1. Mercado internacional sinaliza evolução
O mercado mundial de madeira e produtos derivados é crescente, conforme mostra o comércio entre países
exportadores e importadores. O valor das exportações mundiais é de US$ 98 bilhões/ano sendo 15%
originários de países em desenvolvimento, segundo dados recentes (2004) da FAO.
O crescimento se apresenta tanto em produtos com menos industrialização - madeira serrada, quanto em
produtos de maior tecnologia agregada - painéis de madeira. Esta tendência é mais evidente nos produtos
de maior grau de tecnologia e valor.
Os produtos reprocessados de madeira, que se transformam em produtos acabados ou semi-acabados de
maior valor são base de crescimento da produção e exportação, mas a escassez de florestas produtivas
dificulta grandes expansões da produção.
O crescimento esperado do mercado só ocorrerá com os melhores processos industriais, crescentes níveis
de tecnologia, melhor produtividade, qualidade do produto e agregação de valor.
Os principais produtos que servem para agregação de valor, através de qualidade e tecnologia, são
produtos tradicionais e raramente são vistos como PMVA. Estes produtos apresentam excelente potencial
para aprimoramento da qualidade, e por decorrência, para agregação de valor.Bons exemplos são a
madeira sólida de espécies nativas e de florestas plantadas para a indústria de móveis e para a construção
civil.
Mercado moveleiro
Para garantir a competitividade os móveis seriados devem ter alta velocidade e grande produção. Para
manter tal competitividade é necessário: matéria-prima de características uniformes (densidade, cor,
colagem, trabalhabilidade, conectores e acabamento).
A variação destas características afeta os processos industriais, os parâmetros de produção, a
produtividade e a qualidade do produto final.
Estas características podem ser encontradas tanto em espécies de madeira tropical nativa, como (com
maior freqüência), em pinus e eucalipto.
Madeira Serrada
No Brasil a produção de madeira serrada varia pouco - 19 a 22 milhões m³/ano. O consumo é de 19,7
milhões m³/ano, dos quais 3,5 milhões m³ (15%) destinam-se a móveis e aproximadamente 1/3 provem
de florestas plantadas.
O mercado é de 2 milhões m³ madeira de espécies nativas e 1,2 milhões m³ de madeira de características
uniformes e mínimos defeitos (principalmente pinus), para a indústria moveleira.
O suprimento de madeiras nativas só depende da disponibilidade ou escassez de espécies e oscilações de
preço. Neste cenário a introdução de novas espécies garante oferta.
Eucalipto
Estudos elaborados pelo ITTO em 2003 estimam déficit de mais de 27 milhões m³ em 2020. Neste cenário,
cresce disponibilidade de eucalipto serrado/seco, de boa qualidade e de cor uniforme, a preços
competitivos.
A substituição das nativas tradicionais por espécies de reflorestamento já é visível nos principais pólos
moveleiros, bem como Espírito Santo e Minas Gerais.
Os principais nichos para eucalipto são estruturas de móveis estofados e móveis sóbrios e pesados, com
solidez e durabilidade. Estes produtos são desenvolvidos principalmente em Ubá (MG) e Arapongas (PR).
O eucalipto também é utilizado para móveis tipo exportação, elaborados com madeira certificada,
principalmente nos pólos Sul/Sudeste (RS, SC, PR e SP).
Construção
A demanda de madeira para construção aumenta, com a expansão da construção habitacional, inclusive
2. para estruturas, pisos, esquadrias e centros urbanos. O material principal é para as paredes internas e
externas, em casas pré-fabricadas, padrão médio/alto, litoral/serra, condomínios urbanos/rurais.
A expansão requer matéria-prima uniforme, suprimento e baixo custo: madeiras nativas
adequadas/abundantes; e de florestas plantadas, homogêneas e de rápido crescimento, como eucalipto e
pinus.
As madeiras de florestas nativas e plantadas tem sido usadas em edifícios multi-uso, em estruturas leves e
painéis pré-fabricados, de rápida instalação.Também há demanda, neste segmento, para madeiras de
maior densidade, bem como para pisos em tábuas de assoalhos, em vários comprimentos, encaixes macho-
fêmea 4 lados, tacos, tacões, painéis e parquetes.
São consumidas espécies nativas com densidade e dureza média a alta e usinagem fácil. Ipê (Tabebuia
spp), cumarú (Dipteryx odorata), jatobá (Hymenaea sp) são as principais e muiracatiara (Astronium sp),
roxinho (Peltogyne spp), amêndola (Mimosa scabrela) são alternativas. Para este segmento também cresce
a aceitação no mercado da espécie Eucalyptus saligna, híbridos E. grandis x urophylla.
Para estruturas são demandadas madeiras com maior ou menor densidade e resistência mecânica:
estruturas de pórticos leves, treliças, vigas laminadas coladas, compostas com chapas aglomeradas,
compensadas, OSB, componentes estruturais, e outros.
Produção e oportunidades
No Brasil a produção anual é de 2,6 milhões m³, maior parte para exportação. Cerca de 40% é madeira
tropical e 60% reflorestamento, principalmente pinus.
As exportações crescem 16,5% ao ano, desde 1990. Em 2002 o volume exportado foi de 1,8 milhões m³,
sendo 1,06 milhão m³ de compensado de pinus.
Os principais importadores são Reino Unido, Estados Unidos, Bélgica e Alemanha (64% do total), a US$ 150
a 330/m³.
Também é significativa a produção de compensados de madeira nativa, os quais o volume de exportação
alcança 700 mil m³/ano.Os principais mercados são: EUA + UK (61%), Bélgica, Puerto Rico. O consumo
nacional é de 875 mil m³; móveis (45%) e embalagens (17%).O mercado promissor de pinus e lâminas de
eucalipto começa a mostrar aceitação. A tendência é madeira de pequenas dimensões, sem defeitos.
Outra tendência é o rebeneficiamento da madeira com ajuste de dimensões e eliminação de defeitos, bem
como os blocks emendados por finger-joint formando blanks (mais longos).
Os principais usos são molduras, esquadrias, revestimentos, partes e peças de móveis, bricolagem (do-it-
yourself).
Madeira serrada e beneficiada é o produto que mostra as melhores possibilidades para agregação de valor,
em especial àqueles destinados à exportação.São oportunidades e nichos de mercado tanto para madeira
nativa quanto de florestas plantadas.
Cenário internacional
A Nova Zelândia busca aumentar o volume de madeira processada. Dispõe de amplo suprimento de
matéria-prima, suficiente para aumentar 360% suas exportações.
A gama atual de produtos da cadeia de valor é composta por: madeira serrada, blocos de madeira e postes
tratados; chapas de fibras, compensados, laminados e aglomerados; móveis de madeira e partes destes;
produtos engenheirados, vigas laminadas e LVL; moldurados com fingerjoint e painéis colados
lateralmente.
Em cenário de forte aumento de exportações a Nova Zelândia prevê investimento de NZ$ 6.5 bilhões em
novas unidades industriais: 100 serrarias de porte médio, 90 unidades de remanufatura e 20 plantas de
painéis derivados.
Em Nova Zelândia o foco é em Pinus radiata - base do recurso florestal do país. O setor busca identificar
novos produtos de madeira e suas tecnologias; manter competitividade em custos; e superar barreiras
tarifárias/não-tarifárias em novos mercados.
3. Para o recurso florestal, aprimorar processamento para melhorar produtividade e reduzir custos: guias a
laser, escaneamento de toras e softwares (classificação de peças).
Em relação ao P. radiata, são desenvolvidas duas tecnologias específicas: aumento da dureza da madeira,
com impregnação de amido e pressão nas paredes das células: aumenta estabilidade; e o processo
greenweld, que permite colar madeira verde, antes da secagem e do processamento.
Nos Estados Unidos o maior mercado de importações de produtos de maiôs valor agregado cresceram
175% (moldurados de coníferas), 134% (pisos de madeiras duras) e 194% (componentes para construção)
em volume, nos últimos dez anos.
Os PMVA como moldurados representam 11% das exportações dos países produtores de madeira tropical e
passaram a ser item importante das pautas de países como Brasil, Indonésia, Malásia, Costa do Marfim e
Tailândia, em 2002.
O Mercado europeu é restritivo, mas apresenta oportunidades para PMVA, inclusive de espécies menos-
conhecidas. Produtos como construção, pisos, partes e peças de móveis, de madeiras alternativas são
opções para entrar no mercado externo.
A visão geral dos mercados atuais e potenciais para pmva mostra diversidade e possibilidades de expansão
e desdobramento nos mercados, desde que sejam atendidas suas especificações.
Em rápida análise, mostra-se que os produtos em variadas formas podem ser bem remunerados, desde
que atendam a condição de agregação de tecnologia, qualidade e valor.
Márcio Nahuz - Pesquisados do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas - SP
http://www.remade.com.br/revista/materia.php?edicao=80&id=549
acessado em 03/10/05