Este documento descreve o diário de uma menina chamada Zlata Filipovic que relata o início de um novo ano escolar em setembro, expressando a sua vontade de rever as colegas de turma e contar sobre as suas férias. O diário também menciona que começaram as aulas de música e ténis.
2. CAMINHOS DE ENCONTRO
Manual do Aluno — EMRC — 5.° Ano do Ensino Básico
SUPERVISÃO E APROVAÇÃO
COMISSÃO EPISCOPAL DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
D. Tomaz Pedro Barbosa Silva Nunes (Presidente), D. António Francisco dos Santos,
D. Anacleto Cordeiro Gonçalves Oliveira e D. António Baltasar Marcelino;
Mons. Augusto Manuel Arruda Cabral (Secretário)
COORDENAÇÃO E REVISÃO GERAL
Jorge Augusto Paulo Pereira
EQUIPA DE REDACÇÃO
Maria Luísa Trincão de Paiva Boléo (Coordenação de ciclo)
Sara Gomes Andrade e Guardado da Silva (Coordenação de ciclo)
Carla Maria Gomes de Andrade
Mónica Virgínia Paiva Rocha da Maia Henriques
Susana Isabel Santos Correia Pereira
Vítor Hugo Ribeiro da Silva Carmona
REVISÃO GRÁFICA
Maria Helena Calado Pereira
GESTÃO EXECUTIVA DO PROJECTO E DIRECÇÃO DE ARTE
ID Books
Ricardo Santos
CAPA
Maria João Palma
ILUSTRAÇÃO
Maria João Palma
Carla Andrade
TIRAGEM
2.ª edição - 70000
ISBN
978-972-8690-26-7
DEPÓSITO LEGAL
291174/09
EDIÇÃO E PROPRIEDADE
Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã — Lisboa, 2009
Quinta do Cabeço, Porta D; 1885-076 Moscavide
Tel.: 218 851 285; Fax: 218 851 355; E-mail: educacao-crista@sapo.pt
Todos os direitos reservados à FSNEC
IMPRESSÃO
Gráfica Almondina
3. APRESENTAÇÃO
CAMINHOS DE ENCONTRO
Aos alunos e às alunas de Educação Moral e Religiosa
Católica
Um livro é o resultado de muito trabalho de quem o produziu: um
ou mais autores. Por isso, deve ser acolhido com respeito e tratado com
cuidado. Qualquer que seja o seu estilo, contém uma mensagem, interpela
o leitor e desperta a sua imaginação.
Um livro escolar é um instrumento para a aprendizagem dos alunos.
É sempre educativo. Transmite informações ligadas aos conteúdos dos
programas de ensino, contém interrogações e propostas de trabalho, e
convida ao estudo. É para se usar na aula e fora dela. É um companheiro de
viagem para o percurso anual de cada um na escola. Só assim, tornando-se
um objecto familiar, que se utiliza com frequência, o livro escolar facilita
o progresso na aquisição e desenvolvimento de competências.
Os manuais de Educação Moral e Religiosa Católica, quer se revistam
da forma de um volume por ano de escolaridade quer se apresentem como
conjuntos de fascículos, têm todas estas características.
Convido os alunos e as alunas a receberem-nos com interesse
e entusiasmo, mas, sobretudo, a utilizarem-nos para proveito do seu
crescimento humano e espiritual. Deste modo, e com a ajuda indispensável
dos vossos professores ou professoras de Educação Moral e Religiosa
Católica, podeis melhor fazer as vossas opções e elaborar um projecto de
vida sólido e com sentido.
Que Deus vos ilumine e ajude na caminhada de ano escolar que ides
iniciar.
Bom trabalho!
D. Tomaz Pedro Barbosa Silva Nunes
Bispo Auxiliar de Lisboa
Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã
4. APRESENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS
No teu manual, vais encontrar diferentes espaços e formas de
organizar os textos e os documentos que te vão ajudar a caminhar e a
interpretar melhor a sua mensagem.
unidade 1
17
MAIS UM ANO
2.ª feira, 2 de Setembro
Para trás ficou um longo Verão quente, dias de férias sem pensar em
nada e diante de mim um novo ano escolar. Estou desejosa de rever as
minhas colegas de turma, de as reencontrar, na escola e fora da escola.
Não voltei a ver algumas delas desde que tocou a campainha no fim do
ano. Estou contente, vamos poder falar da escola e contar umas às outras
as nossas pequenas infelicidades e as nossas grandes alegrias. Estamos
de novo todas juntas.
3.ª feira, 10 de Setembro
Passámos uma semana a arranjar os livros, os cadernos e todo o
material, a contar umas às outras as nossas férias na praia, na montanha,
no campo, no estrangeiro. Todas nós fomos a qualquer sítio e temos muitas
coisas para contar.
5.ª feira, 19 de Setembro
Também começaram as aulas na escola de música. Duas vezes por
semana tenho aulas de piano e de solfejo. As aulas de ténis também
recomeçaram, e estou agora no grupo dos grandes.
Zlata Filipovic. Diário de Zlata
PARA SABERES MAIS
Zlata Filipovic, nascida em 1980, tinha 11 anos quando começou a
escrever um Diário que veio a ser publicado e se tornou conhecido pelo
facto dela descrever o seu dia-a-dia em Sarajevo, na Bósnia, durante a
guerra que perturbou a vida dos habitantes desse país, ao longo de mais
de dois anos.
PARA SABERES MAIS
Dá-te informações
interessantes que te
permitem aprofundar os
assuntos abordados ou
conhecer um pouco os
autores dos diferentes
textos.
CAMINHA NA NET...
Dá-te sugestões de
aspectos que podes
pesquisar na Internet
sobre assuntos
relacionados com a
Unidade Lectiva.
5. CONSULTA NA BíBLIA
Ex, D
eut
Dá-te informações
sobre passagens bíblicas
que poderás consultar em
cada Unidade Lectiva.
TEXTO BÍBLICO
Indica-te que o texto
que vais ler é uma
passagem bíblica.
A lupa foca o livro da
Bíblia a que pertence
o texto.
6. ÍNDICE
Unidade Lectiva 1 · Caminhar em grupo
UM NOVO ANO ESCOLAR
16
APRENDER A ESTUDAR... APRENDER A VIVER!
18
INTEGRO UM NOVO GRUPO
22
OS DEZ MANDAMENTOS
27
O MAIS IMPORTANTE DOS MANDAMENTOS
30
A BÍBLIA
31
O povo onde nasceu a Bíblia
31
Origem da palavra Bíblia
32
Organização da Bíblia
34
As línguas em que foi escrita a Bíblia
36
Como encontrar um texto na Bíblia
37
Como citar textos da Bíblia
38
AGORA JÁ SOU CAPAZ DE
39
7. Unidade Lectiva 2 · A Água, Fonte de Vida
A ÁGUA NA VIDA QUOTIDIANA
42
RECURSOS HÍDRICOS ORGANIZADORES DAS SOCIEDADES
44
A ÁGUA E AS POPULAÇÕES
49
A ÁGUA NA EXPRESSÃO ARTÍSTICA
52
Na música
53
Na literatura religiosa
56
Na literatura
60
SIMBOLOGIA JUDAICO-CRISTÃ DA ÁGUA
63
O Dilúvio e a arca de Noé
64
Nuvem
66
Fonte
67
Peixe
68
JESUS - A ÁGUA DA VIDA
69
TERRA - O PLANETA AZUL
75
A ÁGUA, INDISPENSÁVEL À VIDA
77
A ÁGUA, UM DIREITO DE TODOS
79
Os rios são nossos irmãos
80
A ÁGUA NO MUNDO ACTUAL
81
A ÁGUA AMEAÇADA
84
Em defesa da água
85
Uma responsabilidade de todos
87
PROJECTO INTERDISCIPLINAR
88
AGORA JÁ SOU CAPAZ DE
89
8. Unidade Lectiva 3 · Jesus de Nazaré
JESUS: UM MARCO NA HISTÓRIA
92
O NASCIMENTO DE JESUS
94
Jesus, o messias prometido
95
JESUS NA ARTE
97
OS ENSINAMENTOS DE JESUS
100
O amor infinito de Deus
102
O projecto de Deus
103
Prioridade dos valores espirituais
104
O CONFLITO COM O PODER
106
JESUS É PRESO, JULGADO E CONDENADO
108
DEUS QUER A VIDA E NÃO A MORTE
112
PROJECTO INTERDISCIPLINAR
114
AGORA JÁ SOU CAPAZ DE
115
9. Unidade Lectiva 4 · Promover a Concórdia
A LIBERDADE HUMANA
118
O AGIR MORAL
120
A DESCONFIANÇA E O MEDO
122
MAL MORAL E PECADO
127
MANIFESTAÇÕES DO MAL
131
A ruptura com o ambiente
PROMOVER A CONCÓRDIA
O perdão promove a concórdia
137
139
145
PROJECTO INTERDISCIPLINAR
148
AGORA JÁ SOU CAPAZ DE
149
10. Unidade Lectiva 5 · A Fraternidade
O PASSADO COMUM DA HUMANIDADE
152
Organização em grupo
153
A espiritualidade
154
OS GRUPOS A QUE PERTENCEMOS
155
IGUALDADE ENTRE AS PESSOAS
158
O UNIVERSO E A TERRA SÃO A NOSSA CASA
160
A FRATERNIDADE CRISTÃ
162
A amizade
165
QUANDO NEGAMOS OS IRMÃOS...
169
A LUTA NÃO-VIOLENTA PELA FRATERNIDADE
172
A Declaração Universal dos Direitos Humanos
175
EXPRESSÕES DA FRATERNIDADE NA ARTE
178
VIVER COM OS OUTROS COMO IRMÃOS
182
Misericórdias portuguesas: um exemplo de fraternidade
183
A origem cristã dos valores da Misericórdia
186
VAMOS CONSTRUIR UM MUNDO FRATERNO
187
A alegria da fraternidade
189
PROJECTO INTERDISCIPLINAR
191
AGORA JÁ SOU CAPAZ DE
192
11. INTRODUÇÃO
Bem-vindo ao 5.º ano!
Este ano é muito importante para ti. Já cresceste muito desde que
entraste para a escola e começaste a aprender a ler, a escrever e a
fazer contas. O teu corpo cresce e a tua inteligência desenvolve-se.
Sabes mais e queres aprender muitas outras coisas novas. Já realizas
actividades sozinho e o resultado obtido é também muito melhor; os
adultos atribuem-te novas responsabilidades. Observam-te, dão-te
conselhos e ajudam-te a mudar. Estás, portanto, a começar uma nova
etapa da tua vida.
A disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica vai ajudar-te
a crescer como pessoa, proporcionando-te o enriquecimento da tua
personalidade e o reconhecimento da dignidade humana. Nela vais
contactar com património religioso, histórico, cultural e científico que
te vai facultar o conhecimento dos outros e reforçar o respeito pelos
direitos humanos. Nesta caminhada, vais mergulhar em experiências
de aprendizagem que te possibilitam construir relações baseadas no
entendimento e no encontro, através da descoberta do valor do outro.
Nesta disciplina, vais contactar com muitas manifestações e
referências à vivência religiosa e espiritual da pessoa humana. O
conhecimento da mensagem cristã ajuda-te a descobrir o outro e a
respeitar a sua diferença e riqueza. Através de Jesus Cristo e da forma
como ele ensinou as pessoas a viverem, de acordo com a vontade de
Deus, vais aprender a construir um mundo melhor.
São estes os temas ou Unidades Lectivas que irás trabalhar com o
teu professor ou a tua professora e os teus colegas, ao longo do ano:
UNIDADE LECTIVA 1
CAMINHAR EM GRUPO
UNIDADE LECTIVA 2
A ÁGUA, FONTE DE VIDA
UNIDADE LECTIVA 3
JESUS DE NAZARÉ
UNIDADE LECTIVA 4
PROMOVER A CONCÓRDIA
UNIDADE LECTIVA 5
A FRATERNIDADE
14. 16
unidade 1
UM NOVO
ANO ESCOLAR
Mafalda! Mafalda!...
Deves ver o lado
positivo das coisas:
começou agora um
novo ano escolar...
Lembra-te que
vais encontrar os
antigos colegas
e também é bestial
conhecer novos
amigos...
...e a alegria
dos recreios...
Sim, tens razão...
O quê?
Apontaste isso
num papel?
Acabou o Verão! A praia, o sol, o mar e o calor começam a ser imagens
e recordações que ficam na nossa memória.
A verdade é que, por esta altura, já começamos a sentir falta dos
nossos amigos, das brincadeiras no recreio, dos nossos professores, do
cheirinho dos livros e cadernos novos. Nas lojas, já se fazem campanhas
de regresso às aulas e todos querem materiais novos.
Os pais estão, na maior parte dos casos, de volta ao trabalho
enquanto nos tentam ajudar: compram livros, vão à escola ver horários,
conciliam os horários do trabalho deles com o do nosso estudo. Ufa! O
mês de Setembro é uma azáfama!
Enquanto tudo isto acontece, já os professores trabalham há algum
tempo para nos receberem na escola. Os dias estão a tornar-se cada
vez mais curtos; as manhãs e as tardes mais frias. As folhas das
árvores começam a amarelecer por causa da aproximação do Outono,
e o vento, que se vai começando a sentir, levanta-as do chão, fazendo-as esvoaçar.
À medida que os dias vão passando, os teus olhos observam tudo
isto e sabes que tudo à tua volta está a mudar. Caminhas com firmeza
para uma nova escola, onde vais contactar com um novo ciclo de ensino,
conhecer muitas pessoas diferentes e tornar mais fortes as amizades
iniciadas no 1.º ciclo.
Não estás sozinho nesta caminhada, todos passamos por estas
alterações na nossa vida.
15. unidade 1
MAIS UM ANO
2.ª feira, 2 de Setembro
Para trás ficou um longo Verão quente, dias de férias sem pensar em
nada e diante de mim um novo ano escolar. Estou desejosa de rever as
minhas colegas de turma, de as reencontrar, na escola e fora da escola.
Não voltei a ver algumas delas desde que tocou a campainha no fim do
ano. Estou contente, vamos poder falar da escola e contar umas às outras
as nossas pequenas infelicidades e as nossas grandes alegrias. Estamos
de novo todas juntas.
3.ª feira, 10 de Setembro
Passámos uma semana a arranjar os livros, os cadernos e todo o
material, a contar umas às outras as nossas férias na praia, na montanha,
no campo, no estrangeiro. Todas nós fomos a qualquer sítio e temos muitas
coisas para contar.
5.ª feira, 19 de Setembro
Também começaram as aulas na escola de música. Duas vezes por
semana tenho aulas de piano e de solfejo. As aulas de ténis também
recomeçaram, e estou agora no grupo dos grandes.
Zlata Filipovic. Diário de Zlata
PARA SABERES MAIS
Zlata Filipovic, nascida em 1980, tinha 11 anos quando começou a
escrever um Diário que veio a ser publicado e se tornou conhecido pelo
facto dela descrever o seu dia-a-dia em Sarajevo, na Bósnia, durante a
guerra que perturbou a vida dos habitantes desse país, ao longo de mais
de dois anos.
17
16. 18
unidade 1
APRENDER A ESTUDAR...
Aprender a viver!
BIBLIOTECA
Neste novo ano, talvez encontres alguns colegas que já conheces. Mas
há tantas coisas novas, tantas coisas diferentes! Há novas matérias
para estudar, lugares e espaços diferentes e muitas pessoas que nunca
tinhas visto. Vais aprender muito, e aprende-se de tantas maneiras!
Se leres com atenção o poema que se segue, vais ver como é bonito
e importante descobrir coisas novas acerca de ti mesmo(a), dos outros
e do mundo em que vivemos.
APRENDER A ESTUDAR
Estudar é muito importante, mas pode-se estudar de várias maneiras...
Muitas vezes estudar não é só aprender o que vem nos livros.
Estudar não é só ler nos livros que há nas escolas.
É também aprender a ser livres sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante, às vezes, urgente.
Mas os livros não são o bastante para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever, mas também a viver, mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer, aprender a estudar.
17. unidade 1
Aprender a crescer quer dizer:
aprender a estudar, a conhecer os outros, a ajudar os outros, a viver com
os outros.
E quem aprende a viver com os outros aprende sempre a viver bem
consigo próprio.
Não merecer um castigo é estudar.
Estar contente consigo é estudar.
Aprender a terra, aprender o trigo e ter um amigo também é estudar.
Estudar também é repartir, também é saber dar o que a gente souber dividir
para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro, ter uma cabeça que saiba pensar, pois, na
escola da vida, primeiro está saber estudar.
Contar todas as papoilas de um trigal é a mais linda conta que se pode
fazer.
Dizer apenas música, quando se ouve um pássaro, pode ser a mais bela
redacção do mundo...
Estudar é muito
mas pensar é tudo!
José Carlos Ary dos Santos. Obra Poética
No entanto, não cresces sozinho, estás acompanhado por adultos
que te ajudam neste processo de mudança tão grande. Tanto em casa
como na escola, os adultos apoiam-te nas dificuldades que tiveres. Tal
como acontece com os teus amigos da tua idade. É isso que a canção
Crescer contigo pretende exprimir.
CRESCER CONTIGO
Ainda, ainda não sabias ler,
Escrever ou mesmo contar,
E já, já encantavas o mundo
E muito me fazias sonhar!
Imaginas, imaginas muitas coisas,
Aventuras, histórias de arrepiar,
Ao ouvir-te, ao ouvir-te eu aprendo
Que há muitas maneiras de pensar.
Todos os dias me mostras
Um ponto de vista diferente,
É surpreendente.
19
18. 20
unidade 1
Ouve, ouve, ouve lá o que tenho a dizer;
Quero mostrar-te tudo o que sei fazer.
Gosto, gosto, gosto muito que acredites em mim;
Desejo ser importante para ti.
Há todo, há todo um abecedário
A de Amor, B Bestial
Para, para eu poder dizer
Que sei o quanto és genial.
Com o F, com o F tu és Franco
E podes ser também um Furacão
Contigo ao meu lado na vida
É tudo, tudo pura emoção!
Com o L Lições de Moral
À minha imagem me ensinas
Que há coisas que faço mal.
Ouve, ouve, ouve lá o que tenho a dizer;
Quero mostrar-te tudo o que sei fazer.
Gosto, gosto, gosto muito que acredites em mim;
Desejo ser importante para ti.
Com M, com o M tu tens Medos,
Mas é importante aceitar,
E sei que também tens alguns Quês...
quem os não tem pode avançar.
Tens R, tens um R de Reguila,
Tens também um V de Valentão;
Importa, é importante dar-te voz,
Muito amor, afecto, compreensão.
Dizem para não ligar, que és miúdo,
Mas sei que quem ouve os seus filhos
Aprende e cresce muito!
Ouve, ouve, ouve lá o que tenho a dizer;
Quero mostrar-te tudo o que sei fazer.
Gosto, gosto, gosto muito que acredites em mim;
Desejo ser importante para ti.
Música: Óscar Lopes/Letra: Ana Teresa Silva
Canta: Joana — CD: Cresce Connosco, 8
19. unidade 1
21
As mudanças que estás a viver são como um degrau na tua vida: és
mais alto, mais forte, estás mais desenvolvido. Já sabes muitas coisas,
mas ainda tens muitas para aprender. Com certeza gostaste desta
canção, porque tem muito a ver com a tua vida.
Mas nem sempre é fácil lidar com tanta mudança!
Para além do esforço que tens de fazer para acolher as mudanças
interiores e exteriores, também te é pedido que trabalhes em parceria com
os outros e que sejas capaz de fazer tudo isso com vontade e coragem.
No início deste ano lectivo, uma das coisas importantes que tens
a fazer é conhecer as pessoas que agora começaram a fazer parte da
tua vida. Não basta aprendermos muitas coisas novas. As pessoas são
mais importantes do que tudo quanto pudermos vir a saber. Por isso
vale a pena conhecê-las e relacionarmo-nos com elas.
CONHECER OS OUTROS
Na janela em frente da janela do meu quarto, no prédio do lado de lá da
rua, a minha vizinha cose à máquina. Através da sua varanda consigo ver
tudo o que lá se passa.
Acho estranho tudo isto.
Como se explica que eu saiba tanta coisa dos romanos, e dos mouros,
e não saiba nada da minha vizinha.
Como se explica que eu saiba quantas toneladas pesava a espada de
D. Afonso Henriques e não saiba quanto pesa a máquina de costura da
minha vizinha.
Como se explica que eu saiba como viveram as pessoas há milhares de
anos e não saiba como vive a minha vizinha.
Como se explica que eu saiba que Isabel era o nome da mulher de
D. Dinis e não saiba nem o nome da minha vizinha.
Olho às vezes para as janelas dos prédios da minha rua e fico a pensar
que não sei nada de quem lá vive, que não sei nada do que se passa ao pé
de mim, todos os dias. Parece-me que as janelas dos prédios são assim
uma espécie de gavetas de um móvel muito grande de que se perdeu a
chave.
Alice Vieira
Alice Vieira. Rosa, Minha Irmã Rosa
Somos diferentes uns dos outros. Às vezes, essas diferenças
conduzem a conflitos. Porque os outros não pensam da mesma maneira
que nós, porque não têm os comportamentos que desejaríamos que
tivessem, e por tantas outras razões, vemo-los como inimigos ou são
para nós indiferentes. Mas esta forma de nos relacionarmos com eles
não é positiva. De facto, as diferenças entre as pessoas são uma das
maiores riquezas: podemos receber muito dos outros e também temos
muito a dar-lhes.
PARA SABERES MAIS
Alice Vieira nasceu em
Lisboa, em 1943. É jornalista
e escritora, tendo publicado
muitas obras para crianças
e colaborado em programas
televisivos infantis.
20. 22
unidade 1
INTEGRO UM NOVO GRUPO
A vida em sociedade decorre num determinado tempo e lugar e
organiza-se em grupos. Somos membros de uma família, de grupos
desportivos e musicais, participamos na catequese, nos escuteiros,
integramos uma turma... o que pressupõe uma certa ordem, ainda
que não tenhamos consciência disso. Nos diferentes grupos a que
pertencemos, cada um tem características e necessidades próprias
que quer ver respeitadas e satisfeitas.
Se cada um procurasse satisfazer apenas as suas necessidades
e pontos de vista, sem ter em conta as necessidades dos outros, as
nossas relações sociais tornar-se-iam impossíveis, uma vez que os
comportamentos de cada um poderiam pôr em causa os direitos e o
bem-estar dos outros.
Viver com os outros exige que sejamos capazes de criar consensos.
Quando não estamos de acordo com eles, só há uma maneira de
podermos continuar juntos, é procurar encontrar soluções que sejam
aceites por todos, ou pelo menos pela maioria. O resultado final não
será o que nós propusemos, mas também não será exactamente o que
os outros propuseram: é fruto de um consenso. O trabalho que conduz
ao consenso é difícil e, por vezes, demora algum tempo. Chamamos
negociação ao esforço que fazemos para conseguir alcançar consensos
com os outros. Só assim é possível viver em comunidade. E como nós
somos seres sociais, precisamos de viver em conjunto com outros seres
humanos para nos sentirmos felizes. O consenso é então necessário.
21. unidade 1
As regras, normas ou leis que orientam a vida em grupo, são o
resultado de consensos numa sociedade (o que não significa que todos
estejamos de acordo com elas). As normas representam os valores e os
padrões de comportamento considerados fundamentais para o bom
funcionamento de cada grupo. Há normas que regulam o funcionamento
do país, e outras que regulam o funcionamento de instituições, ou ainda
de grupos. Também as escolas, enquanto organizações, precisam de
algumas normas para que todos possamos viver em paz e harmonia,
sem conflitos desnecessários. Temos, pois, o regulamento de escola,
que define os comportamentos considerados correctos e desejáveis
para a vida escolar e, por outro lado, também determina penalizações
para os casos de não cumprimento das normas.
O problema coloca-se quando as pessoas não cumprem essas normas
e passam por cima dos direitos dos outros. Se isso acontecer, estão
a agir de forma egoísta, pondo em causa a vida em comunidade. É
verdade que podem existir normas que são humanamente más. Isso
acontece especialmente em alguns regimes de ditaduras, em que a
ideia de um pequeno grupo é imposta a todos. Não se gerou consenso
nenhum, porque não houve nenhuma negociação, nenhum debate.
Mas, em geral, as normas existem porque fazem sentido; devem, por
isso, ser respeitadas.
UMA TERRÍVEL SANÇÃO
Depois do toque de saída, o Francisco saiu da sala apressadamente,
seguido pelo Pedro. A agitação era muita. O Francisco tinha tido
conhecimento de alguns acontecimentos vividos pelo André e a Vera.
Virou-se para o Pedro e perguntou-lhe:
— Sabes o que aconteceu com o André e a Vera?
— ão. Porque é que estás tão agitado? Aconteceu alguma coisa de
N
grave?
— ateram num miúdo mais novo. Ele tinha-os insultado, só porque
B
eles não o deixaram jogar pingue-pongue. Então, passaram-se os dois e
deram-lhe um par de estalos. Mas o miúdo foi fazer queixa deles. Agora,
haverá consequências. Só não sabemos quais serão. O André e a Vera
estão desesperados.
— odemos ir ver ao regulamento interno da escola que tipo de
P
sanções é que se aplicam nestes casos. Tens o regulamento da escola?
— Não.
— ois, eu também não. Mas acho que sei onde encontrá-lo. Vamos
P
à página electrónica da escola que deve lá estar.
Os dois amigos correram para a biblioteca, pediram para usar um
computador disponível, pesquisaram a página da escola e lá encontraram
o regulamento interno. Na parte referente às infracções disciplinares
acharam o que queriam.
— coisa é séria — disse o Pedro —. Vamos falar com o André e a
A
23
VOCABULÁRIO
Ditadura: Sistema
político em que o poder se
concentra nas mãos de um
ou de poucos e suprime as
liberdades individuais.
22. 24
unidade 1
Vera, para ver como os podemos ajudar. O regulamento fala de infracção
grave, mas também refere atenuantes. Pode ser que nos lembremos de
alguma coisa que os livre de um castigo severo, embora tenham agido mal.
Um pouco mais tarde, os quatro amigos delineavam uma estratégia.
Mas não havia consenso entre eles. O André dizia que o melhor era
procurarem testemunhas falsas que negassem os factos. A Vera respondia
que isso não era nada bom. Por um lado, era mentira, por outro, podiam
ser descobertos e então não só eles seriam castigados como também as
suas testemunhas. O Pedro avançava a hipótese de acusarem o miúdo de
lhes ter batido em primeiro lugar; deste modo, seria legítima defesa. Mas
nem assim concordaram: uma mentira traz sempre inúmeros perigos;
poderá ser mais um problema a somar ao problema anterior. Continuaram a
discussão até que, quando o André e a Vera já estavam quase
desesperados, o Francisco propôs que fizessem uma lista de atenuantes; e
começou a ditar: 1) Vocês foram insultados pelo miúdo, antes de lhe terem
feito qualquer espécie de mal; 2) Os insultos atingiram a dignidade das
vossas mães; 3) Nesse dia, estavam nervosos porque tinham feito uma
ficha de avaliação e iam fazer outra logo a seguir (o pingue-pongue era
uma forma de descontrair)... Pouco depois, já tinham uma lista de
atenuantes bastante completa e bem elaborada. O André disse:
— E se pedíssemos desculpa ao miúdo e mostrássemos
arrependimento?
— Boa ideia — disseram todos. Seria mais uma forma de diminuir o
castigo.
— Podemos até prometer não voltar a infringir o regulamento interno
até ao final do ano — disse a Vera. Todos concordaram.
Pouco depois, já estavam mais animados. Afinal, valia a pena discutir
os assuntos em conjunto e chegar a consensos razoáveis. Muitas cabeças
pensam sempre melhor do que uma só.
Todos os grupos têm de ter regras ou normas para organizar a
convivência entre as pessoas. Se assim não for, instala-se a desordem
e ninguém sabe com o que pode contar. Algumas regras são mais
importantes do que outras, mas todas contribuem para que se possa
viver bem no grupo. No regulamento da escola, há normas que são
indispensáveis para o seu funcionamento como instituição de ensino;
e há outras que pretendem facilitar o relacionamento entre as
pessoas.
Os países também têm normas para que se possa organizar a vida
de todos os seus cidadãos. A sociedade precisa de normas ou leis para
funcionar. Por isso, as leis não podem ser respeitadas só por algumas
pessoas, mas por todas.
A Constituição da República Portuguesa é a lei fundamental
que rege o nosso país. Lê os artigos da Constituição que a seguir se
transcrevem.
23. unidade 1
25
CAMINHA NA NET:
Faz uma pesquisa em
http://dre.pt sobre a
Constituição da República
Portuguesa:
• Quando foi aprovada?
• Quando entrou em vigor?
• Quem a elaborou?
Assembleia da República
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Artigo 11.º
2. O Hino Nacional é A Portuguesa.
3. A língua oficial é o Português.
Artigo 12.º
Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos
aos deveres consignados na Constituição.
Artigo 13.º
Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são
iguais perante a lei.
Artigo 74.º
Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade
de oportunidades, de acesso e êxito escolar.
24. 26
unidade 1
Como vês, todos nós precisamos de normas para viver bem.
Aliás, as regras ou normas são fundamentais para se estar e
viver em grupo.
O texto que encontras a seguir fala de alguns valores
muito importantes para que possamos viver com os outros em
harmonia.
UMA HISTÓRIA PEQUENINA
“Conta, mamã, uma história,
uma história pequenina...”
Sim, meu filho: ouve uma história,
pequenina, pequenina...
O sol é oiro!
A lua é prata!
As estrelas, pérolas!
“Mamã, eu quero o sol!”
Sim, meu filho: terás na vida o sol
se fores sincero...
“Mamã, eu quero a lua!”
Sim, meu filho: terás na vida a lua
se fores honesto...
“Mamã, quero as estrelas!”
Sim, meu filho: terás na vida as estrelas
Se fores justo e humano...
Vasco Cabral. A Luta é a minha Primavera
PARA SABERES MAIS
Vasco Cabral era natural da Guiné-Bissau. Nasceu em 1926 e faleceu
em 2005.
Lutou pela independência do seu país quando este ainda era uma
colónia portuguesa e, depois de obtida a independência, ocupou
nele diversos cargos políticos. Os seus poemas foram reunidos numa
colectânea com o nome A luta é a minha Primavera.
Vasco Cabral
25. unidade 1
OS
DEZ MANDAMENTOS
Moisés e as Tábuas da Lei, por Rembrandt
Imagina-te há mais de 3000 anos, escravo, sem dinheiro, sem
autonomia, sem poderes dispor do teu tempo como entendesses, sem
nenhuma certeza quanto ao futuro... mas com uma vontade imensa
de ser livre, de construir a vida, de poder louvar, de poder amar, de
acreditar nas pessoas que te rodeiam, de ser feliz, de ter fé!
É uma história com todos estes ingredientes que vamos conhecer
agora.
27
26. 28
unidade 1
Monte Sinai
Ex, D
eut
Há muitos séculos atrás, um pequeno povo, o povo hebreu, conseguiu
sair do Egipto onde era maltratado. Homens, mulheres e crianças
caminhavam pelo deserto em direcção à sua terra, conduzidos pelo seu
chefe, Moisés. Um dia, Deus falou a Moisés no cimo do monte Sinai
(também conhecido por monte Horeb). Deu-lhe um conjunto de regras,
de mandamentos, para que todas as pessoas daquele povo pudessem
viver em paz umas com as outras.
DEUS FALOU A MOISÉS
eus pronunciou as seguintes palavras:
2“ u sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair
E
do Egipto, da terra da escravidão. 3Não
tenhas outros deuses, além de mim.
4
Não faças para ti imagens esculpidas
representando o que há no céu, na terra e nas
águas debaixo da terra. 5Não te inclines diante de
nenhuma imagem, nem lhes prestes culto.
7
Não faças mau uso do nome do Senhor, teu
Deus.
8
Recorda-te do dia de sábado, para o
consagrares ao Senhor. 9Podes trabalhar
durante seis dias, para fazeres tudo o que
precisares. 10Mas o sétimo dia é dia de descanso,
consagrado ao Senhor, teu Deus. Nesse dia, não
faças trabalho nenhum, nem tu nem os teus filhos
nem os teus servos nem os teus animais nem
o estrangeiro que viver na tua terra. 11Porque,
durante os seis dias, o Senhor fez o céu, a terra,
o mar e tudo o que há neles, mas descansou no
1
sétimo dia. Por isso, o Senhor abençoou o dia de
sábado e declarou que aquele dia era sagrado.
12
Respeita o teu pai e a tua mãe, para que vivas
muitos anos na terra, que o Senhor, teu Deus, te
vai dar.
13Não mates.
14Não cometas adultério.
15Não roubes.
16
Não faças uma acusação falsa contra ninguém.
17
Não cobices a casa do teu semelhante: não
cobices a sua mulher nem os seus escravos nem
o seu gado nem os seus jumentos nem coisa
nenhuma do que lhe pertence.”
Ex. 20, 1-5.7-17
Se cumprirmos fielmente estes mandamentos
que ele nos deu, o Senhor há-de tratar-nos com
bondade.
Deut. 6, 25
27. unidade 1
Os mandamentos vieram ajudar as pessoas daquele povo a viverem
melhor, respeitando Deus, respeitando-se umas às outras, bem como
tudo aquilo que pertence aos outros.
Estas leis foram gravadas em pedra, que ficaram conhecidas pelo
nome de Tábuas da Lei e ao conjunto destas leis costuma chamar-se Decálogo ou Dez Mandamentos. Se leres com atenção o texto,
podes verificar que é possível dividi-lo em duas partes. A primeira diz
respeito às obrigações das pessoas para com Deus (os primeiros quatro
mandamentos: vv 2-11); a segunda refere as obrigações das pessoas
umas para com as outras (últimos seis mandamentos: vv 12-17).
Assim, os primeiros mandamentos revelam a fé do povo de Israel
em Deus, o Libertador, aquele que os retirou da escravidão do Egipto.
Os últimos revelam a consciência de que não é possível viver em
comunidade sem regras que orientem os comportamentos individuais.
O povo de Israel sabia bem que as pessoas tendem a ser egoístas, a
olhar só para os seus interesses e desejos particulares e a esquecer
os outros, os seus interesses e necessidades. Por isso, era necessário
estabelecer regras claras que guiassem o comportamento das pessoas,
no respeito pelos direitos e a dignidade dos outros. O decálogo foi, pois,
uma dádiva de Deus para a construção da paz entre os hebreus.
29
28. 30
unidade 1
PARA SABERES MAIS
Doutores da Lei: No tempo
de Jesus, era dado este
título a homens que tinham
estudado muito e conheciam
bem as leis civis e religiosas.
No entanto, só depois dos
quarenta anos adquiriam
este estatuto. Até aí eram
chamados escribas.
O MAIS IMPORTANTE
DOS MANDAMENTOS
Muitos anos depois de Moisés, Jesus Cristo veio clarificar o aspecto
mais importante destes mandamentos. Ao longo dos séculos, os judeus
tinham multiplicado as leis, ao ponto de ser difícil conhecê-las todas.
Só quem se dedicava ao estudo delas é que estava apto a cumpri-las.
A maior parte do povo simples era desprezada pelos sábios porque não
tinha condições para cumprir todas aquelas regras.
Também se discutia muito, entre os doutores da Lei, qual era o
mais importante de todos os mandamentos. Por isso, Jesus deixou uma
proposta, que torna tudo mais simples, mas não menos exigente.
Mt
O MANDAMENTO MAIS IMPORTANTE
35
m doutor da Lei, fez-lhe esta pergunta,
para o experimentar: 36“Mestre, qual é
o mandamento mais importante
da lei?”
37
Jesus respondeu-lhe: “Ama o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com toda a
alma e com todo o entendimento. 38Este é
que é o primeiro e o mais importante dos
mandamentos. 39O segundo é semelhante a este:
Ama o teu próximo como a ti mesmo.
40 essencial de todo o ensino da lei e dos
O
profetas está nestes dois mandamentos.”
Mt. 22, 35-40
Para Jesus, afinal, todos os mandamentos são apenas diferentes
maneiras de amar a Deus e de amar as pessoas com quem se convive.
Nada mais simples, em vez dos complicados códigos de leis dos sábios
judeus.
Mas este é igualmente um grande desafio e uma grande exigência:
amar a Deus e amar o próximo, ou seja, todo aquele com quem nos
cruzamos e com quem convivemos. Todos sabemos que não é nada
fácil sermos amigos dos outros, sem estabelecermos barreiras aos que
se mostram diferentes de nós. Pelo contrário, com muita frequência,
viramos as costas a quem não concorda connosco, discutimos com quem
não partilha connosco o mesmo ponto de vista, cortamos relações com
aqueles que pertencem a culturas distintas da nossa. Mas, para Jesus,
o grande desafio de Deus é que todos saibamos viver em comunidade
com os outros, independentemente das suas ideias, das suas formas de
vida, da sua religião, etc., desde que essas diferenças não prejudiquem
a vida dos outros.
29. unidade 1
Para vivermos juntos, no mesmo bairro, na mesma escola, na
mesma turma, precisamos de partilhar alguns valores essenciais
que permitem a nossa convivência pacífica. Esses valores são-nos
transmitidos desde o nosso nascimento e vão crescendo dentro de
nós à medida que também vamos crescendo. As regras e as leis são
tentativas de criação de um conjunto de valores que permitam a
convivência pacífica. Mas se acolhêssemos a mensagem de Jesus, não
precisaríamos de mais nenhuma regra: o amor é o valor central, tudo
o resto vem por acréscimo.
Só com base no amor poderemos construir relações de respeito, de
justiça e de paz, fundadas na bondade e na verdade. Como estabelecer
relações deste tipo na turma? Seremos capazes de nos pôr de acordo
quanto a um conjunto de regras que orientam a nossa convivência
durante as aulas? Quais as regras mais importantes e porquê?
A BÍBLIA
Os textos Deus falou a Moisés e O Mandamento mais importante
foram retirados de um livro chamado Bíblia. A Bíblia é o livro sagrado
dos judeus e dos cristãos.
O povo onde nasceu a Bíblia
O povo judeu ou hebreu era um pequeno povo que surgiu no Médio
Oriente, há quase 4000 anos. O grande antepassado deste povo
chamava-se Abraão. Era natural de Ur, uma cidade que ficava no
território onde actualmente é o Iraque. Abraão sentiu-se chamado por
Deus e partiu com a sua mulher, Sara, e tudo o que tinha, à procura de
uma nova região que Deus lhe havia de mostrar. Acabou por se fixar
numa faixa de terra à beira do Mar Mediterrâneo, atravessada pelo rio
Jordão. Foi aí que se foi desenvolvendo o povo que veio a ser conhecido
com o nome de povo hebreu, israelita ou, mais tarde, judeu.
31
30. 32
unidade 1
Ninive
Harran
Assur
o
Ti
re
g
Alepo
Ri
Mari
ACAD
Ugarit
Rio
Hebron
at
Nipur
ELAM
Ur
Damasco
Siquém
Eufr
es
Biblos
Mar Mediterrâneo
Susa
Babilónia
SUMER
Golfo
Pérsico
CANAÃ
Bersabela
Zoão
Nof (Mênfis)
On
Rio Nilo
EGIPTO
El-Amarna
Mar
Vermelho
Percurso de Abraão
Cidades mencionadas
em Gn 12
Deslocação de Abraão de Ur até Canaã
PARA SABERES MAIS
Os textos da Bíblia
foram escritos em
diversos materiais:
pequenas placas
de argila, em papiro
(que era feito através
do cruzamento de
folhas muito finas da
planta do papiro) e
em pergaminho (feito
de peles de animais
curtidas).
Através de todas as dificuldades que viveu, este pequeno povo foi
descobrindo cada vez mais quem era Deus: alguém grande e bom
que o protegia no meio das tempestades da vida. Assim, ao longo dos
séculos, foi registando por escrito acontecimentos da sua história,
ensinamentos e orações. Foi, portanto, surgindo um Livro Sagrado,
formado por textos muito diferentes, escritos em diversas épocas e por
variadíssimos autores. Esse livro sagrado chama-se Bíblia e começa
por contar o encontro e a relação do povo hebreu com Deus.
Cerca de dezanove séculos depois de Abraão, houve um homem
desse povo que “passou pela terra, fazendo o bem”: ajudou os mais
fracos e necessitados e ensinou a todos como ir ao encontro de Deus.
Esse homem foi Jesus Cristo. Aqueles que acreditaram nele e nos seus
ensinamentos passaram a chamar-se cristãos. Houve pessoas do povo
hebreu que se tornaram cristãs, mas outras permaneceram na sua
religião de origem.
Os primeiros cristãos também registaram por escrito a vida e
ensinamentos de Jesus Cristo, bem como a sua maneira de viver a fé.
Esses textos passaram a fazer parte da Bíblia cristã.
Origem da palavra Bíblia
A palavra Bíblia é de origem grega — τα βιβλια — e significa “os
rolos, os livros”.
Byblos é também o nome de uma famosa cidade Fenícia (actual
Líbano), onde os barcos egípcios faziam escala ao transportarem os
papiros egípcios (em grego: byblos) para o ocidente.
31. unidade 1
33
5
4
1
2
1. Papiro
6
2. Tira-se a casca
3. Corta-se às fatias fininhas
4. Estende-se em cruz
5. obre-se com uma peça
C
3
de linho
6. isa-se com uma pedra
P
ou um maço
Processo de fabrico do papiro no Antigo Egipto
Ânfora de Qumran
Região do Líbano
Rolo de Isaías, encontrado em
Qumran
32. 34
unidade 1
Organização da Bíblia
Para os judeus, a Bíblia é constituída pelo conjunto de livros
sagrados escritos antes de Jesus Cristo.
A Bíblia dos judeus divide-se em três partes: a Lei (Torá, na língua
hebraica), os Profetas (Neviim) e os Escritos (Kethuvim).
A Bíblia católica é um conjunto de 73 livros e está dividida em
duas partes: a que foi escrita antes de Jesus Cristo chama-se Antigo
Testamento (A. T.) e contém 46 livros; a que foi escrita depois de Jesus
Cristo chama-se Novo Testamento (N. T.) e contém 27 livros.
Actualmente, os católicos costumam dividir o Antigo Testamento em
quatro partes: o Pentateuco (cinco livros, que correspondem à Torá),
os Livros Proféticos, os Livros Históricos e os Livros Sapienciais,
que contêm ensinamentos, provérbios, orações e poemas.
A estante da página seguinte mostra a divisão e a distribuição dos
livros da Bíblia Católica.
Papiro antigo com um excerto
da Epístola aos Hebreus
Egípcio
Pirâmides de Gizé
Moisés atravessa Mar Vermelho
33. unidade 1
Evangelhos
e Actos
Pentateuco
Livros
Históricos
Josué
Juízes
Rute
I Samuel
II Samuel
I Reis
II Reis
I Crónicas
II Crónicas
Esdras
Nemias
Tobias
Judite
Ester
I Macabeus
II Macabeus
Génesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronómio
35
Antigo
Testamento
Novo
Testamento
Mateus
Marcos
Lucas
João
Actos dos Apóstolos
Cartas de São Paulo
Livros
Sapienciais
Livro de Job
Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cântico dos Cânticos
Livro da Sabedoria
Livro de Ben Sira
Romanos
I Coríntios
II Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
Cartas aos Hebreus
e Cartas Católicas
Livros
Proféticos
Isaías
Jeremias
Lamentações
Baruc
Ezequiel
Daniel
Oseias
Joel
Amós
Abdias
Jonas
Miqueias
Naum
Habacuc
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
Neo-babilónico
I Tessalonicences
II Tessalonicences
I Timóteo
II Timóteo
Tito
Filémon
Hebreus
Tiago
I Pedro
II Pedro
I João
II João
III João
Judas
Apocalipse
34. 36
unidade 1
As línguas em que foi escrita
a Bíblia
A Bíblia começou a ser escrita por volta do século X a.C. e os últimos
textos do Novo Testamento foram terminados já no fim do século I d.C.
ou princípio do século II d.C. Para os crentes, os autores desses textos
foram homens inspirados por Deus.
A Bíblia foi redigida em três línguas: o hebraico, que é aquela
em que foi escrita a maior parte do Antigo Testamento; o aramaico,
que foi usado mais tarde na redacção de alguns livros e passagens do
A. T.; e o grego, que foi a língua em que foram escritos originalmente
alguns livros do A. T., e em que, dois séculos antes de Jesus Cristo,
foi traduzido todo o A. T. O grego, é também, a língua em que foram
redigidos todos os livros do Novo Testamento. O aramaico era a língua
falada pelos judeus no tempo de Jesus.
Página do Novo Testamento da Bíblia impressa por Gutemberg
PARA SABERES MAIS
Retrato de Johannes Gutenberg
Bíblia impressa de Gutemberg
Actualmente, a Bíblia encontra-se traduzida em 2403 línguas, segundo
a Scripture Language Report, e é o livro mais traduzido do mundo. Foi o primeiro
livro a ser impresso por Johannes Gutenberg, entre 1450 e 1455, e é o livro
mais lido, da literatura mundial.
São Jerónimo (século III d.C.) chamou pela primeira vez ao conjunto de
livros que formam o Antigo Testamento e o Novo Testamento “Biblioteca
Divina”.
No final do século XIII, no reinado de D. Dinis, foram traduzidos os
primeiros excertos da Bíblia para a língua portuguesa. A primeira Bíblia
completa, em língua portuguesa, foi publicada em 1753.
35. unidade 1
37
A tradução para o grego de toda a Bíblia, no séc. II a. C., ficou
conhecida como Tradução dos Setenta ou Bíblia de Alexandria. A
tradução foi pedida pela comunidade judaica de Alexandria, no Egipto,
que já não falava o hebraico, mas o grego.
A lenda relata que setenta sábios, isolados na ilha de Faros,
traduziram cada um por si, durante setenta dias, toda a Bíblia; no
final, confrontaram os textos e todos eles eram iguais! Para os sábios,
esta foi a forma de Deus aprovar aquela tradução. Claro que se trata
de uma lenda e não de factos históricos. O que sabemos ao certo é
que a tradução foi feita, tendo sido usada pelos judeus que já não
compreendiam o hebraico.
Como encontrar um texto
na Bíblia
O texto da Bíblia sobre a entrega dos Mandamentos a Moisés
pertence ao livro do Êxodo, que faz parte do Pentateuco (ou da Lei
para os judeus).
O texto bíblico sobre o mandamento mais importante é do Evangelho de S. Mateus, que foi um dos discípulos de Jesus.
PARA SABERES MAIS
•
Discípulo quer dizer aluno. Os discípulos de Jesus eram homens que
deixaram as suas casas e as suas famílias para o acompanharem e
aprenderem com ele.
• oze desses discípulos foram escolhidos por Jesus para formarem um
D
grupo que ficasse mais perto dele e o seguisse para todo o lado.
• póstolo quer dizer enviado. Apóstolos foram os discípulos de Jesus
A
que foram enviados por ele a proclamar a sua mensagem a todos os
povos.
A Bíblia tem os livros organizados conforme a estante que pudeste
ver mais acima. Se abrires a Bíblia na página do índice, poderás
confirmar essa mesma organização.
Os livros da Bíblia encontram-se divididos em capítulos e
versículos para que a sua citação e pesquisa seja mais fácil e
rápida.
A pesquisa de um texto da Bíblia é feita através de três elementos:
o nome do livro, que pode pertencer ao Antigo Testamento ou ao
Novo Testamento, o capítulo e os versículos.
Por isso, a primeira coisa a procurar, quando queremos encontrar
um determinado texto, é o nome do livro onde o texto está escrito.
Bíblia do Séc. XII com iluminura
36. 38
unidade 1
PARA SABERES MAIS
Os livros da Bíblia
não foram escritos
inicialmente em
capítulos e versículos
numerados. Depois
de várias tentativas
de divisão do
texto, a actual, em
capítulos, foi feita,
no século XIII, por
Estêvão Langton,
professor em Paris e
futuro arcebispo de
Cantuária (Inglaterra).
No século XVI, Robert
Étienne, impressor
e editor parisiense,
dividiu-a em
versículos.
Os nomes dos livros podem ser procurados no índice da Bíblia e
estão também, em geral, no cimo de cada página.
Depois de se encontrar o livro, procura-se o capítulo. Cada capítulo
está normalmente assinalado por algarismos de grandes dimensões. A
seguir ao capítulo, procura-se o versículo, indicado por pequenos
algarismos inseridos no meio do texto.
Como citar textos da Bíblia
Uma citação bíblica é a indicação do livro, capítulo e versículo
(ou versículos) necessários para se encontrar um determinado texto.
Quando pretendemos fazer uma citação da Bíblia, isto é, quando
queremos indicar o texto que queremos ler, ou no qual se encontra
uma passagem que tencionamos assinalar, devemos seguir as normas
das citações Bíblicas.
Numa citação, o nome do livro aparece em primeiro lugar.
Normalmente os nomes dos livros da Bíblia são abreviados; as
abreviaturas estão sempre indicadas no princípio ou no fim da Bíblia.
A indicação do capítulo aparece em segundo lugar e os versículos em
terceiro lugar. Os números que indicam os versículos separam-se do
número indicativo do capítulo com uma vírgula.
ÊXODO 20,1-7
Nome do Livro
Capítulo
Versículo
Página da Bíblia Interconfessional
37. unidade 1
As citações que se seguem são alguns exemplos que te ajudam a
compreender o que acabaste de ler.
Ex 20, 1.2: esta citação refere-se ao livro do Êxodo, capítulo 20,
versículos 1 e 2.
Ex 20, 1-10: esta citação refere-se ao livro do Êxodo, capítulo 20,
versículos 1 a 10.
Ex 20, 1-10. 12-17: Esta citação refere-se ao livro do Êxodo, capítulo
20, versículos 1 a 10 e versículos 12 a 17.
No teu Manual de Educação Moral e Religiosa Católica vais
encontrar, em cada Unidade Lectiva, textos bíblicos que te ajudarão
a conhecer um pouco desse grande livro que é a Bíblia. Também
vais encontrar citações de muitos outros textos bíblicos que poderás
procurar em tua casa, na biblioteca da tua escola, ou até na Internet.
A primeira Bíblia impressa em gráfica, feita por Johannes Gutenberg
AGORA JÁ SOU CAPAZ DE:
•
Identificar as mudanças por que passamos na vida e a forma como
podemos aprender com elas, descobrindo novas maneiras de viver.
• iver em conjunto com pessoas diferentes que vão cruzando o meu
V
caminho, enriquecendo-me no contacto com os outros.
• Respeitar regras de convivência para viver bem com todos.
• dentificar o decálogo, reconhecendo a sua importância e as suas
I
consequências para a vida quotidiana, pessoal e colectiva.
• ompreender e apreciar obras de arte que representam acontecimentos
C
importantes, como a entrega dos Dez Mandamentos a Moisés.
• sar a Bíblia, localizando textos bíblicos a partir das respectivas citações.
U
• iver com todos de acordo com os valores do respeito, da justiça, da
V
verdade, da solidariedade, para a construção de relações pacíficas.
39
40. 42
unidade 2
A ÁGUA
NA VIDA QUOTIDIANA
Facilmente percebemos a importância da água no nosso dia-a-dia: na
higiene matinal que nos refresca e revigora, no gole de água fresca que
nos reconforta quando a sede aperta, na limpeza das nossas casas ou
na frescura do jardim regado. E parece-nos tudo tão fácil, basta abrir a
torneira!
Quando percorremos as ruas, gostamos de as ver limpas e lavadas.
Os jardins frescos, com os seus belos chafarizes, convidam-nos a um
agradável passeio. Nos momentos de lazer, como é divertido mergulhar
na piscina, apanhar as ondas do mar com a prancha, descer um rio de
canoa ou simplesmente chapinhar e brincar na água!
A água também tem um lugar de destaque na economia. Ela é essencial
na confecção dos produtos e em todo o funcionamento das fábricas. É
indispensável na agricultura e na pastorícia, sendo utilizada na rega dos
campos e na criação dos animais. Também é o elemento fundamental da
actividade piscatória.
41. unidade 2
43
Se visitamos uma igreja, a água benta, da pia baptismal, convida-nos
à interioridade, à presença de Deus. Aqui, ela assume um valor sagrado,
ganhando outro sentido. De fonte da vida física transforma-se em fonte
da vida espiritual.
No campo ou na cidade, a vida organiza-se em torno da água.
PARA SABERES MAIS
A Bíblia tem 664
referências à água, sendo
591 do AT e 73 do NT.
C
ONSULTA
NA BÍBLIA
Ex 17, 1-6;
Gn 2, 5;
Jo 21, 3. 10
Na Bíblia, aparecem muitas referências ao uso quotidiano da
água, associadas à frescura, aos banhos, à limpeza, à agricultura e à
pesca.
42. 44
unidade 2
RECURSOS HÍDRICOS
ORGANIZADORES
DAS SOCIEDADES
VOCABULÁRIO
• ecursos Hídricos:
R
Conjunto de todos os
recursos naturais de
água — rios, lagos, mares,
oceanos, nascentes e
aquíferos, etc.
• ómada: Nome atribuído
N
à pessoa ou povo que não
se fixa num território ou
local específico e que vive
em constante mudança
de lugar, à procura dos
recursos necessários à sua
sobrevivência.
• edentário: Nome
S
atribuído a pessoa ou povo
que se fixa num território
ou lugar por encontrar nele
condições de sobrevivência.
A existência da água esteve, desde sempre, associada à
organização da vida das comunidades humanas. Já na pré-história, as
comunidades nómadas deslocavam-se entre territórios, mantendo-se
sempre próximas de recursos hídricos. Estes ofereciam-lhes as
condições necessárias à sua sobrevivência. A água fertilizava as terras
e estas eram abundantes em frutos, raízes, caça, peixes e moluscos.
Estes elementos eram a base da alimentação dos grupos recolectores.
Quando se tornaram sedentários, os seres humanos começaram
a fixar-se próximo de recursos hídricos que lhes ofereciam as condições
necessárias à sua sobrevivência. A água, indispensável à vida, era
também necessária para a confecção de alimentos, para o fabrico de
utensílios e para a higiene. Permitiu que as primeiras comunidades
desenvolvessem a agricultura, a pesca e a pastorícia. Desde muito
cedo, os seres humanos perceberam que a água também era um
importante meio de deslocação e de defesa contra os agressores. As
pessoas viajavam em jangadas ou em pequenos barcos. Assim, é fácil
compreender o aparecimento de grandes civilizações em torno dos
recursos hídricos mais importantes: rios, lagos e oceanos.
43. unidade 2
45
VOCABULÁRIO
Civilização: Conjunto
de instituições, técnicas,
costumes, crenças, etc., que
caracterizam uma sociedade
ou um grupo de sociedades.
Pintura rupestre representando uma embarcação (Davidson’s Arnhem, Holanda).
A história da humanidade encontra-se intimamente ligada aos
grandes rios. A concentração de habitantes nas regiões à volta dos
grandes rios — Tigre, Eufrates, Nilo, Indo e Amarelo — deu origem a
importantes civilizações — suméria, egípcia, harappeana e chinesa —
nos 3.º e 2.º milénios a. C.
As extensas planícies banhadas por estes grandes rios, com
regime de cheias periódicas, foram depositando, ao longo de milhares
de anos, materiais fertilizantes nas suas margens. Assim, nestas
regiões, formaram-se planícies aluviais muito férteis.
Ri
o
Ni
lo
0
Região do Crescente Fértil
PARA SABERES MAIS
Harappa: Nome de Cidade e
actual sítio arqueológico da
antiga civilização harappeana, antes chamada
civilização do Vale do Indo.
44. 46
unidade 2
O Egipto, onde viveu e cresceu Moisés, é um território desértico
atravessado pelo rio Nilo. Os terrenos férteis limitam-se a uma estreita
faixa de campos verdejantes nas suas margens, e a um espaço mais
extenso junto à foz, na região do Delta.
Percurso do Nilo
A riqueza do Egipto provinha do rio Nilo, dependendo dele toda
a sua economia. Inundava regularmente a maior parte das terras e,
quando recuava, as terras fertilizadas voltavam a ser semeadas.
Os camponeses lavravam e semeavam os campos antes que o
solo endurecesse. Nas margens do Nilo abundavam árvores de fruto e
legumes, e criavam-se animais. O próprio rio era rico em peixe. Para
além do vale fértil do Nilo, os terrenos que não eram tocados pelas
suas águas, eram secos e inférteis.
Margens do Rio Nilo
45. unidade 2
47
A CHEIA DO NILO
A cheia do Nilo é um fenómeno verdadeiramente inacreditável. Na verdade,
enquanto que todos os outros rios diminuem o seu caudal por
volta do solstício de Verão, o Nilo vai aumentando dia-a-dia, até inundar
praticamente todo o Egipto.
Diodoro da Sicília (historiador Grego do séc. I a.C.). Biblioteca Histórica
No Egipto, o ano tinha apenas três estações. Este número de
estações estava relacionado com o ciclo das cheias do Nilo. Quando
o rio inundava as terras, tínhamos a estação da inundação – akhit.
Depois vinha a estação do nascimento – périt, estação fresca em que se
realizavam as sementeiras. Por fim, a estação quente – chemu, durante
a qual se faziam as colheitas. Todos os anos se repetia o ciclo.
C
ONSULTA
NA BÍBLIA
Gn 2, 10-14
HINO AO NILO
Salve, ó Nilo,
Que sais da terra
E vens dar de beber ao Egipto!
Misteriosa é a tua saída das trevas.
Ao irrigar os prados criados por Rá
Tu fazes viver todo o gado,
Tu, que dás de beber à terra!
Tu crias o trigo, fazes nascer o grão,
Garantindo a prosperidade aos
templos.
Se paras a tua tarefa e o teu trabalho,
Tudo o que existe cai no desespero [...]
Se, ao contrário, te levantas,
A terra inteira grita de regozijo,
Os dentes mastigam,
Os ventres alegram-se,
As costas sacodem-se de riso!
Hino ao Nilo (3.º milénio a.C.)
A Civilização Mesopotâmica surgiu na região entre os rios Tigre
e Eufrates. A palavra Mesopotâmia significa o país “entre-os-rios”.
A região da Mesopotâmia era um imenso oásis verdejante, exaltado
pela literatura, como podemos ler no poema sumério. Na memória
dos hebreus, este local era o paraíso terrestre, lugar ideal que nos é
descrito na Bíblia, também chamado Éden, perfeito para viver: um
local muito belo e verdejante, cheio de árvores de fruto, banhado por
um rio do qual saíam o Tigre, o Eufrates, e ainda outros dois cursos
de água.
VOCABULÁRIO
Oásis: Região fértil em pleno
deserto, devido à presença
da água.
46. 48
unidade 2
POEMA SUMÉRIO
Altas águas espalhou o Tigre sobre os campos
E tudo na terra se regozijou;
Os campos produziram grão abundante,
A vinha e o pomar deram os seus frutos,
As colheitas foram armazenadas nos celeiros.
Deus fez desaparecer o luto da terra
E encheu os espíritos de alegria.
Uruk (3.º milénio a.C.)
A Civilização Hebraica desenvolveu-se na região do crescente
fértil, que inclui o território das civilizações egípcia e mesopotâmica.
Os Hebreus eram o antigo povo de Israel. Estabeleceram-se junto do
Mediterrâneo e nas margens do rio Jordão. Foi este o povo que escreveu
parte da Bíblia.
PARA SABERES MAIS
• região dos Grandes
A
Lagos, na África oriental,
está associada ao
aparecimento dos primeiros
seres humanos.
• utras civilizações
O
desenvolveram-se junto do
Mediterrâneo: a grega, a
romana e a islâmica.
Canaã
Ri
CAMINHA
NA NET
o
Ni
• região dos Grandes
A
Lagos, na África Oriental.
• O Mar Mediterrâneo.
• O povo hebreu.
lo
Faz uma pesquisa na Internet
sobre:
0
Canaã na zona do crescente fértil
47. unidade 2
49
A ÁGUA E AS POPULAÇÕES
Desde que os seres humanos se começaram a concentrar em
determinadas regiões e se organizaram em povoações, tiveram de
garantir a existência de água para satisfazer as suas necessidades.
Inicialmente, procuraram estabelecer-se onde existisse água.
Contudo, com o decorrer do tempo, começaram a ocupar zonas onde a
água não existia ou era escassa. Nessa altura, foi necessário construir
estruturas que permitissem transportá-la para perto dos locais onde
se tinham fixado. Eram estruturas muito simples. Depois, à medida
que o ser humano adquiriu mais conhecimentos, começou a construir
estruturas mais complexas e grandiosas. Estas construções permitiam
conduzir muita água a partir de grandes distâncias. São exemplo
disso os grandes aquedutos, canais e galerias, construídos para
transportar água. Assim, civilizações localizadas em regiões sem rios e
sem correntes de água também basearam nela o seu desenvolvimento.
Esta foi conseguida à custa de grandes esforços humanos. É o caso dos
qanats no Irão: grandes galerias para captar e transportar água para
as populações.
Localização de qanats no actual Irão
PARA SABERES MAIS
Os qanats são galerias com
cerca de 0,70 m de largura
e 1 m de altura, utilizadas
desde o séc. V a.C., para
captar água subterrânea.
48. 50
unidade 2
Ruínas de Termas Romanas, em Conímbriga
Os romanos foram dos povos que mais se destacaram na
utilização privada e pública das águas. Para isso construíram grandes
canais e aquedutos, cisternas, termas e redes de irrigação para
a agricultura. Nas termas encontravam-se os amigos e falava-se de
negócios. As tardes eram passadas nestes centros de vida social. A
utilização que os romanos faziam das termas mostra-nos a preocupação
que tinham com a higiene pública.
Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa
Em Portugal também foram construídos aquedutos e canais,
de grande dimensão, semelhantes a estes, para transportar a água.
Muitos deles são património arquitectónico de grande importância
como, por exemplo, o Aqueduto das Águas Livres, na região da
grande Lisboa.
49. unidade 2
Como a vida e a organização económica das populações
dependem da água, desde cedo começaram as disputas pela sua posse,
especialmente quando se tornava um bem escasso. Foi então necessário
legislar sobre o seu uso, fazendo-o, por vezes, através de posturas.
O texto O Chafariz dos Canos, do Século XV, manifesta a
importância que a água tinha na organização das povoações. Através
dele, a população queixava-se ao rei da falta de água na vila de Torres
Vedras. Informavam-no ainda de que a vila tinha um aqueduto
condutor da água até à povoação, o Chafariz dos Canos. Todavia,
o aqueduto estava com problemas; por isso, solicitavam ao rei a sua
reparação.
O CHAFARIZ DOS CANOS
[...] Senhor, nesta vila há edifícios de canos por que vem água a um
chafariz que está na dita vila, que os reis que Deus tem, com a ajuda dos
moradores dela, fizeram. E por não poder ser reparado como deve, por
causa deste concelho ser pobre e sem dinheiro, pode haver quatro ou
cinco anos que a água não vem ao chafariz da vila, por causa dos canos
que necessitam de grande reparo.
E porque tal edifício não é justo se perder, por ser honra e proveito, e
todos vos escrevemos já uma vez sobre ele e vos pedimos ajuda [...]
Dada em a cidade de Lisboa, a quatro de Julho. El Rei o mandou por
Fernam da Silveira, coudel mor dos seus reinos, que agora por seu especial
mandado tem cargo de escrivão da puridade. Diogo Lopes a fez. Ano de
mil iiijcLix (1459).
Chancelarias Portuguesas: D. Duarte.
Adaptação de Carlos Guardado da Silva
Chafariz dos Canos, em Torres Vedras
51
VOCABULÁRIO
• osturas: Normas
P
destinadas às populações
locais dos Concelhos.
• oudel Mor: Capitão da
C
Cavalaria.
• scrivão da puridade:
E
Funcionário régio de alta
importância, a quem
competia, de modo
especial, cuidar dos
negócios secretos. Tinha à
sua guarda o selo particular
do rei.
PARA SABERES MAIS
Existem outros aquedutos
de grande importância e
que exerceram a mesma
função para as populações,
nomeadamente os seguintes:
aqueduto da Fonte da Prata,
em Évora; da Amoreira, em
Elvas; da Usseira, em Óbidos;
de S. Sebastião, em Coimbra;
do Convento, em Vila do
Conde; do Convento de
Cristo, em Tomar, etc.
50. 52
unidade 2
A ÁGUA
NA EXPRESSÃO ARTÍSTICA
Ao longo dos séculos, a humanidade expressou de forma criativa
o respeito e o encanto que sentia pela água, pois esta transmite aos
seres humanos bem-estar e tranquilidade. Da arte e da literatura
recebemos importantes testemunhos que nos permitem conhecer
a relação de respeito e de dependência que o ser humano, desde
sempre, estabeleceu com este elemento natural. A água influenciou a
arquitectura, a pintura, a escultura, a literatura, a música e a dança.
É também utilizada como elemento de embelezamento, de conforto e
de festa.
Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright
51. unidade 2
53
Fontanário do Rossio, em Lisboa
As fontes, os fontanários, os chafarizes, os aquedutos, as piscinas
e alguns jardins são exemplos de produções artísticas intimamente
ligadas à utilização da água para os mais diversos fins. A presença da
água na arquitectura surge, em primeiro lugar, porque o ser humano
não sobrevive sem ela.
PARA SABERES MAIS
Chafariz dos Canos, em Torres Vedras
Na música
Na música, a água serviu de fonte de inspiração a peças eruditas,
religiosas e populares. A canção O mar enrola n’areia” faz parte do
património popular português.
Os sons da água
são utilizados
frequentemente nas
composições musicais.
São reproduzidos sons
da chuva, das correntes
dos rios e das ondas do
mar.
52. 54
unidade 2
O MAR ENROLA N’AREIA
O mar enrola n’areia;
Ninguém sabe o qu’ele diz;
Bate n’areia e desmaia,
Porque se sente feliz.
1.
O mar também é casado,
O mar também tem mulher;
É casado com a areia,
Dá-lhe beijos quando quer.
O mar enrola n’areia...
2.
Até o mar é casado, ai,
Até o mar tem filhinhos;
É casado com a areia, ai,
E os filhos são os peixinhos.
O mar enrola n’areia...
3.
Ó mar, tu és um leão, ai,
A todos tu queres comer;
Não sei como homens podem, ai,
As tuas ondas vencer.
O mar enrola n’areia...
4.
Ó mar que te não derretes, ai,
Navio que te não partes,
Ó amor que não cumpriste, ai,
O que comigo trataste.
O mar enrola n’areia...
5.
Ouvi cantar a sereia, ai,
No meio daquele mar,
Quantos navios se perdem, ai,
Ao som daquele cantar.
O mar enrola n’areia...
Canção popular portuguesa
53. unidade 2
NINGUÉM É DONO DO MAR
1.
Se um dia não voltar,
Desenha o meu nome no chão,
Pede um desejo às ondas do mar
E guarda-o na tua mão.
Sempre que a noite vier,
Quando não houver luar,
Dá o desejo a uma onda qualquer
E pede-lhe para eu voltar.
Trago o destino das águas
P’lo aguardar dos rochedos;
Dizem que o tempo é que apaga as mágoas,
Quem será que apaga os medos?
O mar não é de ninguém,
Ninguém é dono do mar,
Nem aqueles que lá sabem navegar.
2.
E se depois eu vier,
Foi porque o mar te escutou.
Deixa os sorrisos correrem pela praia,
Que o temporal acabou.
Que havemos nós de fazer,
Se a sorte está decidida?
As mãos que nos têm presos à morte,
São de quem nos prende à vida.
Trago um coral de ansiedades,
Por te querer saber deitada;
Maior que a dor que vem nas tempestades
É a de esperar pela chegada.
O mar não é de ninguém...
3.
Vou embalado p’lo vento;
Ando sem hora marcada.
Na barca anda um lamento
Que eu nem sei de onde vem.
Andam rezas pela praia,
A aguardar pela chegada.
Faz-se o destino cinzento,
Sempre que a barca não vem
E ninguém, e ninguém...
O mar não é de ninguém...
Grupo Quadrilha. Quarto Crescente
55
54. 56
unidade 2
Pia Baptismal por Rosselini, na Igreja S. João, Itália
A água tem também uma dimensão religiosa. Nas igrejas,
encontramos pias baptismais e pias de água benta. Na pintura e na
escultura religiosa, ela aparece como elemento sagrado, nomeadamente
nas representações do baptismo ou da crucifixão de Jesus.
Na literatura religiosa
Em todas as religiões, a água é símbolo de maternidade e de
fecundidade. Muitos textos antigos, de diferentes religiões e culturas,
exprimem a ideia de que, para esses povos, a água está na origem da
vida e reconhecem-lhe valor purificador e espiritual.
Hino dos Vedas às Águas
Vós, Águas, que reconfortais,
trazei-nos a força,
a grandeza, a alegria, a visão!
…Soberanas das maravilhas,
regentes dos povos, as águas!
…Vós, Águas, dai a sua plenitude ao remédio,
a fim de que seja uma couraça para o meu corpo,
que assim eu veja por muito tempo o sol!
…Vós, Águas, levai daqui isto,
este pecado, qualquer que ele seja,
que eu cometi,
esta injustiça que fiz a quem quer que seja,
este falso juramento que proferi.
(a partir da tradução francesa de Jean Varenne, VEDV, 137)
55. unidade 2
57
Hindus a banharem-se no rio Ganges, ao pôr-do-sol
PARA SABERES MAIS
• enominam-se Vedas os quatro primeiros livros religiosos do
D
Hinduísmo, uma religião muito antiga do Oriente, escritos em sânscrito,
cerca do ano 1500 a.C. No primeiro Veda — o Rig Veda ou Livro dos Hinos
— são exaltadas as águas que trazem a vida, a pureza e a força, tanto
para o corpo como para espírito.
• a Religião Islâmica, os crentes não entram no templo sem purificar o
N
corpo.
A água é muitas vezes referida na Bíblia, livro sagrado do
Judaísmo e do Cristianismo. Nela, surge enquanto elemento presente
na criação — são as águas da criação.
Quando todas as coisas foram criadas, a água já existia; foi,
portanto, o elemento primordial a partir do qual tudo foi feito.
Mas a Bíblia também alude à água noutros contextos,
nomeadamente, a água enquanto elemento indispensável à
prosperidade, por exemplo na agricultura e na pesca, como elemento
necessário à vida e como elemento purificador. Também surge ligada
à presença de Deus.
CONSULTA
NA BÍBLIA
Gn 1, 2; 2, 1.5; 21, 15-19;
Zc 14, 8
56. 58
unidade 2
PARA SABERES MAIS
• m hebraico não existe a
E
palavra água no singular.
Esta apresenta-se sempre
no plural — águas. Diz-se
maim, cuja pronúncia
lembra a palavra mãe em
português. E céu (shamaim,
em hebraico) significa: lá
tem águas.
• água é um termo
A
feminino que representa
a fertilidade. Segundo a
tradição judaica, a vida
começou nas águas.
Neve na Rua Carcel, por Paul Gauguin
Dn
No Cântico dos três jovens (três israelitas que foram salvos
da fogueira pela acção de Deus), a água está inserida no contexto de
toda a criação. Ela, que esteve presente na origem da vida, é também
obra do Criador e, por isso, é chamada a louvá-lo. Este cântico, do
livro de Daniel (Antigo Testamento) integrou a água em todos os seus
estados e nos diferentes lugares em que está presente na natureza.
CÂNTICO DOS TRÊS JOVENS
60
guas e tudo o que está acima dos
céus, bendigam o Senhor, a ele a
glória e o louvor eterno!
64 Chuvas e orvalhos, bendigam o Senhor, a
ele a glória e o louvor eterno!
68 Orvalhos e geadas, bendigam o Senhor, a
ele a glória e o louvor eterno!
70Gelos e neves, bendigam o Senhor, a ele a
glória e o louvor eterno!
77
Mares
e rios, bendigam o Senhor, a ele a
glória e o louvor eterno!
78
Fontes, bendigam o Senhor, a ele a glória e
o louvor eterno!
79Monstros marinhos e animais que se
movem nas águas, bendigam o Senhor, a ele a
glória e o louvor eterno!
Dn 3, 60. 64. 68. 70.77-79
57. unidade 2
Na Bíblia, o Livro dos Provérbios é o primeiro e o mais
representativo documento da literatura sapiencial de Israel. Trata-se
de uma antologia de provérbios, de origens e datas diferentes, que
abrange o período de tempo que vai do séc. X ao séc. V a.C. Este livro
transmite ensinamentos morais, que visam aconselhar e educar.
Sendo textos de grande riqueza literária, são, em parte, atribuídos ao
Rei Salomão por ser tradicionalmente considerado um rei dotado de
grande sabedoria.
VOCABULÁRIO
Pr
• apiencial: Conjunto de textos que, na Bíblia, está representado pelo
S
livro dos Provérbios, de Job, de Eclesiastes, do Eclesiástico e da
Sabedoria. A estes são acrescentados dois livros poéticos: Salmos e
Cântico dos Cânticos. São textos que pretendem educar e transmitir uma
mensagem moral com o objectivo de orientar a vida das pessoas.
• Provérbios: Pensamentos, máximas, adágios.
• Antologia: Compilação de textos.
PROVÉRBIOS
23
vento norte traz a chuva; a má língua
provoca a cólera dos outros.
25
Uma boa notícia que vem dum país
distante é como água fresca para uma boca
sedenta.
26
Como uma nascente ou uma fonte com a água
suja, assim é o inocente que tem medo diante do
culpado.
Pr 25, 23.25s
1 onrarias
H
para um insensato são tão impróprias
como neve no verão e chuva no tempo das
colheitas.
Pr 26,1
59
58. 60
unidade 2
Na literatura
O gole de água que sacia a sede, depois de uma longa caminhada,
reconforta o corpo, e traz um novo significado ao simples gesto de beber
água. Esta alegria desperta-nos os sentidos para o som e o movimento
da água. Também nos podemos ver no seu reflexo, como num espelho.
Tomada depois de um grande esforço ou quando é escassa, liberta em
nós a alegria de uma festa. É fácil reconhecer-lhe estas propriedades,
que assumem características espirituais.
O POÇO
O poço que tínhamos descoberto não se parecia com poços saarianos.
Os poços saarianos são simples buracos cavados na areia. Este
assemelhava-se a um poço de aldeia. Mas não havia ali nenhuma aldeia, e
parecia-me estar a sonhar.
— estranho! — disse eu ao principezinho. — Está tudo pronto: a
É
roldana, o balde e a corda...
Ele riu, pegou na corda, fez girar a roldana. E a roldana gemeu como
geme o velho cata-vento quando o vento esteve muito tempo adormecido.
— uves? — perguntou o principezinho. — Despertámos este poço e
O
ele canta...
Não queria que ele fizesse esforços:
— eixa-me ser eu a fazer isso — disse-lhe eu. — É demasiado pesado
D
para ti.
Lentamente icei o balde até ao bocal do poço. E pu-lo ali bem a prumo.
Nos meus ouvidos prolongava-se o canto da roldana e na água que tremia
ainda, via tremer o sol.
— Tenho sede desta água — disse o
principezinho. — Dá-me de beber...
E compreendi o que ele tinha procurado!
Ergui o balde à altura dos seus lábios. Ele
bebeu, de olhos fechados. Era suave como
uma festa. Aquela água era bem mais do que
um alimento. Nascera da caminhada sob as
estrelas, do canto da roldana, do esforço dos
meus braços. Era boa para o coração, como
um presente. Quando eu era rapazinho, a
luz da árvore de Natal, a música da missa da
meia-noite, a suavidade dos sorrisos faziam
brilhar assim o presente de Natal que eu
recebia.
Antoine de Saint-Exupéry. O Principezinho
59. unidade 2
61
Na sabedoria popular também se revela, através dos provérbios,
o conhecimento que o povo tem das propriedades da água, recorrendo
a imagens ricas, relaciona-as com regras sociais ou morais.
PROVÉRBIOS
1. Quem não poupa água e lenha, não poupa nada que tenha.
2. A água fervida tem mão na vida.
3. A água lava tudo, menos quem se louva e as más-línguas.
4. Águas passadas não movem moinhos.
5. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Provérbios Populares Portugueses
Também na literatura portuguesa há muitas referências
à água. Podemos encontrá-las em vários textos literários, que
demonstram a importância da relação dos portugueses com a água.
A nossa localização geográfica permitiu-nos desenvolver actividades
piscatórias marítimas, bem como partir à descoberta de novos mundos.
A literatura portuguesa relatou, em vários momentos, as proezas e
as aventuras dos Portugueses. Luís Vaz de Camões, na sua obra Os
Lusíadas, uma obra de referência mundial, cantou a grande epopeia
dos Portugueses nos Descobrimentos.
O poeta Fernando Pessoa, no seu poema Mar Português, refere
as dificuldades que os portugueses tiveram de vencer, quando
enfrentaram o poder do mar.
Encontramos muitos outros textos, em língua portuguesa, que
falam da água. Também a poetisa brasileira Cleonice Rainho
escreveu um belo poema sobre a água e as suas muitas utilizações em
benefício do ser humano.
Réplica dos Navios
Portugueses dos Descobrimentos
PARA SABERES MAIS
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em 1888, e morreu na mesma
cidade, em 1935. É considerado um dos maiores poetas de língua
portuguesa. O seu poema Mar Português faz parte de um livro com o título
Mensagem, publicado no ano anterior à sua morte.
Fernando Pessoa,
Parque dos Poetas
60. 62
unidade 2
MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa. Mensagem
A ÁGUA
VOCABULÁRIO
Bojador: Cabo que se
situa na costa ocidental de
África. A primeira passagem
pelo Bojador deve-se a
Gil Eanes, em 1434. Antes
deste navegador o ter
passado, julgava-se que era
intransponível.
VOCABULÁRIO
• emanso: Sossego.
R
• Cachoeira: Cascata.
• orbotões: Jacto de
B
líquido.
•Força motriz: Força que
faz mover.
Subterrânea e purificada
por um filtro natural,
a água vem,
jorra nas fontes,
faz gluglu nas torneiras
para nosso bem.
Água de silêncio
dos remansos e lagos,
mar, rio, cachoeira
que se despenha
em borbotões —
força motriz
e energia também.
Na pia baptismal,
no corpo e no campo,
na flor e no fruto,
na seiva e no sumo,
no orvalho e no vinho,
a água
faz leito e caminho
de bela missão.
Cleonice Rainho (poetisa brasileira)
61. unidade 2
SIMBOLOGIA JUDAICO-CRISTÃ
Os seres humanos são os únicos seres capazes de reflectir sobre
a importância da água. Nas diferentes culturas, são atribuídos à água
significados simbólicos. É uma representação universal de fertilidade,
de fecundidade e de purificação.
A água é também utilizada nos ritos comunitários de várias
religiões e culturas. Simboliza, habitualmente, a purificação da pessoa
e a sua admissão num determinado grupo.
VOCABULÁRIO
• ultura: Conjunto de conhecimentos, leis, tradições, artes, costumes e
C
manifestações religiosas que definem um determinado grupo constituído
em sociedade.
• ertilidade: Capacidade de produzir ou de se reproduzir; fecundidade.
F
• itos: Conjunto de cerimónias que se praticam numa religião, com a
R
intenção de ligar as pessoas ao Sagrado.
• ímbolo: Elemento visível que remete para outras realidades (ex.: o sinal
S
de sentido proibido remete para a proibição de circular numa via em
determinado sentido).
63
62. 64
unidade 2
Arca de Noé - Os animais saem da arca, por Jacob Boutatts
O Dilúvio e a Arca de Noé
CONSULTA
NA BÍBLIA
Gn 7, 1-5. 17-24; 8, 1-5.
15-19
CAMINHA
NA NET
Faz uma pesquisa na Internet
sobre histórias de dilúvios
nas culturas hebraica, grega,
hindu, babilónica, inca e
maia.
A Bíblia conta, no Livro do Génesis, a seguinte história: há
milhares de anos, tendo Deus verificado que todos os seres humanos
se tinham afastado do caminho do bem, fez cair uma chuva muito
intensa e prolongada que inundou toda a superfície da Terra — o
Dilúvio universal. Apenas se salvaram, dentro de uma “arca”, Noé
e a sua família, assim como um casal de animais de cada espécie.
Noé era um homem bom e honesto, por isso Deus poupou-o à terrível
catástrofe.
Esta história simbólica pretende dizer-nos que a água teve um
efeito purificador e que a humanidade pôde então renascer para uma
vida verdadeiramente humana, de acordo com a vontade de Deus. A
arca também simboliza a protecção de Deus contra toda a destruição;
é uma espécie de paraíso onde convivem todos os animais numa
relação de harmonia com o ser humano. O arco-íris, que apareceu após
o dilúvio, simboliza a aliança de Deus com a humanidade (por isso é
que antigamente se chamava arco-da-velha ao arco-íris, por ser o arco
da velha aliança).
O poema que se segue, de um poeta brasileiro, tem como tema
fundamental o fim do dilúvio e a repovoação da terra.
63. unidade 2
A ARCA DE NOÉ
Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.
A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.
O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.
Vai! Não vai! Quem vai primeiro?
As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro
Pelas janelas abertas.
E abre-se a porta da Arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saída
Lutam os bichos de pêlo
Pela terra prometida.
Noé, o inventor da uva
E que, por justo e temente
Jeová, clementemente
Salvou da praga da chuva.
“Os bosques são todos meus!”
Ruge soberbo o leão
“Também sou filho de Deus!”
Um protesta; e o tigre — “Não!”
Tão verde se alteia a serra
Pelas planuras vizinhas
Que diz Noé: “Boa terra
Para plantar minhas vinhas!”
Afinal, e não sem custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais.
E sai levando a família
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha
Brilha o arco da aliança.
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.
Conduzidos por Noé
Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista não avista.
E logo após, no buraco
De uma janela, aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.
Na serra o arco-íris se esvai...
E... desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Na terra, e os astros em glória
Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótão
Duas girafas amigas
De fora a cabeça botam.
Enchem o céu de seus caprichos
É doce ouvir na calada
A fala mansa dos bichos
Na terra repovoada.
Grita uma arara, e se escuta
De dentro um miado e um zurro
Late um cachorro em disputa
Com um gato, escouceia um burro.
Vinícius de Moraes. A Arca de Noé
65
64. 66
unidade 2
Nuvem
CONSULTA
NA BÍBLIA
Nos textos bíblicos, a nuvem simboliza a presença de Deus. Neles
narram-se acontecimentos em que Deus se manifesta ao povo de Israel
através das nuvens, com o objectivo de o guiar.
Ex
• Ex 13, 21-22; Ex 24, 15-16
• Mt 17, 1-8
A Transfiguração, por Giovanni Lanfranco
9
ogo que Moisés entrava na tenda, a coluna de nuvem descia e
mantinha-se à entrada, e o Senhor falava com Moisés.
Ex 33, 9
PARA SABERES MAIS
• povo bíblico introduziu e assimilou algumas tradições e símbolos de
O
povos com os quais contactou. Também encontramos a simbologia da
nuvem na tradição suméria “do deus que viajava, utilizando para tal as
nuvens.”
• oisés significa possivelmente salvo das águas; o nome ter-lhe-ia sido
M
atribuído porque foi recolhido pela filha do Faraó das águas do rio Nilo
(Ex. 2, 1-10).
65. unidade 2
Fonte
A fonte ou nascente é o local de onde surge a água, como dádiva
para todos os que dela precisam. Nela podemos saciar a nossa sede.
Dela surgem os cursos de água, os riachos, os ribeiros, os rios...
Nas nascentes, a água é pura e jorra como se tivesse vida.
CONSULTA
NA BÍBLIA
Ex
• Zc 13, 1; 14, 8
• Sl 23(22), 1-2
5
DO ROCHEDO BROTA A ÁGUA
Senhor respondeu-lhe: “Coloca-te à
frente do povo e faz-te acompanhar
de alguns anciãos de Israel. Leva
também a vara com que bateste no rio e
segue em frente.
6Eu
estarei à tua espera junto do monte
Horeb, em cima do rochedo. Bate com a vara
no rochedo e dele sairá água para o povo
beber.”
Ex 17,5-6
67
66. 68
unidade 2
PARA SABERES MAIS
Os cristãos das primeiras
comunidades, quando
queriam saber se
determinada pessoa
acreditava em Jesus,
desenhavam um arco. Se a
outra pessoa fosse cristã,
desenhava um outro arco
a cruzar-se com esse,
formando-se assim a imagem
de um peixe.
Pormenor do Medalhão de Thalassa na nave da Igreja dos Apóstolos, Salamanca
Peixe
A água é o ambiente natural dos peixes. Por isso, estes aparecem,
naturalmente, como o símbolo desse elemento. O peixe é um dos
primeiros símbolos utilizados pelos cristãos para se identificarem.
Logo após a morte de Jesus, este símbolo era utilizado quando se
referiam a Jesus Ressuscitado.
Quando os cristãos começaram a ser perseguidos, passou a
ser usado como sinal secreto para comunicarem uns com os outros.
Surgiram assim desenhos de peixes nas casas, nas roupas e nos
túmulos dos primeiros cristãos.
PARA SABERES MAIS
N
a língua grega, que era a língua mais falada, quando o Cristianismo
surgiu, a palavra peixe soava mais ou menos assim: ictys. É essa a origem
da palavra portuguesa ictiologia, que quer dizer “estudo dos peixes”.
Cada uma das cinco letras dessa palavra grega correspondia à inicial das
palavras Jesus Cristo, (de) Deus Filho, Salvador (ou seja: Jesus Cristo, Filho
de Deus, Salvador).
ΙΧΘΥΣ − ICTHYS PEIXE
Ιησουσ
Χριστοσ
Θεου
Υιοσ
Σωτηρ
Iesus
Cristos
Theou
‘Yios
Soter
Jesus
Cristo
(de) Deus
Filho
Salvador
67. unidade 2
69
JESUS — A ÁGUA DA VIDA
Jesus aproveita muitos acontecimentos da vida quotidiana para
transmitir a sua mensagem. No Evangelho segundo S. João, relata-se
o diálogo que Jesus teve com uma mulher samaritana. S. João foi
um dos seus discípulos, tendo presenciado os seus comportamentos
e os seus ensinamentos durante perto de três anos. Para melhor
compreenderes esse texto, é importante que conheças um pouco da
história do povo de Israel.
Mapa da Palestina
No século VIII a.C., os assírios — um povo que vivia perto da
Palestina — invadiram e conquistaram a Samaria, uma região de Israel.
Muitos samaritanos foram deportados e substituídos por populações
assírias. As famílias assírias misturaram-se com as samaritanas e
introduziram em Israel muitos costumes da sua civilização, que eram
contrários à fé de Abraão e de Moisés, na qual os judeus acreditavam.
Este acontecimento originou uma divisão profunda entre judeus e
samaritanos, divisão que se foi agravando e se prolongou até ao tempo
de Jesus.
Os samaritanos desse tempo adoravam um Deus único como os
judeus, respeitavam o dia de Sábado por ser o dia do Senhor, mas só
aceitavam como sagrados os cinco primeiros livros da Bíblia, a Torá.
VOCABULÁRIO
Deportar: Expulsar do seu
país.
68. 70
unidade 2
Os judeus nunca perdoaram o facto de os samaritanos terem sido
influenciados por costumes pagãos. Judeus e samaritanos eram, pois,
irmãos que não se falavam. Se observares bem o mapa da Palestina,
podes verificar que para se deslocarem entre a Judeia e a Galileia os
judeus tinham de atravessar a Samaria. Foi neste contexto que São
João relatou o episódio do encontro com a samaritana.
Neste texto é relevante o facto de Jesus se ter dirigido em público
a uma mulher. Não só era samaritana, como era mulher, e naquele
tempo não se aceitava que um homem falasse em público com uma
mulher. A sociedade era patriarcal, fundada no poder dos homens, por
isso o espaço das mulheres era apenas o da vida familiar, o espaço da
casa. Jesus rompeu com estas tradições: para ele, um samaritano era
tão digno como uma pessoa de qualquer outra região, uma mulher era
tão digna como qualquer homem.
Cf Jo
JESUS E A MULHER SAMARITANA
Narrador
Cansado da caminhada, Jesus
sentou-se, à beira do poço. Era por volta
do meio-dia. Nisto, chegou uma mulher
samaritana que ia tirar água ao poço.
Jesus
Dá-me de beber.
Samaritana
Mas tu és judeu! Como é que te
atreves a pedir-me água a mim que sou
samaritana?
Jesus
Quem bebe desta água volta a ter sede, mas
quem beber da água que eu lhe der, nunca
mais há-de ter sede. A água que eu lhe der
torna-se dentro dessa pessoa numa fonte que
lhe dá a vida eterna.
Samaritana
Senhor, dá-me então dessa água, para eu
nunca mais ter sede, nem precisar de vir buscar
água a este poço.
Cf. Jo 4, 6-11.13-14.16
Jesus
Se tu soubesses aquilo que Deus tem
para dar e quem é aquele que te está a
pedir água, tu é que havias de lha pedir, e
ele dava-te água viva.
Samaritana
Nem sequer tens um balde e o poço é
fundo! Donde é que tiras a água viva?
Jesus junto ao poço com a
Samaritana, por Gustave Doré
69. unidade 2
Jesus apresenta-se à Samaritana como aquele que dá a Água
Viva. De que água se trata? Estaria Jesus a falar da água do poço,
como a mulher interpreta? Certamente que não. Para os cristãos, ele
é a Fonte de Água Viva. A água é importante para saciar a sede. Mas
a água não mata definitivamente a sede das pessoas. Jesus — Fonte
de Água Viva — sacia eternamente a sede da humanidade. Neste
texto, Jesus não está a falar da sede do corpo, mas de tudo aquilo
que nós desejamos espiritualmente e de que temos necessidade para
vivermos uma vida com sentido. Jesus vem dar sentido à vida. Quem
experimenta a sua presença não deseja mais nada, porque, quando ele
está connosco, Deus torna-se presente.
Baptismo de Jesus por João Baptista, Igreja de Madeleine, Paris
Na vida de Jesus, há outras ocasiões em que encontramos
referências à água. Uma das mais importantes é o acontecimento do
baptismo de Jesus.
Junto do rio Jordão, muitas pessoas respondiam aos apelos de
um homem que os aconselhava a mudar de vida, a praticarem o bem.
Esse homem chamava-se João e era conhecido por Baptista, devido ao
facto de baptizar aqueles que aceitavam os seus conselhos. Baptizar
significa mergulhar na água. Antigamente era mesmo assim que
se realizavam os baptismos e o rito ainda é praticado deste modo por
alguns grupos religiosos. Um dia, também Jesus se aproximou de João
para ser baptizado nas águas do rio Jordão. Este acontecimento é-nos
relatado nos Evangelhos.
71
70. 72
unidade 2
Mc
O BAPTISMO DE JESUS
7
oão dizia assim ao povo: “Depois de
mim virá alguém com mais autoridade
do que eu, e nem sequer mereço
a honra de me curvar diante dele
para lhe desatar as correias das sandálias.
8Eu baptizo-vos com água, mas ele há-de
baptizar-vos com o Espírito Santo.”
9 Por
essa altura, veio Jesus duma
povoação chamada Nazaré, na província da
Galileia, e foi baptizado por João Baptista
no rio Jordão. 10No momento em que saía
da água, Jesus viu abrir-se o céu e o Espírito
Santo a descer sobre ele, como uma pomba,
11e ouviu uma voz do céu: “Tu és o meu Filho
querido: tenho em ti a maior satisfação.”
Mc 1, 7-11
CONSULTA
NA BÍBLIA
Mt 3, 13-17; Lc 3, 21-22
Pormenor do Baptismo de Cristo, por Giotto
João baptizava para purificar do mal as pessoas que o procuravam.
Já que a água também serve para lavar, o baptismo significa
simbolicamente a lavagem da consciência humana, a purificação de
todo o mal praticado. Jesus não precisava desta purificação, porque
nele não havia mal, mas quis passar por este rito antes de começar a
sua missão.
Este momento da sua vida foi muito importante: Deus manifestou
a todos os que estavam presentes que Jesus era o seu Filho muito
querido, que vinha em seu nome, para trazer a boa notícia da
salvação.
Este acontecimento marcou assim o início de uma vida nova para
Jesus: a partir daí, ele começou uma fase da sua vida a que é costume
chamar-se vida pública. Deixou a sua casa, a terra onde vivia, a
sua família e o seu trabalho. Depois de ter sido baptizado por João,
percorreu o país, ensinando a mensagem do amor infinito de Deus e
chamando todos a uma mudança radical de vida, porque a vontade de
Deus é que todos se amem e sejam solidários uns com os outros.
71. unidade 2
73
CONSULTA
NA BÍBLIA
Jo 7, 50-52; 19, 39
VOCABULÁRIO
Baptismo de uma criança pelo Papa Bento XVI
O baptismo cristão usa a água como elemento simbólico
fundamental.
Jesus refere-se à vida nova que se recebe no baptismo, na
conversa que tem com Nicodemos, um fariseu, membro do Sinédrio.
Como muitos homens do seu tempo, procurou Jesus porque acreditava
que ele tinha sido enviado por Deus. De facto, todas as suas obras
eram sinais da presença de Deus.
Nicodemos era um homem importante na sociedade da época,
por isso preferiu ser discreto, procurando Jesus de noite.
• ariseus: Grupo
F
religioso cujos membros
observavam rigorosamente
a Lei dada a Moisés e as
tradições.
• inédrio: Conselho que
S
se reunia no Templo de
Jerusalém, funcionava
como tribunal e como
governo supremo; era
composto por 71 membros
e presidido pelo sumo-sacerdote.
Jo
1
ENCONTRO DE JESUS COM NICODEMOS
avia entre os fariseus um homem
chamado Nicodemos, que era um
dos chefes dos judeus.
2 Certa noite foi ter com Jesus e disse-lhe:
“Mestre, sabemos que Deus te enviou para
nos ensinares. Ninguém pode fazer as
obras que tu fazes, se Deus não estiver
com ele.”
3 Jesus respondeu-lhe: “Fica sabendo
que ninguém pode ver o Reino de Deus
se não nascer de novo.” 4 Nicodemos
perguntou-lhe então: “Como é que um
homem idoso pode voltar a nascer? Pode
entrar no ventre de sua mãe e nascer
outra vez?”
5 Jesus
respondeu:
“Fica sabendo que só quem nascer da
água e do Espírito é que pode entrar no
Reino de Deus.
6 que nasce de pais humanos é apenas
O
humano, o que nasce do espírito é
espiritual. 7 Não te admires por eu te dizer
que todos devem nascer novamente. 8 O
vento sopra onde quer; ouves o seu ruído,
mas não sabes donde vem nem para onde
vai. Assim acontece também com aquele
que nasce do Espírito.”
Jo 3, 1-8
72. 74
unidade 2
Jo
Para representar:
Narrador:
H
avia entre os fariseus um homem chamado
Nicodemos, que era um dos chefes dos
judeus. Certa noite foi ter com Jesus.
quer; ouves o seu ruído, mas não sabes donde
vem nem para onde vai. Assim acontece
também com aquele que nasce do Espírito.
Jo 3, 1-8
Nicodemos:
M
estre, sabemos que Deus te enviou para nos
ensinares. Ninguém pode fazer as obras que tu
fazes, se Deus não estiver com ele.
Jesus:
F
ica sabendo que ninguém pode ver o Reino
de Deus se não nascer de novo.
Nicodemos:
C
omo é que um homem idoso pode voltar a
nascer? Pode entrar no ventre de sua mãe e
nascer outra vez?
Jesus:
F
ica sabendo que só quem nascer da água
e do Espírito é que pode entrar no Reino de
Deus. O que nasce de pais humanos é apenas
humano, o que nasce do espírito é espiritual.
Não te admires por eu te dizer que todos
devem nascer novamente. O vento sopra onde
Jesus e Nicodemos,
por autor anónimo
Jesus, neste diálogo com Nicodemos, diz-lhe que não basta
achar que as suas obras vêm de Deus, é necessário ir mais além, ou
seja, nascer de novo. Nicodemos não consegue perceber do que é que
Jesus está a falar. Ele entende que “nascer de novo” é voltar a entrar
no ventre materno para renascer de forma física. No entanto, Jesus
não se refere ao nascimento físico, mas ao nascimento espiritual. O
que será este nascimento espiritual? Trata-se de viver ligado a Deus,
aceitar a sua presença no coração humano e deixar-se conduzir pela
sua vontade.
Se lermos com atenção as palavras de Jesus, verificamos
que, para além de referir o Espírito, menciona também que este
nascimento acontece através da água. A água tem, nas suas palavras,
um significado simbólico: receber o Baptismo representa, portanto,
nascer de novo, é deixar-se marcar pela vida de Deus, uma vida que
é espiritual. Trata-se de nascer para uma vida nova, pelo baptismo
da água e do Espírito. Recebemos dos nossos pais a vida humana e
recebemos no Baptismo uma vida nova e interior, que vem de Deus.
73. unidade 2
75
TERRA — O PLANETA AZUL
A água surgiu na Terra há cerca de 3,5 mil milhões de anos. Cerca
de dois terços da superfície da Terra estão actualmente preenchidos
pelos oceanos. A água é o elemento mais abundante na natureza.
De toda a água que se encontra no planeta, 97% é salgada e
encontra-se nos mares e oceanos; por isso, não é potável. Apenas
aproximadamente 3% é doce; mas, sensivelmente 2,5% encontra-se
sob a forma de gelo, nas calotes polares ou em regiões subterrâneas de
difícil acesso ao ser humano, os aquíferos. Deste modo, apenas 0,5% da
totalidade da água se encontra em rios, lagos e na atmosfera, sendo
acessível ao consumo humano. É, portanto, um bem muito escasso!
2,5 Gelo
0,5 Água Potável
97% Água Salgada
VOCABULÁRIO
• gua Potável: Própria para
Á
beber.
• quíferos: Lençóis
A
subterrâneos de água.
74. unidade 2
A água encontra-se distribuída pelos oceanos, continentes e
atmosfera, nos estados líquido, sólido e gasoso, em movimentos
cíclicos, formando o ciclo hidrológico. A totalidade da água da Terra
constitui a hidrosfera. Pensa-se que a quantidade total de água
existente na Terra se tem mantido constante desde o início.
Ciclo da água
Ec
76
“
odos os rios correm para o mar, mas o mar nunca se enche. Voltam
para a sua origem para retomarem o mesmo caminho.”
“
Se as nuvens estiverem carregadas, deixam cair chuva sobre a terra.”
Eclesiastes 1,7; 11,3
PARA SABERES MAIS
O Eclesiastes, ou Qohelet, é um livro da Bíblia, mais precisamente
do A.T., escrito por volta do séc. IV a.C. Pertence ao grupo dos Livros
Sapienciais, porque contém reflexões cheias de sabedoria sobre a vida e
o sentido das coisas.
75. unidade 2
77
A ÁGUA,
INDISPENSÁVEL À VIDA
A água é um recurso natural indispensável à sobrevivência de
todas as espécies que vivem à face da terra. Todos os seres vivos — os
seres humanos, os animais e as plantas — necessitam de água para
viver. Esta está na base da cadeia alimentar.
A água está presente desde o início da nossa vida, na protecção
do embrião e ao longo de todo o nosso crescimento. É indispensável
à manutenção das células e permite o bom funcionamento do nosso
organismo.
PARA SABERES MAIS
• ada ser humano
C
necessita, por dia, de dois
a quatro litros de água,
incluindo a que é ingerida
através dos alimentos.
• ste consumo de água
E
é muito importante. O
nosso corpo perde água
constantemente, através
da transpiração, da urina
e das fezes. Por isso, é
necessário repor a água
que perde para manter a
quantidade indispensável
à saúde.
• desidratação está
A
associada à falta de água e
pode conduzir à morte.
Nos seres vivos, plantas e animais, encontramos uma percentagem
de água semelhante à que existe no planeta. O corpo de um adulto
humano é, em média, composto por 70 a 75% de água. No caso de um
feto, essa mesma percentagem é de 85%, enquanto que num idoso é de
aproximadamente 50%.
76. 78
unidade 2
PARA SABERES MAIS
• s árvores, apesar do
A
aspecto seco e duro
que têm, também são
compostas por cerca de
de água.
• 2O é a fórmula científica
H
da água e significa que
em cada molécula de
água existem dois átomos
de hidrogénio e um de
oxigénio.
TUDO DEPENDE DO DESTINO DA ÁGUA
Os seres humanos e as comunidades em que eles vivem não podem
sobreviver sem água, uma vez que este elemento corresponde às
necessidades primárias e constitui uma condição fundamental da sua
existência. Tudo depende do destino da água. O acesso à água potável e
ao saneamento é indispensável para a vida e para o pleno desenvolvimento
de todos os seres humanos e das comunidades espalhadas pelo mundo.
Declaração da Delegação da Santa Sé presente no II Foro Mundial sobre a água, Quioto, 2003
77. unidade 2
79
A ÁGUA, UM DIREITO DE TODOS
A água é um dos bens da criação. Sendo dádiva de Deus,
é destinada a todos os seres que dela dependem e às respectivas
comunidades. Deus quis que a Terra, e toda a obra da sua criação,
fosse gerida em benefício de todos. Naturalmente, todos os bens da
criação devem ser compartilhados pela humanidade, com justiça e
solidariedade.
Tudo depende da água. Ela é um bem comum universal e
pertence a toda a família humana. O direito do acesso à água não
pode ser condicionado apenas aos habitantes dos países onde há água
em abundância. A água potável deve estar à disposição de todos de
forma igual.
PARA SABERES MAIS
O Papa é o chefe da Igreja
Católica, ou seja da grande
família constituída por todos
os católicos. Vive no Vaticano,
Estado independente que fica
dentro da cidade de Roma. A
palavra Papa significa Pai.
Como dom de Deus, a água é instrumento vital, imprescindível para a
sobrevivência e, portanto, um direito de todos.
João Paulo II. Mensagem aos Membros da Conferência Episcopal do Brasil
(19 de Janeiro de 2004)
PARA SABERES MAIS
O direito à água está intimamente relacionado com outros direitos
fundamentais do ser humano, como o direito à vida, à alimentação
e à saúde. Normalmente, os direitos humanos são garantidos por
convenções internacionais, que defendem iguais direitos para todos
os indivíduos e para todas as comunidades. Contudo, relativamente
ao actual sistema internacional dos direitos humanos, falta uma
referência clara ao direito de acesso à água potável.
Não podemos ver a água apenas como um direito dos seres
humanos. Ela é também um direito dos próprios ecossistemas. Da água
depende a vida de milhões de espécies animais e vegetais, aquáticas
e terrestres. A forma como, muitas vezes, utilizamos e exploramos os
recursos hídricos tem influência negativa sobre a fauna e a flora e,
consequentemente, sobre todo o equilíbrio do ecossistema. De forma
directa ou indirecta, os seres humanos também são afectados.
João Paulo II nasceu em
Wadovice, nos arredores
da cidade de Cracóvia, na
Polónia, em 1920.
Foi Papa desde 16 de
Outubro de 1978 até 2 de
Abril de 2005, data em que
morreu em Roma (Vaticano).
Viajou por todo o mundo,
fazendo apelos à paz e
defendendo incansavelmente
os direitos humanos.
Papa João Paulo II