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ISSN 1982 - 0283




 TABAGISMO:
RELEVÂNCIA DA
 TEMÁTICA NA
  EDUCAÇÃO
   Ano XXI Boletim 06 - Maio 2011
Sumário



Tabagismo: relevância da temática na educação


Apresentação da série .................................................................................................	        3
Rosa Helena Mendonça



Introdução ................................................................................................................ 	   4
Cristina de Abreu Perez e Felipe Lacerda Mendes


Texto 1: Tabagismo: um problema globalizado ........................................................... 	                       16
Cristina de Abreu Perez


Texto 2: Tabagismo entre adolescentes
Tabagismo como problema de saúde pública no mundo e no Brasil........................... 	                                      24
Andréa Reis Cardoso


Texto 3: Fumicultura: impactos ambientais e na saúde .......................... ................... 	
                                                                              .                                                 32
Felipe Lacerda Mendes
Tabagismo: relevância da temática na educação
						
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE


Um tema complexo, necessário, urgente,                  sam a um só tempo evitar a adesão de novos
que tem reflexos na saúde, na economia, na              consumidores e auxilar os já fumantes a pa-
educação. Um produto que já foi símbolo                 rarem de fumar.
de emancipação, glamour e juventude. Que
passou por muitas bocas e rodou de mão                  A série Tabagismo: relevância da temática

em mão nos mais diversos espaços. Ele já foi            na educação, que a TV Escola apresenta por

associado a situações significativas da vida:           meio do programa Salto para o Futuro, pre-

a momentos alegres, como festas e encon-                tende ser uma contribuição no sentido de

tros, e também a momentos tristes ou ten-               estimular a prevenção, compartilhando com

sos, como despedidas. Estamos falando do                professores e professoras de todo o país in-

cigarro e dos fumantes, mas na verdade es-              formações e ações no âmbito do Programa

tamos abordando todo o universo que vai da              Nacional de Controle do Tabagismo. A série,

indústria do tabaco à fumicultura, da pro-              que conta com a consultoria de Cristina Pe-       3
paganda à comercialização, passando pelos               rez e Felipe Mendes (INCA – MS), aborda es-

muitos elos dessa cadeia. Mas estamos fa-               tes temas, entre outros: o tabagismo como

lando, sobretudo, de iniciativas e de políti-           um problema de saúde pública globalizado;

cas que pretendem interferir de maneira in-             a disseminação do fumo entre os jovens; e

cisiva nessa questão do controle do tabaco              as questões ambientais e de saúde decorren-

na sociedade.                                           tes da fumicultura e da indústria do cigarro.


Temática de grande alcance social, o en-                Os textos relativos a esta série e os progra-
frentamento à indústria do tabaco envolve               mas televisivos se apoiam em pesquisas e
profissionais de diferentes setores. No caso            experiências sobre a temática e poderão cer-
dos educadores, a relevância se deve primor-            tamente sensibilizar professores, gestores e
dialmente ao fato de que é na infância e na             comunidade escolar em geral no sentido de
adolescência que os primeiros cigarros são              se alinharem a essas iniciativas.
experimentados. Assim, o espaço escolar se
apresenta como privilegiado no sentido de
                                                                                  Rosa Helena Mendonça1
informar e promover discussões que pos-



1	     Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
Tabagismo: relevância da temática na educação

	           				
Introdução			

                                                                                     Cristina de Abreu Perez1
                                                                                     Felipe Lacerda Mendes 2



A proposta da série Tabagismo: relevância                     ocorre atualmente nos locais de grande fre-
da temática na educação visa possibilitar o                   quência de jovens.
debate de um assunto polêmico, sem ques-
tionar posições individuais, com base em                      Essa abordagem negativa é exercida pelos
dados e fatos científicos que muitas vezes                    fabricantes dos produtos de tabaco, como
são desconhecidos, o que, infelizmente, leva                  os cigarros, com o objetivo claro de captar
a decisões equivocadas ou desavisadas de                      novos consumidores para seus produtos que
crianças e jovens que acreditam estar no ca-                  matam um em cada dois usuários regulares3!
                                                                                                                        4
minho certo.

                                                              Considerações gerais
A possibilidade do diálogo, principalmente
no ambiente educacional, proporciona esco-                    O Brasil, historicamente, tem desenvolvido
lhas mais equilibradas e saudáveis. Quando                    um importante programa de controle do
falamos de tabagismo, estamos numa seara                      tabaco e alcançado grandes avanços nesta
onde a manipulação dos fatos e o discurso                     área, conforme demonstra o gráfico a se-
falacioso reinam há muitas décadas, tanto                     guir, que o coloca na vanguarda das ações
nas propagandas que existiam na televisão                     necessárias para se contrapor a essa pode-
até o ano 2000, quanto indiretamente, como                    rosa indústria.




1	       Psicóloga. Técnica da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro
para o Controle do Tabaco / INCA- Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultora da série.
2	       Advogado. Técnico da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro
para o Controle do Tabaco / INCA - Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultor da série.
3	      Esson, Katharine M. The Millennium development goals and tobacco control: an opportunity for global. Page xi.
World Health Organization 2004. http://www.who.int/tobacco/publications/mdg_final_for_web.pdf
GRÁFICO

                   40
                                      34.8
                   35

                   30
Prevalência (%)




                   25                                                                                22,4

                   20                                                                                                  18.2

                   15

                   10

                    5

                    0
                           86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08
                                                                          Ano


                                                                                                                              5




                  Legenda

                    1      Início das campanhas anuais de conscien-            7	 Proibição do uso de termos light, baixos
                           tização da população                                   teores e similares nas embalagens de pro-
                                                                                  dutos de tabaco
                    2      Introdução de novas advertências sanitá-
                           rias nas embalagens                                 8 	 Inclusão do telefone do serviço Disque
                                                                                   Pare de Fumar nas embalagens
                    3       Restrições na propaganda de produtos
                           de tabaco                                           9 	 Inclusão do tratamento do tabagismo no
                                                                                   Sistema Único de Saúde
                    4      Proibição da venda de produtos de tabaco
                           a menores de 18 anos                                10	 Ratificação da Convenção-Quadro para o
                                                                                   Controle do Tabaco no Congresso Nacio-
                    5 Proibição do tabagismo em recintos coleti-
                                                                                   nal
                       vos, exceto em fumódromos
                    6	 Criação de uma comissão interministe-
                       rial de controle do tabagismo

                  Fonte:
                  MS/Fiocruz, 2003. Pesquisa Mundial da Saúde MS/IBGE, 1989. Pesquisa Nacional de Saúde  e Nutrição.
Essas estratégias envolvem não só esforços      cionais de tabaco estão sempre buscando es-
de profissionais de saúde, mas também de        tratégias para diminuir o impacto das ações
outros grupos sociais como educadores, le-      de controle do tabaco e ampliar a quantida-
gisladores, advogados, economistas, profis-     de de consumidores dos seus produtos.
sionais de comunicação social, governantes
e gestores.
                                                A influência da promoção
A adoção dessas medidas contribuiu para         dos produtos do
que a prevalência do tabagismo em nosso         tabaco entre crianças e
país caísse de 33% em 1989 (havia cerca de      adolescentes
30 milhões de fumantes maiores de 15 anos,
                                                Essa é uma das questões que merece aten-
sendo 40,3% homens e 26,2% mulheres)
                                                ção. As pessoas começam a fumar prin-
para 17,2% em 2008, ou seja, 25 milhões de
                                                cipalmente influenciadas pelas ações de
fumantes (21,6% entre os homens e 13,1%
                                                publicidade e promoção do cigarro, que
entre as mulheres), quando foi realizada
                                                associam o fumo com um estilo de vida
pela primeira vez a Pesquisa Especial sobre
                                                aventureiro, a falsa imagem de que fumar
Tabagismo dentro da Pesquisa Nacional por
                                                está ligado ao bom desempenho sexual e
Amostra de Domicílios do IBGE.                                                                 6
                                                esportivo, ao sucesso, à beleza, à indepen-
Nosso país, desde 2003, é signatário da Con-    dência e à liberdade, com o intuito de fazer
venção-Quadro para o Controle do Tabaco         com que o público identifique de alguma
(CQCT) – primeiro tratado internacional de      forma, ainda que intangível e inconsciente,
saúde pública da Organização Mundial da         o alinhamento de seu ideal de autoimagem
Saúde que determina a adoção de medidas         a essas situações.
para controlar a epidemia do tabagismo.
Com isso, a implementação nacional desse        Nesse processo, as ações de promoção tam-

tratado ganhou o status de uma política de      bém buscam explorar a curiosidade própria

Estado, e o Programa Nacional de Contro-        de crianças e adolescentes e incentivá-los

le do Tabagismo, até então articulado pelo      a experimentar seus produtos. Atualmente,

Ministério da Saúde, passou a ter um cará-      existe um bilhão de jovens no mundo, sendo

ter multissetorial, norteado pelos objetivos,   que 85% deles vivem em países em desenvol-

princípios, obrigações e medidas na CQCT.       vimento. Segundo dados do Banco Mundial,
                                                dos cerca de 100 mil jovens que começam a

Entretanto, muito ainda precisa ser feito,      fumar todos os dias, 80% vivem em países

pois infelizmente as companhias transna-        em desenvolvimento.
Documentos internos de grandes compa-                  dos que não fumam, os seus símbolos de in-
nhias de tabaco abertos ao público, devido a           dependência e liberdade, sua necessidade de
ações judiciais nos Estados Unidos, compro-            afirmação. Além de procurar conhecer a cre-
vam essas afirmativas. Em um desses docu-              dibilidade dos diferentes profissionais frente
mentos, uma grande companhia de cigarros               ao público jovem, visando associar sua ima-
manifesta seu entendimento de que captar               gem ao consumo de tabaco para que sirvam
os jovens para o consumo é essencial para a            de modelo de comportamento de fumar:
sobrevivência econômica do negócio4.
                                                              É importante saber tanto quanto possí-
                                                              vel sobre os padrões de tabagismo dos
     Eles representam o negócio de cigarros
                                                              adolescentes. Os adolescentes de hoje
     do amanhã. À medida que o grupo etário
                                                              são os potenciais consumidores regula-
     de 14 a 24 anos amadurece, ele se tor-
                                                              res de amanhã, e a grande maioria dos
     nará a parte chave do volume total de
                                                              fumantes começa a fumar na sua ado-
     cigarros, no mínimo pelos próximos 25
                                                              lescência... Devido ao grande espaço que
     anos (J. W. Hind, R. J. Reynolds Tobac-
                                                              ocupa no mercado entre os fumantes
     co, internal memorandum, January 23,
                                                              mais jovens, a Philip Morris sofrerá mais
     1975).
                                                              do que qualquer outra companhia com         7
                                                              o declínio do número de adolescentes
     Atingir o jovem pode ser mais eficiente,
                                                              fumantes (Memorando enviado por um
     mesmo que o custo para atingi-los seja
                                                              pesquisador da Philip Morris, Myron E.
     maior, porque eles estão desejando expe-
                                                              Johnston, para Robert B. Seligman, vice-
     rimentar, eles têm mais influência sobre
                                                              presidente de pesquisa e desenvolvimen-
     os outros da sua idade do que eles terão
                                                              to da Philip Morris, 1981).
     mais tarde, e porque eles são muito mais
     leais a sua primeira marca (Escrito por                  (…) um cigarro para o iniciante é um ato
     um executivo da Philip Morris em 1957).                  simbólico. Eu não sou mais a criança
                                                              da minha mãe, eu sou forte, eu sou um
Esses documentos também mostram nitida-                       aventureiro, eu não sou quadrado... Na
mente que, com o intuito de melhor conhe-                     medida em que a força do simbolismo
cer a percepção e as necessidades dos jovens                  psicológico diminui, o efeito farmacoló-
consumidores, a indústria realiza pesquisas                   gico assume o papel de manter o hábito
buscando conhecer os diferentes tipos de                      (Rascunho de relatório do Quadro de Di-
família às quais pertencem, a classe social                   retores da Phillip Morris, 1969).


4	      http://www.ash.org.uk/html/conduct/pdfs/bat2005.pdf
Os fabricantes de tabaco têm amplo co-           A adolescência é caracterizada por transfor-
nhecimento de que raramente alguém ex-           mações biológicas e psicossociais que tor-
perimenta seu primeiro cigarro depois da         nam essa fase do ciclo de vida um momen-
infância e adolescência. Diferentes compa-       to de especial suscetibilidade a estímulos
nhias de tabaco têm manifestado seu enten-       externos, principalmente para aqueles que
dimento sobre a importância do marketing         não contam com um sólido suporte social
para os jovens como uma estratégia de so-        da família. É nesse período que o indivíduo
brevivência no mercado.                          busca formar sua futura identidade enquan-
                                                 to adulto, a partir de seus sonhos e aspira-
     Se a companhia quiser sobreviver e pros-    ções de ideais de autoimagem.
     perar no longo prazo devemos conseguir
     uma fatia de mercado jovem... Assim nós     Assim, sofisticadas propagandas transfor-
     precisamos elaborar novas marcas que        mam as marcas de cigarros em um passa-
     sejam particularmente atraentes para        porte para o mundo adulto. Diferentes mar-
     o jovem fumante, e ao mesmo tempo           cas são construídas e associadas a imagens
     agradem todos os fumantes... Talvez es-     e ideias para atingir os jovens que gostariam
     sas questões possam ser melhor aborda-      de se ver como adultos arrojados ou como
     das considerando os fatores que influen-    intelectuais ou, quem sabe, como esportis-      8
     ciam os pré-fumantes a experimentarem       tas radicais ou artistas ousados e criativos.
     um cigarro, aprender a fumar, e se tor-     Há também marcas para os que se identifi-
     nar fumantes definitivos (R. J. Reynolds,   cam com o mundo rural ou com o mundo
     1973).                                      zen, ou mesmo para os que querem se sentir
                                                 “cidadãos do mundo”.

IMAGEM 1
Embalagens dos produtos de                                          o próprio cigarro – uma extensão visível

tabaco como estratégia para                                         da personalidade da marca (e do consu-

captar novos fumantes e                                             midor) (...) (Phillip Morris, 1989).

manter consumidores
                                                                    Nosso veículo final de comunicação com
Há mais de um século, companhias de taba-                           nosso fumante é o maço propriamente
co desenvolvem sofisticadas estratégias de                          dito. Na falta do qualquer outra mensa-
marketing para as embalagens de seus pro-                           gem de marketing, nossa embalagem… é
dutos, com o objetivo de reforçar a iniciação                       a única forma de comunicação da essên-
do tabagismo entre jovens e a manutenção                            cia de nossa marca. De qualquer forma –
da dependência e do consumo entre os usu-                           quando você não tem nada mais – nossa
ários regulares. Essa estratégia tem se torna-                      embalagem é nosso marketing (...) (The
do cada vez mais utilizada, principalmente                          Philippine tobacco industry).
devido à tendência mundial de banir a pro-
paganda dos produtos de tabaco.                              Ao contrário de outros produtos onde a em-
                                                             balagem é descartada depois de aberta, os
Os documentos internos de companhias de                      fumantes geralmente mantêm o maço até
tabaco abertos ao público por ações judiciais                consumir todos os cigarros. Ou seja, os ma-              9
também demonstram o quanto o design das                      ços ficam 24 horas por dia com os fumantes,
embalagens é essencial para a expansão do                    que os levam para todos os lugares, deixan-
consumo.                                                     do-os constantemente expostos. Por isso, as
                                                             embalagens funcionam como uma forma de
       A percepção dos consumidores é basea-                 propaganda, permitindo um alto grau de vi-
       da no design da embalagem, nos pontos                 sibilidade social do produto. Daí o reconhe-
       de vendas e nos padrões de uso (...).                 cimento dos maços de cigarros como produ-
                                                             to “crachá”, “emblema” ou “símbolo”5.
       A construção da marca do cigarro está
       no maço – o ‘crachá’ que as pessoas                   Desde a restrição da promoção e da publici-
       mostram... Fora das embalagens os ci-                 dade de produtos do tabaco, a indústria do
       garros são virtualmente indistinguíveis…              tabaco passou a buscar brechas legais que
       Cores e desenhos devem ser levados para               permitissem manter e diversificar as estra-



5	        Wakefield, M.; Morley, C.; Horan J. K.; Cummings, K.M. The cigarette pack as image: new evidence from
tobacco industry documents. Tob Control, 2002, Mar. 11 (Suppl. 1): S73-80. Lewis, M. J.; Wackowski, O. Dealing with
an innovative industry: a look at flavored cigarettes promoted by mainstream brands. Am J. Public Health. 2006,
Feb., 96 (2): 244-51.
tégias de promoção dos seus produtos, tal é      a logomarca do fabricante são utilizados
a importância da propaganda na expansão          na promoção de eventos, shows e ativida-
do consumo de produtos de tabaco, espe-          des culturais; a colocação da publicidade
cialmente de cigarros.                           em pontos de maior visibilidade, como su-
                                                 permercados e padarias; a diversificação da
Alguns exemplos das estratégias da indús-        propaganda no próprio ponto de venda; sua
tria do fumo são: a utilização do chamado        proximidade com produtos para crianças,
patrocínio institucional, em que o nome e        como doces e balas, etc.

IMAGEM 2




                                                                                               10




É importante observar o destaque dado aos        sanitária nas embalagens, as quais buscam
investimentos nas embalagens dos produ-          informar a população sobre a realidade e
tos derivados do tabaco, que se tornaram         a dimensão dos riscos do tabagismo e, ao
ainda mais atraentes, ostentando formas          mesmo tempo, gerar entre os consumidores
coloridas, referências a esportes, moda, mú-     dos produtos de tabaco uma reação de rejei-
sica. Para enfrentar esta estratégia, o Brasil   ção aos produtos.
vem investindo em imagens de advertência
IMAGENS 3 E 4




Outra ação da indústria é a venda comparti-    te os que despertam interesse nos jovens,
lhada, ou seja, a venda de maços de cigarros   como relógios, bolsas de viagens, CDs de
casada com outros produtos, principalmen-      música, estojos de maquiagem e cinzeiros.


IMAGEM 5                                                                                   11
A venda compartilhada de cigarros e pro-         pois esta se encontra defasada quanto às
dutos que agradam os jovens mobiliza o           recomendações da OMS e às diretrizes da
interesse e, consequentemente, leva ao au-       Convenção-Quadro para o Controle do Taba-
mento da experimentação e da iniciação ao        co (artigo 8º do tratado).
tabagismo. Soma-se a isso o fato de que a
                                                 Para tal, contamos com o Projeto de Lei nº
rede varejista não tem como prática solici-
                                                 315/08, de autoria do senador Tião Vianna,
tar aos seus consumidores uma comprova-
                                                 que concerne à efetiva proteção tanto dos
ção da maioridade civil no ato da compra,
                                                 fumantes quanto dos não fumantes expos-
razão pela qual certamente os maços de ci-
                                                 tos à fumaça dos produtos de tabaco. O PLS
garros são plenamente acessíveis aos meno-
                                                 n. 315/08 foi aprovado pela Comissão de
res de 18 anos.
                                                 Constituição e Justiça em 10 de março deste
Nesse sentido, a legislação brasileira preci-    ano e, desde então, se encontra na Comissão
sa avançar, tornando mais rígidas as regras      de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal.
de restrição da publicidade, podendo chegar
                                                 Os baixos preços e impostos dos produtos
até mesmo à proibição total da promoção e
                                                 derivados do tabaco também devem ser en-
da comercialização dos produtos de tabaco.
                                                 frentados. O preço do cigarro brasileiro ainda
                                                                                                   12
O apoio dos educadores também é funda-           é muito baixo em comparação com outros
mental. É preciso que o tema tabagismo seja      países, o que facilita o acesso de jovens e das
trabalhado desde a infância e inserido trans-    classes economicamente desfavorecidas.
versalmente no currículo escolar sob seus
                                                 A partir de dezembro de 2003 ocorreram su-
diferentes ângulos (saúde, ecologia, cidada-
                                                 cessivos aumentos do Imposto sobre Produ-
nia, histórico, econômico). Outro enfoque é
                                                 tos Industrializados (IPI) de cigarros. No mais
estimular nas crianças e adolescentes uma
                                                 recente, em março de 2009, o Governo bra-
consciência crítica em relação às manipula-
                                                 sileiro promoveu um aumento da ordem de
ções publicitárias que promovem estilos de
                                                 49% dos impostos federais aplicados aos ci-
vida nocivos, entre eles o tabagismo.
                                                 garros importados ou de fabricação nacional.
Outros desafios importantes
                                                 Apesar do cenário de tributação forte apli-
Hoje uma das prioridades da saúde pública        cada aos cigarros no Brasil, o Governo bra-
é aprimorar a legislação federal para prote-     sileiro precisa continuar promovendo uma
ger integralmente a sociedade dos riscos do      política de incremento sistemático da tribu-
tabagismo passivo. O Brasil precisa aperfei-     tação aplicada a estes produtos, pois esta é
çoar a Lei Federal n. 9.294/96, hoje em vigor,   uma medida comprovadamente efetiva para
redução de consumo principalmente entre        A proposta da série Tabagismo: relevância da
os jovens, em consonância com os objetivos     temática na educação está baseada nas se-
de Saúde Pública trazidos pela Convenção-      guintes abordagens:
Quadro para Controle do Tabaco.
                                               •	 A contextualização do tabagismo como
Embora o Brasil tenha reduzido o consumo         um problema globalizado, tendo em vista
de tabaco, nosso país ainda é o maior expor-     que vários países encontram as mesmas
tador de fumo do mundo e o segundo maior         dificuldades que o Brasil. Por isto o tema
produtor de tabaco, e isso implica uma res-      do próximo Congresso Mundial Tabaco ou
ponsabilidade de buscar alternativas eco-        Saúde (The 15th World Conference on To-
nomicamente viáveis ao plantio do fumo.          bacco or Health - WCTOH) é “Rumo a um
Atualmente o Brasil tem 200.000 famílias         mundo livre de tabaco: Planejando glo-
fumicultoras que estão em vulnerabilidade        balmente, agindo localmente”, unindo es-
social, econômica e também sanitária, pois       forços mundiais, porém atuando em cada
a produção do tabaco traz sérios prejuízos       país de forma única, levando em conside-
aos produtores de fumo, como a doença da         ração suas especificidades. O tema taba-
folha do tabaco (envenenamento agudo por         gismo também pode ser considerado um
nicotina – pele), intoxicação por pesticidas     problema multissetorial, pois envolve não    13
e agrotóxicos, problemas respiratórios e ou-     só a área da saúde, mas também econo-
tros agravos à saúde.                            mia, legislação, educação, comunicação,
                                                 entre outras;
O Ministério do Desenvolvimento Agrário
coordena o Programa de Diversificação em       •	 A educação na construção de espaços que
Áreas Cultivadas com Tabaco, em implemen-        estimulem a discussão e a visão crítica
tação desde novembro de 2006, que tem por        dos jovens, por meio do conhecimento, e
objetivo proteger as gerações presentes e        o papel dos professores e dos jovens neste
futuras das devastadoras consequências sa-       panorama, evitando que novos consumi-
nitárias, sociais, ambientais e econômicas       dores sejam capturados e promovendo a
geradas pelo consumo e pela exposição à          cessação de fumar entre os já fumantes;
fumaça do tabaco. A implantação do progra-
ma necessita ser fortalecida e sua cobertura   •	 O cenário nacional da produção de taba-

ampliada, oferecendo assistência técnica e       co, ainda desconhecido, que apesar de

financeira para auxiliar a transição econô-      enaltecido como fonte de riqueza para o

mica dos fumicultores e trabalhadores cujos      país, esconde uma dura realidade de do-

meios de vida hoje dependam da produção          enças, condições de trabalho degradan-

do fumo.                                         tes, dependência econômica e pobreza.
Textos da série Tabagismo: relevância da temática na educação6

A série tem como objetivos fomentar ações educativas e promover debates qualificados que
contribuam para que a sociedade – e em particular os profissionais de educação – tenham
acesso às informações relativas à garantia de direitos de saúde da sociedade brasileira, princi-
palmente no que se refere aos jovens. Tendo em vista que desde 2003 o Brasil é signatário da
Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) – tratado internacional de saúde pública
que determina a adoção de medidas para controlar a epidemia do tabagismo, pretende-se,
nesta série, discutir a temática do tabaco de forma ampla, abordando as questões individuais,
sanitárias, sociais, econômicas, ambientais, institucionais e populacionais e o papel da escola
no enfrentamento dessas problemáticas.



TEXTO 1: Tabagismo: um problema globalizado

Este primeiro texto apresenta um panorama do problema tabagismo, com dados relativos ao
impacto do uso do tabaco sobre a saúde de quem fuma e de quem convive com o fumante e
também sobre a economia, abordando o quanto custa para o governo o tratamento das doen-
ças. O programa discutirá questões relacionadas à dependência da nicotina, a razão pela qual                      14
o tabagismo é reconhecido como doença pediátrica pela Organização Mundial da Saúde e as
estratégias utilizadas pela indústria do tabaco para conquistar novos consumidores no Brasil e
no mundo. O texto aborda também o primeiro tratado internacional de saúde – a Convenção-
Quadro para o Controle do Tabaco – e como essa obrigação legal exige que o Brasil avance com
sua política de controle do tabagismo.



TEXTO 2: Tabagismo entre adolescentes

O segundo texto apresenta dados que mostram ‘como’ e ‘porque’ os jovens são um impor-
tante alvo da indústria do tabaco, que procura formas cada vez mais sofisticadas para captar
adolescentes, cada vez mais cedo. Destaca as estratégias da propaganda ainda existente nos
pontos de venda, que utiliza simbolismos próprios da fase da adolescência para motivar os
jovens a experimentar e a usar o cigarro como um passaporte para o mundo adulto. Comenta
a introdução das marcas aromatizadas com sabores adocicados em embalagens cada vez mais


6	     Estes textos são complementares à série Tabagismo: relevância da temática na Educação, com veiculação no
programa Salto para o Futuro/TV Escola de 23/05/2011 a 27/05/2011.
sofisticadas e bonitas, visando aumentar a atratividade para os jovens, melhorar o sabor ruim
do cigarro, transmitir sensações agradáveis e a ideia de sabores diferenciados, facilitando,
dessa forma, a experimentação e o caminho da dependência para o consumo regular. Outro
ponto abordado neste texto é como o aumento de impostos e, consequentemente, o aumento
dos preços dos cigarros pode ser uma das medidas mais efetivas para reduzir o consumo do
tabaco. Estima-se que o adolescente é três vezes mais sensível ao preço que os adultos na com-
pra dos produtos de tabaco. Isso se deve ao fato de os adolescentes terem níveis menores de
dependência da nicotina, tendo em vista que eles usam tabaco há menos tempo, e ao fato de
que eles têm menor poder aquisitivo.



TEXTO 3: Fumicultura: impactos ambientais e na saúde

O terceiro texto apresenta um panorama da produção de tabaco no Brasil, incluindo seus as-
pectos econômicos (dependência financeira dos produtores, contratos abusivos), sociais (tra-
balho infantil, más condições de trabalho) e sanitárias (doenças e mortes na lavoura do fumo).
Este texto também aborda os futuros impactos da produção em consequência da diminuição
global do consumo e os esforços governamentais para oferecer alternativas economicamente
                                                                                                    15
viáveis e saudáveis para os fumicultores.


Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4: Outros olhares
sobre Tabagismo e educação e do PGM 5: Tabagismo e educação em debate.
texto 1

Tabagismo: um problema globalizado
                                                                                    Cristina de Abreu Perez1




Tabagismo como problema de                                 Atualmente existem cerca de 1,3 bilhões de

saúde pública                                              tabagistas no mundo, sendo que 80% deles
                                                           vivem em países pobres2. Trata-se de um
O tabagismo é o mais importante fator de ris-              consumo fortemente induzido e estimula-
co isolado para várias doenças, muitas delas               do por grandes companhias transnacionais
graves e fatais como o câncer, doenças car-                de fumo que atuam de forma globalizada,
diovasculares e o enfisema. É reconhecido                  buscando garantir a continuidade do ne-
como uma doença crônica e, por isso, está                  gócio em qualquer parte do planeta3. Essas
inserido na CID-10 (Classificação Internacio-
                                                           companhias têm conquistado novos merca-
nal de Doenças) da Organização Mundial da
                                                           dos, principalmente onde existem amplas
Saúde (OMS) como dependência da nicotina.
                                                           vulnerabilidades coletivas, traduzidas por
                                                                                                                  16
                                                           insuficiência de conhecimento da popula-
Morrem no mundo cerca de cinco milhões
                                                           ção sobre a realidade dos riscos do tabagis-
de pessoas por ano devido ao tabagismo,
                                                           mo e pela existência de representações so-
sendo 200 mil no Brasil. Segundo estimativas
                                                           ciais positivas relativas ao consumo de seus
da OMS, só no século XX a epidemia de taba-
                                                           produtos. As vulnerabilidades coletivas se
co matou cerca de 100 milhões de pessoas e,
                                                           tornam ainda maiores, quando a elas se as-
caso as atuais tendências de consumo sejam
                                                           sociam as vulnerabilidades políticas habil-
mantidas, no século XXI poderá matar cerca
                                                           mente construídas pelas companhias pro-
de 1 bilhão de pessoas. A OMS também esti-
                                                           dutoras de fumo em vários países, visando
ma que, a partir de 2020, de cada 10 mortes
                                                           criar um clima de “boa vontade política” e
atribuídas ao tabaco, sete ocorrerão nos paí-
                                                           assim bloquear ações de saúde pública que
ses em desenvolvimento, onde hoje já se con-
                                                           visam reduzir o tabagismo e suas conse-
centram 80% do consumo mundial de pro-
                                                           quências.
dutos de tabaco, principalmente de cigarros.

1	       Psicóloga. Técnica da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro
para o Controle do Tabaco / INCA - Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultora da série.
2	        World Health Organization 2008 – WHO Report on the Global Tobacco Epidemic – The MPOWER Package
p. 21. http://www.who.int/tobacco/mpower/mpower_report_full_2008.pdf
3	       Derek Yach, Douglas Bettcher. Globalisation of tobacco industry influence and new global responses Tob
Control 2000;9: 206-216.	 http://tobaccocontrol.bmj.com/cgi/content/abstract/9/2/206
Essa perspectiva da epidemia do tabagismo                    A análise e a divulgação do conteúdo desses
se tornou clara quando, em meados da dé-                     documentos contribuíram para fortalecer o
cada de 90, ações judiciais movidas por 46                   entendimento de que a indústria do tabaco
estados dos Estados Unidos contra compa-                     e suas práticas representam um fator causal
nhias de tabaco atuantes em seu mercado                      da expansão global da epidemia do tabagis-
confiscaram e tornaram públicos milhões de                   mo e das cerca de 5 milhões de mortes pro-
páginas de documentos confidenciais dessas                   vocadas por tabaco relacionadas no mundo
companhias. Esses documentos expuseram                       (World Health Organization, 2002)6,7,8 e das
práticas desleais e fraudulentas para promo-                 cerca de 5 milhões de mortes provocadas
ver a iniciação de crianças e adolescentes no                por tabaco relacionadas no mundo (World
tabagismo, manipular informações relevan-                    Health Organization, 2002)9,10,11.
tes para a saúde pública e, sobretudo, para                  A divulgação pela OMS de relatórios sobre
influenciar governantes, políticos e regula-                 esses documentos levou a 54a Assembleia
dores no sentido de impedir a adoção de me-                  Mundial de Saúde (AMS) a publicar em 2001
didas para redução do tabagismo4,5.                          uma resolução sobre “Transparência para o


4	       Office of the Attorney General . Master Settlement Agreement -	http://ag.ca.gov/tobacco/msa.php
5	       British American Tobacco Master settlement 1998 -                                                            17
	        http://www.bat.com/group/sites/uk__3mnfen.nsf/vwPagesWebLive/DO725LRG?opendocument&SKN=&
6	       Lista de relatórios e publicações baseadas nos documentos da indústria do tabaco - Tobacco Documents
Research: - A Bibliography -	 ttp://tobacco.health.usyd.edu.au/site/gateway/docs/Hirschhorn_List_A&B.htm
                            h
	      - Campaign for Tobacco-Free Kids (USA) Action on Smoking and Health (UK) May 2001 TRUST US: WE’RE
THE TOBACCO INDUSTRY 	http://www.ash.org.uk/html/conduct/html/trustus.html#_Toc514752786
	       - Pan American Health Organization, Regional Office of the World Health Organization, 2002, Bialous SA,
Shatenstein S. Profits over people: tobacco industry activities to market cigarettes and undermine Public Health in
Latin America and the Caribbean. Washington	           http://www.paho.org/English/HPP/HPM/TOH/profits_over
	        - Derek Yach, Douglas Bettcher. Globalisation of tobacco industry influence and new global responses. Tob
Control 2000; 9:206-216 -	 http://tobaccocontrol.bmj.com/cgi/content/abstract/9/2/206
7	      Pan American Health Organization, Regional Office of the World Health Organization, 2002, Bialous SA,
Shatenstein S. Profits over people: tobacco industry activities to market cigarettes and undermine Public Health in
Latin America and the Caribbean. Washington- http://www.paho.org/English/DD/PUB/profits_over_people.pdf
8	       World Health Organization 2008. Tobacco industry interference with tobacco control.
	        http://tobacco.georgetown.edu/tobprac/doc/TobaccoIndustryInterferencewithTobaccoControl.pdf
9	       Lista de relatórios e publicações baseadas nos documentos da indústria do tabaco - Tobacco Documents
Research: - A Bibliography -	 ttp://tobacco.health.usyd.edu.au/site/gateway/docs/Hirschhorn_List_A&B.htm
                            h
	      - Campaign for Tobacco-Free Kids (USA) Action on Smoking and Health (UK) May 2001 TRUST US: WE’RE
THE TOBACCO INDUSTRY 	http://www.ash.org.uk/html/conduct/html/trustus.html#_Toc514752786
10	     - Pan American Health Organization, Regional Office of the World Health Organization, 2002, Bialous SA,
Shatenstein S. Profits over people: tobacco industry activities to market cigarettes and undermine Public Health in
Latin America and the Caribbean. Washington	           http://www.paho.org/English/HPP/HPM/TOH/profits_over
11	      - Derek Yach, Douglas Bettcher. Globalisation of tobacco industry influence and new global responses Tob
Control 2000; 9:206-216 -	 http://tobaccocontrol.bmj.com/cgi/content/abstract/9/2/206
Controle do Tabaco” (Resolução n.18/2001),              tação nacional desse tratado ganhou o sta-
na qual solicitava a seus Estados Membros               tus de uma Política de Estado, e o Progra-
que se mantivessem alertas quanto a afilia-             ma Nacional de Controle do Tabagismo, até
ções entre a indústria do tabaco e os mem-              então articulado pelo Ministério da Saúde,
bros de suas delegações e orientava a OMS               passou a ser a Política Nacional de Controle
e seus Estados Membros a monitorar qual-                do Tabaco de caráter multissetorial, nortea-
quer esforço da indústria do tabaco para mi-            da pelos objetivos, princípios, obrigações e
nar os esforços para o controle do tabagis-             medidas da CQCT.
mo (World Health Assembly, 2001).
                                                        O Brasil tem avançado consideravelmente
Esse reconhecimento é também traduzido                  no controle do tabaco através de impor-
na seguinte declaração da OMS no Relatório              tantes medidas desenvolvidas desde 1989,
“A Epidemia Global de Tabaco”, publicado                como as campanhas de informação públi-
em 200812:                                              ca, implementação de leis para proteger os
                                                        fumantes e não fumantes da exposição pas-
      Todas as epidemias têm um meio de con-            siva, aumento dos preços dos cigarros, res-
      tágio, um vetor que dissemina doença e            trição à publicidade do tabaco, proibição de
      morte. Para a epidemia do tabagismo, o            venda a menores, advertências nas emba-              18
      vetor não é um vírus, uma bactéria ou             lagens dos produtos de tabaco, as ações de
      outro microrganismo – ele é uma indús-            regulação dos produtos em termos de con-
      tria e sua estratégia de negócio (World           teúdo e emissões, a proibição do patrocínio
      Health Organization, 2008).                       de eventos culturais e esportivos por produ-
                                                        tos de tabaco, a proibição dos descritores
Esse foi um dos cenários que levou à ne-                de marcas de cigarros tipo light, ultra light,
gociação e à adoção da Convenção-Quadro                 suave, os programas educativos em escolas,
para o Controle do Tabaco (CQCT), o primei-             ambientes de trabalho e unidades de saúde,
ro tratado internacional de saúde pública               dentre outros. Essas estratégias envolvem
negociado sob os auspícios da Organização               não só esforços de profissionais de saúde,
Mundial de Saúde (OMS) por 192 países.                  mas também de outros grupos sociais como
Em novembro de 2005, a adesão do Brasil a               educadores, legisladores, advogados, econo-
CQCT foi ratificada pelo Congresso Nacional             mistas, profissionais de comunicação social,
e promulgada pelo presidente da República               governantes, gestores, etc.
em janeiro de 2006. Com isso, a implemen-



12	        World Health Organization 2008 – WHO Report on the Global Tobacco Epidemic – The MPOWER Package
p. 21 http://www.who.int/tobacco/mpower/mpower_report_full_2008.pdf
A adoção dessas medidas contribuiu para que                  pulmão é superior a 90%. Através da análise
a prevalência do tabagismo em nosso país                     das taxas de mortalidades de doenças como
caísse de 33% quando foi realizado o primei-                 essas, podemos verificar importantes im-
ro estudo que apresentou dados sobre a pro-                  pactos positivos na saúde como o declínio
porção de fumantes em 1989, e mostrou que                    da mortalidade por neoplasia de traqueia,
havia cerca de 30 milhões de fumantes, entre                 brônquios e pulmão no Brasil em homens de
pessoas de 15 anos ou mais, sendo 40,3% ho-                  30 a 69 anos. A redução das taxas de morta-
mens e 26,2% mulheres13, para 17,2% ou seja,                 lidade por câncer entre homens mais jovens
25 milhões de fumantes, sendo 21,6% entre                    pode ser o resultado das ações nacionais
os homens e 13,1% entre as mulheres em                       para a redução da prevalência do tabagismo
2008, quando foi realizada pela primeira vez                 no país nas últimas décadas15.
a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domi-            O tabagismo está associado                              As taxas de mortali-
cílios/PNAD, incluindo             ao desenvolvimento e/                                dade por doença is-
a Pesquisa Especial so-                                                                 quêmica do coração
                                  ou agravo de mais de 50
bre Tabagismo/Petab,                                                                    também caíram em
                                   doenças, entre elas as
que apontou a preva-                                                                    todas as faixas etárias
lência de fumantes na
                                 doenças cardiovasculares                               e em ambos os sexos           19
população      brasileira         e vários tipos de câncer,                             no Brasil e nas regi-
acima de 15 anos14.             principalmente o câncer de                              ões Sudeste e Sul en-

                                          pulmão.                                       tre 1990 e 2006. Essas
O tabagismo está as-                                                                    tendências de declínio
sociado ao desenvol-                                                                    nas principais causas
vimento e/ou agravo de mais de 50 doenças,                   de morte entre as doenças do aparelho cir-
entre elas as doenças cardiovasculares e vá-                 culatório provavelmente refletem mudanças
rios tipos de câncer, principalmente o cân-                  no comportamento relacionadas ao contro-
cer de pulmão. O risco atribuível do taba-                   le dos principais fatores de risco, como por
gismo como agente etiológico do câncer de                    exemplo, o tabagismo16.


 13	     INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 1989. Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição/ PNSN. Rio de Janeiro,
1989.
14	      INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 2008. Pesquisa Especial de Tabagismo. Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro, 2009.
15	      Apresentação Dra. Deborah Malta. A Vigilância do Tabagismo no contexto da Vigilância de Doenças Crônicas
não transmissíveis. Coordenação de Doenças e Agravos Não Transmissíveis / Departamento de Análise de Situação
de Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde / Ministério da Saúde.
16	       Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2008: 20 anos de Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil / Ministério da
Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação em Saúde. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2009. 416 p. : il. – (Série G. Estatística e Informação em Saúde).
Custos do tabagismo                                             Tabagismo passivo

Além dos gastos públicos com ações educa-                       A ciência demonstrou de maneira inequívo-
tivas e assistenciais para a redução do taba-                   ca que o consumo e a exposição à fumaça do
gismo, a sociedade brasileira arca com um                       tabaco são causas de mortalidade, morbida-
enorme ônus decorrente das doenças rela-                        de e incapacidade e que as doenças relacio-
cionadas ao tabaco. Só em 2005, o Sistema                       nadas ao tabaco não se revelam imediata-
Único de Saúde (SUS) gastou cerca de 339                        mente após o início da exposição à fumaça
milhões de reais (R$ 338.692.516,00) apenas                     do tabaco e ao consumo de qualquer produ-

com hospitalização para casos de câncer,                        to derivado do tabaco18.

doenças cardiovasculares e respiratórias
                                                                O ar nas imediações de um fumante ativo
atribuíveis ao tabagismo. Esse montante
                                                                contém uma mistura da fumaça que sai da
correspondeu a quase 30% dos custos hos-
                                                                ponta do cigarro aceso e da fumaça assopra-
pitalares totais do SUS para o tratamento de
                                                                da no ambiente pelo fumante após a tragada
apenas três das cerca de cinquenta doenças
                                                                e contém pelo menos 250 substâncias quí-
tabaco relacionadas17.
                                                                micas tóxicas, incluindo mais de 50 que po-
                                                                dem causar câncer 19.                             20
Vale ressaltar que este é um problema que
aflige também os não fumantes, pois ao se                       Entre os adultos, globalmente, em torno de
exporem à fumaça de produtos de tabaco                          1/3 estão expostos regularmente ao tabagis-
(tabagismo passivo) correm sérios riscos                        mo passivo20. Vale ressaltar que grande par-
de desenvolverem câncer, infarto, infecções                     te da exposição ao tabagismo passivo ocorre
respiratórias, dentre outros agravos. Por                       em residências e locais de trabalho21.
isso, quando ocorre nos ambientes de traba-
lho, o tabagismo passivo é considerado um                       Não somente o cigarro é responsável por

risco ocupacional.                                              esta exposição, existem vários produtos de-
                                                                rivados do tabaco, que também produzem



17	     Pinto, M. F. T. – Custos de Doenças Tabaco-relacionadas. Uma Análise sob a Perspectiva da Economia e da
Epidemiologia. Tese de doutorado, Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde, Rio de Janeiro, 2007.
	       http://thesis.icict.fiocruz.br/cgi-bin/wxis1660.exe/lildbi/iah/?
18	      http://www.who.int/fctc/text_download/en/index.html
19	    http://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/fact_sheets/secondhand_smoke/general_facts/index.
htm#overview
20	     http://whqlibdoc.who.int/publications/2009/9789241563918_eng_full.pdf
21	      http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/
fumaça, como charuto, cachimbo, cigarro       de mulheres não fumantes estavam expostos
de palha, narguilé ou outro produto que       ao tabagismo passivo em 2004. Segundo as
contenha em sua composição tabaco. A ex-      estimativas do estudo, a exposição provocou
posição à fumaça de todos esses produtos      379 mil mortes coronarianas, 165 mil por in-
faz igualmente mal à saúde.                   fecções das vias respiratórias, 36,9 mil por
                                              causa da asma e 21,4 mil por causa de câncer
Especificamente o uso do tabaco é a prin-     de pulmão. Assim, no total, foram constata-
cipal causa de morte evitável e atualmente    dos 603 mil óbitos por fumo passivo.
continua a matar mais de 5 milhões de pes-
soas no mundo a cada ano, e esse número       Apenas 7,4% da população mundial vivem
tende a aumentar. No caso o tabagismo pas-    hoje sob legislação “não fumante”. Os au-
sivo, isoladamente, é responsável por mais    tores do estudo recomendam “um reforço
de 600 mil mortes ao ano no mundo, en-        imediato” da Convenção - Quadro para o
tre as quais 165 mil                                              Controle    do     Tabaco
crianças,     segundo                                             da OMS, que inclui a
                         O Sistema Único de Saúde
estimativas     publi-                                            adoção de ambientes
                           gasta R$ 19,15 milhões
cadas em dezembro                                                 100% livres da fuma-
de 2010 pela revista
                         por ano com diagnóstico                  ça do tabaco, taxas         21
britânica The Lan-       e tratamento de doenças                  mais elevadas para os
cet sobre o primeiro     causadas pelo tabagismo                  produtos derivados de
estudo que avalia o               passivo.                        tabaco,    embalagens
impacto global do                                                 de cigarros genéricas
tabagismo passivo,                                                (sem cores e imagens,
cujos autores são do Instituto Karolinska     com letras padronizadas) e com mensagens
de Estocolmo e da Organização Mundial da      de advertências sanitárias.
Saúde (OMS).
                                              Custos do tabagismo passivo
Se somadas estas 600 mil mortes aos 5,1 mi-
lhões de falecimentos atribuídos a cada ano   No Brasil, um estudo sobre os custos do
ao tabagismo ativo, chega-se a um total de    tabagismo passivo realizado em 2008 pelo
5,7 milhões de vítimas fatais causadas pelo   Programa de Pós-Graduação de Engenharia
tabagismo anualmente.                         da Universidade Federal do Rio de Janei-
                                              ro (Coppe/UFRJ) mostrou que o tabagismo
O estudo acima citado apresentou que, no
                                              passivo custa aos cofres públicos pelo me-
total, 40% de crianças, 33% de homens e 35%
                                              nos R$ 37 milhões todos os anos. O Sistema
Único de Saúde gasta R$ 19,15 milhões por                   •	 Infecções respiratórias (bronquite, pneu-
ano com diagnóstico e tratamento de doen-                     monia)
ças causadas pelo tabagismo passivo. O INSS
                                                            •	 Maior risco para a síndrome da morte sú-
desembolsa mais de R$ 18 milhões por ano
                                                              bita infantil23.
com pensões e benefícios relacionados ao
fumo passivo. Vale salientar que foram con-
siderados nesse estudo apenas a exposição                   Efeitos na saúde dos adultos
domiciliar ao tabagismo passivo22.
                                                            Em adultos que nunca fumaram, o tabagis-
                                                            mo passivo pode causar doenças cardiovas-
Efeitos na saúde                                            culares e/ou câncer24.

Entre as crianças, o tabagismo passivo causa:
                                                            Doença cardiovascular - Para os não-fuman-
                                                            tes, o tabagismo passivo tem efeitos nocivos
•	 Infecções de ouvido
                                                            imediatos no sistema cardiovascular que

•	 Mais frequentes e severas crises de asma                 pode aumentar o risco de ataque cardíaco.
                                                            Pessoas que já possuam doenças cardíacas
•	 Sintomas respiratórios (tosse, espirros,                 têm um risco ainda mais elevado25,26.                   22
    falta de ar)



22	      INCA e UFRJ, 2008. Governo gasta R$ 37 milhões por ano com vítimas do fumo passivo
	        http://www.inca.gov.br/impressao.asp?op=pr&id=1958
23	      U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to
Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers
for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006.
	        http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf
24	      U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to
Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers
for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006.
	        http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf
25	      U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to
Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers
for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006.
	        http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf
26	       Institute of Medicine. Secondhand Smoke Exposure and Cardiovascular Effects: Making Sense of the
Evidence. Washington: National Academy of Sciences, Institute of Medicine, 2009.
	       http://www.iom.edu/~/media/Files/Report%20Files/2009/Secondhand-Smoke-Exposure-and-
Cardiovascular-Effects-Making-Sense-of-the-Evidence/Secondhand%20Smoke%20%20Report%20Brief%202.ashx
Não Fumantes que estão expostos ao taba-                    9.294/96, hoje em vigor, pois esta se encon-
gismo passivo em casa ou no trabalho au-                    tra defasada quanto às diretrizes do aludido
mentam o seu risco de desenvolver doença                    artigo, ainda permitindo áreas reservadas
cardíaca em 25-30%27.                                       para fumar (fumódromos). Para tal, conta-
                                                            mos com o Projeto de Lei de nº 315/08, de
Câncer de pulmão - Não Fumantes que es-
                                                            autoria do Senador Tião Vianna, que atende
tão expostos ao fumo passivo em casa ou
                                                            às recomendações da OMS no que concerne
no trabalho aumentam o risco de câncer de
                                                            à efetiva proteção tanto dos fumantes quan-
pulmão em 20-30% .     28
                                                            to dos não fumantes expostos à fumaça dos
                                                            produtos de tabaco. Este PLS foi aprovado
O Brasil está na vanguarda do controle do
                                                            pela Comissão de Constituição e Justiça
tabaco no mundo, entretanto ainda enfren-
                                                            em 10 de março de 2010 e, desde então, se
tamos importantes desafios como a legisla-
                                                            encontra na Comissão de Assuntos Sociais
ção referente ao artigo 8º da CQCT – “prote-
                                                            (CAS) do Senado Federal.
ção contra a exposição à fumaça do tabaco”.
O Brasil precisa aperfeiçoar a Lei Federal n.



                                                                                                                    23




27	       U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to
Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers
for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006.
	       http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf
28	      U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to
Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers
for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease
Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006.
	       http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf
texto 2	

Tabagismo entre adolescentes
Tabagismo como problema de saúde pública no
mundo e no Brasil
                                                                                    Andréa Reis Cardoso 1



O tabagismo é reconhecido como uma do-                  Tabagismo e pobreza: um
ença crônica gerada pela dependência da                 ciclo vicioso
nicotina, estando por isso inserido na Clas-
sificação Internacional de Doenças (CID10)              Segundo entidades ligadas às Nações Uni-

da Organização Mundial da Saúde (OMS). É                das, como a Organização Mundial da Saúde

também o mais importante fator de risco                 (OMS), a Organization for Economic Coope-

isolado para cerca de 50 doenças, muitas de-            ration and Development (OECD) e o Banco

las graves e fatais, como o câncer, doenças             Mundial, o consumo de tabaco vem impon-
                                                        do uma carga econômica e social cada vez            24
cardiovasculares (angina e infarto), enfisema
pulmonar, derrame cerebral, entre outras.               mais pesada sobre muitos países de média
                                                        e baixa rendas. O tabagismo vem sendo

Um destaque considerável deve ser dado                  cada vez mais reconhecido como um fator

para o câncer de pulmão, que em cerca de                agravante da pobreza, da fome e da desnu-

90% dos casos ocorre em fumantes, o que                 trição, e, portanto, um entrave ao desen-

reforça a forte correlação dessa doença com             volvimento sustentável de um país (Paho,

o tabagismo (P. Vineis et al., 2004).                   2004).


Além disso, o tabagismo é uma doença pe-                Pesquisas nacionais mostram que o tabagis-

diátrica, pois quase 90% dos fumantes regu-             mo tende a se concentrar nas populações

lares começam a fumar antes dos 18 anos                 de menor renda e menor escolaridade, que

de idade. No Brasil o tabaco, especialmente             apresentam uma maior vulnerabilidade às

cigarro, é a segunda droga mais consumida               estratégias de mercado para estimular o

entre adolescentes (B. Travessa et al., 2001).          consumo (IBGE, 2008).




1	     Pedagoga. Técnica do Programa Nacional de Controle do Tabagismo - Instituto Nacional de Câncer.
Tabagismo: uma epidemia                         Segundo documentos internos das compa-

estrategicamente                                nhias de tabaco (abertos ao público, devido

construída pelo marketing                       a ações judiciais nos Estados Unidos):


Uma das questões que merece atenção es-              Eles representam o negócio de cigarros

pecial é a estratégia de marketing aplicada          do amanhã. À medida que o grupo etário

pelas indústrias fumageiras. As pessoas co-          de 14 a 24 anos amadurece, ele se tor-

meçam a fumar principalmente influencia-             nará a parte chave do volume total de

das pela publicidade do cigarro nos meios            cigarros, no mínimo pelos próximos 25

de comunicação. Essa publicidade associa o           anos (J. W. Hind, R. J. Reynolds Tobac-

fumo com um estilo de vida aventureiro, ao           co, internal memorandum, January 23,

sucesso, à beleza, à independência e à liber-        1975).

dade, com o intuito
de fazer com que o           As pessoas começam a                      O tabagismo
público identifique           fumar principalmente                     e a promoção
de alguma forma,
                                influenciadas pela                     da saúde
ainda que intangí-
                            publicidade do cigarro nos                                          25
vel e inconsciente,
                                                                       A prevenção e o con-
o alinhamento de
                             meios de comunicação.
                                                                       trole do tabagismo
seu ideal de autoi-
                                                                       compõem o quadro
magem a essas situ-
                                                                       de ações específicas
ações.
                                                a serem desenvolvidas para o alcance dos
                                                objetivos da Política Nacional de Promoção
Nesse processo, as propagandas também
                                                da Saúde. Frente a todo o exposto, torna-se
buscam explorar a curiosidade própria de
                                                evidente que o tabagismo é absolutamente
crianças e adolescentes e incentivá-los a ex-
                                                incompatível com a saúde.
perimentar seus produtos. Atualmente, há
um bilhão de jovens no mundo, sendo que
                                                E é sob a ótica da Promoção da Saúde que,
85% deles vivem em países em desenvolvi-
                                                desde 1989, a gestão e a governança do con-
mento, que podem ser considerados fuman-
                                                trole do tabagismo no Brasil vêm sendo ar-
tes. Segundo dados do Banco Mundial, dos
                                                ticuladas pelo Ministério da Saúde, através
cerca de 100 mil jovens que começam a fu-
                                                do Instituto Nacional de Câncer, o que inclui
mar todos os dias, 80% vivem em países em
                                                um conjunto de ações nacionais que com-
desenvolvimento.
põem o Programa Nacional de Controle do        PNCT para prevenir a iniciação dos jovens
Tabagismo (PNCT), tendo o INCA como ór-        ao consumo do tabaco. A razão para abor-
gão responsável por esse processo.             dar o tema tabagismo entre crianças e jo-
                                               vens, a importância da escola e do professor
O Programa Nacional de Controle do Taba-       e o que pode ser feito para este público se-
gismo tem como objetivo geral reduzir a        rão os temas abordados a seguir.
prevalência de fumantes e a consequente
morbimortalidade relacionada ao consumo
de derivados do tabaco no Brasil, seguindo
                                               A importância da escola
um modelo lógico onde ações educativas,        como canal de informação
de comunicação, de atenção à saúde, jun-       para a sociedade
to com ações legislativas e econômicas, se
                                                                       A   informação     da
potencializam para
                                                                       população sobre as
prevenir a iniciação
                            O Programa Saber Saúde,                    doenças      crônicas
ao tabagismo, pro-
mover a cessação do
                            desenvolvido nas escolas,                  e o estímulo a mu-

                               é uma das principais                    danças de compor-
tabagismo e prote-
                                                                       tamento são ações
ger a população dos         estratégias do PNCT para                                            26
                                                                       fundamentais para
riscos do tabagismo          prevenir a iniciação dos
                                                                       a prevenção de do-
passivo, alcançando           jovens ao consumo do                     enças. Esse proces-
assim o objetivo aci-
                                     tabaco.                           so tem como base
ma mencionado.
                                                                       o desenvolvimento

E, para tanto, um                                                      de ações educativas,

dos marcos estratégicos fundamentais tem                               no sentido de des-

sido a articulação de uma rede de parcerias    mistificar as doenças, assim como informar

envolvendo representações de Secretarias       sobre as possibilidades de evitá-las, estimu-

Estaduais e Municipais de Saúde e Educa-       lando a adoção de comportamentos saudá-

ção, de outros setores do Ministério da Saú-   veis dentro da ótica da Promoção da Saúde.

de, de outros Ministérios do governo, assim
como de organizações não governamentais        Para que isto seja possível, é necessário pro-

e de organizações internacionais intergo-      mover uma ampla difusão de conhecimen-

vernamentais em nível regional e global.       tos aliada à reflexão crítica, contribuindo
                                               para formar cidadãos capazes de optar por
O Programa Saber Saúde, desenvolvido nas       comportamentos responsáveis em relação à
escolas, é uma das principais estratégias do   sua saúde e à saúde coletiva.
A escola, espaço educativo por excelência,       serido e integrado no cotidiano e na cultu-
é um dos locais privilegiados para o desen-      ra escolar, irradiando-se, dessa forma, além
volvimento de um programa de educação            dos limites da escola.
para a saúde entre crianças e adolescentes.
Distingue-se das demais instituições por ser     Nesse contexto, os profissionais de educa-
aquela que oferece a possibilidade de educar     ção têm um papel fundamental que não se
através da construção de conhecimentos           restringe apenas ao fato de serem meros re-
resultantes do confronto dos diferentes sa-      passadores de informações. Sua atuação é,
beres: aqueles trazidos pelos alunos e seus      sobretudo, a de educar a partir da constru-
familiares, e que expressam crenças e valo-      ção de conhecimentos dentro do contexto
res culturais próprios; aqueles contidos nos     da cultura escolar. Nesta concepção, é im-
conhecimentos científicos veiculados pelas       portante que se reconheçam como modelos
diferentes disciplinas; os divulgados pelos      (suas atitudes e comportamentos também
meios de comunicação, muitas vezes frag-         ensinam) nos quais não só os alunos mas
mentados e desconexos, mas que devem ser         também toda a comunidade se inspiram
levados em conta por exercerem forte influ-      para adotar ou mudar comportamentos que
ência sociocultural; e aqueles trazidos pelos    podem contribuir para uma melhor qualida-
professores, constituídos ao longo de sua ex-    de de vida.                                     27

periência, resultantes de vivências pessoais
                                                 Por que trabalhar com
e profissionais, envolvendo crenças e se ex-
pressando em atitudes e comportamentos.
                                                 crianças e adolescentes?

                                                 De acordo com a Organização Mundial da
Esse encontro de saberes gera o que se con-
                                                 Saúde, o tabagismo já é considerado como
vencionou chamar “cultura escolar”, que
                                                 uma doença pediátrica, e é nessa fase tran-
assume expressão própria e particular em
                                                 sitória entre o “mundo infantil” e todas as
cada estabelecimento, embora apresente
                                                 suas brincadeiras lúdicas, de faz-de-conta, e
características comuns a tudo aquilo que é
                                                 a adolescência, que é um período caracte-
típico do mundo escolar.
                                                 rizado por transformações biológicas e psi-
                                                 cossociais, que tornam essa fase do ciclo de
Portanto, a cultura escolar configura e é
                                                 vida um momento de especial suscetibilida-
instituinte de práticas socioculturais (inclu-
                                                 de a estímulos externos. É nesse período – a
sive comportamentos) mais amplas, que ul-
                                                 adolescência – que o indivíduo busca formar
trapassam as fronteiras da escola. É dentro
                                                 sua futura identidade enquanto adulto, a
deste enfoque que se entende e se justifica
                                                 partir de seus sonhos e aspirações de ideais
um programa de educação para a saúde, in-
                                                 de autoimagem.
Quanto mais precocemente se der a exposi-         dade através deste grupo, mostrando que
ção aos fatores de risco, maiores as chances      fumar não é apenas antissocial, mas, acima
de adoecimento. Além disso, nas faixas etá-       de tudo, uma doença caracterizada pela de-
rias mais jovens, alguns estudos comprovam        pendência, cujos malefícios não se limitam
que, em muitos casos, a experimentação se         só aos fumantes, atingindo de forma ampla
dá entre os 9 e os 13 anos de idade, quando a     e danosa a todos e ao meio ambiente. As
dependência à nicotina se instala, iniciando      crianças são especialmente prejudicadas, ao
o processo acumulativo que aumenta o ris-         fumarem passivamente.
co de que as doenças se instalem.
                                                  As ações preventivas junto às crianças e aos
Outro aspecto é que a utilização da nicoti-       adolescentes incluem o envolvimento das
na é considerada por muitos como sendo a          escolas como um todo, no sentido de inserir
droga “porta de entrada” para o uso de dro-       conteúdos informativos sobre os malefícios
gas ilícitas, pois, frequentemente, tanto os      do tabaco e sobre os fatores de proteção no
usuários de álcool como os da maconha e           currículo escolar, auxiliando os alunos a de-
de outras drogas ilícitas fizeram uso, inicial-   senvolver uma vida saudável.
mente, de cigarros (USDHHS, 1994). Embora
uma droga não leve necessariamente à uti-         Para tal, é importante o desenvolvimento de     28
lização de outra, é pouco provável o uso de       ações que levem as escolas a se tornarem es-
uma droga sem o envolvimento prévio de            paços livres do consumo de derivados do ta-
outra (USDHHS, 1994).                             baco. Além disso, é importante garantir que
                                                  os professores, que são modelos de compor-
Um dos grandes obstáculos para o contro-
                                                  tamento nessa fase da vida, engajem-se nesse
le do tabagismo é o fato de a dependência
                                                  trabalho de forma coerente, deixando de fu-
à nicotina ser aceita por nossa sociedade e
                                                  mar ou não fumando na presença de seus alu-
reforçada pela publicidade indireta de seus
                                                  nos. Também é essencial que os pais e mem-
produtos, como um estilo de vida. As crian-
                                                  bros da comunidade local participem deste
ças crescem num ambiente onde os cigar-
                                                  processo, reconhecendo-se como modelos e
ros são anunciados e vendidos em qualquer
                                                  agentes de mudança de comportamento.
lugar; onde o ato de fumar é inserido como
comportamento desejável pelos meios de
comunicação; onde pessoas respeitadas e           O Programa Saber Saúde
admiradas fumam.
                                                  O Programa Saber Saúde possui como obje-
É fundamental, portanto, contribuir para          tivo formar cidadãos responsáveis e críticos,
uma mudança de comportamento da socie-            capazes de decidir sobre a adoção de estilos
de vida saudáveis, com responsabilidade so-      Assim, o trabalho a ser realizado não é uma
cial e sobre o meio ambiente, dentro de uma      simples campanha que chame a atenção
concepção mais ampla de saúde, ou seja,          para esse ou aquele fator de risco, para esta
“completo bem-estar físico, mental e social, e   ou aquela doença. É um programa de Pro-
não apenas ausência de doença” (OMS, 1948).      moção da Saúde, que implica o envolvimen-
                                                 to de todos os profissionais e alunos das
O Programa Saber Saúde, portanto, requer
                                                 escolas durante todo o ano letivo, fazendo
uma abordagem multi e interdisciplinar em
                                                 parte do projeto pedagógico da escola.
suas diferentes instâncias, tanto na concep-
ção como na execução, capaz de dar conta         Deve ser desenvolvido de forma contínua,
dos desafios decorrentes dos seus objetivos,     por professores das diferentes disciplinas,
e cuja efetivação torna necessário o estudo      nas diferentes séries, inserido no currículo e
dos diferentes aspectos relacionados à saú-      no cotidiano da escola.
de, para possibilitar
a adoção consciente                                                        O programa requer
                                  O Programa Saber
de comportamentos                                                          ações que envolvam
e estilos de vida.
                               Saúde tem no professor
                                                                           atividades de sala de
                                o profissional melhor                      aula e projetos mais    29
Como um programa               qualificado para a ação                     amplos, que possibi-
de educação para a
                                direta com os alunos.                      litem a discussão e
saúde a ser desen-
                                                                           a aquisição de infor-
volvido nas escolas
                                                                           mações de base cien-
implica,    também,
                                                                           tífica, instrumentos
ações concebidas, implementadas e avalia-
                                                 para o repensar, modificar ou adotar atitu-
das com a parceria de profissionais de edu-
                                                 des, práticas e comportamentos, a partir de
cação. O Programa Saber Saúde tem no pro-
                                                 um trabalho crítico e da vivência de novas
fessor o profissional melhor qualificado para
                                                 experiências.
a ação direta com os alunos.

                                                 Com essa finalidade, foram elaborados di-
Implementação do Programa                        versos materiais de apoio ao Programa Sa-
Saber Saúde                                      ber Saúde. E estes materiais visam instru-
                                                 mentalizar o professor para que ele possa,
A prevenção da exposição aos fatores de ris-
                                                 junto com os alunos, construir uma base de
co é um dos desdobramentos possíveis do
                                                 conhecimentos que proporcionem a adoção
tema Saúde, que deve se apresentar trans-
                                                 de comportamentos saudáveis.
versal ao currículo escolar.
O objetivo deste material é apoiar e reforçar,   GAJALAKSHMI, V.; PETO, R.; KANAKA, T.; P., J.
de maneira formal e informal, os trabalhos       H. A.. Smoking and mortality from tubercu-
da sala de aula, oferecendo informações so-      losis and other diseases in India; retrospec-
bre o tema através de linguagem lúdica e         tive study of 43,000 adult male deaths and
adequada à idade. A riqueza de mensagens         35,000 controls. The Lancet, 2003, v. 362, Is-
contida em cada um desses materiais propi-       sue 9.383, p. 507-515.
cia sua larga utilização como ponto de parti-
                                                 IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
da para diferentes atividades, dentro das vá-
                                                 micílios. Tabagismo 2008.
rias disciplinas, permitindo que, ao mesmo
tempo em que são ensinados os conteúdos          http://www.ash.org.uk/html/conduct/pdfs/
curriculares, as mensagens sobre o tabagis-      bat2005.pdf
mo sejam abordadas de forma incidental.
                                                 International Diabetes Federation. July 2003
Para saber mais sobre as ações desenvolvi-       - Diabetes and tobacco use: a harmful com-
das pelo Programa Nacional de Controle do        bination      http://www.idf.org/home/index.
Tabagismo, dentre elas o Programa Saber          cfm?node=1076
Saúde, procure a Secretaria Estadual de Saú-
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de do seu estado ou acesse o site do INCA                                                         30
                                                 an innovative industry: a look at flavored ci-
– www.inca.gov.br/tabagismo
                                                 garettes promoted by mainstream brands.
                                                 Am J Public Health, 2006, Feb. 96 (2):244-51.
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                                                                                                      31
texto 3

Fumicultura: impactos ambientais e na saúde

                                                                                  Felipe Lacerda Mendes1




O tabaco é hoje considerado uma epidemia,                A fumicultura e o Brasil
responsável por um em cada 10 óbitos em
                                                         A indústria do fumo se organiza num pe-
adultos, o que representa cerca de 5 milhões
                                                         queno número de grandes empresas que
de mortes ao ano e projeta um cenário de 10
                                                         dominam o mercado internacional e as ati-
milhões de mortes ao ano em 2020 (OMS,
                                                         vidades de produção e comercialização de
2007).
                                                         tabaco se estendem por mais de 50 países.
                                                         São essas empresas transnacionais que or-
Os níveis de prevalência do tabagismo têm
                                                         ganizam todo o complexo agroindustrial de
chamado a atenção dos governos de todo
                                                         tabaco, composto basicamente pela produ-              32
mundo, que vêm investindo esforços para
                                                         ção, processamento, beneficiamento e co-
reduzir a demanda pelo produto e para es-
                                                         mercialização do fumo em folha e de seus
timular a cessação do consumo. Todavia,
                                                         produtos derivados
existem aspectos sociais, ambientais e eco-
nômicos da produção de tabaco que preci-
                                                         Atualmente, os principais produtores de ta-
sam ser observados e contemplados pelas
                                                         baco no mundo são a China, o Brasil, a Índia,
políticas governamentais. Além de contri-
                                                         os EUA, o Zimbábue e a Indonésia. Somente
buir para o empobrecimento dos fuman-
                                                         esses países são responsáveis por aproxi-
tes e de suas famílias, especialmente as de
                                                         madamente 70% da produção mundial de
menor renda, devido às doenças e possíveis
                                                         tabaco (DESER, 2003a). Como as principais
perdas de produtividade, o tabaco também
                                                         empresas da indústria são transnacionais,
colabora para doenças e pobreza nas famí-
                                                         os lucros auferidos nos países onde se lo-
lias envolvidas no plantio e beneficiamento              calizam suas subsidiárias são enviados às
do tabaco (ECOSOC, 2006).                                suas matrizes, localizadas em países de-




1	       Advogado. Técnico da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro
para o Controle do Tabaco / INCA - Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultor da série.
senvolvidos, como é o caso da Souza Cruz,       basicamente por empresas transnacionais
que remete seu lucro para o Reino Unido, e      que operam com a produção, o processa-
a Philip Morris para os EUA (Campaign for       mento, o beneficiamento e a comercializa-
Tobacco Free Kids, 2001).                       ção do fumo em folha e de seus produtos de-
                                                rivados. Essas empresas se articulam com os
A posição alcançada pelo Brasil de 2º maior
                                                fumicultores em todas as fases da produção
produtor de folhas de fumo se deve a fato-
                                                agrícola e na sua organização financeira.
res como os reduzidos custos internos de
sua produção (emprego de fumicultores e
                                                Essa integração com os produtores se dá
suas famílias, resultando em menores gas-
                                                através de contratos pelos quais as empresas
tos com salários) e a não mecanização da
                                                se comprometem a fornecer assistência téc-
lavoura (que fornece uma melhor qualidade
                                                nica gratuita, a repassar somente insumos
ao produto, pois recebe maiores cuidados
                                                certificados e aprovados para uso na cultu-
manuais) (Ministério da Saúde, 2000).
                                                ra, a avalizar os financiamentos de insumos
                                                e investimentos, a custear o transporte da
A Região Sul concentra a maior produção de
                                                produção, desde a propriedade dos agricul-
fumo nacional, com 96,4% do total da pro-
dução brasileira. Todos os estados do Sul são   tores até as empresas, e a comprar integral-
                                                mente a safra contratada por preços nego-      33
produtores, destacando-se o Rio Grande do
Sul. Também há produção de fumo em me-          ciados com a representação dos produtores.

nor quantidade em Alagoas, Bahia e Sergipe      Cabe aos produtores produzir os volumes de

(DESER, 2003b).                                 fumo contratados, utilizar somente insumos
                                                recomendados pela empresa e comercializar
Embora a indústria do tabaco apresente a        a totalidade de sua produção contratada aos
produção de tabaco como uma atividade           preços negociados (DESER, 2003a).
que gera riqueza, desenvolvimento e empre-
go para o país, não se pode dizer que os be-    Nesse contexto, os fumicultores são obriga-
nefícios sociais dessa inserção se traduzam     dos a usar tecnologia, sementes, fertilizan-
em melhor qualidade de vida e saúde para os     tes e pesticidas fornecidos pelos técnicos
indivíduos envolvidos na produção agrícola      da companhia de tabaco e a assumirem os
- o elo mais vulnerável da cadeia produtiva.
                                                custos dos insumos e infraestrutura exigi-
                                                dos (a construção de fornos de tijolos para
Características sociais e
                                                a secagem e os custos do reflorestamento
econômicas da fumicultura
                                                para a reposição da madeira, como a lenha

Atualmente, a fumicultura é integrada ao        utilizada nos fornos) (Erdmann & Pinheiro,

complexo agroindustrial do fumo, composto       1998).
Os contratos estabelecidos entre a indús-        constitui-se de topografia acidentada, onde
tria e os produtores funcionam feito um          a utilização da mecanização é quase impra-
regimento, com regras definidas unilateral-      ticável, tornando o trabalho na lavoura in-
mente pelas fumageiras, num modelo que           tensivo e extenuante.
sugere inúmeras facilidades e conveniên-
cias apresentadas como vantagens, princi-
                                                 Os rendimentos Provenientes
palmente, para os agricultores descapitali-
                                                 da produção agrícola
zados. As indústrias controlam também o
sistema de classificação das folhas de fumo,     As companhias de tabaco e a Associação dos
onde conseguem reduzir o valor pago ao re-       Fumicultores do Brasil (AFUBRA) divulgam
baixar a classificação feita pelo fumicultor e   amplamente que produzir tabaco gera um
sua família, amarrando-o num ciclo de en-        rendimento elevado para os fumicultores e
dividamento, dependência e subordinação.         que nenhuma outra atividade agrícola pro-
                                                                         duz a mesma rentabi-
A   atual   estraté-                                                     lidade.
                             A mão de obra envolvida
gia organizacional
                               na cultura do fumo é
tem permitido que                                                        No    entanto,   análi-
a indústria do ta-             predominantemente                         ses   mais   cuidado-     34
baco se mantenha                     familiar.                           sas mostram que a
conectada com a                                                          renda média mensal
produção agrícola                                                        das famílias por tra-
e exerça um absoluto controle sobre o pro-       balhador é de um terço do salário mínimo
cesso produtivo e as atividades dos fumicul-     nacional (ETGES et al., 2002). Uma análise
tores. Ao mesmo tempo, tem evitado todas         dos diversos indicadores que compõem o
as responsabilidades de uma relação formal       Índice de Desenvolvimento Humano - IDH
empregador-empregado.                            (expectativa de vida, taxa de alfabetização,
                                                 as taxa de frequência escolar e renda per ca-
A mão de obra envolvida na cultura do fumo       pita), mostram que as principais áreas pro-
é predominantemente familiar. Em média,          dutoras de fumo na Região Sul apresentam
trabalham na lavoura do fumo cerca de 3 a        média abaixo do índice estadual; e, inclusi-
4 integrantes de cada família, o que equiva-     ve, as taxas de frequência escolar e de renda
le a cerca de 520 mil pessoas atuando nes-       nos municípios onde predomina a atividade
sa atividade, principalmente nos períodos        agrícola com o fumo são inferiores às dos
do plantio, colheita, classificação e cura do    municípios onde não se produz tabaco (Bo-
fumo. Grande parte das regiões produtoras        nato, 2007).
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Tabagismo: relevância da temática na educação

  • 1. ISSN 1982 - 0283 TABAGISMO: RELEVÂNCIA DA TEMÁTICA NA EDUCAÇÃO Ano XXI Boletim 06 - Maio 2011
  • 2. Sumário Tabagismo: relevância da temática na educação Apresentação da série ................................................................................................. 3 Rosa Helena Mendonça Introdução ................................................................................................................ 4 Cristina de Abreu Perez e Felipe Lacerda Mendes Texto 1: Tabagismo: um problema globalizado ........................................................... 16 Cristina de Abreu Perez Texto 2: Tabagismo entre adolescentes Tabagismo como problema de saúde pública no mundo e no Brasil........................... 24 Andréa Reis Cardoso Texto 3: Fumicultura: impactos ambientais e na saúde .......................... ................... . 32 Felipe Lacerda Mendes
  • 3. Tabagismo: relevância da temática na educação APRESENTAÇÃO DA SÉRIE Um tema complexo, necessário, urgente, sam a um só tempo evitar a adesão de novos que tem reflexos na saúde, na economia, na consumidores e auxilar os já fumantes a pa- educação. Um produto que já foi símbolo rarem de fumar. de emancipação, glamour e juventude. Que passou por muitas bocas e rodou de mão A série Tabagismo: relevância da temática em mão nos mais diversos espaços. Ele já foi na educação, que a TV Escola apresenta por associado a situações significativas da vida: meio do programa Salto para o Futuro, pre- a momentos alegres, como festas e encon- tende ser uma contribuição no sentido de tros, e também a momentos tristes ou ten- estimular a prevenção, compartilhando com sos, como despedidas. Estamos falando do professores e professoras de todo o país in- cigarro e dos fumantes, mas na verdade es- formações e ações no âmbito do Programa tamos abordando todo o universo que vai da Nacional de Controle do Tabagismo. A série, indústria do tabaco à fumicultura, da pro- que conta com a consultoria de Cristina Pe- 3 paganda à comercialização, passando pelos rez e Felipe Mendes (INCA – MS), aborda es- muitos elos dessa cadeia. Mas estamos fa- tes temas, entre outros: o tabagismo como lando, sobretudo, de iniciativas e de políti- um problema de saúde pública globalizado; cas que pretendem interferir de maneira in- a disseminação do fumo entre os jovens; e cisiva nessa questão do controle do tabaco as questões ambientais e de saúde decorren- na sociedade. tes da fumicultura e da indústria do cigarro. Temática de grande alcance social, o en- Os textos relativos a esta série e os progra- frentamento à indústria do tabaco envolve mas televisivos se apoiam em pesquisas e profissionais de diferentes setores. No caso experiências sobre a temática e poderão cer- dos educadores, a relevância se deve primor- tamente sensibilizar professores, gestores e dialmente ao fato de que é na infância e na comunidade escolar em geral no sentido de adolescência que os primeiros cigarros são se alinharem a essas iniciativas. experimentados. Assim, o espaço escolar se apresenta como privilegiado no sentido de Rosa Helena Mendonça1 informar e promover discussões que pos- 1 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
  • 4. Tabagismo: relevância da temática na educação Introdução Cristina de Abreu Perez1 Felipe Lacerda Mendes 2 A proposta da série Tabagismo: relevância ocorre atualmente nos locais de grande fre- da temática na educação visa possibilitar o quência de jovens. debate de um assunto polêmico, sem ques- tionar posições individuais, com base em Essa abordagem negativa é exercida pelos dados e fatos científicos que muitas vezes fabricantes dos produtos de tabaco, como são desconhecidos, o que, infelizmente, leva os cigarros, com o objetivo claro de captar a decisões equivocadas ou desavisadas de novos consumidores para seus produtos que crianças e jovens que acreditam estar no ca- matam um em cada dois usuários regulares3! 4 minho certo. Considerações gerais A possibilidade do diálogo, principalmente no ambiente educacional, proporciona esco- O Brasil, historicamente, tem desenvolvido lhas mais equilibradas e saudáveis. Quando um importante programa de controle do falamos de tabagismo, estamos numa seara tabaco e alcançado grandes avanços nesta onde a manipulação dos fatos e o discurso área, conforme demonstra o gráfico a se- falacioso reinam há muitas décadas, tanto guir, que o coloca na vanguarda das ações nas propagandas que existiam na televisão necessárias para se contrapor a essa pode- até o ano 2000, quanto indiretamente, como rosa indústria. 1 Psicóloga. Técnica da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco / INCA- Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultora da série. 2 Advogado. Técnico da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco / INCA - Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultor da série. 3 Esson, Katharine M. The Millennium development goals and tobacco control: an opportunity for global. Page xi. World Health Organization 2004. http://www.who.int/tobacco/publications/mdg_final_for_web.pdf
  • 5. GRÁFICO 40 34.8 35 30 Prevalência (%) 25 22,4 20 18.2 15 10 5 0 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 Ano 5 Legenda 1 Início das campanhas anuais de conscien- 7 Proibição do uso de termos light, baixos tização da população teores e similares nas embalagens de pro- dutos de tabaco 2 Introdução de novas advertências sanitá- rias nas embalagens 8 Inclusão do telefone do serviço Disque Pare de Fumar nas embalagens 3 Restrições na propaganda de produtos de tabaco 9 Inclusão do tratamento do tabagismo no Sistema Único de Saúde 4 Proibição da venda de produtos de tabaco a menores de 18 anos 10 Ratificação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco no Congresso Nacio- 5 Proibição do tabagismo em recintos coleti- nal vos, exceto em fumódromos 6 Criação de uma comissão interministe- rial de controle do tabagismo Fonte: MS/Fiocruz, 2003. Pesquisa Mundial da Saúde MS/IBGE, 1989. Pesquisa Nacional de Saúde  e Nutrição.
  • 6. Essas estratégias envolvem não só esforços cionais de tabaco estão sempre buscando es- de profissionais de saúde, mas também de tratégias para diminuir o impacto das ações outros grupos sociais como educadores, le- de controle do tabaco e ampliar a quantida- gisladores, advogados, economistas, profis- de de consumidores dos seus produtos. sionais de comunicação social, governantes e gestores. A influência da promoção A adoção dessas medidas contribuiu para dos produtos do que a prevalência do tabagismo em nosso tabaco entre crianças e país caísse de 33% em 1989 (havia cerca de adolescentes 30 milhões de fumantes maiores de 15 anos, Essa é uma das questões que merece aten- sendo 40,3% homens e 26,2% mulheres) ção. As pessoas começam a fumar prin- para 17,2% em 2008, ou seja, 25 milhões de cipalmente influenciadas pelas ações de fumantes (21,6% entre os homens e 13,1% publicidade e promoção do cigarro, que entre as mulheres), quando foi realizada associam o fumo com um estilo de vida pela primeira vez a Pesquisa Especial sobre aventureiro, a falsa imagem de que fumar Tabagismo dentro da Pesquisa Nacional por está ligado ao bom desempenho sexual e Amostra de Domicílios do IBGE. 6 esportivo, ao sucesso, à beleza, à indepen- Nosso país, desde 2003, é signatário da Con- dência e à liberdade, com o intuito de fazer venção-Quadro para o Controle do Tabaco com que o público identifique de alguma (CQCT) – primeiro tratado internacional de forma, ainda que intangível e inconsciente, saúde pública da Organização Mundial da o alinhamento de seu ideal de autoimagem Saúde que determina a adoção de medidas a essas situações. para controlar a epidemia do tabagismo. Com isso, a implementação nacional desse Nesse processo, as ações de promoção tam- tratado ganhou o status de uma política de bém buscam explorar a curiosidade própria Estado, e o Programa Nacional de Contro- de crianças e adolescentes e incentivá-los le do Tabagismo, até então articulado pelo a experimentar seus produtos. Atualmente, Ministério da Saúde, passou a ter um cará- existe um bilhão de jovens no mundo, sendo ter multissetorial, norteado pelos objetivos, que 85% deles vivem em países em desenvol- princípios, obrigações e medidas na CQCT. vimento. Segundo dados do Banco Mundial, dos cerca de 100 mil jovens que começam a Entretanto, muito ainda precisa ser feito, fumar todos os dias, 80% vivem em países pois infelizmente as companhias transna- em desenvolvimento.
  • 7. Documentos internos de grandes compa- dos que não fumam, os seus símbolos de in- nhias de tabaco abertos ao público, devido a dependência e liberdade, sua necessidade de ações judiciais nos Estados Unidos, compro- afirmação. Além de procurar conhecer a cre- vam essas afirmativas. Em um desses docu- dibilidade dos diferentes profissionais frente mentos, uma grande companhia de cigarros ao público jovem, visando associar sua ima- manifesta seu entendimento de que captar gem ao consumo de tabaco para que sirvam os jovens para o consumo é essencial para a de modelo de comportamento de fumar: sobrevivência econômica do negócio4. É importante saber tanto quanto possí- vel sobre os padrões de tabagismo dos Eles representam o negócio de cigarros adolescentes. Os adolescentes de hoje do amanhã. À medida que o grupo etário são os potenciais consumidores regula- de 14 a 24 anos amadurece, ele se tor- res de amanhã, e a grande maioria dos nará a parte chave do volume total de fumantes começa a fumar na sua ado- cigarros, no mínimo pelos próximos 25 lescência... Devido ao grande espaço que anos (J. W. Hind, R. J. Reynolds Tobac- ocupa no mercado entre os fumantes co, internal memorandum, January 23, mais jovens, a Philip Morris sofrerá mais 1975). do que qualquer outra companhia com 7 o declínio do número de adolescentes Atingir o jovem pode ser mais eficiente, fumantes (Memorando enviado por um mesmo que o custo para atingi-los seja pesquisador da Philip Morris, Myron E. maior, porque eles estão desejando expe- Johnston, para Robert B. Seligman, vice- rimentar, eles têm mais influência sobre presidente de pesquisa e desenvolvimen- os outros da sua idade do que eles terão to da Philip Morris, 1981). mais tarde, e porque eles são muito mais leais a sua primeira marca (Escrito por (…) um cigarro para o iniciante é um ato um executivo da Philip Morris em 1957). simbólico. Eu não sou mais a criança da minha mãe, eu sou forte, eu sou um Esses documentos também mostram nitida- aventureiro, eu não sou quadrado... Na mente que, com o intuito de melhor conhe- medida em que a força do simbolismo cer a percepção e as necessidades dos jovens psicológico diminui, o efeito farmacoló- consumidores, a indústria realiza pesquisas gico assume o papel de manter o hábito buscando conhecer os diferentes tipos de (Rascunho de relatório do Quadro de Di- família às quais pertencem, a classe social retores da Phillip Morris, 1969). 4 http://www.ash.org.uk/html/conduct/pdfs/bat2005.pdf
  • 8. Os fabricantes de tabaco têm amplo co- A adolescência é caracterizada por transfor- nhecimento de que raramente alguém ex- mações biológicas e psicossociais que tor- perimenta seu primeiro cigarro depois da nam essa fase do ciclo de vida um momen- infância e adolescência. Diferentes compa- to de especial suscetibilidade a estímulos nhias de tabaco têm manifestado seu enten- externos, principalmente para aqueles que dimento sobre a importância do marketing não contam com um sólido suporte social para os jovens como uma estratégia de so- da família. É nesse período que o indivíduo brevivência no mercado. busca formar sua futura identidade enquan- to adulto, a partir de seus sonhos e aspira- Se a companhia quiser sobreviver e pros- ções de ideais de autoimagem. perar no longo prazo devemos conseguir uma fatia de mercado jovem... Assim nós Assim, sofisticadas propagandas transfor- precisamos elaborar novas marcas que mam as marcas de cigarros em um passa- sejam particularmente atraentes para porte para o mundo adulto. Diferentes mar- o jovem fumante, e ao mesmo tempo cas são construídas e associadas a imagens agradem todos os fumantes... Talvez es- e ideias para atingir os jovens que gostariam sas questões possam ser melhor aborda- de se ver como adultos arrojados ou como das considerando os fatores que influen- intelectuais ou, quem sabe, como esportis- 8 ciam os pré-fumantes a experimentarem tas radicais ou artistas ousados e criativos. um cigarro, aprender a fumar, e se tor- Há também marcas para os que se identifi- nar fumantes definitivos (R. J. Reynolds, cam com o mundo rural ou com o mundo 1973). zen, ou mesmo para os que querem se sentir “cidadãos do mundo”. IMAGEM 1
  • 9. Embalagens dos produtos de o próprio cigarro – uma extensão visível tabaco como estratégia para da personalidade da marca (e do consu- captar novos fumantes e midor) (...) (Phillip Morris, 1989). manter consumidores Nosso veículo final de comunicação com Há mais de um século, companhias de taba- nosso fumante é o maço propriamente co desenvolvem sofisticadas estratégias de dito. Na falta do qualquer outra mensa- marketing para as embalagens de seus pro- gem de marketing, nossa embalagem… é dutos, com o objetivo de reforçar a iniciação a única forma de comunicação da essên- do tabagismo entre jovens e a manutenção cia de nossa marca. De qualquer forma – da dependência e do consumo entre os usu- quando você não tem nada mais – nossa ários regulares. Essa estratégia tem se torna- embalagem é nosso marketing (...) (The do cada vez mais utilizada, principalmente Philippine tobacco industry). devido à tendência mundial de banir a pro- paganda dos produtos de tabaco. Ao contrário de outros produtos onde a em- balagem é descartada depois de aberta, os Os documentos internos de companhias de fumantes geralmente mantêm o maço até tabaco abertos ao público por ações judiciais consumir todos os cigarros. Ou seja, os ma- 9 também demonstram o quanto o design das ços ficam 24 horas por dia com os fumantes, embalagens é essencial para a expansão do que os levam para todos os lugares, deixan- consumo. do-os constantemente expostos. Por isso, as embalagens funcionam como uma forma de A percepção dos consumidores é basea- propaganda, permitindo um alto grau de vi- da no design da embalagem, nos pontos sibilidade social do produto. Daí o reconhe- de vendas e nos padrões de uso (...). cimento dos maços de cigarros como produ- to “crachá”, “emblema” ou “símbolo”5. A construção da marca do cigarro está no maço – o ‘crachá’ que as pessoas Desde a restrição da promoção e da publici- mostram... Fora das embalagens os ci- dade de produtos do tabaco, a indústria do garros são virtualmente indistinguíveis… tabaco passou a buscar brechas legais que Cores e desenhos devem ser levados para permitissem manter e diversificar as estra- 5 Wakefield, M.; Morley, C.; Horan J. K.; Cummings, K.M. The cigarette pack as image: new evidence from tobacco industry documents. Tob Control, 2002, Mar. 11 (Suppl. 1): S73-80. Lewis, M. J.; Wackowski, O. Dealing with an innovative industry: a look at flavored cigarettes promoted by mainstream brands. Am J. Public Health. 2006, Feb., 96 (2): 244-51.
  • 10. tégias de promoção dos seus produtos, tal é a logomarca do fabricante são utilizados a importância da propaganda na expansão na promoção de eventos, shows e ativida- do consumo de produtos de tabaco, espe- des culturais; a colocação da publicidade cialmente de cigarros. em pontos de maior visibilidade, como su- permercados e padarias; a diversificação da Alguns exemplos das estratégias da indús- propaganda no próprio ponto de venda; sua tria do fumo são: a utilização do chamado proximidade com produtos para crianças, patrocínio institucional, em que o nome e como doces e balas, etc. IMAGEM 2 10 É importante observar o destaque dado aos sanitária nas embalagens, as quais buscam investimentos nas embalagens dos produ- informar a população sobre a realidade e tos derivados do tabaco, que se tornaram a dimensão dos riscos do tabagismo e, ao ainda mais atraentes, ostentando formas mesmo tempo, gerar entre os consumidores coloridas, referências a esportes, moda, mú- dos produtos de tabaco uma reação de rejei- sica. Para enfrentar esta estratégia, o Brasil ção aos produtos. vem investindo em imagens de advertência
  • 11. IMAGENS 3 E 4 Outra ação da indústria é a venda comparti- te os que despertam interesse nos jovens, lhada, ou seja, a venda de maços de cigarros como relógios, bolsas de viagens, CDs de casada com outros produtos, principalmen- música, estojos de maquiagem e cinzeiros. IMAGEM 5 11
  • 12. A venda compartilhada de cigarros e pro- pois esta se encontra defasada quanto às dutos que agradam os jovens mobiliza o recomendações da OMS e às diretrizes da interesse e, consequentemente, leva ao au- Convenção-Quadro para o Controle do Taba- mento da experimentação e da iniciação ao co (artigo 8º do tratado). tabagismo. Soma-se a isso o fato de que a Para tal, contamos com o Projeto de Lei nº rede varejista não tem como prática solici- 315/08, de autoria do senador Tião Vianna, tar aos seus consumidores uma comprova- que concerne à efetiva proteção tanto dos ção da maioridade civil no ato da compra, fumantes quanto dos não fumantes expos- razão pela qual certamente os maços de ci- tos à fumaça dos produtos de tabaco. O PLS garros são plenamente acessíveis aos meno- n. 315/08 foi aprovado pela Comissão de res de 18 anos. Constituição e Justiça em 10 de março deste Nesse sentido, a legislação brasileira preci- ano e, desde então, se encontra na Comissão sa avançar, tornando mais rígidas as regras de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal. de restrição da publicidade, podendo chegar Os baixos preços e impostos dos produtos até mesmo à proibição total da promoção e derivados do tabaco também devem ser en- da comercialização dos produtos de tabaco. frentados. O preço do cigarro brasileiro ainda 12 O apoio dos educadores também é funda- é muito baixo em comparação com outros mental. É preciso que o tema tabagismo seja países, o que facilita o acesso de jovens e das trabalhado desde a infância e inserido trans- classes economicamente desfavorecidas. versalmente no currículo escolar sob seus A partir de dezembro de 2003 ocorreram su- diferentes ângulos (saúde, ecologia, cidada- cessivos aumentos do Imposto sobre Produ- nia, histórico, econômico). Outro enfoque é tos Industrializados (IPI) de cigarros. No mais estimular nas crianças e adolescentes uma recente, em março de 2009, o Governo bra- consciência crítica em relação às manipula- sileiro promoveu um aumento da ordem de ções publicitárias que promovem estilos de 49% dos impostos federais aplicados aos ci- vida nocivos, entre eles o tabagismo. garros importados ou de fabricação nacional. Outros desafios importantes Apesar do cenário de tributação forte apli- Hoje uma das prioridades da saúde pública cada aos cigarros no Brasil, o Governo bra- é aprimorar a legislação federal para prote- sileiro precisa continuar promovendo uma ger integralmente a sociedade dos riscos do política de incremento sistemático da tribu- tabagismo passivo. O Brasil precisa aperfei- tação aplicada a estes produtos, pois esta é çoar a Lei Federal n. 9.294/96, hoje em vigor, uma medida comprovadamente efetiva para
  • 13. redução de consumo principalmente entre A proposta da série Tabagismo: relevância da os jovens, em consonância com os objetivos temática na educação está baseada nas se- de Saúde Pública trazidos pela Convenção- guintes abordagens: Quadro para Controle do Tabaco. • A contextualização do tabagismo como Embora o Brasil tenha reduzido o consumo um problema globalizado, tendo em vista de tabaco, nosso país ainda é o maior expor- que vários países encontram as mesmas tador de fumo do mundo e o segundo maior dificuldades que o Brasil. Por isto o tema produtor de tabaco, e isso implica uma res- do próximo Congresso Mundial Tabaco ou ponsabilidade de buscar alternativas eco- Saúde (The 15th World Conference on To- nomicamente viáveis ao plantio do fumo. bacco or Health - WCTOH) é “Rumo a um Atualmente o Brasil tem 200.000 famílias mundo livre de tabaco: Planejando glo- fumicultoras que estão em vulnerabilidade balmente, agindo localmente”, unindo es- social, econômica e também sanitária, pois forços mundiais, porém atuando em cada a produção do tabaco traz sérios prejuízos país de forma única, levando em conside- aos produtores de fumo, como a doença da ração suas especificidades. O tema taba- folha do tabaco (envenenamento agudo por gismo também pode ser considerado um nicotina – pele), intoxicação por pesticidas problema multissetorial, pois envolve não 13 e agrotóxicos, problemas respiratórios e ou- só a área da saúde, mas também econo- tros agravos à saúde. mia, legislação, educação, comunicação, entre outras; O Ministério do Desenvolvimento Agrário coordena o Programa de Diversificação em • A educação na construção de espaços que Áreas Cultivadas com Tabaco, em implemen- estimulem a discussão e a visão crítica tação desde novembro de 2006, que tem por dos jovens, por meio do conhecimento, e objetivo proteger as gerações presentes e o papel dos professores e dos jovens neste futuras das devastadoras consequências sa- panorama, evitando que novos consumi- nitárias, sociais, ambientais e econômicas dores sejam capturados e promovendo a geradas pelo consumo e pela exposição à cessação de fumar entre os já fumantes; fumaça do tabaco. A implantação do progra- ma necessita ser fortalecida e sua cobertura • O cenário nacional da produção de taba- ampliada, oferecendo assistência técnica e co, ainda desconhecido, que apesar de financeira para auxiliar a transição econô- enaltecido como fonte de riqueza para o mica dos fumicultores e trabalhadores cujos país, esconde uma dura realidade de do- meios de vida hoje dependam da produção enças, condições de trabalho degradan- do fumo. tes, dependência econômica e pobreza.
  • 14. Textos da série Tabagismo: relevância da temática na educação6 A série tem como objetivos fomentar ações educativas e promover debates qualificados que contribuam para que a sociedade – e em particular os profissionais de educação – tenham acesso às informações relativas à garantia de direitos de saúde da sociedade brasileira, princi- palmente no que se refere aos jovens. Tendo em vista que desde 2003 o Brasil é signatário da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) – tratado internacional de saúde pública que determina a adoção de medidas para controlar a epidemia do tabagismo, pretende-se, nesta série, discutir a temática do tabaco de forma ampla, abordando as questões individuais, sanitárias, sociais, econômicas, ambientais, institucionais e populacionais e o papel da escola no enfrentamento dessas problemáticas. TEXTO 1: Tabagismo: um problema globalizado Este primeiro texto apresenta um panorama do problema tabagismo, com dados relativos ao impacto do uso do tabaco sobre a saúde de quem fuma e de quem convive com o fumante e também sobre a economia, abordando o quanto custa para o governo o tratamento das doen- ças. O programa discutirá questões relacionadas à dependência da nicotina, a razão pela qual 14 o tabagismo é reconhecido como doença pediátrica pela Organização Mundial da Saúde e as estratégias utilizadas pela indústria do tabaco para conquistar novos consumidores no Brasil e no mundo. O texto aborda também o primeiro tratado internacional de saúde – a Convenção- Quadro para o Controle do Tabaco – e como essa obrigação legal exige que o Brasil avance com sua política de controle do tabagismo. TEXTO 2: Tabagismo entre adolescentes O segundo texto apresenta dados que mostram ‘como’ e ‘porque’ os jovens são um impor- tante alvo da indústria do tabaco, que procura formas cada vez mais sofisticadas para captar adolescentes, cada vez mais cedo. Destaca as estratégias da propaganda ainda existente nos pontos de venda, que utiliza simbolismos próprios da fase da adolescência para motivar os jovens a experimentar e a usar o cigarro como um passaporte para o mundo adulto. Comenta a introdução das marcas aromatizadas com sabores adocicados em embalagens cada vez mais 6 Estes textos são complementares à série Tabagismo: relevância da temática na Educação, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola de 23/05/2011 a 27/05/2011.
  • 15. sofisticadas e bonitas, visando aumentar a atratividade para os jovens, melhorar o sabor ruim do cigarro, transmitir sensações agradáveis e a ideia de sabores diferenciados, facilitando, dessa forma, a experimentação e o caminho da dependência para o consumo regular. Outro ponto abordado neste texto é como o aumento de impostos e, consequentemente, o aumento dos preços dos cigarros pode ser uma das medidas mais efetivas para reduzir o consumo do tabaco. Estima-se que o adolescente é três vezes mais sensível ao preço que os adultos na com- pra dos produtos de tabaco. Isso se deve ao fato de os adolescentes terem níveis menores de dependência da nicotina, tendo em vista que eles usam tabaco há menos tempo, e ao fato de que eles têm menor poder aquisitivo. TEXTO 3: Fumicultura: impactos ambientais e na saúde O terceiro texto apresenta um panorama da produção de tabaco no Brasil, incluindo seus as- pectos econômicos (dependência financeira dos produtores, contratos abusivos), sociais (tra- balho infantil, más condições de trabalho) e sanitárias (doenças e mortes na lavoura do fumo). Este texto também aborda os futuros impactos da produção em consequência da diminuição global do consumo e os esforços governamentais para oferecer alternativas economicamente 15 viáveis e saudáveis para os fumicultores. Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4: Outros olhares sobre Tabagismo e educação e do PGM 5: Tabagismo e educação em debate.
  • 16. texto 1 Tabagismo: um problema globalizado Cristina de Abreu Perez1 Tabagismo como problema de Atualmente existem cerca de 1,3 bilhões de saúde pública tabagistas no mundo, sendo que 80% deles vivem em países pobres2. Trata-se de um O tabagismo é o mais importante fator de ris- consumo fortemente induzido e estimula- co isolado para várias doenças, muitas delas do por grandes companhias transnacionais graves e fatais como o câncer, doenças car- de fumo que atuam de forma globalizada, diovasculares e o enfisema. É reconhecido buscando garantir a continuidade do ne- como uma doença crônica e, por isso, está gócio em qualquer parte do planeta3. Essas inserido na CID-10 (Classificação Internacio- companhias têm conquistado novos merca- nal de Doenças) da Organização Mundial da dos, principalmente onde existem amplas Saúde (OMS) como dependência da nicotina. vulnerabilidades coletivas, traduzidas por 16 insuficiência de conhecimento da popula- Morrem no mundo cerca de cinco milhões ção sobre a realidade dos riscos do tabagis- de pessoas por ano devido ao tabagismo, mo e pela existência de representações so- sendo 200 mil no Brasil. Segundo estimativas ciais positivas relativas ao consumo de seus da OMS, só no século XX a epidemia de taba- produtos. As vulnerabilidades coletivas se co matou cerca de 100 milhões de pessoas e, tornam ainda maiores, quando a elas se as- caso as atuais tendências de consumo sejam sociam as vulnerabilidades políticas habil- mantidas, no século XXI poderá matar cerca mente construídas pelas companhias pro- de 1 bilhão de pessoas. A OMS também esti- dutoras de fumo em vários países, visando ma que, a partir de 2020, de cada 10 mortes criar um clima de “boa vontade política” e atribuídas ao tabaco, sete ocorrerão nos paí- assim bloquear ações de saúde pública que ses em desenvolvimento, onde hoje já se con- visam reduzir o tabagismo e suas conse- centram 80% do consumo mundial de pro- quências. dutos de tabaco, principalmente de cigarros. 1 Psicóloga. Técnica da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco / INCA - Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultora da série. 2 World Health Organization 2008 – WHO Report on the Global Tobacco Epidemic – The MPOWER Package p. 21. http://www.who.int/tobacco/mpower/mpower_report_full_2008.pdf 3 Derek Yach, Douglas Bettcher. Globalisation of tobacco industry influence and new global responses Tob Control 2000;9: 206-216. http://tobaccocontrol.bmj.com/cgi/content/abstract/9/2/206
  • 17. Essa perspectiva da epidemia do tabagismo A análise e a divulgação do conteúdo desses se tornou clara quando, em meados da dé- documentos contribuíram para fortalecer o cada de 90, ações judiciais movidas por 46 entendimento de que a indústria do tabaco estados dos Estados Unidos contra compa- e suas práticas representam um fator causal nhias de tabaco atuantes em seu mercado da expansão global da epidemia do tabagis- confiscaram e tornaram públicos milhões de mo e das cerca de 5 milhões de mortes pro- páginas de documentos confidenciais dessas vocadas por tabaco relacionadas no mundo companhias. Esses documentos expuseram (World Health Organization, 2002)6,7,8 e das práticas desleais e fraudulentas para promo- cerca de 5 milhões de mortes provocadas ver a iniciação de crianças e adolescentes no por tabaco relacionadas no mundo (World tabagismo, manipular informações relevan- Health Organization, 2002)9,10,11. tes para a saúde pública e, sobretudo, para A divulgação pela OMS de relatórios sobre influenciar governantes, políticos e regula- esses documentos levou a 54a Assembleia dores no sentido de impedir a adoção de me- Mundial de Saúde (AMS) a publicar em 2001 didas para redução do tabagismo4,5. uma resolução sobre “Transparência para o 4 Office of the Attorney General . Master Settlement Agreement - http://ag.ca.gov/tobacco/msa.php 5 British American Tobacco Master settlement 1998 - 17 http://www.bat.com/group/sites/uk__3mnfen.nsf/vwPagesWebLive/DO725LRG?opendocument&SKN=& 6 Lista de relatórios e publicações baseadas nos documentos da indústria do tabaco - Tobacco Documents Research: - A Bibliography - ttp://tobacco.health.usyd.edu.au/site/gateway/docs/Hirschhorn_List_A&B.htm h - Campaign for Tobacco-Free Kids (USA) Action on Smoking and Health (UK) May 2001 TRUST US: WE’RE THE TOBACCO INDUSTRY http://www.ash.org.uk/html/conduct/html/trustus.html#_Toc514752786 - Pan American Health Organization, Regional Office of the World Health Organization, 2002, Bialous SA, Shatenstein S. Profits over people: tobacco industry activities to market cigarettes and undermine Public Health in Latin America and the Caribbean. Washington http://www.paho.org/English/HPP/HPM/TOH/profits_over - Derek Yach, Douglas Bettcher. Globalisation of tobacco industry influence and new global responses. Tob Control 2000; 9:206-216 - http://tobaccocontrol.bmj.com/cgi/content/abstract/9/2/206 7 Pan American Health Organization, Regional Office of the World Health Organization, 2002, Bialous SA, Shatenstein S. Profits over people: tobacco industry activities to market cigarettes and undermine Public Health in Latin America and the Caribbean. Washington- http://www.paho.org/English/DD/PUB/profits_over_people.pdf 8 World Health Organization 2008. Tobacco industry interference with tobacco control. http://tobacco.georgetown.edu/tobprac/doc/TobaccoIndustryInterferencewithTobaccoControl.pdf 9 Lista de relatórios e publicações baseadas nos documentos da indústria do tabaco - Tobacco Documents Research: - A Bibliography - ttp://tobacco.health.usyd.edu.au/site/gateway/docs/Hirschhorn_List_A&B.htm h - Campaign for Tobacco-Free Kids (USA) Action on Smoking and Health (UK) May 2001 TRUST US: WE’RE THE TOBACCO INDUSTRY http://www.ash.org.uk/html/conduct/html/trustus.html#_Toc514752786 10 - Pan American Health Organization, Regional Office of the World Health Organization, 2002, Bialous SA, Shatenstein S. Profits over people: tobacco industry activities to market cigarettes and undermine Public Health in Latin America and the Caribbean. Washington http://www.paho.org/English/HPP/HPM/TOH/profits_over 11 - Derek Yach, Douglas Bettcher. Globalisation of tobacco industry influence and new global responses Tob Control 2000; 9:206-216 - http://tobaccocontrol.bmj.com/cgi/content/abstract/9/2/206
  • 18. Controle do Tabaco” (Resolução n.18/2001), tação nacional desse tratado ganhou o sta- na qual solicitava a seus Estados Membros tus de uma Política de Estado, e o Progra- que se mantivessem alertas quanto a afilia- ma Nacional de Controle do Tabagismo, até ções entre a indústria do tabaco e os mem- então articulado pelo Ministério da Saúde, bros de suas delegações e orientava a OMS passou a ser a Política Nacional de Controle e seus Estados Membros a monitorar qual- do Tabaco de caráter multissetorial, nortea- quer esforço da indústria do tabaco para mi- da pelos objetivos, princípios, obrigações e nar os esforços para o controle do tabagis- medidas da CQCT. mo (World Health Assembly, 2001). O Brasil tem avançado consideravelmente Esse reconhecimento é também traduzido no controle do tabaco através de impor- na seguinte declaração da OMS no Relatório tantes medidas desenvolvidas desde 1989, “A Epidemia Global de Tabaco”, publicado como as campanhas de informação públi- em 200812: ca, implementação de leis para proteger os fumantes e não fumantes da exposição pas- Todas as epidemias têm um meio de con- siva, aumento dos preços dos cigarros, res- tágio, um vetor que dissemina doença e trição à publicidade do tabaco, proibição de morte. Para a epidemia do tabagismo, o venda a menores, advertências nas emba- 18 vetor não é um vírus, uma bactéria ou lagens dos produtos de tabaco, as ações de outro microrganismo – ele é uma indús- regulação dos produtos em termos de con- tria e sua estratégia de negócio (World teúdo e emissões, a proibição do patrocínio Health Organization, 2008). de eventos culturais e esportivos por produ- tos de tabaco, a proibição dos descritores Esse foi um dos cenários que levou à ne- de marcas de cigarros tipo light, ultra light, gociação e à adoção da Convenção-Quadro suave, os programas educativos em escolas, para o Controle do Tabaco (CQCT), o primei- ambientes de trabalho e unidades de saúde, ro tratado internacional de saúde pública dentre outros. Essas estratégias envolvem negociado sob os auspícios da Organização não só esforços de profissionais de saúde, Mundial de Saúde (OMS) por 192 países. mas também de outros grupos sociais como Em novembro de 2005, a adesão do Brasil a educadores, legisladores, advogados, econo- CQCT foi ratificada pelo Congresso Nacional mistas, profissionais de comunicação social, e promulgada pelo presidente da República governantes, gestores, etc. em janeiro de 2006. Com isso, a implemen- 12 World Health Organization 2008 – WHO Report on the Global Tobacco Epidemic – The MPOWER Package p. 21 http://www.who.int/tobacco/mpower/mpower_report_full_2008.pdf
  • 19. A adoção dessas medidas contribuiu para que pulmão é superior a 90%. Através da análise a prevalência do tabagismo em nosso país das taxas de mortalidades de doenças como caísse de 33% quando foi realizado o primei- essas, podemos verificar importantes im- ro estudo que apresentou dados sobre a pro- pactos positivos na saúde como o declínio porção de fumantes em 1989, e mostrou que da mortalidade por neoplasia de traqueia, havia cerca de 30 milhões de fumantes, entre brônquios e pulmão no Brasil em homens de pessoas de 15 anos ou mais, sendo 40,3% ho- 30 a 69 anos. A redução das taxas de morta- mens e 26,2% mulheres13, para 17,2% ou seja, lidade por câncer entre homens mais jovens 25 milhões de fumantes, sendo 21,6% entre pode ser o resultado das ações nacionais os homens e 13,1% entre as mulheres em para a redução da prevalência do tabagismo 2008, quando foi realizada pela primeira vez no país nas últimas décadas15. a Pesquisa Nacional por Amostra de Domi- O tabagismo está associado As taxas de mortali- cílios/PNAD, incluindo ao desenvolvimento e/ dade por doença is- a Pesquisa Especial so- quêmica do coração ou agravo de mais de 50 bre Tabagismo/Petab, também caíram em doenças, entre elas as que apontou a preva- todas as faixas etárias lência de fumantes na doenças cardiovasculares e em ambos os sexos 19 população brasileira e vários tipos de câncer, no Brasil e nas regi- acima de 15 anos14. principalmente o câncer de ões Sudeste e Sul en- pulmão. tre 1990 e 2006. Essas O tabagismo está as- tendências de declínio sociado ao desenvol- nas principais causas vimento e/ou agravo de mais de 50 doenças, de morte entre as doenças do aparelho cir- entre elas as doenças cardiovasculares e vá- culatório provavelmente refletem mudanças rios tipos de câncer, principalmente o cân- no comportamento relacionadas ao contro- cer de pulmão. O risco atribuível do taba- le dos principais fatores de risco, como por gismo como agente etiológico do câncer de exemplo, o tabagismo16. 13 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 1989. Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição/ PNSN. Rio de Janeiro, 1989. 14 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA, 2008. Pesquisa Especial de Tabagismo. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro, 2009. 15 Apresentação Dra. Deborah Malta. A Vigilância do Tabagismo no contexto da Vigilância de Doenças Crônicas não transmissíveis. Coordenação de Doenças e Agravos Não Transmissíveis / Departamento de Análise de Situação de Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde / Ministério da Saúde. 16 Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2008: 20 anos de Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 416 p. : il. – (Série G. Estatística e Informação em Saúde).
  • 20. Custos do tabagismo Tabagismo passivo Além dos gastos públicos com ações educa- A ciência demonstrou de maneira inequívo- tivas e assistenciais para a redução do taba- ca que o consumo e a exposição à fumaça do gismo, a sociedade brasileira arca com um tabaco são causas de mortalidade, morbida- enorme ônus decorrente das doenças rela- de e incapacidade e que as doenças relacio- cionadas ao tabaco. Só em 2005, o Sistema nadas ao tabaco não se revelam imediata- Único de Saúde (SUS) gastou cerca de 339 mente após o início da exposição à fumaça milhões de reais (R$ 338.692.516,00) apenas do tabaco e ao consumo de qualquer produ- com hospitalização para casos de câncer, to derivado do tabaco18. doenças cardiovasculares e respiratórias O ar nas imediações de um fumante ativo atribuíveis ao tabagismo. Esse montante contém uma mistura da fumaça que sai da correspondeu a quase 30% dos custos hos- ponta do cigarro aceso e da fumaça assopra- pitalares totais do SUS para o tratamento de da no ambiente pelo fumante após a tragada apenas três das cerca de cinquenta doenças e contém pelo menos 250 substâncias quí- tabaco relacionadas17. micas tóxicas, incluindo mais de 50 que po- dem causar câncer 19. 20 Vale ressaltar que este é um problema que aflige também os não fumantes, pois ao se Entre os adultos, globalmente, em torno de exporem à fumaça de produtos de tabaco 1/3 estão expostos regularmente ao tabagis- (tabagismo passivo) correm sérios riscos mo passivo20. Vale ressaltar que grande par- de desenvolverem câncer, infarto, infecções te da exposição ao tabagismo passivo ocorre respiratórias, dentre outros agravos. Por em residências e locais de trabalho21. isso, quando ocorre nos ambientes de traba- lho, o tabagismo passivo é considerado um Não somente o cigarro é responsável por risco ocupacional. esta exposição, existem vários produtos de- rivados do tabaco, que também produzem 17 Pinto, M. F. T. – Custos de Doenças Tabaco-relacionadas. Uma Análise sob a Perspectiva da Economia e da Epidemiologia. Tese de doutorado, Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde, Rio de Janeiro, 2007. http://thesis.icict.fiocruz.br/cgi-bin/wxis1660.exe/lildbi/iah/? 18 http://www.who.int/fctc/text_download/en/index.html 19 http://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/fact_sheets/secondhand_smoke/general_facts/index. htm#overview 20 http://whqlibdoc.who.int/publications/2009/9789241563918_eng_full.pdf 21 http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/
  • 21. fumaça, como charuto, cachimbo, cigarro de mulheres não fumantes estavam expostos de palha, narguilé ou outro produto que ao tabagismo passivo em 2004. Segundo as contenha em sua composição tabaco. A ex- estimativas do estudo, a exposição provocou posição à fumaça de todos esses produtos 379 mil mortes coronarianas, 165 mil por in- faz igualmente mal à saúde. fecções das vias respiratórias, 36,9 mil por causa da asma e 21,4 mil por causa de câncer Especificamente o uso do tabaco é a prin- de pulmão. Assim, no total, foram constata- cipal causa de morte evitável e atualmente dos 603 mil óbitos por fumo passivo. continua a matar mais de 5 milhões de pes- soas no mundo a cada ano, e esse número Apenas 7,4% da população mundial vivem tende a aumentar. No caso o tabagismo pas- hoje sob legislação “não fumante”. Os au- sivo, isoladamente, é responsável por mais tores do estudo recomendam “um reforço de 600 mil mortes ao ano no mundo, en- imediato” da Convenção - Quadro para o tre as quais 165 mil Controle do Tabaco crianças, segundo da OMS, que inclui a O Sistema Único de Saúde estimativas publi- adoção de ambientes gasta R$ 19,15 milhões cadas em dezembro 100% livres da fuma- de 2010 pela revista por ano com diagnóstico ça do tabaco, taxas 21 britânica The Lan- e tratamento de doenças mais elevadas para os cet sobre o primeiro causadas pelo tabagismo produtos derivados de estudo que avalia o passivo. tabaco, embalagens impacto global do de cigarros genéricas tabagismo passivo, (sem cores e imagens, cujos autores são do Instituto Karolinska com letras padronizadas) e com mensagens de Estocolmo e da Organização Mundial da de advertências sanitárias. Saúde (OMS). Custos do tabagismo passivo Se somadas estas 600 mil mortes aos 5,1 mi- lhões de falecimentos atribuídos a cada ano No Brasil, um estudo sobre os custos do ao tabagismo ativo, chega-se a um total de tabagismo passivo realizado em 2008 pelo 5,7 milhões de vítimas fatais causadas pelo Programa de Pós-Graduação de Engenharia tabagismo anualmente. da Universidade Federal do Rio de Janei- ro (Coppe/UFRJ) mostrou que o tabagismo O estudo acima citado apresentou que, no passivo custa aos cofres públicos pelo me- total, 40% de crianças, 33% de homens e 35% nos R$ 37 milhões todos os anos. O Sistema
  • 22. Único de Saúde gasta R$ 19,15 milhões por • Infecções respiratórias (bronquite, pneu- ano com diagnóstico e tratamento de doen- monia) ças causadas pelo tabagismo passivo. O INSS • Maior risco para a síndrome da morte sú- desembolsa mais de R$ 18 milhões por ano bita infantil23. com pensões e benefícios relacionados ao fumo passivo. Vale salientar que foram con- siderados nesse estudo apenas a exposição Efeitos na saúde dos adultos domiciliar ao tabagismo passivo22. Em adultos que nunca fumaram, o tabagis- mo passivo pode causar doenças cardiovas- Efeitos na saúde culares e/ou câncer24. Entre as crianças, o tabagismo passivo causa: Doença cardiovascular - Para os não-fuman- tes, o tabagismo passivo tem efeitos nocivos • Infecções de ouvido imediatos no sistema cardiovascular que • Mais frequentes e severas crises de asma pode aumentar o risco de ataque cardíaco. Pessoas que já possuam doenças cardíacas • Sintomas respiratórios (tosse, espirros, têm um risco ainda mais elevado25,26. 22 falta de ar) 22 INCA e UFRJ, 2008. Governo gasta R$ 37 milhões por ano com vítimas do fumo passivo http://www.inca.gov.br/impressao.asp?op=pr&id=1958 23 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006. http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf 24 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006. http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf 25 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006. http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf 26 Institute of Medicine. Secondhand Smoke Exposure and Cardiovascular Effects: Making Sense of the Evidence. Washington: National Academy of Sciences, Institute of Medicine, 2009. http://www.iom.edu/~/media/Files/Report%20Files/2009/Secondhand-Smoke-Exposure-and- Cardiovascular-Effects-Making-Sense-of-the-Evidence/Secondhand%20Smoke%20%20Report%20Brief%202.ashx
  • 23. Não Fumantes que estão expostos ao taba- 9.294/96, hoje em vigor, pois esta se encon- gismo passivo em casa ou no trabalho au- tra defasada quanto às diretrizes do aludido mentam o seu risco de desenvolver doença artigo, ainda permitindo áreas reservadas cardíaca em 25-30%27. para fumar (fumódromos). Para tal, conta- mos com o Projeto de Lei de nº 315/08, de Câncer de pulmão - Não Fumantes que es- autoria do Senador Tião Vianna, que atende tão expostos ao fumo passivo em casa ou às recomendações da OMS no que concerne no trabalho aumentam o risco de câncer de à efetiva proteção tanto dos fumantes quan- pulmão em 20-30% . 28 to dos não fumantes expostos à fumaça dos produtos de tabaco. Este PLS foi aprovado O Brasil está na vanguarda do controle do pela Comissão de Constituição e Justiça tabaco no mundo, entretanto ainda enfren- em 10 de março de 2010 e, desde então, se tamos importantes desafios como a legisla- encontra na Comissão de Assuntos Sociais ção referente ao artigo 8º da CQCT – “prote- (CAS) do Senado Federal. ção contra a exposição à fumaça do tabaco”. O Brasil precisa aperfeiçoar a Lei Federal n. 23 27 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006. http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf 28 U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Involuntary Exposure to Tobacco Smoke: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, Coordinating Center for Health Promotion, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2006. http://www.surgeongeneral.gov/library/secondhandsmoke/report/executivesummary.pdf
  • 24. texto 2 Tabagismo entre adolescentes Tabagismo como problema de saúde pública no mundo e no Brasil Andréa Reis Cardoso 1 O tabagismo é reconhecido como uma do- Tabagismo e pobreza: um ença crônica gerada pela dependência da ciclo vicioso nicotina, estando por isso inserido na Clas- sificação Internacional de Doenças (CID10) Segundo entidades ligadas às Nações Uni- da Organização Mundial da Saúde (OMS). É das, como a Organização Mundial da Saúde também o mais importante fator de risco (OMS), a Organization for Economic Coope- isolado para cerca de 50 doenças, muitas de- ration and Development (OECD) e o Banco las graves e fatais, como o câncer, doenças Mundial, o consumo de tabaco vem impon- do uma carga econômica e social cada vez 24 cardiovasculares (angina e infarto), enfisema pulmonar, derrame cerebral, entre outras. mais pesada sobre muitos países de média e baixa rendas. O tabagismo vem sendo Um destaque considerável deve ser dado cada vez mais reconhecido como um fator para o câncer de pulmão, que em cerca de agravante da pobreza, da fome e da desnu- 90% dos casos ocorre em fumantes, o que trição, e, portanto, um entrave ao desen- reforça a forte correlação dessa doença com volvimento sustentável de um país (Paho, o tabagismo (P. Vineis et al., 2004). 2004). Além disso, o tabagismo é uma doença pe- Pesquisas nacionais mostram que o tabagis- diátrica, pois quase 90% dos fumantes regu- mo tende a se concentrar nas populações lares começam a fumar antes dos 18 anos de menor renda e menor escolaridade, que de idade. No Brasil o tabaco, especialmente apresentam uma maior vulnerabilidade às cigarro, é a segunda droga mais consumida estratégias de mercado para estimular o entre adolescentes (B. Travessa et al., 2001). consumo (IBGE, 2008). 1 Pedagoga. Técnica do Programa Nacional de Controle do Tabagismo - Instituto Nacional de Câncer.
  • 25. Tabagismo: uma epidemia Segundo documentos internos das compa- estrategicamente nhias de tabaco (abertos ao público, devido construída pelo marketing a ações judiciais nos Estados Unidos): Uma das questões que merece atenção es- Eles representam o negócio de cigarros pecial é a estratégia de marketing aplicada do amanhã. À medida que o grupo etário pelas indústrias fumageiras. As pessoas co- de 14 a 24 anos amadurece, ele se tor- meçam a fumar principalmente influencia- nará a parte chave do volume total de das pela publicidade do cigarro nos meios cigarros, no mínimo pelos próximos 25 de comunicação. Essa publicidade associa o anos (J. W. Hind, R. J. Reynolds Tobac- fumo com um estilo de vida aventureiro, ao co, internal memorandum, January 23, sucesso, à beleza, à independência e à liber- 1975). dade, com o intuito de fazer com que o As pessoas começam a O tabagismo público identifique fumar principalmente e a promoção de alguma forma, influenciadas pela da saúde ainda que intangí- publicidade do cigarro nos 25 vel e inconsciente, A prevenção e o con- o alinhamento de meios de comunicação. trole do tabagismo seu ideal de autoi- compõem o quadro magem a essas situ- de ações específicas ações. a serem desenvolvidas para o alcance dos objetivos da Política Nacional de Promoção Nesse processo, as propagandas também da Saúde. Frente a todo o exposto, torna-se buscam explorar a curiosidade própria de evidente que o tabagismo é absolutamente crianças e adolescentes e incentivá-los a ex- incompatível com a saúde. perimentar seus produtos. Atualmente, há um bilhão de jovens no mundo, sendo que E é sob a ótica da Promoção da Saúde que, 85% deles vivem em países em desenvolvi- desde 1989, a gestão e a governança do con- mento, que podem ser considerados fuman- trole do tabagismo no Brasil vêm sendo ar- tes. Segundo dados do Banco Mundial, dos ticuladas pelo Ministério da Saúde, através cerca de 100 mil jovens que começam a fu- do Instituto Nacional de Câncer, o que inclui mar todos os dias, 80% vivem em países em um conjunto de ações nacionais que com- desenvolvimento.
  • 26. põem o Programa Nacional de Controle do PNCT para prevenir a iniciação dos jovens Tabagismo (PNCT), tendo o INCA como ór- ao consumo do tabaco. A razão para abor- gão responsável por esse processo. dar o tema tabagismo entre crianças e jo- vens, a importância da escola e do professor O Programa Nacional de Controle do Taba- e o que pode ser feito para este público se- gismo tem como objetivo geral reduzir a rão os temas abordados a seguir. prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco no Brasil, seguindo A importância da escola um modelo lógico onde ações educativas, como canal de informação de comunicação, de atenção à saúde, jun- para a sociedade to com ações legislativas e econômicas, se A informação da potencializam para população sobre as prevenir a iniciação O Programa Saber Saúde, doenças crônicas ao tabagismo, pro- mover a cessação do desenvolvido nas escolas, e o estímulo a mu- é uma das principais danças de compor- tabagismo e prote- tamento são ações ger a população dos estratégias do PNCT para 26 fundamentais para riscos do tabagismo prevenir a iniciação dos a prevenção de do- passivo, alcançando jovens ao consumo do enças. Esse proces- assim o objetivo aci- tabaco. so tem como base ma mencionado. o desenvolvimento E, para tanto, um de ações educativas, dos marcos estratégicos fundamentais tem no sentido de des- sido a articulação de uma rede de parcerias mistificar as doenças, assim como informar envolvendo representações de Secretarias sobre as possibilidades de evitá-las, estimu- Estaduais e Municipais de Saúde e Educa- lando a adoção de comportamentos saudá- ção, de outros setores do Ministério da Saú- veis dentro da ótica da Promoção da Saúde. de, de outros Ministérios do governo, assim como de organizações não governamentais Para que isto seja possível, é necessário pro- e de organizações internacionais intergo- mover uma ampla difusão de conhecimen- vernamentais em nível regional e global. tos aliada à reflexão crítica, contribuindo para formar cidadãos capazes de optar por O Programa Saber Saúde, desenvolvido nas comportamentos responsáveis em relação à escolas, é uma das principais estratégias do sua saúde e à saúde coletiva.
  • 27. A escola, espaço educativo por excelência, serido e integrado no cotidiano e na cultu- é um dos locais privilegiados para o desen- ra escolar, irradiando-se, dessa forma, além volvimento de um programa de educação dos limites da escola. para a saúde entre crianças e adolescentes. Distingue-se das demais instituições por ser Nesse contexto, os profissionais de educa- aquela que oferece a possibilidade de educar ção têm um papel fundamental que não se através da construção de conhecimentos restringe apenas ao fato de serem meros re- resultantes do confronto dos diferentes sa- passadores de informações. Sua atuação é, beres: aqueles trazidos pelos alunos e seus sobretudo, a de educar a partir da constru- familiares, e que expressam crenças e valo- ção de conhecimentos dentro do contexto res culturais próprios; aqueles contidos nos da cultura escolar. Nesta concepção, é im- conhecimentos científicos veiculados pelas portante que se reconheçam como modelos diferentes disciplinas; os divulgados pelos (suas atitudes e comportamentos também meios de comunicação, muitas vezes frag- ensinam) nos quais não só os alunos mas mentados e desconexos, mas que devem ser também toda a comunidade se inspiram levados em conta por exercerem forte influ- para adotar ou mudar comportamentos que ência sociocultural; e aqueles trazidos pelos podem contribuir para uma melhor qualida- professores, constituídos ao longo de sua ex- de de vida. 27 periência, resultantes de vivências pessoais Por que trabalhar com e profissionais, envolvendo crenças e se ex- pressando em atitudes e comportamentos. crianças e adolescentes? De acordo com a Organização Mundial da Esse encontro de saberes gera o que se con- Saúde, o tabagismo já é considerado como vencionou chamar “cultura escolar”, que uma doença pediátrica, e é nessa fase tran- assume expressão própria e particular em sitória entre o “mundo infantil” e todas as cada estabelecimento, embora apresente suas brincadeiras lúdicas, de faz-de-conta, e características comuns a tudo aquilo que é a adolescência, que é um período caracte- típico do mundo escolar. rizado por transformações biológicas e psi- cossociais, que tornam essa fase do ciclo de Portanto, a cultura escolar configura e é vida um momento de especial suscetibilida- instituinte de práticas socioculturais (inclu- de a estímulos externos. É nesse período – a sive comportamentos) mais amplas, que ul- adolescência – que o indivíduo busca formar trapassam as fronteiras da escola. É dentro sua futura identidade enquanto adulto, a deste enfoque que se entende e se justifica partir de seus sonhos e aspirações de ideais um programa de educação para a saúde, in- de autoimagem.
  • 28. Quanto mais precocemente se der a exposi- dade através deste grupo, mostrando que ção aos fatores de risco, maiores as chances fumar não é apenas antissocial, mas, acima de adoecimento. Além disso, nas faixas etá- de tudo, uma doença caracterizada pela de- rias mais jovens, alguns estudos comprovam pendência, cujos malefícios não se limitam que, em muitos casos, a experimentação se só aos fumantes, atingindo de forma ampla dá entre os 9 e os 13 anos de idade, quando a e danosa a todos e ao meio ambiente. As dependência à nicotina se instala, iniciando crianças são especialmente prejudicadas, ao o processo acumulativo que aumenta o ris- fumarem passivamente. co de que as doenças se instalem. As ações preventivas junto às crianças e aos Outro aspecto é que a utilização da nicoti- adolescentes incluem o envolvimento das na é considerada por muitos como sendo a escolas como um todo, no sentido de inserir droga “porta de entrada” para o uso de dro- conteúdos informativos sobre os malefícios gas ilícitas, pois, frequentemente, tanto os do tabaco e sobre os fatores de proteção no usuários de álcool como os da maconha e currículo escolar, auxiliando os alunos a de- de outras drogas ilícitas fizeram uso, inicial- senvolver uma vida saudável. mente, de cigarros (USDHHS, 1994). Embora uma droga não leve necessariamente à uti- Para tal, é importante o desenvolvimento de 28 lização de outra, é pouco provável o uso de ações que levem as escolas a se tornarem es- uma droga sem o envolvimento prévio de paços livres do consumo de derivados do ta- outra (USDHHS, 1994). baco. Além disso, é importante garantir que os professores, que são modelos de compor- Um dos grandes obstáculos para o contro- tamento nessa fase da vida, engajem-se nesse le do tabagismo é o fato de a dependência trabalho de forma coerente, deixando de fu- à nicotina ser aceita por nossa sociedade e mar ou não fumando na presença de seus alu- reforçada pela publicidade indireta de seus nos. Também é essencial que os pais e mem- produtos, como um estilo de vida. As crian- bros da comunidade local participem deste ças crescem num ambiente onde os cigar- processo, reconhecendo-se como modelos e ros são anunciados e vendidos em qualquer agentes de mudança de comportamento. lugar; onde o ato de fumar é inserido como comportamento desejável pelos meios de comunicação; onde pessoas respeitadas e O Programa Saber Saúde admiradas fumam. O Programa Saber Saúde possui como obje- É fundamental, portanto, contribuir para tivo formar cidadãos responsáveis e críticos, uma mudança de comportamento da socie- capazes de decidir sobre a adoção de estilos
  • 29. de vida saudáveis, com responsabilidade so- Assim, o trabalho a ser realizado não é uma cial e sobre o meio ambiente, dentro de uma simples campanha que chame a atenção concepção mais ampla de saúde, ou seja, para esse ou aquele fator de risco, para esta “completo bem-estar físico, mental e social, e ou aquela doença. É um programa de Pro- não apenas ausência de doença” (OMS, 1948). moção da Saúde, que implica o envolvimen- to de todos os profissionais e alunos das O Programa Saber Saúde, portanto, requer escolas durante todo o ano letivo, fazendo uma abordagem multi e interdisciplinar em parte do projeto pedagógico da escola. suas diferentes instâncias, tanto na concep- ção como na execução, capaz de dar conta Deve ser desenvolvido de forma contínua, dos desafios decorrentes dos seus objetivos, por professores das diferentes disciplinas, e cuja efetivação torna necessário o estudo nas diferentes séries, inserido no currículo e dos diferentes aspectos relacionados à saú- no cotidiano da escola. de, para possibilitar a adoção consciente O programa requer O Programa Saber de comportamentos ações que envolvam e estilos de vida. Saúde tem no professor atividades de sala de o profissional melhor aula e projetos mais 29 Como um programa qualificado para a ação amplos, que possibi- de educação para a direta com os alunos. litem a discussão e saúde a ser desen- a aquisição de infor- volvido nas escolas mações de base cien- implica, também, tífica, instrumentos ações concebidas, implementadas e avalia- para o repensar, modificar ou adotar atitu- das com a parceria de profissionais de edu- des, práticas e comportamentos, a partir de cação. O Programa Saber Saúde tem no pro- um trabalho crítico e da vivência de novas fessor o profissional melhor qualificado para experiências. a ação direta com os alunos. Com essa finalidade, foram elaborados di- Implementação do Programa versos materiais de apoio ao Programa Sa- Saber Saúde ber Saúde. E estes materiais visam instru- mentalizar o professor para que ele possa, A prevenção da exposição aos fatores de ris- junto com os alunos, construir uma base de co é um dos desdobramentos possíveis do conhecimentos que proporcionem a adoção tema Saúde, que deve se apresentar trans- de comportamentos saudáveis. versal ao currículo escolar.
  • 30. O objetivo deste material é apoiar e reforçar, GAJALAKSHMI, V.; PETO, R.; KANAKA, T.; P., J. de maneira formal e informal, os trabalhos H. A.. Smoking and mortality from tubercu- da sala de aula, oferecendo informações so- losis and other diseases in India; retrospec- bre o tema através de linguagem lúdica e tive study of 43,000 adult male deaths and adequada à idade. A riqueza de mensagens 35,000 controls. The Lancet, 2003, v. 362, Is- contida em cada um desses materiais propi- sue 9.383, p. 507-515. cia sua larga utilização como ponto de parti- IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Do- da para diferentes atividades, dentro das vá- micílios. Tabagismo 2008. rias disciplinas, permitindo que, ao mesmo tempo em que são ensinados os conteúdos http://www.ash.org.uk/html/conduct/pdfs/ curriculares, as mensagens sobre o tabagis- bat2005.pdf mo sejam abordadas de forma incidental. International Diabetes Federation. July 2003 Para saber mais sobre as ações desenvolvi- - Diabetes and tobacco use: a harmful com- das pelo Programa Nacional de Controle do bination http://www.idf.org/home/index. Tabagismo, dentre elas o Programa Saber cfm?node=1076 Saúde, procure a Secretaria Estadual de Saú- LEWIS, M. J.; WACKOWSKI, O. Dealing with de do seu estado ou acesse o site do INCA 30 an innovative industry: a look at flavored ci- – www.inca.gov.br/tabagismo garettes promoted by mainstream brands. Am J Public Health, 2006, Feb. 96 (2):244-51. Referências Bibliográficas Ministério da Saúde – Implantando um Pro- ALTET, M. N.; ALCAIDE, J.; PLANS, P.; TABER- grama de Controle do Tabagismo e outros NER, J. L.; SALTO, E.; FOLGUERA, L. I.; SALLE- Fatores de Risco nas Escolas – Instituto Na- RAS, L. Passive smoking and risk of pulmo- cional de Câncer. Rio de Janeiro: INCA, 2004. nary tuberculosis in children immediately Ministério do Planejamento, Gestão e Orça- following infection. A case-control study. mento. Tuber Lung Dis., 1996, Dec. 77(6) :537-44. PAHO. Tobacco Increases The Poverty Of ENARSON, A.; BEYERS, N. S.; DEN BOON, Countries, 2004. S. W. P.; VAN LILL, M. W.; BORGDORFF, S.; VERVER, E. D.; BATEMAN, C. J.; LOMBARD, D. PANDEY, M. R. Tobacco smoking and Hyper- Association between smoking and tubercu- tension. J. Indian Med Assoc. 1999, Sep., 97 losis infection: a population survey in a high (9):367-9. tuberculosis incidence area, Thorax, 2005, n. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query. 60, p. 555-557. fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&list_
  • 31. uids=10638083&dopt=Abstract Cancer Institute, v. 96, n. 2, January 21, 2004. TAVARESA, Beatriz Franck, BÉRIAB, Jorge WAKEFIELD, M.; MORLEY, C.; HORAN, J. K.; Umberto e LIMA, Maurício Silva de. Preva- CUMMINGS, K. M. The cigarette pack as lência do uso de drogas e desempenho es- image: new evidence from tobacco industry colar entre adolescentes, Rev. Saúde Públi- documents. Tob Control, 2002, Mar. 11 (Sup- ca, v.35, n.2, São Paulo, abr. 2001. pl 1):S73-80. http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0034-8910200100020000 World Bank – Smoke Free Workplaces at a glance. July, 2002. World Bank Health, Nu- VINEIS, P.; ALAVANJA, M.; BUFFLER, P.; FON- trition and Population web site: www.worl- THAM, S.; FRANCESCHI, Y. T.; GAO, P.; GUP- dbank.org/hnp. TA, C. Tobacco and cancer: recent epide- Acessado em 12 de outubro de 2006 miological evidence. Journal of the National 31
  • 32. texto 3 Fumicultura: impactos ambientais e na saúde Felipe Lacerda Mendes1 O tabaco é hoje considerado uma epidemia, A fumicultura e o Brasil responsável por um em cada 10 óbitos em A indústria do fumo se organiza num pe- adultos, o que representa cerca de 5 milhões queno número de grandes empresas que de mortes ao ano e projeta um cenário de 10 dominam o mercado internacional e as ati- milhões de mortes ao ano em 2020 (OMS, vidades de produção e comercialização de 2007). tabaco se estendem por mais de 50 países. São essas empresas transnacionais que or- Os níveis de prevalência do tabagismo têm ganizam todo o complexo agroindustrial de chamado a atenção dos governos de todo tabaco, composto basicamente pela produ- 32 mundo, que vêm investindo esforços para ção, processamento, beneficiamento e co- reduzir a demanda pelo produto e para es- mercialização do fumo em folha e de seus timular a cessação do consumo. Todavia, produtos derivados existem aspectos sociais, ambientais e eco- nômicos da produção de tabaco que preci- Atualmente, os principais produtores de ta- sam ser observados e contemplados pelas baco no mundo são a China, o Brasil, a Índia, políticas governamentais. Além de contri- os EUA, o Zimbábue e a Indonésia. Somente buir para o empobrecimento dos fuman- esses países são responsáveis por aproxi- tes e de suas famílias, especialmente as de madamente 70% da produção mundial de menor renda, devido às doenças e possíveis tabaco (DESER, 2003a). Como as principais perdas de produtividade, o tabaco também empresas da indústria são transnacionais, colabora para doenças e pobreza nas famí- os lucros auferidos nos países onde se lo- lias envolvidas no plantio e beneficiamento calizam suas subsidiárias são enviados às do tabaco (ECOSOC, 2006). suas matrizes, localizadas em países de- 1 Advogado. Técnico da Secretaria Executiva da Comissão Nacional de Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco / INCA - Instituto Nacional de Câncer – Ministério da Saúde. Consultor da série.
  • 33. senvolvidos, como é o caso da Souza Cruz, basicamente por empresas transnacionais que remete seu lucro para o Reino Unido, e que operam com a produção, o processa- a Philip Morris para os EUA (Campaign for mento, o beneficiamento e a comercializa- Tobacco Free Kids, 2001). ção do fumo em folha e de seus produtos de- rivados. Essas empresas se articulam com os A posição alcançada pelo Brasil de 2º maior fumicultores em todas as fases da produção produtor de folhas de fumo se deve a fato- agrícola e na sua organização financeira. res como os reduzidos custos internos de sua produção (emprego de fumicultores e Essa integração com os produtores se dá suas famílias, resultando em menores gas- através de contratos pelos quais as empresas tos com salários) e a não mecanização da se comprometem a fornecer assistência téc- lavoura (que fornece uma melhor qualidade nica gratuita, a repassar somente insumos ao produto, pois recebe maiores cuidados certificados e aprovados para uso na cultu- manuais) (Ministério da Saúde, 2000). ra, a avalizar os financiamentos de insumos e investimentos, a custear o transporte da A Região Sul concentra a maior produção de produção, desde a propriedade dos agricul- fumo nacional, com 96,4% do total da pro- dução brasileira. Todos os estados do Sul são tores até as empresas, e a comprar integral- mente a safra contratada por preços nego- 33 produtores, destacando-se o Rio Grande do Sul. Também há produção de fumo em me- ciados com a representação dos produtores. nor quantidade em Alagoas, Bahia e Sergipe Cabe aos produtores produzir os volumes de (DESER, 2003b). fumo contratados, utilizar somente insumos recomendados pela empresa e comercializar Embora a indústria do tabaco apresente a a totalidade de sua produção contratada aos produção de tabaco como uma atividade preços negociados (DESER, 2003a). que gera riqueza, desenvolvimento e empre- go para o país, não se pode dizer que os be- Nesse contexto, os fumicultores são obriga- nefícios sociais dessa inserção se traduzam dos a usar tecnologia, sementes, fertilizan- em melhor qualidade de vida e saúde para os tes e pesticidas fornecidos pelos técnicos indivíduos envolvidos na produção agrícola da companhia de tabaco e a assumirem os - o elo mais vulnerável da cadeia produtiva. custos dos insumos e infraestrutura exigi- dos (a construção de fornos de tijolos para Características sociais e a secagem e os custos do reflorestamento econômicas da fumicultura para a reposição da madeira, como a lenha Atualmente, a fumicultura é integrada ao utilizada nos fornos) (Erdmann & Pinheiro, complexo agroindustrial do fumo, composto 1998).
  • 34. Os contratos estabelecidos entre a indús- constitui-se de topografia acidentada, onde tria e os produtores funcionam feito um a utilização da mecanização é quase impra- regimento, com regras definidas unilateral- ticável, tornando o trabalho na lavoura in- mente pelas fumageiras, num modelo que tensivo e extenuante. sugere inúmeras facilidades e conveniên- cias apresentadas como vantagens, princi- Os rendimentos Provenientes palmente, para os agricultores descapitali- da produção agrícola zados. As indústrias controlam também o sistema de classificação das folhas de fumo, As companhias de tabaco e a Associação dos onde conseguem reduzir o valor pago ao re- Fumicultores do Brasil (AFUBRA) divulgam baixar a classificação feita pelo fumicultor e amplamente que produzir tabaco gera um sua família, amarrando-o num ciclo de en- rendimento elevado para os fumicultores e dividamento, dependência e subordinação. que nenhuma outra atividade agrícola pro- duz a mesma rentabi- A atual estraté- lidade. A mão de obra envolvida gia organizacional na cultura do fumo é tem permitido que No entanto, análi- a indústria do ta- predominantemente ses mais cuidado- 34 baco se mantenha familiar. sas mostram que a conectada com a renda média mensal produção agrícola das famílias por tra- e exerça um absoluto controle sobre o pro- balhador é de um terço do salário mínimo cesso produtivo e as atividades dos fumicul- nacional (ETGES et al., 2002). Uma análise tores. Ao mesmo tempo, tem evitado todas dos diversos indicadores que compõem o as responsabilidades de uma relação formal Índice de Desenvolvimento Humano - IDH empregador-empregado. (expectativa de vida, taxa de alfabetização, as taxa de frequência escolar e renda per ca- A mão de obra envolvida na cultura do fumo pita), mostram que as principais áreas pro- é predominantemente familiar. Em média, dutoras de fumo na Região Sul apresentam trabalham na lavoura do fumo cerca de 3 a média abaixo do índice estadual; e, inclusi- 4 integrantes de cada família, o que equiva- ve, as taxas de frequência escolar e de renda le a cerca de 520 mil pessoas atuando nes- nos municípios onde predomina a atividade sa atividade, principalmente nos períodos agrícola com o fumo são inferiores às dos do plantio, colheita, classificação e cura do municípios onde não se produz tabaco (Bo- fumo. Grande parte das regiões produtoras nato, 2007).