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               EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
               A PRÁTICA DO BOM PROFESSOR

                                                                                            Zenaide Galvão
                                                                         Universidade Presbiteriana Mackenzie
                                                             Universidade Camilo Castelo Branco – Unicastelo
                                  LETPEF (Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física)
                                                                                                  Unesp – RC


Resumo: Este estudo buscou levantar as competências ou características
daquele professor considerado bem-sucedido em sua intervenção profis-
sional. Em seguida, focalizou a prática pedagógica de uma professora de
Educação Física escolar em situação real de ensino.

Palavras-chave: Educação Física Escolar; Formação Profissional.


SCHOOLAR PHYSICAL EDUCATION: PRACTICES OF
THE GOOD PROFESSOR

Abstract: This research had as objective to take competences or
characteristics of a successful teacher, after that focused the pedagogical
practice of a teacher of Schoolar Physical Education in a real situation of
learning.

Keywords: Schoolar Physical Education; Professional Formation.


INTRODUÇÃO

     O professor exerce uma função única dentro da escola. Ele é o elemento de ligação entre o contexto
interno –, a escola, o contexto externo – a sociedade –, o conhecimento dinâmico e o aluno. Contudo,
segundo Cunha (1996), o papel do professor não se encontra claramente definido e nem valorizado. Além
disso, não podemos nos esquecer de que o professor é fruto de um determinado contexto histórico e
social.
     Vários estudos abordam esse tema para questionar, principalmente, a formação acadêmica dos profes-
sores, pois o bom desempenho das suas funções depende, em parte, de como ocorreu essa formação. Diz-
se em parte pois, além dessa formação, é necessário observar as características da personalidade de cada
indivíduo. Além disso, de acordo com levantamentos feitos por Darido (1996) em seu trabalho, nem sem-
pre os conhecimentos adquiridos na formação são utilizados, durante a prática pedagógica, pelos professo-
res de Educação Física.
     Este artigo pretende, além de abordar os tipos de formação profissional em Educação Física, levantar as
características do professor considerado bem-sucedido em sua intervenção profissional e, em seguida,
apresentar a prática pedagógica de uma professora em situação real de ensino.




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Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002
Zenaide Galvão



A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA

      Buscando relacionar a ação pedagógica do professor à sua formação profissional, Darido (1996) identi-
ficou dois tipos de formação: aquela tradicional, voltada à valorização da prática esportiva em detrimento de
outras práticas educativas, valorização da competição e da performance, e outra mais científica, a qual
enfatiza a teoria e o conhecimento científico derivado das ciências-mães.
      No primeiro tipo de formação parece não haver dúvidas quanto à prática pedagógica dos professores,
pois ambos coincidem quanto aos valores. O papel do professor é bastante aproximado ao papel do treina-
dor. Ele seleciona e organiza os conteúdos, a metodologia e a avaliação, ele é disciplinador, ou seja, ele é “um
treinador que vigia, dirige, aconselha, corrige” Château (apud Silva, 1988, p. 56). Além disso, ele mantém
relações impessoais com os alunos, com o objetivo de garantir a sua autoridade.
      No entanto, na formação mais cientifica, a qual tenta corrigir as falhas detectadas na formação dita
tradicional, os resultados da prática não se apresentaram muito bem, pois, de acordo com Lawson (apud
Darido, 1996, p. 46), “os conhecimentos derivados das ciências-mães não chegaram a influenciar definitiva-
mente a prática”, ou seja, os conhecimentos adquiridos, por exemplo, em disciplinas (ou sub-áreas) como
Fisiologia do Exercício, Aprendizagem Motora ou Sociologia não são utilizados pelos professores em suas
aulas, ficando sua prática pedagógica atrelada ainda aos esportes tradicionais, ao gesto técnico ou à postura
acrítica.
      Além disso, Betti (1996), também citando Lawson, aponta para mais duas considerações a esse respei-
to. Em uma delas, ele relata que não há garantia de que o conhecimento produzido nas subáreas de pesqui-
sa, supracitadas, possa ser transportado para os diversos locais onde ocorre a prática profissional, pois suas
características podem ser variadas e complexas, ou seja, não é possível generalizar esse conhecimento para
a prática pedagógica do professor, pois o contexto da prática não pode ser controlado. Na outra conside-
ração o autor relata que:

       Profissionais não pensam, agem ou falam como pesquisadores; profissionais e pesquisadores trabalham em diversas comunida-
       des epistêmicas; pensam e agem de maneira diferente porque tiveram diferentes experiências de socialização, além de serem
       diferenciadas as exigências das suas carreiras profissionais e as demandas no seu trabalho. A própria linguagem da pesquisa e do
       conhecimento científico – formal e codificada – não é a mesma linguagem da prática profissional – cotidiana e informal (Betti,
       1996, p. 102).


     Conseqüentemente, esse tipo de formação não garante que o papel do professor, o qual deveria estar
centrado na preocupação com o desenvolvimento global do ser humano em todos os seus aspectos, esteja
sendo cumprido. Lorenzeto acredita que isso pode estar ocorrendo, provavelmente, porque aquelas disci-
plinas destinadas a valorizar o ser humano não estão sendo abordadas de maneira adequada, ou seja, a
Psicologia, a Filosofia e a Sociologia:

       [...] apresentam programas cujos objetivos e conteúdos preocupam-se mais com fatos históricos e metodológicos do que
       propriamente com a problemática das relações humanas, entremeadas pelo medo, pela desconfiança, pela vaidade, pela cora-
       gem, pela covardia, pela agressividade, pela empatia, pela alegria, pelo amor, pela amizade, pela esperança, pela descrença, pela
       responsabilidade, pela fantasia [...] (Lorenzeto, 1993, p. 5).


    Portanto, dentre os objetivos de estudar o papel e o perfil do professor de Educação Física, destaca-se
a busca por um tipo de formação profissional capaz de, senão sanar, ao menos amenizar os problemas
expostos acima.



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                                                                             Educação Física escolar: a prática do bom professor



     Para a concretização deste trabalho, meu olhar esteve voltado para, ou procurou focalizar, o papel do
professor bem-sucedido, preocupado não só com o ensino de habilidades, mas também com a formação
integral do aluno.

AS CARACTERÍSTICAS DO PROFESSOR BEM-SUCEDIDO EM SUA INTERVENÇÃO
PROFISSIONAL

     De acordo com Machado (1995), o professor, no desempenho de sua função, pode moldar o caráter
dos jovens e, portanto, deixar marcas de grande significado nos alunos em formação. Ele é responsável por
muitos descobrimentos e experiências que podem ser boas ou não. Como facilitador, deve ter conheci-
mentos suficientes para trabalhar tanto aspectos físicos e motores, como também os componentes sociais,
culturais e psicológicos.
     Isso significa que, além da capacidade de ensinar conhecimentos específicos, é também papel do pro-
fessor transmitir, de forma consciente ou não, valores, normas, maneiras de pensar e padrões de compor-
tamento para se viver em sociedade. Fica claro que não se pode transmitir todos esses aspectos descartan-
do o aspecto afetivo – a interação professor-aluno (Cunha, 1996).
     Silva (1992), na busca pela definição do professor bem-sucedido, encontra diversos estudiosos
(Guarnieri, 1990; Kramer & André, 1986; Lellis, 1989; Libâneo,1984; Mello, 1982) que apontam algumas
características básicas desse professor. Três aspectos são comuns a todos os estudos revisados: domínio
do conteúdo e metodologia; envolvimento e apropriação da realidade dos alunos; e caráter reflexivo do
trabalho docente.
     A autora agrupou as características encontradas em três aspectos: técnicos, afetivos e sociopolíticos,
embora ela não descarte a interligação entre eles.

 I. Nas características técnicas, o professor bem-sucedido:
 1.  Conhece seus alunos e adapta o ensino às suas necessidades, incorporando a experiência do aluno
     ao conteúdo e incentivando sua participação.
 2. Reflete e pensa sobre sua prática.
 3. Domina conteúdo e metodologia para ensiná-lo.
 4. Aproveita o tempo útil, tem poucas faltas e interrupções.
 5. Aceita responsabilidade sobre as exigências dos alunos e seu trabalho.
 6. Usa eficientemente o material didático, dedicando mais tempo às práticas que enriquecem o
     conteúdo.
 7. Fornece feedback constante e apropriado.
 8. Fundamenta o conteúdo na unidade teórica-prática.
 9. Comunica aos alunos o que espera deles e por que (tem objetivo claro).
 10. Ensina estratégias metacognitivas aos alunos e as exercita.
 11. Estabelece objetivos cognitivos tanto de alto quanto de baixo nível.
 12. Integra seu ensino com outras áreas.

 II. Nas características afetivas, o professor bem-sucedido:
 1.   Demonstra interesse, entusiasmo, vibração, motivação e/ou satisfação com o ensino e seu trabalho,
      valorizando seu papel.
 2.   Desenvolve laço afetivo forte com os alunos.
 3.   Mantém clima agradável, respeitoso e amigo com os alunos – “atmosfera prazerosa”.
 4.   É afetivamente maduro (não, “bonzinho”).


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Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002
Zenaide Galvão



  III. Nas características sociopolíticas, o professor bem-sucedido:
  1.    Conhece a experiência social concreta dos alunos.
  2.    Possui visão crítica da escola e de seus determinantes sociais.
  3.    Possui visão crítica dos conteúdos escolares.

      É possível, ainda, refletir a respeito do professor considerado bem-sucedido e sua prática pedagógica
sob a perspectiva da Dimensão dos Conteúdos, apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Bra-
sil, 1998). Nessa perspectiva, os conteúdos escolares são abordados em três dimensões: Conceitual,
Procedimental e Atitudinal.
      A Dimensão Conceitual refere-se à abordagem das regras, técnicas, dados históricos das modalidades
e ainda reflexões a respeito da ética, estética, desempenho, satisfação, eficiência. A Dimensão Procedimental
diz respeito ao conteúdo ensinado pelo professor, que não deve girar apenas em torno das habilidades
motoras e do esporte, mas também da organização, sistematização de informações e aperfeiçoamento. A
Dimensão Atitudinal inclui não só a focalização por parte do professor nas normas, nos valores e nas
atitudes, mas também sua vivência dessas durante as aulas; ou seja, não se trata apenas de abordar a coope-
ração, é preciso vivenciá-la.
      Parece difícil encontrar professores que revelam no seu cotidiano todos esses aspectos e, segundo
Silva (1992), é indiscutível que o professor que reunir a maior parte dessas características dificilmente
falhará em sua prática pedagógica. Entretanto, a concretização de todos esses aspectos depende também do
contexto escolar em que se encontra esse professor.
      Em minha dissertação de mestrado, procurando perceber a influência da interação professor–aluno
no interesse do educando pelas aulas de Educação Física na escola, encontrei durante observações de aulas
em escolas públicas da cidade de Rio Claro (SP) uma professora que demonstrou possuir todas as caracte-
rísticas de um bom ou bem-sucedido professor (Galvão, 1999).
      Essa professora cursou a licenciatura em Educação Física em uma instituição particular de ensino,
localizada no interior do Estado de São Paulo, na década de 1970. O tipo de formação foi o tradicional, cujas
características encontram-se descritas anteriormente, apontadas por Darido (1996).
      A seguir, procurarei descrever alguns momentos interessantes da intervenção pedagógica dessa pro-
fessora, extraídos de um período de observação de, aproximadamente, três meses, durante os quais foram
assistidas 20 aulas.

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE UMA PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
CONSIDERADA BEM-SUCEDIDA

     Essa professora está próxima da aposentadoria, porém é uma pessoa cheia de disposição, já foi diretora
dessa escola e está sempre pronta para ajudar a direção nas questões que envolvem problemas de disciplina
dos alunos. Além disso, procura cuidar da escola, solicitando que os alunos recolham os papéis espalhados
pelas quadras e pela sala de aula. Ela mesma sempre dá exemplos de como proceder, por vezes joga água nas
plantas dos jardins da escola. Considera-se uma boa professora, pois, diferentemente dos demais professo-
res, relata que “não dá a bola e sai”.
     Durante a organização das aulas, os alunos são divididos para as atividades de várias maneiras. Em uma
aula a professora os dividiu para jogar handebol utilizando o número da chamada, e meninos e meninas
jogaram juntos. Em outra situação, deixou que os alunos escolhessem seus times, porém ainda colocou
meninos e meninas juntos. Os times de voleibol também são mistos. Em algumas aulas os meninos jogam
separados das meninas, principalmente futebol, mas parece não haver uma preocupação muito grande
sobre isso.


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Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002
                                                                              Educação Física escolar: a prática do bom professor



      Um episódio interessante foi a organização, pela professora, de um jogo de futebol cujos times eram de
meninos contra meninas, os alunos se divertiram bastante. A professora apitou o jogo e, quando os meni-
nos marcaram um gol, ela sorriu e perguntou para as meninas onde estava a defesa. O clima dessa atividade
pareceu muito prazeroso. Um menino se aproximou da professora e pediu-lhe que o deixasse jogar no
time das meninas, ela permitiu, e ele jogou até o final sem problemas. Foi possível perceber que não havia
uma ênfase na performance máxima, mas sim na diversão que o próprio jogo proporcionava.
      Em uma das aulas observei os alunos discutindo sobre a separação das equipes. Eles não concordavam
em alguns pontos, a professora presenciou e deliberadamente permitiu que resolvessem seus conflitos, o
que ocorreu rapidamente. Em outras aulas percebi a professora auxiliando na resolução dessas desavenças,
conversando com os alunos e encontrando soluções. E isso aconteceu não apenas nas divisões das equipes,
por várias vezes a vi resolvendo conflitos nos casos de alunos rejeitados pelos outros por inabilidade ou
reduntância.
      Essas turmas eram de 5a e 6a séries, portanto, o hábito de realizar as atividades em conjunto –
meninos e meninas – fazia com que os conflitos fossem amenizados, pois esses alunos não tiveram a
oportunidade de participar de aulas de Educação Física com turmas separadas por sexo. Além disso, o
fato de a professora não salientar as diferenças e tratar todos de maneira igualitária provavelmente tam-
bém auxilia esse processo.
      A maioria das aulas é caracterizada, geralmente, por uma atividade principal, que é bastante variada.
Presenciei prova prática de handebol, jogo de basquetebol, jogo de futebol, “câmbio”, jogo de voleibol,
corrida de revezamento no atletismo, aulas teóricas sobre atletismo, voleibol, handebol, queimada, campe-
onato de voleibol adaptado (câmbio) com equipes de outro período e também de outro professor de
Educação Física.
      As aulas não seguem uma rotina fixa. Durante os dias de chuva, a professora utiliza a sala de aula. Em
uma das aulas, ela explicou aos alunos como seria a prova teórica a ser aplicada. A professora também me
entregou um modelo mimeografado de prova para a 5a série.
      Os alunos têm cadernos específicos para serem utilizados durante as aulas teóricas e práticas de Edu-
cação Física, assim como em qualquer outra disciplina, e a professora solicita que eles os tragam sempre
quando houver aulas, pois ela pode não avisar antecipadamente sobre sua utilização.
      Em um dia de chuva a aula foi realizada dentro da sala de aula, e o conteúdo explorado foi o voleibol.
Um aluno pediu para que realizassem aula prática ali mesmo na sala de aula. A professora comentou comigo
que o pedido era decorrente de ter sido ministrada, em dia também chuvoso, uma aula prática de handebol
dentro da sala.
      Esses procedimentos mostraram a preocupação da professora com a variedade de opções a serem
oferecidas aos alunos e, principalmente, o fato de a professora não ligar os esportes coletivos exclusivamen-
te às quadras, o que descaracteriza a questão do espaço físico. Com relação a isso, descreverei a seguir uma
atividade realizada por essa professora.
      A aula abordava o atletismo e o objetivo era ensinar a técnica para a passagem de bastão na corrida de
revezamento. Vale lembrar que, antes do início dessa atividade, a professora foi até uma sala, a qual ela
chamou de marcenaria, pegou um cabo de vassoura e, com a ajuda de um serrote, o dividiu em pequenas
partes, confeccionando os bastões.
      Utilizando toda a extensão da quadra, a professora realizou, com o auxílio de um garoto, um traçado
semelhante ao de uma pista de atletismo. A seguir ela colocou todos os alunos sentados à sua volta e
desenhou uma pequena pista no chão (com todas as raias e áreas de saltos e arremessos). Depois, lembrou
aos alunos, mostrando-lhes os locais, sobre as provas de atletismo que eles já haviam aprendido. Relatou o
histórico das corridas de revezamento, tomando toda a atenção dos alunos que se divertiam com os fatos
narrados.

                                                                                                                          69
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002
Zenaide Galvão



     Depois ela organizou as equipes, mostrou a área reservada a cada equipe e a cada aluno (zona de
passagem), demonstrou como segurar e passar o bastão ao companheiro (brincou com o fato de que, se o
passador estivesse cansado, poderia encostar o bastão no bumbum do receptor, e fez o gesto, para o delírio
dos alunos), conduziu cada aluno ao seu lugar e iniciou as corridas. Ela corrigiu, incentivou e pediu para que
os alunos que estavam assistindo, prestassem atenção aos erros e acertos dos colegas.
     Como já mencionado, as aulas não apresentaram uma rotina fixa, um ritual. Os conteúdos foram
trabalhados de acordo com a emergência apresentada no momento. Por exemplo: a atividade era aula
teórica, pois estava chovendo, e alguns alunos solicitaram à professora que descessem para jogar capoeira
no pátio da escola, e ela autorizou. Em outra ocasião, vários alunos de outro período e de outro professor
solicitaram à professora que promovesse um campeonato de “câmbio” entre seus alunos e eles. Esses
alunos foram prontamente atendidos, já que a professora consultou seus próprios alunos e percebeu um
grande interesse. Essa aula também merece ser descrita.
     As equipes eram formadas por nove alunos – meninos e meninas, a professora apitava o jogo e pedia
para que uma garota (aparentemente com problemas neurológicos) anotasse os pontos no chão. Ela corri-
gia chamando os alunos pelo primeiro nome. Ao terminar o set a professora solicitava que os alunos trocas-
sem de equipe para que todos tivessem oportunidade de jogar, porém os alunos não queriam fazer a troca.
Então, sem conflitos, ela sugeriu uma estratégia para a troca: depois de um determinado número de pontos
as equipes se revesariam. Algumas classes se revezaram sem a interferência da professora (os próprios
alunos sentiram-se solidários aos colegas).
     Durante os jogos, a professora incentivava os alunos o tempo todo, ela explicava, corrigia e elogiava. A
garota que estava fazendo a marcação dos pontos entrou no jogo e, apesar de apresentar certa dificuldade,
brincou e divertiu-se bastante. Em certo momento percebi a professora insistindo bastante para que uma
garota, que estava sem atividade, fosse jogar, porém ela não queria, então, a professora pegou-a pelo braço
e a conduziu até a quadra. A garota começou a chorar e a professora pediu para que os companheiros de
equipe a ajudassem. Passaram-se alguns minutos e a garota parou de chorar, jogou e até deu palpites sobre
o jogo. Ao terminar o jogo uma garota se aproximou da professora e lhe deu um beijo, que em minha
opinião representou o agradecimento pela boa aula.
     Por várias vezes percebi que a professora demonstrava preocupação com a inclusão dos alunos. Colo-
cava mais alunos que o descrito nas regras para jogar nos times e comentava com esses que as regras
estavam sendo transgredidas, mas que o motivo era a participação de todos. Preocupava-se com meninas
que ficavam paradas sem atividade ou sem receber a bola durante o jogo. Nesses casos, ela conversava e
oferecia outras possibilidades de atividades, ou chamava a atenção para que se movimentassem mais, pro-
curando a participação no jogo.
     Durante uma das primeiras aulas notei a presença de um aluno paraplégico (o qual se locomovia em
cadeira de roda), e pude constatar sua preocupação com a participação efetiva desse aluno na aula. Utilizan-
do bolas de tênis e de voleibol, ela realizou alguns exercícios de passe e recepção com o objetivo de
exercitar os membros superiores desse garoto, além disso, solicitou que outros alunos realizassem ativida-
des nas quais ele pudesse participar.
     Os elogios aos alunos surgem naturalmente. Por várias vezes ela elogiou as respostas ou os gestos
acertados dos alunos, também incentivando aqueles que erraram. Em uma das aulas observadas, ela foi até
o meio da quadra para cumprimentar um aluno que, ao executar o gesto correto no handebol, fez o gol. Ela
vibrava, saltava, comemorava com os alunos durante os jogos, sorria sempre e brincava bastante, demons-
trando carinho pelos alunos.
     Os estudantes eram sempre tratados pelo primeiro nome. Ela procurava sempre estar próxima dos
alunos, tocando-os e por vezes conduzindo-os pelo braço, como quando ensinou a posição de defesa e


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ataque no handebol ou o local onde o atleta deve esperar o bastão em uma corrida de revezamento no
atletismo.
      Durante as aulas, buscou orientar os alunos o tempo todo, procurou estar atenta a todas as atividades
e proporcionar feedback. Falou sobre as provas, corrigiu-as e comentou os erros mais comuns. Ela corrigiu
os erros durante a prova prática e passou orientações antes e durante o jogo, propiciando noções de tática
e incentivando os alunos. Sempre relembrou as regras antes e as questionou durante o jogo.
      A professora mostrou-se a favor do uso do uniforme e, sem demonstrar estar sob pressão, percebi
que todos os alunos utilizavam roupas adequadas para as aulas. Em momento algum ela chamou a atenção
para isso. O que ficou evidente é que as boas qualidades da professora e da aula fizeram com que os alunos
sentissem prazer em participar, e por esse motivo faziam questão de estar uniformizados.
      Com o que foi descrito sobre as aulas dessa professora, é possível fazer uma relação entre sua prática
pedagógica e aqueles aspectos que caracterizam um bom professor ou um professor bem-sucedido.

CONCLUSÃO

     A professora cujo trabalho foi parcialmente descrito nesse artigo concluiu o Curso de Graduação em
Educação Física na década de 1970, como já exposto.
     A revisão bibliográfica indica que esse foi um período marcado ainda pela formação que, hoje, chama-
mos de tradicional, cujas principais características são: professor diretivo, autoritário e que ocupa o papel
de treinador em detrimento do de professor. A ênfase está na valorização da prática esportiva acrítica e
subjugada, da competição e da performance.
     Esse tipo de formação provavelmente não proporcionou ao professor o olhar sobre os indivíduos, já
que a predominância foi sobre o ensino dos gestos mecânicos. Além disso, as disciplinas das áreas esporti-
vas e biológicas sobrepujaram aquelas das áreas humanas. O resultado foi um professor com uma prática
pedagógica marcada pela ausência do prazer, da ludicidade e da harmoniosa e equilibrada interação com o
aluno.
     No entanto é fácil perceber que essa professora conseguiu ir além dos aspectos negativos de sua
formação e das dificuldades encontradas no contexto escolar e realizar um trabalho que a caracteriza como
uma professora bem-sucedida, pois:
     1. Ela procurou diversificar tanto o conteúdo, como a maneira de implementa-lo. Além dos esportes
        que tradicionalmente trabalhados na escola, ela acrescentou o atletismo, a queimada, o jogo de
        “câmbio” e aulas que abordavam regras, técnicas e origens históricas das modalidades. Além disso,
        as regras foram modificadas com a preocupação de incluir alunos e facilitar a prática das atividades.
     2. Essa professora trabalhou com turmas mistas, e os alunos realmente realizavam as atividades dessa
        maneira, ou seja, não eram separados por sexo nas aulas.
     3. Na interação professor-aluno, foi possível observar que ela utilizou toda uma gama de afetividade
        positiva, pois elogiou, incentivou e valorizou os alunos, além de tratá-los com urbanidade, identificá-
        los por seus nomes e demonstrar carinho e atenção o tempo todo.
     Nesse sentido, foi possível perceber que essa professora demonstrou preocupar-se, durante sua in-
tervenção pedagógica, em abordar os conteúdos em suas diferentes dimensões: conceitual, procedimental
e atitudinal.

REFERÊNCIAS

BETTI, M. Por uma teoria da prática. Motus Corporis, (Edição Especial), v. 3, n. 2, p. 73-127, dez. 1996.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física/Secretaria de Educação fundamental. Brasília: MEC/
  SEF, 1998, v. 7.

                                                                                                                           71
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002
Zenaide Galvão



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DARIDO, S. C. Ação pedagógica do professor de Educação Física: estudo de um tipo de formação profissional
   científica. 1996. nf. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, U.S.P, 1996.
GALVÃO, Z. A interação professor-aluno em aulas de Educação Física Escolar. 1999. nf. Dissertação (Mestrado
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LORENZETTO, L. A. A escola, o lúdico e a afetividade. Rio Claro: Departamento de Educação Física do
   Instituto de Biociências – UNESP, 1993. (Relatório)
MACHADO, A. A. Interação: um problema educacional. In: DE LUCCA, E. Psicologia educacional na sala de
   aula. Jundiai: Litearte, 1995.
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SILVA, S. A. I. Valores em Educação. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1988.




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Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Av. Mackenzie, 905 – Barueri – SP                                                                 Tramitação
CEP 06460-130                                                                            Recebido em junho/2002
E-mail: zgalvao@uol.com.br                                                              Aceito em setembro/2002



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Práticas de um bom professor de Educação Física

  • 1. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – 2002, 1(1):65-72 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A PRÁTICA DO BOM PROFESSOR Zenaide Galvão Universidade Presbiteriana Mackenzie Universidade Camilo Castelo Branco – Unicastelo LETPEF (Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física) Unesp – RC Resumo: Este estudo buscou levantar as competências ou características daquele professor considerado bem-sucedido em sua intervenção profis- sional. Em seguida, focalizou a prática pedagógica de uma professora de Educação Física escolar em situação real de ensino. Palavras-chave: Educação Física Escolar; Formação Profissional. SCHOOLAR PHYSICAL EDUCATION: PRACTICES OF THE GOOD PROFESSOR Abstract: This research had as objective to take competences or characteristics of a successful teacher, after that focused the pedagogical practice of a teacher of Schoolar Physical Education in a real situation of learning. Keywords: Schoolar Physical Education; Professional Formation. INTRODUÇÃO O professor exerce uma função única dentro da escola. Ele é o elemento de ligação entre o contexto interno –, a escola, o contexto externo – a sociedade –, o conhecimento dinâmico e o aluno. Contudo, segundo Cunha (1996), o papel do professor não se encontra claramente definido e nem valorizado. Além disso, não podemos nos esquecer de que o professor é fruto de um determinado contexto histórico e social. Vários estudos abordam esse tema para questionar, principalmente, a formação acadêmica dos profes- sores, pois o bom desempenho das suas funções depende, em parte, de como ocorreu essa formação. Diz- se em parte pois, além dessa formação, é necessário observar as características da personalidade de cada indivíduo. Além disso, de acordo com levantamentos feitos por Darido (1996) em seu trabalho, nem sem- pre os conhecimentos adquiridos na formação são utilizados, durante a prática pedagógica, pelos professo- res de Educação Física. Este artigo pretende, além de abordar os tipos de formação profissional em Educação Física, levantar as características do professor considerado bem-sucedido em sua intervenção profissional e, em seguida, apresentar a prática pedagógica de uma professora em situação real de ensino. 65
  • 2. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Zenaide Galvão A FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA Buscando relacionar a ação pedagógica do professor à sua formação profissional, Darido (1996) identi- ficou dois tipos de formação: aquela tradicional, voltada à valorização da prática esportiva em detrimento de outras práticas educativas, valorização da competição e da performance, e outra mais científica, a qual enfatiza a teoria e o conhecimento científico derivado das ciências-mães. No primeiro tipo de formação parece não haver dúvidas quanto à prática pedagógica dos professores, pois ambos coincidem quanto aos valores. O papel do professor é bastante aproximado ao papel do treina- dor. Ele seleciona e organiza os conteúdos, a metodologia e a avaliação, ele é disciplinador, ou seja, ele é “um treinador que vigia, dirige, aconselha, corrige” Château (apud Silva, 1988, p. 56). Além disso, ele mantém relações impessoais com os alunos, com o objetivo de garantir a sua autoridade. No entanto, na formação mais cientifica, a qual tenta corrigir as falhas detectadas na formação dita tradicional, os resultados da prática não se apresentaram muito bem, pois, de acordo com Lawson (apud Darido, 1996, p. 46), “os conhecimentos derivados das ciências-mães não chegaram a influenciar definitiva- mente a prática”, ou seja, os conhecimentos adquiridos, por exemplo, em disciplinas (ou sub-áreas) como Fisiologia do Exercício, Aprendizagem Motora ou Sociologia não são utilizados pelos professores em suas aulas, ficando sua prática pedagógica atrelada ainda aos esportes tradicionais, ao gesto técnico ou à postura acrítica. Além disso, Betti (1996), também citando Lawson, aponta para mais duas considerações a esse respei- to. Em uma delas, ele relata que não há garantia de que o conhecimento produzido nas subáreas de pesqui- sa, supracitadas, possa ser transportado para os diversos locais onde ocorre a prática profissional, pois suas características podem ser variadas e complexas, ou seja, não é possível generalizar esse conhecimento para a prática pedagógica do professor, pois o contexto da prática não pode ser controlado. Na outra conside- ração o autor relata que: Profissionais não pensam, agem ou falam como pesquisadores; profissionais e pesquisadores trabalham em diversas comunida- des epistêmicas; pensam e agem de maneira diferente porque tiveram diferentes experiências de socialização, além de serem diferenciadas as exigências das suas carreiras profissionais e as demandas no seu trabalho. A própria linguagem da pesquisa e do conhecimento científico – formal e codificada – não é a mesma linguagem da prática profissional – cotidiana e informal (Betti, 1996, p. 102). Conseqüentemente, esse tipo de formação não garante que o papel do professor, o qual deveria estar centrado na preocupação com o desenvolvimento global do ser humano em todos os seus aspectos, esteja sendo cumprido. Lorenzeto acredita que isso pode estar ocorrendo, provavelmente, porque aquelas disci- plinas destinadas a valorizar o ser humano não estão sendo abordadas de maneira adequada, ou seja, a Psicologia, a Filosofia e a Sociologia: [...] apresentam programas cujos objetivos e conteúdos preocupam-se mais com fatos históricos e metodológicos do que propriamente com a problemática das relações humanas, entremeadas pelo medo, pela desconfiança, pela vaidade, pela cora- gem, pela covardia, pela agressividade, pela empatia, pela alegria, pelo amor, pela amizade, pela esperança, pela descrença, pela responsabilidade, pela fantasia [...] (Lorenzeto, 1993, p. 5). Portanto, dentre os objetivos de estudar o papel e o perfil do professor de Educação Física, destaca-se a busca por um tipo de formação profissional capaz de, senão sanar, ao menos amenizar os problemas expostos acima. 66
  • 3. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Educação Física escolar: a prática do bom professor Para a concretização deste trabalho, meu olhar esteve voltado para, ou procurou focalizar, o papel do professor bem-sucedido, preocupado não só com o ensino de habilidades, mas também com a formação integral do aluno. AS CARACTERÍSTICAS DO PROFESSOR BEM-SUCEDIDO EM SUA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL De acordo com Machado (1995), o professor, no desempenho de sua função, pode moldar o caráter dos jovens e, portanto, deixar marcas de grande significado nos alunos em formação. Ele é responsável por muitos descobrimentos e experiências que podem ser boas ou não. Como facilitador, deve ter conheci- mentos suficientes para trabalhar tanto aspectos físicos e motores, como também os componentes sociais, culturais e psicológicos. Isso significa que, além da capacidade de ensinar conhecimentos específicos, é também papel do pro- fessor transmitir, de forma consciente ou não, valores, normas, maneiras de pensar e padrões de compor- tamento para se viver em sociedade. Fica claro que não se pode transmitir todos esses aspectos descartan- do o aspecto afetivo – a interação professor-aluno (Cunha, 1996). Silva (1992), na busca pela definição do professor bem-sucedido, encontra diversos estudiosos (Guarnieri, 1990; Kramer & André, 1986; Lellis, 1989; Libâneo,1984; Mello, 1982) que apontam algumas características básicas desse professor. Três aspectos são comuns a todos os estudos revisados: domínio do conteúdo e metodologia; envolvimento e apropriação da realidade dos alunos; e caráter reflexivo do trabalho docente. A autora agrupou as características encontradas em três aspectos: técnicos, afetivos e sociopolíticos, embora ela não descarte a interligação entre eles. I. Nas características técnicas, o professor bem-sucedido: 1. Conhece seus alunos e adapta o ensino às suas necessidades, incorporando a experiência do aluno ao conteúdo e incentivando sua participação. 2. Reflete e pensa sobre sua prática. 3. Domina conteúdo e metodologia para ensiná-lo. 4. Aproveita o tempo útil, tem poucas faltas e interrupções. 5. Aceita responsabilidade sobre as exigências dos alunos e seu trabalho. 6. Usa eficientemente o material didático, dedicando mais tempo às práticas que enriquecem o conteúdo. 7. Fornece feedback constante e apropriado. 8. Fundamenta o conteúdo na unidade teórica-prática. 9. Comunica aos alunos o que espera deles e por que (tem objetivo claro). 10. Ensina estratégias metacognitivas aos alunos e as exercita. 11. Estabelece objetivos cognitivos tanto de alto quanto de baixo nível. 12. Integra seu ensino com outras áreas. II. Nas características afetivas, o professor bem-sucedido: 1. Demonstra interesse, entusiasmo, vibração, motivação e/ou satisfação com o ensino e seu trabalho, valorizando seu papel. 2. Desenvolve laço afetivo forte com os alunos. 3. Mantém clima agradável, respeitoso e amigo com os alunos – “atmosfera prazerosa”. 4. É afetivamente maduro (não, “bonzinho”). 67
  • 4. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Zenaide Galvão III. Nas características sociopolíticas, o professor bem-sucedido: 1. Conhece a experiência social concreta dos alunos. 2. Possui visão crítica da escola e de seus determinantes sociais. 3. Possui visão crítica dos conteúdos escolares. É possível, ainda, refletir a respeito do professor considerado bem-sucedido e sua prática pedagógica sob a perspectiva da Dimensão dos Conteúdos, apresentada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Bra- sil, 1998). Nessa perspectiva, os conteúdos escolares são abordados em três dimensões: Conceitual, Procedimental e Atitudinal. A Dimensão Conceitual refere-se à abordagem das regras, técnicas, dados históricos das modalidades e ainda reflexões a respeito da ética, estética, desempenho, satisfação, eficiência. A Dimensão Procedimental diz respeito ao conteúdo ensinado pelo professor, que não deve girar apenas em torno das habilidades motoras e do esporte, mas também da organização, sistematização de informações e aperfeiçoamento. A Dimensão Atitudinal inclui não só a focalização por parte do professor nas normas, nos valores e nas atitudes, mas também sua vivência dessas durante as aulas; ou seja, não se trata apenas de abordar a coope- ração, é preciso vivenciá-la. Parece difícil encontrar professores que revelam no seu cotidiano todos esses aspectos e, segundo Silva (1992), é indiscutível que o professor que reunir a maior parte dessas características dificilmente falhará em sua prática pedagógica. Entretanto, a concretização de todos esses aspectos depende também do contexto escolar em que se encontra esse professor. Em minha dissertação de mestrado, procurando perceber a influência da interação professor–aluno no interesse do educando pelas aulas de Educação Física na escola, encontrei durante observações de aulas em escolas públicas da cidade de Rio Claro (SP) uma professora que demonstrou possuir todas as caracte- rísticas de um bom ou bem-sucedido professor (Galvão, 1999). Essa professora cursou a licenciatura em Educação Física em uma instituição particular de ensino, localizada no interior do Estado de São Paulo, na década de 1970. O tipo de formação foi o tradicional, cujas características encontram-se descritas anteriormente, apontadas por Darido (1996). A seguir, procurarei descrever alguns momentos interessantes da intervenção pedagógica dessa pro- fessora, extraídos de um período de observação de, aproximadamente, três meses, durante os quais foram assistidas 20 aulas. A PRÁTICA PEDAGÓGICA DE UMA PROFESSORA DE EDUCAÇÃO FÍSICA CONSIDERADA BEM-SUCEDIDA Essa professora está próxima da aposentadoria, porém é uma pessoa cheia de disposição, já foi diretora dessa escola e está sempre pronta para ajudar a direção nas questões que envolvem problemas de disciplina dos alunos. Além disso, procura cuidar da escola, solicitando que os alunos recolham os papéis espalhados pelas quadras e pela sala de aula. Ela mesma sempre dá exemplos de como proceder, por vezes joga água nas plantas dos jardins da escola. Considera-se uma boa professora, pois, diferentemente dos demais professo- res, relata que “não dá a bola e sai”. Durante a organização das aulas, os alunos são divididos para as atividades de várias maneiras. Em uma aula a professora os dividiu para jogar handebol utilizando o número da chamada, e meninos e meninas jogaram juntos. Em outra situação, deixou que os alunos escolhessem seus times, porém ainda colocou meninos e meninas juntos. Os times de voleibol também são mistos. Em algumas aulas os meninos jogam separados das meninas, principalmente futebol, mas parece não haver uma preocupação muito grande sobre isso. 68
  • 5. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Educação Física escolar: a prática do bom professor Um episódio interessante foi a organização, pela professora, de um jogo de futebol cujos times eram de meninos contra meninas, os alunos se divertiram bastante. A professora apitou o jogo e, quando os meni- nos marcaram um gol, ela sorriu e perguntou para as meninas onde estava a defesa. O clima dessa atividade pareceu muito prazeroso. Um menino se aproximou da professora e pediu-lhe que o deixasse jogar no time das meninas, ela permitiu, e ele jogou até o final sem problemas. Foi possível perceber que não havia uma ênfase na performance máxima, mas sim na diversão que o próprio jogo proporcionava. Em uma das aulas observei os alunos discutindo sobre a separação das equipes. Eles não concordavam em alguns pontos, a professora presenciou e deliberadamente permitiu que resolvessem seus conflitos, o que ocorreu rapidamente. Em outras aulas percebi a professora auxiliando na resolução dessas desavenças, conversando com os alunos e encontrando soluções. E isso aconteceu não apenas nas divisões das equipes, por várias vezes a vi resolvendo conflitos nos casos de alunos rejeitados pelos outros por inabilidade ou reduntância. Essas turmas eram de 5a e 6a séries, portanto, o hábito de realizar as atividades em conjunto – meninos e meninas – fazia com que os conflitos fossem amenizados, pois esses alunos não tiveram a oportunidade de participar de aulas de Educação Física com turmas separadas por sexo. Além disso, o fato de a professora não salientar as diferenças e tratar todos de maneira igualitária provavelmente tam- bém auxilia esse processo. A maioria das aulas é caracterizada, geralmente, por uma atividade principal, que é bastante variada. Presenciei prova prática de handebol, jogo de basquetebol, jogo de futebol, “câmbio”, jogo de voleibol, corrida de revezamento no atletismo, aulas teóricas sobre atletismo, voleibol, handebol, queimada, campe- onato de voleibol adaptado (câmbio) com equipes de outro período e também de outro professor de Educação Física. As aulas não seguem uma rotina fixa. Durante os dias de chuva, a professora utiliza a sala de aula. Em uma das aulas, ela explicou aos alunos como seria a prova teórica a ser aplicada. A professora também me entregou um modelo mimeografado de prova para a 5a série. Os alunos têm cadernos específicos para serem utilizados durante as aulas teóricas e práticas de Edu- cação Física, assim como em qualquer outra disciplina, e a professora solicita que eles os tragam sempre quando houver aulas, pois ela pode não avisar antecipadamente sobre sua utilização. Em um dia de chuva a aula foi realizada dentro da sala de aula, e o conteúdo explorado foi o voleibol. Um aluno pediu para que realizassem aula prática ali mesmo na sala de aula. A professora comentou comigo que o pedido era decorrente de ter sido ministrada, em dia também chuvoso, uma aula prática de handebol dentro da sala. Esses procedimentos mostraram a preocupação da professora com a variedade de opções a serem oferecidas aos alunos e, principalmente, o fato de a professora não ligar os esportes coletivos exclusivamen- te às quadras, o que descaracteriza a questão do espaço físico. Com relação a isso, descreverei a seguir uma atividade realizada por essa professora. A aula abordava o atletismo e o objetivo era ensinar a técnica para a passagem de bastão na corrida de revezamento. Vale lembrar que, antes do início dessa atividade, a professora foi até uma sala, a qual ela chamou de marcenaria, pegou um cabo de vassoura e, com a ajuda de um serrote, o dividiu em pequenas partes, confeccionando os bastões. Utilizando toda a extensão da quadra, a professora realizou, com o auxílio de um garoto, um traçado semelhante ao de uma pista de atletismo. A seguir ela colocou todos os alunos sentados à sua volta e desenhou uma pequena pista no chão (com todas as raias e áreas de saltos e arremessos). Depois, lembrou aos alunos, mostrando-lhes os locais, sobre as provas de atletismo que eles já haviam aprendido. Relatou o histórico das corridas de revezamento, tomando toda a atenção dos alunos que se divertiam com os fatos narrados. 69
  • 6. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Zenaide Galvão Depois ela organizou as equipes, mostrou a área reservada a cada equipe e a cada aluno (zona de passagem), demonstrou como segurar e passar o bastão ao companheiro (brincou com o fato de que, se o passador estivesse cansado, poderia encostar o bastão no bumbum do receptor, e fez o gesto, para o delírio dos alunos), conduziu cada aluno ao seu lugar e iniciou as corridas. Ela corrigiu, incentivou e pediu para que os alunos que estavam assistindo, prestassem atenção aos erros e acertos dos colegas. Como já mencionado, as aulas não apresentaram uma rotina fixa, um ritual. Os conteúdos foram trabalhados de acordo com a emergência apresentada no momento. Por exemplo: a atividade era aula teórica, pois estava chovendo, e alguns alunos solicitaram à professora que descessem para jogar capoeira no pátio da escola, e ela autorizou. Em outra ocasião, vários alunos de outro período e de outro professor solicitaram à professora que promovesse um campeonato de “câmbio” entre seus alunos e eles. Esses alunos foram prontamente atendidos, já que a professora consultou seus próprios alunos e percebeu um grande interesse. Essa aula também merece ser descrita. As equipes eram formadas por nove alunos – meninos e meninas, a professora apitava o jogo e pedia para que uma garota (aparentemente com problemas neurológicos) anotasse os pontos no chão. Ela corri- gia chamando os alunos pelo primeiro nome. Ao terminar o set a professora solicitava que os alunos trocas- sem de equipe para que todos tivessem oportunidade de jogar, porém os alunos não queriam fazer a troca. Então, sem conflitos, ela sugeriu uma estratégia para a troca: depois de um determinado número de pontos as equipes se revesariam. Algumas classes se revezaram sem a interferência da professora (os próprios alunos sentiram-se solidários aos colegas). Durante os jogos, a professora incentivava os alunos o tempo todo, ela explicava, corrigia e elogiava. A garota que estava fazendo a marcação dos pontos entrou no jogo e, apesar de apresentar certa dificuldade, brincou e divertiu-se bastante. Em certo momento percebi a professora insistindo bastante para que uma garota, que estava sem atividade, fosse jogar, porém ela não queria, então, a professora pegou-a pelo braço e a conduziu até a quadra. A garota começou a chorar e a professora pediu para que os companheiros de equipe a ajudassem. Passaram-se alguns minutos e a garota parou de chorar, jogou e até deu palpites sobre o jogo. Ao terminar o jogo uma garota se aproximou da professora e lhe deu um beijo, que em minha opinião representou o agradecimento pela boa aula. Por várias vezes percebi que a professora demonstrava preocupação com a inclusão dos alunos. Colo- cava mais alunos que o descrito nas regras para jogar nos times e comentava com esses que as regras estavam sendo transgredidas, mas que o motivo era a participação de todos. Preocupava-se com meninas que ficavam paradas sem atividade ou sem receber a bola durante o jogo. Nesses casos, ela conversava e oferecia outras possibilidades de atividades, ou chamava a atenção para que se movimentassem mais, pro- curando a participação no jogo. Durante uma das primeiras aulas notei a presença de um aluno paraplégico (o qual se locomovia em cadeira de roda), e pude constatar sua preocupação com a participação efetiva desse aluno na aula. Utilizan- do bolas de tênis e de voleibol, ela realizou alguns exercícios de passe e recepção com o objetivo de exercitar os membros superiores desse garoto, além disso, solicitou que outros alunos realizassem ativida- des nas quais ele pudesse participar. Os elogios aos alunos surgem naturalmente. Por várias vezes ela elogiou as respostas ou os gestos acertados dos alunos, também incentivando aqueles que erraram. Em uma das aulas observadas, ela foi até o meio da quadra para cumprimentar um aluno que, ao executar o gesto correto no handebol, fez o gol. Ela vibrava, saltava, comemorava com os alunos durante os jogos, sorria sempre e brincava bastante, demons- trando carinho pelos alunos. Os estudantes eram sempre tratados pelo primeiro nome. Ela procurava sempre estar próxima dos alunos, tocando-os e por vezes conduzindo-os pelo braço, como quando ensinou a posição de defesa e 70
  • 7. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Educação Física escolar: a prática do bom professor ataque no handebol ou o local onde o atleta deve esperar o bastão em uma corrida de revezamento no atletismo. Durante as aulas, buscou orientar os alunos o tempo todo, procurou estar atenta a todas as atividades e proporcionar feedback. Falou sobre as provas, corrigiu-as e comentou os erros mais comuns. Ela corrigiu os erros durante a prova prática e passou orientações antes e durante o jogo, propiciando noções de tática e incentivando os alunos. Sempre relembrou as regras antes e as questionou durante o jogo. A professora mostrou-se a favor do uso do uniforme e, sem demonstrar estar sob pressão, percebi que todos os alunos utilizavam roupas adequadas para as aulas. Em momento algum ela chamou a atenção para isso. O que ficou evidente é que as boas qualidades da professora e da aula fizeram com que os alunos sentissem prazer em participar, e por esse motivo faziam questão de estar uniformizados. Com o que foi descrito sobre as aulas dessa professora, é possível fazer uma relação entre sua prática pedagógica e aqueles aspectos que caracterizam um bom professor ou um professor bem-sucedido. CONCLUSÃO A professora cujo trabalho foi parcialmente descrito nesse artigo concluiu o Curso de Graduação em Educação Física na década de 1970, como já exposto. A revisão bibliográfica indica que esse foi um período marcado ainda pela formação que, hoje, chama- mos de tradicional, cujas principais características são: professor diretivo, autoritário e que ocupa o papel de treinador em detrimento do de professor. A ênfase está na valorização da prática esportiva acrítica e subjugada, da competição e da performance. Esse tipo de formação provavelmente não proporcionou ao professor o olhar sobre os indivíduos, já que a predominância foi sobre o ensino dos gestos mecânicos. Além disso, as disciplinas das áreas esporti- vas e biológicas sobrepujaram aquelas das áreas humanas. O resultado foi um professor com uma prática pedagógica marcada pela ausência do prazer, da ludicidade e da harmoniosa e equilibrada interação com o aluno. No entanto é fácil perceber que essa professora conseguiu ir além dos aspectos negativos de sua formação e das dificuldades encontradas no contexto escolar e realizar um trabalho que a caracteriza como uma professora bem-sucedida, pois: 1. Ela procurou diversificar tanto o conteúdo, como a maneira de implementa-lo. Além dos esportes que tradicionalmente trabalhados na escola, ela acrescentou o atletismo, a queimada, o jogo de “câmbio” e aulas que abordavam regras, técnicas e origens históricas das modalidades. Além disso, as regras foram modificadas com a preocupação de incluir alunos e facilitar a prática das atividades. 2. Essa professora trabalhou com turmas mistas, e os alunos realmente realizavam as atividades dessa maneira, ou seja, não eram separados por sexo nas aulas. 3. Na interação professor-aluno, foi possível observar que ela utilizou toda uma gama de afetividade positiva, pois elogiou, incentivou e valorizou os alunos, além de tratá-los com urbanidade, identificá- los por seus nomes e demonstrar carinho e atenção o tempo todo. Nesse sentido, foi possível perceber que essa professora demonstrou preocupar-se, durante sua in- tervenção pedagógica, em abordar os conteúdos em suas diferentes dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal. REFERÊNCIAS BETTI, M. Por uma teoria da prática. Motus Corporis, (Edição Especial), v. 3, n. 2, p. 73-127, dez. 1996. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física/Secretaria de Educação fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998, v. 7. 71
  • 8. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, Número 1, 2002 Zenaide Galvão CUNHA. M. I. O bom professor e sua prática. 6. ed. Campinas: Papirus, 1996. nf. DARIDO, S. C. Ação pedagógica do professor de Educação Física: estudo de um tipo de formação profissional científica. 1996. nf. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, U.S.P, 1996. GALVÃO, Z. A interação professor-aluno em aulas de Educação Física Escolar. 1999. nf. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) – Departamento de Educação Física, UNESP, Rio Claro 1999. LORENZETTO, L. A. A escola, o lúdico e a afetividade. Rio Claro: Departamento de Educação Física do Instituto de Biociências – UNESP, 1993. (Relatório) MACHADO, A. A. Interação: um problema educacional. In: DE LUCCA, E. Psicologia educacional na sala de aula. Jundiai: Litearte, 1995. SILVA, M. H. G. F. D. O professor como sujeito do fazer docente: a prática pedagógica nas 5as séries, 1992. nf. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, USP, São Paulo, 1992. SILVA, S. A. I. Valores em Educação. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1988. Contatos Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Educação Física Av. Mackenzie, 905 – Barueri – SP Tramitação CEP 06460-130 Recebido em junho/2002 E-mail: zgalvao@uol.com.br Aceito em setembro/2002 72