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ALFABETIZAÇÃO MUSICAL
         O LEGADO DE PAULO FREIRE E A APRENDIZAGEM DA MÚSICA




                                                                    Estêvão Couto Teixeira
                            Mestrando em Educação - Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora
                                                                        estevao@acessa.com




RESUMO
Este trabalho aborda na perspectiva dos princípios desenvolvidos por Paulo Freire, o processo de
aprendizagem inicial e continuada da música. O autor dela, como músico profissional e professor
de música, enfoca as experiências que viveu nas duas condições, mormente as que experimentou
como docente, observando a tensão e as resistências apresentadas pelos aprendizes nos métodos
tradicionais. Formulou, então, uma metodologia própria, que se aproxima muito dos princípios
desenvolvidos por Paulo Freire. Na aplicação desta metodologia, utiliza um artefato, que
inventou e que denominou “Teclado Didático para o Ensino da Música” (TEDEM), tendo,
inclusive, o patenteado. Resolveu, então, pesquisar, cientificamente, os resultados da aplicação
desta nova metodologia, sendo que as reflexões e os resultados desta investigação constituem o
conteúdo deste trabalho.

Palavras-chave: música, educação, ensino, aprendizagem




                                                                                              1
INTRODUÇÃO

UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O ENSINO MUSICAL

        Esta dissertação trata da questão da educação musical, a partir de uma nova perspectiva
para o ensino da música.
        Nos últimos 15 anos, quando, de fato, o autor deste trabalho se dedicou a uma nova
proposta para o ensino musical, contatou-se um grave distanciamento da música praticada no
meio popular daquela que é ensinada no ambiente acadêmico.
        A música que é expressão viva da cultura de um país deveria ser reproduzida nos
componentes curriculares das escolas, na medida em que elas são o meio pelo o qual se
possibilita a transmissão dos legados culturais de forma mais sistemática.
        Constatamos, hoje, uma prática de ensino que não condiz com a necessidade, urgente, de
inclusão do conhecimento musical popular nos currículos escolares. Não está sendo repassada
para as novas gerações de alunos, a característica mais espontânea da cultura musical popular
brasileira, nosso repertório, nossa maneira tão personalizada e criativa de representação do
cotidiano, por meio dos sons. Muitas histórias musicais vão se perdendo com o passar dos anos,
muitas “vivências esquecidas” não mais se tornarão conhecidas das novas gerações, pois não
foram incorporados à grade curricular os conhecimentos que revelam essa experiência de vida,
passada por meio da música. Muitas vezes, são informações que não se encontram escritas ou
registradas, pois foram transferidas por intermédio da oralidade, posteriormente, difíceis de serem
resgatadas. As escolas deveriam investir na assimilação dessa linguagem, na decodificação dessa
forma de apreensão e prática musicais, que demonstram uma sabedoria espontânea, lúcida e
criativa.
        A cultura musical popular, os músicos e seus instrumentos foram discriminados durante
muitos anos, séculos. O repertório que eles tocavam, e ainda tocam, era considerado “de baixa
qualidade”, a música dos negros, mulatos, índios, caboclos e nordestinos, não tinha valor
artístico.
        O músico popular era “vagabundo” e o violão que é a expressão máxima e legítima da
cultura musical brasileira, não era aceito dentro das escolas, não era considerado um instrumento
“de verdade” e só, há bem pouco tempo, foi aceito dentro das orquestras, no meio erudito.
        Sérgio Cabral, no prefácio do livro O mistério do samba, do sociólogo Hermano Vianna,
fala sobre o preconceito em relação ao samba, ao violão e ao negro:

                 ...o samba, um gênero tão execrado pelas classes dominantes das primeiras
                 décadas do século que a polícia prendia quem o cantasse, dançasse ou tocasse.
                 E ai daquele que andasse pelas ruas carregando um violão. Sendo negro, aí
                 mesmo é que a sua situação piorava (VIANNA, 1995, p. 10 e11).

        Somente depois de quatro séculos, iniciou-se no Brasil o reconhecimento de nossa
produção artística, como expressão nacional. A ascensão social do samba, hoje, símbolo da
cultura musical brasileira, se deu somente a partir das primeiras décadas do século XX.
        Se, em outros países, a consciência nacionalista e a preocupação com a definição e a
valorização dessa autenticidade nacional aconteceram a partir do século XVIII, no Brasil, este
fato se deu tardiamente, mais especificamente a partir da década de 1920.
        Outros autores, sociólogos, músicos, pintores e pensadores começaram a traduzir essa
linguagem popular. Buscando uma referência brasileira para produção artística e intelectual,
                                                                                                 2
rompem com o discurso acadêmico, que ignorava os valores populares nacionais e propõem uma
abordagem transformadora da arte cultural brasileira. Tem destaque a Semana de Arte Moderna
de 1922, o pensamento de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, a pintura de Anita Malfatti e o
despontar da grandiosa produção musical de Villa-Lobos, que conviveu intimamente com os
“chorões” e músicos daquela época, bebendo da genuína fonte musical popular brasileira.
        Neste ano de 2006, em que se comemora 50 anos da publicação do livro Grande Sertão:
Veredas, não se pode deixar de citar esta obra-prima do mineiro João Guimarães Rosa como uma
das mais importantes referências de aproximação entre a cultura erudita e a popular. Na época do
lançamento do livro o autor foi duramente criticado por muitos intelectuais e jornalistas, mas
Guimarães Rosa, um dos maiores escritores da língua portuguesa, tem lugar de destaque, sendo
um dos pensadores brasileiros que escreveu a partir da perspectiva do homem do campo, trazendo
para a literatura um novo idioma, fruto da combinação entre o rigor etimológico e a tradição oral.
Grande Sertão traduz para a língua escrita uma outra realidade brasileira, forjando um estilo
erudito e refinado a partir de um material popular, do homem sertanejo.
        No entanto, esta nova valorização do “ser brasileiro” não foi incorporada pelas escolas de
música, que não souberam repassar aos futuros professores, esse sentido nacionalista-musical de
ser. Muitos dizem saber tocar música brasileira, mas o fazem de forma artificial, um “samba
quadrado” que preserva uma linguagem européia, sem o devido balanço e gingado que
caracteriza a nossa música, pois o sentido de formação desse vocabulário, não se escreve com
notas estrangeiras, da forma como se toca Bach, Vivaldi, Beethoven, Chopin, mas por meio da
vivência e prática musicais das ruas, dos fundos de terreiro, das noitadas, das improvisações, da
prática popular que esses professores não vivificaram. Muitas vezes, vivenciaram, mas não
vivificaram. Não lhes foi possibilitada a decodificação desse vocabulário. Essa linguagem precisa
ser repassada para dentro da música e dos instrumentos que eles tocam, mas estes professores não
souberam identificar por qual caminho poderiam conseguir isso.
        As universidades e escolas de música não encontraram ainda a maneira de transferir essa
linguagem para os alunos. Nunca se pensou numa didática de ensino musical que traduzisse esses
códigos, incorporando-os à grade curricular. E os estudantes que, cada vez mais, desejam tocar
música brasileira, não encontram este conteúdo dentro do ambiente escolar. Nos conservatórios e
escolas de música, a evasão de estudantes insatisfeitos tem sido grande em função desta
distorção.
                Muitas vezes, nascidos e criados em regiões de forte expressão artística, os
professores, que ingressam no curso oficial de música, perdem um importante referencial de
ligação do ensino acadêmico aos laços musicais com os quais foram habituados ou tiveram
contato na infância. Com a perda dessa “referência”, não têm condições de desenvolver e
produzir seus trabalhos como reflexo dessas vivências. Não há vínculo do que é aprendido na
escola oficial à tradição de ensino e práticas populares. Acaba-se por não reconhecer o valor da
cultura brasileira como expressão legítima da identidade nacional do povo, distanciando o ensino
acadêmico da formação popular.
        É notório ressaltar que todas essas observações são igualmente identificadas em outras
áreas da educação escolar, em que a cultura nacional popular sempre esteve associada a um
padrão inferior de qualidade intelectual e artística, valorizando-se sempre mais o conhecimento
advindo do exterior, primeiramente da Europa e posteriormente dos Estados Unidos da América.
        Com isso, o músico popular, que nunca teve acesso à universidade, não tem oportunidade
de levar seu conhecimento, sua experiência, para dentro do meio acadêmico. Ele, que sempre
desenvolveu sua prática musical no dia a dia, aprendendo a tocar de ouvido, vendo e ouvindo
outras pessoas tocar, criando e improvisando, poderia dar uma valiosa contribuição para o
                                                                                                3
enriquecimento do programa escolar. A escola deveria encontrar meios de absorver essa
experiência, tornando o ensino musical mais vivo, reflexo de uma manifestação que expressa as
cores de uma cultura dinâmica, fruto de uma diversidade musical que coloca o nosso país na
categoria dos povos mais criativos do mundo.
        Não se leva em conta que este tipo de conhecimento tem uma importância fundamental
para a relação com a qual se constrói as bases da identidade cultural-histórico-musical de uma
sociedade. Por sua vez, sempre se considerou o músico erudito que sabe ler partitura e tem
formação clássica, com uma bagagem artística muito superior, mais qualificada, em relação ao
músico popular. O que está longe de ser verdade.
        Os músicos populares, com base na vivência diária, por intermédio dos variados estilos
musicais brasileiros, desenvolvem uma maneira intuitiva, rica e criativa de expressão musical.
Com a metodologia do TEDEM, decodificando essa linguagem, procurou-se resgatar a
característica natural de percepção e prática musicais, levando esse conhecimento para dentro das
salas de aula, absorvendo e repassando aos alunos essa forma de expressão musical.
        Ver-se-á, com este método, um modo de aprendizado que está mais próximo dos nossos
sentidos primários, por onde se percebe a estrutura dos sons, unindo características visuais,
auditivas, sensoriais e táteis, que serão demonstradas neste trabalho.
        A educação musical deveria e poderia estar mais próxima do ensino de outras disciplinas,
tornando-se uma importante atividade coadjuvante para o desenvolvimento de outras matérias.
Demonstrar-se-á que o exercício musical por meio do método TEDEM estimula a percepção dos
alunos, tornando-os motivados para a aprendizagem musical e para o relacionamento com os
demais colegas, resgatando e desenvolvendo o lado lúdico, sensitivo e emocional, naturalmente
presente em cada ser humano.
        Observa-se que os meios de comunicação não têm exercido seu papel na construção e
preservação da identidade musical brasileira, atendendo somente aos modismos e a tudo que
representa uma forma direta de consumo. A estrutura familiar se mostra frágil, com pouca
expressão para a formação dessa identidade cultural. Tem, portanto, a escola, uma importância
fundamental para a reconstrução dos valores culturais brasileiros, sendo a música um elo
extremamente necessário para a fixação da identidade artística do país. O Método TEDEM
poderá dar uma importante contribuição para o desenvolvimento da capacidade criativa das
crianças, dos jovens e, também, dos adultos, construindo, por meio dos sons, as raízes
sentimentais que transformam a música em essência própria da vida.

METODOLOGIA

        Examinemos, agora, o novo método de alfabetização musical – o Teclado Didático para o
Ensino da Musica (TEDEM) – para, após o exame de suas aplicações, comprovar-se sua maior
eficiência e eficácia em relação às formas tradicionais com que se ensina esta arte nas escolas de
música e nos conservatórios.




             Fig. 1 - Teclado Didático para o Ensino da Música                                  4
O Teclado Didático para o Ensino da Música (TEDEM) é um instrumento criado pelo
flautista e professor que é, também, o autor deste trabalho, com a finalidade de facilitar o
aprendizado musical por meio da visualização de escalas, acordes e intervalos, em que as teclas
que se levantam do plano horizontal do teclado possibilitam uma melhor visualização e
compreensão de todas as estruturas musicais. As escalas são identificadas por meio de uma
verdadeira “geografia musical”, proporcionada pelo destaque daquilo que se quer demonstrar que
é o espaço vazio deixado pelas teclas levantadas. Este teclado não possui som próprio, mas é uma
importante ferramenta para o desenvolvimento de uma nova concepção para a educação musical.
        O método se completa quando o aluno, que identifica o intervalo, acorde ou escala,
reproduz aquilo que vê, e sente, em seu próprio instrumento. A proposta é “tirar a música do
papel e colocá-la no ar”, desvinculando o ensino musical da obrigatoriedade inicial da leitura e da
escrita na pauta, fazendo o aluno sentir, primeiramente, aquilo que irá tocar, percebendo cada
acorde, intervalo ou escala, num aprendizado musical que precede o “grafocentrismo” dos
métodos tradicionais.
        O TEDEM se assemelha a um jogo, a um “ábaco musical”, em que o aluno toca em seu
instrumento – voz, flauta, piano, violino, sax, violão etc. – aquilo que vê, tendo sempre o teclado
como painel ilustrativo de todas as ocorrências musicais.
        A proposta do método é ter um TEDEM grande à frente da sala e outros “mini-tedems”
que, distribuídos aos alunos, servirão como ferramenta básica para os exercícios propostos, na
compreensão de tudo aquilo que será reproduzido, posteriormente, em seus instrumentos.
        O TEDEM torna o ensino da música mais prazeroso e estimula a criatividade dentro de
um novo conceito de alfabetização musical.
        Já é de todos conhecida a forma do teclado do piano, ou instrumentos congêneres, que vão
do cravo ao órgão eletrônico, em que se encontram teclas brancas e pretas, dispostas em
intervalos regulares, formando sempre o mesmo desenho no teclado, no qual o som é obtido
quando as teclas são pressionadas.
        Em que pese a larga utilização do piano e do teclado na educação musical, alguns
inconvenientes didáticos podem-lhe ser atribuídos, como, por exemplo, uma certa dificuldade
para o aluno iniciante, de visualização e identificação das notas, por estarem próximas umas das
outras, confundindo-se teclas brancas e pretas e por terem todas elas um curto, único e possível
movimento, quando assim pressionadas. O educador, ao mostrar determinada nota ao aluno,
pressiona a tecla do piano. Ao levantar o dedo, essa tecla volta à posição normal, para o mesmo
plano em que se encontravam as outras, gerando uma certa dificuldade de identificação da
referida nota, visto que, ela se confunde com as demais teclas do plano horizontal do teclado.
        Outro problema didático, observado quando se utiliza o piano e o teclado eletrônico, no
ensino da teoria e práticas musicais, é que estes instrumentos não favorecem ao exercício da
afinação, pois não exigem do aluno sua prática diária em relação a seu próprio instrumento, como
acontece, por exemplo, com o violão. Quando o pianista vai tocar, seja ele aluno iniciante,
graduado, ou mesmo um profissional da música, vai tocar o instrumento da maneira como ele se
apresenta. Se o instrumento estiver desafinado, vai tocá-lo dessa forma, pois é raro um pianista
que tenha consigo uma chave de afinação e entenda da mecânica do instrumento, para corrigir
alterações de cada nota desafinada. E quando o aluno estuda em um piano desafinado, por dias,
semanas, meses e anos, como freqüentemente acontece em conservatórios e escolas de música,
ele estará educando mal seus ouvidos. O piano não permite, ao aluno, esse importante exercício
diário de sonoridade, o que contribui, muitas vezes, para a acomodação da percepção auditiva.


                                                                                                 5
Tendo em vista estes problemas e no propósito de superá-los, foi desenvolvido um
modelo de teclado que consiste em prover de movimentação diferenciada as teclas do piano
convencional, que não serão pressionadas, mas levantadas do plano do teclado, presas a um eixo
comum à todas as teclas.

0 TEDEM E PAULO FREIRE

         Muitos educadores vêm trabalhando em um processo de inclusão daqueles que sempre
estiveram socialmente desfavorecidos e no limiar da exclusão, ou até mesmo já excluídos. Paulo
Freire é uma dessas luzes que orientam a percepção um outro aspecto da educação, por meio do
qual todos devem participar do processo ensino/aprendizagem, valorizando “a voz” daqueles que
nunca tiveram oportunidade de se expressar socialmente.
         A proposta metodológica do TEDEM encontra em Paulo Freire um importante referencial
teórico para o desenvolvimento da linguagem musical popular dentro da escola tradicional.
Reconhecendo a prática popular como expressão legítima de homens e mulheres que se
inscrevem na história cultural das sociedades, suas manifestações artísticas carregam as células
sonoras representativas de suas participações sociais, dos sentimentos, aflições, angústias,
amores, alegrias, que perfazem o cotidiano da vida das pessoas. Percebe-se que estas
características são justamente as que identificam e qualificam o comportamento de cada grupo
social, que preservam, por intermédio de seus hábitos, a história cultural que os identifica.
Verifica-se isso nas letras das músicas e, também, nos aspectos rítmicos, harmônicos e melódicos
de cada composição presente no vasto repertório da Música Popular Brasileira (MPB). Por isso, a
educação musical se faz necessária dentro do ambiente escolar, não somente como ferramenta
básica para o desenvolvimento motricional, auditivo, intelectual dos alunos, mas, também, como
parte de um processo educativo que preserve as células sonoras que identificam a herança
cultural de cada grupo social.
         Que categorias podem ser identificadas em Paulo Freire, que aproximam sua linguagem
pedagógica à metodologia de ensino da música analisada nesta dissertação?
         A música, primitiva expressão do sentimento humano, se manifesta em todas as pessoas,
de todas as culturas e etnias. Cada um desenvolve um sentido para a captação da linguagem
musical, mas todos, sem exceção, se manifestam, de uma maneira ou de outra, por meio dessa
linguagem.
         Todos têm suas vivências inscritas pelos sons, que, de forma musical, registram os
períodos históricos vividos por cada pessoa, por cada grupo, por cada etnia. E todos deveriam ter
o direito de ver reconhecidas suas formas expressivas, ou mais, que esta linguagem artístico-
musical fosse aceita como legítima e ganhasse espaço dentro do ambiente escolar.
         Das categorias freirianas serão destacadas, nesta dissertação, as que mais se aproximam
do que poderia constituir o referencial para a discussão nela travada.
         Primeiramente, cabe destacar que, para Paulo Freire, o ato de ensinar está diretamente
vinculado ao ato de aprender. No livro Pedagogia da autonomia (1996), afirma: “Ensinar inexiste
sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens
descobriram que era possível ensinar.” (FREIRE, 1997, p. 26). E completa: “Aprender precedeu
ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluiu na experiência realmente fundante de aprender”
(id., ib.).
         Por mais que uma pessoa estude o seu instrumento, ela o faz para o outro, para que sua
experiência toque o coração das pessoas, numa ação “dialógica” que lhe estimula a aprender
mais, em contato com o outro.
                                                                                               6
Sem constituir uma categoria freiriana, mas refletindo um alerta que Paulo Freire fez a
seus amigos mais próximos, suas idéias não deveriam ser repetidas, mas reinventadas em cada
diferente contexto. Ele mesmo deu o exemplo, reconstruindo suas concepções e categorias em
cada nova situação. Aliás, a “reinvenção” da Pedagogia do oprimido ocorre, explícita e
intencionalmente, na Pedagogia da esperança (1994) que, inclusive, tem como subtítulo “Um
reencontro com a Pedagogia do Oprimido”.
        E este alerta não era a expressão de uma declaração subjetiva de modéstia, mas constituía
a tradução de um princípio fundamental para Freire: qualquer idéia, qualquer teoria, ou qualquer
concepção só tem legitimidade se resulta da organização da reflexão sistemática e crítica da
realidade. Para Paulo Freire, as pessoas aprendem apenas em coletividade, “mediatizados pelo
mundo” (FREIRE, 1983, p. 76).
                       A proposta pedagógica do TEDEM busca “reinventar” Paulo Freire na
música, produzindo, portanto, uma pedagogia musical que valorize a expressão popular. Além
disso, por meio do “diálogo musical”, estimula a audiência das experiências e do repertório que
cada um carrega consigo, buscando-se uma comunhão de estilos. Em suma, incentiva a
“dialogicidade” em um processo de inclusão dessas experiências sonoras. Somente assim, a
alfabetização musical se torna libertadora, por meio da leitura musical do mundo, transcrevendo
para o meio acadêmico as experiências populares, tornando os educandos ativos personagens
dessas construções histórico-musicais.
        Outra característica fundamental em Paulo Freire é a relação da educação com a alegria,
com a utopia e com a esperança. Em Pedagogia da autonomia ele afirma:
        Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança
de que professor e alunos juntos, podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzirmos, e juntos
igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria.

                  ... A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem
                 ela, não haveria História, mas puro determinismo.
                 ... Daí que uma das nossas brigas como seres humanos deva ser dada no sentido
                 de diminuir as razões objetivas para a desesperança que nos imobiliza.
                 (FREIRE, 1997, ps. 80 e 81).

                Por isso, a importância de se relacionar o legado de Paulo Freire com a música; de
se saber ler criticamente as notas musicais que ecoam no cotidiano das pessoas; de se transformar
por meio da educação musical; de se buscar alternativas para esse triste quadro sonoro de projetos
globais dominadores.
        Deve-se estar atento às formas de dominação dos sons que chegam mansamente, “sem
dispararem um tiro”, de uma forma velada. Com certeza, este tipo de dominação (simbólica) seja
a mais eficiente e, portanto, a mais perigosa, aquela que destrói as células dos códigos locais.
Sem se perceber, ela dilacera as características e os elementos formadores das identidades
culturais, cuja maior expressão de singularidade se dá por meio da arte. São sons que vão
entrando sorrateiramente nos lares, nas escolas e demais instituições sociais, sem que se possa dar
conta do estrago cultural que ela acarreta, por intermédio da homogeneização promovida por
verdadeiros despejo de “dejetos sonoros”, de “lixo musical” não reciclável. Tão terrível quanto a
poluição de rios e mares, é a poluição cultural e, no caso específico que interessa a esta
dissertação, a musical, nas ruas, nos bares, nos supermercados, nas escolas, nas festas, em que as
crianças e os jovens são as principais vítimas dessa manipulação auditiva.


                                                                                                 7
RESULTADOS E CONCLUSÕES

        Dentro de uma nova perspectiva alfabetizadora, foi possível transcodificar o pensamento
freiriano para a área da música, por meio da aplicação do Teclado Didático para o Ensino da
Música (TEDEM), dadas as convergências já mencionadas. Aí não houve dificuldade. Maiores
problemas surgiram quando se necessitou de um referencial teórico para a pesquisa. Por isso, esta
pesquisa, ainda que preservando o caráter qualitativo, limitou-se ao estudo das experiências de
aplicação do TEDEM.
        O conceito clássico de alfabetizar é “ensinar a ler, dar instrução primária a” (FERREIRA,
1975, p. 66). Paulo Freire eleva a palavra “ler” a um patamar superior; transforma o sentido
restrito de “leitura” a uma concepção mais ampla de conscientização de mundo, de apreensão da
realidade, movida à esperança que nos leva em direção das mudanças. Na valorização da “voz”
daqueles que nunca tiveram oportunidade de se expressar socialmente, ao canto tantas vezes
solitário de um cancioneiro, procurou-se captar a essência das raízes populares e transportá-las
para dentro de um método, que traduzisse para a escola, essa forma espontânea de expressão da
vida.
        O autor desta dissertação descobriu o elo que une as pessoas e, por que não dizer as
diversas culturas da humanidade, revisitando sua própria condição de músico popular brasileiro.
        Visceral, foi, portanto, a percepção, em Paulo Freire, das origens de uma pedagogia
fundada na percepção de “mundo”; das experiências cotidianas de um homem pernambucano,
que soube transpor para as linhas do seu pensamento, as dores e as alegrias de uma dura realidade
brasileira. O autor deste trabalho sentiu-se orgulhoso de poder contribuir, com sua música, sua
atividade docente e, agora, de pesquisador – a que pretende dar continuidade – ao grande legado
de educadores que buscam uma transformação de mundo.
        Certificou-se, a partir daí, que os trabalhos acadêmicos e científicos, na área da educação,
ganham credibilidade, quando construídos sobre a organização da reflexão sobre realidades
concretas e vivenciais. Desconfia-se das teses oriundas de pensamentos de última hora, pois na
área das ciências da educação, tudo ganha legitimidade apenas no interior de uma prática
concreta. Em outros termos, como dizia Paulo Freire: é preciso desenvolver a prática de pensar
sobre a própria prática.
        Por isso, a proximidade do autor desta dissertação e Paulo Freire foi imediata, por mais
que estivessem separados no tempo e no espaço, trazendo o último para o universo da música e o
primeiro para o da pedagogia.
        Tudo que aqui se escreveu reflete uma absorção de todo o conteúdo musical de uma vida,
reavaliando conceitos presentes nas escolas e propondo novas práticas de ensino, que estenda, ao
ambiente acadêmico, a expressão artística popular.
        Nos últimos anos, foram desenvolvidas atividades com o TEDEM de uma forma que
possibilitasse a aprendizagem musical de alunos e professores, adaptando essa metodologia aos
diferentes níveis de conhecimento e faixas etárias. Os resultados obtidos se mostram satisfatórios
e comprovam a eficácia do método, tanto para crianças, como para o público adulto.
        Observou-se que o Método TEDEM desperta o interesse em todas as faixas etárias. É
notório que a metodologia utilizada com as crianças deve ser condicionada ao nível de percepção
e assimilação pertinente a esse grupo. Mas o interesse lúdico e criativo de descoberta das
possibilidades musicais se mostrou presente em todas as pessoas, independentemente da idade.
        O conflito relativo à aceitação da música popular brasileira nas escolas, foi observado,
basicamente, nos conservatórios de música, onde prevalece o predomínio de técnicas tradicionais
de ensino. Observou-se uma grande dificuldade de aceitação de uma nova linguagem de ensino
                                                                                                  8
musical, nessas escolas, que, obrigatoriamente, deveriam passar por uma total reestruturação de
seus métodos, técnicas e procedimentos, alterando os processos de formação docente.
        As políticas públicas dificultam as mudanças e convergem para a estagnação de um
modelo arcaico de ensino. A música erudita é muito importante para a formação do aluno, mas a
cultura musical popular se torna imprescindível, no sentido de trazer para a escola, a valorização
da arte musical popular brasileira, a única capaz de provocar as transformações necessárias à
superação da mera repetição do passado. Além disso, considerando apenas um aspecto
pragmático, é necessário preparar o aluno para o mercado de trabalho em que a oferta de emprego
se mostra muito maior (área da música popular).
        Sobre o TEDEM, é necessário considerar que, primeiramente, trata-se de um aparelho
sem som, para ensinar a arte dos sons. A princípio, parece um equívoco. Analisando-o com mais
cuidado, é justamente esse aspecto o principal elemento que o diferencia das demais técnicas de
ensino, proporcionando uma visão diferenciada das “geografias musicais” no teclado e
exercitando, de forma única, a capacidade de interiorização dos intervalos, acordes e escalas. Os
resultados foram surpreendentes. Em segundo lugar, como ocorreu nesta dissertação, foram
dezenas de páginas destinadas ao método e nenhuma vez aqui apareceu o pentagrama musical.
Não se quer negar, absolutamente, a leitura e escrita musicais no pentagrama, mas foi
demonstrado, de forma clara e objetiva, a necessidade primeira de assimilação da linguagem
musical, de conscientização dos sons, da compreensão da forma, como pré-quesitos fundamentais
e necessários, anteriores à leitura e escrita das notas na pauta.
        Este trabalho, portanto, aponta para a continuidade da aplicação do método TEDEM, bem
como para o exame mais detalhado de seus resultados, em investigação científica posterior, de
mais fôlego e da qual esta é apenas um exercício.
        Cabe ainda a importante observação é que, no aspecto da inovação, o TEDEM traz uma
possibilidade diferenciada de aprendizagem musical para deficientes visuais, auditivos e crianças
especiais, pelo fato de incluir o “tato” aos sentidos primários da visão e audição, que comumente
são usados no processo de ensino/aprendizagem. Essa inclusão traz uma nova perspectiva de
abertura à prática musical nas escolas, possibilitando o acesso à música aos portadores de
deficiência, ainda tão discriminados no meio social e escolar.
        O primeiro passo para a implantação do Método TEDEM nas escolas públicas já foi dado,
com o Curso de Capacitação dos Professores da Rede Municipal de Juiz de Fora, iniciado no ano
de 2005. A adaptação do método nas escolas será feita de forma gradativa, sendo fundamental o
trabalho em equipe. As crianças, em sua grande maioria, estão distantes do ensino da música nas
escolas; em muitos desses estabelecimentos, essa atividade nunca foi exercida, nem mesmo por
meio de corais ou bandas rítmicas. Outro cuidado é a atenção que se deve ter com o repertório
que estas crianças estão envolvidas, tanto na escola, quanto nos bairros onde residem. Hoje, o rap
e hip-hop tomaram conta dos meios de comunicação, sendo linguagem habitual dos estudantes. A
partir desses ritmos e dessas formas musicais, é que se deve iniciar o processo de alfabetização
com o TEDEM. Não se deve excluir esses estilos no processo de iniciação musical; pelo
contrário, por meio deles pode-se mostrar outras possibilidades sonoras para crianças e
adolescentes. Veja-se o exemplo da capoeira. Com um instrumento (berimbau) que utiliza duas
notas, apenas, pode-se conquistar a grande maioria dos alunos, trazê-las para perto de um esporte
musical, por onde se inicia a percepção das sonoridades graves e agudas, dos ritmos lentos e
rápidos, das intensidades fortes e fracas.




                                                                                                9
REFERÊNCIAS

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Ensino musical a partir da perspectiva de Paulo Freire

  • 1. ALFABETIZAÇÃO MUSICAL O LEGADO DE PAULO FREIRE E A APRENDIZAGEM DA MÚSICA Estêvão Couto Teixeira Mestrando em Educação - Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora estevao@acessa.com RESUMO Este trabalho aborda na perspectiva dos princípios desenvolvidos por Paulo Freire, o processo de aprendizagem inicial e continuada da música. O autor dela, como músico profissional e professor de música, enfoca as experiências que viveu nas duas condições, mormente as que experimentou como docente, observando a tensão e as resistências apresentadas pelos aprendizes nos métodos tradicionais. Formulou, então, uma metodologia própria, que se aproxima muito dos princípios desenvolvidos por Paulo Freire. Na aplicação desta metodologia, utiliza um artefato, que inventou e que denominou “Teclado Didático para o Ensino da Música” (TEDEM), tendo, inclusive, o patenteado. Resolveu, então, pesquisar, cientificamente, os resultados da aplicação desta nova metodologia, sendo que as reflexões e os resultados desta investigação constituem o conteúdo deste trabalho. Palavras-chave: música, educação, ensino, aprendizagem 1
  • 2. INTRODUÇÃO UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O ENSINO MUSICAL Esta dissertação trata da questão da educação musical, a partir de uma nova perspectiva para o ensino da música. Nos últimos 15 anos, quando, de fato, o autor deste trabalho se dedicou a uma nova proposta para o ensino musical, contatou-se um grave distanciamento da música praticada no meio popular daquela que é ensinada no ambiente acadêmico. A música que é expressão viva da cultura de um país deveria ser reproduzida nos componentes curriculares das escolas, na medida em que elas são o meio pelo o qual se possibilita a transmissão dos legados culturais de forma mais sistemática. Constatamos, hoje, uma prática de ensino que não condiz com a necessidade, urgente, de inclusão do conhecimento musical popular nos currículos escolares. Não está sendo repassada para as novas gerações de alunos, a característica mais espontânea da cultura musical popular brasileira, nosso repertório, nossa maneira tão personalizada e criativa de representação do cotidiano, por meio dos sons. Muitas histórias musicais vão se perdendo com o passar dos anos, muitas “vivências esquecidas” não mais se tornarão conhecidas das novas gerações, pois não foram incorporados à grade curricular os conhecimentos que revelam essa experiência de vida, passada por meio da música. Muitas vezes, são informações que não se encontram escritas ou registradas, pois foram transferidas por intermédio da oralidade, posteriormente, difíceis de serem resgatadas. As escolas deveriam investir na assimilação dessa linguagem, na decodificação dessa forma de apreensão e prática musicais, que demonstram uma sabedoria espontânea, lúcida e criativa. A cultura musical popular, os músicos e seus instrumentos foram discriminados durante muitos anos, séculos. O repertório que eles tocavam, e ainda tocam, era considerado “de baixa qualidade”, a música dos negros, mulatos, índios, caboclos e nordestinos, não tinha valor artístico. O músico popular era “vagabundo” e o violão que é a expressão máxima e legítima da cultura musical brasileira, não era aceito dentro das escolas, não era considerado um instrumento “de verdade” e só, há bem pouco tempo, foi aceito dentro das orquestras, no meio erudito. Sérgio Cabral, no prefácio do livro O mistério do samba, do sociólogo Hermano Vianna, fala sobre o preconceito em relação ao samba, ao violão e ao negro: ...o samba, um gênero tão execrado pelas classes dominantes das primeiras décadas do século que a polícia prendia quem o cantasse, dançasse ou tocasse. E ai daquele que andasse pelas ruas carregando um violão. Sendo negro, aí mesmo é que a sua situação piorava (VIANNA, 1995, p. 10 e11). Somente depois de quatro séculos, iniciou-se no Brasil o reconhecimento de nossa produção artística, como expressão nacional. A ascensão social do samba, hoje, símbolo da cultura musical brasileira, se deu somente a partir das primeiras décadas do século XX. Se, em outros países, a consciência nacionalista e a preocupação com a definição e a valorização dessa autenticidade nacional aconteceram a partir do século XVIII, no Brasil, este fato se deu tardiamente, mais especificamente a partir da década de 1920. Outros autores, sociólogos, músicos, pintores e pensadores começaram a traduzir essa linguagem popular. Buscando uma referência brasileira para produção artística e intelectual, 2
  • 3. rompem com o discurso acadêmico, que ignorava os valores populares nacionais e propõem uma abordagem transformadora da arte cultural brasileira. Tem destaque a Semana de Arte Moderna de 1922, o pensamento de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, a pintura de Anita Malfatti e o despontar da grandiosa produção musical de Villa-Lobos, que conviveu intimamente com os “chorões” e músicos daquela época, bebendo da genuína fonte musical popular brasileira. Neste ano de 2006, em que se comemora 50 anos da publicação do livro Grande Sertão: Veredas, não se pode deixar de citar esta obra-prima do mineiro João Guimarães Rosa como uma das mais importantes referências de aproximação entre a cultura erudita e a popular. Na época do lançamento do livro o autor foi duramente criticado por muitos intelectuais e jornalistas, mas Guimarães Rosa, um dos maiores escritores da língua portuguesa, tem lugar de destaque, sendo um dos pensadores brasileiros que escreveu a partir da perspectiva do homem do campo, trazendo para a literatura um novo idioma, fruto da combinação entre o rigor etimológico e a tradição oral. Grande Sertão traduz para a língua escrita uma outra realidade brasileira, forjando um estilo erudito e refinado a partir de um material popular, do homem sertanejo. No entanto, esta nova valorização do “ser brasileiro” não foi incorporada pelas escolas de música, que não souberam repassar aos futuros professores, esse sentido nacionalista-musical de ser. Muitos dizem saber tocar música brasileira, mas o fazem de forma artificial, um “samba quadrado” que preserva uma linguagem européia, sem o devido balanço e gingado que caracteriza a nossa música, pois o sentido de formação desse vocabulário, não se escreve com notas estrangeiras, da forma como se toca Bach, Vivaldi, Beethoven, Chopin, mas por meio da vivência e prática musicais das ruas, dos fundos de terreiro, das noitadas, das improvisações, da prática popular que esses professores não vivificaram. Muitas vezes, vivenciaram, mas não vivificaram. Não lhes foi possibilitada a decodificação desse vocabulário. Essa linguagem precisa ser repassada para dentro da música e dos instrumentos que eles tocam, mas estes professores não souberam identificar por qual caminho poderiam conseguir isso. As universidades e escolas de música não encontraram ainda a maneira de transferir essa linguagem para os alunos. Nunca se pensou numa didática de ensino musical que traduzisse esses códigos, incorporando-os à grade curricular. E os estudantes que, cada vez mais, desejam tocar música brasileira, não encontram este conteúdo dentro do ambiente escolar. Nos conservatórios e escolas de música, a evasão de estudantes insatisfeitos tem sido grande em função desta distorção. Muitas vezes, nascidos e criados em regiões de forte expressão artística, os professores, que ingressam no curso oficial de música, perdem um importante referencial de ligação do ensino acadêmico aos laços musicais com os quais foram habituados ou tiveram contato na infância. Com a perda dessa “referência”, não têm condições de desenvolver e produzir seus trabalhos como reflexo dessas vivências. Não há vínculo do que é aprendido na escola oficial à tradição de ensino e práticas populares. Acaba-se por não reconhecer o valor da cultura brasileira como expressão legítima da identidade nacional do povo, distanciando o ensino acadêmico da formação popular. É notório ressaltar que todas essas observações são igualmente identificadas em outras áreas da educação escolar, em que a cultura nacional popular sempre esteve associada a um padrão inferior de qualidade intelectual e artística, valorizando-se sempre mais o conhecimento advindo do exterior, primeiramente da Europa e posteriormente dos Estados Unidos da América. Com isso, o músico popular, que nunca teve acesso à universidade, não tem oportunidade de levar seu conhecimento, sua experiência, para dentro do meio acadêmico. Ele, que sempre desenvolveu sua prática musical no dia a dia, aprendendo a tocar de ouvido, vendo e ouvindo outras pessoas tocar, criando e improvisando, poderia dar uma valiosa contribuição para o 3
  • 4. enriquecimento do programa escolar. A escola deveria encontrar meios de absorver essa experiência, tornando o ensino musical mais vivo, reflexo de uma manifestação que expressa as cores de uma cultura dinâmica, fruto de uma diversidade musical que coloca o nosso país na categoria dos povos mais criativos do mundo. Não se leva em conta que este tipo de conhecimento tem uma importância fundamental para a relação com a qual se constrói as bases da identidade cultural-histórico-musical de uma sociedade. Por sua vez, sempre se considerou o músico erudito que sabe ler partitura e tem formação clássica, com uma bagagem artística muito superior, mais qualificada, em relação ao músico popular. O que está longe de ser verdade. Os músicos populares, com base na vivência diária, por intermédio dos variados estilos musicais brasileiros, desenvolvem uma maneira intuitiva, rica e criativa de expressão musical. Com a metodologia do TEDEM, decodificando essa linguagem, procurou-se resgatar a característica natural de percepção e prática musicais, levando esse conhecimento para dentro das salas de aula, absorvendo e repassando aos alunos essa forma de expressão musical. Ver-se-á, com este método, um modo de aprendizado que está mais próximo dos nossos sentidos primários, por onde se percebe a estrutura dos sons, unindo características visuais, auditivas, sensoriais e táteis, que serão demonstradas neste trabalho. A educação musical deveria e poderia estar mais próxima do ensino de outras disciplinas, tornando-se uma importante atividade coadjuvante para o desenvolvimento de outras matérias. Demonstrar-se-á que o exercício musical por meio do método TEDEM estimula a percepção dos alunos, tornando-os motivados para a aprendizagem musical e para o relacionamento com os demais colegas, resgatando e desenvolvendo o lado lúdico, sensitivo e emocional, naturalmente presente em cada ser humano. Observa-se que os meios de comunicação não têm exercido seu papel na construção e preservação da identidade musical brasileira, atendendo somente aos modismos e a tudo que representa uma forma direta de consumo. A estrutura familiar se mostra frágil, com pouca expressão para a formação dessa identidade cultural. Tem, portanto, a escola, uma importância fundamental para a reconstrução dos valores culturais brasileiros, sendo a música um elo extremamente necessário para a fixação da identidade artística do país. O Método TEDEM poderá dar uma importante contribuição para o desenvolvimento da capacidade criativa das crianças, dos jovens e, também, dos adultos, construindo, por meio dos sons, as raízes sentimentais que transformam a música em essência própria da vida. METODOLOGIA Examinemos, agora, o novo método de alfabetização musical – o Teclado Didático para o Ensino da Musica (TEDEM) – para, após o exame de suas aplicações, comprovar-se sua maior eficiência e eficácia em relação às formas tradicionais com que se ensina esta arte nas escolas de música e nos conservatórios. Fig. 1 - Teclado Didático para o Ensino da Música 4
  • 5. O Teclado Didático para o Ensino da Música (TEDEM) é um instrumento criado pelo flautista e professor que é, também, o autor deste trabalho, com a finalidade de facilitar o aprendizado musical por meio da visualização de escalas, acordes e intervalos, em que as teclas que se levantam do plano horizontal do teclado possibilitam uma melhor visualização e compreensão de todas as estruturas musicais. As escalas são identificadas por meio de uma verdadeira “geografia musical”, proporcionada pelo destaque daquilo que se quer demonstrar que é o espaço vazio deixado pelas teclas levantadas. Este teclado não possui som próprio, mas é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de uma nova concepção para a educação musical. O método se completa quando o aluno, que identifica o intervalo, acorde ou escala, reproduz aquilo que vê, e sente, em seu próprio instrumento. A proposta é “tirar a música do papel e colocá-la no ar”, desvinculando o ensino musical da obrigatoriedade inicial da leitura e da escrita na pauta, fazendo o aluno sentir, primeiramente, aquilo que irá tocar, percebendo cada acorde, intervalo ou escala, num aprendizado musical que precede o “grafocentrismo” dos métodos tradicionais. O TEDEM se assemelha a um jogo, a um “ábaco musical”, em que o aluno toca em seu instrumento – voz, flauta, piano, violino, sax, violão etc. – aquilo que vê, tendo sempre o teclado como painel ilustrativo de todas as ocorrências musicais. A proposta do método é ter um TEDEM grande à frente da sala e outros “mini-tedems” que, distribuídos aos alunos, servirão como ferramenta básica para os exercícios propostos, na compreensão de tudo aquilo que será reproduzido, posteriormente, em seus instrumentos. O TEDEM torna o ensino da música mais prazeroso e estimula a criatividade dentro de um novo conceito de alfabetização musical. Já é de todos conhecida a forma do teclado do piano, ou instrumentos congêneres, que vão do cravo ao órgão eletrônico, em que se encontram teclas brancas e pretas, dispostas em intervalos regulares, formando sempre o mesmo desenho no teclado, no qual o som é obtido quando as teclas são pressionadas. Em que pese a larga utilização do piano e do teclado na educação musical, alguns inconvenientes didáticos podem-lhe ser atribuídos, como, por exemplo, uma certa dificuldade para o aluno iniciante, de visualização e identificação das notas, por estarem próximas umas das outras, confundindo-se teclas brancas e pretas e por terem todas elas um curto, único e possível movimento, quando assim pressionadas. O educador, ao mostrar determinada nota ao aluno, pressiona a tecla do piano. Ao levantar o dedo, essa tecla volta à posição normal, para o mesmo plano em que se encontravam as outras, gerando uma certa dificuldade de identificação da referida nota, visto que, ela se confunde com as demais teclas do plano horizontal do teclado. Outro problema didático, observado quando se utiliza o piano e o teclado eletrônico, no ensino da teoria e práticas musicais, é que estes instrumentos não favorecem ao exercício da afinação, pois não exigem do aluno sua prática diária em relação a seu próprio instrumento, como acontece, por exemplo, com o violão. Quando o pianista vai tocar, seja ele aluno iniciante, graduado, ou mesmo um profissional da música, vai tocar o instrumento da maneira como ele se apresenta. Se o instrumento estiver desafinado, vai tocá-lo dessa forma, pois é raro um pianista que tenha consigo uma chave de afinação e entenda da mecânica do instrumento, para corrigir alterações de cada nota desafinada. E quando o aluno estuda em um piano desafinado, por dias, semanas, meses e anos, como freqüentemente acontece em conservatórios e escolas de música, ele estará educando mal seus ouvidos. O piano não permite, ao aluno, esse importante exercício diário de sonoridade, o que contribui, muitas vezes, para a acomodação da percepção auditiva. 5
  • 6. Tendo em vista estes problemas e no propósito de superá-los, foi desenvolvido um modelo de teclado que consiste em prover de movimentação diferenciada as teclas do piano convencional, que não serão pressionadas, mas levantadas do plano do teclado, presas a um eixo comum à todas as teclas. 0 TEDEM E PAULO FREIRE Muitos educadores vêm trabalhando em um processo de inclusão daqueles que sempre estiveram socialmente desfavorecidos e no limiar da exclusão, ou até mesmo já excluídos. Paulo Freire é uma dessas luzes que orientam a percepção um outro aspecto da educação, por meio do qual todos devem participar do processo ensino/aprendizagem, valorizando “a voz” daqueles que nunca tiveram oportunidade de se expressar socialmente. A proposta metodológica do TEDEM encontra em Paulo Freire um importante referencial teórico para o desenvolvimento da linguagem musical popular dentro da escola tradicional. Reconhecendo a prática popular como expressão legítima de homens e mulheres que se inscrevem na história cultural das sociedades, suas manifestações artísticas carregam as células sonoras representativas de suas participações sociais, dos sentimentos, aflições, angústias, amores, alegrias, que perfazem o cotidiano da vida das pessoas. Percebe-se que estas características são justamente as que identificam e qualificam o comportamento de cada grupo social, que preservam, por intermédio de seus hábitos, a história cultural que os identifica. Verifica-se isso nas letras das músicas e, também, nos aspectos rítmicos, harmônicos e melódicos de cada composição presente no vasto repertório da Música Popular Brasileira (MPB). Por isso, a educação musical se faz necessária dentro do ambiente escolar, não somente como ferramenta básica para o desenvolvimento motricional, auditivo, intelectual dos alunos, mas, também, como parte de um processo educativo que preserve as células sonoras que identificam a herança cultural de cada grupo social. Que categorias podem ser identificadas em Paulo Freire, que aproximam sua linguagem pedagógica à metodologia de ensino da música analisada nesta dissertação? A música, primitiva expressão do sentimento humano, se manifesta em todas as pessoas, de todas as culturas e etnias. Cada um desenvolve um sentido para a captação da linguagem musical, mas todos, sem exceção, se manifestam, de uma maneira ou de outra, por meio dessa linguagem. Todos têm suas vivências inscritas pelos sons, que, de forma musical, registram os períodos históricos vividos por cada pessoa, por cada grupo, por cada etnia. E todos deveriam ter o direito de ver reconhecidas suas formas expressivas, ou mais, que esta linguagem artístico- musical fosse aceita como legítima e ganhasse espaço dentro do ambiente escolar. Das categorias freirianas serão destacadas, nesta dissertação, as que mais se aproximam do que poderia constituir o referencial para a discussão nela travada. Primeiramente, cabe destacar que, para Paulo Freire, o ato de ensinar está diretamente vinculado ao ato de aprender. No livro Pedagogia da autonomia (1996), afirma: “Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar.” (FREIRE, 1997, p. 26). E completa: “Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluiu na experiência realmente fundante de aprender” (id., ib.). Por mais que uma pessoa estude o seu instrumento, ela o faz para o outro, para que sua experiência toque o coração das pessoas, numa ação “dialógica” que lhe estimula a aprender mais, em contato com o outro. 6
  • 7. Sem constituir uma categoria freiriana, mas refletindo um alerta que Paulo Freire fez a seus amigos mais próximos, suas idéias não deveriam ser repetidas, mas reinventadas em cada diferente contexto. Ele mesmo deu o exemplo, reconstruindo suas concepções e categorias em cada nova situação. Aliás, a “reinvenção” da Pedagogia do oprimido ocorre, explícita e intencionalmente, na Pedagogia da esperança (1994) que, inclusive, tem como subtítulo “Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido”. E este alerta não era a expressão de uma declaração subjetiva de modéstia, mas constituía a tradução de um princípio fundamental para Freire: qualquer idéia, qualquer teoria, ou qualquer concepção só tem legitimidade se resulta da organização da reflexão sistemática e crítica da realidade. Para Paulo Freire, as pessoas aprendem apenas em coletividade, “mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1983, p. 76). A proposta pedagógica do TEDEM busca “reinventar” Paulo Freire na música, produzindo, portanto, uma pedagogia musical que valorize a expressão popular. Além disso, por meio do “diálogo musical”, estimula a audiência das experiências e do repertório que cada um carrega consigo, buscando-se uma comunhão de estilos. Em suma, incentiva a “dialogicidade” em um processo de inclusão dessas experiências sonoras. Somente assim, a alfabetização musical se torna libertadora, por meio da leitura musical do mundo, transcrevendo para o meio acadêmico as experiências populares, tornando os educandos ativos personagens dessas construções histórico-musicais. Outra característica fundamental em Paulo Freire é a relação da educação com a alegria, com a utopia e com a esperança. Em Pedagogia da autonomia ele afirma: Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos, podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzirmos, e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria. ... A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela, não haveria História, mas puro determinismo. ... Daí que uma das nossas brigas como seres humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para a desesperança que nos imobiliza. (FREIRE, 1997, ps. 80 e 81). Por isso, a importância de se relacionar o legado de Paulo Freire com a música; de se saber ler criticamente as notas musicais que ecoam no cotidiano das pessoas; de se transformar por meio da educação musical; de se buscar alternativas para esse triste quadro sonoro de projetos globais dominadores. Deve-se estar atento às formas de dominação dos sons que chegam mansamente, “sem dispararem um tiro”, de uma forma velada. Com certeza, este tipo de dominação (simbólica) seja a mais eficiente e, portanto, a mais perigosa, aquela que destrói as células dos códigos locais. Sem se perceber, ela dilacera as características e os elementos formadores das identidades culturais, cuja maior expressão de singularidade se dá por meio da arte. São sons que vão entrando sorrateiramente nos lares, nas escolas e demais instituições sociais, sem que se possa dar conta do estrago cultural que ela acarreta, por intermédio da homogeneização promovida por verdadeiros despejo de “dejetos sonoros”, de “lixo musical” não reciclável. Tão terrível quanto a poluição de rios e mares, é a poluição cultural e, no caso específico que interessa a esta dissertação, a musical, nas ruas, nos bares, nos supermercados, nas escolas, nas festas, em que as crianças e os jovens são as principais vítimas dessa manipulação auditiva. 7
  • 8. RESULTADOS E CONCLUSÕES Dentro de uma nova perspectiva alfabetizadora, foi possível transcodificar o pensamento freiriano para a área da música, por meio da aplicação do Teclado Didático para o Ensino da Música (TEDEM), dadas as convergências já mencionadas. Aí não houve dificuldade. Maiores problemas surgiram quando se necessitou de um referencial teórico para a pesquisa. Por isso, esta pesquisa, ainda que preservando o caráter qualitativo, limitou-se ao estudo das experiências de aplicação do TEDEM. O conceito clássico de alfabetizar é “ensinar a ler, dar instrução primária a” (FERREIRA, 1975, p. 66). Paulo Freire eleva a palavra “ler” a um patamar superior; transforma o sentido restrito de “leitura” a uma concepção mais ampla de conscientização de mundo, de apreensão da realidade, movida à esperança que nos leva em direção das mudanças. Na valorização da “voz” daqueles que nunca tiveram oportunidade de se expressar socialmente, ao canto tantas vezes solitário de um cancioneiro, procurou-se captar a essência das raízes populares e transportá-las para dentro de um método, que traduzisse para a escola, essa forma espontânea de expressão da vida. O autor desta dissertação descobriu o elo que une as pessoas e, por que não dizer as diversas culturas da humanidade, revisitando sua própria condição de músico popular brasileiro. Visceral, foi, portanto, a percepção, em Paulo Freire, das origens de uma pedagogia fundada na percepção de “mundo”; das experiências cotidianas de um homem pernambucano, que soube transpor para as linhas do seu pensamento, as dores e as alegrias de uma dura realidade brasileira. O autor deste trabalho sentiu-se orgulhoso de poder contribuir, com sua música, sua atividade docente e, agora, de pesquisador – a que pretende dar continuidade – ao grande legado de educadores que buscam uma transformação de mundo. Certificou-se, a partir daí, que os trabalhos acadêmicos e científicos, na área da educação, ganham credibilidade, quando construídos sobre a organização da reflexão sobre realidades concretas e vivenciais. Desconfia-se das teses oriundas de pensamentos de última hora, pois na área das ciências da educação, tudo ganha legitimidade apenas no interior de uma prática concreta. Em outros termos, como dizia Paulo Freire: é preciso desenvolver a prática de pensar sobre a própria prática. Por isso, a proximidade do autor desta dissertação e Paulo Freire foi imediata, por mais que estivessem separados no tempo e no espaço, trazendo o último para o universo da música e o primeiro para o da pedagogia. Tudo que aqui se escreveu reflete uma absorção de todo o conteúdo musical de uma vida, reavaliando conceitos presentes nas escolas e propondo novas práticas de ensino, que estenda, ao ambiente acadêmico, a expressão artística popular. Nos últimos anos, foram desenvolvidas atividades com o TEDEM de uma forma que possibilitasse a aprendizagem musical de alunos e professores, adaptando essa metodologia aos diferentes níveis de conhecimento e faixas etárias. Os resultados obtidos se mostram satisfatórios e comprovam a eficácia do método, tanto para crianças, como para o público adulto. Observou-se que o Método TEDEM desperta o interesse em todas as faixas etárias. É notório que a metodologia utilizada com as crianças deve ser condicionada ao nível de percepção e assimilação pertinente a esse grupo. Mas o interesse lúdico e criativo de descoberta das possibilidades musicais se mostrou presente em todas as pessoas, independentemente da idade. O conflito relativo à aceitação da música popular brasileira nas escolas, foi observado, basicamente, nos conservatórios de música, onde prevalece o predomínio de técnicas tradicionais de ensino. Observou-se uma grande dificuldade de aceitação de uma nova linguagem de ensino 8
  • 9. musical, nessas escolas, que, obrigatoriamente, deveriam passar por uma total reestruturação de seus métodos, técnicas e procedimentos, alterando os processos de formação docente. As políticas públicas dificultam as mudanças e convergem para a estagnação de um modelo arcaico de ensino. A música erudita é muito importante para a formação do aluno, mas a cultura musical popular se torna imprescindível, no sentido de trazer para a escola, a valorização da arte musical popular brasileira, a única capaz de provocar as transformações necessárias à superação da mera repetição do passado. Além disso, considerando apenas um aspecto pragmático, é necessário preparar o aluno para o mercado de trabalho em que a oferta de emprego se mostra muito maior (área da música popular). Sobre o TEDEM, é necessário considerar que, primeiramente, trata-se de um aparelho sem som, para ensinar a arte dos sons. A princípio, parece um equívoco. Analisando-o com mais cuidado, é justamente esse aspecto o principal elemento que o diferencia das demais técnicas de ensino, proporcionando uma visão diferenciada das “geografias musicais” no teclado e exercitando, de forma única, a capacidade de interiorização dos intervalos, acordes e escalas. Os resultados foram surpreendentes. Em segundo lugar, como ocorreu nesta dissertação, foram dezenas de páginas destinadas ao método e nenhuma vez aqui apareceu o pentagrama musical. Não se quer negar, absolutamente, a leitura e escrita musicais no pentagrama, mas foi demonstrado, de forma clara e objetiva, a necessidade primeira de assimilação da linguagem musical, de conscientização dos sons, da compreensão da forma, como pré-quesitos fundamentais e necessários, anteriores à leitura e escrita das notas na pauta. Este trabalho, portanto, aponta para a continuidade da aplicação do método TEDEM, bem como para o exame mais detalhado de seus resultados, em investigação científica posterior, de mais fôlego e da qual esta é apenas um exercício. Cabe ainda a importante observação é que, no aspecto da inovação, o TEDEM traz uma possibilidade diferenciada de aprendizagem musical para deficientes visuais, auditivos e crianças especiais, pelo fato de incluir o “tato” aos sentidos primários da visão e audição, que comumente são usados no processo de ensino/aprendizagem. Essa inclusão traz uma nova perspectiva de abertura à prática musical nas escolas, possibilitando o acesso à música aos portadores de deficiência, ainda tão discriminados no meio social e escolar. O primeiro passo para a implantação do Método TEDEM nas escolas públicas já foi dado, com o Curso de Capacitação dos Professores da Rede Municipal de Juiz de Fora, iniciado no ano de 2005. A adaptação do método nas escolas será feita de forma gradativa, sendo fundamental o trabalho em equipe. As crianças, em sua grande maioria, estão distantes do ensino da música nas escolas; em muitos desses estabelecimentos, essa atividade nunca foi exercida, nem mesmo por meio de corais ou bandas rítmicas. Outro cuidado é a atenção que se deve ter com o repertório que estas crianças estão envolvidas, tanto na escola, quanto nos bairros onde residem. Hoje, o rap e hip-hop tomaram conta dos meios de comunicação, sendo linguagem habitual dos estudantes. A partir desses ritmos e dessas formas musicais, é que se deve iniciar o processo de alfabetização com o TEDEM. Não se deve excluir esses estilos no processo de iniciação musical; pelo contrário, por meio deles pode-se mostrar outras possibilidades sonoras para crianças e adolescentes. Veja-se o exemplo da capoeira. Com um instrumento (berimbau) que utiliza duas notas, apenas, pode-se conquistar a grande maioria dos alunos, trazê-las para perto de um esporte musical, por onde se inicia a percepção das sonoridades graves e agudas, dos ritmos lentos e rápidos, das intensidades fortes e fracas. 9
  • 10. REFERÊNCIAS ALBANO, Eleonora Cavalcante. Da fala à linguagem: tocando de ouvido. São Paulo: Martins Fontes, 1990. ANDRADE, Mário de. Aspectos da Música Brasileira. São Paulo: Livraria Martins, 1939. ___. Ensaio sobre a música brasileira. 3. ed. São Paulo: Martins; Brasília: INL, 1972. ___. Música de feitiçaria no Brasil. São Paulo: Martins, 1968. ARAÚJO, Paulo Coêlho de. Capoeira: um nome – uma origem. Juiz de Fora, MG: Irmão Justiniano, 2004. BRASIL, Ministério das Relações Exteriores. Música popular brasileira in Textos do Brasil. Brasília: Athalaia Gráfica, 2004. CABRAL, Sérgio. Pixinguinha: Vida e obra. Rio de Janeiro: Lumiar: 1997. D’OLIVET, Antoine Fabre. Música: Explicada como ciência e arte e considerada em suas relações analógicas com os mistérios religiosos, a mitologia antiga e a história do mundo. Trad. Orlando Toseto Jr. e William de Carmo. São Paulo: Ícone, 2002. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. 3. ed. São Paulo: Cortez e Instituto Paulo Freire, 2003. ___. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura). 10
  • 11. ___. Pedagogia do oprimido. 12. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. (Coleção O mundo, hoje, v. 21). GADOTTI, Moacir e outros. Paulo Freire: uma biobibliografia. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire; Brasília, DF: UNESCO, 1996. GARCIA, Maria Manuela Alves. Pedagogias críticas e subjetivação: uma perspectiva foulcaultiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. GOLDMANN, Lucien. Sociologia do romance. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. GORINA, Manuel valls. Para entender la musica. 3. ed. Madrid: Alianza Editorial, 1992. GUEST, Ian. Arranjo: método prático: incluindo revisão dos elementos da música. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996 (v. I). HERZFELD, Friedrich. Nós e a música. Trad. Luiz de Freitas Branco. Coleção Vida e Cultura. Rio de Janeiro: Globo, s/d. IAZZETTA, Fernando. Música: processo e dinâmica. São Paulo: Annablume, 1993. (Selo universidade: música, v. 12). LARA, Tiago Adão. A escola que não tive... o professor que não fui: temas de filosofia da educação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2003. MEYEROVITCH, Eva de Vitray. Rûmî e o Sufismo. São Paulo: ECE, 1990. NIDELCOFF, Maria Teresa. A escola e a compreensão da realidade. 15. ed. São Paulo: Brasiliense S.A. 1979. NIGRI, André e BARIL, João Pombo. O nome da Rosa in Bravo! Ano IX, n.º 103. São Paulo, abril, março de 2006. 11
  • 12. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio- histórico. São Paulo: Scipione Ltda, 1997. (Coleção Pensamento e Ação no Magistério). PASCOAL, Hermeto. Calendário do som. São Paulo: SENAC, 2000. PENNA, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990. ROMÃO, José Eustáquio. Pedagogia dialógica. São Paulo: Cortez e Instituto Paulo Freire, 2002. (Biblioteca Freiriana, v. 1). ___; OLIVEIRA, José Eduardo de (coordenadores). Questões do Século XXI. Edição especial. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 100, Tomo II). ___. Questões do Século XXI. Edição especial. São Paulo: Cortez, 2003. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 100, Tomo I). SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. Trad. de Marisa Trench de O. Fonterrada e outros. 4. ed. São Paulo: UNESP, 1991. SNYDERS, Georges. A alegria na escola. São Paulo : Manole, 1988. SUN TZU, adaptação e prefácio de James Clavell. A arte da guerra. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 1983. TINHORÃO, José Ramos. Música popular: um tema em debate. 2. ed. Rio de Janeiro: JCM, s/d. ___. Pequena história da música popular: da modinha à canção de protesto. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1978. VIANNA, Hermano. O mistério do samba. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar e UFRJ, 1995. 12
  • 13. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras; Círculo do Livro, 1989. ZAMACOIS, Joaquin. Teoria de la música. Barcelona: Labor, 1977 (libro I). 13