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PODIAM SER
                         AMIGAS
  Era uma vez uma águia. Era uma vez uma gata. Era
uma vez uma porca.
   A águia teve aguiazinhas. A gata teve gatinhos. A porca
teve porquinhos.
   Como boas mães, procuraram abrigo onde resguardar os
filhos.
   A águia escolheu o alto da ramaria de um frondoso
castanheiro. A gata achou um buraco a meio do tronco do
mesmo castanheiro. A porca cavou uma toca, nas raízes do
tal castanheiro.
   Eram vizinhas e talvez pudessem ser amigas.

                            1
Todas as manhãs, a águia voava do seu ninho, à cata de
comida para as aguiazinhas. A gata também saltava do
buraco e ia caçar para os seus gatinhos. A porca saía da sua
toca e procurava castanhas e bolotas para os seus
porquinhos.
   Os respectivos filhos cresciam e engordavam, a olhos
vistos. As vizinhas viviam felizes e talvez pudessem ser
amigas.
   Talvez pudessem ser amigas, não fosse a gata uma
intriguista.
   Esta gata selvagem era uma falinhas mansas, mas todas
falsas.
   Um dia, foi ter com a vizinha de cima e disse-lhe:
   – Ai, vizinha, estou toda arrepiada. Calcule que ouvi a
porca lá de baixo dizer aos filhos que ia começar a roer as
raízes do castanheiro, para deitar a árvore abaixo. E sabe
para quê?
   A águia não fazia ideia.
   – Para fazer cair o seu ninho e comer os seus filhinhos –
contou a mentirosa da gata. – Se fosse a si tinha muito
cuidado e nunca mais abandonava os seus.
   A águia ficou muito aflita. Agradeceu imenso o aviso da
gata e pôs-se de plantão ao ninho, apesar de os filhos
reclamarem por comer.
   A gata, cumprida a primeira parte do seu plano, foi ter
com a vizinha do rés-do-chão:
   – Senhora porca, tome cautela com a águia. Ainda agora
a ouvi dizer para os filhos que, da próxima vez que virem
a senhora sair da toca, lhe assaltam a casa, para lhe
comerem os filhinhos.


                             2
A porca ficou muito alarmada. Também agradeceu
imenso o aviso da gata e nunca mais deixou os porquinhos
ao desamparo, apesar de eles grunhirem, desesperados com
fome.
   Como a águia e a porca, sempre de guarda, não saíam
pelo comer, iam definhando os filhos e elas perdendo as
forças.
   A princípio não se podia descansar em redor do
castanheiro, tal a barulheira misturada de pios e grunhidos,
clamando por comida.
   Mas as lamentações foram decrescendo, porque as
forças foram faltando…
   Quando tudo voltou ao silêncio, a gata selvagem e os
selvagens dos filhos assaltaram o ninho e banquetearam-se.
Em seguida, assaltaram a toca e repetiram o banquete.
   Parece que, depois, morreram de indigestão. Bem feito.

  FIM




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01.20 podiam ser amigas

  • 1. PODIAM SER AMIGAS Era uma vez uma águia. Era uma vez uma gata. Era uma vez uma porca. A águia teve aguiazinhas. A gata teve gatinhos. A porca teve porquinhos. Como boas mães, procuraram abrigo onde resguardar os filhos. A águia escolheu o alto da ramaria de um frondoso castanheiro. A gata achou um buraco a meio do tronco do mesmo castanheiro. A porca cavou uma toca, nas raízes do tal castanheiro. Eram vizinhas e talvez pudessem ser amigas. 1
  • 2. Todas as manhãs, a águia voava do seu ninho, à cata de comida para as aguiazinhas. A gata também saltava do buraco e ia caçar para os seus gatinhos. A porca saía da sua toca e procurava castanhas e bolotas para os seus porquinhos. Os respectivos filhos cresciam e engordavam, a olhos vistos. As vizinhas viviam felizes e talvez pudessem ser amigas. Talvez pudessem ser amigas, não fosse a gata uma intriguista. Esta gata selvagem era uma falinhas mansas, mas todas falsas. Um dia, foi ter com a vizinha de cima e disse-lhe: – Ai, vizinha, estou toda arrepiada. Calcule que ouvi a porca lá de baixo dizer aos filhos que ia começar a roer as raízes do castanheiro, para deitar a árvore abaixo. E sabe para quê? A águia não fazia ideia. – Para fazer cair o seu ninho e comer os seus filhinhos – contou a mentirosa da gata. – Se fosse a si tinha muito cuidado e nunca mais abandonava os seus. A águia ficou muito aflita. Agradeceu imenso o aviso da gata e pôs-se de plantão ao ninho, apesar de os filhos reclamarem por comer. A gata, cumprida a primeira parte do seu plano, foi ter com a vizinha do rés-do-chão: – Senhora porca, tome cautela com a águia. Ainda agora a ouvi dizer para os filhos que, da próxima vez que virem a senhora sair da toca, lhe assaltam a casa, para lhe comerem os filhinhos. 2
  • 3. A porca ficou muito alarmada. Também agradeceu imenso o aviso da gata e nunca mais deixou os porquinhos ao desamparo, apesar de eles grunhirem, desesperados com fome. Como a águia e a porca, sempre de guarda, não saíam pelo comer, iam definhando os filhos e elas perdendo as forças. A princípio não se podia descansar em redor do castanheiro, tal a barulheira misturada de pios e grunhidos, clamando por comida. Mas as lamentações foram decrescendo, porque as forças foram faltando… Quando tudo voltou ao silêncio, a gata selvagem e os selvagens dos filhos assaltaram o ninho e banquetearam-se. Em seguida, assaltaram a toca e repetiram o banquete. Parece que, depois, morreram de indigestão. Bem feito. FIM 3