O documento descreve a criação e o desenvolvimento inicial da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) nas regiões da Campanha e Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. A mobilização popular levou à criação da universidade em 2005 pelo governo federal para promover o desenvolvimento da região através da educação superior. Desde então, a Unipampa vem se expandindo e transformando positivamente as cidades onde está presente através de investimentos, geração de empregos e qualificação da população.
Revista Unipampa_Revolução_Alegrete_Paulo Pimenta_Mainardi
1. Caminho para o desenvolvimento
A Fronteira Oeste e a Campanha estão entre
as regiões com menor grau de desenvolvimento
do País. Com a economia baseada na produção
primária, apresentam um baixo grau de indus-trialização.
Por isso, sofrem, ao longo das últimas
décadas, de um grande esvaziamento. Muitos do
que deixavam suas cidades partiam em busca da
formação acadêmica. As universidades existentes
eram todas privadas.
Ambiente favorável para sediar uma das 18
novas universidades federais criadas pelos gover-nos
Lula/Dilma dentro do Programa de Expansão
do Ensino Universitário. Oportunidade logo per-cebida
pelo deputado federal Paulo Pimenta
e pelo então prefeito de Bagé, Luiz Fernando
Mainardi, que seguiram orientação do atual go-vernador
Tarso Genro que, como Ministro da Edu-cação,
sugeriu uma ampla mobilização para inse-rir
as duas regiões na pauta do Governo Federal.
O Brasil mudou muito nos últimos anos. São
sete milhões de alunos nas universidades, 49 mil
escolas em tempo integral, 422 escolas técnicas
federais, além de mais de R$ 200 bilhões que se-rão
destinados à educação nos próximos 10 anos,
com o investimento em educação chegando a 10%
do PIB (hoje ele é de 6,4%). As pessoas também
estão sendo melhor qualificadas por meio do Pro-grama
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao
Emprego (Pronatec), que já ofertou oito milhões
de vagas, com R$ 14 bilhões de investimento e
6,8 milhões de inscritos.
E a nossa região, a partir da conquista da
Unipampa, instalada em dez municípios, também
começa a mudar.
Afinal, como disse o presidente Lula, em
Bagé, no dia 27 de julho de 2005, quando anun-ciou
a criação de nossa universidade: “Atrás de
uma universidade vai o conhecimento, vai a pos-sibilidade
de desenvolvimento, vai a geração de
emprego e vai a formação de gente pobre que
nunca sonhou fazer uma universidade”.
Nas próximas páginas contaremos a história
da conquista e as transformações que a Unipam-pa
está produzindo no Pampa Gaúcho.
2. Conquista que veio das ruas
Até a publicação da Lei Federal nº 11.640,
de 11 de janeiro de 2008, que criou a Unipam-pa,
um longo caminho precisou ser percorrido. A
ampla mobilização popular realizada entre os me-ses
de abril e julho de 2005 em 23 municípios da
Fronteira Oeste e Campanha, que levou mais de
70 mil pessoas às ruas, foi decisiva.
Tudo começou quando a direção da Univer-sidade
da Região da Campanha (Urcamp), bus-cando
alternativas para enfrentar uma das piores
crises da instituição em seus 50 anos de vida,
procurou o então prefeito de Bagé, Luiz Fernando
Mainardi, e o deputado federal Paulo Pimenta.
O professor Arno Cunha, que ocupava a
reitoria, relatou a Mainardi e Pimenta a afli-tiva
situação no dia 27 de fevereiro de 2005.
Os dois entraram em campo e marcaram
agenda com Tarso Genro, que era ministro da
Educação. A Urcamp queria apoio para um plano
de estabilização que encaminhasse solução para
a dívida de R$ 50 milhões e permitisse captar re-cursos
para um programa de investimentos que
levassem à modernização.
No encontro do dia 10 de março, Tarso pro-pôs
duas medidas. A curto prazo, com apoio dos
técnicos do MEC, a elaboração de um plano de
captação de verbas juntos às agências oficiais de
financiamento. A médio prazo, a mobilização para
incluir a universidade no Plano de Expansão do
Ensino Universitário, que começava a ser gestado
pelo Governo Federal.
As propostas foram apresentadas ao Conse-lho
da Fundação Atilla Taborda, mantenedora da
Urcamp, no dia 24 de março e uma semana de-pois
estava formada a Comissão de Mobilização.
O primeiro ato público pela federalização da Ur-camp
aconteceu no Ginásio Corujão, em Bagé, no
16 de maio, reunindo cerca de três mil pessoas.
3. Mobilização tomou as cidades
A partir do primeiro ato, o movimento to-mou
os 23 municípios da área de abrangência
das Urcamp. Caminhadas, carreatas, mateadas
e comícios foram realizados em toda a região,
levando milhares de pessoas às ruas para reivin-dicar
a federalização da Urcamp. Foi, sem dúvi-das,
o maior movimento popular já realiza-do
na região.
Diante das dificuldades legais e institucio-nais
de federalização da Urcamp, a luta foi dire-
O grande dia
O dia 27 de julho de 2005 vai entrar
para a História da região. Nesta data, Lula,
diante de aproximadamente 40 mil pes-soas,
reunidas na Praça Silveira Martins,
anunciou a criação da Unipampa, hoje con-siderada
uma das maiores obras já realiza-das
por um governo em favor do desenvolvi-mento
da Metade Sul do Rio Grande do Sul.
Bagé se preparou e se enfeitou para rece-ber
as milhares de pessoas que vieram de 22
municípios e que estavam integradas ao movi-mento
que superou barreiras ideológicas, reli-giosas
e até clubísticas. Era uma luta de todos
cionada para a conquista de uma Universidade
Federal para a região.
O movimento deu certo. Mainardi, Pi-menta
e Arno, acompanhados de Tarso,
mantiveram, audiência com Lula no dia 14
de junho, em Brasília, data em que foi confir-mada
a presença do presidente da República em
Bagé, no dia 27 de julho, para anunciar a criação
da Universidade Federal do Pampa.
e para todos. Mais de 250 ônibus se dirigiram
a Bagé levando pessoas que queriam ser prota-gonistas
de uma conquista que mudaria suas vi-das,
as vidas de suas cidades e a vida da região.
Em Bagé, Mainardi decretou ponto faculta-tivo
na Prefeitura e garantiu passe livre no trans-porte
municipal. O comércio e os bancos fecha-ram
no início da tarde.
O povo não se decepcionou. Lula anun-ciou,
naquela tarde ensolarada de inverno, que
Bagé e região teriam uma universidade. Foi uma
grande festa que os que lá estavam até hoje não
esquecem e nem esquecerão.
4. Ex-alunos acompanham crescimento
do mercado imobiliário
No Alegrete, como dizem os nativos, dois jo-vens
formados em engenharia civil na Unipampa
têm a dimensão exata do que representa a uni-versidade
na vida deles e da região. Na prática,
atestam o crescimento pelo qual vem passando a
cidade e, em especial, o ramo imobiliário.
Funcionários da Prefeitura Municipal, Ricar-do
Rodrigues, 27 anos, e Alisson Cooper, 26 anos,
praticamente todos os dias avaliam projetos de
novas edificações.
Pequenas obras e adaptações em terrenos
vazios ou pátios de residências logo se transfor-mam
em dezenas de moradias e abrigam cente-nas
de estudantes de todas as partes do País.
Na maioria dos campi – são cinco na Fron-teira
Oeste e cinco na Campanha – metade dos
alunos, é de fora das cidades-sede ou de outros
estados. O restante vem do próprio município ou
de cidades próximas.
Diversificação da matriz econômica
a partir do conhecimento e da tecnologia
Professor da Unipampa de Alegrete desde
2007, Alessandro Girardi dirige a universidade
desde 2012 e conhece os desafios que tem pela
frente. Numa instituição federal de ensino com
1,5 mil alunos, enxerga na diversificação econô-mica
a partir do conhecimento e da tecnologia
um dos grandes trunfos do futuro na região.
Aposta no polo tecnológico PampaTec, par-ceria
com o Estado, como forma de manter os
egressos trabalhando e gerando renda à cidade.
Nos grandes centros, a saturação de mer-cados
em algumas áreas indica que a criação
de postos de trabalho qualificados no interior é
a saída para reorganizar as cidades, acredita o
diretor.
“Pra onde vão os alunos que saem da uni-versidade?
É uma pergunta para a qual estamos
tentando encontrar a resposta e o caminho. Por
que não gerar empregos com qualificação e mer-cado
depois da formação. Apostamos no Pampa-
Tec”, confirma.
Fornecer a estrutura para trabalhar a custo
baixo é o que quer qualquer empresa ou ideia de
negócio. O projeto prevê ainda um condomínio
empresarial cujo foco são os cursos oferecidos.
5. Unipampa dá outra cara ao Alegrete
Em oito anos, a Unipampa foi responsável
pela duplicação da oferta de empregos em Alegre-te:
saiu de 2,5 mil para cinco mil postos de traba-lho.
Obras da instituição e da própria construção
em civil para abrigar alunos deram ânimo à paca-ta
cidade da Fronteira Oeste.
Por ano, apenas com salários de servidores
a Unipampa injeta R$ 12 milhões no município,
mais outro R$ 1,5 milhão com contratados. As
principais obras do campus totalizam R$ 14 mi-lhões
e são executadas por empresas da cidade.
O ingresso de 1,5 mil universitários, 77 pro-fessores
e pelo menos 100 servidores efetivos e
Da China
para o Brasil
O professor de engenharia mecânica Wang
Chong, 57 anos, é um deles. De Pequim, capital
da China, veio para o Brasil em 1992. Morou em
São Carlos, interior de São Paulo, lecionou em
universidade privada e em 1998 começou a dar
aulas na Unijuí, no Rio Grande do Sul.
Na da Unipampa, onde hoje dá aula, não é
só a aparência que denota a origem oriental. O
caminhar apurado, como se a pressa o acompa-nhasse,
guarda paralelo com crescimento do seu
país, uma das maiores economias do mundo e
parceiro do Brasil nos Brics.
“Lá, as coisas voam. Podem construir uma
ponte num final de semana. Sei que aqui as coisas
são um pouco diferentes. Tudo é discutido. Mas a
infraestrutura melhorou consideravelmente nos
últimos anos. Ainda não acompanhou o ritmo do
País, mas chegará lá”, acredita.
outros terceirizados mudou a rotina da prefeitura,
centrada historicamente na receita vinda do cam-po,
explica a vice-prefeita Maria de Fátima Mulaz-zani,
53 anos.
Conhecida como Preta, ela afirma que o cus-teio
à permanência desses jovens e funcionários
na cidade, a diversidade cultural, necessidades
de moradia, infraestrutura urbana e de lazer alte-raram
inclusive o panorama social.
“Neste período, conquistamos importantes
recursos para projetos estruturantes, como o res-taurante
universitário, a casa do estudante (em
construção), o que vai possibilitar melhores condi-ções
ao alunos de outros estados, além de quali-ficar
o trabalho com novos laboratórios e salas de
aula em total de 14 mil metros² a serem concluí-dos
em breve”.
Os alunos vêm de todas as classes sociais.
“Já temos gente formada e concursada trabalhan-do
na administração municipal. Eles não teriam
oportunidade de estudar e realizar o sonho de
cursar um ensino superior não fosse a Unipam-pa”,
conclui Preta.
6. Universidade em construção
Desde o dia 15 de setembro de 2006, quan-do
o então ministro da Educação, Fernando Hadad,
hoje prefeito de São Paulo, proferiu a aula inaugu-ral
da Unipampa, no município de Bagé, a universi-dade
vem num constante processo de construção.
Muitas obras já foram feitas. Muitos equipamentos
adquiridos.
Mas ainda há um caminho a percorrer, que
vem sendo palmilhado de acordo com a grandeza
do projeto. Não é uma universidade qualquer. É, na
verdade, uma universidade que se constrói na di-versidade
do Pampa, com interação para além dos
dez municípios em que está instalada, pois desen-volve
ações em todo o seu entorno.
Somente entre os anos de 2009, época em
que a Unipampa se desvinculou das Universida-des
Federais de Santa Maria e Pelotas, e o pri-meiro
semestre de 2014, já foram investidos R$
238.799.142,36, dos quais R$ 129.563.838,78
em obras e R$ 109.235.303,58 em equipamentos.
A folha de pagamento saiu de R$ 1.400.898,95 em
agosto de 2008 para R$ 12.807.291,82 no mês de
agosto deste ano. Cresceu mais do que dez vezes,
o que bem dimensiona a expansão da Unipampa.
Os reflexos são sentidos de forma direta em
todas as cidades em que estão instalados os cam-pus
da nova universidade. E não são apenas de
ordem econômica. Lideranças empresariais e po-líticas
atestam que houve grandes transformações
sociais e culturais nos municípios.
Lula, Tarso, Mainardi e Pimenta estavam
certos quando apostaram na criação da Uni-pampa.
Estrutura básica está montada
A estrutura física básica da Uni-pampa
já está montada. Prédios e la-boratórios,
com equipamentos de pri-meira
linha, funcionam a pleno. Neste
momento, estão sendo implantados os
restaurantes universitários e começa-ram
a ser construídas as casas de es-tudantes.
Quatro restaurantes já funcio-nam
e, até o final do ano, começam a
operar mais dois, um em Bagé e outro
em Dom Pedrito. Para o campus de
Uruguaiana, que funciona em prédio
adquirido da PUC, está em fase de con-tratação
da empresa que servirá as re-feições
a preços subsidiados.
As obras das casas dos estudan-tes
estão acontecendo. Cada campus
terá uma casa. Em Santana do Livra-mento,
cidade onde a instituição não
possui terreno, foi locado um imóvel,
que já abriga alunos.
7. Cursos estão em fase de consolidação
Recebendo 3.120 alunos por ano, a Unipam-pa
saiu de 30 cursos de graduação que funcio-navam
em 2006 para os atuais 63. Estes se en-contram
em fase de consolidação. Os que foram
avaliados até agora obtiveram notas entre 4 e 5.
Uma excelente avaliação se levarmos em conside-ração
que a nota máxima é 5.
Hoje são cerca de 12 mil alunos, sendo 11
mil em cursos de graduação e mil na pós-gradua-ção.
Mas, ainda há espaço físico para abrigar novas
vagas. Para isso, é necessário obter sucesso nas
pactuações negociadas junto ao Ministério da Edu-cação
para aumentar a oferta de cursos noturnos.
No horizonte da criação de novos, a universi-dade
trabalha com a perspectiva de montar cursos
de Medicina e Direito, projetos que também con-tam
com o apoio de Pimenta e Mainardi.
Cerca de 2.500 alunos formados
A Unipampa, que conta, hoje, com 716 pro-fessores
e 696 servidores, já formou 2.481 alunos
desde 2010. Somente em 2013 foram graduados
727 estudantes. Com 63 cursos de graduação, a
universidade tem hoje com cerca de 9,9 mil estu-dantes,
devendo abrigar, quando estiver efetiva-mente
implantada, 12 mil estudantes.
A instituição mantem 781 alunos bolsistas,
sendo 208 na área de ensino, 251 na extensão
e 322 em pesquisa. O acervo das bibliotecas é
de aproximadamente 190 mil exemplares, entre
livros, periódicos e outras mídias.
Em todas as unidades, funcionam 81 grupos
de pesquisas que desenvolvem 803 projetos, 16
cursos de especialização e a produção científica
já alcançou a soma de 2.681 trabalhos.
8. A Unipampa é de todos e para todos
Se tem uma coisa de que nós não nos arre-pendemos
é do nosso envolvimento no processo que
resultou na conquista de uma Universidade Federal
para nossa região. Este era um sonho de nossa ge-ração
que se transformou em bandeira de lutas des-de
à época em que, jovens estudantes, liderávamos o
movimento estudantil em Santa Maria e Bagé. E uma
possibilidade concreta para impulsionar o crescimento
da Campanha e da Fronteira Oeste.
Quando aceitamos o desafio proposto pelo mi-nistro
Tarso e passamos a coordenar a ampla mobi-lização
que tomou conta da região estávamos con-vencidos
de que esta era uma das mais importantes
contribuições que poderíamos oferecer para o nosso
desenvolvimento. Foi com esta certeza que nos jo-gamos
de cabeça e corpo nesta empreitada, cientes
do papel de homens públicos comprometidos com as
transformações necessárias para que o Brasil e o Rio
Grande avancem cada vez mais.
Percorremos milhares de quilômetros viajando
por 23 cidades. Participamos de dezenas de reuniões
nos municípios, em Porto Alegre e Brasília. Estivemos
com o presidente Lula, com o então ministro Tarso
Genro e seus assessores no Ministério da Educação.
Mas, não cansamos. Pelo contrário, cada atividade
nos dava a certeza de que o caminho era esse e que
estávamos no rumo certo.
No dia 27 de julho de 2005, em Bagé, quando
ouvimos o presidente Lula anunciar a criação da Uni-pampa,
vibramos junto com as 40 mil pessoas que
tomavam a Praça Silveira Martins e várias quadras
da Avenida Sete de Setembro. Hoje, ao voltar a estes
municípios e presenciar os avanços já produzidos em
menos de uma década,
conversar com pessoas que mudaram suas vi-das,
receber agradecimentos de pais e familiares que
conseguiram ver os sonhos de filhos e parentes reali-zados,
nos damos conta da grandeza do que foi a con-quista
da Unipampa.
Não devemos e nem podemos esquecer o apoio
estimulador do atual governador Tarso Genro. Foi ele
que, na condição de ministro de Educação orientou os
nossos passos, fazendo com que o nosso norte esti-vesse
em consonância com a política do Governo Fe-deral.
Tarso é parte importante desta conquista.
Devemos, por outro lado e por um dever de justi-ça,
reconhecer que não fosse a sensibilidade do presi-dente
Lula não teríamos esta conquista. Um operário,
portador de diploma de curso técnico, que vislumbrou
nos investimentos em educação uma alternativa para
o desenvolvimento do País e, acima de tudo, de inclu-são
social, é o grande responsável por tudo isso.
Política, aliás, que tem continuidade com a pre-sidenta
Dilma, que ampliou os repasses para a educa-ção
e que também sabe da importância da emancipa-ção
dos pobres e menos favorecidos, caminho que fica
mais curto com a formação e qualificação profissional.
A Unipampa, portanto, é uma vitória de todos
nós. A Unipampa é de todos e para todos.
Luiz Fernando Mainardi
Deputado Estadual
Paulo Pimenta
Deputado Federal