SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 320
Aquela Alice Pintada de
Sangue
Autora:Marcella Cristina de
Oliveira
“Dedicado a todos aqueles que tornaram isso possível”.
Parte I: Alice
Dizem que há uma carruagem fantasma, escondida em algum lugar
deste reino. Dizem que a morte é muito pouco, por um debito que
alguém deve de pagar. Estas são uma das poucas palavras que se
definem um pesadelo, um pesadelo de nome “Alice’.
Uma menina que tive a infelicidade de conhecer... E a desventura
me apaixonar.
I
Especulação
Meu nome é Lucas, desde pequeno, ouvi falar dos grandes
detetives; Tal qual Sherlock Holmes eu me deixava levar por
mistérios intrigantes, aguçando ainda mais meu enorme apetite
por aventuras, o que me era um deleite, ás vezes, esse ímpeto
me custava caro. Como da vez em gastei 50 reais em livros; Ouvi
falar do grande e procurado “Hanry Claude”- Acusado de roubo e
traficoque tivera fugido a pouco tempo da cadeia - com o pouco
que li nestes livros, me julguei mais que correto no resultado do
caso, mas, errei.
Tendo vindo de uma família demasiada humilde, minha mãe
costureira, e meu pai desempregado. Metade do dia eu o
gastava trabalhando no armazém de seu Loro. Ele não me
pagava bem,abusara de uma família com tão poucos
recursos;Por isso sua morte não me foi sentida.Uma das veias de
seu cérebro houvera estourado; Pobre Dona Lucia, na hora
adiantou-se rapidamente para socorrê-lo. Estava imóvel, e um
calafrio me veio a espinha, pasmo, não estava sensibilizado com
seu falecimento, entretanto, deparar-me assim tão perto da
morte me foi como um êxtase. Fitava perplexo aquele cadáver,
que estava aos poucos definhando; E sem compreender, um
sorriso estampara cinicamente em meu rosto, como um
deboche, assustara os presentes, e feria aquela senhora jaz tão
abatida.
Hoje jaz maduro, em meus 20 e poucos anos. Reflito varias vezes
esta e inumeráveis tormentas do passado. Devo de agradecer as
dificuldades, pois elas me tornaram mais forte, graças a elas me
tornei o que sou hoje. Não me perpetuei as correntes impostas
pela vingança, mesmo com o rancor, não sou capaz de fazer mal
a aqueles que já me fizeram um dia.
A falta de renda fez com que meu sonho estivesse longe de ser
alcançado. Entretanto, me tornei o que menos esperava:
Um jornalista.
II
Corrompido
Na empresa em que na qual trabalho arrumei vários amigos,
entre eles de minha confiança:
Helena: - Ainda nesta idade não me deixo inerte a necessidade
de investigar, sei que é algo muito útil já que sou jornalista, por
isso não venham me julgar – Secretaria e assistente do chefe, é
mais que certo afirmar que esta tem um salário muito gordo.
Admitida dois anos antes de minha estadia, pronto a minha
carreira, era uma jovem senhora de 19 anos. Honesta e meiga,
entretanto, desventurada, a má sorte a seguia, se este era seu
destino devo de dizer que ela seria a primeira a mandá-lo a
morte. Sua ingenuidade era algo que acalentava, mas, que me
fazia temer por ela. Como disse alguém uma vez “Este mundo
não é para ingênuos”
Roberto: Uma pessoa sádica e sátira porem com enorme senso
de humor. Assim como eu, ele era jornalista, e assim como ele,
outro compadre meu Gustavo, também era.
Um dia, ao andar pelos corredores da empresa. Estes vieram
correndo me contar das novas, e pelo que parece me notificarem
do novo serviço:
- Lucas já ouviu falar sobre “Alice Valmont”? – indagou Helena
pretensiosa.
- Não, por que?
- O chefe quer uma matéria sobre ela.
- Alice, pelo que parece – interveio Roberto, mostrando-se
possuir um amplo conhecimento para com o assunto – É
sobrinha do Conde Vermelho e do Barão Negro, heróis de guerra
dessa cidade. Como são muito populares esta também haveria
de ser. Em seus poucos minutos de chegada a sua audaciosa
residência uma grande multidão gritava eufórica, desejavam
mais que tudo vê-la mesmo que de longe.
- Ela é tão bonita assim? – indaguei surpreso.
- Pelo que me relataram, parece uma boneca.
Neste momento, Gustavo timidamente rompera o silencio,
estava fuçando seu bolso, no ímpeto de encontrar algo,
visivelmente deixou na face um grande sorriso, o que
aparentemente pôde responder ao meu dilema:
- Deem uma olhada.
- Como conseguiu essa foto? – perguntou Roberto, sem
palavras.
- Consegui com um fotografo amigo meu. Lucas sua matéria vai
ser uma grande diversão.
- Que tal atentá-la? – propôs Helena com astucia – Seduzi-la?
Ao escutar isso, uma enorme cólera subiu a minha cabeça.
Estava indignado:
- Sabes que não sou esse tipo de homem.
- Se eu estivesse em teu lugar eu o fazer ia com prazer – replicou
Roberto, contando vantagem – Até quando vai continuar com
esse teu voto de castidade?
- Bem oras sabes que não sou virgem – retruquei furioso.
- Mas age como se fosse.
Fiquei corado. Adiante, Helena prosseguiu em tom esclarecedor:
- Não estamos falando para você amá-la, queremos apenas que
se divirta.
- Temo mais, é machucar seus sentimentos.
A conversação foi grande, hora ou outra seria obrigado a esse
sujo trabalho. Corrompido? Talvez. Mas passei um bom tempo
vivendo como um ninguém, e agora que tenho a chance de
reparar essa peça do destino, não hei de me privar de tentar
uma vida melhor. Quem sabe... Essa Alice possa guardar grandes
mistérios?
III
Teu Mistério
Sempre fui muito a bibliotecas, era algo bastante prazeroso, mas
deveras rotineiro, nunca pensei que naquele mesmo dia seria
sujeitado à tamanha exasperação.
Já estava escurecendo, de folga seguia sem delongas até minha
humilde, todavia confortável moradia. No caminho ultrajante,
estava à biblioteca HG; O que me deixou pasmo foi o fato de ela
estar aberta assim tão tarde quanto as 24:00 horas.
Antes de infiltrar-me já estremeci, a ponto de tocar na
maçaneta, pálido, começar a soar frio; Era uma atmosfera nada
contentadora, era muito bizarro por assim dizer, difícil de
engolir. Olhando pela janela tudo parecia normal, entretanto, o
ambiente era muito sombrio. Já ao entrar já confirmara o que
percebi: O lugar era sinistro. Suadecoração vulgar não se omitia a
forte impressão do paganismo. Algas e ossos que serviam como
adornos para as prateleiras, na mesa alguns lápis de cor sobre
um simples e pequeno caderno, todavia, por trásnão se tinha
visívelnenhum atendente. O lugar estava imundo, observando,
dava-se para notar que tinha terra em todos os cantos. Um
grande candelabro de prata quebrado estava deitado sobre o
chão e fixado no centro do local.
Tentando conter o medo, ajeitei minha gravata.Dei sete longos
passos, e quando fitei novamente aquele candelabro, complexo,
me vi diante de minha própria morte. Eu que nunca acreditei em
fantasmas, admito que aquela sensaçãopoderia ser comum.
Mas, o que aconteceu comigo, não tinha como ser normal:
As luzes se apagaram, e a porta trancou sozinha. Inquieto e
abatido, meus olhos arregalados procurava uma pequena luz na
imensa escuridão, por ventura, como mais um assombro, aquele
candelabro já inerte me concedeu o desejo. Minha vontade era
de correr, mas minhas pernas paralisadas não permitiam. O frio
era eloquente, parecia ser uma prova. Tentei voltar no tempo, na
época em que eu desejava ser um grande detetive, entretanto,
falhei. Todas as minhas teorias obtidas em poucos minutos
foram destruídas neste exato momento:
- Seu nome é Lucas? – indagou uma timbre, porém doce voz.
Soara como um acalanto. Divindade a parte, procurava sem
receio a imagem da pessoa a quem me transmitia ternura
naquele instante tão horroroso.
- Sim, sou. Quem é você? –indaguei.
Ela não respondeu.
- Só quem faz perguntas sou eu! – exclamou em tom furioso,
mas não a ponto de me fazer dar gritos de fervoroso terror, não.
Era de uma forma que tentava demonstrar mais que nunca a sua
autoridade. O silencio prevalecera, mas, ela continuara:
- Ouvi falar que quer tentar me seduzir...
Vermelho de vergonha, neguei entre palavras e gestos com a
cabeça. Estava demasiado transtornado.
- Como ousa mentir?! –complementou ela, entretanto a forma
de um grito benevolente.
Sua voz era muito bela, mas, não conseguia me transmitir medo
algum. Era tão doce que por poucos minutos pensei que estava
fora de perigo, por mais uma vez, errei.
Fitava todos os cantos daquela biblioteca escura, em que na
qual a única luz que se mantivera era a de um velho candelabro.
Parecia um pesadelo. Qualquer um que estivesse naquele lugar
pensaria que é assombrado, já que ouço uma voz, mas, não sei
de onde vem.Sinto-me em um interrogatório, pressionado por
inúmeras perguntas. No entanto, veio a minha mente, a foto de
Alice, Alice Valmont... Seria esta voz de autoria desta senhora?
Dentre a escuridão, já cabisbaixo, estava exausto de tanto
procurá-la, mal me recordara de sua imagem, e já sentia por ela
imensa afeição. No meu consciente eu mesmo gritava, em
monologo: Estranho!
Ela para minha surpresa, enfim se revelou indo para o único
lugar iluminado.
Fiquei bobo! O que me falaram era mesmo verdade, tão bela
quanto um anjo!
Seus cabelos negros contornavam e a davam ainda mais
elegância, seus lábios vermelhos tal qual sangue eram
tentadores, parecia o pecado oferecido para mim em uma
bandeja de prata, mas, acima, com uma taça de ouro, deixando
mais que irresistível o gosto de vinho que em poucos minutos se
torna sangue. Seus olhos grandes e verdes, era a porta para a
alma mais misteriosa que já vi; Seus cílios, um encanto. Seu
longo vestido de renda em babados a dava um toque especial.
Era uma boneca!
- Como ousa mentir? – murmurou ela.
Não consigo deixar de observá-la, seus lábios trêmulos, sua pele
sensível...
- Quantas vezes terás de mentirem?! – indagou a menina
indignada, pousando as mãos sobre meus ombros e fixando seus
olhos penetrantemente nos meus– Não sei por que você não
morre! Consigo ver em sua alma! Você me ama!
- Eu não a amo – tentei sem sucesso corrigi-la.
- Mas sei que ira amar-me. Por isso digo: É perda de tempo
tentar me seduzir!
- Se eu a amo – perguntei confuso – O que tem demais em
tentar seduzi-la?
Em voz tremula e caminhando diante a escuridão respondeu-
me:
- Você pode sofrer com isso...
Fiquei fascinado, com a jovem que estava a cá, ao meu lado. Sua
fragilidade, finura, delicadeza, estava encantado! E não
conseguia parar de fita-la! Estava viciado nela que nem um
moribundo por sua droga. Será que realmente a amo?
Ao soar do ato, quebrou-se o silencio. Como se estivesse atenta
ao perigo, minha interlocutora deu quase a prevê sobre a
trombeta do juízo final:
- Me siga. É perigoso continuar nessa biblioteca. Daqui a pouco
será 25:00; Quero poupá-lo do pesar que seria presenciar o que
acontece aos que ficam aqui presentes.
25:00? Cada vez mais, ficava perplexo e confuso.
- O que acontece nesta hora? – indaguei curioso.
- É à hora do julgamento. A hora da vingança. Da lastima e do
martírio.
- Quem é o responsável por isso? – perguntei mais uma vez,
atônito.
Desta vez, como das primeiras vezes, ela não respondeu-me.
Como se fosse vitima de sua disciplina, firmemente, não se
mantivera expressiva. Por onde caminhava, a luz que antes vinha
do candelabro, começou a segui-la, até uma porta de madeira
esculpida de fino gosto. Como se os mistérios me seguissem, na
maçaneta estava escrito “Rosa-Cruz”. A querida senhora, me
escoltou até seu ninho.
IV
HG
A querida guia escoltava-me com seu bendito zelo. Era um
imundo e fétido labirinto. Olhava para o lado e me arrepiara de
tão nojento que estava o local. Canos quebrados, rios de fezes...
Suspeitara e tive a certeza após a caminhada de que se tratava
de um esgoto. Já exausto interpelei confuso:
- Aonde estas me conduzindo minha jovem?
- Não sou sua – retrucou-me rudemente – Já estamos chegando.
Deparei-me no caminho, com outra porta. Minha desconfiança
estava começando a chegar diante de sua menção. Estava
mesmo seguro ao seu lado? Perguntava incessantemente a mim
mesmo.
- Ouvi falar que tu és jornalista... – argumentou timidamente.
- Sim, sou – confirmei com maestria. E ela, embaraçada, esboçou
um leve sorriso na face.
- Sei que tudo parece estranho – Complementou Alice Valmont
– Mas, com o tempo, entendera.
Não conseguia compreender a simbologia por trás de suas
palavras aguçadas. Envolvida por aquela luz inebriante, parou
diante de um castiçal, cerrara os punhos e por diversas tentativas
tentara puxá-lo contra a parede, revelando assim uma passagem
secreta.
- Agora esse caminho é mais confortável Sr. Jornalista.
Enfim entramos.
Era uma aconchegante e luxuosa sala de estar, todavia, para a
minha surpresa e arregalar de olhos. Sobressaia naquela
arquitetura figuras bastante estrondosas, tal quais as do tempo
renascentista. Como se fosse coincidência com as frases da
maçaneta aquele quarto já tão esplendoroso continha como
principal parte da mobília, pilares em formato de Cruz, e rosas
pintadas na parede. Dois sofás confortáveis faziam harmonia
com a pequena mesinha de centro.
Sentamo-nos, e começamos felizmente a dialogar:
- Você gosta de rosas?
- Sim – respondi hesitante. Considerava ainda muito estranho a
sala em que estou a frequentar. Afinal, tudo que eu vi essa noite
foi fora do normal... Quem me garante que agora não será o
mesmo?
Complexada, embriagava o local com seu olhar penetrante:
- Meu dono prometeu transformar essas pinturas da parede em
rosas um dia...
Atônito, não consegui articular a seguinte palavra. Podia jurar
que eu mesmo me castigaria se não a desse a devida atenção.
Posso ganhar bastante no serviço dependendo da informação,
mas, acho que seria impossível alguém dar estima ao que eu
falo.
- Ele sempre me observa de longe – declarou a moça, um tanto
contente – Disse que se eu fosse uma menina obediente
concederá alguns pedidos meus.
O êxtase era total, corromperia prosperamente contra meus
objetivos desde que minha curiosidade fosse amenizada:
- Qual seria seus desejos senhorita? – indaguei. E ela por menos
incrível que pareça, mudou de assunto:
- Quem sabe um dia ele ira me libertar... – como se despertasse
sua consciência, arregalara os olhos com receio –Lucas acho que
já é hora de ir.
- Já? –perguntei angustiado.
- Sim – complementou, demonstrando-se um pouco tremula -
meu senhor volta tarde.
- Sra. Alice, vós não disse que ele lhe observa sempre? –
perguntei.
- Não é meu Dono, Lucas, é meu Senhor, e, provavelmente meu
Mestre chegara com ele – cada vez mais intrigante, levantou-se e
sem cerimônia abriu uma porta do nada. Pude observar que
todas as rosas pintadas são portas. O que minha mente
justamente não pode negar a possibilidade, de, na realidade
aquela biblioteca assustadora, fosse um imenso castelo oculto.
No calor do momento, vozes seguiam adiante, e ela, petrificada
de nervosismo, me clamou de novo o seguinte pedido:
- Vá embora Lucas, por favor.
Fiz sem receio o que desejavas, afinal, já estava começando a
ficar pálida de tão aflita, tremula sua testa começava a se franzi,
perdendo assim aquela imagem de alguém firme e decidida.
Mas, congelado a esse momento de cativação, me deixei levar
pela tentação. Quando sai do ressinto, ouvi gritos exasperados.
Apertei minha orelha contra a porta, certificando de que pudesse
ouvir sem nenhum problema, a conversação de quem residia ali:
- Alice Valmont! – exclamou alegre.
- Mestre, Senhor? É você? - pausou Alice entusiasmada.
- Sim somos nós – respondeu um outro homem, de voz mais
fina.
Tentei olhar pela fechadura, e mesmo com grande dificuldade,
posso afirmar que conseguiria fazer um retrato chamado:
Um dos homens tinha voz fina, roupagem vermelha de couro e
linho, era alto, do mesmo tamanho que o outro. Seus cabelos e
olhos eram da mesma cor. Colares e capa era um de seus poucos
chamativos. Jovem, palpito sobre o fato de ser um homem de 22
anos. Tinha armadura, mas, era todo coberto pela capa, que o
cobria por completo.
O outro por sua vez, tinha uma voz mais simpática, usava vestes
negras. Seus cabelos e olhos eram da mesma cor. Se vestia da
mesma forma que o outro, entretanto acredito que este possa
ter 26 anos de idade.
Sensibilizado não continham a emoção. Abraçaram-se uns aos
outros fervorosamente. Uma tímida lagrima até rolou dos olhos
de Alice:
- Como foi o trabalho? – indagou leviana.
- Você sabe - complementou o homem de Vestes Vermelhas –
Só nos encarregamos da carruagem.
- Quantas pessoas? – perguntou novamente, agora, empolgada.
- 57 – respondeu o homem de vestes negras –; Alice, não temas
o corvo. A gente sempre estará aqui contigo – carinhoso, em
gesto paternal, continuou - Um dia esse pesadelo ira se acabar.
- Quem disse que eu quero que esse pesadelo se acabe? –
retrucou Alice.
Bastante exasperados, fincaram seus olhos na menina, que
condizia sem sombra de duvidas, estar completamente ciente de
si.
- Alice – pausou o homem de Vestes Negras, um pouco
preocupado – Tens medo da liberdade?
Ela silenciosa, diferente de a mim, a quem ela negava-se a
responder certas perguntas, adiantou-se:
- Sim – confirmou, com a sanidade abalada – Tenho medo de
não estar mais presa ao pesadelo.
Aquilo soava tão majestoso, quanto o canto da coruja.
V
Sobressalto
- : -
Quantas vezes chegamos lá?
Estou aqui afogando, entorpecido por memórias. Psicodélico a
parte, meus olhos ainda não estão cerrados.
Será essa a Utopia? Onde ninguém pôde alcançar? Dizem que para
encontrá-la, basta acreditar, pois ela veio de nossos sonhos.
Nadando entre a harmoniosa correnteza, começo a vê-la, deve de
ser um sonho, só pode ser...
E era.
- : -
Estava um dia bastante animado.
Mesmo assim, deixava-me abater por memórias, que eu
agradeceria a quem conseguisse me fazer olvidar.
As imagens daquela jovem senhorita, fincavam na minha mente
como facas.
Todavia, preciso ganhar meu pão.
- Ainda não conseguiu a matéria com a Sra. Valmont? – indagou
Helena, em tom eufórico.
- Esta sendo difícil...
- Dá um tempo pro garoto – interveio Roberto, astuto – Todos
os jornais, concorrentes com nossa empresa, estão com a
mesma dificuldade. Essa Alice nunca sai de casa.
“Nunca sai de casa?” o escambal! Vejo aqui uma balburdia,
pensei.
- Mas eu a vi uma vez na biblioteca HG – argumentei
estranhado. Era realmente um absurdo!
- Aonde fica essa biblioteca?
- Fica do lado da farmácia.
- Isso é impossível! – exclamou Gustavo, intrometendo – lá fica a
loja de antiguidades.
Perplexos e atônitos tentamos pesquisar, sem sucesso.
- Você esta mentindo pra gente? – perguntou Helena,
aumentando a expressão de cólera na face.
- Calma Helena – pausou Gustavo – Ele pode ter se confundido.
É normal não é?
- Normal pode até ser. Mas, perder tempo é perder dinheiro. O
chefe esta quase querendo demiti-lo. Estava tão estupefato de
euforia que quase surtou, foi difícil fazer a cabeça dele, mas,
consegui pra você um novo trabalho.
- Qual? – indaguei.
- São dois, para falar a verdade – corrigiu ela, engenhosa – É o
Sr. Augusto, no artigo sobre agricultura. Ele esta se tornando
muito chamativo por dizer ter conseguido plantar o maior vasto
de milharal. Já a outra, é sobre uma família com entes
desaparecidos.
- Parece difícil – reparei timidamente.
- Não se preocupe. Dessa vez irei com você.
- Comigo? Mas, você não trabalha como secretaria?
- Ele me mudou de cargo por tentar ajudar-lhe – pausou ela, em
tomrepreensivo – Por isso quero que tenha um pouco de
consciência sobre isso.
- É muito longe cada local?
Ela adivinhando minha alienação, replicou:
- Não se preocupa, vamos de Van.
A viagem foi um tanto longa. A paisagem rural realmente nos
era bastante atrativa, fitando-a por horas infinitivas, me
recordara de meus tempos de inocência; Quando as brincadeiras
ao ar livre eram um tanto mais prezadas do que hoje em dia.
Que saudades daqueles tempos! Conhecera quase todos meus
colegas de trabalho assim, quase todos, pois, Gustavo foi
exceção; Esse eu cheguei a conhecer apenas após muitas
delongas. Estava na praça trabalhando arduamente como
sempre; Desesperado por vender jornais eu gritava
incessantemente tal qual uma chamativa propaganda de cerveja;
Esforçara-me tanto, mesmo assim, ninguém me cedia à atenção.
Já desesperançado, fiquei pessimista, até que um moço veio até
mim: Moreno de cabelos negros vestia-se encorajado por outros
de paletó e casaca da cor uva; A cor era tão extravagante que
chegava a ser brega, e aparentemente hilário de se presenciar.
Com o suor escorrendo a fronte, era certo afirmar que aquele
moço tivesse feito enumeradas caminhadas, porem, essa
genuína criatura, durante sua tão santa pausa veio a minha
direção; Pensei que ele fosse comprar de mim um jornal.
Contente, quase cai de joelhos em posição de oração, mas, me
decepcionara ao saber que era só um mal entendido:
- Quer comprar um jornal? – perguntei. O contentamento
deixava mais que apar meu enorme entusiasmo.
Entretanto, ele sereno, objetou:
- Não, só queria pedir informações. Vos sabes se por aqui mora
uma moça de nome Erica?
- Foi ela quem lhe falou pra vestir isso? – murmurei atrevido.
- Sim.
Realmente nunca esquecerei daqueles tempos...
- Lucas – sussurrou-me uma voz ao ouvido. Com olhar fora de
orbita, fitava-a de forma descontraída, estava tudo embaçado –
Lucas! – repetiu, agora em alto e bom tom – Acorda Lucas! já
chegamos!
Não estava me sentindo bem, demorou uns instantes para que
eu voltasse a si.
- Helena?
- Não, Papai Noel – retrucou eufórica, estava realmente
esbravejando sua enorme carga de cinismo – Chegamos na
fazenda de Augusto. Vamos levanta, não seja preguiçoso! Afinal,
ela esta apenas a sete passos daqui.
- Já estou indo...
E erguendo-me seguindo de um grande bocejar, coloquei mãos
a obra. Segurava meu equipamento com seus devidos cuidados,
e em relação aos instrumentos utilizados por Helena, ela levou
consigo somente o essencial; O que não quer dizer que estive a
pronta para carregar mais carga que o devido, mas sim que os
objetos eram um tanto mais delicados.
- O que foi Lucas? – argumentou estrondosa – Você anda tão
calado...
Estava hesitante por articular a palavra. E ela compreensiva,
deixou a par sua observação:
- Deve de estar cansado...
- Por que sugere isso? – indaguei com ar curioso. Após uma
breve pausa esta respondeu:
- Muitas vezes o vejo dormir no trabalho... Vem acontecendo
algo?
Meu coração redarguiu com seus batimentos descompassados,
suando frio, a preocupação se colocou presente nesta
impertinente situação. Como poderia contar sobre minha
desventura? Afinal, desde o dia em que conheci Alice Valmont
não consigo mais adormecer durante a noite; Tenho pesadelos.
Estes pesadelos me matam aos poucos...
O ultimo que tive: Estava de novo lá, espiando pela fechadura.
Os homens de vestes Negras (Que agora tenho quase a certeza
de ser o Barão Negro) e Vermelhas (E esse de ser o Conde
Vermelho) agitados, prosseguiam hesitantes condensando
palavras de forma tremula; Infelizmente, não conseguira ouvir
nada a não ser ruídos finos e agudos que recordaram muito as
ondas de frequências antigos rádios e televisões. Não conseguia
ver direito! E quando vi o pavor, meus olhos jaztão envolvidos
quiseram ser cerrados imediatamente. Era deveras bastante
traumatizante. Andando de um lado pra cá, Alice estava
enfurecida com a argumentação dos dois senhores; Sempre que
ela parecia retrucar, estesa repreendia, e ela ardia em cólera.
Ficou cabisbaixa, pude me enganar por seu sereno e Candido
rosto, foi macabro. O quarto se desfigurou, as pinturas de rosas
começaram a desbotar, e sua tinta começou a inundar o local
que tremia interminavelmente, parecia querer desmoronar.
Seria essa a hora do martírio? A arquitetura começara a
envelhecer, perante toda aquela iluminação, tudo se compactou
e evoluiu para o breu. Com sorriso maléfico, ergueu seu rosto
aos moços trêmulos. Começara a desabar algumas vigas e
madeiras, enquanto caminhava, não tirava do rosto a sensação
de calma, tão segura de si que chegava a ser desprezível. Aquele
rio de tinta continuava a inundar, mas, assombrosa impressão!
Senti algo frio em meus pés. Pasmado, fitei meus sapatos, notei
que estavam encharcados; Deus do céu! Aquilo não era tinta!
Não era tinta! Maldita melancolia, sentia na pele as desgraças
daquela sala! Não era tinta era sangue! Isso me dera calafrios tão
grandes que quase gritei perante tal devastação.Ainda dentro
daquele quadro de extrema melancolia, reparei na jovem
translúcida, como se tivesse roubado o fel do diabo a garota
tirou do nada uma faca, e correu em direção do homem de trajes
vermelhos; Sem dó e nem piedade, cravou sua lamina sobre seu
vulto! Conformado, o fiel servo agonizava, mordera os lábios
para tentar não gritar, não condenar sua senhora a lei; Aquela
Alice, indômita, fora de si, embriagava-se no desejo profano que
possuía a palavra morte, tanto é que a pronunciara com gosto e
toques de Luxuria – Morra! Morra! Morra! – Seus olhos
cintilavam por extrema ironia, e o sangue jorrara para todos os
lugares, até para seu lindo rosto, mas, não se via por satisfeita...
Antes que eu pudesse presenciar o próximo passo, acordei;
Ainda cheio de medo, não sabia dizer se era ou não um sonho!
Foi... Foi tão real. Só de lembrar, chego a ter arrepios; A sensação
que tive de vê-la cometendo tal ato, me tirara a bonança por
completo.
- Não pode contar-me? – perguntou Helena perturbada – Tudo
bem, só não continua com essa cara de pamonha. Vamos, toque
a campainha.
- Não podia ser você a tocar a campainha? Estou segurando mais
coisa que você!
- Eu sou uma dama filho.
- Mas eu não sou burro de carga!
Ao tocar a campainha, duas senhoras de idadeapareceu.
Raquítica, uma era tão magra que mais parecia uma vassoura;
vitima de osteoporose de reumatismo, andava de lá para cá com
as mãos apoiada as costas. Já a outra mancava e demonstrava
ter em um dos olhos certa deficiência. Sem atraso, as gentis
velhinhas hospitaleiras nos convidaram para entrar. Decoração
um pouco pobre, era impossível de não se duvidar que seja láou
não o lugar em que fomos mandados.
Sentamo-nos no sofá.
Elas esbanjavam simpatia, principalmente ao nos servir chá com
bolinhos;Distantes um do outro, Helena se demonstrava deveras
perturbada. Saudações e conversas inúteis ajudou-a a azedar a
face jaz tão irônica.
- Então senhoras – Dialoguei sem enfardar –Como se chamam?
O que são do Sr.Augusto?
Araquítica, pausando entre diversos intervalos, apresentou-se:
- Eu sou Isadora. E essa é minha irmã Antonieta:
- Muito prazer.
- Somos filhas dele.
Chacoalhando o chá, pensativo, reflexionara sem um pingo de
entusiasmo sobre certas inquietações. Desprovido de qualquer
artimanha, voltei por argumentar:
- Mais alguém além das Senhoras mora aqui?
- Sim – respondeu-me Antonieta desdenhosa – Maria Luiza,
minha neta; Ela é um encanto de pessoa! Querem conhecê-la?
Tenho a certeza, Sr. Lucas, que vai se sentir maravilhado!
- Não, não a tempo para isso – Afirmou Helena contrariada. O
suor descia-lhe a testa, entregando-a para a cadeira dos réus
sobre minhas suspeitas de nervosismo, eram um tanto óbvios:
Inquieta, movia freneticamente os dedos da mão, suas linhas de
expressão desapareciam e espremiam em teu rosto diversas
vezes deixando-me enojado. Abatido por temer qualquer
desavença, retruquei:
- Chame Maria Luiza, quero conhecê-la.
Vacilante, Antonieta gritou o nome da menina mais alto do que
coronel usando alto-falante: Maria! Maria! - Quanto mais
demorava mais ficava furiosa.Até que ao fitar a escada
definitivamente dei-me de cara com um pedaço de gente. Tão
nova, a confundira com um anão de jardim. Acho que sei por que
gostam de apertar bochechas de crianças; afinal, a pele delas é
tão fina e delicada, os deixando mais fofos do que já são! Nego
que essa vontade tenha me atingido, porem, por impulso,
necessitei apertar seu nariz arrebitado, que mais lembrava uma
batatinha.
Embaraçada pelos repentinos e inesperados convidados; Maria
Luiza estava um tanto travada. Antonieta com um
empurrãozinho acalmou sua insegura pupila, nos apresentando
cordialmente.
- Maria Luiza, este é o Sr. Lucas e essa Sra. Helena.
- Muito prazer – saudei empolgado. Fazia tempos que eu não via
uma criança.
A jovem, encabulada fez bico, minha presença realmente lhe
dava mais incomodo que bonança. O que me deixara angustiado.
- Fala quantos anos você tem pro moço.
- Tenho 10 anos, quem são eles?
- Somos jornalistas – respondeu Helena despretensiosa.
A menina silenciosa voltou seus olhos para mim:
- Venha brincar comigo mais tarde – Seu pedido atrevido me
deu calafrios. Sem devaneio, e, sem olhar para trás, marchou
para o quarto.
Maria Luiza falava como se fosse algo serio ou importante, de
extrema responsabilidade, o que de fato me intrigava.
- Desculpem-me por minha sobrinha – justificou a Sra. Isadora
envergonhada – Ela é muito solitária, a mãe morreu no seu
parto. Esta de férias, e como a gente mora em uma fazenda,
todos seus amigos moram longe... Então quase não tem com
quem brincar...
- Entendo...
- Esta tudo bem – interveio Helena, acalmando-a – Mas, agora,
nos fale sobre seu pai Augusto.
Meticulosa, sua flexível mão tomara entre os dedos por vez,
mais uma vez a xícara de chá. Depois de um gole, murmurou
entre lembranças e recordações joviais. Seus olhos entreabertos,
cintilavam tal qual gotas de orvalho. Audaciosa, minha
interlocutoradefiniu cada detalhe sem destreza e com êxito.
Mas, por sua índole, tivemos por ela tamanha apatia.
- Papai era um homem pobre, mas, pouco astuto. Emprego
todos seus bens nessa fazenda, que nada de bom trouxe-lhe na
vida. Herói de guerra queria passar o resto de seus dias no
campo. Ele estava se tornando deveras depressivo, afinal, seu
oficio não era o suficiente para sustentá-lo. Na sarjeta, ou pior,
no fundo do poço, se viu arruinado por dividas... Até que uma
jovem, nossa mãe. Uma chinesa de finos olhos e cabelos
castanho claro. Fora apresentado a ele no dia dos namorados
por um velho colega de escola. Completamente enamorados,
meu pai se esforçou ainda mais para fazer essa fazenda
prosperar... Afinal, já tinha alguém por quem lutar.
- Falando no seu pai – interrompi intrepidamente; Estava
consciente de que toda essa conversa não agradava Helena em
nada. Como remédio para seus problemas, fui direto ao assunto:
– Aonde ele esta neste momento? Precisamos conversar com
ele.
- Você não sabe?! – exclamou-a surpresa – Ele morreu há 10
anos.
- Foi algo tão horrível que apareceu nos jornais - complementou
a irmã esbugalhada.
O ambiente estava hostil, para não se dizer insuportável! Helena
a encarava com desprezo; Era algo em que até o mais crédulo
dos homens poderia negar a possibilidade de realidade. Estava
exasperada por tamanha desavença, inquieta, a cética
decidiudesafiar a bonança;Seu orgulho era tanto que a
corrompera com seu ego, o que de fato, condizia com seu feitio:
- Ta de brincadeira com a nossa cara não é?! – exclamou-lhe
indignada – Não acredito em estória de fantasmas! Então quem
nos chamou aqui?
- Não sei – respondeu Isadora suspirante – Nos não nos
comprometemos com o jornal há anos! O ultimo que nos duas
aparecemos, foi o da morte de meu pai.
- Vamos embora! – esbravejou Helena, sem um pingo de
sensatez.
- Mas...
- Mas nada! – retrucou-me – Tempo é dinheiro.
Não passara 5 minutos e já estávamos em frente da porta, dei-
me de cara novamente com Maria Luiza, agora, com as vestes
encardidas de lama mofo e suco de limão. Enquanto Helena
antecipava-se ligando para a empresa, e se certificando de dados
injustificáveis; Eu ouvira um agudo sussurrar:
- O anjo da morte veio, tentando roubar seu livro da vida. Sem
sucesso, conseguiu levar umas paginas. O que restou, esta mal
explicado, e o que se foi, foi esquecido...
Calafrio exuberante, ao todo petulante.
Nada melhor que ficar acordado a sextas-feiras treze.
VI
Modéstia Petulante
-:-
Embalsamado por distinta sensação, de tê-la entre meus braços já
por certo, algo inconcebído. Inebriante compromisso. Com teus
cabelos em controvérsia, dançando sobre a brisa dos sismos.
Era como um poema... Mas, não era a primeira vez.
Tinha a certeza, de que nos veríamos mais uma vez, minha querida
Madeleine.
-:-
Sem pausa entre as viagens, o retorno era algo dispensável,
negável perante a mente de Helena.
Eu bem queria entrar em sua cabeça... Durante todo o trajeto
não tinha como necessário definir sua expressão. Era certo que
aquela jovem mulher, inabalável e submissa as regras de
conduta consigo mesmo, estava retraída, presa ao emaranhado
de expectativas que tinha para com essa nova e antiga missão de
estampar algo excitante em uma pagina qualquer do jornal, tal
qual qualquer colunista. Afinal ficou a mercê diante do espanto,
mas, não desistiu do que era preciso para pagar suas contas.
Após 4 horas de volante, enfim chegamos. Era uma avenida
pouco movimentada. Enquanto fitávamos os sítios distraídos, lá
e cá se via algunsvultos entre o breu que era a parte interna das
janelas. Comparada a uma cidade fantasma, a calma chegava a
irritancia.
Dentre todo aquele espanto, não contenho meu cinismo,
constatamos por misericórdia que o povo daquela cidade não
eram nada mais nada menos que tímidos.
Distinta vontade de pular argumentos, enquanto marchávamos
em passos largos, à rua em silencio continuava a atormentar-me.
E Helena claramente descarada, segurou minha mão como se eu
fosse uma criança assustada! Podem imaginar isso? Eu tremia
não nego, mas, não pela aparência da cidade em si, mas, pelo
fato de que Helena estava com uma faca dentro de seu casaco
vermelho. “Por que não?” dissera ela “É bom para me proteger
de pervertidos como você”
Não levei isso para a ofensa, até por que ao afirmar isso
insultara a si mesma. Tal figura se vestia como uma desesperada
viciada em álcool e produtos dietéticos. O que para uns chegava
a ser motivo de sedução para mim não era nem si quer
comparado a um carro alegórico caindo aos pedaços, que por
menos de dois minutos antes de explodir com a fiação consegue
nos transmitir imensa atração...
Já a porta nos esperando, o casal se mostrava abatido. Entre
estorvos da desconfiança, estes cochichavam feito malucos. O Sr.
Era um moço de longa cabeleira ruiva, em terno de tecido nobre
e sapatos de couro fino. Alto e gordo, o mais impactante de seu
feitio era o bigode, que por vez ou outra complexado, o enrolava
com a ponta do dedo para passar o tempo. Bom exagero, mas,
péssima mania... Enfim, quem era aquela moça? “Me
perguntara” Eu não podia acreditar no que vira, só sei que as
feições dela estavam em êxtase ao fitar-me nos olhos. Seria essa
Madeleine?
- Ola senhores – saudou Helena – Devo presumir que foram
vocês que nos chamaram. Estou certa não estou?
- Sim – confirmou o senhor com anciã entre desespero – Sou
Renato Vandorte. E essa é minha querida Adélia Vandorte. Pelos
sobrenomes já da pra saber que nós nos casamos faz pouco
tempo.
Olhando mais de perto, esta parecia envergonhada, sem
articular palavras, se agarrou ao braço do marido, que
carinhosamente, lhe beijou a fronte. Eu ainda estava atônito e
um tanto surpreso. Posso jurar que aquela era Madeleine!
Madeleine... Minha querida Madeleine... Enquanto o ato era de
conversação, eu atrevidamente recordava como a conheci... Eu
tenho a certeza que tu és Madeleine! Tenho certeza! Eu que fui o
primeiro a conhecê-la, dos pés a cabeça, cada vontade maculada,
era uma menina precoce... E eu a corrompi desde o primeiro
beijo. Disfarçada de santa nesse vestido dos anos 50 eu bem sei
que ainda és uma devassa corrupta. Ainda não sei como seu
marido não a descobriu. Deve de ser por sorte, e por fim
mudastes o nome.
- Adélia – começou Helena a interpelar – Me fale mais de vocês,
desse ente querido que morreu. Nos fale por favor, esse anuncio
é muito importante para o jornal. E pelo que sei, também é
importante para você, já que o assassino não foi encontrado.
Naquele sistemático silencio causado por tal pedido,
preocupado, Renato interveio de forma intrigante:
- Me desculpe interromper, mas, me preocupo com minha
Adélia, acho que esse assunto ainda lhe é muito sensível. Se for
possível, desejo falar por ela.
- Acho melhor – opinei desdenhosamente. Ainda achava aquela
encenação bastante suspeita, afinal, eu a conhecia muito bem,
não tinha como ela ‘Um ser que carenciava coração’ se importar
com alguém. Por isso sem hesitar lhe fincava meu olhar
malicioso – Acho melhor – repeti – A Sra. mesma falar, já que é
um assunto delicado, presumo que, contar seu lado seja mais
impactante e emocionante para quem ler. Seu lado da estória
pode tirar a lagrima de alguns dos leitores. Por certo, creio eu,
que isso é o melhor a fazer. Quanto mais desesperada for as
palavras da pessoa mais vão chocar a população.
- Adélia você não precisa fazer isso...
- Não tem problema – declarou a moça ainda em êxtase – Eu
conto...
O céu estava ficando nublado. Os pingos de chuva vagamente
começaram a escorrer por minha boina e minha blusa de
algodão. Quando meus sapatos começaram a ficar presos a
poças de lama, e Helena a reclamar do estrago com sua
escovinha; Sr. Vandorte nos convidou para entrar em sua
humilde residência; Enquanto sentávamos no sofá, e a
empregada o era transmitida de seus devidos serviços, comecei
por examinar Madeleine: Seu rosto pasmado, suas sobrancelhas
franzidas, e as pálpebras demasiadamente eclipsadas; Dava-se
para garantir que a nostalgia lhe trouxera um trauma. Porém,
mesmo sem saber ao certo, não conseguia levar sua desgraça ao
lado pessoal, cada lagrima que derramava não me alcançava;
Ainda em silencio, se pôs a apenas ouvir o assunto que gerou
brevemente entre Helena e seu marido; Não aparentava e nem
ocultava ciúmes, eu também não o haveria de ter: Estavam
conversando sobre culinária mexicana, e se:
- Por acaso haveria por lá algum bolo apimentado? - Era o que
Helena indagou, até então ver que a empregada chegara para
oferecer aos visitantes um gigantesco bolo de fubá, e um doce
de goiaba que mais parecia uma gelatina de groselha.
Dentre a chata conversação, delicada e graciosa, Madeleine
expunha no rosto pálido um definhante sorriso. Não aguentando
o martírio daquelas horas monótonas, a repliquei:
- Vamos logo ao que interessa; Sra. Vandorte...
- Me chama de Adélia – interrompeu-me vagamente.
- Tudo bem – concordei hesitante – Adélia, nos fale logo do
ocorrido.
Madeleine deu um grande suspiro; Mesmo ainda, um tanto
sensibilizada, conteve sua dor; Guardara bem no fundo da alma
aquele rio de angustia, e trancou á chave para que ninguém
fosse levado, ou afogado por aquela lamentação. Mas, como
toda pessoa que perdemos é única, insubstituível, não escondeu
o lamento que era o seu pesar.
- Estávamos ainda em uma quinta feira a noite, dia 5 de maio;
Minha irmã ligou-me desesperada, falava entre sussurros tão
baixos, praticamente um murmúrio... Parecia chorar, gritar!
Quem, quem a levou de mim? ‘Estou em choque!’ Dizia. Mas,
pensei que era atuação, ela Sempre foi de mentir... Deus! Eu me
arrependo de não ter acreditado nela! Por que eu não confiei?!
Por que eu não confiei...
Ao final do ato de tormenta, o marido lhe ofereceu um lencinho.
- Qual era o nome de sua irmã? – perguntei curioso, e um tanto
enrubescido.
Cândida, a jovem respondeu enquanto limpava as lagrimas:
- Seu nome... Era Madeleine. Minha querida Madeleine...
Fiquei mudo.
Isso eu realmente nunca poderia imaginar.
-:-
Madeleine... Madeleine. Estou sendo hipócrita? Era em um
domingo de maio; Te chamei de desprezível, mas, eu que não mereço
alivio, da minha consciência enlouquecida, que abrange a de um
eremita.
Todos meus erros de agora, por mais que em uma hora, eu consigo
esquecer... Mas quando eu lembrar, a sanidade irei perder...
O vazo de ouro, que eu guardava a felicidade, facilmente se
quebrou. Assim como o anel de vidro, a quem depositei nosso amor.
-:-
- Você sabe quem era ela? – indagou-me Helena.
- Não, não sei – respondi após piscaros olhos um tanto
comovido. As lagrimas queriam escorrer, não há nada pior que
um segredo mal guardado... Esse me ira para o tumulo. Ao virar-
me para Sra. Vandorte assustei-me ao ver que ela encarava-me
com antipatia, petulância ou não, neste momento admito ter
sido um descarado, mas Adélia é uma copia perfeita dela! Seriam
elas irmãs gêmeas, e se são, por que por acaso nunca contou-
me?
Eu me lembro de cada parte de seu corpo... Naquela época, o
que nos unira foi a carne. Eu me enganei por pensar que era
amor... E ela intolerante, prolongava aquilo tentando me seduzir;
Suas mãos eram tão pequenas e delicadas, tal qual a de um
bebe, nem se via cutículas; Geralmente ela aparecia por trás
fechando meus olhos. Me conduzira com seus beijos. Seus lábios
eram diferentes, o de cima era mais enxuto que o outro, mas,
mais tentador em minha imaginação atracada. Com aqueles
lábios transmitia palavras em meu ouvido que eram tão
ternuosas, nem prestava atenção no que falava, só na voz, que
era muito atrevida e me Dara longos e prazerosos calafrios. Pele
morena e bronzeada. Era rara as ocasiões em que eu a vira com
regata. Eram sempre tecidos finos e leves na sua vestimenta;
Geralmente vermelho e preto faziam parte de seu estilo; Apreço
ou não, por vez ou outra eu tentava fazer sua cabeça escolher
usar um vestido rosa que vi em um shopping. Sua pele era alva e
macia, assim como suas mãos. Mesmo que eu tenha tentando
me conter, não resistia; Aquele aconchego era um paraíso,
aquele corpo era o que eu desejava a cada momento; Toda vez
que eu a via, me perguntava quanto tempo iria demorar para
tornarmos um só?. Nossa primeira vez foi em um domingo, e
hilário o fato; Foi no primeiro encontro. Jamie, outro conhecido
meu de faculdade como sempre fazia suas festas nos domingos,
com o intuito de arrecadar dinheiro para o sucesso de sua banda.
O moleque se aproveitava da condição que os pais necessitavam
que era sempre viajar aos fins de semana a trabalho. Para minha
vergonha, e desgosto de vocês, era uma festa vale-tudo; Todavia,
esse fato só fiquei sabendo por lá. Foi traumatizante, para um
adolescente certinho, nerd, míope, ficar naquilo. Graças á miopia
pensei que algumas coisas eram cachorros brigando.
Vergonhoso, estava em meu posto fitando aqueles que
chegavam. Até que ela virou-se pra mim desprovida de qualquer
assunto, e me convidou para conversar. Estava tão bela: Seu
vestido de linho azul, com pequenos detalhes em renda era
justo, mas contornava e beneficiava ainda mais sua graciosa
silhueta; Dentre suas mãos tinha expostos um de seus poucos
adornos: Anéis e pulseiras metálicas, não sei dizer se eram ou
não valiosas, já que nunca vira uma joia na vida; Nas orelhas
brincos de argola dourados, enquanto no nariz, radicalmente
deixara visível um pircing. Suas palavras me deixavam encantado
, tal qual uma droga não demoraria por me embebedar á
aqueladoce sensação que era tê-la ao meu lado. Inexplicável, não
tem como exprimir por gestos e nem palavras, era algo tão
intenso que não tinha como não suspeitar que fosse amor.
Foi com ela que tive minha primeira vez...
Mas, como sabem, o destino é uma roda da fortuna:
Completamente irrelevante.
Não tinha eu como imaginar que aquelas mesmas mãos que me
acalentavam seria as mesmas que iriam um dia me descartar.
Quando soube por alguém que esta me trairá, tivemos uma séria
discutição, que em poucos minutos se agravara. Ela pedia
desculpas, e eu com meu orgulho ferido me negava a aceitar seu
insolente desejo. Disse-a que houvera morrido pra mim. E agora,
sem rancor e nem ódio, ao saber que pode ter morrido de
verdade, estou como petrificado, relutante ao aceitar.
- Realmente Lucas – indagou-me novamenteHelena apreensiva,
que sem duvidas tivera reparado meu martírio – Você não a
conhece mesmo? Te conheço, você não é tão sensível a ponto de
se emocionar por qualquer um.
- Eu não a conheço. Quantas vezes tenho de repetir?! –
exclamara fingindo indignação, o que deixara estranhamente
Sra. Adélia perturbada; Soluçante, a jovem desventurada ainda
tinha os lábios trêmulos, mas, após dar minha palavra, esta pôs-
se a fixar-me seu olhar profundo e deveras lamentável. Sem
conter nenhum esforço, conseguiu murmurar uma vaga frase,
que me fizeram no mesmo instante agonizar e estremecer:
- É uma pena – pausou ressentida -; Pois, ela amava você.
VII
Incompreensível Fadiga
-:-
Marcado, insegurado pela insônia, nos pesadelos não encontro
bonança, nem em espírito me sinto logrado.
Dentre tamanha solidão, a encontro em meu lado.
Mesmo que sejas assassina, meu verdugo, um calvário.
Por que dói e eu me vicio? Tu és minha dor prazerosa, não a
trocaria por nenhuma jóia.
Esta por afogar minha’alma, nas minhas próprias lagrimas.
Que já tão ocultas, não são capazes de me consolar...
-:-
Tanta coisa me aconteceu nesses dias.
Silencioso, estava tão preso em mim mesmo que perplexo, me
vira incapaz de conseguir articulava a palavra, estava sem animo
pra tudo, meus olhos inquietos e semicerrados conseguiam
refletir o mais profundo da minha aflição. Graças Deus hoje é
sexta-feira; Os dias que passaram não foram nada agradáveis se
levar em conta minha grande pressão emocional.
Sou eu o culpado por Madeleine? Euque por tanto tempo a
lastimei... Não era amor, afinal, a esqueci em uma semana,
quando fiz aniversário e meus amigos me levaram em uma
despedida de solteiro (Demos uma de penetras; Ninguém
percebeu, até por que, estavam todos bêbados)
Eu só queria ter como pedir-lhe perdão.
Marchando sobre a rua, agora um tanto mais calmo, sinto certa
serenidade. O barulho e a movimentação são tão grandes que às
vezes me despertam desse estado de transe. Não sou mais
aquele que julgava ser... Quando Adélia me disseàquelaspalavras
fui-me tomado de enorme pesar. Helena também se
demonstrava indignada, afinal, acreditava em mim, e eu, o bom
amigo, á agradecia escondendocoisas tão importantes!
Imperdoável, eu sei, mas, naquele momento não tinha orgulho
de mim mesmo, não sabia aonde colocar minha cara, já que eu
não era digno de fitar a jovem a quem entrevistara nosolhos. E
mesmoassim, parece que não me importo.Sóaflige. Por que isso
não me toca? Por que sempre a desgraça dosoutros não me
afeta? Mesmo um familiar meu no fundo do poço não me
transmitiria tamanho desespero.
Somente você...
Somente você, Alice, me traz desespero.Por que sinto tanto a
vontade de vê-la? Quando a encontro em meus sonhos, quase
que insuportáveis pesadelos, me tornamais difícil conviver com a
vontade de reencontrá-la.
Talvez ela nem se chame Alice... Ela não se apresentou, somente
deduzi; Tal qual a inspiraçãodospoetas, teu nome apareceu do
nada em minha mente como uma formosa melodia.
Preciso chegar ao armazém, ser pobre é ruim, não da pra ir
sempre a restaurantes. É uma lástima ser um humano!
Dependendo do metabolismocertaspessoas (neste caso, a mim
mesmo) têm maior tendência a engordar.
- Lucas! – gritou uma voz estranha e emaranhada em
muitasoutras, e seu som aumentava aospoucosminuciosamente.
- O que foi? – interroguei. Virei-me para traz e lancei-lhe meu
olhar.
Era Gustavo e Roberto, que acompanhados atrêsmulheres
sorridentes, demonstravam aproveitar o agito do fim de semana
como se não tivesse amanhã;estavamliteralmente “caindo na
farra”. Pelo decote das moças, posso jurar que elas não é de
Jesus.
- Gustavo, Roberto, o que estão fazendo aqui? – perguntei,
fazendo-me de desentendido.
- Nosestávamos indo para uma boate, até que demos de cara
com você. E ai pensamos: que tal convidá-lo para ir com a gente?
Por que não! Afirmávamos.
- Não, não vou não –recusei retornando a caminhar.
- Por que não? – voltouGustavo a indagar-me – Você fica muito
prezo dentro de casa, assim pode acabar por pegar uma doença.
- Por acaso tenho cara de quem tá lixando pra saúde?
- Foi mal...
- Não me leve a mal – atalhou Roberto querendo impor sua
convicção; Estandoafastados, astrêsmoças ficaram acenando
atrevidamente para nos, uma até aumentou o tamanho do
decote; Resultado, é que tivemos que continuar o dialogo numa
troca de sussurrosquaseincompreensíveis – Não nos leve a mal –
repetiu Roberto – Não somospervertidos. Somos homens, como
sabes, todos tem seusmomentos de seca, comigo e com Gustavo
não é diferente. A carne é fraca, quem é alguém para nos julgar?
Não somos osprimeiros a cair na garra da tentação. Se não
quiser não tem problema, não hei deinsistir.
Cair nasgarras da tentação... Interessante, que palavra bonita de
se ouvir...
- Roberto – prosseguiuGustavo, mais sensato – lembre-se do
que Helena nos advertiu. Não tá na cara o pra você o porquê de
ele estar tão irritado? Isso é o que se chama de depressão!
Perdão Lucas! Como somos insensíveis!
- Eu já sabia disso – interrompeu Roberto, começando a sentir-
se perturbado – Justamenteporisso que eu o convidei, o de
batimento dele é capaz de acordar osmortos com tanto lamurio.
Lucas – prosseguiu, direcionando-se a mim – Queria tentar
proporcionar-lhe alegria!
- Obrigado, mas, não to afimdesse divertimento barato.
Coçando a cabeça, já era previsível sua vaga frustração.
- Como quiserdes – retrucou – Nosvemos no trabalho.
Acenando uns para osoutros, nosdespedimos.
***
Tive muitos sonhos com Alice, osdesta semana, só estou
lembrado de dois:
No quarto escuro, perambulo sem rumo, tento encontrar sem
esperança uma réstia de luz; Tateava asparedes, era um escuro
tão escuro tal qual um breu, acho que um cego por conter
maisexperiêncianessa área conseguiria melhor se locomover com
mais facilidade.
Nem o chão eu conseguiadistinguir. Eu ouvia gritos, corria atrás
dele: Era uma voz chorosa e manhosa, mas, agonizava, como se
estivesse a estripada, dilacerando todos seusórgãos por uma
sedenta e insensatadiversão. Desprezível, pessoasassim não são
humanas; Osgritos começavam a ficarmaisaltos, e isso me fazia
sofrer!Tava lá, tremendo mais do que o celular no meu bolso
quando está tocando; Entretanto, eu poderia ajudá-la, quando se
é uma mulher é mais frágil de corpo, mas, mais forte de espírito,
podia sentir que ela mesmo que se debatendo, tentava de tudo
para continuar existir.Explorara o lugar por muito tempo, e
aquela voz ainda me transtornava;Perplexo eu parei, cai de
joelhosaterrorizado, não sabia o que fazer! Até que vi uma luz.
Graças a Deus, estou sendo amparado - pensei. Em
momentoscríticos como esseapelamos para a ajuda divina,
entretanto, como não era real, não fiquei desapontado por ele
não ter concedido meu desejo, melhor, era um joguete do
destino; pensei uma coisa, momento depois, percebi que era
outra.
Chegueiem uma galeria vazia, não tinha móveis nem gente, mas,
dava pra ver a cor do chão; era quadriculado tal qual as de um
tabuleiro de xadrez, no final a voz ficara mais forte a ponto de
eriçar-me o cabelo ao dar um arrepio. Sem demoras infiltrei-me
em uma das seguintes passagens não iluminadas, guiando-me
apenas dos pressentimentos. Todas as passagens eram repletas
de portas, e qualquer porta que eu entrava não era a que eu
desejava: Eu entrava em uma, depois em outra, até eu me
perder.
Até que guiado novamente pelo pressentimento...
Era uma porta branca como todas asoutras...
Caminhei devagar, não sei o por que, algo tentava me impedir
de segurar a maçaneta.
Tomei coragem e prossegui o que queria.
Não pode ser! Não, não pode ser! Eu, não sei como explicar, não
sei como definir tão espantosasituação... Meusolhosarregalados
ficaram inquietos, com a mão sob a boca, segurei a vontade de
vomitar, enquanto meu coração descompassado falhava em sua
função, estava para sair do peito, e eu a gritar de terror. Uma
boneca de porcelana, eraesse o rosto de Alice, o rosto
corrompido pelosgritos de terror, eu poderia tê-la salvado?
Quem fez isso com você?
Seu corpo nu estavaprostrado e completamente exposto sobre a
mesa; Tão chocadoestive que não quis reparar, não quis reparar,
estava tão ferida, dormia tão silenciosamente. Estripada, dava
para ver todos osórgãosgástricas; O sangue escorria nos fios de
seu cabelo sedoso.Eu não entendo; Quanto mais a fito, maisessa
dor me dói o coração. E essa dor me parece boa, não por causa
de sua morte, mas, por que eu nunca senti tamanho desespero
por alguém, sua morte também me matou. Asgotas de sangue
caiam no chão e seu proporcionado som agudo era exaltador,
principalmente quando desciam de seuscabelos, era um som
horrível, no seu respingar me fazia contorcer e gemer.
Eu ainda contemplava-aestranhado.
- O que aconteceu com você Alice?
Com olhos fora de orbita, me ergui em pé e virei-me para
examinar o local escuro.
Estremeci.
Uma insana gargalhada me enlouquecia, abalado me enganara-
me apensar que ela estava morta. Gargalhando feito uma louca,
na escuridão, quando lhe devolvia meu olhar, por, traz, fui
atingido a um golpe de pé de cabra. Era um sonho confuso,
contudo, por eu não querer acreditar que ela me fez isso. O
outro não tinha ar menos simpático, alguém da empresa queria
pular do prédio, prestativo e moralista, resolvi por muito ajudá-
lo, tentavafazê-lo mudar de ideia, mas, de nada valeu. Ele pulou.
E em seguida, o céu escureceu, enquanto bebia da água de um
jarro, ela se transformará em sangue, espantado, deixei a jarra
cair no chão, dei um grito e todos vieram a minha procura,
estavapasmado, até por que, agora, não tinha controle de meu
corpo, ele não respondia asminhasações.Enfiei a cabeça naquele
liquido e comecei a afogar-me endiabrado, queria lutar contra
aquilo, mas, como? Aquela sensação me era horrorosa, quando
já me julgava morto. Reapareci num campo de árvores mortas.
Perplexo, algo me chamava à atenção: uma estátua de Buda
segurando em uma dasmãos o copo de vinho. Era, era o mesmo
vinho que bebi? A ampla paisagem era a de uma floresta
desmatada, estavanegra como carvão, e o céu estava limpo e
involupio, tudo se contrastava com a tormenta. Aquele, aquele
era o mesmo vinho? - Por vezes me perguntei. Pensei em tocá-lo,
mas, antes que eu tivesse cometido esse feito, a terra começou a
tremer rachar! Dava para se ver dentre asrachaduras o inferno
queimando em lentidão. Aquele vinho tão querido era um
pecado? Quanto maisdesejavamais de mim se afastava, meus
lábiosestavam tão secos e rachados, minha boca pedia entre
suplícios um pouco daquele liquido cobiçado. E erguendo minha
mão, tentando segurar a taça. Mudei novamente de lugar...
Parecia alucinação.
Estava agora em um quarto branco decorado com pétalas de
rosa.
Encarava-me com desprezo, enquanto junto a mim, lutava por
aquela taça; se tornara maispreciosa de um ato para outro,
semelha-se a um cálice de ouro, um tesouro.
- Éissomesmo que você quer? – perguntou-me Alice.
Intrigante, desta vez a jovem usavaroupasainda mais pesadas de
extravagantes, da mesma cor do quarto.
- Éisso que você quer?
- Sim – respondia, estando emêxtase com sua presença – Éisso
que eu quero.
Alice ria e ria em tom nada empolgante, com o cálice em mãos,
num vagaroso cuidado, despejei-o na boca. Começou a fitar-me
consternada. Seusolhos eram tão profundos. Antes que eu
pudesse engolir até á ultima gota ela tirou o recipiente de
minhasmãos, e colocando no na boca, não bebeu; E sem
demoras, me beijou.
Aquilo era um veneno...
Beijar os lábios de quem fez pacto com a morte.
***
Prezado momento, prezado tormento, nunca antessentira tão
forte quanto atracadas em minhasmãos, semicerradas que
lutava por vez ou outra contra sua vontade: a vontade
deescapar.
Já havia comprado os condimentos. Nada melhor pra um solteiro
do que jantar macarrão instantâneo; com isso não estou
querendo dizer que não sei necessariamente cozinhar, muito
pelo contrario, sou quase um mestre na gastronômica.
Entretanto, o que maisnecessito agora é tempo, meu inimigo se
presumeapenas a um artifício: o relógio. Cada vez mais parece
desprezar-me; No escárnio do pesar, cada vez mais me afogando
em desânimo. Quero mais uma vez passar por aquela rua, sei
que é perigoso, já são 23h40min, e não há mais nenhuma alma
viva fazendo conjunto a paisagem; Completamente deserta, era
se possível escutar o vazio, o uivo bendito e melancólico aonde
se encontra a presença da solidão.
Chegando a rua, esta também estavadeserta.O silencio que se
entendiapelasavenidas parecia uma praga ao sobrepujar o
incomodo conveniente.Ospoucoslampiões e lâmpadas a gás
iluminavam de forma limitada, algumas contendo
defeitospiscavam ate cessar. A palavra tentaçãoestava cada vez
mais tomando conta do meu ser; Euprecisava vê-la. Mais do que
nunca, precisara vê-la.
Como comprovar que aquela biblioteca existe?
Passomuitasvezes por essa rua.Desde que Roberto mostrou-me a
loja de antiguidades comecei a desconfiar que a minha visita a
biblioteca HG fosse tudo fruto de uma paranoia chamada “mim
mesmo”.
Qualquer coisa, estou aqui agora, quase no mesmo horário,
tentando comprovar que não era uma alucinação. Que aquela
Alice que vi, não era uma alucinação.
Acima, tinha-se visível o letreiro, que tão sofisticado julgava ser
a obra de artista. HG, tudo continha o clima assombroso tal qual
o da primeira vez... A diferença é que agora não tenho mais
medo.
Entrava no devagar passo, pausava por contemplar novamente
aquele recinto tão intrigante, tãoacalentador – achava – ele em
que me sentiapresente em tantospesadelos, considerava uma
segunda casa. A porta se trancara sozinha, mas, não me abalara.
Segui lentamente em olhosinquietos, queria observar cada e
simples detalhe: Oslápis de cor não estavammais sobre o balcão,
e sim dúzias de livros empalheirados.Candelabro ainda inerte,
entretanto, luz agradável; fixando a parede agora pude ver o que
antes a escuridão não me permitia: castiçais, cada qual
enfileirada aprateleiras.Tinha também um quadro horrível de um
gato bebendo sopa. Adiante levei meu olhar para a porta, em
que se localizava a maçaneta esculpidaRosa-Cruz.
- O que faz aqui? – interpelou a voz, com certa indiferença.
Dando um pulo pra traz num enorme espanto, vi que ela e
estavaatrás de mim. As mãos envolvidas a um lenço fitavam-
medespretensiosa e inquieta. Assim como sua aparência seu
guarda roupa era a de uma boneca? - perguntava-me - Pergunta
um tanto precisa, afinal é a segunda, talvez terceira vez que a
vejo com um vestido tão pesado; Cheio de babados e bordados
de rena, no cabelo uma presilha em formato de rosa. Num vulto
considerado frágil, se viasufocada entre asvestes por aquele
apertado espartilho, parecia cessar-lhe a respiração, e caminhava
com dificuldade.
Prezo pelasminhasobservações, o silencio a incomodava:
- O que está fazendo aqui? – repetiu.
Não haveria o pra que de mentir:
- Vim vê-la – repliquei convincente–;Proibir-me-ia de fazer isso,
cara senhora?
Naquele orgulho impenetrável, argumentou na pirraça:
- Muito pelo contrario.Obrigá-lo-ia a vir até aqui.
- E como faria isso em? –perguntei curioso, aquele joguete
estava cada vez maisinteressante. Fascinada ou não, aquele
aglomerado de perguntasintelectuais, deverasastutas, lhe
proporcionava um enorme banquete.
- Vamos para um lugar melhor para conversar – propôs Alice
num amargo sorriso - Sr.Jornalista, creio que estais me
subestimando.
- Ora, claro que nunca! – exclamei - Vós não és nada presumível.
- Estáquerendo dizer que é quase impossível seguir meus
passos? – interrogou num murmúrio; Fui tomado por enorme
calafrio.
- Simsenhora – confirmei o dito – Tu és a pessoamaismisteriosa
que já conheci...
Semresposta, ela retornou na face aquele desgostososorriso.
- Não confie em mim – advertiu com maestria– Eu não confio
em você. Nãoseja idiota a este ponto...
- Não tente fazer minha cabeça – redargui embravecido – serei
seu amigo, se por acaso você me queimar, não estará ferindo se
não, aquele que nunca mereceu tua amizade.
O que disse a ela, jamaispensei em dizer para ninguém; Talvez
força do hábito, pretendia deixá-la corada, mas, ao invésdisso,
ela se mostravadeprimida, definhava dentre a cólera; Tentava
sem sombra de dúvidasesconderàquelassobrancelhasfranzidas, e
eu em lastima, interpelava-me sobre o ocorrido, fui por acaso
insensível ou atrevido?
Refinada, não mais espremiagestos; Prostrada em pose singular,
ergueu-se em bom trato.
- Siga-me – ordenousorridente. A aparente mudança de humor
nada atenuou minhaspreocupações, que eram
demasiadasgrandes – Por certo sabes aonde iremos. Nosso
tempo é curto.
- Se é curto – afirmei – Vamosaproveitá-lo ao máximo.
VIII
Contra Ataque
-:-
Toma aparência fraca, mas, submete-se ao pesadelo. Seria ao certo a
mim mesmo, o causador do seu pesadelo? Era mais do que eu
pensava. Não era só um desejo.
Alice que aqui cortejo, tornastes um ser perfeito, entretanto
banhado em temperança. Por acaso encontra sua transtornada
bonança?
-:-
Apreciado local, entretanto não posso dizer o mesmosobre sua
situada localização; Afinal, ao exalar a fragrância do esgoto fétido
qualquer um temeria a contração de uma doença.
Mas, ao vê-la já me encontrava numa doença, uma doença
chamada: Perdição.
O refinamento e o simbolismo contido em cada canto são de
deixar qualquer um de queixo caído. Me pusera a
examinargesticulosamente aquela arquitetura: Do que são
feitasas cruzes? Quem decorou e pintou aquele lugar? E àquelas
rosas? Antes por intimidado não me permitia tal ato, o de ficar
zanzando por ai, entretanto, agora um pouco mais a vontade,
faço isso tal qual um menino arteiro.
Em seguida, a jovem não tendo forças pra sustentar o corpo,
acomodou-se num banquinho prateado, detalhado a clamor bem
vivo.
- A prata veio de um velho armazenamento dosmeuspais em
Zuríck – pausoupara beber um pouco de chá.
- Realmente, é um lugar muito bonito – falei em olhoscintilantes
– Nunca tivera visto tão bonito lugar como esse.
- Estais vendo isso com o coração ou em pensamento?
Pergunta notável, demorei a reflexionar.
- De coração – respondi coerente.
- Eu por minha vez – declarou ofegante – Acho este lugar
horrível!
- Não podes mudar de casa?
- Não – respondeu-me em ar triste, tem vezes que seu orgulho
parecia sumir. Quando me convenço disso, deterioro.
Momentosexprimindo amabilidade e outra se mostrando tão
rude... Algo a perturba.
- Por obséquio – interrompiintrépido.Expunha meu senso de
humor com limitadasrisadas.
- Pois não?
- Te conheço há tão pouco tempo, mas, estranhamente sinto-a
como se conhecesse a eras – dizia em comportada seriedade –;
Contudo, sei seu nome, você sabe o meu, mas, desde o começo
não nosapresentamos.
Efetuava-se, por assim dizer, a gênese. Da ultima vez que a vi, eu
era tão inseguro e o medo me paralisava, agora, numa
metamorfose, trocamos de lugar: Ela estava insegura; Com a
cabeça inclinada para a esquerda, deitada sobre o ombro, olhava
a sua esquerda e para mim um tanto frenética. Os lábios se
mostravamsemiabertos, mas, ao ato espremia relutância. Algo a
segurava, algo a impedia, não a deixava falar, o que é?
Em inaptidão fiz jus ao meu discernimento:
- Meu nome é Lucas– declarei com prontidão –Lucas Fernandes.
E a senhora? – aqui observei:
Erguendo-se da cadeira, cambaleando um pouco, entorpecida de
lamurio, alisava ospilares de cruz.
Sensata perguntou-me:
- Posso mesmo confiar em você?
-Claro – respondia – Eu nada lhe faria de mal.
- Sou Alice – declarou com relutância – Alice Valmont.
Curioso, hesitava, mas, tomei por perguntar:
- Por que temerás tanto dizer o nome?
Virando-se para mim, absorvida por certo ludibrieesclareceu:
- Há coisas que os humanos não deveriam saber. E a vós não és
diferente.
Ao silencio repentino caminhava lentamente. Face faiscante, a
luz da lua refletia no teto de vidro, e a atingia, Alice, seu brilho se
sobressaia na sua pele alva e macia. Quieta e severa. Aquele seu
vestindo rosa fosco cintilava e o pequeno casaquinho decorado
com apetrechos – diamantes e pérolas preciosas – tilintavam ao
som emitido por seus passosdelicados. Totalmente bélico.
Gerava uma imagem que vislumbrava embevecido. Enlevada
caricatura de um anjo caído. Demasiadoafligidoestava para com
tua indiferença. Estavas tão fora de orbita que ao despertar-lhe
não notou minha preocupação.
- Alice algo a incomoda? – perguntei. E num murmúrio, em voz
quase inarticulada, entrecortada, respondeu-me:
- Sim... Você.
Congelara.
Não nego que ao ocorrido, cada palavra, cada silaba, cada letra
me infundia desalento, um estrondoso tormento, o de o coração
não aguentar. Aquela dor era mais forte do que eu podia
imaginar.Meus batimentos redarguiam descompassados;Estava
arquejante. Commais dor que ternura queria desfazer seu frio
coração. Eu não me entendo! Não entendo! Por que me sinto
capaz de beijar o chão em que ela anda? Por que me vejo capaz
tamanha humilhação?
- Por quê?– repliquei de formaarrebatadora – Por que a
incomodo? Vim aqui para vê-la, eu muito me importo com você
Alice...
Gargalhava cabisbaixa; Cínica não fazia o favor de dizer-me. Fria,
por que és tão fria? Por acaso não tens um coração?
- Então... Quer que eu vá embora? – opinei em olhosmarejados
de lágrimas.
Desdenhosasoluçava ao responder:
- Não.
- Então – repeti tristemente – Por que a incomodo?
Vi rolar de teu rosto uma lágrima vermelha. E aospoucos, fê-la
banhar em sangue.
***
- Por quê? – indagou-me num dócil, porém ressentidotom – por
quê? – aqui levantava a cabeça triunfante, balbuciava limpando
o rosto. Claramente pálida, a tensão daquele momento gerava
algo dentro de mim, uma espécie de sensação incauta.
Suaslágrimasvermelhas igual sangue não me afligiam, mas
confesso, ao instante me abalei.
Alice novamente me circundava, demonstrava-se magoada por
algo que sem saber fiz. Minha querida dama, mais uma vez
parece ameaçar-me com a oculta morte.
- O que foi? – perguntei – O que eu a fiz?
Fixava em mim presa á seuspensamentosinsanos.
- Me fale, por favor, Alice – clamei-lhe desesperado – Por favor,
não me torture mais com seu silencio.
- Como assim tortura? Você não conhece a verdadeira tortura
Lucas! Você não a conhece, eu vivi sempre nela. Eu vivi sempre
nela...
- Por que a incomodo?
Lacrimosa, a cândida suplica fê-la cair de joelhos no chão.
Cabisbaixa, deixava-seainda banhar pelo sangue. Aquela
paisagem me intrigava.
- Sei que você não veio ver-me. Sei que não veio, foi justamente
por causa de uma matéria! E eu por mais que seja capaz de
supliciar alguém, por mais que eu seja capaz de matar...
De matar?
- Por mais que eu seja capaz de matar – retornou a dizer
voltando-se a mim – Não consigo fazer o mesmo com você. Você
me lembra alguém em especial...
Pasmo com a revelação de seu incomodo, cai de joelhos ao seu
lado, atrevi-me a abraçá-la.
- Não fique assim Alice – dizia apoiando teuqueixo com meu
dedo – Eu não vim pela matéria, vim para vê-la.
- Eu não acredito – replicou.
- Eu não me importo se não acredita. Mas, quero que saibas:
Não seria capaz de fazer qualquer coisa que a magoasse.
Desaguando de emoção. Aquela frase era uma benção ao seu
coração aflito. Minha pequena você aqui aos meusbraços... Faz
com que eu me sinta mais forte e capaz de proteger alguém que
não seja a mim mesmo. Ao meu ombro, pode chorar o quanto
quiser.
- Passou, passou – dizia tentando acalmá-la.
- Você acredita não é? – perguntou-me melancólica – Acredita
que eu passei por muita coisa não é?
- Sim – respondiafetuoso.
- Você vê sangue sair de meusolhos?
- Sim – respondi de certa forma, perplexo com a indagação.
- Tenho medo de um dia odiar-me – confessou.
- Nunca! – objetei emmaestria – seria como teu servo, aonde
quer que forestaria ao teu lado. Desde o dia que eu lhe conheci
Alice, não tenho mais sossego, nosmeus sonhos só vejo teu
rosto, e ao fitar o céu, vejo desenhado teu nome. Por favor,
nunca me prive de vê-la. Deixe-me ser como seu irmão.
Cândida expôs um sorriso.
- Sim – respondeu – Quero-o como um irmão.
IX
Brando Entorpecido
Pensei que demoraria o próximo encontro. Afinal, perante o
pacto estamosligados. Não á como fugir deste poder oculto.
Estou prezo a ela como a um imã, não importa
ondeestiveriríamos nos encontrar, mesmo que em outro lugar.
Aquele dia á tive em minhasmãos tão debilitada, não queria
admitir mais, queria prolongar aquilo. Tê-la aconchegada em
meusbraços, mesmo que imunda pelo sangue me transmitia paz,
paz que aquele momento silencia, e abre a beldade, o canto
bélico de nossasalmas, um final danoso e poético.
Agora estou aqui, tremulo e ofegante na minha camaquente
Até que enfim, com osolhos abertos...
Foi mais um pesadelo, ciente disso suspirei num alivio.
Lá – no pesadelo –Asimagens desbotavam, e aospoucos fui me
apresentando como protagonista de outro lugar. Estava
chorando, minha voz era de um tom diferente da atual, era fina
como a de uma mulher. Eu me contorcia e gemia.
Estavanumquarto de hotel, e tentava escapar. Extasiei, eu era
uma mulher, ao tocar meu vulto percebi a diferença, o que me
deixou muito sem jeito, constrangido. Estava transando contra
minha vontade. Aquele homem puxada meu cabelo sempre que
eu tentava correr em direção da porta, e bruto, empurrava-me
com toda a força na cama de lençóis turco.
De costas gritava aosberros, enquanto segurando meusbraços
fortemente, com o membro ereto pulsava por penetrar-me. O
serviço devia ser bem feito;Repetiu-se o ocorrido maisduasvezes,
e ele enfim parou. Penseiser uma prostituta, mas, ao fitar
meuscabelosnegros os reconheci como o de Alice, os da minha
Alice...
Estava de costas para mim enquanto se vestia; Em
olhosorvalhados, alisava minha pele; sangrava minhas partes
intimas;Essa seria minha primeira vez? Ou quem sabe a primeira
vez dela?
Remexendo-me de lá para cá, mesmo que eu quisesse, agora não
conseguiria dormir. Tal sonho foi demasiadoasqueroso, sentia na
pele cada gesto malévolo. O homem não tinha pena, nem se
compadecia de minha tormenta. Fiz de tudo para não fita-lo
nosolhos. Pior de que todos os sonhos, estenão foi assombroso,
mas me acarretara num trauma. Quando olhava meu quarto
vazio procurava o sujeito, temia que ele fosse real. Alto de
ombroslargos, naquele momento não tinha como eu me
proteger. Mesmo aparentando alguém velho tinha
cabeloscolorido ao invés de grisalhos como o de meu pai.
Essesonho poderia significar algo? Poderia significar? Foi
horroroso, foi, foi, foi desumano! Tem que significar algo por
tamanha podridão!
Mas, se por acaso ter sido real – o que mais calmo agora duvido
- não conseguiria fazer um retrato falado, por que cerrava os
olhos, fazia questão de apertar forte as pálpebras sempre que
deparava-me com seu rosto.
Dentre tamanha exasperação, esperando que meu coração
obstinado desacelere, tinha algo que me acalmava: Recordar do
ontem à noite.
Aindalembro-me daquela noite, em que eu procurava seu aroma
pelo ar: estávamos ainda naquela posição, quando ouviu-se o
bater da porta “toc, toc, toc”; Acarretara-lhe uma mistura de
pavor e transtorno.
- Lucas, acho melhor ir – dizia – Meu mestre e meu senhor
chegaram.
- Promete mesmo que a verei em breve?
- Se você não vier, darei um jeito de ir até a você – e em seguida
abrindo aquela mesma porta -;tchau.
- Tchau – repeti já lá fora.
Beijar-lhe-ia sua bochecha, entretanto, percebendo meu ato
virou-se batendo a porta em minha cara, num barulho
estrondoso. Não fiquei lá por mais tempo, mas, presumia que
esse barulho foi demasiado suspeito aos carosfraternos.
Estonteante, sua imagem me deixaentorpecido. O sono não vem;
E aqui nesse quadro brando teu suspiro; E lamento não
contemplá-lo. Alice queria esquecê-la, pois já não consigo me
concentrar em algo que não seja seu nome. Se não a tivesse
conhecido não sofreria o pesar desses pesadelos. Será que tudo
não passa de alucinação?
Como é possível? Uma cidade tão grande e ninguém perceber
aquela biblioteca aberta no meio da noite?
Seja o que for, tanto faz. É sinal de que já acostumei-mea ilusão.
***
Aspoucashoras sem tua presença foram degustadas com certa
amargura, não tinha animo, ao segurar em um lápis, ao usar
minha maquina de escrever, não tinha cabeça.
Meu chefe de mal humor veio dialogar com gestospejorativos, e
meusamigos sedentospela noticia, conversavam numa correria
de lá para cá.
Eu estampavacinismo diante de tanta empolgação.
- Ei, Ei – dizia, repetira mais uma vez até perceber sua presença.
- Gustavo?
- Não a vovozinha – retrucou contente –Não vai pegar nenhuma
matéria? Há muitasmissões no ramo da jornalia.
- Não sei não – declarei em mal grado – Penso até em demitir-
me. Não consigomais me relacionar a aqueles a minha volta.Me
sinto mal... Venho tendo sonhos estranhos...
- Você já conversou com sua mãe? Proponho que viajeclamando
estar com altos índices de estresse e issoesteja afetando a sua
aptidão no trabalho.
- Maltenho dinheiro para sustentar-me, imagine para viajar!
- Veja pelo lado bom – replicou otimista – Existe gente pior...
- O que está querendo dizer com isto?
- Veja por exemplo Olga da área administrativa: Ganha bem
menos e está para ter um bebe.
Surpreso pela noticia indaguei:
- Já falou quem é o pai?
- Não – respondeu-me – Mas, aquela moça; Acho que nem ela
mesma sabe quem é o pai. Com tantos que essa pirigeti ficou...
Agora vai ter que arredar o facho.
A noticia me surpreendeu em tamanha intensidade que gritei
por dentro. Tal moça também passará por minhasmãos. Sou
novo demais pra ter um filho. Enquanto a
fitávamosprosseguimos.
- Desconfia de algum sujeito?
- De Roberto – respondeu–Ele pegou essa mulher semana
passada, fim de semana. Numa boate de estripes.
A vontade de rir foi tão grande que timidamente gesticulei, e
influenciado pelo meu humor, também caíra na gargalhada.
- Qualé a graça Lucas?
- Vocêsdois não perdem uma – declarei.
- Também não haveria de ser diferente! – exclamou empolgado
– Tu és uma pessoa muito discreta – observou ele – percebi isso
faz algum tempo, acreditava que faltava pouco para você se
converter a padre.
- Que isso! – afirmei em gostosarisada – Tive e terei meus dias
de virilidade.
- Com quantasmeninas já ficou? – indagou-me num ar curioso.
- Quatro.
Roberto estava bebendo um coquetel e ao escutar, engasgou;
quase teve uma overdose de tanto cuspir, julgava que ele iria
vomitar.
- Quatro?
- Simissomesmo – confirmei.
- Isso eu consigo em menos de uma semana – pausara
orgulhoso, e convicto de si -Você tem que sair comigo e Roberto
maisvezes. Eu concordo com ele; Você tem que divertir meu
amigo, acho que isso é o causador do seu estresse, falta de
mulher, falta de brincar com asamiguinhas...
- Talvez quem sabe –respondi meio enojado – Quando tiver me
afogando no tédio...
- Que tal hoje? – propôs.
- Acho que tanto Roberto quanto Helena tomaram raiva da
minha cara - esclareci.
- Que não seja por isso! – exclamou em atitude – Nós quatro
somos presos um ao outro que nem casamentodepois do
divorcio. Está prezo pelosfilhos, e nestecaso, é a lembrança
dostemposbons e prazerosos na companhia um do outro.
Concordava fielmente, mas estranhava sua comparação. E ele
num largo sorriso continuou:
- Ou isso ou viaja pra a casados seuspais.
Querendo irritá-lo declarei:
- Então acho que vou pra a casadosmeuspais.
- Se eu o tivesse conhecido você hoje, eu ficaria longe temendo
que você fosse gay.
- É quem sabe – retomando o ímpeto de irritá-lo – Eu vou e me
visto de Bela do Crepúsculo e corro atrás de você fingindo que é
o Edward – complementei numa sacada de mestre: Um sotaque
de taquara rachada fingindo-se um mexicano meio asiático.
Tendo crises dentre asgargalhadas, tentamosnos conter.
- Melhor a gente voltar ao trabalho.
- Concordo.
- Se não – dizia Gustavo coçando a orelha – Helena vai pensar
que noista no bem bão. E nois num ta não diacho!
X
Mais uma Missão
Meu trabalho é uma missão que me dou o luxo, ásvezes,
aproveito para dar uma de turista.
Desta vez iremos fazer uma espécie de documentário sobre a
poluição daspraias. Minhasolheiras doem tanto... Desde aquele
pesadelo, do meu ultimo pesadelo, era de se esperar por noites
de insônia. Não estouusandoos óculos escurosapenas pela
radiação do sol, mas, sim pela sensibilidadecausadoradisso em
meusolhos.
Nunca si quer falei muito desta cidade, até por que, ela não
durara muito... A cada passo o mundo cai medianamente no
caos. Ao fundo do poço, haverá sempre um gritando por socorro,
e no meio disso, será incorrigível o delito, ninguém ouvira suas
clemências, deixar-lhe-á levado pelas chamas cálidas que é a
magoa. Souapenas uma recordação distante da temperança. A
mudança causada pela justiça divina. A de lograr a divina
tragédia.
- Enfim chegamos – anunciou Roberto entusiasmado. Diferente
de mim estava completamente caracterizado para a ocasião –
Amo meu trabalho.
- Eu também – declarei – mas acredito que nossasrazões são
diferentes.
- A se é... – contorceu-se confirmando minha observação: A
praia estava cheia de mulheres, homens e crianças.
Principalmente mulheres, devia de ser o que Roberto se
concentrava. Avista do mar encontrava-se em indefinível
contraste com o sol, asfolhasdas palmeiras oscilavam com a
breve brisa. Que bom era o cheiro do churrasco assado sem
nenhum cuidado, ou sem si quer um cuidado com
osdetalheshigiênico. Mesmo ainda a beira, a sujeira me era
visível; De que adianta bronca! Sempre achei que qualquer tipo
de poluição devia primeiro ser aceita pelosgovernos, de que
adianta coleta seletiva se nem todos tem acesso a isso? Tudo
depende do governo e suasmajestadesimperiosas.
Continuava-se a contorcer-se e eu incomodado perguntei-lhe:
- Estais bem?
- Estou sim – Roberto respondeu brandamente – É que estou de
olho naquela jovem de maiô vermelho, estais vendo? Luto para
concentrar-me no trabalho.
- Compreendo sua situação. Sequiserisso – sugeri respeitoso –
Posso fazer boa parte do trabalho sozinho.
- Tem certeza Lucas? – Roberto podia muito bem ser um
cafajestes, mas, não era um canalha. Oras qual a diferença
dasduaspalavras? Tudo depende de sua interpretação caro leitor,
não seria, por acaso, apenas uma forma de expressão – Eu não
quero abusar da sorte.
- Pode ir – confirmei sorridente – Pode correr até a moça, azará-
la. Espero não está fazendo algo terrível, aliciando uma moça
desse jeito...
- Ela vai me perdoar – foi só dizer isso, que correu em sua
direção tal qual um vira-lata sendo induzido pelo olfato a
experimentar um hot-dog.
Espero que ele também me perdoe. Por acaso poderia não
conseguir me concentrar... Assim como ele, tenho uma
distração. Mas,está é muito maisnotável, quaseincompreensível
pela natureza humana em sua tendência enigmática.
Reparam-me os banhistas perplexados: Aqui sentado na areia
abrasadora, até com tênis nos pésestou. O ar também é quente,
segurando meu caderno e meu lápis, costumei-me a anotar
qualquer simples detalhe. No caminho da perfeição, é meu dever
abordar certas persoinhas no intuito de suas sabiasopiniões
compreender, e assimmostrarváriasfacetas, váriasopiniões,
enriquecendo meu trabalho tal qual obra artística. Por isso, leio,
para aumentar meu vocabulário.
Roçando os cabelos que ondulavam ao vento; Ria com a jovem
de forma bastanteentusiasmado. Louro de olhosazuis, não há
mais o que falar sobre seu grande sucesso com
asmulheres;Neste perfil estereotipado de galã de novela seria o
homem perfeito para casar e constituir família – deve ter sido o
que Olga pensou ao engravidar. Será que por acaso ele sabe? –
Seu corpo atlético e avantajado não foi gerado por academias,
Roberto mal levantava um dedo, em sala de aula tinha preguiça
até de segurar o lápis; Foi graçasà genética que foi capaz de dar
esse rapaz aparência genuína:Ombros largos, postura ereta,
queixo fino e costeletasaparentes. Diferente de Gustavo que
virou esse malandro após uma decepção amorosa, Roberto
sempre foi assim.
- Lucas, já conseguiu terminar a matéria? – perguntou-me
preocupado.
- Ainda não – respondi – Falta ainda umasduasentrevistas.
- Não se esqueça que ainda temos de ir a maisduaspraias –
equivocou em grande lamento. A moça estava em sua
companhia, aparentemente se incomodada pela atenção
renegada a ela nosnossos poucosminutos de conversa.
- Não, não me esqueço – respondia – Vamos dar nossomáximo
para isso.
Ao sorrir, deixouexpostoos dentesbrancos.
- Desculpe, preciso apresentá-los: VanessaLucas, LucasVanessa.
Era uma moça de corpo esbelto, mas, não fui com a cara dela.
Fazia aquele bico e cara feia de quem olhava-nos de cima para
baixo fazendo assim pouco casodaqueles que nos rodeia.
Cabeloscacheados num tom claro de castanho era uma negra
realmente muito bonita. No seu pequeno maiô, assim como de
tantasoutras de onde vivo, num azul pincelado, trasbordavanas
suasfeiçõesgestosfemininos, entretanto atrevidos com seu jeito
vulgar.
- Muito prazer – disse cortês, apresentando-lhe a mão como
saudação.
Cumprimentou-me, após em seguida, nada discreta fazer uma
pergunta comprometedora:
- Roberto anda com pessoas desse tipo?
- Como assimdesse tipo? – indagou-lhe indignado.
- Oras! Seu amigo estas completamente de terno! Nem os
sapatos tirou...
- É mania – redargui semisóbrio – Minha preguiça é maior que
minha temperatura térmica.
- Temperatura térmica? Ele é o que? Um nerd?
- Ele pode ser qualquer coisa – retrucou Roberto agora um tanto
furioso – Mas se pensas que vai me fazer ir contra ele estais
muito enganadaVanessa. Se tem algum problema com isso pode
ir, a fila ainda é demasiado grande.
E que fila! A fila de espera pra aquele garanhão era grande
demais, nestadisputa, Vanessa não iria apenas lutar com
piranhas, iria lutar também com galinhas, vacas, e emcertas
ocasiões santinhas ingênuas que ainda ganham bonecas de natal.
Tendo em conta isso, a moça não deixaria de lado tal partido,
assim como outras peruasdesejava se mostrar pela praça
asamigas indecentes, exibindo-o como se ele fosse uma nova
marca de automóvel.
Repugnante. Calou-se, mal ela sabia que estava cometendo o
maior erro da vida dela: Aquele em que acabaria por ganhar dois
pares bem grandes de chifres.
- Não precisa ser assim Roberto – complementei – Não é só ela
quem está notando minha estranheza.
- Eu te conheço á 10 anos – adiantou-se em pausa radiante –; Se
a moça com quem eu desejar casar-me um dia não aceitar sua
estranheza como eu estranho a chuto pro toco.
A expressão por ele utilizada fez-me cair no riso, e provocada
Vanessa saiu correndo pela praia.
- Aonde ela vai? – perguntei tentando me conter.
- Sei lá – respondeu Roberto sendo contagiado pelo bom humor.
- Desejarámesmo se casar?
Tendo ouvido a pergunta virou-se para nós no intuito de
escutar. Outro grande erro da vida dela que não vai olvidar. A
travessura implícita que fizeram com ela. Cena surpreendente: A
de derrapar na areia ao escorregar numa casca de banana. Ria
com pena, enquanto frustrada saia em sua cara de deboche.
XI
Esforço Exaustivo
Naquele esforçoexaustivo, ainda continha muitashorasvagas;
passavahoras e horas fazendo meu robie favorito: ler Mangá.
Leio de tudo, desde uma revistaa um livro, de um gibi a um
Manhwa, sempre acompanhado de um gigantesco pote de
doces. Aqui ainda no dossiêdaspraias, me contento com
quatropotes de sorvete, todos de chocolate. Amar chocolate tem
suasvantagens e desvantagens, entre asquais, desconheço, a
única coisa que me importa saber é: se é feito pela Cacau Show.
Chocolate foi à melhor invenção feita pelos humanosdepois da
cadeira elétrica. Sefosse eu quem a tivesse inventado colocaria
um ovo pra ver se queimava, ou melhor, fritava.
Já estaquase tudo pronto, falta ainda umasduaspraias –
contando com está, pois só falta nós dois começar.
Roberto saiu, deduzo que seja pra além do fato de querer pegar
todas, tentara as pazes com Vanessa. To aqui tomando meu
MilkShaike, no bem bão, nada mais pode tirar minha
tranquilidade.
- Senhorestranho?
Estava de olho num jornal quando essa voz fininha me apareceu,
pensei que era coisa da minha mente, por isso continuei a ler
sem necessitar depausa.
- Senhorestranho?
Ao se repetir, abaixei um pouco o jornal; Percebendo que não
era somente minha enorme imaginação cai no susto! E pior, cai
da cadeira. Desengonçado e ainda confuso, aquelespequenos
vultos fitavam-me preocupados.
- Sim? – perguntei.
- Senhor – começou um menino aparentemente aflito – Eu sou
Nando e essa é minha irmã Jozi. Você é jornalista não é?
- Sim – confirmara o dilema – Por quê?
- Nosso pai sumiu – continuou a menina visivelmente abalada –
Por favor, nos ajude a encontrá-lo!
- No mínimo coloque um anuncio em seu jornal –
complementou o menino.
Ficara intrigado com o que me pediam, até por que, mesmo que
eu quisesse não dependia de mim a permissão. Mas,
aquelesolhosclementes me doíam o coração. Eram crianças tão
novas, que a resposta mal me cabia a mente.
- Não depende de mim tal permissão. A mãe de vocês sabem
que vocês estão aqui?
Hesitante respondeu-me ressentido:
- Não temos mãe senhor, ela morreu faz muito tempo.
- É por isso que estamosà procura de nosso pai. Ele é que esta
como nossa custodia, e sumiu faz um bom tempo.
Engoli ar ao invés de sorvete. Parecia que não queria descer da
minha garganta, ficava entalado e me incomodava, meu
psicológico também ficara afligido.
- Por favor, senhor – a menina suplicou dentreolhoscintilantes.
Dentro deles dava para se ver o reflexo da importância, algo que
muito menosprezo, mas, diante de delicada criatura, como é
asdóceiscrianças me dói algo no peito. Aquela jovenzinha tinha a
pele rosada, no cabelo o penteado de duas trançasamarradas em
fitas de náilon; E tinha no rosto um sorriso bonito, mas,
momentaneamente ocultado pela tristeza. O menino, em seus
doze anos, aparentava ser o mais velho:usava um chapéu de
palha e macacão azul. Assim como ela naquele olhar nostálgico e
castanho, como se quisessem me marcar num laço secreto.
Dentre vago silencio atalhei:
- Vou ver o que posso fazer, só não garanto nada. Soujornalista,
vou ver se aceitam que eu coloque algo sobre isso nosjornais.
Mal sabia eu, mas, em meu país aumentara o número de
perdidos de maneira e forma surpreendentes, sobrepujava-se
assim minha inquietação. Insistência ou não, para mim era algo a
ser pesquisado, seria meu caso seguido desse, contudo, boa
parte doslugares em que eu estava, seguia-se de dados
comprometedores. Não posso comprovar todas as situações,
mas, me comprometi devidamente para com Jozi e Nando.
Demonstraram-se visivelmente alegres para com minha
resposta, algo que não pude evitar.
***
- Fiquem aqui – pediaaospequenos – só vou informar isso a um
amigo meu.
- Ta bene – concordaram em coro.
Passando pela movimentada rodovia, e marchando em
passoslargos adoisquarteirões, pisei nesta areia branca mais uma
vez. Com o braço acima dosolhosconseguiavistar meu amigo. De
conversa com um grupo de cinco garotas: uma morena, uma
branca, uma mulata, uma negra, e outra parda; O sujeito viu
nisso uma razão de expor mais do que nunca todo seu charme.
Nunca entendi o racismo, não entendo o machismo e nem tão
pouco o feminismo... Todos tem osdireitosiguais!
E Roberto parecia entender isto esbanjando compreensão:A
praia, o casodaquelasmeninas não foi diferente, todasestavam
ganhando sua atenção igualmente.
Ao notar minha presença chamou-me: - Lucas, venha cá – e
acenava com mão direita.
Fui-me, não contradizendo ao seu pedido.
- O que aconteceu? – perguntou-me – Pareces chateado.
- Roberto tu tens de fazer o trabalho com essa segunda praia
sozinho. Pode por favor?
- O que esta acontecendo?
- Deve ter encontrado uma garota – interrompeu a parda.
- Realmente – concordou a branca em olhar malicioso – Não tem
como um pedaço de malcaminho como o você...
- Não me entenda Mal – retruquei irritado – Vim a trabalho não
para conversar.
- Ui – falou asoutras no bom tom.
- Então por que viestes? – perguntou a branca curiosa.
- Roberto quero pedir-lhe licença, encontrei duascrianças que
dizem ter perdido o pai, e estão muito desesperadas. Querem
que eu faça uma matéria sobre isso.
Indulgente adiantou-se:
- se é isso, não tem por que eu não dar-lhe uma mãozinha logo
agora. Teu caso é muito mais serio que o meu. Pode ir, que eu
assumo o serviço.
- Obrigado.
Voltando a sorveteria, uma dascrianças interpelou:
- Como foi?
- Foi bem – respondi a Jozi – Vocês tem alguma foto dele?
- Temos mas, está em casa.
- Então tratamos de ir lá agora mesmo. É muito longe daqui?
- Édois bairros seguidosdeste.
- Fomos a policia comunicá-los, mas, não acho que vá se
adiantar somente com isso – complementou Nando.
Calei-me um pouco. Diante meu raciocínio não se deixaram a
mercê das falsas expectativas.
- Vamos ter que ir de carro.
Dito issoosolhos de Nando brilharam.
- Vamosmesmo de carro?!!
- Sim – confirmei, não entendi a tamanha surpresa por algo
julgava tão trivial.
- Nunca andamos de carro antes, eu e Jozi o máximo que
fizemos foi ter andado duasvezes de ônibus! É meu sonho me ver
dentro de um!
Aquela empolgação além de me empolgar me sensibilizava. A
menina pulava de alegria, parecia que suas tranças iriam voar, e
Nando levantando erguendo asmãos para cima sonhador,
parecia imaginar-se como pilote de corrida.
- Nós vamosmesmo, mesmo,mesmo andar em um carro?
- Claro que vamos! – afirmei alimentando ainda mais a alegria da
criançada – Mas, tenham paciência. Eu ainda não tenho carteira.
Vou lá chamar Roberto de novo.
Antes de sair da sorveteria de deixá-los sozinhos, recordei-me:
- Ô moça! – chamei a dona do estabelecimento.
- O que deseja? – perguntou moça que estava debruçada no
balcão.
- Vou ali e já volto. Deem a essascrianças o tanto de sorvete que
elasquiserem – peguei uma nota de cinquenta reais que
tavaescondida em minha carteira, e joguei no balcão.
- Podemosmesmos? – perguntou em coro.
- Émelhor gastar o tempo comendo do que esperando – afirmei
gentil.
Não sou rico nem pobre.
Pagar meusvícios me era algo penoso, mas, parece que para
àquelascrianças, foi-me algo que só de fitar seus sorrisos, já
basta para dizer:
Valeu a pena.
***
Ao carro cochichavam de forma sorrateira.
- O que é que estão falando ai? – perguntou Roberto olhando no
retrovisor.
- Estávamos aqui conversando – dizia eu - e Jozi acha você
bonito.
- Não, não acho! – erguia-se em pé na tentativa de se defender.
E concordando comigo, Nando continuava:
- Acha sim, acha sim!
Ela corada e irritava, deixar-nos-á cair na gargalhada com a
carinha fofa que ela fazia quando ficava emburrada.
- Que menina encantadora é você! – observou Roberto
amavelmente – se fosse pra eu ter uma filha iria querer uma
igualzinha a você.
- Verdade? – indagou á jovem, que parecia aspirar tal idéia.
- Sim – respondeu.
- Você já pensa em filhos? – perguntei a Roberto.
- Um pouco, ás vezes – confessou - Mas, aposto que eles
reclamariam de tempo.
- Eu não iria me importar com o tempo se minha guarda
estivesse com o senhor.
O resto do trajeto prosseguiuassim, silenciosamente. Uma hora
ou outra ascrianças e eudialogávamos assuntosinocentes,
entretanto, ele continuou lá, quieto. Pelo retrovisor notei naface
de Roberto uma lagrima rolar; compreendendo o porquê, não o
quis incomodar com um perguntar.
Entramos na rua. Notamos rapidamente que se tratava de um
lugar pobre em todos os sentidos. Era uma casa muito pequena.
O mato crescia a vontade dentro dela, brotando do chão de areia
escura. Sem pintura, nem tão pouco reboco, via-se
rachadurasnasparedes e goteiras no teto. Não se havia portas, a
única, a da frente, tinha a maçaneta quebrada, e qualquer hora
poderia passar um ladrão e roubar o quase nada que restava por
ali. Eram cômodospequenos e apertados. A mobília era pouca,
somente ascamas serviam como assento. Sem pedir licença, abri
a geladeira. Petrificado, percebera que o que temia se
generalizava: Não quase nada ali: só uma vasilha de feijão e um
saco contendo poucas batatas.
- Moram mais alguém com vocês? – perguntei.
- Sim – respondeu Nando – Ângela, nossa irmã mais velha, de
dezesseisanos; Elata trabalhando de lavadeira desde que papai
sumiu. E também a Eduarda que está no quarto ao lado.
Levantando a lona que servia como porta, entrei num quarto
escuro e úmido, enrolada a unsdoiscobertores, tinha-se visível
um corpinho frágil, ofegante. Aparentava arder em febre;
- Minha irmã é linda não é? - comentou a doente notando minha
presença.
- Eduarda tu ésmais bonita que eu – disse Jozi em desalento.
Agora fixa a mim:
- E tu, quem és?
- SouLucas umJornalista – respondia.
Roberto não estava mais entre nós, ele mal deixou-nos na porta
e já saiu. Parece que ele já previa o que se sucederia. Neste oficio
vivenciamos de tudo. Não é a primeira vez que lido com gente
nesta situação, tanto é que consigo segurar a cachoeira de
meusolhos para não desaguar. Eduarda sentou-serecostando e
ajeitando-se ao travesseiro; Carinhosa, chamou Jozi a sua frente.
A pequena deitou em seu colo, e Eduarda, transmitindo carinho
semelhante ao de uma mãe a acariciava, vez ou outra beijava sua
cabecinha.
- Então, tu ésjornalista? Vai ajudar eu e meusirmãos na procura
de meu pai?
- Issomesmo – confirmei.
- Nando, pegue uma cadeira pro senhor.
Sem nada gesticular foi correndo fazer o pedido da irmã.
Não era uma cadeira, era na verdade um caixote de madeira.
Doía como eles contentavam com tanto pouco.
- Não repare a casa por favor. É que somos muito pobres.
- Tudo bem – tranquilizei-a – Não é isso que me preocupa.
- Vai mesmo ajudar-nos? – repetiu esperançosa.
- Sim. Por acaso tens uma foto do pai de vocês?
Remexendo a gaveta de uma pequena cômoda, demorou mais
encontrou:
- Serve está? É dele e da minha mãe.
Entregou-a á mim, e com ela em mãosexamineiminuciosamente.
Tossira enquanto dizia:
- Foi no casamentodeles; Minha mãe era tão bonita...
Concordei com um mexer de cabeça.
Na foto mostrava o casal sorrindo ao lado de uma arvore da
igreja. Mesmo sendo a noiva, trajava vestes tão simples: Vestido
de pregas acompanhado de um véu sem tiara.
Mesmo em preto e branco,na foto está mostrava-se muito
formosa. Ao lado, o querido marido. Magro e alto, de bigode e
cavanhaque possuía olhosgrandes e profundos, oscabelos eram
cacheados; sorria também, no terno humilde a gravata ser-lhe-ia
um apetrecho benévolo.
Naquela época longínqua aparentava-se que o amor verdadeiro
existia. Hoje as mudanças do mundo fizera com que
perdêssemosessa confiança, a de um verdadeiro amor, fizeram-
nos crer que isto era loucura dos romântico, mas, não é esta a
realidade.Quantoscasais jáhonraram o “até que a morte os
separe?” Pelo que havia me falado Nando, o caso dele foi muito
além, desde a morte da esposa, um cinco anosatrás, ele
continuou fiel a ela, entretanto com o salário mínimo não
conseguia sustentar a todos e lastimávelentregou-se nas graças
da bebida.
- Me arrume outra foto, por favor – pedi – Aqui ele aparenta
muito jovial.
- Verdade – concordou Eduarda serenamente– Mais uma vez
revirando a gaveta.
Me entregou outra mais recente, a de um ano atrás.
Nele mostrava senhor Sergio – pai dascrianças – entornando um
copo de cachaça.
- Está serve?
Adiante prontei-me a pegar meu bloco de notas, anotaria cada
palavra daquela menina.
- Sim. Quanto tempo está sumido?
- Faz 3meses.
- Está bem... – levava no pescoço uma maquinafotográfica -; por
favor, fiquem todosjuntos um do outro.
- Vai tirar uma foto?
- Sim – respondi – quero que além de mim, outros se
compadeça de seu caso.
O resto da tarde passei aqui.
Anoiteceu e voltei de apé para casa. O que estavapassando por
ali, era mais serio. Jornalistas, acima de tudo, devem de
denunciar asdificuldadese injustiças humanas.
XII
Fria e cruel
- : -
“Só eu quem presenciou, o céu queimar na escuridão, e brilhar
diante dos pagãos, na terra maculada em lagrimas.”
Essafrase você dizia num tom agridoce.
Lágrimas dezenbalssão no medo. Estranho, amava a sensação de
poder chorar de felicidade.
- : -
Antes de chegar em casa, decidi visitarum lugar em especial...
Mais bela que nunca, enfim, o terceiro encontro.
Amante da morte, só Deus sabe quanto te quero bem; Nutro por
ti um afeto que me conduz a subir montanhas. Entretanto,
voltara a ser rígida e fria.
- Veio ver-me? – perguntou em tom amargo.
- Sim – respondi – Não há problema nenhumnisto não é?
Optou por um silencio magistral.
Andamos pelo mesmo trajeto.
Desta vez, dura como pedra, mal dava para ver dentro de ti, só
espremiapalavras que feriam. Estava com uma vestemais simples
que a de antes. Se nunca tivessepassado por uma loja de
artigosfemininos julgaria que estavas em uma camisola.Mas,
minha Alice, ela não é disso. Não era, era discreta como eu, e
recatada, não faria esse colosso que é deixar a minha pessoa vê-
la com roupasdesse porte. Fixava em suaspernas, pareciam
doispalitosmagros; Expostosassim, não tinha vergonha? Meu
rostoficavabrevemente corado.
- Fiz um chá hoje, quer experimentar? – indagou Alice leviana.
Conhecendo-a bem, era um tom traiçoeiro, ao supor que
poderiadeixar-me cair na armadilha, pesaroso recusei:
- Não obrigado.
Pra que eu fui dizer isso?
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont
O Mistério de Alice Valmont

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Vampire kisses livro #07 amo mordidas ((ellen schreiber)
Vampire kisses livro #07   amo mordidas ((ellen schreiber)Vampire kisses livro #07   amo mordidas ((ellen schreiber)
Vampire kisses livro #07 amo mordidas ((ellen schreiber)Profester
 
O tempo e o vento o arquilpel - erico verissimo
O tempo e o vento   o arquilpel - erico verissimoO tempo e o vento   o arquilpel - erico verissimo
O tempo e o vento o arquilpel - erico verissimoPatrick François Jarwoski
 
O beijo eterno angela knight
O beijo eterno  angela knightO beijo eterno  angela knight
O beijo eterno angela knightSamyFC
 
Série contos 2010 (vampire)
Série contos 2010 (vampire)Série contos 2010 (vampire)
Série contos 2010 (vampire)malkavianosrpg
 
Capturando caroline
Capturando carolineCapturando caroline
Capturando carolineViviFailla
 
Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30PLETZ.com -
 
Conto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane NorrisConto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane NorrisClaudia Valeria Ortega
 
Livro zadig ou o destino- voltaire
Livro  zadig ou o destino- voltaireLivro  zadig ou o destino- voltaire
Livro zadig ou o destino- voltaireEvandro Ribeiro
 
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha   um conto da - victoria aveyardCancao da rainha   um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyardDaniel Carloni
 
A Esfinge sem Segredo
A Esfinge sem SegredoA Esfinge sem Segredo
A Esfinge sem Segredojovemideal
 
Diário de Kassandra: a marca da bruxa
Diário de Kassandra:  a marca da bruxaDiário de Kassandra:  a marca da bruxa
Diário de Kassandra: a marca da bruxaRaquel Alves
 
O reino das vozes que não se calam
O reino das vozes que não se calamO reino das vozes que não se calam
O reino das vozes que não se calamf t
 
O aprendiz de assassino robin hobb - vol i
O aprendiz de assassino   robin hobb - vol iO aprendiz de assassino   robin hobb - vol i
O aprendiz de assassino robin hobb - vol idantenero4
 
O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1
O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1
O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1lousrondon
 
Mundo fabuloso
Mundo fabulosoMundo fabuloso
Mundo fabulosoCrisBiagio
 

La actualidad más candente (17)

Vampire kisses livro #07 amo mordidas ((ellen schreiber)
Vampire kisses livro #07   amo mordidas ((ellen schreiber)Vampire kisses livro #07   amo mordidas ((ellen schreiber)
Vampire kisses livro #07 amo mordidas ((ellen schreiber)
 
O tempo e o vento o arquilpel - erico verissimo
O tempo e o vento   o arquilpel - erico verissimoO tempo e o vento   o arquilpel - erico verissimo
O tempo e o vento o arquilpel - erico verissimo
 
O beijo eterno angela knight
O beijo eterno  angela knightO beijo eterno  angela knight
O beijo eterno angela knight
 
Interesses secretos
Interesses secretosInteresses secretos
Interesses secretos
 
Série contos 2010 (vampire)
Série contos 2010 (vampire)Série contos 2010 (vampire)
Série contos 2010 (vampire)
 
Machado de Assis
Machado de AssisMachado de Assis
Machado de Assis
 
Capturando caroline
Capturando carolineCapturando caroline
Capturando caroline
 
Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30Zai Gezunt - Edição Nº 30
Zai Gezunt - Edição Nº 30
 
Conto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane NorrisConto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
Conto - Resgate - Immortales - Roxane Norris
 
Livro zadig ou o destino- voltaire
Livro  zadig ou o destino- voltaireLivro  zadig ou o destino- voltaire
Livro zadig ou o destino- voltaire
 
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha   um conto da - victoria aveyardCancao da rainha   um conto da - victoria aveyard
Cancao da rainha um conto da - victoria aveyard
 
A Esfinge sem Segredo
A Esfinge sem SegredoA Esfinge sem Segredo
A Esfinge sem Segredo
 
Diário de Kassandra: a marca da bruxa
Diário de Kassandra:  a marca da bruxaDiário de Kassandra:  a marca da bruxa
Diário de Kassandra: a marca da bruxa
 
O reino das vozes que não se calam
O reino das vozes que não se calamO reino das vozes que não se calam
O reino das vozes que não se calam
 
O aprendiz de assassino robin hobb - vol i
O aprendiz de assassino   robin hobb - vol iO aprendiz de assassino   robin hobb - vol i
O aprendiz de assassino robin hobb - vol i
 
O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1
O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1
O jornalista-assassino-lous-rondon-arial12-letter-margin1
 
Mundo fabuloso
Mundo fabulosoMundo fabuloso
Mundo fabuloso
 

Similar a O Mistério de Alice Valmont

A esfinge sem segredos
A esfinge sem segredosA esfinge sem segredos
A esfinge sem segredosvanicequeiroz
 
Castanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_a
Castanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_aCastanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_a
Castanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_aRia da Escrita
 
00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf
00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf
00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdfmichele moreira
 
E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo
E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo
E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo Carla Crespo
 
A ESFINGE SEM SEGREDO.pdf
A ESFINGE SEM SEGREDO.pdfA ESFINGE SEM SEGREDO.pdf
A ESFINGE SEM SEGREDO.pdfeueqsou
 
Capturando caroline
Capturando carolineCapturando caroline
Capturando carolineViviFailla
 
Felicidade clandestina
Felicidade clandestinaFelicidade clandestina
Felicidade clandestinaSeed - PR
 
Branca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbisBranca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbisJuliana Duarte
 
Branca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbisBranca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbisJuliana Duarte
 
Servos da luz
Servos da luz Servos da luz
Servos da luz anncaty
 
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan PoeO Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan PoeFelipeCorra10
 

Similar a O Mistério de Alice Valmont (20)

20
2020
20
 
A esfinge sem segredos
A esfinge sem segredosA esfinge sem segredos
A esfinge sem segredos
 
Coisas que só eu sei
Coisas que só eu seiCoisas que só eu sei
Coisas que só eu sei
 
Castanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_a
Castanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_aCastanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_a
Castanho, j. a fada da minha vida. conto. aveiro, aems 11_a
 
117
117117
117
 
Lua Nova
Lua NovaLua Nova
Lua Nova
 
00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf
00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf
00419#MeuPDF Agatha Christie - A CIGANA (CONTO).pdf
 
Lua nova
Lua novaLua nova
Lua nova
 
E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo
E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo
E-book Oscar Wilde, A esfinge sem segredo
 
A ESFINGE SEM SEGREDO.pdf
A ESFINGE SEM SEGREDO.pdfA ESFINGE SEM SEGREDO.pdf
A ESFINGE SEM SEGREDO.pdf
 
Capturando caroline
Capturando carolineCapturando caroline
Capturando caroline
 
Cartas de amor
Cartas de amorCartas de amor
Cartas de amor
 
Bram stoker -_dracula
Bram stoker -_draculaBram stoker -_dracula
Bram stoker -_dracula
 
Felicidade clandestina
Felicidade clandestinaFelicidade clandestina
Felicidade clandestina
 
Branca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbisBranca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbis
 
Branca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbisBranca dos mortos e os sete zumbis
Branca dos mortos e os sete zumbis
 
O Crânio de Cristal
O Crânio de CristalO Crânio de Cristal
O Crânio de Cristal
 
Servos da luz
Servos da luz Servos da luz
Servos da luz
 
Nas sombras
Nas sombrasNas sombras
Nas sombras
 
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan PoeO Gato Preto - Edgar Allan Poe
O Gato Preto - Edgar Allan Poe
 

O Mistério de Alice Valmont

  • 2. Autora:Marcella Cristina de Oliveira “Dedicado a todos aqueles que tornaram isso possível”.
  • 3. Parte I: Alice Dizem que há uma carruagem fantasma, escondida em algum lugar deste reino. Dizem que a morte é muito pouco, por um debito que alguém deve de pagar. Estas são uma das poucas palavras que se definem um pesadelo, um pesadelo de nome “Alice’. Uma menina que tive a infelicidade de conhecer... E a desventura me apaixonar.
  • 4. I Especulação Meu nome é Lucas, desde pequeno, ouvi falar dos grandes detetives; Tal qual Sherlock Holmes eu me deixava levar por mistérios intrigantes, aguçando ainda mais meu enorme apetite por aventuras, o que me era um deleite, ás vezes, esse ímpeto me custava caro. Como da vez em gastei 50 reais em livros; Ouvi falar do grande e procurado “Hanry Claude”- Acusado de roubo e traficoque tivera fugido a pouco tempo da cadeia - com o pouco que li nestes livros, me julguei mais que correto no resultado do caso, mas, errei. Tendo vindo de uma família demasiada humilde, minha mãe costureira, e meu pai desempregado. Metade do dia eu o gastava trabalhando no armazém de seu Loro. Ele não me pagava bem,abusara de uma família com tão poucos recursos;Por isso sua morte não me foi sentida.Uma das veias de seu cérebro houvera estourado; Pobre Dona Lucia, na hora adiantou-se rapidamente para socorrê-lo. Estava imóvel, e um calafrio me veio a espinha, pasmo, não estava sensibilizado com seu falecimento, entretanto, deparar-me assim tão perto da morte me foi como um êxtase. Fitava perplexo aquele cadáver, que estava aos poucos definhando; E sem compreender, um sorriso estampara cinicamente em meu rosto, como um deboche, assustara os presentes, e feria aquela senhora jaz tão abatida. Hoje jaz maduro, em meus 20 e poucos anos. Reflito varias vezes esta e inumeráveis tormentas do passado. Devo de agradecer as dificuldades, pois elas me tornaram mais forte, graças a elas me tornei o que sou hoje. Não me perpetuei as correntes impostas
  • 5. pela vingança, mesmo com o rancor, não sou capaz de fazer mal a aqueles que já me fizeram um dia. A falta de renda fez com que meu sonho estivesse longe de ser alcançado. Entretanto, me tornei o que menos esperava: Um jornalista. II Corrompido Na empresa em que na qual trabalho arrumei vários amigos, entre eles de minha confiança: Helena: - Ainda nesta idade não me deixo inerte a necessidade de investigar, sei que é algo muito útil já que sou jornalista, por isso não venham me julgar – Secretaria e assistente do chefe, é mais que certo afirmar que esta tem um salário muito gordo. Admitida dois anos antes de minha estadia, pronto a minha carreira, era uma jovem senhora de 19 anos. Honesta e meiga, entretanto, desventurada, a má sorte a seguia, se este era seu destino devo de dizer que ela seria a primeira a mandá-lo a morte. Sua ingenuidade era algo que acalentava, mas, que me fazia temer por ela. Como disse alguém uma vez “Este mundo não é para ingênuos” Roberto: Uma pessoa sádica e sátira porem com enorme senso de humor. Assim como eu, ele era jornalista, e assim como ele, outro compadre meu Gustavo, também era. Um dia, ao andar pelos corredores da empresa. Estes vieram correndo me contar das novas, e pelo que parece me notificarem do novo serviço:
  • 6. - Lucas já ouviu falar sobre “Alice Valmont”? – indagou Helena pretensiosa. - Não, por que? - O chefe quer uma matéria sobre ela. - Alice, pelo que parece – interveio Roberto, mostrando-se possuir um amplo conhecimento para com o assunto – É sobrinha do Conde Vermelho e do Barão Negro, heróis de guerra dessa cidade. Como são muito populares esta também haveria de ser. Em seus poucos minutos de chegada a sua audaciosa residência uma grande multidão gritava eufórica, desejavam mais que tudo vê-la mesmo que de longe. - Ela é tão bonita assim? – indaguei surpreso. - Pelo que me relataram, parece uma boneca. Neste momento, Gustavo timidamente rompera o silencio, estava fuçando seu bolso, no ímpeto de encontrar algo, visivelmente deixou na face um grande sorriso, o que aparentemente pôde responder ao meu dilema: - Deem uma olhada. - Como conseguiu essa foto? – perguntou Roberto, sem palavras. - Consegui com um fotografo amigo meu. Lucas sua matéria vai ser uma grande diversão. - Que tal atentá-la? – propôs Helena com astucia – Seduzi-la? Ao escutar isso, uma enorme cólera subiu a minha cabeça. Estava indignado: - Sabes que não sou esse tipo de homem. - Se eu estivesse em teu lugar eu o fazer ia com prazer – replicou Roberto, contando vantagem – Até quando vai continuar com esse teu voto de castidade? - Bem oras sabes que não sou virgem – retruquei furioso. - Mas age como se fosse. Fiquei corado. Adiante, Helena prosseguiu em tom esclarecedor: - Não estamos falando para você amá-la, queremos apenas que se divirta. - Temo mais, é machucar seus sentimentos.
  • 7. A conversação foi grande, hora ou outra seria obrigado a esse sujo trabalho. Corrompido? Talvez. Mas passei um bom tempo vivendo como um ninguém, e agora que tenho a chance de reparar essa peça do destino, não hei de me privar de tentar uma vida melhor. Quem sabe... Essa Alice possa guardar grandes mistérios? III Teu Mistério Sempre fui muito a bibliotecas, era algo bastante prazeroso, mas deveras rotineiro, nunca pensei que naquele mesmo dia seria sujeitado à tamanha exasperação. Já estava escurecendo, de folga seguia sem delongas até minha humilde, todavia confortável moradia. No caminho ultrajante, estava à biblioteca HG; O que me deixou pasmo foi o fato de ela estar aberta assim tão tarde quanto as 24:00 horas. Antes de infiltrar-me já estremeci, a ponto de tocar na maçaneta, pálido, começar a soar frio; Era uma atmosfera nada contentadora, era muito bizarro por assim dizer, difícil de engolir. Olhando pela janela tudo parecia normal, entretanto, o ambiente era muito sombrio. Já ao entrar já confirmara o que percebi: O lugar era sinistro. Suadecoração vulgar não se omitia a forte impressão do paganismo. Algas e ossos que serviam como adornos para as prateleiras, na mesa alguns lápis de cor sobre um simples e pequeno caderno, todavia, por trásnão se tinha visívelnenhum atendente. O lugar estava imundo, observando, dava-se para notar que tinha terra em todos os cantos. Um grande candelabro de prata quebrado estava deitado sobre o chão e fixado no centro do local.
  • 8. Tentando conter o medo, ajeitei minha gravata.Dei sete longos passos, e quando fitei novamente aquele candelabro, complexo, me vi diante de minha própria morte. Eu que nunca acreditei em fantasmas, admito que aquela sensaçãopoderia ser comum. Mas, o que aconteceu comigo, não tinha como ser normal: As luzes se apagaram, e a porta trancou sozinha. Inquieto e abatido, meus olhos arregalados procurava uma pequena luz na imensa escuridão, por ventura, como mais um assombro, aquele candelabro já inerte me concedeu o desejo. Minha vontade era de correr, mas minhas pernas paralisadas não permitiam. O frio era eloquente, parecia ser uma prova. Tentei voltar no tempo, na época em que eu desejava ser um grande detetive, entretanto, falhei. Todas as minhas teorias obtidas em poucos minutos foram destruídas neste exato momento: - Seu nome é Lucas? – indagou uma timbre, porém doce voz. Soara como um acalanto. Divindade a parte, procurava sem receio a imagem da pessoa a quem me transmitia ternura naquele instante tão horroroso. - Sim, sou. Quem é você? –indaguei. Ela não respondeu. - Só quem faz perguntas sou eu! – exclamou em tom furioso, mas não a ponto de me fazer dar gritos de fervoroso terror, não. Era de uma forma que tentava demonstrar mais que nunca a sua autoridade. O silencio prevalecera, mas, ela continuara: - Ouvi falar que quer tentar me seduzir... Vermelho de vergonha, neguei entre palavras e gestos com a cabeça. Estava demasiado transtornado. - Como ousa mentir?! –complementou ela, entretanto a forma de um grito benevolente. Sua voz era muito bela, mas, não conseguia me transmitir medo algum. Era tão doce que por poucos minutos pensei que estava fora de perigo, por mais uma vez, errei. Fitava todos os cantos daquela biblioteca escura, em que na qual a única luz que se mantivera era a de um velho candelabro. Parecia um pesadelo. Qualquer um que estivesse naquele lugar
  • 9. pensaria que é assombrado, já que ouço uma voz, mas, não sei de onde vem.Sinto-me em um interrogatório, pressionado por inúmeras perguntas. No entanto, veio a minha mente, a foto de Alice, Alice Valmont... Seria esta voz de autoria desta senhora? Dentre a escuridão, já cabisbaixo, estava exausto de tanto procurá-la, mal me recordara de sua imagem, e já sentia por ela imensa afeição. No meu consciente eu mesmo gritava, em monologo: Estranho! Ela para minha surpresa, enfim se revelou indo para o único lugar iluminado. Fiquei bobo! O que me falaram era mesmo verdade, tão bela quanto um anjo! Seus cabelos negros contornavam e a davam ainda mais elegância, seus lábios vermelhos tal qual sangue eram tentadores, parecia o pecado oferecido para mim em uma bandeja de prata, mas, acima, com uma taça de ouro, deixando mais que irresistível o gosto de vinho que em poucos minutos se torna sangue. Seus olhos grandes e verdes, era a porta para a alma mais misteriosa que já vi; Seus cílios, um encanto. Seu longo vestido de renda em babados a dava um toque especial. Era uma boneca! - Como ousa mentir? – murmurou ela. Não consigo deixar de observá-la, seus lábios trêmulos, sua pele sensível... - Quantas vezes terás de mentirem?! – indagou a menina indignada, pousando as mãos sobre meus ombros e fixando seus olhos penetrantemente nos meus– Não sei por que você não morre! Consigo ver em sua alma! Você me ama! - Eu não a amo – tentei sem sucesso corrigi-la. - Mas sei que ira amar-me. Por isso digo: É perda de tempo tentar me seduzir! - Se eu a amo – perguntei confuso – O que tem demais em tentar seduzi-la? Em voz tremula e caminhando diante a escuridão respondeu- me:
  • 10. - Você pode sofrer com isso... Fiquei fascinado, com a jovem que estava a cá, ao meu lado. Sua fragilidade, finura, delicadeza, estava encantado! E não conseguia parar de fita-la! Estava viciado nela que nem um moribundo por sua droga. Será que realmente a amo? Ao soar do ato, quebrou-se o silencio. Como se estivesse atenta ao perigo, minha interlocutora deu quase a prevê sobre a trombeta do juízo final: - Me siga. É perigoso continuar nessa biblioteca. Daqui a pouco será 25:00; Quero poupá-lo do pesar que seria presenciar o que acontece aos que ficam aqui presentes. 25:00? Cada vez mais, ficava perplexo e confuso. - O que acontece nesta hora? – indaguei curioso. - É à hora do julgamento. A hora da vingança. Da lastima e do martírio. - Quem é o responsável por isso? – perguntei mais uma vez, atônito. Desta vez, como das primeiras vezes, ela não respondeu-me. Como se fosse vitima de sua disciplina, firmemente, não se mantivera expressiva. Por onde caminhava, a luz que antes vinha do candelabro, começou a segui-la, até uma porta de madeira esculpida de fino gosto. Como se os mistérios me seguissem, na maçaneta estava escrito “Rosa-Cruz”. A querida senhora, me escoltou até seu ninho. IV HG
  • 11. A querida guia escoltava-me com seu bendito zelo. Era um imundo e fétido labirinto. Olhava para o lado e me arrepiara de tão nojento que estava o local. Canos quebrados, rios de fezes... Suspeitara e tive a certeza após a caminhada de que se tratava de um esgoto. Já exausto interpelei confuso: - Aonde estas me conduzindo minha jovem? - Não sou sua – retrucou-me rudemente – Já estamos chegando. Deparei-me no caminho, com outra porta. Minha desconfiança estava começando a chegar diante de sua menção. Estava mesmo seguro ao seu lado? Perguntava incessantemente a mim mesmo. - Ouvi falar que tu és jornalista... – argumentou timidamente. - Sim, sou – confirmei com maestria. E ela, embaraçada, esboçou um leve sorriso na face. - Sei que tudo parece estranho – Complementou Alice Valmont – Mas, com o tempo, entendera. Não conseguia compreender a simbologia por trás de suas palavras aguçadas. Envolvida por aquela luz inebriante, parou diante de um castiçal, cerrara os punhos e por diversas tentativas tentara puxá-lo contra a parede, revelando assim uma passagem secreta. - Agora esse caminho é mais confortável Sr. Jornalista. Enfim entramos. Era uma aconchegante e luxuosa sala de estar, todavia, para a minha surpresa e arregalar de olhos. Sobressaia naquela arquitetura figuras bastante estrondosas, tal quais as do tempo renascentista. Como se fosse coincidência com as frases da maçaneta aquele quarto já tão esplendoroso continha como principal parte da mobília, pilares em formato de Cruz, e rosas pintadas na parede. Dois sofás confortáveis faziam harmonia com a pequena mesinha de centro. Sentamo-nos, e começamos felizmente a dialogar: - Você gosta de rosas? - Sim – respondi hesitante. Considerava ainda muito estranho a sala em que estou a frequentar. Afinal, tudo que eu vi essa noite
  • 12. foi fora do normal... Quem me garante que agora não será o mesmo? Complexada, embriagava o local com seu olhar penetrante: - Meu dono prometeu transformar essas pinturas da parede em rosas um dia... Atônito, não consegui articular a seguinte palavra. Podia jurar que eu mesmo me castigaria se não a desse a devida atenção. Posso ganhar bastante no serviço dependendo da informação, mas, acho que seria impossível alguém dar estima ao que eu falo. - Ele sempre me observa de longe – declarou a moça, um tanto contente – Disse que se eu fosse uma menina obediente concederá alguns pedidos meus. O êxtase era total, corromperia prosperamente contra meus objetivos desde que minha curiosidade fosse amenizada: - Qual seria seus desejos senhorita? – indaguei. E ela por menos incrível que pareça, mudou de assunto: - Quem sabe um dia ele ira me libertar... – como se despertasse sua consciência, arregalara os olhos com receio –Lucas acho que já é hora de ir. - Já? –perguntei angustiado. - Sim – complementou, demonstrando-se um pouco tremula - meu senhor volta tarde. - Sra. Alice, vós não disse que ele lhe observa sempre? – perguntei. - Não é meu Dono, Lucas, é meu Senhor, e, provavelmente meu Mestre chegara com ele – cada vez mais intrigante, levantou-se e sem cerimônia abriu uma porta do nada. Pude observar que todas as rosas pintadas são portas. O que minha mente justamente não pode negar a possibilidade, de, na realidade aquela biblioteca assustadora, fosse um imenso castelo oculto. No calor do momento, vozes seguiam adiante, e ela, petrificada de nervosismo, me clamou de novo o seguinte pedido: - Vá embora Lucas, por favor.
  • 13. Fiz sem receio o que desejavas, afinal, já estava começando a ficar pálida de tão aflita, tremula sua testa começava a se franzi, perdendo assim aquela imagem de alguém firme e decidida. Mas, congelado a esse momento de cativação, me deixei levar pela tentação. Quando sai do ressinto, ouvi gritos exasperados. Apertei minha orelha contra a porta, certificando de que pudesse ouvir sem nenhum problema, a conversação de quem residia ali: - Alice Valmont! – exclamou alegre. - Mestre, Senhor? É você? - pausou Alice entusiasmada. - Sim somos nós – respondeu um outro homem, de voz mais fina. Tentei olhar pela fechadura, e mesmo com grande dificuldade, posso afirmar que conseguiria fazer um retrato chamado: Um dos homens tinha voz fina, roupagem vermelha de couro e linho, era alto, do mesmo tamanho que o outro. Seus cabelos e olhos eram da mesma cor. Colares e capa era um de seus poucos chamativos. Jovem, palpito sobre o fato de ser um homem de 22 anos. Tinha armadura, mas, era todo coberto pela capa, que o cobria por completo. O outro por sua vez, tinha uma voz mais simpática, usava vestes negras. Seus cabelos e olhos eram da mesma cor. Se vestia da mesma forma que o outro, entretanto acredito que este possa ter 26 anos de idade. Sensibilizado não continham a emoção. Abraçaram-se uns aos outros fervorosamente. Uma tímida lagrima até rolou dos olhos de Alice: - Como foi o trabalho? – indagou leviana. - Você sabe - complementou o homem de Vestes Vermelhas – Só nos encarregamos da carruagem. - Quantas pessoas? – perguntou novamente, agora, empolgada. - 57 – respondeu o homem de vestes negras –; Alice, não temas o corvo. A gente sempre estará aqui contigo – carinhoso, em gesto paternal, continuou - Um dia esse pesadelo ira se acabar. - Quem disse que eu quero que esse pesadelo se acabe? – retrucou Alice.
  • 14. Bastante exasperados, fincaram seus olhos na menina, que condizia sem sombra de duvidas, estar completamente ciente de si. - Alice – pausou o homem de Vestes Negras, um pouco preocupado – Tens medo da liberdade? Ela silenciosa, diferente de a mim, a quem ela negava-se a responder certas perguntas, adiantou-se: - Sim – confirmou, com a sanidade abalada – Tenho medo de não estar mais presa ao pesadelo. Aquilo soava tão majestoso, quanto o canto da coruja. V Sobressalto - : - Quantas vezes chegamos lá? Estou aqui afogando, entorpecido por memórias. Psicodélico a parte, meus olhos ainda não estão cerrados. Será essa a Utopia? Onde ninguém pôde alcançar? Dizem que para encontrá-la, basta acreditar, pois ela veio de nossos sonhos. Nadando entre a harmoniosa correnteza, começo a vê-la, deve de ser um sonho, só pode ser... E era. - : -
  • 15. Estava um dia bastante animado. Mesmo assim, deixava-me abater por memórias, que eu agradeceria a quem conseguisse me fazer olvidar. As imagens daquela jovem senhorita, fincavam na minha mente como facas. Todavia, preciso ganhar meu pão. - Ainda não conseguiu a matéria com a Sra. Valmont? – indagou Helena, em tom eufórico. - Esta sendo difícil... - Dá um tempo pro garoto – interveio Roberto, astuto – Todos os jornais, concorrentes com nossa empresa, estão com a mesma dificuldade. Essa Alice nunca sai de casa. “Nunca sai de casa?” o escambal! Vejo aqui uma balburdia, pensei. - Mas eu a vi uma vez na biblioteca HG – argumentei estranhado. Era realmente um absurdo! - Aonde fica essa biblioteca? - Fica do lado da farmácia. - Isso é impossível! – exclamou Gustavo, intrometendo – lá fica a loja de antiguidades. Perplexos e atônitos tentamos pesquisar, sem sucesso. - Você esta mentindo pra gente? – perguntou Helena, aumentando a expressão de cólera na face. - Calma Helena – pausou Gustavo – Ele pode ter se confundido. É normal não é? - Normal pode até ser. Mas, perder tempo é perder dinheiro. O chefe esta quase querendo demiti-lo. Estava tão estupefato de euforia que quase surtou, foi difícil fazer a cabeça dele, mas, consegui pra você um novo trabalho. - Qual? – indaguei. - São dois, para falar a verdade – corrigiu ela, engenhosa – É o Sr. Augusto, no artigo sobre agricultura. Ele esta se tornando muito chamativo por dizer ter conseguido plantar o maior vasto de milharal. Já a outra, é sobre uma família com entes desaparecidos.
  • 16. - Parece difícil – reparei timidamente. - Não se preocupe. Dessa vez irei com você. - Comigo? Mas, você não trabalha como secretaria? - Ele me mudou de cargo por tentar ajudar-lhe – pausou ela, em tomrepreensivo – Por isso quero que tenha um pouco de consciência sobre isso. - É muito longe cada local? Ela adivinhando minha alienação, replicou: - Não se preocupa, vamos de Van. A viagem foi um tanto longa. A paisagem rural realmente nos era bastante atrativa, fitando-a por horas infinitivas, me recordara de meus tempos de inocência; Quando as brincadeiras ao ar livre eram um tanto mais prezadas do que hoje em dia. Que saudades daqueles tempos! Conhecera quase todos meus colegas de trabalho assim, quase todos, pois, Gustavo foi exceção; Esse eu cheguei a conhecer apenas após muitas delongas. Estava na praça trabalhando arduamente como sempre; Desesperado por vender jornais eu gritava incessantemente tal qual uma chamativa propaganda de cerveja; Esforçara-me tanto, mesmo assim, ninguém me cedia à atenção. Já desesperançado, fiquei pessimista, até que um moço veio até mim: Moreno de cabelos negros vestia-se encorajado por outros de paletó e casaca da cor uva; A cor era tão extravagante que chegava a ser brega, e aparentemente hilário de se presenciar. Com o suor escorrendo a fronte, era certo afirmar que aquele moço tivesse feito enumeradas caminhadas, porem, essa genuína criatura, durante sua tão santa pausa veio a minha direção; Pensei que ele fosse comprar de mim um jornal. Contente, quase cai de joelhos em posição de oração, mas, me decepcionara ao saber que era só um mal entendido: - Quer comprar um jornal? – perguntei. O contentamento deixava mais que apar meu enorme entusiasmo. Entretanto, ele sereno, objetou: - Não, só queria pedir informações. Vos sabes se por aqui mora uma moça de nome Erica?
  • 17. - Foi ela quem lhe falou pra vestir isso? – murmurei atrevido. - Sim. Realmente nunca esquecerei daqueles tempos... - Lucas – sussurrou-me uma voz ao ouvido. Com olhar fora de orbita, fitava-a de forma descontraída, estava tudo embaçado – Lucas! – repetiu, agora em alto e bom tom – Acorda Lucas! já chegamos! Não estava me sentindo bem, demorou uns instantes para que eu voltasse a si. - Helena? - Não, Papai Noel – retrucou eufórica, estava realmente esbravejando sua enorme carga de cinismo – Chegamos na fazenda de Augusto. Vamos levanta, não seja preguiçoso! Afinal, ela esta apenas a sete passos daqui. - Já estou indo... E erguendo-me seguindo de um grande bocejar, coloquei mãos a obra. Segurava meu equipamento com seus devidos cuidados, e em relação aos instrumentos utilizados por Helena, ela levou consigo somente o essencial; O que não quer dizer que estive a pronta para carregar mais carga que o devido, mas sim que os objetos eram um tanto mais delicados. - O que foi Lucas? – argumentou estrondosa – Você anda tão calado... Estava hesitante por articular a palavra. E ela compreensiva, deixou a par sua observação: - Deve de estar cansado... - Por que sugere isso? – indaguei com ar curioso. Após uma breve pausa esta respondeu: - Muitas vezes o vejo dormir no trabalho... Vem acontecendo algo? Meu coração redarguiu com seus batimentos descompassados, suando frio, a preocupação se colocou presente nesta impertinente situação. Como poderia contar sobre minha desventura? Afinal, desde o dia em que conheci Alice Valmont
  • 18. não consigo mais adormecer durante a noite; Tenho pesadelos. Estes pesadelos me matam aos poucos... O ultimo que tive: Estava de novo lá, espiando pela fechadura. Os homens de vestes Negras (Que agora tenho quase a certeza de ser o Barão Negro) e Vermelhas (E esse de ser o Conde Vermelho) agitados, prosseguiam hesitantes condensando palavras de forma tremula; Infelizmente, não conseguira ouvir nada a não ser ruídos finos e agudos que recordaram muito as ondas de frequências antigos rádios e televisões. Não conseguia ver direito! E quando vi o pavor, meus olhos jaztão envolvidos quiseram ser cerrados imediatamente. Era deveras bastante traumatizante. Andando de um lado pra cá, Alice estava enfurecida com a argumentação dos dois senhores; Sempre que ela parecia retrucar, estesa repreendia, e ela ardia em cólera. Ficou cabisbaixa, pude me enganar por seu sereno e Candido rosto, foi macabro. O quarto se desfigurou, as pinturas de rosas começaram a desbotar, e sua tinta começou a inundar o local que tremia interminavelmente, parecia querer desmoronar. Seria essa a hora do martírio? A arquitetura começara a envelhecer, perante toda aquela iluminação, tudo se compactou e evoluiu para o breu. Com sorriso maléfico, ergueu seu rosto aos moços trêmulos. Começara a desabar algumas vigas e madeiras, enquanto caminhava, não tirava do rosto a sensação de calma, tão segura de si que chegava a ser desprezível. Aquele rio de tinta continuava a inundar, mas, assombrosa impressão! Senti algo frio em meus pés. Pasmado, fitei meus sapatos, notei que estavam encharcados; Deus do céu! Aquilo não era tinta! Não era tinta! Maldita melancolia, sentia na pele as desgraças daquela sala! Não era tinta era sangue! Isso me dera calafrios tão grandes que quase gritei perante tal devastação.Ainda dentro daquele quadro de extrema melancolia, reparei na jovem translúcida, como se tivesse roubado o fel do diabo a garota tirou do nada uma faca, e correu em direção do homem de trajes vermelhos; Sem dó e nem piedade, cravou sua lamina sobre seu vulto! Conformado, o fiel servo agonizava, mordera os lábios
  • 19. para tentar não gritar, não condenar sua senhora a lei; Aquela Alice, indômita, fora de si, embriagava-se no desejo profano que possuía a palavra morte, tanto é que a pronunciara com gosto e toques de Luxuria – Morra! Morra! Morra! – Seus olhos cintilavam por extrema ironia, e o sangue jorrara para todos os lugares, até para seu lindo rosto, mas, não se via por satisfeita... Antes que eu pudesse presenciar o próximo passo, acordei; Ainda cheio de medo, não sabia dizer se era ou não um sonho! Foi... Foi tão real. Só de lembrar, chego a ter arrepios; A sensação que tive de vê-la cometendo tal ato, me tirara a bonança por completo. - Não pode contar-me? – perguntou Helena perturbada – Tudo bem, só não continua com essa cara de pamonha. Vamos, toque a campainha. - Não podia ser você a tocar a campainha? Estou segurando mais coisa que você! - Eu sou uma dama filho. - Mas eu não sou burro de carga! Ao tocar a campainha, duas senhoras de idadeapareceu. Raquítica, uma era tão magra que mais parecia uma vassoura; vitima de osteoporose de reumatismo, andava de lá para cá com as mãos apoiada as costas. Já a outra mancava e demonstrava ter em um dos olhos certa deficiência. Sem atraso, as gentis velhinhas hospitaleiras nos convidaram para entrar. Decoração um pouco pobre, era impossível de não se duvidar que seja láou não o lugar em que fomos mandados. Sentamo-nos no sofá. Elas esbanjavam simpatia, principalmente ao nos servir chá com bolinhos;Distantes um do outro, Helena se demonstrava deveras perturbada. Saudações e conversas inúteis ajudou-a a azedar a face jaz tão irônica. - Então senhoras – Dialoguei sem enfardar –Como se chamam? O que são do Sr.Augusto? Araquítica, pausando entre diversos intervalos, apresentou-se: - Eu sou Isadora. E essa é minha irmã Antonieta:
  • 20. - Muito prazer. - Somos filhas dele. Chacoalhando o chá, pensativo, reflexionara sem um pingo de entusiasmo sobre certas inquietações. Desprovido de qualquer artimanha, voltei por argumentar: - Mais alguém além das Senhoras mora aqui? - Sim – respondeu-me Antonieta desdenhosa – Maria Luiza, minha neta; Ela é um encanto de pessoa! Querem conhecê-la? Tenho a certeza, Sr. Lucas, que vai se sentir maravilhado! - Não, não a tempo para isso – Afirmou Helena contrariada. O suor descia-lhe a testa, entregando-a para a cadeira dos réus sobre minhas suspeitas de nervosismo, eram um tanto óbvios: Inquieta, movia freneticamente os dedos da mão, suas linhas de expressão desapareciam e espremiam em teu rosto diversas vezes deixando-me enojado. Abatido por temer qualquer desavença, retruquei: - Chame Maria Luiza, quero conhecê-la. Vacilante, Antonieta gritou o nome da menina mais alto do que coronel usando alto-falante: Maria! Maria! - Quanto mais demorava mais ficava furiosa.Até que ao fitar a escada definitivamente dei-me de cara com um pedaço de gente. Tão nova, a confundira com um anão de jardim. Acho que sei por que gostam de apertar bochechas de crianças; afinal, a pele delas é tão fina e delicada, os deixando mais fofos do que já são! Nego que essa vontade tenha me atingido, porem, por impulso, necessitei apertar seu nariz arrebitado, que mais lembrava uma batatinha. Embaraçada pelos repentinos e inesperados convidados; Maria Luiza estava um tanto travada. Antonieta com um empurrãozinho acalmou sua insegura pupila, nos apresentando cordialmente. - Maria Luiza, este é o Sr. Lucas e essa Sra. Helena. - Muito prazer – saudei empolgado. Fazia tempos que eu não via uma criança.
  • 21. A jovem, encabulada fez bico, minha presença realmente lhe dava mais incomodo que bonança. O que me deixara angustiado. - Fala quantos anos você tem pro moço. - Tenho 10 anos, quem são eles? - Somos jornalistas – respondeu Helena despretensiosa. A menina silenciosa voltou seus olhos para mim: - Venha brincar comigo mais tarde – Seu pedido atrevido me deu calafrios. Sem devaneio, e, sem olhar para trás, marchou para o quarto. Maria Luiza falava como se fosse algo serio ou importante, de extrema responsabilidade, o que de fato me intrigava. - Desculpem-me por minha sobrinha – justificou a Sra. Isadora envergonhada – Ela é muito solitária, a mãe morreu no seu parto. Esta de férias, e como a gente mora em uma fazenda, todos seus amigos moram longe... Então quase não tem com quem brincar... - Entendo... - Esta tudo bem – interveio Helena, acalmando-a – Mas, agora, nos fale sobre seu pai Augusto. Meticulosa, sua flexível mão tomara entre os dedos por vez, mais uma vez a xícara de chá. Depois de um gole, murmurou entre lembranças e recordações joviais. Seus olhos entreabertos, cintilavam tal qual gotas de orvalho. Audaciosa, minha interlocutoradefiniu cada detalhe sem destreza e com êxito. Mas, por sua índole, tivemos por ela tamanha apatia. - Papai era um homem pobre, mas, pouco astuto. Emprego todos seus bens nessa fazenda, que nada de bom trouxe-lhe na vida. Herói de guerra queria passar o resto de seus dias no campo. Ele estava se tornando deveras depressivo, afinal, seu oficio não era o suficiente para sustentá-lo. Na sarjeta, ou pior, no fundo do poço, se viu arruinado por dividas... Até que uma jovem, nossa mãe. Uma chinesa de finos olhos e cabelos castanho claro. Fora apresentado a ele no dia dos namorados por um velho colega de escola. Completamente enamorados,
  • 22. meu pai se esforçou ainda mais para fazer essa fazenda prosperar... Afinal, já tinha alguém por quem lutar. - Falando no seu pai – interrompi intrepidamente; Estava consciente de que toda essa conversa não agradava Helena em nada. Como remédio para seus problemas, fui direto ao assunto: – Aonde ele esta neste momento? Precisamos conversar com ele. - Você não sabe?! – exclamou-a surpresa – Ele morreu há 10 anos. - Foi algo tão horrível que apareceu nos jornais - complementou a irmã esbugalhada. O ambiente estava hostil, para não se dizer insuportável! Helena a encarava com desprezo; Era algo em que até o mais crédulo dos homens poderia negar a possibilidade de realidade. Estava exasperada por tamanha desavença, inquieta, a cética decidiudesafiar a bonança;Seu orgulho era tanto que a corrompera com seu ego, o que de fato, condizia com seu feitio: - Ta de brincadeira com a nossa cara não é?! – exclamou-lhe indignada – Não acredito em estória de fantasmas! Então quem nos chamou aqui? - Não sei – respondeu Isadora suspirante – Nos não nos comprometemos com o jornal há anos! O ultimo que nos duas aparecemos, foi o da morte de meu pai. - Vamos embora! – esbravejou Helena, sem um pingo de sensatez. - Mas... - Mas nada! – retrucou-me – Tempo é dinheiro. Não passara 5 minutos e já estávamos em frente da porta, dei- me de cara novamente com Maria Luiza, agora, com as vestes encardidas de lama mofo e suco de limão. Enquanto Helena antecipava-se ligando para a empresa, e se certificando de dados injustificáveis; Eu ouvira um agudo sussurrar: - O anjo da morte veio, tentando roubar seu livro da vida. Sem sucesso, conseguiu levar umas paginas. O que restou, esta mal explicado, e o que se foi, foi esquecido...
  • 23. Calafrio exuberante, ao todo petulante. Nada melhor que ficar acordado a sextas-feiras treze. VI Modéstia Petulante -:- Embalsamado por distinta sensação, de tê-la entre meus braços já por certo, algo inconcebído. Inebriante compromisso. Com teus cabelos em controvérsia, dançando sobre a brisa dos sismos. Era como um poema... Mas, não era a primeira vez. Tinha a certeza, de que nos veríamos mais uma vez, minha querida Madeleine. -:- Sem pausa entre as viagens, o retorno era algo dispensável, negável perante a mente de Helena. Eu bem queria entrar em sua cabeça... Durante todo o trajeto não tinha como necessário definir sua expressão. Era certo que aquela jovem mulher, inabalável e submissa as regras de conduta consigo mesmo, estava retraída, presa ao emaranhado de expectativas que tinha para com essa nova e antiga missão de
  • 24. estampar algo excitante em uma pagina qualquer do jornal, tal qual qualquer colunista. Afinal ficou a mercê diante do espanto, mas, não desistiu do que era preciso para pagar suas contas. Após 4 horas de volante, enfim chegamos. Era uma avenida pouco movimentada. Enquanto fitávamos os sítios distraídos, lá e cá se via algunsvultos entre o breu que era a parte interna das janelas. Comparada a uma cidade fantasma, a calma chegava a irritancia. Dentre todo aquele espanto, não contenho meu cinismo, constatamos por misericórdia que o povo daquela cidade não eram nada mais nada menos que tímidos. Distinta vontade de pular argumentos, enquanto marchávamos em passos largos, à rua em silencio continuava a atormentar-me. E Helena claramente descarada, segurou minha mão como se eu fosse uma criança assustada! Podem imaginar isso? Eu tremia não nego, mas, não pela aparência da cidade em si, mas, pelo fato de que Helena estava com uma faca dentro de seu casaco vermelho. “Por que não?” dissera ela “É bom para me proteger de pervertidos como você” Não levei isso para a ofensa, até por que ao afirmar isso insultara a si mesma. Tal figura se vestia como uma desesperada viciada em álcool e produtos dietéticos. O que para uns chegava a ser motivo de sedução para mim não era nem si quer comparado a um carro alegórico caindo aos pedaços, que por menos de dois minutos antes de explodir com a fiação consegue nos transmitir imensa atração... Já a porta nos esperando, o casal se mostrava abatido. Entre estorvos da desconfiança, estes cochichavam feito malucos. O Sr. Era um moço de longa cabeleira ruiva, em terno de tecido nobre e sapatos de couro fino. Alto e gordo, o mais impactante de seu feitio era o bigode, que por vez ou outra complexado, o enrolava com a ponta do dedo para passar o tempo. Bom exagero, mas, péssima mania... Enfim, quem era aquela moça? “Me perguntara” Eu não podia acreditar no que vira, só sei que as
  • 25. feições dela estavam em êxtase ao fitar-me nos olhos. Seria essa Madeleine? - Ola senhores – saudou Helena – Devo presumir que foram vocês que nos chamaram. Estou certa não estou? - Sim – confirmou o senhor com anciã entre desespero – Sou Renato Vandorte. E essa é minha querida Adélia Vandorte. Pelos sobrenomes já da pra saber que nós nos casamos faz pouco tempo. Olhando mais de perto, esta parecia envergonhada, sem articular palavras, se agarrou ao braço do marido, que carinhosamente, lhe beijou a fronte. Eu ainda estava atônito e um tanto surpreso. Posso jurar que aquela era Madeleine! Madeleine... Minha querida Madeleine... Enquanto o ato era de conversação, eu atrevidamente recordava como a conheci... Eu tenho a certeza que tu és Madeleine! Tenho certeza! Eu que fui o primeiro a conhecê-la, dos pés a cabeça, cada vontade maculada, era uma menina precoce... E eu a corrompi desde o primeiro beijo. Disfarçada de santa nesse vestido dos anos 50 eu bem sei que ainda és uma devassa corrupta. Ainda não sei como seu marido não a descobriu. Deve de ser por sorte, e por fim mudastes o nome. - Adélia – começou Helena a interpelar – Me fale mais de vocês, desse ente querido que morreu. Nos fale por favor, esse anuncio é muito importante para o jornal. E pelo que sei, também é importante para você, já que o assassino não foi encontrado. Naquele sistemático silencio causado por tal pedido, preocupado, Renato interveio de forma intrigante: - Me desculpe interromper, mas, me preocupo com minha Adélia, acho que esse assunto ainda lhe é muito sensível. Se for possível, desejo falar por ela. - Acho melhor – opinei desdenhosamente. Ainda achava aquela encenação bastante suspeita, afinal, eu a conhecia muito bem, não tinha como ela ‘Um ser que carenciava coração’ se importar com alguém. Por isso sem hesitar lhe fincava meu olhar malicioso – Acho melhor – repeti – A Sra. mesma falar, já que é
  • 26. um assunto delicado, presumo que, contar seu lado seja mais impactante e emocionante para quem ler. Seu lado da estória pode tirar a lagrima de alguns dos leitores. Por certo, creio eu, que isso é o melhor a fazer. Quanto mais desesperada for as palavras da pessoa mais vão chocar a população. - Adélia você não precisa fazer isso... - Não tem problema – declarou a moça ainda em êxtase – Eu conto... O céu estava ficando nublado. Os pingos de chuva vagamente começaram a escorrer por minha boina e minha blusa de algodão. Quando meus sapatos começaram a ficar presos a poças de lama, e Helena a reclamar do estrago com sua escovinha; Sr. Vandorte nos convidou para entrar em sua humilde residência; Enquanto sentávamos no sofá, e a empregada o era transmitida de seus devidos serviços, comecei por examinar Madeleine: Seu rosto pasmado, suas sobrancelhas franzidas, e as pálpebras demasiadamente eclipsadas; Dava-se para garantir que a nostalgia lhe trouxera um trauma. Porém, mesmo sem saber ao certo, não conseguia levar sua desgraça ao lado pessoal, cada lagrima que derramava não me alcançava; Ainda em silencio, se pôs a apenas ouvir o assunto que gerou brevemente entre Helena e seu marido; Não aparentava e nem ocultava ciúmes, eu também não o haveria de ter: Estavam conversando sobre culinária mexicana, e se: - Por acaso haveria por lá algum bolo apimentado? - Era o que Helena indagou, até então ver que a empregada chegara para oferecer aos visitantes um gigantesco bolo de fubá, e um doce de goiaba que mais parecia uma gelatina de groselha. Dentre a chata conversação, delicada e graciosa, Madeleine expunha no rosto pálido um definhante sorriso. Não aguentando o martírio daquelas horas monótonas, a repliquei: - Vamos logo ao que interessa; Sra. Vandorte... - Me chama de Adélia – interrompeu-me vagamente. - Tudo bem – concordei hesitante – Adélia, nos fale logo do ocorrido.
  • 27. Madeleine deu um grande suspiro; Mesmo ainda, um tanto sensibilizada, conteve sua dor; Guardara bem no fundo da alma aquele rio de angustia, e trancou á chave para que ninguém fosse levado, ou afogado por aquela lamentação. Mas, como toda pessoa que perdemos é única, insubstituível, não escondeu o lamento que era o seu pesar. - Estávamos ainda em uma quinta feira a noite, dia 5 de maio; Minha irmã ligou-me desesperada, falava entre sussurros tão baixos, praticamente um murmúrio... Parecia chorar, gritar! Quem, quem a levou de mim? ‘Estou em choque!’ Dizia. Mas, pensei que era atuação, ela Sempre foi de mentir... Deus! Eu me arrependo de não ter acreditado nela! Por que eu não confiei?! Por que eu não confiei... Ao final do ato de tormenta, o marido lhe ofereceu um lencinho. - Qual era o nome de sua irmã? – perguntei curioso, e um tanto enrubescido. Cândida, a jovem respondeu enquanto limpava as lagrimas: - Seu nome... Era Madeleine. Minha querida Madeleine... Fiquei mudo. Isso eu realmente nunca poderia imaginar. -:- Madeleine... Madeleine. Estou sendo hipócrita? Era em um domingo de maio; Te chamei de desprezível, mas, eu que não mereço alivio, da minha consciência enlouquecida, que abrange a de um eremita. Todos meus erros de agora, por mais que em uma hora, eu consigo esquecer... Mas quando eu lembrar, a sanidade irei perder... O vazo de ouro, que eu guardava a felicidade, facilmente se quebrou. Assim como o anel de vidro, a quem depositei nosso amor.
  • 28. -:- - Você sabe quem era ela? – indagou-me Helena. - Não, não sei – respondi após piscaros olhos um tanto comovido. As lagrimas queriam escorrer, não há nada pior que um segredo mal guardado... Esse me ira para o tumulo. Ao virar- me para Sra. Vandorte assustei-me ao ver que ela encarava-me com antipatia, petulância ou não, neste momento admito ter sido um descarado, mas Adélia é uma copia perfeita dela! Seriam elas irmãs gêmeas, e se são, por que por acaso nunca contou- me? Eu me lembro de cada parte de seu corpo... Naquela época, o que nos unira foi a carne. Eu me enganei por pensar que era amor... E ela intolerante, prolongava aquilo tentando me seduzir; Suas mãos eram tão pequenas e delicadas, tal qual a de um bebe, nem se via cutículas; Geralmente ela aparecia por trás fechando meus olhos. Me conduzira com seus beijos. Seus lábios eram diferentes, o de cima era mais enxuto que o outro, mas, mais tentador em minha imaginação atracada. Com aqueles lábios transmitia palavras em meu ouvido que eram tão ternuosas, nem prestava atenção no que falava, só na voz, que era muito atrevida e me Dara longos e prazerosos calafrios. Pele morena e bronzeada. Era rara as ocasiões em que eu a vira com regata. Eram sempre tecidos finos e leves na sua vestimenta; Geralmente vermelho e preto faziam parte de seu estilo; Apreço ou não, por vez ou outra eu tentava fazer sua cabeça escolher usar um vestido rosa que vi em um shopping. Sua pele era alva e macia, assim como suas mãos. Mesmo que eu tenha tentando me conter, não resistia; Aquele aconchego era um paraíso, aquele corpo era o que eu desejava a cada momento; Toda vez que eu a via, me perguntava quanto tempo iria demorar para tornarmos um só?. Nossa primeira vez foi em um domingo, e hilário o fato; Foi no primeiro encontro. Jamie, outro conhecido meu de faculdade como sempre fazia suas festas nos domingos, com o intuito de arrecadar dinheiro para o sucesso de sua banda.
  • 29. O moleque se aproveitava da condição que os pais necessitavam que era sempre viajar aos fins de semana a trabalho. Para minha vergonha, e desgosto de vocês, era uma festa vale-tudo; Todavia, esse fato só fiquei sabendo por lá. Foi traumatizante, para um adolescente certinho, nerd, míope, ficar naquilo. Graças á miopia pensei que algumas coisas eram cachorros brigando. Vergonhoso, estava em meu posto fitando aqueles que chegavam. Até que ela virou-se pra mim desprovida de qualquer assunto, e me convidou para conversar. Estava tão bela: Seu vestido de linho azul, com pequenos detalhes em renda era justo, mas contornava e beneficiava ainda mais sua graciosa silhueta; Dentre suas mãos tinha expostos um de seus poucos adornos: Anéis e pulseiras metálicas, não sei dizer se eram ou não valiosas, já que nunca vira uma joia na vida; Nas orelhas brincos de argola dourados, enquanto no nariz, radicalmente deixara visível um pircing. Suas palavras me deixavam encantado , tal qual uma droga não demoraria por me embebedar á aqueladoce sensação que era tê-la ao meu lado. Inexplicável, não tem como exprimir por gestos e nem palavras, era algo tão intenso que não tinha como não suspeitar que fosse amor. Foi com ela que tive minha primeira vez... Mas, como sabem, o destino é uma roda da fortuna: Completamente irrelevante. Não tinha eu como imaginar que aquelas mesmas mãos que me acalentavam seria as mesmas que iriam um dia me descartar. Quando soube por alguém que esta me trairá, tivemos uma séria discutição, que em poucos minutos se agravara. Ela pedia desculpas, e eu com meu orgulho ferido me negava a aceitar seu insolente desejo. Disse-a que houvera morrido pra mim. E agora, sem rancor e nem ódio, ao saber que pode ter morrido de verdade, estou como petrificado, relutante ao aceitar. - Realmente Lucas – indagou-me novamenteHelena apreensiva, que sem duvidas tivera reparado meu martírio – Você não a conhece mesmo? Te conheço, você não é tão sensível a ponto de se emocionar por qualquer um.
  • 30. - Eu não a conheço. Quantas vezes tenho de repetir?! – exclamara fingindo indignação, o que deixara estranhamente Sra. Adélia perturbada; Soluçante, a jovem desventurada ainda tinha os lábios trêmulos, mas, após dar minha palavra, esta pôs- se a fixar-me seu olhar profundo e deveras lamentável. Sem conter nenhum esforço, conseguiu murmurar uma vaga frase, que me fizeram no mesmo instante agonizar e estremecer: - É uma pena – pausou ressentida -; Pois, ela amava você. VII Incompreensível Fadiga -:- Marcado, insegurado pela insônia, nos pesadelos não encontro bonança, nem em espírito me sinto logrado. Dentre tamanha solidão, a encontro em meu lado. Mesmo que sejas assassina, meu verdugo, um calvário. Por que dói e eu me vicio? Tu és minha dor prazerosa, não a trocaria por nenhuma jóia. Esta por afogar minha’alma, nas minhas próprias lagrimas. Que já tão ocultas, não são capazes de me consolar... -:- Tanta coisa me aconteceu nesses dias.
  • 31. Silencioso, estava tão preso em mim mesmo que perplexo, me vira incapaz de conseguir articulava a palavra, estava sem animo pra tudo, meus olhos inquietos e semicerrados conseguiam refletir o mais profundo da minha aflição. Graças Deus hoje é sexta-feira; Os dias que passaram não foram nada agradáveis se levar em conta minha grande pressão emocional. Sou eu o culpado por Madeleine? Euque por tanto tempo a lastimei... Não era amor, afinal, a esqueci em uma semana, quando fiz aniversário e meus amigos me levaram em uma despedida de solteiro (Demos uma de penetras; Ninguém percebeu, até por que, estavam todos bêbados) Eu só queria ter como pedir-lhe perdão. Marchando sobre a rua, agora um tanto mais calmo, sinto certa serenidade. O barulho e a movimentação são tão grandes que às vezes me despertam desse estado de transe. Não sou mais aquele que julgava ser... Quando Adélia me disseàquelaspalavras fui-me tomado de enorme pesar. Helena também se demonstrava indignada, afinal, acreditava em mim, e eu, o bom amigo, á agradecia escondendocoisas tão importantes! Imperdoável, eu sei, mas, naquele momento não tinha orgulho de mim mesmo, não sabia aonde colocar minha cara, já que eu não era digno de fitar a jovem a quem entrevistara nosolhos. E mesmoassim, parece que não me importo.Sóaflige. Por que isso não me toca? Por que sempre a desgraça dosoutros não me afeta? Mesmo um familiar meu no fundo do poço não me transmitiria tamanho desespero. Somente você... Somente você, Alice, me traz desespero.Por que sinto tanto a vontade de vê-la? Quando a encontro em meus sonhos, quase que insuportáveis pesadelos, me tornamais difícil conviver com a vontade de reencontrá-la. Talvez ela nem se chame Alice... Ela não se apresentou, somente deduzi; Tal qual a inspiraçãodospoetas, teu nome apareceu do nada em minha mente como uma formosa melodia.
  • 32. Preciso chegar ao armazém, ser pobre é ruim, não da pra ir sempre a restaurantes. É uma lástima ser um humano! Dependendo do metabolismocertaspessoas (neste caso, a mim mesmo) têm maior tendência a engordar. - Lucas! – gritou uma voz estranha e emaranhada em muitasoutras, e seu som aumentava aospoucosminuciosamente. - O que foi? – interroguei. Virei-me para traz e lancei-lhe meu olhar. Era Gustavo e Roberto, que acompanhados atrêsmulheres sorridentes, demonstravam aproveitar o agito do fim de semana como se não tivesse amanhã;estavamliteralmente “caindo na farra”. Pelo decote das moças, posso jurar que elas não é de Jesus. - Gustavo, Roberto, o que estão fazendo aqui? – perguntei, fazendo-me de desentendido. - Nosestávamos indo para uma boate, até que demos de cara com você. E ai pensamos: que tal convidá-lo para ir com a gente? Por que não! Afirmávamos. - Não, não vou não –recusei retornando a caminhar. - Por que não? – voltouGustavo a indagar-me – Você fica muito prezo dentro de casa, assim pode acabar por pegar uma doença. - Por acaso tenho cara de quem tá lixando pra saúde? - Foi mal... - Não me leve a mal – atalhou Roberto querendo impor sua convicção; Estandoafastados, astrêsmoças ficaram acenando atrevidamente para nos, uma até aumentou o tamanho do decote; Resultado, é que tivemos que continuar o dialogo numa troca de sussurrosquaseincompreensíveis – Não nos leve a mal – repetiu Roberto – Não somospervertidos. Somos homens, como sabes, todos tem seusmomentos de seca, comigo e com Gustavo não é diferente. A carne é fraca, quem é alguém para nos julgar? Não somos osprimeiros a cair na garra da tentação. Se não quiser não tem problema, não hei deinsistir. Cair nasgarras da tentação... Interessante, que palavra bonita de se ouvir...
  • 33. - Roberto – prosseguiuGustavo, mais sensato – lembre-se do que Helena nos advertiu. Não tá na cara o pra você o porquê de ele estar tão irritado? Isso é o que se chama de depressão! Perdão Lucas! Como somos insensíveis! - Eu já sabia disso – interrompeu Roberto, começando a sentir- se perturbado – Justamenteporisso que eu o convidei, o de batimento dele é capaz de acordar osmortos com tanto lamurio. Lucas – prosseguiu, direcionando-se a mim – Queria tentar proporcionar-lhe alegria! - Obrigado, mas, não to afimdesse divertimento barato. Coçando a cabeça, já era previsível sua vaga frustração. - Como quiserdes – retrucou – Nosvemos no trabalho. Acenando uns para osoutros, nosdespedimos. *** Tive muitos sonhos com Alice, osdesta semana, só estou lembrado de dois: No quarto escuro, perambulo sem rumo, tento encontrar sem esperança uma réstia de luz; Tateava asparedes, era um escuro tão escuro tal qual um breu, acho que um cego por conter maisexperiêncianessa área conseguiria melhor se locomover com mais facilidade. Nem o chão eu conseguiadistinguir. Eu ouvia gritos, corria atrás dele: Era uma voz chorosa e manhosa, mas, agonizava, como se estivesse a estripada, dilacerando todos seusórgãos por uma sedenta e insensatadiversão. Desprezível, pessoasassim não são humanas; Osgritos começavam a ficarmaisaltos, e isso me fazia sofrer!Tava lá, tremendo mais do que o celular no meu bolso quando está tocando; Entretanto, eu poderia ajudá-la, quando se é uma mulher é mais frágil de corpo, mas, mais forte de espírito, podia sentir que ela mesmo que se debatendo, tentava de tudo para continuar existir.Explorara o lugar por muito tempo, e aquela voz ainda me transtornava;Perplexo eu parei, cai de
  • 34. joelhosaterrorizado, não sabia o que fazer! Até que vi uma luz. Graças a Deus, estou sendo amparado - pensei. Em momentoscríticos como esseapelamos para a ajuda divina, entretanto, como não era real, não fiquei desapontado por ele não ter concedido meu desejo, melhor, era um joguete do destino; pensei uma coisa, momento depois, percebi que era outra. Chegueiem uma galeria vazia, não tinha móveis nem gente, mas, dava pra ver a cor do chão; era quadriculado tal qual as de um tabuleiro de xadrez, no final a voz ficara mais forte a ponto de eriçar-me o cabelo ao dar um arrepio. Sem demoras infiltrei-me em uma das seguintes passagens não iluminadas, guiando-me apenas dos pressentimentos. Todas as passagens eram repletas de portas, e qualquer porta que eu entrava não era a que eu desejava: Eu entrava em uma, depois em outra, até eu me perder. Até que guiado novamente pelo pressentimento... Era uma porta branca como todas asoutras... Caminhei devagar, não sei o por que, algo tentava me impedir de segurar a maçaneta. Tomei coragem e prossegui o que queria. Não pode ser! Não, não pode ser! Eu, não sei como explicar, não sei como definir tão espantosasituação... Meusolhosarregalados ficaram inquietos, com a mão sob a boca, segurei a vontade de vomitar, enquanto meu coração descompassado falhava em sua função, estava para sair do peito, e eu a gritar de terror. Uma boneca de porcelana, eraesse o rosto de Alice, o rosto corrompido pelosgritos de terror, eu poderia tê-la salvado? Quem fez isso com você? Seu corpo nu estavaprostrado e completamente exposto sobre a mesa; Tão chocadoestive que não quis reparar, não quis reparar, estava tão ferida, dormia tão silenciosamente. Estripada, dava para ver todos osórgãosgástricas; O sangue escorria nos fios de seu cabelo sedoso.Eu não entendo; Quanto mais a fito, maisessa dor me dói o coração. E essa dor me parece boa, não por causa
  • 35. de sua morte, mas, por que eu nunca senti tamanho desespero por alguém, sua morte também me matou. Asgotas de sangue caiam no chão e seu proporcionado som agudo era exaltador, principalmente quando desciam de seuscabelos, era um som horrível, no seu respingar me fazia contorcer e gemer. Eu ainda contemplava-aestranhado. - O que aconteceu com você Alice? Com olhos fora de orbita, me ergui em pé e virei-me para examinar o local escuro. Estremeci. Uma insana gargalhada me enlouquecia, abalado me enganara- me apensar que ela estava morta. Gargalhando feito uma louca, na escuridão, quando lhe devolvia meu olhar, por, traz, fui atingido a um golpe de pé de cabra. Era um sonho confuso, contudo, por eu não querer acreditar que ela me fez isso. O outro não tinha ar menos simpático, alguém da empresa queria pular do prédio, prestativo e moralista, resolvi por muito ajudá- lo, tentavafazê-lo mudar de ideia, mas, de nada valeu. Ele pulou. E em seguida, o céu escureceu, enquanto bebia da água de um jarro, ela se transformará em sangue, espantado, deixei a jarra cair no chão, dei um grito e todos vieram a minha procura, estavapasmado, até por que, agora, não tinha controle de meu corpo, ele não respondia asminhasações.Enfiei a cabeça naquele liquido e comecei a afogar-me endiabrado, queria lutar contra aquilo, mas, como? Aquela sensação me era horrorosa, quando já me julgava morto. Reapareci num campo de árvores mortas. Perplexo, algo me chamava à atenção: uma estátua de Buda segurando em uma dasmãos o copo de vinho. Era, era o mesmo vinho que bebi? A ampla paisagem era a de uma floresta desmatada, estavanegra como carvão, e o céu estava limpo e involupio, tudo se contrastava com a tormenta. Aquele, aquele era o mesmo vinho? - Por vezes me perguntei. Pensei em tocá-lo, mas, antes que eu tivesse cometido esse feito, a terra começou a tremer rachar! Dava para se ver dentre asrachaduras o inferno queimando em lentidão. Aquele vinho tão querido era um
  • 36. pecado? Quanto maisdesejavamais de mim se afastava, meus lábiosestavam tão secos e rachados, minha boca pedia entre suplícios um pouco daquele liquido cobiçado. E erguendo minha mão, tentando segurar a taça. Mudei novamente de lugar... Parecia alucinação. Estava agora em um quarto branco decorado com pétalas de rosa. Encarava-me com desprezo, enquanto junto a mim, lutava por aquela taça; se tornara maispreciosa de um ato para outro, semelha-se a um cálice de ouro, um tesouro. - Éissomesmo que você quer? – perguntou-me Alice. Intrigante, desta vez a jovem usavaroupasainda mais pesadas de extravagantes, da mesma cor do quarto. - Éisso que você quer? - Sim – respondia, estando emêxtase com sua presença – Éisso que eu quero. Alice ria e ria em tom nada empolgante, com o cálice em mãos, num vagaroso cuidado, despejei-o na boca. Começou a fitar-me consternada. Seusolhos eram tão profundos. Antes que eu pudesse engolir até á ultima gota ela tirou o recipiente de minhasmãos, e colocando no na boca, não bebeu; E sem demoras, me beijou. Aquilo era um veneno... Beijar os lábios de quem fez pacto com a morte. *** Prezado momento, prezado tormento, nunca antessentira tão forte quanto atracadas em minhasmãos, semicerradas que lutava por vez ou outra contra sua vontade: a vontade deescapar. Já havia comprado os condimentos. Nada melhor pra um solteiro do que jantar macarrão instantâneo; com isso não estou querendo dizer que não sei necessariamente cozinhar, muito
  • 37. pelo contrario, sou quase um mestre na gastronômica. Entretanto, o que maisnecessito agora é tempo, meu inimigo se presumeapenas a um artifício: o relógio. Cada vez mais parece desprezar-me; No escárnio do pesar, cada vez mais me afogando em desânimo. Quero mais uma vez passar por aquela rua, sei que é perigoso, já são 23h40min, e não há mais nenhuma alma viva fazendo conjunto a paisagem; Completamente deserta, era se possível escutar o vazio, o uivo bendito e melancólico aonde se encontra a presença da solidão. Chegando a rua, esta também estavadeserta.O silencio que se entendiapelasavenidas parecia uma praga ao sobrepujar o incomodo conveniente.Ospoucoslampiões e lâmpadas a gás iluminavam de forma limitada, algumas contendo defeitospiscavam ate cessar. A palavra tentaçãoestava cada vez mais tomando conta do meu ser; Euprecisava vê-la. Mais do que nunca, precisara vê-la. Como comprovar que aquela biblioteca existe? Passomuitasvezes por essa rua.Desde que Roberto mostrou-me a loja de antiguidades comecei a desconfiar que a minha visita a biblioteca HG fosse tudo fruto de uma paranoia chamada “mim mesmo”. Qualquer coisa, estou aqui agora, quase no mesmo horário, tentando comprovar que não era uma alucinação. Que aquela Alice que vi, não era uma alucinação. Acima, tinha-se visível o letreiro, que tão sofisticado julgava ser a obra de artista. HG, tudo continha o clima assombroso tal qual o da primeira vez... A diferença é que agora não tenho mais medo. Entrava no devagar passo, pausava por contemplar novamente aquele recinto tão intrigante, tãoacalentador – achava – ele em que me sentiapresente em tantospesadelos, considerava uma segunda casa. A porta se trancara sozinha, mas, não me abalara. Segui lentamente em olhosinquietos, queria observar cada e simples detalhe: Oslápis de cor não estavammais sobre o balcão, e sim dúzias de livros empalheirados.Candelabro ainda inerte,
  • 38. entretanto, luz agradável; fixando a parede agora pude ver o que antes a escuridão não me permitia: castiçais, cada qual enfileirada aprateleiras.Tinha também um quadro horrível de um gato bebendo sopa. Adiante levei meu olhar para a porta, em que se localizava a maçaneta esculpidaRosa-Cruz. - O que faz aqui? – interpelou a voz, com certa indiferença. Dando um pulo pra traz num enorme espanto, vi que ela e estavaatrás de mim. As mãos envolvidas a um lenço fitavam- medespretensiosa e inquieta. Assim como sua aparência seu guarda roupa era a de uma boneca? - perguntava-me - Pergunta um tanto precisa, afinal é a segunda, talvez terceira vez que a vejo com um vestido tão pesado; Cheio de babados e bordados de rena, no cabelo uma presilha em formato de rosa. Num vulto considerado frágil, se viasufocada entre asvestes por aquele apertado espartilho, parecia cessar-lhe a respiração, e caminhava com dificuldade. Prezo pelasminhasobservações, o silencio a incomodava: - O que está fazendo aqui? – repetiu. Não haveria o pra que de mentir: - Vim vê-la – repliquei convincente–;Proibir-me-ia de fazer isso, cara senhora? Naquele orgulho impenetrável, argumentou na pirraça: - Muito pelo contrario.Obrigá-lo-ia a vir até aqui. - E como faria isso em? –perguntei curioso, aquele joguete estava cada vez maisinteressante. Fascinada ou não, aquele aglomerado de perguntasintelectuais, deverasastutas, lhe proporcionava um enorme banquete. - Vamos para um lugar melhor para conversar – propôs Alice num amargo sorriso - Sr.Jornalista, creio que estais me subestimando. - Ora, claro que nunca! – exclamei - Vós não és nada presumível. - Estáquerendo dizer que é quase impossível seguir meus passos? – interrogou num murmúrio; Fui tomado por enorme calafrio.
  • 39. - Simsenhora – confirmei o dito – Tu és a pessoamaismisteriosa que já conheci... Semresposta, ela retornou na face aquele desgostososorriso. - Não confie em mim – advertiu com maestria– Eu não confio em você. Nãoseja idiota a este ponto... - Não tente fazer minha cabeça – redargui embravecido – serei seu amigo, se por acaso você me queimar, não estará ferindo se não, aquele que nunca mereceu tua amizade. O que disse a ela, jamaispensei em dizer para ninguém; Talvez força do hábito, pretendia deixá-la corada, mas, ao invésdisso, ela se mostravadeprimida, definhava dentre a cólera; Tentava sem sombra de dúvidasesconderàquelassobrancelhasfranzidas, e eu em lastima, interpelava-me sobre o ocorrido, fui por acaso insensível ou atrevido? Refinada, não mais espremiagestos; Prostrada em pose singular, ergueu-se em bom trato. - Siga-me – ordenousorridente. A aparente mudança de humor nada atenuou minhaspreocupações, que eram demasiadasgrandes – Por certo sabes aonde iremos. Nosso tempo é curto. - Se é curto – afirmei – Vamosaproveitá-lo ao máximo. VIII Contra Ataque
  • 40. -:- Toma aparência fraca, mas, submete-se ao pesadelo. Seria ao certo a mim mesmo, o causador do seu pesadelo? Era mais do que eu pensava. Não era só um desejo. Alice que aqui cortejo, tornastes um ser perfeito, entretanto banhado em temperança. Por acaso encontra sua transtornada bonança? -:- Apreciado local, entretanto não posso dizer o mesmosobre sua situada localização; Afinal, ao exalar a fragrância do esgoto fétido qualquer um temeria a contração de uma doença. Mas, ao vê-la já me encontrava numa doença, uma doença chamada: Perdição. O refinamento e o simbolismo contido em cada canto são de deixar qualquer um de queixo caído. Me pusera a examinargesticulosamente aquela arquitetura: Do que são feitasas cruzes? Quem decorou e pintou aquele lugar? E àquelas rosas? Antes por intimidado não me permitia tal ato, o de ficar zanzando por ai, entretanto, agora um pouco mais a vontade, faço isso tal qual um menino arteiro. Em seguida, a jovem não tendo forças pra sustentar o corpo, acomodou-se num banquinho prateado, detalhado a clamor bem vivo. - A prata veio de um velho armazenamento dosmeuspais em Zuríck – pausoupara beber um pouco de chá. - Realmente, é um lugar muito bonito – falei em olhoscintilantes – Nunca tivera visto tão bonito lugar como esse. - Estais vendo isso com o coração ou em pensamento? Pergunta notável, demorei a reflexionar. - De coração – respondi coerente.
  • 41. - Eu por minha vez – declarou ofegante – Acho este lugar horrível! - Não podes mudar de casa? - Não – respondeu-me em ar triste, tem vezes que seu orgulho parecia sumir. Quando me convenço disso, deterioro. Momentosexprimindo amabilidade e outra se mostrando tão rude... Algo a perturba. - Por obséquio – interrompiintrépido.Expunha meu senso de humor com limitadasrisadas. - Pois não? - Te conheço há tão pouco tempo, mas, estranhamente sinto-a como se conhecesse a eras – dizia em comportada seriedade –; Contudo, sei seu nome, você sabe o meu, mas, desde o começo não nosapresentamos. Efetuava-se, por assim dizer, a gênese. Da ultima vez que a vi, eu era tão inseguro e o medo me paralisava, agora, numa metamorfose, trocamos de lugar: Ela estava insegura; Com a cabeça inclinada para a esquerda, deitada sobre o ombro, olhava a sua esquerda e para mim um tanto frenética. Os lábios se mostravamsemiabertos, mas, ao ato espremia relutância. Algo a segurava, algo a impedia, não a deixava falar, o que é? Em inaptidão fiz jus ao meu discernimento: - Meu nome é Lucas– declarei com prontidão –Lucas Fernandes. E a senhora? – aqui observei: Erguendo-se da cadeira, cambaleando um pouco, entorpecida de lamurio, alisava ospilares de cruz. Sensata perguntou-me: - Posso mesmo confiar em você? -Claro – respondia – Eu nada lhe faria de mal. - Sou Alice – declarou com relutância – Alice Valmont. Curioso, hesitava, mas, tomei por perguntar: - Por que temerás tanto dizer o nome? Virando-se para mim, absorvida por certo ludibrieesclareceu: - Há coisas que os humanos não deveriam saber. E a vós não és diferente.
  • 42. Ao silencio repentino caminhava lentamente. Face faiscante, a luz da lua refletia no teto de vidro, e a atingia, Alice, seu brilho se sobressaia na sua pele alva e macia. Quieta e severa. Aquele seu vestindo rosa fosco cintilava e o pequeno casaquinho decorado com apetrechos – diamantes e pérolas preciosas – tilintavam ao som emitido por seus passosdelicados. Totalmente bélico. Gerava uma imagem que vislumbrava embevecido. Enlevada caricatura de um anjo caído. Demasiadoafligidoestava para com tua indiferença. Estavas tão fora de orbita que ao despertar-lhe não notou minha preocupação. - Alice algo a incomoda? – perguntei. E num murmúrio, em voz quase inarticulada, entrecortada, respondeu-me: - Sim... Você. Congelara. Não nego que ao ocorrido, cada palavra, cada silaba, cada letra me infundia desalento, um estrondoso tormento, o de o coração não aguentar. Aquela dor era mais forte do que eu podia imaginar.Meus batimentos redarguiam descompassados;Estava arquejante. Commais dor que ternura queria desfazer seu frio coração. Eu não me entendo! Não entendo! Por que me sinto capaz de beijar o chão em que ela anda? Por que me vejo capaz tamanha humilhação? - Por quê?– repliquei de formaarrebatadora – Por que a incomodo? Vim aqui para vê-la, eu muito me importo com você Alice... Gargalhava cabisbaixa; Cínica não fazia o favor de dizer-me. Fria, por que és tão fria? Por acaso não tens um coração? - Então... Quer que eu vá embora? – opinei em olhosmarejados de lágrimas. Desdenhosasoluçava ao responder: - Não. - Então – repeti tristemente – Por que a incomodo? Vi rolar de teu rosto uma lágrima vermelha. E aospoucos, fê-la banhar em sangue.
  • 43. *** - Por quê? – indagou-me num dócil, porém ressentidotom – por quê? – aqui levantava a cabeça triunfante, balbuciava limpando o rosto. Claramente pálida, a tensão daquele momento gerava algo dentro de mim, uma espécie de sensação incauta. Suaslágrimasvermelhas igual sangue não me afligiam, mas confesso, ao instante me abalei. Alice novamente me circundava, demonstrava-se magoada por algo que sem saber fiz. Minha querida dama, mais uma vez parece ameaçar-me com a oculta morte. - O que foi? – perguntei – O que eu a fiz? Fixava em mim presa á seuspensamentosinsanos. - Me fale, por favor, Alice – clamei-lhe desesperado – Por favor, não me torture mais com seu silencio. - Como assim tortura? Você não conhece a verdadeira tortura Lucas! Você não a conhece, eu vivi sempre nela. Eu vivi sempre nela... - Por que a incomodo? Lacrimosa, a cândida suplica fê-la cair de joelhos no chão. Cabisbaixa, deixava-seainda banhar pelo sangue. Aquela paisagem me intrigava. - Sei que você não veio ver-me. Sei que não veio, foi justamente por causa de uma matéria! E eu por mais que seja capaz de supliciar alguém, por mais que eu seja capaz de matar... De matar? - Por mais que eu seja capaz de matar – retornou a dizer voltando-se a mim – Não consigo fazer o mesmo com você. Você me lembra alguém em especial... Pasmo com a revelação de seu incomodo, cai de joelhos ao seu lado, atrevi-me a abraçá-la. - Não fique assim Alice – dizia apoiando teuqueixo com meu dedo – Eu não vim pela matéria, vim para vê-la. - Eu não acredito – replicou.
  • 44. - Eu não me importo se não acredita. Mas, quero que saibas: Não seria capaz de fazer qualquer coisa que a magoasse. Desaguando de emoção. Aquela frase era uma benção ao seu coração aflito. Minha pequena você aqui aos meusbraços... Faz com que eu me sinta mais forte e capaz de proteger alguém que não seja a mim mesmo. Ao meu ombro, pode chorar o quanto quiser. - Passou, passou – dizia tentando acalmá-la. - Você acredita não é? – perguntou-me melancólica – Acredita que eu passei por muita coisa não é? - Sim – respondiafetuoso. - Você vê sangue sair de meusolhos? - Sim – respondi de certa forma, perplexo com a indagação. - Tenho medo de um dia odiar-me – confessou. - Nunca! – objetei emmaestria – seria como teu servo, aonde quer que forestaria ao teu lado. Desde o dia que eu lhe conheci Alice, não tenho mais sossego, nosmeus sonhos só vejo teu rosto, e ao fitar o céu, vejo desenhado teu nome. Por favor, nunca me prive de vê-la. Deixe-me ser como seu irmão. Cândida expôs um sorriso. - Sim – respondeu – Quero-o como um irmão. IX Brando Entorpecido Pensei que demoraria o próximo encontro. Afinal, perante o pacto estamosligados. Não á como fugir deste poder oculto. Estou prezo a ela como a um imã, não importa ondeestiveriríamos nos encontrar, mesmo que em outro lugar.
  • 45. Aquele dia á tive em minhasmãos tão debilitada, não queria admitir mais, queria prolongar aquilo. Tê-la aconchegada em meusbraços, mesmo que imunda pelo sangue me transmitia paz, paz que aquele momento silencia, e abre a beldade, o canto bélico de nossasalmas, um final danoso e poético. Agora estou aqui, tremulo e ofegante na minha camaquente Até que enfim, com osolhos abertos... Foi mais um pesadelo, ciente disso suspirei num alivio. Lá – no pesadelo –Asimagens desbotavam, e aospoucos fui me apresentando como protagonista de outro lugar. Estava chorando, minha voz era de um tom diferente da atual, era fina como a de uma mulher. Eu me contorcia e gemia. Estavanumquarto de hotel, e tentava escapar. Extasiei, eu era uma mulher, ao tocar meu vulto percebi a diferença, o que me deixou muito sem jeito, constrangido. Estava transando contra minha vontade. Aquele homem puxada meu cabelo sempre que eu tentava correr em direção da porta, e bruto, empurrava-me com toda a força na cama de lençóis turco. De costas gritava aosberros, enquanto segurando meusbraços fortemente, com o membro ereto pulsava por penetrar-me. O serviço devia ser bem feito;Repetiu-se o ocorrido maisduasvezes, e ele enfim parou. Penseiser uma prostituta, mas, ao fitar meuscabelosnegros os reconheci como o de Alice, os da minha Alice... Estava de costas para mim enquanto se vestia; Em olhosorvalhados, alisava minha pele; sangrava minhas partes intimas;Essa seria minha primeira vez? Ou quem sabe a primeira vez dela? Remexendo-me de lá para cá, mesmo que eu quisesse, agora não conseguiria dormir. Tal sonho foi demasiadoasqueroso, sentia na pele cada gesto malévolo. O homem não tinha pena, nem se compadecia de minha tormenta. Fiz de tudo para não fita-lo nosolhos. Pior de que todos os sonhos, estenão foi assombroso, mas me acarretara num trauma. Quando olhava meu quarto vazio procurava o sujeito, temia que ele fosse real. Alto de
  • 46. ombroslargos, naquele momento não tinha como eu me proteger. Mesmo aparentando alguém velho tinha cabeloscolorido ao invés de grisalhos como o de meu pai. Essesonho poderia significar algo? Poderia significar? Foi horroroso, foi, foi, foi desumano! Tem que significar algo por tamanha podridão! Mas, se por acaso ter sido real – o que mais calmo agora duvido - não conseguiria fazer um retrato falado, por que cerrava os olhos, fazia questão de apertar forte as pálpebras sempre que deparava-me com seu rosto. Dentre tamanha exasperação, esperando que meu coração obstinado desacelere, tinha algo que me acalmava: Recordar do ontem à noite. Aindalembro-me daquela noite, em que eu procurava seu aroma pelo ar: estávamos ainda naquela posição, quando ouviu-se o bater da porta “toc, toc, toc”; Acarretara-lhe uma mistura de pavor e transtorno. - Lucas, acho melhor ir – dizia – Meu mestre e meu senhor chegaram. - Promete mesmo que a verei em breve? - Se você não vier, darei um jeito de ir até a você – e em seguida abrindo aquela mesma porta -;tchau. - Tchau – repeti já lá fora. Beijar-lhe-ia sua bochecha, entretanto, percebendo meu ato virou-se batendo a porta em minha cara, num barulho estrondoso. Não fiquei lá por mais tempo, mas, presumia que esse barulho foi demasiado suspeito aos carosfraternos. Estonteante, sua imagem me deixaentorpecido. O sono não vem; E aqui nesse quadro brando teu suspiro; E lamento não contemplá-lo. Alice queria esquecê-la, pois já não consigo me concentrar em algo que não seja seu nome. Se não a tivesse conhecido não sofreria o pesar desses pesadelos. Será que tudo não passa de alucinação? Como é possível? Uma cidade tão grande e ninguém perceber aquela biblioteca aberta no meio da noite?
  • 47. Seja o que for, tanto faz. É sinal de que já acostumei-mea ilusão. *** Aspoucashoras sem tua presença foram degustadas com certa amargura, não tinha animo, ao segurar em um lápis, ao usar minha maquina de escrever, não tinha cabeça. Meu chefe de mal humor veio dialogar com gestospejorativos, e meusamigos sedentospela noticia, conversavam numa correria de lá para cá. Eu estampavacinismo diante de tanta empolgação. - Ei, Ei – dizia, repetira mais uma vez até perceber sua presença. - Gustavo? - Não a vovozinha – retrucou contente –Não vai pegar nenhuma matéria? Há muitasmissões no ramo da jornalia. - Não sei não – declarei em mal grado – Penso até em demitir- me. Não consigomais me relacionar a aqueles a minha volta.Me sinto mal... Venho tendo sonhos estranhos... - Você já conversou com sua mãe? Proponho que viajeclamando estar com altos índices de estresse e issoesteja afetando a sua aptidão no trabalho. - Maltenho dinheiro para sustentar-me, imagine para viajar! - Veja pelo lado bom – replicou otimista – Existe gente pior... - O que está querendo dizer com isto? - Veja por exemplo Olga da área administrativa: Ganha bem menos e está para ter um bebe. Surpreso pela noticia indaguei: - Já falou quem é o pai? - Não – respondeu-me – Mas, aquela moça; Acho que nem ela mesma sabe quem é o pai. Com tantos que essa pirigeti ficou... Agora vai ter que arredar o facho. A noticia me surpreendeu em tamanha intensidade que gritei por dentro. Tal moça também passará por minhasmãos. Sou
  • 48. novo demais pra ter um filho. Enquanto a fitávamosprosseguimos. - Desconfia de algum sujeito? - De Roberto – respondeu–Ele pegou essa mulher semana passada, fim de semana. Numa boate de estripes. A vontade de rir foi tão grande que timidamente gesticulei, e influenciado pelo meu humor, também caíra na gargalhada. - Qualé a graça Lucas? - Vocêsdois não perdem uma – declarei. - Também não haveria de ser diferente! – exclamou empolgado – Tu és uma pessoa muito discreta – observou ele – percebi isso faz algum tempo, acreditava que faltava pouco para você se converter a padre. - Que isso! – afirmei em gostosarisada – Tive e terei meus dias de virilidade. - Com quantasmeninas já ficou? – indagou-me num ar curioso. - Quatro. Roberto estava bebendo um coquetel e ao escutar, engasgou; quase teve uma overdose de tanto cuspir, julgava que ele iria vomitar. - Quatro? - Simissomesmo – confirmei. - Isso eu consigo em menos de uma semana – pausara orgulhoso, e convicto de si -Você tem que sair comigo e Roberto maisvezes. Eu concordo com ele; Você tem que divertir meu amigo, acho que isso é o causador do seu estresse, falta de mulher, falta de brincar com asamiguinhas... - Talvez quem sabe –respondi meio enojado – Quando tiver me afogando no tédio... - Que tal hoje? – propôs. - Acho que tanto Roberto quanto Helena tomaram raiva da minha cara - esclareci. - Que não seja por isso! – exclamou em atitude – Nós quatro somos presos um ao outro que nem casamentodepois do
  • 49. divorcio. Está prezo pelosfilhos, e nestecaso, é a lembrança dostemposbons e prazerosos na companhia um do outro. Concordava fielmente, mas estranhava sua comparação. E ele num largo sorriso continuou: - Ou isso ou viaja pra a casados seuspais. Querendo irritá-lo declarei: - Então acho que vou pra a casadosmeuspais. - Se eu o tivesse conhecido você hoje, eu ficaria longe temendo que você fosse gay. - É quem sabe – retomando o ímpeto de irritá-lo – Eu vou e me visto de Bela do Crepúsculo e corro atrás de você fingindo que é o Edward – complementei numa sacada de mestre: Um sotaque de taquara rachada fingindo-se um mexicano meio asiático. Tendo crises dentre asgargalhadas, tentamosnos conter. - Melhor a gente voltar ao trabalho. - Concordo. - Se não – dizia Gustavo coçando a orelha – Helena vai pensar que noista no bem bão. E nois num ta não diacho! X Mais uma Missão Meu trabalho é uma missão que me dou o luxo, ásvezes, aproveito para dar uma de turista. Desta vez iremos fazer uma espécie de documentário sobre a poluição daspraias. Minhasolheiras doem tanto... Desde aquele pesadelo, do meu ultimo pesadelo, era de se esperar por noites de insônia. Não estouusandoos óculos escurosapenas pela radiação do sol, mas, sim pela sensibilidadecausadoradisso em meusolhos.
  • 50. Nunca si quer falei muito desta cidade, até por que, ela não durara muito... A cada passo o mundo cai medianamente no caos. Ao fundo do poço, haverá sempre um gritando por socorro, e no meio disso, será incorrigível o delito, ninguém ouvira suas clemências, deixar-lhe-á levado pelas chamas cálidas que é a magoa. Souapenas uma recordação distante da temperança. A mudança causada pela justiça divina. A de lograr a divina tragédia. - Enfim chegamos – anunciou Roberto entusiasmado. Diferente de mim estava completamente caracterizado para a ocasião – Amo meu trabalho. - Eu também – declarei – mas acredito que nossasrazões são diferentes. - A se é... – contorceu-se confirmando minha observação: A praia estava cheia de mulheres, homens e crianças. Principalmente mulheres, devia de ser o que Roberto se concentrava. Avista do mar encontrava-se em indefinível contraste com o sol, asfolhasdas palmeiras oscilavam com a breve brisa. Que bom era o cheiro do churrasco assado sem nenhum cuidado, ou sem si quer um cuidado com osdetalheshigiênico. Mesmo ainda a beira, a sujeira me era visível; De que adianta bronca! Sempre achei que qualquer tipo de poluição devia primeiro ser aceita pelosgovernos, de que adianta coleta seletiva se nem todos tem acesso a isso? Tudo depende do governo e suasmajestadesimperiosas. Continuava-se a contorcer-se e eu incomodado perguntei-lhe: - Estais bem? - Estou sim – Roberto respondeu brandamente – É que estou de olho naquela jovem de maiô vermelho, estais vendo? Luto para concentrar-me no trabalho. - Compreendo sua situação. Sequiserisso – sugeri respeitoso – Posso fazer boa parte do trabalho sozinho. - Tem certeza Lucas? – Roberto podia muito bem ser um cafajestes, mas, não era um canalha. Oras qual a diferença dasduaspalavras? Tudo depende de sua interpretação caro leitor,
  • 51. não seria, por acaso, apenas uma forma de expressão – Eu não quero abusar da sorte. - Pode ir – confirmei sorridente – Pode correr até a moça, azará- la. Espero não está fazendo algo terrível, aliciando uma moça desse jeito... - Ela vai me perdoar – foi só dizer isso, que correu em sua direção tal qual um vira-lata sendo induzido pelo olfato a experimentar um hot-dog. Espero que ele também me perdoe. Por acaso poderia não conseguir me concentrar... Assim como ele, tenho uma distração. Mas,está é muito maisnotável, quaseincompreensível pela natureza humana em sua tendência enigmática. Reparam-me os banhistas perplexados: Aqui sentado na areia abrasadora, até com tênis nos pésestou. O ar também é quente, segurando meu caderno e meu lápis, costumei-me a anotar qualquer simples detalhe. No caminho da perfeição, é meu dever abordar certas persoinhas no intuito de suas sabiasopiniões compreender, e assimmostrarváriasfacetas, váriasopiniões, enriquecendo meu trabalho tal qual obra artística. Por isso, leio, para aumentar meu vocabulário. Roçando os cabelos que ondulavam ao vento; Ria com a jovem de forma bastanteentusiasmado. Louro de olhosazuis, não há mais o que falar sobre seu grande sucesso com asmulheres;Neste perfil estereotipado de galã de novela seria o homem perfeito para casar e constituir família – deve ter sido o que Olga pensou ao engravidar. Será que por acaso ele sabe? – Seu corpo atlético e avantajado não foi gerado por academias, Roberto mal levantava um dedo, em sala de aula tinha preguiça até de segurar o lápis; Foi graçasà genética que foi capaz de dar esse rapaz aparência genuína:Ombros largos, postura ereta, queixo fino e costeletasaparentes. Diferente de Gustavo que virou esse malandro após uma decepção amorosa, Roberto sempre foi assim. - Lucas, já conseguiu terminar a matéria? – perguntou-me preocupado.
  • 52. - Ainda não – respondi – Falta ainda umasduasentrevistas. - Não se esqueça que ainda temos de ir a maisduaspraias – equivocou em grande lamento. A moça estava em sua companhia, aparentemente se incomodada pela atenção renegada a ela nosnossos poucosminutos de conversa. - Não, não me esqueço – respondia – Vamos dar nossomáximo para isso. Ao sorrir, deixouexpostoos dentesbrancos. - Desculpe, preciso apresentá-los: VanessaLucas, LucasVanessa. Era uma moça de corpo esbelto, mas, não fui com a cara dela. Fazia aquele bico e cara feia de quem olhava-nos de cima para baixo fazendo assim pouco casodaqueles que nos rodeia. Cabeloscacheados num tom claro de castanho era uma negra realmente muito bonita. No seu pequeno maiô, assim como de tantasoutras de onde vivo, num azul pincelado, trasbordavanas suasfeiçõesgestosfemininos, entretanto atrevidos com seu jeito vulgar. - Muito prazer – disse cortês, apresentando-lhe a mão como saudação. Cumprimentou-me, após em seguida, nada discreta fazer uma pergunta comprometedora: - Roberto anda com pessoas desse tipo? - Como assimdesse tipo? – indagou-lhe indignado. - Oras! Seu amigo estas completamente de terno! Nem os sapatos tirou... - É mania – redargui semisóbrio – Minha preguiça é maior que minha temperatura térmica. - Temperatura térmica? Ele é o que? Um nerd? - Ele pode ser qualquer coisa – retrucou Roberto agora um tanto furioso – Mas se pensas que vai me fazer ir contra ele estais muito enganadaVanessa. Se tem algum problema com isso pode ir, a fila ainda é demasiado grande. E que fila! A fila de espera pra aquele garanhão era grande demais, nestadisputa, Vanessa não iria apenas lutar com
  • 53. piranhas, iria lutar também com galinhas, vacas, e emcertas ocasiões santinhas ingênuas que ainda ganham bonecas de natal. Tendo em conta isso, a moça não deixaria de lado tal partido, assim como outras peruasdesejava se mostrar pela praça asamigas indecentes, exibindo-o como se ele fosse uma nova marca de automóvel. Repugnante. Calou-se, mal ela sabia que estava cometendo o maior erro da vida dela: Aquele em que acabaria por ganhar dois pares bem grandes de chifres. - Não precisa ser assim Roberto – complementei – Não é só ela quem está notando minha estranheza. - Eu te conheço á 10 anos – adiantou-se em pausa radiante –; Se a moça com quem eu desejar casar-me um dia não aceitar sua estranheza como eu estranho a chuto pro toco. A expressão por ele utilizada fez-me cair no riso, e provocada Vanessa saiu correndo pela praia. - Aonde ela vai? – perguntei tentando me conter. - Sei lá – respondeu Roberto sendo contagiado pelo bom humor. - Desejarámesmo se casar? Tendo ouvido a pergunta virou-se para nós no intuito de escutar. Outro grande erro da vida dela que não vai olvidar. A travessura implícita que fizeram com ela. Cena surpreendente: A de derrapar na areia ao escorregar numa casca de banana. Ria com pena, enquanto frustrada saia em sua cara de deboche. XI Esforço Exaustivo Naquele esforçoexaustivo, ainda continha muitashorasvagas; passavahoras e horas fazendo meu robie favorito: ler Mangá. Leio de tudo, desde uma revistaa um livro, de um gibi a um
  • 54. Manhwa, sempre acompanhado de um gigantesco pote de doces. Aqui ainda no dossiêdaspraias, me contento com quatropotes de sorvete, todos de chocolate. Amar chocolate tem suasvantagens e desvantagens, entre asquais, desconheço, a única coisa que me importa saber é: se é feito pela Cacau Show. Chocolate foi à melhor invenção feita pelos humanosdepois da cadeira elétrica. Sefosse eu quem a tivesse inventado colocaria um ovo pra ver se queimava, ou melhor, fritava. Já estaquase tudo pronto, falta ainda umasduaspraias – contando com está, pois só falta nós dois começar. Roberto saiu, deduzo que seja pra além do fato de querer pegar todas, tentara as pazes com Vanessa. To aqui tomando meu MilkShaike, no bem bão, nada mais pode tirar minha tranquilidade. - Senhorestranho? Estava de olho num jornal quando essa voz fininha me apareceu, pensei que era coisa da minha mente, por isso continuei a ler sem necessitar depausa. - Senhorestranho? Ao se repetir, abaixei um pouco o jornal; Percebendo que não era somente minha enorme imaginação cai no susto! E pior, cai da cadeira. Desengonçado e ainda confuso, aquelespequenos vultos fitavam-me preocupados. - Sim? – perguntei. - Senhor – começou um menino aparentemente aflito – Eu sou Nando e essa é minha irmã Jozi. Você é jornalista não é? - Sim – confirmara o dilema – Por quê? - Nosso pai sumiu – continuou a menina visivelmente abalada – Por favor, nos ajude a encontrá-lo! - No mínimo coloque um anuncio em seu jornal – complementou o menino. Ficara intrigado com o que me pediam, até por que, mesmo que eu quisesse não dependia de mim a permissão. Mas, aquelesolhosclementes me doíam o coração. Eram crianças tão novas, que a resposta mal me cabia a mente.
  • 55. - Não depende de mim tal permissão. A mãe de vocês sabem que vocês estão aqui? Hesitante respondeu-me ressentido: - Não temos mãe senhor, ela morreu faz muito tempo. - É por isso que estamosà procura de nosso pai. Ele é que esta como nossa custodia, e sumiu faz um bom tempo. Engoli ar ao invés de sorvete. Parecia que não queria descer da minha garganta, ficava entalado e me incomodava, meu psicológico também ficara afligido. - Por favor, senhor – a menina suplicou dentreolhoscintilantes. Dentro deles dava para se ver o reflexo da importância, algo que muito menosprezo, mas, diante de delicada criatura, como é asdóceiscrianças me dói algo no peito. Aquela jovenzinha tinha a pele rosada, no cabelo o penteado de duas trançasamarradas em fitas de náilon; E tinha no rosto um sorriso bonito, mas, momentaneamente ocultado pela tristeza. O menino, em seus doze anos, aparentava ser o mais velho:usava um chapéu de palha e macacão azul. Assim como ela naquele olhar nostálgico e castanho, como se quisessem me marcar num laço secreto. Dentre vago silencio atalhei: - Vou ver o que posso fazer, só não garanto nada. Soujornalista, vou ver se aceitam que eu coloque algo sobre isso nosjornais. Mal sabia eu, mas, em meu país aumentara o número de perdidos de maneira e forma surpreendentes, sobrepujava-se assim minha inquietação. Insistência ou não, para mim era algo a ser pesquisado, seria meu caso seguido desse, contudo, boa parte doslugares em que eu estava, seguia-se de dados comprometedores. Não posso comprovar todas as situações, mas, me comprometi devidamente para com Jozi e Nando. Demonstraram-se visivelmente alegres para com minha resposta, algo que não pude evitar.
  • 56. *** - Fiquem aqui – pediaaospequenos – só vou informar isso a um amigo meu. - Ta bene – concordaram em coro. Passando pela movimentada rodovia, e marchando em passoslargos adoisquarteirões, pisei nesta areia branca mais uma vez. Com o braço acima dosolhosconseguiavistar meu amigo. De conversa com um grupo de cinco garotas: uma morena, uma branca, uma mulata, uma negra, e outra parda; O sujeito viu nisso uma razão de expor mais do que nunca todo seu charme. Nunca entendi o racismo, não entendo o machismo e nem tão pouco o feminismo... Todos tem osdireitosiguais! E Roberto parecia entender isto esbanjando compreensão:A praia, o casodaquelasmeninas não foi diferente, todasestavam ganhando sua atenção igualmente. Ao notar minha presença chamou-me: - Lucas, venha cá – e acenava com mão direita. Fui-me, não contradizendo ao seu pedido. - O que aconteceu? – perguntou-me – Pareces chateado. - Roberto tu tens de fazer o trabalho com essa segunda praia sozinho. Pode por favor? - O que esta acontecendo? - Deve ter encontrado uma garota – interrompeu a parda. - Realmente – concordou a branca em olhar malicioso – Não tem como um pedaço de malcaminho como o você... - Não me entenda Mal – retruquei irritado – Vim a trabalho não para conversar. - Ui – falou asoutras no bom tom. - Então por que viestes? – perguntou a branca curiosa. - Roberto quero pedir-lhe licença, encontrei duascrianças que dizem ter perdido o pai, e estão muito desesperadas. Querem que eu faça uma matéria sobre isso. Indulgente adiantou-se:
  • 57. - se é isso, não tem por que eu não dar-lhe uma mãozinha logo agora. Teu caso é muito mais serio que o meu. Pode ir, que eu assumo o serviço. - Obrigado. Voltando a sorveteria, uma dascrianças interpelou: - Como foi? - Foi bem – respondi a Jozi – Vocês tem alguma foto dele? - Temos mas, está em casa. - Então tratamos de ir lá agora mesmo. É muito longe daqui? - Édois bairros seguidosdeste. - Fomos a policia comunicá-los, mas, não acho que vá se adiantar somente com isso – complementou Nando. Calei-me um pouco. Diante meu raciocínio não se deixaram a mercê das falsas expectativas. - Vamos ter que ir de carro. Dito issoosolhos de Nando brilharam. - Vamosmesmo de carro?!! - Sim – confirmei, não entendi a tamanha surpresa por algo julgava tão trivial. - Nunca andamos de carro antes, eu e Jozi o máximo que fizemos foi ter andado duasvezes de ônibus! É meu sonho me ver dentro de um! Aquela empolgação além de me empolgar me sensibilizava. A menina pulava de alegria, parecia que suas tranças iriam voar, e Nando levantando erguendo asmãos para cima sonhador, parecia imaginar-se como pilote de corrida. - Nós vamosmesmo, mesmo,mesmo andar em um carro? - Claro que vamos! – afirmei alimentando ainda mais a alegria da criançada – Mas, tenham paciência. Eu ainda não tenho carteira. Vou lá chamar Roberto de novo. Antes de sair da sorveteria de deixá-los sozinhos, recordei-me: - Ô moça! – chamei a dona do estabelecimento. - O que deseja? – perguntou moça que estava debruçada no balcão.
  • 58. - Vou ali e já volto. Deem a essascrianças o tanto de sorvete que elasquiserem – peguei uma nota de cinquenta reais que tavaescondida em minha carteira, e joguei no balcão. - Podemosmesmos? – perguntou em coro. - Émelhor gastar o tempo comendo do que esperando – afirmei gentil. Não sou rico nem pobre. Pagar meusvícios me era algo penoso, mas, parece que para àquelascrianças, foi-me algo que só de fitar seus sorrisos, já basta para dizer: Valeu a pena. *** Ao carro cochichavam de forma sorrateira. - O que é que estão falando ai? – perguntou Roberto olhando no retrovisor. - Estávamos aqui conversando – dizia eu - e Jozi acha você bonito. - Não, não acho! – erguia-se em pé na tentativa de se defender. E concordando comigo, Nando continuava: - Acha sim, acha sim! Ela corada e irritava, deixar-nos-á cair na gargalhada com a carinha fofa que ela fazia quando ficava emburrada. - Que menina encantadora é você! – observou Roberto amavelmente – se fosse pra eu ter uma filha iria querer uma igualzinha a você. - Verdade? – indagou á jovem, que parecia aspirar tal idéia. - Sim – respondeu. - Você já pensa em filhos? – perguntei a Roberto. - Um pouco, ás vezes – confessou - Mas, aposto que eles reclamariam de tempo. - Eu não iria me importar com o tempo se minha guarda estivesse com o senhor.
  • 59. O resto do trajeto prosseguiuassim, silenciosamente. Uma hora ou outra ascrianças e eudialogávamos assuntosinocentes, entretanto, ele continuou lá, quieto. Pelo retrovisor notei naface de Roberto uma lagrima rolar; compreendendo o porquê, não o quis incomodar com um perguntar. Entramos na rua. Notamos rapidamente que se tratava de um lugar pobre em todos os sentidos. Era uma casa muito pequena. O mato crescia a vontade dentro dela, brotando do chão de areia escura. Sem pintura, nem tão pouco reboco, via-se rachadurasnasparedes e goteiras no teto. Não se havia portas, a única, a da frente, tinha a maçaneta quebrada, e qualquer hora poderia passar um ladrão e roubar o quase nada que restava por ali. Eram cômodospequenos e apertados. A mobília era pouca, somente ascamas serviam como assento. Sem pedir licença, abri a geladeira. Petrificado, percebera que o que temia se generalizava: Não quase nada ali: só uma vasilha de feijão e um saco contendo poucas batatas. - Moram mais alguém com vocês? – perguntei. - Sim – respondeu Nando – Ângela, nossa irmã mais velha, de dezesseisanos; Elata trabalhando de lavadeira desde que papai sumiu. E também a Eduarda que está no quarto ao lado. Levantando a lona que servia como porta, entrei num quarto escuro e úmido, enrolada a unsdoiscobertores, tinha-se visível um corpinho frágil, ofegante. Aparentava arder em febre; - Minha irmã é linda não é? - comentou a doente notando minha presença. - Eduarda tu ésmais bonita que eu – disse Jozi em desalento. Agora fixa a mim: - E tu, quem és? - SouLucas umJornalista – respondia. Roberto não estava mais entre nós, ele mal deixou-nos na porta e já saiu. Parece que ele já previa o que se sucederia. Neste oficio vivenciamos de tudo. Não é a primeira vez que lido com gente nesta situação, tanto é que consigo segurar a cachoeira de meusolhos para não desaguar. Eduarda sentou-serecostando e
  • 60. ajeitando-se ao travesseiro; Carinhosa, chamou Jozi a sua frente. A pequena deitou em seu colo, e Eduarda, transmitindo carinho semelhante ao de uma mãe a acariciava, vez ou outra beijava sua cabecinha. - Então, tu ésjornalista? Vai ajudar eu e meusirmãos na procura de meu pai? - Issomesmo – confirmei. - Nando, pegue uma cadeira pro senhor. Sem nada gesticular foi correndo fazer o pedido da irmã. Não era uma cadeira, era na verdade um caixote de madeira. Doía como eles contentavam com tanto pouco. - Não repare a casa por favor. É que somos muito pobres. - Tudo bem – tranquilizei-a – Não é isso que me preocupa. - Vai mesmo ajudar-nos? – repetiu esperançosa. - Sim. Por acaso tens uma foto do pai de vocês? Remexendo a gaveta de uma pequena cômoda, demorou mais encontrou: - Serve está? É dele e da minha mãe. Entregou-a á mim, e com ela em mãosexamineiminuciosamente. Tossira enquanto dizia: - Foi no casamentodeles; Minha mãe era tão bonita... Concordei com um mexer de cabeça. Na foto mostrava o casal sorrindo ao lado de uma arvore da igreja. Mesmo sendo a noiva, trajava vestes tão simples: Vestido de pregas acompanhado de um véu sem tiara. Mesmo em preto e branco,na foto está mostrava-se muito formosa. Ao lado, o querido marido. Magro e alto, de bigode e cavanhaque possuía olhosgrandes e profundos, oscabelos eram cacheados; sorria também, no terno humilde a gravata ser-lhe-ia um apetrecho benévolo. Naquela época longínqua aparentava-se que o amor verdadeiro existia. Hoje as mudanças do mundo fizera com que perdêssemosessa confiança, a de um verdadeiro amor, fizeram- nos crer que isto era loucura dos romântico, mas, não é esta a realidade.Quantoscasais jáhonraram o “até que a morte os
  • 61. separe?” Pelo que havia me falado Nando, o caso dele foi muito além, desde a morte da esposa, um cinco anosatrás, ele continuou fiel a ela, entretanto com o salário mínimo não conseguia sustentar a todos e lastimávelentregou-se nas graças da bebida. - Me arrume outra foto, por favor – pedi – Aqui ele aparenta muito jovial. - Verdade – concordou Eduarda serenamente– Mais uma vez revirando a gaveta. Me entregou outra mais recente, a de um ano atrás. Nele mostrava senhor Sergio – pai dascrianças – entornando um copo de cachaça. - Está serve? Adiante prontei-me a pegar meu bloco de notas, anotaria cada palavra daquela menina. - Sim. Quanto tempo está sumido? - Faz 3meses. - Está bem... – levava no pescoço uma maquinafotográfica -; por favor, fiquem todosjuntos um do outro. - Vai tirar uma foto? - Sim – respondi – quero que além de mim, outros se compadeça de seu caso. O resto da tarde passei aqui. Anoiteceu e voltei de apé para casa. O que estavapassando por ali, era mais serio. Jornalistas, acima de tudo, devem de denunciar asdificuldadese injustiças humanas. XII Fria e cruel
  • 62. - : - “Só eu quem presenciou, o céu queimar na escuridão, e brilhar diante dos pagãos, na terra maculada em lagrimas.” Essafrase você dizia num tom agridoce. Lágrimas dezenbalssão no medo. Estranho, amava a sensação de poder chorar de felicidade. - : - Antes de chegar em casa, decidi visitarum lugar em especial... Mais bela que nunca, enfim, o terceiro encontro. Amante da morte, só Deus sabe quanto te quero bem; Nutro por ti um afeto que me conduz a subir montanhas. Entretanto, voltara a ser rígida e fria. - Veio ver-me? – perguntou em tom amargo. - Sim – respondi – Não há problema nenhumnisto não é? Optou por um silencio magistral. Andamos pelo mesmo trajeto. Desta vez, dura como pedra, mal dava para ver dentro de ti, só espremiapalavras que feriam. Estava com uma vestemais simples que a de antes. Se nunca tivessepassado por uma loja de artigosfemininos julgaria que estavas em uma camisola.Mas, minha Alice, ela não é disso. Não era, era discreta como eu, e recatada, não faria esse colosso que é deixar a minha pessoa vê- la com roupasdesse porte. Fixava em suaspernas, pareciam doispalitosmagros; Expostosassim, não tinha vergonha? Meu rostoficavabrevemente corado. - Fiz um chá hoje, quer experimentar? – indagou Alice leviana. Conhecendo-a bem, era um tom traiçoeiro, ao supor que poderiadeixar-me cair na armadilha, pesaroso recusei: - Não obrigado. Pra que eu fui dizer isso?