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Lendas e regras do
        chimarrão
Tal como ocorre com o cachimbo da paz, a cuia
de chimarrão passa de mão em mão, em círculo,
com todas as pessoas pondo os lábios, à sua
vez, na mesma bomba.

Pensando no ato de compartilhar e na
solidariedade que uma roda de chimarrão
representa, agrupando pessoas assim como o
“Audax” no ato de pedalar; Que escolhemos o
nome Giro do Chimarrão, para o mais
importante Evento da Sociedade Audax de
Ciclismo de Porto Alegre.
Um prazer compartilhado

Uma roda de chimarrão é um momento de descontração,
fazendo parte de um ritual indispensável para unir gerações. O
mate pode ser tomado de três
maneiras: solito(isoladamente), parceria (uma companheira ou
companheiro) e em roda (em grupo).

O mate solito faz parte da cultura do homem que não precisa de
estímulo maior para matear do que sua própria vontade. Pode-se
dizer que é o verdadeiro mateador, ao contrário do mate de
parceria, em que a pessoa espera por um ou dois companheiros.
É na roda de mate, porém, que esta tradição conquistou seu
apogeu, agrupando pessoas em torno de uma mesma ação:
chimarraer.


 O Aos navegantes de
   primeira viagem, um aviso:
   nunca peça um mate, por
   mais vontade que tenha.
   Poderá sugeri-lo de forma
   sutil, esperando que lhe
   ofereçam.
 O Há um respeito mítico nas
    rodas de mate.
Tradição além das fronteiras gaúchas

Uma lenda indígena, descrita por Alcides Gatto, da Universidade
Federal de Santa Maria, indica como começou o uso da erva
mate. A mais antiga aponta para a trajetória de uma tribo
nômade de índios guarany.

Um dia, um velho índio, cansado das andanças, recusou-se a
seguir adiante, preferindo ficar na tapera. A mais jovem de suas
filhas, apesar do coração partido, preferiu ficar com o pai,
amparando-o até que a morte o levasse à paz do
Yvi-Marai, a seguir adiante, com os moços de sua tribo.
O pajé entregou-lhe uma planta muito verde,
perfumada de bondade, e o ensinou que, plantando e
colhendo as folhas, secando-as ao fogo e as
triturando, devia colocá-las num porongo e
acrescentar água quente ou fria. „Sorvendo essa
infusão, terás nessa nova bebida uma nova
companhia saudável mesmo nas horas tristonhas da
mais cruel solidão‟.

O ancião se recuperou, ganhou forças e viajou até o
reencontro de sua tribo.
Assim nasceu e cresceu a caá-mini, que dela resultou a
bebida caá-y, que os brancos mais tarde chamaram de
chimarrão.

A origem do nome mate vem do povo espanhol, que preferiu
usar a palavra „mati‟ (cuia), da língua quíchua, para se ajustar
melhor à modalidade grave do idioma.

No entanto, logo foi substituída por uma palavra guarany –
caiguá – nome composto por caá (erva), i (água) e guá
(recipiente).
Regrinhas básicas para tomar chimarrão

Enchendo o mate - Pega-se a cuia com a mão
esquerda e o recipiente com a direita. Após,
acomoda-se o recipiente e se troca a cuia de mão
para matear ou oferecer o mate. seguindo-se,
sempre, pelo lado direito, o lado de laçar. O sentido
da volta na roda de mate deverá partir pela direita do
cevador ou enchedor de mate.
A água para preparar o mate - A temperatura nunca
deve estar muito quente, pois pode queimar a erva,
dando um gosto desagradável ao mate e lavando-o
rapidamente

O pialador de mate - É o indivíduo que, chegando
numa roda de mate, posiciona-se à frente da pessoa
que está mateando e à esquerda na mão da roda. O
correto é ficar antes do mateador, sempre a sua direita
A água do mate - A água nunca deverá ser fervida,
pela perda de oxigênio, transmitindo um sabor
diferente ao mateador. O ideal é quando a água
apenas chia.

Cevar com cachaça - Quando as pessoas fecham um
mate (ato de prepará-lo), costumam, em lugar de água
para inchar a erva, colocar cachaça, pois ela fixa por
mais tempo a fortidão da erva-mate, sem deixar o
gosto do álcool. Uma vez inchada a erva, cospe-se
fora a infusão até roncar bem a cuia, esgotando-se
completamente o líquido.
Só o cevador pode mexer no mate - A menos que
se obtenha licença, só o cevador deve arrumar o
mate, considerando-se falta de respeito mexer sem
permissão. Podemos, isto sim, ao devolver a cuia,
avisá-lo do problema.

Em roda de mate - É comum, após o primeiro mate,
que sempre é do iniciar a roda a pelo mais velho ou
por alguém a quem se queira homenagear.
O primeiro mate - Todo aquele que fecha um mate deve tomá-lo
primeiro em presença do parceiro ou na roda de mate. Este fato
se tornou tradicional devido a épocas em que o mate serviu de
veículo para envenenamentos. Por isso, o ato do mateador tomar
o primeiro indica que o mate está em condições de ser tomado.
Há a lenda jesuíta, que atribuía valores afrodisíacos ao mate.
Para evitar que os índios passassem a maior parte do dia
mateando, tentando afastá-los do hábito, criaram o mito entre os
silvícolas cristianizados que Anhangá Pitã (diabo) estava dentro
do mate.

Roncar a cuia - Uma vez servido o mate, deve ser tomado todo,
até esgotá-lo, fazendo roncar a cuia.
Os dez mandamentos do Chimarrão



1- NÃO PEÇAS AÇUCAR NO MATE

O gaúcho aprende desde piazito o porquê o chimarrão se chama
também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas se tu
és de outros pagos, mesmo sabendo, poderá achar que é amargo
demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar nesse
pedaço do Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana,
frutas, cocaína, feldspato, dollar, etc… mas jamais açúcar. O gaúcho
pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido
desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não
hesites, pede uma coca-cola com canudinho. Tu vais te sentir bem
melhor.
2- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO
Tu podes achar que é anti-higiênico por a boca onde todo mundo põe.
Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia
em se tratando de chimarrão. Repito: pede uma coca-cola de
canudinho. O canudo é puro como a água de sanga (pode haver
coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele).


3- NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS
Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é
porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não
és uma pessoa normal, assume tuas frescuras (caso desejes te curar,
recomendamos uma visita ao analista de Bagé). Se, porém, te julgas
perfeitamente igual aos demais, faze o seguinte: vai para o Paraguai.
Tu vai adorar o chimarrão de lá.
4- NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE
Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o
cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Como o cachimbo da
paz, cada um dá uma tragada e passa-o adiante, já o chimarrão não.
Tu deves tomar toda a água servida até ouvir o ronco da cuia vazia. A
propósito, leia logo o mandamento abaixo.


5- NÃO TE ENVERGONHES DO “RONCO” NO FIM DO MATE
Se, ao acabar o mate, sem querer fizer a bomba “roncar”, não te
envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Esse
negócio de chupar sem fazer barulho vale para a coca-cola com
canudinho que tu podes até tomar com o dedinho levantado (fazendo
pose de assumida).
6- NÃO MEXAS NA BOMBA
A bomba de chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela
mesma, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens
todo o direito de reclamar. Mas por favor, não mexas na bomba. Fale
com quem te passou o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não
mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na
bomba.


7- NÃO ALTERE A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO
Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de
mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer
hora serve, mas depois de entrar, espera sempre a tua vez e não
queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do
estado.
8- NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO
MATE
Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar
ele próprio o primeiro mate, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o
primeiro, e quem toma está te prestando um favor.


9- NÃO DURMAS COM A CUIA NA MÃO
Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da
vida. Tu mateias sem pressa, matutando… E às vezes te surpreendes
até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno
daquela chinoca faceira que apareceu no baile do Gaudêncio… Agora,
tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí o fundamental não é
meditar, mas sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu falas,
discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em
confraternização. Só que essa tua participação não pode ser levada ao
extremo de te fazer esquecer a cuia que está na tua mão. Fala quanto
quizeres mas não esqueças de tomar o teu mate que a moçada tá
esperando.
10- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA
Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pega na cuia,
que irás dizer, com ar de entendido, que o chimarrão é cancerígeno. Se
aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esqueces o câncer. Se não
der para esquecer, faz o seguinte: pede uma Coca-Cola com canudinho
que ela etc… etc…

PÉRCIO DE MORAES




Apesar de simples e informal, a roda de chimarrão tem suas regras.
Verdadeiros mandamentos, que devem ser respeitados por todos. Se
você é iniciante ou está redescobrindo o costume, observe esses pontos
relacionados com boa dose de humor:
Sejam solidários e boa sorte
a todos os participantes do
    Giro do Chimarrão II


      Equipe da SAC

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Lendas e regras do chimarrão

  • 1. Lendas e regras do chimarrão
  • 2. Tal como ocorre com o cachimbo da paz, a cuia de chimarrão passa de mão em mão, em círculo, com todas as pessoas pondo os lábios, à sua vez, na mesma bomba. Pensando no ato de compartilhar e na solidariedade que uma roda de chimarrão representa, agrupando pessoas assim como o “Audax” no ato de pedalar; Que escolhemos o nome Giro do Chimarrão, para o mais importante Evento da Sociedade Audax de Ciclismo de Porto Alegre.
  • 3.
  • 4. Um prazer compartilhado Uma roda de chimarrão é um momento de descontração, fazendo parte de um ritual indispensável para unir gerações. O mate pode ser tomado de três maneiras: solito(isoladamente), parceria (uma companheira ou companheiro) e em roda (em grupo). O mate solito faz parte da cultura do homem que não precisa de estímulo maior para matear do que sua própria vontade. Pode-se dizer que é o verdadeiro mateador, ao contrário do mate de parceria, em que a pessoa espera por um ou dois companheiros.
  • 5. É na roda de mate, porém, que esta tradição conquistou seu apogeu, agrupando pessoas em torno de uma mesma ação: chimarraer. O Aos navegantes de primeira viagem, um aviso: nunca peça um mate, por mais vontade que tenha. Poderá sugeri-lo de forma sutil, esperando que lhe ofereçam. O Há um respeito mítico nas rodas de mate.
  • 6. Tradição além das fronteiras gaúchas Uma lenda indígena, descrita por Alcides Gatto, da Universidade Federal de Santa Maria, indica como começou o uso da erva mate. A mais antiga aponta para a trajetória de uma tribo nômade de índios guarany. Um dia, um velho índio, cansado das andanças, recusou-se a seguir adiante, preferindo ficar na tapera. A mais jovem de suas filhas, apesar do coração partido, preferiu ficar com o pai, amparando-o até que a morte o levasse à paz do Yvi-Marai, a seguir adiante, com os moços de sua tribo.
  • 7.
  • 8. O pajé entregou-lhe uma planta muito verde, perfumada de bondade, e o ensinou que, plantando e colhendo as folhas, secando-as ao fogo e as triturando, devia colocá-las num porongo e acrescentar água quente ou fria. „Sorvendo essa infusão, terás nessa nova bebida uma nova companhia saudável mesmo nas horas tristonhas da mais cruel solidão‟. O ancião se recuperou, ganhou forças e viajou até o reencontro de sua tribo.
  • 9. Assim nasceu e cresceu a caá-mini, que dela resultou a bebida caá-y, que os brancos mais tarde chamaram de chimarrão. A origem do nome mate vem do povo espanhol, que preferiu usar a palavra „mati‟ (cuia), da língua quíchua, para se ajustar melhor à modalidade grave do idioma. No entanto, logo foi substituída por uma palavra guarany – caiguá – nome composto por caá (erva), i (água) e guá (recipiente).
  • 10. Regrinhas básicas para tomar chimarrão Enchendo o mate - Pega-se a cuia com a mão esquerda e o recipiente com a direita. Após, acomoda-se o recipiente e se troca a cuia de mão para matear ou oferecer o mate. seguindo-se, sempre, pelo lado direito, o lado de laçar. O sentido da volta na roda de mate deverá partir pela direita do cevador ou enchedor de mate.
  • 11. A água para preparar o mate - A temperatura nunca deve estar muito quente, pois pode queimar a erva, dando um gosto desagradável ao mate e lavando-o rapidamente O pialador de mate - É o indivíduo que, chegando numa roda de mate, posiciona-se à frente da pessoa que está mateando e à esquerda na mão da roda. O correto é ficar antes do mateador, sempre a sua direita
  • 12. A água do mate - A água nunca deverá ser fervida, pela perda de oxigênio, transmitindo um sabor diferente ao mateador. O ideal é quando a água apenas chia. Cevar com cachaça - Quando as pessoas fecham um mate (ato de prepará-lo), costumam, em lugar de água para inchar a erva, colocar cachaça, pois ela fixa por mais tempo a fortidão da erva-mate, sem deixar o gosto do álcool. Uma vez inchada a erva, cospe-se fora a infusão até roncar bem a cuia, esgotando-se completamente o líquido.
  • 13. Só o cevador pode mexer no mate - A menos que se obtenha licença, só o cevador deve arrumar o mate, considerando-se falta de respeito mexer sem permissão. Podemos, isto sim, ao devolver a cuia, avisá-lo do problema. Em roda de mate - É comum, após o primeiro mate, que sempre é do iniciar a roda a pelo mais velho ou por alguém a quem se queira homenagear.
  • 14. O primeiro mate - Todo aquele que fecha um mate deve tomá-lo primeiro em presença do parceiro ou na roda de mate. Este fato se tornou tradicional devido a épocas em que o mate serviu de veículo para envenenamentos. Por isso, o ato do mateador tomar o primeiro indica que o mate está em condições de ser tomado. Há a lenda jesuíta, que atribuía valores afrodisíacos ao mate. Para evitar que os índios passassem a maior parte do dia mateando, tentando afastá-los do hábito, criaram o mito entre os silvícolas cristianizados que Anhangá Pitã (diabo) estava dentro do mate. Roncar a cuia - Uma vez servido o mate, deve ser tomado todo, até esgotá-lo, fazendo roncar a cuia.
  • 15. Os dez mandamentos do Chimarrão 1- NÃO PEÇAS AÇUCAR NO MATE O gaúcho aprende desde piazito o porquê o chimarrão se chama também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas se tu és de outros pagos, mesmo sabendo, poderá achar que é amargo demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar nesse pedaço do Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana, frutas, cocaína, feldspato, dollar, etc… mas jamais açúcar. O gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não hesites, pede uma coca-cola com canudinho. Tu vais te sentir bem melhor.
  • 16. 2- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É ANTI-HIGIÊNICO Tu podes achar que é anti-higiênico por a boca onde todo mundo põe. Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia em se tratando de chimarrão. Repito: pede uma coca-cola de canudinho. O canudo é puro como a água de sanga (pode haver coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele). 3- NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não és uma pessoa normal, assume tuas frescuras (caso desejes te curar, recomendamos uma visita ao analista de Bagé). Se, porém, te julgas perfeitamente igual aos demais, faze o seguinte: vai para o Paraguai. Tu vai adorar o chimarrão de lá.
  • 17. 4- NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Como o cachimbo da paz, cada um dá uma tragada e passa-o adiante, já o chimarrão não. Tu deves tomar toda a água servida até ouvir o ronco da cuia vazia. A propósito, leia logo o mandamento abaixo. 5- NÃO TE ENVERGONHES DO “RONCO” NO FIM DO MATE Se, ao acabar o mate, sem querer fizer a bomba “roncar”, não te envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Esse negócio de chupar sem fazer barulho vale para a coca-cola com canudinho que tu podes até tomar com o dedinho levantado (fazendo pose de assumida).
  • 18. 6- NÃO MEXAS NA BOMBA A bomba de chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela mesma, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens todo o direito de reclamar. Mas por favor, não mexas na bomba. Fale com quem te passou o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba. 7- NÃO ALTERE A ORDEM EM QUE O MATE É SERVIDO Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer hora serve, mas depois de entrar, espera sempre a tua vez e não queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do estado.
  • 19. 8- NÃO CONDENES O DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO MATE Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar ele próprio o primeiro mate, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o primeiro, e quem toma está te prestando um favor. 9- NÃO DURMAS COM A CUIA NA MÃO Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da vida. Tu mateias sem pressa, matutando… E às vezes te surpreendes até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno daquela chinoca faceira que apareceu no baile do Gaudêncio… Agora, tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí o fundamental não é meditar, mas sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em confraternização. Só que essa tua participação não pode ser levada ao extremo de te fazer esquecer a cuia que está na tua mão. Fala quanto quizeres mas não esqueças de tomar o teu mate que a moçada tá esperando.
  • 20. 10- NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pega na cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o chimarrão é cancerígeno. Se aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esqueces o câncer. Se não der para esquecer, faz o seguinte: pede uma Coca-Cola com canudinho que ela etc… etc… PÉRCIO DE MORAES Apesar de simples e informal, a roda de chimarrão tem suas regras. Verdadeiros mandamentos, que devem ser respeitados por todos. Se você é iniciante ou está redescobrindo o costume, observe esses pontos relacionados com boa dose de humor:
  • 21. Sejam solidários e boa sorte a todos os participantes do Giro do Chimarrão II Equipe da SAC