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MURILO LAUREANO PINTO
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. FACULDADE DE COMUNICAÇÃO.
ESTUDOS DE MÍDIA 1: PESQUISA DE OPINIÃO – PROF. DR. DARIO DE AZEVEDO
  
                             NOVAS MÍDIAS, MASSAS E AGENDAMENTO

As tecnologias de comunicação presentes tendem a sugerir uma nova ordenação social. No campo
da comunicação social, o contexto não é diferente. Cabe questionar, no entanto, em que medida a
nova configuração das relações comunicativas constitui efetiva alternativa, promovida pelos indivíduos,
à sociedade e à mídia de massas, ou se implica uma nova organização das mídias estabelecidas,
operadas estrategicamente na manutenção de suas funções ideológicas típicas nas democracias
ocidentais contemporâneas.
Inicialmente, deve-se refutar a inexistência de efeitos sociais das tecnologias de informação e
comunicação. Ainda que não se possa deduzir uma sociedade a partir da introdução de uma técnica,
é inegável que a abertura de novas possibilidades trazidas por elas podem definir a configuração de
uma coletividade. A escrita, por exemplo, nasceu há cerca de 5-6 mil anos, mas ainda no século IV
a.C. seu uso associado ao conhecimento era bastante criticado, entre outros, por Sócrates. Para ele, “o
desenvolvimento da escrita acarretaria profundas mudanças nas condições de memorização do saber
e das informações”, mudanças essas que classificava como deletérias, já que levaria aos discípulos a
presunção de possuir a ciência, não a ciência em si mesma. (BRETON;PROULX, 2002, p. 25)
Somente no Renascimento a escrita, associada ao livro impresso, atingiria o relevo social que ainda
mantém. E isso se deveu não apenas à tecnologia. A sociedade chinesa já dispunha do papel desde o
século III, a impressão xilográfica era conhecida desde o século IX e a tipográfica desde o XI. A razão
de não ter desenvolvido um sistema semelhante à prensa de Gutenberg – mais confiável e que produzia
resultados mais uniformes – deveu-se, provavelmente, pela falta de demanda social por tais práticas. A
primazia alcançada pela escrita, por meio do livro, deveu-se, portanto, a seu uso social, vinculado que foi
ao mercantilismo e ao universalismo. (BRETON; PROULX, 2002, p.39-50)
Depois, com o Iluminismo e o nascimento das sociedades democráticas atuais, a imprensa teve seu uso
ampliado, passando a deter a centralidade não só do pensamento científico-filosófico, passando a ser
considerada o local de união entre os indivíduos e, portanto, devendo ser dotada da mesma liberdade
garantida a estes. (BRETON; PROULX, 2002, p.52)

                Isso porque a nova liberdade do indivíduo-cidadão supunha uma escolha, e essa
                escolha, a informação. O acesso à comunicação social tornou-se assim uma
                necessidade constitutiva da nova democracia. Informar-se não era mais simplesmente
                um direito pelo qual os povos haviam lutado, mas um dever revolucionário (...) Quase
                não houve inovação técnica em matéria de comunicação, mas os modos de expressão
                tradicionais transformaram-se em meios de comunicação a serviço do espírito
                republicano. (BRETON; PROULX, 2002, p.53)

O vasto desenvolvimento de técnicas em diversas áreas observado na Revolução Industrial, da mesma
forma, permitiu a associação a novos modelos sociais para renovar os processos de comunicação
social. O progresso técnico aliou-se perfeitamente ao liberalismo econômico e político, definindo a
imprensa livre como garantidora da disseminação de informações necessária à democracia. E havia
a interdependência entre mercado e publicidade a lhe aproximar ainda mais da lógica mercantil.
(BRETON; PROULX, 2002, p.53-60)
O circunlóquio introdutório busca uma afirmação, enfim: a informática, como a escrita, surge de
uma necessidade inicial de cálculo matemático e memória estanque, passando progressivamente
por apropriações sociais que resultam em usos essencialmente diversos dos para os quais foram
originalmente pensados (BRETON;PROULX, 2002, p. 68-69). Assim,

                A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral da
                civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra-
                se condicionada por suas técnicas. (...) Dizer que a técnica condiciona significa dizer
que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam
                ser pensadas a sério sem a sua presença. Mas muitas possibilidades são abertas, e
                nem todas serão aproveitadas. (...) Aquilo que identificamos, de forma grosseira, como
                “novas tecnologias” recobre na verdade a atividade multiforme de grupos humanos, um
                devir coletivo complexo que se cristaliza sobretudo em volta de objetos materiais, de
                programas de computador e de dispositivos de comunicação. (LEVY, 1999, p. 25-28)

Dessa forma, ao pensar as novas tecnologias de comunicação e informação e suas implicações, deve-se
ter presente que são resultado de processos coletivos e contextualizados e que, se não têm necessária
e apropriadamente um “impacto”, carregam implicações sociais intrínsecas e abrem possibilidades que
podem vir a extrapolar seu sentido e proposta iniciais.
Antes de se avançar, é preciso especificar o objeto tratado. Quando se fala em novas tecnologias
de comunicação e informação, se passa por mais de meio século de transformações produtivas que
distanciam quase que infinitamente artefatos chamados indistintamente de “computadores”. Um
mainframe dos anos 40 está muito mais distante de um smartphone atual do que um televisor a válvula
de um HDTV, e não só nem especialmente em termos tecnológicos. Os dois são, não se pode negar,
“computadores”, mas seus usos são tão essencialmente diversos que um observador alienígena poderia
não ser capaz de associá-los. Talvez pudesse associar os computadores atuais aos televisores de ponta
– e estaria correto. Mas, a unir coisas tão diferentes está um mesmo elemento: o digital.

                Digitalizar uma informação consiste em traduzi-la em números. (...) Em geral, não
                importa qual é o tipo de informação ou de mensagem: se pode ser explicitada ou medida,
                pode ser traduzida digitalmente. Ora, todos os números podem ser expressos em
                linguagem binária, sob forma de 0 e 1. Portanto, no limite, todas as informações podem
                ser representadas por esse sistema. (LEVY, 1999, p. 50)

Assim, a informação digital tem três características fundamentais para o estudo da comunicação social:
pode ser representada por diversos tipos de dispositivos – fios elétricos, fitas magnéticos, discos óticos,
moléculas biológicas etc.; pode ser transmitida e copiada sem perda, sendo reconstituída integralmente
no momento do uso apesar da degradação decorrente do processo de transmissão ou cópia; e qualquer
mensagem, reduzida ao código binário, pode ser processada lógica e matematicamente por circuitos
eletrônicos especializados (LEVY, 1999, p. 50).
São essas características que permitem a emergência de uma transformação central na comunicação,
comparável à invenção do alfabeto e que não pode ser subestimada. Pela primeira vez, uma hipermídia
integra modalidades de escrita, oralidade e audiovisual em um sistema interativo (CASTELLS, 1999,
p. 354). Essa interação, efetiva e não somente em termos de reação de mercado ou social, típica das
mídias de massa, constitui outra característica essencial das novas mídias. Foi introduzida no sistema
pela necessidade de estudantes submetidos a rigorosos invernos de se comunicar sem deslocamento.
O modem pessoal nasceu assim, construído fora da estrutura original da internet, militar, e baseado
em códigos livres, como era comum antes do advento da Microsoft, que criou o modelo de negócios
de software proprietário. Ao tornar-se comercial, a internet adotou não só essa tecnologia, mas a
própria contracultura do movimento hippie e a cultura universitária, acadêmica, de compartihamento
do conhecimento. Decorre dessa origem que os padrões tecnológicos que permitiram e permitem sua
amplidão sejam abertos e gratuitos. (CASTELLS, 1999, 362-382).
Tais características trazem como conseqüência, que a propriedade intelectual e as informações podem
ser instantaneamente distribuídas por todo o planeta, reproduzidas infinitamente, praticamente sem
custo, sem necessariamente o conhecimento do autor-proprietário e sem nem mesmo deixar de estar em
sua posse (BARLOW, 2003 apud MASON, 2008, p. 4). E as próprias mensagens carregam os atributos
da rede, de penetrabilidade, descentralidade multifacetada e flexibilidade (CASTELLS, 1999, p. 381).
Mason (p.28) demonstra que essa cultura está a ponto de ser levada a outro nível: não só as
informações, mas a própria posse dos meios de produção está caindo nas mãos da massa. Ele registra
o projeto RepRap, que busca desenvolver uma impressora caseira de objetos, levando ao extremo uma
tecnologia que custa atualmente milhares de dólares e serve apenas para criar protótipos de engenharia
industrial e design. O objetivo do RepRap é construir uma máquina que custe US$ 400 e use como
insumo materiais ao custo de US$ 0,02/cm³ consumido, criada tanto a máquina quanto os objetos sob
código livre; a máquina deve ser capaz de se reproduzir. O protótipo atual já gerou sandálias infantis
em 2008, levando um dia – de trabalho autônomo, sem operador – para criar um par. Os arquivos com
os projetos, que são lidos pela máquina, ficam disponíveis no site. Há iniciativas, não relacionadas, que
permitem a criação de celulares completamente independentes e compatíveis com as redes de telefonia
oficiais; software e hardware são livres (TuxPhone, 2008). Há ainda quem pretenda desenvolver até
mesmo uma infra-estrutura de rede própria, independente de torres, baseada em redes “mesh” (nas
quais um mesmo dispositivo é ao mesmo tempo receptor e retransmissor do canal, amplificando o
alcance de nós-chave) (DOTPUBLIC,2006)
Castells (1999,p. 397) afirma ainda que a sociedade em rede inclui a maioria de suas expressões
culturais no sistema de comunicação digital. Isso enfraqueceria o poder simbólico dos emissores
tradicionais, posicionados fora do sistema (família, moral, autoridade, religião). “Não que desapareçam,
mas são enfraquecidos a menos que se recodifiquem no novo sistema” (id.).
Mason (p. 231-240) acredita que, no que tange o mercado, é o que acontecerá. Para ele, o modo “pirata”
de produção – cultura de código aberto, compartilhamento, distribuição livre e reaproveitamento, legal ou
ilegal – abre novos espaços, fora do mercado, e força as empresas à readaptação, passando a ser mais
eficientes e ganhar novos clientes; a sociedade, após o ajuste, ganha o máximo de valor adicionado. O
autor afirma que os piratas não irão subverter o capitalismo, mas se apresentam – desde as origens da
pirataria, nos mares – como um excelente modelo de negócios, que irá levar, hoje, à uma nova linhagem
de capitalismo, onde a produção em massa subsiste, mas de forma mais democrática, que ele chama de
“capitalismo punk”.
Com relação à cultura, observa-se movimentos semelhantes: enquanto religiões tradicionais perdem
fieis, o bispo Macedo mantém uma conta “pessoal” no Twitter[1]. A mídia parece entender o contexto,
como são exemplos algumas campanhas publicitárias globais – Sprite, “Imagem não é nada” – ou,
como coloca o proprietário da NewsCorp, holding de editoras, jornais, rádios, gravadores, estúdios,
emissoras, canais a cabo, por satélite, sites, agências de publicidade e de notícias, bares, times de
futebol americano e de metade da liga de Rugbi da Austrália, Rupert Murdoch:

               O poder está se afastando da velha elite de nossa área, os editores, executivos e,
               encaremos, os proprietários. Uma nova geração de consumidores de mídia se levantou,
               demandando conteúdos distribuídos quando eles querem, como eles querem e na
               medida em que eles querem. (apud MASON, p. 49)

A situação do jornais atualmente nos Estados Unidos sugere novo reforço à perspectiva de Mason.
Incapazes de responder às questões colocadas pela internet em seu campo comercial, os jornais
tendem a sucumbir, principalmente no momento de crise atual (LERER, 2009). Mas, como Mason,
Castells (1999, p.499) também acredita que “essa evolução para as formas de gerenciamento e
produção em rede não implica o fim do capitalismo. (...) Mas esse tipo de capitalismo é profundamente
diferente de seus predecessores históricos.”
No campo da comunicação, podemos afirmar que a mudança principal está no domínio sobre os
conteúdos. Os magnatas da mídia perceberam que a geração de conteúdos e de sua distribuição não
basta mais à manutenção do poder simbólico de que dispõem. Castells e outros (2004, p. 238-249),
mais recentemente, também observam uma mudança essencial, advinda com os novos aparelhos
celulares, principalmente: os indivíduos estão constantemente submetidos a contextos diversos,
simultâneos (assistem televisão em família e mantêm contatos com membros de outras redes, por
exemplo); produzem o conteúdo e fornecem serviços alternativos aos oficiais ou do mercado; mais
que consumismo ou estilo, os aparelhos são expressão de identidade orientada pela apropriação da
tecnologia embarcada; a linguagem passa por mudanças; e termos nascidos das limitações da digitação
passam a ser usados em ambientes formais, com implicações culturais.

               Estamos convencidos que contemplamos a emergência de uma nova paisagem social
               na qual pessoas individualmente se esforçam para arcar com a responsabilidade de
               construir redes de comunicação com base em quem são e o que querem. A liberdade
               é uma aventura perigosa. A alternativa, no entanto, é a exclusão das redes de
               comunicação que movem nossas vidas em nossa era. (CASTELLS et al., 2004, p. 249)
As novas gerações não pretendem se excluir. Dadas as condições de acesso – economia, infra-estrutura
etc. – tendem a se adaptar muito bem aos novos recursos. Começam a se tornar comuns casos de
contas de telefonia celular de dezenas de páginas, com cobranças pela troca de até 20 mil mensagens
de texto em um mês, por adolescentes de menos de 15 anos. (MATYSZCZYK, 2009; FARRELL, 2009).
Mas, a questão está no acesso. E não só em termos de inclusão digital. O papel antes exercido pelos
veículos de massa está hoje em parte sendo transferido para os provedores de infra-estrutura de
acesso. São eles que detém a capacidade de manipular as informações de modo a privilegiar ou banir
determinadas comunicações – em um mundo onde todos podem produzir conteúdos com os mesmos
atributos de qualidade que as empresas de mídia típicas, os provedores colocam-se como novos
gatekeepers em potencial. Não se fala de manipulação das mensagens em si. Mas, sim, dos dados
pelos quais elas são transmitidas. Tecnologias como filtros de correio eletrônico e de conteúdo ou
modelagem de tráfego são buscadas pelos provedores de internet e o modelo de negócios limitando
certos serviços e favorecendo o tráfego originado de geradores e distribuidores de conteúdo parceiros –
que paguem pelo privilégio – tem sido limitado em maior ou menor extensão por legislações em todo o
mundo.
A proteção à neutralidade da rede existe desde o telégrafo (ESTADOS, 2003) e permitiu o
desenvolvimento da internet como se conhece (BERNERS-LEE, 2006). Mas hoje provedores tem
adotado a prática, sem que seja decisivamente proibido, e alguns países estudam leis que efetivamente
permitam algum grau de modelagem de tráfego para certos aplicativos, serviços e conteúdos. Nos
Estados Unidos, a neutralidade foi removida em 2005, quando se afastou a aplicação do princípio
relacionado a telefones (OPEN, 2008). Hoje, com a concentração da propriedade não só no espaço dos
conteúdos, mas também na infra-estrutura, a questão da neutralidade da rede se aproxima do direito à
liberdade de comunicação.
Na essência, ainda não resolvido, resta o colocado pelo pesquisador do Media Lab do MIT Stewart
Brand na primeira Hacker’s Conference, em 1984:

               A informação quer ser gratuita – porque agora é tão simples copiar e distribuir
               casualmente – e a informação quer ser cara – porque na Era da Informação, nada é tão
               valioso como a informação correta no momento certo. (BRAND apud CLARKE, 2000)

No entanto, toda técnica traz embutida em si projetos e esquemas imaginários, mesmo que não se
possa concluir já em sua origem os usos sociais que estão por ela condicionados (LEVY, 1999, p. 23).
No caso da internet, ela traz como valores intrínsecos a universalidade, a alteridade e a autonomia (id.,
p. 130-133). Na comparação com as mídias de massa, o que esses valores implicam é o afastamento
da descontextualização das mensagens. Ao invés de ampliar a lógica da redução da mensagem ao
seu mínimo denominador comum, capaz de ser absorvido de forma uniforme independentemente
do contexto ou repertório do receptor, diante da incapacidade de interação e retroalimentação, as
novas mídias universalizam o contexto, permitem a interação e favorecem a participação autônoma
dos indivíduos em um ambiente compartilhado qualquer que seja a aplicação específica que se trate:
comunidades, jornais, blogs, comunicadores instantâneos, email... todos estão unidos pelo link,
formando um único inter e hipertexto (LEVY, 1999, p. 111-121).
Observadas as inovações tecnológicas das últimas décadas – Microsoft e Apple, ambiente e
navegadores web, Google – e furos “jornalísticos” – de Monica Lewinski pelo Drudge Report aos
bilhetes aéreos no parlamento pelo Congresso em Foco – todos têm em comum terem sido articulados
inicialmente por indivíduos ou pequenos grupos, dispondo de recursos parcos, não diferentes da maioria
dos cidadãos de classe média e infinitamente inferiores aos das grandes empresas de suas respectivas
áreas. Ao contrário, a fusão AOL-Time Warner em 2000 – a maior até então, englobando marcas como
CNN, Forbes e HBO – não trouxe nenhuma inovação significativa, tendo registrado dois anos após perda
de US$ 100 bilhões do total de US$ 350 bilhões em que era cotada, em decorrência de reavaliação de
ativos intangíveis – como a criatividade e inovação. (HU;JUNNARKAR, 2000; WILLENS, 2003).
Esses indícios reforçam a idéia de que há efetivamente espaço para uma superação da lógica midiática.
Certamente, em sua configuração atual, a internet desfavorece a sociedade do espetáculo e propõe um
estilo de comunicação não midiático, “mas comunitário, transversal e recíproco” (LEVY, 1999, p. 224).
Ao mesmo tempo em que estabelecem uma percepção comum, as mídias não permitem
               a comunicação entre aqueles que percebem a mesma “realidade”. (...) Em contrapartida,
               no ciberespaço, não se trata mais de uma difusão a partir dos centros, e sim de uma
               interação no centro de uma situação, de um universo de informações, onde cada um
               contribui explorando de forma própria, modificando ou estabilizando (...) O ciberespaço
               abriga negociações sobre significados, processos de reconhecimento mútuo dos
               indivíduos e dos grupos por meio da atividade de comunicação (harmonização e
               debate entre os participantes). (...) Acrescentemos que é muito mais difícil executar
               manipulações em espaço onde todos podem emitir mensagens e onde informações
               contraditórias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros emissores
               são controlados por uma minoria. (LEVY, 1999, p. 224-225).

Reitere-se que refluxos e retrocessos são possíveis, e ameaças – como a quebra da neutralidade
da rede, mas também outras – estão constantemente presentes e também sujeitas à criatividade e à
inovação de indivíduos e da sociedade. São diversos os ciclos de obscurantismo e renascimento na
história da civilização, e a tensão persiste.
Mas a realidade atual é que há notícias circulando sem nunca terem sido editadas profissionalmente;
filmes sem atores; teorias sem revisão de pares; patentes sem royalties; campanhas sem partidos... Mais
que isso, os indivíduos podem não só acessar às mensagens – em sentido amplo –, mas àqueles outros
indivíduos que as conceberam, como antecipava Levy (1999, p. 231).
A persistir e aprofundar-se a lógica presente, verifica-se que há espaço crescente para a participação
de diversos atores no processo de agendamento. E com a crescente dependência da mídia de massa
de fontes e autoridades tradicionais e mensagens de impacto (PAYNE, MATSAGANIS, 2006), ganham
força sujeitos alternativos, reforçados pelas possibilidades das novas mídias. Vive-se um momento
de transição, mas as características das tecnologias que sustentam a nova organização do ambiente
de comunicação social sugerem uma expansão da lógica que hoje apenas insinua uma consolidação
futura – e quando ocorra poderá estar estabilizada em uma configuração bastante diversa da verificada
atualmente.

                                            REFERÊNCIAS
BERNERS-LEE, Tim. Net Neutrality: This is serious. DIG. Cambridge, MA. 21 Jun. 2006. Disponível em
<http://dig.csail.mit.edu/breadcrumbs/node/144>. Acesso em 24 mar. 2009.
BRETON, Philippe; PROULX, Serge. A sociologia da comunicação. São Paulo: Loyola, 2002. 287p.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 617p.
______ et al. The Mobile Communication Society. In: International Workshop on Wireless
Communication Policies and Prospects, 2004, Los Angeles. Research report.
CLARKE, Roger. "Information Wants to be Free ...". Roger Clarke’s Web Site. Austrália. 24 Feb. 2000.
Disponível em <http://www.rogerclarke.com/II/IWtbF.html> Acesso em 24 mar. 2009.
DOTPUBLIC: The Universal Network. Disponível em < http://dotpublic.istumbler.net/ >. Acesso em 24
mar. 2009.
ESTADOS UNIDOS. Pacific Telegraph Act of 1860. 16 Jun. 1860. Central Pacific Railroad
Photographic History Museum. San Diego, 2003. Disponível em <http://cprr.org/Museum/
Pacific_Telegraph_Act_1860.html>.Acesso em 24 mar. 2009.
FARREL, Nick. Texting teen sent 14,528 text messages in a month. The Enquirer. 13 Jan. 2009.
Disponível em <http://www.theinquirer.net/inquirer/news/353/1050353/texting-teen-sent-14-528-text-
messages-in-a-month> Acesso em 24 mar. 2009.
JUNNARKAR, Sandeep; HU, Jim. AOL to buy Time Warner in historic merger. CNet. 10 Jan. 2000.
Disponível em <http://news.cnet.com/2100-1023-235400.html>.Acesso em 24 mar. 2009.
LERER, Kenneth. How We Got Here and How We Get Out of Here. The Huffington Post. Nova Iorque,
NY. 24 Apr. 2004. Disponível em <http://www.huffingtonpost.com/kenneth-lerer/how-we-got-here-and-
how-w_b_191137.html> Acesso em 24 mar. 2009.
LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. 264p.
MASON, Matt. The Pirate’s Dilemma. New York: Free Press, 2008. 276p.
MATSAGANIS, Matthew; PAYNE, J. Agenda-Setting in a Culture of Fear. International Communication
Association. Annual Meeting. Dresden, Germany, 16 Jun. 2006. Disponível em<http://
www.allacademic.com/meta/p_mla_apa_research_citation/0/9/0/3/5/p90352_index.html>. Acesso em 24
mar. 2009.
MATYSZCZYK, Chris. Dad takes hammer to kid's cell for 10,000 texts. CNet News. 10 Apr. 2009.
Disponível em <http://news.cnet.com/dad-takes-hammer-to-kids-cell-for-10000-texts>. Acesso em 24
mar. 2009.
OPEN Internet Coalision. Common Questions. Disponível em <http://www.openinternetcoalition.com/
index.cfm?objectid= 00175D28-F1F6-6035- BF6EA329CD5BD3F4> Acesso em 24 mar. 2009.
REPRAP. Disponível em <http://www.reprap.org/bin/view/Main/ItemsMade> Acesso em: 24 mar. 2009.
TUXPHONE. Disponível em <http://www.opencellphone.org>. Acesso em 24 mar. 2009.
WILLENS, Robert. No Tax Break for AOL's $100b in Goodwill . CFO. 10 Mar 2003. Disponível em <http://
www.cfo.com/article.cfm/3008674>. Acesso em 24 mar. 2009.
[1] http://twitter.com/bispomacedo. O Twitter é a mas recente “next big thing” a ser adotada pelo mainstream,
passando a ser destaque em emissoras, revistas e jornais tradicionais.

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Novas mídias, massas e agendamento

  • 1. MURILO LAUREANO PINTO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. FACULDADE DE COMUNICAÇÃO. ESTUDOS DE MÍDIA 1: PESQUISA DE OPINIÃO – PROF. DR. DARIO DE AZEVEDO    NOVAS MÍDIAS, MASSAS E AGENDAMENTO As tecnologias de comunicação presentes tendem a sugerir uma nova ordenação social. No campo da comunicação social, o contexto não é diferente. Cabe questionar, no entanto, em que medida a nova configuração das relações comunicativas constitui efetiva alternativa, promovida pelos indivíduos, à sociedade e à mídia de massas, ou se implica uma nova organização das mídias estabelecidas, operadas estrategicamente na manutenção de suas funções ideológicas típicas nas democracias ocidentais contemporâneas. Inicialmente, deve-se refutar a inexistência de efeitos sociais das tecnologias de informação e comunicação. Ainda que não se possa deduzir uma sociedade a partir da introdução de uma técnica, é inegável que a abertura de novas possibilidades trazidas por elas podem definir a configuração de uma coletividade. A escrita, por exemplo, nasceu há cerca de 5-6 mil anos, mas ainda no século IV a.C. seu uso associado ao conhecimento era bastante criticado, entre outros, por Sócrates. Para ele, “o desenvolvimento da escrita acarretaria profundas mudanças nas condições de memorização do saber e das informações”, mudanças essas que classificava como deletérias, já que levaria aos discípulos a presunção de possuir a ciência, não a ciência em si mesma. (BRETON;PROULX, 2002, p. 25) Somente no Renascimento a escrita, associada ao livro impresso, atingiria o relevo social que ainda mantém. E isso se deveu não apenas à tecnologia. A sociedade chinesa já dispunha do papel desde o século III, a impressão xilográfica era conhecida desde o século IX e a tipográfica desde o XI. A razão de não ter desenvolvido um sistema semelhante à prensa de Gutenberg – mais confiável e que produzia resultados mais uniformes – deveu-se, provavelmente, pela falta de demanda social por tais práticas. A primazia alcançada pela escrita, por meio do livro, deveu-se, portanto, a seu uso social, vinculado que foi ao mercantilismo e ao universalismo. (BRETON; PROULX, 2002, p.39-50) Depois, com o Iluminismo e o nascimento das sociedades democráticas atuais, a imprensa teve seu uso ampliado, passando a deter a centralidade não só do pensamento científico-filosófico, passando a ser considerada o local de união entre os indivíduos e, portanto, devendo ser dotada da mesma liberdade garantida a estes. (BRETON; PROULX, 2002, p.52) Isso porque a nova liberdade do indivíduo-cidadão supunha uma escolha, e essa escolha, a informação. O acesso à comunicação social tornou-se assim uma necessidade constitutiva da nova democracia. Informar-se não era mais simplesmente um direito pelo qual os povos haviam lutado, mas um dever revolucionário (...) Quase não houve inovação técnica em matéria de comunicação, mas os modos de expressão tradicionais transformaram-se em meios de comunicação a serviço do espírito republicano. (BRETON; PROULX, 2002, p.53) O vasto desenvolvimento de técnicas em diversas áreas observado na Revolução Industrial, da mesma forma, permitiu a associação a novos modelos sociais para renovar os processos de comunicação social. O progresso técnico aliou-se perfeitamente ao liberalismo econômico e político, definindo a imprensa livre como garantidora da disseminação de informações necessária à democracia. E havia a interdependência entre mercado e publicidade a lhe aproximar ainda mais da lógica mercantil. (BRETON; PROULX, 2002, p.53-60) O circunlóquio introdutório busca uma afirmação, enfim: a informática, como a escrita, surge de uma necessidade inicial de cálculo matemático e memória estanque, passando progressivamente por apropriações sociais que resultam em usos essencialmente diversos dos para os quais foram originalmente pensados (BRETON;PROULX, 2002, p. 68-69). Assim, A emergência do ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral da civilização. Uma técnica é produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade encontra- se condicionada por suas técnicas. (...) Dizer que a técnica condiciona significa dizer
  • 2. que abre algumas possibilidades, que algumas opções culturais ou sociais não poderiam ser pensadas a sério sem a sua presença. Mas muitas possibilidades são abertas, e nem todas serão aproveitadas. (...) Aquilo que identificamos, de forma grosseira, como “novas tecnologias” recobre na verdade a atividade multiforme de grupos humanos, um devir coletivo complexo que se cristaliza sobretudo em volta de objetos materiais, de programas de computador e de dispositivos de comunicação. (LEVY, 1999, p. 25-28) Dessa forma, ao pensar as novas tecnologias de comunicação e informação e suas implicações, deve-se ter presente que são resultado de processos coletivos e contextualizados e que, se não têm necessária e apropriadamente um “impacto”, carregam implicações sociais intrínsecas e abrem possibilidades que podem vir a extrapolar seu sentido e proposta iniciais. Antes de se avançar, é preciso especificar o objeto tratado. Quando se fala em novas tecnologias de comunicação e informação, se passa por mais de meio século de transformações produtivas que distanciam quase que infinitamente artefatos chamados indistintamente de “computadores”. Um mainframe dos anos 40 está muito mais distante de um smartphone atual do que um televisor a válvula de um HDTV, e não só nem especialmente em termos tecnológicos. Os dois são, não se pode negar, “computadores”, mas seus usos são tão essencialmente diversos que um observador alienígena poderia não ser capaz de associá-los. Talvez pudesse associar os computadores atuais aos televisores de ponta – e estaria correto. Mas, a unir coisas tão diferentes está um mesmo elemento: o digital. Digitalizar uma informação consiste em traduzi-la em números. (...) Em geral, não importa qual é o tipo de informação ou de mensagem: se pode ser explicitada ou medida, pode ser traduzida digitalmente. Ora, todos os números podem ser expressos em linguagem binária, sob forma de 0 e 1. Portanto, no limite, todas as informações podem ser representadas por esse sistema. (LEVY, 1999, p. 50) Assim, a informação digital tem três características fundamentais para o estudo da comunicação social: pode ser representada por diversos tipos de dispositivos – fios elétricos, fitas magnéticos, discos óticos, moléculas biológicas etc.; pode ser transmitida e copiada sem perda, sendo reconstituída integralmente no momento do uso apesar da degradação decorrente do processo de transmissão ou cópia; e qualquer mensagem, reduzida ao código binário, pode ser processada lógica e matematicamente por circuitos eletrônicos especializados (LEVY, 1999, p. 50). São essas características que permitem a emergência de uma transformação central na comunicação, comparável à invenção do alfabeto e que não pode ser subestimada. Pela primeira vez, uma hipermídia integra modalidades de escrita, oralidade e audiovisual em um sistema interativo (CASTELLS, 1999, p. 354). Essa interação, efetiva e não somente em termos de reação de mercado ou social, típica das mídias de massa, constitui outra característica essencial das novas mídias. Foi introduzida no sistema pela necessidade de estudantes submetidos a rigorosos invernos de se comunicar sem deslocamento. O modem pessoal nasceu assim, construído fora da estrutura original da internet, militar, e baseado em códigos livres, como era comum antes do advento da Microsoft, que criou o modelo de negócios de software proprietário. Ao tornar-se comercial, a internet adotou não só essa tecnologia, mas a própria contracultura do movimento hippie e a cultura universitária, acadêmica, de compartihamento do conhecimento. Decorre dessa origem que os padrões tecnológicos que permitiram e permitem sua amplidão sejam abertos e gratuitos. (CASTELLS, 1999, 362-382). Tais características trazem como conseqüência, que a propriedade intelectual e as informações podem ser instantaneamente distribuídas por todo o planeta, reproduzidas infinitamente, praticamente sem custo, sem necessariamente o conhecimento do autor-proprietário e sem nem mesmo deixar de estar em sua posse (BARLOW, 2003 apud MASON, 2008, p. 4). E as próprias mensagens carregam os atributos da rede, de penetrabilidade, descentralidade multifacetada e flexibilidade (CASTELLS, 1999, p. 381). Mason (p.28) demonstra que essa cultura está a ponto de ser levada a outro nível: não só as informações, mas a própria posse dos meios de produção está caindo nas mãos da massa. Ele registra o projeto RepRap, que busca desenvolver uma impressora caseira de objetos, levando ao extremo uma tecnologia que custa atualmente milhares de dólares e serve apenas para criar protótipos de engenharia industrial e design. O objetivo do RepRap é construir uma máquina que custe US$ 400 e use como insumo materiais ao custo de US$ 0,02/cm³ consumido, criada tanto a máquina quanto os objetos sob
  • 3. código livre; a máquina deve ser capaz de se reproduzir. O protótipo atual já gerou sandálias infantis em 2008, levando um dia – de trabalho autônomo, sem operador – para criar um par. Os arquivos com os projetos, que são lidos pela máquina, ficam disponíveis no site. Há iniciativas, não relacionadas, que permitem a criação de celulares completamente independentes e compatíveis com as redes de telefonia oficiais; software e hardware são livres (TuxPhone, 2008). Há ainda quem pretenda desenvolver até mesmo uma infra-estrutura de rede própria, independente de torres, baseada em redes “mesh” (nas quais um mesmo dispositivo é ao mesmo tempo receptor e retransmissor do canal, amplificando o alcance de nós-chave) (DOTPUBLIC,2006) Castells (1999,p. 397) afirma ainda que a sociedade em rede inclui a maioria de suas expressões culturais no sistema de comunicação digital. Isso enfraqueceria o poder simbólico dos emissores tradicionais, posicionados fora do sistema (família, moral, autoridade, religião). “Não que desapareçam, mas são enfraquecidos a menos que se recodifiquem no novo sistema” (id.). Mason (p. 231-240) acredita que, no que tange o mercado, é o que acontecerá. Para ele, o modo “pirata” de produção – cultura de código aberto, compartilhamento, distribuição livre e reaproveitamento, legal ou ilegal – abre novos espaços, fora do mercado, e força as empresas à readaptação, passando a ser mais eficientes e ganhar novos clientes; a sociedade, após o ajuste, ganha o máximo de valor adicionado. O autor afirma que os piratas não irão subverter o capitalismo, mas se apresentam – desde as origens da pirataria, nos mares – como um excelente modelo de negócios, que irá levar, hoje, à uma nova linhagem de capitalismo, onde a produção em massa subsiste, mas de forma mais democrática, que ele chama de “capitalismo punk”. Com relação à cultura, observa-se movimentos semelhantes: enquanto religiões tradicionais perdem fieis, o bispo Macedo mantém uma conta “pessoal” no Twitter[1]. A mídia parece entender o contexto, como são exemplos algumas campanhas publicitárias globais – Sprite, “Imagem não é nada” – ou, como coloca o proprietário da NewsCorp, holding de editoras, jornais, rádios, gravadores, estúdios, emissoras, canais a cabo, por satélite, sites, agências de publicidade e de notícias, bares, times de futebol americano e de metade da liga de Rugbi da Austrália, Rupert Murdoch: O poder está se afastando da velha elite de nossa área, os editores, executivos e, encaremos, os proprietários. Uma nova geração de consumidores de mídia se levantou, demandando conteúdos distribuídos quando eles querem, como eles querem e na medida em que eles querem. (apud MASON, p. 49) A situação do jornais atualmente nos Estados Unidos sugere novo reforço à perspectiva de Mason. Incapazes de responder às questões colocadas pela internet em seu campo comercial, os jornais tendem a sucumbir, principalmente no momento de crise atual (LERER, 2009). Mas, como Mason, Castells (1999, p.499) também acredita que “essa evolução para as formas de gerenciamento e produção em rede não implica o fim do capitalismo. (...) Mas esse tipo de capitalismo é profundamente diferente de seus predecessores históricos.” No campo da comunicação, podemos afirmar que a mudança principal está no domínio sobre os conteúdos. Os magnatas da mídia perceberam que a geração de conteúdos e de sua distribuição não basta mais à manutenção do poder simbólico de que dispõem. Castells e outros (2004, p. 238-249), mais recentemente, também observam uma mudança essencial, advinda com os novos aparelhos celulares, principalmente: os indivíduos estão constantemente submetidos a contextos diversos, simultâneos (assistem televisão em família e mantêm contatos com membros de outras redes, por exemplo); produzem o conteúdo e fornecem serviços alternativos aos oficiais ou do mercado; mais que consumismo ou estilo, os aparelhos são expressão de identidade orientada pela apropriação da tecnologia embarcada; a linguagem passa por mudanças; e termos nascidos das limitações da digitação passam a ser usados em ambientes formais, com implicações culturais. Estamos convencidos que contemplamos a emergência de uma nova paisagem social na qual pessoas individualmente se esforçam para arcar com a responsabilidade de construir redes de comunicação com base em quem são e o que querem. A liberdade é uma aventura perigosa. A alternativa, no entanto, é a exclusão das redes de comunicação que movem nossas vidas em nossa era. (CASTELLS et al., 2004, p. 249)
  • 4. As novas gerações não pretendem se excluir. Dadas as condições de acesso – economia, infra-estrutura etc. – tendem a se adaptar muito bem aos novos recursos. Começam a se tornar comuns casos de contas de telefonia celular de dezenas de páginas, com cobranças pela troca de até 20 mil mensagens de texto em um mês, por adolescentes de menos de 15 anos. (MATYSZCZYK, 2009; FARRELL, 2009). Mas, a questão está no acesso. E não só em termos de inclusão digital. O papel antes exercido pelos veículos de massa está hoje em parte sendo transferido para os provedores de infra-estrutura de acesso. São eles que detém a capacidade de manipular as informações de modo a privilegiar ou banir determinadas comunicações – em um mundo onde todos podem produzir conteúdos com os mesmos atributos de qualidade que as empresas de mídia típicas, os provedores colocam-se como novos gatekeepers em potencial. Não se fala de manipulação das mensagens em si. Mas, sim, dos dados pelos quais elas são transmitidas. Tecnologias como filtros de correio eletrônico e de conteúdo ou modelagem de tráfego são buscadas pelos provedores de internet e o modelo de negócios limitando certos serviços e favorecendo o tráfego originado de geradores e distribuidores de conteúdo parceiros – que paguem pelo privilégio – tem sido limitado em maior ou menor extensão por legislações em todo o mundo. A proteção à neutralidade da rede existe desde o telégrafo (ESTADOS, 2003) e permitiu o desenvolvimento da internet como se conhece (BERNERS-LEE, 2006). Mas hoje provedores tem adotado a prática, sem que seja decisivamente proibido, e alguns países estudam leis que efetivamente permitam algum grau de modelagem de tráfego para certos aplicativos, serviços e conteúdos. Nos Estados Unidos, a neutralidade foi removida em 2005, quando se afastou a aplicação do princípio relacionado a telefones (OPEN, 2008). Hoje, com a concentração da propriedade não só no espaço dos conteúdos, mas também na infra-estrutura, a questão da neutralidade da rede se aproxima do direito à liberdade de comunicação. Na essência, ainda não resolvido, resta o colocado pelo pesquisador do Media Lab do MIT Stewart Brand na primeira Hacker’s Conference, em 1984: A informação quer ser gratuita – porque agora é tão simples copiar e distribuir casualmente – e a informação quer ser cara – porque na Era da Informação, nada é tão valioso como a informação correta no momento certo. (BRAND apud CLARKE, 2000) No entanto, toda técnica traz embutida em si projetos e esquemas imaginários, mesmo que não se possa concluir já em sua origem os usos sociais que estão por ela condicionados (LEVY, 1999, p. 23). No caso da internet, ela traz como valores intrínsecos a universalidade, a alteridade e a autonomia (id., p. 130-133). Na comparação com as mídias de massa, o que esses valores implicam é o afastamento da descontextualização das mensagens. Ao invés de ampliar a lógica da redução da mensagem ao seu mínimo denominador comum, capaz de ser absorvido de forma uniforme independentemente do contexto ou repertório do receptor, diante da incapacidade de interação e retroalimentação, as novas mídias universalizam o contexto, permitem a interação e favorecem a participação autônoma dos indivíduos em um ambiente compartilhado qualquer que seja a aplicação específica que se trate: comunidades, jornais, blogs, comunicadores instantâneos, email... todos estão unidos pelo link, formando um único inter e hipertexto (LEVY, 1999, p. 111-121). Observadas as inovações tecnológicas das últimas décadas – Microsoft e Apple, ambiente e navegadores web, Google – e furos “jornalísticos” – de Monica Lewinski pelo Drudge Report aos bilhetes aéreos no parlamento pelo Congresso em Foco – todos têm em comum terem sido articulados inicialmente por indivíduos ou pequenos grupos, dispondo de recursos parcos, não diferentes da maioria dos cidadãos de classe média e infinitamente inferiores aos das grandes empresas de suas respectivas áreas. Ao contrário, a fusão AOL-Time Warner em 2000 – a maior até então, englobando marcas como CNN, Forbes e HBO – não trouxe nenhuma inovação significativa, tendo registrado dois anos após perda de US$ 100 bilhões do total de US$ 350 bilhões em que era cotada, em decorrência de reavaliação de ativos intangíveis – como a criatividade e inovação. (HU;JUNNARKAR, 2000; WILLENS, 2003). Esses indícios reforçam a idéia de que há efetivamente espaço para uma superação da lógica midiática. Certamente, em sua configuração atual, a internet desfavorece a sociedade do espetáculo e propõe um estilo de comunicação não midiático, “mas comunitário, transversal e recíproco” (LEVY, 1999, p. 224).
  • 5. Ao mesmo tempo em que estabelecem uma percepção comum, as mídias não permitem a comunicação entre aqueles que percebem a mesma “realidade”. (...) Em contrapartida, no ciberespaço, não se trata mais de uma difusão a partir dos centros, e sim de uma interação no centro de uma situação, de um universo de informações, onde cada um contribui explorando de forma própria, modificando ou estabilizando (...) O ciberespaço abriga negociações sobre significados, processos de reconhecimento mútuo dos indivíduos e dos grupos por meio da atividade de comunicação (harmonização e debate entre os participantes). (...) Acrescentemos que é muito mais difícil executar manipulações em espaço onde todos podem emitir mensagens e onde informações contraditórias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros emissores são controlados por uma minoria. (LEVY, 1999, p. 224-225). Reitere-se que refluxos e retrocessos são possíveis, e ameaças – como a quebra da neutralidade da rede, mas também outras – estão constantemente presentes e também sujeitas à criatividade e à inovação de indivíduos e da sociedade. São diversos os ciclos de obscurantismo e renascimento na história da civilização, e a tensão persiste. Mas a realidade atual é que há notícias circulando sem nunca terem sido editadas profissionalmente; filmes sem atores; teorias sem revisão de pares; patentes sem royalties; campanhas sem partidos... Mais que isso, os indivíduos podem não só acessar às mensagens – em sentido amplo –, mas àqueles outros indivíduos que as conceberam, como antecipava Levy (1999, p. 231). A persistir e aprofundar-se a lógica presente, verifica-se que há espaço crescente para a participação de diversos atores no processo de agendamento. E com a crescente dependência da mídia de massa de fontes e autoridades tradicionais e mensagens de impacto (PAYNE, MATSAGANIS, 2006), ganham força sujeitos alternativos, reforçados pelas possibilidades das novas mídias. Vive-se um momento de transição, mas as características das tecnologias que sustentam a nova organização do ambiente de comunicação social sugerem uma expansão da lógica que hoje apenas insinua uma consolidação futura – e quando ocorra poderá estar estabilizada em uma configuração bastante diversa da verificada atualmente. REFERÊNCIAS BERNERS-LEE, Tim. Net Neutrality: This is serious. DIG. Cambridge, MA. 21 Jun. 2006. Disponível em <http://dig.csail.mit.edu/breadcrumbs/node/144>. Acesso em 24 mar. 2009. BRETON, Philippe; PROULX, Serge. A sociologia da comunicação. São Paulo: Loyola, 2002. 287p. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Vol. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 617p. ______ et al. The Mobile Communication Society. In: International Workshop on Wireless Communication Policies and Prospects, 2004, Los Angeles. Research report. CLARKE, Roger. "Information Wants to be Free ...". Roger Clarke’s Web Site. Austrália. 24 Feb. 2000. Disponível em <http://www.rogerclarke.com/II/IWtbF.html> Acesso em 24 mar. 2009. DOTPUBLIC: The Universal Network. Disponível em < http://dotpublic.istumbler.net/ >. Acesso em 24 mar. 2009. ESTADOS UNIDOS. Pacific Telegraph Act of 1860. 16 Jun. 1860. Central Pacific Railroad Photographic History Museum. San Diego, 2003. Disponível em <http://cprr.org/Museum/ Pacific_Telegraph_Act_1860.html>.Acesso em 24 mar. 2009. FARREL, Nick. Texting teen sent 14,528 text messages in a month. The Enquirer. 13 Jan. 2009. Disponível em <http://www.theinquirer.net/inquirer/news/353/1050353/texting-teen-sent-14-528-text- messages-in-a-month> Acesso em 24 mar. 2009. JUNNARKAR, Sandeep; HU, Jim. AOL to buy Time Warner in historic merger. CNet. 10 Jan. 2000. Disponível em <http://news.cnet.com/2100-1023-235400.html>.Acesso em 24 mar. 2009. LERER, Kenneth. How We Got Here and How We Get Out of Here. The Huffington Post. Nova Iorque, NY. 24 Apr. 2004. Disponível em <http://www.huffingtonpost.com/kenneth-lerer/how-we-got-here-and- how-w_b_191137.html> Acesso em 24 mar. 2009. LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. 264p. MASON, Matt. The Pirate’s Dilemma. New York: Free Press, 2008. 276p. MATSAGANIS, Matthew; PAYNE, J. Agenda-Setting in a Culture of Fear. International Communication Association. Annual Meeting. Dresden, Germany, 16 Jun. 2006. Disponível em<http:// www.allacademic.com/meta/p_mla_apa_research_citation/0/9/0/3/5/p90352_index.html>. Acesso em 24
  • 6. mar. 2009. MATYSZCZYK, Chris. Dad takes hammer to kid's cell for 10,000 texts. CNet News. 10 Apr. 2009. Disponível em <http://news.cnet.com/dad-takes-hammer-to-kids-cell-for-10000-texts>. Acesso em 24 mar. 2009. OPEN Internet Coalision. Common Questions. Disponível em <http://www.openinternetcoalition.com/ index.cfm?objectid= 00175D28-F1F6-6035- BF6EA329CD5BD3F4> Acesso em 24 mar. 2009. REPRAP. Disponível em <http://www.reprap.org/bin/view/Main/ItemsMade> Acesso em: 24 mar. 2009. TUXPHONE. Disponível em <http://www.opencellphone.org>. Acesso em 24 mar. 2009. WILLENS, Robert. No Tax Break for AOL's $100b in Goodwill . CFO. 10 Mar 2003. Disponível em <http:// www.cfo.com/article.cfm/3008674>. Acesso em 24 mar. 2009. [1] http://twitter.com/bispomacedo. O Twitter é a mas recente “next big thing” a ser adotada pelo mainstream, passando a ser destaque em emissoras, revistas e jornais tradicionais.