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DROGAS
– uma guerra
perdida?
Dos males da
modernidade,
talvez nenhum
se equipare
à ampla
proliferação
das drogas.
Vidas
individuais
e famílias
reduzidas
a farrapo e
escombro
diante do flagelo
do vício.
Numa esquina qualquer, de uma cracolândia
qualquer, de uma cidade brasileira qualquer,
um jovem acende um cachimbo de crack.
Quantas vidas ainda serão
reduzidas a farrapos,
quantos destinos ainda haverão
de se perder para sempre?
Para se entender a devastadora epidemia
das drogas que assola a nossa sociedade,
é preciso analisar o tema sob uma
perspectiva mais ampla.
Não se pode
abordar o tema
sem fazer
referência
às nossas
fronteiras
nacionais.
No cenário
da geopolítica
global, o Brasil
ocupa uma
posição de
relevância na
complexa rede
internacional
do narcotráfico.
O país possui
cerca de 15 mil
quilômetros
de fronteiras,
com fiscalização
muito deficiente
ou mesmo
inexistente,...
...e alguns
países vizinhos
elencados
entre os
maiores
produtores
mundiais de
drogas.
Colômbia
Maior produtor
mundial de cocaína,
com 68 mil hectares
de cultivo de coca.
Colômbia

(68 mil hectares)

Peru
Segundo maior
produtor de cocaína,
com 59,9 mil hectares.
Seguida a tendência
atual, deverá superar
a Colômbia nos
próximos anos.
Colômbia

(68 mil hectares)

Peru

(59,9 mil hectares)

Bolívia
Terceiro maior produtor
mundial de cocaína,
com 30,9 mil hectares
de cultivo de coca.
Colômbia

(68 mil hectares)

Peru

(59,9 mil hectares)

Bolívia

(30,9 mil hectares)

Paraguai
Segundo maior produtor
mundial de maconha,
atrás apenas do México.
O que leva
os países
andinos a
produzir tanta
droga são
essencialmente
questões
econômicas.
A maior parte
dos que se dedicam
aos cultivos não são
narcotraficantes,
mas produtores
rurais miseráveis,
vislumbrando um
lucro superior
ao que obteriam
caso se dedicassem
a plantações
tradicionais de
hortifrutigranjeiros.
O processo de refino,
transporte e
comercialização
da droga tem
rendido aos
narcotraficantes
lucros astronômicos.
Segundo a ONU,
o tráfico de drogas
movimenta
anualmente em
todo o mundo
cerca de 500 bilhões
de dólares.
Grande parte da
cocaína produzida
nos países andinos
atravessa as
fronteiras rumo ao
território brasileiro,
seja para envio
posterior à Europa e
América do Norte,
seja para distribuição
no mercado nacional
brasileiro.
O mapa ao lado
mostra a extensão do
limite fronteiriço do
Brasil com os três
maiores produtores
mundiais de cocaína
– responsáveis por
praticamente 100%
da produção
mundial.
O mapa permite
visualizar a
dimensão do problema que o Brasil enfrenta.
Este mapa mostra a dinâmica de distribuição
da cocaína produzida pelos países andinos.
Grande parte da droga segue para a América
do Norte, enquanto outra parte segue,
via território brasileiro, para a Europa.
Uma crescente parcela da cocaína produzida se
destina ao mercado consumidor brasileiro, que tem
crescido consideravelmente nos últimos anos.
Num mundo globalizado, caracterizado pela
fluidez das transações comerciais, o crime organizado
segue suas atividades a pleno vapor.
Para ilustrar a dificuldade em se deter
a atuação do crime organizado transnacional,
vejamos o exemplo dos E.U.A.
Os E.U.A. têm enfrentado graves problemas de
segurança na sua fronteira com o México,
envolvendo principalmente organizações ligadas ao
Apesar de dispor de uma polícia federal dedicada
exclusivamente ao combate ao tráfico, e de ter os
soldados mais bem treinados e equipados do mundo,
eles tem falhado sucessivamente em evitar o ingresso
de carregamentos de drogas em seu território.
Até apelaram para a construção de um muro físico
que separa a divisa entre os dois países, noite e dia
vigiado por um forte esquema de segurança.
Mas, vira e mexe, túneis por onde volumosos
carregamentos de droga continuam passando
livremente são descobertos.
Alguns especialistas sustentam que enquanto houver
gente querendo consumir droga, os traficantes darão
um jeito de garantir o lucro auferido com a venda.
Se a superpotência mundial não consegue cuidar de
uma fronteira seca com um único país, que é muito
mais um corredor do que produtor de drogas,
imagine a situação nas fronteiras brasileiras,
com suas dimensões continentais.
A fronteira brasileira com a Bolívia sozinha é mais
extensa do que toda a faixa entre México e E.U.A.
Enquanto a fronteira entre México e E.U.A. é uma
fronteira seca e desértica, a brasileira inclui a densa
floresta amazônica, com seus mil rios, lagos
e áreas pantanosas.
O próprio ministro da Justiça reconheceu
recentemente que há um “nível elevado de
vulnerabilidade” nas nossas fronteiras.
Outras autoridades apontam
as fronteiras brasileiras entre
as mais desguarnecidas do mundo.
Em 2010, foi lançado
o livro-reportagem
“Fronteiras Abertas –
Um retrato do abandono
da Aduana Brasileira”.
O trabalho aborda como
a falta de vigilância e
fiscalização permite a entrada
no país de armas, drogas,
munições e produtos
contrabandeados, além de
facilitar o ingresso e a saída
de criminosos, veículos roubados
e a remessa ilegal de dinheiro que abastece
toda rede de ilegalidades.
O livro – resultado de uma
viagem de dez meses que os
autores empreenderam por
mais de 15.000 km
de fronteira seca –
narra um cenário
de fronteiras
sem dono.
A fragilidade de
nossas fronteiras está
diretamente relacionada
à ampla circulação de
drogas nas nossas
cidades – uma triste e
dura realidade com
a qual convivemos
e que nos desafia
a buscar juntos
alguma saída.
Um levantamento
realizado pela
Confederação
Nacional dos
Municípios em 2010
constatou que 98%
dos municípios do país
enfrentam problemas
de circulação e
consumo de crack.
Segundo o Centro
Brasileiro de
Informações sobre Drogas
Psicotrópicas,
a droga é hoje
uma ameaça onipresente.
Já que a produção e
comercialização das
drogas encontram-se
longe de serem
adequadamente
combatidas, vamos
refletir um pouco sobre
a outra ponta do
processo do tráfico:
o usuário.
O que é que leva uma
pessoa a embarcar
no risco suicida
que as drogas
representam?
Os usuários podem ser
agrupados em duas
categorias básicas.
De um lado, temos a
categoria de usuários
formada pela parcela
“invisível”, excluída,
esquecida e ignorada
da sociedade.
Moradores de rua
e crianças e adolescentes
em situação de risco social,
que muitas vezes recorrem
às drogas para amenizar
a vivência de rua,
e sua amarga rotina de fome
e frio, abusos, privações,
humilhações e violência.
Nas décadas de
1980 e 1990, crianças
de rua tinham
na cola de sapateiro
a principal droga
de escolha.
Cola de Sapateiro:
Solvente e inalante, cujas
substâncias básicas são
o tolueno e o benzeno,
depressoras do Sistema
Nervoso Central.
A aspiração da cola de
sapateiro causa euforia,
desinibição, alteração
das percepções,
insensibilidade à dor, fome
e cansaço.
Pode causar
alterações na respiração,
culminando com a
morte do usuário.
Na época, políticos e
governantes se fizeram
de cegos diante
do problema.
Disseram: “Não temos
nada a ver com isso.”
A sociedade civil
também se fez de surda,
tratando com frio descaso
o abandono social.
E dissemos: “Não é
problema nosso tampouco.”
Passaram-se
duas décadas
e o problema
se agravou
drasticamente.
Crianças e adolescentes ao relento e expostos às
mazelas e durezas da vivência de rua, que ontem
cheiravam cola, hoje se tornaram escravos de
drogas muito mais devastadoras: o crack e o oxi.
Crack/Oxi: subprodutos da cocaína misturados
a soda cáustica ou bicarbonato de sódio;
– são cinco vezes mais potentes que a cocaína,
produzindo dependência com muita facilidade.
A fumaça chega ao cérebro com velocidade e potência
extremas, causando problemas respiratórios agudos.
Produzem uma sensação de confiança, poder e
excitação, seguida por um período de depressão,
paranoia, com alucinações e delírios.
Não raro,
tornam o usuário
violento e suicida
em potencial.
A expectativa de vida dos usuários
gira entre quatro e oito anos,
– crianças e adolescentes que
não chegarão à idade adulta.
O tratamento para a recuperação de usuários
é muito complexo, e o completo descaso e
despreparo das instâncias públicas no trato da
questão faz com que a reabilitação psicossocial
seja uma possibilidade bastante remota.
A fuga. A ilusão de identidade,
de satisfação, de plenitude.
A sensação de preencher o vazio,
a fome e o abandono social.
Além dos moradores
de rua, vítimas do
abandono e descaso social,
há uma outra
categoria de usuários,
formada por jovens
que tiveram condições
sociais privilegiadas.
Ao contrário da cruel
invisibilidade social que
acomete as camadas que
sobrevivem à margem
da sociedade,
estes jovens têm
nome e sobrenome,
possuem lares,
álbuns de fotografias,
pais e famílias.
Tiveram acesso
a boas escolas e
a uma educação que
teoricamente os
deveria ter prevenido
sobre a viagem
geralmente sem volta
que é o mundo
do vício.
Não foi a
miséria material
que os empurrou
para o vício,
mas uma outra
forma de miséria,
a existencial e afetiva.
Cristiane Gaidies,
conhecida pelo apelido
de “Maçãzinha”, era uma
jovem de cabelos cor de
mel, olhos expressivos
e sorriso claro.
Filha de uma psicóloga
e um dentista, dormia até
os 18 anos abraçada
ao ursinho de pelúcia.
Como tantas jovens de sua idade,
gostava de ir a shopping centers,
festas e shows de rock.
Aos 19 anos, abandona
os amigos e envolve-se
com maconha e crack.
A família tenta de tudo,
– diálogos, terapeutas,
psiquiatras, mudanças,
internação numa clínica
especializada.
“Ela sumia de casa, ficava vagando pelas
ruas fumando crack e depois reaparecia
parecendo uma mendiga”, lembra a mãe.
A ex-estudante de classe
média torna-se aos 20
anos uma andarilha
das ruas de São Paulo,
uma nômade urbana,
praticante de pequenos
furtos para alimentar
seu vício.
Numa noite, tenta roubar
um toca-fitas, exigido por
um traficante que a abastece.
É o preço da droga.
O dono do veículo,
um jovem empresário,
presencia a cena,
e do alto do seu
apartamento no 12º andar
dispara contra o
estacionamento do prédio
com o objetivo de
afugentar os ladrões.
O tiro, que era para ser de
advertência, atinge em cheio a
frágil jovem pelas costas.
Ela ainda se arrasta por
30 metros antes de cair
sem vida no asfalto
manchado de vermelho.
No bolso traseiro de
sua calça levava
um cachimbo de crack,
feito de uma tampa de
tubo de pasta de dente
e uma antena oca
de rádio de carro.
A outrora adolescente de
cabelos cor de mel, olhos
expressivos e sorriso claro
passou seus últimos dias...

...num casarão abandonado,
sujo e úmido, em companhia
de prostitutas, travestis,
mendigos e viciados.
Desde muito jovem
Nelson dal Poggetto sabia
o que era sofrer.
Ao 12 anos começou sua
aflitiva jornada pelo
mundo das drogas,
iniciando com álcool e
maconha, para em seguida
passar para cocaína
e crack.
Internado duas vezes, volta
a fumar o cachimbinho de
crack pouco tempo depois
de receber alta.

Durante as recaídas,
troca celular e outros
pertences por droga,
mergulhando num ciclo
de depressão e
arrependimento.
Aos 19 anos, antes de
cometer suicídio, deixa
um bilhete de despedida
para a família:...

“Amei muito vocês
e vou tranquilo.
Isso vai ser
um alívio”.
Adriana de Oliveira
era uma garota linda e
cheia de sonhos,
tida por todos que a
conheciam como uma
pessoa meiga, doce,
brincalhona e
amante da vida.
Era boa aluna na escola,
e tocava piano.
A jovem de 20 anos,
de olhos azulados,
pele morena e cabelos
escorridos pelos ombros
iniciava uma promissora
carreira como modelo.
Parecia ser uma dessas
pessoas abençoadas, para
quem nada dá errado na vida.
No entanto, a vida de
Adriana toma um outro
rumo após o namorado,
um rapaz que cursa o 3º
ano de direito e filho de um
bem-sucedido advogado,
a apresentar ao
mundo das drogas.
Quão tênue e vulnerável
é a linha que separa
a experimentação
e o uso recreativo
do risco potencial que
as drogas representam.
Durante uma festa
numa chácara,
Adriana passa mal,
sente dificuldades para
respirar e apresenta um
quadro convulsivo.
Ao ser transportada
para o pronto-socorro
já é tarde demais.
O laudo médico
revela a causa
da morte:
– uma mistura
fatal de álcool,
maconha e cocaína.
Mais uma precoce
partida, aos 20 anos.
Mais uma história
interrompida pelo álcool,
pela maconha e cocaína.
Diante das histórias
de Adriana, Nelson,
Cristiane e de tantos
outros jovens,
talvez seja hora de
refletirmos sobre os
valores que norteiam
a nossa sociedade.
Uma sociedade de
consumo voraz, que
transformou a busca do
prazer imediato e da
satisfação numa condição
existencial essencial.
Jovens desorientados,
que buscam nos prazeres
ilusórios uma forma de
se libertar do peso de
uma sociedade que
desumanizou o homem e
humanizou o dinheiro
e os bens materiais.
Tristes retratos
do fracasso dos laços
de sociabilidade familiar
e comunitária.
O desamor e o nãoreconhecimento afetivo
servindo de pilares para
uma vivência vazia.
Que sociedade é
esta que construímos,
tão repleta de valores
desvirtuados?
Talvez seja hora de,
enfim, refletirmos com
mais atenção sobre
o impacto devastador
da nossa atual
programação televisiva,
que golpeia especialmente,
com cruel violência,
crianças, jovens e
adolescentes.
Anúncios que associam a felicidade e
o bem-estar ao consumo de bebidas alcoólicas.
(uma droga tão ou mais nociva que as ilícitas)
Artistas com imenso apelo junto ao público
infanto-juvenil servindo de “exemplo” para
gerações de crianças e adolescentes.
Empresários, artistas, publicitários
e donos de emissoras de tv faturam bilhões.
E nós arcamos com os danos e custos sociais decorrentes.
Programas que massacram
a subjetividade e anulam
o senso crítico,
banalizando e mercantilizando
a existência.
“Vamos bisbilhotar”
“Pode espiar à vontade”
“Pra que educação, arte ou cultura?”
“Vamos banalizar a existência”
“Viva a futilidade!”
A torrente abusiva de publicidade
que invade os lares e formata a
mente de crianças e adolescentes
desde a mais tenra idade.
A mensagem impregnada em mentes
indefesas, de que somos o que possuímos,
e que viver se resume a consumir.
“Troque de carro, troque de celular,
beba mais cerveja, etc. etc. etc...”
Uma vida centrada em bens materiais,
uma existência sem um sentido
ou propósito mais nobre.
Nada melhor do que
a televisão para preencher
uma vida vazia,
carente de aspirações
elevadas
e sem padrões
morais firmes...
Não seria uma vida
vazia de propósito,
sentido e conteúdo
uma porta de fácil
entrada para o
abuso do álcool,
a maconha, a cocaína,
o crack e todas as
demais drogas que
entorpecem
a mente?
Talvez seja hora de
refletirmos sobre como
a atual programação
televisiva está
contribuindo para
solapar as bases éticas
e morais necessárias
para que crianças, jovens
e adolescentes possam
resistir às falsas promessas
que as drogas (lícitas e
ilícitas) oferecem.
Acreditar que as forças policiais
conseguirão sozinhas algum dia
resolver o problema das drogas
é ignorar as causas reais
que alimentam a degradação moral,
e o tráfico e vício subsequentes.
O máximo que as
forças policiais
isoladamente
conseguirão é
prosseguir na sua
heroica tarefa de
“enxugar gelo”,...
...entupindo cada vez
mais e mais e mais
as já desumanas e
superlotadas prisões.
Para reverter a batalha
contra as drogas, devemos
buscar novos paradigmas
sociais e existenciais.
Buscar corrigir as causas
estruturais que
conduzem ao vício que
alimenta o tráfico.
Vejamos alguns componentes
do nosso complexo
mosaico social
tão repleto de falhas,
que precisam ser
discutidas e sanadas
caso queiramos
construir uma sociedade
soberana e livre:...
Graves
Desigualdades
Sociais
s

s

Baixa qualidade
da Educação

s
Corrupção
Política

Uso de
Drogas Ilícitas

Pobreza Moral
e Cultural
Individualismo
Exacerbado
Materialismo
e Consumismo
s

Programação
Televisiva

s

s

Consumo de
Bebidas Alcoólicas

Criminalidade
e Violência
s
Corrupção
Política
Graves
Talvez seja hora
Desigualdades
Baixa qualidade
de acordarmos
da Educação
para o fatoSociais
de que
Uso de a epidemia
Drogas Ilícitas
das drogas é apenas
Criminalidade
um dos sintomas
Consumo de
e Violência
de um problema
Bebidas Alcoólicas
muito
Pobreza Moral mais amplo,
e Cultural
Individualismo
que encontra sua origem
no grave descaso
Exacerbado
com a Educação
Programação
Materialismo no país.
e a Infância
Televisiva
e Consumismo

s

s

s

s

s
O escritor
José Saramago
dizia:
“Para se acabar
com as velhas
prisões,
É necessário
construir novas
escolas.”
“No Brasil, a educação das massas
ainda é uma utopia verde-amarela.”

Silviano Santiago
Na guerra contra as drogas,
mais importante do que soldados e policiais
são os professores e educadores.
Uma educação plena, capaz de transmitir
valores e virtudes, conduzindo
cada criança em direção à sua plenitude.
Uma educação capaz de
banhar de sentido, propósito
e bondade as vidas que iniciam
sua jornada pelos caminhos do mundo.
O legítimo anseio que todos trazemos no
peito, de descobrir por que existimos,
e de revestir os nossos dias de beleza, poesia,
propósito e dignidade.
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A “alegria dos que
não sabem e descobrem”.
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para que a vida nos dê flor e fruto.
Trocar o amargo reprimir e remediar
pela doçura de amar, ensinar, prevenir,
e juntos descobrir.
“Só a participação cidadã
é capaz de mudar esse país.”
Betinho
Um outro mundo é possível.
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2 -drogas

  • 3. Dos males da modernidade, talvez nenhum se equipare à ampla proliferação das drogas.
  • 4. Vidas individuais e famílias reduzidas a farrapo e escombro diante do flagelo do vício.
  • 5. Numa esquina qualquer, de uma cracolândia qualquer, de uma cidade brasileira qualquer, um jovem acende um cachimbo de crack.
  • 6. Quantas vidas ainda serão reduzidas a farrapos, quantos destinos ainda haverão de se perder para sempre?
  • 7. Para se entender a devastadora epidemia das drogas que assola a nossa sociedade, é preciso analisar o tema sob uma perspectiva mais ampla.
  • 8. Não se pode abordar o tema sem fazer referência às nossas fronteiras nacionais.
  • 9. No cenário da geopolítica global, o Brasil ocupa uma posição de relevância na complexa rede internacional do narcotráfico.
  • 10. O país possui cerca de 15 mil quilômetros de fronteiras, com fiscalização muito deficiente ou mesmo inexistente,...
  • 11. ...e alguns países vizinhos elencados entre os maiores produtores mundiais de drogas.
  • 12. Colômbia Maior produtor mundial de cocaína, com 68 mil hectares de cultivo de coca.
  • 13. Colômbia (68 mil hectares) Peru Segundo maior produtor de cocaína, com 59,9 mil hectares. Seguida a tendência atual, deverá superar a Colômbia nos próximos anos.
  • 14. Colômbia (68 mil hectares) Peru (59,9 mil hectares) Bolívia Terceiro maior produtor mundial de cocaína, com 30,9 mil hectares de cultivo de coca.
  • 15. Colômbia (68 mil hectares) Peru (59,9 mil hectares) Bolívia (30,9 mil hectares) Paraguai Segundo maior produtor mundial de maconha, atrás apenas do México.
  • 16. O que leva os países andinos a produzir tanta droga são essencialmente questões econômicas.
  • 17. A maior parte dos que se dedicam aos cultivos não são narcotraficantes, mas produtores rurais miseráveis, vislumbrando um lucro superior ao que obteriam caso se dedicassem a plantações tradicionais de hortifrutigranjeiros.
  • 18. O processo de refino, transporte e comercialização da droga tem rendido aos narcotraficantes lucros astronômicos. Segundo a ONU, o tráfico de drogas movimenta anualmente em todo o mundo cerca de 500 bilhões de dólares.
  • 19. Grande parte da cocaína produzida nos países andinos atravessa as fronteiras rumo ao território brasileiro, seja para envio posterior à Europa e América do Norte, seja para distribuição no mercado nacional brasileiro.
  • 20. O mapa ao lado mostra a extensão do limite fronteiriço do Brasil com os três maiores produtores mundiais de cocaína – responsáveis por praticamente 100% da produção mundial. O mapa permite visualizar a dimensão do problema que o Brasil enfrenta.
  • 21. Este mapa mostra a dinâmica de distribuição da cocaína produzida pelos países andinos.
  • 22. Grande parte da droga segue para a América do Norte, enquanto outra parte segue, via território brasileiro, para a Europa.
  • 23. Uma crescente parcela da cocaína produzida se destina ao mercado consumidor brasileiro, que tem crescido consideravelmente nos últimos anos.
  • 24. Num mundo globalizado, caracterizado pela fluidez das transações comerciais, o crime organizado segue suas atividades a pleno vapor.
  • 25. Para ilustrar a dificuldade em se deter a atuação do crime organizado transnacional, vejamos o exemplo dos E.U.A.
  • 26. Os E.U.A. têm enfrentado graves problemas de segurança na sua fronteira com o México, envolvendo principalmente organizações ligadas ao
  • 27. Apesar de dispor de uma polícia federal dedicada exclusivamente ao combate ao tráfico, e de ter os soldados mais bem treinados e equipados do mundo, eles tem falhado sucessivamente em evitar o ingresso de carregamentos de drogas em seu território.
  • 28. Até apelaram para a construção de um muro físico que separa a divisa entre os dois países, noite e dia vigiado por um forte esquema de segurança.
  • 29. Mas, vira e mexe, túneis por onde volumosos carregamentos de droga continuam passando livremente são descobertos.
  • 30. Alguns especialistas sustentam que enquanto houver gente querendo consumir droga, os traficantes darão um jeito de garantir o lucro auferido com a venda.
  • 31. Se a superpotência mundial não consegue cuidar de uma fronteira seca com um único país, que é muito mais um corredor do que produtor de drogas, imagine a situação nas fronteiras brasileiras, com suas dimensões continentais.
  • 32. A fronteira brasileira com a Bolívia sozinha é mais extensa do que toda a faixa entre México e E.U.A.
  • 33. Enquanto a fronteira entre México e E.U.A. é uma fronteira seca e desértica, a brasileira inclui a densa floresta amazônica, com seus mil rios, lagos e áreas pantanosas.
  • 34. O próprio ministro da Justiça reconheceu recentemente que há um “nível elevado de vulnerabilidade” nas nossas fronteiras.
  • 35. Outras autoridades apontam as fronteiras brasileiras entre as mais desguarnecidas do mundo.
  • 36. Em 2010, foi lançado o livro-reportagem “Fronteiras Abertas – Um retrato do abandono da Aduana Brasileira”. O trabalho aborda como a falta de vigilância e fiscalização permite a entrada no país de armas, drogas, munições e produtos contrabandeados, além de facilitar o ingresso e a saída de criminosos, veículos roubados e a remessa ilegal de dinheiro que abastece toda rede de ilegalidades.
  • 37. O livro – resultado de uma viagem de dez meses que os autores empreenderam por mais de 15.000 km de fronteira seca – narra um cenário de fronteiras sem dono.
  • 38. A fragilidade de nossas fronteiras está diretamente relacionada à ampla circulação de drogas nas nossas cidades – uma triste e dura realidade com a qual convivemos e que nos desafia a buscar juntos alguma saída.
  • 39. Um levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Municípios em 2010 constatou que 98% dos municípios do país enfrentam problemas de circulação e consumo de crack.
  • 40. Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, a droga é hoje uma ameaça onipresente.
  • 41. Já que a produção e comercialização das drogas encontram-se longe de serem adequadamente combatidas, vamos refletir um pouco sobre a outra ponta do processo do tráfico: o usuário.
  • 42. O que é que leva uma pessoa a embarcar no risco suicida que as drogas representam? Os usuários podem ser agrupados em duas categorias básicas.
  • 43. De um lado, temos a categoria de usuários formada pela parcela “invisível”, excluída, esquecida e ignorada da sociedade. Moradores de rua e crianças e adolescentes em situação de risco social, que muitas vezes recorrem às drogas para amenizar a vivência de rua, e sua amarga rotina de fome e frio, abusos, privações, humilhações e violência.
  • 44. Nas décadas de 1980 e 1990, crianças de rua tinham na cola de sapateiro a principal droga de escolha. Cola de Sapateiro: Solvente e inalante, cujas substâncias básicas são o tolueno e o benzeno, depressoras do Sistema Nervoso Central.
  • 45. A aspiração da cola de sapateiro causa euforia, desinibição, alteração das percepções, insensibilidade à dor, fome e cansaço. Pode causar alterações na respiração, culminando com a morte do usuário.
  • 46. Na época, políticos e governantes se fizeram de cegos diante do problema. Disseram: “Não temos nada a ver com isso.” A sociedade civil também se fez de surda, tratando com frio descaso o abandono social. E dissemos: “Não é problema nosso tampouco.”
  • 47. Passaram-se duas décadas e o problema se agravou drasticamente.
  • 48. Crianças e adolescentes ao relento e expostos às mazelas e durezas da vivência de rua, que ontem cheiravam cola, hoje se tornaram escravos de drogas muito mais devastadoras: o crack e o oxi.
  • 49. Crack/Oxi: subprodutos da cocaína misturados a soda cáustica ou bicarbonato de sódio; – são cinco vezes mais potentes que a cocaína, produzindo dependência com muita facilidade.
  • 50. A fumaça chega ao cérebro com velocidade e potência extremas, causando problemas respiratórios agudos. Produzem uma sensação de confiança, poder e excitação, seguida por um período de depressão, paranoia, com alucinações e delírios. Não raro, tornam o usuário violento e suicida em potencial.
  • 51. A expectativa de vida dos usuários gira entre quatro e oito anos, – crianças e adolescentes que não chegarão à idade adulta.
  • 52. O tratamento para a recuperação de usuários é muito complexo, e o completo descaso e despreparo das instâncias públicas no trato da questão faz com que a reabilitação psicossocial seja uma possibilidade bastante remota.
  • 53. A fuga. A ilusão de identidade, de satisfação, de plenitude. A sensação de preencher o vazio, a fome e o abandono social.
  • 54. Além dos moradores de rua, vítimas do abandono e descaso social, há uma outra categoria de usuários, formada por jovens que tiveram condições sociais privilegiadas.
  • 55. Ao contrário da cruel invisibilidade social que acomete as camadas que sobrevivem à margem da sociedade, estes jovens têm nome e sobrenome, possuem lares, álbuns de fotografias, pais e famílias.
  • 56. Tiveram acesso a boas escolas e a uma educação que teoricamente os deveria ter prevenido sobre a viagem geralmente sem volta que é o mundo do vício.
  • 57. Não foi a miséria material que os empurrou para o vício, mas uma outra forma de miséria, a existencial e afetiva.
  • 58. Cristiane Gaidies, conhecida pelo apelido de “Maçãzinha”, era uma jovem de cabelos cor de mel, olhos expressivos e sorriso claro. Filha de uma psicóloga e um dentista, dormia até os 18 anos abraçada ao ursinho de pelúcia. Como tantas jovens de sua idade, gostava de ir a shopping centers, festas e shows de rock.
  • 59. Aos 19 anos, abandona os amigos e envolve-se com maconha e crack. A família tenta de tudo, – diálogos, terapeutas, psiquiatras, mudanças, internação numa clínica especializada. “Ela sumia de casa, ficava vagando pelas ruas fumando crack e depois reaparecia parecendo uma mendiga”, lembra a mãe.
  • 60. A ex-estudante de classe média torna-se aos 20 anos uma andarilha das ruas de São Paulo, uma nômade urbana, praticante de pequenos furtos para alimentar seu vício. Numa noite, tenta roubar um toca-fitas, exigido por um traficante que a abastece. É o preço da droga.
  • 61. O dono do veículo, um jovem empresário, presencia a cena, e do alto do seu apartamento no 12º andar dispara contra o estacionamento do prédio com o objetivo de afugentar os ladrões. O tiro, que era para ser de advertência, atinge em cheio a frágil jovem pelas costas.
  • 62. Ela ainda se arrasta por 30 metros antes de cair sem vida no asfalto manchado de vermelho. No bolso traseiro de sua calça levava um cachimbo de crack, feito de uma tampa de tubo de pasta de dente e uma antena oca de rádio de carro.
  • 63. A outrora adolescente de cabelos cor de mel, olhos expressivos e sorriso claro passou seus últimos dias... ...num casarão abandonado, sujo e úmido, em companhia de prostitutas, travestis, mendigos e viciados.
  • 64. Desde muito jovem Nelson dal Poggetto sabia o que era sofrer. Ao 12 anos começou sua aflitiva jornada pelo mundo das drogas, iniciando com álcool e maconha, para em seguida passar para cocaína e crack.
  • 65. Internado duas vezes, volta a fumar o cachimbinho de crack pouco tempo depois de receber alta. Durante as recaídas, troca celular e outros pertences por droga, mergulhando num ciclo de depressão e arrependimento.
  • 66. Aos 19 anos, antes de cometer suicídio, deixa um bilhete de despedida para a família:... “Amei muito vocês e vou tranquilo. Isso vai ser um alívio”.
  • 67. Adriana de Oliveira era uma garota linda e cheia de sonhos, tida por todos que a conheciam como uma pessoa meiga, doce, brincalhona e amante da vida. Era boa aluna na escola, e tocava piano.
  • 68. A jovem de 20 anos, de olhos azulados, pele morena e cabelos escorridos pelos ombros iniciava uma promissora carreira como modelo. Parecia ser uma dessas pessoas abençoadas, para quem nada dá errado na vida.
  • 69. No entanto, a vida de Adriana toma um outro rumo após o namorado, um rapaz que cursa o 3º ano de direito e filho de um bem-sucedido advogado, a apresentar ao mundo das drogas.
  • 70. Quão tênue e vulnerável é a linha que separa a experimentação e o uso recreativo do risco potencial que as drogas representam.
  • 71. Durante uma festa numa chácara, Adriana passa mal, sente dificuldades para respirar e apresenta um quadro convulsivo. Ao ser transportada para o pronto-socorro já é tarde demais.
  • 72. O laudo médico revela a causa da morte: – uma mistura fatal de álcool, maconha e cocaína. Mais uma precoce partida, aos 20 anos. Mais uma história interrompida pelo álcool, pela maconha e cocaína.
  • 73. Diante das histórias de Adriana, Nelson, Cristiane e de tantos outros jovens, talvez seja hora de refletirmos sobre os valores que norteiam a nossa sociedade.
  • 74. Uma sociedade de consumo voraz, que transformou a busca do prazer imediato e da satisfação numa condição existencial essencial.
  • 75. Jovens desorientados, que buscam nos prazeres ilusórios uma forma de se libertar do peso de uma sociedade que desumanizou o homem e humanizou o dinheiro e os bens materiais.
  • 76. Tristes retratos do fracasso dos laços de sociabilidade familiar e comunitária. O desamor e o nãoreconhecimento afetivo servindo de pilares para uma vivência vazia.
  • 77. Que sociedade é esta que construímos, tão repleta de valores desvirtuados? Talvez seja hora de, enfim, refletirmos com mais atenção sobre o impacto devastador da nossa atual programação televisiva, que golpeia especialmente, com cruel violência, crianças, jovens e adolescentes.
  • 78. Anúncios que associam a felicidade e o bem-estar ao consumo de bebidas alcoólicas. (uma droga tão ou mais nociva que as ilícitas)
  • 79. Artistas com imenso apelo junto ao público infanto-juvenil servindo de “exemplo” para gerações de crianças e adolescentes.
  • 80. Empresários, artistas, publicitários e donos de emissoras de tv faturam bilhões. E nós arcamos com os danos e custos sociais decorrentes.
  • 81. Programas que massacram a subjetividade e anulam o senso crítico, banalizando e mercantilizando a existência.
  • 82. “Vamos bisbilhotar” “Pode espiar à vontade” “Pra que educação, arte ou cultura?” “Vamos banalizar a existência” “Viva a futilidade!”
  • 83. A torrente abusiva de publicidade que invade os lares e formata a mente de crianças e adolescentes desde a mais tenra idade.
  • 84. A mensagem impregnada em mentes indefesas, de que somos o que possuímos, e que viver se resume a consumir.
  • 85. “Troque de carro, troque de celular, beba mais cerveja, etc. etc. etc...”
  • 86. Uma vida centrada em bens materiais, uma existência sem um sentido ou propósito mais nobre.
  • 87. Nada melhor do que a televisão para preencher uma vida vazia, carente de aspirações elevadas e sem padrões morais firmes...
  • 88. Não seria uma vida vazia de propósito, sentido e conteúdo uma porta de fácil entrada para o abuso do álcool, a maconha, a cocaína, o crack e todas as demais drogas que entorpecem a mente?
  • 89. Talvez seja hora de refletirmos sobre como a atual programação televisiva está contribuindo para solapar as bases éticas e morais necessárias para que crianças, jovens e adolescentes possam resistir às falsas promessas que as drogas (lícitas e ilícitas) oferecem.
  • 90. Acreditar que as forças policiais conseguirão sozinhas algum dia resolver o problema das drogas é ignorar as causas reais que alimentam a degradação moral, e o tráfico e vício subsequentes.
  • 91. O máximo que as forças policiais isoladamente conseguirão é prosseguir na sua heroica tarefa de “enxugar gelo”,... ...entupindo cada vez mais e mais e mais as já desumanas e superlotadas prisões.
  • 92. Para reverter a batalha contra as drogas, devemos buscar novos paradigmas sociais e existenciais. Buscar corrigir as causas estruturais que conduzem ao vício que alimenta o tráfico.
  • 93. Vejamos alguns componentes do nosso complexo mosaico social tão repleto de falhas, que precisam ser discutidas e sanadas caso queiramos construir uma sociedade soberana e livre:...
  • 94. Graves Desigualdades Sociais s s Baixa qualidade da Educação s Corrupção Política Uso de Drogas Ilícitas Pobreza Moral e Cultural Individualismo Exacerbado Materialismo e Consumismo s Programação Televisiva s s Consumo de Bebidas Alcoólicas Criminalidade e Violência
  • 95. s Corrupção Política Graves Talvez seja hora Desigualdades Baixa qualidade de acordarmos da Educação para o fatoSociais de que Uso de a epidemia Drogas Ilícitas das drogas é apenas Criminalidade um dos sintomas Consumo de e Violência de um problema Bebidas Alcoólicas muito Pobreza Moral mais amplo, e Cultural Individualismo que encontra sua origem no grave descaso Exacerbado com a Educação Programação Materialismo no país. e a Infância Televisiva e Consumismo s s s s s
  • 96. O escritor José Saramago dizia: “Para se acabar com as velhas prisões, É necessário construir novas escolas.”
  • 97. “No Brasil, a educação das massas ainda é uma utopia verde-amarela.” Silviano Santiago
  • 98. Na guerra contra as drogas, mais importante do que soldados e policiais são os professores e educadores.
  • 99. Uma educação plena, capaz de transmitir valores e virtudes, conduzindo cada criança em direção à sua plenitude.
  • 100. Uma educação capaz de banhar de sentido, propósito e bondade as vidas que iniciam sua jornada pelos caminhos do mundo.
  • 101. O legítimo anseio que todos trazemos no peito, de descobrir por que existimos, e de revestir os nossos dias de beleza, poesia, propósito e dignidade.
  • 102. O desejo de “ver com olhos livres”. A “alegria dos que não sabem e descobrem”.
  • 103. Há que se cuidar do broto, para que a vida nos dê flor e fruto.
  • 104. Trocar o amargo reprimir e remediar pela doçura de amar, ensinar, prevenir, e juntos descobrir.
  • 105. “Só a participação cidadã é capaz de mudar esse país.” Betinho
  • 106. Um outro mundo é possível.
  • 107. Projeto “Compaixão e Cidadania” Um espaço para refletirmos sobre temas essenciais. compaixao_cidadania@hotmail.com