2. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
Banco de
Desenvolvimento de
Minas Gerais
1
Introdução
3. BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG
Conselho de Administração
José Augusto Trópia Reis - Presidente
Murilo Paulino Badaró - Vice-Presidente
Edgard Martins Maneira
Elvira Fonseca Garcia
Fábio Proença Doyle
José Pedro Rodrigues de Oliveira
Diretoria
Murilo Paulino Badaró - Presidente
Francisco José de Oliveira - Vice-Presidente
José Lana Raposo
Ignácio Gabriel Prata Neto
Júlio Onofre Mendes de Oliveira
Coordenação do Projeto
Tadeu Barreto Guimarães - Coordenação Geral
Marco Antônio Rodrigues da Cunha - Coordenação Executiva
Marilena Chaves - Coordenação Técnica
Equipe Técnica do Departamento de Planejamento,
Programas e Estudos Econômicos – D.PE
Bernardo Tavares de Almeida
Frederico Mário Marques
Gislaine Ângela do Prado
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
Marco Antônio Rodrigues da Cunha
Marilena Chaves
Tadeu Barreto Guimarães - Gerente
Apoio Administrativo
Cristiane de Lima Caputo
Diully Soares Cândido Gonçalves
Henrique Naves Pinheiro
Hiram Silveira Assunção
Marta Maria Campos
3
Introdução
4. As idéias expostas nos textos assinados são de responsabilidade dos autores,
não refletindo necessariamente a opinião do BDMG.
BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG
Rua da Bahia, 1600, Lourdes
30160.907 Caixa Postal 1.026
Belo Horizonte - Minas Gerais
Tel : (031) 3219.8000
http://www.bdmg.mg.gov.br
e-mail: contatos@bdmg.mg.gov.br
Editoração de Textos
IDM / Técnica Composição e Arte
Criação da Capa
Fernando Fiúza de Filgueiras
Projeto e Produção Gráfica
Fernando Fiúza de Filgueiras
Otávio Bretas
Rona Editora Ltda
Avenida Mem de Sá, 801
Santa Efigênia
30260-270 Belo Horizonte/ MG
Telefax: (31) 3283-2123
Revisão e Normalização
Dila Bragança de Mendonça
Elzira Divina Perpétua (Coordenação)
Marlene de Paula Fraga
Raquel Beatriz Junqueira Guimarães
Vicente de Paula Assunção
Virgínia Novais da Mata Machado
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
Minas Gerais do Século XXI / Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
B213m
2002 Belo Horizonte: Rona Editora, 2002.
10 v. : il. -
Conteúdo: v.1 - O Ponto de Partida. v. 2 - Reinterpretando o Espaço Mineiro.
v. 3 - Infra-Estrutura: sustentando o desenvolvimento. v. 4 - Transformando o
Desenvolvimento na Agropecuária. v. 5 - Consolidando Posições na
Mineração. v. 6 - Integrando a Indústria para o Futuro. v. 7 - Desenvolvimento
Sustentável: apostando no futuro. v. 8 - Investindo em Políticas Sociais. v. 9 -
Transformando o Poder Público: a busca da eficácia. v. Especial – Uma Visão do Novo
Desenvolvimento
1. Condições econômicas – Minas Gerais. 2. Desenvolvimento econômico –
Minas Gerais. I. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. II. BDMG. III. Título
CDU: 338.92(815.1)
Catalogação na publicação: Biblioteca BDMG
4 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
5. VOLUME 1
PONTO DE PARTIDA
Coordenação do Projeto
Tadeu Barreto Guimarães – Coordenação Geral
Marco Antônio Rodrigues da Cunha – Coordenação Executiva
Marilena Chaves – Coordenação Técnica
Coordenador Técnico do Volume
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
5
Introdução
6. 6 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
7. SUMÁRIO
1. A CONSTRUÇÃO ECONÔMICA RECENTE ..................................................................................................... 9
2. AS TRANSFORMAÇÕES EM CURSO .................................................................................................................. 57
3. AS CONDIÇÕES DE VIDA ........................................................................................................................................ 135
4. O QUADRO INTERNACIONAL E A EVOLUÇÃO RECENTE
DA ECONOMIA BRASILEIRA .............................................................................................................................. 181
5. MINAS GERAIS NO PAÍS E NO MUNDO ........................................................................................................ 223
7
Introdução
8. 8 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
9. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME I
O PONTO DE PARTIDA
CAPÍTULO 1
A CONSTRUÇÃO
ECONÔMICA RECENTE
Fabiana Borges Teixeira dos Santos
(PhD Candidate e Pesquisadora Associada do CEDEPLAR/UFMG)
10.
11. A autora agradece:
Aos comentários de Mauro Borges Lemos, Clélio Campolina Diniz e Frederico Gonzaga
Jayme Júnior, professores do CEDEPLAR/UFMG, que muito contribuíram para a
realização deste capítulo; ao trabalho realizado pelos assistentes de pesquisa Bruno Campos
e Rangel Galinari e pela estagiária Paula Souto; ao Dr. João Camilo Pena, consultor
especial do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, pelos seus comentários; naturalmente
eximindo-os de quaisquer erros ou omissões porventura presentes neste texto.
12.
13. SUMÁRIO
1.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 15
1.2. FORMAÇÃO ECONÔMICA DE MINAS GERAIS E INDUSTRIALIZAÇÃO ...................................... 16
1.2.1. Década dos 40 e 50 – dependência e atraso da economia mineira ............................................................... 16
1.2.2. Década dos 60 – a natureza da especialização produtiva e a consolidação
do aparato institucional de apoio à industrialização ....................................................................................... 18
1.3. O SURTO DE INVESTIMENTOS DOS ANOS 70:
INDUSTRIALIZAÇÃO E DIVERSIFICAÇÃO .................................................................................................... 20
1.4. OS ANOS DA “DÉCADA PERDIDA”: INFLEXÃO E CRISE DA ECONOMIA MINEIRA ........... 34
1.5. LIBERALIZAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO: MINAS GERAIS NOS ANOS 90 ............................................ 42
1.6. REFLEXÕES FINAIS .................................................................................................................................................... 54
1.7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................................ 55
14.
15. BDMG
40 anos
1.1. Introdução
Apresenta-se, a seguir, uma visão geral das principais transformações ocorridas na economia
mineira ao longo de sua formação econômica, com especial ênfase nos últimos 30 anos. Analisam-
se as origens da formação econômica do Estado e a subseqüente especialização na produção de
bens intermediários; o grande surto de investimentos dos anos 70, que veio alterar a estrutura
industrial mineira dando início a um processo de diversificação do parque industrial; a emergência
de novos setores industriais (bens de capital, consumo durável e intermediário), provocando o
adensamento das relações interindustriais dentro da própria economia regional e ampliando a sua
inserção nacional e internacional. Pretende-se, além disso, situar a economia mineira no contexto
nacional e em relação aos principais estados da federação concorrentes, destacando aquelas
características que a diferenciam do restante do Brasil.
15
Capítulo 1 - A construção econômica recente
16. 1.2. Formação econômica de Minas Gerais e
BDMG
40 anos
industrialização
O processo histórico do desenvolvimento econômico mineiro foi marcado pela sua forte
sustentação sobre a rica base de recursos naturais e sua integração à divisão inter-regional do
trabalho. Não só a história econômica de Minas decorreu sob o signo da exploração de seus recursos
naturais, mas também, graças à sua proximidade com São Paulo e Rio de Janeiro, evoluiu de
maneira complementar e conexa ao centro industrializado. Não raro, essa relação foi interpretada
como reproduzindo, em nível nacional, as relações centro-periferia observadas na escala mundial.
1.2.1. Década dos 40 e 50 – dependência e atraso da economia mineira
A desvantajosa posição de Minas em relação ao centro industrializado do país foi enfatizada,
em 1947, pelo primeiro Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção. Este Plano ressaltou a
excessiva dependência da economia mineira sobre sua base mineradora e o limitado avanço da
industrialização, destacando a sua especialização na produção de matérias-primas e produtos
industrialmente pouco elaborados. Mais importante, o Plano identificava a relação de dependência
da indústria de base mineira com a indústria dinâmica do Rio de Janeiro e São Paulo e a sua
pequena interligação com os demais ramos industriais do Estado. Essa percepção era, em parte,
resultante do verdadeiro isolamento inter-regional. As transações comerciais nos estados da
Federação se davam, essencialmente, intra-regionalmente. De fato, a visão prevalecente, nos anos
40, retratava o país como “um imenso ‘arquipélago’ de ilhas econômicas relativamente isoladas”
(Galvão, 1993, p. 260), no qual fortes vínculos econômicos se realizavam intra-regionalmente. A
matriz de comércio interno interestadual de 1947, apresentada por Galvão (1993), mostra
claramente a grande importância do comércio entre Minas Gerais, Rio de Janeiro (inclusive
Guanabara) e São Paulo, o qual representou 88% do comércio interno interestadual total realizado
naquele ano. As exportações de Minas Gerais para os demais estados da região Sudeste
representaram, em 1947, 95% das exportações totais do Estado, enquanto para as demais regiões
do país apenas 5%. A participação de Minas nas exportações interestaduais totais naquele ano
representou 21,6%.
Apesar de não realizar um diagnóstico exaustivo da economia mineira, o Plano de Recuperação
de 1947 apontou as deficiências de infra-estrutura, ou “capital social básico” , como o mais sério
entrave à “decolagem” industrial do Estado e ressaltou a pequena diversificação produtiva,
essencialmente baseada em setores tradicionais1 (agropecuária, produtos alimentares e têxteis) e
produção de matérias-primas e insumos pouco elaborados para as regiões centrais. Na solução da
“fragilidade, subdesenvolvimento e dependência” da economia de Minas, o Plano sugeria a criação
de uma “taxa de recuperação econômica” para financiar empreendimentos, implementação de
programas sob a égide estatal para construção de infra-estrutura, e desenvolvimento de programas
destinados a complementar e sustentar novos investimentos no setor industrial2 . Nesse sentido,
foi de fundamental importância para a industrialização de Minas, o uso do poder de acumulação
Estimativas mostram que a base produtiva da economia mineira era essencialmente agrícola, com esse setor contribuindo com um
1
pouco menos de um terço do PIB estadual em 1953. Adicionalmente, os setores industriais tradicionais como alimentos e têxteis
contribuíam com aproximadamente 10% do PIB estadual, com claro predomínio dos alimentos (7,3%). Haddad et al. (2002).
Cintra e Andrade (1978).
2
16 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
17. do Estado. Um dos resultados do Plano foi a elaboração do Plano de Eletrificação, em 1951,
BDMG
40 anos
voltado para a solução do problema energético. Adicionalmente, a “taxa de recuperação econômica”
forneceu recursos para investimentos e foram criadas empresas sob controle estatal, destacando-
se a CEMIG na geração de energia hidrelétrica e na área de planejamento.
Ao longo dos anos 50, o setor industrial do Estado cresceu a elevada taxas (147%),
comparativamente aos demais setores (primário – 46% - e terciário – 74%), aumentando sua
participação na formação do PIB mineiro. Esse crescimento foi liderado pelas indústrias extrativa
mineral (13,7% a.a.), de minerais não-metálicos (16,2% a.a.) e metalúrgica (11,8% a.a.), associado
à maturação dos investimentos nos grandes projetos nas áreas de siderurgia (Acesita, Usiminas e
Mannesmann); mineração (Cia Vale do Rio Doce); cimento (Cia. Portland Itaú) e energia elétrica
(Cemig) realizados no transcorrer dos anos 40 e 50. Como resultado, a participação relativa
agregada desses três ramos no valor da produção da indústria de transformação, entre 1949 e
1962, pulou de 19,8 para 36,3%. Em contraste, os ramos tradicionais da indústria de transformação
(produtos alimentares e têxtil), que, em 1949, representavam quase dois terços do valor da produção
manufatureira, viram sua participação relativa reduzir acentuadamente ao longo dos anos 50. No
início da década dos 60, a participação relativa desses ramos havia declinado pela metade, resultado
da substancial contração da indústria de alimentos (caiu de 48,9% para 29% do valor da produção
manufatureira entre 1949 e 1962) e da estagnação da indústria têxtil (manteve sua participação
relativa no mesmo período em torno de 15,5%).
Não obstante os esforços para o avanço da industrialização, Minas continuou perdendo
posição relativa no setor industrial em nível nacional. De acordo com algumas estimativas3 , entre
1950 e 1959, a participação de Minas na renda industrial brasileira declinou de 7,2% para 6,8%,
resultado da menor taxa de crescimento da indústria mineira (147%) relativamente à nacional
(195%) no período. As razões apontadas para essa perda de posição relativa foram: (a) a ausência
de um aparato institucional que sustentasse e articulasse os mecanismos necessários para a promoção
da industrialização; (b) a falta de um “centro que permitisse captar os benefícios de suas atividades
econômicas e interligar seu espaço econômico” (Cintra e Andrade, 1978, p. 23); (c) deficiência no
fornecimento de insumos básicos e infra-estrutura viária; (d) ausência de empresários
empreendedores4 ; (e) a concentração da industrialização em São Paulo e Rio de Janeiro, onde a
presença de significativas economias externas e o mais alto nível de renda propiciavam condições
mais favoráveis vis-à-vis Minas Gerais; e (f) forte concorrência no mercado interno mineiro de
manufaturas produzidas nos centros industriais primazes.
O desempenho do setor primário foi também decepcionante ao longo dos anos 50, tanto
quando comparado ao dos demais setores da atividade econômica estadual, como em relação ao
setor primário dos demais Estados e à média brasileira5 . Observou-se, além disso, uma mudança
intra-setorial, com a pecuária crescendo, em termos reais, mais rapidamente que a agricultura. Isto
se deveu a uma combinação de fatores, dentro dos quais se destacam: (a) evolução adversa dos
preços relativos da agricultura em relação à pecuária; (b) rápido crescimento da pecuária,
influenciado pelo desenvolvimento da indústria de laticínios no Estado; pela implantação de
cooperativas de produtores de leite; e pela grande demanda por carne, leite e derivados pelos
centros urbanos; (c) preponderância das lavouras em estabelecimentos de tamanho reduzido,
caracterizados por práticas familiares e baixa produtividade; enquanto os estabelecimentos se
Contas Nacionais do Brasil, Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, ano XVI, n.1, mar. 1962.
3
Diagnóstico de 1968.
4
Enquanto o setor agropecuário de Minas Gerais cresceu 46% no período 1949/60; no Paraná ele cresceu 379%; no Rio Grande
5
do Sul, 59%; e no Brasil, 67%.
17
Capítulo 1 - A construção econômica recente
18. convertiam crescentemente à bovinocultura6 ; e (d) o cultivo dos principais produtos agrícolas do
BDMG
40 anos
Estado (milho, cana, arroz, feijão e café) apresentou um desempenho decepcionante em relação à
média brasileira, tanto em termos de área colhida, como de produtividade e volume físico de
produção7 . Somente o cultivo do algodão mostrou certo dinamismo, crescendo muito acima da
média brasileira. Vale notar que no caso do café, as baixas taxas de crescimento da área colhida se
deveu à política de erradicação do café, que eliminou plantações antieconômicas e reverteu a
utilização destas áreas para outras culturas.
1.2.2. Década dos 60 – a natureza da especialização produtiva e a
consolidação do aparato institucional de apoio à industrialização
Na primeira metade dos anos 60, a performance da economia mineira continuou aquém da
nacional. De um lado, tornou-se clara a defasagem temporal entre os ciclos da economia mineira
e nacional, por aquela ter seu dinamismo atrelado à expansão da indústria de produtos
intermediários, que acompanha, com um hiato temporal, o desempenho das demais categorias de
uso industriais. De outro, a perda de participação relativa de Minas Gerais no PIB brasileiro se
deveu à relativa estagnação do setor agropecuário no Estado8 , enquanto as Regiões Sul e Centro-
Oeste expandiam fortemente, levando Minas Gerais a contribuir com apenas 8,9% do valor bruto
da produção agropecuária brasileira em 1970.
A partir do final dos anos 60, o dinamismo da economia mineira, liderado pelos setores de
mineração e indústria de transformação, passou a superar o da economia nacional como um todo,
época em que se observa a consolidação do aparato institucional de apoio e promoção industrial
do Estado. Esse aparato, que viria a servir de modelo para outros Estados da Federação, se
sustentava sobre três instituições, que deveriam desempenhar funções complementares na promoção
ao desenvolvimento industrial: o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), o Instituto
de Desenvolvimento Industrial (INDI) e a Companhia de Distritos Industriais (CDI).
Não obstante o rápido crescimento e as transformações na estrutura industrial ao longo
dos anos 60, o Diagnóstico da Economia Mineira (BDMG, 1968) sistematizou, de forma elaborada,
os argumentos de que o Estado vinha sendo prejudicado desde a fase de exploração do ouro,
prevendo perspectivas sombrias para o futuro da economia mineira. No Diagnóstico, ressaltou-se o
tardio avanço do desenvolvimento econômico de Minas no marco nacional e responsabilizou-se,
mais uma vez, a especialização na produção de bens intermediários pela fragilidade e dependência
de Minas em relação aos principais centros industrializados do país. A partir dessa avaliação,
propagou-se a idéia da necessidade de um projeto modernizador e industrializante. De fato, o
Diagnóstico serviu de base tanto para a criação do INDI, do CDI e da Fundação João Pinheiro,
como para a elaboração do I Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social (I PMDES). Sem
dúvida, o Diagnóstico foi peça importante na disseminação da idéia de que era essencial aprofundar
e diversificar a industrialização mineira. Entretanto, ao generalizar a “concepção do
empobrecimento” de Minas (Locatelli & Chiari, 1992), o Diagnóstico acabou por subestimar não só
De acordo com o Diagnóstico de 1968, os minifúndios comercializavam apenas 36% do valor da produção, o que representava
6
aproximadamente 19% do total comercializado.
Os casos mais dramáticos foram os do arroz e feijão. De acordo com o Diagnóstico de 1968, a participação relativa de Minas
7
Gerais na área colhida brasileira declinou de 21% para 16%, resultado de seu baixo crescimento em relação à média brasileira
(26% em Minas contra 212% no Brasil) no período 1949-60. No caso do feijão, a área colhida em Minas Gerais cresceu apenas
20% no período, enquanto no Brasil, ela aumentou 73%, levando a participação relativa do Estado na área colhida nacional a
declinar de 23% para 13% entre 1949-60.
Entre 1960 e 1970, o PIB agropecuário mineiro cresceu a taxas anuais médias de 1,6%.
8
18 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
19. a incipiente transformação da economia mineira, a partir da segunda metade da década dos 60,
BDMG
40 anos
mas também a importância da indústria de bens intermediários como base para o desenvolvimento
industrial futuro.
No início dos anos 60, a estrutura industrial de Minas Gerais encontrava-se excessivamente
concentrada em atividades industriais como a alimentar, a têxtil e a metalúrgica (elas representavam,
em 1962, quase 70% do valor da produção da indústria de transformação), sem processar mais
intensamente os produtos da indústria extrativa mineral e agropecuária e sem utilizar os insumos
intermediários que produzia. No entanto, já em fins dos anos 60, era possível constatar que Minas
experimentava um processo de transformação, evidenciado pelo fato de que o setor secundário
(indústria, construção civil e serviços de utilidade pública) passou, pela primeira vez na história
do Estado, a ocupar a segunda posição na distribuição setorial do PIB. Além disso, os dados dos
Censos Industriais do IBGE de 1960 e 1970 mostraram como algumas tendências, internamente
ao setor manufatureiro, se acentuaram. Os ramos tradicionais de bens de consumo não duráveis
continuaram a perder posição para os demais ramos (caíram de 52,1% do valor da transformação
industrial, em 1959, para 38,2% em 1970)9 . Em contraste, os setores produtores de bens de
consumo intermediário e de bens de consumo durável e de capital consolidaram e expandiram a
sua importância na indústria de transformação mineira, passando de 43,9% e 3,3% do valor da
transformação industrial (VTI), em 1959, para, respectivamente, 51,7% e 8,9% do VTI do Estado
em 1970. Vale ressaltar ainda o rápido crescimento, nesse período, da participação da indústria
química (pulou de 2,3% para 6,0% do VTI entre 1959 e 1970); da mecânica (saltou de 0,9% para
6,0% do VTI) e da metalurgia (cresceu de 29,6% para 33,6% do VTI).
Essas mudanças apontavam para uma transição do desenvolvimento do Estado para um
modelo mais integrado nacional e internacionalmente, que viria a se consolidar nos anos 70.
Como aponta Guimarães Neto (1986), com a acelerada integração do mercado nacional ao longo
dos anos 50 e 60, ficou superada a idéia de integração intra-regional, em bases essencialmente
comerciais. Essa foi sendo progressivamente substituída pela integração produtiva nacional (inter-regional),
através da incorporação de vários Estados da Federação nos fluxos inter-regionais de comércio, a
partir de suas especializações regionais, sob a clara dominância da indústria primaz paulista
(especialmente de seu complexo metal-mecânico). São Paulo passa, assim, a exercer definitivamente
(em substituição ao Rio de Janeiro) a função de centro articulador das trocas inter-regionais10 .
Nesse novo contexto, a industrialização mineira nos anos 70, como se verá a seguir, passou a
caminhar de forma complementar e conexa à economia paulista e, em menor medida, à fluminense,
integrando-se a partir de sua especialização regional em bens intermediários, bens de capital
(articulados com a indústria básica) e em bens de consumo duráveis. Como destaca Diniz (1986),
“esta característica estrutural da economia mineira, se, por um lado, criticada por se tratar da
indústria de bens intermediários e de bens de capital a ela ligada, com pequena sofisticação
comparativamente à fronteira tecnológica, por outro, assegura vantagens à indústria mineira qualquer
que seja a orientação estrutural da política econômica brasileira, por se tratar de indústria básica”.
A crise experimentada por estes setores, na segunda metade dos 60, só seria revertida com a ajuda financeira do BDMG, voltada
9
para o reequipamento e modernização das empresas.
Capítulo 2, seção 2.3.
10
19
Capítulo 1 - A construção econômica recente
20. BDMG
1.3. O surto de investimentos dos anos 70:
40 anos
industrialização e diversificação
Minas Gerais, nos anos 70, será lembrada como uma das experiências estaduais de
industrialização mais exitosas do país. Essa foi uma época de dramáticas mudanças estruturais,
quando um grande surto de investimentos veio reverter a perda de posição relativa do Estado no
contexto nacional, dando início a um processo de diversificação e adensamento da estrutura
industrial, de consolidação de novos setores industriais, e de ampliação da inserção nacional e
internacional da economia mineira. Simultaneamente, a decadência histórica da agricultura mineira
foi revertida, com a expansão e incorporação de novas áreas de cultivo. Atrelado ao crescimento
industrial e agrícola, houve grande expansão dos serviços produtivos.
Como conseqüência, Minas Gerais teve um dos maiores ganhos relativo do crescimento do
PIB entre 1970 e 1980. Como mostra a TAB. 1, Minas Gerais elevou a sua participação relativa
no PIB nacional mais acentuadamente do que o Paraná, enquanto os Estados de São Paulo, Rio
de Janeiro e Rio Grande do Sul viram as suas participações relativas se contraírem.
TABELA 1
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO NO PIB DO BRASIL A PREÇOS DE MERCADO (%)
Unidade da Federação 1970 1980
Minas Gerais 8,34 9,44
São Paulo 39,36 37,66
Rio de Janeiro 16,07 13,55
Paraná 5,53 5,94
Rio Grande do Sul 8,73 8,07
BRASIL 100,00 100,00
FONTE: IBGE. Estatísticas Históricas do Brasil.
Tal fato se deveu à excepcional taxa de crescimento do PIB estadual, muito superior à média
nacional e dos demais Estados concorrentes (TAB. 2), associada ao extraordinário desempenho dos
setores industrial e agropecuário. Note-se também o rápido crescimento da produtividade do trabalho
nesse período, muito superior à média nacional e equiparada somente ao ocorrido no Paraná (TAB. 3).
TABELA 2
PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS CONSTANTES DE 2001 E TAXA DE CRESCIMENTO
MÉDIA ANUAL - 1970-1980 - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Taxa de Crescimento
R$ Milhões de 2001
Unidade da média anual (%)
Federação
1970 1980 1970-1980
Minas Gerais 21.848,17 65.868,04 11,67
São Paulo 104.051,90 262.733,08 9,71
Rio de Janeiro 43.990,16 96.010,42 8,12
Paraná 14.330,19 40.259,45 10,88
Rio Grande do Sul 22.705,03 55.376,15 9,33
BRASIL 318.968,37 725.495,02 8,56
FONTE: IBGE. Estatísticas Históricas do Brasil.
20 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
21. TABELA 3
BDMG
40 anos
PRODUTIVIDADE (PIB/PEA): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS - R$ DE 2001
Unidade da Federação 1970 1980 TX. DE VARIAÇÃO
Minas Gerais 6.313,38 13.907,39 120,28
São Paulo 16.327,39 25.234,34 54,55
Rio de Janeiro 31.600,70 22.238,16 -29,63
Paraná 6.294,13 14.061,77 123,41
Rio Grande do Sul 10.006,91 17.282,81 72,71
BRASIL 10.791,55 16.779,99 55,49
FONTE: Elaboração própria a partir de dados do Censo Demográfico e TAB. 2.
Não obstante, os frutos desse desenvolvimento não foram suficientes para reverter o baixo
nível do PIB per capita estadual relativamente à média brasileira. Em que pese a redução da
desigualdade de renda entre os Estados, resultado da grande discrepância entre as taxas de
crescimento do PIB per capta ao longo dos anos 70, Minas Gerais continuou a apresentar, em
1980, o menor PIB per capita dentre os Estados mais desenvolvidos do país (TAB. 4). Tal fato
parece estar vinculado à manutenção de grandes bolsões de pobreza em algumas microrregiões
mineiras, notadamente naquelas localizadas no norte/nordeste do Estado, que não se beneficiaram
dos efeitos de transbordamento do crescimento industrial de São Paulo.
TABELA 4
PRODUTO INTERNO BRUTO PER CAPITA: BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Unidade da 1970 1980 Tx. Média
Federação R$ de 2001 Brasil = 100 R$ de 2001 Brasil = 100 Cresc. Anual (%)
Minas Gerais 1.902,21 55,54 4.922,83 80,75 9,98
São Paulo 5.855,16 170,96 10.491,67 172,11 6,01
Rio de Janeiro 9.274,98 270,82 8.502,79 139,48 -0,87
Paraná 2.067,90 60,38 5.76,57 86,56 9,82
Rio Grande do Sul 3.406,69 99,47 7.123,39 116,85 7,66
BRASIL 3.424,80 100,00 6.096,03 100,00 5,94
FONTE: Fundação Getúlio Vargas e IBGE.
Existe um virtual consenso na literatura econômica que analisa o período em questão sobre
as razões da rápida expansão econômica da economia mineira. Nessa literatura (Andrade, 1980;
Diniz, 1981; Lemos e Diniz, 1986; Fernandes, 1997 entre outras) são elencados vários fatores
que, combinada ou isoladamente, contribuíram para tornar a economia mineira particularmente
atrativa aos investidores. A existência de recursos naturais abundantes; a disponibilidade de infra-
estrutura econômica; a existência de indústria básica (metalurgia e cimento) e extrativa mineral,
gerando externalidades e mercado para a indústria de bens de capital; a privilegiada posição
geográfica do Estado; o esquema de incentivos fiscais e o aparato institucional de apoio à
industrialização aliados a uma ativa liderança política são apontados como os principais fatores
responsáveis pelo surto de investimentos da década dos 70.
21
Capítulo 1 - A construção econômica recente
22. Além disso, dois outros fatores merecem ser considerados. Em primeiro lugar, o processo
BDMG
40 anos
de desconcentração industrial de São Paulo, conjugado com o aprofundamento da decadência
econômica do Rio de Janeiro, abriu espaço para Minas Gerais se firmar no contexto nacional. De
fato, como mostra a TAB. 5, tanto São Paulo como o Rio de Janeiro tiveram as suas participações
relativas no produto industrial nacional reduzidas nos anos 70, destacando-se a significativa perda
apresentada pela atividade industrial paulista (que caiu de 56,35% do PIB industrial nacional em
1970 para 47,23% em 1980). De um lado, como destacam Diniz e Santos (1995), a proximidade
geográfica do Sul de Minas e do Triângulo Mineiro com São Paulo e a existência de uma rede
urbana já estruturada transformaram estas regiões em alternativas locacionais para o processo de
desconcentração industrial de São Paulo. De outro, ainda de acordo com estes autores, os incentivos
fiscais, a desconcentração da produção e a busca de recursos naturais fizeram com que os grandes
grupos econômicos se movessem no espaço nacional, procurando obter vantagens do processo de
desconcentração e de integração produtiva.
Em segundo lugar, Minas Gerais ocupava uma posição privilegiada dentro das grandes
metas do II PND, em função das vantagens comparativas que detinha naqueles setores considerados
prioritários à reestruturação industrial implícita no Plano. De acordo com estimativas de Diniz
(1981), Minas Gerais recebeu, em média, 25% do montante de investimentos aprovados pelo
CDI/MIC no período 1971/1979.
Finalmente, Minas se beneficiou do fato de ter uma infra-estrutura física (energia e malha
rodoviária) mais desenvolvida em relação aos seus potenciais concorrentes. Comparativamente
aos Estados da Região Sul, Minas se colocava em uma posição privilegiada em termos de infra-
estrutura, exercendo assim, um forte efeito de atração sobre os novos investimentos.
TABELA 5
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO INDUSTRIAL*
A CUSTO DE FATORES (PREÇOS CORRENTES)
Unidade da Federação 1970 1975 1980
Minas Gerais 6,93 6,62 8,66
Rio de Janeiro 15,34 12,95 11,92
São paulo 56,35 55,03 47,23
Paraná 2,96 3,99 4,93
Rio Grande do Sul 6,26 7,46 7,40
BRASIL 100,00 100,00 100,00
FONTE: IBGE. Séries Históricas do Brasil.
* Produto Industrial inclui o produto das indústrias extrativa mineral e de transformação, serviços de utilidade pública e
construção
Mesmo reconhecendo que o surto industrial dos anos 70 não possa ser exclusivamente
creditado aos diversos planos adotados pelo governo de Minas, não se pode deixar de enfatizar a
crucial importância do governo estadual e de suas agências de fomento no grande impulso
experimentado pela industrialização mineira no período. Sob a vigência do I PMDES e, em menor
medida, durante os demais planos que o seguiram, a industrialização assumiu lugar central na
política econômica. Incentivos fiscais e creditícios, criação e consolidação de infra-estrutura física
e geração de grandes oportunidades de investimentos, conjugados com o desenvolvimento e
consolidação de um amplo e articulado aparato institucional de suporte à promoção industrial
22 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
23. (BDMG, CEMIG, INDI, CDI, FJP) e fortes pressões políticas junto ao governo federal para a
BDMG
40 anos
implantação daqueles empreendimentos que se beneficiariam das vantagens comparativas do
Estado constituíram as bases sobre as quais se assentou a política econômica estadual dos anos
70. De acordo com estimativa de Diniz (1981), 295 projetos, aprovados entre 1970-74, foram
beneficiados pelos incentivos fiscais da Lei 5261/6911 . Esses projetos foram responsáveis por
investimentos da ordem de Cr$ 40,8 bilhões e geração de 72,8 mil empregos. Esses projetos
orientaram-se, principalmente, para a indústria metalúrgica (72,7% do total dos investimentos) e,
em menor medida, para o setor de bens de capital e de consumo duráveis (9,3% do total dos
investimentos). De fato, a presença do Estado, não só na criação de oportunidades de investimentos
no período, mas também na atuação direta através de investimentos públicos foi de importância
destacada nos anos setenta. Como mostra Diniz (1981), em 1976, 57% das 185 maiores empresas
que operavam no Estado eram públicas; 23% privadas nacionais e 20% estrangeiras. Além disso,
como mostrado no Cap. 2, os investimentos estatais nesse período cresceram 15% ao ano. Esses
foram ainda mais significativos se se considera o período 1970-1978, quando as despesas do
governo estadual com investimentos cresceram a uma taxa de quase 22% ao ano.
Merece destaque, nesse contexto, o papel decisivo do governo e das agências de fomento
estaduais na definição locacional e instalação da Fiat Automóveis, Krupp, White Martins e outras
empresas multinacionais principalmente ligadas ao setor mínero-metalúrgico. De fato, como apontam
Diniz (1981) e Brant (1983), o sistema BDMG-INDI transformou Minas em um “paraíso de
multinacionais”, resultado da absorção de aproximadamente 25% de todo o investimento
estrangeiro direto que entrou no Brasil entre 1971-1977.
O caso da Fiat Automóveis é exemplar acerca do esforço empreendido pelo Estado na
atração de novos investimentos industriais estrangeiros. O governo estadual não somente forneceu
um conjunto de incentivos fiscais, financeiros e de infra-estrutura para a Fiat, mas também se
tornou sócio minoritário da subsidiária naquele momento. Assim, além da provisão de vários
serviços, o governo participou com 46% do capital de US$155 milhões, assegurou a concessão de
todos os benefícios e incentivos máximos previstos pelas leis estaduais, garantiu financiamento
junto a sua rede bancária de US$20 milhões para capital de giro, a construção de conjuntos
habitacionais nas imediações da empresa, entre outros. Posteriormente, foram realizados aumentos
de capital com o Estado subscrevendo de 40 a 50% do valor. Ao mesmo tempo, o Estado
estabeleceu outro acordo com o grupo Fiat para a constituição da FMB S.A., empresa de fundição
para fornecimento à Fiat, participando também do capital e concedendo incentivos fiscais e de
infra-estrutura. Sem dúvida, os incentivos estaduais foram suficientes para compensar as forças
centrípetas da área metropolitana de São Paulo12 .
A instalação da Fiat, em particular, e de outras empresas nacionais e estrangeiras nos setores
de bens de capital e duráveis de consumo viriam alterar definitivamente a inserção da economia
mineira no contexto nacional e internacional. Chama atenção, nesse sentido, o impressionante
crescimento do segmento de bens de capital mineiro, que passou a ser responsável, em 1980, por
aproximadamente 20% da produção nacional. A Fiat, por sua vez, não somente serviu de base
para a aceleração do desenvolvimento do complexo metal-mecânico, mas também contribuiu
para a diversificação e estabilidade da pauta exportadora do Estado, até então altamente vulnerável
às oscilações nos preços das commodities nos mercados internacionais. Tais investimentos, além
disso, contribuíram para criar uma imagem positiva e de confiança na economia mineira.
A Lei 5261/69 beneficiava as empresas que implantassem ou ampliassem sua capacidade produtiva, ou que introduzissem novas
11
linhas de produção e produtos. Vinculava-se 25,6% do ICM devido como compensação de investimentos realizados pela empresa
de projetos beneficiados. Em face da generalização de esquemas semelhantes no país, o que configurou uma guerra fiscal, o
governo federal proibiu a concessão de incentivos fiscais, extinguindo-se a Lei em 1973.
Diniz et al (2000).
12
23
Capítulo 1 - A construção econômica recente
24. Vale ressaltar ainda que, a indústria extrativa mineral deu importante contribuição para o
BDMG
40 anos
posicionamento de Minas no contexto industrial nacional. Isto se deveu, em primeiro lugar, ao
peso de Minas Gerais na produção mineral brasileira. Como apontado por BDMG (1989, p. 104),
“[e]ntre 1975 e 1976 a situação relativa do Estado no País atingiu o seu ápice, quando sua produção
[mineral] participava com cerca de 60% do total nacional, exclusive os energéticos”13 . No decorrer
da década dos 70, o Estado se tornou o maior fornecedor nacional de bauxita, fosfato, calcário,
quartzo, argila, nióbio, zinco, caulim, feldspato e vanádio, entre outros. Em segundo lugar, essa
indústria exerceu um forte efeito de atração locacional sobre algumas atividades industriais, tornando
o Estado uma localização privilegiada para indústrias beneficiadoras e processadoras (siderurgia,
alumínio, cimento, fosfato, zinco e níquel). Finalmente, essa indústria foi beneficiada pelo
incremento da demanda interna de matérias-primas minerais representada pelo crescimento da
indústria paulista. Como resultado, ao longo da década, o PIB setorial apresentou uma tendência
nitidamente ascendente, com taxas médias de crescimento anual de 14,3% (BDMG, 1989, p. 12).
As condições descritas anteriormente levaram à atração de uma grande massa de
investimentos na atividade industrial (indústria extrativa, indústria de transformação, serviços de
utilidade pública e construção). Como mostra a TAB. 6, a taxa de crescimento da formação bruta
de capital na atividade industrial no decorrer da década foi surpreendente.
TABELA 6
TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO
(PREÇOS CONSTANTES) ATIVIDADE INDUSTRIAL (%)
ANO EM IT SUP CTR TOTAL MG
1971 84,90 37,70 -9,50 -5,30 3,20
1972 77,90 37,90 38,30 24,50 12,80
1973 84,20 36,70 22,80 53,00 29,00
1974 21,90 30,10 -8,20 16,80 21,80
1975 -28,70 44,80 60,30 85,50 35,50
1976 35,40 44,20 6,40 1,50 28,70
1977 23,00 -11,90 18,50 3,00 14,80
1978 -52,10 59,70 -13,30 0,40 2,90
1979 -39,40 21,90 -16,40 -1,30 1,40
1980 33,00 -14,10 6,00 2,90 -4,30
TAXA ACUMULADA 238,59 938,86 119,10 316,65 265,64
FONTE: Secretaria de Estado do Planejamento . Agregados Regionais: Formação Bruta de Capital Fixo, 1970-1985.
Obs.: EM: Extrativa Mineral; IT: Indústria de Transformação; SUP: Eletricidade, Gás e Água; e CTR: Construção
Ao serem ativados, esses investimentos não só sustentaram o crescimento industrial a
elevadíssimas taxas entre 1970-80, mas também promoveram uma radical mudança na estrutura
ocupacional e da estrutura produtiva da indústria. Como mostra a TAB. 7, o produto industrial
mineiro14 , entre 1970 e 1980, cresceu a taxas médias anuais de 12%15 . Somente o Paraná apresentou
uma taxa de crescimento da atividade industrial superior à de Minas, enquanto as de São Paulo,
A partir de então, a participação de Minas na produção mineral brasileira começou a declinar, atingindo 50% em 1980. Este decréscimo
13
decorreu tanto da queda nas vendas internacionais de minério de ferro, quanto da expansão da mineração para outras regiões do país
(particularmente, para o Pará, Bahia e Goiás).
Inclui extrativa mineral, indústria de transformação, serviços de utilidade pública e construção.
14
Os dados da TAB. 8 devem ser analisados com cuidado, dada a grande dificuldade em se trabalhar com séries históricas de PIB setoriais
15
por Unidade da Federação. Essa tabela pretende apenas ilustrar a dinâmica geral da atividade industrial dos Estados selecionados.
24 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
25. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul cresceram a taxas inferiores à média brasileira. Como resultado,
BDMG
40 anos
Minas Gerais viu a sua participação no PIB industrial brasileiro crescer de 6,9 % para quase 9%
(TAB. 5). Esse crescimento levou à duplicação da população ocupada na indústria, sendo que a
indústria de transformação e a construção foram as atividades que mais absorveram mão-de-
obra, apresentando uma taxa de variação, entre 1970 e 1980, de 129,4% e 132%, respectivamente
(TAB. 8).
TABELA 7
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL DA ATIVIDADE INDUSTRIAL (PREÇOS CONSTANTES DE 1980) (%)
Unidade da Federação 1970-1975 1975-1980 1970-1980
Minas Gerais 10,35 13,41 11,87
Rio de Janeiro 7,65 5,63 6,64
São Paulo 10,60 4,24 7,37
Paraná 17,73 12,12 14,89
Rio Grande do Sul 15,25 7,08 11,09
BRASIL 11,19 7,45 9,30
FONTE: IBGE. Séries Históricas do Brasil e Conjuntura Econômica, vários números
TABELA 8
POPULAÇÃO OCUPADA SEGUNDO SETORES DE ATIVIDADE MINAS GERAIS (%)
1970 1980 Taxa
Setor de Atividade Número de Participação Número de Participação de
Pessoas Relativa Pessoas Relativa Variação
Agropecuária 1.714.109 50,48 1.518.442 32,82 -11,42
Indústria 517.640 15,24 1.115.624 24,12 115,52
Indústria de Transformação 245.324 7,22 562.858 12,17 129,43
Construção 197.078 5,80 457.310 9,89 132,05
Outras Atividades Industriais 75.238 2,22 95.456 2,06 26,87
Serviços 1.164.179 34,28 1.991.950 43,06 71,10
TOTAL 3.395.928 100,00 4.626.016 100,00 36,22
FONTE: IBGE - Censos Demográficos, 1970 e 1980
Apesar de a especialização da economia mineira na produção de bens intermediários não
ter sido alterada substancialmente com os investimentos dos anos 70, a estrutura industrial
experimentou uma significativa diversificação, com a incorporação de novos produtos
intermediários e com o rápido crescimento da indústria de bens de capital - articulada com a
indústria básica (produção de equipamentos para mineração, siderurgia e cimento) - e de bens de
consumo duráveis – fundamentalmente associada com a instalação da Fiat. Ocorreu também
relativa modernização das indústrias tradicionais, especialmente têxtil e alimentos. Em particular,
como mostra a TAB. 9, entre 1970 e 1980, observou-se: (i) o aumento substancial da participação
das categorias de bens de capital e de bens de consumo durável, que passou de 5% para 19,8%;
(ii) a redução da participação da categoria de bens intermediários de 60,8% para 47,6%; e (iii) a
25
Capítulo 1 - A construção econômica recente
26. relativa estabilidade da participação de bens de consumo não duráveis (manteve-se em 29%
BDMG
40 anos
aproximadamente). A categoria que liderou o crescimento industrial nesse período foi o de bens
de capital e duráveis, com uma taxa média anual de quase 22%, impulsionados pelos gêneros
material de transporte (27,5%) e mecânica (21,8%).
TABELA 9
ESTRUTURA DO VALOR AGREGADO BRUTO A CUSTO DE FATORES NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
POR CATEGORIA DE USO A PREÇOS CONSTANTES DE 1980 - (%)
Tx. de Cresc.
Participação Relativa
Categoria de uso Média Anual
1970 1975 1980 1970 - 1980
Bens de Consumo Não Duráveis 28,6 34,1 28,7 12,7
Têxtil 6,2 10,9 7,4 11,7
Produtos Alimentares 14,9 15,5 11,4 8,8
Outros 7,5 7,7 9,9 -
Bens de Consumo Intermediário 60,8 49,4 47,6 11,4
Metalurgia 29,1 21,7 23,9 11,6
Minerais Não-Metálicos 13,7 16,4 11,9 10,4
Papel e Papelão 0,8 1,0 2,6 21,4
Química 17,0 9,9 8,8 8,1
Borracha 0,2 0,4 0,4 21,9
Bens de Consumo Duráveis e
de Capital 5,0 10,8 19,8 21,8
Material Elétrico e de Comunicação 0,8 2,2 2,9 7,8
Material de Transporte 0,8 1,7 7,3 27,5
Mecânica 3,4 6,9 9,6 21,8
Diversos 5,6 5,7 3,9 32,7
TOTAL 100,0 100,0 100,0 14,0
FONTE: FERNANDES, C. L. A Inserção de Minas na Economia Nacional. 1997, p. 26 e 27
A evolução da produtividade do trabalho no setor industrial mineiro neste período foi
impressionante, comparando-se somente ao observado na indústria paranaense. Como se pode
observar pela TAB. 10, em 1970, a produtividade da indústria mineira era bastante inferior as dos
demais estados analisados, situando-se bem abaixo da produtividade média brasileira do setor.
Em 1980, a produtividade da indústria mineira se aproxima dos níveis apresentados pela média
brasileira, denotando um rápido crescimento nos anos 70.
TABELA 10
PRODUTIVIDADE* DA INDÚSTRIA EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA - BRASIL = 100
Unidade da Federação 1970 1980
Minas Gerais 71,01 99,95
Rio de Janeiro 107,90 107,72
São Paulo 149,18 112,09
Paraná 68,17 107,59
R. Grande do Sul 88,13 94,81
BRASIL 100,00 100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas
* Produtividade=PIB a custo de fatores da indústria a preços correntes/população ocupada
26 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
27. Desempenho semelhante apresentou a indústria paranaense que, em 1980, apresentou um
BDMG
40 anos
nível de produtividade do trabalho superior ao da média brasileira. A indústria gaúcha também
apresentou certo dinamismo, mas que não foi suficiente para reduzir o hiato de produtividade em
relação à média brasileira. Em contraste, o Rio de Janeiro e São Paulo mantiveram ou até mesmo
tiveram a produtividade reduzida.
No que se refere ao setor primário, deve-se destacar o processo de diferenciação e
modernização da estrutura produtiva do setor agropecuário mineiro ao longo dos anos 70, que se
“... realiza através de sua vinculação crescente ao setor industrial, expressa no uso intensivo de
insumos e maquinário e na transformação industrial, cada vez mais elaborada, dos seus produtos”
(BDMG, 1989). Como destacado por Nabuco (1984), este processo foi resultado tanto de uma
reorganização geográfica da produção agrícola no Estado, quanto de uma redefinição da composição
intersetorial (pecuária versus agricultura) e intra-atividades (pecuária de corte versus pecuária leiteira;
produtos de mercado interno versus mercado externo e agroindustrial) do setor. Em decorrência,
a produção primária do Estado cresceu 119% na década ou 8,16% ao ano16 (TAB. 11). Este
desempenho não foi observado em nenhum dos outros estados analisados, levando Minas Gerais
a ocupar a primeira posição no PIB agropecuário brasileiro (TAB. 12).
TABELA 11
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL DA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA A CUSTO DE FATORES
(PREÇOS CONSTANTES DE 1980) (%)
Unidade da Federação 1970-75 1975-80 1970-80
Minas Gerais 5,17 11,25 8,16
Rio de Janeiro 2,75 2,54 2,65
São Paulo 3,85 2,95 3,40
Paraná 11,59 -2,39 4,37
Rio Grande do Sul 2,11 2,46 2,29
BRASIL 4,40 5,09 4,75
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
TABELA 12
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO AGROPECUÁRIO
A CUSTO DE FATORES (PREÇOS CORRENTES) (%)
Unidade da Federação 1970 1975 1980
Minas Gerais 11,86 12,30 16,35
Rio de Janeiro 2,42 2,24 1,98
São paulo 16,21 15,79 14,25
Paraná 12,11 16,90 11,68
Rio Grande do Sul 15,93 14,26 12,56
BRASIL 100,00 100,00 100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
Como destacado anteriormente, esses dados devem ser tomados com cautela, em razão da grande dificuldade em se trabalhar com
16
séries históricas de PIB setoriais por Unidade da Federação.
27
Capítulo 1 - A construção econômica recente
28. Além disso, deve-se destacar que, a exemplo do ocorrido no setor industrial, o setor
BDMG
40 anos
agropecuário apresentou significativos ganhos de produtividade, ao longo década, muito superiores
aos dos demais estados analisados e do Brasil (TAB. 13).
TABELA 13
PRODUTIVIDADE* DA AGROPECUÁRIA EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA - BRASIL = 100
Unidade da Federação 1970 1980
Minas Gerais 90,38 136,31
Rio de Janeiro 163,05 128,15
São Paulo 123,87 153,55
Paraná 110,21 125,15
Rio Grande do Sul 199,61 176,01
BRASIL 100,00 100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas
* Produtividade=PIB a custo de fatores da agropecuária a preços correntes/população ocupada
Sem dúvida, esse expressivo crescimento da produção e da produtividade esteve vinculado
ao rápido crescimento dos investimentos no setor ao longo da década (TAB. 14). Esses
investimentos foram propiciados pela expansão do crédito rural e trouxeram consigo mudanças
nas práticas produtivas, com a utilização intensiva de insumos modernos e introdução de inovações,
principalmente mecânicas. De acordo com algumas estimativas, o número de estabelecimentos
rurais que faziam uso de fertilizantes orgânicos e químicos mais que dobrou (crescimento de
155%) entre 1970 e 1980. Todas essas transformações levaram a uma dramática contração da
população ocupada no setor. Como mostra a TAB. 8, a participação relativa da agropecuária na
população ocupada total do Estado caiu de 50,5% para 32,8% entre 1970 e 1980.
TABELA 14
TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DA FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO
(PREÇOS CONSTANTES) ATIVIDADE AGROPECUÁRIA (%)
ANO Agropecuária TOTAL MG
1971 25,40 3,20
1972 9,90 12,80
1973 17,40 29,00
1974 18,30 21,80
1975 17,10 35,50
1976 52,40 28,70
1977 26,80 14,80
1978 -29,00 2,90
1979 26,00 1,40
1980 -22,40 -4,30
TAXA ACUMULADA 200,68 265,64
FONTE: Secretaria de Estado do Planejamento - Agregados Regionais: Formação Bruta de Capital Fixo, 1970-1985
* Inclui: Agricultura, Silvicultura, Caça e Pesca
28 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
29. No que se refere à agricultura, dois fatores podem ser apontados como determinantes
BDMG
40 anos
para a sua modernização. De um lado, no bojo de substanciais mudanças tecnológicas e
inúmeros programas governamentais (com especial destaque para o crédito rural e programas
de irrigação), foi possível incorporar produtivamente os cerrados e o Noroeste/Oeste do
Estado (principalmente através de programas de irrigação e ocupação da fronteira), bem
como conduzir a cultura cafeeira no Sul de Minas e no cerrado em bases modernas
(principalmente através do Plano de Renovação e Revigoramento dos Cafezais). De outro
lado, observou-se a expansão de culturas com maior potencial de absorção tecnológica,
ligadas à exportação (como soja e café), aos programas específicos (como cana-de-açúcar/
PRÓ-ÁLCOOL) e ao processamento agroindustrial (como frutas, farelo e ração para a
pecuária).
Igualmente importante para o excepcional desempenho da agropecuária mineira foi o
dinamismo da pecuária, cujo valor bruto da produção cresceu a elevadas taxas até fins dos
anos 70. A expansão da atividade leiteira foi fundamentalmente estimulada pela considerável
elevação dos preços do leite e ganhos de produtividade. Em geral, esta atividade
desenvolveu-se combinada com atividades essencialmente agrícolas, já que se constituía
em garantia de capital de giro aos produtores ao longo do ano agrícola (veja-se, por exemplo,
o caso do Sul/Sudoeste de Minas, onde as propriedades rurais combinavam o plantio do
café com a produção de leite). Ou seja, a reprodução ampliada da economia primária e a
sustentação do crescimento com relativa estabilidade tornaram-se possíveis, em certa
medida, pela combinação de uma atividade geradora de recursos para investimento em
capital fixo e uma atividade geradora de fluxo contínuo de recursos de capital circulante.
No entanto, ao lado da modernização agrícola do Sul, Triângulo e Noroeste do Estado
continuou a subsistir uma agricultura atrasada do Jequitinhonha, Rio Doce e Zona da Mata.
Além disso, e mais importante, a dificuldade em avançar na incorporação e internalização
dos elos industriais e comerciais a jusante ao longo da cadeia produtiva agropecuária tornou
a economia estadual vulnerável às oscilações dos preços (nacionais e internacionais) de
seus principais produtos (notadamente café, soja e leite) e extremamente dependente da
indústria processadora paulista. De fato, boa parte da produção continuou a ser exportada
in natura para o exterior e para outros estados do País, onde era industrializada.
Em que pesem a heterogeneidade espacial e a pequena agregação de valor intra-
estadual da produção agropecuária mineira ao longo da década, a produção primária de
Minas experimentou significativo dinamismo econômico, com a participação de Minas Gerais
na produção agropecuária nacional subindo de 11,9% para 16,4% entre 1970 e 1980 (TAB.
12). Minas passou a liderar a produção nacional de café e tornou-se o maior exportador do
produto. A produção agrícola do cerrado expandiu-se rapidamente, associada aos vários
programas de apoio à agricultura do cerrado e à montagem de infra-estrutura para
escoamento da produção (Corredor de exportação ES-MG-GO), e o Noroeste do Estado
viu crescer a produção de produtos irrigados.
Vinculado ao rápido crescimento industrial e agrícola, ocorreu uma rápida expansão
do setor terciário mineiro, que cresceu a taxas próximas a 9% anuais (TAB. 15). A baixa
produtividade do setor ajuda a explicar o incremento da participação relativa do setor na
população ocupada total do Estado, que passou de 34,3% para 43% entre 1970 e 1980
(TAB. 8).
29
Capítulo 1 - A construção econômica recente
30. TABELA 15
BDMG
40 anos
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIA ANUAL DA ATIVIDADE TERCIÁRIA A CUSTO DE FATORES
(PREÇOS CONSTANTES DE 1980) (%)
Unidade da Federação 1970-1975 1975-1980 1970-1980
Minas Gerais 12,56 5,96 9,21
Rio de Janeiro 9,85 5,68 7,75
São Paulo 11,20 6,81 8,98
Paraná 13,80 4,83 9,23
Rio Grande do Sul 10,20 5,97 8,07
BRASIL 10,89 7,23 9,04
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
O dinamismo do terciário mineiro não se mostrou particularmente distinto daquele
observado na economia brasileira e foi similar ao apresentado pelo Estado do Paraná. Este fato
levou a um pequeno ganho na participação relativa de Minas Gerais no produto do setor terciário
nacional de 8,25% em 1970 para 8,37% em 1980 (TAB. 16). Há que se notar, contudo, que este
pequeno crescimento foi acompanhado não somente por uma diversificação e diferenciação da
estrutura setorial dos serviços, mas também por dinâmicas espaciais intra-estado bastante distintas.
Observa-se que, em contraste, com o ocorrido em nível nacional, os serviços produtivos
aumentaram a sua participação na estrutura do terciário mineiro. Além disso, a exemplo do ocorrido
em nível nacional, o crescimento do terciário nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e
Rio Grande do Sul ocorreu naqueles segmentos mais ligados a uma estrutura de inchamento do
terciário, em detrimento do segmento produtivo (TAB. 17).
TABELA 16
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS SELECIONADOS NO PRODUTO AGROPECUÁRIO A CUSTO
DE FATORES (PREÇOS CORRENTES) (%)
Unidade da Federação 1970 1975 1980
Minas Gerais 8,25 8,89 8,37
Rio de Janeiro 20,57 19,62 18,25
São Paulo 34,98 35,46 34,79
Paraná 5,27 6,00 5,36
Rio Grande do Sul 8,23 7,98 7,52
BRASIL 100,00 100,00 100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas do Brasil
30 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
31. TABELA 17
BDMG
40 anos
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS SERVIÇOS PRODUTIVOS* (%):
BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS
Unidade da Federação 1970 1980
% Brasil = 100 % Brasil = 100
Minas Gerais 42,78 95,46 44,62 103,74
São Paulo 46,22 103,13 43,43 100,96
Rio de Janeiro 47,90 106,88 39,49 91,81
Paraná 47,04 104,97 44,83 104,23
Rio Grande do Sul 44,71 99,76 42,91 99,75
BRASIL 44,81 100,00 43,02 100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Pessoal Ocupado em Serviços Produtivos / Pessoal Ocupado no Setor Serviços
Em que pese o relativo dinamismo do segmento de serviços produtivos em Minas Gerais,
este não foi capaz de reverter a sua significativa atrofia em relação à base produtiva (agropecuária
e indústria) do Estado (TAB. 18).
TABELA 18
ÍNDICE DE TERCEIRIZAÇÃO* (%): BRASIL E UNIDADES FEDERATIVAS SELECIONADAS
Unidade da Federação 1970 1980
% Brasil=100 % Brasil = 100
Minas Gerais 27,48 87,45 48,00 107,96
São Paulo 49,32 156,97 54,46 122,48
Rio de Janeiro 43,55 138,58 113,76 255,86
Paraná 25,68 81,72 43,87 98,68
Rio Grande do Sul 22,66 72,11 36,61 82,33
BRASIL 31,42 100,00 44,46 100,00
FONTE: FIBGE (Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000)
* Índice de Terceirização = PO Serv. Produtivos /(PO Agricultura + PO Indústria)
A produtividade do trabalho do setor terciário de Minas apresentou uma leve melhora, que
não foi suficiente para igualar a média brasileira. Somente o Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram
ganhos de produtividade maiores. Em contraste, Paraná e Rio Grande do Sul pioraram relativamente
à média brasileira. (TAB. 19).
31
Capítulo 1 - A construção econômica recente
32. TABELA 19
BDMG
40 anos
PRODUTIVIDADE* DOS SERVIÇOS EM RELAÇÃO À MÉDIA BRASILEIRA - BRASIL = 100
Unidade da Federação 1970 1980
Minas Gerais 74,86 75,25
Rio de Janeiro 120,24 127,26
São Paulo 127,40 130,70
Paraná 97,25 91,44
Rio Grande do Sul 108,68 99,89
BRASIL 100,00 100,00
FONTE: IBGE - Séries Históricas
* Produtividade=PIB a custo de fatores dos serviços a preços correntes/população ocupada
Do ponto de vista locacional, três regiões foram capazes de capturar os benefícios da
dinâmica da economia estadual e nacional no período. O aglomerado urbano de Belo
Horizonte consolidou-se como alternativa locacional a São Paulo. Tornou-se centro produtor
e irradiador de serviços de qualidade diferenciados e diversificados (especialmente de
serviços produtivos), exercendo um crescente efeito polarizador sobre a região central do
Estado. O terciário do Sul do Estado, a exemplo do ocorrido com o setor industrial, teve
seu dinamismo modificado pelo efeito de transbordamento da atividade industrial de São
Paulo. Se, por um lado, o transbordamento de São Paulo ajudou no desenvolvimento e
diversificação do terciário; por outro, a proximidade geográfica dessa região ao centro da
economia brasileira deter minou que a capacidade expansiva do setor terciário não
acompanhasse a de sua base produtiva industrial e agropecuária, indicando um terciário
atrofiado em relação à base produtiva da região. Finalmente, no Triângulo, o crescimento
do terciário esteve vinculado à rápida expansão da base agropecuária e agroindustrial
resultante do deslocamento da fronteira agrícola em direção aos cerrados e da modernização
tecnológica da produção.
Em vista do que foi discutido anteriormente, constata-se que a década dos 70 foi
excepcional quanto ao desempenho econômico do Estado. A economia mineira tornou-se
mais integrada intra e intersetorialmente, aumentando o valor agregado realizado no Estado.
Igualmente importante foi o aumento da abertura da economia para o exterior, vinculada
ao sucesso exportador de várias atividades industriais, com destaque para as produções
metalúrgica, de automóveis e motores. A histórica decadência econômica da agricultura do
Estado foi revertida, com a incorporação dos cerrados e áreas irrigadas do norte e a
introdução do plantio do café no Sul de Minas e cerrados. O setor terciário foi puxado por
essas transformações, passando a contar com serviços modernos de apoio à indústria e
atividades urbanas em geral.
Não obstante, a industrialização do período foi marcada por uma crescente
concentração espacial, notadamente na Região Metropolitana de Belo Horizonte e seu
entorno, cuja participação no PIB estadual passou de 45,3%, em 1970, para 52,5% em
1980 (Fernandes, 1997). O desequilíbrio intra-estadual foi aprofundado com as regiões
localizadas ao norte do Estado passando a contribuir com apenas 11% do PIB estadual, em
32 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
33. 1980, após terem representado 17,6% deste em 1970. Ademais, chama atenção o fato,
BDMG
40 anos
como destacado por Fernandes (1997), de que apenas 52 dos 772 municípios do Estado
detinham, em 1980, 78,3% do valor da transformação industrial do Estado17 . Outro aspecto
que deve ser mencionado refere-se ao aumento da concentração econômica no Estado, vinculada
aos grandes projetos industriais implementados no período. De acordo com dados da Secretaria
de Estado da Fazenda sobre o recolhimento de ICM industrial, apresentados por Fernandes (1997),
72% do total recolhido foi gerado por 173 empresas, sendo que as 10 maiores empresas foram
responsáveis por 30% do total.
O agravamento dos desequilíbrios intra-estaduais levou à introdução da dimensão espacial na formulação do II Plano Mineiro de
17
Desenvolvimento Econômico e Social (1976/79). Logo depois, seriam os problemas de desigualdade social que viriam a ocupar a
agenda de planejamento do Estado. Nasce, assim, o III Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social (1979-83). Tal como os
anteriores, seus resultados foram limitados, mas pela primeira vez, procurou-se envolver a sociedade na definição das diretrizes
de planejamento estadual.
33
Capítulo 1 - A construção econômica recente
34. 1.4. Os anos da “década perdida”: inflexão e
BDMG
40 anos
crise da economia mineira
O desempenho da economia mineira ao longo dos anos 80 tem como pano de fundo as
dramáticas transformações ocorridas na economia nacional como resposta aos choques externos
e ao esgotamento do modelo de substituição de importações. De fato, os anos 80 constituem um
ponto de inflexão do processo de industrialização tanto brasileiro como mineiro. Embora a economia
mineira sofra uma inequívoca descontinuidade no crescimento do PIB e dos investimentos, em
relação aos anos 70, ela acabou por se beneficiar das alterações na estratégia econômica adotada
pelo país, participando da opção pelo drive-exportador.
Em nível nacional, os programas de ajustamento e estabilização, implementados durante
os anos 80 em resposta aos choques externos do petróleo, de juros e capital e à galopante espiral
inflacionária, alteraram substancialmente o sistema de incentivos macroeconômicos e o ambiente
regulatório no qual os agentes econômicos operavam, induzindo a uma série de mudanças na
forma como os mercados e as empresas funcionavam. O Estado, imerso em sua mais séria crise,
viu a sua capacidade de coordenação se esvair. Tornou-se crescentemente incapaz de fornecer
liderança em relação à trajetória de crescimento de médio e longo prazo e, conseqüentemente,
abandonou sua função histórica de promover a industrialização. Em particular, o estreito
relacionamento entre empresas e Estado, forjado ao longo dos anos de rápido crescimento, viu-se
enfraquecido pela erosão da capacidade de investimentos e de liderança do Estado. A escassez de
recursos e a falta de continuidade nas políticas públicas e no planejamento estratégico
comprometeram a coerência e eficiência das intervenções estatais. Finalmente, a postura financeira
Ponzi18 do governo nutriu os canais de acumulação de riqueza financeira, dando lugar à chamada
ciranda financeira. A assimetria, em termos de rentabilidade e risco, entre a acumulação financeira
e produtiva levou as empresas a se preocuparem, de um lado, com aspectos financeiros e
especulativos em detrimento da realização de investimentos produtivos e incorporação de novas
tecnologias e, de outro lado, a contrair o horizonte de planejamento de suas decisões, comportando-
se de forma míope. O divórcio entre os objetivos macroeconômicos e o desenvolvimento industrial
tornou-se, portanto, patente.
Não se pode deixar de reconhecer, entretanto, como sustentado pelo próprio governo à
época, que a estratégia de ajustamento adotada pretendeu deliberadamente implementar um modelo
de crescimento liderado pelas exportações após a recessão de 1981-83, através da modificação na
estrutura dos preços relativos entre tradables e non-tradables. O instrumento central dessa estratégia
foi a política de mini-desvalorizações. Apesar da estratégia perseguida ter sido bem-sucedida na
geração de superávits comerciais, os benefícios econômicos esperados (tais como estímulo aos
investimentos, retomada do crescimento econômico, geração de externalidades tecnológicas e de
aprendizagem, e maior eficiência econômica) não se realizaram. De um lado, prevaleceu, ao longo
de toda a década, um trade-off entre substanciais superávits comerciais e crescimento sustentável
dos investimentos. De outro, a estratégia adotada privilegiou setores tecnologicamente menos
dinâmicos, nos quais o país detinha vantagens comparativas estáticas. De fato, os setores
processadores de recursos naturais ou produtores de commodities industriais de uso difundido, que
Uma postura financeira Ponzi significa que os custos financeiros da dívida acumulada são superiores à capacidade de pagamento
18
da unidade devedora e, portanto, esta dívida continua a crescer pela capitalização dos juros na estrutura dos pagamentos devidos.
Neste caso, o pagamento de compromissos sobre a dívida é realizado através de constante refinanciamento e/ou crescimento da
dívida. (Minsky, 1986, p. 207).
34 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
35. detinham vantagens comparativas estáticas e se beneficiaram de energia e insumos fornecidos
BDMG
40 anos
pelas estatais a preços subsidiados, se colocavam numa posição mais vantajosa para uma inserção
mais ativa no mercado internacional.
Nesse contexto, apesar da intensa crise econômica dos anos 80, a economia mineira conseguiu
crescer acima da média brasileira, reflexo de sua participação no drive-exportador. Entretanto,
como se pode ver pelas TAB. 20 e 21, Minas apresentou uma leve redução de sua participação no
PIB brasileiro, resultado, em parte, do maior dinamismo das economias sulinas. Comparativamente
aos demais estados concorrentes, o dinamismo de Minas foi inferior ao apresentado pelo Paraná e
Rio Grande do Sul e similar ao de São Paulo.
TABELA 20
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO NO PIB DO BRASIL A PREÇOS DE MERCADO
Unidade da Federação 1980 1990
Minas Gerais 9,44 9,29
São Paulo 37,66 37,02
Rio de Janeiro 13,55 10,86
Paraná 5,94 6,35
Rio Grande do Sul 8,07 8,13
BRASIL 100,00 100,00
Fonte: FGV e IBGE - Contas Regionais
TABELA 21
PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS CONSTANTES DE 2001 E TAXA DE CRESCIMENTO
MÉDIA ANUAL - 1980-1990 BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO SELECIONADAS
Taxa de Crescimento
Unidade da Federação R$ Milhões de 2001 média anual (%)
1980 1990 1980-1990
Minas Gerais 65.868,04 83.503,83 2,40
São Paulo 262.733,08 332.587,80 2,39
Rio de Janeiro 96.010,42 97.548,72 0,16
Paraná 40.259,45 57.006,49 3,54
Rio Grande do Sul 55.376,15 73.076,59 2,81
BRASIL 725.495,02 898.440,21 2,16
Fonte: FGVDADOS
Minas apresentou uma leve melhora na renda per capita (TAB. 22), que foi insuficiente,
entretanto, para modificar a sua posição em relação à média brasileira. O Paraná, em contraste,
mostrou capacidade de transferir os frutos de seu crescimento para a população, passando a
apresentar um PIB per capita superior à média brasileira em 1990.
35
Capítulo 1 - A construção econômica recente