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Ê  NOSSOS ANUNCIANTES S ÌO A GARANTIA DE CONTE òDO SEMPRE MELHOR E GRATUITO  


                                 Roberto Carlos passa                                                                                   Música
Leia também:                     o Natal com coletânea
                                                                                                                               A imagem do som
Programação do             Sem novidades e ressentida dos anos 60, CD                                                          de Chico Buarque
Cinema e filmes na           funciona como consolo para fãs do Rei
TV.                                                                                                               Inspirados em músicas do compositor, 
Cinema                                                                                                           artistas recriam obras visuais de impacto, 
                                               Rubens Herbst
                                                                                                                             com erros e acertos
                      Joinville ­ Este foi um ano duro para Roberto Carlos. O câncer que 
                      acometia sua mulher voltou com força total e, segundo a imprensa                                        Walter de Queiroz Guerreiro
                      tem noticiado, seu estado é crítico, inclusive com poucas chances                                         Especial para o Anexo
                      de sobrevivência. O tratamento difícil, as viagens para o exterior, 
                      as vigílias pela saúde de Maria Rita e o natural estresse 
                                                                                                                 Felipe Taborda, artista gráfico, desenvolveu o projeto 
                      mantiveram o cantor longe dos estúdios e palcos em 1999, o que culmina, mais uma 
                                                                                                                 de criar uma coleção de arte inspirada na música, 
                      vez, num Natal diferente para os fãs. Sem repertório novo nem especial de fim de ano 
                                                                                                                 melhor diríamos na letra, dos maiores compositores 
                      na Globo ­ uma tradição que vinha se mantendo desde 1974 ­, eles terão que se 
                                                                                                                 brasileiros contemporâneos. O projeto, iniciado no 
                      contentar mesmo com mais uma coletânea.
                                                                                                                 ano passado com letras de Caetano Veloso, está 
                                                                                                                 dando frutos saudáveis este ano, com Chico 
                      No ano passado, o mesmo expediente fora utilizado pela Sony, que recheou o                 Buarque, a que se seguirão Roberto Carlos, Gilberto 
                      lançamento com quatro canções inéditas. Em "30 Grandes Sucessos ­ Volumes 1 e 2"           Gil e outros durante oito anos, construindo um painel 
                      há apenas uma nova composição, que abre cada CD da compilação dupla. Com uma               das artes visuais de fins do século 20, início do 21.
                      inspirada levada caipira e o discurso religioso de sempre, "Todas as Nossas 
                      Senhoras" é o resultado da única incursão do "Rei" pelos estúdios neste ano. O 
                                                                                                                 A série intitulada "A Imagem do Som" convida a cada 
                      resto, como já deu para perceber, são velhos sucessos, cavalos de batalha pinçados 
                                                                                                                 ano 80 artistas das mais diferentes linguagens e 
                      de todas as fases da carreira do cantor.
                                                                                                                 suportes, de ilustradores a artistas conceituais, 
                                                                                                                 abrangendo todos os campos da criação. Para evitar 
                      O lado romântico de Roberto Carlos, aquele que o elevou à condição de maior astro          direcionamento do gosto  subconsciente, queiramos 
                      nacional a partir dos anos 70, é privilegiado pela compilação. "Detalhes", "Lady           ou não, na escolha do tema  Taborda optou por 
                      Laura", "Cavalgada", "Outra Vez", "Amada Amante", "Café da Manhã" e, claro,                sortear as letras, numa relação representativa da 
                      "Emoções", não poderiam ficar de fora, bem como o Roberto devoto, representado             melhor poética de Chico Buarque.
                      por "Quando Eu Quero Falar com Deus", "Nossa Senhora", "Jesus Salvador" e 
                      "Aleluia". "Canzone Per Te" mostra sua porção italiana, e "Mulher de 40" e 
                                                                                                                 Fornecer letras de música como estímulo à criação 
                      "Caminhoneiro", sua produção mais recente. O filé, porém, está nas faixas menos 
                                                                                                                 plástica é um caminho delicado, pelo perigo de a arte 
                      citadas em shows e especiais ­ mas nem por isso menos importantes ­, caso de "O 
                                                                                                                 visual se tornar transformação imagética da palavra 
                      Portão", "Como Vai Você", "Não Quero Ver Você Triste", "Desabafo", entre outras.
                                                                                                                 escrita, ou seja, de a arte visual perder sua liberdade, 
                                                                                                                 tornando­se literária. Esse intercâmbio vem de longe, 
                      Mas há um problema ­ ou melhor, dois. O primeiro é que, apesar de a maioria das            desde E. Cummings, passando por Ezra Pound sobre 
                      músicas serem essenciais para entender (e curtir) o mito Roberto Carlos, não há fã         a aparência da palavra e da teoria de que o poema, 
                      que não tenha tudo isso em casa. Até pelo fato de já ter lançado uma coletânea no          como toda forma de arte, é um objeto (vide hoje os 
                      ano passado, a gravadora poderia valorizar um pouco mais o suado dinheirinho do            neoconcretos, Haroldo de Campos e afins). No lado 
                      consumidor com algo menos redundante e mais tentador. Às vésperas do fim do                oposto, a característica da maioria das obras 
                      milênio, seria uma ótima chance de desencavar sobras de est údio, velhas canções           contemporâneas é desenvolver um código próprio de 
                      inéditas e faixas ao vivo do cantor, sozinho ou com alguns de seus inúmeros                leitura que não pode ser lido de maneira autônoma, 
                      parceiros.                                                                                 exigindo um discurso de explicações dos conceitos 
                                                                                                                 subjacentes. A arte conceitual, a mais cerebral das 
                      A segunda pisada, e ainda mais grave, é restringir a fase da Jovem Guarda a uma            formas plásticas, buscando autonomia, só sobrevive 
                      única canção, "O Calhambeque". Ora, é impossível mapear a trajetória de Roberto            através de códigos suplementares de comunicação, 
                      Carlos dignamente sem lembrar sua contribuição para a música brasileira nos anos           pela linguagem escrita. Desta forma há uma simbiose 
                      60, quando ajudou a traduzir para o idioma nacional as inquietações e desejos que          em que a obra para ser entendida, transforma­se em 
                      tomavam conta da juventude ao redor do mundo. Onde est ão "Quero que Vá Tudo               metalinguagem, no código criado pela própria obra.
                      para o Inferno", "Splish, Splash", "Parei na Contramão", "Namoradinha de um 
                      Amigo Meu", "Eu Sou Terrível", "É Proibido Fumar", e por aí vai? Imperdoável.              Voltemos à exposição inaugurada no Paço Imperial 
                                                                                                                 (Rio de Janeiro) a 2 de dezembro, permanecendo até 5 
                      Sendo assim, a quem pode interessar uma coletânea incompleta e sem novidades               de março de 2000. Comparada à exposição de 1998, 
                      como esta? Talvez aos que se preferem apenas o Roberto baladeiro, ou então ao              dedicada a Caetano Veloso, houve sensível 
                      fanático que engole qualquer coisa que lhe é empurrado de seu ídolo. Como já foi           amadurecimento nas propostas, registradas em 
                      dito, não é de todo ruim, mas fica um gosto esquisito na boca. É triste, como a            definitivo num livro­catálogo de alta qualidade 
                      expressão de Roberto na capa do disco.                                                     gráfica, patrocinado pela Petrobras.

                                                                                                                 A multiplicidade de caminhos da arte contemporânea 
                                                                                                                 é vista pela leitura de cada artista, assim como a boa e 
                                                                                                                 má carpintaria na criação artística, a leitura direta e 
                                                    Poeta joinvilense                                            fácil da letra, a reflexão sobre o conteúdo e a 
                                                   é premiado em SP                                              obsess ão particular de cada um. Esta é, aliás, uma 
                                                                                                                 característica constante na obra contemporânea: o 
                                                                                                                 artista cria um código de leitura que perpassa toda 
                      Entre 441 inscritos e 12 selecionados, Rubens da Cunha obtém o 1º                          sua criação, desenvolvendo redação dialética com o 
                                     lugar no Concurso de Poesia Falada                                          criado anteriormente, compreensível para os que 
                                                                                                                 reconhecem ser sua visão de mundo. Em termos de 
                                                          GLEBER PIENIZ                                          metalinguagem, existe contradição essencial, o 
                                                                                                                 significante adquirindo significado preciso apenas no 
                      Joinville ­ Oito anos de dedicação à poesia renderam ao joinvilense Rubens da              código próprio do autor.
                      Cunha a maturidade suficiente para conquistar, no último dia 4, o primeiro lugar no 
                      Concurso de Poesia Falada 1999 da Biblioteca Mário de Andrade, de São Paulo.               A exposição revela grandes interpretações, como a de 
                      Entre 441 trabalhos inscritos e 12 selecionados para a fase de apresentação, foi           Oscar Ramos, sobre a letra de "O Meu Guri". Partindo 
                      "Tratado Sobre a Caça ao Poema" o grande vencedor, texto premiado com R$ 1 mil.            da imagem criada por Matisse, em Saint Paul de 
                      No ano passado, Cunha fora classificado em segundo lugar no mesmo concurso.                Vance, da Virgem e o Menino Jesus, o artista 
                                                                                                                 substitui Jesus pela foto de um menor de Belém do 
                      Em novembro, uma comissão composta por cinco jurados apontou 12 trabalhos que              Pará e superpõe uma poesia de Rimbaud sobre o 
                      deveriam ser declamados pelos autores no dia 4 de dezembro para um júri de três            garoto que dorme tranqüilo, em oposição à dura 
                      nomes que definiria a premiação. Cunha foi selecionado, apresentou seu trabalho e          realidade do pivete com a tarja negra, ocultando a 
                      voltou para Joinville com o primeiro prêmio. Sua conterrânea Patrícia Claudine             identidade do menor delinqüente.
                      Hoffmann, vencedora da última edição do prêmio Lindolf Bell, também foi uma das 12 
                      concorrentes selecionadas para a fase final com "Navegações Léxicas a Respeito do          De leitura imediata, e no entanto de alta qualidade, é a 
                      que Fica". Os poemas que concorreram na etapa de apresentação integram, agora,             escultura­objeto de Gabriel Vilella, apontando 
                      uma exposição itinerante pelas bibliotecas públicas paulistanas.                           claramente em "Com Açúcar, com Afeto", a ligação 
substitui Jesus pela foto de um menor de Belém do 
Em novembro, uma comissão composta por cinco jurados apontou 12 trabalhos que              Pará e superpõe uma poesia de Rimbaud sobre o 
deveriam ser declamados pelos autores no dia 4 de dezembro para um júri de três            garoto que dorme tranqüilo, em oposição à dura 
nomes que definiria a premiação. Cunha foi selecionado, apresentou seu trabalho e          realidade do pivete com a tarja negra, ocultando a 
voltou para Joinville com o primeiro prêmio. Sua conterrânea Patrícia Claudine             identidade do menor delinqüente.
Hoffmann, vencedora da última edição do prêmio Lindolf Bell, também foi uma das 12 
concorrentes selecionadas para a fase final com "Navegações Léxicas a Respeito do          De leitura imediata, e no entanto de alta qualidade, é a 
que Fica". Os poemas que concorreram na etapa de apresentação integram, agora,             escultura­objeto de Gabriel Vilella, apontando 
uma exposição itinerante pelas bibliotecas públicas paulistanas.                           claramente em "Com Açúcar, com Afeto", a ligação 
                                                                                           literária nas balas verde­amarelas com trechos da 
Cunha escreve desde os 20 anos e participa há dois do grupo de poetas Zaragata,            música, dentro do tacho de cobre tradicional das 
que também tem Patrícia como integrante. "Quando um de nós ganha algum prêmio,             doceiras interioranas.
a gente considera como se todo o grupo ganhasse. Prezamos muito pela qualidade 
dos poemas", garante o escritor, ex­surrealista que admira o trabalho de Hilda Hilst,      Criando impacto visível, porém se apropriando da 
Jorge Lima e João Cabral de Melo Neto. O convívio com o grupo, admite, lhe deu             linguagem única de Arthur Bispo do Rosário, a artista 
disciplina, base técnica e conhecimento, elementos preciosos que ainda não são             plástica Veronica D'Orey cria o "Brejo da Cruz", 
suficientes para que oriente sua po ética em um caminho bem demarcado. "Ainda              bordando a letra da música e formando uma cruz de 
estou meio à cata de um estilo, de uma linha mais conceitual", diz o poeta. "Construo      botões coloridos. Como transliteração da música será 
um conteúdo poético utilizando imagens e metáforas".                                       válida, não fosse a idéia ser marca registrada de um 
                                                                                           grande artista do inconsciente, à margem da 
"Tratado Sobre a Caça ao Poema" é um roteiro em versos para a construção poética,          sociedade.
texto constituído de metáforas alusivas ao reino animal e à prática da caça. "Parti do 
princípio de como desenvolver um poema e usei a imagem dos felinos", explica               Arnaldo Pappalardo cria uma macrofotografia, a 
Cunha, consciente de que este conte údo didático ­ e ao mesmo tempo confessional ­         imagem densa de um velho cravo, citado na letra de 
do trabalho pode ter colaborado para "seduzir os jurados". A utilização de elementos       "Tanto Mar", enquanto Ruth Freithof relê o 
como linces, leões, tigres e panteras já faz parte do universo estético do poeta e será    "Passaredo" em três gravuras com recursos de 
tema para o primeiro livro que Cunha pretende lançar, ainda sem previsão de data.          computação, citando pássaros inexistentes na letra, o 
"Penso em um livro­conceito onde eu trabalharia a metalinguagem usando a figura            azul da liberdade, o sangue da vida, a violência do 
dos felinos".                                                                              grafismo prenunciando o homem.

Escritor cuja produção é pouco ligada ao rigor poético, Cunha garante que busca,           Dentro da habitual postura irônica de Nelson Leirner, 
agora, agregar valores formais à lavra. "Gosto da métrica porque ela me impõe um           papa neodadá dos anos 60, "Bem­querer" se 
espaço", adianta, "mas não sou afeito à rima". "Se uso rimas em meus poemas, são           transforma em arte objeto, o tabuleiro de xadrez 
rimas internas", avisa.                                                                    opondo figuras de presépio em confronto com seres 
                                                                                           elementais (gnomos?) de falos eretos, na explicação 
                                                                                           da fúria dos casais.

                                                                                           A questão apontada inicialmente  quanto à criação de 
Tratado sobre a caça ao poema  
                                                                                           vocabulário próprio repetitivo como código de 
  
                                                                                           linguagem  aparece em Alex Cerveny na leitura de 
1  Da preparação  
                                                                                           "Noite dos Mascarados", ao enfileirar colagem de 
Na caça ao poema é preciso 
                                                                                           máscaras. O caso se repete com Amador Perez 
destituir­se de covardias.  
                                                                                           propondo "Último Blues" dentro de sua habitual 
  
                                                                                           execução impecável no desenho ao captar detalhes 
É preciso que os tremores vários 
                                                                                           da "Gioventú" de Eliseu Visconti, rememorando a 
sentidos na preparação 
                                                                                           sedução da boca e olhos da ninfeta.
sejam apenas estratagemas das máscaras 
para enganar o poema. 
                                                                                           Em leitura bem brasileira e direta, Ana Durães mostra 
As máscaras devem ser incorporadas                                                         "A Banda", tema adequado ao universo popular, 
sobre os escombros da face:                                                                como as imagens dos Pífaros de Caruaru, do mesmo 
nunca mostrada, nunca vista,                                                               modo que Muti Randolph, utilizando recursos de 
nunca espelhada em verdades.                                                               computação gráfica e plotter, compõe seu "Sabiá" 
                                                                                           intensamente tropical e neo­antropofágico, clara 
Não se preocupe com verdades,                                                              homenagem a Tarsila do Amaral.
são animais mitológicos de impossível caça. 
Detenha­se apenas no poema.                                                                Há nomes consagrados que desapontam, como a 
                                                                                           instalação de Cildo Meirelles, a montagem fotográfica 
2  Da arma                                                                                 de Adriana Varejão, o objeto de Luiz Zerbini. 
Na caça ao poema é preciso                                                                 Surpresa agradável é a escultura de Maninha, 
que o sonho seja o predador.                                                               assemblage de porcelanas de gosto duvidoso, tão 
                                                                                           kitsch quanto as referências às fogueiras, balões e 
Transforme seu sonho em fera.                                                              luares do sertão da música "Barrão".
Felinos são os mais completos. 
                                                                                           Analisar mais é tarefa impossível pela exigüidade de 
Leões, leopardos, panteras, linces:                                                        espaço (e paciência do leitor). A apenas a visão direta 
misto de silêncio e beleza,                                                                dessa importante mostra dá a dimensão real da 
de amor e violência.                                                                       experimentação contemporânea. A aparente 
                                                                                           indefinição da arte atual, com seus múltiplos 
Jamais transforme seu sonho em um tigre.                                                   caminhos, é exatamente o que demonstra a validade 
Tigres já não caçam mais poemas                                                            da arte, leitura e releitura, reflexão e acomodação, 
depois que passaram a servir                                                               sustenta ção do visual pela palavra e vôo livre da 
à cegueira de Borges.                                                                      imagem. Definir este relacionamento amoroso, quase 
                                                                                           incestuoso entre artes, é missão impossível, 
3  Da sabedoria da fome                                                                    traduzível quiçá numa palavra única: arte, que na 
Pense na escrita se fazendo fome                                                           origem significa capacidade de realizar.
sobre os espaços em branco. 
Faça com que seus felinos 
                                                                                           Walter de Queiroz Guerreiro é historiógrafo e 
partam em busca da presa 
                                                                                           crítico de arte
escondida nos contornos da palavra. 
  
Sinta o alimento respirando nas sombras, 
disfarçando­se em ausências. 
                                                                                                                  Crônica
Sonhos transmutados em felinos 
são sempre silenciosos. Não grite. 
Não assuste o poema com a inexatidão da pressa.                                                      José Mindlin, bibliófilo
  
4  Do golpe final                                                                                               Salim Miguel
Felinos sabem matar. Poemas querem morrer. 
  
                                                                                           Para falar de uma vida entre livros, título 
Deixe­os livres, instintivos,  
                                                                                           paradigmático de seu livro de memórias, José Mindlin 
seguidores de suas próprias naturezas. 
                                                                                           começa esclarecendo que não gosta da expressão 
  
                                                                                           "palestra". Muito menos "formal". Considera­se um 
Não tenha compaixão 
                                                                                           contador de histórias, que vai desfiando o fio das 
quando um poema tenta a fuga 
                                                                                           lembranças ­ e assim envolve o ouvinte e mesmo o 
e é pego e estraçalhado e lapidado 
                                                                                           leitor que já lera suas andanças pelo mundo, em 
pelos intensos dentes dos sonhos. 
                                                                                           busca de primeiras edições. É, em síntese, um papo 
  
                                                                                           gostoso, que vai ­e­vem, recua e avança, como nas 
Depois de abatido, proteja seu poema 
                                                                                           histórias das "Mil e uma Noites", de que se mostrou 
criando em volta dele 
Deixe­os livres, instintivos,  
                                                                                              paradigmático de seu livro de memórias, José Mindlin 
     seguidores de suas próprias naturezas. 
                                                                                              começa esclarecendo que não gosta da expressão 
       
                                                                                              "palestra". Muito menos "formal". Considera­se um 
     Não tenha compaixão 
                                                                                              contador de histórias, que vai desfiando o fio das 
     quando um poema tenta a fuga 
                                                                                              lembranças ­ e assim envolve o ouvinte e mesmo o 
     e é pego e estraçalhado e lapidado 
                                                                                              leitor que já lera suas andanças pelo mundo, em 
     pelos intensos dentes dos sonhos. 
                                                                                              busca de primeiras edições. É, em síntese, um papo 
       
                                                                                              gostoso, que vai ­e­vem, recua e avança, como nas 
     Depois de abatido, proteja seu poema 
                                                                                              histórias das "Mil e uma Noites", de que se mostrou 
     criando em volta dele 
                                                                                              mais do que um apaixonado. Foi uma tarde, na 
     muralhas transparentes de solidão. 
                                                                                              Aliança Francesa de Florianópolis, em que todos nos 
     O poema morto pode ser visto, cheirado 
                                                                                              encantamos com sua facilidade de comunicação, seu 
     mas jamais poderá ser comido 
                                                                                              humor, sua memória prodigiosa, seu prazer de viver.
     por quem não o caçou. 
       
     Tenha sempre muito cuidado                                                               Revela­nos que iniciou sua vida entre livros aos 13 
     com as hienas e os chacais,                                                              anos, agora, aos 85, tem cerca de 30 mil. Ou já serão 
     são caçadores ineptos, vivem de restos,                                                  mais? Ele continua comprando. Concorda com sua 
     desejam sempre adonar­se                                                                 mulher: a partir de certo momento, deixaram de ser 
     da caça que não lhes pertence.                                                           donos dos livros, os livros é que são donos deles.
       
     5  Da eterna insaciação                                                                  O livro é para ele como um ser vivo. Dá exemplos: 
     Não acorde seus sonhos                                                                   precisou selecionar cem de seus livros para uma 
     com a ofensa da derrota.                                                                 exposição. Foi difícil; todos queriam se mostrar; uma 
     Felinos nunca sabem o que é perder.                                                      ciumeira danada. Teve de acalmar os que não foram 
                                                                                              escolhidos, dizendo que mais adiante teriam vez.
     Cace eternamente. 
     Poemas são animais                                                                       Difícil também foi atender à solicitação de uma lista de 
     que precisam ser devorados.                                                              cem livros importantes, que constituiriam a base do 
     A sobrevivência deles está diretamente                                                   acervo de uma escola. Tarefa impossível, em vez de 
     ligada à sua própria morte.                                                              livros indicou cem autores; não satisfeito fez uma 
                                                                                              lista complementar de mais 20. Lancei a isca, 
     Impregne o papel com a violência do amor,                                                perguntei­lhe se conhecia as listas de Carpeaux e 
     com a beleza insana do poder de caçar um animal                                          Marques Rebelo. O artifício funcionou, Mindlin 
     que só deseja ser caçado.                                                                puxou de uma pasta e leu sua relação, feita em ordem 
                                                                                              alfabética. O segundo era Alain Fournier, autor de um 
     Deixe sua marca no corpo sacrificado do poema.                                           único livro, "Le grand Meaulnes", morto na guerra de 
     Ele pede por isso.                                                                       1914/18. Eu o havia lido por indicação do Marques 
                                                                                              Rebelo.
     Coma a carne crua de cada verso. 
       
     Alimente­se com a vida que o poema lhe concedeu.                                         Da lista, ele passa para suas preferências literárias. 
                                                                                              Poucos hispano­americanos e menos ainda norte­
     Eternize­se com o desejo de eternidade                                                   americanos. Lê e relê Proust; admira o Joyce de 
     contido em todo poema que se deixa matar.                                                "Dublinenses", mas não afina com o "Ulisses"; se 
                                                                                              fosse forçado a escolher só dois autores, seriam 
                                                                                              Balzac e Proust; só um romance, "Guerra e Paz", de 
                                                                                              Tostoi. Sublinha a importância de "Os Sertões", mas 
                                                                                              diz que organizaria o livro começando pela última 
                                    As várias faces                                           parte. Falar de autores contemporâneos lhe é mais 
                                                                                              complicado; não consegue dissociar o escritor do 
                                  de Barry Adamson                                            cidadão; apesar dos elogios, nunca leu Celine por 
                                                                                              causa de sua adesão ao nazi­fascismo.
                                         GLEBER PIENIZ

                                                                                              Como todo colecionador que se preza, Mindlin 
     Joinville ­ Barry Adamson é uma referência para se tentar entender um pouco da           valoriza certos aspectos do livro, para além de 
     música atual, mesmo que a lição que tenha a dar pareça confusa. Em 1977, com             primeiras ou antigas edições: se o volume é 
     Howard Devoto (ex­Buzzcocks), formou a lendária Magazine, banda extinta em 1981.         autografado, se passou por mais de um dono, folheia 
..                                                                                                                                                         ..
     Juntou­se a Nick Cave e à primeira formação dos Bad Seeds em 1984. Com o bardo           o livro com curiosidade ou ternura, vai à folha de 
     australiano, compôs e gravou quatro discos sem restringir seu talento apenas ao          rosto, ao colofão, estuda a tipologia, as ilustrações ­ e 
     baixo. Multinstrumentista, ganhou segurança para apostar em uma carreira solo que        muito mais. Ele fala com entusiasmo de muitas 
     jamais pecou pela falta de talento ou de coragem. É esta trajetória irretocável que a    preciosidades, entre elas uma Bíblia de Gutenberg.
     coletânea "The Murky World of Barry Adamson" (Roadrunner) registra.
                                                                                              Além de bibliófilo apaixonado, Mindlin é um 
     Em 12 faixas (três inéditas), Adamson mostra o que de melhor sua concepção de            benemérito das artes. Sei que ele não aprecia o 
     música pode oferecer, ainda que seu universo temático não seja nada agradável.           "benemérito". Paciência. Não tenho outra maneira 
     Como Cave e David Lynch (diretor de "A Estrada Perdida", filme para o qual gravou        para defini­lo. Durante anos, com sua empresa Metal 
     quatro músicas), Adamson tem uma visão peculiar do lado negro da vida, do amor e         Leve, ele lançou importantíssimas edições fac­
     da frustração, da ruína e da redenção. Vertidas em disco, estas crônicas malditas        similares (entre outras a "Revista de Antropofagia", 
     ganham leitura sofisticada e abordagem digna da tradição das big bands, com metais       de Oswald de Andrade, e a "Revista Verde", do 
     em destaque, piano e uma gama fabulosa de timbres de teclados.                           Grupo de Cataguazes/MG), ou patrocinou 
                                                                                              lançamentos como "Frente e Verso", sobre Carlos 
     Engana­se quem considera o trabalho deste músico, compositor e arranjador um             Drummond de Andrade, onde figura uma foto dos 
     sinônimo de purismo e austeridade. Longe de apresentar uma música sisuda ou              jovens do Grupo Sul, num encontro com o poeta, na 
     datada, Adamson deturpa uma aparente reverência ao passado com intervenções              década de 50. Temos experiência direta de seu apoio a 
     eletrônicas, linhas de baixo marcantes, bases pré­gravadas e vocais que vão da           projetos culturais. Durante todo o tempo em que 
     rouca insinuação à pura canastrice. De "Moss Side Story", seu primeiro disco solo        circulou a revista "Ficção (RJ, 1976/79), manteve nela 
     (1988), saem "The Man With the Golden Arm" e "The Big Bamboozle", temas                  anúncio da sua Metal Leve. É bom lembrar que esta 
     bastante ortodoxos amparados pelo baixo e pelos metais que são trazidos à                empresa pioneira, devida à política entreguista do 
     modernidade para contrapor vozes distorcidas. "007, A Fantasy Bond Theme" (de            atual governo, teve, como tantas outras, de ser 
     "Soul Murder", 1992) ambienta em paragens tropicais uma versão quase                     vendida para um grupo estrangeiro.
     irreconhecível do tema do agente secreto.
                                                                                              Alguém lhe perguntou: quantos livros formam sua 
     "The Vibes Ain't Nothing but the Vibes" (de "Oedipus Schmoedipus", de 1996)              biblioteca? Respondeu que uns 30 mil. Outro: já leu 
     mistura piano, aplausos e uma voz a la Barry White sobre base cândida de vibrafone,      todos? Retrucou: impossível, precisaria ter o dobro 
     instrumento que também se faz ouvir em "Can't Get Loose", fazendo oposição à bela        da idade que tenho. Lembrei­me de um diálogo 
     melodia vocal sobre uma base pós­punk. A crueza dá o tom na inédita "Mitch and           parecido, quando eu lhe disse: ledo engano, você 
     Harry", construída apenas de uma narração ao pé do ouvido aliada a um tema de            sempre teria novos ­ velhos livros para adquirir e ler, 
     suspense. Voltando aos exageros polifônicos, Adamson dá personalidade à "Saturn          seria necessário mais tempo de vida e assim 
     in the Summertime" acrescentando­lhe assobios, violinos e o trumpete com surdina         sucessivamente.
     de Guy Barker. A melodia vocal reassume a condução na inédita "Walk the Last 
     Mile" e passa incólume até mesmo pelos loops eletrônicos. Do jazz ao drum 'n' bass,      José Mindlin insiste em que o livro é imprescindível e 
     do rock a ousadias harmônicas, "The Murky World" é a melhor porta de entrada             insubstituível para quem sabe ler, supera tudo o que 
     para o universo de irreverentes revisionismos e contradições temporais de Barry          surge pensando suplantá­lo. Confirma, assim, uma 
     Adamson. Tome cuidado e seja bem­vindo.                                                  frase de Alberto Manguel, autor da excelente "Uma 
                                                                                              História da Leitura". Perguntado a respeito da 
                                                                                              afirmativa de Bill Gates de que a era do livro chegara 
                                                                                              ao fim, retrucou: "Para dizer isto Bill Gates escreveu 
                                                                                              um livro".
                                  "De Corpo e
                             Alma" estréia no Guairão
insubstituível para quem sabe ler, supera tudo o que 
para o universo de irreverentes revisionismos e contradições temporais de Barry           surge pensando suplantá­lo. Confirma, assim, uma 
Adamson. Tome cuidado e seja bem­vindo.                                                   frase de Alberto Manguel, autor da excelente "Uma 
                                                                                          História da Leitura". Perguntado a respeito da 
                                                                                          afirmativa de Bill Gates de que a era do livro chegara 
                                                                                          ao fim, retrucou: "Para dizer isto Bill Gates escreveu 
                                                                                          um livro".
                             "De Corpo e
                        Alma" estréia no Guairão
                                     Joel Gehlen
                                Especial para o Anexo

Curitiba ­ O Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, entra em cena hoje estreando "De 
Corpo e Alma", um espetáculo de dança, em muitos aspectos, especial. O programa 
composto por dois números, "O Segundo Sopro" e "Tango", comemora os 25 anos 
de inauguração do grande auditório do teatro, conhecido como "Guairão", e 
promove uma espécie de renascimento do BTG, companhia das mais importantes do 
País, que está completando 30 anos de atividades.

Criado em 1969, o Balé do Teatro Guaíra possui um respeitável repertório, com obras 
de alguns dos mais expressivos nomes da dança nacional e internacional. Já foi 
dirigido por grandes nomes do balé mundial, como Yurek Shabelewski, Hugo 
Delavalle e Carlos Trincheiras. Ao longo de sua existência, o BTG tem trabalhado 
com importantes coreógrafos, dentre eles John Butler ("Catulli Carmina", de Carl 
Orff, em 1981), Maurice Bèjart ("Opus V", de Webern, em 1981), Renato Magalhães 
("Concerto em Sol", de Ravel, em 1986), Vasco Wellenkamp ("Exultate Jubilate", de 
Mozart, em 1987), Rodrigo Pederneiras ("Dança da Meia­Lua", de Edu Lobo e Chico 
Buarque, em 1988), Luiz Arrieta ("Estância", de Alberto Ginastera, em 1991), Milko 
Sparembleck ("Os Sete Pecados Capitais", de Kurt Weill, em 1992; e "Canções de 
Wesendonck", de Wagner, em 1993), Márcia Haydée ("Coppelius, o Mago", de 
Delibes, em 1996).

Para esta última temporada do século, o BTG passou por uma renovação, do elenco à 
direção. Para dirigi­lo, foi contratada a jornalista e ex­bailarina Suzana Braga, 
personalidade conhecida em Santa Catarina pelas participações como crítica de 
dança do ANFestival, suplemento especial publicado por A Notícia durante a 
realização do Festival de Dança de Joinville.

Desde que Suzana assumiu a direção artística do BTG, em setembro último, a 
companhia selecionou 12 novos bailarinos. Entre eles, Saulo Fujita, bailarino paulista 
também conhecido em Joinville, onde, além de premiações oficiais no FDJ, recebeu o 
Troféu ANFestival, de A Notícia, em 1998. Outra personalidade com passagem pelo 
festival que passou a integrar o staff do Guaíra é Beatriz de Almeida, ex­primeira 
bailarina do Stuttgart Ballet, da Alemanha, que ocupa o cargo de maitre de ballet.




                            Congraçamento com
                             a dança brasileira
Para coreografar os dois espetáculos de "De Corpo e Alma" foram contratados o 
argentino Eduardo Ibañez e a paulista Roseli Rodrigues.

Em "O Segundo Sopro", Roseli trabalha com os sentidos de elementos como o 
vento, a água e pedras semipreciosas, levando ao extremo algumas de suas marcas: 
ousadia, intensidade e fluidez em formas acrobáticas, deslizantes e unidas. O grande 
desafio que Roseli propõe aos bailarinos é dançarem no palco coberto por água, 
elemento dificílimo, que exige grande técnica e sincronismo perfeito. O resultado é 
um espetáculo a um só tempo lírico e audacioso. A peça tem música especial, 
composta por Fábio Cardia.

"Tango", o segundo n úmero da noite, é inspirado (e, ao mesmo tempo, tributo) a um 
século do ritmo portenho. A coreografia de Eduardo Ibañez trabalha com os 
componentes básicos desta dan ça sedutora, desde os temas musicais históricos 
como "El Dia en que me Quieras" até composições modernas como "Tangueira", de 
Astor Piazzolla. Dançado em seus passos tradicionais e nas pontas, "Tango" faz um 
passeio pelas principais personalidades desta m úsica, em seus cem anos.

A estréia de hoje à noite, comemorando os 25 anos do Guairão e os 30 anos do BTG, 
será também um congraçamento com a dança brasileira, reunindo em Curitiba 
representantes de todas as companhias oficiais do País e muitos nomes expressivos 
da dança nacional.




                         Escola de balé encerra
                      o ano com noite beneficente
Joinville ­ A Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura da Joinville faz, hoje à 
noite, seu espetáculo de encerramento de ano no palco do Centreventos Cau 
Hansen. Do clássico ao contemporâneo, bailarinas e coreógrafos apresentam à 
comunidade os números que, durante todo o ano, foram premiados em Santa 
Catarina e em outros Estados.

No início do ano, o grupo juvenil da Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura 
obteve o primeiro lugar no Festival de Dança de Niterói, no Rio de Janeiro, com as 
coreografias "Pássaro Azul" e "Vulnerasti", ambas de Marcos André Sage, um dos 
professores da Casa da Cultura de Joinville.

"Dueto Para Sylvia", outra coreografia de Marcos Sage, voltou do festival carioca 
com o prêmio pelo terceiro lugar, mesma colocação que "Ad Genua" (um fragmento 
de "Todas as Mulheres da Minha Vida") obteve no Festival 5º Santa Maria em 
Dança, no Rio Grande do Sul, realizado em setembro.

Em julho, fragmentos de "Weltlos" deram a Marcos André Sage e ao grupo juvenil 
professores da Casa da Cultura de Joinville.

"Dueto Para Sylvia", outra coreografia de Marcos Sage, voltou do festival carioca 
com o prêmio pelo terceiro lugar, mesma colocação que "Ad Genua" (um fragmento 
de "Todas as Mulheres da Minha Vida") obteve no Festival 5º Santa Maria em 
Dança, no Rio Grande do Sul, realizado em setembro.

Em julho, fragmentos de "Weltlos" deram a Marcos André Sage e ao grupo juvenil 
da escola o primeiro lugar no Festival de Dança de Joinville. "Referência", 
coreografia de Sigrid Nora, também deu ao Grupo Cidade de Joinville da Casa da 
Cultura o primeiro lugar na última edição do maior festival de dança do País.

                                   Produção
O espetáculo de hoje à noite é beneficente e seu programa prevê a apresentação de 
15 coreografias divididas em duas partes que mostram a produção dos professores 
Marcos Sage, Alessandra Beatriz Hilário, Fabine Évelin Romão e Maria Antonieta 
Spadari à frente de seus alunos de diversas idades.

A apresentação de encerramento de ano da Escola Municipal de Ballet da Casa da 
Cultura da Joinville inicia às 20h30 e tem como ingresso apenas um quilo de alimento 
não­perecível.




                        Papai Noel perde espaço
                        na publicidade de Natal

Agências esquecem do espírito natalino e colocam atores no lugar 
                      do "bom velhinho"

                                  Rodrigo Teixeira
                                     TV Press

Papai Noel está em baixa neste Natal. E isso fica claro nas publicidades natalinas. O 
"bom velhinho" perdeu espaço para atores, apresentadores e até desconhecidos 
contratados por ag ências. O ator Thiago Lacerda, por exemplo, aproveita o embalo 
de seu personagem Matheo, de "Terra Nostra", e além dos inúmeros comerciais 
regionais, aparece incessantemente no reclame da Caixa Econômica Federal. Já Gugu 
Liberato, apresentador do "Domingo Legal", no SBT, encabeça a campanha natalina 
da Arno. Na compra de qualquer produto da marca, o consumidor vai estar ajudando 
famílias carentes do Nordeste, pois uma parcela do dinheiro vai ser revertida em 
cestas básicas.

Um dos únicos comerciais em que aparece o representante brasileiro do Papai Noel é 
do celular Nokia. Mesmo assim, o "bom velhinho" não diz uma palavra e só segura o 
aparelho na mão, seguido da frase em off "neste Natal, o mundo todo só fala nele". 
No anúncio da Coca­Cola, a participação do Papai Noel também é quase nula. Ele só 
dá o ar da graça no último take, quando com uma garrafa do refrigerante na mão, 
pede silêncio para o comboio da Coca­Cola passar por uma cidade.

As mensagens dos anúncios também estão mais ligadas à tentativa de reforçar o 
produto e não passar uma mensagem que, além de atiçar o espectador a comprar, o 
faça pensar sobre o que representa a festa natalina. A campanha da Arno é uma das 
poucas com uma proposta social. A Bauducco também tenta passar alguma 
mensagem, já que trabalha com o slogan "aproveite o Natal para aprender a dividir", 
mas não vai além de mostrar crianças com panetones. Já os comerciais da Caixa 
Econômica com Thiago Lacerda são muito mais para abocanhar o 13º dos brasileiros, 
enquanto a Estrela se resume a dizer que "neste Natal, não importa o brinquedo, tem 
que ser Estrela". Só usam a festa natalina como gancho, porque nem a imagem do 
Papai Noel utilizam.

Até mesmo as emissoras estão demorando para exibir suas mensagens natalinas ou 
de próspero Ano Novo. A Globo, que sempre produz chamadas de seu elenco no 
início de dezembro, até a primeira quinzena deste mês se limitava a chamar os 
programas dedicados ao Natal e a passagem do ano e insistir na frase persecut ória 
"todo mundo de olho na Globo". A Band, por exemplo, assim como SBT e Record, s ó 
irá mostrar os funcionários dedicando "feliz Natal e um próspero ano novo" poucos 
dias antes das datas festivas. Até mesmo as músicas natalinas tradicionais ou novas 
canções publicitárias não estão sendo exploradas este ano. O jingle de Marcos Valle, 
usado pela Globo desde a década de 70 ("hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é 
de quem quiser, quem vier..."), parece que foi esquecido por completo.

A ausência de alguns comerciais de marcas famosas também ajuda para o "bom 
velhinho" estar sentado no banco dos reservas das agências. Uma propaganda 
como a do extinto Banco Nacional, por exemplo, é até hoje lembrada. Mas parece que 
os profissionais de criação publicitária atuais não conseguem repetir a fórmula, já 
que o comercial contava com uma melodia de fácil assimilação e uma letra simples 
tipo "bom Natal, um feliz Natal, muito amor e paz para você...". A Sadia, que sempre 
fez comerciais interessantes, como o que mostrava uma família se confraternizando 
ao som de "Perhaps Love", na voz de Plácido Domingo e John Denver, até a primeira 
quinzena de dezembro não havia colocado nenhuma campanha no ar. Na verdade, a 
diferença é que as propagandas atuais se baseiam em frases feitas, como "o Natal da 
TVA é um presente para você", do que no espírito natalino. Por isso, Thiago Lacerda 
tomou o lugar do Papai Noel e, junto com o "bom velhinho", palavras como paz e 
fraternidade perdem espaço na publicidade natalina.


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.              Autoria:                            ‹o e Internet  ­ Projeto:  Avelar L ’vio dos Santos , jornalista, RP MTr/PR 890             .

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Revisando a coletânea de sucessos de Roberto Carlos sem novidades

  • 1.     Ê  NOSSOS ANUNCIANTES S ÌO A GARANTIA DE CONTE òDO SEMPRE MELHOR E GRATUITO   Roberto Carlos passa Música Leia também: o Natal com coletânea A imagem do som Programação do  Sem novidades e ressentida dos anos 60, CD  de Chico Buarque Cinema e filmes na  funciona como consolo para fãs do Rei TV. Inspirados em músicas do compositor,  Cinema   artistas recriam obras visuais de impacto,  Rubens Herbst com erros e acertos Joinville ­ Este foi um ano duro para Roberto Carlos. O câncer que  acometia sua mulher voltou com força total e, segundo a imprensa  Walter de Queiroz Guerreiro tem noticiado, seu estado é crítico, inclusive com poucas chances  Especial para o Anexo de sobrevivência. O tratamento difícil, as viagens para o exterior,  as vigílias pela saúde de Maria Rita e o natural estresse  Felipe Taborda, artista gráfico, desenvolveu o projeto  mantiveram o cantor longe dos estúdios e palcos em 1999, o que culmina, mais uma  de criar uma coleção de arte inspirada na música,  vez, num Natal diferente para os fãs. Sem repertório novo nem especial de fim de ano  melhor diríamos na letra, dos maiores compositores  na Globo ­ uma tradição que vinha se mantendo desde 1974 ­, eles terão que se  brasileiros contemporâneos. O projeto, iniciado no  contentar mesmo com mais uma coletânea. ano passado com letras de Caetano Veloso, está  dando frutos saudáveis este ano, com Chico  No ano passado, o mesmo expediente fora utilizado pela Sony, que recheou o  Buarque, a que se seguirão Roberto Carlos, Gilberto  lançamento com quatro canções inéditas. Em "30 Grandes Sucessos ­ Volumes 1 e 2"  Gil e outros durante oito anos, construindo um painel  há apenas uma nova composição, que abre cada CD da compilação dupla. Com uma  das artes visuais de fins do século 20, início do 21. inspirada levada caipira e o discurso religioso de sempre, "Todas as Nossas  Senhoras" é o resultado da única incursão do "Rei" pelos estúdios neste ano. O  A série intitulada "A Imagem do Som" convida a cada  resto, como já deu para perceber, são velhos sucessos, cavalos de batalha pinçados  ano 80 artistas das mais diferentes linguagens e  de todas as fases da carreira do cantor. suportes, de ilustradores a artistas conceituais,  abrangendo todos os campos da criação. Para evitar  O lado romântico de Roberto Carlos, aquele que o elevou à condição de maior astro  direcionamento do gosto  subconsciente, queiramos  nacional a partir dos anos 70, é privilegiado pela compilação. "Detalhes", "Lady  ou não, na escolha do tema  Taborda optou por  Laura", "Cavalgada", "Outra Vez", "Amada Amante", "Café da Manhã" e, claro,  sortear as letras, numa relação representativa da  "Emoções", não poderiam ficar de fora, bem como o Roberto devoto, representado  melhor poética de Chico Buarque. por "Quando Eu Quero Falar com Deus", "Nossa Senhora", "Jesus Salvador" e  "Aleluia". "Canzone Per Te" mostra sua porção italiana, e "Mulher de 40" e  Fornecer letras de música como estímulo à criação  "Caminhoneiro", sua produção mais recente. O filé, porém, está nas faixas menos  plástica é um caminho delicado, pelo perigo de a arte  citadas em shows e especiais ­ mas nem por isso menos importantes ­, caso de "O  visual se tornar transformação imagética da palavra  Portão", "Como Vai Você", "Não Quero Ver Você Triste", "Desabafo", entre outras. escrita, ou seja, de a arte visual perder sua liberdade,  tornando­se literária. Esse intercâmbio vem de longe,  Mas há um problema ­ ou melhor, dois. O primeiro é que, apesar de a maioria das  desde E. Cummings, passando por Ezra Pound sobre  músicas serem essenciais para entender (e curtir) o mito Roberto Carlos, não há fã  a aparência da palavra e da teoria de que o poema,  que não tenha tudo isso em casa. Até pelo fato de já ter lançado uma coletânea no  como toda forma de arte, é um objeto (vide hoje os  ano passado, a gravadora poderia valorizar um pouco mais o suado dinheirinho do  neoconcretos, Haroldo de Campos e afins). No lado  consumidor com algo menos redundante e mais tentador. Às vésperas do fim do  oposto, a característica da maioria das obras  milênio, seria uma ótima chance de desencavar sobras de est údio, velhas canções  contemporâneas é desenvolver um código próprio de  inéditas e faixas ao vivo do cantor, sozinho ou com alguns de seus inúmeros  leitura que não pode ser lido de maneira autônoma,  parceiros. exigindo um discurso de explicações dos conceitos  subjacentes. A arte conceitual, a mais cerebral das  A segunda pisada, e ainda mais grave, é restringir a fase da Jovem Guarda a uma  formas plásticas, buscando autonomia, só sobrevive  única canção, "O Calhambeque". Ora, é impossível mapear a trajetória de Roberto  através de códigos suplementares de comunicação,  Carlos dignamente sem lembrar sua contribuição para a música brasileira nos anos  pela linguagem escrita. Desta forma há uma simbiose  60, quando ajudou a traduzir para o idioma nacional as inquietações e desejos que  em que a obra para ser entendida, transforma­se em  tomavam conta da juventude ao redor do mundo. Onde est ão "Quero que Vá Tudo  metalinguagem, no código criado pela própria obra. para o Inferno", "Splish, Splash", "Parei na Contramão", "Namoradinha de um  Amigo Meu", "Eu Sou Terrível", "É Proibido Fumar", e por aí vai? Imperdoável. Voltemos à exposição inaugurada no Paço Imperial  (Rio de Janeiro) a 2 de dezembro, permanecendo até 5  Sendo assim, a quem pode interessar uma coletânea incompleta e sem novidades  de março de 2000. Comparada à exposição de 1998,  como esta? Talvez aos que se preferem apenas o Roberto baladeiro, ou então ao  dedicada a Caetano Veloso, houve sensível  fanático que engole qualquer coisa que lhe é empurrado de seu ídolo. Como já foi  amadurecimento nas propostas, registradas em  dito, não é de todo ruim, mas fica um gosto esquisito na boca. É triste, como a  definitivo num livro­catálogo de alta qualidade  expressão de Roberto na capa do disco. gráfica, patrocinado pela Petrobras. A multiplicidade de caminhos da arte contemporânea  é vista pela leitura de cada artista, assim como a boa e  má carpintaria na criação artística, a leitura direta e  Poeta joinvilense fácil da letra, a reflexão sobre o conteúdo e a  é premiado em SP obsess ão particular de cada um. Esta é, aliás, uma  característica constante na obra contemporânea: o  artista cria um código de leitura que perpassa toda  Entre 441 inscritos e 12 selecionados, Rubens da Cunha obtém o 1º  sua criação, desenvolvendo redação dialética com o  lugar no Concurso de Poesia Falada criado anteriormente, compreensível para os que  reconhecem ser sua visão de mundo. Em termos de  GLEBER PIENIZ metalinguagem, existe contradição essencial, o  significante adquirindo significado preciso apenas no  Joinville ­ Oito anos de dedicação à poesia renderam ao joinvilense Rubens da  código próprio do autor. Cunha a maturidade suficiente para conquistar, no último dia 4, o primeiro lugar no  Concurso de Poesia Falada 1999 da Biblioteca Mário de Andrade, de São Paulo.  A exposição revela grandes interpretações, como a de  Entre 441 trabalhos inscritos e 12 selecionados para a fase de apresentação, foi  Oscar Ramos, sobre a letra de "O Meu Guri". Partindo  "Tratado Sobre a Caça ao Poema" o grande vencedor, texto premiado com R$ 1 mil.  da imagem criada por Matisse, em Saint Paul de  No ano passado, Cunha fora classificado em segundo lugar no mesmo concurso. Vance, da Virgem e o Menino Jesus, o artista  substitui Jesus pela foto de um menor de Belém do  Em novembro, uma comissão composta por cinco jurados apontou 12 trabalhos que  Pará e superpõe uma poesia de Rimbaud sobre o  deveriam ser declamados pelos autores no dia 4 de dezembro para um júri de três  garoto que dorme tranqüilo, em oposição à dura  nomes que definiria a premiação. Cunha foi selecionado, apresentou seu trabalho e  realidade do pivete com a tarja negra, ocultando a  voltou para Joinville com o primeiro prêmio. Sua conterrânea Patrícia Claudine  identidade do menor delinqüente. Hoffmann, vencedora da última edição do prêmio Lindolf Bell, também foi uma das 12  concorrentes selecionadas para a fase final com "Navegações Léxicas a Respeito do  De leitura imediata, e no entanto de alta qualidade, é a  que Fica". Os poemas que concorreram na etapa de apresentação integram, agora,  escultura­objeto de Gabriel Vilella, apontando  uma exposição itinerante pelas bibliotecas públicas paulistanas. claramente em "Com Açúcar, com Afeto", a ligação 
  • 2. substitui Jesus pela foto de um menor de Belém do  Em novembro, uma comissão composta por cinco jurados apontou 12 trabalhos que  Pará e superpõe uma poesia de Rimbaud sobre o  deveriam ser declamados pelos autores no dia 4 de dezembro para um júri de três  garoto que dorme tranqüilo, em oposição à dura  nomes que definiria a premiação. Cunha foi selecionado, apresentou seu trabalho e  realidade do pivete com a tarja negra, ocultando a  voltou para Joinville com o primeiro prêmio. Sua conterrânea Patrícia Claudine  identidade do menor delinqüente. Hoffmann, vencedora da última edição do prêmio Lindolf Bell, também foi uma das 12  concorrentes selecionadas para a fase final com "Navegações Léxicas a Respeito do  De leitura imediata, e no entanto de alta qualidade, é a  que Fica". Os poemas que concorreram na etapa de apresentação integram, agora,  escultura­objeto de Gabriel Vilella, apontando  uma exposição itinerante pelas bibliotecas públicas paulistanas. claramente em "Com Açúcar, com Afeto", a ligação  literária nas balas verde­amarelas com trechos da  Cunha escreve desde os 20 anos e participa há dois do grupo de poetas Zaragata,  música, dentro do tacho de cobre tradicional das  que também tem Patrícia como integrante. "Quando um de nós ganha algum prêmio,  doceiras interioranas. a gente considera como se todo o grupo ganhasse. Prezamos muito pela qualidade  dos poemas", garante o escritor, ex­surrealista que admira o trabalho de Hilda Hilst,  Criando impacto visível, porém se apropriando da  Jorge Lima e João Cabral de Melo Neto. O convívio com o grupo, admite, lhe deu  linguagem única de Arthur Bispo do Rosário, a artista  disciplina, base técnica e conhecimento, elementos preciosos que ainda não são  plástica Veronica D'Orey cria o "Brejo da Cruz",  suficientes para que oriente sua po ética em um caminho bem demarcado. "Ainda  bordando a letra da música e formando uma cruz de  estou meio à cata de um estilo, de uma linha mais conceitual", diz o poeta. "Construo  botões coloridos. Como transliteração da música será  um conteúdo poético utilizando imagens e metáforas". válida, não fosse a idéia ser marca registrada de um  grande artista do inconsciente, à margem da  "Tratado Sobre a Caça ao Poema" é um roteiro em versos para a construção poética,  sociedade. texto constituído de metáforas alusivas ao reino animal e à prática da caça. "Parti do  princípio de como desenvolver um poema e usei a imagem dos felinos", explica  Arnaldo Pappalardo cria uma macrofotografia, a  Cunha, consciente de que este conte údo didático ­ e ao mesmo tempo confessional ­  imagem densa de um velho cravo, citado na letra de  do trabalho pode ter colaborado para "seduzir os jurados". A utilização de elementos  "Tanto Mar", enquanto Ruth Freithof relê o  como linces, leões, tigres e panteras já faz parte do universo estético do poeta e será  "Passaredo" em três gravuras com recursos de  tema para o primeiro livro que Cunha pretende lançar, ainda sem previsão de data.  computação, citando pássaros inexistentes na letra, o  "Penso em um livro­conceito onde eu trabalharia a metalinguagem usando a figura  azul da liberdade, o sangue da vida, a violência do  dos felinos". grafismo prenunciando o homem. Escritor cuja produção é pouco ligada ao rigor poético, Cunha garante que busca,  Dentro da habitual postura irônica de Nelson Leirner,  agora, agregar valores formais à lavra. "Gosto da métrica porque ela me impõe um  papa neodadá dos anos 60, "Bem­querer" se  espaço", adianta, "mas não sou afeito à rima". "Se uso rimas em meus poemas, são  transforma em arte objeto, o tabuleiro de xadrez  rimas internas", avisa. opondo figuras de presépio em confronto com seres  elementais (gnomos?) de falos eretos, na explicação  da fúria dos casais. A questão apontada inicialmente  quanto à criação de  Tratado sobre a caça ao poema   vocabulário próprio repetitivo como código de     linguagem  aparece em Alex Cerveny na leitura de  1  Da preparação   "Noite dos Mascarados", ao enfileirar colagem de  Na caça ao poema é preciso  máscaras. O caso se repete com Amador Perez  destituir­se de covardias.   propondo "Último Blues" dentro de sua habitual     execução impecável no desenho ao captar detalhes  É preciso que os tremores vários  da "Gioventú" de Eliseu Visconti, rememorando a  sentidos na preparação  sedução da boca e olhos da ninfeta. sejam apenas estratagemas das máscaras  para enganar o poema.     Em leitura bem brasileira e direta, Ana Durães mostra  As máscaras devem ser incorporadas  "A Banda", tema adequado ao universo popular,  sobre os escombros da face:  como as imagens dos Pífaros de Caruaru, do mesmo  nunca mostrada, nunca vista,  modo que Muti Randolph, utilizando recursos de  nunca espelhada em verdades.  computação gráfica e plotter, compõe seu "Sabiá"     intensamente tropical e neo­antropofágico, clara  Não se preocupe com verdades,  homenagem a Tarsila do Amaral. são animais mitológicos de impossível caça.  Detenha­se apenas no poema.   Há nomes consagrados que desapontam, como a     instalação de Cildo Meirelles, a montagem fotográfica  2  Da arma   de Adriana Varejão, o objeto de Luiz Zerbini.  Na caça ao poema é preciso  Surpresa agradável é a escultura de Maninha,  que o sonho seja o predador.  assemblage de porcelanas de gosto duvidoso, tão     kitsch quanto as referências às fogueiras, balões e  Transforme seu sonho em fera.  luares do sertão da música "Barrão". Felinos são os mais completos.     Analisar mais é tarefa impossível pela exigüidade de  Leões, leopardos, panteras, linces:  espaço (e paciência do leitor). A apenas a visão direta  misto de silêncio e beleza,  dessa importante mostra dá a dimensão real da  de amor e violência.  experimentação contemporânea. A aparente     indefinição da arte atual, com seus múltiplos  Jamais transforme seu sonho em um tigre.  caminhos, é exatamente o que demonstra a validade  Tigres já não caçam mais poemas  da arte, leitura e releitura, reflexão e acomodação,  depois que passaram a servir  sustenta ção do visual pela palavra e vôo livre da  à cegueira de Borges.  imagem. Definir este relacionamento amoroso, quase     incestuoso entre artes, é missão impossível,  3  Da sabedoria da fome   traduzível quiçá numa palavra única: arte, que na  Pense na escrita se fazendo fome  origem significa capacidade de realizar. sobre os espaços em branco.  Faça com que seus felinos  Walter de Queiroz Guerreiro é historiógrafo e  partam em busca da presa  crítico de arte escondida nos contornos da palavra.     Sinta o alimento respirando nas sombras,  disfarçando­se em ausências.     Crônica Sonhos transmutados em felinos  são sempre silenciosos. Não grite.  Não assuste o poema com a inexatidão da pressa.  José Mindlin, bibliófilo    4  Do golpe final   Salim Miguel Felinos sabem matar. Poemas querem morrer.     Para falar de uma vida entre livros, título  Deixe­os livres, instintivos,   paradigmático de seu livro de memórias, José Mindlin  seguidores de suas próprias naturezas.  começa esclarecendo que não gosta da expressão     "palestra". Muito menos "formal". Considera­se um  Não tenha compaixão  contador de histórias, que vai desfiando o fio das  quando um poema tenta a fuga  lembranças ­ e assim envolve o ouvinte e mesmo o  e é pego e estraçalhado e lapidado  leitor que já lera suas andanças pelo mundo, em  pelos intensos dentes dos sonhos.  busca de primeiras edições. É, em síntese, um papo     gostoso, que vai ­e­vem, recua e avança, como nas  Depois de abatido, proteja seu poema  histórias das "Mil e uma Noites", de que se mostrou  criando em volta dele 
  • 3. Deixe­os livres, instintivos,   paradigmático de seu livro de memórias, José Mindlin  seguidores de suas próprias naturezas.  começa esclarecendo que não gosta da expressão     "palestra". Muito menos "formal". Considera­se um  Não tenha compaixão  contador de histórias, que vai desfiando o fio das  quando um poema tenta a fuga  lembranças ­ e assim envolve o ouvinte e mesmo o  e é pego e estraçalhado e lapidado  leitor que já lera suas andanças pelo mundo, em  pelos intensos dentes dos sonhos.  busca de primeiras edições. É, em síntese, um papo     gostoso, que vai ­e­vem, recua e avança, como nas  Depois de abatido, proteja seu poema  histórias das "Mil e uma Noites", de que se mostrou  criando em volta dele  mais do que um apaixonado. Foi uma tarde, na  muralhas transparentes de solidão.  Aliança Francesa de Florianópolis, em que todos nos  O poema morto pode ser visto, cheirado  encantamos com sua facilidade de comunicação, seu  mas jamais poderá ser comido  humor, sua memória prodigiosa, seu prazer de viver. por quem não o caçou.     Tenha sempre muito cuidado  Revela­nos que iniciou sua vida entre livros aos 13  com as hienas e os chacais,  anos, agora, aos 85, tem cerca de 30 mil. Ou já serão  são caçadores ineptos, vivem de restos,  mais? Ele continua comprando. Concorda com sua  desejam sempre adonar­se   mulher: a partir de certo momento, deixaram de ser  da caça que não lhes pertence.  donos dos livros, os livros é que são donos deles.    5  Da eterna insaciação   O livro é para ele como um ser vivo. Dá exemplos:  Não acorde seus sonhos  precisou selecionar cem de seus livros para uma  com a ofensa da derrota.  exposição. Foi difícil; todos queriam se mostrar; uma  Felinos nunca sabem o que é perder.  ciumeira danada. Teve de acalmar os que não foram     escolhidos, dizendo que mais adiante teriam vez. Cace eternamente.  Poemas são animais  Difícil também foi atender à solicitação de uma lista de  que precisam ser devorados.  cem livros importantes, que constituiriam a base do  A sobrevivência deles está diretamente  acervo de uma escola. Tarefa impossível, em vez de  ligada à sua própria morte.  livros indicou cem autores; não satisfeito fez uma     lista complementar de mais 20. Lancei a isca,  Impregne o papel com a violência do amor,  perguntei­lhe se conhecia as listas de Carpeaux e  com a beleza insana do poder de caçar um animal  Marques Rebelo. O artifício funcionou, Mindlin  que só deseja ser caçado.  puxou de uma pasta e leu sua relação, feita em ordem     alfabética. O segundo era Alain Fournier, autor de um  Deixe sua marca no corpo sacrificado do poema.  único livro, "Le grand Meaulnes", morto na guerra de  Ele pede por isso.  1914/18. Eu o havia lido por indicação do Marques     Rebelo. Coma a carne crua de cada verso.     Alimente­se com a vida que o poema lhe concedeu.   Da lista, ele passa para suas preferências literárias.     Poucos hispano­americanos e menos ainda norte­ Eternize­se com o desejo de eternidade   americanos. Lê e relê Proust; admira o Joyce de  contido em todo poema que se deixa matar.  "Dublinenses", mas não afina com o "Ulisses"; se  fosse forçado a escolher só dois autores, seriam  Balzac e Proust; só um romance, "Guerra e Paz", de  Tostoi. Sublinha a importância de "Os Sertões", mas  diz que organizaria o livro começando pela última  As várias faces parte. Falar de autores contemporâneos lhe é mais  complicado; não consegue dissociar o escritor do  de Barry Adamson cidadão; apesar dos elogios, nunca leu Celine por  causa de sua adesão ao nazi­fascismo. GLEBER PIENIZ Como todo colecionador que se preza, Mindlin  Joinville ­ Barry Adamson é uma referência para se tentar entender um pouco da  valoriza certos aspectos do livro, para além de  música atual, mesmo que a lição que tenha a dar pareça confusa. Em 1977, com  primeiras ou antigas edições: se o volume é  Howard Devoto (ex­Buzzcocks), formou a lendária Magazine, banda extinta em 1981.  autografado, se passou por mais de um dono, folheia  .. .. Juntou­se a Nick Cave e à primeira formação dos Bad Seeds em 1984. Com o bardo  o livro com curiosidade ou ternura, vai à folha de  australiano, compôs e gravou quatro discos sem restringir seu talento apenas ao  rosto, ao colofão, estuda a tipologia, as ilustrações ­ e  baixo. Multinstrumentista, ganhou segurança para apostar em uma carreira solo que  muito mais. Ele fala com entusiasmo de muitas  jamais pecou pela falta de talento ou de coragem. É esta trajetória irretocável que a  preciosidades, entre elas uma Bíblia de Gutenberg. coletânea "The Murky World of Barry Adamson" (Roadrunner) registra. Além de bibliófilo apaixonado, Mindlin é um  Em 12 faixas (três inéditas), Adamson mostra o que de melhor sua concepção de  benemérito das artes. Sei que ele não aprecia o  música pode oferecer, ainda que seu universo temático não seja nada agradável.  "benemérito". Paciência. Não tenho outra maneira  Como Cave e David Lynch (diretor de "A Estrada Perdida", filme para o qual gravou  para defini­lo. Durante anos, com sua empresa Metal  quatro músicas), Adamson tem uma visão peculiar do lado negro da vida, do amor e  Leve, ele lançou importantíssimas edições fac­ da frustração, da ruína e da redenção. Vertidas em disco, estas crônicas malditas  similares (entre outras a "Revista de Antropofagia",  ganham leitura sofisticada e abordagem digna da tradição das big bands, com metais  de Oswald de Andrade, e a "Revista Verde", do  em destaque, piano e uma gama fabulosa de timbres de teclados. Grupo de Cataguazes/MG), ou patrocinou  lançamentos como "Frente e Verso", sobre Carlos  Engana­se quem considera o trabalho deste músico, compositor e arranjador um  Drummond de Andrade, onde figura uma foto dos  sinônimo de purismo e austeridade. Longe de apresentar uma música sisuda ou  jovens do Grupo Sul, num encontro com o poeta, na  datada, Adamson deturpa uma aparente reverência ao passado com intervenções  década de 50. Temos experiência direta de seu apoio a  eletrônicas, linhas de baixo marcantes, bases pré­gravadas e vocais que vão da  projetos culturais. Durante todo o tempo em que  rouca insinuação à pura canastrice. De "Moss Side Story", seu primeiro disco solo  circulou a revista "Ficção (RJ, 1976/79), manteve nela  (1988), saem "The Man With the Golden Arm" e "The Big Bamboozle", temas  anúncio da sua Metal Leve. É bom lembrar que esta  bastante ortodoxos amparados pelo baixo e pelos metais que são trazidos à  empresa pioneira, devida à política entreguista do  modernidade para contrapor vozes distorcidas. "007, A Fantasy Bond Theme" (de  atual governo, teve, como tantas outras, de ser  "Soul Murder", 1992) ambienta em paragens tropicais uma versão quase  vendida para um grupo estrangeiro. irreconhecível do tema do agente secreto. Alguém lhe perguntou: quantos livros formam sua  "The Vibes Ain't Nothing but the Vibes" (de "Oedipus Schmoedipus", de 1996)  biblioteca? Respondeu que uns 30 mil. Outro: já leu  mistura piano, aplausos e uma voz a la Barry White sobre base cândida de vibrafone,  todos? Retrucou: impossível, precisaria ter o dobro  instrumento que também se faz ouvir em "Can't Get Loose", fazendo oposição à bela  da idade que tenho. Lembrei­me de um diálogo  melodia vocal sobre uma base pós­punk. A crueza dá o tom na inédita "Mitch and  parecido, quando eu lhe disse: ledo engano, você  Harry", construída apenas de uma narração ao pé do ouvido aliada a um tema de  sempre teria novos ­ velhos livros para adquirir e ler,  suspense. Voltando aos exageros polifônicos, Adamson dá personalidade à "Saturn  seria necessário mais tempo de vida e assim  in the Summertime" acrescentando­lhe assobios, violinos e o trumpete com surdina  sucessivamente. de Guy Barker. A melodia vocal reassume a condução na inédita "Walk the Last  Mile" e passa incólume até mesmo pelos loops eletrônicos. Do jazz ao drum 'n' bass,  José Mindlin insiste em que o livro é imprescindível e  do rock a ousadias harmônicas, "The Murky World" é a melhor porta de entrada  insubstituível para quem sabe ler, supera tudo o que  para o universo de irreverentes revisionismos e contradições temporais de Barry  surge pensando suplantá­lo. Confirma, assim, uma  Adamson. Tome cuidado e seja bem­vindo.  frase de Alberto Manguel, autor da excelente "Uma  História da Leitura". Perguntado a respeito da  afirmativa de Bill Gates de que a era do livro chegara  ao fim, retrucou: "Para dizer isto Bill Gates escreveu  um livro". "De Corpo e Alma" estréia no Guairão
  • 4. insubstituível para quem sabe ler, supera tudo o que  para o universo de irreverentes revisionismos e contradições temporais de Barry  surge pensando suplantá­lo. Confirma, assim, uma  Adamson. Tome cuidado e seja bem­vindo.  frase de Alberto Manguel, autor da excelente "Uma  História da Leitura". Perguntado a respeito da  afirmativa de Bill Gates de que a era do livro chegara  ao fim, retrucou: "Para dizer isto Bill Gates escreveu  um livro". "De Corpo e Alma" estréia no Guairão Joel Gehlen Especial para o Anexo Curitiba ­ O Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, entra em cena hoje estreando "De  Corpo e Alma", um espetáculo de dança, em muitos aspectos, especial. O programa  composto por dois números, "O Segundo Sopro" e "Tango", comemora os 25 anos  de inauguração do grande auditório do teatro, conhecido como "Guairão", e  promove uma espécie de renascimento do BTG, companhia das mais importantes do  País, que está completando 30 anos de atividades. Criado em 1969, o Balé do Teatro Guaíra possui um respeitável repertório, com obras  de alguns dos mais expressivos nomes da dança nacional e internacional. Já foi  dirigido por grandes nomes do balé mundial, como Yurek Shabelewski, Hugo  Delavalle e Carlos Trincheiras. Ao longo de sua existência, o BTG tem trabalhado  com importantes coreógrafos, dentre eles John Butler ("Catulli Carmina", de Carl  Orff, em 1981), Maurice Bèjart ("Opus V", de Webern, em 1981), Renato Magalhães  ("Concerto em Sol", de Ravel, em 1986), Vasco Wellenkamp ("Exultate Jubilate", de  Mozart, em 1987), Rodrigo Pederneiras ("Dança da Meia­Lua", de Edu Lobo e Chico  Buarque, em 1988), Luiz Arrieta ("Estância", de Alberto Ginastera, em 1991), Milko  Sparembleck ("Os Sete Pecados Capitais", de Kurt Weill, em 1992; e "Canções de  Wesendonck", de Wagner, em 1993), Márcia Haydée ("Coppelius, o Mago", de  Delibes, em 1996). Para esta última temporada do século, o BTG passou por uma renovação, do elenco à  direção. Para dirigi­lo, foi contratada a jornalista e ex­bailarina Suzana Braga,  personalidade conhecida em Santa Catarina pelas participações como crítica de  dança do ANFestival, suplemento especial publicado por A Notícia durante a  realização do Festival de Dança de Joinville. Desde que Suzana assumiu a direção artística do BTG, em setembro último, a  companhia selecionou 12 novos bailarinos. Entre eles, Saulo Fujita, bailarino paulista  também conhecido em Joinville, onde, além de premiações oficiais no FDJ, recebeu o  Troféu ANFestival, de A Notícia, em 1998. Outra personalidade com passagem pelo  festival que passou a integrar o staff do Guaíra é Beatriz de Almeida, ex­primeira  bailarina do Stuttgart Ballet, da Alemanha, que ocupa o cargo de maitre de ballet. Congraçamento com a dança brasileira Para coreografar os dois espetáculos de "De Corpo e Alma" foram contratados o  argentino Eduardo Ibañez e a paulista Roseli Rodrigues. Em "O Segundo Sopro", Roseli trabalha com os sentidos de elementos como o  vento, a água e pedras semipreciosas, levando ao extremo algumas de suas marcas:  ousadia, intensidade e fluidez em formas acrobáticas, deslizantes e unidas. O grande  desafio que Roseli propõe aos bailarinos é dançarem no palco coberto por água,  elemento dificílimo, que exige grande técnica e sincronismo perfeito. O resultado é  um espetáculo a um só tempo lírico e audacioso. A peça tem música especial,  composta por Fábio Cardia. "Tango", o segundo n úmero da noite, é inspirado (e, ao mesmo tempo, tributo) a um  século do ritmo portenho. A coreografia de Eduardo Ibañez trabalha com os  componentes básicos desta dan ça sedutora, desde os temas musicais históricos  como "El Dia en que me Quieras" até composições modernas como "Tangueira", de  Astor Piazzolla. Dançado em seus passos tradicionais e nas pontas, "Tango" faz um  passeio pelas principais personalidades desta m úsica, em seus cem anos. A estréia de hoje à noite, comemorando os 25 anos do Guairão e os 30 anos do BTG,  será também um congraçamento com a dança brasileira, reunindo em Curitiba  representantes de todas as companhias oficiais do País e muitos nomes expressivos  da dança nacional. Escola de balé encerra o ano com noite beneficente Joinville ­ A Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura da Joinville faz, hoje à  noite, seu espetáculo de encerramento de ano no palco do Centreventos Cau  Hansen. Do clássico ao contemporâneo, bailarinas e coreógrafos apresentam à  comunidade os números que, durante todo o ano, foram premiados em Santa  Catarina e em outros Estados. No início do ano, o grupo juvenil da Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura  obteve o primeiro lugar no Festival de Dança de Niterói, no Rio de Janeiro, com as  coreografias "Pássaro Azul" e "Vulnerasti", ambas de Marcos André Sage, um dos  professores da Casa da Cultura de Joinville. "Dueto Para Sylvia", outra coreografia de Marcos Sage, voltou do festival carioca  com o prêmio pelo terceiro lugar, mesma colocação que "Ad Genua" (um fragmento  de "Todas as Mulheres da Minha Vida") obteve no Festival 5º Santa Maria em  Dança, no Rio Grande do Sul, realizado em setembro. Em julho, fragmentos de "Weltlos" deram a Marcos André Sage e ao grupo juvenil 
  • 5. professores da Casa da Cultura de Joinville. "Dueto Para Sylvia", outra coreografia de Marcos Sage, voltou do festival carioca  com o prêmio pelo terceiro lugar, mesma colocação que "Ad Genua" (um fragmento  de "Todas as Mulheres da Minha Vida") obteve no Festival 5º Santa Maria em  Dança, no Rio Grande do Sul, realizado em setembro. Em julho, fragmentos de "Weltlos" deram a Marcos André Sage e ao grupo juvenil  da escola o primeiro lugar no Festival de Dança de Joinville. "Referência",  coreografia de Sigrid Nora, também deu ao Grupo Cidade de Joinville da Casa da  Cultura o primeiro lugar na última edição do maior festival de dança do País. Produção O espetáculo de hoje à noite é beneficente e seu programa prevê a apresentação de  15 coreografias divididas em duas partes que mostram a produção dos professores  Marcos Sage, Alessandra Beatriz Hilário, Fabine Évelin Romão e Maria Antonieta  Spadari à frente de seus alunos de diversas idades. A apresentação de encerramento de ano da Escola Municipal de Ballet da Casa da  Cultura da Joinville inicia às 20h30 e tem como ingresso apenas um quilo de alimento  não­perecível. Papai Noel perde espaço na publicidade de Natal Agências esquecem do espírito natalino e colocam atores no lugar  do "bom velhinho" Rodrigo Teixeira TV Press Papai Noel está em baixa neste Natal. E isso fica claro nas publicidades natalinas. O  "bom velhinho" perdeu espaço para atores, apresentadores e até desconhecidos  contratados por ag ências. O ator Thiago Lacerda, por exemplo, aproveita o embalo  de seu personagem Matheo, de "Terra Nostra", e além dos inúmeros comerciais  regionais, aparece incessantemente no reclame da Caixa Econômica Federal. Já Gugu  Liberato, apresentador do "Domingo Legal", no SBT, encabeça a campanha natalina  da Arno. Na compra de qualquer produto da marca, o consumidor vai estar ajudando  famílias carentes do Nordeste, pois uma parcela do dinheiro vai ser revertida em  cestas básicas. Um dos únicos comerciais em que aparece o representante brasileiro do Papai Noel é  do celular Nokia. Mesmo assim, o "bom velhinho" não diz uma palavra e só segura o  aparelho na mão, seguido da frase em off "neste Natal, o mundo todo só fala nele".  No anúncio da Coca­Cola, a participação do Papai Noel também é quase nula. Ele só  dá o ar da graça no último take, quando com uma garrafa do refrigerante na mão,  pede silêncio para o comboio da Coca­Cola passar por uma cidade. As mensagens dos anúncios também estão mais ligadas à tentativa de reforçar o  produto e não passar uma mensagem que, além de atiçar o espectador a comprar, o  faça pensar sobre o que representa a festa natalina. A campanha da Arno é uma das  poucas com uma proposta social. A Bauducco também tenta passar alguma  mensagem, já que trabalha com o slogan "aproveite o Natal para aprender a dividir",  mas não vai além de mostrar crianças com panetones. Já os comerciais da Caixa  Econômica com Thiago Lacerda são muito mais para abocanhar o 13º dos brasileiros,  enquanto a Estrela se resume a dizer que "neste Natal, não importa o brinquedo, tem  que ser Estrela". Só usam a festa natalina como gancho, porque nem a imagem do  Papai Noel utilizam. Até mesmo as emissoras estão demorando para exibir suas mensagens natalinas ou  de próspero Ano Novo. A Globo, que sempre produz chamadas de seu elenco no  início de dezembro, até a primeira quinzena deste mês se limitava a chamar os  programas dedicados ao Natal e a passagem do ano e insistir na frase persecut ória  "todo mundo de olho na Globo". A Band, por exemplo, assim como SBT e Record, s ó  irá mostrar os funcionários dedicando "feliz Natal e um próspero ano novo" poucos  dias antes das datas festivas. Até mesmo as músicas natalinas tradicionais ou novas  canções publicitárias não estão sendo exploradas este ano. O jingle de Marcos Valle,  usado pela Globo desde a década de 70 ("hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é  de quem quiser, quem vier..."), parece que foi esquecido por completo. A ausência de alguns comerciais de marcas famosas também ajuda para o "bom  velhinho" estar sentado no banco dos reservas das agências. Uma propaganda  como a do extinto Banco Nacional, por exemplo, é até hoje lembrada. Mas parece que  os profissionais de criação publicitária atuais não conseguem repetir a fórmula, já  que o comercial contava com uma melodia de fácil assimilação e uma letra simples  tipo "bom Natal, um feliz Natal, muito amor e paz para você...". A Sadia, que sempre  fez comerciais interessantes, como o que mostrava uma família se confraternizando  ao som de "Perhaps Love", na voz de Plácido Domingo e John Denver, até a primeira  quinzena de dezembro não havia colocado nenhuma campanha no ar. Na verdade, a  diferença é que as propagandas atuais se baseiam em frases feitas, como "o Natal da  TVA é um presente para você", do que no espírito natalino. Por isso, Thiago Lacerda  tomou o lugar do Papai Noel e, junto com o "bom velhinho", palavras como paz e  fraternidade perdem espaço na publicidade natalina. Manchetes AN Das últimas edições de Anexo Uma noite com os violinos m ágicos A poesia que renasce da vertigem De gente grande para gente pequena Ausência de cor, presen ça de luz
  • 6. Manchetes AN Das últimas edições de Anexo Uma noite com os violinos m ágicos A poesia que renasce da vertigem De gente grande para gente pequena Ausência de cor, presen ça de luz Vovó faz 100 anos Copyright © 1998  A Notícia  ­ Todos os direitos reservados  ­ Telefone: 055­47 3431­9000 ­ Fax: 055­047 431 9100   Rua Caçador, 112  ­ CEP 89203 ­610 ­ Caixa Postal: 2  ­ 89201­972 ­ Joinville  ­ Santa Catarina ­ BRASIL             . Autoria:  ‹o e Internet  ­ Projeto:  Avelar L ’vio dos Santos , jornalista, RP MTr/PR 890 .