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O Que é Literatura de
Cordel?
06

A Filosofia nos
folhetos de Cordel
18

A Criação de Brasília
34

A Arca de Noé
41




        Patativa do Assare
                O voo do centenario mestre da poesia 47
Uma escola literaria
Editorial poetico


                    A nossa Literatura
                    De Cordel, apelidada,
                    Tem raiz em Portugal
                    Mas aqui foi recriada.
                    A de lá ficou mofina,
                    Diante da nordestina
                    A de lá não vale nada!

                    Aqui, folhetos, canções,
                    Romances e gemedeira,
                    ABCs, moirões, pelejas,
                    Capa talhada em madeira,
                    Normas rígidas, pauta
                    vária...
                    É uma escola literária
                    Da cultura brasileira!

                    Desde o maior teatrólogo,
                    Músico, pintor e escritor
                    Todos vão beber na fonte
                    Dos versos do cantador.
                    Se os produtos derivados
                    São muito valorizados,
                    A matriz tem mais valor.

                    Cordel não é só Folclore,
                    Folheto e xilogravura,
                    É Filosofia e estilo,
                    É arte e Literatura
                    É luta, dor e alegria
                    É a mais pura poesia...     Crispiniano Neto
                    A mãe da nossa cultura!     Cordelista
Editorial

rEvista BrasilEira   06.
dE litEratura dE     O que é       14.
CordEl
                     Literatura    A Popu-
dirEtoria ExECu-     de Cordel?    laridade e
tiva Editorial                     Atualidade
Editora imEph
                                   do Cordel
rEdação
Crispiniano nEto

ProjEto GráfiCo
E diaGramação
mayara Carol
araújo


                                   30.
                     28.           Regras da
                     O Brasil de   Poética
                     Pindorama     Cordeliana
                     Fala Tupi
                     Guarani
  Sumário




                     38.
                     A História    41.
                     da Ciência    A Arca de
                     nos Versos    Noé
                     de Gonçalo
                     Ferreira
18.
A Filosofia   27.
nos           Soletrando
Folhetos
de Cordel



              36.
34.           5 Séculos
Criação de    de Luta e
Brasília      Aventur,
              Desem-
              prego,
              Racismo e
              Violência




44.
De            Capa
Repente...
              47.
              O Vôo de
              centenário
              mestre da
              Poesia
O QUE Ée
          LITERA  TURA
          DE CORDEL


                 “Q             ue Literatura é esta, cujos
                                temas são aproveitados
                                pelo cinema, pelo teatro,
                 pela música, televisão e até mesmo pelos
                 poetas e escritores eruditos?
                 O que é isto que está chamando a
                 atenção dos professores universitários e
                 universidades do mundo todo, sendo su-
                 jeito de muitas teses de pós-graduação,
                 de doutoramento e de estudos, como na
                 França Estados Unidos, Japão, Rússia e
                 outros países?
                 Seria ela um traço do nordestino que
                 desceu para o Sul do país, com os “paus-
                 de-arara”, estendendo a sua influência
                 cultural?
                 Afinal, o que é Literatura de Cordel que,
                 no Nordeste, é somente conhecida por
                 folhetos, abecês, romances e cantorias?”
                 MACHADO, Franklin. O que é Literatura
                 de Cordel? / Rio de Janeiro. Editora Co-
                 decri, 1980. P.11.




                                                     Revista Brasileira de
Artigo | 06                                            Literatura de Cordel
Quando Portugal colonizou o      festas num tempo em que não
Brasil, a maioria da população       havia rádio nem televisão.. Eles
portuguesa era analfabeta e as       acompanhavam os poemas can-
gráficas, mesmo na Europa eram       tados, com violas ou rabecas, o
de um tecnologia muito atrasa-       que aprenderam com os ‘medajs’
da, pois ainda não fazia muito       árabes que trouxeram o alaúde
tempo que Gutemberg tinha in-        para a região, quando domina-
ventado a imprensa e as máqui-       ram por cerca de oito séculos,
nas impressoras eram extrema-        a Espanha, vizinha de Portugal
mente rústicas. Não havia sequer     e que, por um tempo foi reino
a eletricidade para permitir a       unido do país que nos colonizou.
fabricação de máquinas mais              Chegando ao Brasil, os
modernas, como as tipográficas       folhetos contando histórias de
de alta velocidade e muito me-       princesas, bruxas, príncipes
nos as off-sets. Imprimir um livro   valentes e princesas encantadas,
grande, como a Bíblia Sagrada,       monstros e sábios encontrou um
Os Lusíadas era uma tarefa de        povo ansioso por estes mistérios
anos, para não demorar demais        e encantos, formado dos três
as tiragens de livros grandes        sangues que formam a etnia
não passavam de dez exem-            brasileira, o próprio português
plares. Então, uma comunicação       com toda esta carga cultural, o
mais rápida, uma literatura que      índio que costumava sentar ao
permitisse tiragens maiores tinha    redor da fogueira e ouvir o pajé
que ser através de impressão de      contar histórias mirabolantes
“folhas soltas” e de pequenos        que preenchiam o imaginário de
folhetos, os quais eram vendidos     todos, com idealizações, lendas,
em Portugal, pendurados em           medos, milagres e heroísmos; o
cordões (cordéis) nas feiras e nas   negro africano, um pouco mais
ruas mais movimentadas, através      adiantado culturalmente que o
de cegos cantadores, autoriza-       nosso índio, também vinha de
dos pelo Rei, como forma de          uma cultura de muita imagina-
gerar emprego e renda para           ção, lenda, temores e lutas. Es-
os deficientes visuais que tinham    tava formado o ambiente fértil
dotes artísticos.                    para nascer uma nova expressão
    Trovadores, jograis, menes-      cultural.
tréis e cantadores tinham grande
influência na difusão cultural da
época, pois, sendo a população
analfabeta, como já dissemos,
uma literatura rimada permitia
melhor compreensão e facilitava
demais a memorização. Can-
tadores populares eram
figuras indispensáveis
em todas as vilas por-
tuguesas da época,
animando feiras e

Artigo | 07
Os primeiros folhetos
                        Os primeiros folhetos vieram de Portugal, nas caravelas juntos com
                    os colonizadores, nem sempre eram escritos em versos, mas eram a
                    principal fonte de leitura dos primeiros séculos do Brasil.
                    Antes de entrarem nas caravelas tinham que passar pela rigorosa cen-
                    sura da Santa inquisição. Na Casada Torre do Tombo, em Lisboa, eram
                    selecionados os que podiam ser lidos nas colônias e os que não podiam
                    vir para o Brasil, Açores, Guiné, Moçambique, Algarves.

                    Surge a ‘Cantoria de Viola’ na Serra do Teixeira, Paraíba
                       Na primeira metade do século dezenove, por volta da década de
                    1840 surgem as primeiras cantorias de viola, organizadas, estrutura-
                    das como um espetáculo de produção poética sob o ritmo da viola com
                    os versos sendo feitos no calor do improviso.
                    Era uma evolução dos aboios dos vaqueiros que fizeram a povoação
                    dos sertões nordestinos a casco de cavalo e além de chamar e tanger
                    o gado através do grito mágico do aboio, quando no descanso, pega-
                    vam da viola e improvisavam versos relatando suas próprias aventuras
                    e contando histórias do “arco da velha” que decoravam dos livrinhos
                    que chegaram através das caravelas. A cultura que brota em torno da
                    pecuária em todas as partes é sempre muito cantante.
                    Os primeiros cantadores, considerados os pais da Cantoria de Viola
O primeiro          Nordestina, são Ugolino do Sabugi, Romano do Teixeira, Silvino Pi-
                    rauá de Lima e outros que deram forma ao espetáculo, definiram os
que se tem
                    primeiros gêneros poéticos a serem cantados, como as quadras, sextil-
noticia             has, glosas, romances, etc.
Historia do
Capitao do Navio,   Nasce a Literatura de Cordel Nordestina
de autoria de          No final do século XIX surgiram os primeiros folhetos impressos,
Silvino Piraua      produzidos por poetas nordestinos e impressos em gráficas da região.
de Lima.            O primeiro que se tem notícia História do Capitão do Navio, de autoria
                    de Silvino Pirauá de Lima.

                       Começaram surgir as gráficas no interior do Nordeste e a litera-
                    tura de folhetos e romances populares ganhou fôlego, formando-se
                    uma verdadeira indústria, com tipografia dedicadas exclusivamente a
                    publicar folhetos. Em torno destas tipografias desenvolveu-se uma rede
                    de distribuição dos folhetos, através de “folheteiros”, que saiam Sertão
                    a fora, de feira em feira, cantando e vendendo o produto, bem como
                    dos cantadores repentistas que iam fazer usas cantorias e aproveita-
                    vam para também faturar um pouco mais com a venda de folhetos que
                    eram por eles cantados e depois vendidos, independente de serem da
                    própria autoria ou não. Num determinado da cantoria paravam de
                    fazer improvisos e iam cantar os versos feitos dos folhetos e romances
                    que traziam na mala.

                    Fonte: Apostilha CURSO DE INICIAÇÃO À POESIA – O Universo da Literatura de Cordel, de
                    Crispiniano Neto
                                                                                      Revista Brasileira de
Artigo | 08                                                                            Literatura de Cordel
Universo tematico
e propostas de classificacao
da Literatura de Cordel

C       laro que não é fácil diz-
        er por que tal ou qual
        tema foi, ou é, escolhi-
do. Suas razões nem sempre se
podem fixar em definitivo, mas
                                    lado, aspectos de vivência
                                    social: religiosidade, aventu-
                                    ras, casos de amor. E também
                                    as narrativas que envolvem
                                    animais, o que representa, de
sem dúvida nenhuma se pode          certo modo, a maneira como a
encontrar uma relação temática      respectiva população consid-
com a época em que surgem           era o animal: ora exaltando-o,
as temas. De fato, mesmo os         como é em grande parte, o
romances tradicionais, e não os     ciclo do gado no romance
fatos circunstanciais estão rela-   nordestino, ora criando-lhe uma
cionados a épocas históricas, a     lenda prejudicial ao homem.
determinado momento, tendo                   De modo geral, se pode
em vista sua manifestação.          verificar por um estudo mais
Daí a diversidade com que os        aprofundado dos temas, que
temas se apresentam. De um          a elaboração dos romances,
lado, figuras humanas, como         tradicionais ou modernos se
herói ou anti-herói; de outro       prendeu sempre à necessidade
                                                                      Revista Brasileira de
Materia | 09                                                          Literatura de Cordel
" Desta forma
   muitas tem sido as
   tentativas de dar
   uma classificacao
   ao romanceiro, ora
   seguindo a grande
   tematica que
   envolve os
   romances, ora
   tendo em
   consideracao as
   caracteristicas que
   eles apresentam. "

de fixar os acontecimentos, de registrar as figu-   são também hoje, com a facilidade das comu-
ras que dele participam, de anotar a maneira        nicações, certos fatos de repercussão interna-
como decorreram, enfim tudo aquilo que, sem         cional. Temos assim os temas tradicionais, de um
imprensa, sem jornais, sem rádio, as gerações       lado; e de outro lado, os fatos circunstanciais,
mais antigas tiveram necessidade de gravar          quando a literatura de cordel se transforma em
e transmitir através da história popular, para      jornal escrito e falado e em crônica ou fixação
fazer a sua história. Daí haver sempre, - isto      dos acontecimentos.
sobre tudo nos romances de fundo histórico, que
narram guerras ou lutas realmente acontecidas,         A variedade temática: tentativa de
ou fixam figuras que efetivamente viveram, - no     classificação
romanceiro não apenas a notícia como também             Muitas têm sido as classificações a respeito
o entretenimento.                                   do romanceiro em especial do português,
        Desta maneira, podemos desde logo           transladado para o Brasil, e aqui sofrendo as
evidenciar a existência, no romanceiro e hoje       adaptações ou reformulações que adequaram
na literatura de cordel, de dois tipos fundamen-    os romances ao novo ambiente. Porque é real-
tais da temática: os temas tradicionais, vindos     mente este um dos aspectos mais salientes em um
através do romanceiro, conservados inicialmente     romanceiro quando estudado comparativamente:
na memória e hoje transmitidos pelos próprios       as modificações que cada povo realiza no tema.
folhetos – e aí se situam as narrativas de Carlos   E realiza dentro de sua época, do momento
Magno, dos Doze Pares de França, de Oliveiros,      histórico que vive.
de Joana d’Arc, de Malasartes, etc.; e os temas              Desta forma muitas têm sido as tenta-
circunstanciais, os acontecimentos contemporâ-      tivas de dar uma classificação ao romanceiro,
neos ocorridos em dado instante e que tiveram       ora seguindo a grande temática que envolve
repercussão na população respectiva – são           os romances, ora tendo em consideração as
enchentes que prejudicaram populações, são          características que eles apresentam. Entretanto,
crimes perpetrados, são cangaceiros famosos         menores têm sido as tentativas de classificação
que invadem cidades ou praticam assassínios,
                                                                                   Revista Brasileira de
Materia | 10                                                                       Literatura de Cordel
de nossa literatura de cordel; a temática aí tem sido menos
explorada no sentido de identificá-la em torno de determina-
dos assuntos.
         Fora do Brasil, podemos lembrar duas sugestões de
classificação da literatura de cordel: a de Júlio Caro Baroja,
na Espanha, e a de Robert Mandrou, na França.
         No caso do Brasil, a respeito da classificação da litera-
tura popular em versos, além da tentativa de Leonardo Mota,
aí por 1921, em Cantadores, e possivelmente outras, podemos
registrar duas mais recentes. Uma a que se deve à Casa de
Rui Barbosa, feita por um grupo sob a orientação de Caval-
canti Proença; foi fundamentalmente desse saudoso especial-
ista o esquema inicial, que, afinal, predominou. É realmente um
quadro amplo, entrando em pormenorização bastante expres-
siva para um melhor conhecimento da produção de literatura
de cordel.
         Orígenes Lessa, partindo da observação de que a
temática dos romances populares é muito variada, assinala
que essa temática é riquíssima (9); contudo, para classificá-la
registra uma série de temas permanentes e outros que con-
sidera tipos que, em geral, passam, não se reproduzindo os
folhetos.
         No primeiro caso, situa os seguintes temas:
    O desafio, real ou imaginário: histórias tradicionais; can-
gaço; Antônio Silvino, Lampião, Maria Bonita; seca e retirantes;
vaqueiros e vaquejadas; mística; histórias bíblicas; profecias;
milagres; festa religiosas; beatas e santos do sertão; Padre
Cícero; sobrenatural; o diabo; romances de amor, de aven-
turas, trágicos; no segundo caso, incluem-se casos da época;
crimes, desastre, acontecimentos policiais, revoluções; campan-
has eleitorais; fatos políticos; luta ideológica (guerra da Coré-
ia, Hitler, etc.); miséria do povo; eleições; Getúlio e sua morte;
crítica de costumes; sátira política e social (crises, preços, falta
de luz, etc.).
         Outra é a que propõe Ariano Suassuna (10); é mais
sintética, procura situar a sistematização da literatura de
cordel em limites mais definidos a partir dos dois grandes gru-
pos – o tradicional e o de “acontecido”:
    1. Poesia improvisada;
    2. Poesia de composição: a) ciclos heróico; do maravil-
hoso; religioso e de moralidade; cômico, satírico e picaresco;
de circunstância de histórico; de amor e fidelidade; b) formas:
romances; canções; pelejas; abecês.
         A classificação adotada pela casa de Rui Barbosa,
basicamente elaborada por Cavalcanti Proença: assim pode
ser apresentada, conforme se vê no volume do catálogo da
Literatura Popular (11):

                                                                       Revista Brasileira de
Materia | 11                                                           Literatura de Cordel
I – Herói Humano: 1. Herói                   Recentemente Roberto Câmara Benjamin em inter-
Singular; 2. Herói Casal; 3. Re-       essante estudo sobre os temas de religião apresentados
portagem (crimes, desastres, etc.);    em folhetos (12), sugere uma classificação deste, levando
4. Política;                           em conta seus objetivos; seriam distribuídos em três gru-
   II – Herói Animal;                  pos; 1. Folhetos informativos, os que registram fatos “de
   III – Herói Sobrenatural;           época”, ou de “acontecimento”, isto é, acontecimentos
   IV – Herói Metamorfoseado;          atuais, fixando-os para conhecimento de grande público;
   V – Natureza: 1. Regiões; 2.        2. Romances, são as narrativas tradicionais destinadas a
Fenômenos;                             entreter e distrair; 3. Opinião, são os que incluem crítica
   VI – Religião;                      social. A estes três grupos o próprio escritor acrescenta, a
   VII – Ética: 1. Sátira Social –     seguir, um outro conjunto de folhetos: os que narram “ca-
Humorismo; 2. Sátira Econômica; 3.     sos”, os folhetos de “exemplo”, onde se arrolam aconteci-
Exaltação; 4. Moralizante;             mentos sem explicação para o povo, mas que constituem
   VIII – Pelejas;                     exemplos a serem observados.
   IX – Ciclo: 1. Carlos Magno; 2.              A nosso ver é possível chegarmos a uma síntese
Antônio Silvino; 3. Padre Cícero; 4.   das duas classificações brasileiras antes citadas: a de
Getúlio; 5. Lampião; 6. Valentes;      Proença e a de Suassuna. A nossa preocupação é a de
7. Anti-Heróis; 8. Boi e Cavalos;      apresentar a temática da literatura de cordel; e tam-
   X – Miscelânea: 1. Lírica; 2.       bém assentar aqueles temas que são constantes ou per-
Guerra; 3. Crônica – Descrições.       manentes nesta literatura, e isto sob duplo aspecto: de
                                       um lado quais são estes temas, como são expostos, por
                                       que existem; e de outro lado, como o cantador ou tro-
                                       vador populares consideram estes como os interpretam,
                                       o que seria, por assim dizer, a sua cosmovisão. Ou seja:
                                       como, no quadro de sua cultura, compreendem o fato
                                       tradicional ou o acontecido em face da sociedade em
                                       que vive. O que representa, de certo modo, o próprio
                                       sentimento desta sociedade.
                                                Daí procuramos harmonizar, de maneira mais
                                       singela – e sobretudo exemplificativa – o que existe
                                       nas diferentes manifestações populares em torno de
                                       determinado assuntos, constantes, senão permanentes,
                                       na literatura de cordel. Chegamos assim a uma simplifi-
                                       cação do que sugerem Cavalcanti Proença e Suassuna,
                                       procurando indicar, em suas linhas gerais os assuntos da
                                       literatura de cordel.
Exemplificacao dos diversos temas                   1. Temas Tradicionais
                                                    a) Romances e novelas: Leandro Gomes                 Costa Leite – A vaca misteriosa que falou
                                                    de Barros – Batalha de Oliveiros com Fer-            profetizando.
                                                    rabrás; João Martins de Ataíde – Roldão              d) Anti-heróis: Leandro Gomes de Barros
                                                    no Leão de Ouro; José Bernardo da Silva              – A vida completa de João Lezo; - Fran-
                                                    (ed. prop). – História da Donzela Teodora.           cisco Sales – As presepadas de Pedro
                                                    b) Contos Maravilhosos: Leandro Gomes de             Malasarte; João Martins de Ataíde – As
                                                    Barros – História de Maria e Alonso; João            proezas de João Grilo.
                                                    José da Silva – Aladim e a Princesa de               e) Tradição Religiosa: - Manuel d’Almeida
                                                    Bagdá; Antônio Alves da Silva – Os últimos           Filho – História de Jesus e o Mestre dos
                                                    dias de Pompéia.                                     Mestres; José João dos Santos (Azulão) –
                                                    c) Estórias de animais: Leandro Gomes de             O milagre de Jesus e o ferreiro orgulhoso;
                                                    Barros – O boi misterioso; Luís da Costa             José Soares – Os milagres da Virgem
                                                    – História do papagaio misterioso; José              Conceição.

                                                    2. Fatos circunstanciais ou acontecidos
                                                    a) Manifestações de natureza física: José            – Feira de Santana, princesa do sertão;
                                                    Bernardo da Silva – Os horrores do Nor-              Manoel Camilo dos Santos – Descrição da
                                                    deste; Delarme Monteiro – A seca, flagelo            Capital João Pessoa.
                                                    do sertão; João José da Silva – As cheias            d) Crítica e sátira: Erotildes Miranda – Os
                                                    do interior e as inundações do Recife.               horrores da devassidão; Expedito Se-
                                                    b) Fatos de repercussão social: Rodolfo              bastião da Silva – A marcha dos cabelos e
                                                    Coelho Cavalcante – A morte de Zé                    os usos de hoje em dia; Minelvino F. Silva –
                                                    Arigó, o famoso médium de Minas Gerais;              ABC dos tubarões.
                                                    Severino Paulino da Silva – A tragédia de            e) Elemento humano: João Florêncio da
                                                    Garanhuns ou a morte do Bispo; Antônio               Costa – História de Getúlio Vargas; Arinos
                                                    Batista – A guerra de Juazeiro; Joaquim              de Belém – História de Antônio Conselheiro;
                                                    Batista de Sena – A vitória do Marechal              João Martins de Ataíde – A morte de
                                                    Castelo Branco e a derrota dos corruptos;            Padre Cícero Romão; José Costa Leite – A
                                                    Manoel d’Almeida filho – Brasil, tricampeão          voz de Frei Damião; Francisco das Cha-
                                                    do mundo; José Soares – O homem na lua;              gas Batista – A história de Antônio Silvino;
                                                    Joaquim Batista de Sena – História da nove-          Antônio Francisco da Silva – As bravuras
                                                    la de Antônio Maria em versos de cordel.             e morte de Lampião; Ivo Luís Silva – O rei
                                                    c) Cidade e vida urbana: Leandro Gomes               dos vaqueiros; Severino Borges da Silva –
                                                    de Barros – O Recife novo; João Carlos               Bravuras de sertanejo.




                                    Classificação de Franklin Maxado
                                       De época ou de Ocasião, Históricos, Didáticos ou educativos, Biográficos, De
                                    louvor ou homenagens, De propaganda política ou comercial, Promoção pessoal e
                                    anonimato, Pasquim ou de intriga, De safadeza ou putaria, Maliciosos ou de cachor-
                                    rada, Cômicos ou de gracejos, De bichos ou infantis
                                    Religiosos ou místicos, De profecias ou eras, De conselhos ou exemplos, De fenômenos
                                    ou de casos, Maravilhosos ou mágicos, Fantásticos ou sobrenaturais, De amor ou de
                                    romance amoroso, De bravura ou heróicos, Vaquejadas, De presepadas ou dos anti-
                                    heróis, De pelejas ou desafios e De discussão ou encontros.

                                    Fontes: Literatura de Cordel Antologia – Banco do Nordeste, organizado por Ribamar Lopes e O Que É Litera-
                                    tura de Cordel, Franklin Maxado, Editora Codecri – Rio de Janeiro.
                                                                                                                              Revista Brasileira de
    Materia | 13                                                                                                              Literatura de Cordel
Da Popularidade e atualidade
               Da Literatura de Cordel.

                      C       om mais de cem anos de publicações inin-
                              terruptas, a Literatura Popular em Versos
                              Escrita ou “Versos de feira”, ou, ainda,
                      “romances e folhetos”, conhecida nos meios intelec-
                      tuais como Literatura de Cordel - nomenclatura
                      herdada de Portugal, onde os folhetos eram vendi-
                      dos nas feiras, pendurados em barbantes (cordões
                      ou cordéis) – já teve sua morte anunciada várias
                      vezes, mas resistiu a todas elas. Achavam que ela
                      sucumbiria à penetração dos jornais no interior;
                      depois foi a era do rádio, com grande penetração
                      nos sertões e mais uma vez falou alto o prenúncio
                      trágico. Com a chegada da televisão ao interior,
                      se previu de novo a derrocada do velho “cor-
                      reio do Sertão”. E agora se fala que a internet
                      irá acabar a literatura popular nordestina... Tudo
                      balela. O “cordel” resiste, por mais que lhe es-
                      tiquem a corda. E tem conseguido até se aliar a
                      cada um destes concorrentes, poderosos instrumen-
                      tos de comunicação de massas.




                                                              Revista Brasileira de
 Artigo | 14                                                  Literatura de Cordel
" O radio, o jornal,
                                                                       e a TV chegam
                                                                       primeiro, mas
                                                                       a publicacao da
                                                                       mesma noticia em
                                                                       folhetos de cordel
                                                                       da mais
                                                                       credibilidade
                                                                       e desperta mais
                                                                       interesse ao
                                                                       acontecido. "




    Em pleno século XXI o fol-      dades e escolas de todos os      ao Brasil serviu de inspiração
heto poético permanece firme        recantos do Norte, Nordeste      para a publicação de cerca de
e forte, lépido e fagueiro,         e do Sudeste. O maior prob-      cinqüenta títulos cordelianos.
cruzando veredas e animando         lema foi o fechamento das        A morte de Tancredo Neves
alpendres nas comunidades           tipografias de Literatura de     provocou dezenas de publica-
rurais dos minifúndios anti-        Cordel, que foram 42. Mas        ções, a morte de Luiz Gonzaga
econômicos, latifúndios improd-     elas estão ressurgindo. Agora    também motivou uma enxur-
utivos, fazendas modernas de        em off-set, que os tempos        rada de poemas publicados.
irrigação e assentamentos de        são outros. Através de enti-     Por último tivemos a derrubada
reforma agrária.                    dades de apoio à cultura ou,     das torres gêmeas, em Nova
    Ameaça deverasmente forte       até mesmo, com fins comerci-     Yorque. Poucos dias depois,
foi o êxodo rural. Mas, em vez      ais, editam-se folhetos, o que   vários folhetos estavam sendo
de morrer ele acompanhou o          garante a volta do vigor de      vendidos nas feiras do Nor-
seu leitor. Veio para as perife-    mercado do folheto.              deste e dos grandes centros
rias das cidades e chegou às            Quando se pensava que        do Sudeste, com Osama bin
metrópoles, não só do Nor-          esta literatura tinha sucum-     Laden na capa. Hoje, o fol-
deste como Recife, Fortaleza e      bido, eis que morreu Frei        heto jornalístico não leva mais
Salvador, mas também ao Rio         Damião e mais de setenta         novidades aos seus leitores
de Janeiro, São Paulo e todas       títulos foram publicados         cativos. O rádio, o jornal, e
as cidades satélites de Brasília.   sobre o fato. A primeira         a TV chegam primeiro, mas a
Chegou também às universi-          vinda do papa João Paulo II      publicação da mesma notícia

                                                                                  Revista Brasileira de
Artigo | 15                                                                       Literatura de Cordel
em “folhetos de cordel” dá mais credibilidade e desperta mais inter-
esse ao acontecido. “Saiu até um folheto sobre esse assunto”, essa é
a marca registrada da credibilidade conferida a uma notícia para
as pessoas do povo que têm nessa literatura, na Bíblia Sagrada e
nos almanaques populares anuais, suas maiores referências culturais
impressas. Esta força imorredoura e crescente, é que faz com que os
folhetos de Literatura de Cordel sejam hoje tão utilizados em cam-
panhas educativas e no marketing comercial ou político. Quando
Cristóvão Buarque criou a Bolsa-Escola no Distrito Federal, por volta
de 1995, seu governo me encomendou um poema para divulgar o
programa entre os migrantes que moram em Brasília. Dele foram




Isabela Nardoni, João Hélio e até o presidente Lula já se tornaram temas de cordéis


publicadas duzentas mil cópias. Mais recentemente, a Secretaria
da Cidadania de Mossoró me encomendou 15 títulos sobre temas
da saúde. De cada um, foram publicados cinco mil exemplares, com
perspectiva de novas edições.
   Folhetos sobre DST/AIDS, contra o alcoolismo, contra o Tabag-
ismo, em prol da economia da água, em defesa da ecologia, contra
a dengue, em defesa da escola pública, dos direitos da criança,
da mulher, dos animais, do plantio do caju, da criação de capri-
nos e ovinos, enfim, em qualquer assunto que se queira falar com o
povo na sua linguagem, recorre-se à poesia cordelista. Como dizia
o mestre Paulo Freire, “não se chega à cabeça do homem do povo,
sem passar pelo coração”. O uso da Literatura de Cordel em cam-
panhas educativas está abrindo um novo ciclo, como os Cômicos ou
de gracejos, Religiosos ou místicos, de Profecias ou eras, de Consel-
hos ou exemplos, de Lampião, de Padre Cícero e tantos outros que
foram catalogados por Ariano Suassuna, Liedo Maranhão de Souza,
Franklin Maxado e Orígenes Lessa.
                                                                                      Revista Brasileira de
Artigo | 16                                                                           Literatura de Cordel
O Caso Isabella, a morte da menina que foi jogada provavelmente
pelos pais do sexto andar de um edifício em São Paulo, o Caso de João
Hélio, o menino que morreu arrastado em um carro por marginais no Rio
de Janeiro, tudo vira folheto de Cordel com uma velocidade impressio-
nante.
   Estamos na praça com a segunda edição do livro Lula na Literatura
de Cordel. São mais de duzentos folhetos que falam direta ou indire-
tamente em Lula, um presidente que ainda está governando. No livro
catalogamos nada menos que 110 deles, de vários estados do Brasil.
As editoras estão trabalhando uma nova fase da Literatura de Cordel,
trata-se do Cordelivro, que se constitui na edição de folhetos de Cordel
em forma de livros, ilustrados, muitas vezes até com um belíssimo casa-


                                                                                       As formas
                                                                           poeticas do cordel e
                                                                                       do repente
                                                                                 nordestinos vao
                                                                             surgindo em novos
                                                                                 estilos musicais,
                                                                            enriquecendo o rap,
                                                                           o rock, o hip hop, a
                                                                                            MPB


mento entre Cordel e Quadrin-       hoje uma presença marcante no       ses acadêmicas sobre a Litera-
hos, um antigo sonho do pes-        Teatro, na Literatura, no Cinema    tura de Cordel.
quisador José Maria Luythen         e nas artes visuais, inclusive um      A publicação de folhetos
que começa a se concretizar.        peso fortíssimo dos versos, das     acelerou nos últimos cinco anos
Dezenas de projetos que levam       toadas e das xilogravuras no        com o surgimento de editoras
a Literatura de Cordel à sal de     marketing.                          como A Tupinankyn em For-
aula podem ser encontrados em           A agregação de valor ao         taleza, a Queima-bucha em
todos os estados nordestinos,       produto “poema de cordel”           Mossoró, a Casa do Cordel em
e ainda em São Paulo, Rio de        cresce a cada dia, além do          Natal, um Sebo em João Pessoa,
Janeiro, Distrito Federal, Goiás,   cordelivro, há uma forte indús-     Manoel Monteiro na Paraíba,
estados do Norte para onde          tria de produção e venda de         a Coqueiro e a Unicordel em
milhões de nordestinos migra-       CDs, de DVDs, de caixinhas          Recife, a ABLC No Rio de Ja-
ram arrastando a saudade da         de cordéis, de displays com         neiro, a volta da Editora Luzeiro
terrinha “sofrida, mas boa”.        coleções para venda ou servin-      e a chegada da Editora Novo
As formas poéticas do cordel        do de mostruário, camisetas         Horizonte em São Paulo, além
e do repente nordestinos vão        com versos e xilogravuras, livros   de várias editoras empresariais
surgindo em novos estilos music-    com coletâneas de poemas e          que estão entrando no ramo do
ais, enriquecendo o rap, o rock,    poetas. E há uma impressionante     Cordel por verem nele um nicho
o hip hop, a MPB; o cordel tem      produção de monografias e te-       promissor.
                                                                                      Revista Brasileira de
Artigo | 17                                                                           Literatura de Cordel
A Filosofia nos folhetos de Cordel                        Questões pertinentes em relação à
                                                           Filosofia e a literatura de Cordel



Por Francisco José da Silva
Prof. Mestre em Filosofia (UFC)




   Q         uando fui convidado para falar sobre o tema a Filosofia nos folhetos de cordel, me
             senti desafiado, pois qualquer pessoa diante disto poderia se perguntar: Qual relação
             há entre filosofia e literatura de cordel? Seria o que há de filosofia no cordel? Ou seria
o que há de cordel na filosofia?
   O titulo diz muito sobre a questão a qual nos propomos desenvolver, pois poderia ser ‘Filosofia
em Cordel’, ou, ‘Cordel e Filosofia’, ‘Filosofia no Cordel’, ou, ‘Cordel na Filosofia’ e ainda ‘Filosofia
do Cordel’.
   Diante destas questões eu me alinho às duas últimas como mote a partir do qual iniciaremos
nossa reflexão de hoje, ou seja, até onde é possível falar de uma filosofia presente na literatura de
cordel, e ainda, é possível falar de uma veia poética na filosofia, ainda mais uma poética popular?
A filosofia é, pois, uma       musas, rotina sempre presente
forma de saber que tem como        na literatura de cordel, mas
fundamento a busca da ver-         que remonta a Homero, na
dade através da razão, desta       Ilíada e Odisséia, e Hesíodo,
forma a reflexão filosófica nos    na Teogonia e em Os Trabalhos
permite pensar a realidade         e os Dias. As primeiras grandes
de forma critica e a partir        obras poéticas da tradição
do todo. Lembramos que o           ocidental que tem sua origem
grande expoente da filosofia       na Grécia antiga.
e modelo de atitude filosófica         No Canto I da Ilíada lemos:
foi o filosofo grego Sócrates,         “Canta ó musa, a ira de               Desse modo,
que através de suas perguntas      Aquiles filho de Peleu...”.             podemos dizer
levava as pessoas a pensarem           As musas são as filhas de
                                                                          que existe uma
por si mesmas.                     Zeus e Mnemosyne (Memória),
    Começaremos então por          as quais presidem as criações          relacao estreita
uma frase que para mim ser-        artísticas e conduzem os poetas    entre a poesia e a
viria de inspiradora a partir da   à contemplação daquilo que os        divindade, aquele
qual refletiremos sobre a filo-    deuses querem revelar através
sofia nos folhetos de cordel. A    da poesia, da tragédia, da               que revela os
frase é “A poesia é filosofia em   música, da dança, etc. O poeta             segredos da
versos, a filosofia é a poesia     é como que o arauto dos de-                   natureza,
em prosa”.                         uses, aquele que em seu canto
                                   revela a palavra dos deuses,          da vida humana
A poesia na origem da              não muito distante é a concep-
Filosofia                          ção bíblica da profecia, pois
                                   os grandes profetas (neviim),
    Já que ao falar de litera-     são os portadores da palavra
tura de cordel estamos falando     de Deus, e muitos deles como
em poesia, podemos perceber        Isaias e Jeremias eram consid-
que na Filosofia há um pouco       erados grandes poetas, sem
de cordel, pois na sua origem a    esquecer do repentista hebreu
Filosofia era expressa na forma    David, que deliciava os ouvidos
de poesia, com versos. Desde       de Saul ao “cantar seus Salmos
tempos imemoriais a poesia         pelos ares”, como diria Raul
tem sido a forma mais utilizada    Seixas. Desse modo, podemos
para se expressar, especial-       dizer que existe uma relação
mente na carência de uma           estreita entre a poesia e a
literatura escrita, enquanto ela   divindade, aquele que revela
é uma forma de mnemotécnica,       os segredos da natureza, da
ou seja, uma técnica de memo-      vida humana, etc. Esse caráter
rização eficaz, além é claro       revelador da poesia ultrapassa
do caráter estético que nela se    o âmbito estritamente religioso,
apresenta que lhe dava uma         ele é reconhecido inclusive na
aura de divina.                    filosofia.
    Um exemplo deste caráter           Em relação à importância
divino da poesia pode ser          da expressão poética na anti-
constatado na invocação das        guidade e sua relação com a

Artigo | 19
Filosofia nos diz Aristóteles, em sua Poética:                    eles destacam-se ainda
   “Entretanto nada de comum existe entre Homero                  mais aqueles que poetica-
(poeta) e Empédocles (filósofo) salvo a presença do               mente filosofam. Entre os
verso.” (Aristóteles, Arte Poética, I, 11).                       grandes ‘poetas-filósofos’
   A partir deste texto, percebemos que o verso                   podemos citar Homero,
era a linguagem comum tanto da poesia quanto                      Hesíodo, Sófocles, Esquilo,
da filosofia, e ao contrário do que diria Platão, o               Eurípedes, Virgilio, Camões,
qual rejeita a poesia em sua Republica (vale res-                 Goethe, Schiller, Hölderlin,
saltar que o próprio Platão era poeta, o que nos                  Fernando Pessoa, Augusto
leva a questionar sobre sua posição), Aristóteles, ao             dos Anjos, e por que não
contrário, exalta o caráter racional e universal da               acrescentar a estes grandes
poesia, quando diz:                                               poetas clássicos, os grandes
                                                                  poetas da literatura de
                                                                  cordel como Leandro
                                                                  Gomes de Barros, Manoel
                                                                  Camilo dos Santos, Patativa
                                                                  do Assaré, Klevisson Viana,
                                                                  Manoel Monteiro, Mestre
                                                                  Azulão, Rouxinol do Rinaré
                                                                  e tantos outros (?), os quais
                                                                  com sua poesia levantam
                                                                  questões das mais perti-
                                                                  nentes sobre a existência
                                                                  humana, sobre a morte,
                                                                  sobre a vida feliz, sobre o
     Por tal motivo a                 “Por tal motivo a Po-       certo e o errado, sobre o
                                  esia é mais filosófica e de     mal, sobre o conhecimento,
     Poesia e mais                caráter mais elevado que        sobre nossa cultura.
     filosofica e de              a História, porque a Poesia        Não podemos subestimar
     carater mais                 permanece no universal e a      nem a poesia clássica nem
                                  História no particular.” (op.   muito menos a poesia popu-
     elevado que a                cit, IX, 3).                    lar, como o cordel, no que
     Historia, porque a               Com isso vemos clara-       diz respeito à forma de
     Poesia permanece             mente que há algo que           expressão ou ao conteúdo.
                                  aproxima a racionalidade        A poesia é uma das primei-
     no universal e a             filosófica da poesia e vice-    ras manifestações artísticas
     Historia                     versa, é isto que faz com       da humanidade e carrega
     no particular.               que o cordel, enquanto          toda genialidade do espíri-
                                  poética popular carregue        to humano e, como pensa
                                  em si os germes da reflexão     o filosofo alemão Hegel
     Aristoteles.                 filosófica na sua busca de      (1770-1831) na sua obra
                                  expressar o real em sua         Lições sobre a Estética, é a
                                  complexidade.                   forma de arte mais espiritu-
                                      Podemos dizer que os        al e mais completa, aquela
                                  grandes poetas marcam           que mais se aproxima da
                                  com suas obras a geniali-       religião em sua manifesta-
                                  dade do pensamento, entre       ção do absoluto.

                                                                             Revista Brasileira de
Artigo | 20                                                                  Literatura de Cordel
Cordeis sobre Filosofos
   Além da possibilidade de
levantar estas questões funda-
mentais, devemos lembrar da
tarefa levada a cabo por al-
guns cordelistas, a de escrever
sobre a vida dos grandes filó-
sofos da humanidade. Entre es-
tes cordelistas citamos Gonçalo
Ferreira que escreveu sobre        Os vultos primaciais
Pitágoras, Sócrates, Platão e      Livres de contestação
Aristóteles, vejamos este trecho   Da filosofia grega
o cordel sobre Platão:             Inegavelmente são
                                   Os inexcedíveis Sócrates
                                   Aristóteles e Platão.

                                   Foram eles realmente
                                   Os construtores da fé
                                   Iluminando os caminhos
                                   Do cristianismo até
                                   A doce eclosão do Cristo
                                   Em Jesus de Nazaré.




    Vemos nestes versos uma        Diógenes, o cínico, consid-        Deus quando criou o homem
concepção que alia as idéias       erado o mais despojado, o          Facultou-lhe liberdade
cristãs ao pensamento dos          mais irreverente dos filósofos     Pra pensar e investigar
filósofos gregos, o qual foi na    gregos, que usava o sarcasmo,      Deixou bem à vontade
verdade a base para o desen-       a ironia e literalmente ‘mordia’   Do amor a sabedoria
volvimento da teologia cristã      aqueles que ele considerava        Nasceu a Filosofia
posterior.                         reprováveis.                       Como busca da verdade
    Recentemente Rouxinol do           Como exemplo, citemos
Rinaré escreveu conosco um         trechos do cordel Diógenes, o      Do grego, Filos, amigo.
cordel sobre o filósofo grego      cínico:                            Sabedoria é Sofia
                                                                      A mãe de toda ciência
                                                                      Da mente que tudo cria
                                                                      Deus Pai, Primeiro Motor.
                                                                      Poeta superior
                                                                      Da divina poesia
                                                                      Como vemos de forma simples




                                                                                    Revista Brasileira de
Artigo | 21                                                                         Literatura de Cordel
e concisa o poeta expressa o signifi-          ficas (morais, éticas, políticas, episte-
              cado da palavra ‘filosofia’(amigo da           mológicas, metafísicas, etc.) e permi-
              sabedoria), e sintetiza todo seu con-          tam entrever não só ao admirador,
              teúdo e ainda traduz uma concepção de          mas ao pesquisador, ao professor
              racionalidade oriunda da divindade que         em geral, e ao filósofo em particular,
              o conduz ao conhecimento de sua mais           toda a riqueza filosófica que pode
              elevada aspiração. Além disso, o poeta         se encontrar nesses modestos folhetos
              trata dos conceitos mais fundamentais          de literatura popular, muitas vezes
              da filosofia, tais como liberdade, amor,       subestimados pela grande maioria
              sabedoria, verdade, interpõe o conceito        das pessoas.
              de deus cristão (Pai) e aristotélico (o            Vejamos este trecho do cordel
              primeiro motor) e relaciona o criador          Viagem a São Saruê de Manuel
              (poietes, em grego) e a criação (poema)        Camilo, o qual relata uma viagem
              com a produção poética (poesia).               fantástica a um lugar onde há tudo
                  Pode-se encontrar maior profundi-          em fartura:
              dade em tão poucos versos?                          O povo em São Saruê
                  Podemos dizer ainda que se faz
              necessário e é importante a produção
              de cordéis biográficos sobre os grandes            Tudo tem felicidade
              filósofos, tarefa a qual tem se dedicado           Passa bem anda decente
              Gonzalo Ferreira, mas isto não é a regra           Não há contrariedade
              para que se possa filosofar com cordéis,           Não precisa trabalhar
              ao contrário do que têm feito alguns               E tem dinheiro à vontade
              cordelistas que escrevem cordéis sobre             Lá os tijolos das casas
              gramática, matemática, geografia, etc,             São de cristal e marfim
              pois para isto basta que se escrevam               As portas barras de prata
              cordéis, os quais devem ser ‘investigados’         Fechaduras de ‘rubim’
              e neles se encontre todas estas disci-             As telhas folhas de ouro
              plinas incluídas em seu conteúdo, seja             E o piso de sitim
              num cordel de gracejo, seja biográfico,
              seja romance.                                      (...)
                                                                 Tudo lá é bom e fácil
                 Como filosofar com Cordéis?                     Não precisa se comprar
                                                                 Não há fome nem doença
                  Diante disso tudo e sabendo que a              O povo vive a gozar
              poesia tem uma ligação com a filosofia e           Tem tudo e não falta nada
              pode expressar idéias e reflexões filosó-          Sem precisar trabalhar
              ficas, podemos nos perguntar: Já que a              O que pensar diante de um
              filosofia agora se tornou obrigatória em
              todas as escolas do país, seria possível
              ensinar filosofia com cordéis? Uma vez         cordel que trata de uma sociedade
              dispondo de uma biblioteca de cor-             plena de fartura se contrapormos a
              déis na escola poderia o professor de          realidade do povo nordestino que
              filosofia utilizar-se dos cordéis e levar os   nos períodos mais agudos da seca
              alunos à reflexão por meio deles?              sofrem a privação das coisas mais
                  Nada melhor que citar alguns trechos       básicas?
              de cordéis que levantem questões filosó-          Outro ponto digno de nota é
                                                                            Revista Brasileira de
Artigo | 22                                                                 Literatura de Cordel
a concepção de que nesta sociedade        esta critica ao trabalho é endereçada
utópica as pessoas não precisam tra-      não ao trabalho enquanto tal, mas pode
balhar, uma clara referência a vida no    ser uma alusão às condições de trabalho
jardim do Éden, onde após o pecado        do homem do campo, explorado e espo-
original o homem é condenado ao           liado pelos grandes latifundiários, que
trabalho penoso. Esta visão do trabalho   gozam da fartura sem mover uma palha.
traz os ecos da visão de mundo antiga e      Também é interessante notarmos o
medieval, para os gregos, por exemplo,    contraste entre amor e honra no cordel
o trabalho era reservado apenas aos       Entre o amor e a espada de José Cam-
escravos, enquanto os livres cuidavam     elo de Melo, autor do famoso Pavão
das questões do pensamento. Também        Misterioso:
relacionado a isso podemos dizer que

                                  O amor quando se alberga
                                  No peito do rico ou pobre            Seus frutos são o amor
                                  Se torna logo um guerreiro           As raízes são a honra
                                  Com capacete de cobre                Que de incógnito frescor
                                  E só obedece a honra                 Dão vida e beleza a árvore
                                  Porque a honra é mais nobre          E a seus frutos sabor

                                  Se o amor é soberano                 Colhem-se os frutos da árvore
                                  A honra é sua coroa                  E ela não esmorece
                                  Portanto o amor sem honra            Mas cortando-lhe as raízes
                                  É como um barco sem proa             Ligeiramente emurchece
                                  É como um rei destronado             Da mesma forma é a honra
                                  No mundo vagando a toa               Ferida, o dono entristece.
                                                                       Qual dos dois tem proeminên-
                                  A árvore é como o amante

cia e é mais importante, o amor ou honra? Seria a honra mais nobre
que o amor? Por que seria a honra a coroa do amor, e não o contrar-
io? Teria o amor que estar sempre amparado pela honra?
   Com certeza estes versos do cordel supracitado trazem a marca
de uma época, na qual a honra era um dos bens mais importantes
para as pessoas, mas será que poderíamos dizer que a honra seria
tão valorizada nos dias de hoje? O poeta pretende ligar o amor e a
honra de uma forma tão perfeita, mas deixa entrever uma valoriza-
ção da honra mesmo em detrimento do amor. Em nossos dias podemos
encontrar manifestações de honra, mas talvez não tão freqüentes como
outrora, ou mesmo em outras culturas, como por exemplo, a oriental
onde a honra ocupa um lugar privilegiado, talvez mesmo acima do
amor. Até que ponto as pessoas não confundem a honra com uma alta
consideração de si mesmo derivada do egoísmo, o qual leva muitos a
cometerem os crimes mais horrendos em nome de uma pretensa ‘hon-
ra’? Seriam os crimes passionais resultado do amor ou da honra?
   Por essas reflexões iniciais percebemos o quanto estes versos do
cordel podem nos conduzir para questões complexas de ordem ética e
                                                                               Revista Brasileira de
Artigo | 23                                                                    Literatura de Cordel
moral, que vão muito além de uma       Rodolfo Teófilo):
              mera consideração do senso comum.
                  São também muito interessantes        O homem na vida sonha
              estes versos de Rouxinol do Rinaré        Faz planos, mas na verdade
              tirados do cordel O Justiceiro do         O desfecho do destino
              Norte:                                    Só pertence à Divindade
                                                        Sem ao menos pressentir
                O homem valente e justo                 Qualquer um pode cair
                Do berço já traz o tino                 Na cruel fatalidade!
                E tendo fibra e coragem
                Traça seu próprio destino                Somos fruto do que escolhemos
                Como se deu nas andanças             ou há um destino traçado para
                Do herói Pedro Justino.              todos? O homem é livre ou é um
                                                     joguete aos caprichos da divin-
                  Pedro Justino é o personagem do    dade? Será que Deus pode traçar
              cordel de Rouxinol do Rinaré que       um destino contrario aquele que eu
              narra as aventuras de um sertanejo     me propus? Com que finalidade?
              que vai além do sertão se embr-            No verso do cordel supracitado o
              enhando nas regiões do Norte do        autor propõe que apesar do homem
              Brasil. Mas para além do óbvio         planejar sua vida, preparar todo o
              podemos encontrar nestas aventuras     terreno para realizar seus sonhos,
              um misto de construção de um des-      é a divindade que de forma mis-
              tino, o qual aponta para uma con-      teriosa conduz seu destino, ou seja,
              cepção de liberdade, enquanto uma      o desfecho de sua vida não lhe
              autonomia do sujeito face às circun-   pertence, mas é resultado de uma
              stâncias, e de destino traçado, onde   escolha de Deus. Esta visão fatalista
              o homem é o resultado de uma serie     do destino encontra eco na filosofia
              de eventos previamente estabeleci-     estóica dos gregos e na teologia
              dos que o conduzem a uma missão        cristã, onde o homem está submeti-
              predestinada. Há um conflito entre     do aos desígnios de Deus, e mesmo
              a liberdade do homem ser o que         os maus estão sob sua vontade. Di-
              ele escolheu e o fatalismo que leva    ziam os estóicos “suporta o que não
              o individuo a uma passividade di-      depende de ti”, e buscavam agir
              ante de uma vida traçada por Deus.     segundo a razão e a natureza.
                  Este mesmo conceito é reforçado        Totalmente diversa é a
              pelo próprio autor nos versos inici-   visão existencialista,
              ais do Cordel Violação, a trágica      que vê a escolha
              historia de Renato e Maria (uma        como a única
              adaptação da novela homônima de        forma




                                                                         Revista Brasileira de
Artigo | 24                                                                Literatura de Cordel
autêntica do homem ser, para os           algo mais por traz de tantas coin-
existencialistas ateus crer em um         cidências, o autor contrapõe acaso
destino traçado por Deus seria            e intervenção, se posicionando ao
negar sua autonomia e liberdade de        lado desta ultima como explicação
escolha, ou como diz Sartre, estamos      mais adequada e viável para a re-
condenados a ser livres, pois mesmo       sposta do grande mistério da vida.
quando não escolhemos estamos             Para ele, o universo é resultado da
fazendo uma escolha, a de não             vontade de uma Inteligência Supe-
escolher (!).                             rior e não mero resultado do acaso
    Outro exemplo que podemos             e na seqüência do cordel apresenta
utilizar para demonstrar que o            uma serie de argumentos para justi-
cordel não é mera reprodução do           ficar sua tese e arremata com essa
que se diz, mesmo quando se trata         brilhante estrofe:
de ciência, é aquele tirado do cordel
de Fernando Paixão A historia do             “Matéria sem consciência
começo do mundo – a teoria do Big            Do universo é ruína”
Beng, nele o autor assim se expressa:        Pois o homem, ser pensante
                                             No universo predomina
    Então me ponho a pensar                  Legitima a criação
    Na suprema criação                       Seu destino determina.
    O que esta por traz da vida
    E das leis da evolução                    Seria o universo um projeto que
    Alguns pensam que é “acaso”           tem como meta a produção de uma
    Eu penso em intervenção               consciência capaz de conhecê-lo?
                                          Estaria a matéria trazendo em si a
    Porque disse um cientista             busca de auto-conhecimento?
    Que a sublime existência                  A visão proposta pelo autor no
    É a obra de um acaso                  trecho acima citado é denominada
    Mas na minha consciência              ponto de vista antrópico, ou seja, o
    Tudo é obra e criação                 homem devido a sua condição supe-
    Da Suprema                            rior de racionalidade interpreta o sen-
     Inteligência                         tido do universo como sendo um pro-
                                          cesso que conduziria necessariamente
                                          ao seu surgimento, como se a matéria
              Mesmo aceitando a           contivesse em si os germes necessários
                  leis da teoria da       ao surgimento da consciência.
                       evolução o au-         Como podemos perceber até
                           tor suspeita   agora, estas e outras questões po-
                               que haja   dem ser encontradas, investigadas




                                                                                    Revista Brasileira de
Artigo | 25                                                                         Literatura de Cordel
e discutidas a partir da leitura de folhetos de cordel,    problematização das falsas ver-
o que requer do leitor (professor) uma curiosidade e       dades e certezas impostas pelo
preparação para tratar destes temas de forma lúdica        neoliberalismo, pela tradição e
e instigante.                                              pelos meios de comunicação de
    Do que foi dito até aqui está claro que os folhetos    massa. Só assim estaremos trans-
de cordel trazem uma imensa gama de questões a             formando nossos concidadãos
serem elaboradas e desenvolvidas num espaço co-            de meros zumbis teleguiados
letivo de reflexão, ou como diria o filósofo Matthew       e dependentes de celulares e
Lipman, numa comunidade de investigação, a qual            outras parafernálias modernas
permitiria aos educandos um espaço democrático de          em pessoas capazes de pensar
debate e investigação das implicações contidas nas         por si, de investigar o mundo que
narrativas estudadas. O cordel é uma ferramenta            os cerca, de criticar as falsas
incrível para levar o educando ao conhecimento da          verdades impostas, de denunciar
nossa cultura nordestina, de nossas raízes, mas pode       os desmandos da política, de
ser mais que isso, ele pode levar-nos a uma reflexão       se manifestar e transformar a
critica de nossas idéias e ideais, de nossos costumes,     realidade!
das concepções e ideologias presentes em nossa
formação e do pensamento do homem simples que
expressa em seus poemas as realidades mais compl-
exas da condição humana. Não devemos esquecer
também o papel estético que os folhetos ocupam em
nossa realidade, o qual acaba sendo obscurecido por
aqueles que o querem manter numa cúpula, como um
objeto de museu, mas que na verdade não percebem
o quanto o cordel é versátil e capaz de se reinventar
em sua linguagem e se atualizar em seus conteúdos.
    Mas para que o mesmo cumpra este papel é
necessário da parte do professor um conhecimento
das raízes de nossa cultura, ou seja, de sua própria
identidade, para não se tornar um mero reprodutor
das idéias advindas de outros lugares com a preten-
são de serem universais, o professor precisa de tempo
e condições mínimas para não se tornar cativo de uma
estrutura que o nega a possibilidade de cumprir seu
papel de forma mínima, isto é, a de ser um capacita-
dor, um orientador, um motivador do aprendizado que
leve os indivíduos a pensarem por si mesmos, a serem
cidadãos autônomos. Não cabe aqui nenhuma critica
ao professor enquanto tal, mas aos gestores públi-
cos desse intrincado processo, os quais sabemos que
propositalmente trabalham com o intuito de manter as
pessoas sobre controle, dóceis e passivos, cristalizando
um tipo de sociedade excludente e individualista.
    Por isso, consideramos que a Filosofia pode e deve
ter no cordel, especialmente aqui no Ceará e em todo
o Nordeste, mais um aliado em seu trabalho incan-
sável de levar os homens ao conhecimento de si e a

                                                                                 Revista Brasileira de
Artigo | 26                                                                        Literatura de Cordel
Soletrando
                          No ma-ti-nal     vi-ta-mi-na
                          a me-ren-da      no to-ma-te
                          re-co-men-da     a-ba-ca-te
                          ser só fru-gal   ver-de po-mar
                          pas-ta den-tal   po-de cor-tar
                          de es-co-var     tos-se gri-pe

Galope                    de-ve la-var
                          com co-li-pe
                                           no ga-lo-pe
                                           da bei-ra-mar
                          no ga-lo-pe
Beira Mar                 da bei-ra-mar    Um re-gi-me
                                           de ver-da-de
(Fragmentos               Não dei-xe       li-ber-da-de
                          o in-tes-ti-no   é seu ti-me
soletrados)               fi-car fi-no
                          que só fei-xe
                                           é su-bli-me
                                           ser po-pu-lar
Compositores: Xangai e    co-ma pei-xe     par-la-men-tar
Ivanildo Dias             no pa-la-dar     par-ti-ci-pe
                          um ca-la-mar     no ga-lo-pe
CD: Xangai - Qué qui tu   es-ca-lo-pe      da bei-ra-mar
tem Canário               no ga-lo-pe
                          da bei-ra-mar

                          Um ex-em-plo
                          de gi-gan-te
                          ru-mi-nan-te
                          um ca-me-lo
                          pa-ta pe-lo
                          ru-di-men-tar
                          pa-ra ma-tar
                          se-re-le-pe
                          no ga-lo-pe
                          da bei-ra-mar

                          Es-car-la-te
                          tan-ge-ri-na
                                                            Revista Brasileira de
Soletrando | 27                                             Literatura de Cordel
O Brasil de Pindorama
Falou Tupi-Guarani
Raimundo Caetano e Waldir Teles


                      Cabeceira é Iacanga
                      Terra antiga – Ibiporã
                      Estaca – Ibirapoã
                      Mel vermelho – Irapiranga
                      Terra roxa – Ibipitanga
                      Poço fundo – Itapuí
                      Rio dos Índios – Avaí
                      Mastro ou poste é Ibirama
                      O Brasil de Pindorama
                      Falou Tupi-Guarani

                      A Várzea é Ibipetuba
                      Nariz de Pedra - Itatina
                      Descavado – Ibiapina
                      Pedregulho – Itaituba
                      Mel amarelo – Irajuba
                      Clareira é Baiapendi
                      Coisa verde é Batovi
                      Cascatas é Iturama
                      O Brasil de Pindorama
                      Falou Tupi-Guarani

                      A fonte é Itororó
                      Lagoa branca – Ipatinga
                      Terra branca é Ipitinga
                      Bica d’água é Iteró
                      Casca amarga é Iperó
                      Rio dos ventos – Butuí
                      De lei, é Camaçari
                      Rio dos musgos Iguatama
                      O Brasil de Pindorama
                      Falou Tupi-Guarani




                                                  Revista Brasileira de
Cordel | 28                                       Literatura de Cordel
Rio doente
   Pedra redonda - Itanguá     Laje branca é Itapetim,
                                                                    Ingaci
   Rio torto é Iampara         Montanha é Ibitiura
   Luz da lua é Iaciara        Água que brota é Imbura        Fonte verde
   Ninho de abelhas - Irajá    Flor é chamada Imbotim               Impui
   Navio é Ingaratá            Fonte funda é Inhapim
                                                                 Canteiro
   Rio do Leite - Icamburi     Ponta de pedra Itapi
   Delegado é Canapi           Rio dos musgos Iguaí             Ibotirama
   Bem estar é Catuama         Ossada é Canguaretama             O Brasil
   O Brasil de Pindorama       O Brasil de Pindorama        de Pindorama
   Falou Tupi-Guarani          Falou Tupi-Guarani
                                                                    Falou
   Pedra angular – Itatema     Pedras soltas – Itaquera      Tupi Guarani
   Vão estreito – Itacambiro   Depois da fonte – Inharé
   Rio de pedra - Itaciro      Rio das Frutas - Imbaré
   Rio imprestável - Ipanema   Terra antiga é Ibiquera
   Pau d’alho - Imbirarema     Cepo é Ibirapuera
   Rio doente é Ingaci         Angelim – Aracuí
   Fonte verde é Impuí         Flor de arara – Arapoti
   Canteiro é Ibotirama        Umbuzais - Umburetama
   O Brasil de Pindorama       O Brasil de Pindorama
   Falou Tupi-Guarani          Falou Tupi-Guarani

   Charco se chama Ipuçaba     Casa de pedra - Itaioca
   Aldeia negra – Itabuna      Pedra amarela – Itaiuba
   Serra negra - Ibituruna     Cerradão é Catanduba
   Cordilheira – Ibiapaba      Construção quer dizer Moca
   Porto é Igarequiçaba        Fenda ou rasgo – Vossoroca
   Pedra verde é Itaobí        A lua é sempre Jaci
   Areia é Ibicuí              O sol é Coaraci
   Bica d’água é Torotama      E apiário é Iretama
   O Brasil de Pindorama       O Brasil de Pindorama
   Falou Tupi-Guarani          Falou Tupi-Guarani

   Água boa é Icatu
   Pomar se chama - Ipotiba
   Abundância – Imbiritiba
   Árvore grande - Imbiraçu
   Casa de vespa é Inchu
   Alameda - Imbiraci,
   Pedra agulha é Itabi
   Pedra erguida - Itapoama
   O Brasil de Pindorama
   Falou Tupi-Guarani




                                                              Revista Brasileira de
Cordel | 29                                                   Literatura de Cordel
Regras da poéetica cordeliana
         Regras
         (O que é e o que não é Literatura de Cordel)



         N        ão é qualquer folheto de 11cm X 16
                  cm que pode ser considerado Literatu-
                  ra de Cordel. Além do formato com as
         medidas indicadas, para que se possa consid-
         erar Literatura de Cordel, é preciso observar,
                                                          bolo, tábuas de marés, fases da lua, horóscopo,
                                                          etc.
                                                             Aqui no Nordeste brasileiro, é que ela se
                                                          tornou forma de Literatura mesmo, ao definir-
                                                          se, não só a forma dos folhetos, como também
         em primeiro lugar, o aspecto literário.          a temática, as regras poéticas, o fato de serem
            A Literatura de Cordel Portuguesa, não é      todos em poesia, a criatividade, fantasiosidade
         bem literatura, pois o que definiu mesmo o       das histórias descritas. Enfim, todas as car-
         formato do folheto foi a tecnologia gráfica      acterísticas de um segmento de arte literária.
         precária da época, mas os folhetos tanto po-        Diferenças entre a Literatura de Cordel Por-
         diam trazer poemas, como escritos em prosa,      tuguesa e a Literatura de Folhetos dita Litera-
         da forma que poderiam tratar de receitas de      tura de Cordel Nordestina




                                                                                       Revista Brasileira de
 Artigo | 30                                                                           Literatura de Cordel
Portuguesa                                            Nordestina
   a. Dirigida a todos os públicos                       a. Dirigida ao meio popular
   b. Gênero literário, teatral, informativo e outros.   b. Gênero estritamente literário e informativo
   c. Verso, Prosa e Receituários                        c. Definição pela poesia (exceto os almanaques)
   d. Postura ideológica de conciliação de classes       d. postura ideológica denunciadora e crítica dos
   e. Vendida em ruas pendurados em barbantes               opressores
       (cordéis)                                         e. Vendida de mão em mão. Nas feiras
                                                         é vendida em rodas, e expostos em
                                                         mala aberta ou em pequenas bancas
                                                         no meio da roda.




                                           A imensa maioria das apos-       própria sextilha, que comum
                                       tilhas e livros que “ensinam” da     aos folhetos e os repentes, a

Litera-                                fazer Literatura de Cordel con-
                                       fundem a cantoria improvisada
                                                                            toada de sete linhas, as déci-
                                                                            mas, mas também diversos tipos
                                       com a Literatura de Cordel.          de quadrões, de mourões, a
tura de                                Somente Ariano Suassuna fez a
                                       divisão correta. Até mesmo os
                                                                            Gemedeira, o Gemido de Dois,
                                                                            Treze por Doze ou numerado, o

Cordel e                               grandes estudiosos do Folclore
                                       confundiram estes dois universos
                                       da poesia popular nordestina.
                                                                            Galope à Beira-mar, os diver-
                                                                            sos tipos de martelos e os esti-
                                                                            los de fantasia, Brasil caboclo,

Canto-                                     A Literatura de Cordel é
                                       composta por toda a parte
                                                                            o Brasil de Pai Tomás, o Boi da
                                                                            Cajarana, Mulher Teimosa ou
                                       escrita e impressa da poesia         Rojão Pernambucano. Enfim, um
ria im-                                popular divulgada em formato
                                       de folhetos (08 e 16 páginas)
                                                                            mundo de mais de cem estilos,
                                                                            cada um deles com sua própria

provi                                  romances (de 24 páginas em
                                       diante, saltando de oito em oito
                                       por ser o que comporta uma
                                                                            estrutura de rimas, de métrica
                                                                            e uma lógica na oração a ser
                                                                            desenvolvida, além de uma

sada                                   folha de papel ofício dobrada
                                       em quatro partes e impressa
                                                                            melodia e um ritmo próprios.
                                                                                A intersecção entre cantoria
                                       frente e verso), as folhas soltas,   e Literatura de Cordel se dá,
                                       com poemas, canções e em-            na cantoria quando os repen-
                                       boladas. Esse é o gigantesco         tistas cantam canções e poemas
                                       mundo da Literatura de Cordel.       ou mesmo folhetos e romances
                                       Já a cantoria improvisada, o         decorados e da Literatura de
                                       repente de viola é outro uni-        Cordel quando em pelejas e
                                       verso gigantesco, com mais de        discussões são usados diversos
                                       cem estilos poéticos, como a         estilos de cantoria
                                                                                          Revista Brasileira de
Artigo | 31                                                                               Literatura de Cordel
As regras do
                                                                            Márcia Abreu em Histórias
                                                                        de Cordéis e Folhetos, Mer-
                                                                        cado das Letras, 1999 traz

mestre Rodolfo                                                          as normas que eram definidas
                                                                        por Rodolfo Coelho Cavalcanti,
                                                                        mestre baiano da Literatura
Coelho Caval-                                                           de Cordel sobre a forma de se
                                                                        produzir esta Literatura. Rod-

canti para a po-
                                                                        olfo dá as cartas sobre técni-
                                                                        cas de versificação usadas na
                                                                        Literatura e Cordel e sobre a

esia popular im-                                                        própria maneira de se diagra-
                                                                        mar e de se compor, do ponto
                                                                        de vista gráfica, um folheto.
pressa.                                                                     Quanto às regras, podemos
                                                                        lembrar basicamente:




                   1. As histórias/estórias têm      sendo, os folhetos e romances são
                que ser descritas em versos;         todos montados com números de
                                                     páginas múltiplos de 8. Sendo,
                    2. As estrofes devem ser de      portanto, de 8, 16, 24, 32, 40, 48
                seis versos (sextilhas1), de sete    ou 64 páginas.
                versos (Sete linhas2), de dez ver-      6. Os de oito e até 16 pági-
                sos (décimas ou glosas3);            nas são chamados de folhetos;

                   3. Os versos, devem ser de           7. Os de 24 páginas em
                sete sílabas (heptassílabo ou re-    diante são chamados de romances,
                dondilha maior) ou de dez sílabas(   independente do assunto.
                decassílabos ou martelos);
                                                        8. As capas devem ser feitas
                    4. Cada página deve ter de       de papel de cor e as páginas in-
                quatro a cinco estrofes (quatro,     ternas (miolo), normalmente é feito
                quando se trata de estrofes de       de papel jornal;
                sete linhas e até cinco, quando se
                trata de sextilhas. No caso espe-        9. A ilustração da capa pode
                cífico de ser em décimas, ficam      ser feita de xilogravura, fotogra-
                apenas duas ou, no máximo três       fia ou desenho. Sendo que o mais
                estrofes numa página;                recomendável é o uso da xilogra-
                                                     vura.
                   5. Os folhetos são montados
                no tamanho 11cm X 16 cm, o que           10. Os títulos, de preferên-
                representa ¼ de uma folha de         cia, devem ser metrificados. Ex. O
                tamanho ofício, dobrada ao meio      Soldado Jogador (sete sílabas),
                e novamente dobrada, de modo         As proezas de João Grilo (sete
                que, ao dobrar duas vezes uma        sílabas) História de Mariquinha e
                folha tamanho ofício, ficam oito     José de Souza Leão (dois versos
                páginas de 11cm X 16cm. Assim        de sete sílabas).
                                                                                      Revista Brasileira de
Artigo | | 32
Artigo 10                                                                             Literatura de Cordel
Sextilhas                      Sete linhas                   Décimas ou glosas
              São estrofes de seis           São estrofes de sete         As décimas são
          versos de sete sílabas         versos de sete sílabas,       estrofes de dez versos
              As rimas devem ser         com rimas postas na           de sete sílabas, com a
          postas na seqüência AB-        seqüência ABCBDDB.            posição das rimas obe-
          CBDB.
                                             Trata-se de um estilo     decendo, na maioria dos
              Em alguns casos a
                                         poético pouco usado no        casos, a seqüência AB-
          primeira rima (A) a pode
          rimar com a última da          início da Literatura de       BAACCDDC. Trata-se de
          estrofe anterior, como         Cordel Nordestina, mas        uma forma poética mais
          normalmente se faz na          que depois passou a ser       usada para glosar motes
          cantoria improvisada. Na       adotada em poemas             em pelejas e discussões,
          Literatura de Cordel não       como A Chegada de             mas também pode ser
          é obrigatória a “deixa”        Lampião no Inferno.           usada para a com-
          porque e é usada na                O estilo Sete Linhas é    posição completa de um
          cantoria improvisada           muito usado na cantoria       folheto, como é o caso
          para dificultar a prática      improvisada por permitir      da Batalha de Oliveiros
          que alguns poetas têm de
                                         melodias muito boni-          e Ferrabrás, de Leandro
          levar estrofes decoradas.
                                         tas. É tão musical que é      Gomes de Barros.
          Há também as sextilhas
          em decassílabos, mas ra-       chamado na cantoria de           Há também o chama-
          ramente ela é usada nos        “Toada de Sete Linhas”.       do “estilo de Assu” em
          folhetos de cordel, sendo          Os cordelistas mod-       que as rimas obedecem
          mais apropriada para o         ernos usam bastante o         a seqüência ABBAC-
          improviso.                     estilo Sete Linhas.           CDEED. As décimas em
                                                                       decassílabos são usadas
                                                                       em poemas e pelejas.




                  Obs. Os demais estilos que normalmente são apresentados em apostilhas de
              Literatura de Cordel como sendo próprios da poesia escrita, só são usados na
              composição de folhetos e romances, como Brasil Caboclo, Martelo a Desafio, Ge-
              medeira, Mourão Voltado, Quadrão Perguntado, Galope à Beira-mar ne outros,
              são estilos de cantoria improvisada, só sendo usados na Literatura de Cordel,
              quando se trata de pelejas e discussões. Estes outros estilos serão descritos nos
              próximos números desta revista, com acompanhamento de um CD para que se
              possa ter uma dimensão aproximada do universo da cantoria improvisada e da
              Literatura de Cordel.




                                                                                       Revista Brasileira de
Artigo | 33                                                                            Literatura de Cordel
A Criação de Brasília
Chico Diassis


                Brasília, cidade linda     Com o Padre João Ribeiro,
                É a musa do Cerrado        Hipólito José da Costa
                Teu céu azul, estrelado,   A mudança era proposta
                Tem belezas mais de mil    E ganhava repercussão
                Tua miscigenação           Era século dezenove
                No Distrito Federal        No ano de vinte e dois
                Faz do Planalto central    Quando Dom Pedro propôs
                O coração do Brasil.       Sua denominação.

                Joaquim José da Silva      Francisco Adolfo, Visconde
                Xavier, o Tiradentes,      De Porto Seguro, faz
                Ele e os inconfidentes     Uma viagem a Goiás
                Queriam teu esplendor      Berço das grandes bacias
                Ao pedirem que o País      E entre Trás Lagoas, nota
                Transferisse a capital     O local apropriado
                Do imenso litoral          Pra que seja sediado
                Para o vasto interior.     O poder de nossos dias.




                                                     Revista Brasileira de
Cordel | 34                                          Literatura de Cordel
O senador Cavalcanti
   Apresentou ao Senado
   Um projeto baseado
   Na viagem do Visconde,
   Cento e oito anos antes
   Da fundação da cidade,
   A sua localidade               O deputado Nogueira
   Já era sabida onde.            Paranaguá autoriza
                                  A demarcação precisa
   No ano de oitenta e três       No ano 92.
   Dom Bosco, salesiano,          E Floriano Peixoto
   Sonhou com um altiplano        A Comissão Cruz envia
   Onde a terra prometida         Pra demarcação sadia
   Estava à beira de um lago      Ser concluída depois
   Conforme a antevisão
   Nova civilização,              Fez-se o Quadrilátero Cruz
   Novo tempo e nova vida.        Em muitos mapas, presente
                                  O governo de Prudente
   Foi proclamada a República     No ano 96
   E sua constituição             Mil novecentos e cinco
   Previa a demarcação            Na campanha mudancista
   Do Distrito Federal.           Senador e jornalista
   Virgílio Damásio e Muller      Tocam o assunto outra vez
   Dois distintos senadores
   Do terceiro artigo, autores,   Dia sete de setembro         Após trinta e quatro anos
   Lembraram da capital.          Data por nós consagrada,     Juscelino entra em ação
                                  Em 22 foi lançada            Inicia a construção
                                  A pedra fundamental.         Consolidando a proposta
                                  O Epitácio Pessoa            Contando com paisagista
                                  Comemorando a essência       Arquiteto e engenheiro
                                  Cem anos de independência    Faz com Israel Pinheiro,
                                  Da nossa pátria natal.       Niemeyer e Lúcio Costa

                                                               Em 21 de abril
                                                               De 60 foi fundada
                                                               A cidade projetada
                                                               Pra sediar o governo.
                                                               As maiores decisões
                                                               De Brasília estão partindo
                                                               E hoje estamos assistindo
                                                               Nossa capital crescer.
                                                                          Revista Brasileira de
Cordel | 35                                                               Literatura de Cordel
Cinco seculos de luta e aventura,
Desemprego, racismo e violencia
              SEVERINO DIONÍSIO
              Eu não vejo porque comemorar
              Cinco séculos de vida do Brasil,
              Deveria passar o mês de abril
              Sem ninguém desta data se lembrar
              Se o índio não tem onde morar,
              Prostituta não tem a assistência
              O político não usa coerência
              Pouca coisa mudou da ditadura
              Cinco séculos de luta e aventura,
              Desemprego, racismo e violência!

              EDVALDO ZUZU
              Não se pode esquecer o pelourinho,
              O porão do navio e a senzala
              O quilombo que tanto o povo fala
              Onde o negro sofreu sem ter padrinho,
              Conselheiro e Zumbi neste caminho
              Foram mártires da mesma penitência
              Suportaram castigos sem clemência
              Não tiveram da lei a cobertura
              Cinco séculos de luta e aventura,
              Desemprego, racismo e violência!

              SEVERINO DIONÍSIO
              Descobriram o Brasil, mas foi em vão.
              Não deviam jamais ter descoberto
              Que se o branco não tem chegado perto
              Só os índios mandavam nesse chão,
              Sem políticos corruptos na nação,
              Sem a droga gerando delinqüência,
              Não havia república nem regência
              Nem ninguém criticando a pele escura
              Cinco séculos de luta e aventura,
              Desemprego, racismo e violência!




                                                      Revista Brasileira de
Cordel | 36                                            Revista Brasileira de
Artigo | 10                                           Literatura de Cordel
                                                         Literatura de Cordel
EDVALDO ZUZU                                SEVERINO DIONÍSIO
   Este monstro cruel capitalismo              São quinhentos janeiros de poder
   Não aceita o regime igualitário             Concentrados nas mãos dos oligarcas,
   Sufocou o poder do operário                 Que sufocam, castigam e deixam mar-
   Colocou nossa pátria no abismo           cas
   Afogou de uma vez o comunismo               Onde o pobre não para de sofrer,
   Amparado na voz da prepotência              Os mendigos não têm o que comer,
   Onde o fraco não ganha concorrência         Os Sem Terra encontram resistência,
   Pra um regime cruel de linha dura           Os Sem Teto caçando residência
   Cinco séculos de luta e aventura,           E os doentes na rua da amargura
   Desemprego, racismo e violência!            Cinco séculos de luta e aventura,
                                               Desemprego, racismo e violência!
   SEVERINO DIONÍSIO
   Este nosso Brasil é bom demais             EDVALDO ZUZU
   Pra quem tem uma vida bem feliz,           Nosso povo inda deve estar lembrado
   Quem desvia o dinheiro do país             Do que houve em Olinda sempre praia,
   Vive entre os maiores marajás,             Buriti Cristalino e Araguaia
   Quem explora as riquezas naturais,         E o massacre no chão de Eldorado
   Quem jamais examina a consciência          Quebra-quilos, Praieira, Contestado,
   Quem não tem um fiapo de exigência         Quando vítimas não teve Inconfidência?
   Grita viva ao Brasil em toda altura        Bater palmas pra sua independência
   Cinco séculos de luta e aventura,          É juntar fanatismo com loucura
   Desemprego, racismo e violência!           Cinco séculos de luta e aventura,
                                              Desemprego, racismo e violência
   EDVALDO ZUZU
   Vera Cruz, Santa Cruz, Monte Pascoal,
   Pindorama e Brasil até agora
   Quando a classe burguesa comemora
   A pobreza se sente muito mal.
   Uma grave injustiça social
   Vem trazendo terrível conseqüência
   As esmolas das frentes de emergência
   Humilhando os que estão na agricultura
   Cinco séculos de luta e aventura,
   Desemprego, racismo e violência




                                                                           Revista Brasileira de
Cordel | 37                                                                Literatura de Cordel
Gonçalo Ferreira, nascido      três dezenas de biografias de
em Ipu, no Ceará, reside no Rio   cientistas produzidas em Cordel
de Janeiro, onde é presidente     por este primoroso poeta
da ABLC – Academia Brasileira     popular que, além de cordel-
de Literatura de Cordel.          ista é também contista e en-
   Autor de mais de 300           saísta, sendo um dos escritores
folhetos abrangendo os mais       de grande referência na área
diversos assuntos, Gonçalo Fer-   do cangaço.
reira dedicou-se a contar em          Pesquisador incansável,
versos cordelianos as vidas de    traz para seus poemas dados
alguns mais afamados cientistas   fundamentais para a com-
do mundo.                         preensão da vida e da obra
   Pode se contra mais de         destes grandes benfeitores da




A história da
  Ciência     Gonçalo
nos versos de Ferreira

humanidade.                       Brasil, também enveredou por        Rigorosa obediência
    Vários outros poetas tam-     pesquisas científicas especial-     As conselhos soberanos
bém se dedicaram a cantar         mente nas áreas de Antropolo-       Para que sejamos dignos
as vidas dos cientistas e te-     gia e Etnografia.                   Desses celestiais planos
mas científicos, mas a obra de       Sobre Aristóteles, Gonçalo
Gonçalo Ferreira é a melhor       Ferreira descreve:                  Aristóteles reuniu
referência para qualquer pro-                                         Mais do que dignidade;
fessor que se disponha a usar a     Quando Tales de Mileto,           Pois ele, Platão e Sócrates
Literatura de Cordel como fer-      Da Grécia, o primeiro guia,       Formaram a grande trin-
ramenta didático-pedagógica         As cortinas do saber            dade
no ensino de Ciências.              Carinhosamente abria              Dos mais notáveis filósofos
    Desde Aristóteles, so-          Mostrava o florescimento          Da Grécia da antiguidade.
bre quem escreveu o folheto         Da grega sabedoria.
“Aristóteles Vida e Obra” até                                          Gonçalo continua descreven-
Câmara Cascudo, mesmo tendo         Deus tem planos para todos      do a vida de Aristóteles, consa-
a marca de maior folclorista do     Porém cabe a nós, humanos,      grado como filósofo, ma tam-
                                                                                  Revista Brasileira de
Artigo | 38                                                                       Literatura de Cordel
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Revista Cordel

  • 1. O Que é Literatura de Cordel? 06 A Filosofia nos folhetos de Cordel 18 A Criação de Brasília 34 A Arca de Noé 41 Patativa do Assare O voo do centenario mestre da poesia 47
  • 2. Uma escola literaria Editorial poetico A nossa Literatura De Cordel, apelidada, Tem raiz em Portugal Mas aqui foi recriada. A de lá ficou mofina, Diante da nordestina A de lá não vale nada! Aqui, folhetos, canções, Romances e gemedeira, ABCs, moirões, pelejas, Capa talhada em madeira, Normas rígidas, pauta vária... É uma escola literária Da cultura brasileira! Desde o maior teatrólogo, Músico, pintor e escritor Todos vão beber na fonte Dos versos do cantador. Se os produtos derivados São muito valorizados, A matriz tem mais valor. Cordel não é só Folclore, Folheto e xilogravura, É Filosofia e estilo, É arte e Literatura É luta, dor e alegria É a mais pura poesia... Crispiniano Neto A mãe da nossa cultura! Cordelista
  • 3. Editorial rEvista BrasilEira 06. dE litEratura dE O que é 14. CordEl Literatura A Popu- dirEtoria ExECu- de Cordel? laridade e tiva Editorial Atualidade Editora imEph do Cordel rEdação Crispiniano nEto ProjEto GráfiCo E diaGramação mayara Carol araújo 30. 28. Regras da O Brasil de Poética Pindorama Cordeliana Fala Tupi Guarani Sumário 38. A História 41. da Ciência A Arca de nos Versos Noé de Gonçalo Ferreira
  • 4. 18. A Filosofia 27. nos Soletrando Folhetos de Cordel 36. 34. 5 Séculos Criação de de Luta e Brasília Aventur, Desem- prego, Racismo e Violência 44. De Capa Repente... 47. O Vôo de centenário mestre da Poesia
  • 5. O QUE Ée LITERA TURA DE CORDEL “Q ue Literatura é esta, cujos temas são aproveitados pelo cinema, pelo teatro, pela música, televisão e até mesmo pelos poetas e escritores eruditos? O que é isto que está chamando a atenção dos professores universitários e universidades do mundo todo, sendo su- jeito de muitas teses de pós-graduação, de doutoramento e de estudos, como na França Estados Unidos, Japão, Rússia e outros países? Seria ela um traço do nordestino que desceu para o Sul do país, com os “paus- de-arara”, estendendo a sua influência cultural? Afinal, o que é Literatura de Cordel que, no Nordeste, é somente conhecida por folhetos, abecês, romances e cantorias?” MACHADO, Franklin. O que é Literatura de Cordel? / Rio de Janeiro. Editora Co- decri, 1980. P.11. Revista Brasileira de Artigo | 06 Literatura de Cordel
  • 6. Quando Portugal colonizou o festas num tempo em que não Brasil, a maioria da população havia rádio nem televisão.. Eles portuguesa era analfabeta e as acompanhavam os poemas can- gráficas, mesmo na Europa eram tados, com violas ou rabecas, o de um tecnologia muito atrasa- que aprenderam com os ‘medajs’ da, pois ainda não fazia muito árabes que trouxeram o alaúde tempo que Gutemberg tinha in- para a região, quando domina- ventado a imprensa e as máqui- ram por cerca de oito séculos, nas impressoras eram extrema- a Espanha, vizinha de Portugal mente rústicas. Não havia sequer e que, por um tempo foi reino a eletricidade para permitir a unido do país que nos colonizou. fabricação de máquinas mais Chegando ao Brasil, os modernas, como as tipográficas folhetos contando histórias de de alta velocidade e muito me- princesas, bruxas, príncipes nos as off-sets. Imprimir um livro valentes e princesas encantadas, grande, como a Bíblia Sagrada, monstros e sábios encontrou um Os Lusíadas era uma tarefa de povo ansioso por estes mistérios anos, para não demorar demais e encantos, formado dos três as tiragens de livros grandes sangues que formam a etnia não passavam de dez exem- brasileira, o próprio português plares. Então, uma comunicação com toda esta carga cultural, o mais rápida, uma literatura que índio que costumava sentar ao permitisse tiragens maiores tinha redor da fogueira e ouvir o pajé que ser através de impressão de contar histórias mirabolantes “folhas soltas” e de pequenos que preenchiam o imaginário de folhetos, os quais eram vendidos todos, com idealizações, lendas, em Portugal, pendurados em medos, milagres e heroísmos; o cordões (cordéis) nas feiras e nas negro africano, um pouco mais ruas mais movimentadas, através adiantado culturalmente que o de cegos cantadores, autoriza- nosso índio, também vinha de dos pelo Rei, como forma de uma cultura de muita imagina- gerar emprego e renda para ção, lenda, temores e lutas. Es- os deficientes visuais que tinham tava formado o ambiente fértil dotes artísticos. para nascer uma nova expressão Trovadores, jograis, menes- cultural. tréis e cantadores tinham grande influência na difusão cultural da época, pois, sendo a população analfabeta, como já dissemos, uma literatura rimada permitia melhor compreensão e facilitava demais a memorização. Can- tadores populares eram figuras indispensáveis em todas as vilas por- tuguesas da época, animando feiras e Artigo | 07
  • 7. Os primeiros folhetos Os primeiros folhetos vieram de Portugal, nas caravelas juntos com os colonizadores, nem sempre eram escritos em versos, mas eram a principal fonte de leitura dos primeiros séculos do Brasil. Antes de entrarem nas caravelas tinham que passar pela rigorosa cen- sura da Santa inquisição. Na Casada Torre do Tombo, em Lisboa, eram selecionados os que podiam ser lidos nas colônias e os que não podiam vir para o Brasil, Açores, Guiné, Moçambique, Algarves. Surge a ‘Cantoria de Viola’ na Serra do Teixeira, Paraíba Na primeira metade do século dezenove, por volta da década de 1840 surgem as primeiras cantorias de viola, organizadas, estrutura- das como um espetáculo de produção poética sob o ritmo da viola com os versos sendo feitos no calor do improviso. Era uma evolução dos aboios dos vaqueiros que fizeram a povoação dos sertões nordestinos a casco de cavalo e além de chamar e tanger o gado através do grito mágico do aboio, quando no descanso, pega- vam da viola e improvisavam versos relatando suas próprias aventuras e contando histórias do “arco da velha” que decoravam dos livrinhos que chegaram através das caravelas. A cultura que brota em torno da pecuária em todas as partes é sempre muito cantante. Os primeiros cantadores, considerados os pais da Cantoria de Viola O primeiro Nordestina, são Ugolino do Sabugi, Romano do Teixeira, Silvino Pi- rauá de Lima e outros que deram forma ao espetáculo, definiram os que se tem primeiros gêneros poéticos a serem cantados, como as quadras, sextil- noticia has, glosas, romances, etc. Historia do Capitao do Navio, Nasce a Literatura de Cordel Nordestina de autoria de No final do século XIX surgiram os primeiros folhetos impressos, Silvino Piraua produzidos por poetas nordestinos e impressos em gráficas da região. de Lima. O primeiro que se tem notícia História do Capitão do Navio, de autoria de Silvino Pirauá de Lima. Começaram surgir as gráficas no interior do Nordeste e a litera- tura de folhetos e romances populares ganhou fôlego, formando-se uma verdadeira indústria, com tipografia dedicadas exclusivamente a publicar folhetos. Em torno destas tipografias desenvolveu-se uma rede de distribuição dos folhetos, através de “folheteiros”, que saiam Sertão a fora, de feira em feira, cantando e vendendo o produto, bem como dos cantadores repentistas que iam fazer usas cantorias e aproveita- vam para também faturar um pouco mais com a venda de folhetos que eram por eles cantados e depois vendidos, independente de serem da própria autoria ou não. Num determinado da cantoria paravam de fazer improvisos e iam cantar os versos feitos dos folhetos e romances que traziam na mala. Fonte: Apostilha CURSO DE INICIAÇÃO À POESIA – O Universo da Literatura de Cordel, de Crispiniano Neto Revista Brasileira de Artigo | 08 Literatura de Cordel
  • 8. Universo tematico e propostas de classificacao da Literatura de Cordel C laro que não é fácil diz- er por que tal ou qual tema foi, ou é, escolhi- do. Suas razões nem sempre se podem fixar em definitivo, mas lado, aspectos de vivência social: religiosidade, aventu- ras, casos de amor. E também as narrativas que envolvem animais, o que representa, de sem dúvida nenhuma se pode certo modo, a maneira como a encontrar uma relação temática respectiva população consid- com a época em que surgem era o animal: ora exaltando-o, as temas. De fato, mesmo os como é em grande parte, o romances tradicionais, e não os ciclo do gado no romance fatos circunstanciais estão rela- nordestino, ora criando-lhe uma cionados a épocas históricas, a lenda prejudicial ao homem. determinado momento, tendo De modo geral, se pode em vista sua manifestação. verificar por um estudo mais Daí a diversidade com que os aprofundado dos temas, que temas se apresentam. De um a elaboração dos romances, lado, figuras humanas, como tradicionais ou modernos se herói ou anti-herói; de outro prendeu sempre à necessidade Revista Brasileira de Materia | 09 Literatura de Cordel
  • 9. " Desta forma muitas tem sido as tentativas de dar uma classificacao ao romanceiro, ora seguindo a grande tematica que envolve os romances, ora tendo em consideracao as caracteristicas que eles apresentam. " de fixar os acontecimentos, de registrar as figu- são também hoje, com a facilidade das comu- ras que dele participam, de anotar a maneira nicações, certos fatos de repercussão interna- como decorreram, enfim tudo aquilo que, sem cional. Temos assim os temas tradicionais, de um imprensa, sem jornais, sem rádio, as gerações lado; e de outro lado, os fatos circunstanciais, mais antigas tiveram necessidade de gravar quando a literatura de cordel se transforma em e transmitir através da história popular, para jornal escrito e falado e em crônica ou fixação fazer a sua história. Daí haver sempre, - isto dos acontecimentos. sobre tudo nos romances de fundo histórico, que narram guerras ou lutas realmente acontecidas, A variedade temática: tentativa de ou fixam figuras que efetivamente viveram, - no classificação romanceiro não apenas a notícia como também Muitas têm sido as classificações a respeito o entretenimento. do romanceiro em especial do português, Desta maneira, podemos desde logo transladado para o Brasil, e aqui sofrendo as evidenciar a existência, no romanceiro e hoje adaptações ou reformulações que adequaram na literatura de cordel, de dois tipos fundamen- os romances ao novo ambiente. Porque é real- tais da temática: os temas tradicionais, vindos mente este um dos aspectos mais salientes em um através do romanceiro, conservados inicialmente romanceiro quando estudado comparativamente: na memória e hoje transmitidos pelos próprios as modificações que cada povo realiza no tema. folhetos – e aí se situam as narrativas de Carlos E realiza dentro de sua época, do momento Magno, dos Doze Pares de França, de Oliveiros, histórico que vive. de Joana d’Arc, de Malasartes, etc.; e os temas Desta forma muitas têm sido as tenta- circunstanciais, os acontecimentos contemporâ- tivas de dar uma classificação ao romanceiro, neos ocorridos em dado instante e que tiveram ora seguindo a grande temática que envolve repercussão na população respectiva – são os romances, ora tendo em consideração as enchentes que prejudicaram populações, são características que eles apresentam. Entretanto, crimes perpetrados, são cangaceiros famosos menores têm sido as tentativas de classificação que invadem cidades ou praticam assassínios, Revista Brasileira de Materia | 10 Literatura de Cordel
  • 10. de nossa literatura de cordel; a temática aí tem sido menos explorada no sentido de identificá-la em torno de determina- dos assuntos. Fora do Brasil, podemos lembrar duas sugestões de classificação da literatura de cordel: a de Júlio Caro Baroja, na Espanha, e a de Robert Mandrou, na França. No caso do Brasil, a respeito da classificação da litera- tura popular em versos, além da tentativa de Leonardo Mota, aí por 1921, em Cantadores, e possivelmente outras, podemos registrar duas mais recentes. Uma a que se deve à Casa de Rui Barbosa, feita por um grupo sob a orientação de Caval- canti Proença; foi fundamentalmente desse saudoso especial- ista o esquema inicial, que, afinal, predominou. É realmente um quadro amplo, entrando em pormenorização bastante expres- siva para um melhor conhecimento da produção de literatura de cordel. Orígenes Lessa, partindo da observação de que a temática dos romances populares é muito variada, assinala que essa temática é riquíssima (9); contudo, para classificá-la registra uma série de temas permanentes e outros que con- sidera tipos que, em geral, passam, não se reproduzindo os folhetos. No primeiro caso, situa os seguintes temas: O desafio, real ou imaginário: histórias tradicionais; can- gaço; Antônio Silvino, Lampião, Maria Bonita; seca e retirantes; vaqueiros e vaquejadas; mística; histórias bíblicas; profecias; milagres; festa religiosas; beatas e santos do sertão; Padre Cícero; sobrenatural; o diabo; romances de amor, de aven- turas, trágicos; no segundo caso, incluem-se casos da época; crimes, desastre, acontecimentos policiais, revoluções; campan- has eleitorais; fatos políticos; luta ideológica (guerra da Coré- ia, Hitler, etc.); miséria do povo; eleições; Getúlio e sua morte; crítica de costumes; sátira política e social (crises, preços, falta de luz, etc.). Outra é a que propõe Ariano Suassuna (10); é mais sintética, procura situar a sistematização da literatura de cordel em limites mais definidos a partir dos dois grandes gru- pos – o tradicional e o de “acontecido”: 1. Poesia improvisada; 2. Poesia de composição: a) ciclos heróico; do maravil- hoso; religioso e de moralidade; cômico, satírico e picaresco; de circunstância de histórico; de amor e fidelidade; b) formas: romances; canções; pelejas; abecês. A classificação adotada pela casa de Rui Barbosa, basicamente elaborada por Cavalcanti Proença: assim pode ser apresentada, conforme se vê no volume do catálogo da Literatura Popular (11): Revista Brasileira de Materia | 11 Literatura de Cordel
  • 11. I – Herói Humano: 1. Herói Recentemente Roberto Câmara Benjamin em inter- Singular; 2. Herói Casal; 3. Re- essante estudo sobre os temas de religião apresentados portagem (crimes, desastres, etc.); em folhetos (12), sugere uma classificação deste, levando 4. Política; em conta seus objetivos; seriam distribuídos em três gru- II – Herói Animal; pos; 1. Folhetos informativos, os que registram fatos “de III – Herói Sobrenatural; época”, ou de “acontecimento”, isto é, acontecimentos IV – Herói Metamorfoseado; atuais, fixando-os para conhecimento de grande público; V – Natureza: 1. Regiões; 2. 2. Romances, são as narrativas tradicionais destinadas a Fenômenos; entreter e distrair; 3. Opinião, são os que incluem crítica VI – Religião; social. A estes três grupos o próprio escritor acrescenta, a VII – Ética: 1. Sátira Social – seguir, um outro conjunto de folhetos: os que narram “ca- Humorismo; 2. Sátira Econômica; 3. sos”, os folhetos de “exemplo”, onde se arrolam aconteci- Exaltação; 4. Moralizante; mentos sem explicação para o povo, mas que constituem VIII – Pelejas; exemplos a serem observados. IX – Ciclo: 1. Carlos Magno; 2. A nosso ver é possível chegarmos a uma síntese Antônio Silvino; 3. Padre Cícero; 4. das duas classificações brasileiras antes citadas: a de Getúlio; 5. Lampião; 6. Valentes; Proença e a de Suassuna. A nossa preocupação é a de 7. Anti-Heróis; 8. Boi e Cavalos; apresentar a temática da literatura de cordel; e tam- X – Miscelânea: 1. Lírica; 2. bém assentar aqueles temas que são constantes ou per- Guerra; 3. Crônica – Descrições. manentes nesta literatura, e isto sob duplo aspecto: de um lado quais são estes temas, como são expostos, por que existem; e de outro lado, como o cantador ou tro- vador populares consideram estes como os interpretam, o que seria, por assim dizer, a sua cosmovisão. Ou seja: como, no quadro de sua cultura, compreendem o fato tradicional ou o acontecido em face da sociedade em que vive. O que representa, de certo modo, o próprio sentimento desta sociedade. Daí procuramos harmonizar, de maneira mais singela – e sobretudo exemplificativa – o que existe nas diferentes manifestações populares em torno de determinado assuntos, constantes, senão permanentes, na literatura de cordel. Chegamos assim a uma simplifi- cação do que sugerem Cavalcanti Proença e Suassuna, procurando indicar, em suas linhas gerais os assuntos da literatura de cordel.
  • 12. Exemplificacao dos diversos temas 1. Temas Tradicionais a) Romances e novelas: Leandro Gomes Costa Leite – A vaca misteriosa que falou de Barros – Batalha de Oliveiros com Fer- profetizando. rabrás; João Martins de Ataíde – Roldão d) Anti-heróis: Leandro Gomes de Barros no Leão de Ouro; José Bernardo da Silva – A vida completa de João Lezo; - Fran- (ed. prop). – História da Donzela Teodora. cisco Sales – As presepadas de Pedro b) Contos Maravilhosos: Leandro Gomes de Malasarte; João Martins de Ataíde – As Barros – História de Maria e Alonso; João proezas de João Grilo. José da Silva – Aladim e a Princesa de e) Tradição Religiosa: - Manuel d’Almeida Bagdá; Antônio Alves da Silva – Os últimos Filho – História de Jesus e o Mestre dos dias de Pompéia. Mestres; José João dos Santos (Azulão) – c) Estórias de animais: Leandro Gomes de O milagre de Jesus e o ferreiro orgulhoso; Barros – O boi misterioso; Luís da Costa José Soares – Os milagres da Virgem – História do papagaio misterioso; José Conceição. 2. Fatos circunstanciais ou acontecidos a) Manifestações de natureza física: José – Feira de Santana, princesa do sertão; Bernardo da Silva – Os horrores do Nor- Manoel Camilo dos Santos – Descrição da deste; Delarme Monteiro – A seca, flagelo Capital João Pessoa. do sertão; João José da Silva – As cheias d) Crítica e sátira: Erotildes Miranda – Os do interior e as inundações do Recife. horrores da devassidão; Expedito Se- b) Fatos de repercussão social: Rodolfo bastião da Silva – A marcha dos cabelos e Coelho Cavalcante – A morte de Zé os usos de hoje em dia; Minelvino F. Silva – Arigó, o famoso médium de Minas Gerais; ABC dos tubarões. Severino Paulino da Silva – A tragédia de e) Elemento humano: João Florêncio da Garanhuns ou a morte do Bispo; Antônio Costa – História de Getúlio Vargas; Arinos Batista – A guerra de Juazeiro; Joaquim de Belém – História de Antônio Conselheiro; Batista de Sena – A vitória do Marechal João Martins de Ataíde – A morte de Castelo Branco e a derrota dos corruptos; Padre Cícero Romão; José Costa Leite – A Manoel d’Almeida filho – Brasil, tricampeão voz de Frei Damião; Francisco das Cha- do mundo; José Soares – O homem na lua; gas Batista – A história de Antônio Silvino; Joaquim Batista de Sena – História da nove- Antônio Francisco da Silva – As bravuras la de Antônio Maria em versos de cordel. e morte de Lampião; Ivo Luís Silva – O rei c) Cidade e vida urbana: Leandro Gomes dos vaqueiros; Severino Borges da Silva – de Barros – O Recife novo; João Carlos Bravuras de sertanejo. Classificação de Franklin Maxado De época ou de Ocasião, Históricos, Didáticos ou educativos, Biográficos, De louvor ou homenagens, De propaganda política ou comercial, Promoção pessoal e anonimato, Pasquim ou de intriga, De safadeza ou putaria, Maliciosos ou de cachor- rada, Cômicos ou de gracejos, De bichos ou infantis Religiosos ou místicos, De profecias ou eras, De conselhos ou exemplos, De fenômenos ou de casos, Maravilhosos ou mágicos, Fantásticos ou sobrenaturais, De amor ou de romance amoroso, De bravura ou heróicos, Vaquejadas, De presepadas ou dos anti- heróis, De pelejas ou desafios e De discussão ou encontros. Fontes: Literatura de Cordel Antologia – Banco do Nordeste, organizado por Ribamar Lopes e O Que É Litera- tura de Cordel, Franklin Maxado, Editora Codecri – Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Materia | 13 Literatura de Cordel
  • 13. Da Popularidade e atualidade Da Literatura de Cordel. C om mais de cem anos de publicações inin- terruptas, a Literatura Popular em Versos Escrita ou “Versos de feira”, ou, ainda, “romances e folhetos”, conhecida nos meios intelec- tuais como Literatura de Cordel - nomenclatura herdada de Portugal, onde os folhetos eram vendi- dos nas feiras, pendurados em barbantes (cordões ou cordéis) – já teve sua morte anunciada várias vezes, mas resistiu a todas elas. Achavam que ela sucumbiria à penetração dos jornais no interior; depois foi a era do rádio, com grande penetração nos sertões e mais uma vez falou alto o prenúncio trágico. Com a chegada da televisão ao interior, se previu de novo a derrocada do velho “cor- reio do Sertão”. E agora se fala que a internet irá acabar a literatura popular nordestina... Tudo balela. O “cordel” resiste, por mais que lhe es- tiquem a corda. E tem conseguido até se aliar a cada um destes concorrentes, poderosos instrumen- tos de comunicação de massas. Revista Brasileira de Artigo | 14 Literatura de Cordel
  • 14. " O radio, o jornal, e a TV chegam primeiro, mas a publicacao da mesma noticia em folhetos de cordel da mais credibilidade e desperta mais interesse ao acontecido. " Em pleno século XXI o fol- dades e escolas de todos os ao Brasil serviu de inspiração heto poético permanece firme recantos do Norte, Nordeste para a publicação de cerca de e forte, lépido e fagueiro, e do Sudeste. O maior prob- cinqüenta títulos cordelianos. cruzando veredas e animando lema foi o fechamento das A morte de Tancredo Neves alpendres nas comunidades tipografias de Literatura de provocou dezenas de publica- rurais dos minifúndios anti- Cordel, que foram 42. Mas ções, a morte de Luiz Gonzaga econômicos, latifúndios improd- elas estão ressurgindo. Agora também motivou uma enxur- utivos, fazendas modernas de em off-set, que os tempos rada de poemas publicados. irrigação e assentamentos de são outros. Através de enti- Por último tivemos a derrubada reforma agrária. dades de apoio à cultura ou, das torres gêmeas, em Nova Ameaça deverasmente forte até mesmo, com fins comerci- Yorque. Poucos dias depois, foi o êxodo rural. Mas, em vez ais, editam-se folhetos, o que vários folhetos estavam sendo de morrer ele acompanhou o garante a volta do vigor de vendidos nas feiras do Nor- seu leitor. Veio para as perife- mercado do folheto. deste e dos grandes centros rias das cidades e chegou às Quando se pensava que do Sudeste, com Osama bin metrópoles, não só do Nor- esta literatura tinha sucum- Laden na capa. Hoje, o fol- deste como Recife, Fortaleza e bido, eis que morreu Frei heto jornalístico não leva mais Salvador, mas também ao Rio Damião e mais de setenta novidades aos seus leitores de Janeiro, São Paulo e todas títulos foram publicados cativos. O rádio, o jornal, e as cidades satélites de Brasília. sobre o fato. A primeira a TV chegam primeiro, mas a Chegou também às universi- vinda do papa João Paulo II publicação da mesma notícia Revista Brasileira de Artigo | 15 Literatura de Cordel
  • 15. em “folhetos de cordel” dá mais credibilidade e desperta mais inter- esse ao acontecido. “Saiu até um folheto sobre esse assunto”, essa é a marca registrada da credibilidade conferida a uma notícia para as pessoas do povo que têm nessa literatura, na Bíblia Sagrada e nos almanaques populares anuais, suas maiores referências culturais impressas. Esta força imorredoura e crescente, é que faz com que os folhetos de Literatura de Cordel sejam hoje tão utilizados em cam- panhas educativas e no marketing comercial ou político. Quando Cristóvão Buarque criou a Bolsa-Escola no Distrito Federal, por volta de 1995, seu governo me encomendou um poema para divulgar o programa entre os migrantes que moram em Brasília. Dele foram Isabela Nardoni, João Hélio e até o presidente Lula já se tornaram temas de cordéis publicadas duzentas mil cópias. Mais recentemente, a Secretaria da Cidadania de Mossoró me encomendou 15 títulos sobre temas da saúde. De cada um, foram publicados cinco mil exemplares, com perspectiva de novas edições. Folhetos sobre DST/AIDS, contra o alcoolismo, contra o Tabag- ismo, em prol da economia da água, em defesa da ecologia, contra a dengue, em defesa da escola pública, dos direitos da criança, da mulher, dos animais, do plantio do caju, da criação de capri- nos e ovinos, enfim, em qualquer assunto que se queira falar com o povo na sua linguagem, recorre-se à poesia cordelista. Como dizia o mestre Paulo Freire, “não se chega à cabeça do homem do povo, sem passar pelo coração”. O uso da Literatura de Cordel em cam- panhas educativas está abrindo um novo ciclo, como os Cômicos ou de gracejos, Religiosos ou místicos, de Profecias ou eras, de Consel- hos ou exemplos, de Lampião, de Padre Cícero e tantos outros que foram catalogados por Ariano Suassuna, Liedo Maranhão de Souza, Franklin Maxado e Orígenes Lessa. Revista Brasileira de Artigo | 16 Literatura de Cordel
  • 16. O Caso Isabella, a morte da menina que foi jogada provavelmente pelos pais do sexto andar de um edifício em São Paulo, o Caso de João Hélio, o menino que morreu arrastado em um carro por marginais no Rio de Janeiro, tudo vira folheto de Cordel com uma velocidade impressio- nante. Estamos na praça com a segunda edição do livro Lula na Literatura de Cordel. São mais de duzentos folhetos que falam direta ou indire- tamente em Lula, um presidente que ainda está governando. No livro catalogamos nada menos que 110 deles, de vários estados do Brasil. As editoras estão trabalhando uma nova fase da Literatura de Cordel, trata-se do Cordelivro, que se constitui na edição de folhetos de Cordel em forma de livros, ilustrados, muitas vezes até com um belíssimo casa- As formas poeticas do cordel e do repente nordestinos vao surgindo em novos estilos musicais, enriquecendo o rap, o rock, o hip hop, a MPB mento entre Cordel e Quadrin- hoje uma presença marcante no ses acadêmicas sobre a Litera- hos, um antigo sonho do pes- Teatro, na Literatura, no Cinema tura de Cordel. quisador José Maria Luythen e nas artes visuais, inclusive um A publicação de folhetos que começa a se concretizar. peso fortíssimo dos versos, das acelerou nos últimos cinco anos Dezenas de projetos que levam toadas e das xilogravuras no com o surgimento de editoras a Literatura de Cordel à sal de marketing. como A Tupinankyn em For- aula podem ser encontrados em A agregação de valor ao taleza, a Queima-bucha em todos os estados nordestinos, produto “poema de cordel” Mossoró, a Casa do Cordel em e ainda em São Paulo, Rio de cresce a cada dia, além do Natal, um Sebo em João Pessoa, Janeiro, Distrito Federal, Goiás, cordelivro, há uma forte indús- Manoel Monteiro na Paraíba, estados do Norte para onde tria de produção e venda de a Coqueiro e a Unicordel em milhões de nordestinos migra- CDs, de DVDs, de caixinhas Recife, a ABLC No Rio de Ja- ram arrastando a saudade da de cordéis, de displays com neiro, a volta da Editora Luzeiro terrinha “sofrida, mas boa”. coleções para venda ou servin- e a chegada da Editora Novo As formas poéticas do cordel do de mostruário, camisetas Horizonte em São Paulo, além e do repente nordestinos vão com versos e xilogravuras, livros de várias editoras empresariais surgindo em novos estilos music- com coletâneas de poemas e que estão entrando no ramo do ais, enriquecendo o rap, o rock, poetas. E há uma impressionante Cordel por verem nele um nicho o hip hop, a MPB; o cordel tem produção de monografias e te- promissor. Revista Brasileira de Artigo | 17 Literatura de Cordel
  • 17. A Filosofia nos folhetos de Cordel Questões pertinentes em relação à Filosofia e a literatura de Cordel Por Francisco José da Silva Prof. Mestre em Filosofia (UFC) Q uando fui convidado para falar sobre o tema a Filosofia nos folhetos de cordel, me senti desafiado, pois qualquer pessoa diante disto poderia se perguntar: Qual relação há entre filosofia e literatura de cordel? Seria o que há de filosofia no cordel? Ou seria o que há de cordel na filosofia? O titulo diz muito sobre a questão a qual nos propomos desenvolver, pois poderia ser ‘Filosofia em Cordel’, ou, ‘Cordel e Filosofia’, ‘Filosofia no Cordel’, ou, ‘Cordel na Filosofia’ e ainda ‘Filosofia do Cordel’. Diante destas questões eu me alinho às duas últimas como mote a partir do qual iniciaremos nossa reflexão de hoje, ou seja, até onde é possível falar de uma filosofia presente na literatura de cordel, e ainda, é possível falar de uma veia poética na filosofia, ainda mais uma poética popular?
  • 18. A filosofia é, pois, uma musas, rotina sempre presente forma de saber que tem como na literatura de cordel, mas fundamento a busca da ver- que remonta a Homero, na dade através da razão, desta Ilíada e Odisséia, e Hesíodo, forma a reflexão filosófica nos na Teogonia e em Os Trabalhos permite pensar a realidade e os Dias. As primeiras grandes de forma critica e a partir obras poéticas da tradição do todo. Lembramos que o ocidental que tem sua origem grande expoente da filosofia na Grécia antiga. e modelo de atitude filosófica No Canto I da Ilíada lemos: foi o filosofo grego Sócrates, “Canta ó musa, a ira de Desse modo, que através de suas perguntas Aquiles filho de Peleu...”. podemos dizer levava as pessoas a pensarem As musas são as filhas de que existe uma por si mesmas. Zeus e Mnemosyne (Memória), Começaremos então por as quais presidem as criações relacao estreita uma frase que para mim ser- artísticas e conduzem os poetas entre a poesia e a viria de inspiradora a partir da à contemplação daquilo que os divindade, aquele qual refletiremos sobre a filo- deuses querem revelar através sofia nos folhetos de cordel. A da poesia, da tragédia, da que revela os frase é “A poesia é filosofia em música, da dança, etc. O poeta segredos da versos, a filosofia é a poesia é como que o arauto dos de- natureza, em prosa”. uses, aquele que em seu canto revela a palavra dos deuses, da vida humana A poesia na origem da não muito distante é a concep- Filosofia ção bíblica da profecia, pois os grandes profetas (neviim), Já que ao falar de litera- são os portadores da palavra tura de cordel estamos falando de Deus, e muitos deles como em poesia, podemos perceber Isaias e Jeremias eram consid- que na Filosofia há um pouco erados grandes poetas, sem de cordel, pois na sua origem a esquecer do repentista hebreu Filosofia era expressa na forma David, que deliciava os ouvidos de poesia, com versos. Desde de Saul ao “cantar seus Salmos tempos imemoriais a poesia pelos ares”, como diria Raul tem sido a forma mais utilizada Seixas. Desse modo, podemos para se expressar, especial- dizer que existe uma relação mente na carência de uma estreita entre a poesia e a literatura escrita, enquanto ela divindade, aquele que revela é uma forma de mnemotécnica, os segredos da natureza, da ou seja, uma técnica de memo- vida humana, etc. Esse caráter rização eficaz, além é claro revelador da poesia ultrapassa do caráter estético que nela se o âmbito estritamente religioso, apresenta que lhe dava uma ele é reconhecido inclusive na aura de divina. filosofia. Um exemplo deste caráter Em relação à importância divino da poesia pode ser da expressão poética na anti- constatado na invocação das guidade e sua relação com a Artigo | 19
  • 19. Filosofia nos diz Aristóteles, em sua Poética: eles destacam-se ainda “Entretanto nada de comum existe entre Homero mais aqueles que poetica- (poeta) e Empédocles (filósofo) salvo a presença do mente filosofam. Entre os verso.” (Aristóteles, Arte Poética, I, 11). grandes ‘poetas-filósofos’ A partir deste texto, percebemos que o verso podemos citar Homero, era a linguagem comum tanto da poesia quanto Hesíodo, Sófocles, Esquilo, da filosofia, e ao contrário do que diria Platão, o Eurípedes, Virgilio, Camões, qual rejeita a poesia em sua Republica (vale res- Goethe, Schiller, Hölderlin, saltar que o próprio Platão era poeta, o que nos Fernando Pessoa, Augusto leva a questionar sobre sua posição), Aristóteles, ao dos Anjos, e por que não contrário, exalta o caráter racional e universal da acrescentar a estes grandes poesia, quando diz: poetas clássicos, os grandes poetas da literatura de cordel como Leandro Gomes de Barros, Manoel Camilo dos Santos, Patativa do Assaré, Klevisson Viana, Manoel Monteiro, Mestre Azulão, Rouxinol do Rinaré e tantos outros (?), os quais com sua poesia levantam questões das mais perti- nentes sobre a existência humana, sobre a morte, sobre a vida feliz, sobre o Por tal motivo a “Por tal motivo a Po- certo e o errado, sobre o esia é mais filosófica e de mal, sobre o conhecimento, Poesia e mais caráter mais elevado que sobre nossa cultura. filosofica e de a História, porque a Poesia Não podemos subestimar carater mais permanece no universal e a nem a poesia clássica nem História no particular.” (op. muito menos a poesia popu- elevado que a cit, IX, 3). lar, como o cordel, no que Historia, porque a Com isso vemos clara- diz respeito à forma de Poesia permanece mente que há algo que expressão ou ao conteúdo. aproxima a racionalidade A poesia é uma das primei- no universal e a filosófica da poesia e vice- ras manifestações artísticas Historia versa, é isto que faz com da humanidade e carrega no particular. que o cordel, enquanto toda genialidade do espíri- poética popular carregue to humano e, como pensa em si os germes da reflexão o filosofo alemão Hegel Aristoteles. filosófica na sua busca de (1770-1831) na sua obra expressar o real em sua Lições sobre a Estética, é a complexidade. forma de arte mais espiritu- Podemos dizer que os al e mais completa, aquela grandes poetas marcam que mais se aproxima da com suas obras a geniali- religião em sua manifesta- dade do pensamento, entre ção do absoluto. Revista Brasileira de Artigo | 20 Literatura de Cordel
  • 20. Cordeis sobre Filosofos Além da possibilidade de levantar estas questões funda- mentais, devemos lembrar da tarefa levada a cabo por al- guns cordelistas, a de escrever sobre a vida dos grandes filó- sofos da humanidade. Entre es- tes cordelistas citamos Gonçalo Ferreira que escreveu sobre Os vultos primaciais Pitágoras, Sócrates, Platão e Livres de contestação Aristóteles, vejamos este trecho Da filosofia grega o cordel sobre Platão: Inegavelmente são Os inexcedíveis Sócrates Aristóteles e Platão. Foram eles realmente Os construtores da fé Iluminando os caminhos Do cristianismo até A doce eclosão do Cristo Em Jesus de Nazaré. Vemos nestes versos uma Diógenes, o cínico, consid- Deus quando criou o homem concepção que alia as idéias erado o mais despojado, o Facultou-lhe liberdade cristãs ao pensamento dos mais irreverente dos filósofos Pra pensar e investigar filósofos gregos, o qual foi na gregos, que usava o sarcasmo, Deixou bem à vontade verdade a base para o desen- a ironia e literalmente ‘mordia’ Do amor a sabedoria volvimento da teologia cristã aqueles que ele considerava Nasceu a Filosofia posterior. reprováveis. Como busca da verdade Recentemente Rouxinol do Como exemplo, citemos Rinaré escreveu conosco um trechos do cordel Diógenes, o Do grego, Filos, amigo. cordel sobre o filósofo grego cínico: Sabedoria é Sofia A mãe de toda ciência Da mente que tudo cria Deus Pai, Primeiro Motor. Poeta superior Da divina poesia Como vemos de forma simples Revista Brasileira de Artigo | 21 Literatura de Cordel
  • 21. e concisa o poeta expressa o signifi- ficas (morais, éticas, políticas, episte- cado da palavra ‘filosofia’(amigo da mológicas, metafísicas, etc.) e permi- sabedoria), e sintetiza todo seu con- tam entrever não só ao admirador, teúdo e ainda traduz uma concepção de mas ao pesquisador, ao professor racionalidade oriunda da divindade que em geral, e ao filósofo em particular, o conduz ao conhecimento de sua mais toda a riqueza filosófica que pode elevada aspiração. Além disso, o poeta se encontrar nesses modestos folhetos trata dos conceitos mais fundamentais de literatura popular, muitas vezes da filosofia, tais como liberdade, amor, subestimados pela grande maioria sabedoria, verdade, interpõe o conceito das pessoas. de deus cristão (Pai) e aristotélico (o Vejamos este trecho do cordel primeiro motor) e relaciona o criador Viagem a São Saruê de Manuel (poietes, em grego) e a criação (poema) Camilo, o qual relata uma viagem com a produção poética (poesia). fantástica a um lugar onde há tudo Pode-se encontrar maior profundi- em fartura: dade em tão poucos versos? O povo em São Saruê Podemos dizer ainda que se faz necessário e é importante a produção de cordéis biográficos sobre os grandes Tudo tem felicidade filósofos, tarefa a qual tem se dedicado Passa bem anda decente Gonzalo Ferreira, mas isto não é a regra Não há contrariedade para que se possa filosofar com cordéis, Não precisa trabalhar ao contrário do que têm feito alguns E tem dinheiro à vontade cordelistas que escrevem cordéis sobre Lá os tijolos das casas gramática, matemática, geografia, etc, São de cristal e marfim pois para isto basta que se escrevam As portas barras de prata cordéis, os quais devem ser ‘investigados’ Fechaduras de ‘rubim’ e neles se encontre todas estas disci- As telhas folhas de ouro plinas incluídas em seu conteúdo, seja E o piso de sitim num cordel de gracejo, seja biográfico, seja romance. (...) Tudo lá é bom e fácil Como filosofar com Cordéis? Não precisa se comprar Não há fome nem doença Diante disso tudo e sabendo que a O povo vive a gozar poesia tem uma ligação com a filosofia e Tem tudo e não falta nada pode expressar idéias e reflexões filosó- Sem precisar trabalhar ficas, podemos nos perguntar: Já que a O que pensar diante de um filosofia agora se tornou obrigatória em todas as escolas do país, seria possível ensinar filosofia com cordéis? Uma vez cordel que trata de uma sociedade dispondo de uma biblioteca de cor- plena de fartura se contrapormos a déis na escola poderia o professor de realidade do povo nordestino que filosofia utilizar-se dos cordéis e levar os nos períodos mais agudos da seca alunos à reflexão por meio deles? sofrem a privação das coisas mais Nada melhor que citar alguns trechos básicas? de cordéis que levantem questões filosó- Outro ponto digno de nota é Revista Brasileira de Artigo | 22 Literatura de Cordel
  • 22. a concepção de que nesta sociedade esta critica ao trabalho é endereçada utópica as pessoas não precisam tra- não ao trabalho enquanto tal, mas pode balhar, uma clara referência a vida no ser uma alusão às condições de trabalho jardim do Éden, onde após o pecado do homem do campo, explorado e espo- original o homem é condenado ao liado pelos grandes latifundiários, que trabalho penoso. Esta visão do trabalho gozam da fartura sem mover uma palha. traz os ecos da visão de mundo antiga e Também é interessante notarmos o medieval, para os gregos, por exemplo, contraste entre amor e honra no cordel o trabalho era reservado apenas aos Entre o amor e a espada de José Cam- escravos, enquanto os livres cuidavam elo de Melo, autor do famoso Pavão das questões do pensamento. Também Misterioso: relacionado a isso podemos dizer que O amor quando se alberga No peito do rico ou pobre Seus frutos são o amor Se torna logo um guerreiro As raízes são a honra Com capacete de cobre Que de incógnito frescor E só obedece a honra Dão vida e beleza a árvore Porque a honra é mais nobre E a seus frutos sabor Se o amor é soberano Colhem-se os frutos da árvore A honra é sua coroa E ela não esmorece Portanto o amor sem honra Mas cortando-lhe as raízes É como um barco sem proa Ligeiramente emurchece É como um rei destronado Da mesma forma é a honra No mundo vagando a toa Ferida, o dono entristece. Qual dos dois tem proeminên- A árvore é como o amante cia e é mais importante, o amor ou honra? Seria a honra mais nobre que o amor? Por que seria a honra a coroa do amor, e não o contrar- io? Teria o amor que estar sempre amparado pela honra? Com certeza estes versos do cordel supracitado trazem a marca de uma época, na qual a honra era um dos bens mais importantes para as pessoas, mas será que poderíamos dizer que a honra seria tão valorizada nos dias de hoje? O poeta pretende ligar o amor e a honra de uma forma tão perfeita, mas deixa entrever uma valoriza- ção da honra mesmo em detrimento do amor. Em nossos dias podemos encontrar manifestações de honra, mas talvez não tão freqüentes como outrora, ou mesmo em outras culturas, como por exemplo, a oriental onde a honra ocupa um lugar privilegiado, talvez mesmo acima do amor. Até que ponto as pessoas não confundem a honra com uma alta consideração de si mesmo derivada do egoísmo, o qual leva muitos a cometerem os crimes mais horrendos em nome de uma pretensa ‘hon- ra’? Seriam os crimes passionais resultado do amor ou da honra? Por essas reflexões iniciais percebemos o quanto estes versos do cordel podem nos conduzir para questões complexas de ordem ética e Revista Brasileira de Artigo | 23 Literatura de Cordel
  • 23. moral, que vão muito além de uma Rodolfo Teófilo): mera consideração do senso comum. São também muito interessantes O homem na vida sonha estes versos de Rouxinol do Rinaré Faz planos, mas na verdade tirados do cordel O Justiceiro do O desfecho do destino Norte: Só pertence à Divindade Sem ao menos pressentir O homem valente e justo Qualquer um pode cair Do berço já traz o tino Na cruel fatalidade! E tendo fibra e coragem Traça seu próprio destino Somos fruto do que escolhemos Como se deu nas andanças ou há um destino traçado para Do herói Pedro Justino. todos? O homem é livre ou é um joguete aos caprichos da divin- Pedro Justino é o personagem do dade? Será que Deus pode traçar cordel de Rouxinol do Rinaré que um destino contrario aquele que eu narra as aventuras de um sertanejo me propus? Com que finalidade? que vai além do sertão se embr- No verso do cordel supracitado o enhando nas regiões do Norte do autor propõe que apesar do homem Brasil. Mas para além do óbvio planejar sua vida, preparar todo o podemos encontrar nestas aventuras terreno para realizar seus sonhos, um misto de construção de um des- é a divindade que de forma mis- tino, o qual aponta para uma con- teriosa conduz seu destino, ou seja, cepção de liberdade, enquanto uma o desfecho de sua vida não lhe autonomia do sujeito face às circun- pertence, mas é resultado de uma stâncias, e de destino traçado, onde escolha de Deus. Esta visão fatalista o homem é o resultado de uma serie do destino encontra eco na filosofia de eventos previamente estabeleci- estóica dos gregos e na teologia dos que o conduzem a uma missão cristã, onde o homem está submeti- predestinada. Há um conflito entre do aos desígnios de Deus, e mesmo a liberdade do homem ser o que os maus estão sob sua vontade. Di- ele escolheu e o fatalismo que leva ziam os estóicos “suporta o que não o individuo a uma passividade di- depende de ti”, e buscavam agir ante de uma vida traçada por Deus. segundo a razão e a natureza. Este mesmo conceito é reforçado Totalmente diversa é a pelo próprio autor nos versos inici- visão existencialista, ais do Cordel Violação, a trágica que vê a escolha historia de Renato e Maria (uma como a única adaptação da novela homônima de forma Revista Brasileira de Artigo | 24 Literatura de Cordel
  • 24. autêntica do homem ser, para os algo mais por traz de tantas coin- existencialistas ateus crer em um cidências, o autor contrapõe acaso destino traçado por Deus seria e intervenção, se posicionando ao negar sua autonomia e liberdade de lado desta ultima como explicação escolha, ou como diz Sartre, estamos mais adequada e viável para a re- condenados a ser livres, pois mesmo sposta do grande mistério da vida. quando não escolhemos estamos Para ele, o universo é resultado da fazendo uma escolha, a de não vontade de uma Inteligência Supe- escolher (!). rior e não mero resultado do acaso Outro exemplo que podemos e na seqüência do cordel apresenta utilizar para demonstrar que o uma serie de argumentos para justi- cordel não é mera reprodução do ficar sua tese e arremata com essa que se diz, mesmo quando se trata brilhante estrofe: de ciência, é aquele tirado do cordel de Fernando Paixão A historia do “Matéria sem consciência começo do mundo – a teoria do Big Do universo é ruína” Beng, nele o autor assim se expressa: Pois o homem, ser pensante No universo predomina Então me ponho a pensar Legitima a criação Na suprema criação Seu destino determina. O que esta por traz da vida E das leis da evolução Seria o universo um projeto que Alguns pensam que é “acaso” tem como meta a produção de uma Eu penso em intervenção consciência capaz de conhecê-lo? Estaria a matéria trazendo em si a Porque disse um cientista busca de auto-conhecimento? Que a sublime existência A visão proposta pelo autor no É a obra de um acaso trecho acima citado é denominada Mas na minha consciência ponto de vista antrópico, ou seja, o Tudo é obra e criação homem devido a sua condição supe- Da Suprema rior de racionalidade interpreta o sen- Inteligência tido do universo como sendo um pro- cesso que conduziria necessariamente ao seu surgimento, como se a matéria Mesmo aceitando a contivesse em si os germes necessários leis da teoria da ao surgimento da consciência. evolução o au- Como podemos perceber até tor suspeita agora, estas e outras questões po- que haja dem ser encontradas, investigadas Revista Brasileira de Artigo | 25 Literatura de Cordel
  • 25. e discutidas a partir da leitura de folhetos de cordel, problematização das falsas ver- o que requer do leitor (professor) uma curiosidade e dades e certezas impostas pelo preparação para tratar destes temas de forma lúdica neoliberalismo, pela tradição e e instigante. pelos meios de comunicação de Do que foi dito até aqui está claro que os folhetos massa. Só assim estaremos trans- de cordel trazem uma imensa gama de questões a formando nossos concidadãos serem elaboradas e desenvolvidas num espaço co- de meros zumbis teleguiados letivo de reflexão, ou como diria o filósofo Matthew e dependentes de celulares e Lipman, numa comunidade de investigação, a qual outras parafernálias modernas permitiria aos educandos um espaço democrático de em pessoas capazes de pensar debate e investigação das implicações contidas nas por si, de investigar o mundo que narrativas estudadas. O cordel é uma ferramenta os cerca, de criticar as falsas incrível para levar o educando ao conhecimento da verdades impostas, de denunciar nossa cultura nordestina, de nossas raízes, mas pode os desmandos da política, de ser mais que isso, ele pode levar-nos a uma reflexão se manifestar e transformar a critica de nossas idéias e ideais, de nossos costumes, realidade! das concepções e ideologias presentes em nossa formação e do pensamento do homem simples que expressa em seus poemas as realidades mais compl- exas da condição humana. Não devemos esquecer também o papel estético que os folhetos ocupam em nossa realidade, o qual acaba sendo obscurecido por aqueles que o querem manter numa cúpula, como um objeto de museu, mas que na verdade não percebem o quanto o cordel é versátil e capaz de se reinventar em sua linguagem e se atualizar em seus conteúdos. Mas para que o mesmo cumpra este papel é necessário da parte do professor um conhecimento das raízes de nossa cultura, ou seja, de sua própria identidade, para não se tornar um mero reprodutor das idéias advindas de outros lugares com a preten- são de serem universais, o professor precisa de tempo e condições mínimas para não se tornar cativo de uma estrutura que o nega a possibilidade de cumprir seu papel de forma mínima, isto é, a de ser um capacita- dor, um orientador, um motivador do aprendizado que leve os indivíduos a pensarem por si mesmos, a serem cidadãos autônomos. Não cabe aqui nenhuma critica ao professor enquanto tal, mas aos gestores públi- cos desse intrincado processo, os quais sabemos que propositalmente trabalham com o intuito de manter as pessoas sobre controle, dóceis e passivos, cristalizando um tipo de sociedade excludente e individualista. Por isso, consideramos que a Filosofia pode e deve ter no cordel, especialmente aqui no Ceará e em todo o Nordeste, mais um aliado em seu trabalho incan- sável de levar os homens ao conhecimento de si e a Revista Brasileira de Artigo | 26 Literatura de Cordel
  • 26. Soletrando No ma-ti-nal vi-ta-mi-na a me-ren-da no to-ma-te re-co-men-da a-ba-ca-te ser só fru-gal ver-de po-mar pas-ta den-tal po-de cor-tar de es-co-var tos-se gri-pe Galope de-ve la-var com co-li-pe no ga-lo-pe da bei-ra-mar no ga-lo-pe Beira Mar da bei-ra-mar Um re-gi-me de ver-da-de (Fragmentos Não dei-xe li-ber-da-de o in-tes-ti-no é seu ti-me soletrados) fi-car fi-no que só fei-xe é su-bli-me ser po-pu-lar Compositores: Xangai e co-ma pei-xe par-la-men-tar Ivanildo Dias no pa-la-dar par-ti-ci-pe um ca-la-mar no ga-lo-pe CD: Xangai - Qué qui tu es-ca-lo-pe da bei-ra-mar tem Canário no ga-lo-pe da bei-ra-mar Um ex-em-plo de gi-gan-te ru-mi-nan-te um ca-me-lo pa-ta pe-lo ru-di-men-tar pa-ra ma-tar se-re-le-pe no ga-lo-pe da bei-ra-mar Es-car-la-te tan-ge-ri-na Revista Brasileira de Soletrando | 27 Literatura de Cordel
  • 27. O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani Raimundo Caetano e Waldir Teles Cabeceira é Iacanga Terra antiga – Ibiporã Estaca – Ibirapoã Mel vermelho – Irapiranga Terra roxa – Ibipitanga Poço fundo – Itapuí Rio dos Índios – Avaí Mastro ou poste é Ibirama O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani A Várzea é Ibipetuba Nariz de Pedra - Itatina Descavado – Ibiapina Pedregulho – Itaituba Mel amarelo – Irajuba Clareira é Baiapendi Coisa verde é Batovi Cascatas é Iturama O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani A fonte é Itororó Lagoa branca – Ipatinga Terra branca é Ipitinga Bica d’água é Iteró Casca amarga é Iperó Rio dos ventos – Butuí De lei, é Camaçari Rio dos musgos Iguatama O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani Revista Brasileira de Cordel | 28 Literatura de Cordel
  • 28. Rio doente Pedra redonda - Itanguá Laje branca é Itapetim, Ingaci Rio torto é Iampara Montanha é Ibitiura Luz da lua é Iaciara Água que brota é Imbura Fonte verde Ninho de abelhas - Irajá Flor é chamada Imbotim Impui Navio é Ingaratá Fonte funda é Inhapim Canteiro Rio do Leite - Icamburi Ponta de pedra Itapi Delegado é Canapi Rio dos musgos Iguaí Ibotirama Bem estar é Catuama Ossada é Canguaretama O Brasil O Brasil de Pindorama O Brasil de Pindorama de Pindorama Falou Tupi-Guarani Falou Tupi-Guarani Falou Pedra angular – Itatema Pedras soltas – Itaquera Tupi Guarani Vão estreito – Itacambiro Depois da fonte – Inharé Rio de pedra - Itaciro Rio das Frutas - Imbaré Rio imprestável - Ipanema Terra antiga é Ibiquera Pau d’alho - Imbirarema Cepo é Ibirapuera Rio doente é Ingaci Angelim – Aracuí Fonte verde é Impuí Flor de arara – Arapoti Canteiro é Ibotirama Umbuzais - Umburetama O Brasil de Pindorama O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani Falou Tupi-Guarani Charco se chama Ipuçaba Casa de pedra - Itaioca Aldeia negra – Itabuna Pedra amarela – Itaiuba Serra negra - Ibituruna Cerradão é Catanduba Cordilheira – Ibiapaba Construção quer dizer Moca Porto é Igarequiçaba Fenda ou rasgo – Vossoroca Pedra verde é Itaobí A lua é sempre Jaci Areia é Ibicuí O sol é Coaraci Bica d’água é Torotama E apiário é Iretama O Brasil de Pindorama O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani Falou Tupi-Guarani Água boa é Icatu Pomar se chama - Ipotiba Abundância – Imbiritiba Árvore grande - Imbiraçu Casa de vespa é Inchu Alameda - Imbiraci, Pedra agulha é Itabi Pedra erguida - Itapoama O Brasil de Pindorama Falou Tupi-Guarani Revista Brasileira de Cordel | 29 Literatura de Cordel
  • 29. Regras da poéetica cordeliana Regras (O que é e o que não é Literatura de Cordel) N ão é qualquer folheto de 11cm X 16 cm que pode ser considerado Literatu- ra de Cordel. Além do formato com as medidas indicadas, para que se possa consid- erar Literatura de Cordel, é preciso observar, bolo, tábuas de marés, fases da lua, horóscopo, etc. Aqui no Nordeste brasileiro, é que ela se tornou forma de Literatura mesmo, ao definir- se, não só a forma dos folhetos, como também em primeiro lugar, o aspecto literário. a temática, as regras poéticas, o fato de serem A Literatura de Cordel Portuguesa, não é todos em poesia, a criatividade, fantasiosidade bem literatura, pois o que definiu mesmo o das histórias descritas. Enfim, todas as car- formato do folheto foi a tecnologia gráfica acterísticas de um segmento de arte literária. precária da época, mas os folhetos tanto po- Diferenças entre a Literatura de Cordel Por- diam trazer poemas, como escritos em prosa, tuguesa e a Literatura de Folhetos dita Litera- da forma que poderiam tratar de receitas de tura de Cordel Nordestina Revista Brasileira de Artigo | 30 Literatura de Cordel
  • 30. Portuguesa Nordestina a. Dirigida a todos os públicos a. Dirigida ao meio popular b. Gênero literário, teatral, informativo e outros. b. Gênero estritamente literário e informativo c. Verso, Prosa e Receituários c. Definição pela poesia (exceto os almanaques) d. Postura ideológica de conciliação de classes d. postura ideológica denunciadora e crítica dos e. Vendida em ruas pendurados em barbantes opressores (cordéis) e. Vendida de mão em mão. Nas feiras é vendida em rodas, e expostos em mala aberta ou em pequenas bancas no meio da roda. A imensa maioria das apos- própria sextilha, que comum tilhas e livros que “ensinam” da aos folhetos e os repentes, a Litera- fazer Literatura de Cordel con- fundem a cantoria improvisada toada de sete linhas, as déci- mas, mas também diversos tipos com a Literatura de Cordel. de quadrões, de mourões, a tura de Somente Ariano Suassuna fez a divisão correta. Até mesmo os Gemedeira, o Gemido de Dois, Treze por Doze ou numerado, o Cordel e grandes estudiosos do Folclore confundiram estes dois universos da poesia popular nordestina. Galope à Beira-mar, os diver- sos tipos de martelos e os esti- los de fantasia, Brasil caboclo, Canto- A Literatura de Cordel é composta por toda a parte o Brasil de Pai Tomás, o Boi da Cajarana, Mulher Teimosa ou escrita e impressa da poesia Rojão Pernambucano. Enfim, um ria im- popular divulgada em formato de folhetos (08 e 16 páginas) mundo de mais de cem estilos, cada um deles com sua própria provi romances (de 24 páginas em diante, saltando de oito em oito por ser o que comporta uma estrutura de rimas, de métrica e uma lógica na oração a ser desenvolvida, além de uma sada folha de papel ofício dobrada em quatro partes e impressa melodia e um ritmo próprios. A intersecção entre cantoria frente e verso), as folhas soltas, e Literatura de Cordel se dá, com poemas, canções e em- na cantoria quando os repen- boladas. Esse é o gigantesco tistas cantam canções e poemas mundo da Literatura de Cordel. ou mesmo folhetos e romances Já a cantoria improvisada, o decorados e da Literatura de repente de viola é outro uni- Cordel quando em pelejas e verso gigantesco, com mais de discussões são usados diversos cem estilos poéticos, como a estilos de cantoria Revista Brasileira de Artigo | 31 Literatura de Cordel
  • 31. As regras do Márcia Abreu em Histórias de Cordéis e Folhetos, Mer- cado das Letras, 1999 traz mestre Rodolfo as normas que eram definidas por Rodolfo Coelho Cavalcanti, mestre baiano da Literatura Coelho Caval- de Cordel sobre a forma de se produzir esta Literatura. Rod- canti para a po- olfo dá as cartas sobre técni- cas de versificação usadas na Literatura e Cordel e sobre a esia popular im- própria maneira de se diagra- mar e de se compor, do ponto de vista gráfica, um folheto. pressa. Quanto às regras, podemos lembrar basicamente: 1. As histórias/estórias têm sendo, os folhetos e romances são que ser descritas em versos; todos montados com números de páginas múltiplos de 8. Sendo, 2. As estrofes devem ser de portanto, de 8, 16, 24, 32, 40, 48 seis versos (sextilhas1), de sete ou 64 páginas. versos (Sete linhas2), de dez ver- 6. Os de oito e até 16 pági- sos (décimas ou glosas3); nas são chamados de folhetos; 3. Os versos, devem ser de 7. Os de 24 páginas em sete sílabas (heptassílabo ou re- diante são chamados de romances, dondilha maior) ou de dez sílabas( independente do assunto. decassílabos ou martelos); 8. As capas devem ser feitas 4. Cada página deve ter de de papel de cor e as páginas in- quatro a cinco estrofes (quatro, ternas (miolo), normalmente é feito quando se trata de estrofes de de papel jornal; sete linhas e até cinco, quando se trata de sextilhas. No caso espe- 9. A ilustração da capa pode cífico de ser em décimas, ficam ser feita de xilogravura, fotogra- apenas duas ou, no máximo três fia ou desenho. Sendo que o mais estrofes numa página; recomendável é o uso da xilogra- vura. 5. Os folhetos são montados no tamanho 11cm X 16 cm, o que 10. Os títulos, de preferên- representa ¼ de uma folha de cia, devem ser metrificados. Ex. O tamanho ofício, dobrada ao meio Soldado Jogador (sete sílabas), e novamente dobrada, de modo As proezas de João Grilo (sete que, ao dobrar duas vezes uma sílabas) História de Mariquinha e folha tamanho ofício, ficam oito José de Souza Leão (dois versos páginas de 11cm X 16cm. Assim de sete sílabas). Revista Brasileira de Artigo | | 32 Artigo 10 Literatura de Cordel
  • 32. Sextilhas Sete linhas Décimas ou glosas São estrofes de seis São estrofes de sete As décimas são versos de sete sílabas versos de sete sílabas, estrofes de dez versos As rimas devem ser com rimas postas na de sete sílabas, com a postas na seqüência AB- seqüência ABCBDDB. posição das rimas obe- CBDB. Trata-se de um estilo decendo, na maioria dos Em alguns casos a poético pouco usado no casos, a seqüência AB- primeira rima (A) a pode rimar com a última da início da Literatura de BAACCDDC. Trata-se de estrofe anterior, como Cordel Nordestina, mas uma forma poética mais normalmente se faz na que depois passou a ser usada para glosar motes cantoria improvisada. Na adotada em poemas em pelejas e discussões, Literatura de Cordel não como A Chegada de mas também pode ser é obrigatória a “deixa” Lampião no Inferno. usada para a com- porque e é usada na O estilo Sete Linhas é posição completa de um cantoria improvisada muito usado na cantoria folheto, como é o caso para dificultar a prática improvisada por permitir da Batalha de Oliveiros que alguns poetas têm de melodias muito boni- e Ferrabrás, de Leandro levar estrofes decoradas. tas. É tão musical que é Gomes de Barros. Há também as sextilhas em decassílabos, mas ra- chamado na cantoria de Há também o chama- ramente ela é usada nos “Toada de Sete Linhas”. do “estilo de Assu” em folhetos de cordel, sendo Os cordelistas mod- que as rimas obedecem mais apropriada para o ernos usam bastante o a seqüência ABBAC- improviso. estilo Sete Linhas. CDEED. As décimas em decassílabos são usadas em poemas e pelejas. Obs. Os demais estilos que normalmente são apresentados em apostilhas de Literatura de Cordel como sendo próprios da poesia escrita, só são usados na composição de folhetos e romances, como Brasil Caboclo, Martelo a Desafio, Ge- medeira, Mourão Voltado, Quadrão Perguntado, Galope à Beira-mar ne outros, são estilos de cantoria improvisada, só sendo usados na Literatura de Cordel, quando se trata de pelejas e discussões. Estes outros estilos serão descritos nos próximos números desta revista, com acompanhamento de um CD para que se possa ter uma dimensão aproximada do universo da cantoria improvisada e da Literatura de Cordel. Revista Brasileira de Artigo | 33 Literatura de Cordel
  • 33. A Criação de Brasília Chico Diassis Brasília, cidade linda Com o Padre João Ribeiro, É a musa do Cerrado Hipólito José da Costa Teu céu azul, estrelado, A mudança era proposta Tem belezas mais de mil E ganhava repercussão Tua miscigenação Era século dezenove No Distrito Federal No ano de vinte e dois Faz do Planalto central Quando Dom Pedro propôs O coração do Brasil. Sua denominação. Joaquim José da Silva Francisco Adolfo, Visconde Xavier, o Tiradentes, De Porto Seguro, faz Ele e os inconfidentes Uma viagem a Goiás Queriam teu esplendor Berço das grandes bacias Ao pedirem que o País E entre Trás Lagoas, nota Transferisse a capital O local apropriado Do imenso litoral Pra que seja sediado Para o vasto interior. O poder de nossos dias. Revista Brasileira de Cordel | 34 Literatura de Cordel
  • 34. O senador Cavalcanti Apresentou ao Senado Um projeto baseado Na viagem do Visconde, Cento e oito anos antes Da fundação da cidade, A sua localidade O deputado Nogueira Já era sabida onde. Paranaguá autoriza A demarcação precisa No ano de oitenta e três No ano 92. Dom Bosco, salesiano, E Floriano Peixoto Sonhou com um altiplano A Comissão Cruz envia Onde a terra prometida Pra demarcação sadia Estava à beira de um lago Ser concluída depois Conforme a antevisão Nova civilização, Fez-se o Quadrilátero Cruz Novo tempo e nova vida. Em muitos mapas, presente O governo de Prudente Foi proclamada a República No ano 96 E sua constituição Mil novecentos e cinco Previa a demarcação Na campanha mudancista Do Distrito Federal. Senador e jornalista Virgílio Damásio e Muller Tocam o assunto outra vez Dois distintos senadores Do terceiro artigo, autores, Dia sete de setembro Após trinta e quatro anos Lembraram da capital. Data por nós consagrada, Juscelino entra em ação Em 22 foi lançada Inicia a construção A pedra fundamental. Consolidando a proposta O Epitácio Pessoa Contando com paisagista Comemorando a essência Arquiteto e engenheiro Cem anos de independência Faz com Israel Pinheiro, Da nossa pátria natal. Niemeyer e Lúcio Costa Em 21 de abril De 60 foi fundada A cidade projetada Pra sediar o governo. As maiores decisões De Brasília estão partindo E hoje estamos assistindo Nossa capital crescer. Revista Brasileira de Cordel | 35 Literatura de Cordel
  • 35. Cinco seculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violencia SEVERINO DIONÍSIO Eu não vejo porque comemorar Cinco séculos de vida do Brasil, Deveria passar o mês de abril Sem ninguém desta data se lembrar Se o índio não tem onde morar, Prostituta não tem a assistência O político não usa coerência Pouca coisa mudou da ditadura Cinco séculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violência! EDVALDO ZUZU Não se pode esquecer o pelourinho, O porão do navio e a senzala O quilombo que tanto o povo fala Onde o negro sofreu sem ter padrinho, Conselheiro e Zumbi neste caminho Foram mártires da mesma penitência Suportaram castigos sem clemência Não tiveram da lei a cobertura Cinco séculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violência! SEVERINO DIONÍSIO Descobriram o Brasil, mas foi em vão. Não deviam jamais ter descoberto Que se o branco não tem chegado perto Só os índios mandavam nesse chão, Sem políticos corruptos na nação, Sem a droga gerando delinqüência, Não havia república nem regência Nem ninguém criticando a pele escura Cinco séculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violência! Revista Brasileira de Cordel | 36 Revista Brasileira de Artigo | 10 Literatura de Cordel Literatura de Cordel
  • 36. EDVALDO ZUZU SEVERINO DIONÍSIO Este monstro cruel capitalismo São quinhentos janeiros de poder Não aceita o regime igualitário Concentrados nas mãos dos oligarcas, Sufocou o poder do operário Que sufocam, castigam e deixam mar- Colocou nossa pátria no abismo cas Afogou de uma vez o comunismo Onde o pobre não para de sofrer, Amparado na voz da prepotência Os mendigos não têm o que comer, Onde o fraco não ganha concorrência Os Sem Terra encontram resistência, Pra um regime cruel de linha dura Os Sem Teto caçando residência Cinco séculos de luta e aventura, E os doentes na rua da amargura Desemprego, racismo e violência! Cinco séculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violência! SEVERINO DIONÍSIO Este nosso Brasil é bom demais EDVALDO ZUZU Pra quem tem uma vida bem feliz, Nosso povo inda deve estar lembrado Quem desvia o dinheiro do país Do que houve em Olinda sempre praia, Vive entre os maiores marajás, Buriti Cristalino e Araguaia Quem explora as riquezas naturais, E o massacre no chão de Eldorado Quem jamais examina a consciência Quebra-quilos, Praieira, Contestado, Quem não tem um fiapo de exigência Quando vítimas não teve Inconfidência? Grita viva ao Brasil em toda altura Bater palmas pra sua independência Cinco séculos de luta e aventura, É juntar fanatismo com loucura Desemprego, racismo e violência! Cinco séculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violência EDVALDO ZUZU Vera Cruz, Santa Cruz, Monte Pascoal, Pindorama e Brasil até agora Quando a classe burguesa comemora A pobreza se sente muito mal. Uma grave injustiça social Vem trazendo terrível conseqüência As esmolas das frentes de emergência Humilhando os que estão na agricultura Cinco séculos de luta e aventura, Desemprego, racismo e violência Revista Brasileira de Cordel | 37 Literatura de Cordel
  • 37. Gonçalo Ferreira, nascido três dezenas de biografias de em Ipu, no Ceará, reside no Rio cientistas produzidas em Cordel de Janeiro, onde é presidente por este primoroso poeta da ABLC – Academia Brasileira popular que, além de cordel- de Literatura de Cordel. ista é também contista e en- Autor de mais de 300 saísta, sendo um dos escritores folhetos abrangendo os mais de grande referência na área diversos assuntos, Gonçalo Fer- do cangaço. reira dedicou-se a contar em Pesquisador incansável, versos cordelianos as vidas de traz para seus poemas dados alguns mais afamados cientistas fundamentais para a com- do mundo. preensão da vida e da obra Pode se contra mais de destes grandes benfeitores da A história da Ciência Gonçalo nos versos de Ferreira humanidade. Brasil, também enveredou por Rigorosa obediência Vários outros poetas tam- pesquisas científicas especial- As conselhos soberanos bém se dedicaram a cantar mente nas áreas de Antropolo- Para que sejamos dignos as vidas dos cientistas e te- gia e Etnografia. Desses celestiais planos mas científicos, mas a obra de Sobre Aristóteles, Gonçalo Gonçalo Ferreira é a melhor Ferreira descreve: Aristóteles reuniu referência para qualquer pro- Mais do que dignidade; fessor que se disponha a usar a Quando Tales de Mileto, Pois ele, Platão e Sócrates Literatura de Cordel como fer- Da Grécia, o primeiro guia, Formaram a grande trin- ramenta didático-pedagógica As cortinas do saber dade no ensino de Ciências. Carinhosamente abria Dos mais notáveis filósofos Desde Aristóteles, so- Mostrava o florescimento Da Grécia da antiguidade. bre quem escreveu o folheto Da grega sabedoria. “Aristóteles Vida e Obra” até Gonçalo continua descreven- Câmara Cascudo, mesmo tendo Deus tem planos para todos do a vida de Aristóteles, consa- a marca de maior folclorista do Porém cabe a nós, humanos, grado como filósofo, ma tam- Revista Brasileira de Artigo | 38 Literatura de Cordel