6gica. As
formas arquitetonicas, porem, nao respondiam sem-
pre com a mesma rapidez de mudan9a. Conservava-se
por vezes urn tipo de arquitetura pesada, calgada ainda
· -<' no emprego da antiga taipa de pilao, do adobe e da
telha canal, assim como tipos de esquadrias que vinham
/ do tempo do "palmo em quadro", com vidragas ex-
1 ternas e bandeiras fixas. As paredes, mesmo sendo de
/.... tijolos, tinham uma largura exagerada. A rua da Gl6ria,
em Sao Paulo, conserva ainda alguns edificios mo-
destos, caracterfsticos dessa transi9ao.
A essas transforma96es no campo da arquitetura
correspondiam modificag6es significativas no equipa-
mento das cidades. Transpondo uma etapa de aper-
feigoamento tecnol6gico, as cidades equipavam-se com
redes de esgotos, de abastecimento de agua, iluminagao
e de transportes coletivos.
Assim, se bern que os Iotes tivessem sofrido mo-
dificag6es em suas dimens6es, procurando adaptar-se
as novas condi96es arquitetonicas, seus fundamentos
subsistiram. As cidades cresciam pelo aparecimento de
novos bairros, com os mesmos esquemas viarios e de
subdivisao - alguns, destinados as classes mais abasta-
das, com lotes mais amplos e jardins - mas o esque-
ma de solugao permanecia o mesmo. A multiplicagao
das obras publicas compensava, apenas parcialmente,
as limita96es do sistema dos tempos coloniais e difi-
culdades que surgiam tinham seu encaminham~nto num
plano simplista.
Por tudo isto, pode-se afirmar que as transfor-
mag6es vividas pela arquitetura e pelo urbanismo du-
rante o seculo XIX, no Brasil, foram resolvidas em
termos de relac;ao arquitetura-lote urbano, sem que se
/ modificasse fundamentalmente o tipo deste, mas ape-
nas suas dimens6es e, mesmo assim, de modo discreto.
Somente as grandes mudanc;as que ocorreriam no se-
culo XX 6 que iriam comprometer seriamente as bases
da organizac;ao urbana e permitir o encaminhamento
de soluc;oes de maior profundidade, nas estruturas ur-
banas.
52
4
A implantac;Cio da arquitetura
no seculo XX
1900-1920
A sociedade brasileira revelava ainda os
compromissos de um passado recente
com o regime de trabalbo escravo.
Por isso mesmo, os edificios ligavam-se
estreitamente aos esquemas rigidos dos
tempos coloniais
Os edificios comerciais, as casas com
jardins e as vilas operanas constituiam
inova~Oes mas continuavam a utilizar
formas de relacionamento caracteristicas
de epocas anteriores.
53
Os primeiros anos do seculo XX asststlflam a
repetic;:ao, sob varias formas, dos esquemas de relac;:oes
entre arquitetura e lote urbano, que haviam entrada em
voga com a Republica. Conservando-se ainda as tec-
nicas de construc;:ao e uso dos edificios, Iargamente
apoiados na abundfmcia de mao-de-obra mais grossei-
ra e, em pequena parte, artesanal, era natural que se
repetissem os esquemas de fins do seculo XIX, com
solw;oes mais ou menos nisticas, com edificios sabre o
alinhamento da via publica, a revelar, em quase todos
os detalhes, os compromissos de urn passado ainda
recente com o de trabalho escravo e com os esquemas
rigidos dos tempos coloniais. De fato, a abolic;:ao da es-
cravatura e a instala<;ao da Republica nao seriam su-
ficientes para que o pais alcanc;:asse rapidamente con-
di<;:6es de valorizac;:ao ou melhoria de padr6es de mao-
-de-obra ou para que se transformasse a estrutura eco-
n6mica, iniciando-se a instalac;:ao industrial. Para isso,
seria necessaria aguardar 0 impacto da primeira guerra
mundial. E: quase dizer, ao modo de Hauser, que, no
que se refere as relac;:oes entre arquitetura e lote urbana,
o seculo XX inicia-se por volta de 1914. Fosse no
campo das construc;:oes das camadas sociais mais ricas,
fosse nas habitac;:oes mais modestas de pequenos fun-
cionarios. artesaos ou dos poucos trabalhadores indus-
triais, verificava-se a mesma tendencia a estabilidade
das formas de equacionar aquelas relac;:oes, que mal
se ocultavam sob as complicadas variac;:oes estilisticas,
de inspirac;:ao academica ou floreal. Belo Horizonte,
surgindo com o seculo, teria c6digo ainda com a exi-
gencia de alinhamento das construc;:oes sabre a via
publica. Todavia, seu plano, concebido para a circula-
c;:ao de vefculos de trac;:ao animal, ja apresentava urn
esquema viario amplo e claro.
0 progressive aumento de populac;:ao dos centros
maiores e o aperfeic;:oamento dos servic;:os publicos,
fossem formas de pavimentac;:ao, fossem meios de co-
municac;:ao e transporte, forc;:avam, entretanto, uma
sfntese entre as velhas tradic;:oes coloniais do sobrado
e da chacara ou casa de arrabalde. Nas experiencias
mais importantes dos bairros residenciais das classes
abastadas, insinuava-se, ja enHio, a combinac;:ao entre
a rigidez de urn e o carater rural da outra. Iniciava-se,
por esse modo, urn esforc;:o de reconciliac;:ao do homem
54
com a natureza, como decorrencia direta - e legitima
- dos excessos de concentr~ao. Constituia-se, pois,
um dos p6los - o outro seria a verticalizacao que
ocorreria em seguida - da experiencia que serviria de
base para as propostas urbanisticas mais modemas,
cujo uso seria popularizado com a constru~ao de Bra-
silia.
· Naquela epoca, nos bairros da zona sul do Rio
de Janeiro, em Higien6polis e Campos Elisios em Sao
Paulo, os arquitetos mais ousados orientavam a cons-
tru~io de casas com solu~oes arquitetonicas mais atua-
lizadas, com jardins amplos, poroes altos e programas
mais complexos, que conseguiam ser, a um so tempo,
cbacaras e sobrados.
Nascia portanto uma formula capaz de reunir as
vantagens da residencia urbana as das velhas chacaras,
que ja entio iam sendo alcan~adas pelos loteamentos
das cidades e cuja manuten~ao ia sendo mais dificil
com o desaparecimento da escravidao e dos costumes
dos tempos coloniais. 0 contato entre as residencias
e os jardins era porem regido por principios extrema-
mente formais e dificultado pela altura dos poroes,
que ainda eram utilizados para acomoda~ao da cria-
dagem. Sinais mais evidentes das transforma~oes que
se iniciavam eram os programas mais complexos.
:B tambem essa a· epoca das primeiras experien-
cias arquitetonicas mais atualizadas, que se iniciam com
a introducao do "Art-Nouveau" e passando pelo Neo-
colonial iriam conduzir ao movimento modernista.
Libertada dos compromissos mais diretos com o tra-
balho escravo, beneficiada por uma relativa att!iliza~ao
tecnica, a arquitetura brasileira, especialmente na re-
giio centro-sui, iria iniciar a procura de caminhos novos
que exigiriam necessariamente a renova~io das f6r- _,
mulas de implanta~io.
A "Vila Penteado", em Sao Paulo, concluida por
volta de 1903, constituia exemplo significativo. Essa
residencia, onde hoje funcionam algumas dependencias
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, projetada
e decorada com especial rigor arquitetonico, sob a ins-
pira~ao do "Art-Nouveau-Sezession", apresentava uma
implan~ao excepcional, ao centro de uma quadra
ajardinada, oferecendo a Av. Higienopolis uma pers-
pectiva de jardim frances e ocultando, junto as laterais
e nos fundos, os velhos recursos de ch<kara e casa-
-grande. Seus poroes elevados, aliados a propor!(aO dos
andares, com pe-direito de 5 metros, garantiam-lhe
ainda uma posi!(ao de dominancia, hoje desaparecida
com o velho jardim, mas que pode ser reconhecida nas
fotografias antigas e desenhos de seu arquiteto, Carlos
Ekmann.
Em algumas dessas residencias maiores, iriam
sendo aperfei!(oadas muitas das caracteristicas que mar-
cariam quase toda a arquitetura residencial no periodo
que medcia entre as duas guerras mundiais: a preo-
cupa!(ao de isolar a casa em meio a urn jardim, a ten-
dencia a conservar urn paralelismo rigido, em rela!(ao
aos limites do lote, a transforma!(ao progressiva dos
pavilhoes externos de servic;o das chacaras em edkulas,
o desaparecimento progressive de hortas e pomares -
as vezes a sua redu!(ao quase simb61ica a uma jabuti-
cabeira ou a urn canteiro de alfaces - e, de modo
geral, a transferencia, para os jardins e todos os es-
pac;os externos, dos antigos preconceitos de facbada e
hierarquia dos espa!(os, da arquitetura tradicional. As
casas da Avenida Paulista, em Sao Paulo, pertenciam
a essa categoria; entre as que ainda subsistem e pos-
sfvel observar, por exemplo, na esquina com as ruas
Carlos Sampaio e Rio Claro, alguns pomares indis-
cretos derramando-se por sobre os muros dos quintais,
com suas grumixamas, mamoeiros ou mesmo "cabe-
ludas".
Alguns conjuntos de habita!(iio popular apresen-
tavam tambem formas especiais de implanta!(aO. Com-
punham-se de fileiras de casas pequeninas - as vezes
mesmo apenas de quartos - edificadas ao Iongo de
urn terreno mais profunda, abrindo para patio ou
corredor, com fei!(ao de ruela. Nesses casos era fre-
qiiente a ·existencia de urn s6 conjunto de instalac;oes
sanitarias e tanques, dispostos no patio, para uso
comum. Em certos casos a passagem comum era aberta
para a rua, de modo franco, uma soluc;ao mais encon-
tradi!(a no Rio de Janeiro. Uma dessas vilas, em Sao
Paulo, recentemente demolida, ligando a Av. 9 de Julho
a rua Itapema, tinha a peculiaridade de se desenvolver
em escadas. Nesta cidade, essas "vilas" ou "cortic;os",
em bairros como a Bela Vista, apresentavam cornu-
mente, voltadas para a via publica, fachadas construfdas
58
fastamento df' rua,
s<;>bre 0 alinhamento, ao gosto da epoca, capazes de
d1s~ar~ar _s_ua destina~ao. 0 esquema parece ter raizes
an_t1gas;_ J_a ~~ 1819, entrando na capital paulista
Samt-HJ!a1re ma acomodar-se em hospedaria com for-
~a. ~emelhante: ."Indicaram-me a hospedaria de urn
m_dJvJduo conhec1do por Bexiga, que tinha mesmo em
S~<;> _Paulo, ~astas pastagens. Para essa hospedaria me
dmg1. Entre1 na cidade, a 20 de outubro de 1819, por
uma rua larga, cheia de pequenas casas, bern conser-
vadas e, depois de ter passado diante de urn Iindo cha-
fariz e de ter_ em seguida atravessado a ponte de Lo-
rena, construzda de pedras, ponte sobre o ribeirao
Hynhangabahu, cheguei a hospedaria do Bexiga. Fize-
ram entrar meus animais num terreiro lamacento, cer-
cado de urn !ado por urn fosso e dos outros dois !ados
por pequenas constru~oes, cujas numerosas portas da-
vam para o referido terreiro. Essas constru~6es eram
os quartos ou aposentos destinados aos viajantes"I.
Tambem entre as constru~oes para os escrit6rios
e co~~rcio, ja se .iniciavam as ~andes transforma9oes
qu~ mam ser apbcad_as em mawr escala apos a Pri-
~eira Guerra Mund1al. Ja nos primeiros anos do
seculo, com a crescente separa~ao entre os locais de
residencia e trabalho e com o aumento de concentra-
s;ao de popula~ao nas cidades maiores, os velhos so-
prad.os comerciais de tipo portugues, com residencias
;e loJas, come~aram a ser substitufdos por predios de
alguns andares, com destina9ao exclusivamente comer-
cia!. Esses exemplos mais antigos diferiam apenas dis-
cretamente dos predios que vinham substituir. Apoiados
em paredes estruturais de tijolo, as vezes refor9adas
nas partes terreas, com vigas e coluna de metal reu-
niam todo urn conjunto de caracterfsticas de impianta-
~lio e de uso e detalhes construtivos internos e externos
que as aproximavam, de urn lado, daqueles velh~
sobrados e, de outro, da arquitetura residencial dessa
epoca, que ja se beneficiava de urn conjunto de con-
quistas tecnol6gicas. Dessa diferiam, porem, justamente
por essa semelhan~a, ressentindo-se claramente de urn
passado recente de compromisso de uso residencial.
Tais eram os ediffcios que abrigavam os bancos, os
jornais e mesmo as reparti96es publicas, que antece-
. (I) Viagem a Provincia de Siio Paulo. 2~ edi{:iio, Sao Paulo, Mar·
tms, 1945. Tradu{:iio de Rubens Borba de Moraes.
60
deram ao arranha-ceu; alguns nem sequer tinham ele-
vadores; outros adaptaram-nos mais tarde. Tais eram
os primeiros ediffcios construfdos na antiga Avenida
Central - mais tarde Rio Branco - no Rio de Ja-
neiro, como podem ser vistos em algumas fotografias
de Ferrez, no livro de D. Clemente Maria da Silva
Nigra2, ou nos raros remanescentes. Tal era o ediffcio
Baruel, em Sao Paulo, a rua Direita, esquina da Pra~a
da Se. Tais eram alguns dos predios do Largo do
Cafe e da rua Lfuero Badar6, nesta cidade.
Janelas com vidros ornamentados com desenhos na
parte externa e com folhas cegas de madeira pela in-
terna, conferiam-lhes a mesma aparencia que cons-
tru96es domiciliares dessa epoca. Em alguns casos,
utilizavam-se mesmo as venezianas, entao surgindo como
novidade e quase sempre conservavam o antigo pe-di-
reito de quatro a cinco metros, que possibilitava o em-
prego de amplas bandeiras sobre as portas e janelas.
Por esse motivo, quase todas ostentavam seus balcoes
ou, pelo menos, urn pequeno guarda-corpo de ferro ba-
tido e urn arremate de madeira, conferindo-lhes uma
indiscutfvel semelhan9a com os velhos sobrados residen-
ciais dos tempos de Colonia. Esses tra9os persistiriam
mesmo em ediffcios construidos~entre 1920 e 1930, como
a maioria dos que se alinham na Avenida Sao Joao, em
Sao Paulo, entre as Pra9as Julio Mesquita e o ediff-
cio dos Correios, as constru96es da Cinelandia no Rio
de Janeiro ou as da Pra9a dos Andradas em Porto
Alegre.
No conjunto, a arquitetura do inicio do seculo tra-
ria poucas transforma96es de importancia, inclusive no
que se refere aimplanta9ao. Suas virtudes residiam mais
no aperfei9oamento dos detalhes construtivos; seus
programas e solu96es plasticas repetiriam quase sempre
os esquemas dos primeiros anos da Republica. A ex-
posi~lio de 1908, no Rio de Janeiro, verdadeiro marco
de suas possibilidades, reuniria urn conjunto variado
de formas e estilos, que poderia ser considerado como
glorifica~ao do ecletismo e das ambi~6es dos anos pre-
cedentes. De seus exageros e de seus casos mais nota-
(2) D. Clemente Maria da Silva Nisra. Construtores e A.rtlstas do
Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro. Salvador, 19SO, vol. III.
61
II
'!
veis de mau gosto, consola-nos apenas o conheciment_o
da extremada solidariedade, te6rica e pd.tica, da arqUJ-
tetura de quase todos os paises, naqueles dias. Do sau-
dosismo, do preciosismo sem sentido, viriai!l nos de_s-
pertar as modificac;:oes bruscas, ocorridas por ocas1ao
da Primeira Guerra Mundial.
62
1920-1940
Com o inicio do desenvolvimento indus-
trial ocorrem as primeiras transforma-
~oes tecnologicas de importancia no
Pais.
Entretanto, persistiam os lotes urbanos
herdados do seculo XIX, nos quais se
construiam imensos edificios de concreto.
0 atendimento as exigencias do mundo
contemporaneo era tentado apenas com
adapta~oes da arquitetura, sem conside·
ra~oes pelos aspectos urbanisticos.
63
As residencias populares e da classe media
Os esquemas de implantac;ao da arquitetura urba-
na brasileira sofreriam transfonnac;oes da mais alta sig-
nificac;a.o, durante os anos compreendidos entre a Pri-
meira e a Segunda Guerra Mundial, correspondendo ao
inicio do desenvolvimento industrial e da diversificac;ao
da produc;ao rural do pafs.
Datam de entao as primeiras modificac;oes tecno-
16gicas de importancia no Brasil. 0 prestfgio crescen-
te do trabalho remunerado criaria as condic;oes neces-
sarias ao seu encarecimento e vantagem de sua substi-
tuic;ao por processes mecanicos. A mecanizac;ao, ini-
ciada com os meios de transporte, iria aos poucos es-
tendendo-se a uma serie de setores e atividades. Na
arquitetura as transformac;oes e a mecanizac;ao do trans-
porte vertical e horizontal garantiriam as bases para
urn ample desenvolvimento.
:£ a epoca do aparecimento dos arranha-ceus, com
a verticaliza~ao do crescimento urbane nas areas cen-
trais das grandes cidades e tambem da multiplicac;ao,
na periferia, dos grandes bairros proletarios para a aco·
modac;ao das classes menos favorecidas. Surgiriam ain-
da os bairros-jardim, para as classes mais abastadas,
com os edificios afastados obrigatoriamente dos limi-
tes dos lotes.
As tecnicas constiutivas passavam por uma fase de
aprimoramento, devido em grande parte ainfluencia da
mao-de-obra imigrada. Alcanc;ava-se, desse modo, a
vit6ria quase completa das tecnicas correspondentes ao
trabalho remunerado, de tipo artesanal, sobre as tra-
dic;oes construtivas dos tempos da escravidao.
Ate cerca de 1940 a industrializac;ao dos materiais
de construc;ao seria timida, em escala modesta, quase
artesanal. A industria ainda nao atingira estagio de
atendimento do mercado nacional; em verdade, no que
se refere aconstruc;ao, ensaiava apenas alguns avanc;os.
Verificava-se a importac;ao de muitos equipamentos e
materiais estrangeiros e, em contrapartida, nos centres
mais modestos, os progressos estavam Ionge de acom-
panhar os das grandes cidades. Carlos Borges Schmidt
revela que, por volta de 1940, em certas regioes de Sao
Paulo, ainda era economica, e como tal utilizada, a ve-
lha tecnica da taipa de pilao.
64
As residencies de menor porte
sao resolvidas como
miniatures de palacetes
Esboc;ava-se uma racionalizar;ao da vida, mas de
modo relativo, apenas em alguns setores dos centros
maiores e, mesmo nesses locais, grande parte das anti-
gas relac;oes de tipo rural preservava-se, a despeito dos
avanc;os tecnol6gicos. As noc;oes de tempo e velocidade,
indicadoras sensiveis das transformar;oes das relar;oes
entre as pessoas, subsistiam quase inalteradas.
Quantitativamente modificados, nossos principais
centros urbanos conservaram porem os mesmos esque-
mas urbanisticos gerais, de origem renascentista, sem
procurar uma atualizac;ao qualitativa. Nas mesmas ruas
em que haviam circulado as carroc;as e carruagens, cir-
culavam agora os autom6veis, caminhoes e onibus, pre-
parando o congestionamento dos dias de hoje; recebiam
uma populac;ao cada dia maior, sem atualizar os meios
de transportes e de abastecimento, entravam na era in-
dustrial equipados com instrumentos dos tempos da
pedra lascada.
De modo geral, os tipos de lotes urbanos herdados
do seculo XIX persistiriam e acompanhariam, quase
sem alterac;oes - ressalvadas as dimensoes - as mu-
danr;as realizadas na arquitetura. De fato, seria esta
que, por forr;a das circunstfmcias, procuraria criar for-
mas de adaptar;ao do velho esquema de lote, conforme
a sua destinac;ao e terminaria mesmo por sofrer as mais
severas limitar;oes, decorrentes da rigidez e atraso na
formulac;ao dos lotes.
As dificuldades enfrentadas pela agricultura, com
suas crises peri6dicas, a ausencia de formas evoluidas
de capitalismo e o crescimento ininterrupto da popu-
lar;ao dos maiores centros fariam com que as proprie-
dades imobiliarias fossem urn dos modos mais eficazes
de aplicar;ao financeira; para os grandes investidores, a
vantagem seria a renda dos alugueis de casas para a
classe media, passiveis de oscilar;ao nas etapas de cri-
se, mas com procura muito mais estavel do que os pro-
dutos agricolas, vale dizer, o cafe. Para os pequenos
investidores, vivendo frequentemente de seus sahirios
e procurando aplicar eficazmente algumas economias, o
objetivo maximo de seguranr;a seria a casa propria.
Como consequencia, aqueles anos assistiram a multipli-
car;ao dos conjuntos de casas economicas de tipo medio,
repetindo, o quanta possivel, as aparencias das residen-
66
llll flltlls ricas, dentro das limitar;<>es e modestia de re-
uuo~ de sua classe.
P. cvidente que essas habitar;oes, edificadas com
1• uunmia de terreno e meios, aproveitavam em menor
1••11ln ns novas possibilidades. Conservando-se em ge-
•nl 11obre os limites laterais dos lotes, recuavam quase
-•"'I"c alguns metros das vias publicas, onde apareciam
utlulnturas de jardins. Com esses surgiam, tam-
1• 111, certas inovar;oes phisticas, de sentido pura-
IIINifc formal, onde se acompanhavam de modo quase
, '" kuto as variar;oes das correntes arquitetonicas. Em
•••oH especiais, surgiria urn afastamento, em urn dos
lndos, dando Iugar a uma passagem para autom6veis.
c uno nos edificios de maiores dimensoes, as ediculas
vii 111m acomodar-se aos limites de fundo dos terrenos.
Pode-se perceber facilmente que essas casas conser-
vnvum, dentro do possivel, as mesmas tendencias de
vnlorizar;ao social e arquitetonica de certos espar;os e
dnvalorizar;lio de outros, que se encontravam nas mo-
Judias das classes mais abastadas. Jardins na frente e
67
fachadas rebuscadas, em escala reduzida, as vezes mt:s-
mo de miniaturas, acentuavam a importancia das fren-
tes e ocultavam a modestia dos fundos. Essa disposi-
c;:ao, imutavel, fazia com que, nos exemplares mais es-
treitos, a circulac;:ao de servic;:o se realizasse atraves das
salas, ate mesmo para as retiradas de lixo. Os incon-
venientes de tal situac;:ao eram suportados corajosamente,
com o intuito de preservar uma "16gica" absurda mas
que conseguia garantir uma aparencia de decoro e ocul-
tar urn con junto de "vergonhas" tanto mais penosas
quailto mais. humildes os moradores. De fato, a possibi-
lidade de uma eventual visita as cozinhas das casas
abastadas, nem de Ionge se comparava ao sofrimento que
tal indiscric;:ao daria a uma dona de casa de classe me-
dia, frequentemente obrigada a realizar servic;:os que as
tradic;:6es haviam reservado aos escravos.
- Desse genero sao os inumeros conjuntos de sobra-
dos construfdos no Jardim Paulista e na Vila America,
em Sao Paulo. Em quase todos a aparencia procura
atender as inovac;:6es formais, que 0 modernismo vinha
introduzindo, por meio de artiffcios de desenho arqui-
tet6nico: linhas retas, platibanda ocultando o telhado
de telha tipo Marselha, revestimento com mica, alguns
ornatos retilfneos e o fingimento de uma poderosa es-
trutura de concreto. Em outros a preocupac;:ao ia mais
Ionge e apareciam janelas de modelos mais recentes, de
ferro para as salas e de madeira, tipo "ideal", nos dor-
mit6rios. Essa formula ainda pode ser vista em exem-
plos remanescentes nas ruas daqueles bairros: Alameda
Lorena, rua Oscar Freire, Alameda Jau, Itu, Franca
etc., sendo o seu uso hoje talvez urn pouco diferente.
Naquele tempo, urn arquiteto, Flavio de Carvalho,
tentou enfrentar o problema de forma diferente, num
conjunto de casas que construiu a Alameda Lorena,
nas proximidades da rua Augusta. 0 choque produzi-
do na populac;:ao, em face de esquemas menos conheci-
dos, foi de tal envergadura que houve quem afirmasse
que nessas casas, para se ir dos quartos ao banheiro,
era necessaria subir por uma escada externa, que fica
na fachada; tratava-se apenas de acesso a urn solario
ou mirante, mas o equfvoco da a medida da desconfian-
c;a da populac;ao.
0 crescimento gigantesco do operariado urbano,
possibilitado pela constante evoluc;ao da estrutura in-
68
dustrial, iria conduzir ao aparecimento de bairros po-
pulares ao Iongo das vias ferreas, junto as industrias
ou em regi6es suburbanas. 0 fenomeno, quase exclu-
sive das grandes cidades, iria produzir a urbanizagao
das areas perifericas, ate entao destinadas a fins agri-
colas, dentro da ordem tradicional. Engenho Novo,
Engenho Velho, Madureira, Vila Isabel e Mangueira
sao names que as cang6es populares e as cronicas se
encarregaram de difundir e que por isso mesmo reve-
lam etapas mais antigas do crescimento do Rio de Ja-
neiro. Sao Paulo, de crescimento mais recente, usaria
nomenclatura mais artificial, em suas famosas "vilas":
Vila Matilde, Vila Leopoldina, Vila Anastacio etc.
Os loteamentos de tipo popular viriam a consti-
tuir, quase sempre, uma reinterpretagao dos velhos es-
quemas tradicionais, com exagerados indices de apro-
veitamento, criando dificuldades que nao eram previstas
nas tradig6es. Retiravam os aspectos positives dos pia-
nos das cidades-jardim, transformando os novas bairros
em sucess6es infindaveis de quadriculados, com lotes
tao exiguos, que .a disposi9ao geral dos edificios ja fica-
va pre-determinada. Esse tipo tornou-se comum em Sao
Paulo, onde as casas de tipo popular eram construidas
aos poucos, pelos proprietaries, freqtientementc com o
auxilio dos vizinhos e amigos sob a forma de mutirao.
Em alguns Iocais· as dificuldades sociais e econo-
micas provocariam o aparecimento de tipos precarios de
habitagao, com padr6es infimos de higiene e constru-
gao, na maioria dos casos sem qualquer forma de organi-
za9ao territorial, senao aquela ditada pelo acaso. Tais
seriam as favelas. Malocas, invas6es, mocambos, ou fa-
velas, iriam sendo batizadas pelo povo, de formas diver-
sas em cada regiao que surgiam, constantes porem na
indicagao da miseria e do calcanhar-de-aquiles do urba-
nismo contemporaneo.
Apenas em casas especiais ocorriam tentativas de
solug6es mais perfeitas. Pode-se, porem, citar o con-
junto industrial Maria Zelia, na capital paulista, proje-
tado pelo arquiteto Dubugras, onde se incluiam grupos
de residencias para operarios. Programas mais amplos -
e ambiciosos no sentido politico - surgiriam apenas
· sob a· pressao dos acontecimentos desencadeados pela
Segunda Guerra Mundial.
70
!I ••·~ldcncias das classes mais abastadas
l'ara uso das classes mais abastadas, nos anos se-
lllltll~ a 1918, surgiram os "bairros-jardi~", sob .a
··illlltll~.:ta intelectual de esquemas estrange1ros, CUJa
I•, 11111,"110 seria garantida pela .poss~b~lidade q';le ofer:-
ltu1 de conciliar de modo satisfatono, as antlgas cha-
1111" t•om as residencias urbanas, que vinham de se Ii-
I•· IIIII dos limites dos lotes.
Na pratica, esses loteamentos, postos em voga em
" l'nulo pela Cia. City, ao tr~nsporem os~ esqu~~as
tu~tlt••,cs da "cidade-jardim", sofnam adapta9oes v~nas,
11 el11!111do-se, na maioria das vezes, ~ urn apar!etgoa-
lllllllll do sistema viario e a uma remterpreta9ao, em
,, 11111 1s de "paisagismo", dos velhos lotes tra?ici~n~is.
1h ·~t· modo subsistiam os jardins e recuos obngatonos,
IIIIIN dcsapareciarn as areas de USO ~omurn, de grande
111111111lfmcia nos pianos dos estrangerros. ~
Nas residencias, a grande transformagao era .a
11p111 tunidade de afastamento em relagao a todos os h-
lltllrN dos lotes. Nos exemplos maiores, assistia-se a
1111111 libertagao em relagao a esses limites~ .qua~e que
ululgat6ria. Com esses tipos surgiam as e~Iflca9oes e~
hlllltOs residenciais em torno a Av. Pauhsta, em Sa?
l'nulo sobretudo na dire9ao de Santo Amaro, na Ach-
11111~·at; e Perdizes, nessa cidade, em bairros alem .do
Jt11tnfogo no Rio de Janeir~ o': ?O Derby,. de Rectfe.
ludavia os esquemas arqmtetomcos, mampulados na
llllllllria 'das vezes por profissionais, ~e formaga? acade-
11111 n, prendiam-s~ ~ solu~6es de ng1do paralehsmo em
ll'ltu,:ao aque}es brn1tes, amda que OS lotes apresentas-
orlll, em media, maiores dimens6es.
Urn pouco mais afastadas em urn dos !ados e n?s
lu11dos as residencias mais amplas guardavam, todav1a,
~llmis das antigas chacaras. Nao eram apenas as ga-
l llg~:ns tratadas como cochei!as.. Vestigios de pomares
1 hortas e de cria~6es de ammats de pequeno po~te de-
uunciavam a existencia de urn passado rural mmto r~­
,1·nte em casas que exigiam ainda, para sua plena eft-
1 tcncia, a presen<;a de urn razoavel contingente de ser-
VIt;ais.
71
Esses esquemas, que vigorariam ate cerca de 1945
e, de certo modo, ate hoje, mesmo em projetos de ar-
quitetos de inten~6es inovadoras, sofreriam decidida in-
fluencia das antigas tendencias de discrimina~ao social,
em rela~ao aos locais de tt'abalho ou de intimidade,
caracterizados pela presen~a dos servi~ais e das £ami-
lias, tendencias ainda largamente influenciadas pelos-M-
(
. b!!_o~ cgtoniais-e- pelo-regime escravista. Assim, as freu.-
tes das casas e os comodos que lhes ficavam mais pr6-
ximos e onde eram admitidas as visitas, eram os mais
valorizados; as partes laterais e superiores eram reser-
vadas a intimidade da familia (e nela eram recebidos
apenas os parentes e visitantes de pouca cerimonia).
Os fundos e, por vezes, a lateral mais estreita, como
areas de servi~o, eram locais de completa desvaloriza-
~ao social, verdadeiro desprestfgio, quase tabu, her-
dado dos tempos em que ali estariam os escravos e
acomodando agora os filhos daqueles. Algumas senho-
ras mais ricas, podendo manter "governanta", geralmen-
te alema ou francesa, hi nao apareciam, quando muito
deixando-se chegar a copa, em busca d'agua.
0 tratamento arquitetonico e paisagistico acompa-
nhava os niveis de valoriza~ao social. A quantidade e
o tipo de decora~lio variava em escala decrescente das
salas as cozinhas, passando pelos quartos e banheiros
- estes ultimos sofrendo restri~6es semelhantes as das
cozinhas, em razlio de outras formas de desprestigios
e tabus. Eram aquelas limita~6es que faziam com que
os programas das habita~6es apresentassem duplicida-
des funcionalmente absurdas, como as famosas salas
de almo~o e jantar, cujos nomes ocultavam formas so-
cialmente diferenciadas e valorizadas de cumprir as
mesmas fun~6es da vida familiar.
Mesmo a~~recimentp dos jardins na frente
d~s cas~ afastame~voluntarios ou impostos pe-
las prescri~6es dos loteadores e das prefeituras, era ine-
gavel a valoriza~ao dessas por~6es de terreno e dos, e.s-
pa~os arquitetonicos a ela vinculados. Transferiam-se
mesmo para essas casas as ·antigas preocupa~6es de
fachadismo, traduzindo-se em rebuscamentos de ordem
-de-cotativaas preocupa~6es de oferecer ao passante uma
n~lio exagerada da importancia da posi~lio social-des-'
propr~tarios. Para-esse ·"jardim da £rente" abriam-se
as salas e terra~os e portas principais, pelas quais entra-
72
0 paralelismo
com os limites do terrene
lembra ainda
padroes tradicionais.
vam as VISitas com ar de cerimoma. Esse formalismo
cstendia-se ao tipo e forma de organiza~ao do jardim,
onde apareciam as plantas em voga, geralmente de ori-
gem europeia e, por vezes, bancos, quiosques, "grutas"
de cimento e, nos casas de gosto menos exigente, ate
mesmo an6es de lou~a colorida.
Desaparecia~ pois, os antigg.s_jar.dins...laterais. S6
mesmo nos casas excepcionais, de lotes com dimens6es
exageradas e por exigencia da propria solu~ao arquiteto-
nica, e que areas laterais eram ajardinadas sempre como
continua~ao dos jardins da frente, mas interrompendo-se
nas proximidades dos fundos, areas que confinavam com
os locais de servi~os e intimidade. As formas de Iiga-
~ao, ou separa~ao, eram obtidas com objetos socialmen-
te intermediarios, como patios de manobra junto as
garagens, renques de arbustos ou conjuntos de arvores
frutiferas, nunca, porem, coradouros, quartos de em-
pregada, hortas ou galinheiros. S6 mesmo nos casos do
mais extremado "mau gosto" e descaso arquitetonico e
que o visitante poderia divisar urn tanque, urn balde ou,
entre as plantas, urn mamoeiro, urn pe de couve ou uma
touceira de mato, como barba-de-bode. Mesmo as ar-
vores frutiferas, se nao estivessem situadas em local de-
vidamente caracterizado, tinham urn significado de ru-
ralidade e, entre as pessoas de habitos mais refinados.
eram toleradas apenas em considera~ao aos sentimentos
do dono da casa, urn fazendeiro, cujos habitos e sau-
dades cumpria nao contrariar. Posi~ao semelhante
·ocupavam os cachorros, passaros, macacos e vasinhos
de plantas, cujos (micos lugares de acesso, excetuados
os terra~os, seriam os jardins de inverno, verdadeiros
terra~os fechados. Por isso mesmo, o local adequado
para essas coisas comprometidas com o mundo rural,
com a intimidade e com os resqufcios da escravidao,
seria nao dos lados, mas nos fundos, onde os olhos cri-
ticos das visitas e dos passantes nao tivessem a mais leve
oportunidade de condena~ao aos costumes do proprie-
tario.
Normalmente, urn dos afastamentos.._jaterais, o
maior, com tr.es a cinco metros de largura, correspondia
a passagem de autom6vel, evidenciada_p..ela respectiva
coberta, saliente no corpo da casa e, quase como de-
correncia, a entrada lateral da residencia, mais intima,
74
1'/otllltt esquemtitica do tipo de habitar;:iio mais comum.
/',rl'lmt'IIIO terreo: I. terrar;:o; 2. escrit6rio ou sa/a de visitas;
I win de estar; 4. sala de jantar; 5. jardim de inver'no; 6.
,,,/,/w; 7. copa; 8. lavabo; 9. coberta para automovel.
/ollr ulas: IO. galinheiro; II. dormit6rio de criadas; I2. ba-
oi/tr•, /3. tanque; I4. garagem.
l~trlr" superior: I5. dormit6rio; 16. banheiro.
quo dava acesso ao hall, pe~a de distribui~ao horizon-
In! c vertical, cujo nome, importado, demonstrava o
Mr tlido de novidade.
A passagem lateral oposta limitava-se, no geral, a
11111 simples corrector, com urn a dois metros, para o
qual abriam suas janelas os comodos de pequena valo-
lltuc;:ao, como banheiros, caixas de escada ou cozinhas
75
A facilidade de acesso a essas ultimas chegaria mesmo
a caracterizar esses corredores como entradas de ser-
vi9o, identificando-os com os quintais. Para esse lado.
as vezes abriam-se os jardins de inverno, com janelas de
vidro colorido, em alguns casos com forma arredondada
e por isso chamadas bow-windows. Esses recursos per-
mitiam uma farta ilumina9ao e arejamento satisfat6rio,
geralmente abrindo-se apenas algumas pe9as pivotan-
tes, capazes de ocultar, discretamente, as vistas do in-
terior, as passagens laterais ou mesmo as vergonhas de
um fundo de quintal. Nas regioes de clima quente, lo-
calizavam-se ali, normalmente, as varandas de uso fa-
miliar, onde se cumpriam diversas fun96es, inclusive
as de sala de almo9o, razao pela qual, em certas cida-
des, passaram a essas as denomina96es daquelas, como
nas velhas salas dos fundos dos sobrados coloniais.
Detalhe curiosa e que, nessa epoca, mesmo a ar-
quitetura mais avan9ada aparecia comprometida e limi-
tada por esses esquemas. A propria tecnica construti-
va em uso, de paredes estruturais de tijolo, pela sua
rigidez, favorecia tal encaminhamento. Seriam poucos
os arquitetos, como Victor Dubugras, em Sao Paulo,
que encontrariam formas mais flexlveis de abordar o
problema, insinuando os caminhos que viria a percorrer
nossa arquitetura, quando o concreto viesse a ser em-
pregado comumente nas residencias individuais desse
genero. Ate 1937, os esfor9os do movimento moder-
nista para romper aquelas limita96es tiveram resulta-
dos apenas superficiais. Urn tratamento arquitetonico
externo de inspira9ao cubista, distribuldo com equilibria
pelas quatro e!eva96es, ocultava, muitas vezes, uma es-
trutura de paredes de tijolos e uma disposi9ao geral
tradicional. Quando muito, ligavam-se sala de visita e
jantar e tratavam-se com uma decora9ao de motivos
marinhos os banheiros, onde os preconceitos ligavam-se
quase exclusivamente aos habitos familiares. Contribui-
96es mais significativas seriam conseguidas nas rela-
96es com o espa<;o exterior, com o apoio das transforma-
96es tecnol6gicas dos impermeabilizantes e tacos de
madeira. De fato, uma vez afastadas do alinhamento,
as residencias come9ariam a dispensar os velhos po-.
roes, de grande altura, capazes de garantir a intimida-
de dos interiores. A tendencia, agora, seria oposta.
76
fica96es nesse genera fossem levantadas sabre limites c
alinhamentos. Em Sao Paulo, em uma avenida que sc
abria nesse tempo, mantinham-se as mesmas restri~t6es
e os predios, mesmo os residenciais, eram obrigados a
ter a altura de 40 metros.
Predominavam ainda as ideias arquitetonicas e
urbanisticas do seculo XIX, a despeito das amplas mu-
dan~tas de condi<;oes gerais e, como conseqiiencia, bus-
cava-se a aplica~tao dos modelos da Paris de Haussmann,
com seus quarteir6es compactos, superedificados e su-
perpovoados. Ate mesmo no aspecto externo busca-
va-se a semelhan~ta, com desenhos no revestimento,
imitando pedra, o mesmo proporcionamento entre os
andares e mansardas, SOb OS te)hados de ard6sia.
Voltava-se, pois, em certo modo, a aplica9aO de
solu~t6es que ja haviam sido superadas. Refor9ava-se o
esquema de valoriza~tao social e arquitetonica das fren-
tes e o desprestigio dos fundos. Assim, os predios de
apartamento continuavam, como as casas, a ter frente
e fundos, fachada e quintal, servindo este para gara-
gem, casa de zelador, deposito etc. Na Praia do Fla-
mengo, esquina da rua Ferreira Viana, no Rio de Ja-
neiro, o saguao de entrada era ornamentado como uma
sala de visitas e as areas dos fundos abriam-se em Ion-
gas alpendres, com colunas de ferro, onde ainda hoje
se encontram vasos de samambaia. Em Sao Paulo, na
rua Martim Francisco, o ediflcio de apartamento mais
antigo do bairro - talvez da cidade - e construido sa-
bre o alinhamento da via publica, e suas portas lembram
as dos sobrados coloniais, pela posi~tao, ainda que as li-
nhas gerais do predio sejam de inspira~tao moderna, es-
pecialmente quando se considera a epoca em que foi
construido.
Bern mais precoce, constituindo verdadeira exce-
9ao, eo predio situado aAv. Angelica, entre a Av. Sao
Joao e a rua Brigadeiro Galvao. Sua implanta~tao tam-
bern repete a dos sobrados coloniais, sobre os limites
do lote, mas a disposi9ao dos apartamentos e uma evi-
dente inova9a0 para a epoca, Voltando banheiros e CO-
zinhas para a frente, tratando o conjunto plasticamente
com urn racionalismo severo, de modo que os obser-
vadores menos prevenidos eram levados a julgar, na
epoca, que aquela fachada mostrava OS fundos de Uffi
prooio de outra rua.
80
atendiam aos padroes
de Paris de 1870.
Mas essa experiencia era excepcional. Normal-
mente os predios repetiam os esquemas das residencias.
Essa necessidade de pensar os predios de apartamento
como apenas dimensionalmente diversos das casas in-
dividuais isoladas, essa impossibilidade de enfrentar urn
novo problema segundo uma escala adequada, faria com
que a verticaliza~ao, conquistada pelos aperfei~oamen­
tos das estruturas de concreto e dos elevadores, ao mes-
mo tempo que abrisse n~vas e amplas perspectivas,
destruisse as conquistas que-a arquitetura vinha reali-
zando nas residencias individuais, coriw a reconcilia-
~ao com a natureza, a integra~ao dos espa~os interio-
res e exteriores e a liberdade de disposi~ao dos edificios
sobre o terrene.
Algo semelhante ocorria com as constru~6es para
escrit6rio e comercio, nos centres das cidades, num pro-
cesso que se iniciara com o seculo e ao qual ja nos re-
ferimos. Logo ap6s a Primeira Guerra Mundial, apro-
veitando a grande valoriza~ao dos terrenos das areas
centrais, as novas possibilidades das estruturas metali-
cas, mas sobretudo do concreto e o aparecimento dos
elevadores, os edificios sofreriam uma verticaliza~ao
acentuada; OS predios dessa epoca, da Avenida Central,
no Rio de Janeiro, as constru~6es nas ruas Libera Ba-
dar6 e Xavier de Toledo, em Sao Paulo, marcam essas
transforma~6es. Sua implanta~ao e sua aparencia ex-
terior revelavam aquelas mesmas influencias do urba-
nismo frances do seculo XIX, que haviamos assinalado
nas constru~6es residenciais e que representariam, na
pratica, a repeti~ao, quase absoluta, dos esquemas dos
antigos sobrados coloniais, que vinham substituir, com
todos os agravantes do aumento de dimens6es. Sobre-
tudo a mesma preocupa~ao formal com os exteriores
voltados para as vias publicas, de sorte que em alguns
edificios da rua dos Andradas em Porto Alegre, da rua
Chile em Salvador ou da Cinelandia no Rio de Janeiro,
seria possivel encontrar as mais variadas composi~6es
estilisticas de gosto academico ou mesmo do Ecletismo.
Nos interiores, destacavam-se as caixas dos elevadores,
envolvidas com grades de metal, no centro de escada-
rias amplas, de marmore importado. A preocupa~ao
com a aparencia externa for~ava por vezes o apareci-
mento de andares com altura reduzida, aos quais se
chamava sobreloja; isso nao impedia, porem, que, em
u~ao racionalista
muitos casos, os outros andares tivessem pes-direitos ele-
vados ao modo das velhas residencias.
Ocupavam-se os antigos totes com inumeros edi-
ficios de concreto, aplicando-se necessariamente os mes-
mos esquemas que vinham dos tempos coloniais, reto-
cados apenas com Iigeiras modifica~6es. As evidentes
desvantagens dessas solu~6es estimulariam aqui a bu~­
ca e aplica~ao de outras mais atualizadas, que permr-
tissem urn reexame das formula~6es arquitetonicas e
urbanfsticas. 0 desmonte do Morro do Castelo no Rio
de Janeiro ensejaria uma oportunidade de planejamen-
to de conjunto e urn ensaio nessas condi<;6e~.
Nas quadras que ali se constituiram, tornou-se obn-
gat6ria a constrw;ao de u.m p6rtico no pa~imen~o
terreo dos edificios, de tal sorte que sua contmua~ao
veio a formar uma verdadeira galeria, ou passeio, co-
berto pelos pr6prios pn!dios. A inova~ao tinha, alem
de outras particularidades, urn sentido mais atualizado
de relacionamento da arquitetura com o tote, obrigan-
do a utiliza<;:ao de urn espa<;:o de edifica<;:ao particular
para uso publico; inaugurava-se pois uma forma ampla
e mais proficua daquelas relac;:oes. Simultaneamente,
os fundos dos predios abriam para urn patio comum,
que vinha facilitar as entradas e saidas de servi~o e o
estacionamento de veiculos. Ainda que nao rompesse
com o fachadismo e os patios internos estivessem bern
Ionge de uma solu~ao satisfat6ria, ainda que as edi-
ficac;:oes formassem blocos continuos, tratava-se eviden-
temente de uma transformac;:ao radical e, acima de tu-
do, tentava-se, para urn problema tao importante, uma
solu~ao em escala adequada ou, de qualquer modo, es-
pecial.
Mesmo as industrias, cujas condic;:6es de implan-
ta~ao e dimens6es diferiam fundamentalmente de tudo
o que ate entao existira, adaptavam-se aos tipos tradi-
cionais de relacionamento com os lotes. Ressentindo-se
de compromissos de urn passado recente com o ambi-
ente domestico, quer em sentido espacial, quer em sen-
tide social, acomodavam-se em galpoes com fei~6es de
residencia, edificados em tijolos, sobre os limites das
vias publicas. As preocupac;:6es arquitetonicas enca-
minhavam-se no mesmo sentido que as residencias, con-
centrando-se em detalhes de janelas, de acordo com os
84
n lilos em voga, fossem academicas, neocoloniais o_u
11 1rsmo "modernas". Essas janelas, alteadas para evl-
,,,,. a vista dos passantes, compunham sobre as paredes
uma aparencia de decoro, ainda que, como fatores de
i111mina<;:ao, pouco valessem. Os telhados ocultav~m-se
··ob platibandas avantajadas, de sorte que..os conJuntos
ll'duziam-se a retangulos alongados, de t~Jolos por. re-
vcstir, enegrecidos pela fuligem, apenas mterrompr.dos
pdas janelas. Estas, 'de tipos e detalhes residenciais e
85
conservagao em geral nula, contribuiam, com seus vi-
dros partidos, para acentuar o aspecto de desolagao e
miseria. Nos casos especiais, quando urn retoque ar-
quitetonico de fachada conseguia, apoiado em pinturas
freqiientes, mostrar urn conjunto mais composto, o re-
sultado era a volta a aparencia estrita de domici-
lio. Ainda que os interiores fossem por vezes mon-
tados com estruturas metalicas, as frentes, bern ou mal
compostas, ocultavam tais solu<;:6es, organizarido-se de
modo que ofereciam as ruas aspecto tradicional. Assim,
mesmo as construg6es industriais tinham "frente" e
"fundos", respeitando urn sentido de valorizagao social
dos espac,:os de origem residencial; mesmo as industrias,
com grandes dimens6es e amplas possibilidades de ino-
vac,:ao acomodavam-se as formulas rigidas dos tempos
coloniais.
Foi s6 aos poucos, pela ac,:ao de arquitetos mais
lucidos como Victor Dubugras, que aquelas construg6es
foram buscando implantag6es mais complexas e solu-
c,:oes pr6prias, panda de lado os aspectos residenciais,
de caniter tradicional, e os tragos de adaptagao. Abriam-
-se janelas adequadas, mas, sobretudo com estruturas
de tijolo ou metal melhor apJoveitados, conseguia-se
urn grau mais satisfat6rio de iluminac,:ao. Na maioria
dos casas, nao chegava a haver preocupac,:ao arquiteto-
nica, apenas objetividade, que se traduzia por soluc;oes
mecanicistas. Uma grande oficina mecanica existente a
rua Araujo, em Sao Paulo, construida em tijolos, ilus-
tra a solugao.
Desapareciam, portanto, aos poucos, OS arcaismos.
Ainda assim, a disposic,:ao geral persistiria ate por volta
de 1940, quando comec,:aram a aparecer as primeiras
fabricas com jardins e tratamento arquitetonico coeren-
te, sob o estimulo de novas necessidades e a inspirac,:ao
do movimento contemporaneo de arquitetura. Nessa
categoria pode ser incluido o projeto do arquiteto Rino
Levi para a Fabrica Jardim, a Avenida do Es-
tado, em Sao Paulo, onde ja se indicavam as tendencias
que em breve iriam nortear a arquitetura industrial no
Brasil.
86
1940-1960
0 periodo e de intensa industrializa~io
e urbaniza~ao para o Brasil.
0 movimento de arquitetura modema
procura aproveitar os recursos oferecidos
pelo sistema industrial nascente.
0 relacionamento da arquitetura com as
estruturas urbanas e reexaminado, sur·
gindo alguns edifici~s e conJuntos r~i­
denciais com solu~oes de 1mplaota~ao
eficientes.
87
0 periodo que se inicia por volta de 1940, com a
Segunda Guerra Mundial, e que nos traz ate 1960, com
o plano de Brasilia, compreende a fase de mais intensa
industrializa~ao e urbaniza~ao da hist6ria do Pais Ocor-
re entao urn vertiginoso avan~o tecnico e economico,
acompanhado de profundas transforma~6es sociais. A
ele corresponde tambem a eclosao do movimento con-
temporfmeo de arquitetura, cujas primeiras manifesta-
~6es poderiam ser recuadas ate a Semana de Arte Mo-
derna de 1922 em Sao Paulo mas que aguardava as
oportunidades adequadas a sua expansao.
0 marco inicial dessas transforma~6es seria consi-
derado o projeto do edificio-sede do Ministerio da Edu-
ca~ao, no Rio de Janeiro. A partir dessa epoca as
obras mais representativas da arquitetura brasileira pro-
poriam uma ampla revisao, com a qual seria tentada
uma sintonia entre as possibilidades crescentes da estru-
tura industrial e as exigencias cada vez mais complexas
do meio.
Os problemas da implanta~ao da arquitetura ur-
bana seriam corajosamente enfrentados pelos arquitetos
e muitos de seus sucessos seriam devidos ao elevado
grau de consciencia com que reconheciam as suas res-
ponsabilidades. As habita<;:6es individuais isoladas apro-
veitariam de modo especial as inovac;:oes arquitetoni-
cas, decorrentes do avanc;:o tecnico e economico. Pela
primeira vez seriam exploradas amplamente as possi-
bilidades de acomoda<;:ao ao terrene, em que pese aexi-
gtiidade dos lotes em geral. Para isso contribuiria prin-
cipalmente o uso das estruturas de concreto, que viriam
libertar as paredes de sua primitiva fun~ao de susten-
tac;:ao e as estruturas de sua rigidez. Agora as lajes de
piso e cobertura seriam de concreto, em substitui~ao
as velhas estruturas de vigas de madeira, com soalhos de
tabuas longas e revestidas por baixo com forros de
estuque ou madeira. Tambem as vigas e colunas eram
agora de concreto; as paredes de tijolos nao mais se-
riam estruturais, mas funcionariam apenas como pai-
neis de vedac;:ao.
Passavam pois a vigorar os princfpios da "planta
livre", com ampla flexibilidade, de modo que, pelo me-
nos em teoria, somente seriam satisfeitas nos projetos
as exigencias de funcionalidade e da propria composi-
c;:ao. Se, por urn lado, na pnitica esses alvos estavam
88
nova arquitetura,
Lote urbano e arquitetura: a interdependência entre espaço construído e estrutura urbana
Lote urbano e arquitetura: a interdependência entre espaço construído e estrutura urbana
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Lote urbano e arquitetura: a interdependência entre espaço construído e estrutura urbana

  • 1. i e~atese ates e ates arquitetura 1 estor goulart reis filho QUADRO ,. DA ARQUITETURA NO BRASIL N.Ciuun 72(8 I) R375q IO.ed · 1utor: Reis Filho, Nestor Goulart, 193 t Tft"lo Qlli~~illflil~lmtliiUlifs,asil 42463 Ac. 16088 ERSPECTIVA BC No Pat.:56013 .'
  • 2. Biblioteca Central Quadro da arquitetura no Brasil. Ac. 16088 - R. 42463 Ex. 5 Compra - Multcampi R$ 14,90 - 08/0212006 j Quadro da Arquitelura no Brasil .. . ' . A
  • 3. ~ 'uh''llo Ik lmtt:s Ill llfidn por J. Guinsburg Equipe de Realizas;ao - Revisao: Geraldo Gerson de Souza; Programas;ao: Andrefna Nigriello; Desenhos: Koishi Shidara; Produs;ao: Ricardo W. Neves, Heda Maria Lopes e Raquel Fernandes Abranches. j ( '., l _) / nestor goulart reis filho QUADRO DA AROUITETURA NO BRASIL ~l1l :;a ~ PERSPECTIVA 01~
  • 4. I0' cdi~ao / 1' rcimpressao ISBN - 85,273-0113-X Dircitos rc>ervados a EDITORA PERSPECTIVA S.A. Av. 13rigad<iro Lufs Antonio, 3025 01 401 -000 r Sao Paulo - SP - Brasil T~:lcfax : (Q--11) 3885-8388 www.<·<li11,rapcrspectiva.com.br 1110·1 A Ruth, minha mae ~--= ~/
  • 5. SUMARIO Nota lntrodut6ria LOTE URBANO E ARQUITETURA NO BRASIL I . Lote urbano e arquitetura 15 l 0 lote urbano colonial 21 I A implanta~ao da arquitetura no seculo XIX 33 ·I A implanta~ao da arquitetura no seculo XX 53 ~ Brasilia 97 11 Uma nova perspectiva 105 7
  • 6. ARQUITETURA BRASILEIRA NO Sf:CULO XIX 1. 0 neoch'lssico na Academia Imperial 113 2 . 0 neoclassico nas prov!ncias 123 3. lnterpreta<;ao do neoclassico 135 4. As condic;6es da arquitetura na segunda metade do seculo 145 5 . A evolu<;ao das tecnicas construtivas 155 6 . As residencias 169 7 . Critica do ecletismo 179 SOBRE 0 PATRIMONIO DE CULTURA 189 Bibliografia Bibliografia do autor lndice das ilustrar;oes 8 205 207 209 NOTA INTRODUTORIA Em 1962, por apresentac;ao do mestre e amigo Lourival Gomes Machado, comec;amos a preparar al- gumas notas sobre Arquitetura para o "Suplemento Li- ten1rio" de 0 Estado de Sao Paulo. Dessa colaborac;ao resultaram alguns ensaios, com os quais procuravamos delinear um quadro de referencias basicas para o es- tudo da Arquitetura no Brasil, revelando urn esquema, a partir do qual vinhamos desenvolvendo nossas pes- quisas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Ten- tando encarar os fenomenos arquitetonicos com a obje- tividade de uma abordagem cientifica, tinhamos neces- sidade de superar os limites das analises de problemas 9 z.
  • 7. puramente formais, para relacionar a arquitetura com urn quadro mais amplo, especialmente com as estruturas urbanas e com as condic;:6es de evoluc;:ao social e cultural do Brasil isto e, tfnh~<:_s necessid~de de deixar de encara-la como s~ples transpos1c;:ao de arqmtetura europeia, para reconhecer a evolu- c;:ao de suas condic;:6es concretas de produc;:ao e uso no pafs. Assim, os ensaios publicados no ''Suplemento Litera- rio',' ~ntre 1963 e 1969, - alguns deles, com pequenos acresc1mos, apareceram em Acr6pole, revista especializada em as~untos de arquitetura - ainda que tratando de proble- mas d1versos entre si, tern uma linha comum de desenvol- vimento. Por isso, talvez, a generosidade de Aracy Amaral e ~os ~emais crfticos e artistas, que comp6em o Conselho Ed1tonal da Colec;:ao "Debates", conseguiu encontrar inte- resse em reuni-los sob a forma de livro. Esse material, agora tratado com roupagem nova, apresenta observac;:oes alinhadas ao Iongo de pesquisas sa- bre tres are_as principais. A primeira serie de ensaios procura dcstacar a mterdependencia entre os modelos de arquitetura urbana utilizados no Brasil e as estruturas das cidades em que cstao inseridos- isto e, 0 quadro urbano- indicando si- multaneamente ~s diretrizes seguidas pela evoluc;:ao, no tempo, ~esse conJunto de relac;:oes e as formas que atingem na atual!dade, bern como suas perspectivas de desenvolvi- mcnto. Esses estudos mostram o jogo complexo das relac;oes cn_lrc os espac;:?s publicos e os espac;:os privados, entre a pro- pnc~ht?e e os m~eresses coletivos, entre as determinac;:oes e os lnmtes da cnac;:ao, focalizando, a partir do lote urbano, !~mas d_epois ret~mados por varios autores e ainda hoje em d1scussao. 0 sentldo com que foram ordcnadas essas obser- vac;:oes e as Iimitac;:6es metodol6gicas do estudo realizado cstao indicados em uma nota preliminar da propria serie. 0 segundo grupo reune as primeiras conclus6es de urn programa de pesquisa, ainda em andamento, sobre a ar- quitetura brasileira no seculo XIX, que tern contado com auxflios da Fundac;:ao de Amparo aPesquisa do Estado de S~o Paulo.. 0 tema _e_especialmente interessante, porque per- rnJ~e focahzar as d1flculdades do emprego de uma interpre- tac;:ao _puramente formal para a explicac;:ao das transformac;:oes ocorndas durante aquele perfodo da hist6ria brasileira. De fato, aprimeira vista a evoluc;:ao da Arquitetura no Brasil, durante o seculo XIX, aparece como urn conjunto de feno- 10 menos de relativa simplicidade. Efacil perceber, por exem- plo, que no _infciQ do seculo, com o processo de inde- pendencia polftica, os padr6es barrocos, que haviam preva- lecido durante o perfodo colonial, sao substitufdos pelo Neoclassico, que se torna a arquitetura oficial do Primeiro e do Segundo Imperio, mantendo-se em uso ate a Proclama- c;:ao da Republica. Da mesma forma, nao e diffcil reconhccer que na segun- da metade do_gculo, com a instalac;:ao das estradas de ferro eo desenvolvimento das cidades, ocorreu uma crescente in- fluencia do Ecletismo- estilo que aproveitava as formas ar- quitetOnicas de todas as epocas e de tOdOS OS pafses - que passou a predominar a partir da proclamac;:ao da Republica. Urn exame cuidadoso e menos formal, estabelecido com urn quadro de referencias mais amplo, revela porem que essa evoluc;:iio e muito mais complexa do que parece e que a his- t6ria da Arquitetura no Brasil, durante o seculo XIX, e sobre- tudo a hist6ria de urn pafs no qual arquitetos e engenheiros procuram alcanc;:ar urn certo nfvel de independencia cultural e tecnol6gica, enquanto as condic;:oes economico-sociais conti- nuam a ser basicamente as mesmas do perfodo colonial. Por fim, com o trabalho sobre o patrimonio cultural, prctendemos par em evidencia a importancia da utilizac;:ao mais intensa de nosso patrimonio de arte e hist6ria, para a rcalizac;:ao de programas culturais criativos, nas regi6es mais densamente urbanizadas do pafs. Ao mesmo tempo, dcstacamos suas repercuss6es na integrac;:ao social das po- pulac;:6es dessas areas e suas consequencias indiretas para as industrias do turismo e da cultura. 0 assunto e analisado a partir das condic;:oes culturais que estiio ocorrendo na Re- giao Metropolitana de Sao Paulo mas poderia servir como introduc;:ao aoestudo de problemas que ja vao ocorrendo em diversas regi6es do pafs, como conseqiiencia de uma indus- trializac;:ao acelerada. A forma pela qual o problema e foca- lizado de certo modo complementa a perspectiva crftica es- tabelecida para o seculo XIX: no momenta em que o pafs sc prop6e a construir a sua independencia economica, a cui- lura e a tecnologia deverao deixar de ser produtos de impor- tac;:ao, para serem necessariamente elaboradas em nosso pafs, para o consumo da propria populac;:ao. Tanto o conteudo como a forma de exposic;:ao de todos esses trabalhos evidenciam o seu carater de en- 11
  • 8. saios, mais do que de obras com tratamento metodo- l6gico sistematico. Por isso mesmo, sao escritos em lin- guagem mais simples e mais direta do que a que eusa- da em trabalhos tecnicos e seu tom consegue ser, as vezes, mais ameno, atendendo aos interesses dos nao- -especialistas. Por tudo isso acreditamos que sirvam mais a abertura de debates do que ao seu encerramen- to e favore~am aquela participa~ao, que afirmamos em um dos capitulos, ser condi~ao da cultura no mundo contemporaneo. Essa participa=ao se traduz no DE- BATE, que e, afinal, o objetivo da cole~ao dirigida por J. Guinsburg. 12
  • 9. 1 II u lJll ~ ~ Lote urbano e arquitetura Em cada epoea, a arquitetura e produzi- da e utilizada de um modo diverso, re- lacionando-se de uma forma c:aracteris- tica com a estrutura urbana em que se instala. As princlpais cidades brasileiras e seus edificlos foram em grande parte estru- turados DOS seculos passados e funcloDam pretariamente DOS dias atuais. 0 estudo de sua evolupo ajDdar8 a transform-los. 15 )' I I I I I
  • 10. Urn tra<;o caracteristico da arquitetura urba_n~ e a relac,:ao que a prende ao tipo de lote em que esta Jm- plantada. Assim, as casas de fre?te ?e rua, do periodo colonial, cujas raizes remontam as ctdades _medJe~o~re­ nascentistas da Europa, ou as casas de porao habttavel com jardins do !ado, caracteristicas do seculo XIX ou, ainda os edificios de apartamento das superquadras de Brasiiia sao conjuntos tao coerentes, que nao e possivel descrev~-los completamente sem fazer referenda a for- ma de sua implantac,:ao. Ao mes~o tempo, nao .e dificil constatar que os lo'tes urbanos tern correspond1do, em principia, ao tipo de arquitetura que irao receber: os lotes medievo-renascentistas aar9uitetura daqu~l~s. tern- ) pos, 9s lotes mais amplos do .seculo ?CIX e IlllCI~ do seculo XX as casas com jardms parttculares e, fmal- mente, as superquadras a complexida?e dos program~s residenciais recomendados pelo urbamsmo contempora- neo. As mudanc,:as ocorridas em .am.bos os se~orAes, atraves da Hist6ria, sao de molde a md1car a pers.Jsten- cia de urn conjunto de inter-relac,:oes, cujo conhecimen- to e sempre da maior importancia, seja para o estu~o da arquitetura, seja para o estudo dos aspectos urbams- ticos. Como ressalva, apenas sera de notar que a ar- quitetura e mais facilmente adaptavel as modificac,:o~s do plano economico-social do que 0 lote urbanq_, PC:IS as modificac,:oes deste exigem, em geral, uma alterac,:ao do proprio trac,:ado urbano. Em. decorrencia, os sinais da evoluc,:ao podem ser reconhec1dos quase sempre .- senao sempre - em primeiro lugar no plano arqUite- tonico e s6 depois no urbanistico, onde sao fruto de uma adaptac,:ao mais lenta. Essa defasagem explica algumas aparentes contradic,:oes, como, por exemplo, a utilizac,:ao Corrente de esquemas do seculo XIX em bairros novas das cidades brasileiras dos dias atuais, quando o seu emprego ja vai sendo considerado como urn arcaismo em paises mais desenvolvidos. Contudo, ' como se podeni observar do material a seguir apresen- ) tado, a arquitetura tera que aguardar a evolw;ao dos modelos urbanisticos, para alcanc,:ar o pleno desenvol- vimento das soluc,:6es arquitetonicas correspondentes. A perspectiva que queremos destacar e, portanto, a da interdependencia entre arquitetura e lote urbano, 16 IJIIIIIIdo sf1o amadurecidos pelas tradic,:oes, de modo infor- 111111. ou quando sao pensados e planejados racionalmente. h lo significa que, ao examinarmos uma arquitetura condi- ' 1onndn por um certo estagio tecno16gico e por determina- dit solicitar,;6cs de ordem socio-cultural e econ6mica e, si- llllllluncamenle, ao examinmmos urn trar,;ado urbano condi- rionmlo por outros fatores, admitimos que estes compromis- :<os lcndcm a gerar, dentro das possibilidades colocadas, ti- pos de rclac,:ocs e configurac,:oes que satisfac,:am as duas or- d~ns de solicitac,:oes. Essas sao, basicamente, as relac,:oes en- Il l' os cspac,:os publicos e os espac,:os privados. Dcnlro de intervalos de tempo relativamente longos, luis con!igurac,:oes devem conseguir uma certa validade e, l'onscqlientemente, uma certa estabilidade, tornando-se lmdicionais, uma vez que consigam satisfazer a urn nu- 1111.'1o grande de imposic,:oes e func,:oes, tanto arquitet6ni- r ns, quanto urbanfsticas. Todavia, as transformac,:oes per- lllaucnles dos difercntes fatores de influencia, sejam tec- nol6gicos, sejam econ6mico-sociais, exigem uma adapta- l,'lio pcrmanente daquelas relac,:oes. 0 desenvolvimento dcslc processo constitui a evoluc,:ao da implantac,:ao da ar- quilclura urbana. · A analise dessas relac,:oes e sua evoluc,:ao oferece, evi- dculcmente, possibilidades explicativas relevantes, tanto pnra o cstudo da arquitetura, quanta para o estudo dos pr6- P' ios f'en6menos urbanos. Julgamos entao oportuno chamar ltlr ui'io para o assunto e, sobretudo, para certas conclusoes IJIW nos parecem validas, passfveis de serem tiradas com 1t.1se no material existente no Brasil. Procuramos dividir o assunto, de modo sumario, fo- ' .llll.ando 0 perfodo colonial e OS seculos XIX c XX, 111. 1 ~ suas propor~5es resultaram desiguais, segundo as ne- ll'ssidades de exposic,:ao c conforme a maior ou menor ri- q ut·t.a do material. A dificuldade mais seria que encontra- lnos !'oi, porem, a ausencia de bibliografia ampla sobrc a n1qui1c1ura urbana, aqual pudcsscmos nos reportar. Desse Jllodo, quase sempre que se tornava necessaria mencionar ,.,,.,llcnlos arquitet6nicos, eramos obrigados a apresentar lllodrlos sumarios, desdobrando 0 trabalho, mas, princi- 17 I I
  • 11. I As estruturas urbanas a arquitetura ---- l I ~ . --
  • 12. palmcntc, dificultando a manutenc;ao de uma unica linha de cxposic;ao. Tratando-se de trabalhos com as caracterfsticas de ensaio, onde nlio caberia uma tentativa de comprovac;ao sistematica de nossas observac;oes, buscamos compensar- nos com o recurso a uma exemplificac;ao mais ampla, comprccndcndo material de diversas regi6es do pafs, o que talvez venha a servir, quando nos aproxima dos lei- tores de outros estados. 20 2 0 lote urbano colonial A produ~o e o uso da arquitetura e dos nucleos urbanos coloniais baseavam-se no trabalbo escravo. Por isso mesmo, o seu nivel tecnologico era dos mais predrios. As vilas e cidades apresentavam ruas de aspecto uniforme, com casas terreas e sobrados construldos sobre o alinbamen· to das vias publicas e sobre os limites laterais dos terrenos. 21
  • 13. Pode-se afirmar com seguranc;a que durante o pe- riodo colonial a arquitetura residencial urbana estava baseada em urn tipo de lote com caracteristicas bastan- te definidas. Aproveital19o antigas tradic;oe~...J.Idianis­ ticas de Portugal, nossas vilas e cidades apresentavam ruas de aspecto uniforme, com residencias construfdas sobre o alinhamento das vias publicas e paredes late- rais sobre os limites dos terrenos. Nao havia meio-ter- mo; as casas cram urbanas ou rurais, nao se conceben- do casas urbanas recuadas e com jardins. pe fato, os jardins, como os entendemos hoje, sao complementos relativamente recentes, pois foram introduzidos nas re- sidencias brasileiras durante o seculo XIX. Sabe-se que · o Pahicio de Friburgo do Principe de Nassau, no Reci- fe, possufa urn, com a denominac;ao de jardim botani- co, mas tal palacio era considerado como sua residencia de verao e era situado em local urn pouco isolado, reu- ,; nindo caracteristicas de chacara. Mesmo os Palacios dos Governadores, na Bahia, Rio de Janeiro e Belem, foram edificados como as residencias comuns, sobre o alinhamento das vias pubiicas; nesses casas, a- ausen~ cia de elementos de acomodac;ao ao exterior era mais sensivel, uma vez que tais edificios davam frente para mais de uma via publica e eram de proporc;oes incomuns. No Para ou no Recife, em Salvador ou em Porto Alegre, encontram-se ainda hoje casas terreas e sobra- dos dos tempos coloniais, edificados em lotes mais ou menos uniformes, com cerca de dez metros de frente e de grande profundidade. Tambem em Sao Paulo as areas mais antigas do centro eram edificadas com resi- dencias desse tipo; restam ainda hoje alguns exempla- res, bastante significativos: urn a rua Jose Bonifacio, antigo numero 20, em frente arua Senador Paulo Egi- dio1 e outre a rua Tabatingi.iera. 0 esquema apontado envolvia ainda a pr6pria ideia que se fazia de via publica. Numa epoca na qual as ruas, com raras excec;oes, ainda nao tinham calc;amen- to, nem eram conhecidos passeios - recursos desenvol- vidos ja em epocas mais recentes, como meio de sele- c;ao e aperfeic;oamento do trafego - nao seria possivel pensar em ruas sem predios; ruas sem edificac;oes, defi- nidas por cercas, eram as estradas. A rua existia sem- <O Demolido em 1969. 22
  • 14. pre como urn tra~o de uniao entre conjuntos de predios e por eles era definida espacialmente. Nessa epoca ainda eram desconhecidos OS equipa- mentos de precisao da topografia e os trac;ados das ruas eram praticados por meio de cordas e estacas e nao havia portanto possibilidade de serem mantidos, por muito tempo, tra~ados rigidos, sem que fossem eri- gidos os edificios correspondentes. A impressao d~ monotonia era acentuada pela ausencia de verde. Joe--· xistindo os jardins domesticos e publicos2 e a arboriza- ~ao das ruas, acentuava-se naturalmente a impressao de concentra~ao, mesmo em nucleos de populac;ao redu- zida. Atenuavam-na apenas os pomares derramando-se por vezes sobre os muros. A uniformidade dos terrenos correspondia a uni- formidade dos partidos arquitetonicos: as casas eram construidas de modo uniforme e, em certos casos, tal padroniza~ao era fixada nas Cartas Regias ou em pos- turas municipais. Dimens6es e numero de aberturas, altura dos pavimentos e alinhamentos com as edificac;oes vizinhas foram exigencias correntes no seculo XVIII. Revelam uma preocupac;ao de caniter formal, cuja fi- nalidade era, em grande parte, garantir para as vi- las e cidades brasileiras uma aparencia portuguesa. As repeti~6es nao ficavam porem somente nas fachadas. Pelo contrario, mostrando que os padr6es oficiais apenas vinham completar uma tendencia espontanea, as plan- tas, deixadas ao gosto dos proprietarios, apresentavam sempre uma surpreendente monotonia. As salas da frente e as lojas aproveitavam as aberturas sobre a rua, ficando as aberturas dos fundos para a iluminac;ao dos comodos de permanencia das mulheres e dos locais de trabalho. Entre estas partes com iluminac;ao natural, situavam-se as alcovas, destinadas a permanencia no- turna e onde dificilmente penetrava a luz do dia. A) circulac;ao realizava-se sobretudo em urn corrector lon- gitudinal que, em geral, conduzia da porta da rua aos fundos. Esse corrector apoiava-se a uma das paredes laterais, ou fixava-se no centro da planta, nos exemplos maiores. As tecnicas construtivas eram geralmente primiti- vas. Nos casos mais simples as paredes eram de pau- (2) 0 mais antigo, o Passeio PUblico do Rio de 1dteiro, 6 de fins do Kc:ulo XVIII. 24 A casa terrea era a versco mais modesta.
  • 15. -a-pique, adobe ou taipa de piHio e nas residencias mais importantes empregava-se pedra e barro, mais raramen- te tijolos ou ainda pedra e cal. 0 sistema de cobertura, em telhado de duas aguas, procurava lan<;ar uma parte '-da chuva recebida sobre a rua e a outra sobre o quin- tal, cuja extensao garantia, de modo geral, a sua absor- <;lio pelo terreno. Eyitava-se, desse modo;- D'-emprego de calhas ou quaisquer sistemas de capta<;ao e -condu£_a_p das aguas pluviais, os quais constituiam verdadeira ra- ridade. A constru<;ao sobre os limites laterais, na expec- tativa de constru<;oes vizinhas de mesma altura, procura- va garantir uma relativa estabilidade e a prote<;ao das empenas contra a chuva, o que, quando nao era corres- pondido, se alcan<;ava atraves do uso de telhas aplicadas verticalmente. A simplicidade das tecnicas denunciava, assim, claramente, o primitivismo tecnol6- gico de nossa sociedade colonial: abundancia de mao- -de-obra determinada pela existencia do trabalho es- cravo, mas ausencia de aperfei<;oamentos. Os exem- plares mais ricos apenas acentuavam essa tendencia: apresentavam maiores dimensoes, maior numero de pe- <;as, sem, contudo, chegar a caracterizar urn tipo dis- tinto de habita<;ao. As varia<;oes mais importantes apareciam nas casas de esquina. Tendo a possibilidade de aproveitar duas fachadas sobre a rua, alteravam em parte o esquema de planta e telhado, menos para inovar, do que para con- scguir o enquadramento de ambas nos modelos tradicio- nais. Outras varia<;oes - se e que chegavam a se-lo - correspondiam ao aparecimento de corpos elevados, do tipo agua-furtada ou "camarinha"; sua existencia, porem, pressupunha a presen<;a, fogo abaixo, do esque- ma de telhado em duas aguas, capaz de evitar o empre- go de calhas e rufos. 0 uso dos ediflcios tambem estava baseado na presen<;a e mesmo na abundancia da mao-de-obra. Pa- ra tudo servia o escravo. f: sempre a sua presen<;a que resolve os problemas de bilhas d'agua, dos barris de esgoto (os "tigres") ou do lixo, especialmente nos so- brados mais altos das areas centrais, que chegavam a alcan<;ar quatro, cinco e mesmo seis pavimentos. Era todo urn sistema de uso da casa que, como a constru- <;lio, estava apoiado sobre o trabalho escravo e, por isso mesmo, ligava-se a nlvel tecnol6gico bastante primi- 26 As ruas eram definidas pelas casas ..1'
  • 16. tivo. Esse rnesrno nfvel tecnol6gico era apresentado pelas cidades, cujo uso, de modo indireto, estava basea- do na escravidao. A ausencia _de ~q!lipamentos ade- quados nos centros urbanolh-quer p~ra o fornecimento de agua, quer para o servi9o de esgoto e, rnesmo, a de- _ ficiencia do abastecimento, eram situa<;oes que pressu- punham a existencia de escravos IfQ rneio domestico; a permane.ncia dessas falhas ate a aboli<;ao poderia ser vista, ate certo ponto, como uma confirma<;ao dessa rela<;ao. Os principais tipos de habita<;ao eralll:. o sojlrado e a casa terrea. Suas diferen<;as furulamentais consisbam no tipo de piso: assoalhado no sobrado e de "chao batido" na casa terrea. Definiam-se com isso as rela- <;6es entre os tipos de habita<;lio e os estratos sociais: habitar urn sobrado significavariqueza e habitar casa _ de "chao batido" caracterizava a pobreia. Por essa razao OS pavimentos terreos dos sobrados, quando nao eram utilizados como lojas, deixavam-se para acomo- da<;lio dos escravos e animais ou ficavarn quase vazios, mas olio eram utilizados pelas famflias dos proprieh- rios. No rnais, as diferen<;as eram pequenas. Os pia- nos maiores correspondiam, quase sernpre, apenas a urn rebatimento ou sobreposi<;ao dos esquemas de plantas mais simples. Ainda no inlcio do seculo passado, diria Debret, examinando urn exemplo de grande casa resi- dencial no Rio de Janeiro: "0 sistema de constru<;lio encontra-se, sem nenhuma altera~ao, nas grandes ruas comerciais, nas pra<;as publicas e nos arrabaldes da cidade; a diferen<;a esta em que, nos bairros elegantes do Rio de Janeiro, o alto funcionario e o negociante reservam o andar terreo inteiro as cocheiras e estre- barias, ao passo que na cidade o cornerciante nele ins- tala os seus espa<;osos armazens"3 ••• Urn outro tipo caracteristico de habita<;ao do pe- riodo colonial era a chacara. Situando-se na periferia dos centros urbanos, as chacaras conseguiarn reunir as vantagens dessa situa<;lio as facilidades de abastecimen- to e dos servi<;os das casas rurais. Solu<;lio preferida pe- las famflias abastadas, ainda no Imperio e rnesmo na Republica, a chacara denunciava, no seu carater ru- ral, a precariedade das solu<;oes da habita<;lio urbana (3) Debr~t, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Htstclrla do Brasil. Sao Paulo, Ed1tora Martins, 1949, vol. II, p. 262. 28 I /o)n: 2. corredor de entrada para residencia, 1im1eoem1entP do lo)o: 3. saliio; 4. alcovas; 5. sala de viver ou varanda; fJ , c·ozlnlw e servir;os. • A produ~ao e o uso da casa baseavam-se no trabalho escravo
  • 17. da epoca. 0 principal problema que solucionavam era o do abastecimento. Durante todo o periodo colonial e, em parte, ate os dias atuais, as tendencias monoculto- ras de nosso mundo rural contribuiram para a existen- cia de uma permanente crise de abastecimento nas ci- dades. Assim sendo, as c_:asas urbanas tentavam resolver em parte o problema, por meio de pomares, criac;ao de aves e porcos ou do cultivo da mandioca e de-urn ou outro legume. Soluc;6es satisfat6rias eram porem conseguidas somente nas chacaras, as quais aliavam, a tais vantagens, as da presenc;a de cursos d'agua, subs- titutes eficientes para os equipamentos hidraulicos ine- xistentes nas moradas urbanas. Por-tais raz6es, tor- naram-se-as chacaras habitac;6es caracteiisticasde-=Pes:- soas abastadas, que utilizavam---a.s casas-urbanas em ocasi6es especiais. Mesmo os funcionarios mais im- portantes e os comerciantes abastados, acostumados ao convivio social estreito e permanente, caracteristicos de suas atividades, cuidavam de adquirir, sempre que possivel, chacaras ou sitios, urn pouco afastados, para onde transferiam suas residencias permanentes. Po- rem, o afastamento espacial em que ficavam os mora- dares das chacaras em relac;ao as cidades e vilas era considerado como medida de conforto e nao como urn desligamento daqueles centros. Pelo contrario, o tipo de atividade economica por eles desenvolvida deveria caracteriza-los como partici- pantes da economia urbana. Alem disso, as areas, as ve- zes maiores, daquelas propriedades, nao correspondiam a atividades economicas especificamente rurais. :£ famosa em Salvador a chacara do Unhao, cons- trufda no seculo XVIII e ainda hoje conservada, com sua majestosa residencia, senzalas, embarcadouros, ca- pela e ate urn grande servic;o de abastecimento de agua. Esses habitos, por certo, vinham acentuar a vin- culac;ao, ao mundo rural, dos centros pequenos. Cons- trufdas para acomodar apenas nos dias de festa os mo- radores das fazendas, as vilas e cidades menores tinham vida urbana intermitente, apresentando normalmente urn terrivel aspecto de desolac;ao. Teni sido esta, por certo, a impressao de Saint-Hilaire sobre Taubate, quan- do comenta, ao chegar aquela cidade, em 1882, que "como em toda a cidade do interior do Brasil, a maio- 30
  • 18. ria das casas fica fechada durante a semana, s6 sendo habitada nos domingos e dias de festa"'. Vemos, portanto, que fundada no regime escravista, quer para a constru~ao, quer para o uso, a habitac;ao urbana tradicional correspondeu a _urn tipo de lote pa- dronizadg e este a um tipo de arquitetJ!_ra bastante Ba- dronizada, tanto nas suas plantas, q!!anto pas _suas tec- nica,_s_ construtivas. Este esquema nao e_tipica.J!lente brasileiro. Suas origens situam-se no urbanismo medie- val-renascentista de Portugal. As cond~es locais ape- nas selecionaram entre os modelos importados os de maior conveniencia, desenvolvendo-os e adaptando-os em termos de parcela do mundo luso-brasileiro. }'ais so- lu~oes tern sido caracterizadas por forc;ar aparencia de concentrac;ao, .JXI.esmo -em centros de populac;6ese di- mensoes limitadas. De qualquer modo, epreciso des- tacar que seu uso corresponde a uma epoca na qual os recursos rurais e o proprio mundo rural estavam sem- pre ao alcance da voz e da vista do homem urbano, para solucionar muitos dos problemas fundamentais dessas vilas e cidades. I~suficientes :eara resolverem tais problemas de modo satislaf6rio, seiiLauxflio externot nossas formac;6es urbanas eram, por isso mesmo, limita- das em suas dimens6es, apoiando;;._se · largamente no mundo europeu e no mundo rural circundante, dos quais eram quase sempre uma decorrencia d1refa. "£ somente quando temos em vista esses fatores, que con- seguimos compreender como puderam funcionar em niveis tecnol6gicos tao primarios, mesmo as nossas maiores cidades do periodo colonial. Em outra oportunidade procuraremos examinar 0 desenvolvimento desse processo durante OS seculos XIX e XX. (4) Saint-Hilaire. Segunda Viagem a Sao Paulo. Slio Paulo, Martins Editora, 1953, p. 95. 32 3 A implanta~Cio da arquitetura no seculo XIX 1800-1850 Conservando-se as formas de habitar dependentes do trabalho escravo nao havia margem para grandes mud:m~as. Todavia, na Corte, a presen~ da Missao Cul~ral Francesa e a funda~ao da Aca· dem1a de Belas-Artes iriam favorecer o emprego de constru~Oes mais refinadas. Urn novo tipo de residencia, a casa de porao alto, representava uma transi~ao entre os velbos sobrados e as casas iir-· reas. 33 ,,
  • 19. 0 seculo XIX, herdeiro direto das tradic;oes arqui- tetonicas e urbanfsticas do periodo colonial, assistiria a / elaborac;ao de novos esquemas de implantac;ao da ar- quitetura urbana, que representariam urn verdadeiro 1 esforc;o de adaptac;ao as condic;oes de ingresso do Bra- sil no mundo contemporaneo e que podem ser vistas como etapas de transic;ao entre aquelas tradic;oes e a situac;ao presente. Os primeiros anos do seculo, anteriores aindepen- _ dencia, pertencendo ainda ao periodo colonial, sao fa- cilmente assimihiveis ao seculo XVIII, uma vez que lhes nao corresponderam grandes modificac;oes do pro- cesso em estudo, repetindo-se geralmente os esquemas urbanfsticos e arquitetonicos coloniais, de origem ibe- rica, com discretas modificac;6es. Sem receio de exa- gerar, podemos dizer, mesmo, que 0 seculo pl_!ssado conservou praticamente intato, ate asua.metade, o ve- lho esquema de relac;oes entre a habitac;aQ. e..o lote-ur- bano, que herdara do seculo XVIII. Persistindo o sis- tema escravista, nas mesmas condic,:6es do periodo co- lonial, e compreensfvel que, afora umas poucas tenta- tivas de renovac;ao no Rio de Janeiro, continuassem a ter ampla aceitac;ao as soluc;6es ate entao conhecidas. Subsistiam comumente as formas de uso das habitac;6es e os mesmos processes construtivos consagrados pelas tradic;6es, em func;ao da existencia do trabalho escra- vo. As edificac;oes dos comec,:os do seculo XIX avan- c;avam sobre -os limites laterais e sobre o alinhamento das ruas, como as casas coloniais. A essas assemelha- '-':am-se pela simplicidade dos esquemas, com suas pa- redes grossas, _suas alcovas e corredores, telhados ele- mentares e balcoes de ferro batido. £ sempre diffcil, ao observador desprevenido, determinar com clareza a data das construc;oes de entao. e. o que acontece, por exemplo, com quem observa o ediffcio onde hoje fun- ciona a Cia. de Gas de Sao Paulo, a rua Roberto Si- monsen; abstraindo-se algumas particularidades de aca- bamento, ao gosto do seculo XIX - introduzidas em reformas - pode servir como exemplo para o tipo de residencia colonial. Nossos principais centres urbanos, a par de urn ou outre edificio publico, eventualmente uma residencia com tratamento diferenciado, como seriam o Teatro Santa Isabel e a cMcara da familia Uchoa, no Recife, 34 tru~ao aperfei~oada
  • 20. rcvelavam. sob timidas modifica~oes de fachada, as mes- mas casas formando linhas continuas sobre as vias pu- blicas, de tal modo harmonizadas com suas antecessoras, que niio chegavam a quebrar aquela monotomia, que era urn de seus rra~os marcantes. Comprovam-no os '·Panoramas" da epoca, sejam de Salvador ou Recife, Belem ou Rio de Janeiro. A rua do Catete, a altura do pal<icio do mesmo nome, conserva urn conjunto de velhos sobrados dessa epoca. Sua aparencia difere ape- nas em pequenos detalhes das constrw;oes coloniais. Em alguns a porta de entrada, rnaior do que as outras, ocupando posic;iio central, abre para urn saguao relativa- mente arnplo, valorizado por barras de azulejos colo- r.i.dos e pela presenc;a de uma escada de madeira tornea- da. Em outros, como nos velhos modelos descritos por Debret, essa passagern corresponderia ao acesso as es- trebarias do quintal e abrigo para as carruagens. As pr.imeiras transformac;oes apresentaram-se de forma discreta. A existencia da Academia Imperial- de Belas-Artes do Rio de Janeiro teria influfdo direta- mente na adoc;ao de padr6es menos rigidos. De fato, a presenc;a da Missao Cultural Francesa e da Academia, prestigiando a difusao da arquitetura neoclassica, iria favorecer, sirnultanearnente, a implantac;ao de tipos mais refinados de construc;iio, contribuindo desse~odo ~a o abandono das velhas soluc;6es coloniais. Escada- rias, colunas e front6es de pedra ornavam com freqUen- cia as fachadas de ediffcios principais, ostentando urn refinarnento tecnico, que nao correspondia ainda ao comurn das construc;6es. Tal era o tratamento das obras / de rnaior destaque, as quais viriam a constituir padr6es para as demais; assim foi construido o Palacio de Pe- tr6polis, assirn era composta a pr6pria Academia Im- perial ·de Belas-Artes, projeto famoso de Grandjean de Montigny, e o Palacio Itamarati, de seu discipulo Jose Maria Rebello. Todavia, uma vista antiga do Rio de Janeiro de autoria de Victor Frond, mostrando o Hos- pfcio D. Pedro II, na Praia Vermelha, onde hoje se instalou a Reitoria da Universidade do Brasil, embora dentro dos mais adiantados padr6es da epoca, deixa perceber que, aos avanc;os tecnicos e as dimens6es ex- cepcionais do predio, nao correspondia qualquer nova maneira de irnplantac;ao em relac;ao a via publica. JSomente em epocas mais recentes e que receberia 36 !Ill! p1 quono jardim na frente, .cir9!!!da<lg_po£_g.£adil I r. 1111 Soluc;iio semelhante~ teria o edificio da antiga II rhlrM"· na mesma cidade, projetado por Grandjean ~ tuutlj.lny. hoje valorizado pela abertura de uma II 1'111 frentc aigreja da Candelaria. A simplicida- ' t u upuro dn composic;ao, a originalidade de sua so- l ·~ 11 , ' " H'hH;Ao as tradic;oes coloniais de construc;ao, 11 11 hultr1l11arn que se adotasse uma implantac;ao tra~ II hollll lntn~roc;ao do pais no mercado mundial, conse- HhiK , uut n ubertura dos portos, iria possibilitar a im- h In~ no lit' cquipamentos que contribuiriam para a al- "' ~111 dn 11pur8ncia das construc;oes dos centros maio- a ''" tltornl, respeitado, porem, o primitivismo das I 111, 11 t•ndicionais. A presenc;a dos equipamentos '"'l"'' lntloH insinuava-se nas construc;oes pelo uso de pi tllhlltdHH, ttue substituiam os. velhos beir~is, por con- ) lo111111 1111 culhas, ou pelo uso de vidros simples ou J ,,(.., hl•tN sobretudo nas bandeiras das portas ,e ja- Il I 11 l'lll Iugar das velhas urppemas e gelosiaj. · Em "" { <.;~JtJP-?Vf~ t 37rfr o- ,,., ~.>(p rlt~ .J.ll_,r b'- ~ I ' ·1'1" rJ!'" .J
  • 21. .- outros casos, o que entao era entendido como "gosto" n~oclassico revelava-se pela existencia de vasos e fi- guras de lou~a do Porto, a marcar, nas fachadaS:SObre as platibandas, a prumadl!_das pilastras. Aos poucQs foram aparecendo algumas solu~oes de cobertura mais complicadas, ja com quatro aguas, as laterais lan~ando Iivremente sobre os telhados de vizinhos de menor al- tura ou mesmo ja com suas calhas e· condutores im- portados. A mudan~a. porem, nao chegaria para alterar a aparencia dos predios. Em 1874, o engenheiro Bel. Joao de Rocha Fragoso realizou urn levantamento do centro da cidade do Rio de Janeiro onde aparecem as eleva~oes principais de todos os edificios. Esse precioso documento, na parte que pode ser vista, como ilustra- ~ao de urn Iivro de D. Clemente da Silva Nigra1 , revela que a essa epoca ja a grande maioria dos edificios havia adotado a solu~ao do telhado de quatro aguas, mesmo sem platibanda. Em constru~oes de muita profundida- de, o esquema era especialmente eficaz, uma vez que evitava estruturas com ponto muito elevado. Outra vista, de Victor Frond, do inicio do mesmo quartel e do mesmo local, ja indicava com clareza a forma pela qual se impunham essas pequenas mudan~as, surgidas na primeira metade do seculo. Essas transforma~oes discretas, possibilitando a adapta~ao das velhas receitas coloniais, vinham, ao mesmo tempo, garantir a conti- nuidade de sua aplica~ao numa epoca em que as ino- va~oes do conjunto ·de vida brasileira ainda nao eram muito profundas, na qual os habitos das camadas mais favorecidas continuavam largamente a aproveitar as facilidades oferecidas pela escravidao. Exemplos dessa continuidade na Provincia de Sao Paulo podem ser en- contrados no sobrado do Porto, em Ubatuba, que com- pletou urn seculo em 1947, ou nos sobrados de Banana!, construidos por volta de meados do seculo passado, nos quais, por tras dos detalhes decorativos de tipo neo- classico, esconde-se a solidez e rigidez das constru~oes de_tip-2._ coloni_al. A versao fluminense nos e dada a conhecer pelo trabalho do Prof. Sllva Telles sobre a ci- dade de Vassouras2 • (I) Silva Ni&ra. Construtores e A.rtistas do Mosteiro de Silo Bento do Rio de Janeiro. (2) Silva Telles. Vassouras - Estado da constru{;'iio residenclal urbana. 38 ltura discrete DO xclusivamente residencial
  • 22. Urn novo tipo de residencia, a casa de porao alto, ainda "de frente da rua", representava uma transi!;iiO entre os v'elhos sobrados e as casas terreas. Longe do comercio, g.os bairros de caniter residencial, a nova f6rmula de implanta!;ao permitiria aproximar as resi- dencias da rua, sem os defeitos das terreas, gra!;as aos _poroes mais au menos elevados, cuja presen!ra era mui- tas vezes denunciada pela existencia de 6culos ou se- teiras com gradis de ferro, sob as janelas dos sal6es. Nesse caso, para solucionar o problema do desnfvel entre o piso da habita!;iiO e o plano do passeio, surgia~ uma pequena escada, em seguida a porta de entrada. Essa, com puxadores de cobre e com duas folhas <:Jr-- nadas de grandes almofadas, abria-se sobre um peque- no patamar de marmore, quase sempre com desenhos de xadrez em preto e branco. Ap6s a escada, a proteger a intimidade do interior da vista dos passantes, ficava uma porta em meia altura, geralmente de vidro ou de ma- deira recortada. Antes dessa, porem, no patamar supe- rior, situavam-se as portas dos saloes; aqueles saloes, cujas janelas, como nos sobrados, abriam sobre a rua, e nos quais se alinhava um mobiliario de genero for- mal, junto as paredes decoradas com papel colada, com dunquerques, espelhos, jarras de lou!;a e, em cer- tos casas, o piano. Esse tipo, que representava uma renova!riio, den- tro dos velhos moldes construtivos, teve larga difusao. Exemplos significativos ainda podem ser encontrados em Campinas e nas cidades do Vale do Parafba, como, por exemplo, uma velha residencia em Jacarei, em frente ao gim'isio, ou em Taubate, a rua Visconde do Rio Branco, esquina de Sao Jose. Sao Paulo guarda em varios bairros - Campos EHsios, Liberdade, Con- sola!;iio ou Bela Vista - alguns exemplares ainda que com decora!riiO de fachada mais recente. Nestes, qua- ~e sempre, alem de anfor~statuas ou fruteira~e a platibanda, compunham-se balaustradas e-Jillastx:as, e, en_!!:.~elas, janelas de baic6es, com peitoris du~ e bandeiras de vidro ou mesmo com imita!;oes de mas- sa em seu Iugar. Com esses tra!;OS alinhavam-se nas ruas Santo Antonio e Santo Amaro, em Sao Paulo, junto ao 40
  • 23. Pa!rO Municipal, exemplos variados. Urn outro tipo, hibrido, reunia caracteristicas de sobrado e os elemen- tos de inova!rao do andar terreo acima referidos. Dessa forma iniciava-se nos sobrad~ utiliza9ao do primeiro pavimento para fms mats valorizados socialmente.. Exemplo sugestivo pode ser observado no edificio onde esta instalado o Museu Republicano de Itu. Outros, que se aproximam do tipo, sao o predio do Ginasio de Jacarei e o velho sobrado da famflia Marcondes, em Pindamonhangaba. A essas transforma!roes no campo da arquitetura correspondiam modifica!roes significativas nos centros urbanos. Nas cidades de maior importancia multipli- cavam-se ruas cal!radas e apareciam os primeiros pas- seios junto as casas. Consl!uiram-se tambem jardins, ao gosto europeu, imitando o Passeio Publico do Rio de Janeiro, cercados por altu grades de ferro, reser- vando seu uso para as camadas mais abastadas. No·mais, as diferen!ras eram poucas. Conservan- do-se as condi!roes tecnol6gicas e as formas de habitar, dependentes unicamente do trabalho escravo, que per- sistia nas mesmas condi!rOeS do periodo colonial, nao havia grande margem para mudancas. Usos, moradas e cidades alteravam-se lentamente e seria necessario aguardar a segunda metade do seculo, com a decaden- cia da escravidao e o desenvolvimento da imigracao, pata que surgissem modificacoes de maior importancia. 42 1850-1900 Com a decadencia do trabalho ·escravo e com o inicio da imigra~o europeia, desenvolveu-se o trabalho remunerado e aperfei~oaram-se as tecnicas construtivas. As cidades e as residencias sio dotadas de servi~os de agua e esgoto, valendo-se de equipameotos importados. Surgem nessa epoca as casas urbanas com novos esquemas de implanta~o, afastados dos vizinhos e com jardins la- terais, 43
  • 24. ~s transformas;oes s6cio-econ6micas e tecnol6gi- cas pelas quais passaria a sociedade brasileira durante a segunda metade do seculo XIX iriam provocar o des- prestigio dos velhos babitos de construir e habitar. A posis;ao cambial favon'ivel conseguida atraves das expor- tas;oes crescentes de cafe possibilitaria a generalizas;ao do uso de equipamentos importados, que libertariam os construtores do primitivismo das tecnicas tradicio- nais. A isto acrescentava-se a modernizac;ao dos trans- partes, com o aparecimento de linhas ferreas ligando o interior ao litoral e de linhas de navegac;ao nos gran- des rios interiores. Equipamentos pesados, como ma- quinas a vapor, serrarias etc., teriam entao a possibi- Iidade de serem empregados em vastas regioes, auxilian- do-as a romper com a rotina dos tempos ·coloniais. Foi sob a inspirac;ao do ecletismo e com o apoio dos babitos diferenciados das massas imigradas, que apareceram as primeiras residencias urbanas com nova implantar;ao, rompendo com as--t-r:aQ_ic;oes e-- exigindo modificac;oes nos tipos de lotes e conStruc;oes. As for- mas de uso ja nao estavam mais tao largamente apoia- das no sistema servil. A presenc;a de instalac;oes hi- draulicas, ainda que primarias, tornava desnecessaria uma parcela dos servis;os bras;ais, ate entao indispen- savel. Nos centros mais adiantados - sobretudo no Rio de Janeiro, por influencia da viga da Corte - veri- ficava-se mesmo uin crescente-desprestfgio dos babitos tradicionais e uma valorizac;ao de novos costumes. A concretizac;ao desses estava na dependencia da exis- tencia de empregados domesticos de outro tipo, ge- ralmente europeus, trabalhadores remunerados, capa- zes de prestac;ao de servic;os com maior refinamento. As primeiras transforma~ verificadas entao n~s soluc;oes de implantas;ao llgavam-se aos esforc;os de h- bertas;ao das construc;oes em relac;ao aos Ii~ft~s dos totes. 0 esquema consistia em recuar o edlfiCIO dos limites Iaterais, conservando-o freqlientemente sobre o alinhamento da via publica. .Comumente o recuo era apenas de urn dos !ados; do outro, quando existia, re- duzia-se ao mlnimo. 0 processo era geral. Em todas as regioes onde se fazia sentir o declfnio da escravidao e a presenc;a do progresso tecnol6gico, encontravam-se os mesmos 44 OM NOVA IMPLANTA<;Ao dim e entrada laterais ullltiiiiH de adaptac;ao as novas condic;6es. Em Ma- "" Porto Alegre, podiam ser encontrados os mes- ' tjiiN IUH apontados por Sylvia de Vasconcellos •II • 11 u tudo sabre Bela Horizonte1 • As transfonna- 1 uuu, porem, de tal modo importantes, em face 1t • ,IJ~I'Io" que ate entao vigoravam, que em certos •• ful necessaria alterar os c6digos municipais V•~· utii.IIOI, Sylvto. A FamiiJG e a ArqUitetvra Ccm,.mpor4mla. 45
  • 25. para permiti-las, uma vez que estes determinavam, de acordo com as tendencias do urbanismo colonial, que as casas seriam edificadas sobre o alinhamento das vias publicas. As ~side~ maio_res eram enriquecidas com urn jardim do lado. EStanovidade, que vinha introdw zir urn elemento paisagistico na arquitetura residencial, oferecia a essa amplas possibilidades de arejamento e ilumina9ao, ate entao desconhecidas nas tradi96es cons- trutivas do Brasil. Ao mesmo tempo, a arquitetura aproveitava o esquema da casa de porao alto, transferin- do porem a entrada para a fachada lateral. Desse modo, as casas conservavam uma altura discreta da rua, prote=- gendo a intimidade e aproveitando simultaneamente os por6es para alojamento de empregados e locais de servi- 90. 0 contato da arquitetura com os jardins laterais, difi- cultado pela altura dos predios, era resolvido pela pre- sen9a de varandas apoiadas em colunas de ferro, com gradis, as quais se chegava por meio de caprichosas escadas com degraus de marmore. Sao ainda comuns, em bairros junto ao centro de Sao Paulo, exemplos desse tipo; urn, modesto mas significativo, subsiste qua- se isolado em pleno largo do Arouche, perto do edi- ffcio da . Secretaria da Educa9ao. Ainda poder.ia- mos considerar como representativo do tipo, ape- sar da posi9ao diversa da porta da entrada, o Palacio do Catete, no Rio de Janeiro. Exemplos variados po- deriam tambem ser encontrados na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, entre a rua Santo Amaro e a rua Con- selheiro Ramalho, em Sao Paulo. AQ mesmo tempo conservava-se, em grande par- te, a destina9ao geral dos compartimentos. A parte fronteira, abrindo para a rua, era reservada para as salas de visitas. Dispunham-se os-quartos em torno de ~ urn corredor ou sala de almo9o (varanda), na parte ~ central, ficando cozinha e banheiro ao fundo. Em inu- 1 ( meros casos, o alpendre de ferro iria funcionar, ate I l certo ponto, como urn corrector externo. Para ele abri- · -' , riam as portas das salas de visitas e almo9o, janelas ou portas de alguns dos quartos e, por vezes, mesmo as portas da cozinha. As residencias menores nao podiam contar com lotes laterais ajardinados para resolverem seus proble- mas de ilumina9ao e arejamento. Apresentavam, entao, 46 Mesmo as casas menores 1fXll rnnooooooaa~ - tim nova implanta~ao
  • 26. pequenas entradas descobert~s, ~m port6es e escadas de ferro. Internamente, lan<;:avam---mao de po<;:os de iluminayiio, aproveitando as facilidades de ob- ten<;:iio de calhas, condutores e manilhas, para contro- 1e das aguas pluviais e para resolver OS problemas dos ;telhados complicados, decorrentes das novas solu<;:6es de plantas. Em todos os tipos, porem, suprimiam-se as alcovas, com evidentes vantagens higienicas. Tambem as chacaras, na periferia, sofriam as transforma<;:6es dos tempos. Seus terrenos eram mais reduzidos e sua arquitetura cada vez mais assumia ca- racterfsticas urbanas. Notaveis foram as chacaras de Botafogo e Laranjeiras, no Rio de Janeiro. No bairro da Vit6ria, em Salvador, encontra-se ainda hoje uma serie invulgar de exemplares. As ultimas, como a cha- cara do Conselheiro Antonio Prado, em Sao Paulo, ou o atual Palacio dos Campos Ellsios, na mesma cidade, tinham ja urn tratamento que as aproximava das resi- dencias da aristocracia europeia.. . As primeiras manifesta<;6es da mecaniza<;:iio na prodU<;ao de materiais de constru<;iio e a presen9a dos imigrantes como trabalhadores assalariados respondiam pelas altera<;:6es das tecnicas construtivas nessa epoca. Surgiam entao as casas construfdas com tijolos e co- bertas com telhas de tipo Marselha, onde a madeira serrada permitia urn acabamento mais perfeito de ja- nelas, portas e beirais. Estes ultimos ostentariam orna- mentos de madeira serrada, conhecidos como lambre- quins. Foi, portanto, somente ap6s a supressao do tra- fico de escravos e o infcio da imigra<;:iio europeia e o desenvolvimento do trabalho remunerado e o sistema ferroviario, que apareceram as primeiras residencias urbanas com nova implanta9iio, com o que se poderia chamar de "deslocamento" da constru<;:iio dos limites do lote e urn esfor9o da conquista e incorpora<;:ao do espa9o externo a arquitetura das residencias. Essa tendencia obteria quase completa generali- dade, nas casas construidas ap6s a liberta<riio dos es- cravos e a proclama9ao da Republica. A mudan9a, po- rem, nao ocorreu de urn s6 golpe, mas em processo Iento. As experiencias sucessivas iriam confirmando as vantagens de conservar por<;:6es sempre maiores de 48 espa9os extcrnos entre os limites dos totes e os edifi- cios. Os primeiros exemplares apresentavam. apenas discreto afastam.ento em urn dos !ados. Com o tempo, porem, definiam-se claramente os jardins do lado, va- lorizando socialmente as eleva~oes laterais que para eles se voltavam. Ao mesmo tempo, pelo progresso das condi~oes higienicas e desprestfgio dos velhos ha- bitos de dormir em alcovas, sem ilurnin~ao e insola- ~ao direta, apareciam discretos afastamentos em rela- ~ao ao segundo limite lateral. Esse, verdadeiro corredor, ligava-se arua por meio de pequenos port6es de ferro, ou mesmo de madeira; era utilizado comurnente como entrada de servi~o - nas cidades menores sem servi~o de gas, como entrada de lenha - e sua desvaloriza~io social era tao acentuada, que por vezes nio era revela- do no .exterior, ocultando-se sob urn pano falso da facha- da, com platibandas e pilastras, a fingir, para os pas- santes, um prolongamento da sala de visitas, apenas desmentido pela presen~a do portio. Surgiram. depois os afastamentos em rel~io as vias publicas. Anteriormente, i' os ediffciorprinctpais cram projetados com plantas em forma de "U" ou "T", for9ando o aparecimento de "vazios" sobre os alinha- mentos. 0 atual Asilo Sao Cornelio, no bairro da Gl6- ria, no Rio de Janeiro, ou na mesma cidade, a Escola D. Pedro II, no Largo do Machado, mostravam urn 49
  • 27. tirnido esfors:o de movimenta<;lio nas fachadas. Feno- meno curioso ocorreu na ladeira de Sao Bento, na Bahia. Ao ser calc;:ada a via publica, foram incorpora- dos os espas:os necessaries para a formac;:ao de pe- quenos jardins fronteiros aos velhos sobrados de frente de rua, conferindo-lhes uma aparencia menos arcaica; avans;avam-se os limites dos lotes, por nao ser pos- sivel recuar a arquitetura. Essa soluc;:ao era, porem, excepcional; as velhas ruas, sempre estreitas, exigindo alargamento, nao permitiam sua generalizas:ao. Podemos constatar, durante o . Segundq Imperio, urn avans:o tecnol6gico tanto maior - quanto mais nos aproximamos .da abolic;:ao da escravatura. As residen- cias maiores ja nao eram simples ampliac;:5es ou mul- tiplicac;:5es dos modelos mais modestos. Ao aumento das possibilidades financeiras dos proprietaries mais abastados correspondia urn refinamento tecnico, uma integras;ao crescente nos beneficios da civilizas:ao in- dustrial e, conseqiientemente, urn refinamento de usos, ate entao desconhecidos. 0 ,aperf~is:oamento dos habitos higienicos coincidia com a instalas;lio dos primeiros ba- nheiros com agua corrente e com o aparecimento das venezianas. 0 emprego das madeiras serradas, com juns;5es mais perfeitas, difundiu o uso de assoalhos en- cerados, em substituis:ao aos antigos, de tabuas largas e imperfeitas, lavados semanalmente, iniciando--se, em de- correncia, 0 uso de tapetes e m6veis mais finos. Desaparecera, portanto, a uniformidade dos es- quemas das residencias, que fora o tras:o marcante da fase colonial. Havia agora o ensejo de urn aperfeic;:oa- mento permanente, de tal modo que, no fim do perfo- do, com a extensao das influencias e beneflcios do mundo industrial a proporc;:5es crescentes da populac;:lio, ja seria possivel comes:ar a calcular o prazo de obso- lescencia de uma edificac;:lio. Sucediam-se os esquemas, num esfors:o para acompanhar as transformac;:5es da tecnologia e dos costumes e, em torno de cada urn de- les, multiplicavam-se os experimentos, em busca das melhores formulas de aproveitamento. "'- Por volta dos Ultimos anos do seculo XIX e no infcio do XX, antes de 1914, podia-se considerar co- mo completa a primeira etapa da libertas:ao da arqui- tetura em relac;:lio aos limites dos lotes. Fundiam-se, desse modo, duas tradic;:5es: a das chacaras e a dos 50 No chale, olado no centro do terrene, agu~s correm para as laterais.
  • 28. sobrados. Exemplos excelentes dessa etapa, em Sao Paulo, sao as construg6es mais antigas da Avenida Pauli:.ta e algumas residencias de Higien6polis e Cam- pos Elisios. Vencia-se portanto uma etapa tecnol6gica. As formas arquitetonicas, porem, nao respondiam sem- pre com a mesma rapidez de mudan9a. Conservava-se por vezes urn tipo de arquitetura pesada, calgada ainda · -<' no emprego da antiga taipa de pilao, do adobe e da telha canal, assim como tipos de esquadrias que vinham / do tempo do "palmo em quadro", com vidragas ex- 1 ternas e bandeiras fixas. As paredes, mesmo sendo de /.... tijolos, tinham uma largura exagerada. A rua da Gl6ria, em Sao Paulo, conserva ainda alguns edificios mo- destos, caracterfsticos dessa transi9ao. A essas transforma96es no campo da arquitetura correspondiam modificag6es significativas no equipa- mento das cidades. Transpondo uma etapa de aper- feigoamento tecnol6gico, as cidades equipavam-se com redes de esgotos, de abastecimento de agua, iluminagao e de transportes coletivos. Assim, se bern que os Iotes tivessem sofrido mo- dificag6es em suas dimens6es, procurando adaptar-se as novas condi96es arquitetonicas, seus fundamentos subsistiram. As cidades cresciam pelo aparecimento de novos bairros, com os mesmos esquemas viarios e de subdivisao - alguns, destinados as classes mais abasta- das, com lotes mais amplos e jardins - mas o esque- ma de solugao permanecia o mesmo. A multiplicagao das obras publicas compensava, apenas parcialmente, as limita96es do sistema dos tempos coloniais e difi- culdades que surgiam tinham seu encaminham~nto num plano simplista. Por tudo isto, pode-se afirmar que as transfor- mag6es vividas pela arquitetura e pelo urbanismo du- rante o seculo XIX, no Brasil, foram resolvidas em termos de relac;ao arquitetura-lote urbano, sem que se / modificasse fundamentalmente o tipo deste, mas ape- nas suas dimens6es e, mesmo assim, de modo discreto. Somente as grandes mudanc;as que ocorreriam no se- culo XX 6 que iriam comprometer seriamente as bases da organizac;ao urbana e permitir o encaminhamento de soluc;oes de maior profundidade, nas estruturas ur- banas. 52 4 A implantac;Cio da arquitetura no seculo XX 1900-1920 A sociedade brasileira revelava ainda os compromissos de um passado recente com o regime de trabalbo escravo. Por isso mesmo, os edificios ligavam-se estreitamente aos esquemas rigidos dos tempos coloniais Os edificios comerciais, as casas com jardins e as vilas operanas constituiam inova~Oes mas continuavam a utilizar formas de relacionamento caracteristicas de epocas anteriores. 53
  • 29. Os primeiros anos do seculo XX asststlflam a repetic;:ao, sob varias formas, dos esquemas de relac;:oes entre arquitetura e lote urbano, que haviam entrada em voga com a Republica. Conservando-se ainda as tec- nicas de construc;:ao e uso dos edificios, Iargamente apoiados na abundfmcia de mao-de-obra mais grossei- ra e, em pequena parte, artesanal, era natural que se repetissem os esquemas de fins do seculo XIX, com solw;oes mais ou menos nisticas, com edificios sabre o alinhamento da via publica, a revelar, em quase todos os detalhes, os compromissos de urn passado ainda recente com o de trabalho escravo e com os esquemas rigidos dos tempos coloniais. De fato, a abolic;:ao da es- cravatura e a instala<;ao da Republica nao seriam su- ficientes para que o pais alcanc;:asse rapidamente con- di<;:6es de valorizac;:ao ou melhoria de padr6es de mao- -de-obra ou para que se transformasse a estrutura eco- n6mica, iniciando-se a instalac;:ao industrial. Para isso, seria necessaria aguardar 0 impacto da primeira guerra mundial. E: quase dizer, ao modo de Hauser, que, no que se refere as relac;:oes entre arquitetura e lote urbana, o seculo XX inicia-se por volta de 1914. Fosse no campo das construc;:oes das camadas sociais mais ricas, fosse nas habitac;:oes mais modestas de pequenos fun- cionarios. artesaos ou dos poucos trabalhadores indus- triais, verificava-se a mesma tendencia a estabilidade das formas de equacionar aquelas relac;:oes, que mal se ocultavam sob as complicadas variac;:oes estilisticas, de inspirac;:ao academica ou floreal. Belo Horizonte, surgindo com o seculo, teria c6digo ainda com a exi- gencia de alinhamento das construc;:oes sabre a via publica. Todavia, seu plano, concebido para a circula- c;:ao de vefculos de trac;:ao animal, ja apresentava urn esquema viario amplo e claro. 0 progressive aumento de populac;:ao dos centros maiores e o aperfeic;:oamento dos servic;:os publicos, fossem formas de pavimentac;:ao, fossem meios de co- municac;:ao e transporte, forc;:avam, entretanto, uma sfntese entre as velhas tradic;:oes coloniais do sobrado e da chacara ou casa de arrabalde. Nas experiencias mais importantes dos bairros residenciais das classes abastadas, insinuava-se, ja enHio, a combinac;:ao entre a rigidez de urn e o carater rural da outra. Iniciava-se, por esse modo, urn esforc;:o de reconciliac;:ao do homem 54
  • 30. com a natureza, como decorrencia direta - e legitima - dos excessos de concentr~ao. Constituia-se, pois, um dos p6los - o outro seria a verticalizacao que ocorreria em seguida - da experiencia que serviria de base para as propostas urbanisticas mais modemas, cujo uso seria popularizado com a constru~ao de Bra- silia. · Naquela epoca, nos bairros da zona sul do Rio de Janeiro, em Higien6polis e Campos Elisios em Sao Paulo, os arquitetos mais ousados orientavam a cons- tru~io de casas com solu~oes arquitetonicas mais atua- lizadas, com jardins amplos, poroes altos e programas mais complexos, que conseguiam ser, a um so tempo, cbacaras e sobrados. Nascia portanto uma formula capaz de reunir as vantagens da residencia urbana as das velhas chacaras, que ja entio iam sendo alcan~adas pelos loteamentos das cidades e cuja manuten~ao ia sendo mais dificil com o desaparecimento da escravidao e dos costumes dos tempos coloniais. 0 contato entre as residencias e os jardins era porem regido por principios extrema- mente formais e dificultado pela altura dos poroes, que ainda eram utilizados para acomoda~ao da cria- dagem. Sinais mais evidentes das transforma~oes que se iniciavam eram os programas mais complexos. :B tambem essa a· epoca das primeiras experien- cias arquitetonicas mais atualizadas, que se iniciam com a introducao do "Art-Nouveau" e passando pelo Neo- colonial iriam conduzir ao movimento modernista. Libertada dos compromissos mais diretos com o tra- balho escravo, beneficiada por uma relativa att!iliza~ao tecnica, a arquitetura brasileira, especialmente na re- giio centro-sui, iria iniciar a procura de caminhos novos que exigiriam necessariamente a renova~io das f6r- _, mulas de implanta~io. A "Vila Penteado", em Sao Paulo, concluida por volta de 1903, constituia exemplo significativo. Essa residencia, onde hoje funcionam algumas dependencias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, projetada e decorada com especial rigor arquitetonico, sob a ins- pira~ao do "Art-Nouveau-Sezession", apresentava uma implan~ao excepcional, ao centro de uma quadra ajardinada, oferecendo a Av. Higienopolis uma pers- pectiva de jardim frances e ocultando, junto as laterais
  • 31. e nos fundos, os velhos recursos de ch<kara e casa- -grande. Seus poroes elevados, aliados a propor!(aO dos andares, com pe-direito de 5 metros, garantiam-lhe ainda uma posi!(ao de dominancia, hoje desaparecida com o velho jardim, mas que pode ser reconhecida nas fotografias antigas e desenhos de seu arquiteto, Carlos Ekmann. Em algumas dessas residencias maiores, iriam sendo aperfei!(oadas muitas das caracteristicas que mar- cariam quase toda a arquitetura residencial no periodo que medcia entre as duas guerras mundiais: a preo- cupa!(ao de isolar a casa em meio a urn jardim, a ten- dencia a conservar urn paralelismo rigido, em rela!(ao aos limites do lote, a transforma!(ao progressiva dos pavilhoes externos de servic;o das chacaras em edkulas, o desaparecimento progressive de hortas e pomares - as vezes a sua redu!(ao quase simb61ica a uma jabuti- cabeira ou a urn canteiro de alfaces - e, de modo geral, a transferencia, para os jardins e todos os es- pac;os externos, dos antigos preconceitos de facbada e hierarquia dos espa!(os, da arquitetura tradicional. As casas da Avenida Paulista, em Sao Paulo, pertenciam a essa categoria; entre as que ainda subsistem e pos- sfvel observar, por exemplo, na esquina com as ruas Carlos Sampaio e Rio Claro, alguns pomares indis- cretos derramando-se por sobre os muros dos quintais, com suas grumixamas, mamoeiros ou mesmo "cabe- ludas". Alguns conjuntos de habita!(iio popular apresen- tavam tambem formas especiais de implanta!(aO. Com- punham-se de fileiras de casas pequeninas - as vezes mesmo apenas de quartos - edificadas ao Iongo de urn terreno mais profunda, abrindo para patio ou corredor, com fei!(ao de ruela. Nesses casos era fre- qiiente a ·existencia de urn s6 conjunto de instalac;oes sanitarias e tanques, dispostos no patio, para uso comum. Em certos casos a passagem comum era aberta para a rua, de modo franco, uma soluc;ao mais encon- tradi!(a no Rio de Janeiro. Uma dessas vilas, em Sao Paulo, recentemente demolida, ligando a Av. 9 de Julho a rua Itapema, tinha a peculiaridade de se desenvolver em escadas. Nesta cidade, essas "vilas" ou "cortic;os", em bairros como a Bela Vista, apresentavam cornu- mente, voltadas para a via publica, fachadas construfdas 58 fastamento df' rua,
  • 32. s<;>bre 0 alinhamento, ao gosto da epoca, capazes de d1s~ar~ar _s_ua destina~ao. 0 esquema parece ter raizes an_t1gas;_ J_a ~~ 1819, entrando na capital paulista Samt-HJ!a1re ma acomodar-se em hospedaria com for- ~a. ~emelhante: ."Indicaram-me a hospedaria de urn m_dJvJduo conhec1do por Bexiga, que tinha mesmo em S~<;> _Paulo, ~astas pastagens. Para essa hospedaria me dmg1. Entre1 na cidade, a 20 de outubro de 1819, por uma rua larga, cheia de pequenas casas, bern conser- vadas e, depois de ter passado diante de urn Iindo cha- fariz e de ter_ em seguida atravessado a ponte de Lo- rena, construzda de pedras, ponte sobre o ribeirao Hynhangabahu, cheguei a hospedaria do Bexiga. Fize- ram entrar meus animais num terreiro lamacento, cer- cado de urn !ado por urn fosso e dos outros dois !ados por pequenas constru~oes, cujas numerosas portas da- vam para o referido terreiro. Essas constru~6es eram os quartos ou aposentos destinados aos viajantes"I. Tambem entre as constru~oes para os escrit6rios e co~~rcio, ja se .iniciavam as ~andes transforma9oes qu~ mam ser apbcad_as em mawr escala apos a Pri- ~eira Guerra Mund1al. Ja nos primeiros anos do seculo, com a crescente separa~ao entre os locais de residencia e trabalho e com o aumento de concentra- s;ao de popula~ao nas cidades maiores, os velhos so- prad.os comerciais de tipo portugues, com residencias ;e loJas, come~aram a ser substitufdos por predios de alguns andares, com destina9ao exclusivamente comer- cia!. Esses exemplos mais antigos diferiam apenas dis- cretamente dos predios que vinham substituir. Apoiados em paredes estruturais de tijolo, as vezes refor9adas nas partes terreas, com vigas e coluna de metal reu- niam todo urn conjunto de caracterfsticas de impianta- ~lio e de uso e detalhes construtivos internos e externos que as aproximavam, de urn lado, daqueles velh~ sobrados e, de outro, da arquitetura residencial dessa epoca, que ja se beneficiava de urn conjunto de con- quistas tecnol6gicas. Dessa diferiam, porem, justamente por essa semelhan~a, ressentindo-se claramente de urn passado recente de compromisso de uso residencial. Tais eram os ediffcios que abrigavam os bancos, os jornais e mesmo as reparti96es publicas, que antece- . (I) Viagem a Provincia de Siio Paulo. 2~ edi{:iio, Sao Paulo, Mar· tms, 1945. Tradu{:iio de Rubens Borba de Moraes. 60 deram ao arranha-ceu; alguns nem sequer tinham ele- vadores; outros adaptaram-nos mais tarde. Tais eram os primeiros ediffcios construfdos na antiga Avenida Central - mais tarde Rio Branco - no Rio de Ja- neiro, como podem ser vistos em algumas fotografias de Ferrez, no livro de D. Clemente Maria da Silva Nigra2, ou nos raros remanescentes. Tal era o ediffcio Baruel, em Sao Paulo, a rua Direita, esquina da Pra~a da Se. Tais eram alguns dos predios do Largo do Cafe e da rua Lfuero Badar6, nesta cidade. Janelas com vidros ornamentados com desenhos na parte externa e com folhas cegas de madeira pela in- terna, conferiam-lhes a mesma aparencia que cons- tru96es domiciliares dessa epoca. Em alguns casos, utilizavam-se mesmo as venezianas, entao surgindo como novidade e quase sempre conservavam o antigo pe-di- reito de quatro a cinco metros, que possibilitava o em- prego de amplas bandeiras sobre as portas e janelas. Por esse motivo, quase todas ostentavam seus balcoes ou, pelo menos, urn pequeno guarda-corpo de ferro ba- tido e urn arremate de madeira, conferindo-lhes uma indiscutfvel semelhan9a com os velhos sobrados residen- ciais dos tempos de Colonia. Esses tra9os persistiriam mesmo em ediffcios construidos~entre 1920 e 1930, como a maioria dos que se alinham na Avenida Sao Joao, em Sao Paulo, entre as Pra9as Julio Mesquita e o ediff- cio dos Correios, as constru96es da Cinelandia no Rio de Janeiro ou as da Pra9a dos Andradas em Porto Alegre. No conjunto, a arquitetura do inicio do seculo tra- ria poucas transforma96es de importancia, inclusive no que se refere aimplanta9ao. Suas virtudes residiam mais no aperfei9oamento dos detalhes construtivos; seus programas e solu96es plasticas repetiriam quase sempre os esquemas dos primeiros anos da Republica. A ex- posi~lio de 1908, no Rio de Janeiro, verdadeiro marco de suas possibilidades, reuniria urn conjunto variado de formas e estilos, que poderia ser considerado como glorifica~ao do ecletismo e das ambi~6es dos anos pre- cedentes. De seus exageros e de seus casos mais nota- (2) D. Clemente Maria da Silva Nisra. Construtores e A.rtlstas do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro. Salvador, 19SO, vol. III. 61 II '!
  • 33. veis de mau gosto, consola-nos apenas o conheciment_o da extremada solidariedade, te6rica e pd.tica, da arqUJ- tetura de quase todos os paises, naqueles dias. Do sau- dosismo, do preciosismo sem sentido, viriai!l nos de_s- pertar as modificac;:oes bruscas, ocorridas por ocas1ao da Primeira Guerra Mundial. 62 1920-1940 Com o inicio do desenvolvimento indus- trial ocorrem as primeiras transforma- ~oes tecnologicas de importancia no Pais. Entretanto, persistiam os lotes urbanos herdados do seculo XIX, nos quais se construiam imensos edificios de concreto. 0 atendimento as exigencias do mundo contemporaneo era tentado apenas com adapta~oes da arquitetura, sem conside· ra~oes pelos aspectos urbanisticos. 63
  • 34. As residencias populares e da classe media Os esquemas de implantac;ao da arquitetura urba- na brasileira sofreriam transfonnac;oes da mais alta sig- nificac;a.o, durante os anos compreendidos entre a Pri- meira e a Segunda Guerra Mundial, correspondendo ao inicio do desenvolvimento industrial e da diversificac;ao da produc;ao rural do pafs. Datam de entao as primeiras modificac;oes tecno- 16gicas de importancia no Brasil. 0 prestfgio crescen- te do trabalho remunerado criaria as condic;oes neces- sarias ao seu encarecimento e vantagem de sua substi- tuic;ao por processes mecanicos. A mecanizac;ao, ini- ciada com os meios de transporte, iria aos poucos es- tendendo-se a uma serie de setores e atividades. Na arquitetura as transformac;oes e a mecanizac;ao do trans- porte vertical e horizontal garantiriam as bases para urn ample desenvolvimento. :£ a epoca do aparecimento dos arranha-ceus, com a verticaliza~ao do crescimento urbane nas areas cen- trais das grandes cidades e tambem da multiplicac;ao, na periferia, dos grandes bairros proletarios para a aco· modac;ao das classes menos favorecidas. Surgiriam ain- da os bairros-jardim, para as classes mais abastadas, com os edificios afastados obrigatoriamente dos limi- tes dos lotes. As tecnicas constiutivas passavam por uma fase de aprimoramento, devido em grande parte ainfluencia da mao-de-obra imigrada. Alcanc;ava-se, desse modo, a vit6ria quase completa das tecnicas correspondentes ao trabalho remunerado, de tipo artesanal, sobre as tra- dic;oes construtivas dos tempos da escravidao. Ate cerca de 1940 a industrializac;ao dos materiais de construc;ao seria timida, em escala modesta, quase artesanal. A industria ainda nao atingira estagio de atendimento do mercado nacional; em verdade, no que se refere aconstruc;ao, ensaiava apenas alguns avanc;os. Verificava-se a importac;ao de muitos equipamentos e materiais estrangeiros e, em contrapartida, nos centres mais modestos, os progressos estavam Ionge de acom- panhar os das grandes cidades. Carlos Borges Schmidt revela que, por volta de 1940, em certas regioes de Sao Paulo, ainda era economica, e como tal utilizada, a ve- lha tecnica da taipa de pilao. 64 As residencies de menor porte sao resolvidas como miniatures de palacetes
  • 35. Esboc;ava-se uma racionalizar;ao da vida, mas de modo relativo, apenas em alguns setores dos centros maiores e, mesmo nesses locais, grande parte das anti- gas relac;oes de tipo rural preservava-se, a despeito dos avanc;os tecnol6gicos. As noc;oes de tempo e velocidade, indicadoras sensiveis das transformar;oes das relar;oes entre as pessoas, subsistiam quase inalteradas. Quantitativamente modificados, nossos principais centros urbanos conservaram porem os mesmos esque- mas urbanisticos gerais, de origem renascentista, sem procurar uma atualizac;ao qualitativa. Nas mesmas ruas em que haviam circulado as carroc;as e carruagens, cir- culavam agora os autom6veis, caminhoes e onibus, pre- parando o congestionamento dos dias de hoje; recebiam uma populac;ao cada dia maior, sem atualizar os meios de transportes e de abastecimento, entravam na era in- dustrial equipados com instrumentos dos tempos da pedra lascada. De modo geral, os tipos de lotes urbanos herdados do seculo XIX persistiriam e acompanhariam, quase sem alterac;oes - ressalvadas as dimensoes - as mu- danr;as realizadas na arquitetura. De fato, seria esta que, por forr;a das circunstfmcias, procuraria criar for- mas de adaptar;ao do velho esquema de lote, conforme a sua destinac;ao e terminaria mesmo por sofrer as mais severas limitar;oes, decorrentes da rigidez e atraso na formulac;ao dos lotes. As dificuldades enfrentadas pela agricultura, com suas crises peri6dicas, a ausencia de formas evoluidas de capitalismo e o crescimento ininterrupto da popu- lar;ao dos maiores centros fariam com que as proprie- dades imobiliarias fossem urn dos modos mais eficazes de aplicar;ao financeira; para os grandes investidores, a vantagem seria a renda dos alugueis de casas para a classe media, passiveis de oscilar;ao nas etapas de cri- se, mas com procura muito mais estavel do que os pro- dutos agricolas, vale dizer, o cafe. Para os pequenos investidores, vivendo frequentemente de seus sahirios e procurando aplicar eficazmente algumas economias, o objetivo maximo de seguranr;a seria a casa propria. Como consequencia, aqueles anos assistiram a multipli- car;ao dos conjuntos de casas economicas de tipo medio, repetindo, o quanta possivel, as aparencias das residen- 66 llll flltlls ricas, dentro das limitar;<>es e modestia de re- uuo~ de sua classe. P. cvidente que essas habitar;oes, edificadas com 1• uunmia de terreno e meios, aproveitavam em menor 1••11ln ns novas possibilidades. Conservando-se em ge- •nl 11obre os limites laterais dos lotes, recuavam quase -•"'I"c alguns metros das vias publicas, onde apareciam utlulnturas de jardins. Com esses surgiam, tam- 1• 111, certas inovar;oes phisticas, de sentido pura- IIINifc formal, onde se acompanhavam de modo quase , '" kuto as variar;oes das correntes arquitetonicas. Em •••oH especiais, surgiria urn afastamento, em urn dos lndos, dando Iugar a uma passagem para autom6veis. c uno nos edificios de maiores dimensoes, as ediculas vii 111m acomodar-se aos limites de fundo dos terrenos. Pode-se perceber facilmente que essas casas conser- vnvum, dentro do possivel, as mesmas tendencias de vnlorizar;ao social e arquitetonica de certos espar;os e dnvalorizar;lio de outros, que se encontravam nas mo- Judias das classes mais abastadas. Jardins na frente e 67
  • 36. fachadas rebuscadas, em escala reduzida, as vezes mt:s- mo de miniaturas, acentuavam a importancia das fren- tes e ocultavam a modestia dos fundos. Essa disposi- c;:ao, imutavel, fazia com que, nos exemplares mais es- treitos, a circulac;:ao de servic;:o se realizasse atraves das salas, ate mesmo para as retiradas de lixo. Os incon- venientes de tal situac;:ao eram suportados corajosamente, com o intuito de preservar uma "16gica" absurda mas que conseguia garantir uma aparencia de decoro e ocul- tar urn con junto de "vergonhas" tanto mais penosas quailto mais. humildes os moradores. De fato, a possibi- lidade de uma eventual visita as cozinhas das casas abastadas, nem de Ionge se comparava ao sofrimento que tal indiscric;:ao daria a uma dona de casa de classe me- dia, frequentemente obrigada a realizar servic;:os que as tradic;:6es haviam reservado aos escravos. - Desse genero sao os inumeros conjuntos de sobra- dos construfdos no Jardim Paulista e na Vila America, em Sao Paulo. Em quase todos a aparencia procura atender as inovac;:6es formais, que 0 modernismo vinha introduzindo, por meio de artiffcios de desenho arqui- tet6nico: linhas retas, platibanda ocultando o telhado de telha tipo Marselha, revestimento com mica, alguns ornatos retilfneos e o fingimento de uma poderosa es- trutura de concreto. Em outros a preocupac;:ao ia mais Ionge e apareciam janelas de modelos mais recentes, de ferro para as salas e de madeira, tipo "ideal", nos dor- mit6rios. Essa formula ainda pode ser vista em exem- plos remanescentes nas ruas daqueles bairros: Alameda Lorena, rua Oscar Freire, Alameda Jau, Itu, Franca etc., sendo o seu uso hoje talvez urn pouco diferente. Naquele tempo, urn arquiteto, Flavio de Carvalho, tentou enfrentar o problema de forma diferente, num conjunto de casas que construiu a Alameda Lorena, nas proximidades da rua Augusta. 0 choque produzi- do na populac;:ao, em face de esquemas menos conheci- dos, foi de tal envergadura que houve quem afirmasse que nessas casas, para se ir dos quartos ao banheiro, era necessaria subir por uma escada externa, que fica na fachada; tratava-se apenas de acesso a urn solario ou mirante, mas o equfvoco da a medida da desconfian- c;a da populac;ao. 0 crescimento gigantesco do operariado urbano, possibilitado pela constante evoluc;ao da estrutura in- 68
  • 37. dustrial, iria conduzir ao aparecimento de bairros po- pulares ao Iongo das vias ferreas, junto as industrias ou em regi6es suburbanas. 0 fenomeno, quase exclu- sive das grandes cidades, iria produzir a urbanizagao das areas perifericas, ate entao destinadas a fins agri- colas, dentro da ordem tradicional. Engenho Novo, Engenho Velho, Madureira, Vila Isabel e Mangueira sao names que as cang6es populares e as cronicas se encarregaram de difundir e que por isso mesmo reve- lam etapas mais antigas do crescimento do Rio de Ja- neiro. Sao Paulo, de crescimento mais recente, usaria nomenclatura mais artificial, em suas famosas "vilas": Vila Matilde, Vila Leopoldina, Vila Anastacio etc. Os loteamentos de tipo popular viriam a consti- tuir, quase sempre, uma reinterpretagao dos velhos es- quemas tradicionais, com exagerados indices de apro- veitamento, criando dificuldades que nao eram previstas nas tradig6es. Retiravam os aspectos positives dos pia- nos das cidades-jardim, transformando os novas bairros em sucess6es infindaveis de quadriculados, com lotes tao exiguos, que .a disposi9ao geral dos edificios ja fica- va pre-determinada. Esse tipo tornou-se comum em Sao Paulo, onde as casas de tipo popular eram construidas aos poucos, pelos proprietaries, freqtientementc com o auxilio dos vizinhos e amigos sob a forma de mutirao. Em alguns Iocais· as dificuldades sociais e econo- micas provocariam o aparecimento de tipos precarios de habitagao, com padr6es infimos de higiene e constru- gao, na maioria dos casos sem qualquer forma de organi- za9ao territorial, senao aquela ditada pelo acaso. Tais seriam as favelas. Malocas, invas6es, mocambos, ou fa- velas, iriam sendo batizadas pelo povo, de formas diver- sas em cada regiao que surgiam, constantes porem na indicagao da miseria e do calcanhar-de-aquiles do urba- nismo contemporaneo. Apenas em casas especiais ocorriam tentativas de solug6es mais perfeitas. Pode-se, porem, citar o con- junto industrial Maria Zelia, na capital paulista, proje- tado pelo arquiteto Dubugras, onde se incluiam grupos de residencias para operarios. Programas mais amplos - e ambiciosos no sentido politico - surgiriam apenas · sob a· pressao dos acontecimentos desencadeados pela Segunda Guerra Mundial. 70 !I ••·~ldcncias das classes mais abastadas l'ara uso das classes mais abastadas, nos anos se- lllltll~ a 1918, surgiram os "bairros-jardi~", sob .a ··illlltll~.:ta intelectual de esquemas estrange1ros, CUJa I•, 11111,"110 seria garantida pela .poss~b~lidade q';le ofer:- ltu1 de conciliar de modo satisfatono, as antlgas cha- 1111" t•om as residencias urbanas, que vinham de se Ii- I•· IIIII dos limites dos lotes. Na pratica, esses loteamentos, postos em voga em " l'nulo pela Cia. City, ao tr~nsporem os~ esqu~~as tu~tlt••,cs da "cidade-jardim", sofnam adapta9oes v~nas, 11 el11!111do-se, na maioria das vezes, ~ urn apar!etgoa- lllllllll do sistema viario e a uma remterpreta9ao, em ,, 11111 1s de "paisagismo", dos velhos lotes tra?ici~n~is. 1h ·~t· modo subsistiam os jardins e recuos obngatonos, IIIIIN dcsapareciarn as areas de USO ~omurn, de grande 111111111lfmcia nos pianos dos estrangerros. ~ Nas residencias, a grande transformagao era .a 11p111 tunidade de afastamento em relagao a todos os h- lltllrN dos lotes. Nos exemplos maiores, assistia-se a 1111111 libertagao em relagao a esses limites~ .qua~e que ululgat6ria. Com esses tipos surgiam as e~Iflca9oes e~ hlllltOs residenciais em torno a Av. Pauhsta, em Sa? l'nulo sobretudo na dire9ao de Santo Amaro, na Ach- 11111~·at; e Perdizes, nessa cidade, em bairros alem .do Jt11tnfogo no Rio de Janeir~ o': ?O Derby,. de Rectfe. ludavia os esquemas arqmtetomcos, mampulados na llllllllria 'das vezes por profissionais, ~e formaga? acade- 11111 n, prendiam-s~ ~ solu~6es de ng1do paralehsmo em ll'ltu,:ao aque}es brn1tes, amda que OS lotes apresentas- orlll, em media, maiores dimens6es. Urn pouco mais afastadas em urn dos !ados e n?s lu11dos as residencias mais amplas guardavam, todav1a, ~llmis das antigas chacaras. Nao eram apenas as ga- l llg~:ns tratadas como cochei!as.. Vestigios de pomares 1 hortas e de cria~6es de ammats de pequeno po~te de- uunciavam a existencia de urn passado rural mmto r~­ ,1·nte em casas que exigiam ainda, para sua plena eft- 1 tcncia, a presen<;a de urn razoavel contingente de ser- VIt;ais. 71
  • 38. Esses esquemas, que vigorariam ate cerca de 1945 e, de certo modo, ate hoje, mesmo em projetos de ar- quitetos de inten~6es inovadoras, sofreriam decidida in- fluencia das antigas tendencias de discrimina~ao social, em rela~ao aos locais de tt'abalho ou de intimidade, caracterizados pela presen~a dos servi~ais e das £ami- lias, tendencias ainda largamente influenciadas pelos-M- ( . b!!_o~ cgtoniais-e- pelo-regime escravista. Assim, as freu.- tes das casas e os comodos que lhes ficavam mais pr6- ximos e onde eram admitidas as visitas, eram os mais valorizados; as partes laterais e superiores eram reser- vadas a intimidade da familia (e nela eram recebidos apenas os parentes e visitantes de pouca cerimonia). Os fundos e, por vezes, a lateral mais estreita, como areas de servi~o, eram locais de completa desvaloriza- ~ao social, verdadeiro desprestfgio, quase tabu, her- dado dos tempos em que ali estariam os escravos e acomodando agora os filhos daqueles. Algumas senho- ras mais ricas, podendo manter "governanta", geralmen- te alema ou francesa, hi nao apareciam, quando muito deixando-se chegar a copa, em busca d'agua. 0 tratamento arquitetonico e paisagistico acompa- nhava os niveis de valoriza~ao social. A quantidade e o tipo de decora~lio variava em escala decrescente das salas as cozinhas, passando pelos quartos e banheiros - estes ultimos sofrendo restri~6es semelhantes as das cozinhas, em razlio de outras formas de desprestigios e tabus. Eram aquelas limita~6es que faziam com que os programas das habita~6es apresentassem duplicida- des funcionalmente absurdas, como as famosas salas de almo~o e jantar, cujos nomes ocultavam formas so- cialmente diferenciadas e valorizadas de cumprir as mesmas fun~6es da vida familiar. Mesmo a~~recimentp dos jardins na frente d~s cas~ afastame~voluntarios ou impostos pe- las prescri~6es dos loteadores e das prefeituras, era ine- gavel a valoriza~ao dessas por~6es de terreno e dos, e.s- pa~os arquitetonicos a ela vinculados. Transferiam-se mesmo para essas casas as ·antigas preocupa~6es de fachadismo, traduzindo-se em rebuscamentos de ordem -de-cotativaas preocupa~6es de oferecer ao passante uma n~lio exagerada da importancia da posi~lio social-des-' propr~tarios. Para-esse ·"jardim da £rente" abriam-se as salas e terra~os e portas principais, pelas quais entra- 72 0 paralelismo com os limites do terrene lembra ainda padroes tradicionais.
  • 39. vam as VISitas com ar de cerimoma. Esse formalismo cstendia-se ao tipo e forma de organiza~ao do jardim, onde apareciam as plantas em voga, geralmente de ori- gem europeia e, por vezes, bancos, quiosques, "grutas" de cimento e, nos casas de gosto menos exigente, ate mesmo an6es de lou~a colorida. Desaparecia~ pois, os antigg.s_jar.dins...laterais. S6 mesmo nos casas excepcionais, de lotes com dimens6es exageradas e por exigencia da propria solu~ao arquiteto- nica, e que areas laterais eram ajardinadas sempre como continua~ao dos jardins da frente, mas interrompendo-se nas proximidades dos fundos, areas que confinavam com os locais de servi~os e intimidade. As formas de Iiga- ~ao, ou separa~ao, eram obtidas com objetos socialmen- te intermediarios, como patios de manobra junto as garagens, renques de arbustos ou conjuntos de arvores frutiferas, nunca, porem, coradouros, quartos de em- pregada, hortas ou galinheiros. S6 mesmo nos casos do mais extremado "mau gosto" e descaso arquitetonico e que o visitante poderia divisar urn tanque, urn balde ou, entre as plantas, urn mamoeiro, urn pe de couve ou uma touceira de mato, como barba-de-bode. Mesmo as ar- vores frutiferas, se nao estivessem situadas em local de- vidamente caracterizado, tinham urn significado de ru- ralidade e, entre as pessoas de habitos mais refinados. eram toleradas apenas em considera~ao aos sentimentos do dono da casa, urn fazendeiro, cujos habitos e sau- dades cumpria nao contrariar. Posi~ao semelhante ·ocupavam os cachorros, passaros, macacos e vasinhos de plantas, cujos (micos lugares de acesso, excetuados os terra~os, seriam os jardins de inverno, verdadeiros terra~os fechados. Por isso mesmo, o local adequado para essas coisas comprometidas com o mundo rural, com a intimidade e com os resqufcios da escravidao, seria nao dos lados, mas nos fundos, onde os olhos cri- ticos das visitas e dos passantes nao tivessem a mais leve oportunidade de condena~ao aos costumes do proprie- tario. Normalmente, urn dos afastamentos.._jaterais, o maior, com tr.es a cinco metros de largura, correspondia a passagem de autom6vel, evidenciada_p..ela respectiva coberta, saliente no corpo da casa e, quase como de- correncia, a entrada lateral da residencia, mais intima, 74 1'/otllltt esquemtitica do tipo de habitar;:iio mais comum. /',rl'lmt'IIIO terreo: I. terrar;:o; 2. escrit6rio ou sa/a de visitas; I win de estar; 4. sala de jantar; 5. jardim de inver'no; 6. ,,,/,/w; 7. copa; 8. lavabo; 9. coberta para automovel. /ollr ulas: IO. galinheiro; II. dormit6rio de criadas; I2. ba- oi/tr•, /3. tanque; I4. garagem. l~trlr" superior: I5. dormit6rio; 16. banheiro. quo dava acesso ao hall, pe~a de distribui~ao horizon- In! c vertical, cujo nome, importado, demonstrava o Mr tlido de novidade. A passagem lateral oposta limitava-se, no geral, a 11111 simples corrector, com urn a dois metros, para o qual abriam suas janelas os comodos de pequena valo- lltuc;:ao, como banheiros, caixas de escada ou cozinhas 75
  • 40. A facilidade de acesso a essas ultimas chegaria mesmo a caracterizar esses corredores como entradas de ser- vi9o, identificando-os com os quintais. Para esse lado. as vezes abriam-se os jardins de inverno, com janelas de vidro colorido, em alguns casos com forma arredondada e por isso chamadas bow-windows. Esses recursos per- mitiam uma farta ilumina9ao e arejamento satisfat6rio, geralmente abrindo-se apenas algumas pe9as pivotan- tes, capazes de ocultar, discretamente, as vistas do in- terior, as passagens laterais ou mesmo as vergonhas de um fundo de quintal. Nas regioes de clima quente, lo- calizavam-se ali, normalmente, as varandas de uso fa- miliar, onde se cumpriam diversas fun96es, inclusive as de sala de almo9o, razao pela qual, em certas cida- des, passaram a essas as denomina96es daquelas, como nas velhas salas dos fundos dos sobrados coloniais. Detalhe curiosa e que, nessa epoca, mesmo a ar- quitetura mais avan9ada aparecia comprometida e limi- tada por esses esquemas. A propria tecnica construti- va em uso, de paredes estruturais de tijolo, pela sua rigidez, favorecia tal encaminhamento. Seriam poucos os arquitetos, como Victor Dubugras, em Sao Paulo, que encontrariam formas mais flexlveis de abordar o problema, insinuando os caminhos que viria a percorrer nossa arquitetura, quando o concreto viesse a ser em- pregado comumente nas residencias individuais desse genero. Ate 1937, os esfor9os do movimento moder- nista para romper aquelas limita96es tiveram resulta- dos apenas superficiais. Urn tratamento arquitetonico externo de inspira9ao cubista, distribuldo com equilibria pelas quatro e!eva96es, ocultava, muitas vezes, uma es- trutura de paredes de tijolos e uma disposi9ao geral tradicional. Quando muito, ligavam-se sala de visita e jantar e tratavam-se com uma decora9ao de motivos marinhos os banheiros, onde os preconceitos ligavam-se quase exclusivamente aos habitos familiares. Contribui- 96es mais significativas seriam conseguidas nas rela- 96es com o espa<;o exterior, com o apoio das transforma- 96es tecnol6gicas dos impermeabilizantes e tacos de madeira. De fato, uma vez afastadas do alinhamento, as residencias come9ariam a dispensar os velhos po-. roes, de grande altura, capazes de garantir a intimida- de dos interiores. A tendencia, agora, seria oposta. 76
  • 41. fica96es nesse genera fossem levantadas sabre limites c alinhamentos. Em Sao Paulo, em uma avenida que sc abria nesse tempo, mantinham-se as mesmas restri~t6es e os predios, mesmo os residenciais, eram obrigados a ter a altura de 40 metros. Predominavam ainda as ideias arquitetonicas e urbanisticas do seculo XIX, a despeito das amplas mu- dan~tas de condi<;oes gerais e, como conseqiiencia, bus- cava-se a aplica~tao dos modelos da Paris de Haussmann, com seus quarteir6es compactos, superedificados e su- perpovoados. Ate mesmo no aspecto externo busca- va-se a semelhan~ta, com desenhos no revestimento, imitando pedra, o mesmo proporcionamento entre os andares e mansardas, SOb OS te)hados de ard6sia. Voltava-se, pois, em certo modo, a aplica9aO de solu~t6es que ja haviam sido superadas. Refor9ava-se o esquema de valoriza~tao social e arquitetonica das fren- tes e o desprestigio dos fundos. Assim, os predios de apartamento continuavam, como as casas, a ter frente e fundos, fachada e quintal, servindo este para gara- gem, casa de zelador, deposito etc. Na Praia do Fla- mengo, esquina da rua Ferreira Viana, no Rio de Ja- neiro, o saguao de entrada era ornamentado como uma sala de visitas e as areas dos fundos abriam-se em Ion- gas alpendres, com colunas de ferro, onde ainda hoje se encontram vasos de samambaia. Em Sao Paulo, na rua Martim Francisco, o ediflcio de apartamento mais antigo do bairro - talvez da cidade - e construido sa- bre o alinhamento da via publica, e suas portas lembram as dos sobrados coloniais, pela posi~tao, ainda que as li- nhas gerais do predio sejam de inspira~tao moderna, es- pecialmente quando se considera a epoca em que foi construido. Bern mais precoce, constituindo verdadeira exce- 9ao, eo predio situado aAv. Angelica, entre a Av. Sao Joao e a rua Brigadeiro Galvao. Sua implanta~tao tam- bern repete a dos sobrados coloniais, sobre os limites do lote, mas a disposi9ao dos apartamentos e uma evi- dente inova9a0 para a epoca, Voltando banheiros e CO- zinhas para a frente, tratando o conjunto plasticamente com urn racionalismo severo, de modo que os obser- vadores menos prevenidos eram levados a julgar, na epoca, que aquela fachada mostrava OS fundos de Uffi prooio de outra rua. 80 atendiam aos padroes de Paris de 1870.
  • 42. Mas essa experiencia era excepcional. Normal- mente os predios repetiam os esquemas das residencias. Essa necessidade de pensar os predios de apartamento como apenas dimensionalmente diversos das casas in- dividuais isoladas, essa impossibilidade de enfrentar urn novo problema segundo uma escala adequada, faria com que a verticaliza~ao, conquistada pelos aperfei~oamen­ tos das estruturas de concreto e dos elevadores, ao mes- mo tempo que abrisse n~vas e amplas perspectivas, destruisse as conquistas que-a arquitetura vinha reali- zando nas residencias individuais, coriw a reconcilia- ~ao com a natureza, a integra~ao dos espa~os interio- res e exteriores e a liberdade de disposi~ao dos edificios sobre o terrene. Algo semelhante ocorria com as constru~6es para escrit6rio e comercio, nos centres das cidades, num pro- cesso que se iniciara com o seculo e ao qual ja nos re- ferimos. Logo ap6s a Primeira Guerra Mundial, apro- veitando a grande valoriza~ao dos terrenos das areas centrais, as novas possibilidades das estruturas metali- cas, mas sobretudo do concreto e o aparecimento dos elevadores, os edificios sofreriam uma verticaliza~ao acentuada; OS predios dessa epoca, da Avenida Central, no Rio de Janeiro, as constru~6es nas ruas Libera Ba- dar6 e Xavier de Toledo, em Sao Paulo, marcam essas transforma~6es. Sua implanta~ao e sua aparencia ex- terior revelavam aquelas mesmas influencias do urba- nismo frances do seculo XIX, que haviamos assinalado nas constru~6es residenciais e que representariam, na pratica, a repeti~ao, quase absoluta, dos esquemas dos antigos sobrados coloniais, que vinham substituir, com todos os agravantes do aumento de dimens6es. Sobre- tudo a mesma preocupa~ao formal com os exteriores voltados para as vias publicas, de sorte que em alguns edificios da rua dos Andradas em Porto Alegre, da rua Chile em Salvador ou da Cinelandia no Rio de Janeiro, seria possivel encontrar as mais variadas composi~6es estilisticas de gosto academico ou mesmo do Ecletismo. Nos interiores, destacavam-se as caixas dos elevadores, envolvidas com grades de metal, no centro de escada- rias amplas, de marmore importado. A preocupa~ao com a aparencia externa for~ava por vezes o apareci- mento de andares com altura reduzida, aos quais se chamava sobreloja; isso nao impedia, porem, que, em u~ao racionalista
  • 43. muitos casos, os outros andares tivessem pes-direitos ele- vados ao modo das velhas residencias. Ocupavam-se os antigos totes com inumeros edi- ficios de concreto, aplicando-se necessariamente os mes- mos esquemas que vinham dos tempos coloniais, reto- cados apenas com Iigeiras modifica~6es. As evidentes desvantagens dessas solu~6es estimulariam aqui a bu~­ ca e aplica~ao de outras mais atualizadas, que permr- tissem urn reexame das formula~6es arquitetonicas e urbanfsticas. 0 desmonte do Morro do Castelo no Rio de Janeiro ensejaria uma oportunidade de planejamen- to de conjunto e urn ensaio nessas condi<;6e~. Nas quadras que ali se constituiram, tornou-se obn- gat6ria a constrw;ao de u.m p6rtico no pa~imen~o terreo dos edificios, de tal sorte que sua contmua~ao veio a formar uma verdadeira galeria, ou passeio, co- berto pelos pr6prios pn!dios. A inova~ao tinha, alem de outras particularidades, urn sentido mais atualizado de relacionamento da arquitetura com o tote, obrigan- do a utiliza<;:ao de urn espa<;:o de edifica<;:ao particular para uso publico; inaugurava-se pois uma forma ampla e mais proficua daquelas relac;:oes. Simultaneamente, os fundos dos predios abriam para urn patio comum, que vinha facilitar as entradas e saidas de servi~o e o estacionamento de veiculos. Ainda que nao rompesse com o fachadismo e os patios internos estivessem bern Ionge de uma solu~ao satisfat6ria, ainda que as edi- ficac;:oes formassem blocos continuos, tratava-se eviden- temente de uma transformac;:ao radical e, acima de tu- do, tentava-se, para urn problema tao importante, uma solu~ao em escala adequada ou, de qualquer modo, es- pecial. Mesmo as industrias, cujas condic;:6es de implan- ta~ao e dimens6es diferiam fundamentalmente de tudo o que ate entao existira, adaptavam-se aos tipos tradi- cionais de relacionamento com os lotes. Ressentindo-se de compromissos de urn passado recente com o ambi- ente domestico, quer em sentido espacial, quer em sen- tide social, acomodavam-se em galpoes com fei~6es de residencia, edificados em tijolos, sobre os limites das vias publicas. As preocupac;:6es arquitetonicas enca- minhavam-se no mesmo sentido que as residencias, con- centrando-se em detalhes de janelas, de acordo com os 84 n lilos em voga, fossem academicas, neocoloniais o_u 11 1rsmo "modernas". Essas janelas, alteadas para evl- ,,,,. a vista dos passantes, compunham sobre as paredes uma aparencia de decoro, ainda que, como fatores de i111mina<;:ao, pouco valessem. Os telhados ocultav~m-se ··ob platibandas avantajadas, de sorte que..os conJuntos ll'duziam-se a retangulos alongados, de t~Jolos por. re- vcstir, enegrecidos pela fuligem, apenas mterrompr.dos pdas janelas. Estas, 'de tipos e detalhes residenciais e 85
  • 44. conservagao em geral nula, contribuiam, com seus vi- dros partidos, para acentuar o aspecto de desolagao e miseria. Nos casos especiais, quando urn retoque ar- quitetonico de fachada conseguia, apoiado em pinturas freqiientes, mostrar urn conjunto mais composto, o re- sultado era a volta a aparencia estrita de domici- lio. Ainda que os interiores fossem por vezes mon- tados com estruturas metalicas, as frentes, bern ou mal compostas, ocultavam tais solu<;:6es, organizarido-se de modo que ofereciam as ruas aspecto tradicional. Assim, mesmo as construg6es industriais tinham "frente" e "fundos", respeitando urn sentido de valorizagao social dos espac,:os de origem residencial; mesmo as industrias, com grandes dimens6es e amplas possibilidades de ino- vac,:ao acomodavam-se as formulas rigidas dos tempos coloniais. Foi s6 aos poucos, pela ac,:ao de arquitetos mais lucidos como Victor Dubugras, que aquelas construg6es foram buscando implantag6es mais complexas e solu- c,:oes pr6prias, panda de lado os aspectos residenciais, de caniter tradicional, e os tragos de adaptagao. Abriam- -se janelas adequadas, mas, sobretudo com estruturas de tijolo ou metal melhor apJoveitados, conseguia-se urn grau mais satisfat6rio de iluminac,:ao. Na maioria dos casas, nao chegava a haver preocupac,:ao arquiteto- nica, apenas objetividade, que se traduzia por soluc;oes mecanicistas. Uma grande oficina mecanica existente a rua Araujo, em Sao Paulo, construida em tijolos, ilus- tra a solugao. Desapareciam, portanto, aos poucos, OS arcaismos. Ainda assim, a disposic,:ao geral persistiria ate por volta de 1940, quando comec,:aram a aparecer as primeiras fabricas com jardins e tratamento arquitetonico coeren- te, sob o estimulo de novas necessidades e a inspirac,:ao do movimento contemporaneo de arquitetura. Nessa categoria pode ser incluido o projeto do arquiteto Rino Levi para a Fabrica Jardim, a Avenida do Es- tado, em Sao Paulo, onde ja se indicavam as tendencias que em breve iriam nortear a arquitetura industrial no Brasil. 86 1940-1960 0 periodo e de intensa industrializa~io e urbaniza~ao para o Brasil. 0 movimento de arquitetura modema procura aproveitar os recursos oferecidos pelo sistema industrial nascente. 0 relacionamento da arquitetura com as estruturas urbanas e reexaminado, sur· gindo alguns edifici~s e conJuntos r~i­ denciais com solu~oes de 1mplaota~ao eficientes. 87
  • 45. 0 periodo que se inicia por volta de 1940, com a Segunda Guerra Mundial, e que nos traz ate 1960, com o plano de Brasilia, compreende a fase de mais intensa industrializa~ao e urbaniza~ao da hist6ria do Pais Ocor- re entao urn vertiginoso avan~o tecnico e economico, acompanhado de profundas transforma~6es sociais. A ele corresponde tambem a eclosao do movimento con- temporfmeo de arquitetura, cujas primeiras manifesta- ~6es poderiam ser recuadas ate a Semana de Arte Mo- derna de 1922 em Sao Paulo mas que aguardava as oportunidades adequadas a sua expansao. 0 marco inicial dessas transforma~6es seria consi- derado o projeto do edificio-sede do Ministerio da Edu- ca~ao, no Rio de Janeiro. A partir dessa epoca as obras mais representativas da arquitetura brasileira pro- poriam uma ampla revisao, com a qual seria tentada uma sintonia entre as possibilidades crescentes da estru- tura industrial e as exigencias cada vez mais complexas do meio. Os problemas da implanta~ao da arquitetura ur- bana seriam corajosamente enfrentados pelos arquitetos e muitos de seus sucessos seriam devidos ao elevado grau de consciencia com que reconheciam as suas res- ponsabilidades. As habita<;:6es individuais isoladas apro- veitariam de modo especial as inovac;:oes arquitetoni- cas, decorrentes do avanc;:o tecnico e economico. Pela primeira vez seriam exploradas amplamente as possi- bilidades de acomoda<;:ao ao terrene, em que pese aexi- gtiidade dos lotes em geral. Para isso contribuiria prin- cipalmente o uso das estruturas de concreto, que viriam libertar as paredes de sua primitiva fun~ao de susten- tac;:ao e as estruturas de sua rigidez. Agora as lajes de piso e cobertura seriam de concreto, em substitui~ao as velhas estruturas de vigas de madeira, com soalhos de tabuas longas e revestidas por baixo com forros de estuque ou madeira. Tambem as vigas e colunas eram agora de concreto; as paredes de tijolos nao mais se- riam estruturais, mas funcionariam apenas como pai- neis de vedac;:ao. Passavam pois a vigorar os princfpios da "planta livre", com ampla flexibilidade, de modo que, pelo me- nos em teoria, somente seriam satisfeitas nos projetos as exigencias de funcionalidade e da propria composi- c;:ao. Se, por urn lado, na pnitica esses alvos estavam 88 nova arquitetura,