Bom dia Como sabem, eu gosto de ler livros sobre viagens e culturas diferentes para conhecer e descobrir coisas que talvez não teria oportunidade conhecer se não fossem os livros. Desta vez, fugi um pouco a este tipo de leitura. Apesar do livro abordar uma viagem e de uma cultura que eu não conheço, preferia ter mantido uma distância do tema abordado, ou até mesmo uma certa ignorância. Este livro é escrito na primeira pessoa e conta os horrores passados por uma jovem que foi vítima de mutilação genital feminina. Como o tema despertou em mim emoções muito fortes, decidi fazer um documentário onde começo por dar a conhecer o que é a MGF e em seguida falo do livro.
A circuncisão feminina é um ritual comum praticado em certos países africanos, mas está presente em todo o mundo. É realizado por certos grupos étnicos e consiste em remover uma parte maior ou menor dos lábios – as dobras macias de pele ao redor da vagina – e o clitóris da mulher ou de uma menina. O clitóris corresponde ao pênis do homem.
Em muitas culturas desde os países de Africa a Ásia, acreditam que a mutilação genital feminina está certa, os pais, mas mais propriamente a mãe e a avó tem voto na matéria, elas acreditam que se a jovem não for "cortada" nunca irá arranjar um marido, isso é a pior coisa que pode acontecer a uma jovem; tal jovem ter se sujeitado à MGF é uma condição prévia do casamento. Se uma mulher não for mutilada pensa-se que ela não é pura e encaram-nas como prostitutas e são excluídas da sua própria sociedade. Algumas razões que são apontadas para a realização da MGF: assegurar a castidade da mulher, assegurar a preservação da virgindade até ao casamento, por razões de higiene, estéticas ou de saúde, também se pensa que uma mulher não circuncidada não será capaz de dar à luz, ou que o contato com o clitóris é fatal ao bebê, e ainda, que melhora a fertilidade da mulher.
Dependendo da região, a mutilação varia de intensidade. No tipo de mutilação mais brando, a ponta do clítoris é cortada. Em alguns rituais, ele é integralmente extirpado (clitoridectomia). Na versão mais radical, é feita uma infibulação: são retirados o clítoris e os lábios vaginais e, em seguida, o que sobrou de um lado da vulva é costurado ao outro lado, deixando-se apenas um minúsculo orifício pelo qual a mulher urina e menstrua. Associada à castidade e à crença de que diminui o desejo sexual e reduz o risco de infidelidade, a mutilação é realizada sem nenhum tipo de anestesia, com instrumentos não-esterilizados como facas, navalhas, tesouras, gilletes, tampas de latas ou mesmo cacos de vidro. Na infibulação usam-se espinhos para juntar os lábios vaginais maiores e as pernas podem permanecer amarradas por até 40 dias.
A mutilação genital é a tortura mais atroz que se pode infligir a um ser humano, meninas inocentes que são cortadas com uma gillete e sem nenhuma anestesia Corta-se o clítoris profundamente, depois eliminam-se os pequenos lábios e corta-se a parte interior dos grandes lábios. Depois fazem-se buracos com espinhos de acácia, uma planta muito conhecida na Africa, e costura-se ficando apenas uma abertura do tamanho de um grão de arroz para sair a urina e a menstruação que dura 15 dias, sendo as cólicas insuportáveis. No dia do casamento, o noivo é um desconhecido e geralmente sempre mais velho. Para poder penetrar a noiva, corta-a novamente com uma faca ou gilette, ou penetra-a á força e rasga–a; é ele quem decide, ele é seu dono e senhor. A mulher passa a ser um objecto e ele faz o que quiser com ela. Os gritos de dor e angústia são tantos que a cidade inteira sabe o que se passa. Ali, naquela altura e naquele momento, está sendo desflorada uma adolescente. Normalmente, enquanto a menina desmaia de dor o povo faz a festa, ela vai passar 15 dias sangrando e 3 meses com dores.
É isto a mutilação genital!
A operação dura uma hora e vinte minutos e enquanto isso a menina desmaia e volta a si várias vezes, em muitos casos elas morrem de hemorragia ou de tétano, em outros casos elas nunca mais conseguem falar sobre o assunto, dizem que não há explicação nem comparação para a dor que se sente. E a tortura continua. A menstruação é incrivelmente dolorosa. No parto, podem acontecer complicações sérias para o bébé e para a mãe. Nessas ocasiões, elas precisam fazer a reabertura da vagina [abre-se cortando com uma navalha] e qualquer demora acarreta uma pressão às vezes fatal no crânio e na coluna da criança. Quando a mãe não faz a abertura da vagina, a saída do bebé do útero pode provocar cortes que vão da vagina ao ânus. Para além disso, a parteira tem de as cozer novamente, de forma a deixar a vagina pequena de novo como um grão de arroz, para aumentar o prazer masculino. Todo este suplício, angustia e dor servem apenas para aumentar o prazer masculino, pois as mulheres não sentem nem desejo nem prazer nenhum, elas são autênticas escravas e são obrigadas a faze-lo, faz parte de uma cultura bárbara.
Livro escrito por Waris Dirie (nome que significa Flor do Deserto). Relata a vida da autora desde os desertos da Somália até ao topo do mundo da moda. Waris Dirie nasceu numa família tradicional de doze filhos, numa tribo de nómadas do deserto africano. Neste livro conta a sua vida, as brincadeiras com os irmãos, as corridas de camelos, e a mutilação genital imposta por uma anciã, quando tinha apenas cinco anos, como costume antigo aplicado a quase todas as raparigas somalis. O livro alerta para o problema da mutilação genital e conta ao promenor este bárbaro costume. O pai de Waris Dirie tentou negociar o seu casamento, quando tinha apenas doze anos, com um desconhecido de sessenta anos em troca de cinco camelos, e Waris desapareceu. O livor narra a história desta fuga, a sua chegada a Londres, o seu trabalho como empregada do embaixador da Somália, posteriormente o seu trabalho como porteira do MacDonalds onde foi descoberta por um fotógrafo de moda. Flor no deserto é o relato verídico da voda de Waris Dirie, e tudo o que é descrito é baseado na memória da autora. Livro apaixonante em que temas sérios e reflexivos são abordados, uma fuga de África para a Europa, uma escalada dos desertos de África vivendo como nómada para uma vida como modelo de moda famosa, imagem dos produtos de beleza da Revlon, nomeada pelas Nações Unidas embaixadora para os direitos das mulheres, na luta pela eliminação da prática da mutilação genital feminina.