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A Literatura Infantil e seu poder de formar leitores
                               Márcia Cristina da Silva Souza


        Resumo:
                     Este trabalho vem mostrar a importância da Literatura Infantil em
desenvolver a criatividade, os sonhos da infância; tem o poder de suscitar o imaginário,
responder a tantas perguntas, ampliar o mundo da criança. A Literatura é ímpar, não só
como uma forma de leitura, mas como uma obra de arte compreensível para a criança
como nenhuma forma o é, como acontece com toda grande arte; o significado mais
profundo será diferente para cada um. A criança extrairá significados, dependendo de
seus interesses e necessidades do momento. A Literatura conserva as crianças para a
infância sem forçar a natureza, sem provocar o amadurecimento artificial desse fruto
delicadíssimo que é a alma infantil. Quanto mais oportunidades tenham de ouvir, ver,
sentir leituras alheias, maior será o desenvolvimento da leitura e da escrita, pois é
através da Literatura que a criança se relaciona com o mundo.


Palavras Chave: Literatura. Fantasia. Criatividade. Instrução. Desenvolvimento
Amplitude.




Abstract:
              This work has shown the importance of Children's Literature to develop
the creativity, the dreams of childhood, has the Power to stir the imagination to answer
many questions, expand the world of the child. The literature is unique, not only as a
way of reading, but as a work of art comprehensible to the child as any form is, as with
all great art, the deeper meaning Will be different for each. The children draw
meanings, depending on their interests and needs of the moment. The literature keeps
the children without forcing children to nature, without causing the artificial ripening of
fruit is extremely sensitive to the soul children. The more opportunities they have to
hear, see, feel extraneous readings, the greater the Development of reading and writing,
it is through literature that the child relates to the Word.
Keywords: Literature. Fantasia. Creativity. Instruction. Development. Amplitude




Introdução



        Um sonho... Um sonho de manter acesa a chama vibrante, intensa e colorida da
infância. Um tempo marcado pelo encantamento da atmosfera onírica que rege a
primeira e mais importante fase de nossas vidas. Uma marca singular, rica, pessoal e
intransferível. Período que representa uma galáxia em meio a todos os outros milhões
de sistemas escolares produzidos pela fértil imaginação infantil, imaginação livre de
preconceitos, negativismo e de limitações. A pureza, a ousadia, o espírito quase
selvagem dos primeiros anos nos marca de forma indelével por toda a existência... É
como se o período fosse comandado pelo ritmo de um relógio e os ponteiros marcam
diversão e alegria... Um tempo com cheiro, gosto, cor e som; continuamos perseguindo
de forma consciente ou inconsciente por toda a vida. Cabe a nós, estarmos conscientes
da importância da Literatura, é nosso papel de amparar, reerguer, reavivar os
sentimentos, valores e atitudes que poderão renovar a confiança em dias melhores.
Várias são as formas de reconduzir o barco da Literatura na direção do sucesso da
aventura humana, uma delas é lançando um olhar mais atento às grandes histórias, de
modo a aprender seus ensinamentos com maior competência.
         Neste trabalho, procuramos mostrar a Literatura em suas origens, seu conceito
e o que alguns teóricos falam sobre o assunto, apontando caminhos que tornem essa
viagem mais segura, fazendo da Literatura um elo permanente inquebrantável entre a
razão e emoção, determinando o equilíbrio necessário às realizações da vida, afinal
quem não deseja manter no coração e na mente o enredo mágico das histórias
encantadas?
          De um modo geral, as obras literárias têm como uma de suas peculiaridades a
capacidade de romper a barreira do tempo e do espaço, preservando uma impressionante
atualidade. Os grandes clássicos da Literatura, pó exemplo, recebem essa denominação
por retratar em suas narrativas, grandes questões universais com a habilidade, o talento
e a sensibilidade de seus autores. Artífices da palavra, eles nos deixaram, nas
fascinantes histórias que escreveram belíssimas lições de vida. Textos que nos
ensinaram a cada leitura algo novo e essencial ao nosso crescimento e amadurecimento.
                 Com maestria, escritores e escritoras constroem poemas e personagens
abordando temas que despertam o interesse, a curiosidade e as emoções diversas no
homem. Emoções vivamente descritas com genialidade e perspicácia desses
especialistas em observar os mistérios da alma.
 O que é Literatura Infantil?Qual sua importância na vida da criança.


            A Literatura infantil demarca um conjunto de produções literárias a toda e
qualquer manifestação do sentimento ou pensamento por meio de palavras. Define – se
não apenas pelo texto resultante dessa manifestação, mas também por se destinar a um
determinado público, o qual tem da sua parte, características específicas; pertence a uma
faixa etária; uma estimulação familiar, uma relação com o mundo da escola e um
convívio com a sociedade, ou seja, trata-se de uma criança que ainda não ultrapassou
uma situação que, se é temporária ou provisória, não deixa de se mostrar importante.
            Uma maneira de compreender o mundo é através da Literatura infantil, sua
função é exatamente fazer com que a criança tenha uma visão ampla do mundo que a
rodeia, tornando-a mais reflexiva e crítica, frente a realidade social que vive e atua,
desenvolvendo seu pensamento organizado. A Literatura infantil tem o poder de suscitar
o imaginário, de responder dúvidas em relação a tantas perguntas, de encontrar novas
idéias para solucionar questões e instigar a curiosidade do pequeno leitor.
            Como escreve Abramovich (1991, p17) “É uma possibilidade de descobrir o
mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e
atravessamos”. Nesse processo ouvir histórias tem uma importância que vai muito além
do prazer proporcionado, ela serve para a efetiva iniciação das crianças na construção da
linguagem, idéias, valores e sentimentos, aos quais ajudará na sua formação como
pessoa.
          Malamut (1960, p6), enfatiza que, “... lidas ou contadas, as histórias constituem-
se em generoso processo educativo, pois ensinam recreando, dando a criança os
estímulos e motivações apropriadas para satisfazer suas tendências, seus interesses, suas
necessidades, seus desejos, sua sensibilidade.
           O gosta pela leitura vem de um processo que se inicia no lar. Mesmo antes da
aprendizagem da leitura, a criança aprecia o valor sonoro das palavras. Aprende a gostar
do livro pelo afeto, quando a mãe canta ao embalar o berço, ou narra velhas histórias
aprendidas pelos avós. Sobre esse ponto observa Silva (1994 p 12): “... É tão importante
o papel de quem convive com a criança, pois é, sobretudo, através do afeto que a
criança se desenvolve e aprende.” Observando-se o comportamento da criança, fica
evidente a sua capacidade de inventar histórias, por isso, a necessidade do professor
oportunizar de expressar suas idéias. Neste contexto, o papel do educador, é de assumir
o compromisso com o livro, tendo o hábito de contar histórias, despertando a
curiosidade pelos misteriosos signos da escrita, desafiando-os, encorajando-os,
solicitando-os, provocando-os, para que essas criem suas hipóteses, abrindo as portas
para o universo da leitura, em que a criança irá livremente penetrar guiadas por suas
preferências.
        Para confirmar isso Rego (1998, p 60), diz que: “... Um contato diário com
atividades de leitura e de escrita, a alfabetização será transformada num processo ameno
e descontraído, evitando-se as atuais rupturas existentes na prática pedagógica, entre a
preparação para a alfabetização e a alfabetização propriamente dita. “A presença de
livros na sala de aula é fundamental para as crianças; por isso, a necessidade do
professor em organizar em um recanto em sua sala de aula, onde os livros fiquem a
disposição das crianças, para que elas possam manuseá-los sempre que desejarem, tendo
contato desde cedo com o mundo letrado.
            A literatura, enquanto universo ficcional é um elemento importante na
autoconstrução do indivíduo, percebemos que faz parte de um universo que oferece as
coisas prazerosas de forma material e pronta para usá-las, vinculadas a estímulos e
incentivos externos, conhece e compreende apenas aquilo que é muitas vezes castradas
e limitadas sem condições para desenvolver a percepção, a sensibilidade, a fantasia e a
criatividade. Todos os subsídios estimuladores oferecidos pela     Literatura     infantil
poderão ser anulados se, na sala de aula, o texto literário e/ou história forem submetidos
a uma prática pedagógica que não dê possibilidades para sua avaliação sobre leitor. O
professor evidentemente necessita estar preparado para cumprir sua função de
intermediário entre criança e o livro e/ou a história.
        A necessidade de ler, segundo Cagliari (2001, p. 173) afirma que: “... Leitura e
cultura, mas é a cultura que explica que muito do que se lê, não apenas o significado
literal de cada palavra de um texto. “Uma pessoa que não conhece uma cultura, tem
dificuldades em ler textos produzidos por ela, para adquirir os conhecimentos dessa
cultura”.
Esse impasse é maior quando se começa aprender a ler. Os alunos de culturas
diferentes, mesmo vivendo numa mesma cidade e colocados numa mesma sala de
alfabetização, reagem de maneiras diferentes aos textos que lhes são apresentados.
Ensinar hoje a leitura e escrita é desenvolver habilidades de ler, compreender,
interpretar diferentes tipos de gêneros de textos, escritos em diferentes modalidades de
língua, formal, informal, de interagir com diferentes portadores de textos: habilidades
de escrever diferentes textos que as práticas sociais de escrita exigem de nós.
          Criar oportunidades para que os alunos descubram o prazer da leitura e da
escrita, não obrigá-los a ler, porque isso irá desmotivá-los, fazendo com que eles
apreciem de um modo como eles vêem a música.
Literatura Infantil



Alguns autores importantes


         Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias...
Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente
infinito de descoberta e de compreensão do mundo...


Fanny Abramovich Os primeiros impressos


        Os primeiros impressos para crianças não tinham nenhuma intenção mais amena. Páginas coladas
a um suporte, que a primeira vista podia servir também de palmatória. Começam a ser usadas em 1440
e continuam a aparecer até 1850. Além do ABC incluíam orações, ensinamentos morais ou políticos.
Mas logo a criança descobre as anedotas, contos maravilhosos, episódios de cavalaria. E se apossam
dessas narrativas populares, que não foram escritas especialmente para elas.


Origens da Literatura Infantil


          O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem, no momento em que ele sentiu
necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia ter significação para todos.
A célula máter da Literatura Infantil, hoje conhecida como “clássica”, encontra-se na Novelística
Popular Medieval que tem suas origens na Índia. Descobriu-se que desde essa época a palavra impôs-
se ao homem como algo mágico, como um poder misterioso, que tanto poderia proteger, como
ameaçar, construir ou destruir. São, também, de caráter mágico ou fantasioso, as narrativas conhecidas,
hoje, como literatura primordial.
          Nela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram durante séculos
antes     de   Cristo,   e   se   difundiram   por   todo    o   mundo,    através   da   tradição   oral.
        A Literatura Infantil apareceu durante o século XVII, época em que as mudanças na estrutura da
sociedade desencadearam repercussões no âmbito              artístico, que persistem até os dias atuais. O
aparecimento da Literatura Infantil tem características próprias, pois decorre da ascensão da família
burguesa, do novo “status” concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Sua
emergência deveu-se, antes de tudo, à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram
elaboradas            para          se             converterem          em           instrumento         dela.
É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerado um ser diferente do adulto, com
necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber
uma        educação          especial,         que     a        preparasse        para   a      vida      adulta.
       O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto pela Psicologia
Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento estruturador do universo que cada
indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento
(da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da
personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais)
é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo
da         criança,            ou             do       meio           em           que        ela        vive.
                             Fábulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo)
Narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais, que alude a uma situação
humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. Nascida no Oriente, vai ser reinventada no
Ocidente pelo grego Esopo (Séc. VI a.C.) e aperfeiçoada, séculos mais tarde, pelo escravo romano
Fedro (Séc. I a.C.) que a enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a
ser          conhecidas                  as           fábulas           latinas          de            Fedro.
           Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das
espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a definitivamente na
literatura ocidental. Embora escrevendo para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para
crianças de todo mundo. Podemos citar aqui algumas fábulas de La Fontaine: “O Lobo e o Cordeiro”,
“A Raposa e o Esquilo”, “Animais Enfermos da Peste”, “A Corte do Leão”, “O Leão e o Rato”, “O
Pastor e o Rei”, “O Leão, o Lobo e a Raposa”, “O Leão Doente e a Raposa”, “A Corte e o Leão”, “Os
Funerais da Leoa”, “A Leiteira e o Pote de Leite”. Para quem as inventa, a fábula é um jogo de
raciocínio. Um jogo ágil e lógico, cujo resultado é um ensinamento. Contos de Fadas Quem lê
“Cinderela” não imagina que há registros de que essa história já era contada na China, durante o século
IX d. C.. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a
perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral. Pode-se dizer que os contos de
fadas, na versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os
conflitos do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do “Era uma
vez...”.
              Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição
humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje. Neles encontramos o
amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as carências (materiais e afetivas), as auto-descobertas,
as perdas, as buscas, a solidão e o encontro. Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do
elemento “fada”. Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo).
Tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande beleza, que se apresentavam
sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens,
para auxiliá-los em situações-limite, quando já nenhuma solução natural seria possível. Podem, ainda,
encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto é, como bruxas.
Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da
condição                                              feminina.
                 O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou provas, que precisam ser
vencidas, como um verdadeiro ritual iniciativo, para que o herói alcance sua auto-realização
existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro “eu”, seja pelo encontro da princesa, que encarna o
ideal      a       ser    alcançado.         Lendas     (do       latim   legenda/legen    -    ler)
Nas primeiras idades do mundo, os homens não escreviam. Conservavam suas lembranças na tradição
oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação para supri-la e a imaginação era o que povoava de
seres o seu mundo. Todas as formas expressivas nasceram, certamente, a partir do momento em que o
homem sentiu necessidade de procurar uma explicação qualquer para os fatos que aconteciam a seu
redor: os sucessos de sua luta contra a natureza, os animais e as inclemências do meio ambiente, uma
espécie de exorcismo para espantar os espíritos do mal e trazer para sua vida os atos dos espíritos do
bem. A lenda, em especial as mitológicas, constitui o resumo do assombro e do temor do homem
diante do mundo e uma explicação necessária das coisas.
            A lenda, assim, não é mais do que o pensamento infantil da humanidade, em sua primeira
etapa, refletindo o drama humano ante o outro, em que atuam os astros e meteoros, forças
desencadeadas e ocultas. A lenda é uma forma de narrativa antiqüíssima, cujo argumento é tirado da
tradição. Relato de acontecimentos, onde o maravilhoso e o imaginário superam o histórico e o
verdadeiro.       Geralmente, a lenda está marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Este
sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino, aquilo contra o que não se pode lutar e
demonstra irrecusavelmente, o pensamento do homem dominado pela força do desconhecido. De
origem muitas vezes anônima, a lenda é transmitida e conservada pela tradição oral.


        Poesia


         O gênero poético tem uma configuração distinta dos demais gêneros literários. Sua brevidade,
aliada ao potencial simbólico apresentado, transforma a poesia em uma atraente e lúdica forma de
contato com o texto literário. Há poetas que quase brincam com as palavras, de modo a cativar as
crianças que ouvem, ou lêem esse tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora e
musical, no jeito como vão juntando as palavras e acabam por tornar a leitura algo muito divertido.
Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores utilizam-se de rimas bem
simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um ritmo que apresente certa musicalidade ao texto;
repetição,     para       fixação     da    idéias,      e     melhor     compreensão         dentre      outros.
             Pode-se refletir acerca da receptividade das crianças à poesia, lendo as considerações de
Jesualdo:
       “(...) a criança tem uma alma poética. E é essencialmente criadora. Assim, as palavras do poeta,
as que procuraram chegar até ela pelos caminhos mais naturais, mesmo sendo os mais profundos em
sua síntese, não importa, nunca serão mais bem recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser
mais nova mais virgem (...)”


Histórias de Sherazade
        Sherazade foi uma das mulheres do sultão árabe Sheriar. O sultão tinha o hábito de casar-se
todos os dias com uma nova mulher e, no dia seguinte, mandava matá-la. Sherazade, ao casar-se com o
sultão, contou-lhe uma história e a interrompeu na melhor parte. O sultão, que gostava muito de
histórias, deixou-a viver para ouvir a continuação na noite seguinte. E assim passaram-se mil e uma
noites, até que o sultão resolveu não matá-la mais. “As mais conhecidas são: “Ali Babá e os Quarenta
Ladrões”,      “Simbad,        o      marujo”        e   Aladim      e       a      Lâmpada        Maravilhosa”.
As Mil e Uma Noites É a mais célebre compilação de contos maravilhosos, que circularam no mundo
ocidental. Sua forma original deve ter-se completado em fins do século XV. Entretanto, só no início do
século XVIII foi divulgada no mundo europeu, quando Antoine Galland traduziu para o francês uma
primeira seleção. Galland, culto compilador/tradutor de textos originais, reuniu nesta fabulosa
coletânea        textos       originário        de       todas       as          regiões      do       Oriente.
Fábulas de Fedro Supõem-se que tenha vivido no século I d.C., era filho de escravos, mas era livre.
Inspirou-se      nas      histórias    de       Esopo,       acrescentando        melhorias    em      algumas.
Fábulas de La Fontaine Jean de la Fontaine (1621-1695) nasceu na França e conquistou a celebridade
através de suas fábulas. Passou praticamente toda a sua vida como hóspede de personagens ilustres
(duques e condes) que o admiravam. Apesar de La Fontaine contar fábulas de outros mestres, ele as
escrevia mais em verso do que em prosa. Para ele “os animais simbolizavam os homens, suas manias e
seus defeitos”. Na fábula A Formiga e o Escaravelho de Esopo, o Escaravelho caçoa da Formiga
atarefada, enquanto todos se divertem no verão. O comportamento da formiga fica mais perdoável. Já o
nosso querido Braguinha não iria deixar uma colega cigarra nessa situação de penúria. Na sua versão,
publicada pela Moderna, a história termina com a Formiga fazendo sua autocrítica: Eu acho que tem
razão,/ minha cigarra querida./ Vivo juntando mil coisas / e desperdiçando a vida.
Os Contos de Fadas de Perrault


         Charles Perrault (1628-1703), advogado e superintendente do rei da França, foi o primeiro autor
a escrever especialmente para as crianças. Ao aposentar-se, Perrault transformou contos do folclore
popular em histórias infantis. Os mais conhecidos são: “A Bela Adormecida”, “Barba Azul”, “O
pequeno Polegar”, “O Gato de Botas”.
         Charles Perrault publicou em 1697 suas “Histoires ou contes du temps passé” conhecidas como
as estórias de Mamãe Gansa, uma coletânea de oito contos. Perrault é ainda considerado o Pai dos
Contos de Fadas, mas isto é uma coisa que está mudando de figura ultimamente. Apensar de alguns
teóricos ainda não aceitarem, o que o autor francês realizou não foi uma recolha de estórias da tradição,
isenta de qualquer manipulação. Ao contrário, Perrault ajustou ao gosto e ao propósito da classe
aristocrática, na época, a corte francesa. Embora seja o mais famoso “Pai”, muitas “Mães” o
antecederam, entre elas, Mme. D’Aulnoy, Mme. Lubert, Mme. de Beaumont... que escreviam como
divertimento, sem grandes pretensões literárias ou intelectuais; enfim, o termo “conto de fadas” tem
sua origem nesta França de Luís XIV.


Os Contos dos Irmãos Grimm


    Os irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859), eram alemães. Após a morte dos pais
começaram a viajar muito a trabalho. As histórias que as pessoas contavam deram aos irmãos a idéia
de escrevê-las. As mais famosas são: “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel” e “Branca de Neve e os
Sete Anões”.
    Recolhem, diretamente, da memória popular as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas,
conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os
pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico... E uma grande Literatura Infantil surge para
encantar crianças de todo o mundo.
     Tinham dois objetivos básicos com a pesquisa:
     1. Levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua
alemã;
     2. Fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito da raça.


Os Contos de Andersem
Hans Christian Andersem (1805-1875) viveu na Dinamarca e vinha de uma família muito pobre.
Adorava as histórias contadas pelos homens que eram pobres e ficaram ricos. Escreveu cerca de 160
contos, traduzidos em mais de cem idiomas, como “A roupa nova do imperador”, “O patinho feio” e a
“Pequena                                           Sereia”.
            Célebre poeta e novelista dinamarquês, Andersen nasce no mesmo ano em que Napoleão
Bonaparte obtinha suas primeiras vitórias decisivas. Assim, desde menino, vai respirar a atmosfera de
exaltação                                        nacionalista.
     A Dinamarca também se entrega à descoberta dos valores ancestrais, não com o espírito de auto-
afirmação política, mas no sentido étnico, de revelar o caráter da raça. Tal como fizeram os Irmãos
Grimm. Andersen foi um escritor que se preocupou, essencialmente, com a sensibilidade exaltada pelo
Romantismo


As histórias de Monteiro Lobato


       O advogado José Renato Monteiro Lobato (1882-1948), nasceu no município de Taubaté, em
São Paulo. Em 1911 herda as terras do Visconde de Tremenbé, e descobre a velha estrutura rural do
país. Assim nasceu o bem-humorado “Jeca Tatu”, símbolo do caipira brasileiro. Em 1920, Lobato
elabora um conto infantil, “A história do peixinho que morreu afogado”, e em 1921, “Narizinho
arrebitado”. Estava dado o início para a criação de uma série de aventuras no Sítio do Pica-Pau
Amarelo. Assinava as histórias como José Bento Monteiro Lobato, JBML, que eram as iniciais
gravadas         na     bengala      que       usava       herdada       de      seu       pai.
    Foi Lobato que, fazendo a herança do passado submergir no presente, encontrou o novo caminho
criador de que a Literatura Infantil brasileira estava necessitando. Seu sucesso imediato entre os
pequenos leitores ocorreu de um primeiro e decisivo fator: a realidade comum e familiar à criança, em
seu cotidiano, é, subitamente, penetrada pelo maravilhoso, com a mais absoluta verossimilhança e
naturalidade. Com o crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo de suas personagens, o
maravilhoso passa a ser o elemento integrante do real. Assim é que personagens “reais” (Lúcia,
Pedrinho, D. Benta, Tia Nastácia, etc.) têm o mesmo valor das personagens “inventadas” (Emília,
Visconde de Sabugosa e todas as personagens que povoam o universo literário lobatiano). Emília é a
personagem mais importante para se compreender o universo lobatiano. Ela revela-se como o
protótipo-mirim do “super-homem”, com sua vontade e domínio, além de exacerba a vasta produção
de Lobato, na área de Literatura Infantil, engloba obras originais, adaptações e traduções. Dentre os
originais estão: “A Menina do Nariz Arrebitado”; “O Saci”; “Fábulas do Marquês de Rabicó”;
“Aventuras do Príncipe”; “Noivado de Narizinho”; “O Pó de Pirlimpimpim”; “Reinações de
Narizinho”; “As Caçadas de Pedrinho”; “Emília no País da Gramática”; “Memórias da Emília”; “O
Poço     do      Visconde”;    “O      Pica-pau    Amarelo”        e   “A    Chave     do      Tamanho”.
        Nas adaptações, Lobato preocupou-se com um duplo objetivo: levar às crianças o conhecimento
da tradição, o conhecimento do acervo herdado e que lhes caberá transformar; e também questionar,
com elas, as verdades feitas, os valores e não-valores que o tempo cristalizou e que cabe ao presente
redescobrir e renovar. Nesse sentido, merecem destaque: “D. Quixote das Crianças”; “O Minotauro” e
a      mitologia      grega     na      série     “Os       Doze       Trabalhos      de       Hércules”.
do individualismo.


Contos de Malba Tahan


        Júlio Cesar de Melo e Souza (1895-1974) nasceram no Rio de Janeiro. Foi educador do Serviço
Nacional de Assistência aos Menores e catedráticos de matemática do Colégio Pedro II e da Faculdade
Nacional de Arquitetura. Ao adotar o pseudônimo de Malba Tahan, criou uma biografia: Ali Iezid Izz-
Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan nasceu na aldeia de Muzalit, próximo a antiga cidade de Meca...
Popularizou a arte de contar histórias nas escolas. Ao todo são 115 obras entre livros didáticos de
matemática e contos juvenis. “O Homem que Calculava” é um dos livros mais conhecidos. Autores
Modernos
              A década de 70 ficou conhecida como a época do "boom" da literatura infantil. Com a
consolidação do mercado editorial, e a crescente dependência do livro com a escola, aumentou
expressivamente        o      número      de      autores     produzindo       para        a    infância.
         Surgiram escritoras marcantes como Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Marina Colasanti e
Lygia Bojunga Nunes, Ruth Rocha, Roseana Murray. Autores como Ziraldo e Pedro Bloch, dignos
"filhos de Lobato", trouxeram o humor de volta ao leitor infantil e juvenil. Encontramos de tudo um
pouco nos livros brasileiros para crianças e jovens. O realismo mágico, em que as fronteiras entre a
realidade cotidiana e o imaginário se diluem. O maravilhoso, mostrando situações ocorrendo fora de
nosso espaço-tempo. Que caminhos a literatura brasileira para crianças e jovens tomará no século que
agora se inicia? Não sabemos. Mas temos por certo que essa manifestação artística não pode continuar
sendo subestimada ou desprezada pela sociedade ou pela mídia. Nosso país tem inúmeros problemas, e
não há um só deles que não possa ser resolvido, ou atenuado, pelo investimento na educação e na
cultura de nosso povo. Ora, se falamos em educação / cultura, falamos em livros.




Estórias-em-quadrinhos.
As estórias-em-quadrinhos são tão válidas quanto os livros ilustrados., o interesse maior que os
pequenos demonstram pelos livros ilustrados ou, ainda, pelas estórias-em-quadrinhos, está na
facilidade com que esse tipo de literatura “fala” à mente infantil; ou melhor, atende diretamente à
natureza ou necessidade específicas da criança. As imagens atingem direta e plenamente o pensamento
intuitivo que é característico da inf6ancia. Daí o fascínio da meninada pelas estórias-em-quadrinhos
não resulte apenas no fato de gostarem desse tipo de literatura “fácil”, mas porque essa literatura
corresponde a um processo de comunicação que atende mais facilmente à sua própria predisposição
psicológica.
     A estória-em-quadrinhos, atacada por uns e defendida por outros, vem se firmando cada vez mais
na indústria cultural contemporânea. No Brasil, embora ainda não haja uma produção de estórias-em-
quadrinhos que represente o nacional, já existe uma certa tradição: o primeiro jornal em quadrinhos,
dedicado às crianças – o famoso O Tico-Tico – começou a ser publicado em 1905. Cresce de
importância o terreno conquistado pela arte dos quadrinhos e principalmente o de Maurício de Souza.
Ele é hoje o único desenhista que vive de quadrinhos, os outros são publicitários, ilustradores,
professores    além    de   desenhistas   de   quadrinhos.    A   Poesia    destinada   às   crianças
        A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a
atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de liberação interior.
A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. isola; une. Convite à
viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Expressão histórica de raças,
nações, classes. Nega a história: em seu selo se resolvem todos os conflitos objetivos e o homem
adquire por fim a consciência de ser algo mais do que transito. ( Octavio Paz)
        Nascida em fins do século XIX e expandindo-se nos primeiros anos do nosso século, a poesia
infantil brasileira surge comprometida com a tarefa educativa da escola, no sentido de contribuir para
formar no aluno o futuro cidadão e o indivíduo de bons sentimentos. Daí a importância dos
“recitativos” nas festividades patrióticas ou familiares, e a exemplaridade ou a sentimentalidade que
caracterizaram tal poesia. Fazia parte do nosso sistema educativo ( fins do século XIX até os anos
30/40 ) a memorização de poemas que deviam ser ditos pelos alunos nas aulas de leitura ou nas datas
festivas. ( Foram inúmeras as queixas que ouvimos de amigos ou familiares mais velhos, ao
recordarem a vergonha ou a raiva com que se submetiam a tal recitação obrigatória e que os levou a
detestar poesia...).
       Entende-se hoje, que o dizer poesia é algo muito subjetivo e pessoal que não deve ser imposto à
criança... pois só será gratificante se resultar de um gesto espontâneo, feito com entusiasmo ou alegria.
No passado, porém, os objetivos eram outros. A exemplaridade ultrapassada – leia o poema de “Boas
Maneiras”:Mamãezinha me ensinou / a ser criança educada/ a todos cumprimentar/ para ser apreciada/
cumprimento meus vizinhos/ dos colegas não me esqueço/ agora vão bater palmas/ se acharem que
mereço!
             Nota-se ainda a lição de “etiqueta social”, mostrando que o cumprimento às pessoas é uma
regra de educação, e não um gesto de comunicação afetiva, como deveria ser... Além disso, há ainda a
expectativa da recompensa: por ser “apreciada” em sua boa ação, a criança deve ser “recompensada”...
            A socialização das crianças, hoje, deve ser feita em novas bases. Cecília Meirelles Uma das
vozes mais felizes na percepção dessa autenticidade infantil foi Cecília Meirelles. A partir dos anos 30
(e circunstancialmente devido à sua ligação com o magistério e problemas educacionais), Cecília
começa a escrever poemas infantis. De início divulga-os na imprensa, como é o caso de “A Canção dos
Tamanquinhos”, incluído em várias antologias e manuais escolares. Como grande poetisa que era
Cecília Meirelles, conseguiu o que raros conseguem: manter a pureza do olhar-criança e a capacidade
sempre renovada de se encantar com coisas simples do mundo. Ela transforma as palavras, como numa
brincadeira-de-sons, dinâmica e colorida.


Vinícius de Moraes


        Os poemas infantis de Vinícius de Moraes ( poeta que se notabilizou por suas criações para a
música popular brasileira) foram escritos ao longo dos anos e ao sabor das circunstâncias, foram
reunidos em livro, em 71. Poeta do Amor e da Sensualidade mais profunda, Vinícius não seria, talvez,
a voz adequada para falar às crianças. Entretanto ele o fez e em muitos momentos de sua poesia infantil
reencontra a ingenuidade do olhar antigo e se deixa arrastar pelo ludismo, que é indispensável à
comunicação com a criança. Pra isso, o professor terá claro, que ler um montão de livros. Separar os
que são fraquinhos os que contam histórias sem graça, os que não dão nenhuma idéia nova pra resolver
um velho problema, os que repetem o que todo mundo já sabe dum jeito chatoso, os que são mal-
escritos.
       Livros fracos existem claro. E de montão. Até podem ser usados em classe, se se trabalhar muito
e sempre com o sentido crítico do aluno. Esteja ele na 1ª ou na 8ª série. Tanto faz. Saber explicar por
que gostou ou não gostou, por que se encheu ou se maravilhou o que achou tão bonito que teve
vontade de copiar no caderno, o que sentiu como tão bocó que até pulou uns pedaços, por que aquele
personagem não convenceu de jeito nenhum, por que amou de paixão deslavada outro... Criticar
sempre. Ler com atenção e dar a sua opinião. Própria, particular, única. Com qualquer texto que leia.
Saber perceber o que aquela história possuía de especial ou de comunérrima. Saber diferenciar. Sacar o
que aprendeu, o que estimulou o que deu vontade de reler, de ir mais longe e mais fundo, o que não
quer saber mais, pelo menos por enquanto, daquele autor ou daquele tema.
E se o aluno se encantar com um autor ou com um gênero, ir além naquela procura. Ler mais e
novos livros daquele escritor tão especial, ou tão divertido, ou tão cutucante, descobrir livros de
antigamente que ele, um dia, escreveu sacar sua obra duma maneira mais ampla. Se o aluno curtiu a
leitura dum policial ou de poesias, mergulhar fundo em outras publicações desse tipo de escrivinhação.
Abrir o leque de autores que mergulharam nesse jeito de escrever, comparar histórias e soluções,
palavras e belezuras, finais e ritmos, cadências e coloração.
             Ah, como é bom saber sacar outros tons, outros subtons, outras cores, outras linhas e
entrelinhas... Ler com os olhos, com os poros, com as bateduras do coração, com o entusiasmo de
quem se entregou a uma nova aventura. Pura aventura!Quando for ler poesia em classe, ou textos de
pura prosa poética, deixar o aluno ler em voz alta. Curtir cada palavra, degustar cada imagem, se
divertir com cada achado. Se embalar no ritmo, balançar com cadência, sublinhar cada boniteza
especial. Deixar viver a comparação. O verso ou frase que um gostou mais é diferente da do aluno que
senta ao lado.
           A palavra ou parágrafo que outro curtiu apaixonadamente passou despercebido do colega.
Trocar essas descobertas pode ser uma grande ampliada. Linda! E depois, quem quiser, copiar mo
caderno ou agenda aquela maravilha lida, pra poder usar numa carta especial, reler de noitinha, falar
baixinho pelo telefone. Arrepiante!!Quando se for ler um texto divertido, que se sublinhe a graça. Pra
uns estava em outro lugar, pra outros nem foi sacada, por outros nem foi entendida enquanto humor
deslavado.    Trabalhar   com    isso,   sublinhar,   fazer     aparecer,   perguntar,   pedir   pra   ler
Diálogos inteiros em voz alta, colocar aqueles personagens em outros lugares ou diferentes situações,
inverter, se divertir.
          Que gostosura plena é ler um livro bem-humorado, com lances inacreditáveis, com diálogos
inusitados, com situações não previstas ou nem imaginadas pelo aluno. Maior delícia! Provoca a
gargalhada pura e deliciosa. Refrescante! Quando for ler uma história de medo, não ter medo do medo.
A criança gosta de senti-lo. É uma sensação prazerosa. Coração batendo, arrepios nas costas, mãos se
cruzando, unhas se arrastando. E depois, ler que o medo foi enfrentado, vencido. Vitória, vitória!!
Baita livro. Histórias de terror fazem parte do repertório universal desde sempre. São explicações de
enfretamento, de não temer o não saber encarar.
         Qualquer um pode, de seu jeito particular, enfrentar suas florestas, suas feras, seus gigantes e
vampiros. E sair vitorioso, porque foi à luta. Porque não temeu o que só estava ali pra provocar, para
medir forças e ameaçar. Precisa apenas Ter coragem, valentia, artimanhas e jeitos pra achar a solução.
Dá pra encarar, lutar de ganhar!E quando for necessário ler histórias tristes, sobre vida e morte, dores e
sofrências, perdas e temores, abandonos e incompreensões, rejeições e desafetos, ir fundo. Não passar
rapidinho por cima das grandes questões vitais. Elas requerem tempo para serem deglutidas,
compreendidas, vividas. Não podem Ter um tratamento superficial, porque o tema incomoda. Vida
incomoda?? Crescimento não é doloroso?? Perdas não causam danos?? Rejeições não são sofridas?
            Fazem parte da vida e de todos. De qualquer idade. Bom poder ler sobre isso tudo numa
historia que mostra que outros já passaram por aquelas angustias todas. E resolveram a seu modo.
Talvez o jeito que foi enfrentado possa ser um espelho pro leitor. É lendo a resposta que podemos
encontrar a nossa. E depois do livro lido e vivido, sentido e sacado, pedir que façam desenho,
teatralizem, inventem novas situações.... E tantas outras idéias que cada livro dá. Fazer vibrar! Ler é
um prazer. É uma gostosura. São possibilidades infinitas de descobrir o mundo, os outros. São
respostas, novas perguntas, achados. Mas pro aluno ser um apaixonado, é preciso que o professor
também seja. Por isso, aqui vai minha sugestão: comece agora, sem canseira, sem monotonia, sem
bobice de preguiças, leia!
                              Você terá muito que contar e com o que se encantar...


A importância de leitura de textos
São objetivos da escola e das famílias em geral proporcionar às crianças o acesso ao
conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos consigo mesmos e com a
sociedade.
      Indivíduos estes capazes de intervir modificando a realidade, auto motivados e aptos a buscar
o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos, o que passa pela formação de leitores competentes.


       É fato sabido que várias gerações têm demonstrado não apenas o desinteresse pela leitura,
mas também a incapacidade de fazê-la coerentemente, compreendendo um texto em profundidade, o
que inegavelmente limita o indivíduo em suas possibilidades de acesso ao conhecimento
culturalmente construído.


        Portanto, é tarefa urgente dos pais e da escola, em todos os níveis, buscar maneiras de
estimular, mais do que a capacidade de ler, o prazer pela leitura. Apenas propiciando aos sujeitos
leitores o prazer da leitura poderemos construir as competências necessárias para sua apreensão e
produção.


        Pensadores como Paulo Freire apontam para o reconhecimento de que a leitura do mundo
precede sempre a leitura da palavra e a leitura da palavra escrita implica na ampliação da
possibilidade de leitura do mundo. Assim, concluímos que o não desenvolvimento de bons leitores
limita as possibilidades de leitura do mundo, da compreensão da realidade social e da intervenção do
sujeito buscando a transformação da sociedade.


       No intuito de desenvolver, desde a mais tenra idade, o hábito e o prazer da leitura, desde a
educação infantil devemos oferecer oportunidades de leituras variadas, leitura não apenas de textos
escritos, mas a própria leitura e interpretação do mundo em que a criança está inserida e do qual faz
parte como ator social.


             O acesso a diferentes tipos de texto, mesmo bem antes da alfabetização, permitirá
desenvolver tais capacidades, alem de apresentar à criança elementos constitutivos do texto:
vocabulário, estrutura, enredo, coerência interna, elenco de personagens e, além disso, o uso social da
escrita, elementos esses que serão fundamentais no processo de alfabetização. Isso porque
constatamos que “as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se
supunha” (MEC/SEF, 1998, vol.3, p. 123).
A literatura infantil e seu poder de formar leitores

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  • 1. A Literatura Infantil e seu poder de formar leitores Márcia Cristina da Silva Souza Resumo: Este trabalho vem mostrar a importância da Literatura Infantil em desenvolver a criatividade, os sonhos da infância; tem o poder de suscitar o imaginário, responder a tantas perguntas, ampliar o mundo da criança. A Literatura é ímpar, não só como uma forma de leitura, mas como uma obra de arte compreensível para a criança como nenhuma forma o é, como acontece com toda grande arte; o significado mais profundo será diferente para cada um. A criança extrairá significados, dependendo de seus interesses e necessidades do momento. A Literatura conserva as crianças para a infância sem forçar a natureza, sem provocar o amadurecimento artificial desse fruto delicadíssimo que é a alma infantil. Quanto mais oportunidades tenham de ouvir, ver, sentir leituras alheias, maior será o desenvolvimento da leitura e da escrita, pois é através da Literatura que a criança se relaciona com o mundo. Palavras Chave: Literatura. Fantasia. Criatividade. Instrução. Desenvolvimento Amplitude. Abstract: This work has shown the importance of Children's Literature to develop the creativity, the dreams of childhood, has the Power to stir the imagination to answer many questions, expand the world of the child. The literature is unique, not only as a way of reading, but as a work of art comprehensible to the child as any form is, as with all great art, the deeper meaning Will be different for each. The children draw meanings, depending on their interests and needs of the moment. The literature keeps the children without forcing children to nature, without causing the artificial ripening of fruit is extremely sensitive to the soul children. The more opportunities they have to hear, see, feel extraneous readings, the greater the Development of reading and writing, it is through literature that the child relates to the Word.
  • 2. Keywords: Literature. Fantasia. Creativity. Instruction. Development. Amplitude Introdução Um sonho... Um sonho de manter acesa a chama vibrante, intensa e colorida da infância. Um tempo marcado pelo encantamento da atmosfera onírica que rege a primeira e mais importante fase de nossas vidas. Uma marca singular, rica, pessoal e intransferível. Período que representa uma galáxia em meio a todos os outros milhões de sistemas escolares produzidos pela fértil imaginação infantil, imaginação livre de preconceitos, negativismo e de limitações. A pureza, a ousadia, o espírito quase selvagem dos primeiros anos nos marca de forma indelével por toda a existência... É como se o período fosse comandado pelo ritmo de um relógio e os ponteiros marcam diversão e alegria... Um tempo com cheiro, gosto, cor e som; continuamos perseguindo de forma consciente ou inconsciente por toda a vida. Cabe a nós, estarmos conscientes da importância da Literatura, é nosso papel de amparar, reerguer, reavivar os sentimentos, valores e atitudes que poderão renovar a confiança em dias melhores. Várias são as formas de reconduzir o barco da Literatura na direção do sucesso da aventura humana, uma delas é lançando um olhar mais atento às grandes histórias, de modo a aprender seus ensinamentos com maior competência. Neste trabalho, procuramos mostrar a Literatura em suas origens, seu conceito e o que alguns teóricos falam sobre o assunto, apontando caminhos que tornem essa viagem mais segura, fazendo da Literatura um elo permanente inquebrantável entre a razão e emoção, determinando o equilíbrio necessário às realizações da vida, afinal quem não deseja manter no coração e na mente o enredo mágico das histórias encantadas? De um modo geral, as obras literárias têm como uma de suas peculiaridades a capacidade de romper a barreira do tempo e do espaço, preservando uma impressionante atualidade. Os grandes clássicos da Literatura, pó exemplo, recebem essa denominação por retratar em suas narrativas, grandes questões universais com a habilidade, o talento
  • 3. e a sensibilidade de seus autores. Artífices da palavra, eles nos deixaram, nas fascinantes histórias que escreveram belíssimas lições de vida. Textos que nos ensinaram a cada leitura algo novo e essencial ao nosso crescimento e amadurecimento. Com maestria, escritores e escritoras constroem poemas e personagens abordando temas que despertam o interesse, a curiosidade e as emoções diversas no homem. Emoções vivamente descritas com genialidade e perspicácia desses especialistas em observar os mistérios da alma. O que é Literatura Infantil?Qual sua importância na vida da criança. A Literatura infantil demarca um conjunto de produções literárias a toda e qualquer manifestação do sentimento ou pensamento por meio de palavras. Define – se não apenas pelo texto resultante dessa manifestação, mas também por se destinar a um determinado público, o qual tem da sua parte, características específicas; pertence a uma faixa etária; uma estimulação familiar, uma relação com o mundo da escola e um convívio com a sociedade, ou seja, trata-se de uma criança que ainda não ultrapassou uma situação que, se é temporária ou provisória, não deixa de se mostrar importante. Uma maneira de compreender o mundo é através da Literatura infantil, sua função é exatamente fazer com que a criança tenha uma visão ampla do mundo que a rodeia, tornando-a mais reflexiva e crítica, frente a realidade social que vive e atua, desenvolvendo seu pensamento organizado. A Literatura infantil tem o poder de suscitar o imaginário, de responder dúvidas em relação a tantas perguntas, de encontrar novas idéias para solucionar questões e instigar a curiosidade do pequeno leitor. Como escreve Abramovich (1991, p17) “É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos”. Nesse processo ouvir histórias tem uma importância que vai muito além do prazer proporcionado, ela serve para a efetiva iniciação das crianças na construção da linguagem, idéias, valores e sentimentos, aos quais ajudará na sua formação como pessoa. Malamut (1960, p6), enfatiza que, “... lidas ou contadas, as histórias constituem- se em generoso processo educativo, pois ensinam recreando, dando a criança os estímulos e motivações apropriadas para satisfazer suas tendências, seus interesses, suas necessidades, seus desejos, sua sensibilidade. O gosta pela leitura vem de um processo que se inicia no lar. Mesmo antes da aprendizagem da leitura, a criança aprecia o valor sonoro das palavras. Aprende a gostar
  • 4. do livro pelo afeto, quando a mãe canta ao embalar o berço, ou narra velhas histórias aprendidas pelos avós. Sobre esse ponto observa Silva (1994 p 12): “... É tão importante o papel de quem convive com a criança, pois é, sobretudo, através do afeto que a criança se desenvolve e aprende.” Observando-se o comportamento da criança, fica evidente a sua capacidade de inventar histórias, por isso, a necessidade do professor oportunizar de expressar suas idéias. Neste contexto, o papel do educador, é de assumir o compromisso com o livro, tendo o hábito de contar histórias, despertando a curiosidade pelos misteriosos signos da escrita, desafiando-os, encorajando-os, solicitando-os, provocando-os, para que essas criem suas hipóteses, abrindo as portas para o universo da leitura, em que a criança irá livremente penetrar guiadas por suas preferências. Para confirmar isso Rego (1998, p 60), diz que: “... Um contato diário com atividades de leitura e de escrita, a alfabetização será transformada num processo ameno e descontraído, evitando-se as atuais rupturas existentes na prática pedagógica, entre a preparação para a alfabetização e a alfabetização propriamente dita. “A presença de livros na sala de aula é fundamental para as crianças; por isso, a necessidade do professor em organizar em um recanto em sua sala de aula, onde os livros fiquem a disposição das crianças, para que elas possam manuseá-los sempre que desejarem, tendo contato desde cedo com o mundo letrado. A literatura, enquanto universo ficcional é um elemento importante na autoconstrução do indivíduo, percebemos que faz parte de um universo que oferece as coisas prazerosas de forma material e pronta para usá-las, vinculadas a estímulos e incentivos externos, conhece e compreende apenas aquilo que é muitas vezes castradas e limitadas sem condições para desenvolver a percepção, a sensibilidade, a fantasia e a criatividade. Todos os subsídios estimuladores oferecidos pela Literatura infantil poderão ser anulados se, na sala de aula, o texto literário e/ou história forem submetidos a uma prática pedagógica que não dê possibilidades para sua avaliação sobre leitor. O professor evidentemente necessita estar preparado para cumprir sua função de intermediário entre criança e o livro e/ou a história. A necessidade de ler, segundo Cagliari (2001, p. 173) afirma que: “... Leitura e cultura, mas é a cultura que explica que muito do que se lê, não apenas o significado literal de cada palavra de um texto. “Uma pessoa que não conhece uma cultura, tem dificuldades em ler textos produzidos por ela, para adquirir os conhecimentos dessa cultura”.
  • 5. Esse impasse é maior quando se começa aprender a ler. Os alunos de culturas diferentes, mesmo vivendo numa mesma cidade e colocados numa mesma sala de alfabetização, reagem de maneiras diferentes aos textos que lhes são apresentados. Ensinar hoje a leitura e escrita é desenvolver habilidades de ler, compreender, interpretar diferentes tipos de gêneros de textos, escritos em diferentes modalidades de língua, formal, informal, de interagir com diferentes portadores de textos: habilidades de escrever diferentes textos que as práticas sociais de escrita exigem de nós. Criar oportunidades para que os alunos descubram o prazer da leitura e da escrita, não obrigá-los a ler, porque isso irá desmotivá-los, fazendo com que eles apreciem de um modo como eles vêem a música.
  • 6. Literatura Infantil Alguns autores importantes Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo... Fanny Abramovich Os primeiros impressos Os primeiros impressos para crianças não tinham nenhuma intenção mais amena. Páginas coladas a um suporte, que a primeira vista podia servir também de palmatória. Começam a ser usadas em 1440 e continuam a aparecer até 1850. Além do ABC incluíam orações, ensinamentos morais ou políticos. Mas logo a criança descobre as anedotas, contos maravilhosos, episódios de cavalaria. E se apossam dessas narrativas populares, que não foram escritas especialmente para elas. Origens da Literatura Infantil O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem, no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia ter significação para todos. A célula máter da Literatura Infantil, hoje conhecida como “clássica”, encontra-se na Novelística Popular Medieval que tem suas origens na Índia. Descobriu-se que desde essa época a palavra impôs- se ao homem como algo mágico, como um poder misterioso, que tanto poderia proteger, como ameaçar, construir ou destruir. São, também, de caráter mágico ou fantasioso, as narrativas conhecidas, hoje, como literatura primordial. Nela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram durante séculos antes de Cristo, e se difundiram por todo o mundo, através da tradição oral. A Literatura Infantil apareceu durante o século XVII, época em que as mudanças na estrutura da sociedade desencadearam repercussões no âmbito artístico, que persistem até os dias atuais. O aparecimento da Literatura Infantil tem características próprias, pois decorre da ascensão da família burguesa, do novo “status” concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Sua emergência deveu-se, antes de tudo, à sua associação com a Pedagogia, já que as histórias eram
  • 7. elaboradas para se converterem em instrumento dela. É a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerado um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta. O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela vive. Fábulas (do latim- fari - falar e do grego - Phao - contar algo) Narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais, que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. Nascida no Oriente, vai ser reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (Séc. VI a.C.) e aperfeiçoada, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I a.C.) que a enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a ser conhecidas as fábulas latinas de Fedro. Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora escrevendo para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de todo mundo. Podemos citar aqui algumas fábulas de La Fontaine: “O Lobo e o Cordeiro”, “A Raposa e o Esquilo”, “Animais Enfermos da Peste”, “A Corte do Leão”, “O Leão e o Rato”, “O Pastor e o Rei”, “O Leão, o Lobo e a Raposa”, “O Leão Doente e a Raposa”, “A Corte e o Leão”, “Os Funerais da Leoa”, “A Leiteira e o Pote de Leite”. Para quem as inventa, a fábula é um jogo de raciocínio. Um jogo ágil e lógico, cujo resultado é um ensinamento. Contos de Fadas Quem lê “Cinderela” não imagina que há registros de que essa história já era contada na China, durante o século IX d. C.. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral. Pode-se dizer que os contos de fadas, na versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os conflitos do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do “Era uma vez...”. Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as carências (materiais e afetivas), as auto-descobertas,
  • 8. as perdas, as buscas, a solidão e o encontro. Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento “fada”. Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo). Tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite, quando já nenhuma solução natural seria possível. Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto é, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição feminina. O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou provas, que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciativo, para que o herói alcance sua auto-realização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro “eu”, seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcançado. Lendas (do latim legenda/legen - ler) Nas primeiras idades do mundo, os homens não escreviam. Conservavam suas lembranças na tradição oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação para supri-la e a imaginação era o que povoava de seres o seu mundo. Todas as formas expressivas nasceram, certamente, a partir do momento em que o homem sentiu necessidade de procurar uma explicação qualquer para os fatos que aconteciam a seu redor: os sucessos de sua luta contra a natureza, os animais e as inclemências do meio ambiente, uma espécie de exorcismo para espantar os espíritos do mal e trazer para sua vida os atos dos espíritos do bem. A lenda, em especial as mitológicas, constitui o resumo do assombro e do temor do homem diante do mundo e uma explicação necessária das coisas. A lenda, assim, não é mais do que o pensamento infantil da humanidade, em sua primeira etapa, refletindo o drama humano ante o outro, em que atuam os astros e meteoros, forças desencadeadas e ocultas. A lenda é uma forma de narrativa antiqüíssima, cujo argumento é tirado da tradição. Relato de acontecimentos, onde o maravilhoso e o imaginário superam o histórico e o verdadeiro. Geralmente, a lenda está marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Este sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino, aquilo contra o que não se pode lutar e demonstra irrecusavelmente, o pensamento do homem dominado pela força do desconhecido. De origem muitas vezes anônima, a lenda é transmitida e conservada pela tradição oral. Poesia O gênero poético tem uma configuração distinta dos demais gêneros literários. Sua brevidade, aliada ao potencial simbólico apresentado, transforma a poesia em uma atraente e lúdica forma de contato com o texto literário. Há poetas que quase brincam com as palavras, de modo a cativar as
  • 9. crianças que ouvem, ou lêem esse tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora e musical, no jeito como vão juntando as palavras e acabam por tornar a leitura algo muito divertido. Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores utilizam-se de rimas bem simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um ritmo que apresente certa musicalidade ao texto; repetição, para fixação da idéias, e melhor compreensão dentre outros. Pode-se refletir acerca da receptividade das crianças à poesia, lendo as considerações de Jesualdo: “(...) a criança tem uma alma poética. E é essencialmente criadora. Assim, as palavras do poeta, as que procuraram chegar até ela pelos caminhos mais naturais, mesmo sendo os mais profundos em sua síntese, não importa, nunca serão mais bem recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser mais nova mais virgem (...)” Histórias de Sherazade Sherazade foi uma das mulheres do sultão árabe Sheriar. O sultão tinha o hábito de casar-se todos os dias com uma nova mulher e, no dia seguinte, mandava matá-la. Sherazade, ao casar-se com o sultão, contou-lhe uma história e a interrompeu na melhor parte. O sultão, que gostava muito de histórias, deixou-a viver para ouvir a continuação na noite seguinte. E assim passaram-se mil e uma noites, até que o sultão resolveu não matá-la mais. “As mais conhecidas são: “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”, “Simbad, o marujo” e Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”. As Mil e Uma Noites É a mais célebre compilação de contos maravilhosos, que circularam no mundo ocidental. Sua forma original deve ter-se completado em fins do século XV. Entretanto, só no início do século XVIII foi divulgada no mundo europeu, quando Antoine Galland traduziu para o francês uma primeira seleção. Galland, culto compilador/tradutor de textos originais, reuniu nesta fabulosa coletânea textos originário de todas as regiões do Oriente. Fábulas de Fedro Supõem-se que tenha vivido no século I d.C., era filho de escravos, mas era livre. Inspirou-se nas histórias de Esopo, acrescentando melhorias em algumas. Fábulas de La Fontaine Jean de la Fontaine (1621-1695) nasceu na França e conquistou a celebridade através de suas fábulas. Passou praticamente toda a sua vida como hóspede de personagens ilustres (duques e condes) que o admiravam. Apesar de La Fontaine contar fábulas de outros mestres, ele as escrevia mais em verso do que em prosa. Para ele “os animais simbolizavam os homens, suas manias e seus defeitos”. Na fábula A Formiga e o Escaravelho de Esopo, o Escaravelho caçoa da Formiga atarefada, enquanto todos se divertem no verão. O comportamento da formiga fica mais perdoável. Já o nosso querido Braguinha não iria deixar uma colega cigarra nessa situação de penúria. Na sua versão, publicada pela Moderna, a história termina com a Formiga fazendo sua autocrítica: Eu acho que tem
  • 10. razão,/ minha cigarra querida./ Vivo juntando mil coisas / e desperdiçando a vida. Os Contos de Fadas de Perrault Charles Perrault (1628-1703), advogado e superintendente do rei da França, foi o primeiro autor a escrever especialmente para as crianças. Ao aposentar-se, Perrault transformou contos do folclore popular em histórias infantis. Os mais conhecidos são: “A Bela Adormecida”, “Barba Azul”, “O pequeno Polegar”, “O Gato de Botas”. Charles Perrault publicou em 1697 suas “Histoires ou contes du temps passé” conhecidas como as estórias de Mamãe Gansa, uma coletânea de oito contos. Perrault é ainda considerado o Pai dos Contos de Fadas, mas isto é uma coisa que está mudando de figura ultimamente. Apensar de alguns teóricos ainda não aceitarem, o que o autor francês realizou não foi uma recolha de estórias da tradição, isenta de qualquer manipulação. Ao contrário, Perrault ajustou ao gosto e ao propósito da classe aristocrática, na época, a corte francesa. Embora seja o mais famoso “Pai”, muitas “Mães” o antecederam, entre elas, Mme. D’Aulnoy, Mme. Lubert, Mme. de Beaumont... que escreviam como divertimento, sem grandes pretensões literárias ou intelectuais; enfim, o termo “conto de fadas” tem sua origem nesta França de Luís XIV. Os Contos dos Irmãos Grimm Os irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859), eram alemães. Após a morte dos pais começaram a viajar muito a trabalho. As histórias que as pessoas contavam deram aos irmãos a idéia de escrevê-las. As mais famosas são: “Chapeuzinho Vermelho”, “Rapunzel” e “Branca de Neve e os Sete Anões”. Recolhem, diretamente, da memória popular as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico... E uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo. Tinham dois objetivos básicos com a pesquisa: 1. Levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua alemã; 2. Fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito da raça. Os Contos de Andersem
  • 11. Hans Christian Andersem (1805-1875) viveu na Dinamarca e vinha de uma família muito pobre. Adorava as histórias contadas pelos homens que eram pobres e ficaram ricos. Escreveu cerca de 160 contos, traduzidos em mais de cem idiomas, como “A roupa nova do imperador”, “O patinho feio” e a “Pequena Sereia”. Célebre poeta e novelista dinamarquês, Andersen nasce no mesmo ano em que Napoleão Bonaparte obtinha suas primeiras vitórias decisivas. Assim, desde menino, vai respirar a atmosfera de exaltação nacionalista. A Dinamarca também se entrega à descoberta dos valores ancestrais, não com o espírito de auto- afirmação política, mas no sentido étnico, de revelar o caráter da raça. Tal como fizeram os Irmãos Grimm. Andersen foi um escritor que se preocupou, essencialmente, com a sensibilidade exaltada pelo Romantismo As histórias de Monteiro Lobato O advogado José Renato Monteiro Lobato (1882-1948), nasceu no município de Taubaté, em São Paulo. Em 1911 herda as terras do Visconde de Tremenbé, e descobre a velha estrutura rural do país. Assim nasceu o bem-humorado “Jeca Tatu”, símbolo do caipira brasileiro. Em 1920, Lobato elabora um conto infantil, “A história do peixinho que morreu afogado”, e em 1921, “Narizinho arrebitado”. Estava dado o início para a criação de uma série de aventuras no Sítio do Pica-Pau Amarelo. Assinava as histórias como José Bento Monteiro Lobato, JBML, que eram as iniciais gravadas na bengala que usava herdada de seu pai. Foi Lobato que, fazendo a herança do passado submergir no presente, encontrou o novo caminho criador de que a Literatura Infantil brasileira estava necessitando. Seu sucesso imediato entre os pequenos leitores ocorreu de um primeiro e decisivo fator: a realidade comum e familiar à criança, em seu cotidiano, é, subitamente, penetrada pelo maravilhoso, com a mais absoluta verossimilhança e naturalidade. Com o crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo de suas personagens, o maravilhoso passa a ser o elemento integrante do real. Assim é que personagens “reais” (Lúcia, Pedrinho, D. Benta, Tia Nastácia, etc.) têm o mesmo valor das personagens “inventadas” (Emília, Visconde de Sabugosa e todas as personagens que povoam o universo literário lobatiano). Emília é a personagem mais importante para se compreender o universo lobatiano. Ela revela-se como o protótipo-mirim do “super-homem”, com sua vontade e domínio, além de exacerba a vasta produção de Lobato, na área de Literatura Infantil, engloba obras originais, adaptações e traduções. Dentre os originais estão: “A Menina do Nariz Arrebitado”; “O Saci”; “Fábulas do Marquês de Rabicó”; “Aventuras do Príncipe”; “Noivado de Narizinho”; “O Pó de Pirlimpimpim”; “Reinações de
  • 12. Narizinho”; “As Caçadas de Pedrinho”; “Emília no País da Gramática”; “Memórias da Emília”; “O Poço do Visconde”; “O Pica-pau Amarelo” e “A Chave do Tamanho”. Nas adaptações, Lobato preocupou-se com um duplo objetivo: levar às crianças o conhecimento da tradição, o conhecimento do acervo herdado e que lhes caberá transformar; e também questionar, com elas, as verdades feitas, os valores e não-valores que o tempo cristalizou e que cabe ao presente redescobrir e renovar. Nesse sentido, merecem destaque: “D. Quixote das Crianças”; “O Minotauro” e a mitologia grega na série “Os Doze Trabalhos de Hércules”. do individualismo. Contos de Malba Tahan Júlio Cesar de Melo e Souza (1895-1974) nasceram no Rio de Janeiro. Foi educador do Serviço Nacional de Assistência aos Menores e catedráticos de matemática do Colégio Pedro II e da Faculdade Nacional de Arquitetura. Ao adotar o pseudônimo de Malba Tahan, criou uma biografia: Ali Iezid Izz- Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan nasceu na aldeia de Muzalit, próximo a antiga cidade de Meca... Popularizou a arte de contar histórias nas escolas. Ao todo são 115 obras entre livros didáticos de matemática e contos juvenis. “O Homem que Calculava” é um dos livros mais conhecidos. Autores Modernos A década de 70 ficou conhecida como a época do "boom" da literatura infantil. Com a consolidação do mercado editorial, e a crescente dependência do livro com a escola, aumentou expressivamente o número de autores produzindo para a infância. Surgiram escritoras marcantes como Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Marina Colasanti e Lygia Bojunga Nunes, Ruth Rocha, Roseana Murray. Autores como Ziraldo e Pedro Bloch, dignos "filhos de Lobato", trouxeram o humor de volta ao leitor infantil e juvenil. Encontramos de tudo um pouco nos livros brasileiros para crianças e jovens. O realismo mágico, em que as fronteiras entre a realidade cotidiana e o imaginário se diluem. O maravilhoso, mostrando situações ocorrendo fora de nosso espaço-tempo. Que caminhos a literatura brasileira para crianças e jovens tomará no século que agora se inicia? Não sabemos. Mas temos por certo que essa manifestação artística não pode continuar sendo subestimada ou desprezada pela sociedade ou pela mídia. Nosso país tem inúmeros problemas, e não há um só deles que não possa ser resolvido, ou atenuado, pelo investimento na educação e na cultura de nosso povo. Ora, se falamos em educação / cultura, falamos em livros. Estórias-em-quadrinhos.
  • 13. As estórias-em-quadrinhos são tão válidas quanto os livros ilustrados., o interesse maior que os pequenos demonstram pelos livros ilustrados ou, ainda, pelas estórias-em-quadrinhos, está na facilidade com que esse tipo de literatura “fala” à mente infantil; ou melhor, atende diretamente à natureza ou necessidade específicas da criança. As imagens atingem direta e plenamente o pensamento intuitivo que é característico da inf6ancia. Daí o fascínio da meninada pelas estórias-em-quadrinhos não resulte apenas no fato de gostarem desse tipo de literatura “fácil”, mas porque essa literatura corresponde a um processo de comunicação que atende mais facilmente à sua própria predisposição psicológica. A estória-em-quadrinhos, atacada por uns e defendida por outros, vem se firmando cada vez mais na indústria cultural contemporânea. No Brasil, embora ainda não haja uma produção de estórias-em- quadrinhos que represente o nacional, já existe uma certa tradição: o primeiro jornal em quadrinhos, dedicado às crianças – o famoso O Tico-Tico – começou a ser publicado em 1905. Cresce de importância o terreno conquistado pela arte dos quadrinhos e principalmente o de Maurício de Souza. Ele é hoje o único desenhista que vive de quadrinhos, os outros são publicitários, ilustradores, professores além de desenhistas de quadrinhos. A Poesia destinada às crianças A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de liberação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu selo se resolvem todos os conflitos objetivos e o homem adquire por fim a consciência de ser algo mais do que transito. ( Octavio Paz) Nascida em fins do século XIX e expandindo-se nos primeiros anos do nosso século, a poesia infantil brasileira surge comprometida com a tarefa educativa da escola, no sentido de contribuir para formar no aluno o futuro cidadão e o indivíduo de bons sentimentos. Daí a importância dos “recitativos” nas festividades patrióticas ou familiares, e a exemplaridade ou a sentimentalidade que caracterizaram tal poesia. Fazia parte do nosso sistema educativo ( fins do século XIX até os anos 30/40 ) a memorização de poemas que deviam ser ditos pelos alunos nas aulas de leitura ou nas datas festivas. ( Foram inúmeras as queixas que ouvimos de amigos ou familiares mais velhos, ao recordarem a vergonha ou a raiva com que se submetiam a tal recitação obrigatória e que os levou a detestar poesia...). Entende-se hoje, que o dizer poesia é algo muito subjetivo e pessoal que não deve ser imposto à criança... pois só será gratificante se resultar de um gesto espontâneo, feito com entusiasmo ou alegria. No passado, porém, os objetivos eram outros. A exemplaridade ultrapassada – leia o poema de “Boas Maneiras”:Mamãezinha me ensinou / a ser criança educada/ a todos cumprimentar/ para ser apreciada/
  • 14. cumprimento meus vizinhos/ dos colegas não me esqueço/ agora vão bater palmas/ se acharem que mereço! Nota-se ainda a lição de “etiqueta social”, mostrando que o cumprimento às pessoas é uma regra de educação, e não um gesto de comunicação afetiva, como deveria ser... Além disso, há ainda a expectativa da recompensa: por ser “apreciada” em sua boa ação, a criança deve ser “recompensada”... A socialização das crianças, hoje, deve ser feita em novas bases. Cecília Meirelles Uma das vozes mais felizes na percepção dessa autenticidade infantil foi Cecília Meirelles. A partir dos anos 30 (e circunstancialmente devido à sua ligação com o magistério e problemas educacionais), Cecília começa a escrever poemas infantis. De início divulga-os na imprensa, como é o caso de “A Canção dos Tamanquinhos”, incluído em várias antologias e manuais escolares. Como grande poetisa que era Cecília Meirelles, conseguiu o que raros conseguem: manter a pureza do olhar-criança e a capacidade sempre renovada de se encantar com coisas simples do mundo. Ela transforma as palavras, como numa brincadeira-de-sons, dinâmica e colorida. Vinícius de Moraes Os poemas infantis de Vinícius de Moraes ( poeta que se notabilizou por suas criações para a música popular brasileira) foram escritos ao longo dos anos e ao sabor das circunstâncias, foram reunidos em livro, em 71. Poeta do Amor e da Sensualidade mais profunda, Vinícius não seria, talvez, a voz adequada para falar às crianças. Entretanto ele o fez e em muitos momentos de sua poesia infantil reencontra a ingenuidade do olhar antigo e se deixa arrastar pelo ludismo, que é indispensável à comunicação com a criança. Pra isso, o professor terá claro, que ler um montão de livros. Separar os que são fraquinhos os que contam histórias sem graça, os que não dão nenhuma idéia nova pra resolver um velho problema, os que repetem o que todo mundo já sabe dum jeito chatoso, os que são mal- escritos. Livros fracos existem claro. E de montão. Até podem ser usados em classe, se se trabalhar muito e sempre com o sentido crítico do aluno. Esteja ele na 1ª ou na 8ª série. Tanto faz. Saber explicar por que gostou ou não gostou, por que se encheu ou se maravilhou o que achou tão bonito que teve vontade de copiar no caderno, o que sentiu como tão bocó que até pulou uns pedaços, por que aquele personagem não convenceu de jeito nenhum, por que amou de paixão deslavada outro... Criticar sempre. Ler com atenção e dar a sua opinião. Própria, particular, única. Com qualquer texto que leia. Saber perceber o que aquela história possuía de especial ou de comunérrima. Saber diferenciar. Sacar o que aprendeu, o que estimulou o que deu vontade de reler, de ir mais longe e mais fundo, o que não quer saber mais, pelo menos por enquanto, daquele autor ou daquele tema.
  • 15. E se o aluno se encantar com um autor ou com um gênero, ir além naquela procura. Ler mais e novos livros daquele escritor tão especial, ou tão divertido, ou tão cutucante, descobrir livros de antigamente que ele, um dia, escreveu sacar sua obra duma maneira mais ampla. Se o aluno curtiu a leitura dum policial ou de poesias, mergulhar fundo em outras publicações desse tipo de escrivinhação. Abrir o leque de autores que mergulharam nesse jeito de escrever, comparar histórias e soluções, palavras e belezuras, finais e ritmos, cadências e coloração. Ah, como é bom saber sacar outros tons, outros subtons, outras cores, outras linhas e entrelinhas... Ler com os olhos, com os poros, com as bateduras do coração, com o entusiasmo de quem se entregou a uma nova aventura. Pura aventura!Quando for ler poesia em classe, ou textos de pura prosa poética, deixar o aluno ler em voz alta. Curtir cada palavra, degustar cada imagem, se divertir com cada achado. Se embalar no ritmo, balançar com cadência, sublinhar cada boniteza especial. Deixar viver a comparação. O verso ou frase que um gostou mais é diferente da do aluno que senta ao lado. A palavra ou parágrafo que outro curtiu apaixonadamente passou despercebido do colega. Trocar essas descobertas pode ser uma grande ampliada. Linda! E depois, quem quiser, copiar mo caderno ou agenda aquela maravilha lida, pra poder usar numa carta especial, reler de noitinha, falar baixinho pelo telefone. Arrepiante!!Quando se for ler um texto divertido, que se sublinhe a graça. Pra uns estava em outro lugar, pra outros nem foi sacada, por outros nem foi entendida enquanto humor deslavado. Trabalhar com isso, sublinhar, fazer aparecer, perguntar, pedir pra ler Diálogos inteiros em voz alta, colocar aqueles personagens em outros lugares ou diferentes situações, inverter, se divertir. Que gostosura plena é ler um livro bem-humorado, com lances inacreditáveis, com diálogos inusitados, com situações não previstas ou nem imaginadas pelo aluno. Maior delícia! Provoca a gargalhada pura e deliciosa. Refrescante! Quando for ler uma história de medo, não ter medo do medo. A criança gosta de senti-lo. É uma sensação prazerosa. Coração batendo, arrepios nas costas, mãos se cruzando, unhas se arrastando. E depois, ler que o medo foi enfrentado, vencido. Vitória, vitória!! Baita livro. Histórias de terror fazem parte do repertório universal desde sempre. São explicações de enfretamento, de não temer o não saber encarar. Qualquer um pode, de seu jeito particular, enfrentar suas florestas, suas feras, seus gigantes e vampiros. E sair vitorioso, porque foi à luta. Porque não temeu o que só estava ali pra provocar, para medir forças e ameaçar. Precisa apenas Ter coragem, valentia, artimanhas e jeitos pra achar a solução. Dá pra encarar, lutar de ganhar!E quando for necessário ler histórias tristes, sobre vida e morte, dores e sofrências, perdas e temores, abandonos e incompreensões, rejeições e desafetos, ir fundo. Não passar rapidinho por cima das grandes questões vitais. Elas requerem tempo para serem deglutidas,
  • 16. compreendidas, vividas. Não podem Ter um tratamento superficial, porque o tema incomoda. Vida incomoda?? Crescimento não é doloroso?? Perdas não causam danos?? Rejeições não são sofridas? Fazem parte da vida e de todos. De qualquer idade. Bom poder ler sobre isso tudo numa historia que mostra que outros já passaram por aquelas angustias todas. E resolveram a seu modo. Talvez o jeito que foi enfrentado possa ser um espelho pro leitor. É lendo a resposta que podemos encontrar a nossa. E depois do livro lido e vivido, sentido e sacado, pedir que façam desenho, teatralizem, inventem novas situações.... E tantas outras idéias que cada livro dá. Fazer vibrar! Ler é um prazer. É uma gostosura. São possibilidades infinitas de descobrir o mundo, os outros. São respostas, novas perguntas, achados. Mas pro aluno ser um apaixonado, é preciso que o professor também seja. Por isso, aqui vai minha sugestão: comece agora, sem canseira, sem monotonia, sem bobice de preguiças, leia! Você terá muito que contar e com o que se encantar... A importância de leitura de textos
  • 17. São objetivos da escola e das famílias em geral proporcionar às crianças o acesso ao conhecimento e a formação de indivíduos críticos, comprometidos consigo mesmos e com a sociedade. Indivíduos estes capazes de intervir modificando a realidade, auto motivados e aptos a buscar o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos, o que passa pela formação de leitores competentes. É fato sabido que várias gerações têm demonstrado não apenas o desinteresse pela leitura, mas também a incapacidade de fazê-la coerentemente, compreendendo um texto em profundidade, o que inegavelmente limita o indivíduo em suas possibilidades de acesso ao conhecimento culturalmente construído. Portanto, é tarefa urgente dos pais e da escola, em todos os níveis, buscar maneiras de estimular, mais do que a capacidade de ler, o prazer pela leitura. Apenas propiciando aos sujeitos leitores o prazer da leitura poderemos construir as competências necessárias para sua apreensão e produção. Pensadores como Paulo Freire apontam para o reconhecimento de que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura da palavra escrita implica na ampliação da possibilidade de leitura do mundo. Assim, concluímos que o não desenvolvimento de bons leitores limita as possibilidades de leitura do mundo, da compreensão da realidade social e da intervenção do sujeito buscando a transformação da sociedade. No intuito de desenvolver, desde a mais tenra idade, o hábito e o prazer da leitura, desde a educação infantil devemos oferecer oportunidades de leituras variadas, leitura não apenas de textos escritos, mas a própria leitura e interpretação do mundo em que a criança está inserida e do qual faz parte como ator social. O acesso a diferentes tipos de texto, mesmo bem antes da alfabetização, permitirá desenvolver tais capacidades, alem de apresentar à criança elementos constitutivos do texto: vocabulário, estrutura, enredo, coerência interna, elenco de personagens e, além disso, o uso social da escrita, elementos esses que serão fundamentais no processo de alfabetização. Isso porque constatamos que “as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se supunha” (MEC/SEF, 1998, vol.3, p. 123).