O documento descreve o Arcadismo no Brasil do século XVIII, um movimento literário inspirado nos ideais do Iluminismo que se desenvolveu principalmente em Minas Gerais. O arcadismo valorizava a vida simples e a natureza e trouxe novos temas à literatura brasileira, como a paisagem tropical e os indígenas. Alguns dos principais autores mencionados são Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama.
2. Arcadismo no Brasil
O Arcadismo desenvolveu-se no Brasil do século XVIII e se
prendeu ao estado de Minas Gerais, onde se havia
descoberto ouro, fato que marcou o local como centro
econômico e, portanto, cultural da colônia portuguesa.
No apogeu da produção aurífera, entre as 1740 e 1760, Vila
Rica (hoje Ouro Preto) e o Rio de Janeiro substituíram a cidade
de Salvador como os dois polos da produção e divulgação de
ideias.
Os ideais do Iluminismo francês eram trazidos da Europa pelos
poucos membros da burguesia letrada brasileira -
juristas formados
em Coimbra, padres, comerciantes, militares.1
Alguns autores destacados desse momento são Cláudio
Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da
Gama e José de Santa Rita Durão.
O Arcadismo, também chamado Neoclassicismo, terminou
em 1836, no Brasil, e abriu as portas para o Romantismo.
3. Características
Delimita-se o Arcadismo no Brasil entre os anos de 1768 (publicação das Obras poéticas, de
Cláudio Manuel da Costa) e 1836 (início do Romantismo).
Apesar dos traços do cultismo barroco em alguns poetas, a maioria deles procurou seguir as
convenções dos neoclassicistas europeus. São elas:
Utilização de personagens mitológicas;
Idealização da vida campestre (bucolismo);
Eu lírico caracterizado como um pastor e a mulher amada como uma pastora (pastoralismo ou
fingimento poético);
Ambiente tranquilo, idealização da natureza, cenário perfeito e aprazível (locus amoenus);
Visão da cidade como local de sofrimento e corrupção (fugere urbem, fugir da cidade em
latim);
Elogio ao equilíbrio e desprezo às extremidades (aurea mediocritas - expressão de Horácio);
Desprezo aos prazeres do luxo e da riqueza (estoicismo);
Cortar o inútil ("inutilia truncat")
Aproveitamento do momento presente, aproveitar a vida, devido à incerteza do amanhã.
Vivência plena do amor durante a juventude, porque a velhice é incerta (carpe diem).2
Além das características trazidas da Europa, o arcadismo no Brasil adquiriu algumas
particularidades temáticas abaixo apontadas:
Inserção de temas e motivos não existentes no modelo europeu, como a paisagem tropical,
elementos da flora e da fauna do Brasil e alguns aspectos peculiares da colônia, como
amineração, por exemplo;
Episódios da história do país, nas poesias heroicas;
O índio como tema literário.
Esses novos temas já prenunciam o que seria o Romantismo no Brasil: a representação do
indígena e da cor local.
4. Poesia lírica
A poesia lírica, no Brasil, fica a cargo, principalmente, de Cláudio Manuel da
Costa e Tomás Antônio Gonzaga, sendo deste último a principal obra árcade do
país: Marília de Dirceu.
Soneto
Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci: oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os Tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura.
Cláudio Manuel da Costa
5. Cláudio Manuel da Costa
O introdutor do Arcadismo no Brasil estudou Direito em
Coimbra e voltou à terra natal para exercer a profissão e
cuidar de sua herança. Apesar da vida pacata em Vila
Rica, foi ele uma das vítimas do rigor com que o governo
português tratou os participantes da Inconfidência
Mineira. Preso em maio de 1789, após um interrogatório,
em julho, foi encontrado enforcado em seu cárcere. Há a
hipótese de ter sido assassinado.
Como poeta de transição sua poesia ainda está ligada ao
cultismo barroco, em vários aspectos. Mesmo assim, era
respeitado, admirado e tido como mestre por outros
poetas árcades, como Tomás Antônio Gonzaga
e Alvarenga Peixoto.
Sua obra lírica é constituída, principalmente,
de éclogas e sonetos. Dentre elas, são dignas de
destaque Obras poéticas - obra que introduziu o
Arcadismo - e Vila Rica - poema épico.
6. Tomás Antônio Gonzaga
Português de nascimento, Tomás Antônio Gonzaga
passou sua infância no Brasil. Voltou a Portugal e se
formou em Coimbra. A partir de 1782 passou a exercer o
cargo de ouvidorem Vila Rica.
Apaixonou-se aos 40 anos de idade por Maria Doroteia
Joaquina de Seixas, de 17 anos. A família da moça se
opôs ao namoro. Quando estava prestes a vencer as
resistências, foi preso e enviado para a ilha das Cobras,
no Rio de Janeiro, por ter participado da Inconfidência
Mineira, em 1789.
Os últimos anos de sua vida, passou exilado
em Moçambique, casado com a filha de um comerciante
de escravos. Nunca se casou com Maria Dorotéia, mas
transformou esse namoro no primeiro mito amoroso da
literatura brasileira e nele inspirou uma das mais
7. Marília de Dirceu
As Liras de Tomás Antônio Gonzaga, popularmente conhecidas
como Marília de Dirceu, constituem a obra poética de maior
relevância do século XVIII do Brasil e do Neoclassicismo
emlíngua portuguesa.
Duas tendências são perceptíveis nas liras de Gonzaga, assim
como é possível na obra:
O equilíbrio e o contentamento do Arcadismo, além da
utilização das paisagens neoclássicas: o pastor, a pastora, o
campo, a serenidade do local etc.;
O pré-Romantismo representado no emocionalismo, na
manifestação pungente da crise amorosa e, logo após, na
prisão, que reproduzem a crise existencial do poeta.
A todo momento, a emoção rompe a estilização arcádica,
surgindo, assim, uma poesia de alta qualidade e competência,
Dividida em duas partes mais uma terceira, cuja autenticidade é
contestada por alguns críticos, Stefani Joanne narra o drama
amoroso vivido por Gonzaga e Maria Dorotéia.
8. Poesia épica
A poesia épica do Arcadismo brasileiro trouxe
inovações para esta escola, que a diferenciou
ainda mais do modelo europeu. Temas
da história colonial em meio à descrição da
paisagem tropical do país e a inserção do índio
como herói, mesmo que ainda coadjuvante do
homem branco. São as novas perspectivas
que começam a delinear uma
literatura nacionalista, a ser fundada durante o
Romantismo.
Dentre os autores mais conhecidos
estão Basílio da Gama e seu O Uraguai, Santa
Rita Durão comCaramuru e o poema Vila Rica,
de Cláudio Manuel da Costa.
9. Basílio da Gama
Foi um poeta luso-brasileiro do Brasil Colônia, filho de pai
português e mãe brasileira.
Ficou órfão e foi para o Rio de Janeiro. Entrou em 1757
para a Companhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem
foi expulsa do Brasil e o poeta foi para Portugal e depois
para Roma, onde foi admitido na Arcádia Romana. De
volta a Lisboa, por suspeita de jansenismo, foi
condenando ao degredo em Angola; salvou-o um
epitalâmio que dedicou à filha do marquês de Pombal,
que o indultou e protegeu.
Em 1769, publica o poema épico O Uraguai, que tem por
assunto a guerra movida por Portugal aos índios das
missões do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões).
Mais tarde foi nomeado oficial da Secretaria do Reino.
Patrono da Academia Brasileira de Letras.