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Cartas aos editores 343




              Por fim, aponta-se para a necessidade de estudos prospectivos             predominantes e contínuas. Esta denominação não está in-
            que busquem minimizar os possíveis vieses associados ao uso                 cluída nas modernas classificações psiquiátricas (CID-10 e
            de fontes secundárias, bem como a premência de uma políti-                  DSM-IV-TR), tendendo a desaparecer da nosologia psiquiátrica.
            ca nacional que possa capacitar, oferecer educação perma-                      Neste trabalho, descrevemos o caso de uma paciente do
            nente e supervisão na temática de problemas relacionados ao                 sexo feminino, 31 anos, solteira, sem filhos, sem profis-
            uso de álcool para os profissionais que atuam no PSF.                       são, com oito anos de escolaridade. Vivia com a mãe e o
                                                                                        irmão (este com diagnóstico de esquizofrenia). Não apre-
                                    Maximiliano Loiola Ponte de Souza                   sentava antecedente pessoal de transtorno psiquiátrico.
                  Sociodiversidade em Saúde, Centro de Pesquisa Leônidas &              Após seis meses de admissão em nosso serviço, passou a
                 Maria Deane, Fundação Oswaldo Cruz, Manaus (AM), Brasil                evoluir com ideação delirante persecutória (acreditava que
                                                                                        pessoas planejavam matá-la ou prejudicar sua saúde),
                                                                                        reforçada por vozes alucinatórias que dialogavam com a
                                                                                        paciente e referiam-se à mesma em terceira pessoa. Para-
                                                                                        lelamente, iniciou comportamento caracterizado por
                                                                                        ingesta, em grande quantidade, de alimentos de alto valor
                                                                                        calórico. Fazia três refeições básicas com episódios de
                                                                                        hiperingesta entre as mesmas, por vezes ingerindo 3.000
                                                                                        a 5.000 calorias ao dia. Por ocasião da admissão, afirma-
                                                                                        va ter sido vitimada por um “feitiço” que acarretava perda
                                                                                        de peso e que seus pensamentos eram “controlados” por
                                                                                        pessoas que desejavam que ela se tornasse progressiva-
                                                                                        mente mais magra. Seu afeto tendia ao embotamento e
                                                                                        seu humor não se encontrava polarizado. Desde o início
                                                                                        do quadro, ganhou aproximadamente 15 kg (cerca de dois
                                                                                        kg por mês) e, não obstante exibir peso acima do ideal,
                                                                                        dizia enxergar a si própria como uma pessoa extremamen-
                                                                                        te magra. Referia que o peso acima citado seria resultado
                                                                                        de erros de mensuração, ou seja, que as balanças esta-
                                                                                        riam “defeituosas”.
                                                                                           Durante a internação, a paciente foi tratada com medi-
                  Financiamento: Inexistente                                            cação antipsicótica, seguimento nutricional e atendimen-
                  Conflito de interesses: Inexistente                                   to psicoterápico de orientação cognitivo-comportamental.
                                                                                        Uma vez que não apresentou resposta com monoterapia
            Referências                                                                 (haloperidol até 15 mg, risperidona até 8 mg e ziprasidona
            1.  Brasil. Ministério da Saúde. Saúde da Família: uma estratégia para      até 160 mg), optou-se, por fim, pela associação de
                a reorientação do modelo assistencial. 2a ed. Brasília: Ministério da   ziprasidona 160 mg e risperidona 8 mg ao dia. Houve
                Saúde/Secretaria de Assistência à Saúde/Coordenação de Saúde da         melhora da sintomatologia psicótica e da hiperingesta ali-
                Comunidade; 1998.                                                       mentar, embora a paciente ainda mantivesse distorção da
            2.  Melcop AG. Impacto do uso de álcool e outras vítimas de acidentes
                                                                                        imagem corporal, crenças delirantes residuais (acreditava
                de trânsito. Brasília: ABDETRAN; 1997.
            3.  Meloni JN, Laranjeira R. Custo social e de saúde do consumo de          que as diversas balanças do hospital poderiam ter sido
                álcool. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(Supl I):7-10.                       modificadas para indicar valores superiores aos reais quan-
            4.  Marques ACPR, Furtado EF. Intervenções breves para problemas rela-      do de sua pesagem) e sobrepeso (manteve peso de 70 kg,
                cionados ao álcool. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(Supl I):28-32.          com índice de massa corporal = 28 Kg/m 2 , apesar de se
            5.  Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR, Nappo SA: CEBRID - Centro            encontrar sob acompanhamento nutricional). Recebeu alta
                Brasileiro de Informações sobre Drogas. I Levantamento Domiciliar       após três meses de internação, sendo encaminhada para
                sobre o Uso de Drogas no Brasil – 2001. São Paulo: Universidade
                Federal de São Paulo, CEBRID/SENAD; 2002. p. 480.
                                                                                        continuidade de seu tratamento em regime de hospital-dia.
                                                                                           A paciente em questão apresentava sintomas claramen-
                                                                                        te compatíveis com o diagnóstico de esquizofrenia segun-
                                                                                        do os crité-rios do DSM-IV-TR. Concomitantemente, exibia
                                                                                        clara sintomatologia relacionada a alterações da imagem
                                                                                        corpórea e comportamento alimentar alterado. Estas alte-
            Esquizofrenia e distorção da imagem                                         rações, embora sugestivas da presença de um transtorno
            corporal: considerações nosológicas                                         alimentar comórbido, não possibilitaram que a paciente
            Schizophrenia and body image distortion:                                    fosse considerada portadora de um transtorno desta natu-
            nosological considerations                                                  reza segundo as classificações psiquiátricas atuais. Casos
                                                                                        semelhantes encontrados na literatura apontam para a
              Sr. Editor,                                                               existência de elementos comuns entre transtornos
              Relatos de pacientes esquizofrênicos apresentando delírios                psicóticos, dismorfofobia e, possivelmente, um subgrupo
            de cunho somático e distorções da imagem corporal são en-                   de pacientes portadores de transtornos alimentares, ge-
            contrados desde o início do século XX, tendo sido descritos,                rando dificuldades de natureza nosológica e diagnóstica. 1,3-
                                                                                        4
            inclusive, por Eugen Bleuler. 1 O termo “esquizofrenia                        A literatura ainda é escassa no que se refere ao manejo
            cenestopática” foi proposto por Huber, em 1957, como um                     de casos semelhantes e pouco se tem documentado sobre
            subtipo daquela doença,2 caracterizado por queixas corporais                as possíveis abordagens terapêuticas. Por fim, cabe desta-

                                                                                                                         Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(4):341-8



Carta_rev5.p65                        343                                                            24/11/2005, 17:58
344    Cartas aos editores




       car que delírios bizarros e sintomas cenestopáticos pare-                      Vários pontos podem ser reafirmados e destacados neste
       cem estar associados a pior prognóstico em pacientes                        artigo, sua originalidade e a importância em relação à promo-
       psicóticos. 5                                                               ção de saúde mental, com isso contribuindo para uma me-
                                                                                   lhora de bem estar. Porém, muitos dos problemas encontra-
                Leonardo Baldaçara, Luciana P C Nóbrega,                           dos em relação à aceitação e inclusão de crianças autistas
       Andréa Freirias, Ana Paula Marques, Marsal Sanches                          são devidos a posições pré-concebidas em relação a eles, suas
               Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Ciências                  possibilidades e suas famílias. Um dos principais preconcei-
         Médicas, Santa Casa de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil                  tos encontrados na literatura surgiu com Leo Kanner, suge-
                                                                                   rindo como possível causa do distúrbio a presença de "mães
                                                                                   geladeira". Esta conclusão foi decorrência do viés metodológico
          Financiamento: Inexistente
                                                                                   (no caso, um viés na origem da amostra) e pelos a priori
          Conflito de interesses: Inexistente
                                                                                   teóricos que predominavam na época (o modelo
                                                                                   psicodinâmico).
       Referências                                                                    Uma consideração metodológica relacionada ao artigo seria
       1.  Foulon C. Schizophrenia and eating disorders. Encephale.                a escolha pelo grupo controle. Já na década de 70, Rutter
           2003;29(5):463-6.
                                                                                   sugere que o pareamento mais eficaz no estudo populacional
       2.  Kato S, Ishiguro T. Clinical courses of hypochondriac-cenesthopatic
           symptoms in schizophrenia. Psychopathology. 1997;30(2):76-82.           de autistas seria crianças com comprometimento da comuni-
       3.  Phillips KA. Psychosis in body dysmorphic disorder. J Psychiatr         cação - como afasias receptivas/expressivas - e não crianças
           Res. 2004;38(1):63-72.                                                  com problemas articulatórios.5
       4.  De Leon J, Bott A, Simpson GM. Dysmorphophobia: body dysmorphic            É imprescindível que continuemos a estudar os transtornos
           disorder or delusional disorder, somatic subtype? Compr Psychiatry.     invasivos do desenvolvimento, principalmente na nossa popu-
           1989;30(6):457-72.                                                      lação que conta com poucos programas de apoio. Esse estudo
       5.  Morozov PV. [Prognosis of juvenile schizophrenia with dysmorphophobic
           disorders (according to catamnestic findings]. Zh Nevropatol
                                                                                   vem contribuir para o preenchimento de uma parte dessa la-
           Psikhiatr Im S S Korsakova. 1976;76(9):1358-66. Russian.                cuna, buscando, com isso, minimizar os estigmas e melhorar
                                                                                   a QV dos portadores de autismo.

                                                                                      Rosane Lowenthal, Maria Lucila Ribeiro Campos,
       "Qualidade de vida em irmãos de autistas" - I                                              Cristiane Amorosino, Antonia Gomila,
       "Quality of life in siblings of autistic patients" - I                                                 M a r i a E l o í s a Fa m a D ' A n t i n o
                                                                                      Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento,
          Sr. Editor,                                                                                   Universidade Presbiteriana Mackenzie,
          Consideramos relevante o artigo "Qualidade de vida em ir-                                                         São Paulo (SP), Brasil
       mãos de autistas", pois tem havido um consenso acerca da
       necessidade de desenvolvermos melhores instrumentos de                         Financiamento: Inexistente
       avaliação.1 Qualidade de vida (QV) é uma variável interessan-                  Conflito de interesses: Inexistente
       te para os estudos em populações especiais e/ou submetidas
       a determinadas intervenções. Sua definição engloba diferen-
                                                                                   Referências
       tes aspectos como estilo de vida, comunidade e vida familiar.               1.  Marciano ARF, Scheuer CI. Quality of life in siblings of autistic
       QV consiste na possessão dos recursos necessários para a                        patients. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(1):67-9.
       satisfação das necessidades e desejos individuais, participa-               2.  Shin DC, Johnson DM. Avowed happiness as an overall assessment
       ção em atividades que permitem o desenvolvimento pessoal, a                     of the quality of life. Social Indicators Res. 1978;5:475-92 apud
       auto-realização e uma comparação satisfatória entre si mes-                     Assumpção Junior FB, Kuczynski E, Spovieri MH, Aranha EMG.
       mo e os outros.2                                                                Escala de avaliação de qualidade de vida. Arq Neuropsiquiatr.
                                                                                       2000;58(1):119-27.
          Face a sua ampla definição, observa-se que os trabalhos
                                                                                   3.  Gill TM, Feinstein AR. A critical appraisal of the quality of quality of
       que avaliam QV devem delimitar claramente as relações que                       life measurements. JAMA. 1994;272(8):619-26.
       estão sendo estudadas.3 A necessidade de uma clara defini-                  4.  Assumpção Junior FB, Kuczynski E, Sprovieri MH, Aranha EMG.
       ção do objeto de estudo é um dos pontos que gostaríamos de                      [Quality of life evaluation scale (AUQUEI - Autoquestionnaire Qualite
       comentar acerca do estudo publicado.                                            de Vie Enfant). Validity and realibility of a quality of life for children
          O AUQEI (Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé) é                    4 to 12 years -old]. Arq Neuropsquiatr. 2000;58(1):119-27.
       um instrumento validado e reconhecidamente eficaz na avalia-                    Portuguese.
                                                                                    5. Cantwell DP, Baker L, Rutter M. Families of autistic and dysphasic
       ção de QV em crianças e adolescentes. Porém, os autores do
                                                                                       children. II. Mothers'speech to the children. J Autism Child
       instrumento sugerem que os dados adquiridos devem ser                           Schizophr. 1977;7(4):313-27.
       complementados com outros questionários a fim de se obter in-
       formações mais completas e precisas.4 A hipótese apresentada
       no artigo da RBP foi de uma pior QV em irmãos de autistas,
       possivelmente relacionada à presença desse irmão. Nossa preo-
       cupação está na impossibilidade do estabelecimento de relações
       causais quando se utiliza esse questionário sem controle de ou-
       tras variáveis como, por exemplo, a presença de vulnerabilidade
       genética ou comorbidades nesses irmãos. Além disso, QV pode
       ser influenciada pela dinâmica da família em seus vários aspec-
       tos (relacionamento marital, cuidado filial, continência parental,
       situação econômica para o custeio dos filhos, etc.).

Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(4):341-8



Carta_rev5.p65                        344                                                                24/11/2005, 17:58

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Esquizofrenia e distorção da imagem corporal: considerações nosológicas

  • 1. Cartas aos editores 343 Por fim, aponta-se para a necessidade de estudos prospectivos predominantes e contínuas. Esta denominação não está in- que busquem minimizar os possíveis vieses associados ao uso cluída nas modernas classificações psiquiátricas (CID-10 e de fontes secundárias, bem como a premência de uma políti- DSM-IV-TR), tendendo a desaparecer da nosologia psiquiátrica. ca nacional que possa capacitar, oferecer educação perma- Neste trabalho, descrevemos o caso de uma paciente do nente e supervisão na temática de problemas relacionados ao sexo feminino, 31 anos, solteira, sem filhos, sem profis- uso de álcool para os profissionais que atuam no PSF. são, com oito anos de escolaridade. Vivia com a mãe e o irmão (este com diagnóstico de esquizofrenia). Não apre- Maximiliano Loiola Ponte de Souza sentava antecedente pessoal de transtorno psiquiátrico. Sociodiversidade em Saúde, Centro de Pesquisa Leônidas & Após seis meses de admissão em nosso serviço, passou a Maria Deane, Fundação Oswaldo Cruz, Manaus (AM), Brasil evoluir com ideação delirante persecutória (acreditava que pessoas planejavam matá-la ou prejudicar sua saúde), reforçada por vozes alucinatórias que dialogavam com a paciente e referiam-se à mesma em terceira pessoa. Para- lelamente, iniciou comportamento caracterizado por ingesta, em grande quantidade, de alimentos de alto valor calórico. Fazia três refeições básicas com episódios de hiperingesta entre as mesmas, por vezes ingerindo 3.000 a 5.000 calorias ao dia. Por ocasião da admissão, afirma- va ter sido vitimada por um “feitiço” que acarretava perda de peso e que seus pensamentos eram “controlados” por pessoas que desejavam que ela se tornasse progressiva- mente mais magra. Seu afeto tendia ao embotamento e seu humor não se encontrava polarizado. Desde o início do quadro, ganhou aproximadamente 15 kg (cerca de dois kg por mês) e, não obstante exibir peso acima do ideal, dizia enxergar a si própria como uma pessoa extremamen- te magra. Referia que o peso acima citado seria resultado de erros de mensuração, ou seja, que as balanças esta- riam “defeituosas”. Durante a internação, a paciente foi tratada com medi- Financiamento: Inexistente cação antipsicótica, seguimento nutricional e atendimen- Conflito de interesses: Inexistente to psicoterápico de orientação cognitivo-comportamental. Uma vez que não apresentou resposta com monoterapia Referências (haloperidol até 15 mg, risperidona até 8 mg e ziprasidona 1. Brasil. Ministério da Saúde. Saúde da Família: uma estratégia para até 160 mg), optou-se, por fim, pela associação de a reorientação do modelo assistencial. 2a ed. Brasília: Ministério da ziprasidona 160 mg e risperidona 8 mg ao dia. Houve Saúde/Secretaria de Assistência à Saúde/Coordenação de Saúde da melhora da sintomatologia psicótica e da hiperingesta ali- Comunidade; 1998. mentar, embora a paciente ainda mantivesse distorção da 2. Melcop AG. Impacto do uso de álcool e outras vítimas de acidentes imagem corporal, crenças delirantes residuais (acreditava de trânsito. Brasília: ABDETRAN; 1997. 3. Meloni JN, Laranjeira R. Custo social e de saúde do consumo de que as diversas balanças do hospital poderiam ter sido álcool. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(Supl I):7-10. modificadas para indicar valores superiores aos reais quan- 4. Marques ACPR, Furtado EF. Intervenções breves para problemas rela- do de sua pesagem) e sobrepeso (manteve peso de 70 kg, cionados ao álcool. Rev Bras Psiquiatr. 2004;26(Supl I):28-32. com índice de massa corporal = 28 Kg/m 2 , apesar de se 5. Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR, Nappo SA: CEBRID - Centro encontrar sob acompanhamento nutricional). Recebeu alta Brasileiro de Informações sobre Drogas. I Levantamento Domiciliar após três meses de internação, sendo encaminhada para sobre o Uso de Drogas no Brasil – 2001. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, CEBRID/SENAD; 2002. p. 480. continuidade de seu tratamento em regime de hospital-dia. A paciente em questão apresentava sintomas claramen- te compatíveis com o diagnóstico de esquizofrenia segun- do os crité-rios do DSM-IV-TR. Concomitantemente, exibia clara sintomatologia relacionada a alterações da imagem corpórea e comportamento alimentar alterado. Estas alte- Esquizofrenia e distorção da imagem rações, embora sugestivas da presença de um transtorno corporal: considerações nosológicas alimentar comórbido, não possibilitaram que a paciente Schizophrenia and body image distortion: fosse considerada portadora de um transtorno desta natu- nosological considerations reza segundo as classificações psiquiátricas atuais. Casos semelhantes encontrados na literatura apontam para a Sr. Editor, existência de elementos comuns entre transtornos Relatos de pacientes esquizofrênicos apresentando delírios psicóticos, dismorfofobia e, possivelmente, um subgrupo de cunho somático e distorções da imagem corporal são en- de pacientes portadores de transtornos alimentares, ge- contrados desde o início do século XX, tendo sido descritos, rando dificuldades de natureza nosológica e diagnóstica. 1,3- 4 inclusive, por Eugen Bleuler. 1 O termo “esquizofrenia A literatura ainda é escassa no que se refere ao manejo cenestopática” foi proposto por Huber, em 1957, como um de casos semelhantes e pouco se tem documentado sobre subtipo daquela doença,2 caracterizado por queixas corporais as possíveis abordagens terapêuticas. Por fim, cabe desta- Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(4):341-8 Carta_rev5.p65 343 24/11/2005, 17:58
  • 2. 344 Cartas aos editores car que delírios bizarros e sintomas cenestopáticos pare- Vários pontos podem ser reafirmados e destacados neste cem estar associados a pior prognóstico em pacientes artigo, sua originalidade e a importância em relação à promo- psicóticos. 5 ção de saúde mental, com isso contribuindo para uma me- lhora de bem estar. Porém, muitos dos problemas encontra- Leonardo Baldaçara, Luciana P C Nóbrega, dos em relação à aceitação e inclusão de crianças autistas Andréa Freirias, Ana Paula Marques, Marsal Sanches são devidos a posições pré-concebidas em relação a eles, suas Departamento de Psiquiatria, Faculdade de Ciências possibilidades e suas famílias. Um dos principais preconcei- Médicas, Santa Casa de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil tos encontrados na literatura surgiu com Leo Kanner, suge- rindo como possível causa do distúrbio a presença de "mães geladeira". Esta conclusão foi decorrência do viés metodológico Financiamento: Inexistente (no caso, um viés na origem da amostra) e pelos a priori Conflito de interesses: Inexistente teóricos que predominavam na época (o modelo psicodinâmico). Referências Uma consideração metodológica relacionada ao artigo seria 1. Foulon C. Schizophrenia and eating disorders. Encephale. a escolha pelo grupo controle. Já na década de 70, Rutter 2003;29(5):463-6. sugere que o pareamento mais eficaz no estudo populacional 2. Kato S, Ishiguro T. Clinical courses of hypochondriac-cenesthopatic symptoms in schizophrenia. Psychopathology. 1997;30(2):76-82. de autistas seria crianças com comprometimento da comuni- 3. Phillips KA. Psychosis in body dysmorphic disorder. J Psychiatr cação - como afasias receptivas/expressivas - e não crianças Res. 2004;38(1):63-72. com problemas articulatórios.5 4. De Leon J, Bott A, Simpson GM. Dysmorphophobia: body dysmorphic É imprescindível que continuemos a estudar os transtornos disorder or delusional disorder, somatic subtype? Compr Psychiatry. invasivos do desenvolvimento, principalmente na nossa popu- 1989;30(6):457-72. lação que conta com poucos programas de apoio. Esse estudo 5. Morozov PV. [Prognosis of juvenile schizophrenia with dysmorphophobic disorders (according to catamnestic findings]. Zh Nevropatol vem contribuir para o preenchimento de uma parte dessa la- Psikhiatr Im S S Korsakova. 1976;76(9):1358-66. Russian. cuna, buscando, com isso, minimizar os estigmas e melhorar a QV dos portadores de autismo. Rosane Lowenthal, Maria Lucila Ribeiro Campos, "Qualidade de vida em irmãos de autistas" - I Cristiane Amorosino, Antonia Gomila, "Quality of life in siblings of autistic patients" - I M a r i a E l o í s a Fa m a D ' A n t i n o Programa de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento, Sr. Editor, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Consideramos relevante o artigo "Qualidade de vida em ir- São Paulo (SP), Brasil mãos de autistas", pois tem havido um consenso acerca da necessidade de desenvolvermos melhores instrumentos de Financiamento: Inexistente avaliação.1 Qualidade de vida (QV) é uma variável interessan- Conflito de interesses: Inexistente te para os estudos em populações especiais e/ou submetidas a determinadas intervenções. Sua definição engloba diferen- Referências tes aspectos como estilo de vida, comunidade e vida familiar. 1. Marciano ARF, Scheuer CI. Quality of life in siblings of autistic QV consiste na possessão dos recursos necessários para a patients. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(1):67-9. satisfação das necessidades e desejos individuais, participa- 2. Shin DC, Johnson DM. Avowed happiness as an overall assessment ção em atividades que permitem o desenvolvimento pessoal, a of the quality of life. Social Indicators Res. 1978;5:475-92 apud auto-realização e uma comparação satisfatória entre si mes- Assumpção Junior FB, Kuczynski E, Spovieri MH, Aranha EMG. mo e os outros.2 Escala de avaliação de qualidade de vida. Arq Neuropsiquiatr. 2000;58(1):119-27. Face a sua ampla definição, observa-se que os trabalhos 3. Gill TM, Feinstein AR. A critical appraisal of the quality of quality of que avaliam QV devem delimitar claramente as relações que life measurements. JAMA. 1994;272(8):619-26. estão sendo estudadas.3 A necessidade de uma clara defini- 4. Assumpção Junior FB, Kuczynski E, Sprovieri MH, Aranha EMG. ção do objeto de estudo é um dos pontos que gostaríamos de [Quality of life evaluation scale (AUQUEI - Autoquestionnaire Qualite comentar acerca do estudo publicado. de Vie Enfant). Validity and realibility of a quality of life for children O AUQEI (Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant Imagé) é 4 to 12 years -old]. Arq Neuropsquiatr. 2000;58(1):119-27. um instrumento validado e reconhecidamente eficaz na avalia- Portuguese. 5. Cantwell DP, Baker L, Rutter M. Families of autistic and dysphasic ção de QV em crianças e adolescentes. Porém, os autores do children. II. Mothers'speech to the children. J Autism Child instrumento sugerem que os dados adquiridos devem ser Schizophr. 1977;7(4):313-27. complementados com outros questionários a fim de se obter in- formações mais completas e precisas.4 A hipótese apresentada no artigo da RBP foi de uma pior QV em irmãos de autistas, possivelmente relacionada à presença desse irmão. Nossa preo- cupação está na impossibilidade do estabelecimento de relações causais quando se utiliza esse questionário sem controle de ou- tras variáveis como, por exemplo, a presença de vulnerabilidade genética ou comorbidades nesses irmãos. Além disso, QV pode ser influenciada pela dinâmica da família em seus vários aspec- tos (relacionamento marital, cuidado filial, continência parental, situação econômica para o custeio dos filhos, etc.). Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(4):341-8 Carta_rev5.p65 344 24/11/2005, 17:58