A identificação e a escolha de locais adequados para a disposição de resíduos, constitui uma das grandes preocupações de natureza ambiental na atualidade. Tal preocupação relaciona-se tanto com a proteção do ambiente contíguo a um empreendimento dessa natureza, como com a proteção do empreendimento em si, o qual pode estar exposto a perigos naturais associados a processos geodinâmicos.
No Estado de São Paulo, o Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado, tem desenvolvido pesquisas e projetos sobre o tema desde 1993. Tais pesquisas referem-se à avaliação de terrenos, considerando-se a análise da suscetibilidade dos terrenos à instabilização, bem como da vulnerabilidade desses mesmos terrenos à poluição de solos e águas. Essas análises subsidiam a identificação de áreas com variada adequabilidade para a disposição de resíduos.
Com o objetivo de consolidar e aprimorar a estratégia metodológica para a seleção de áreas adequadas à disposição de resíduos, o Instituto Geológico tem buscado a integração entre diferentes áreas de conhecimento, tais como Geologia, Geotecnia e Hidrogeologia. Tal esforço institucional inclui a especialização do quadro técnico através de contato com setores atuantes na gestão ambiental e intercâmbio técnico com instituições e organismos similares nacionais e internacionais.
O projeto “Avaliação da suscetibilidade de terrenos a perigos de instabilidade e poluição na Região Metropolitana de
Campinas”, ora apresentado, constitui importante etapa do processo de aperfeiçoamento, disseminação e internalização do conhecimento sobre o tema, através de cooperação técnica entre o Instituto Geológico (SMA-SP) e a Universidade de Sheffield, no Reino Unido.
O projeto, financiado pelo Fundo de Projetos Ambientais – Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, tem como principal objetivo subsidiar o avanço metodológico na avaliação de terrenos, através de atividades que incluem: desenvolvimento de pesquisas conjuntas,
palestras, seminário internacional, workshop, visitas técnicas de pesquisadores britânicos ao Brasil e de pesquisadores do Brasil a instituições britânicas, reuniões e negociações com vistas à elaboração de um programa de cooperação técnica entre o Instituto Geológico, Universidades do Estado de São Paulo (UNESP e UNICAMP) e instituições britânicas (Universidade de Sheffield, British Geological Survey, Environment Agency).
No presente relatório, são os apresentados resultados preliminares e registradas as atividades realizadas. A primeira parte inclui tividades relativas ao intercâmbio e à disseminação do conhecimento sobre o tema: palestras apresentadas no Consulado Britânico e no Seminário
Internacional “Progressos na avaliação de terrenos voltada à gestão ambiental” realizado na Secretaria do Meio Ambiente; material didático do workshop “O uso de geologia estrutural para
Suscetibilidade e vulnerabilidade de aqüíferos em Campinas
1. Secretaria de Estado do
Meio Ambiente
&
Universidade de Sheffield
SUSCETIBILIDADE A PROCESSOS GEODINÂMICOS E
VULNERABILIDADE DE AQÜÍFEROS À
CONTAMINAÇÃO: APLICAÇÃO A TERRENOS DA
REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS
Relatório Técnico
São Paulo, abril de 2003
2. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
José Goldemberg
Instituto Geológico
Sonia Aparecida Abissi Nogueira
UNIVERSIDADE DE SHEFFIELD
Relatório Técnico
SUSCETIBILIDADE A PROCESSOS GEODINÂMICOS E
VULNERABILIDADE DE AQÜÍFEROS À
CONTAMINAÇÃO: APLICAÇÃO A TERRENOS DA
REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS
São Paulo
abril de 2003
3. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
EQUIPE TÉCNICA
EQUIPE TÉCNICA
Coordenação Geral
Cláudio José Ferreira & Paulo César Fernandes da Silva (Instituto Geológico)
Coordenação do Relatório Técnico
Amélia João Fernandes (Instituto Geológico)
Execução
Amélia João Fernandes (Instituto Geológico)
Cláudio José Ferreira (Instituto Geológico)
John C. Cripps (Universidade de Sheffield, Reino Unido)
Lídia Keiko Tominaga (Instituto Geológico)
Mara Akie Iritani (Instituto Geológico)
Maria José Brollo (Instituto Geológico)
Paulo César Fernandes da Silva (Instituto Geológico)
Ricardo Vedovello (Instituto Geológico)
i
INSTITUTO GEOLÓGICO
4. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
SUMÁRIO
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
1.1. Justificativas e Histórico .............................................................................. 1
1.2. Objetivos e Área de Estudo .......................................................................... 1
2. METODOLOGIA ................................................................................................ 3
2.1. Abordagem metodológica ............................................................................. 3
2.2. Etapas metodológicas .................................................................................. 4
2.2.1. Compartimentação fisiográfica do terreno ............................................... 4
a) Seleção do produto de sensoriamento remoto .......................................... 4
b) Delimitação de compartimentos fisiográficos ............................................ 5
c) Avaliação de homogeneidade e de similaridade ......................................... 5
d) Trabalhos de campo ............................................................................... 6
e) Finalização do mapa de Unidades Básicas de Compartimentação ................ 6
2.2.2. Caracterização geoambiental .................................................................. 6
a) Identificação dos fatores de análise ......................................................... 6
b) Obtenção de dados e definição das classes dos fatores de análise .............. 6
c) Sistematização das informações sobre as UBCs ......................................... 7
2.2.3. Avaliação geoambiental ......................................................................... 7
a) Definição das classes da carta final .......................................................... 7
b) Definição das regras de classificação das UBCs ......................................... 7
c) Avaliação das UBCs e cartografia final ...................................................... 7
3. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NAS ÁREAS PILOTO (REGIÃO METROPO-
LITANA DE CAMPINAS) ....................................................................................... 9
3.1. Compartimentação fisiográfica do terreno ...................................................... 9
a) Seleção do produto de sensoriamento remoto .............................................. 9
b) Compartimentação da área de estudo .......................................................... 10
c) Avaliação de homogeneidade e de similaridade ............................................. 12
d) Trabalhos de campo ................................................................................... 12
e) Finalização do mapa de Unidades Básicas de Compartimentação .................... 13
3.2. Caracterização geoambiental ......................................................................... 18
a) Identificação dos fatores de análise ............................................................. 18
ii
INSTITUTO GEOLÓGICO
5. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
b) Obtenção de dados e definição das classes dos fatores de análise .................. 21
c) Sistematização das informações sobre as UBCs ............................................. 28
3.3. Cartografia temática final .............................................................................. 29
a) Definição das classes da carta final .............................................................. 29
b) Definição das regras de classificação das UBCs ............................................. 29
c) Avaliação das UBCs e cartografia final .......................................................... 36
4. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 46
5. CONCLUSÕES ................................................................................................... 49
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 51
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Mapa de localização das áreas de estudo ............................................................... 2
Figura 2. Ilustração a partir de imagem TM-Landsat (bandas 3, 4, 5) e compartimentos
fisiográficos delimitados para as Áreas T3 e T4, considerando as relações texturais associadas
a elementos de drenagem .................................................................................................... 11
Figura 3. Mapa de Compartimentação Fisiográfica da Área T3 ............................................... 15
Figura 4. Mapa de Compartimentação Fisiográfica da Área T4 ............................................... 16
Figura 5. Mapa de lineamentos e domínios tectônicos da Área T3 .......................................... 23
Figura 6. Mapa de lineamentos e domínios tectônicos da Área T4 .......................................... 24
Figura 5. Mapa de vulnerabilidade à contaminação de aqüíferos da área T3 ............................ 40
Figura 6. Mapa de vulnerabilidade à contaminação de aqüíferos da área T4 ............................ 41
Figura 7. Mapa de suscetibilidade a processos geodinâmicos superficiais da área T3 ................ 43
Figura 8. Mapa de suscetibilidade a processos geodinâmicos superficiais da área T4 ................ 44
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Exemplo de características texturais nas imagens utilizadas para a diferenciação de
UBCs na Região Metropolitana de Campinas ........................................................................... 13
Tabela 2A. Codificação das UBCs nas áreas piloto T3 e T4 correspondente às 3 primeiras letras
do código de identificação ..................................................................................................... 17
Tabela 2B. Exemplos de códigos atribuídos às UBCs .............................................................. 17
Tabela 3. Variação de vulnerabilidade para diversos grupos litológicos de rochas cristalinas
(Fernandes & Hirata 2003) ................................................................................................... 19
Tabela 4. Evolução tectônica cenozóica para a região de Campinas, segundo Fernandes (1997)
e Fernandes & Amaral (2002) ............................................................................................... 25
Tabela 5. Atribuição de notas aos parâmetros utilizados para a derivação de classes de
Fraturamento ....................................................................................................................... 26
iii
INSTITUTO GEOLÓGICO
6. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
Tabela 6A. Tabela de descrição completa da área T3 ............................................................ 30
Tabela 6B. Tabela de descrição completa da área T4 ............................................................. 32
Tabela 7A. Tabela síntese da área T3 ................................................................................... 34
Tabela 7B. Tabela síntese da área T4 .................................................................................. 35
Tabela 8A. Reclassificação das classes dos atributos de acordo com a sua relação com a
vulnerabilidade à contaminação de aqüíferos .......................................................................... 37
Tabela 8B. Reclassificação das classes dos atributos de acordo com a sua relação com a
suscetibilidade a processos geodinâmicos superficiais .............................................................. 38
Tabela 9. Possíveis combinações das notas A, M e B, relativas aos quatro fatores de análise, e
as classes finais de avaliação ................................................................................................. 39
Tabela 10. Vulnerabilidades parciais induzidas pelos fatores analisados e a vulnerabilidade
resultante da somatória da influência de todos os fatores (A = alta, M = média e B = baixa) ..... 39
Tabela 11. Suscetibilidades parciais induzidas pelos fatores analisados e a suscetibilidade
resultante da somatória da influência de todos os fatores (A = alta, M = média e B = baixa) ..... 42
ÍNDICE DE FOTOS
Fotos de campo. (1) a (5) ................................................................................................ 14
iv
INSTITUTO GEOLÓGICO
7. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
1.. INTRODUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
1..1.. JUSTIFICATIVAS E
1 1 JUSTIFICATIVAS E O Instituto Geológico, da Secretaria do
Meio Ambiente do Estado de São Paulo,
HISTÓRICO
HISTÓRICO tem desenvolvido projetos de zoneamento
geoambiental, desde 1993, onde terrenos
Ao longo das últimas décadas, as ativida- têm sido avaliados quanto a potencialida-
des de engenharia e planejamento têm des e fragilidades. Nos últimos anos o Ins-
incorporado de forma crescente os con- tituto tem adotado a abordagem fisiográfica
ceitos de qualidade ambiental e de desen- para avaliações que identificam áreas com
volvimento sustentável, na medida em que variada adequabilidade para determinados
procuram prevenir situações adversas ou tipos de uso e atividades, tais como dispo-
minimizar os possíveis impactos da ação sição de resíduos sólidos e áreas de ex-
antrópica (Cendrero 1990; Bell 1993; pansão urbana.
Bennett & Doyle 1998).
O zoneamento geoambiental, que consiste
em dividir o terreno em zonas com certa
homogeneidade em relação aos elementos
1..2.. OBJETIVOS E ÁREA DE
1 2 OBJETIVOS E ÁREA DE
componentes do meio físico, pode ser útil ESTUDO
ESTUDO
para diferentes propósitos como aqueles
aplicados ao planejamento e aos projetos Com a finalidade de consolidar e aprimorar
de engenharia, uma vez que tais zonas a estratégia metodológica para a avaliação
homogêneas apresentam respostas espe- de terrenos, o Instituto Geológico tem bus-
cíficas às solicitações da atividade huma- cado a integração entre diferentes áreas
na. do conhecimento, tais como Geologia,
Geotecnia e Hidrogeologia. Tal esforço
Dentre as metodologias existentes para o institucional inclui a especialização do
zoneamento geoambiental, a abordagem quadro técnico através de contato com
fisiográfica baseia-se no princípio de que a setores atuantes na gestão ambiental, e
interação dos elementos geoambientais intercâmbio técnico com instituições e or-
(geologia, geomorfologia, topografia, ve- ganismos similares nacionais e internacio-
getação e clima) reflete-se no aspecto fisi- nais. Como resultado deste esforço, o Ins-
onômico do terreno. Esta suposição per- tituto Geológico, em cooperação com a
mite afirmar que zonas com características Universidade de Sheffield, e contando com
homogêneas refletem terrenos constituídos apoio financeiro do Fundo de Projetos Am-
por elementos geoambientais semelhan- bientais do Ministério das Relações Exteri-
tes. Através deste raciocínio, diversos au- ores do Reino Unido (The Foreign Com-
tores (Bell et al. 1987; Mitchell 1991; Bell monwealth Office), promoveu um programa
1993; Vedovello 2000) sugerem que tal de visitas técnicas visando a identificação
abordagem oferece meios racionais de de interesses mútuos e a criação de um
correlacionar áreas conhecidas com arcabouço institucional para o desenvolvi-
aquelas desconhecidas e então, estimar, mento de futuros projetos com cooperação
com razoável precisão, as condições do internacional. Tal programa também incluiu
terreno. o desenvolvimento do presente projeto,
cujos objetivos foram:
1
INSTITUTO GEOLÓGICO
8. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
▪ Implementar a metodologia de com- considerada uma das áreas críticas do
partimentação fisiográfica, proposta por Estado de São Paulo em termos de plane-
Vedovello (1993, 2000), para a avalia- jamento territorial e gestão ambiental.
ção de terrenos em contextos geológi-
cos e geomorfológicos diversificados. Dentro da RMC, foram selecionadas duas
áreas, T3 e T4 (Figura 1), envolvendo
▪ Incorporar técnicas inferenciais para materiais geológicos e contextos geomor-
identificar e mapear descontinuidades fológicos distintos. A Área T3 está situada
tectônicas potencialmente ocorrentes no a apenas poucos quilômetros a nordeste
terreno, utilizando modelo tectônico re- da cidade de Campinas, cobrindo aproxi-
gional previamente proposto. madamente 80 km2. Esta área é constituí-
da por rochas pré-cambrianas gnáissico-
▪ Estimar a suscetibilidade a proces- graníticas, que sustentam uma topografia
sos geodinâmicos superficiais e vulne- acidentada, na maioria representada por
rabilidade à contaminação da água morros e morrotes com significativa decli-
subterrânea, considerando, inclusive, os vidade. A Área T4 está localizada nas pro-
efeitos das descontinuidades tectônicas. ximidades do Parque Industrial de Paulínia,
a cerca de 15 km a noroeste da cidade de
O presente projeto foi desenvolvido na Campinas, e abrange aproximadamente
Região Metropolitana de Campinas (RMC) 192 km2. Esta é constituída por rochas
onde avaliações prévias do terreno têm fanerozóicas sedimentares e ígneas que
sido conduzidas pelo Instituto Geológico sustentam relevos suaves de colinas, além
desde 1993. Esta região encontra-se em de planícies aluviais relativamente exten-
pleno desenvolvimento econômico e é sas.
BRASIL
T4
T4
SÃO
PAULO
REGIÃO
METROPOLITANA T3
T3
DE CAMPINAS
Figura 1. Mapa de localização das áreas de estudo
2
INSTITUTO GEOLÓGICO
9. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
2.. METODOLOGIA
2 METODOLOGIA
utilização deste tipo de abordagem na ava-
2..1.. ABORDAGEM
2 1 ABORDAGEM liação de terrenos permite a elaboração de
METODOLÓGICA
METODOLÓGICA um produto cartográfico único, onde os
elementos ambientais (acima citados) são
A utilização de informações sobre o meio representados e individualizados em uni-
físico é essencial para fundamentar a for- dades que refletem limites fisiográficos
mulação e a implementação de políticas (não apenas limites funcionais demarcando
públicas, ações de planejamento, ativida- variações de um determinado parâmetro
des e instrumentos de gestão ambiental. ou propriedade), o que facilita ações de
Tais informações apresentam grande im- planejamento territorial.
portância na avaliação de terrenos, uma
vez que os elementos fisiográficos (solo, Na abordagem paramétrica, cada parâ-
rocha, relevo, vegetação) que compõem o metro ou informação temática é processa-
terreno interagem de forma variável, de- da individualmente para posterior integra-
terminando diferentes condições de com- ção. Dessa forma, são elaborados produ-
portamento frente às ações antrópicas. tos cartográficos referentes a cada parâ-
metro ou tema, os quais podem ser anali-
Analisando a literatura técnica internacio- sados individualmente ou em combinações
nal sobre os métodos de avaliação de ter- específicas, dependendo do tipo de aplica-
renos, Vedovello (2000) identifica duas ção e objetivo do estudo e, por vezes com
abordagens operacionais básicas para a atribuições de pesos. O procedimento para
espacialização de dados e informações elaboração de mapa de síntese final pode
sobre os terrenos: fisiográfica e paramé- envolver diferentes estratégias que vão
trica. desde a simples superposição de informa-
ções (soma cartográfica) até mecanismos
A abordagem fisiográfica, também de- de pontuação com base no conhecimento
nominada abordagem de paisagem, ele- intuitivo ou modelos estatísticos.
mentos componentes do terreno são iden-
tificados e analisados de forma integrada. Autores como Mitchell (1991), Bennett &
Os componentes fisionômicos do terreno, Doyle (1997) e Vedovello (2000) conside-
são analisados principalmente através de ram que a prática de ambos os procedi-
fotointerpretação, com o intuito de identifi- mentos, e suas respectivas características
car unidades de terreno com característi- cartográficas, têm apontado para uma
cas distintivas. Estas unidades refletem vantagem da abordagem fisiográfica ou de
associações específicas de elementos am- paisagem sobre a paramétrica, em termos
bientais (geologia, relevo, solo, vegetação de custos, de tempo de execução, e de
e clima), cuja expressão reflete padrões aplicabilidade.
morfo-ambientais recorrentes e distinguí-
veis tanto em imagens (de satélite e foto- Exemplos de estudos que se beneficiam
grafias aéreas) quanto no próprio terreno. da abordagem fisiográfica incluem: IG-
As unidades identificadas desta maneira SMA (1996 e 1999), Fernandes da Silva et
são então caracterizadas quanto às pro- al. (1997), Brollo et al. (2000 e 2002), Sou-
priedades e características geológico- za (2000), Brollo (2001), Fernandes da
geotécnicas e avaliadas em termos de Silva (2003, incluído neste CD-ROM). A
diagnósticos e prognósticos ambientais. A estes trabalhos somam-se outros estudos
3
INSTITUTO GEOLÓGICO
10. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
referentes a diferentes aspectos do meio do terreno, tais como permeabilidade,
físico da Região Metropolitana de Campi- erodibilidade e escavabilidade.
nas: IG-SMA (1993, 1995 e 2002), Yoshi-
naga-Pereira (1996) e Fernandes (1997). Na etapa de Avaliação Geoambiental
ocorre a análise e classificação das UBCs
segundo os objetivos da avaliação e com
base nas propriedades e características do
2..2.. ETAPAS
2 2 ETAPAS terreno.
METODOLÓGICAS
METODOLÓGICAS Nos sub-itens a seguir são descritos, con-
forme Vedovello (2000), os procedimentos
Em linhas gerais, a avaliação de terrenos necessários para cada etapa metodológi-
segundo a abordagem fisiográfica inclui ca.
três etapas principais: (1) a compartimen-
tação do território em unidades fisiográfi-
cas; (2) a caracterização destas unidades
de compartimentação em termos de pro- 2..2..1.. Compartiimentação fii-
priedades e características do terreno que 2 2 1 Compart mentação f -
interferem, condicionam ou são afetadas siiográfiica do terreno
s ográf ca do terreno
pelas atividades humanas; e (3) a avalia-
ção destas unidades em termos de fragili- a) selleção do produto de sensorii-
a) se eção do produto de sensor -
dades (suscetibilidade a processos super- amento remoto
amento remoto
ficiais e vulnerabilidade de aqüíferos, por
exemplo), potencialidades geoambientais Para a seleção do produto de sensoria-
(cartas de aptidão), bem como de riscos e mento remoto são levados em considera-
impactos geoambientais associados. ção:
Na etapa de Compartimentação Fisiográ- a) as características das imagens;
fica do Terreno efetua-se a delimitação de
zonas texturais homogêneas e distintas (de b) as características das áreas de estu-
áreas adjacentes) em imagens de satélite do (tipos de rocha e solo, tipo de relevo
ou fotografias aéreas. Em termos genéri- a serem potencialmente encontrados);
cos, as características texturais associam-
se a elementos de drenagem e de relevo. c) a escala dos produtos finais a serem
Estas zonas são denominadas de Unida- elaborados.
des Básicas de Compartimentação
(UBCs), e supõe-se que reflitam associa- Além disso, devem ser analisadas outras
ções específicas de rochas, estruturas especificidades sobre as imagens, tais
tectônicas, materiais inconsolidados e tipos como ângulo de elevação solar, cobertura
de relevo. Esta etapa independe do objeti- de nuvens, azimute etc., que possam favo-
vo final da cartografia, que será considera- recer e/ou dificultar a interpretação das
do somente na segunda e terceira fases. cenas. A seleção do melhor produto para a
análise, portanto, depende dos objetivos
Na etapa de Caracterização Geoambien- do estudo, da fisiografia da área e dos
tal são identificadas e sistematizadas as elementos de análise e critérios que serão
características relevantes e necessárias utilizados pelo intérprete.
para as avaliações a serem realizadas na
terceira etapa. Esta caracterização pode A abordagem fisiográfica pode ser aplicada
ser feita com base em: (1) características em diversas escalas e produtos de senso-
do terreno, tais como perfil e espessura res remotos, tais como imagens de satélite
do material inconsolidado, rochas, estrutu- ou de radar e fotografias aéreas. Em de-
ras geológicas, tipo de relevo e profundi- corrência da escala do produto, os ele-
dade do nível d’água; e (2) propriedades mentos texturais analisados também po-
4
INSTITUTO GEOLÓGICO
11. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
dem variar. Assim, o elemento textural ção predominante ou ocorrência de múlti-
pode corresponder a feições naturais de plas direções devem determinar o caráter
drenagem e de relevo, ou simplesmente a isotrópico do arranjo textural.
feições tonais originadas por contraste de
sombreamento na imagem ou pelas pro- A assimetria dos elementos texturais diz
priedades dos próprios materiais imagea- respeito à diferenças no arranjo espacial
dos. dos elementos texturais em relação a um
eixo ou qualquer feição que delimite duas
Para escalas regionais e semi-regionais porções aparentemente distintas na ima-
considera-se que os produtos do sensor gem em termos de atributos espaciais, e
TM-Landsat oferecem condições mais pro- que podem ser aferidos, por exemplo, pelo
pícias para a compartimentação fisiográfi- comprimento de feições lineares ou pelas
ca, devido ao conjunto de características relações direcionais e angu lares entre as
temporais, espectrais, espaciais e sinópti- feições.
cas. Além disso, apresentam um grande
acervo de imagens disponível e com facili- O procedimento de análise e delimitação
dade de aquisição em relação aos outros de compartimentos fisiográficos pressupõe
produtos (como imagens de radar, ima- uma correlação entre a textura da imagem
gens SPOT, fotografias aéreas, etc.). e as características geológicas e geomor-
fológicas do terreno, representados em
b) Delliimiitação de compartiimentos
b) De m tação de compart mentos diferentes níveis hierárquicos de compar-
fiisiiográfiicos
f s ográf cos timentação geralmente associados a por-
ções, unidades ou domínios da paisagem
O procedimento de compartimentação de com extensão de área progressivamente
uma área, através da análise de produtos decrescente. Tal correlação é determinada
de sensoriamento remoto, consiste em pela escala do produto fotográfico analisa-
identificar na imagem divisões fisiográficas do, de tal maneira que os níveis hierárqui-
em diferentes níveis hierárquicos de clas- cos superiores, ou unidades maiores, são
sificação, relacionados às condições mor- identificados pela análise da organização
fo-ambientais e morfogenéticas da região espacial dos elementos texturais (formas e
estudada. estruturas), como indicado nos parágrafos
anteriores. As unidades relativas ao nível
A identificação dos diversos compartimen- hierárquico mais básico, para a escala do
tos fisiográficos é feita com base na análi- produto utilizado, correspondem às Unida-
se de elementos texturais nas imagens, des Básicas de Compartimentação
geralmente associados a feições de relevo (UBCs), cuja identificação é feita pela aná-
e de drenagem. Assim, identifica-se qual lise do elemento também básico da ima-
elemento textural e quais organizações gem fotográfica, ou seja, o próprio ele-
deste (forma, estrutura, etc.) definem os mento textural associado à drenagem ou
diversos níveis hierárquicos e suas res- ao relevo. As UBCs podem ser caracteri-
pectivas unidades, traçando-se os limites zadas e avaliadas para os mais diversos
com base na análise da homogeneidade, fins, mantendo, entretanto, seu significado
da anisotropia e da assimetria dos ele- e sua unicidade cartográfica. Constituem,
mentos analisados. portanto, a base para armazenamento e
análise das informações, e conseqüente-
A anisotropia de elementos texturais asso- mente, para definição de unidades geoam-
ciados ao relevo ou à drenagem refere-se bientais.
à distribuição espacial desses elementos,
especialmente em termos direcionais. A c) avalliiação de homogeneiidade e
c) ava ação de homogene dade e
existência de uma ou mais direções prefe- de siimiillariidade
de s m ar dade
renciais determina um caráter anisotrópico
do arranjo espacial dos elementos textu- Uma vez estabelecida a compartimentação
rais, enquanto a inexistência de uma dire- preliminar da área estudada, a homoge-
5
INSTITUTO GEOLÓGICO
12. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
neidade e a similaridade das unidades de contexto fisiográfico e os respectivos níveis
compartimentação (zonas texturais delimi- hierárquicos de compartimentação, ou
tadas na imagem) devem ser verificadas. mesmo, relações taxonômicas.
A verificação de homogeneidade é feita
com base na análise dos elementos textu-
rais utilizados na interpretação e extraídos 2..2..2.. Caracteriização geo-
2 2 2 Caracter zação geo-
visual e manualmente da imagem para um ambiientall
overlay. São consideradas homogêneas as amb enta
áreas em que as características texturais
internamente à unidade apresentam-se Conforme destacado acima, as UBCs
persistentes em toda a sua extensão. A constituem a base para a avaliação do
ocorrência de heterogeneidades internas terreno. A etapa de caracterização geoam-
às unidades de compartimentação devem biental abrange os procedimentos descri-
determinar a sua subdivisão. tos a seguir.
A verificação da similaridade consiste em
a) Identiifiicação dos fatores de
a) Ident f cação dos fatores de
comparar as propriedades da forma e as análliise
aná se
estruturas dos elementos texturais entre os
compartimentos delineados em cada nível Uma vez delimitadas, as UBCs devem ser
hierárquico. Assim áreas que apresentam caracterizadas de acordo com os objetivos
propriedades texturais e/ou estruturais si- do estudo e o tipo de produto de avaliação
milares, em um mesmo nível hierárquico, geoambiental a ser obtido. Assim, o primei-
devem ser classificadas sob a mesma de- ro passo consiste em identificar quais fato-
nominação. res do meio físico (tipos de relevo, rochas,
estruturas tectônicas e solos, por exemplo)
d) traballhos de campo
d) traba hos de campo são determinantes de condições do terreno
necessárias à avaliação geoambiental e
Trabalhos de campo devem ser realizados cartografia final.
para a verificação das unidades de com-
partimentação obtidas pela análise de ima- b) Obtenção de dados e defiiniição
b) Obtenção de dados e def n ção
gens. Tal verificação objetiva a confirma- das cllasses dos fatores de análliise
das c asses dos fatores de aná se
ção e/ou o ajuste de limites foto-
interpretados, bem como a confirmação de Os dados relativos aos fatores utilizados
características geoambientais e morfo- na classificação das diversas UBCs são
tectono-genéticas atribuídas aos diversos obtidos através de correlação das proprie-
níveis de compartimentação das unidades. dades texturais e tonais das imagens com
propriedades e características geoambi-
e) fiinalliização do Mapa de Uniida-
e) f na zação do Mapa de Un da- entais dos terrenos, trabalhos de campo, e
des Básiicas de Compartiimentação
des Bás cas de Compart mentação levantamento de dados prévios. A opção
por uma ou várias formas de aquisição de
Após a verificação de campo, o mapa de dados deve levar também em conta os
Unidades Básicas de Compartimentação recursos operacionais e financeiros dispo-
(UBCs) deve ser finalizado, através da níveis e o tempo necessário para a sua
transposição dos limites das UBCs do execução.
overlay para uma base topográfica compa-
tível. Esta transposição pode levar a algu- As classes dos fatores são definidas de
mas adequações do traçado dos limites acordo com os tipos de avaliações a serem
com relação às curvas topográficas. O realizadas na terceira etapa de avaliação
mapa de UBCs apresenta todas as unida- geoambiental. Desta forma, os vários tipos
des identificadas e diferenciadas por uma de rocha e solos que ocorrem em uma
sigla ou código, que geralmente reflete o região podem ser agrupados ou divididos
em função do seu comportamento com
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13. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
relação a, por exemplo, suscetibilidade a b) defiiniição das regras de cllassiifii-
b) def n ção das regras de c ass f -
processos erosivos. Tratamento similar cação das UBCs
cação das UBCs
deve ser dado aos outros fatores de análi-
se. A definição dos critérios de avaliação ou
classificação consiste em estabelecer uma
c) Siistematiização das iinformações
c) S stemat zação das nformações relação entre os fatores analisados e seus
sobre as UBCs
sobre as UBCs respectivos valores ou categorias (classes
dos fatores) e as classes que irão compor
Os dados e informações, relativos aos fato- a carta final. Esta relação deve refletir o
res de análise, obtidos na etapa anterior tipo de influência que cada fator geoambi-
devem ser sistematizados e organizados ental exerce em um dado terreno para a
em um formato adequado para as análises aplicação considerada, e é expressa por
subseqüentes. Assim, o seu conteúdo uma regra de classificação.
deve ser padronizado segundo classes
pré-determinadas (item “b” desta mesma Existem vários tipos de regras de classifi-
etapa), considerando-se sua utilização cação, podendo ser citadas:
para a avaliação geoambiental das UBCs.
Tais dados e informações devem ser ar- (1) tabelas de classificação ou matrizes
mazenados em tabelas ou bancos de da- de interação que procuram correlacionar
dos que as relacionem às respectivas os diferentes fatores analisados com as
UBCs. Este procedimento visa facilitar cor- classes representadas no produto car-
relações e, consequentemente, a classifi- tográfico final;
cação final das unidades na etapa de ava-
liação geoambiental. (2) estruturas de árvore lógica, onde
cada fator é analisado de forma a ex-
cluir hipóteses ou resultados que com-
petem entre si para selecionar um ca-
2..2..3.. Avalliiação geoambiientall
2 2 3 Ava ação geoamb enta minho de decisão;
a) defiiniição das cllasses da carta (3) atribuição de pesos e somatório de
a) def n ção das c asses da carta
valores para as diferentes classes dos
fiinall
f na fatores de análise;
As classes que irão compor a carta final (4) acumulação de evidências a favor ou
devem refletir de forma simples e objetiva contra um determinado fator, em geral,
os diferentes limiares que determinam expressa em termos numéricos.
condições de maior ou menor fragilidade
e/ou potencialidade das UBCs para a aná- A opção pelo tipo de regra de classificação
lise pretendida. das UBCs deve ser feita a partir de uma
análise cuidadosa da relação entre os fato-
Em determinados casos, limites ou inter- res e sua influência para a avaliação con-
valos de classes são definidos por meio de siderada.
tratamento estatístico, com o intuito de
reduzir o grau de subjetividade para a de- c) cllassiifiicação das UBCs e carto-
c) c ass f cação das UBCs e carto-
terminação das classes da carta final.
grafiia fiinall
graf a f na
Nestes casos, as classes e mesmo os fato-
res selecionados para a análise das unida-
A cartografia final consiste em classificar
des devem ser de natureza quantitativa, ou
cada UBC através da aplicação da regra
mensuráveis em alguma escala numérica
de classificação definida anteriormente. A
absoluta ou relativa (não-nominal).
classificação das UBCS pode ser feita di-
retamente pelo executor da cartografia ou
por meio de procedimentos informatizados.
No caso do uso de procedimentos informa-
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14. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
tizados, é necessário que os dados este- forma que um determinado sistema espe-
jam sistematizados e armazenados em cialista possa aplicar a regra de classifica-
bancos de dados associados às UBCs, de ção.
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15. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
3.. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NAS ÁREAS-PILOTO
3 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NAS ÁREAS-PILOTO
(REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS)
(REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS)
descontinuidades tectônicas, com especial
A metodologia descrita no Item 2 foi apli-
ênfase nas descontinuidades de natureza
cada a duas áreas piloto denominadas T3
rúptil de idade cenozóica. Estas últimas
e T4 (Figura 1), as quais foram avaliadas
tem forte influência tanto na vulnerabilida-
quanto a suscetibilidade a processos
de de aqüíferos, destacando-se os de bai-
geodinâmicos superficiais e vulnerabili-
xa permeabilidade primária, como na gera-
dade de aqüíferos à contaminação. Es-
ção de rupturas às quais podem estar inti-
tas áreas inserem-se na Região Metropo-
mamente associados processos geodinâ-
litana de Campinas (RMC), constituída por
micos, tais como erosão e escorregamen-
rochas pré-cambrianas, a leste, e rochas
tos.
da Bacia do Paraná, a oeste, inseridas nos
domínios geomorfológicos do Planalto
Atlântico e da Depressão Periférica, res-
pectivamente.
3..1.. COMPARTIMENTAÇÃO
3 1 COMPARTIMENTAÇÃO
A região já foi alvo de vários estudos, FISIOGRÁFICA DO TERRENO
FISIOGRÁFICA DO TERRENO
muitos deles realizados pelo Instituto Ge-
ológico, os quais produziram um significati- Como mencionado anteriormente, a com-
vo volume de dados e informações em partimentação fisiográfica das áreas piloto
formato digital, tais como: mapas geológi- T3 e T4 foi derivada de IG-SMA (1999) e
cos, mapas de lineamentos, mapas geo- os procedimentos utilizados são descritos
morfológicos, cadastros de poços tubula- a seguir.
res, e cadastros de afloramentos (IG-SMA
1993, 1995, 1999 e 2002; Fernandes 1997; a) selleção do produto de sensorii-
a) se eção do produto de sensor -
Brollo 2001; Fernandes da Silva 2003). As amento remoto
amento remoto
informações geradas por estes estudos,
junto com informações colhidas em traba- Os produtos utilizados neste estudo foram
lhos de campo, realizados no presente imagens de satélite TM-Landsat, em es-
projeto, foram utilizadas para caracterizar cala 1:100.000, no formato papel e com as
as UBCs quanto aos fatores considerados seguintes órbitas/pontos e quadrantes:
relevantes, descritos no Item 3.2. A com- 219/076 A; 219/076 C; 220/076 D. As ce-
partimentação fisiográfica utilizada no pre- nas utilizadas foram obtidas em duas pas-
sente projeto para as Áreas T3 e T4, cuja sagens diferentes, 27/07/1994 e
metodologia é descrita abaixo no item 3.1, 20/08/1997, respectivamente com ângulo
foi derivada do projeto “Metodologia para de elevação solar de 31o e de 38o , e azi-
Seleção de Áreas para Tratamento e Dis- mute de 048o e de 051o .
posição Final de Resíduos Sólidos” (IG-
SMA 1999). A compartimentação fisiográfica da área de
estudo foi obtida a partir da interpretação
Destaca-se que, no presente estudo, pro- das cenas na banda 4 e na composição
curou-se avançar metodologicamente, nas colorida 3B/4R/5G. A banda 4 foi mais fa-
etapas de caracterização e avaliação de vorável à interpretação na região onde
terrenos, ao ser incorporada a análise de ocorrem rochas do embasamento cristali-
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16. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
no, enquanto a composição colorida favo- flete o caráter de transição entre os subs-
receu a interpretação no domínio da Bacia tratos rochosos do embasamento cristalino
Sedimentar do Paraná. As áreas piloto e da bacia sedimentar. A Área T4, por sua
utilizadas no presente estudo (T3 e T4) vez, está contida inteiramente no domínio
estão ilustradas na Figura 2. da bacia sedimentar.
A relação entre as características texturais
Especificamente para as Áreas T3 e T4 foi
na imagem e as unidades litológicas das
efetuada extração de linhas de drenagem
Áreas T3 e T4 são as seguintes:
e de relevo (cristas e quebras positivas e
negativas) foi efetuada em imagem digital ▪ Granitos e gnaisses graníticos
através de interpretação visual em tela de são caracterizadas pela ocorrência de
computador, utilizando o software Erdas alinhamentos de relevo e drenagem que
Imagine. Para tal, foi utilizado um recorte refletem lineamentos estruturais de di-
(1856 X 2625 pixels) da imagem Landsat reção NW e N-S. Esta estruturação da
TM5 (cena completa, órbita 219/076, pas- textura na imagem é mais evidente
sagem de 20.08.97, correção geométrica nestes litotipos do que nos demais que
através de convolução cúbica) com com- ocorrem na área. Apresentam formas de
posição colorida 3G/4B/5R. Esta imagem drenagem de alta densidade (em geral
foi geo-retificada com a utilização de 75 > 3 km/km2), caracterizadas por aniso-
pontos de controle identificados em cartas tropia bidirecional, evidenciada em pa-
topográficas IBGE/Brasil, na escala drões angulares oblíquos e retangula-
1:50.000 (em papel). A precisão média res.
obtida foi de 32-37 metros (aproximada-
▪ Gnaisses bandados, gnaisses xis-
mente 1 pixel).
tosos e granada-biotita-plagioclásio
gnaisses apresentam formas de drena-
b) compartiimentação da área de
b) compart mentação da área de gem do tipo subdendrítico, paralelo,
estudo
estudo subparalelo a angulado em alguns ca-
sos, de densidade média a alta, tendên-
A identificação de compartimentos fisiográ- cia predominantemente anisotrópica bi
ficos, realizada em IG-SMA (1999), foi feita ou tridirecional (com uma das direções
com base na identificação de diferenças quase sempre associada à foliação).
texturais nas imagens, expressas pela dis-
tribuição e organização espacial de ele- ▪ Rochas miloníticas das zonas de
mentos texturais referentes à drenagem e cisalhamento são caracterizadas pelo
ao relevo nas imagens (tropia e assimetria alinhamento de cristas (quebras positi-
de formas e estruturas). A Figura 2 ilustra vas) e de drenagens (quebras negati-
algumas relações entre as formas texturais vas) segundo a orientação NNE, com
de drenagem e os compartimentos fisio- variações para N-S e NNW. Este grupo
gráficos delimitados para as Áreas T3 e de rochas apresenta um alto grau de
T4. estruturação com formas de drenagem
em padrão geométrico ou angular (treli-
Foram identificados dois grandes domínios ça, retangular, paralela) de alta densi-
fisiográficos, que correspondem, de forma dade, caracterizadas por anisotropia
geral, à Bacia Sedimentar do Paraná (B) predominantemente unidirecional.
e ao Embasamento Cristalino (C). A dis-
tinção destes dois domínios na imagem foi ▪ Associações litológicas predomi-
feita com base na assimetria das formas nantemente arenosas no domínio da
de drenagem, que são predominantemente Bacia Sedimentar do Paraná estão as-
geométricas (angulares) para o domínio C, sociadas a formas de drenagem predo-
e do tipo dendrítico-arborescente para o minantemente dendríticas, localmente
domínio B. Na Área T3, o limite entre estes radiais ou angulares, de baixa a média
dois domínios fisiográficos pode ser obser- densidade, tropias variáveis uni-, bi-, e
vado, sendo de natureza difusa, o que re- tri-direcionais a isotrópicas.
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17. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
Área T3 Área T4
a b
c d
e f
Figura 2. Ilustração a partir de imagem TM-Landsat (bandas 3, 4, 5) e compartimentos fisiográficos delimita-
dos para as Áreas T3 e T4, considerando as relações texturais associadas a elementos de drenagem. (a) e
(b) ilustram a rede de drenagem; (c) e (d) sobreposição da compartimentação fisiográfica sobre a rede de
drenagem; (e) e (f) compartimentos fisiográficos delimitados sobre as imagens de satélite
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18. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
(unidirecionais, bidirecionais e isotrópi-
▪ Diabásios apresentam na imagem
cas) e de grau de estruturação (médio a
de satélite alinhamento associado a
baixo), dependendo das unidades litoló-
quebras positivas de relevo com ampli-
gicas ocorrentes.
tude maior que as rochas sedimentares.
Observou-se que nos locais onde a pe-
▪ no domínio do embasamento cris-
dogênese atuou com maior intensidade
talino, os relevos mais representativos
sobre estas rochas, ocorrem formas de
incluem morrotes e morros, por vezes
drenagem isotrópicas e de média densi-
em associações específicas. A diferen-
dade.
ciação entre estes tipos de relevo foi
dada principalmente pela freqüência
▪ Associações litológicas predomi-
relativa de elementos texturais de relevo
nantemente pelíticas (lamitos, argili-
(quebras positivas e negativas). Desta
tos), incluindo siltitos, ritmitos e ocor-
forma, as referidas freqüências apre-
rências de arenitos finos a muito finos,
sentam o seguinte comportamento: de
situam-se em setores mais entalhados
média a alta nos morrotes e alta nos
ou porções mais baixas do relevo, e a
morros. As densidades de drenagem
densidade de drenagem é quase sem-
associadas são: média para os morrotes
pre média a alta, com formas sub-
e alta para os morros.
dendrítica a angular, anisotropias bi- ou
tri-direcionais, com tendência isotrópica
A diferenciação entre as UBCs foi feita de
em conteúdos mais arenosos.
acordo com a análise das propriedades da
forma dos elementos texturais (densidade,
▪ Aluviões são identificados por rup-
grau de estruturação, e ordem de estrutu-
turas de declive suaves, que ocorrem
ração) (Tabela 1), às quais se relacionam
principalmente na transição de colinas
associações específicas de: tipos rocho-
amplas para o canal de drenagem.
sos; estruturas geológicas (fraturas, folia-
Muitas vezes verifica-se mais de uma
ção); morfometria do relevo (declividade e
ruptura de declive, em que a intermediá-
amplitude); perfis de alteração de solos; e
ria relaciona-se a rampas coluvionares.
espessura de material inconsolidado.
Os tipos e as formas de relevo apresentam
c) avalliiação de homogeneiidade e
c) ava ação de homogene dade e
as seguintes relações com a textura na
imagem: de siimiillariidade
de s m ar dade
▪ no domínio da bacia sedimentar, Os procedimentos utilizados para a verifi-
os principais sistemas de relevo identifi- cação de homogeneidade e similaridade
cados foram colinas amplas a médias e correspondem àqueles descritos no Item
colinas pequenas. Em setores onde 2.2.1.
ocorrem colinas amplas a médias, os
topos e as encostas convexas caracteri- d) traballhos de campo
d) traba hos de campo
zam-se pela relativa ausência de drena-
gem, sendo diferenciados a partir de Trabalhos de campo foram efetuadas nas
rupturas de declive (elemento textural Áreas T3 e T4, em compartimentos fisio-
de relevo). As encostas côncavas e va- gráficos previamente selecionados, com os
les, além de sua identificação pelas seguintes objetivos:
rupturas de declive, apresentam densi-
dade de drenagem baixa e tropia pre- a) verificar a ocorrência de estruturas
domi-nantemente unidirecional, perpen- tectônicas e efetuar avaliação geológi-
dicular ao canal principal. Já os setores co-estrutural expedita enfocando a aná-
de colinas pequenas apresentam média lise de esforços potencialmente gerado-
densidade de drenagem e formas arbo- res de tais estruturas;
rescentes. Ocorrem variações de tropia
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19. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
Tabela 1. Exemplo de características texturais nas imagens utilizadas para a diferenciação de UBCs na Região
Metropolitana de Campinas.
PROPRIEDADES DAS FORMAS DOS ELEMENTOS TEXTURAIS
UBC
Tipo de elemento Grau de Ordem de
Densidade Arranjo
textural estruturação estruturação
BBP 8 Drenagem Alta Dendrítico Alto 2
COR 2 Drenagem Alta Dendrítico Médio 1
CSE 1 Drenagem Muito alta Retângular Muito alto 2
b) verificar no terreno as feições fisio- e) fiinalliização do Mapa de Uniida-
e) f na zação do Mapa de Un da-
gráficas que determinaram a delimita- des Básiicas de Compartiimentação
des Bás cas de Compart mentação
ção dos compartimentos na imagem,
confirmando ou corrigindo limites foto- O Mapa de Compartimentação Fisiográfica
interpretativos das UBCs; das Áreas T3 e T4 (Figuras 3 e 4) contém
as Unidades Básicas de Compartimenta-
c) aquisição de informações adicionais, ção (UBCs), identificadas segundo um có-
especialmente sobre as características digo composto por três letras e um alga-
geoambientais das unidades. rismo. Como pode ser observado na Ta-
bela 1, e mais especificamente nas Tabe-
A escolha de compartimentos a serem es- las 2A e 2B, a primeira letra representa o
tudados em detalhe considerou a extensão primeiro nível hierárquico da comparti-
em termos de área e a contigüidade dos mentação, correspondente ao domínio
compartimentos para fins de análise geo- fisiográfico regional; a segunda letra cor-
lógico-estrutural. Os trabalhos de campo responde à litologia predominante; e a ter-
incluíram o registro fotográfico das UBCs e ceira letra refere-se ao tipo de relevo pre-
respectivas feições de interesse fisiográfico dominante.
e geotécnico verificadas em campo, como
ilustrado nas Fotos 1 a 5. As informações Nesta etapa, os limites resultantes da in-
obtidas foram agregadas às informações terpretação visual da imagem e transpos-
pré-existentes de projetos elaborados pelo tos para um overlay, foram compilados
Instituto Geológico na região (IG-SMA sobre um mapa topográfico base. Em al-
1993, 1995, 1999 e 2002). guns casos, foi necessário ajustar os limi-
tes das UBCs às curvas de nível do mapa
topográfico.
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20. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
CRR2/ CRR3 CSR3
BAC1
CSA1
(A)
(B)
(C)
s
r
(D) (E)
Fotos de campo. (1) Área T3. Vista geral a partir do Oeste mostrando o contraste entre os relevos de
colinas amplas e morrotes (compartimentos CSA1 e BAC1) e de morros a Noroeste e Leste da Área T3
(compartimentos CRR2, CRR3, e CSR3 ao fundo). (2) Área T3. Vertente leste do compartimento CRR2 com
cristas de relevo alinhadas e perfil de encosta retilíneo. (3) Área T3. Vertente oeste do compartimento CRR3
com arranjo angulado de interflúvios e perfil de encosta retilíneo. (4) Área T4. Processos erosivos no
compartimento BCP2 (martelo como escala). (5) Área T4. Perfil de solo no compartimento BGA1. Solo
superficial (s) e solo residual imaturo (r) preservando fraturas sub-verticais ENE.
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21. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
292.000 m 302.000 m
7.478.000 m 7.478.000 m
CSA1
CSA1 CRR5
CRR5
CRR2
CRR2
CRR3
CRR3
CLR3
CLR3
BAC1
BAC1
CSA2
CSA2 COC3
COC3 ATI
BAI
CLT1
CLT1 A
CLC1
CLC1 CSR3
CSR3
RIB
EIR
AO
RIO
CNC1
CNC1
DAS CNC2
CNC2 80
ANHUMAS
7.470.000 m 0 7.470.000 m
292.000 m 302.000 m
Escala
1 0 1 2 Km
Convenções temáticas Convenções cartográficas
Unidade Básica de Curva de nível
BAC1
BAC1
Compartimentação (UBC) Drenagem
Área não analisada
Áreanão analisada
Área não analisada Represas e lagoas
Ferrovia
Área com uso
Rodovia
urbano ou industrial
Figura 3. Mapa de Compartimentação Fisiográfica da Área T3
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22. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
276.000 m 292.000 m
7.498.000 m 7.498.000 m
600
60
0
600
BGA1(92)
BGA1(92)
BCP1
BCP1
600
BBP7
BBP7
600
BBP2
BBP2 ING
UI BCP2
BCP2
APIT
RIBEIRAO
PIR
BDA2
BDA2
BAP2
BAP2
BAP1
BAP1
BDA1
BDA1
BFA1
BFA1
IA
CA
DU
AN
BAA1
BAA1
M
CA
60
0
O
RI
BBM3
BBM3 RIO
JA
G
U
AR
I
600 BGA1(53)
BGA1(53)
0
60
600
0
60
60
0
600
7.486.000 m 7.486.000 m
276.000 m 292.000 m
Escala
1 0 1 2 Km
Convenções temáticas Convenções cartográficas
Unidade Básica de Curva de nível
BAA1
BAA1
Compartimentação (UBC) Drenagem
Área não analisada
Área não analisada Represas e lagoas
Ferrovia
Área com uso
Rodovia
urbano ou industrial
Figura 4. Mapa de Compartimentação Fisiográfica da Área T4
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23. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
Tabela 2A. Codificação das UBCs nas áreas piloto T3 e T4 correspondente às 3 primeiras letras do código de
identificação. As letras L, N, O, R, e S referem-se a rochas granítico-gnáissicas Pré-Cambrianas; as letras A, B,
e C, a rochas sedimentares Paleozóicas; a letra D, a diabásios de idade Mesozóica; e as letras F e G, a rochas
sedimentares Terciárias.
Domínio fisiográfico Tipo de relevo
Rocha predominante
regional predominante
(2a letra)
(1a letra) (3a letra)
A – Arenito médio a grosso, estratificados ou maciços
B – Intercalação de lamitos com seixos, ritmito e
arenito muito fino
A – Colinas amplas
C – Arenito fino laminado, por vezes maciço
B – Bacia Sedimentar M – Colinas médias
D – Diabásio maciço de granulação fina
P – Colinas pequenas
F – Lamito e lamito arenoso maciço
G – Intercalação de siltito laminado, argilito e arenito
fino laminado
L – Granada–Sillimanita-Biotita Gnaisse xistosos com
intercalçações de gnaisses graníticos
N - Hornblenda-Biotita orto-gnaisse bandados onde
C – Colinas e morrotes
C – Embasamento Cristalino se intercalam granitóides desde básicos a ácidos
R – Morros
Pré-cambriano O - Granada–Biotita-Plagioclásio Gnaisse bandado a
T – Morrotes
laminado e tendendo a xistoso.
R – Biotita Gnaisse Granítico
S – (Hornblenda)-Biotita Granito porfirítico
Tabela 2B. Exemplos de códigos atribuídos às UBCs.
UBC Significado dos códigos
B (Bacia Sedimentar)
A (Arenito: médio a grosso, predominantemente maciço, quartzoso, localmente feldspático )
BAA1
A (Colinas amplas, topos aplainados a convexos, declividade suave)
1 (solo areno-argiloso variando para areno-siltoso em profundidade, espessura entre 1 e 5m, ver-
tentes convexas, predominam arranjos uni-direcionais das linhas de drenagem e de relevo )
C (Embasamento Cristalino)
L (Granada–Sillimanita-Biotita Gnaisse Laminado)
CLT1
T (morrotes, topos estreitos e agudos, cristas alinhadas, declividade média)
1 (solos arenosos a areno-siltosos, espessura maior que 4 m, vertentes côncavas, arranjos bi- e
tridirecionais das linhas de drenagem e de relevo)
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24. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
trutura da rocha e das descontinuidades
3..2.. CARACTERIZAÇÃO
3 2 CARACTERIZAÇÃO de natureza tectônica;
GEOAMBIENTAL
GEOAMBIENTAL
▪ Solo (perfil de alteração) caracteri-
a) Identiifiicação dos fatores de
a) Ident f cação dos fatores de zado quanto às classes texturais, coe-
análliise
aná se são, compacidade, estrutura e espessu-
ra;
Tendo em vista o objetivo final do projeto,
ou seja, a avaliação de suscetibilidade a ▪ Tipo de relevo, neste caso, adotou-
processos geodinâmicos superficiais e da se a declividade por se tratar de um dos
fatores mais importantes da morfologia
vulnerabilidade de aqüíferos à contamina-
e passível de quantificação.
ção, os seguintes fatores foram considera-
dos relevantes para a análise a ser efetua-
A potencial influência de cada um dos fato-
da: litologia, descontinuidades de natureza
res analisados para as avaliações realiza-
tectônica, espessura e tipo de solo, declivi-
das é considerada nos parágrafos seguin-
dade e profundidade do nível d’água.
tes.
No caso da avaliação da vulnerabilidade
de aqüíferos, o método empregado consi- - LITOLOGIA
dera que a vulnerabilidade é função das
Com relação à vulnerabilidade de aqüífe-
seguintes características da zona não-
ros a propriedade mais importante das
saturada:
rochas corresponde à permeabilidade pri-
mária, a qual é bastante variável para se-
▪ capacidade de atenuação dos con-
dimentos e rochas sedimentares. Para as
taminantes, a qual depende da profun-
rochas cristalinas, a permeabilidade primá-
didade do nível d’água e da natureza
ria não é significativa, no entanto é im-
composicional e textural da zona não-
portante considerar os seus produtos de
saturada;
alteração, como descrito em Fernandes &
▪ acessibilidade hidráulica à zona sa- Hirata (2003). Os granitos, por exemplo,
turada, que depende da permeabilidade geram materiais de alteração de textura
primária (granular) e secundária (dada arenosa e friáveis. Por outro lado, gnaisses
por fraturas) da zona não-saturada; de composição básica a intermediária ou
gnaisses xistosos, geram materiais mais
▪ capacidade de infiltração das águas argilosos e portanto de menor permeabili-
pluviais, que considera a relação entre a dade e maior capacidade de atenuação,
declividade do terreno e da permeabili- por adsorção dos contaminantes. Adicio-
dade da camada superficial da zona- nalmente, as heterogeneidades dos gnais-
não saturada. ses (intercalação de tipos litológicos dis-
tintos, bandamento composicional, folia-
O método utilizado no presente estudo ção) favorecem o processo de dispersão
assemelha-se ao proposto por Foster & dos contaminantes.
Hirata (1988), o qual se alicerça na análise
das duas primeiras características mencio- Assim áreas constituídas por gnaisses são
nadas acima. consideradas menos vulneráveis que as
áreas constituídas por granitos. Fernandes
Já a avaliação da suscetibilidade a proces- & Hirata (2003), como ilustrado na Tabela
sos de movimentos de massa e de escoa- 3, sintetizam a variação da vulnerabilidade
mento superficial é baseada na interação para os vários tipos de rochas cristalinas
dos seguintes fatores: quando se considera duas situações: uma
onde o manto de intemperismo é espesso,
▪ Substrato geológico caracterizado e outra onde ele é inexpressivo ou ausen-
quanto ao tipo litológico, textura e es- te. No caso do manto ser inexpressivo, o
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25. Suscetibilidade a processos geodinâmicos e vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação:
aplicação a terrenos da Região Metropolitana de Campinas
Tabela 3. Variação de vulnerabilidade para diversos grupos litológicos de rochas cristalinas (Fernandes & Hirata
2003).
Grupos litológicos de Manto de intemperismo inexpressivo
Manto de intemperismo expressivo
rochas cristalinas e/ou rocha aflorante
Meta-calcários e meta-dolomitos Meta-calcários e meta-dolomitos
Rochas vulcânicas recentes Rochas vulcânicas recentes
Rochas metassedimentares (baixo
Rochas graníticas e vulcânicas ácidas
grau metamórfico)
Aumento da vulnerabi- Rochas metamórficas de alto a
Rochas alcalinas
lidade médio grau
Gnaisses xistosos e gnaisses com predomínio de
Rochas ígneas foliadas
plagioclásio (tonalitos, granodioritos)
Metapelitos (filitos e xistos), rochas básicas e
ultrabásicas ígneas ou metamórficas (basalto, Rochas ígneas maciças
diabásio, gabro, anfibolito, etc.)
que apresentam estas características são
fator que condiciona a vulnerabilidade
mais propícias ao desenvolvimento de
conferida pelas diferentes litologias são as
processos de movimentos de massa (gra-
descontinuidades inerentes à origem ou
vitacionais), tais como, queda de blo-cos,
formação da rocha (foliação, bandamento
desplacamentos e escorregamentos
e freqüência de contatos litológicos).
translacionais.
Quando o manto é espesso, por outro lado,
o fator condicionante são os produtos de
As rochas graníticas são mais resistentes
alteração da rocha. Assim rochas ígneas
quando inalteradas. Porém, sua composi-
maciças, tais como granitos e diabásios
ção quartzo-feldspática e textura grosseira
não foliados, seriam as menos vulneráveis
propiciam produtos de alteração arenosos
quando não alteradas, por não possuírem,
e friáveis, tornando-os mais suscetíveis
teoricamente, um número significativo de
aos processos de erosão superficial.
descontinuidades. No entanto, os produtos
de intemperismo de granitos seriam relati- As rochas sedimentares com maior por-
vamente mais vulneráveis, por apresenta- centagem de areia na sua composição
rem textura arenosa. são, em geral, mais frágeis frente aos pro-
cessos erosivos por escoamento superfi-
As diferentes litologias também influenciam
cial.
a suscetibilidade a processos geodinâmi-
cos em função da sua composição, da
- DESCONTINUIDADES DE NATUREZA
textura e principalmente das estruturas
TECTÔNICA
inerentes à formação da rocha, tais como
foliação, bandamento, xistosidade. Estas
As descontinuidades de natureza tectônica
estruturas constituem planos de fraqueza
têm importância fundamental para a vulne-
que tornam as rochas menos resistentes
rabilidade de aqüíferos e para a suscetibili-
às forças de cisalhamento, especialmente
dade a processos geodinâmicos superfici-
quando estão intemperizadas. As rochas
ais pois constituem caminhos de chegada
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