Este documento descreve os princípios fundamentais da medicina Ayurvédica. Resume os conceitos de doshas, gunas e as quatro funções da mente no sistema Ayurvédico - Vata, Pitta, Kapha, Manas, Ahamkara, Buddhi e Chitta. Explica como cada guna (Sattva, Rajas e Tamas) influencia a mente e o comportamento e como o desequilíbrio dos gunas pode levar à doença. Finalmente, discute como a alimentação está ligada aos gunas.
1. Instituto de Medicina Tradicional
Curso de Naturopatia e Ciências Tradicionais Holísticas
Medicina Ayurvédica
Trabalho de:
Diana Silva
2. Ayurveda significa “a ciência da vida” em Sãnscrito. É o sistema de cura mais antigo do qual
dispomos, sendo proveniente dos “Vedas”, os primeiros textos escritos da humanidade;
Por milhares de anos a Ayurveda e o Yoga foram inter-relacionados como sendo modalidades
de tratamento físico e psicológico.
O base do Ayurveda é a compreensão das energias existentes
no corpo e na mente humana. Estas energias primordiais são
chamadas de Doshas: Vata, Pitta e Kapha existentes nos nossos
corpos e no universo físico.
O Ayurveda apresenta uma visão diferente sobre a mente e sobre a
origem psicossomática da doença ao propor a idéia de que existem três diferentes disposições
mentais e espirituais chamadas Gunas. Estas disposições são Satva, Rajas e Tamas, e estão
inerentes a todos os aspectos da vida.
3. A mente é dividida em 4 partes, cada uma com a sua função específica.
Sendo as quatro funções da mente : Manas, Ahamkara, Buddhi e Chitta.
Manas
É a mente inferior;
É ela que interage com o mundo exterior, captando
impressões sensoriais e informações.;
Por natureza, manas questiona e duvida, podendo
causar-nos problemas se essa tendência for excessiva.;
Executa o papel de nos direccionar, mas não é quem toma as decisões chave, que está a cargo de
Buddhi. Tende a seguir as “vozes” presentes no banco da memória das impressões, Chitta;
Uma boa maneira de coordenar o funcionamento de Manas é vigiar os pensamentos e
sentimentos, sem auto-culpa;
Manas não é o chefe, mas o supervisor que dá as ordens directas aos sentidos cognitivos e activos .
4. Chitta
Chitta é o banco das memórias, onde as impressões captadas pelos sentidos são
armazenadas.
Se as funções de chitta não estiverem coordenadas, as incontáveis impressões armazenadas
e que estão de forma latente tendem a se manifestar de maneira intensa, levando a nossa
mente a agir em função de coisas não tão úteis.
Quando a relação de Manas e Buddhi não estão coordenadas, as
impressões latentes presentes em Chitta competem entre si e na maioria
das vezes conseguem com que Manas direcione as suas informações, em
vez das informações provenientes de Buddhi.
Uma boa maneira de testemunhar o funcionamento de Chitta é ficar
atento a pensamentos que surgem como uma onda sem causa aparente.
Percebendo o surgir desses pensamentos fica mais fácil o controle e
coordenação de Chitta com as outras funções da mente.
5. Ahamkara
Ahamkara é o senso da individualidade, do Eu (Ego);
Identifica-nos com as nossas funcionalidades, mas no entanto também
nos dá a sensação de separação, sofrimento e alienação. Ahamkara é a
entidade que se apodera das experiências vividas.
Uma boa maneira de perceber o funcionamento do Ego é estar ciente de
que cada pensamento está acompanhado do sentimento de gosto ou
desgosto.
O Ego não deve ser aniquilado ou destruído. Ele deve ser conquistado
e através do amor, e não da força.
O Ego é algo muito importante, pois ele é uma espécie de interface
entre a consciência e a mente. Sem ele a nossa consciência não
conseguiria atuar nesse plano de existência.
6. Buddhi Buddhi é a mente superior, o aspecto mais elevado da mente. Tem a
capacidade de decidir, julgar e de fazer discriminações cognitivas e
diferenciações. É através de Buddhi que podemos escolher o melhor
caminho entre dois cursos de acção e se Buddhi estiver a funcionar de
forma clara, Manas irá aceitar o direccionamento.
É Buddhi quem tem que ser o “tomador de decisões”. Temos que
cultivar Buddhi, caso contrário, Manas irá seguir os direcionamentos
dos nossos desejos e impressões armazenadas em Chitta.
No entanto, a mesma capacidade de discriminar acentua até certo
ponto a nossa sensação de separatividade, vendo dualidade onde há
unidade.
Uma das maneiras de perceber a acção de buddhi é a identificação do
que chamamos “intuição”.
7. Os Gunas podem ser descritos como energias, como
qualidades ou forças. Eles representam um triângulo de
forças simultaneamente opostas e complementares que
governam tanto o universo físico como a nossa
personalidade e padrões de pensamento na vida
do dia-a-dia, dando origem às nossas realizações
ou fracassos, alegrias ou infelicidades, saúde ou doença.
Os três Gunas são as qualidades mais sutis da natureza que fundamentam a vida, matéria e
mente. Eles são as energias através do qual não só da mente á superfície, mas as nossas
funções mais profundas da consciência ,se regem. Eles são os poderes da alma, que
mantêm os karmas e desejos que nos impulsionam desde o nascimento até á morte.
8. Eles são referidos como o "doshas mentais", uma vez que descrevem as qualidades e as
actividades da mente. Viver em sociedade exige um equilíbrio entre os gunas, Sattva, Rajas
e Tamas - um desequilíbrio pode resultar em agitação mental, o que pode resultar em
desequilíbrio de Vata, Pitta e Kapha, levando a várias doenças.
Assim, ao invés de tratar os sintomas da doença directamente, o tratamento em Ayurveda
visa reequilibrar o seu doshas segundo a sua constituição (Prakriti), resultando num corpo
e mente saudáveis Ao tornar-se familiarizado com o seu dosha e dosha mental cada
pessoa pode levar uma vida que esteja mais em harmonia com sua natureza individual.
9. Sattva é a qualidade da virtude, inteligência e bondade e cria harmonia, equilíbrio e estabilidade;
É leve e luminoso, na natureza e traz o despertar da alma;
Sattva proporciona felicidade e contentamento de um carácter duradouro;
É o princípio da amplitude, clareza e paz,
a força do amor que une todas as coisas.
Se Sattva predomina:
Podemos ter momentos de inspiração, de afecto
desinteressado, de alegria tranquila ou calma meditativa.
A mente torna-se firme como a chama de uma lamparina num local onde não há vento. A mente
equilibrada ajuda tanto a actividade quanto a meditação, e aquele que é predominantemente
Sattvico pode meditar com eficácia e é capaz de ter uma verdadeira concentração.
As qualidades da pessoa na qual Sattva predomina incluem a coragem, a integridade, a pureza, a
capacidade de perdoar e a ausência da paixão, da raiva e do ciúme. Esta pessoa é calma e feliz.
10. Pessoas de natureza sattivica:
São naturalmente inteligentes, com uma boa memória, instintivamente ordenados, cuidam bem de si
próprios e são conscientes da sua saúde. São gentis e atenciosos com os outros ,com boas maneiras .
São focados no trabalho, no auto-aperfeiçoamento e em actividades intelectuais ou espirituais.
Prontamente compartilham o que têm e gostam de o fazer, mas sem esperar nenhuma recompensa em
troca. Vêem a vida como uma experiência de aprendizagem produtiva e não invejam a posição dos
outros, nem guardam rancor. Eles não procuram acumular riqueza ou status.
Assim, o homem sáttvico é um tipo humano superior, mais interiorizado, capaz de encontrar uma
síntese lúcida no meio dos impactos externos, dos quais se vai deixando de tornar dependente. É o
homem que encontra os Valores da Harmonia, da Justiça, da Verdade, da Sabedoria, e que se
desapega das coisas que satisfazem o desejo egoísta. É o homem polarizado nos níveis superiores do
Mental, em Buddhi-Manas, ou seja, a Mente (Manas) iluminada por Buddhi (Razão
Pura, Discernimento, Intuição).
11. Rajas encerra movimento, agressividade e extroversão. É a qualidade da mudança,
actividade e turbulência. Introduz o desequilíbrio mental.
Rajas é motivado na sua acção sempre em busca de uma meta ou um fim que lhe dá poder. Enquanto
que a curto prazo Rajas é estimulante e proporciona prazer, devido à sua natureza desequilibrada
rapidamente resulta em dor e sofrimento. É a força da paixão que causa sofrimento e conflito.
A mente rajásica opera no nível sensual. Indivíduos rajásicos interessam-se por
negógios, prosperidade, poder e prestígio; gostam da riqueza e são geralmente extrovertidos.
Se Rajas preomina:
A pessoa com Rajas dominante nunca fica em paz. Rajas provoca explosões de raiva e gera um desejo
intenso. Ele toma a pessoa inquieta e descontente, e dá origem a uma contínua actividade. Não consegue
permanecer sentada, quieta; ela precisa de ter sempre algo para fazer.
Rajas anseia sempre por mais poder para ser capaz de dominar os outro. A manifestação directa do
Rajas dominante é a chama insaciável do desejo. Quanto mais ela consegue satisfazer os desejos, mais
ela quer. Ela conquista riqueza, poder, reputação e fama, mas nunca é suficiente. Além disso, ele busca a
satisfação contínua dos desejos (comida, sexo), a estimulação dos sentidos (música, cor, fragrância) e
entretenimento (festas, as funções, festivais).
12. Ele pode ser bravo e corajoso, mas muitas vezes mostrar o ciúme, a malícia, crueldade, emoções
excessivas e comportamento egoísta. Pessoas com este temperamento pode ser extremamente
determinada, manipuladora, egoísta e orgulhoso.
As pessoas de natureza rajásica raramente dão incondicionalmente. É sempre feito com alguma
relutância e demonstrar generosidade (ou com alguma expectativa) ao invés de altruísmo
genuíno. As relações são, portanto, baseadas principalmente nas suas próprias necessidades e
desejos, em vez de interesse recíproco e respeito. com Sattva.
A mente rajásica quer sempre novas sensações e variedade. Ela gosta de certas
pessoas, objectos e lugares e agora, depois de algum tempo, torna-se desgostoso
com eles. A mente rajásica tem uma tendência a olhar para os defeitos dos
outros. Ele também lembra as más acções ou erros cometidos por outros e se
esquece facilmente dos seus bons actos. Essas duas tendências intensificar o ódio e
causar perturbação frequente na mente. Para que a pessoa tenha uma vida
proveitosa e paz de espírito, Rajas precisa ser apaziguado e equilibrado .
13. Tamas manifesta-se na ignorância, na inércia, brutalidade e estupidez;
tal como no desamparo, embotamento, e confusão;
Leva á preguiça, egoísmo e tendência para destruir os outros;
Pessoas tamásicas não alcançam a auto-realização e estão constantemente insatisfeitas.
Se Tamas domina:
A s pessoas são ignorantes, preguiçosas e com medos. Podem ser teimosos ou obstinados, e desatenciosos
para com aqueles que os rodeiam. Pessoas tamásicas mostram pouco ou nenhum desejo de se melhorar
fisicamente ou mentalmente, ou falta a força de vontade e disciplina para fazê-lo.;
Há pouco ânimo, sendo algumas das suas piores características: a preguiça, obstinação e um desespero
forte e profundo.
Quando Tamas domina, a mente pode ficar esquecida, sonolenta, apática e incapaz de qualquer acção ou
pensamento proveitoso. A pessoa dominada por Tamas pode se parecer mais com um animal do que com
um ser humano; sem poder fazer um julgamento claro, ela pode deixar de distinguir entre o certo e o
errado.
14. Se Tamas domina:
As pessoas tamásicas têm sono pesado e não são facilmente despertáveis, e geralmente são
sedentários.
É relativamente fácil reconhecer o homem tamásico pois caracteriza-se pela sua letargia, pela
sua insensibilidade, pela lentidão e inanidade das reacções psicológicas, pela reacção quase
exclusiva a estímulos brutais ou grosseiros, que são aqueles que lhe agradam e despertam
interesse.
Ela viverá para si mesma e poderá ferir os outros para satisfazer oss eus desejos. Na sua
ignorãncia e cegueira, ela poderá praticar acções perversas.
15. Todos os três gunas dependem uns dos outros e ajudam-se
mutuamente no precesso de evolução e no processo de
autodesenvolvimento;
No processo de se revelarem reciprocamente, um guna serve de
degrau para o outro. Uma coisa que é estável e dominada por tamas
recebe, de rajas, motivação e actividade. Oculto por tamas, sattva
recebe o auxílio de rajas para trazer-se a si mesmo á luz.
Os gunas nunca se separam um do outro, existem sempre como uma
unidade e um par. Eles são apenas interconversiveis, um pode
transformar-se no outro. Quando um guna domina, os outros dois
formam um par que permanece latente. Mas esses dois nunca estão
completamente distantes ou ausentes.
16. A tradição do Ayurveda ensina que alimento não é apenas nutrição, não serve apenas para nutrir o
corpo, mas também afecta a mente e a consciência, estando assim interligado aos Gunas. Assim os
alimentos também são classificados como sattvicos, rajásicos e tamásicos de acordo com as qualidades
mentais que eles promovem.
Os alimentos sáttvicos :
São fáceis de digerir, levam à percepção clara das coisas, desdobram-se em amor e compaixão;
Promovem as qualidades do perdão e da austeridade. São puros
leves, perfumados e activam os centros superiores de energia (chakras);
Conduzem à pureza do ser, ao equilíbrio da mente, à disposição, à boa
vontade, aguçam o discernimento, levam a uma mente tranquila
e livre de desejos;
Preparam para o desenvolvimento espiritual do homem,
são geradores de luz e vitalidade. Preparam a mente para meditação.
17. Alimentos sáttvicos :
Frutas e vegetais frescos;
Grãos como o milho, o trigo, o arroz integral e a aveia;
Fontes protéicas vegetais como as leguminosas, as
oleaginosas e as sementes;
Ervas, para serem utilizadas como tempero e para o
preparação de infusões;
Adoçantes naturais como o melado de cana, o suco de maçã
e o açúcar mascavo.
18. Os alimentos rajásicos :
São quentes, picantes e salgados;
Irritam e estimulam; são “tentadores” do tipo “impossível de comer um só”, como biscoitos e batatas
fritas. Estes alimentos fazem com que a mente fique mais susceptível às tentações;
Estimulam exageradamente o corpo e a mente, perturbando o equilíbrio e causando stress físico e mental.
São estimulantes do sistema nervosos e mobilizam a acção constante, levando-nos à inquietação e à
ansiedade. São alimentos que geram muita activação dos centros energéticos (chakras) inferiores.
Carnes vermelhas, peixe e aves;
Ovos, pimenta, condimentos fortes, alho e cebola;
Feijões não germinados, tomate;
Sal, bebidas alcoólicas fermentadas (vinho, cerveja);
Café, chá-mate, erva-mate, fumados, queijo e manteiga;
Alimentos fritos, açúcar, bolos, chocolate e vegetais que não são da estação.
19. Os alimentos tamásicos :
São pesados, conduzem à depressão, fazem as pessoas ficarem pesadas, lentas e preguiçosas.;
Roubam muita energia vital (prana) do corpo, pois ao consumir um alimento sem vitalidade o corpo gasta
muita energia vital para mobilizar todo o processo digestivo e excretor;
O efeito dos alimentos tamásicos na mente só se fazem sentir quando se come em excesso.
Se por exemplo alguém tem um excesso de qualidade rajásica, com hiper agitação e insónia, comer uma
pequena quantidade de alimentos tamásicos vai ajudá-la a acalmar-se e a corrigir a insónia.
Carnes de cordeiro, porco, queijos amarelos e gordurosos;
Pão branco, massa branca, refrigerantes e conservas;
Fast-food, doces artificiais, bolachas, biscoitos;
Alimentos velhos (sobras) ou reaquecidos;
Peixe, ovos, alimentos fritos, alimentos enlatados;
Alimentos processados quimicamente, industrializados,
refinados, empacotados, enchidos e bebidas alcoólicas.
20. Caldecott, Todd. – Ayurveda, The Divine Science of Life, Mosby
Elsivier, Inglaterra, 2006., ISBN- 13978-0- 7234- 3410-8
Johari, Harish – Dhanwantari, Editora Pensamento, São Paulo, 1998.
POLE, Sebastian. – Ayurvedic Medicine, Churchil Livingstone Elsevier, Inglaterra
2006, ISBN- 13978-0-443-10090-1.
vivendoayurveda.wordpress.com em 17/10/2011
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ayur-amrita.blogspot.com em 17/10/2011