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REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR INFANTIL
Resumo
Este artigo tem como proposta discutir a questão do brincar infantil a partir da concepção que
esta é uma atividade que faz parte da formação histórica e cultural da criança. O texto discute
esta questão baseado nas referências de natureza sociológica, como de Gilles Brougère, e
referências filosóficas de Walter Benjamim. Tais autores analisam o brincar como um
fenômeno cultural. O artigo também contribui para discutir as possibilidades do brincar no
espaço das instituições de educação infantil.
Palavras-chave: Brincar; Cultura; Educação Infantil
Abstract
This article has as proposal to discuss the issue of playing infant, from conception that this is
an activity that is part of historical and cultural education of the child. The text discusses this
issue based on references of sociological nature, as Gilles Brougère and references
philosophical of Walter Benjamin. Such authors analyze the play as a cultural phenomenon.
This article also contribute to discuss the possibilities of playing in the space of the
institutions of child education.
Key-words: Play; Culture; Child education
1
REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR INFANTIL
Viviam Carvalho de Araújo1
A preocupação em torno da educação infantil tanto em termos de políticas públicas
como em discussões e produções acadêmicas e científicas vem crescendo no Brasil. Neste
contexto, o lugar do brincar, e como ele vem sendo desenvolvido nas instituições de educação
infantil merecem igual preocupação.
O discurso relativo ao valor da brincadeira vem sendo cada vez mais debatido na
atualidade. Sabe-se que através da brincadeira a criança se expressa e conhece o mundo.
Porém, o que se observa é que vivemos em um mundo cada vez mais violento, onde há um
fechamento institucional e o brincar livremente das crianças por vezes vem sendo privado por
conta deste cotidiano conturbado e caótico. A mídia vem substituindo o lugar do brincar que
as crianças poderiam estar realizando em comunhão com seus pares ou com aqueles que estão
próximos a ela. Por conta do dia-a-dia atarefado das pessoas em busca da sobrevivência, esse
brincar com a criança, ou oferecer subsídios para que ela o faça, vai ficando cada vez mais em
segundo plano. O crescimento das cidades, o aumento da violência, a ausência de espaços
públicos voltados para o lazer são fatores que devem ser considerados na diminuição do
espaço do brincar na sociedade atual.
Considerando o fato de que as crianças vêm cada vez mais perdendo o espaço da
brincadeira em seu cotidiano, as instituições de educação infantil se apresentam muitas vezes
como um importante lugar para que as crianças possam experienciar esta atividade. No
entanto, o espaço do brincar na escola de educação infantil é algo ainda permeado de
incertezas. Considerado importante para alguns educadores que contemplam o brincar como
eixo central do projeto pedagógico, para a maioria das instituições ainda é considerado um
espaço paralelo, marginalizado, pura “perda de tempo” ou mera recreação. Outras ainda
consideram o brincar com propósitos meramente educativos, retirando as múltiplas
possibilidades que esta atividade pode oferecer às crianças. É importante que o brincar esteja
inserido em um projeto pedagógico mais amplo da escola e os educadores cientes da
importância desta atividade para o desenvolvimento dos pequenos. Porém, o que se percebe
muitas vezes, é que a oposição entre o brincar e o estudar se faz presente entre os
profissionais. O brincar associado à não produção ocupa um lugar desvalorizado na escola,
1 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora e professora da Rede Municipal de Ensino de
Juiz de Fora
2
muito atrelada ainda a uma lógica de mercado, onde o tempo está associado a produção. A
concepção de escolarização como algo sério, formal, disciplinador, não deixa espaço para
algo livre, inesperado e transformador. Antes de se pensar no brincar como eixo para o
trabalho com as crianças pequenas, se faz necessário repensar o sentido das propostas
pedagógicas presentes nas instituições de educação infantil.
Em relação à brincadeira, estamos longe de se chegar a um consenso. O conceito de
brincar, assim como o de criança e infância, são produzidos historicamente. O que se observa
é que sempre existiram diferentes formas e jeitos de brincar. Ao longo do tempo, as formas de
brincar, seus espaços e tempos foram se modificando. Brougère (1998) aponta que as
concepções do brincar são construções que estão atreladas às representações de criança de
cada época.
Diante de estudos contemporâneos que trazem uma abordagem de aprendizagem e
desenvolvimento como parte de um processo histórico, onde a cultura e as relações do sujeito
com o mundo que o cercam passam a ser considerados, não podemos concordar com a idéia
da brincadeira como algo natural na criança. A relação da criança com o mundo é mediada e o
brincar pode possuir diferentes significações e construções que vão sofrer variações históricas
e culturais. Se a socialização é uma apropriação da cultura partilhada pela sociedade, ao
brincar a criança estará se apropriando dos elementos desta cultura, tendo a oportunidade de
reelaborá-los.
Brougère (1995) discute a questão da infância como um momento de apropriação de
imagens e representações diversas da cultura. Ele associa brinquedo e cultura, considerando o
primeiro como o produto de uma sociedade de traços culturais específicos e revelador da
própria cultura. O brinquedo está inserido em um sistema social e é portador de funções
sociais e de significados que remetem a elementos do real e do imaginário das crianças. Para
o autor, a mídia vem desempenhando nas sociedades ocidentais um papel considerável,
transformando a vida e a cultura lúdica das crianças. A cultura lúdica da criança é simbólica e
deve ser entendida dentro de uma cultura global na qual está inserida. Antes de criticar o
papel da televisão nos dias atuais, Brougère pontua que ela fornece às crianças conteúdos para
suas brincadeiras. Segundo o autor, a criança não se limita a receber passivamente os
conteúdos televisivos, mas reativa-os e se apropria deles através das suas brincadeiras. A
grande questão a ser levantada então seria como disponibilizar que a criança possa se
apropriar criticamente da mídia televisiva em um mundo onde o tempo não permite que elas
vivenciem qualidades de experiências. Os pais e a escola têm então um grande desafio de
ajudar as crianças a reelaborarem criticamente essa cultura midiática da qual dificilmente
3
alguém escapa. Se é brincando que a criança expressa e reelabora suas percepções de mundo,
é preciso criar espaços para que ela possa vivenciar tal experiência.
A brincadeira tem seu papel na socialização das crianças quando permite que ela se
aproprie dos códigos culturais da sua sociedade. Segundo Brougère (1995, p. 61) “o círculo
humano e o ambiente formado pelos objetos contribuem para a socialização da criança e isso
através das múltiplas interações, dentre as quais algumas tomam a forma de brincadeira”. Ao
brincar então, a criança confronta-se com a cultura, apropriando-se dela e transformando-a.
Portanto, discordando com a idéia da brincadeira como uma atividade natural defendida por
algumas concepções, é preciso compreendê-la como algo cultural e que se aprende
socialmente.
Considerando a brincadeira como um espaço de apropriação e reelaboração da cultura,
ela não deve ser controlada pelo educador, nem deixada à própria sorte das crianças. São os
elementos que a criança vai encontrar em seu ambiente que vão possibilitar o brincar. Se a
brincadeira não é inata, cabe aos adultos que cuidam da criança iniciá-la em tal prática.
Precisa haver um ambiente favorável, tempo, espaço e envolvimento daqueles que são
responsáveis pela educação das crianças. É importante destacar, porém, o papel de sujeito das
crianças, agindo criativamente, sendo capazes de elaborar formas de brincar a partir das
situações que o contexto possa lhe proporcionar.
O brincar assume uma forma livre e imprevisível, considerado também uma atividade
elaborada, estruturante e regulamentada por aqueles que brincam. O papel do adulto e das
instituições escolares seria no sentido de dar um maior significado e espaço para que a
brincadeira livre possa acontecer. Brougère também discute a questão da comunicação, um
acordo entre os que brincam, para que a mesma possa acontecer. Constata-se então que a
brincadeira tem uma linguagem característica. Pressupõe comunicação, interpretação e uma
sucessão de decisões. Ao brincar as crianças elaboram um sistema de regras que vai durar
enquanto a brincadeira acontece. “As regras não preexistem à brincadeira, mas são produzidas
à medida que se desenvolve a brincadeira” ( BROUGÈRE, 1995, p.101). Ao brincar a criança
busca saídas para situações que em ambientes reais ela encontraria dificuldades. Ela então se
torna um espaço de flexibilidade, inovação e criação. Por ser um espaço social, a brincadeira
confere também uma convenção para aqueles que brincam. Se ela supõe regras, existe uma
escolha e decisões contínuas das crianças. O acordo é mantido segundo o desejo de todos. “A
regra produz um mundo específico marcado pelo exercício, pelo fazer de conta, pelo
imaginário. A criança pode, sem riscos, inventar, criar, tentar nesse universo”(BROUGÈRE,
1995, p. 103).
4
Brougère (2004) também discute a questão do uso dos brinquedos pelas crianças. Em
um mundo globalizado, as produções culturais das crianças experimentam novas formas de
conceber as relações entre as produções e usos que as crianças fazem dos brinquedos, que
estão associados a um contexto cultural específico de consumo. O mundo globalizado traz
novas relações entre o brinquedo e a cultura infantil contemporânea, que está amplamente
ligada à mídia e ao capitalismo mundial. O autor utiliza a expressão “cultura comum
internacional”. É claro que as crianças não brincam somente a partir dos brinquedos
industrializados, porém é difícil que escapem totalmente deles. Mais do que criticá-los, é
importante entender os usos que as crianças fazem destes brinquedos ao brincarem. Os
brinquedos, que estão ligados às transformações do mundo, participam da construção da
infância, que é vivida diferentemente conforme a época, cultura e classe social. O lugar que o
brinquedo ocupa depende do lugar que a criança ocupa na sociedade. Observa-se que esse
lugar da criança vem tendo destaque pelo mercado consumidor, que a considera uma
consumidora em potencial. Sendo a criança o destinatário legítimo do brinquedo, este vem
ocupando um lugar de destaque, muitas vezes sendo mais valorizados que a própria
brincadeira da criança.
A criança, no entanto, não é uma tábula rasa. Ela atua de forma inovadora e criativa na
construção do seu ser social e cultural. É capaz de interpretar, e dar um sentido específico às
imagens, mensagens e normas da sociedade. O brinquedo também não pode ser considerado
como toda a experiência infantil, mas um objeto entre outros, dentro de um universo
complexo e multiforme das diversas experiências infantis. A criança não recebe o brinquedo
passivamente. Além das muitas utilidades através das quais o brinquedo pode ser usado, uma
delas é a brincadeira, que possui suas características próprias. Nela o que se faz só tem sentido
e valor num espaço e em um tempo delimitado. Esse universo só pode ser construído a partir
da decisão de quem brinca, sem imposições diante dessa atividade. É importante destacar que
nem todo contato com o brinquedo transforma-se em uma brincadeira. E também nem toda
brincadeira vai depender dos artefatos da indústria dos brinquedos. Quem brinca é capaz de
improvisar elementos de seu ambiente, buscando novas significações. Brincar com um
brinquedo requer inseri-lo num universo especifico. Ele sozinho não pode efetivamente
impor-se na brincadeira sem que essa decisão não parta de quem brinca. A brincadeira como
uma ação e produção de sentidos pode considerar o brinquedo como um suporte que estrutura
tal atividade ( BROUGÈRE, 2004).
Por possuir uma dimensão aleatória e incerta, a brincadeira não pode ser dominada por
quem está de fora. A motivação para o brincar é intrínseca. Mesmo sem a intenção educativa
5
de aprender, quem brinca aprende. Aprende-se também a brincar. O brincar não deve ser
considerado uma atividade legitimamente escolar. Nem sempre a brincadeira tem o
compromisso com a aprendizagem, porém o valor do aprender brincando não é negado. Se a
motivação interna o faz existir, a coação externa pode inibi-lo. No brincar é possibilitado à
criança fazer relações, viver experiências, construir sua subjetividade, imaginar, experimentar
as mais diversas emoções, administrar conflitos, interagir e desenvolver-se.
É importante salientar que a brincadeira não deve somente estar associada a uma
aprendizagem pedagógica conferida pela escola. É importante considerar que ela seja um
espaço para as crianças apropriarem-se e reelaborarem a cultura. Um espaço de inventividade.
Tudo isso deve ser considerado como formas de aprendizado pela escola, que precisa
considerar tais espaços. O intuito pedagógico de controlar a brincadeira livre tira dela as
possibilidades de existir. Se a criança encontra dificuldades de brincar fora do ambiente
escolar, por conta do tumultuado mundo contemporâneo como já foi discutido, aumenta ainda
mais a responsabilidade da escola em estar propiciando tais espaços. É papel da escola intervir
no contexto em que a criança possa brincar. Os materiais, a atitude do professor, o tempo e o
espaço destinados são partes integrantes. Porém a brincadeira não deve ser condicionada. O
espaço da educação infantil deve propiciar às crianças pequenas o desenvolvimento de
atividades lúdicas como a brincadeira, cabendo ao adulto adentrar e compreender a cultura
lúdica dos pequenos.
Um outro autor que poderá contribuir para a discussão da brincadeira como algo
imbricado na cultura é o pensador Walter Benjamin. Em seu livro Reflexões sobre o
brinquedo, a criança e a educação, Benjamin (1984) analisa os processos de memória dos
brinquedos e do brincar. O autor realiza uma análise histórica apontando para a crescente
massificação própria da evolução industrial, que inscreve o brinquedo em uma dimensão
homogeneizante. A concepção de infância discutida por Benjamin em seus textos é contrária a
uma idéia de que a criança representa o adulto miniaturizado. Para ele, ela é capaz de incluir
lances de pureza e ingenuidade, sem eliminar a agressividade, resistência, perversidade,
humor, vontade de domínio e mando. As imagens de infância construídas pelo pensador são
afirmações de sua potencialidade como sujeitos da história. A criança é parte da humanidade,
fruto de sua tradição cultural, capaz de recriá-la. Para Benjamin, as crianças não falam só do
seu mundo a partir da sua ótica. Falam também do mundo adulto, da sociedade
contemporânea.
Ao analisar os brinquedos, Benjamin pontua que através deles podemos compreender
como os adultos se colocam em relação ao mundo das crianças. As crianças respondem aos
6
brinquedos através do brincar, que dependendo do seu uso, pode propiciar uma mudança na
sua função. Desta forma, os brinquedos representam traços da cultura na qual se inscrevem.
Benjamin escreveu sobre os brinquedos e os livros infantis, onde registrou sua história
e configurações ao longo do desenvolvimento industrial e pós-industrial. O autor chama a
atenção para as transformações do brinquedo a partir da industrialização, que marcou o
distanciamento entre as crianças e seus pais que antes, produziam-nos juntos. Os brinquedos
nasceram nas oficinas de entalhadores de madeira. No decorrer do século XVIII, afloram as
fabricações especializadas nas indústrias. A partir da segunda metade do século XIX os
brinquedos vão tornando-se maiores, perdendo aos poucos o elemento discreto, minúsculo e
agradável. Quanto mais a industrialização avança, o brinquedo vai se impondo, tornando-se
cada vez mais estranho às crianças e aos pais. Assim, os adultos vão impondo a seu modo os
brinquedos às crianças, distanciando-as da riqueza de materiais que eram utilizados em um
tempo onde o processo de produção ligava pais e filhos.
Ainda chamando a atenção para os efeitos dos brinquedos “produzidos em série”
escreve: “[...] quanto mais atraentes (no sentido corrente) forem os brinquedos, mais distantes
estarão de seu valor como instrumentos de brincar”(BENJAMIN, 1984, p.70). O autor discute
também a contextualização das crianças, de seus brinquedos e de suas brincadeiras no
ambiente em que vivem:
[...] as crianças não constituem nenhuma comunidade isolada, mas sim
uma parte do povo e da classe de que provém. Da mesma forma seus
brinquedos não dão testemunho de uma vida autônoma e especial; são,
isso sim, um mudo diálogo simbólico entre ela e o povo.
(BENJAMIN, 1984, P.70)
Se no início do século XX, Benjamin já trazia suas reflexões sobre os efeitos do
capitalismo e da industrialização nas brincadeiras das crianças, suas contribuições são
importantes ainda hoje, onde os efeitos deste capitalismo deixam marcas significativamente
mais amplas. Tanto Brougère quanto Benjamin, discutem a questão do brinquedo e do brincar
enquanto produções contextualizadas e historicamente construídas. Benjamin busca fazer um
resgate do brincar tecido por histórias e brinquedos feitos com arte, elaborados pelas mãos das
crianças e dos adultos que a cercam. Faz uma crítica ao distanciamento das formas primitivas
do brincar onde as crianças utilizavam materiais encontrados em seu próprio ambiente. Água,
terra, areia, folhas, pedras, papel, e outros tantos materiais eram utilizados pelas crianças no
exercício de sua invenção.
7
Brougère, autor contemporâneo, discute questões atuais que se instalaram em nossa
sociedade e da qual não podemos fugir. A globalização, a mídia, o consumo, a
supervalorização do brinquedo que vem subtraindo o espaço do brincar, são questões pontuais
e que precisam ser discutidas por aqueles que educam. Não há como fugir de tais questões.
Porém o que podemos tentar fazer é um resgate da memória do brincar. Brincar este que pode
ser experimentado a partir de inúmeras possibilidades. Porém, jamais deverá ser apagado, pois
se constitui em memórias vivas de um povo, de uma cultura. O brincar é genuinamente uma
atividade infantil, portanto é através da aproximação da criança com seus pares e com a
cultura na qual está inserida, que a transmissão do brincar pode garantir seu lugar. Lugar que
não deve ir de encontro à sua pedagogização, mas caminhar para a riqueza de suas inúmeras
possibilidades de existência.
Fica claro a partir das reflexões trazidas pelos dois autores a relação entre o brinquedo,
a brincadeira e a cultura. Considerando o conceito de cultura enquanto um ato de criação, uma
teia de significados socialmente arranjados e estabelecida entre os homens (GEERTZ, 1989),
a brincadeira constitui-se culturalmente. Assim, a cultura é produto humano ao mesmo tempo
em que é produtora do humano. O ser humano produz a cultura e esta possibilita a sua
existência. As demarcações da infância são culturais, portanto diferem-se nos mais diversos
lugares.
O brincar é considerado uma atividade social e cultural, e este espaço deve ser
construído para e pela criança. O brincar não pode ser pensado nas instituições de educação
infantil como uma atividade de descanso entre uma atividade dirigida ou outra. É muito mais
do que isso. O brincar precisa estar integrado na proposta pedagógica da escola, ocupando um
lugar concomitante a outros, não estando desvinculado das demais atividades da instituição.
Dentro das instituições de educação infantil, a organização da rotina, o espaço, a forma como
são organizados os materiais educativos podem influenciar nas representações e maneiras
como adultos e crianças sentem, pensam e interagem neste espaço. Formas de socialização e
representação da cultura também podem ser concebidas nestes espaços.
Ao se analisar o que as políticas públicas têm sinalizado para o trabalho com a
educação infantil, constata-se que tanto o Referencial Curricular para Educação Infantil
(BRASIL, 1998), como as Diretrizes Curriculares para Educação Infantil (BRASIL, 1999),
assinalam a brincadeira como um dos eixos para o trabalho nesta etapa do ensino. Nos
fundamentos norteadores das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, está previsto
que as propostas pedagógicas das instituições devem incluir a ludicidade, a criatividade e
práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos,
8
emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais da criança. O Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil considera a brincadeira como uma linguagem infantil e
ressalta a importância do brincar tanto em situações formais quanto em informais.
A partir do que foi discutido é possível compreender o papel da brincadeira nas
instituições de educação infantil e a importância em se oferecer às crianças a oportunidade de
conhecerem e reelaborarem as experiências do mundo em que vivem a partir das interações
com as experiências das outras crianças e também dos professores que interagem com elas.
Assim, a atividade de brincadeira constitui-se como uma mola propulsora do processo de
desenvolvimento desta criança, possibilitando também um importante intercâmbio social para
ela que anseia por conhecer o mundo e o faz a partir das interações com as diferentes
infâncias vividas pelo grupo de crianças com a qual convive e também nas interações com os
adultos.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF , 1998.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Resolução CEB, de 04 de Abril de 1999. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário oficial da União. Brasília, 1999.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004.
BROUGÈRE, Gilles . Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
BROUGÈRE, Gilles . Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1995.
GEERTZ, Cliffort. A interpretação das culturas. São Paulo: Guanabra Koogan, 1989.
9

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Reflexões sobre o brincar infantil e cultura

  • 1. REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR INFANTIL Resumo Este artigo tem como proposta discutir a questão do brincar infantil a partir da concepção que esta é uma atividade que faz parte da formação histórica e cultural da criança. O texto discute esta questão baseado nas referências de natureza sociológica, como de Gilles Brougère, e referências filosóficas de Walter Benjamim. Tais autores analisam o brincar como um fenômeno cultural. O artigo também contribui para discutir as possibilidades do brincar no espaço das instituições de educação infantil. Palavras-chave: Brincar; Cultura; Educação Infantil Abstract This article has as proposal to discuss the issue of playing infant, from conception that this is an activity that is part of historical and cultural education of the child. The text discusses this issue based on references of sociological nature, as Gilles Brougère and references philosophical of Walter Benjamin. Such authors analyze the play as a cultural phenomenon. This article also contribute to discuss the possibilities of playing in the space of the institutions of child education. Key-words: Play; Culture; Child education 1
  • 2. REFLEXÕES SOBRE O BRINCAR INFANTIL Viviam Carvalho de Araújo1 A preocupação em torno da educação infantil tanto em termos de políticas públicas como em discussões e produções acadêmicas e científicas vem crescendo no Brasil. Neste contexto, o lugar do brincar, e como ele vem sendo desenvolvido nas instituições de educação infantil merecem igual preocupação. O discurso relativo ao valor da brincadeira vem sendo cada vez mais debatido na atualidade. Sabe-se que através da brincadeira a criança se expressa e conhece o mundo. Porém, o que se observa é que vivemos em um mundo cada vez mais violento, onde há um fechamento institucional e o brincar livremente das crianças por vezes vem sendo privado por conta deste cotidiano conturbado e caótico. A mídia vem substituindo o lugar do brincar que as crianças poderiam estar realizando em comunhão com seus pares ou com aqueles que estão próximos a ela. Por conta do dia-a-dia atarefado das pessoas em busca da sobrevivência, esse brincar com a criança, ou oferecer subsídios para que ela o faça, vai ficando cada vez mais em segundo plano. O crescimento das cidades, o aumento da violência, a ausência de espaços públicos voltados para o lazer são fatores que devem ser considerados na diminuição do espaço do brincar na sociedade atual. Considerando o fato de que as crianças vêm cada vez mais perdendo o espaço da brincadeira em seu cotidiano, as instituições de educação infantil se apresentam muitas vezes como um importante lugar para que as crianças possam experienciar esta atividade. No entanto, o espaço do brincar na escola de educação infantil é algo ainda permeado de incertezas. Considerado importante para alguns educadores que contemplam o brincar como eixo central do projeto pedagógico, para a maioria das instituições ainda é considerado um espaço paralelo, marginalizado, pura “perda de tempo” ou mera recreação. Outras ainda consideram o brincar com propósitos meramente educativos, retirando as múltiplas possibilidades que esta atividade pode oferecer às crianças. É importante que o brincar esteja inserido em um projeto pedagógico mais amplo da escola e os educadores cientes da importância desta atividade para o desenvolvimento dos pequenos. Porém, o que se percebe muitas vezes, é que a oposição entre o brincar e o estudar se faz presente entre os profissionais. O brincar associado à não produção ocupa um lugar desvalorizado na escola, 1 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora e professora da Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora 2
  • 3. muito atrelada ainda a uma lógica de mercado, onde o tempo está associado a produção. A concepção de escolarização como algo sério, formal, disciplinador, não deixa espaço para algo livre, inesperado e transformador. Antes de se pensar no brincar como eixo para o trabalho com as crianças pequenas, se faz necessário repensar o sentido das propostas pedagógicas presentes nas instituições de educação infantil. Em relação à brincadeira, estamos longe de se chegar a um consenso. O conceito de brincar, assim como o de criança e infância, são produzidos historicamente. O que se observa é que sempre existiram diferentes formas e jeitos de brincar. Ao longo do tempo, as formas de brincar, seus espaços e tempos foram se modificando. Brougère (1998) aponta que as concepções do brincar são construções que estão atreladas às representações de criança de cada época. Diante de estudos contemporâneos que trazem uma abordagem de aprendizagem e desenvolvimento como parte de um processo histórico, onde a cultura e as relações do sujeito com o mundo que o cercam passam a ser considerados, não podemos concordar com a idéia da brincadeira como algo natural na criança. A relação da criança com o mundo é mediada e o brincar pode possuir diferentes significações e construções que vão sofrer variações históricas e culturais. Se a socialização é uma apropriação da cultura partilhada pela sociedade, ao brincar a criança estará se apropriando dos elementos desta cultura, tendo a oportunidade de reelaborá-los. Brougère (1995) discute a questão da infância como um momento de apropriação de imagens e representações diversas da cultura. Ele associa brinquedo e cultura, considerando o primeiro como o produto de uma sociedade de traços culturais específicos e revelador da própria cultura. O brinquedo está inserido em um sistema social e é portador de funções sociais e de significados que remetem a elementos do real e do imaginário das crianças. Para o autor, a mídia vem desempenhando nas sociedades ocidentais um papel considerável, transformando a vida e a cultura lúdica das crianças. A cultura lúdica da criança é simbólica e deve ser entendida dentro de uma cultura global na qual está inserida. Antes de criticar o papel da televisão nos dias atuais, Brougère pontua que ela fornece às crianças conteúdos para suas brincadeiras. Segundo o autor, a criança não se limita a receber passivamente os conteúdos televisivos, mas reativa-os e se apropria deles através das suas brincadeiras. A grande questão a ser levantada então seria como disponibilizar que a criança possa se apropriar criticamente da mídia televisiva em um mundo onde o tempo não permite que elas vivenciem qualidades de experiências. Os pais e a escola têm então um grande desafio de ajudar as crianças a reelaborarem criticamente essa cultura midiática da qual dificilmente 3
  • 4. alguém escapa. Se é brincando que a criança expressa e reelabora suas percepções de mundo, é preciso criar espaços para que ela possa vivenciar tal experiência. A brincadeira tem seu papel na socialização das crianças quando permite que ela se aproprie dos códigos culturais da sua sociedade. Segundo Brougère (1995, p. 61) “o círculo humano e o ambiente formado pelos objetos contribuem para a socialização da criança e isso através das múltiplas interações, dentre as quais algumas tomam a forma de brincadeira”. Ao brincar então, a criança confronta-se com a cultura, apropriando-se dela e transformando-a. Portanto, discordando com a idéia da brincadeira como uma atividade natural defendida por algumas concepções, é preciso compreendê-la como algo cultural e que se aprende socialmente. Considerando a brincadeira como um espaço de apropriação e reelaboração da cultura, ela não deve ser controlada pelo educador, nem deixada à própria sorte das crianças. São os elementos que a criança vai encontrar em seu ambiente que vão possibilitar o brincar. Se a brincadeira não é inata, cabe aos adultos que cuidam da criança iniciá-la em tal prática. Precisa haver um ambiente favorável, tempo, espaço e envolvimento daqueles que são responsáveis pela educação das crianças. É importante destacar, porém, o papel de sujeito das crianças, agindo criativamente, sendo capazes de elaborar formas de brincar a partir das situações que o contexto possa lhe proporcionar. O brincar assume uma forma livre e imprevisível, considerado também uma atividade elaborada, estruturante e regulamentada por aqueles que brincam. O papel do adulto e das instituições escolares seria no sentido de dar um maior significado e espaço para que a brincadeira livre possa acontecer. Brougère também discute a questão da comunicação, um acordo entre os que brincam, para que a mesma possa acontecer. Constata-se então que a brincadeira tem uma linguagem característica. Pressupõe comunicação, interpretação e uma sucessão de decisões. Ao brincar as crianças elaboram um sistema de regras que vai durar enquanto a brincadeira acontece. “As regras não preexistem à brincadeira, mas são produzidas à medida que se desenvolve a brincadeira” ( BROUGÈRE, 1995, p.101). Ao brincar a criança busca saídas para situações que em ambientes reais ela encontraria dificuldades. Ela então se torna um espaço de flexibilidade, inovação e criação. Por ser um espaço social, a brincadeira confere também uma convenção para aqueles que brincam. Se ela supõe regras, existe uma escolha e decisões contínuas das crianças. O acordo é mantido segundo o desejo de todos. “A regra produz um mundo específico marcado pelo exercício, pelo fazer de conta, pelo imaginário. A criança pode, sem riscos, inventar, criar, tentar nesse universo”(BROUGÈRE, 1995, p. 103). 4
  • 5. Brougère (2004) também discute a questão do uso dos brinquedos pelas crianças. Em um mundo globalizado, as produções culturais das crianças experimentam novas formas de conceber as relações entre as produções e usos que as crianças fazem dos brinquedos, que estão associados a um contexto cultural específico de consumo. O mundo globalizado traz novas relações entre o brinquedo e a cultura infantil contemporânea, que está amplamente ligada à mídia e ao capitalismo mundial. O autor utiliza a expressão “cultura comum internacional”. É claro que as crianças não brincam somente a partir dos brinquedos industrializados, porém é difícil que escapem totalmente deles. Mais do que criticá-los, é importante entender os usos que as crianças fazem destes brinquedos ao brincarem. Os brinquedos, que estão ligados às transformações do mundo, participam da construção da infância, que é vivida diferentemente conforme a época, cultura e classe social. O lugar que o brinquedo ocupa depende do lugar que a criança ocupa na sociedade. Observa-se que esse lugar da criança vem tendo destaque pelo mercado consumidor, que a considera uma consumidora em potencial. Sendo a criança o destinatário legítimo do brinquedo, este vem ocupando um lugar de destaque, muitas vezes sendo mais valorizados que a própria brincadeira da criança. A criança, no entanto, não é uma tábula rasa. Ela atua de forma inovadora e criativa na construção do seu ser social e cultural. É capaz de interpretar, e dar um sentido específico às imagens, mensagens e normas da sociedade. O brinquedo também não pode ser considerado como toda a experiência infantil, mas um objeto entre outros, dentro de um universo complexo e multiforme das diversas experiências infantis. A criança não recebe o brinquedo passivamente. Além das muitas utilidades através das quais o brinquedo pode ser usado, uma delas é a brincadeira, que possui suas características próprias. Nela o que se faz só tem sentido e valor num espaço e em um tempo delimitado. Esse universo só pode ser construído a partir da decisão de quem brinca, sem imposições diante dessa atividade. É importante destacar que nem todo contato com o brinquedo transforma-se em uma brincadeira. E também nem toda brincadeira vai depender dos artefatos da indústria dos brinquedos. Quem brinca é capaz de improvisar elementos de seu ambiente, buscando novas significações. Brincar com um brinquedo requer inseri-lo num universo especifico. Ele sozinho não pode efetivamente impor-se na brincadeira sem que essa decisão não parta de quem brinca. A brincadeira como uma ação e produção de sentidos pode considerar o brinquedo como um suporte que estrutura tal atividade ( BROUGÈRE, 2004). Por possuir uma dimensão aleatória e incerta, a brincadeira não pode ser dominada por quem está de fora. A motivação para o brincar é intrínseca. Mesmo sem a intenção educativa 5
  • 6. de aprender, quem brinca aprende. Aprende-se também a brincar. O brincar não deve ser considerado uma atividade legitimamente escolar. Nem sempre a brincadeira tem o compromisso com a aprendizagem, porém o valor do aprender brincando não é negado. Se a motivação interna o faz existir, a coação externa pode inibi-lo. No brincar é possibilitado à criança fazer relações, viver experiências, construir sua subjetividade, imaginar, experimentar as mais diversas emoções, administrar conflitos, interagir e desenvolver-se. É importante salientar que a brincadeira não deve somente estar associada a uma aprendizagem pedagógica conferida pela escola. É importante considerar que ela seja um espaço para as crianças apropriarem-se e reelaborarem a cultura. Um espaço de inventividade. Tudo isso deve ser considerado como formas de aprendizado pela escola, que precisa considerar tais espaços. O intuito pedagógico de controlar a brincadeira livre tira dela as possibilidades de existir. Se a criança encontra dificuldades de brincar fora do ambiente escolar, por conta do tumultuado mundo contemporâneo como já foi discutido, aumenta ainda mais a responsabilidade da escola em estar propiciando tais espaços. É papel da escola intervir no contexto em que a criança possa brincar. Os materiais, a atitude do professor, o tempo e o espaço destinados são partes integrantes. Porém a brincadeira não deve ser condicionada. O espaço da educação infantil deve propiciar às crianças pequenas o desenvolvimento de atividades lúdicas como a brincadeira, cabendo ao adulto adentrar e compreender a cultura lúdica dos pequenos. Um outro autor que poderá contribuir para a discussão da brincadeira como algo imbricado na cultura é o pensador Walter Benjamin. Em seu livro Reflexões sobre o brinquedo, a criança e a educação, Benjamin (1984) analisa os processos de memória dos brinquedos e do brincar. O autor realiza uma análise histórica apontando para a crescente massificação própria da evolução industrial, que inscreve o brinquedo em uma dimensão homogeneizante. A concepção de infância discutida por Benjamin em seus textos é contrária a uma idéia de que a criança representa o adulto miniaturizado. Para ele, ela é capaz de incluir lances de pureza e ingenuidade, sem eliminar a agressividade, resistência, perversidade, humor, vontade de domínio e mando. As imagens de infância construídas pelo pensador são afirmações de sua potencialidade como sujeitos da história. A criança é parte da humanidade, fruto de sua tradição cultural, capaz de recriá-la. Para Benjamin, as crianças não falam só do seu mundo a partir da sua ótica. Falam também do mundo adulto, da sociedade contemporânea. Ao analisar os brinquedos, Benjamin pontua que através deles podemos compreender como os adultos se colocam em relação ao mundo das crianças. As crianças respondem aos 6
  • 7. brinquedos através do brincar, que dependendo do seu uso, pode propiciar uma mudança na sua função. Desta forma, os brinquedos representam traços da cultura na qual se inscrevem. Benjamin escreveu sobre os brinquedos e os livros infantis, onde registrou sua história e configurações ao longo do desenvolvimento industrial e pós-industrial. O autor chama a atenção para as transformações do brinquedo a partir da industrialização, que marcou o distanciamento entre as crianças e seus pais que antes, produziam-nos juntos. Os brinquedos nasceram nas oficinas de entalhadores de madeira. No decorrer do século XVIII, afloram as fabricações especializadas nas indústrias. A partir da segunda metade do século XIX os brinquedos vão tornando-se maiores, perdendo aos poucos o elemento discreto, minúsculo e agradável. Quanto mais a industrialização avança, o brinquedo vai se impondo, tornando-se cada vez mais estranho às crianças e aos pais. Assim, os adultos vão impondo a seu modo os brinquedos às crianças, distanciando-as da riqueza de materiais que eram utilizados em um tempo onde o processo de produção ligava pais e filhos. Ainda chamando a atenção para os efeitos dos brinquedos “produzidos em série” escreve: “[...] quanto mais atraentes (no sentido corrente) forem os brinquedos, mais distantes estarão de seu valor como instrumentos de brincar”(BENJAMIN, 1984, p.70). O autor discute também a contextualização das crianças, de seus brinquedos e de suas brincadeiras no ambiente em que vivem: [...] as crianças não constituem nenhuma comunidade isolada, mas sim uma parte do povo e da classe de que provém. Da mesma forma seus brinquedos não dão testemunho de uma vida autônoma e especial; são, isso sim, um mudo diálogo simbólico entre ela e o povo. (BENJAMIN, 1984, P.70) Se no início do século XX, Benjamin já trazia suas reflexões sobre os efeitos do capitalismo e da industrialização nas brincadeiras das crianças, suas contribuições são importantes ainda hoje, onde os efeitos deste capitalismo deixam marcas significativamente mais amplas. Tanto Brougère quanto Benjamin, discutem a questão do brinquedo e do brincar enquanto produções contextualizadas e historicamente construídas. Benjamin busca fazer um resgate do brincar tecido por histórias e brinquedos feitos com arte, elaborados pelas mãos das crianças e dos adultos que a cercam. Faz uma crítica ao distanciamento das formas primitivas do brincar onde as crianças utilizavam materiais encontrados em seu próprio ambiente. Água, terra, areia, folhas, pedras, papel, e outros tantos materiais eram utilizados pelas crianças no exercício de sua invenção. 7
  • 8. Brougère, autor contemporâneo, discute questões atuais que se instalaram em nossa sociedade e da qual não podemos fugir. A globalização, a mídia, o consumo, a supervalorização do brinquedo que vem subtraindo o espaço do brincar, são questões pontuais e que precisam ser discutidas por aqueles que educam. Não há como fugir de tais questões. Porém o que podemos tentar fazer é um resgate da memória do brincar. Brincar este que pode ser experimentado a partir de inúmeras possibilidades. Porém, jamais deverá ser apagado, pois se constitui em memórias vivas de um povo, de uma cultura. O brincar é genuinamente uma atividade infantil, portanto é através da aproximação da criança com seus pares e com a cultura na qual está inserida, que a transmissão do brincar pode garantir seu lugar. Lugar que não deve ir de encontro à sua pedagogização, mas caminhar para a riqueza de suas inúmeras possibilidades de existência. Fica claro a partir das reflexões trazidas pelos dois autores a relação entre o brinquedo, a brincadeira e a cultura. Considerando o conceito de cultura enquanto um ato de criação, uma teia de significados socialmente arranjados e estabelecida entre os homens (GEERTZ, 1989), a brincadeira constitui-se culturalmente. Assim, a cultura é produto humano ao mesmo tempo em que é produtora do humano. O ser humano produz a cultura e esta possibilita a sua existência. As demarcações da infância são culturais, portanto diferem-se nos mais diversos lugares. O brincar é considerado uma atividade social e cultural, e este espaço deve ser construído para e pela criança. O brincar não pode ser pensado nas instituições de educação infantil como uma atividade de descanso entre uma atividade dirigida ou outra. É muito mais do que isso. O brincar precisa estar integrado na proposta pedagógica da escola, ocupando um lugar concomitante a outros, não estando desvinculado das demais atividades da instituição. Dentro das instituições de educação infantil, a organização da rotina, o espaço, a forma como são organizados os materiais educativos podem influenciar nas representações e maneiras como adultos e crianças sentem, pensam e interagem neste espaço. Formas de socialização e representação da cultura também podem ser concebidas nestes espaços. Ao se analisar o que as políticas públicas têm sinalizado para o trabalho com a educação infantil, constata-se que tanto o Referencial Curricular para Educação Infantil (BRASIL, 1998), como as Diretrizes Curriculares para Educação Infantil (BRASIL, 1999), assinalam a brincadeira como um dos eixos para o trabalho nesta etapa do ensino. Nos fundamentos norteadores das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, está previsto que as propostas pedagógicas das instituições devem incluir a ludicidade, a criatividade e práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, 8
  • 9. emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais da criança. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil considera a brincadeira como uma linguagem infantil e ressalta a importância do brincar tanto em situações formais quanto em informais. A partir do que foi discutido é possível compreender o papel da brincadeira nas instituições de educação infantil e a importância em se oferecer às crianças a oportunidade de conhecerem e reelaborarem as experiências do mundo em que vivem a partir das interações com as experiências das outras crianças e também dos professores que interagem com elas. Assim, a atividade de brincadeira constitui-se como uma mola propulsora do processo de desenvolvimento desta criança, possibilitando também um importante intercâmbio social para ela que anseia por conhecer o mundo e o faz a partir das interações com as diferentes infâncias vividas pelo grupo de crianças com a qual convive e também nas interações com os adultos. REFERÊNCIAS BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF , 1998. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Resolução CEB, de 04 de Abril de 1999. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário oficial da União. Brasília, 1999. BROUGÈRE, Gilles. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004. BROUGÈRE, Gilles . Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. BROUGÈRE, Gilles . Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1995. GEERTZ, Cliffort. A interpretação das culturas. São Paulo: Guanabra Koogan, 1989. 9