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Hotel Toffolo é ponto de referência cultural e histórica em Ouro
Preto

Casarão ganhou poema de Drummond, pinturas de Takaoka e
foi escolhido por Manuel Bandeira para ser o ponto de partida
de seu guia sobre a cidade


Ana Clara Brant - EM Cultura




 Aos 82 anos, Gracinda Toffolo se orgulha de preservar o hotel e suas recordações, ligando o
 nome da família à cultura brasileira.



Naquele ambiente Guignard desenhava, Drummond ansiava pelo seu “pão de nuvens” e
Sivuca tocava sua inseparável sanfona. Também ali, Vinicius de Moraes não desgrudava do
seu cachorro engarrafado, o uísque, Manuel Bandeira elaborava o famoso Guia de Ouro Preto
e Takaoka pintava seus cavalinhos.

Tudo num casarão setecentista localizado no número 72 da Rua São José, em Ouro Preto, a
antiga Rua Tiradentes. O Hotel Toffolo, que há 110 anos é propriedade da família de mesmo
nome, que veio da Itália no fim do século 19, é mais do que um pouso para turistas e viajantes
de todos os lugares. É sobretudo um ponto de referência cultural e histórica da antiga Vila
Rica.

Cada canto, cada degrau, cada parede de pau a pique guarda uma relíquia. A atual
proprietária do hotel, que ainda recebe hóspedes a uma diária de aproximadamente R$ 80, é
uma simpática senhora de 82 anos. Gracinda Toffolo, nora do fundador do estabelecimento,
“seu” Olívio Ângelo Toffolo, — falecido em 1971 — tem coração e uma pressão de fazer
inveja. “O médico diz que minha saúde é de menina. Sou muito dinâmica. Subo essa
escadaria aqui toda hora e isso é um ótimo exercício”, justifica.

Realmente, a presteza em subir os 40 degraus íngremes que levam ao último andar do
casarão e a animação em dirigir seu fusquinha 1974 pelas ladeiras históricas de Ouro Preto
impressionam. Isso sem contar a disposição para administrar o hotel, além do bar e
restaurante que funcionam no andar de baixo do sobrado. “A gente sempre abriu para almoço
e jantar, mas o restaurante agora só funciona de terça a domingo, a partir das 17h. E fico aqui
até o último cliente, mesmo que seja de madrugada. Se tiver hóspede para tomar café da
manhã às 7h, já estou de pé”, gaba-se dona Gracinda.

  Os livros de registros do hotel, que acabaram se perdendo no tempo, mostravam nomes de
peso. Os poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Olavo Bilac; o urbanista
Lúcio Costa, os artistas plásticos Alberto Guignard e o japonês Yoshiya Takaoka, fora os que
apenas passaram pelo bar e restaurante do hotel que, durante muitos anos, foi um dos únicos
da cidade. “O Toffolo sempre foi o ponto de maior convergência de Ouro Preto. Ele é um hotel,
bar e restaurante, então era natural que muita gente viesse aqui seja como hóspede ou
frequentador do restaurante. Até porque, durante muitos anos não havia muita opção nesse
sentido na cidade. Muitos passaram e ainda passam por aqui. Políticos, artistas, intelectuais.
Gente como Vinicius de Moraes, que afirmava que aqui era o melhor bar da cidade, Pedro
Nava, Cecília Meireles, Gonzaguinha, Sivuca”, conta o gerente do bar e filho de Gracinda,
Rodrigo Toffolo.

Histórias Cada figura que circulou por ali tem um caso para contar. O mestre Guignard, que
chegou a morar no hotel, é lembrado com carinho pelos Toffolo. “Ele era vermelho, gordo, era
muito doce e gostava bastante de crianças. E ficava na mesa do restaurante desenhando por
horas, tomando seu conhaque e fumando um charuto”, recorda Gracinda. Como não tinha
onde ficar, acabou sendo acolhido por “seu” Olívio Toffolo. O fundador do hotel se apiedou do
artista, que dormia na rua e “criava coisas lindas”. “Guignard veio para cá como um mendigo.
Ele não tinha dinheiro, não tinha onde ficar. E então, „seu‟ Toffolo ficou com pena e deu cama,
comida, abrigo. Ele gostava muito daqui. Mas „seu‟ Toffolo nunca aceitou um quadro dele,
apesar de Guignard ter oferecido várias vezes. Meu sogro achava que quando uma mão
ajuda, a outra não quer recompensa”, explica a matriarca da família.

Se nenhuma obra de arte de Alberto Guignard enfeita o histórico casarão, há outras
preciosidades artísticas por lá. A começar pelos famosos cavalos do pintor japonês Yoshiya
Takaoka, que adornam a parede localizada logo atrás do balcão do bar e restaurante. “O
Takaoka adorava ficar pelas ruas de Ouro Preto pintando mãos e cavalos. Um dia, lá pelos
anos 1970, ele chegou e disse: „Esta parede está muito vazia, branca, ela precisa de alguma
coisa‟. E aí pegou um bambu, colocou o pincel na borda e criou esses cavalos. E foi muito
rápido. É uma beleza de obra de arte”, repara Gracinda Toffolo. Já o refeitório conta com uma
bela pintura da Santa Ceia do artista plástico Edésio Esteves.

Até inspiração para Drummond o Toffolo serviu e se transformou em poema do itabirano. Reza
a lenda que durante uma de suas temporadas no hotel ele chegou para jantar, mas não
encontrou o restaurante aberto. A fome do poeta virou verso: “E vieram dizer-nos que não
havia jantar. Como se não houvesse outras fomes e outros alimentos. Como se a cidade não
nos servisse o seu pão de nuvens”.

“Para poder jantar tinha que deixar o nome anotado e o Drummond não deixou. E acabou
criando poesia em cima desse fato. Até o pão de nuvens que ele cita estaria associado à típica
neblina ouro-pretana”, observa Rodrigo Toffolo. O quarto onde Carlos Drummond de Andrade
e o colega Manuel Bandeira costumavam se hospedar fica no último andar do casarão, pelo
menos é o que especula Rodrigo. Simples e aconchegante: duas camas, uma cômoda, um
criado e uma bela paisagem na janela. “A gente acredita que seja lá que eles ficavam porque
o Drummond sempre comentava que mesmo de dentro do quarto era possível contemplar a
beleza de Ouro Preto”, acrescenta.

Gracinda lembra que o poeta mineiro era muito pensativo e quieto. Não era de beber, mas
gostava de observar e degustar um picadinho de carne com queijo derretido por cima. “A
gente acabou criando um tira-gosto que é nosso carro-chefe e foi inspirado nesse prato do
Drummond: carne na chapa com batata e mandioca e queijo em cima, que se chama Véu de
noiva”, revela.

O outro poeta frequentador do Toffolo, o pernambucano Manuel Bandeira, se hospedou pela
primeira vez no hotel na década de 1930 e foi nesse período que elaborou um guia turístico
notório sobre a antiga Vila Rica: o Guia de Ouro Preto, publicado em 1938. E é justamente no
Toffolo que se inicia o roteiro.

Porém, o que mais chama a atenção quando se visita o Hotel Toffolo é que ele, em pleno
2011, é praticamente o mesmo sobrado que abrigou tanta gente ilustre no passado. Algumas
reformas e modificações foram executadas ao longo dos anos. Entretanto os mesmos lustres,
móveis, piso, teto e outros objetos decorativos compõem o ambiente há décadas. “O hotel
sempre foi muito simples, mas acolhedor, com um ótimo astral. O lugar é praticamente o
mesmo de quando começou. A essência é a mesma e é assim que preservamos sua história,
tradição e o nome da nossa família que, para mim, é a nossa maior riqueza”, resume dona
Gracinda Toffolo.

Hóspedes e frequentadores ilustres

Alberto Guignard
Carlos Drummond de Andrade
Manuel Bandeira
Yoshiya Takaoka
Vinicius de Moraes
Lúcio Costa
Cecília Meireles
Olavo Bilac
Pedro Nava
Sivuca
Amílcar de Castro
Gonzaguinha

Enquanto isso...
...Em Nova York
O hotel mais emblemático da cidade, localizado no Bairro de Chelsea, em Manhattan, não
recebe mais hóspedes desde a semana passada. O Chelsea Hotel foi comprado por US$ 80
milhões por Joseph Chetrit, que ainda não decidiu o que fará com o edifício, construído em
1884. Por enquanto, os hóspedes fixos continuam morando no hotel. Pelos quartos passaram
artistas de todas as áreas, que moldaram a cultura norte-americana no século passado. Entre
os mais ilustres estão Bob Dylan, Charles Bukowski e Robert Crumb, que chegaram a morar
no hotel. Foi em uma suíte que Sid Vicius esfaqueou e matou a namorada, Nancy Spungen.
Lá também morreu Dylan Thomas. Mas não somente de tragédias o hotel é marcado. A
música Chelsea Hotel #2 foi escrita por Leonard Cohen depois de uma noite de amor com
Janis Joplin, no quarto número dois. (Daniel Camargos)


Hotel Toffolo
E vieram dizer-nos que não havia jantar.
Como se não houvesse outras fomes e outros alimentos.
Como se a cidade não nos servisse o seu pão de nuvens.
Não, hoteleiro, nosso repasto é interior e só pretendemos a mesa.
Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no coração, é ceia.

Carlos Drummond de Andrade
Marcos Michelin/EM/D.A Press
Em: Jornal Estado de Minas de 11 de agosto de 2011
Hotel toffolo 1

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  • 1. Hotel Toffolo é ponto de referência cultural e histórica em Ouro Preto Casarão ganhou poema de Drummond, pinturas de Takaoka e foi escolhido por Manuel Bandeira para ser o ponto de partida de seu guia sobre a cidade Ana Clara Brant - EM Cultura Aos 82 anos, Gracinda Toffolo se orgulha de preservar o hotel e suas recordações, ligando o nome da família à cultura brasileira. Naquele ambiente Guignard desenhava, Drummond ansiava pelo seu “pão de nuvens” e Sivuca tocava sua inseparável sanfona. Também ali, Vinicius de Moraes não desgrudava do seu cachorro engarrafado, o uísque, Manuel Bandeira elaborava o famoso Guia de Ouro Preto e Takaoka pintava seus cavalinhos. Tudo num casarão setecentista localizado no número 72 da Rua São José, em Ouro Preto, a antiga Rua Tiradentes. O Hotel Toffolo, que há 110 anos é propriedade da família de mesmo nome, que veio da Itália no fim do século 19, é mais do que um pouso para turistas e viajantes de todos os lugares. É sobretudo um ponto de referência cultural e histórica da antiga Vila Rica. Cada canto, cada degrau, cada parede de pau a pique guarda uma relíquia. A atual proprietária do hotel, que ainda recebe hóspedes a uma diária de aproximadamente R$ 80, é uma simpática senhora de 82 anos. Gracinda Toffolo, nora do fundador do estabelecimento, “seu” Olívio Ângelo Toffolo, — falecido em 1971 — tem coração e uma pressão de fazer inveja. “O médico diz que minha saúde é de menina. Sou muito dinâmica. Subo essa
  • 2. escadaria aqui toda hora e isso é um ótimo exercício”, justifica. Realmente, a presteza em subir os 40 degraus íngremes que levam ao último andar do casarão e a animação em dirigir seu fusquinha 1974 pelas ladeiras históricas de Ouro Preto impressionam. Isso sem contar a disposição para administrar o hotel, além do bar e restaurante que funcionam no andar de baixo do sobrado. “A gente sempre abriu para almoço e jantar, mas o restaurante agora só funciona de terça a domingo, a partir das 17h. E fico aqui até o último cliente, mesmo que seja de madrugada. Se tiver hóspede para tomar café da manhã às 7h, já estou de pé”, gaba-se dona Gracinda. Os livros de registros do hotel, que acabaram se perdendo no tempo, mostravam nomes de peso. Os poetas Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Olavo Bilac; o urbanista Lúcio Costa, os artistas plásticos Alberto Guignard e o japonês Yoshiya Takaoka, fora os que apenas passaram pelo bar e restaurante do hotel que, durante muitos anos, foi um dos únicos da cidade. “O Toffolo sempre foi o ponto de maior convergência de Ouro Preto. Ele é um hotel, bar e restaurante, então era natural que muita gente viesse aqui seja como hóspede ou frequentador do restaurante. Até porque, durante muitos anos não havia muita opção nesse sentido na cidade. Muitos passaram e ainda passam por aqui. Políticos, artistas, intelectuais. Gente como Vinicius de Moraes, que afirmava que aqui era o melhor bar da cidade, Pedro Nava, Cecília Meireles, Gonzaguinha, Sivuca”, conta o gerente do bar e filho de Gracinda, Rodrigo Toffolo. Histórias Cada figura que circulou por ali tem um caso para contar. O mestre Guignard, que chegou a morar no hotel, é lembrado com carinho pelos Toffolo. “Ele era vermelho, gordo, era muito doce e gostava bastante de crianças. E ficava na mesa do restaurante desenhando por horas, tomando seu conhaque e fumando um charuto”, recorda Gracinda. Como não tinha onde ficar, acabou sendo acolhido por “seu” Olívio Toffolo. O fundador do hotel se apiedou do artista, que dormia na rua e “criava coisas lindas”. “Guignard veio para cá como um mendigo. Ele não tinha dinheiro, não tinha onde ficar. E então, „seu‟ Toffolo ficou com pena e deu cama, comida, abrigo. Ele gostava muito daqui. Mas „seu‟ Toffolo nunca aceitou um quadro dele, apesar de Guignard ter oferecido várias vezes. Meu sogro achava que quando uma mão ajuda, a outra não quer recompensa”, explica a matriarca da família. Se nenhuma obra de arte de Alberto Guignard enfeita o histórico casarão, há outras preciosidades artísticas por lá. A começar pelos famosos cavalos do pintor japonês Yoshiya Takaoka, que adornam a parede localizada logo atrás do balcão do bar e restaurante. “O Takaoka adorava ficar pelas ruas de Ouro Preto pintando mãos e cavalos. Um dia, lá pelos anos 1970, ele chegou e disse: „Esta parede está muito vazia, branca, ela precisa de alguma coisa‟. E aí pegou um bambu, colocou o pincel na borda e criou esses cavalos. E foi muito rápido. É uma beleza de obra de arte”, repara Gracinda Toffolo. Já o refeitório conta com uma bela pintura da Santa Ceia do artista plástico Edésio Esteves. Até inspiração para Drummond o Toffolo serviu e se transformou em poema do itabirano. Reza a lenda que durante uma de suas temporadas no hotel ele chegou para jantar, mas não encontrou o restaurante aberto. A fome do poeta virou verso: “E vieram dizer-nos que não havia jantar. Como se não houvesse outras fomes e outros alimentos. Como se a cidade não nos servisse o seu pão de nuvens”. “Para poder jantar tinha que deixar o nome anotado e o Drummond não deixou. E acabou criando poesia em cima desse fato. Até o pão de nuvens que ele cita estaria associado à típica neblina ouro-pretana”, observa Rodrigo Toffolo. O quarto onde Carlos Drummond de Andrade e o colega Manuel Bandeira costumavam se hospedar fica no último andar do casarão, pelo menos é o que especula Rodrigo. Simples e aconchegante: duas camas, uma cômoda, um criado e uma bela paisagem na janela. “A gente acredita que seja lá que eles ficavam porque o Drummond sempre comentava que mesmo de dentro do quarto era possível contemplar a beleza de Ouro Preto”, acrescenta. Gracinda lembra que o poeta mineiro era muito pensativo e quieto. Não era de beber, mas gostava de observar e degustar um picadinho de carne com queijo derretido por cima. “A gente acabou criando um tira-gosto que é nosso carro-chefe e foi inspirado nesse prato do
  • 3. Drummond: carne na chapa com batata e mandioca e queijo em cima, que se chama Véu de noiva”, revela. O outro poeta frequentador do Toffolo, o pernambucano Manuel Bandeira, se hospedou pela primeira vez no hotel na década de 1930 e foi nesse período que elaborou um guia turístico notório sobre a antiga Vila Rica: o Guia de Ouro Preto, publicado em 1938. E é justamente no Toffolo que se inicia o roteiro. Porém, o que mais chama a atenção quando se visita o Hotel Toffolo é que ele, em pleno 2011, é praticamente o mesmo sobrado que abrigou tanta gente ilustre no passado. Algumas reformas e modificações foram executadas ao longo dos anos. Entretanto os mesmos lustres, móveis, piso, teto e outros objetos decorativos compõem o ambiente há décadas. “O hotel sempre foi muito simples, mas acolhedor, com um ótimo astral. O lugar é praticamente o mesmo de quando começou. A essência é a mesma e é assim que preservamos sua história, tradição e o nome da nossa família que, para mim, é a nossa maior riqueza”, resume dona Gracinda Toffolo. Hóspedes e frequentadores ilustres Alberto Guignard Carlos Drummond de Andrade Manuel Bandeira Yoshiya Takaoka Vinicius de Moraes Lúcio Costa Cecília Meireles Olavo Bilac Pedro Nava Sivuca Amílcar de Castro Gonzaguinha Enquanto isso... ...Em Nova York O hotel mais emblemático da cidade, localizado no Bairro de Chelsea, em Manhattan, não recebe mais hóspedes desde a semana passada. O Chelsea Hotel foi comprado por US$ 80 milhões por Joseph Chetrit, que ainda não decidiu o que fará com o edifício, construído em 1884. Por enquanto, os hóspedes fixos continuam morando no hotel. Pelos quartos passaram artistas de todas as áreas, que moldaram a cultura norte-americana no século passado. Entre os mais ilustres estão Bob Dylan, Charles Bukowski e Robert Crumb, que chegaram a morar no hotel. Foi em uma suíte que Sid Vicius esfaqueou e matou a namorada, Nancy Spungen. Lá também morreu Dylan Thomas. Mas não somente de tragédias o hotel é marcado. A música Chelsea Hotel #2 foi escrita por Leonard Cohen depois de uma noite de amor com Janis Joplin, no quarto número dois. (Daniel Camargos) Hotel Toffolo E vieram dizer-nos que não havia jantar. Como se não houvesse outras fomes e outros alimentos. Como se a cidade não nos servisse o seu pão de nuvens. Não, hoteleiro, nosso repasto é interior e só pretendemos a mesa. Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras. Tudo se come, tudo se comunica, tudo, no coração, é ceia. Carlos Drummond de Andrade
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  • 7. Em: Jornal Estado de Minas de 11 de agosto de 2011