SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 208
Descargar para leer sin conexión
1
2
Michel Zaidan Filho
Otávio Luiz Machado
(Organizadores)
PRESENÇA DAS
JUVENTUDES PERNAMBUCANAS:
um diálogo com os jovens brasileiros
NEEPD
Olinda-PE
2010
3
Copyright © 2010 by Michel Zaidan Filho
Otávio Luiz Machado
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Editor
Tarcísio Pereira
Diagramação
Laís Mira
Design da Capa
Manoel Felipe Batista da Fonseca
Fotografias da Capa e Contra-Capa
Plano Estadual de Juventude (Governo do Estado de Pernambuco, Agosto de 2008)
Projeto Gráfico
Sérgio Siqueira
Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia (NEEPD) está ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência
Política, da UFPE e faz pesquisas, publica estudos políticos, oferece cursos de capacitação e pós-graduação em Ciência
Política. Endereço Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50670-901. E-mail:
neepd@ufpe.br
Diretoria:
Coordenador: Prof. Dr. Michel Zaidan Filho (UFPE)
Vice-Coordenador: Prof. Ms. Clóvis Myiachi (UPE)
Secretário-Executivo: Otávio Luiz Machado (NEEPD)
Assessor jurídico: Ricardo Gueiros Júnior (RG Consultoria Jurídica)
Corpo de Pesquisadores e Assistentes de Pesquisa: Sídia Lima Porto, Fábio Andrade Bezerra, Heli Ferreira, Otávio Luiz
Machado, Alexandre da Silveira Lins, Andrine Souza Silva, Anna Paula Pereira Pinto, Erivania Vitalino Ferreira da Silva,
Girleide de Sá Menezes, Jullyanne Campos Martins, Manoel Felipe Batista da Fonseca, Monyke Cabral e Silva, Niedja de
Lima Silva e Tatiane Helena Lins dos Santos.
Revisão
Dos Organizadores
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica
P933 Presença das juventudes pernambucanas: um diálogo com os jovens brasileiros.
/Michel Zaidan Filho; Otávio Luiz Machado (org.).- Olinda: Livro Rápido, 2010.
198 p;
Inclui Bibliografia
ISBN: 978-85-7716-918-4
1. Juventude pernambucana. 2. Movimentos juvenis. 3. Formação cidadã do jovem. I. Zaidan Filho, Michel (org.). II.
Machado, Otávio Luiz (Org.). III. Título.
323.1 CDU (1997)
Fabiana Belo – CRB-4/1463
Livro Rápido – Elógica
Rua Dr. João Tavares de Moura, 57/99 Peixinhos
Olinda-PE CEP: 53230-290
Fones: (81) 2121-5300 Fax: (81) 2121-5333
www.livrorapido.com
4
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial,
por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos,
microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos e videográficos.
Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial em qualquer
sistema de dados e a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer
programa juscibenético. Essas proibições aplicam-se também as
características gráficas da obra e à sua editoração.
Pesquisa “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas
Configurações e Transmutações (1973-1985)” (apoiado pelo CNPq e UFPE)”
Coordenadores do projeto: Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado
Pesquisadores-Colaboradores: Marília Pontes Sposito (Programa de Pós-
Graduação em Educação da USP), Marcelo Siqueira Ridenti (Programa de
Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp), Maria Ribeiro do Valle
(Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UNESP/Araraquara), José Luis
Sanfelice (Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicamp), Janice
Tirelli Ponte de Sousa (Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC),
José Alberto Saldanha (Programa de Pós-Graduação em História da UFAL),
Luis Antônio Groppo (Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Educação
da UNISAL), João Roberto Martins Filho (Programa de Pós-Graduação em
Sociologia da UFSCar), Ângelo Emílio da Silva (Programa de Pós-Graduação
em História da UFPB), Carla de Sant´Anna Brandão (Departamento de
Psicologia da UEPB), Marcos Ribeiro Mesquita (Departamento de Psicologia
da UFAL), Ellen Spielmann (Departamento de Literatura da University of
Düsseldorf, Alemanha) e Elísio Estanque (Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra, Portugal).
Estudantes: Alexandre da Silveira Lins (Ciência Política), Andrine Sousa
(Serviço Social), Erivânia Vitalino Ferreira da Silva (Ciência Política),
Girleide de Sá Menezes (Serviço Social), Manoel Felipe Batista da Fonseca
(História), Niedja de Lima Silva (Serviço Social)
5
SUMÁRIO
7 Dados dos Autores
11 Agradecimentos
13 Introdução
15 Violência nas Escolas: Como Pensar em Juventudes,
Democracia, Direitos Humanos e Cidadania sem se Preocupar
com tal Questão?
Otávio Luiz Machado
43 Música e Sociabilidade entre Jovens Negros no Recife: os
Maracatus Nação
Isabel Cristina Martins Guillen
59 Pensar os Jovens dos Novos Movimentos de Juventude:
Contribuições Teóricas à Construção de uma Categoria
Adjair Alves
92 As Juventudes, uma experiência em uma periferia do Recife
Severino Vicente da Silva
103 Juventude, política e consumo: imagens juvenis na publicidade
brasileira a partir de 1964
Maria Eduarda Rocha
123 Educação, Cultura e Política
Janice Tirelli Ponte de Sousa
135 Juventude em Transe: o cinema novo e a invenção do jovem na
cultura visual brasileira
Paulo Carneiro da Cunha Filho
6
155 Políticas Públicas, escola e direitos multiculturais
Michel Zaidan Filho
185 O DEBATE SOBRE EDUCAÇÃO E JUVENTUDE DURANTE OS
TRABALHOS PARA A ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Otávio Luiz Machado
7
DADOS DOS AUTORES
ADJAIR ALVES: Doutor em Antropologia, professor da
Universidade de Pernambuco (UPE).
ALEXANDRE DA SILVEIRA LINS: Graduando em Ciência Política
da UFPE. Foi participante do Projeto “Memória das Juventudes
Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex-Recife).
Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes
Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-
1985)” com bolsa Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de
Pernambuco (FACEPE).
ANDRINE SOUSA: Graduanda em Serviço Social da UFPE. Foi
bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de
Pernambuco (FACEPE). Integrante do projeto “Aspectos da
Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações
e Transmutações (1973-1985)” com bolsa da Propesq-UFPE.
ANÍSIO BRASILEIRO: Professor do Departamento de Engenharia
Mecânica do Centro de Tecnologia e Geociências da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É Pró-Reitor da
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propesq) da UFPE.
BRUNO MEDEIROS: Mestrando do PPG em Psicologia Social
(UFPB).
CARLA DE SANT’ANA BRANDÃO: Professora nos Cursos de
Graduação em Psicologia do Centro Universitário de João
Pessoa (UNIPE) e da UEPB. Mestre em Psicologia Social (UFPB)
e Doutora em Sociologia (UFPE).
8
ERIVÂNIA VITALINO FERREIRA DA SILVA: Graduanda em
Ciência Política da UFPE. Foi participante do Projeto “Memória
das Juventudes Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex-
Recife). Integrante do projeto “Aspectos da Memória das
Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e
Transmutações (1973-1985)” com bolsa da Fundação de
Amparo à Pesquisa no Estado de Pernambuco (FACEPE).
GIRLEIDE DE SÁ MENEZES: Graduanda em Serviço Social da
UFPE. Foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa no
Estado de Pernambuco (FACEPE) e participante do Projeto
“Memória das Juventudes Pernambucanas da UFPE” (Projeto
Proext-Bex-Recife). Integrante do projeto “Aspectos da
Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações
e Transmutações (1973-1985)” com bolsa da Propesq-UFPE.
ISABEL CRISTINA MARTINS GUILLEN: Professora do
Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em
Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE).
JANICE TIRELLI PONTE DE SOUSA: Professora do
Departamento de Sociologia e Ciência Política, do PPG em
Sociologia, e Coordenadora do Núcleo de Estudos da Juventude
Contemporânea da UFSC.
MARCOS RIBEIRO MESQUITA: Professor do Departamento de
Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
MARIA EDUARDA ROCHA: Professora do PPG em Sociologia da
UFPE. Autora de O consumo precário – pobreza e cultura de
9
consumo em São Miguel dos Milagres (Edufal, 2002), e de A
nova retórica do capital: a publicidade brasileira em tempos
neoliberais (Edusp, 2010).
MICHEL ZAIDAN FILHO: Professor do Departamento de História
e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
NIEDJA DE LIMA SILVA: Graduanda em Serviço Social da UFPE.
É participante do Projeto “Memória das Juventudes
Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex-Recife).
Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes
Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-
1985)”. É bolsista da Proext-UFPE.
OTÁVIO LUIZ MACHADO: Pesquisador do Núcleo de Estudos
Eleitorais, Partidários e da Democracia do Programa de Pós-
Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de
Pernambuco (NEEPD-UFPE). Coordenador do Programa sobre
Juventudes, Democracia, Direitos Humanos e Cidadania na
UFPE. Pesquisador do projeto “Aspectos da Memória das
Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e
Transmutações (1973-1985)” (financiado pelo CNPq) na
instituição. Possui bolsa do CNPq no referido projeto
PAULO CARNEIRO DA CUNHA FILHO: É professor do Programa
de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de
Pernambuco. Doutor em Artes pela Universidade de Paris 1
(Panthéon-Sorbonne), pesquisa atualmente as forma de
representação cinematográficas do Nordeste do Brasil.
Publicou, recentemente, A Utopia Provinciana: Cinema,
Recife, Melancolia, pela Editora Universitária da UFPE.
10
SEVERINO VICENTE DA SILVA: Professor Adjunto do
Departamento de História da UFPE; membro do Colegiado do
Programa de Pós-Graduação em História da UFPE; Membro da
Comissão de Estudos de História da Igreja da América Latina,
CEHILA; Membro do Instituto Histórico de Olinda.
11
AGRADECIMENTOS
Num trabalho de tal magnitude seria importante
agradecer nominalmente a todos os que colaboraram com o
Projeto em todas as suas etapas, mesmo sabendo que o
esquecimento de muitos nomes é previsível. Mas seria uma
tarefa difícil. Então pensamos em agradecer inicialmente às
instituições, pois aí todas as pessoas poderão se sentir
igualmente honradas com a obra produzida coletivamente e de
interesse dos brasileiros e brasileiras.
A UFPE criou boas condições para a realização do
trabalho, assim como os diversos homens e mulheres que nos
ajudaram a construir as bases do nosso projeto fora desse
ambiente.
À Propesq, à Proacad, à Proext e diversos órgãos da
UFPE que sempre se prontificaram a colaborar com o presente
projeto. Também agradecemos a FACEPE pelas bolsas
disponibilizadas aos nossos estudantes.
O apoio do CNPq foi essencial, pois através do projeto
“Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas
Configurações e Transmutações (1973-1985)” (apoiado pelo
CNPq e UFPE)”,
Agradecemos nossa equipe de bolsistas que estiveram
envolvidos diretamente na organização do evento e no projeto
propriamente dito, bem como aos monitores e demais
colaboradores das atividades. Agradecemos a cada
pesquisador-colaborador que se dispôs a falar no Seminário
Nacional sobre Juventudes Pernambucanas, que sem eles os
nossos projetos nunca teriam o respaldo necessário.
Quando pautamos as nossas ações pela ética pública, o
interesse da sociedade, a preocupação com o aprendizado de
cidadania de cada membro envolvido e o avanço da ciência,
também não podemos deixar de lembrar que o povo brasileiro
é o grande financiador de parte dos nossos estudos e trabalhos,
pois foi a partir daí que foram abertas as condições de fazê-los
12
com os privilégios essenciais para o seu pleno
desenvolvimento.
Um dos trabalhadores brasileiros que contribuiu em
muito com as nossas atividades chamava-se Severino Ramos (o
Biu), que faleceu recentemente em um trágico acidente. A
homenagem que fazemos nesse livro em nome de toda a nossa
comunidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH)
da UFPE.
13
INTRODUÇÃO
Os textos aqui publicados foram produzidos durante o
Seminário Nacional sobre Juventudes Pernambucanas: um
Balanço a Partir do Século XX e no decorrer do projeto de
pesquisa financiado pelo CNPq intitulado “Aspectos da Memória
das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e
Transmutações - 1973-1985”). O Seminário foi realizado entre
os dias 29 e 30 de abril de 2010, na UFPE. Com apoio da
Proext, da Propesq e do CNPq (por meio do projeto o evento
trouxe diversos estudiosos para debater a questão juvenil nos
seus múltiplos aspectos.
Com a presença de pesquisadores e professores com
vasta contribuição no campo das ciências humanas e sociais – e
de um público interessado em trocar conhecimentos e
experiências –, o balanço que pode ser feito é o mais positivo
possível, ao considerarmos que discutimos a situação das
nossas juventudes focando na questão da formação cidadã, da
visibilidade da juventude, do protagonismo juvenil, da
escolarização, da violência e de outras questões que se
encontram na ordem do dia.
O evento contribuiu para consolidar mais uma vez uma
linha de pesquisa sobre Sociologia da Juventude na UFPE,
contribuindo assim na formação de diversas juventudes da
própria UFPE, sem contar a extensão dos resultados aos
gestores de políticas públicas específicas para os jovens,
membros de ONGs, militantes juvenis e pessoas que estão se
voltando à questão da juventude no seu trabalho cotidiano.
A nossa equipe é composta por bolsistas dos cursos de
Ciência Política, Serviço Social e Ciências Sociais, que atuam
na execução e promoção de eventos, pesquisas e demais
atividades acadêmicas de interesse da sociedade. O empenho,
a motivação, o compromisso público e o interesse em aprender
é algo muito forte do nosso grupo.
Como são poucos os espaços para que possamos
apresentar os principais resultados do resgate da memória da
14
juventude pernambucana (e para pedir aos possuidores de
documentos históricos sobre a juventude que doem algum tipo
de material para a pesquisa em curso), também esperamos
impulsionar junto à sociedade uma reflexão e a ação urgente
em prol dos nossos jovens através do envolvimento com as
atividades educativas que desenvolvemos.
Recife, 28 de outubro de 2010
Os organizadores
15
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: COMO PENSAR EM
JUVENTUDE, DEMOCRACIA, DIREITOS HUMANOS E
CIDADANIA SEM SE PREOCUPAR COM TAL QUESTÃO?1
Otávio Luiz Machado
As juventudes tem sido um dos temas fortes nas nossas
agendas de pesquisas e reflexões na Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
A educação é um dos instrumentos de diferenciação
social, pois podemos considerá-la um canal de integração dos
indivíduos na sociedade2
. O que se observa na realidade
1
Algumas reflexões dos textos foram construídas a partir dos
projetos de Pesquisa “Aspectos da Memória das Juventudes
Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-
1985)” (financiado pelo CNPq) e “Estudos Interdisciplinares
sobre Juventude, Democracia, Direitos Humanos e Cidadania”
(Financiado pela Propesq-UFPE). O tema foi uma preocupação
anterior ao início dos referidos projetos, mas é trazido aqui
mais como uma instigação do que como resultados ou
conclusões de pesquisas.
2
A luta pelo acesso à educação é histórica no Brasil, embora
“A escola oficial e pública, que na década de 40 foi objeto de
duras lutas políticas para torná-la universal, passou a ser posta
sob suspeita de ser agente da dominação. A escola estaria a
serviço da reprodução da ordem social desigual vigente e da
legitimação do Estado opressor e do estamento técnico-
burocrático. Por causa disso projetos educacionais informais,
conceituados como educação popular ou alternativa, tomaram
conta da imaginação política dos intelectuais brasileiros”
(ZALUAR, 1994, p. 30). A escola tem sido colocada em xeque
segundo pesquisas ao não responder satisfatoriamente às
expectativas imediatas dos jovens, mesmo sendo “considerada
inadequada em parte porque não sabe responder às aspirações
16
brasileira é o aumento do ingresso dos jovens no ensino formal,
com uma maior demanda por educação das camadas populares,
embora também os índices elevados de repetência, de
fracasso, de evasão ou de expulsão dos alunos possam ser
considerados significativos (GOMES, 1997; LAHIRE, 1997;
PAIVA, 1992; SOUZA e SILVA, 2003)3
, além do analfabetismo
juvenil no Brasil, que conta com cerca de meio milhão de
jovens analfabetos, sendo 66% do total provenientes da Região
Nordeste (SEJE, 2008)4
.
Mas simultaneamente, também, o fenômeno social da
violência tem atingido enormemente os jovens, pois dados
divulgados em diversos estudos demonstram que a juventude é
cada vez mais atingida pela violência, bem como o grupo que
também mais pratica violência (SEJE, 2008; UNESCO, 2002;
ZALUAR, 1992, 1993, 1994, 2004; ABRAMOVAY, 1998, 2001;
WAISELFISZ, 2004)5
. E a violência tem ocupado cada vez mais
espaços em locais fundamentais para a socialização dos jovens,
como é o caso da escola, o que permite considerar que um dos
seus canais importantes de transição para a vida adulta
também seja permeado pela violência (ABRAMOVAY e
AVANCINI, 2003).
populares nem dialogar com suas várias linguagens, ou seja,
porque inexiste, da parte do educador, o conhecimento e o
respeito pela cultura do educando” (idem, p. 31).
3
O Brasil tem alcançado níveis significativos de matrículas na
última década. Além a universalização e da meta da educação
como “direito de todos”, a carta da Constituição de 1988
incluiu, além dos direitos políticos e civis, os direitos sociais
(SCHWARTZMAN, 2004b). Apoiando-se nesse Documento, o
debate atual sobre políticas públicas de juventude insiste na
inclusão da juventude como sujeito de direitos.
4
SEJE: Secretaria de Juventude e Emprego do Estado de
Pernambuco.
5
UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura;
17
A violência escolar passou a ganhar visibilidade com a
publicação e divulgação pela UNESCO em 2002 do documento
Violências nas Escolas (ABRAMOVAY e RUA, 2002). É o que
também diversos estudos acadêmicos ou produzidos por
escolas, sindicatos de professores6
ou pelos órgãos públicos
destacam mais recentemente, embora os dados vão além, ao
apresentar especificamente o crescimento de agressões contra
professores (as) nos seus mais diversos graus (CNTE, 2004;
ABRAMOVAY, 2006; SINTEPE, 2006; SINPRO/RS, 2007; APEOESP,
2008)7
. Os dados de uma pesquisa realizada pelo SINTEPE e
publicada no Diário de Pernambuco revelam que 31% dos casos
de violência escolar em Recife relaciona-se com a agressões
praticadas pelos estudantes contra educadores (DIÁRIO DE
PERNAMBUCO, 24/10/2008).
Com dados mais específicos sobre violência escolar na
região metropolitana de Recife, Maria José de Oliveira Maciel
em sua tese – produzida na área de Sociologia – analisou 186
escolas municipais e estaduais a partir de uma abordagem
institucional, constatando que a violência faz parte da
realidade das escolas e se manifesta de diversas formas. A
autora partiu da hipótese de que existia “uma relação
estatisticamente significativa entre grau de violência nas
escolas e a adoção de medidas institucionais que repercutem
na organização escolar das instituições públicas de ensino da
atualidade” (OLIVEIRA MACIEL, 2004, p. 87), o que permitiu
concluir que várias ações no próprio ambiente escolar
tenderiam a diminuir a violência escolar.
Com tais indicadores que apresentam a baixa
preocupação com a produção de estudos sobre os jovens que
6
Quando nos referirmos ao termo “professores” também
abrangemos as profissionais do sexo feminino (“professoras).
7
CNTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação; SINPRO/RS: Sindicato dos Professores do Rio Grande
do Sul; SINTEPE: Sindicato dos Trabalhadores em Educação de
Pernambuco; APEOESP: Sindicato dos Professores do Ensino
Oficial de São Paulo.
18
agridem professores, a relevância de uma pesquisa sobre o
tema corporifica-se na análise da juventude na sociedade
contemporânea, onde um cotidiano de violências nas escolas
passou a ser associada a um comportamento de jovens
marcados pela exclusão social. É preciso ir além da
identificação da violência escolar, mas analisar o que pensam
as diversas juventudes que freqüentam as nossas escolas, suas
percepções sobre tais tipos de violências cotidianas e o diálogo
desse discurso com as falas dos professores vitimizados. Com o
estudo de Abramovay e Avancini (2003)8
, quando se analisou as
8
Outra pesquisa apoiada pela UNESCO também pode nos fazer
melhor pensar a questão, especificamente por meio da análise
de três indicadores. Trata-se da “Pesquisa Nacional Violência,
Aids e Drogas nas Escolas” (Unesco, 2001). Um dos dados da
pesquisa indicou que a proporção de alunos dos Ensinos
Fundamental (5ª a 8ª) e Médio que presenciaram o uso de
drogas dentro da escola em diversas capitais brasileiras (em
2000) foi a seguinte: em menor intensidade em Belém (15,7%);
e maior em Florianópolis (35,1%). Em Recife constatou-se
22,1%. Questionados os alunos sobre relatos de violência sexual
e/ou estupros no ambiente da escola, 5% dos estudantes do
Pará, Ceará e Espírito Santo disseram saber algo a respeito,
enquanto 12% no Mato Grosso. 6% de Pernambuco responderam
positivamente sobre a ocorrência de violência sexual nas
escolas. Noutra parte referiu-se ao “Uso e porte de armas”. Os
alunos das capitais das Unidades da Federação, Quanto ao
testemunho de porte de armas de fogo e de outras armas por
alunos, professores ou pais no ambiente da escola, 18% dos
estudantes do Distrito Federal e 9% da Amazônia e do Pará. As
respostas dos alunos de Pernambuco foram de 12%. Quanto a
outros tipos de armas (faca, Porrete, estilete etc.), 15% no
Mato Grosso e 10% de Pernambuco presenciaram outros tipos
de armas. A pesquisa conclui que “as armas, mesmo quando
não acionadas, impõem respeito entre os jovens e simbolizam
poder, status e masculinidade. A presença de qualquer tipo de
19
percepções dos diversos atores em escolas das diversas regiões
brasileiras, foi possível traçar suas experiências, expectativas e
perspectivas. O que chamou a atenção foram os mais diversos
tipos de manifestação de violência nas escolas, tais como a
física, a simbólica e o que as autoras chamaram de
incivilidades. Os dados foram analisados relacionando-os com
realidade social de pobreza e exclusão social não só cercam as
escolas, mas afeta enormemente o seu dia-a-dia. A pesquisa
também identificou a violência sexual nas escolas, que “vão
desde ´brincadeiras´, que podem gerar constrangimento
àqueles a que são dirigidas, até estupros” (idem).
Conforme dados preliminares da Pesquisa de
Vitimização nas Escolas 2003, realizada pela UNESCO em
escolas da rede pública de cinco capitais (Belém, Salvador,
Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo), 83,4% dos alunos
entrevistados afirmaram existir violência na escola; 69,4%
disseram sobre a ocorrência de furtos no ambiente escolar;
cerca de 37% alegam ter sido furtados uma ou mais vezes.
Além disso, 21,7% dizem já ter visto canivetes no ambiente
escolar e 12,1%, revólveres (WERTHEIN, 2004).
Os dados conclusivos dessa pesquisa, publicados em
2006, apontaram que a direção da escola dificilmente tomou
providências independentemente de quem fosse o alvo de
violências nas escolas (aluno, professor ou outro adulto)
(ABRAMOVAY, 2006, p. 166), levando-se em consideração que,
no caso de ameaças de agressão física a professores pelos
alunos, em sua maioria as motivações relacionam-se com o
rendimento escolar ou em recusa da dinâmica cotidiana da
escola.
É preciso considerar que
As ameaças são, muitas vezes, minimizadas e
consideradas parte da comunicação entre os jovens,
armamento na escola aponta a banalização do uso de armas e
a possibilidade de episódios de violência efetiva”.
20
sendo associadas a expressões verbais que não se
concretizam necessariamente em agressão física.
Contudo, no plano de uma ética de civilidade, em
particular em ambiências escolares, elas merecem
atenção singular. Há que também levar em conta que
esse tipo de ocorrência pode ser um aviso, uma etapa
pré-agressão física, sendo, portanto, um momento
importante para intervenção dos adultos da escola. A
importância das ameaças na vida social é também
reconhecida, tanto que tipifica um delito sujeito à
punição prevista no artigo 147 do Código Penal
(idem, p. 145).
Mas um consenso entre os mais diversos autores é que a
violência atinge significativamente os mais jovens9
, seja na
condição de vítima, seja na condição de autores, também
considerando que são eles o grupo social mais identificado
quando abordamos o tema da violência (ZALUAR, 1993;
SPOSITO, 1994; CASTRO, 2001; ABRAMOVAY, 2004; NOVAES,
2006; DIÓGENES, 2008). O Brasil é o quinto colocado no ranking
internacional em homicídios na população jovem. Rio de
Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo configuram-se como os
estados mais violentos, cujos indicadores para as causas são
multidimensionais10
.
9
A violência escolar tem sido tratada em diversos estudos. É o
caso da pesquisa da ONG inglesa Plan, que lançou
recentemente a campanha mundial “Aprender Sem Medo”.
Algumas conclusões foram: 84% dos cerca de 12 mil estudantes
de seis estados pesquisados consideraram suas escolas
violentas; 70% afirmaram ter sido vítimas de violência escolar;
e um terço dos estudantes afirmou estar envolvido em
bullying, como agressor ou como vítima.
10
Por exemplo, na década de 1980 foram assinadas 11,7
pessoas em cada 100 mil habitantes no País. Entre 1991 e
1998, houve um aumento da taxa de mortalidade por causas
externas em todas as regiões do País exceto na região sul, com
21
Muitos autores ao explicar a violência a partir do
espaço escolar sob a ótica da exclusão social consideram que a
presença na escola não reduz a vulnerabilidade social de
adolescentes e jovens que estão afastados do mercado de
trabalho:
As desigualdades foram se aprofundando, mas havia
mobilidade. Hoje, os jovens não possuem, em geral,
condições melhores de trabalhos e de vida que seus
pais. Os filhos dos pobres estão ficando mais pobres
que os pais, os filhos dos ricos estão menos ricos que
os pais. Não por acaso, a diminuição das
possibilidades de mobilidade social gera pessimismo
acentuada mortalidade masculina (cinco vezes mais que a
feminina), predominando os homicídios na região Norte,
Nordeste e Sudeste. Em 1998 os Homicídios passaram a ocupar
o primeiro lugar na região Centro-oeste (Organização Pan-
Americana de Saúde, 2004). Em 2000, esse número chegou a
28, 7, mostrando um aumento de 100% em relação à década
anterior. Em 2004, foram assinados 200 jovens por 100.000
habitantes, o que a Nações Unidas considerou um resultado de
situação de guerra. As três capitais Brasileiras com os maiores
índices de criminalidade foram: Rio de Janeiro, São Paulo e
Recife (RIQUE, 2005). Em Pernambuco, as vítimas de
homicídios que foram agredidas e mortas são jovens e
significativamente do sexo masculino. “A faixa etária
predominante foi a dos 20 a 29 anos (41% do total), seguida da
dos 30 a 39 anos (21%). Os jovens de 15 a 19 anos constituíram
19% do total” (Pacto pela Vida, 2007). 83% das mortes
masculinas ocorreram na faixa etária dos 15 aos 39 anos.
Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados no Plano
Estadual de Juventude de Pernambuco (2008), a juventude – 15
a 29 anos de idade – é vítima de 47% das mortes violentas
(lesões, acidentes, homicídios, entre outras) no Estado de
Pernambuco.
22
e ausência de perspectiva em relação ao futuro
(NOVAES, 2006, p. 108).
No Rio Grande do Sul, segundo o relatório do SINPRO
(RS), 92,0% dos respondentes informaram já ter sofrido ou
presenciado violência no ambiente de trabalho (Sinpro, jan.
2007). Dentre os fatos vivenciados pelos professores que
trabalham na Grande Porto Alegre estão os seguintes: agressão
física, agressão via internet, assédio sexual, relativização das
agressões dos alunos e outras (idem, p. 5). Segundo pesquisa
da Apeoesp sobre os professores da rede estadual que
trabalham em Campinas, numa amostra de 580 entrevistados
(num universo de 6.600 professores), 24% sofreram violência
física, 43% já foi alvo de xingamentos, 30% sofreram
humilhações, 20% foram vítimas de agressões verbais e 7%, de
outros tipos de agressão, como intimidação. A pesquisa ainda
perguntou sobre objetos pessoais danificados por alunos. A
resposta foi a seguinte: 42% afirmaram que houve danos a seus
carros, 30% citaram danos a livros, 8% a celulares e 20%
mencionaram outros danos (FSP, 25/09/2008). Também foi
divulgada uma pesquisa pelo Conselho Tutelar de Cariacica em
escolas públicas das redes estadual e municipal de ensino, que
constatou haver constatado violência contra professores na
maioria delas (REDE GAZETA, 02/09/2007).
Em outros casos de violências contra professores estão
envolvidos ex-alunos das escolas, como ocorreu em Recife com
uma professora da Escola Estadual Vidal de Negreiros, que foi
seqüestrada por quatro jovens que haviam estudado na escola
Em quase todos os casos de violências contra professores, nos
seus mais diversos níveis, a grande dificuldade é a ausência de
registros, levando-se em consideração que os dados
geralmente não são notificados.
O debate sobre juventude tem tido marcado pela
multiplicidade de visões, sendo a mais usual a que trata a
categoria juventude a partir de um ciclo biológico e psicológico
(faixa de idade, período de vida, mudanças psicológicas etc)
23
(ABRAMO, 1995, p. 1). Mas no campo da sociologia tem
prevalecido a visão da juventude como categoria social
(ABRAMO, 1994, 1995; GROPPO, 2000; PAIS, 1999; SOUSA,
1999).
Assim, ao discutirmos juventude também analisamos a
diferenciação das sociedades modernas, pois “a acentuada
divisão de trabalho e a especialização econômica, a segregação
da família das outras esferas institucionais e o aprofundamento
das orientações universalistas agudizam a descontinuidade
entre o mundo das crianças e o mundo adulto” (ABRAMO, 1994,
p. 3).
Para a categoria juventude precisamos recorrer a noções
como transitoriedade (período de preparação para a vida
adulta), que está relacionada à idéia de suspensão da vida
social, “dada principalmente pela necessidade de um período
escolar prolongado, como um tempo para o treinamento da
atuação futura” (ABRAMO, 1994, p. 12). Outra noção é a de
individuação, na questão da identidade própria, de recusa de
valores e normas considerados fundamentais pelos pais e a
importância dos grupos de pares. Também poderíamos recorrer
à noção de crise potencial, ou mesmo de socialização, porque
... o destaque do grupo de idade correspondente à
adolescência, na sociedade moderna, aparece como
fruto do desenvolvimento da sociedade industrial que,
ao criar a disjunção entre a infância e a maturidade,
tornou necessário um segundo processo de socialização.
Esta consiste, fundamentalmente, na preparação dos
jovens para a assunção dos papéis modernos relativos à
profissão, ao casamento, à cidadania política etc, que os
coloca diante da necessidade de enfrentar uma série de
escolhas e decisões. Dessa maneira, por ocupar um
status ambíguo, between and betwixt, os jovens
constroem redes de relações particulares com seus
companheiros de idade e de instituição, marcadas por
uma forte afetividade, nas quais, pela similaridade de
condição, processam juntos a busca de definição dos
24
novos referenciais de comportamento e de identidade
exigidos por tais processos de mudança (ABRAMO, 1994,
p. 17).
Ao tratarmos a noção de juventude – ao invés do seu
caráter geracional e biológico – no aspecto histórico, social e
cultural, trazemos o debate para a compreensão como “parte
de grupos sociais e culturais específicos“ (CARDOSO &
SAMPAIO, 1995, p. 18.) Ou seja:
A juventude só pode ser entendida em sua
especificidade, em termos de segmentos de grupos
sociais mais amplos. Os jovens passam, assim, a ser
vinculados a suas experiências concretas de vida e
adjetivados de acordo com o lugar que ocupam na
sociedade. Não se fala mais em juventude em abstrato,
como uma espécie de energia potencial de mudanças,
ainda que culturalmente construída, mas das múltiplas
identidades que recortam a juventude (idem, p, 18).
A juventude geralmente foi enxergada como
vivenciadoras de situações ditas de risco e dotadas de uma
rebeldia típica da juventude. Não se consideravam alguns
aspectos relacionados à família, à escolaridade e à situação de
classe desde o seu início, pois abordagem dada pela Sociologia
à juventude esteve inicialmente associada à desordem,
conforme estudos realizados nos Estados Unidos pela chamada
Escola de Chicago entre os anos 1920 e 194011
. Tais estudos
focaram os conflitos e as violências entre as gangues,
11
Alguns dos estudantes produzidos pela Escola de Chicago
foram: THRASHER, Frederick M. The Gang. Chicago: The
University of Chicago Press, 1927; MCKAY, Henry e SHAW,
Clifford R. Juvenile Delinquency in urban areas. Chicago: The
University of Chicago Press, 1942; FIGLIO, Robert, SELLIN,
Thorten e WOLFGANG, Marvin E. Delinquency in a Birth
Cohort. Chicago: The University Press, 1972.
25
inicialmente (WAISELFISZ, 1998; ABRAMOVAY, 2004; ZALUAR,
2004).
Para Abramovay (2004, p. 92-93), “a Escola de Chicago
fornece os primeiros postulados de uma ´sociologia da
delinqüência juvenil´, referindo-se aos problemas de
integração das microcomunidades, distanciadas das normas
dominantes na sociedade”, pois seus interesses não estavam
voltados ao tema juventude especificamente, mas no efeito do
acelerado crescimento urbano, na ausência de integração
nesses novos espaços sociais e no comportamento dos
moradores dos locais em que surgiram rapidamente inúmeras
gangues, organizações criminosas ou bandos com forte
presença de jovens. Para Zaluar (2004), “pela primeira vez,
falou-se das zonas ecológicas e dos territórios da cidade, e fez-
se associação entre desorganização social e violência, zona de
transição e criminalidade, violência urbana e juventude”. Por
outro lado,
... esse aparecimento pela contraposição aos padrões
dominantes é dado também pelos grupos
delinqüentes ou ligados à criminalidade, compostos
por jovens das “classes baixas”, que suscitam o tema
do desvio no processo de integração dos jovens à vida
social. Esse é o foco dos trabalhos realizados nos
anos 20 e 30 pela Escola de Chicago, os quais
constituem uma das primeiras e mais importantes
séries de pesquisa sociológica sobre juventude. Esses
pesquisadores, preocupados com os problemas
decorrentes da desorganização social provocada pelo
crescimento das metrópoles, voltam a atenção para
os street gang boys, rapazes de bairros de imigrantes
que vivem a maior parte de seu tempo nas ruas, fora
dos espaços institucionais adequados à uma
socialização “sadia”, e que acabam por desenvolver
comportamentos “em desconformidade com as
normas sociais”, muitas vezes inspirados ou
26
vinculados ao mundo da criminalidade (ABRAMO,
1994, p. 10).
Com um amplo leque de estudos abordando o desvio e
da delinqüência juvenil inspirados nos estudos da Escola de
Chicago12
, a Sociologia norte-americana focou no universo
cultural da marginalidade e da criminalidade, cujo principal
modelo teórico foi o de cunho funcionalista, que estudou os
jovens em sua maioria de classes de baixa renda em condições
sociais anômalas, sobretudo no pós Segunda Guerra Mundial. A
Sociologia preocupava-se com as chamadas “subculturas
juvenis”, pois alguns grupos juvenis marcados pelo desemprego
e o consumo de drogas, como os membros das gangues, eram
facilmente identificados como jovens “desviantes”.
Para analisarmos a violência juvenil nos espaços
escolares das periferias da cidade de Recife, cremos que a
perspectiva teórica ou conceitual da Sociologia da Juventude
que se orienta pela noção de culturas juvenis de José
Machado Pais será a mais factível para orientarmos a questão
do ponto de vista da existência de diversas “juventudes” que
se interagem no espaço escolar. Ao tratar o conceito de
juventude visando se distanciar de uma homogeneidade e
superando a noção como “transição para a vida adulta”, Pais
considera que as vivências juvenis são múltiplas e relativiza a
análise focada nas gerações, pois para ele cada jovem tem um
percurso próprio onde os comportamentos e atitudes são vistos
12
Com a publicação de Delinquent boys por Albert Cohen
(1955) tal tradição é mantida, ao defender “a idéia de que os
meninos da classe baixa trabalhadora que estão frustrados com
sua situação de vida frequentemente se unem a subculturas
delinqüentes, como gangues. Essas subculturas rejeitam os
valores da classe média, substituindo-os por normas que
celebram o desafio, tais como a delinqüência e outros atos de
não-conformidade” (idem, 2005, p. 177).
27
dentro de relações sociais e de práticas sociais singulares
(PAIS, 1993).
De acordo com Novaes (2006), Novaes e Vanucci (2004)
e Velho (2006), para a compreensão da inserção do jovem no
espaço social precisamos considerar as aproximações, as
diferenças, as trajetórias etc. Estar ou não estar na escola
implica em inclusão ou exclusão, mas certamente não se pode
afirmar com precisão que a educação será um canal de
mobilidade social para o conjunto da juventude, pois
precarização do trabalho, o grau de vulnerabilidade e de
estigma dos jovens oriundos das camadas populares dificulta a
integração dos mesmos a oportunidades iguais usufruídas por
outras juventudes.
Pais (1994) atribuiu aos jovens na contemporaneidade
como membros de “geração yô-yô”, levando-se em
consideração as idas e vindas dos jovens à escola, ao trabalho
ou à casa dos pais, quando buscam construir formas próprias
de sociabilidade e de ingresso ao mundo adulto. No tocante ao
interesse pela escola, que pode ser entendido como espaço de
inclusão social, Pais também tem suas restrições:
E já agora, por que muitos jovens faltam às aulas ou
ficam satisfeitos quando os professores faltam? É
porque encaram a escola como um espaço cerrado,
estriado. Tantas vezes designadas como “culturas de
margem”, o que estas culturas juvenis reclamam é
inclusão, pertencimento, reconhecimento. Daí suas
perfomatividades, que não por acaso se ritualizam
nos domínios da vida cotidiana mais libertos dos
constrangimentos institucionais – os do lazer e do
lúdico (“espaços lisos”) (PAIS, 2007, p. 14-15):
Uma nova perspectiva surge quando a expressão da
violência passa a ser reconhecida como forma alternativa de
visibilidade, de reconhecimento e de ocupação do espaço
urbano pelas mais diversas juventudes que são excluídas,
porque a presença das gangues ou das galeras demonstram a
28
organização e a presença dos jovens nos mais diversos espaços
sociais, o que também pode explicar o aumento do fenômeno
social da violência:
A violência é uma certa modalidade disciplinada de
auto-realização, de produção de si e de
relacionamento. É uma modalidade de organizar a
experiência da sociabilidade, ainda que cabe
dissipando as condições mesmas da experiência de
sociabilidade (SOARES, 2006, p. 126).
A questão da instituição escolar merece atenção, pois
passou ser um novo espaço de segmentação e de elaboração
das identidades e das relações solidárias necessárias à
transição de uma faixa etária para outra, pois sua função “é a
transmissão de conhecimentos e valores para o desempenho da
vida futura, inclusive profissional” (ABRAMO, 1994, p. 3).
Ariès (2006) correlaciona condição juvenil à separação
social imposta pela escola, o que nos permite pensar a
construção social da juventude como problema surgido na
sociedade moderna e intensamente ligado à educação:
É como um fenômeno da sociedade moderna, portanto,
que a juventude emerge como tema para a sociologia.
Na verdade, esta disciplina se interessa pela juventude
na medida em que determinados setores juvenis
parecem problematizar o processo de transmissão das
normas sociais, ou seja, quando se tornam visíveis jovens
com comportamentos que fogem aos padrões de
socialização aos quais deveriam estar submetidos
(ABRAMO, 1994, p. 8).
Outro referencial a ser adotado é o da Sociologia do
Crime e da Violência, quando o comportamento “desviante”
passa a ser observado não mais a partir das motivações
individuais e relacionadas às instituições, mas a partir de
análises multidimensionais que tentam ir além do
29
comportamento “desviante”, indicando causas que possibilitam
enxergar o “desvio” dentro de uma variedade de contextos
sociais e culturais. E uma das teorias que poderá nos oferecer
um referencial teórico para analisar as violências produzidas
pelos estudantes contra professores será a interacional,
sobretudo a Teoria da Rotulação de Howard Becker13
. O desvio
é visto a partir dessa teoria como um processo de interação
entre desviantes e não-desviantes e não uma divisão entre os
“normais” e os “desviantes”14
, o que torna seu estudo um
diferencial nos estudos criminológicos, pois quando
consideramos que
... a proposição do modelo interacional é que o
comportamento desviante ocorre em um processo
interacional dinâmico. Desse modo, mais do que
perceber a delinqüência como uma conseqüência de
um conjunto de fatores e processos sociais, a
perspectiva interacional procura entendê-la
simultaneamente como causa e conseqüência de uma
variedade de relações recíprocas desenvolvidas ao
longo do tempo (CERQUEIRA e LOBÃO, p. 246-247).
Para Becker (1977, p. 53), todos os grupos sociais
estabelecem regras sociais e esperam que sejam seguidas,
levando-se em consideração que elas definem situações sociais
e os diversos tipos de comportamentos pretensamente
apropriados. Os indivíduos que não concordam com tais regras
13
As traduções da publicação original em português de Becker
(1977) utilizaram os termos desviantes e marginais ao invés de
outsiders, que foi considerada em Becker (2008).
14
Muitos estudos criminológicos produzidos do início até
meados do século XX preocupavam-se em entender os
desviantes dos não desviantes. Alguns desses autores são:
LOMBROSO, HAKEEM, HEALY e GLUECK, 1918.
30
são vistos como marginais ou desviantes. Mas o autor analisa
que
... a pessoa que recebe o rótulo de marginal pode ter
uma visão diferente da questão. Ela pode não aceitar
a regra em função da qual está sendo julgada e pode
não considerar aqueles que a julgam como
competente ou legitimamente autorizados para
julgá-la. Conseqüentemente, surge um segundo
significado do termo: a pessoa que quebra as regras
pode sentir que seus juízes são desviantes (idem).
O autor considera desviante, portanto, o indivíduo que,
permanecendo fora do círculo de membros “normais” do
grupo, diferem das regras formais consideradas realmente
apropriadas pela maioria das pessoas (idem, p. 65). Mas o
importante da teoria de Becker é a consideração de que a
definição de um ato desviante ou não desviante está
relacionada à reação dos outros indivíduos, pois seu conceito
de desvio a ser utilizado na pesquisa relaciona-se com as
interações cotidianas e as construções dos “rótulos” a partir
daí.
No caso da agressão contra os professores, então como
pensar que alguns estudantes são levados a ameaçar e a
agredir professores de diversas formas e outros não? A
explicação preliminar de alguns estudantes jovens contatados
são a baixa capacidade de punição (uma faixa deles são
protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente), a
desestruturação familiar e a incapacidade da escola de
oferecer-lhes as condições que a família não provem ou mesmo
a avaliação dos custos (são protegidos por gangues ou
criminosos da áreas e assim pressionam os membros escolares a
não acionar a polícia). Outras percepções de outros indivíduos
também merecerão análises mais aprofundadas.
Além da Teoria da Rotulação, também é importante
mencionar uma série de pesquisas brasileiras que também
poderão nos dar suporte teórico. É o caso de Alba Zaluar
31
(1985), pois “com seu trabalho pioneiro baseado em pesquisas
etnográficas em favelas e comunidades, verificou uma série de
elementos que associariam o contexto social nessas
comunidades aos fenômenos da violência e criminalidade,
lançando luz sobre a questão” (CERQUEIRA e LOBÃO, p. 254).
Como tratamos de escolas localizadas em áreas
limítrofes à concentração de pontos de convergência de uma
estrutura de crime organizado, também é relevante perceber,
como apontou Zaluar e Leal (2001, p. 153), o mesmo como
uma instância de poder que afeta não apenas o cotidiano dos
moradores dos bairros e favelas, mas que também afeta as
relações entre professores e estudantes e entre estes e a
própria escola, pois coloca em xeque um sistema de
sociabilidades onde a escola teria sido o seu grande expoente.
Para as autoras:
Os depoimentos e os dados apresentados ressaltam o
confronto entre a violência física extramuros (na rua)
e a violência intramuros, praticada na escola,
demonstrando que as formas tradicionais de educação
moral, até então presentes nas escolas públicas, não
têm sido suficientes para impedir a invasão da escola
pelos códigos e práticas que dominam as ruas das áreas
pobres. O saldo desse confronto, que pode ser
identificado nas estatísticas oficiais de mortalidade e
nas violências as mais diversas cometidas contra a
população jovem dessas áreas, sem registro, tem sido
favorável aos responsáveis pela destruição de laços de
civilidade e de vidas.
A pesquisa realizada pelas autoras vem demonstrar
que a violência não está restrita a alguns espaços sociais
pré-determinados, mas que faz parte de uma rede de
relações que alcançam vários limites:
Os dados que apresentaremos revelam como a
escola está tomada pela violência física
32
extramuros, gerando dificuldades para que se
produzam os efeitos esperados pelos teóricos do
poder simbólico. Além disso, a violência psicológica
suposta em qualquer atividade pedagógica precisa
ser melhor delimitada para que não se confunda a
socialização necessária ao viver em grupo com o
esmagamento e o silenciamento daqueles que
deveriam estar sendo formados para se tornarem
sujeitos com capacidade de argumentação na
defesa de seus pontos de vista e interesse. Em que
medida isso também acontece dentro do sistema
escolar?
Também questionam a cidadania que deveria ser
promovida pela escola, mas que a violência também reproduz
o fracasso escolar:
A evasão aparece mais nos depoimentos de alunos do
CIEP (22%) do que nos da escola de tempo parcial
(12%). Nesta última, as razões mais apresentadas pelos
estudantes para terem deixado de freqüentá-la foram em
ordem decrescente: os problemas decorrentes da
mudança de moradia, a violência na escola e a
necessidade de trabalhar. Para os alunos do CIEP, a
ordem é diferente: primeiro, a violência na escola. São
eles também que mencionaram a discriminação de aluno
pobre e a violência no bairro como responsáveis por
dificuldades na escola e no entorno, embora em
percentuais baixos (5%).
Embora a violência esteja relacionada aos jovens
pobres das periferias das cidades, como no caso de “gangues”
e galeras e a diferenciação dos agrupamentos juvenis nesses
locais, sua proliferação estão de alguma forma associadas à
violência (DIÓGENES, 2008). Um fenômeno importante a
considerar na violência urbana hoje é a existência de
“gangues”, que utiliza-se da “prática de atos de transgressão e
33
violência juvenil a partir de arranjos associativos específicos,
dotados de identidade própria” (ABRAMOVAY, 2004, p. 13). O
comportamento “desviante” dos membros dessas “gangues” é
considerado como ajustamento e contraste com a ordem
estabelecida. Também precisamos observar tais grupos quando
refletimos sobre a violência nas escolas.
Referências Bibliográficas
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no
espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1994.
ABRAMOVAY, Miriam. “Cultura, identidades e cidadania:
experiências com adolescentes em situação de risco”. In:
Jovens Acontecendo na Trilha das Políticas Públicas,
Brasília, CNPD, 1998, 2 vol.
____. (Coord.). Escolas de paz. Brasília: UNESCO e Governo do
Estado do Rio de Janeiro/ Secretaria de Estado de
Educação, Universidade do Rio de Janeiro, 2001.
____. (Coord.). Cotidiano das escolas: entre violências.
Brasília: UNESCO, Observatório de Violência, Ministério
da Educação, 2005.
____. RUA, Maria das Graças. Violências nas escolas. Brasília:
UNESCO, 2004.
____. et al. Gangues, Galeras, Chegados e Rappers. Rio de
Janeiro: Garamond, 2004.
____. et al. Juventude, violência e Vulnerabilidade social na
América Latina: Desafios para políticas públicas. Brasília:
Unesco/BID, 2002.
AQUINO, Júlio Groppa. Confronto na sala de aula: leitura
institucional da relação professor-aluno. São Paulo:
Summus, 1996.
ARIÈS Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de
Janeiro: LTC, 2006.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992.
34
BAUER, Martin & GASKELL, Georg. Pesquisa qualitativa com
texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002.
BECKER, Howard S. (1985) Outsiders: studies in the Sociology
of Deviance. Nova York: The Free Press, 1966.
____. Uma teoria da ação coletiva. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1977.
____. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008.
BERGMANN, Leila Mury. “Não mate aula mate professores”: o
orkut e a vida escolar. Teias (Rio de Janeiro), v. 8, p. 1-
13, 2006.
BRAIT, Beht (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo:
Contexto, 2007.
BRANDÃO, Helena Nagamine. Introdução à Análise do Discurso.
8a
ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.
BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE. I Conferência
Nacional de Políticas Públicas de Juventude. Documentos
conclusivos. Brasília, 2008.
BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos. Programa Nacional de Paz nas Escolas. Brasília:
SEDH, 1999.
BRIOSCHI, Lucila Reis; TRIGO, Maria Helena Brito. “Interação e
comunicação no processo de pesquisa”. Reflexões sobre a
Pesquisa Sociológica, textos 3, 2ª série, 1992, p. 30-41.
CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade. A invasão dos
bandos sub. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
CANDAU, Vera Maria; LUCINDA, Maria da Consolação;
NASCIMENTO, Maria das Graças. Escola e violência. Rio de
Janeiro: DP&A, 1999.
CARDOSO, Ruth & SAMPAIO, Helena (orgs.). Bibliografia sobre
a juventude. São Paulo: Edusp, 1995.
CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das
Graças; RIBEIRO ANDRADE, Eliane. Cultivando vida,
desarmando violências: experiências em educação,
cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em
situação de pobreza. Brasília: UNESCO, 2001.
35
CERQUEIRA, Daniel e LOBÃO, Waldir. Determinantes da
Criminalidade: Arcabouços Teóricos e Resultados
Empíricos. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, Vol. 47, nº 2, 2004, p. 233-269.
CHARLOT, Bernard. “Valores e normas da juventude
contemporânea”. In: Lea Pinheiro Paixão & Nadir Zago.
Sociologia da Educação: Pesquisa e realidade brasileira.
Petrópolis, Vozes, 2007, p. 203-221.
COELHO, E. C. A criminalidade urbana violenta. Dados. Revista
de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Iuperj, 1988.
COHEN, Albert K. Delinquent boys: the culture of the gang.
New York: The Free Press, 1955.
____. Deviance and control. New Jersey, EUA: Prentice-Hall,
1966.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO
(CNTE). Pesquisa Retrato da Escola. Brasília: CNTE, 2002.
Consultada no Site: www.cnte.org.br
CÔRREA, Déborah Maciel. Avaliação de políticas públicas para
a redução da violência escolar em Minas Gerais. Belo
Horizonte: FAE/UFMG, 2007. (Dissertação de Mestrado).
CORTI, Ana Paula; FREITAS, M. V. de; SPOSITO, M. P. O
encontro das culturas juvenis com a escola. São Paulo:
Ação Educativa: assessoria, pesquisa e informação, 2001.
DAYRELL, Juarez. “A escola como espaço sociocultural”. In:
DAYRELL, J. (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e
cultura, Belo Horizonte, Editora UFMG, 1996.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO. “Crianças de três escolas de
Pernambuco e do Maranhão terão curso sobre seus
direitos”. Recife, 12 de outubro de 2008. Consultado em:
http://www.diariodepernambuco.com.br/nota.asp?mate
ria=20081012162258&assunto=21&onde=Brasil
____. “Professores protestam contra insegurança”. Recife, 24
de Outubro de 2008. Consultado em:
http://www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/no
ta.asp?materia=20081024081458&assunto=70&onde=Vida
Urbana
36
DIÓGENES, G. Cartografias da cultura e da violência.Gangues,
galeras e o movimento hip-hop. 2ª ed. São Paulo:
Annablume, 2008.
DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades
sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
DURKHEIM, Emile. A Educação Moral. Petrópolis: Vozes, 2008.
ERIKSON, Erick. Identidade, juventude e crise. 2. ed. Trad. de:
Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São
Paulo: Ática, 2006.
FOLHA DE PERNAMBUCO. “Agressão de ex-aluno deixa
professor”, Recife, 27/02/2008.
FOLHA DE S. PAULO. “Quando o medo faz escola”. São Paulo,
24/06/2001.
____. “Professor defende punição severa a aluno, diz
pesquisa”. São Paulo, 25/09/2008.
____. “1 em cada 4 docentes estaduais de Campinas foi alvo de
violência”. São Paulo, 25/09/2008.
GARFINKEL, Harold. Studies in Etnometodology. London:
Englewood Cliffs, NJ, Pratice Hall, 1984.
GASKELL, Georg. “Entrevistas individuais e grupais”. In: Martin
Bauer e Georg Gaskel, Pesquisa qualitativa com texto,
imagem e som, Petrópolis, Vozes, 2002, p. 64-89.
GLUECK, Sheldon, and Eleanor Glueck. Unraveling
Delinquency. Cambridge, MA: Harvard University, 1950.
GOMES, Candido Alberto. Dos valores proclamados aos valores
vividos: traduzindo em atos, princípios das Nações
Unidas e da Unesco para projetos escolares e políticas
educacionais. Brasília: UNESCO e Secretaria do Estado do
Rio de Janeiro, 2001.
GOMES, Jerusa. Vieira. “Jovens urbanos pobres: anotações
sobre escolaridade e emprego”. Juventude e
contemporaneidade: Revista Brasileira de Educação, São
Paulo, n. 5/6, p. 53-63, maio/ago.; set./dez. 1997.
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Pacto Pela Vida: Plano
Estadual de Segurança Pública. Recife, Pernambuco,
2007.
37
____. Censo Escolar 2006. Consultado no site:
http://www.educacao.pe.gov.br/
____. Plano Estadual de Juventude: Construindo um pacto pela
juventude. Recife: Secretaria Nacional de Juventude e
Emprego, agosto de 2008.
GROPPO, Luis Antônio. Juventude: Ensaios sobre Sociologia e
História das Juventudes Modernas. Rio de Janeiro: Difel,
2000.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4ª ed. Porto Alegre, Artmed,
2005.
GUIMARÃES, Áurea. A depredação escolar e a dinâmica da
violência. Campinas: Faculdade de Educação da
Unicamp, 1990. (Doutorado em Educação).
GUIMARÃES, Eloisa. “Juventude (s) e periferia (s) urbanas”.
Revista Brasileira de Educação, São Paulo. Números 5 e
6, 1997, p. 199-208.
GUIMARÃES, Maria Eloísa (1992). “Cotidiano escolar e
violência”. In. Alba Zaluar (org.) Violência e Educação.
São Paulo, Livros do Tatu e Cortez Editora.
JOAS, Hans. “Interacionismo Simbólico”. In: Anthony Giddens e
J. Turner, Teoria Social Hoje, São Paulo, Unesp, 1996.
JORNAL DO COMMERCIO. Professor agredido deixa escola.
Recife, 06 de maio de 2006.
____. Professora é seqüestrada por ex-alunos. Recife, 23 de
outubro de 2008, Capa.
____. Professora é levada de dentro da escola. Recife, 23 de
outubro de 2008, caderno 1, p. 2.
LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares. São
Paulo: Ática, 1997.
LEAL, Maria Cristina e ZALUAR, Alba. “Violência extra e
intramuros”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais,
Vol. 16 nº 45 fevereiro/2001, p. 145-164.
MACHADO, Otávio Luiz. Formação Profissional, Ensino Superior
e a Construção da Profissão do Engenheiro pelos
Movimentos Estudantis de Engenharia: A Experiência a
partir da Escola de Engenharia da Universidade Federal
38
de Pernambuco (1958-75). Recife: PPGS/UFPE, 2008
(Dissertação de Mestrado).
MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos. O declínio do
individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1987.
MAGUIRE, Mike, MORGAN, Rod e REINER, Robert. The Oxford
Handbook of Criminology. New York, Oxford Press, 2002.
MARQUES, M. O. da S. “Escola noturna e jovens”. Revista
Brasileira de Educação, São Paulo, n. 5/6, p. 63-75,
maio/ago.; set./dez. 1997.
MATZA, Delinquency and drift. New York: John Wiley, 1964.
____. David. Becoming Deviant. Nova Jérsia: Prentice Hall,
1969.
____. “As tradições ocultas da juventude”. In: BRITO, Sulamita
de. Sociologia da Juventude III, a vida coletiva juvenil, Rio
de Janeiro, Zahar Editores, p. 81-106, 1968.
____. & SYKES, Gresham M. “Techniques of Neutralization: A
Theory of Delinquency”. In: American Sociological
Review, vol. 22, p. 664-670, 1957.
MELUCCI, A. “Juventude, tempo e movimentos sociais”.
Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 5-6. p.5-14
maio/ago. 1997.
MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel & EUGÊNIO, Fernanda (Orgs).
Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2006.
MINAYO, M. C. S. et al. Fala galera: juventude, violência e
cidadania. Rio de Janeiro: Garamond, 1999.
MYERS, Greg. “Análise da conversação e da fala”. In: Martin
Bauer e Georg Gaskell. Pesquisa qualitativa com texto,
imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 271-292.
NOVAES, Regina. “Os jovens hoje: contextos, diferenças e
trajetórias”. In: MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel &
EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas
do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 105-120.
____. & VANUCCI, Paulo (orgs.). Juventude e Sociedade:
trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
39
OLIVEIRA MACIEL, Maria José de. Escuta, Galera! A violência
nas escolas Públicas da Região Metropolitana do Recife.
Recife: PPGS/UFP, 2004. (Tese de Doutorado).
ORLANDI, Eni. Análise do discurso: princípios e procedimentos.
Campinas: Pontes, 2005.
PAIS, José Machado. “A construção sociológica da juventude:
alguns contributos”. Análise Sociológica, v. 25, n. 105-
106, 1990.
____. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da
Moeda, 1993.
____. “A geração yô-yô”. Dinâmicas multiculturais novas faces
outros olhares, actas de las sesiones temáticas del III
Congreso Luso-Afro-Brasileño de Ciencias Sociales,
Lisboa, 1994.
____. Ganchos, tachos e biscates: jovens, trabalho e futuro.
Porto: Editora Âmbar, 2001.
____. “Prefácio- Busca de si: expressividades e identidades
juvenis”. In: MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel &
EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas
do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 7-21.
PAIVA, Vanilda (org.). Perspectivas e dilemas da educação
popular. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
____. Violência e pobreza: a educação dos pobres. In: ZALUAR,
Alba (org.). Violência e educação. 1ª Ed. São Paulo:
Livros do Tatu/Cortez, 1992.
PERALVA, Angelina. “O jovem como modelo cultural”. Revista
Brasileira de Educação, n. 5-6. São Paulo, p.15-24,
maio/ago. 1997.
PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura. Variações sobre a técnica
de gravador no registro da informação viva. São Paulo:
T.A. Queiroz, 1991.
PEREIRA LIMA, Rita de Cássia. “Sociologia do desvio e
interacionismo”. Tempo Social, Rev. Sociol. USP, S.
Paulo, 13 (1), maio de 2001, p. 185-201.
PREFEITURA MUNICIPAL DE RECIFE. Secretaria da Educação da
cidade do Recife. Ações da Secretaria frente à
40
problemática da violência e drogas nas escolas: Recife,
1999.
RIQUE, C. AGUIAR, E; LINS, J. A & BARROS, L., A criminalidade
no Recife: um problema de amplitude Nacional. Recife:
Gajop; Bagaço, 2005.
RODRIGUES, Anita Schumann. ´Aqui não há violência´: a escola
silenciada – um estudo etnográfico. Rio de Janeiro:
PUC/Departamento de Educação, 1994 (Diss. de
Mestrado).
RUOTTI, Caren. Os sentidos da violência escolar: uma
perspectiva dos sujeitos. São Paulo: Departamento de
Sociologia da FFLCH, 2007 (Diss. de mestrado).
SCHNAIDERMAN, Boris. “Bakhtin 40 graus (Uma experiência
brasileira com a sua obra)”. In: Beth Brait (org.).
Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas:
Editora da Unicamp, 1997, p. 15-22.
SCHWARTZMAN, Simon. As Causas da Pobreza. Rio de Janeiro,
Editora FGV, 2004a.
____. Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução
ao Mundo Contemporâneo. São Paulo: Augurium Editora,
2004b.
SIMMEL, Georg. Georg Simmel: sociologia. Organizado por
Evaristo de Moraes Filho. São Paulo: Ática, 1983.
____. “A Metrópole e a vida mental”. In: VELHO, Gilberto
(org.), O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1979,
p. 11-25.
SINDICATO DOS PROFESSORES DO RIO GRANDE DO SUL. Pesquisa
sobre a opinião dos professores filiados ao sindicato
sobre a problemática da violência no ambiente de
trabalho. Porto Alegre: Sindicato dos Professores do Rio
Grande do Sul (SINPRO/RS), 2007.
SOARES, Luiz Eduardo. “O futuro como passado e o passado
como futuro: armadilhas do pensamento cínico e política
da esperança”. In: Maria Isabel MENDES DE ALMEIDA e,
Fernanda EUGÊNIO (Orgs). Culturas jovens: novos mapas
do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, 121-135.
SOUSA, Janice Tirelli Ponte de. Reinvenções da Utopia: a
41
militância política nos anos 90. São Paulo: Hacker, 1999.
SPOSITO, Marilia Pontes. “Violencia colectiva, jóvenes y
educación”. México: Revista Mexicana de Sociologia, n.
3, 1994.
____. “Uma perspectiva não escolar no estudo sociológico da
escola”. In: Lea Pinheiro Paixão & Nadir Zago. Sociologia
da Educação: Pesquisa e realidade brasileira. Petrópolis,
Vozes, 2007, p. 19-43.
____. “A instituição escolar e a violência”. Cadernos de
Pesquisa, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, n.º 104,
1998.
SYKES, M e MATZA, David. “Techniques of Neutralization: A
Theory of Delinquency”. American Sociological Review,
n. 22, 1957.
UNESCO BRASIL. Pesquisa de Vitimização nas Escolas 2003.
Brasília: Unesco, 2003.
____. Abrindo espaços: educação e cultura para a paz. Brasília:
UNESCO, 2001.
____. Instituto Ayrton Senna e Ministério da Justiça, 2002.
VELHO, Gilberto (org.). (org.) O fenômeno urbano. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. ____. Desvio e Divergência.
Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
____. VELHO, Gilberto. “Juventudes, projetos e trajetórias na
sociedade”. In: In: MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel &
EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas
do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 192-200.
VANDENBERGHE, Frédéric. As Sociologias de Georg Simmel.
Tradução Marco Roberto Flamínio Peres. Bauru, SP:
Edusc; Belém: EDUFPA, 2005.
VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio de Janeiro:
Zahar Editor, 1988.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Juventude, violência e cidadania: os
jovens de Brasília. Brasília: Unesco, 1998.
____. Mapa da Violência IV: os jovens do Brasil. Brasília:
Instituto Ayrton Sena; Secretaria Especial de Direitos
Humanos, 2004.
42
____. Mortes matadas por armas de fogo no Brasil, 1979-2003.
Brasília: Unesco, 2005. Consultado em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue0
00103.pdf
____. e MACIEL, Maria. Revertendo violências, semeando
futuros. Brasília: UNESCO, 2003.
WERTHEIN, Jorge. “Por uma escola de paz”. Folha de S. Paulo
no dia 16 de setembro de 2004.
ZAIDAN FILHO, M. ZAIDAN FILHO, M. . Violência, Sociabilidade
e Escola Publica. Cadernos Municipal de Educação. 3 ed.
Recife: Undime, 2003, v., p. 45-47.
____. Violência e sociedade civil,. Folha de Pernambuco, p. 5,
12 jul. 2003.
____. Palestra. Encontro Estadual da Ressocialização. A
ressocialização enquanto proposta de enfrentamento da
violência e a criminalidade . 2006.
____. Ética, Violência e Cultura. In: Isabel Cristina Martins
Guillen; Maria Ângela de Faria Grillo. (Org.). Cutura, Cidadania
e Violência. 2 ed. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009,
v., p. 9-13.
ZALUAR, Alba. Violência e educação. São Paulo: Livros do
Tatu/Cortez, 1992.
____. “Teleguiados e chefes: juventude e crime”. In: RIZZINI,
I. (Org.) A criança no Brasil hoje. Rio de Janeiro: Editora
Universitária Santa Úrsula, 1993.
____. Cidadãos não vão ao Paraíso: Juventude e Política
Social. São Paulo: Escuta; Campinas: Editora da Unicamp,
1994.
____. Condomínio do Diabo. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ,
1994.
____. Da revolta ao crime S.A. São Paulo: Moderna, 1996.
____. “Violência e criminalidade: saída para os excluídos ou
desafio para a democracia?”, in Sérgio MICELI, Sergio (org.), O
que ler para conhecer o Brasil, vol. I, São Paulo, Anpocs, 1999.
____. “Gangs, galeras e quadrilhas: globalização, juventude e
violência". In: ______. Integração perversa: pobreza e
43
tráfico de drogas, Rio de Janeiro, Editora da UFRJ, 2004,
p. 177-201.
ZUIN, Antônio. “Adoro odiar meu professor: o orkut, os alunos
e a imagem dos mestres”. In: 29a. Reunião Anual da
Anped, 2006, Caxambú. Anais da 29ª Reunião Anual da
Anped. Rio de Janeiro: Anped, 2006. v. 1. Disponível em:
ttp://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabal
ho/GT16-1670--Int.pdf.
44
MÚSICA E SOCIABILIDADE ENTRE JOVENS NEGROS NO
RECIFE: OS MARACATUS NAÇÃO
Isabel Cristina Martins Guillen
Resumo: Este artigo discute as transformações ocorridas nos
maracatus nação do Recife devido em grande parte ao sucesso
que alcançaram nas duas últimas décadas. Analisa alguns
fenômenos da espetacularização nos grupos de modo geral, e
esmiúça, avaliando, os seus efeitos em um maracatu-nação em
particular, o Cambinda Estrela, concluindo com algumas
considerações a respeito do que é ser jovem e como se
organizam neste maracatu.
“Eu tinha vinte anos. E ninguém me diga que esta foi a
melhor fase da minha vida.” O autor da frase acima (ou algo
muito semelhante) é Paul Nizan. Quando fui convidada a
esboçar estas linhas fiquei pensando no grande desafio que é,
para nós professores universitários, exercermos um atividade
crítica acerca de um ator social com quem lidamos
cotidianamente. Acredito que temos lidado com certa
dificuldade com as mudanças que tem ocorrido com os anseios
e angústias dos jovens que entram na universidade.
Forçosamente teríamos que pensar sobre a condição do jovem
no mundo de hoje, como se constrói esse lugar social, quais as
sociabilidades que lhe estão postas na definição das
identidades, principalmente o papel que a cultura tem
exercido nessa definição.
Quando pensamos em jovem, a idéia de rebeldia, de
inquietação, de estar sempre pensando em um mundo novo, de
estar desafiando as regras, surge como primeira associação.
Mas esta é uma referência da minha geração, que tinha 1968, e
todos os acontecimentos que circundam este ano, como
parâmetro. O que pensam e o que desejam os jovens hoje?
Muitos estudos têm apontado para a criação de um lugar em
que consumo e atitudes se interligam na definição do ser
jovem no mundo contemporâneo. Aos jovens da atualidade se
atribui alguns estereótipos, dentre os quais de destaca o da
45
alienação advindo do consumo, o descomprometimento com a
política, e com a construção da cidadania. Estaríamos vivendo
sob a égide de uma geração pós coca-cola, super informada
graças ao acesso à internet, com tecnologias diversas à sua
disposição, mas acima de tudo descomprometidos. Temos que
concordar com isso? Trata-se de estereótipos, e não se pode
objetar a condição de protagonista que os jovens vêm
assumindo no mundo contemporâneo, em diversos segmentos.
(Martin-Barbero, 2008). Inclusive se pode discutir se a geração
de 1968, que tomamos como parâmetro, era assim tão
comprometida...
Dentre muitos aspectos que poderíamos apontar na
construção das identidades entre os jovens no mundo
contemporâneo, a cultura tem assumido uma grande
importância, principalmente a musical, que aparece como
central na própria definição do que é ser jovem. Esta cultura
musical não aparece apenas aos jovens como produtos a serem
consumidos, pois estes têm construído novas sensibilidades
musicais, novas linguagens estão sendo criadas ou
ressignificadas.
Ao mesmo tempo, a cultura musical que tem sido
criada pelos jovens tem proporcionado a construção de novos
espaços de sociabilidade, de elaboração de identidades, tanto
individuais quanto coletivas, espaços estes que, por sua vez,
permitem a formulação e eleição de valores e posturas de
vida. Através da música, pode-se afirmar, estes jovens têm
criado espaços de sociabilidade em que elegem um estilo de
vida, um modo de ver e se posicionar no mundo, bem como de
expressar esse posicionamento (Abramo, 2008; Dayrell, 2002).
Jovens e maracatus na cena cultural recifense
Os maracatus têm se mostrado um espaço de
criatividade e mobilização entre os jovens recifenses. A batida
do maracatu, desde que Chico Science e o Nação Zumbi
fincaram a parabólica na lama, tem sido central em
Pernambuco para se pensar os movimentos culturais na cidade,
46
e como os jovens têm se posicionado na cena cultural. Os
maracatus hoje expressam aquilo que é mais pernambucano,
que é símbolo da pernambucanidade, que expressa uma idéia
de ser de Pernambuco. Aliás, isso já foi dito por Katarina Real,
na década de 1960, quando afirmou que “ser de Pernambuco é
sentir o maracatu” (Real, 1990). Só que no momento que
Katarina Real disse isso, os maracatus passavam por uma
grande crise, a ponto desta antropóloga prognosticar o seu
desaparecimento. Como eram considerados tradições que
vinham da África estavam, neste sentido, fadados a
desaparecer, a não terem continuidade, porque os velhos -que
transmitiam a tradição- estavam morrendo. Não haveria,
portanto, como repassar essa tradição antiga e imemorial,
porque os negros também estariam desaparecendo no Brasil,
uma vez que se tomava como verdade inquestionável os ideais
de mestiçagem presentes no mito da democracia racial.
Então, desde o início do século XX até a década de
1960 os maracatus estariam fadados ao desaparecimento, o
que não condiz com a história e com a vitalidade de cada um
deles na contemporaneidade. Assim, se os maracatus nação
hoje têm uma vitalidade própria, não é dessa forma que foram
vistos pelos intelectuais, pelos folcloristas de uma forma geral,
que proclamaram por década os perigos que a tradição vinha
sofrendo de desaparecer completamente. Isso não impede que
reconheçamos que se adentrou os anos de 1970 e 1980 com
pouquíssimos maracatus nação em atuação na cidade. Não
mais do que seis grupos foram os que conseguiram se manter
em atividade, desfilando no carnaval, ou simplesmente
desenvolvendo atividades em suas comunidades (Indiano, Leão
Coroado, Estrela Brilhante, Cambinda Estrela, Porto Rico do
Oriente e Almirante do Forte).
Esse quadro começa a se modificar já nos anos oitenta
com a recriação de três novos maracatus (Porto Rico em 1981;
Sol Nascente em 1985; Elefante em 1986) que até então
estavam desarticulados ou sem desfilar há alguns anos. Esse
ressurgimento dos maracatus ocorreu em função, em parte, da
própria ação dos maracatuzeiros, que em virtude das
47
divergências nos seus grupos optaram pela recriação de outros
maracatus que estavam “guardados no museu”. Em parte é
fundamental considerar a ação do movimento negro em
Pernambuco - que se articula em torno dessas manifestações
culturais que são definidoras de uma identidade, de uma
negritude, principalmente no final da década.
Esses maracatus nação ganharam uma nova força. Em
1986, por exemplo, o Maracatu Nação Elefante, que foi o
maracatu da famosa Dona Santa (Guillen, 2006; Lima e Guillen,
2007), foi “retirado” do museu e propiciou um reviver desta
manifestação cultural. Os maracatus se tornaram mais visíveis
para a cena cultural do mundo todo quando, no início dos anos
noventa, Chico Sciense e o Nação Zumbi usam a afaya e seus
toques, propagando a batida do maracatu para todo o mundo.
Não se pode atribuir este reviver dos maracatus
exclusivamente à ação de Chico Sciense, mas também à
própria ação do Movimento Negro e dos maracatuzeiros que
vão colocar o maracatu nação numa cena cultural mais ampla
do que a das passarelas do carnaval (Lima, 2010). Assim sendo,
ao final dos anos noventa a batida do maracatu se espalhava
por todo o mundo. O maracatu deixava de ser uma
manifestação da cultura popular pernambucana, feita nas
favelas e nos morros da cidade do Recife para chegar no Rio de
Janeiro, São Paulo, Brasília, Santa Catarina, Paraná, Rio
Grande do Sul. Em quase todas as capitais do Brasil (se não em
todas) há jovens que têm um grupo musical que chamam de
maracatu. Se é maracatu - legítimo ou autêntico - ou não, é
uma outra controvérsia. Mas eles tocam essa música que
chamam de maracatu, muitos deles influenciados pelos toques
dos grandes grupos de maracatu nação de Pernambuco. Para
além disso, uma série de produtores culturais tem levado os
grandes grupos de maracatus nação para fora do Brasil,
contribuindo para que hoje existam grupos que tocam
maracatu na França, Inglaterra, Alemanha, Rússia, Japão e
Canadá, dentre outros países. Assim sendo, temos jovens que
não são brasileiros necessariamente, e que tocam maracatu.
Este ano, por exemplo, no mês de julho realiza-se na França
48
um encontro internacional de maracatus, que já vai em sua
quinta edição.
Na cidade do Recife, surgiu um grande número de
grupos que tocam maracatu, comumente formados por jovens
de classe média, que mantém essas atividades como
entretenimento, mas que têm contribuído para afirmar uma
pernambucanidade na contemporaneidade. Ainda hoje,
circulando pelo bairro do Recife nos finais de semana,
podemos encontrar pelas ruas e esquinas grupos de jovens
carregando suas “afayas” (ou tambores) ao encontro de outros
jovens, para simplesmente tocar maracatu. Estes grupos se
caracterizam por serem formados por jovens, em sua grande
maioria pertencentes à classe média, brancos e brancas, que
moram em diversos lugares da cidade – o que demonstra a não
vinculação com uma comunidade – e os instrumentos musicais
utilizados pelo grupo são, via de regra, dos membros que se
encontram para tocar Há ainda aqueles grupos que, mesmo os
jovens sendo donos de seus instrumentos, pagam uma
mensalidade para deles fazerem parte (Lima e Guillen, 2007).
Neste novo panorama, fazer maracatu se tornou uma
espécie de atividade eminentemente jovem? Uma
manifestação cultural feita pelos jovens e para os jovens? O
que é esse maracatu que foi descrito? Alerto ao leitor e à
leitora que não podemos denominar estes grupos que se
formaram fora de Pernambuco, recentemente, ou mesmo aqui,
de maracatu nação, mas sim de grupos percussivos. Preferimos
diferenciar essas atividades dos maracatus nação
efetivamente, que são aqueles grupos possuidores de práticas
e costumes compartilhados e que, grosso modo, possuem a
maior parte de seus integrantes em uma só comunidade.
Nestes maracatus os instrumentos musicais pertencem ao
grupo, e o pertencimento à religião (candomblé, jurema e
umbanda) é fundamental na definição da identidade. Além do
mais, os maracatus nação são caracterizados não apenas pelo
conjunto musical, mas também pela corte de súditos de um rei
e rainha, corte esta que é composta por uma série de figuras
ou personagens. Até bem recentemente, quando se falava em
49
maracatu lembrava-se imediatamente do rei ou da rainha. O
batuque acompanhava a corte, e o conjunto constituía um
maracatu nação. Lembramos que a corte não está presente na
grande maioria dos grupos percussivos, pois o que interessa
verdadeiramente a estes agrupamentos é a música. Nem por
isso estes grupos percussivos deixam de ser considerados
espaços de sociabilidade e definição de identidades, mas não
se pode – definitivamente – confundi-los com os maracatus
nação.
O lugar dos jovens nos maracatus nação
O maracatu nação, ainda hoje, é tido como o lugar da
tradição. Ele foi representado como um espaço de
sociabilidade em que os velhos transmitiam um determinado
saber aos mais jovens, compartilhando um lugar no mundo,
enquanto negros e negras que viviam nas favelas e morros da
periferia do Recife. Até recentemente os maracatus não eram
tidos como espaços de sociabilidade para os jovens. Ao
contrário, os maracatus nação eram considerados
manifestações culturais em que pais e mães de santo de
senioridade reproduziam seu poder e autoridade, e aos mais
jovens destinava-se o lugar de aprendizes, sobretudo lugares
secundários. Quando se toma como parâmetro um maracatu
nação considerado tradicional, como o Elefante de Dona Santa,
percebemos que mesmo no batuque (orquestra percussiva)
havia uma predominância de homens formados, e não de
jovens. Essa configuração começa a mudar no final dos anos
oitenta, quando encontramos com mais facilidade jovens
integrandos os maracatus, a exemplo do Elefante de Dona
Madalena e o Leão Coroado de Luis de França, este último em
menor proporção.
Na atualidade, assistimos a um fenômeno interessante,
em que a corte é tida como um espaço dos mais velhos, no
qual pais e mães de santo continuam a exercer sua autoridade,
ao contrário do batuque que é predominantemente formado
50
por jovens. E os mais velhos sequer têm espaço, ou conseguem
deles participar. Este fenômeno tem chegado aos mestres, que
a cada dia são mais jovens, o que era inconcebível nos
maracatus nação algumas décadas atrás. Atualmente há um
visível rejuvenescimento do maracatu nação. Num universo de
vinte e cinco maracatus nação existentes hoje no grande
Recife, apenas quatro mestres têm mais de cinqüenta anos
(Walter do Estrela Brilhante do Recife, Toinho do Encanto da
Alegria, Geraldo do Gato Preto e Antônio Roberto do Nação de
Luanda).
Os maracatus nação têm sofrido com o fenômeno da
espetacularização da cultura popular. A convivência entre as
pessoas, outrora comunitária, propiciava que o aprendizado
ocorresse no quotidiano, de modo informal, e o saber se
transmitia acima de tudo, fazendo e se observando fazer. E se
aprendia não apenas a tocar um instrumento, mas a construí-lo
e afiná-lo. E aprendia-se também a exercer outras funções de
modo que um mestre era considerado aquele que detinha esse
saber. Consoante à espetacularização ocorre
contemporaneamente uma desritualização do maracatu que se
transforma em “música” que pode ser ensinada e aprendida
em oficinas e workshops (Carvalho, 2007). Paga-se e recebe-se
para se aceder ao saber musical.
O maracatu nação expressa muitos conflitos advindos
dessa relação com o mercado cultural e as demandas que este
impõe aos maracatuzeiros. Ele continua a se manter como uma
comunidade orgânica e que tem vinculação com as religiões
afro-descendentes, No entanto, no âmbito da reprodução do
saber fazer o mestre teve seu lugar transformado. Não mais se
mantém enquanto mestre simplesmente porque detém o saber,
mas devido a qualidades performáticas, adequando-se às
necessidades de se produzir o espetáculo. Alguns mestres de
maracatu, mais antigos, têm expressado uma dificuldade muito
grande em fazer oficinas, em ensinar jovem a tocar maracatu,
porque tem outra forma de transmissão do saber, diferente da
lógica em que se organizam esses cursos. Essa diferença se
expressa no tempo de formação de um batuqueiro. No modo
51
tradicional levavam-se anos, passava-se por todo um processo
de iniciação para se aprender a tocar todos os instrumentos.
Atualmente, com apenas uma oficina muitos jovens conseguem
executar alguns toques básicos.
Nesse sentido, o maracatu nação sintetiza diversas
questões e contradições: qual é o lugar do jovem e qual é o
lugar do velho? Se o maracatu é ainda símbolo da tradição,
como essa herança cultural tem sido transmitida de modo tão
moderno? O que é que os velhos mestres de maracatu querem
transmitir aos jovens? Podemos observar, por exemplo, que
alguns mestres de maracatu se sentem extremamente
angustiados com essas questões. Assim sendo, no interior dos
maracatus nação claramente há uma tensão entre o lugar do
jovem e do velho, entre os modos como se dá a transmissão do
saber nessa expressão cultural.
O Maracatu Nação Cambinda Estrela
Fundado no Alto Santa Isabel, bairro de Casa Amarela,
em 1935, o Cambinda Estrela surgiu como maracatu de baque
solto (também conhecido como maracatu de orquestra ou
rural) e nessa modalidade atuou até provavelmente o início dos
anos 1960. O Cambinda Estrela foi fundado por trabalhadores
migrantes da mata norte do Estado de Pernambuco, e que na
zona norte da cidade do Recife reconstruíram fortes redes de
sociabilidade. Nas lembranças de Dona Leinha, filha de um dos
fundadores do maracatu, o convívio entre parentes e amigos
fazia o quotidiano mais suportável e o Cambinda o lugar da
alegria e da diversão. Muitos moradores idosos do Alto Santa
Isabel ainda se lembram com saudades do maracatu, e de seu
famoso articulador, Tercílio, considerado um mestre de
primeira categoria por sua capacidade de improvisação e
beleza das toadas que compunha. Tercílio criou fama entre os
maracatuzeiros de ser um excelente versejador. “Como ele
não tinha igual!”, afirma o senhor Zezinho, morador do Alto, e
que quando jovem saia no grupo como caboclo de lança.
52
Enquanto maracatu de baque solto o Cambinda Estrela
foi objeto de estudo do maestro César Guerra Peixe, um dos
primeiros estudiosos a diferenciar as modalidades de maracatu
bem como a respeitá-la em sua diversidade. As observações de
Guerra Peixe em seu livro Maracatus do Recife (1981) atestam
a importância do Cambinda no universo dos maracatus. Não
obstante, como maracatu de orquestra, o Cambinda Estrela
sofreu as mesmas pressões que existiram sobre esta
modalidade rítmica, e que impeliram vários grupos para a
mudança de baque, a exemplo do Indiano. Não se pode
precisar com certeza quando esta mudança ocorreu, mas a
transformação do baque não acarretou a desestruturação do
grupo. O maracatu se re-configurou para receber novos
membros, destacando-se a atuação do famoso carnavalesco
Mário Miranda, também afamado pai-de-santo da comunidade
do Alto Santa Isabel, mais conhecido como Maria Aparecida. O
Cambinda Estrela, nesses anos, conquistou espaços, e alguns
títulos. Nas décadas de 1960 e 1970 encontramos o Cambinda
Estrela em atuação no carnaval da cidade, disputando
concursos, ou mesmo sendo homenageado, a exemplo de
Abelardo da Hora que em meados da década de 1960 tomou
seu símbolo (o peixe) como motivo para a decoração
carnavalesca da cidade do Recife.
O Cambinda Estrela foi perdendo seu brilho ao longo
dos anos 1980, sobretudo após a morte do Sr. Tercílio e Dona
Inês, que era a rainha. Em 1997, ressurgiu com sede em Chão
de Estrelas, graças ao trabalho de um grupo de pessoas que
congregava estudantes, pais e mães de santo e moradores das
comunidades. Desde esse momento o Cambinda Estrela abrigou
uma variedade de terreiros e comunidades, bem como de
interesses e concepções acerca do que define um maracatu
nação, e para resolver as tensões inerentes à forma como se
deu seu ressurgimento o grupo optou por instituir fóruns de
decisão que, esperava-se, pudessem dirimir conflitos e
disputas. O Cambinda Estrela é, na atualidade, um maracatu
que possui uma diretoria organizada e que efetivamente dirige
53
os trabalhos necessários para manter o grupo, tanto no
carnaval, mas principalmente no restante do ano.
No início da década de 2000 estabeleceu-se uma
parceria com o grupo de maracatu da Alemanha, o Nation
Stern der Elbe, sediado em Hamburgo, e que contribuía
financeiramente com alguns projetos que começaram a ser
desenvolvidos na ocasião, tais como aulas de alfabetização
para jovens e adultos, oficinas de percussão para crianças e
jovens da comunidade. O projeto com o maracatu alemão se
encerrou, mas o Cambinda Estrela não deixou de atuar de
forma decisiva entre os jovens de Chão de Estrela. Daquele
tímido início para os dias de hoje o Cambinda Estrela
progressivamente ampliou sua ação, e contribui
financeiramente para que os meninos e meninas, de seu
batuque e corte, estudem em escolas particulares da região,
bem como mantém alguns jovens na universidade. Alguns
desses jovens que estão na universidade acompanham o
maracatu desde que eram garotos e participaram das primeiras
aulas comunitárias. São eles que hoje coordenam as atividades
do batuque do Cambinda.
Do ponto de vista do espetáculo que delineamos acima,
o Cambinda Estrela destoa de muitos dos maracatus nação
mais “tradicionais”. Seja devido à atuação de seu mestre, ou à
própria composição da diretoria, o maracatu é conhecido na
cena cultural recifense por ter uma performance mais
politizada e engajada, e traz em sua camiseta a frase Festa e
Luta, como uma espécie de “palavra de ordem”. Isto porque
nos últimos anos se notabilizou por discutir publicamente, em
suas apresentações, o respeito pela diferença (gênero, sexual e
geracional), bem como por claramente lutar contra o racismo e
a homofobia. Neste ano de 2010, no show de abertura do
carnaval, que ocorre no Marco Zero e é conduzido por Naná
Vasconcelos acompanhado do batuque de dezessete maracatus
nação, o Cambinda Estrela se apresentou com uma grande
bandeira verde, amarela e vermelha, na qual estava
estampado: “contra o apartheid brasileiro: quotas raciais para
negros e negras na UFPE, UFRPE e UPE”. Além da bandeira o
54
grupo entoou a canção “Nkosi si ke le la”, reconhecido hino do
CNA (Congresso Nacional Africano) e que nos anos oitenta foi
consagrado na luta contra o racismo no Brasil.
Esta é uma performance que tem caracterizado o
Cambinda Estrela ao longo de suas apresentações. Suas toadas
aludem a reivindicações do grupo, às lutas nas quais o
Cambinda tem se engajado. Essas toadas têm contribuído para
a afirmação da identidade do grupo, reforçando a auto-estima
e o orgulho de pertencerem à “nação”. A identidade do grupo,
portanto, tem se definido a partir de uma ressignificação da
África para o maracatu, a politização da religião com o
enaltecimento de Malunguinho (entidade da jurema) e forte
apelo à consciência política.
A África aparece não de forma difusa e homogênea,
como o lugar da tradição e da origem, mas de fonte de
inspiração na luta contra o racismo e a discriminação. Líderes
e personagens históricos como Chaka Zulu e Steve Biko, tem
seus nomes gravados nos muros do bairro misturados aos nomes
de Martin Luther King, Zapata, Xangô, Acotirene, Zumbi e
outros. Estes nomes aparecem constantemente nas toadas,
como referências para a construção de identidade. A África,
neste contexto, não é aludida de forma genérica, mas é
tratada como lugar em que uma história de luta se
desenvolveu. A Etiópia é referida como exemplo: “o único pais
que não sucumbiu aos colonizadores”.
Malunguinho, entidade da jurema, também tem sido
ressignificado. Por ter sido um líder quilombola, tem a sua
história contada e seus pontos são constantemente cantados.
Diga-se de passagem que foi gravado nos dois CDs do grupo.
Por outro lado, os quilombos, de modo geral, servem de
referência nessa formação de identidade, e quando o grupo
conseguiu uma apresentação em Salgueiro, durante a semana
pré-carnavalesca, não perdeu a oportunidade de levar seus
membros para se apresentarem em Conceição das Crioulas, um
dos mais conhecidos e organizados “remanescentes” de
quilombos do Estado. Não sem antes ter visitado uma das
maiores favelas de Salgueiro e lá ter conhecido um terreiro de
55
jurema. Desse modo, nessas ações, percebemos que o
Cambinda Estrela tem afirmado sua identidade de
“quilombola”, de “favelado” e de ser formado por negros e
negras.
Esse esforço de construção de identidades está
bastante presente nas toadas. Uma delas define bem a
tentativa do grupo em traduzir-se: “construímos nossa casa
para todo o povo cantar. Só não pode ter elite nem senhor
neste lugar.” Outra toada com letra definidora dos caminhos
trilhados pelo grupo afirma um pertencimento social e uma
crítica política quando afirma: “falei e disse, vou cantar com
alegria, o Cambinda é uma mosca na sopa da burguesia.”
Diante desta performance pode-se entender porque o
Cambinda Estrela não é o maracatu que mais atrai os jovens de
classe média para tocar no seu batuque. Ao contrário! A
entrada de jovens de classe média no batuque tem gerado
acaloradas discussões.
No contexto em que fazer maracatu tem forte apelo
entre os jovens da classe média, o Cambinda Estrela tem se
notabilizado por debater o branqueamento que os maracatus
nação têm sofrido, discutindo em seus fóruns a entrada ou não
de pessoas que não são da comunidade no seu batuque. Em
uma de suas toadas afirma: “eu sou do asfalto eu sou da lama,
gente rica não me engana, Cambinda tem orgulho de ser do
Vasco da Gama.” Dessa forma afirma positivamente o
pertencimento ao lugar onde mora. Em outras, à religião e à
negritude.
Ser jovem no Cambinda Estrela
Chão de Estrelas é um bairro que se caracteriza, como
tantos outros da periferia do Recife, pela carência de
equipamentos culturais e dificuldade de acesso aos bens
culturais, como teatros ou mesmo cinema. Para os jovens do
Cambinda Estrela o maracatu tem se mostrado um espaço de
56
criatividade e mobilização, motivando os jovens a participar de
certos espaços de debate público e de alguns canais de
participação política, a exemplo da inserção no orçamento
participativo, nos debates sobre a igualdade racial e o combate
ao racismo.
A atuação dos jovens no maracatu tem propiciado que
exercitem sua criatividade e sua capacidade de realizar
eventos e projetos. São eles os responsáveis pela organização
das aulas de percussão, bem como de todo o batuque na época
do carnaval. O mestre têm se submetido aos fóruns de decisão
coletivos, e todos os aspectos que envolvem a organização do
batuque são discutidos em “assembléias”. A performance da
bandeira não foi diferente uma vez que passou por um intenso
processo de discussão e preparação, inclusive do aprendizado
da letra da canção Nkosi si ke le la, cantada em três línguas
diferentes. Há um claro reforço à atuação coletiva, e o
maracatu tem se tornado um pólo de referência para os jovens
que não participam diretamente dele. Podemos citar outros
grupos culturais, como o Gambiarra que agia fazendo pequenos
curtas-metragens sobre a atuação dos jovens em Chão de
Estrelas. Mesmo para os jovens que pertencem ao Cambinda a
atuação mais destacada de alguns deles também se constitui
numa referência. O que podemos observar ao longo destes
anos é que tem aumentado a procura para ingressar na
universidade bem como para concluir seus estudos, seja o
ensino médio ou o fundamental.
Estes jovens que atuam no maracatu têm um claro
protagonismo social e cultural, pois formaram outro grupo
musical, o Coco dos Pretos, no qual atuam paralelamente às
atividades que exercem no maracatu. Pode-se sem sombra de
dúvidas afirmar que há uma aposta do grupo maior do
Cambinda Estrela na potencialidade criativa dos jovens, no seu
desenvolvimento pessoal e social. Nesse sentido, o maracatu
Cambinda Estrela tem demonstrado habilidade para atuar
como instrumento auxiliar na formação educativa dos jovens,
evitando desvios na formação e no desenvolvimento desses
jovens, pois tem conseguido ocupá-los positivamente e evitado
57
que permaneçam no ócio e à mercê dos perigos da rua e da
delinqüência, principalmente o tráfico de drogas.
As oficinas oferecidas pelo Cambinda Estrela ocorrem
todos os sábados no período vespertino, em sua sede, e dela
participam principalmente jovens da comunidade de Chão de
Estrelas e regiões adjacentes. Não são ministradas pelo
mestre, mas por jovens que dirigem o batuque, e que atuam
como contra-mestres durante o período do carnaval. Estes
jovens tem atuado no Cambinda Estrela há muitos anos, e
alguns deles que estão no grupo desde garotos passaram por
um longo processo de aprendizado. Hoje, o Cambinda Estrela é
talvez o único maracatu nação que tem mais de um “mestre”
jovem, e que têm condições de substituir em apresentações
diversas o mestre Ivaldo Marciano. Adriano, Wanessa, Jefferson
e Madson são jovens que estão no grupo há mais de dez anos, e
que hoje tem condições de conduzir o batuque sem a presença
de outro mestre. Ao longo desse processo de aprendizado
tornaram-se protagonistas do batuque, dirigindo-o e discutindo
suas formas de atuação e identidade.
Estes jovens discutem intensamente os processos de
transmissão do saber entre os maracatus nação, e tem se
posicionado criticamente quanto à questão da oferta de
oficinas pagas pelos que desejam aprender a tocar maracatu.
Sempre que surge um convite para se oferecer oficinas,
discute-se internamente quem irá ministrá-la e em que
condições, e via de regra os proventos recebidos revertem em
parte para o maracatu. Instituiu-se um sistema de rodízio entre
os contra-mestres de modo a que todos possam participar
desse processo de aprendizado de se tornar mestre.
Normalmente a função de oficineiro é reservado ao mestre,
que agrega além dos proventos que recebe, capital simbólico
ao seu nome.
Se as oficinas são intensamente discutidas e
organizadas pelos jovens, as atividades do batuque na época
do carnaval não ficam atrás. Durante o processo de preparação
do maracatu para as apresentações do período momesco, o
batuque ensaia semanalmente, e na medida em que se
58
aproxima o carnaval mais de uma vez na semana. Os ensaios
são coordenados pelos jovens acima referidos, e o mestre
invariavelmente propicia que haja um revezamento entre os
que podem ocupar esta posição. Discute-se em assembléias o
valor da ajuda de custo que cada batuqueiro receberá pelas
apresentações feitas, qual o modelo da fantasia a ser adotada,
a disciplina e as regras a serem obedecidas por todos a
respeito do consumo de bebidas alcoólicas ou outras drogas,
bem como outras questões que regulamentam o convívio dos
jovens. É necessário se observar que no período do carnaval o
batuque assume proporções muito grandes, chegando a ser
composto por mais de cem batuqueiros. Não se trata de
organizar a apresentação de uma banda!
O Cambinda Estrela não atua com vista a impedir que o
jovem se torne um problema, tirando-o da rua, mas postula
radicalmente o direito ao protagonismo sócio-cultural e junto
com esse protagonismo o enriquecimento enquanto pessoas
através do alargamento e acesso aos meios de informação,
meios de intervenção e participação no universo simbólico da
sociedade. Na medida em que discutem corriqueiramente o
que é ser negro nesta sociedade, e através de suas
manifestações culturais postulam um modo positivo de ser
jovem e negro, têm contribuído para criar identidade, um
modo de ser jovem na periferia do Recife. Não se trata
simplesmente de “ser jovem”, mas de, através destas atuações
culturais, se posicionarem como atores e interlocutores dos
debates que se processam na sociedade de modo mais amplo.
BIBLIOGRAFIA
ABRAMO, Helena. Retratos da juventude brasileira. São Paulo,
Perseu Abramo, 2006.
59
BORELLI, Silvia H. S.; FREIRE FILHO, João. Culturas juvenis no
século XXI. São Paulo, EDUC, 2008.
CARVALHO, Ernesto Ignácio de. Diálogo de negros, monólogo
de brancos: transformações e apropriações musicais no
maracatu de baque virado. Recife, Dissertação de mestrado
em Antropologia, UFPE, 2007.
DAYRELL, Juarez. A escola faz as juventudes? Reflexões em
torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas,
vol. 28 n. 100, 2007, p.1105-1128. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf
DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista
Brasileira de Educação. N. 24, set/dez 2003, p. 40-52.
Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a04.pdf
DAYRELL, Juarez. O rap e o funk na socialização da juventude.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28 n. 01, p. 117-136, jan-
junh 2002. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11660.pdf
GUILLEN, Isabel Cristina Martins. Dona Santa, rainha do
maracatu: memória e identidade no Recife. Cadernos de
Estudos Sociais. Recife: vol. 22, n. 01, p. 33-48, 2006.
GUILLEN, Isabel Cristina Martins; LIMA, Ivaldo Marciano de
França. Cultura afro-descendente no Recife: maracatus,
capoeiras e catimbós. Recife, Bagaço, 2007.
LIMA, Ari. Funkeiros, timbaleiros e pagodeiros: notas sobre
juventude e música negra na cidade de Salvador. Cadernos
Ceres, vol. 22, n. 57, 2002. P. 77-96. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v22n57/12004.pdf
LIMA, Ivaldo Marciano de França. Maracatus e maracatuzeiros:
desconstruindo certezas, batendo afayas e fazendo histórias.
Recife, 1930 – 1945. Recife: Dissertação de mestrado em
História, UFPE, 2006.
LIMA, Ivaldo Marciano de França. Identidade negra no Recife:
maracatus e afoxés. Recife: Bagaço, 2009.
LIMA, Ivaldo Marciano de França. Maracatus-nação:
ressignificando velhas histórias. Recife: Bagaço, 2005.
60
LIMA, Ivaldo Marciano de França. Os maracatus do Recife, as
disputas e influências entre o fazer e o refazer dos toques: os
casos do Cambinda Estrela, Porto Rico e Estrela Brilhante.
Anais eletrônicos do II encontro nacional da ABET – Associação
Brasileira de Etno-musicologia, Salvador: 2004.
REAL, Katarina. O folclore no carnaval do Recife. 2.ed. Recife:
Massangana, 1990.
SAVAGE, John. A criação da juventude. Rio de Janeiro, Rocco,
2009.
SCHMITT, Jean claude; LEVI, Giovanni. História dos Jovens. São
Paulo, Companhia das Letras, 1996, vol. 02.
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf
Livro presença das juventudes pernambucanas pdf

Más contenido relacionado

Similar a Livro presença das juventudes pernambucanas pdf

Divulgando
DivulgandoDivulgando
DivulgandoFlorespi
 
Programa de Pós-Graduação em Economia Doméstica
Programa de Pós-Graduação em Economia DomésticaPrograma de Pós-Graduação em Economia Doméstica
Programa de Pós-Graduação em Economia DomésticaFórum Pesquisa CCH
 
Programação 1ª semana paulo freire final
Programação 1ª semana paulo freire   finalProgramação 1ª semana paulo freire   final
Programação 1ª semana paulo freire finalRafael Martins Farias
 
Simposio Brasil Japao Dreyf
Simposio Brasil Japao   DreyfSimposio Brasil Japao   Dreyf
Simposio Brasil Japao DreyfDreyf Gonçalves
 
Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas
Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicasPerspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas
Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicasPetianos
 
Seminário Educomunicação na Práxis Social
Seminário Educomunicação na Práxis SocialSeminário Educomunicação na Práxis Social
Seminário Educomunicação na Práxis SocialDodô Calixto
 
A inovacao para_o_desenvolvimento_social
A inovacao para_o_desenvolvimento_socialA inovacao para_o_desenvolvimento_social
A inovacao para_o_desenvolvimento_socialPaulo Mesquita
 
Livro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdf
Livro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdfLivro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdf
Livro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdfOtavio Luiz Machado
 
Psicologia, direitos humanos e movimentos sociais
Psicologia, direitos humanos e movimentos sociaisPsicologia, direitos humanos e movimentos sociais
Psicologia, direitos humanos e movimentos sociaisZé Neto
 
Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I 2014
Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I  2014Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I  2014
Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I 2014NETE-UFS
 
Formação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógico
Formação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógicoFormação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógico
Formação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógicoFlávia Santos Alvim
 
Conheça um pouco da biografia de nossos premiados
Conheça um pouco da biografia de nossos premiadosConheça um pouco da biografia de nossos premiados
Conheça um pouco da biografia de nossos premiadosDicionarioCritico
 
Calendário educom 2016 (2)
Calendário educom 2016 (2)Calendário educom 2016 (2)
Calendário educom 2016 (2)RafaellaLucas
 
V encontro brasileiro de educomunicação pdf
V encontro brasileiro de educomunicação pdfV encontro brasileiro de educomunicação pdf
V encontro brasileiro de educomunicação pdfcapelozza
 
Servico social 1b
Servico social 1bServico social 1b
Servico social 1bLéia Mayer
 

Similar a Livro presença das juventudes pernambucanas pdf (20)

Divulgando
DivulgandoDivulgando
Divulgando
 
Programa de Pós-Graduação em Economia Doméstica
Programa de Pós-Graduação em Economia DomésticaPrograma de Pós-Graduação em Economia Doméstica
Programa de Pós-Graduação em Economia Doméstica
 
Programação 1ª semana paulo freire final
Programação 1ª semana paulo freire   finalProgramação 1ª semana paulo freire   final
Programação 1ª semana paulo freire final
 
Simposio Brasil Japao Dreyf
Simposio Brasil Japao   DreyfSimposio Brasil Japao   Dreyf
Simposio Brasil Japao Dreyf
 
Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas
Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicasPerspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas
Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas
 
Seminário Educomunicação na Práxis Social
Seminário Educomunicação na Práxis SocialSeminário Educomunicação na Práxis Social
Seminário Educomunicação na Práxis Social
 
Conexaoimagin
ConexaoimaginConexaoimagin
Conexaoimagin
 
Conexaoimagin
ConexaoimaginConexaoimagin
Conexaoimagin
 
CULTURAS_PSI_programa
CULTURAS_PSI_programaCULTURAS_PSI_programa
CULTURAS_PSI_programa
 
A inovacao para_o_desenvolvimento_social
A inovacao para_o_desenvolvimento_socialA inovacao para_o_desenvolvimento_social
A inovacao para_o_desenvolvimento_social
 
Livro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdf
Livro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdfLivro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdf
Livro juventudes, democracia, direitos humanos e cidadania com isbn pdf
 
Psicologia, direitos humanos e movimentos sociais
Psicologia, direitos humanos e movimentos sociaisPsicologia, direitos humanos e movimentos sociais
Psicologia, direitos humanos e movimentos sociais
 
Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I 2014
Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I  2014Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I  2014
Programação do seminário do grupo pesquisa modulo I 2014
 
Formação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógico
Formação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógicoFormação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógico
Formação de Professores e Mídias Digitais - enfoque dialógico
 
Conheça um pouco da biografia de nossos premiados
Conheça um pouco da biografia de nossos premiadosConheça um pouco da biografia de nossos premiados
Conheça um pouco da biografia de nossos premiados
 
Calendário educom 2016 (2)
Calendário educom 2016 (2)Calendário educom 2016 (2)
Calendário educom 2016 (2)
 
Memórias acadêmias atualizado (08.09) (1)
Memórias acadêmias atualizado (08.09) (1)Memórias acadêmias atualizado (08.09) (1)
Memórias acadêmias atualizado (08.09) (1)
 
Projeto
ProjetoProjeto
Projeto
 
V encontro brasileiro de educomunicação pdf
V encontro brasileiro de educomunicação pdfV encontro brasileiro de educomunicação pdf
V encontro brasileiro de educomunicação pdf
 
Servico social 1b
Servico social 1bServico social 1b
Servico social 1b
 

Más de Otavio Luiz Machado

Capítulo violência nas escolas
Capítulo violência nas escolasCapítulo violência nas escolas
Capítulo violência nas escolasOtavio Luiz Machado
 
Capítulo de livros múltiplas juventudes
Capítulo de livros múltiplas juventudesCapítulo de livros múltiplas juventudes
Capítulo de livros múltiplas juventudesOtavio Luiz Machado
 
Capítulo de livro sobre emop e 1964
Capítulo de livro sobre emop e 1964Capítulo de livro sobre emop e 1964
Capítulo de livro sobre emop e 1964Otavio Luiz Machado
 
Capítulo de livro publicado movimentos juvenis
Capítulo de livro publicado movimentos juvenisCapítulo de livro publicado movimentos juvenis
Capítulo de livro publicado movimentos juvenisOtavio Luiz Machado
 
Ok slide livro sobre florestan fernandes
Ok slide livro sobre florestan fernandesOk slide livro sobre florestan fernandes
Ok slide livro sobre florestan fernandesOtavio Luiz Machado
 
Livro múltiplas juventudes protestos Brasil atual
Livro múltiplas juventudes protestos Brasil atualLivro múltiplas juventudes protestos Brasil atual
Livro múltiplas juventudes protestos Brasil atualOtavio Luiz Machado
 
Livro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdf
Livro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdfLivro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdf
Livro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdfOtavio Luiz Machado
 
Livro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdf
Livro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdfLivro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdf
Livro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdfOtavio Luiz Machado
 
Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...
Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...
Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...Otavio Luiz Machado
 
Artigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machado
Artigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machadoArtigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machado
Artigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machadoOtavio Luiz Machado
 
Texto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempe
Texto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempeTexto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempe
Texto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempeOtavio Luiz Machado
 
Livro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf ok
Livro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf okLivro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf ok
Livro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf okOtavio Luiz Machado
 
Livro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf ok
Livro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf okLivro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf ok
Livro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf okOtavio Luiz Machado
 
Livro movimentos juvenis na contemporaneidade pdf
Livro movimentos juvenis na contemporaneidade pdfLivro movimentos juvenis na contemporaneidade pdf
Livro movimentos juvenis na contemporaneidade pdfOtavio Luiz Machado
 
Livro memórias das juventudes pernambucanas pdf
Livro memórias das juventudes pernambucanas pdfLivro memórias das juventudes pernambucanas pdf
Livro memórias das juventudes pernambucanas pdfOtavio Luiz Machado
 
Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009
Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009
Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009Otavio Luiz Machado
 
Livro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdf
Livro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdfLivro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdf
Livro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdfOtavio Luiz Machado
 
Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...
Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...
Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...Otavio Luiz Machado
 
Artigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machado
Artigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machadoArtigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machado
Artigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machadoOtavio Luiz Machado
 
Artigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machado
Artigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machadoArtigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machado
Artigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machadoOtavio Luiz Machado
 

Más de Otavio Luiz Machado (20)

Capítulo violência nas escolas
Capítulo violência nas escolasCapítulo violência nas escolas
Capítulo violência nas escolas
 
Capítulo de livros múltiplas juventudes
Capítulo de livros múltiplas juventudesCapítulo de livros múltiplas juventudes
Capítulo de livros múltiplas juventudes
 
Capítulo de livro sobre emop e 1964
Capítulo de livro sobre emop e 1964Capítulo de livro sobre emop e 1964
Capítulo de livro sobre emop e 1964
 
Capítulo de livro publicado movimentos juvenis
Capítulo de livro publicado movimentos juvenisCapítulo de livro publicado movimentos juvenis
Capítulo de livro publicado movimentos juvenis
 
Ok slide livro sobre florestan fernandes
Ok slide livro sobre florestan fernandesOk slide livro sobre florestan fernandes
Ok slide livro sobre florestan fernandes
 
Livro múltiplas juventudes protestos Brasil atual
Livro múltiplas juventudes protestos Brasil atualLivro múltiplas juventudes protestos Brasil atual
Livro múltiplas juventudes protestos Brasil atual
 
Livro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdf
Livro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdfLivro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdf
Livro denis bernardes versão 17 nov 2013 com isbn pdf pdf
 
Livro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdf
Livro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdfLivro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdf
Livro denis bernardes versão 18 nov 2013 com isbn pdf
 
Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...
Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...
Capítulo de livro de autoria de otávio luiz machado as repúblicas estudantis ...
 
Artigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machado
Artigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machadoArtigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machado
Artigo florestan fernandes e a ldb no congresso nacional por otávio luiz machado
 
Texto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempe
Texto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempeTexto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempe
Texto de otávio luiz machado sobre projeto repúblicas no iv sempe
 
Livro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf ok
Livro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf okLivro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf ok
Livro o pensamento das juventudes brasileiras no século xx pdf ok
 
Livro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf ok
Livro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf okLivro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf ok
Livro juventude e movimento estudantil ontem e hoje pdf ok
 
Livro movimentos juvenis na contemporaneidade pdf
Livro movimentos juvenis na contemporaneidade pdfLivro movimentos juvenis na contemporaneidade pdf
Livro movimentos juvenis na contemporaneidade pdf
 
Livro memórias das juventudes pernambucanas pdf
Livro memórias das juventudes pernambucanas pdfLivro memórias das juventudes pernambucanas pdf
Livro memórias das juventudes pernambucanas pdf
 
Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009
Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009
Matéria do jornal incampus da ufpe em março de 2009
 
Livro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdf
Livro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdfLivro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdf
Livro movimento estudantil brasileiro e a educação superior pdf ok pdf
 
Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...
Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...
Artigo o movimento estudantil em torno das casas de estudantes, de otávio lui...
 
Artigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machado
Artigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machadoArtigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machado
Artigo o festival de inverno e os arquivos do dops, de otávio luiz machado
 
Artigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machado
Artigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machadoArtigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machado
Artigo o carnaval de ouro preto, de otávio luiz machado
 

Livro presença das juventudes pernambucanas pdf

  • 1. 1
  • 2. 2 Michel Zaidan Filho Otávio Luiz Machado (Organizadores) PRESENÇA DAS JUVENTUDES PERNAMBUCANAS: um diálogo com os jovens brasileiros NEEPD Olinda-PE 2010
  • 3. 3 Copyright © 2010 by Michel Zaidan Filho Otávio Luiz Machado Impresso no Brasil Printed in Brazil Editor Tarcísio Pereira Diagramação Laís Mira Design da Capa Manoel Felipe Batista da Fonseca Fotografias da Capa e Contra-Capa Plano Estadual de Juventude (Governo do Estado de Pernambuco, Agosto de 2008) Projeto Gráfico Sérgio Siqueira Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia (NEEPD) está ligado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, da UFPE e faz pesquisas, publica estudos políticos, oferece cursos de capacitação e pós-graduação em Ciência Política. Endereço Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife - PE - CEP: 50670-901. E-mail: neepd@ufpe.br Diretoria: Coordenador: Prof. Dr. Michel Zaidan Filho (UFPE) Vice-Coordenador: Prof. Ms. Clóvis Myiachi (UPE) Secretário-Executivo: Otávio Luiz Machado (NEEPD) Assessor jurídico: Ricardo Gueiros Júnior (RG Consultoria Jurídica) Corpo de Pesquisadores e Assistentes de Pesquisa: Sídia Lima Porto, Fábio Andrade Bezerra, Heli Ferreira, Otávio Luiz Machado, Alexandre da Silveira Lins, Andrine Souza Silva, Anna Paula Pereira Pinto, Erivania Vitalino Ferreira da Silva, Girleide de Sá Menezes, Jullyanne Campos Martins, Manoel Felipe Batista da Fonseca, Monyke Cabral e Silva, Niedja de Lima Silva e Tatiane Helena Lins dos Santos. Revisão Dos Organizadores Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Catalográfica P933 Presença das juventudes pernambucanas: um diálogo com os jovens brasileiros. /Michel Zaidan Filho; Otávio Luiz Machado (org.).- Olinda: Livro Rápido, 2010. 198 p; Inclui Bibliografia ISBN: 978-85-7716-918-4 1. Juventude pernambucana. 2. Movimentos juvenis. 3. Formação cidadã do jovem. I. Zaidan Filho, Michel (org.). II. Machado, Otávio Luiz (Org.). III. Título. 323.1 CDU (1997) Fabiana Belo – CRB-4/1463 Livro Rápido – Elógica Rua Dr. João Tavares de Moura, 57/99 Peixinhos Olinda-PE CEP: 53230-290 Fones: (81) 2121-5300 Fax: (81) 2121-5333 www.livrorapido.com
  • 4. 4 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos e videográficos. Vedada a memorização e/ou recuperação total ou parcial em qualquer sistema de dados e a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer programa juscibenético. Essas proibições aplicam-se também as características gráficas da obra e à sua editoração. Pesquisa “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-1985)” (apoiado pelo CNPq e UFPE)” Coordenadores do projeto: Michel Zaidan Filho e Otávio Luiz Machado Pesquisadores-Colaboradores: Marília Pontes Sposito (Programa de Pós- Graduação em Educação da USP), Marcelo Siqueira Ridenti (Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Unicamp), Maria Ribeiro do Valle (Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UNESP/Araraquara), José Luis Sanfelice (Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicamp), Janice Tirelli Ponte de Sousa (Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSC), José Alberto Saldanha (Programa de Pós-Graduação em História da UFAL), Luis Antônio Groppo (Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Educação da UNISAL), João Roberto Martins Filho (Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar), Ângelo Emílio da Silva (Programa de Pós-Graduação em História da UFPB), Carla de Sant´Anna Brandão (Departamento de Psicologia da UEPB), Marcos Ribeiro Mesquita (Departamento de Psicologia da UFAL), Ellen Spielmann (Departamento de Literatura da University of Düsseldorf, Alemanha) e Elísio Estanque (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal). Estudantes: Alexandre da Silveira Lins (Ciência Política), Andrine Sousa (Serviço Social), Erivânia Vitalino Ferreira da Silva (Ciência Política), Girleide de Sá Menezes (Serviço Social), Manoel Felipe Batista da Fonseca (História), Niedja de Lima Silva (Serviço Social)
  • 5. 5 SUMÁRIO 7 Dados dos Autores 11 Agradecimentos 13 Introdução 15 Violência nas Escolas: Como Pensar em Juventudes, Democracia, Direitos Humanos e Cidadania sem se Preocupar com tal Questão? Otávio Luiz Machado 43 Música e Sociabilidade entre Jovens Negros no Recife: os Maracatus Nação Isabel Cristina Martins Guillen 59 Pensar os Jovens dos Novos Movimentos de Juventude: Contribuições Teóricas à Construção de uma Categoria Adjair Alves 92 As Juventudes, uma experiência em uma periferia do Recife Severino Vicente da Silva 103 Juventude, política e consumo: imagens juvenis na publicidade brasileira a partir de 1964 Maria Eduarda Rocha 123 Educação, Cultura e Política Janice Tirelli Ponte de Sousa 135 Juventude em Transe: o cinema novo e a invenção do jovem na cultura visual brasileira Paulo Carneiro da Cunha Filho
  • 6. 6 155 Políticas Públicas, escola e direitos multiculturais Michel Zaidan Filho 185 O DEBATE SOBRE EDUCAÇÃO E JUVENTUDE DURANTE OS TRABALHOS PARA A ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Otávio Luiz Machado
  • 7. 7 DADOS DOS AUTORES ADJAIR ALVES: Doutor em Antropologia, professor da Universidade de Pernambuco (UPE). ALEXANDRE DA SILVEIRA LINS: Graduando em Ciência Política da UFPE. Foi participante do Projeto “Memória das Juventudes Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex-Recife). Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973- 1985)” com bolsa Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Pernambuco (FACEPE). ANDRINE SOUSA: Graduanda em Serviço Social da UFPE. Foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Pernambuco (FACEPE). Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-1985)” com bolsa da Propesq-UFPE. ANÍSIO BRASILEIRO: Professor do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É Pró-Reitor da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propesq) da UFPE. BRUNO MEDEIROS: Mestrando do PPG em Psicologia Social (UFPB). CARLA DE SANT’ANA BRANDÃO: Professora nos Cursos de Graduação em Psicologia do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPE) e da UEPB. Mestre em Psicologia Social (UFPB) e Doutora em Sociologia (UFPE).
  • 8. 8 ERIVÂNIA VITALINO FERREIRA DA SILVA: Graduanda em Ciência Política da UFPE. Foi participante do Projeto “Memória das Juventudes Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex- Recife). Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-1985)” com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Pernambuco (FACEPE). GIRLEIDE DE SÁ MENEZES: Graduanda em Serviço Social da UFPE. Foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Pernambuco (FACEPE) e participante do Projeto “Memória das Juventudes Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex-Recife). Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-1985)” com bolsa da Propesq-UFPE. ISABEL CRISTINA MARTINS GUILLEN: Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). JANICE TIRELLI PONTE DE SOUSA: Professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política, do PPG em Sociologia, e Coordenadora do Núcleo de Estudos da Juventude Contemporânea da UFSC. MARCOS RIBEIRO MESQUITA: Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). MARIA EDUARDA ROCHA: Professora do PPG em Sociologia da UFPE. Autora de O consumo precário – pobreza e cultura de
  • 9. 9 consumo em São Miguel dos Milagres (Edufal, 2002), e de A nova retórica do capital: a publicidade brasileira em tempos neoliberais (Edusp, 2010). MICHEL ZAIDAN FILHO: Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). NIEDJA DE LIMA SILVA: Graduanda em Serviço Social da UFPE. É participante do Projeto “Memória das Juventudes Pernambucanas da UFPE” (Projeto Proext-Bex-Recife). Integrante do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973- 1985)”. É bolsista da Proext-UFPE. OTÁVIO LUIZ MACHADO: Pesquisador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia do Programa de Pós- Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (NEEPD-UFPE). Coordenador do Programa sobre Juventudes, Democracia, Direitos Humanos e Cidadania na UFPE. Pesquisador do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-1985)” (financiado pelo CNPq) na instituição. Possui bolsa do CNPq no referido projeto PAULO CARNEIRO DA CUNHA FILHO: É professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Doutor em Artes pela Universidade de Paris 1 (Panthéon-Sorbonne), pesquisa atualmente as forma de representação cinematográficas do Nordeste do Brasil. Publicou, recentemente, A Utopia Provinciana: Cinema, Recife, Melancolia, pela Editora Universitária da UFPE.
  • 10. 10 SEVERINO VICENTE DA SILVA: Professor Adjunto do Departamento de História da UFPE; membro do Colegiado do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE; Membro da Comissão de Estudos de História da Igreja da América Latina, CEHILA; Membro do Instituto Histórico de Olinda.
  • 11. 11 AGRADECIMENTOS Num trabalho de tal magnitude seria importante agradecer nominalmente a todos os que colaboraram com o Projeto em todas as suas etapas, mesmo sabendo que o esquecimento de muitos nomes é previsível. Mas seria uma tarefa difícil. Então pensamos em agradecer inicialmente às instituições, pois aí todas as pessoas poderão se sentir igualmente honradas com a obra produzida coletivamente e de interesse dos brasileiros e brasileiras. A UFPE criou boas condições para a realização do trabalho, assim como os diversos homens e mulheres que nos ajudaram a construir as bases do nosso projeto fora desse ambiente. À Propesq, à Proacad, à Proext e diversos órgãos da UFPE que sempre se prontificaram a colaborar com o presente projeto. Também agradecemos a FACEPE pelas bolsas disponibilizadas aos nossos estudantes. O apoio do CNPq foi essencial, pois através do projeto “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973-1985)” (apoiado pelo CNPq e UFPE)”, Agradecemos nossa equipe de bolsistas que estiveram envolvidos diretamente na organização do evento e no projeto propriamente dito, bem como aos monitores e demais colaboradores das atividades. Agradecemos a cada pesquisador-colaborador que se dispôs a falar no Seminário Nacional sobre Juventudes Pernambucanas, que sem eles os nossos projetos nunca teriam o respaldo necessário. Quando pautamos as nossas ações pela ética pública, o interesse da sociedade, a preocupação com o aprendizado de cidadania de cada membro envolvido e o avanço da ciência, também não podemos deixar de lembrar que o povo brasileiro é o grande financiador de parte dos nossos estudos e trabalhos, pois foi a partir daí que foram abertas as condições de fazê-los
  • 12. 12 com os privilégios essenciais para o seu pleno desenvolvimento. Um dos trabalhadores brasileiros que contribuiu em muito com as nossas atividades chamava-se Severino Ramos (o Biu), que faleceu recentemente em um trágico acidente. A homenagem que fazemos nesse livro em nome de toda a nossa comunidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFPE.
  • 13. 13 INTRODUÇÃO Os textos aqui publicados foram produzidos durante o Seminário Nacional sobre Juventudes Pernambucanas: um Balanço a Partir do Século XX e no decorrer do projeto de pesquisa financiado pelo CNPq intitulado “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações - 1973-1985”). O Seminário foi realizado entre os dias 29 e 30 de abril de 2010, na UFPE. Com apoio da Proext, da Propesq e do CNPq (por meio do projeto o evento trouxe diversos estudiosos para debater a questão juvenil nos seus múltiplos aspectos. Com a presença de pesquisadores e professores com vasta contribuição no campo das ciências humanas e sociais – e de um público interessado em trocar conhecimentos e experiências –, o balanço que pode ser feito é o mais positivo possível, ao considerarmos que discutimos a situação das nossas juventudes focando na questão da formação cidadã, da visibilidade da juventude, do protagonismo juvenil, da escolarização, da violência e de outras questões que se encontram na ordem do dia. O evento contribuiu para consolidar mais uma vez uma linha de pesquisa sobre Sociologia da Juventude na UFPE, contribuindo assim na formação de diversas juventudes da própria UFPE, sem contar a extensão dos resultados aos gestores de políticas públicas específicas para os jovens, membros de ONGs, militantes juvenis e pessoas que estão se voltando à questão da juventude no seu trabalho cotidiano. A nossa equipe é composta por bolsistas dos cursos de Ciência Política, Serviço Social e Ciências Sociais, que atuam na execução e promoção de eventos, pesquisas e demais atividades acadêmicas de interesse da sociedade. O empenho, a motivação, o compromisso público e o interesse em aprender é algo muito forte do nosso grupo. Como são poucos os espaços para que possamos apresentar os principais resultados do resgate da memória da
  • 14. 14 juventude pernambucana (e para pedir aos possuidores de documentos históricos sobre a juventude que doem algum tipo de material para a pesquisa em curso), também esperamos impulsionar junto à sociedade uma reflexão e a ação urgente em prol dos nossos jovens através do envolvimento com as atividades educativas que desenvolvemos. Recife, 28 de outubro de 2010 Os organizadores
  • 15. 15 VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS: COMO PENSAR EM JUVENTUDE, DEMOCRACIA, DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA SEM SE PREOCUPAR COM TAL QUESTÃO?1 Otávio Luiz Machado As juventudes tem sido um dos temas fortes nas nossas agendas de pesquisas e reflexões na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A educação é um dos instrumentos de diferenciação social, pois podemos considerá-la um canal de integração dos indivíduos na sociedade2 . O que se observa na realidade 1 Algumas reflexões dos textos foram construídas a partir dos projetos de Pesquisa “Aspectos da Memória das Juventudes Pernambucanas: Novas Configurações e Transmutações (1973- 1985)” (financiado pelo CNPq) e “Estudos Interdisciplinares sobre Juventude, Democracia, Direitos Humanos e Cidadania” (Financiado pela Propesq-UFPE). O tema foi uma preocupação anterior ao início dos referidos projetos, mas é trazido aqui mais como uma instigação do que como resultados ou conclusões de pesquisas. 2 A luta pelo acesso à educação é histórica no Brasil, embora “A escola oficial e pública, que na década de 40 foi objeto de duras lutas políticas para torná-la universal, passou a ser posta sob suspeita de ser agente da dominação. A escola estaria a serviço da reprodução da ordem social desigual vigente e da legitimação do Estado opressor e do estamento técnico- burocrático. Por causa disso projetos educacionais informais, conceituados como educação popular ou alternativa, tomaram conta da imaginação política dos intelectuais brasileiros” (ZALUAR, 1994, p. 30). A escola tem sido colocada em xeque segundo pesquisas ao não responder satisfatoriamente às expectativas imediatas dos jovens, mesmo sendo “considerada inadequada em parte porque não sabe responder às aspirações
  • 16. 16 brasileira é o aumento do ingresso dos jovens no ensino formal, com uma maior demanda por educação das camadas populares, embora também os índices elevados de repetência, de fracasso, de evasão ou de expulsão dos alunos possam ser considerados significativos (GOMES, 1997; LAHIRE, 1997; PAIVA, 1992; SOUZA e SILVA, 2003)3 , além do analfabetismo juvenil no Brasil, que conta com cerca de meio milhão de jovens analfabetos, sendo 66% do total provenientes da Região Nordeste (SEJE, 2008)4 . Mas simultaneamente, também, o fenômeno social da violência tem atingido enormemente os jovens, pois dados divulgados em diversos estudos demonstram que a juventude é cada vez mais atingida pela violência, bem como o grupo que também mais pratica violência (SEJE, 2008; UNESCO, 2002; ZALUAR, 1992, 1993, 1994, 2004; ABRAMOVAY, 1998, 2001; WAISELFISZ, 2004)5 . E a violência tem ocupado cada vez mais espaços em locais fundamentais para a socialização dos jovens, como é o caso da escola, o que permite considerar que um dos seus canais importantes de transição para a vida adulta também seja permeado pela violência (ABRAMOVAY e AVANCINI, 2003). populares nem dialogar com suas várias linguagens, ou seja, porque inexiste, da parte do educador, o conhecimento e o respeito pela cultura do educando” (idem, p. 31). 3 O Brasil tem alcançado níveis significativos de matrículas na última década. Além a universalização e da meta da educação como “direito de todos”, a carta da Constituição de 1988 incluiu, além dos direitos políticos e civis, os direitos sociais (SCHWARTZMAN, 2004b). Apoiando-se nesse Documento, o debate atual sobre políticas públicas de juventude insiste na inclusão da juventude como sujeito de direitos. 4 SEJE: Secretaria de Juventude e Emprego do Estado de Pernambuco. 5 UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura;
  • 17. 17 A violência escolar passou a ganhar visibilidade com a publicação e divulgação pela UNESCO em 2002 do documento Violências nas Escolas (ABRAMOVAY e RUA, 2002). É o que também diversos estudos acadêmicos ou produzidos por escolas, sindicatos de professores6 ou pelos órgãos públicos destacam mais recentemente, embora os dados vão além, ao apresentar especificamente o crescimento de agressões contra professores (as) nos seus mais diversos graus (CNTE, 2004; ABRAMOVAY, 2006; SINTEPE, 2006; SINPRO/RS, 2007; APEOESP, 2008)7 . Os dados de uma pesquisa realizada pelo SINTEPE e publicada no Diário de Pernambuco revelam que 31% dos casos de violência escolar em Recife relaciona-se com a agressões praticadas pelos estudantes contra educadores (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 24/10/2008). Com dados mais específicos sobre violência escolar na região metropolitana de Recife, Maria José de Oliveira Maciel em sua tese – produzida na área de Sociologia – analisou 186 escolas municipais e estaduais a partir de uma abordagem institucional, constatando que a violência faz parte da realidade das escolas e se manifesta de diversas formas. A autora partiu da hipótese de que existia “uma relação estatisticamente significativa entre grau de violência nas escolas e a adoção de medidas institucionais que repercutem na organização escolar das instituições públicas de ensino da atualidade” (OLIVEIRA MACIEL, 2004, p. 87), o que permitiu concluir que várias ações no próprio ambiente escolar tenderiam a diminuir a violência escolar. Com tais indicadores que apresentam a baixa preocupação com a produção de estudos sobre os jovens que 6 Quando nos referirmos ao termo “professores” também abrangemos as profissionais do sexo feminino (“professoras). 7 CNTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação; SINPRO/RS: Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul; SINTEPE: Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco; APEOESP: Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo.
  • 18. 18 agridem professores, a relevância de uma pesquisa sobre o tema corporifica-se na análise da juventude na sociedade contemporânea, onde um cotidiano de violências nas escolas passou a ser associada a um comportamento de jovens marcados pela exclusão social. É preciso ir além da identificação da violência escolar, mas analisar o que pensam as diversas juventudes que freqüentam as nossas escolas, suas percepções sobre tais tipos de violências cotidianas e o diálogo desse discurso com as falas dos professores vitimizados. Com o estudo de Abramovay e Avancini (2003)8 , quando se analisou as 8 Outra pesquisa apoiada pela UNESCO também pode nos fazer melhor pensar a questão, especificamente por meio da análise de três indicadores. Trata-se da “Pesquisa Nacional Violência, Aids e Drogas nas Escolas” (Unesco, 2001). Um dos dados da pesquisa indicou que a proporção de alunos dos Ensinos Fundamental (5ª a 8ª) e Médio que presenciaram o uso de drogas dentro da escola em diversas capitais brasileiras (em 2000) foi a seguinte: em menor intensidade em Belém (15,7%); e maior em Florianópolis (35,1%). Em Recife constatou-se 22,1%. Questionados os alunos sobre relatos de violência sexual e/ou estupros no ambiente da escola, 5% dos estudantes do Pará, Ceará e Espírito Santo disseram saber algo a respeito, enquanto 12% no Mato Grosso. 6% de Pernambuco responderam positivamente sobre a ocorrência de violência sexual nas escolas. Noutra parte referiu-se ao “Uso e porte de armas”. Os alunos das capitais das Unidades da Federação, Quanto ao testemunho de porte de armas de fogo e de outras armas por alunos, professores ou pais no ambiente da escola, 18% dos estudantes do Distrito Federal e 9% da Amazônia e do Pará. As respostas dos alunos de Pernambuco foram de 12%. Quanto a outros tipos de armas (faca, Porrete, estilete etc.), 15% no Mato Grosso e 10% de Pernambuco presenciaram outros tipos de armas. A pesquisa conclui que “as armas, mesmo quando não acionadas, impõem respeito entre os jovens e simbolizam poder, status e masculinidade. A presença de qualquer tipo de
  • 19. 19 percepções dos diversos atores em escolas das diversas regiões brasileiras, foi possível traçar suas experiências, expectativas e perspectivas. O que chamou a atenção foram os mais diversos tipos de manifestação de violência nas escolas, tais como a física, a simbólica e o que as autoras chamaram de incivilidades. Os dados foram analisados relacionando-os com realidade social de pobreza e exclusão social não só cercam as escolas, mas afeta enormemente o seu dia-a-dia. A pesquisa também identificou a violência sexual nas escolas, que “vão desde ´brincadeiras´, que podem gerar constrangimento àqueles a que são dirigidas, até estupros” (idem). Conforme dados preliminares da Pesquisa de Vitimização nas Escolas 2003, realizada pela UNESCO em escolas da rede pública de cinco capitais (Belém, Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo), 83,4% dos alunos entrevistados afirmaram existir violência na escola; 69,4% disseram sobre a ocorrência de furtos no ambiente escolar; cerca de 37% alegam ter sido furtados uma ou mais vezes. Além disso, 21,7% dizem já ter visto canivetes no ambiente escolar e 12,1%, revólveres (WERTHEIN, 2004). Os dados conclusivos dessa pesquisa, publicados em 2006, apontaram que a direção da escola dificilmente tomou providências independentemente de quem fosse o alvo de violências nas escolas (aluno, professor ou outro adulto) (ABRAMOVAY, 2006, p. 166), levando-se em consideração que, no caso de ameaças de agressão física a professores pelos alunos, em sua maioria as motivações relacionam-se com o rendimento escolar ou em recusa da dinâmica cotidiana da escola. É preciso considerar que As ameaças são, muitas vezes, minimizadas e consideradas parte da comunicação entre os jovens, armamento na escola aponta a banalização do uso de armas e a possibilidade de episódios de violência efetiva”.
  • 20. 20 sendo associadas a expressões verbais que não se concretizam necessariamente em agressão física. Contudo, no plano de uma ética de civilidade, em particular em ambiências escolares, elas merecem atenção singular. Há que também levar em conta que esse tipo de ocorrência pode ser um aviso, uma etapa pré-agressão física, sendo, portanto, um momento importante para intervenção dos adultos da escola. A importância das ameaças na vida social é também reconhecida, tanto que tipifica um delito sujeito à punição prevista no artigo 147 do Código Penal (idem, p. 145). Mas um consenso entre os mais diversos autores é que a violência atinge significativamente os mais jovens9 , seja na condição de vítima, seja na condição de autores, também considerando que são eles o grupo social mais identificado quando abordamos o tema da violência (ZALUAR, 1993; SPOSITO, 1994; CASTRO, 2001; ABRAMOVAY, 2004; NOVAES, 2006; DIÓGENES, 2008). O Brasil é o quinto colocado no ranking internacional em homicídios na população jovem. Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo configuram-se como os estados mais violentos, cujos indicadores para as causas são multidimensionais10 . 9 A violência escolar tem sido tratada em diversos estudos. É o caso da pesquisa da ONG inglesa Plan, que lançou recentemente a campanha mundial “Aprender Sem Medo”. Algumas conclusões foram: 84% dos cerca de 12 mil estudantes de seis estados pesquisados consideraram suas escolas violentas; 70% afirmaram ter sido vítimas de violência escolar; e um terço dos estudantes afirmou estar envolvido em bullying, como agressor ou como vítima. 10 Por exemplo, na década de 1980 foram assinadas 11,7 pessoas em cada 100 mil habitantes no País. Entre 1991 e 1998, houve um aumento da taxa de mortalidade por causas externas em todas as regiões do País exceto na região sul, com
  • 21. 21 Muitos autores ao explicar a violência a partir do espaço escolar sob a ótica da exclusão social consideram que a presença na escola não reduz a vulnerabilidade social de adolescentes e jovens que estão afastados do mercado de trabalho: As desigualdades foram se aprofundando, mas havia mobilidade. Hoje, os jovens não possuem, em geral, condições melhores de trabalhos e de vida que seus pais. Os filhos dos pobres estão ficando mais pobres que os pais, os filhos dos ricos estão menos ricos que os pais. Não por acaso, a diminuição das possibilidades de mobilidade social gera pessimismo acentuada mortalidade masculina (cinco vezes mais que a feminina), predominando os homicídios na região Norte, Nordeste e Sudeste. Em 1998 os Homicídios passaram a ocupar o primeiro lugar na região Centro-oeste (Organização Pan- Americana de Saúde, 2004). Em 2000, esse número chegou a 28, 7, mostrando um aumento de 100% em relação à década anterior. Em 2004, foram assinados 200 jovens por 100.000 habitantes, o que a Nações Unidas considerou um resultado de situação de guerra. As três capitais Brasileiras com os maiores índices de criminalidade foram: Rio de Janeiro, São Paulo e Recife (RIQUE, 2005). Em Pernambuco, as vítimas de homicídios que foram agredidas e mortas são jovens e significativamente do sexo masculino. “A faixa etária predominante foi a dos 20 a 29 anos (41% do total), seguida da dos 30 a 39 anos (21%). Os jovens de 15 a 19 anos constituíram 19% do total” (Pacto pela Vida, 2007). 83% das mortes masculinas ocorreram na faixa etária dos 15 aos 39 anos. Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados no Plano Estadual de Juventude de Pernambuco (2008), a juventude – 15 a 29 anos de idade – é vítima de 47% das mortes violentas (lesões, acidentes, homicídios, entre outras) no Estado de Pernambuco.
  • 22. 22 e ausência de perspectiva em relação ao futuro (NOVAES, 2006, p. 108). No Rio Grande do Sul, segundo o relatório do SINPRO (RS), 92,0% dos respondentes informaram já ter sofrido ou presenciado violência no ambiente de trabalho (Sinpro, jan. 2007). Dentre os fatos vivenciados pelos professores que trabalham na Grande Porto Alegre estão os seguintes: agressão física, agressão via internet, assédio sexual, relativização das agressões dos alunos e outras (idem, p. 5). Segundo pesquisa da Apeoesp sobre os professores da rede estadual que trabalham em Campinas, numa amostra de 580 entrevistados (num universo de 6.600 professores), 24% sofreram violência física, 43% já foi alvo de xingamentos, 30% sofreram humilhações, 20% foram vítimas de agressões verbais e 7%, de outros tipos de agressão, como intimidação. A pesquisa ainda perguntou sobre objetos pessoais danificados por alunos. A resposta foi a seguinte: 42% afirmaram que houve danos a seus carros, 30% citaram danos a livros, 8% a celulares e 20% mencionaram outros danos (FSP, 25/09/2008). Também foi divulgada uma pesquisa pelo Conselho Tutelar de Cariacica em escolas públicas das redes estadual e municipal de ensino, que constatou haver constatado violência contra professores na maioria delas (REDE GAZETA, 02/09/2007). Em outros casos de violências contra professores estão envolvidos ex-alunos das escolas, como ocorreu em Recife com uma professora da Escola Estadual Vidal de Negreiros, que foi seqüestrada por quatro jovens que haviam estudado na escola Em quase todos os casos de violências contra professores, nos seus mais diversos níveis, a grande dificuldade é a ausência de registros, levando-se em consideração que os dados geralmente não são notificados. O debate sobre juventude tem tido marcado pela multiplicidade de visões, sendo a mais usual a que trata a categoria juventude a partir de um ciclo biológico e psicológico (faixa de idade, período de vida, mudanças psicológicas etc)
  • 23. 23 (ABRAMO, 1995, p. 1). Mas no campo da sociologia tem prevalecido a visão da juventude como categoria social (ABRAMO, 1994, 1995; GROPPO, 2000; PAIS, 1999; SOUSA, 1999). Assim, ao discutirmos juventude também analisamos a diferenciação das sociedades modernas, pois “a acentuada divisão de trabalho e a especialização econômica, a segregação da família das outras esferas institucionais e o aprofundamento das orientações universalistas agudizam a descontinuidade entre o mundo das crianças e o mundo adulto” (ABRAMO, 1994, p. 3). Para a categoria juventude precisamos recorrer a noções como transitoriedade (período de preparação para a vida adulta), que está relacionada à idéia de suspensão da vida social, “dada principalmente pela necessidade de um período escolar prolongado, como um tempo para o treinamento da atuação futura” (ABRAMO, 1994, p. 12). Outra noção é a de individuação, na questão da identidade própria, de recusa de valores e normas considerados fundamentais pelos pais e a importância dos grupos de pares. Também poderíamos recorrer à noção de crise potencial, ou mesmo de socialização, porque ... o destaque do grupo de idade correspondente à adolescência, na sociedade moderna, aparece como fruto do desenvolvimento da sociedade industrial que, ao criar a disjunção entre a infância e a maturidade, tornou necessário um segundo processo de socialização. Esta consiste, fundamentalmente, na preparação dos jovens para a assunção dos papéis modernos relativos à profissão, ao casamento, à cidadania política etc, que os coloca diante da necessidade de enfrentar uma série de escolhas e decisões. Dessa maneira, por ocupar um status ambíguo, between and betwixt, os jovens constroem redes de relações particulares com seus companheiros de idade e de instituição, marcadas por uma forte afetividade, nas quais, pela similaridade de condição, processam juntos a busca de definição dos
  • 24. 24 novos referenciais de comportamento e de identidade exigidos por tais processos de mudança (ABRAMO, 1994, p. 17). Ao tratarmos a noção de juventude – ao invés do seu caráter geracional e biológico – no aspecto histórico, social e cultural, trazemos o debate para a compreensão como “parte de grupos sociais e culturais específicos“ (CARDOSO & SAMPAIO, 1995, p. 18.) Ou seja: A juventude só pode ser entendida em sua especificidade, em termos de segmentos de grupos sociais mais amplos. Os jovens passam, assim, a ser vinculados a suas experiências concretas de vida e adjetivados de acordo com o lugar que ocupam na sociedade. Não se fala mais em juventude em abstrato, como uma espécie de energia potencial de mudanças, ainda que culturalmente construída, mas das múltiplas identidades que recortam a juventude (idem, p, 18). A juventude geralmente foi enxergada como vivenciadoras de situações ditas de risco e dotadas de uma rebeldia típica da juventude. Não se consideravam alguns aspectos relacionados à família, à escolaridade e à situação de classe desde o seu início, pois abordagem dada pela Sociologia à juventude esteve inicialmente associada à desordem, conforme estudos realizados nos Estados Unidos pela chamada Escola de Chicago entre os anos 1920 e 194011 . Tais estudos focaram os conflitos e as violências entre as gangues, 11 Alguns dos estudantes produzidos pela Escola de Chicago foram: THRASHER, Frederick M. The Gang. Chicago: The University of Chicago Press, 1927; MCKAY, Henry e SHAW, Clifford R. Juvenile Delinquency in urban areas. Chicago: The University of Chicago Press, 1942; FIGLIO, Robert, SELLIN, Thorten e WOLFGANG, Marvin E. Delinquency in a Birth Cohort. Chicago: The University Press, 1972.
  • 25. 25 inicialmente (WAISELFISZ, 1998; ABRAMOVAY, 2004; ZALUAR, 2004). Para Abramovay (2004, p. 92-93), “a Escola de Chicago fornece os primeiros postulados de uma ´sociologia da delinqüência juvenil´, referindo-se aos problemas de integração das microcomunidades, distanciadas das normas dominantes na sociedade”, pois seus interesses não estavam voltados ao tema juventude especificamente, mas no efeito do acelerado crescimento urbano, na ausência de integração nesses novos espaços sociais e no comportamento dos moradores dos locais em que surgiram rapidamente inúmeras gangues, organizações criminosas ou bandos com forte presença de jovens. Para Zaluar (2004), “pela primeira vez, falou-se das zonas ecológicas e dos territórios da cidade, e fez- se associação entre desorganização social e violência, zona de transição e criminalidade, violência urbana e juventude”. Por outro lado, ... esse aparecimento pela contraposição aos padrões dominantes é dado também pelos grupos delinqüentes ou ligados à criminalidade, compostos por jovens das “classes baixas”, que suscitam o tema do desvio no processo de integração dos jovens à vida social. Esse é o foco dos trabalhos realizados nos anos 20 e 30 pela Escola de Chicago, os quais constituem uma das primeiras e mais importantes séries de pesquisa sociológica sobre juventude. Esses pesquisadores, preocupados com os problemas decorrentes da desorganização social provocada pelo crescimento das metrópoles, voltam a atenção para os street gang boys, rapazes de bairros de imigrantes que vivem a maior parte de seu tempo nas ruas, fora dos espaços institucionais adequados à uma socialização “sadia”, e que acabam por desenvolver comportamentos “em desconformidade com as normas sociais”, muitas vezes inspirados ou
  • 26. 26 vinculados ao mundo da criminalidade (ABRAMO, 1994, p. 10). Com um amplo leque de estudos abordando o desvio e da delinqüência juvenil inspirados nos estudos da Escola de Chicago12 , a Sociologia norte-americana focou no universo cultural da marginalidade e da criminalidade, cujo principal modelo teórico foi o de cunho funcionalista, que estudou os jovens em sua maioria de classes de baixa renda em condições sociais anômalas, sobretudo no pós Segunda Guerra Mundial. A Sociologia preocupava-se com as chamadas “subculturas juvenis”, pois alguns grupos juvenis marcados pelo desemprego e o consumo de drogas, como os membros das gangues, eram facilmente identificados como jovens “desviantes”. Para analisarmos a violência juvenil nos espaços escolares das periferias da cidade de Recife, cremos que a perspectiva teórica ou conceitual da Sociologia da Juventude que se orienta pela noção de culturas juvenis de José Machado Pais será a mais factível para orientarmos a questão do ponto de vista da existência de diversas “juventudes” que se interagem no espaço escolar. Ao tratar o conceito de juventude visando se distanciar de uma homogeneidade e superando a noção como “transição para a vida adulta”, Pais considera que as vivências juvenis são múltiplas e relativiza a análise focada nas gerações, pois para ele cada jovem tem um percurso próprio onde os comportamentos e atitudes são vistos 12 Com a publicação de Delinquent boys por Albert Cohen (1955) tal tradição é mantida, ao defender “a idéia de que os meninos da classe baixa trabalhadora que estão frustrados com sua situação de vida frequentemente se unem a subculturas delinqüentes, como gangues. Essas subculturas rejeitam os valores da classe média, substituindo-os por normas que celebram o desafio, tais como a delinqüência e outros atos de não-conformidade” (idem, 2005, p. 177).
  • 27. 27 dentro de relações sociais e de práticas sociais singulares (PAIS, 1993). De acordo com Novaes (2006), Novaes e Vanucci (2004) e Velho (2006), para a compreensão da inserção do jovem no espaço social precisamos considerar as aproximações, as diferenças, as trajetórias etc. Estar ou não estar na escola implica em inclusão ou exclusão, mas certamente não se pode afirmar com precisão que a educação será um canal de mobilidade social para o conjunto da juventude, pois precarização do trabalho, o grau de vulnerabilidade e de estigma dos jovens oriundos das camadas populares dificulta a integração dos mesmos a oportunidades iguais usufruídas por outras juventudes. Pais (1994) atribuiu aos jovens na contemporaneidade como membros de “geração yô-yô”, levando-se em consideração as idas e vindas dos jovens à escola, ao trabalho ou à casa dos pais, quando buscam construir formas próprias de sociabilidade e de ingresso ao mundo adulto. No tocante ao interesse pela escola, que pode ser entendido como espaço de inclusão social, Pais também tem suas restrições: E já agora, por que muitos jovens faltam às aulas ou ficam satisfeitos quando os professores faltam? É porque encaram a escola como um espaço cerrado, estriado. Tantas vezes designadas como “culturas de margem”, o que estas culturas juvenis reclamam é inclusão, pertencimento, reconhecimento. Daí suas perfomatividades, que não por acaso se ritualizam nos domínios da vida cotidiana mais libertos dos constrangimentos institucionais – os do lazer e do lúdico (“espaços lisos”) (PAIS, 2007, p. 14-15): Uma nova perspectiva surge quando a expressão da violência passa a ser reconhecida como forma alternativa de visibilidade, de reconhecimento e de ocupação do espaço urbano pelas mais diversas juventudes que são excluídas, porque a presença das gangues ou das galeras demonstram a
  • 28. 28 organização e a presença dos jovens nos mais diversos espaços sociais, o que também pode explicar o aumento do fenômeno social da violência: A violência é uma certa modalidade disciplinada de auto-realização, de produção de si e de relacionamento. É uma modalidade de organizar a experiência da sociabilidade, ainda que cabe dissipando as condições mesmas da experiência de sociabilidade (SOARES, 2006, p. 126). A questão da instituição escolar merece atenção, pois passou ser um novo espaço de segmentação e de elaboração das identidades e das relações solidárias necessárias à transição de uma faixa etária para outra, pois sua função “é a transmissão de conhecimentos e valores para o desempenho da vida futura, inclusive profissional” (ABRAMO, 1994, p. 3). Ariès (2006) correlaciona condição juvenil à separação social imposta pela escola, o que nos permite pensar a construção social da juventude como problema surgido na sociedade moderna e intensamente ligado à educação: É como um fenômeno da sociedade moderna, portanto, que a juventude emerge como tema para a sociologia. Na verdade, esta disciplina se interessa pela juventude na medida em que determinados setores juvenis parecem problematizar o processo de transmissão das normas sociais, ou seja, quando se tornam visíveis jovens com comportamentos que fogem aos padrões de socialização aos quais deveriam estar submetidos (ABRAMO, 1994, p. 8). Outro referencial a ser adotado é o da Sociologia do Crime e da Violência, quando o comportamento “desviante” passa a ser observado não mais a partir das motivações individuais e relacionadas às instituições, mas a partir de análises multidimensionais que tentam ir além do
  • 29. 29 comportamento “desviante”, indicando causas que possibilitam enxergar o “desvio” dentro de uma variedade de contextos sociais e culturais. E uma das teorias que poderá nos oferecer um referencial teórico para analisar as violências produzidas pelos estudantes contra professores será a interacional, sobretudo a Teoria da Rotulação de Howard Becker13 . O desvio é visto a partir dessa teoria como um processo de interação entre desviantes e não-desviantes e não uma divisão entre os “normais” e os “desviantes”14 , o que torna seu estudo um diferencial nos estudos criminológicos, pois quando consideramos que ... a proposição do modelo interacional é que o comportamento desviante ocorre em um processo interacional dinâmico. Desse modo, mais do que perceber a delinqüência como uma conseqüência de um conjunto de fatores e processos sociais, a perspectiva interacional procura entendê-la simultaneamente como causa e conseqüência de uma variedade de relações recíprocas desenvolvidas ao longo do tempo (CERQUEIRA e LOBÃO, p. 246-247). Para Becker (1977, p. 53), todos os grupos sociais estabelecem regras sociais e esperam que sejam seguidas, levando-se em consideração que elas definem situações sociais e os diversos tipos de comportamentos pretensamente apropriados. Os indivíduos que não concordam com tais regras 13 As traduções da publicação original em português de Becker (1977) utilizaram os termos desviantes e marginais ao invés de outsiders, que foi considerada em Becker (2008). 14 Muitos estudos criminológicos produzidos do início até meados do século XX preocupavam-se em entender os desviantes dos não desviantes. Alguns desses autores são: LOMBROSO, HAKEEM, HEALY e GLUECK, 1918.
  • 30. 30 são vistos como marginais ou desviantes. Mas o autor analisa que ... a pessoa que recebe o rótulo de marginal pode ter uma visão diferente da questão. Ela pode não aceitar a regra em função da qual está sendo julgada e pode não considerar aqueles que a julgam como competente ou legitimamente autorizados para julgá-la. Conseqüentemente, surge um segundo significado do termo: a pessoa que quebra as regras pode sentir que seus juízes são desviantes (idem). O autor considera desviante, portanto, o indivíduo que, permanecendo fora do círculo de membros “normais” do grupo, diferem das regras formais consideradas realmente apropriadas pela maioria das pessoas (idem, p. 65). Mas o importante da teoria de Becker é a consideração de que a definição de um ato desviante ou não desviante está relacionada à reação dos outros indivíduos, pois seu conceito de desvio a ser utilizado na pesquisa relaciona-se com as interações cotidianas e as construções dos “rótulos” a partir daí. No caso da agressão contra os professores, então como pensar que alguns estudantes são levados a ameaçar e a agredir professores de diversas formas e outros não? A explicação preliminar de alguns estudantes jovens contatados são a baixa capacidade de punição (uma faixa deles são protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente), a desestruturação familiar e a incapacidade da escola de oferecer-lhes as condições que a família não provem ou mesmo a avaliação dos custos (são protegidos por gangues ou criminosos da áreas e assim pressionam os membros escolares a não acionar a polícia). Outras percepções de outros indivíduos também merecerão análises mais aprofundadas. Além da Teoria da Rotulação, também é importante mencionar uma série de pesquisas brasileiras que também poderão nos dar suporte teórico. É o caso de Alba Zaluar
  • 31. 31 (1985), pois “com seu trabalho pioneiro baseado em pesquisas etnográficas em favelas e comunidades, verificou uma série de elementos que associariam o contexto social nessas comunidades aos fenômenos da violência e criminalidade, lançando luz sobre a questão” (CERQUEIRA e LOBÃO, p. 254). Como tratamos de escolas localizadas em áreas limítrofes à concentração de pontos de convergência de uma estrutura de crime organizado, também é relevante perceber, como apontou Zaluar e Leal (2001, p. 153), o mesmo como uma instância de poder que afeta não apenas o cotidiano dos moradores dos bairros e favelas, mas que também afeta as relações entre professores e estudantes e entre estes e a própria escola, pois coloca em xeque um sistema de sociabilidades onde a escola teria sido o seu grande expoente. Para as autoras: Os depoimentos e os dados apresentados ressaltam o confronto entre a violência física extramuros (na rua) e a violência intramuros, praticada na escola, demonstrando que as formas tradicionais de educação moral, até então presentes nas escolas públicas, não têm sido suficientes para impedir a invasão da escola pelos códigos e práticas que dominam as ruas das áreas pobres. O saldo desse confronto, que pode ser identificado nas estatísticas oficiais de mortalidade e nas violências as mais diversas cometidas contra a população jovem dessas áreas, sem registro, tem sido favorável aos responsáveis pela destruição de laços de civilidade e de vidas. A pesquisa realizada pelas autoras vem demonstrar que a violência não está restrita a alguns espaços sociais pré-determinados, mas que faz parte de uma rede de relações que alcançam vários limites: Os dados que apresentaremos revelam como a escola está tomada pela violência física
  • 32. 32 extramuros, gerando dificuldades para que se produzam os efeitos esperados pelos teóricos do poder simbólico. Além disso, a violência psicológica suposta em qualquer atividade pedagógica precisa ser melhor delimitada para que não se confunda a socialização necessária ao viver em grupo com o esmagamento e o silenciamento daqueles que deveriam estar sendo formados para se tornarem sujeitos com capacidade de argumentação na defesa de seus pontos de vista e interesse. Em que medida isso também acontece dentro do sistema escolar? Também questionam a cidadania que deveria ser promovida pela escola, mas que a violência também reproduz o fracasso escolar: A evasão aparece mais nos depoimentos de alunos do CIEP (22%) do que nos da escola de tempo parcial (12%). Nesta última, as razões mais apresentadas pelos estudantes para terem deixado de freqüentá-la foram em ordem decrescente: os problemas decorrentes da mudança de moradia, a violência na escola e a necessidade de trabalhar. Para os alunos do CIEP, a ordem é diferente: primeiro, a violência na escola. São eles também que mencionaram a discriminação de aluno pobre e a violência no bairro como responsáveis por dificuldades na escola e no entorno, embora em percentuais baixos (5%). Embora a violência esteja relacionada aos jovens pobres das periferias das cidades, como no caso de “gangues” e galeras e a diferenciação dos agrupamentos juvenis nesses locais, sua proliferação estão de alguma forma associadas à violência (DIÓGENES, 2008). Um fenômeno importante a considerar na violência urbana hoje é a existência de “gangues”, que utiliza-se da “prática de atos de transgressão e
  • 33. 33 violência juvenil a partir de arranjos associativos específicos, dotados de identidade própria” (ABRAMOVAY, 2004, p. 13). O comportamento “desviante” dos membros dessas “gangues” é considerado como ajustamento e contraste com a ordem estabelecida. Também precisamos observar tais grupos quando refletimos sobre a violência nas escolas. Referências Bibliográficas ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1994. ABRAMOVAY, Miriam. “Cultura, identidades e cidadania: experiências com adolescentes em situação de risco”. In: Jovens Acontecendo na Trilha das Políticas Públicas, Brasília, CNPD, 1998, 2 vol. ____. (Coord.). Escolas de paz. Brasília: UNESCO e Governo do Estado do Rio de Janeiro/ Secretaria de Estado de Educação, Universidade do Rio de Janeiro, 2001. ____. (Coord.). Cotidiano das escolas: entre violências. Brasília: UNESCO, Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2005. ____. RUA, Maria das Graças. Violências nas escolas. Brasília: UNESCO, 2004. ____. et al. Gangues, Galeras, Chegados e Rappers. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. ____. et al. Juventude, violência e Vulnerabilidade social na América Latina: Desafios para políticas públicas. Brasília: Unesco/BID, 2002. AQUINO, Júlio Groppa. Confronto na sala de aula: leitura institucional da relação professor-aluno. São Paulo: Summus, 1996. ARIÈS Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 2006. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1992.
  • 34. 34 BAUER, Martin & GASKELL, Georg. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002. BECKER, Howard S. (1985) Outsiders: studies in the Sociology of Deviance. Nova York: The Free Press, 1966. ____. Uma teoria da ação coletiva. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977. ____. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. BERGMANN, Leila Mury. “Não mate aula mate professores”: o orkut e a vida escolar. Teias (Rio de Janeiro), v. 8, p. 1- 13, 2006. BRAIT, Beht (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2007. BRANDÃO, Helena Nagamine. Introdução à Análise do Discurso. 8a ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2002. BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE. I Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude. Documentos conclusivos. Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Estado dos Direitos Humanos. Programa Nacional de Paz nas Escolas. Brasília: SEDH, 1999. BRIOSCHI, Lucila Reis; TRIGO, Maria Helena Brito. “Interação e comunicação no processo de pesquisa”. Reflexões sobre a Pesquisa Sociológica, textos 3, 2ª série, 1992, p. 30-41. CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade. A invasão dos bandos sub. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. CANDAU, Vera Maria; LUCINDA, Maria da Consolação; NASCIMENTO, Maria das Graças. Escola e violência. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. CARDOSO, Ruth & SAMPAIO, Helena (orgs.). Bibliografia sobre a juventude. São Paulo: Edusp, 1995. CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças; RIBEIRO ANDRADE, Eliane. Cultivando vida, desarmando violências: experiências em educação, cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em situação de pobreza. Brasília: UNESCO, 2001.
  • 35. 35 CERQUEIRA, Daniel e LOBÃO, Waldir. Determinantes da Criminalidade: Arcabouços Teóricos e Resultados Empíricos. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 47, nº 2, 2004, p. 233-269. CHARLOT, Bernard. “Valores e normas da juventude contemporânea”. In: Lea Pinheiro Paixão & Nadir Zago. Sociologia da Educação: Pesquisa e realidade brasileira. Petrópolis, Vozes, 2007, p. 203-221. COELHO, E. C. A criminalidade urbana violenta. Dados. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Iuperj, 1988. COHEN, Albert K. Delinquent boys: the culture of the gang. New York: The Free Press, 1955. ____. Deviance and control. New Jersey, EUA: Prentice-Hall, 1966. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO (CNTE). Pesquisa Retrato da Escola. Brasília: CNTE, 2002. Consultada no Site: www.cnte.org.br CÔRREA, Déborah Maciel. Avaliação de políticas públicas para a redução da violência escolar em Minas Gerais. Belo Horizonte: FAE/UFMG, 2007. (Dissertação de Mestrado). CORTI, Ana Paula; FREITAS, M. V. de; SPOSITO, M. P. O encontro das culturas juvenis com a escola. São Paulo: Ação Educativa: assessoria, pesquisa e informação, 2001. DAYRELL, Juarez. “A escola como espaço sociocultural”. In: DAYRELL, J. (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura, Belo Horizonte, Editora UFMG, 1996. DIÁRIO DE PERNAMBUCO. “Crianças de três escolas de Pernambuco e do Maranhão terão curso sobre seus direitos”. Recife, 12 de outubro de 2008. Consultado em: http://www.diariodepernambuco.com.br/nota.asp?mate ria=20081012162258&assunto=21&onde=Brasil ____. “Professores protestam contra insegurança”. Recife, 24 de Outubro de 2008. Consultado em: http://www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/no ta.asp?materia=20081024081458&assunto=70&onde=Vida Urbana
  • 36. 36 DIÓGENES, G. Cartografias da cultura e da violência.Gangues, galeras e o movimento hip-hop. 2ª ed. São Paulo: Annablume, 2008. DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 2005. DURKHEIM, Emile. A Educação Moral. Petrópolis: Vozes, 2008. ERIKSON, Erick. Identidade, juventude e crise. 2. ed. Trad. de: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006. FOLHA DE PERNAMBUCO. “Agressão de ex-aluno deixa professor”, Recife, 27/02/2008. FOLHA DE S. PAULO. “Quando o medo faz escola”. São Paulo, 24/06/2001. ____. “Professor defende punição severa a aluno, diz pesquisa”. São Paulo, 25/09/2008. ____. “1 em cada 4 docentes estaduais de Campinas foi alvo de violência”. São Paulo, 25/09/2008. GARFINKEL, Harold. Studies in Etnometodology. London: Englewood Cliffs, NJ, Pratice Hall, 1984. GASKELL, Georg. “Entrevistas individuais e grupais”. In: Martin Bauer e Georg Gaskel, Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som, Petrópolis, Vozes, 2002, p. 64-89. GLUECK, Sheldon, and Eleanor Glueck. Unraveling Delinquency. Cambridge, MA: Harvard University, 1950. GOMES, Candido Alberto. Dos valores proclamados aos valores vividos: traduzindo em atos, princípios das Nações Unidas e da Unesco para projetos escolares e políticas educacionais. Brasília: UNESCO e Secretaria do Estado do Rio de Janeiro, 2001. GOMES, Jerusa. Vieira. “Jovens urbanos pobres: anotações sobre escolaridade e emprego”. Juventude e contemporaneidade: Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 5/6, p. 53-63, maio/ago.; set./dez. 1997. GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Pacto Pela Vida: Plano Estadual de Segurança Pública. Recife, Pernambuco, 2007.
  • 37. 37 ____. Censo Escolar 2006. Consultado no site: http://www.educacao.pe.gov.br/ ____. Plano Estadual de Juventude: Construindo um pacto pela juventude. Recife: Secretaria Nacional de Juventude e Emprego, agosto de 2008. GROPPO, Luis Antônio. Juventude: Ensaios sobre Sociologia e História das Juventudes Modernas. Rio de Janeiro: Difel, 2000. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4ª ed. Porto Alegre, Artmed, 2005. GUIMARÃES, Áurea. A depredação escolar e a dinâmica da violência. Campinas: Faculdade de Educação da Unicamp, 1990. (Doutorado em Educação). GUIMARÃES, Eloisa. “Juventude (s) e periferia (s) urbanas”. Revista Brasileira de Educação, São Paulo. Números 5 e 6, 1997, p. 199-208. GUIMARÃES, Maria Eloísa (1992). “Cotidiano escolar e violência”. In. Alba Zaluar (org.) Violência e Educação. São Paulo, Livros do Tatu e Cortez Editora. JOAS, Hans. “Interacionismo Simbólico”. In: Anthony Giddens e J. Turner, Teoria Social Hoje, São Paulo, Unesp, 1996. JORNAL DO COMMERCIO. Professor agredido deixa escola. Recife, 06 de maio de 2006. ____. Professora é seqüestrada por ex-alunos. Recife, 23 de outubro de 2008, Capa. ____. Professora é levada de dentro da escola. Recife, 23 de outubro de 2008, caderno 1, p. 2. LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares. São Paulo: Ática, 1997. LEAL, Maria Cristina e ZALUAR, Alba. “Violência extra e intramuros”. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 16 nº 45 fevereiro/2001, p. 145-164. MACHADO, Otávio Luiz. Formação Profissional, Ensino Superior e a Construção da Profissão do Engenheiro pelos Movimentos Estudantis de Engenharia: A Experiência a partir da Escola de Engenharia da Universidade Federal
  • 38. 38 de Pernambuco (1958-75). Recife: PPGS/UFPE, 2008 (Dissertação de Mestrado). MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos. O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. MAGUIRE, Mike, MORGAN, Rod e REINER, Robert. The Oxford Handbook of Criminology. New York, Oxford Press, 2002. MARQUES, M. O. da S. “Escola noturna e jovens”. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 5/6, p. 63-75, maio/ago.; set./dez. 1997. MATZA, Delinquency and drift. New York: John Wiley, 1964. ____. David. Becoming Deviant. Nova Jérsia: Prentice Hall, 1969. ____. “As tradições ocultas da juventude”. In: BRITO, Sulamita de. Sociologia da Juventude III, a vida coletiva juvenil, Rio de Janeiro, Zahar Editores, p. 81-106, 1968. ____. & SYKES, Gresham M. “Techniques of Neutralization: A Theory of Delinquency”. In: American Sociological Review, vol. 22, p. 664-670, 1957. MELUCCI, A. “Juventude, tempo e movimentos sociais”. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 5-6. p.5-14 maio/ago. 1997. MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel & EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. MINAYO, M. C. S. et al. Fala galera: juventude, violência e cidadania. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. MYERS, Greg. “Análise da conversação e da fala”. In: Martin Bauer e Georg Gaskell. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 271-292. NOVAES, Regina. “Os jovens hoje: contextos, diferenças e trajetórias”. In: MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel & EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 105-120. ____. & VANUCCI, Paulo (orgs.). Juventude e Sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
  • 39. 39 OLIVEIRA MACIEL, Maria José de. Escuta, Galera! A violência nas escolas Públicas da Região Metropolitana do Recife. Recife: PPGS/UFP, 2004. (Tese de Doutorado). ORLANDI, Eni. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2005. PAIS, José Machado. “A construção sociológica da juventude: alguns contributos”. Análise Sociológica, v. 25, n. 105- 106, 1990. ____. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1993. ____. “A geração yô-yô”. Dinâmicas multiculturais novas faces outros olhares, actas de las sesiones temáticas del III Congreso Luso-Afro-Brasileño de Ciencias Sociales, Lisboa, 1994. ____. Ganchos, tachos e biscates: jovens, trabalho e futuro. Porto: Editora Âmbar, 2001. ____. “Prefácio- Busca de si: expressividades e identidades juvenis”. In: MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel & EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 7-21. PAIVA, Vanilda (org.). Perspectivas e dilemas da educação popular. Rio de Janeiro: Graal, 1984. ____. Violência e pobreza: a educação dos pobres. In: ZALUAR, Alba (org.). Violência e educação. 1ª Ed. São Paulo: Livros do Tatu/Cortez, 1992. PERALVA, Angelina. “O jovem como modelo cultural”. Revista Brasileira de Educação, n. 5-6. São Paulo, p.15-24, maio/ago. 1997. PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura. Variações sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991. PEREIRA LIMA, Rita de Cássia. “Sociologia do desvio e interacionismo”. Tempo Social, Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 13 (1), maio de 2001, p. 185-201. PREFEITURA MUNICIPAL DE RECIFE. Secretaria da Educação da cidade do Recife. Ações da Secretaria frente à
  • 40. 40 problemática da violência e drogas nas escolas: Recife, 1999. RIQUE, C. AGUIAR, E; LINS, J. A & BARROS, L., A criminalidade no Recife: um problema de amplitude Nacional. Recife: Gajop; Bagaço, 2005. RODRIGUES, Anita Schumann. ´Aqui não há violência´: a escola silenciada – um estudo etnográfico. Rio de Janeiro: PUC/Departamento de Educação, 1994 (Diss. de Mestrado). RUOTTI, Caren. Os sentidos da violência escolar: uma perspectiva dos sujeitos. São Paulo: Departamento de Sociologia da FFLCH, 2007 (Diss. de mestrado). SCHNAIDERMAN, Boris. “Bakhtin 40 graus (Uma experiência brasileira com a sua obra)”. In: Beth Brait (org.). Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas: Editora da Unicamp, 1997, p. 15-22. SCHWARTZMAN, Simon. As Causas da Pobreza. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2004a. ____. Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução ao Mundo Contemporâneo. São Paulo: Augurium Editora, 2004b. SIMMEL, Georg. Georg Simmel: sociologia. Organizado por Evaristo de Moraes Filho. São Paulo: Ática, 1983. ____. “A Metrópole e a vida mental”. In: VELHO, Gilberto (org.), O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p. 11-25. SINDICATO DOS PROFESSORES DO RIO GRANDE DO SUL. Pesquisa sobre a opinião dos professores filiados ao sindicato sobre a problemática da violência no ambiente de trabalho. Porto Alegre: Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (SINPRO/RS), 2007. SOARES, Luiz Eduardo. “O futuro como passado e o passado como futuro: armadilhas do pensamento cínico e política da esperança”. In: Maria Isabel MENDES DE ALMEIDA e, Fernanda EUGÊNIO (Orgs). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, 121-135. SOUSA, Janice Tirelli Ponte de. Reinvenções da Utopia: a
  • 41. 41 militância política nos anos 90. São Paulo: Hacker, 1999. SPOSITO, Marilia Pontes. “Violencia colectiva, jóvenes y educación”. México: Revista Mexicana de Sociologia, n. 3, 1994. ____. “Uma perspectiva não escolar no estudo sociológico da escola”. In: Lea Pinheiro Paixão & Nadir Zago. Sociologia da Educação: Pesquisa e realidade brasileira. Petrópolis, Vozes, 2007, p. 19-43. ____. “A instituição escolar e a violência”. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, Fundação Carlos Chagas, n.º 104, 1998. SYKES, M e MATZA, David. “Techniques of Neutralization: A Theory of Delinquency”. American Sociological Review, n. 22, 1957. UNESCO BRASIL. Pesquisa de Vitimização nas Escolas 2003. Brasília: Unesco, 2003. ____. Abrindo espaços: educação e cultura para a paz. Brasília: UNESCO, 2001. ____. Instituto Ayrton Senna e Ministério da Justiça, 2002. VELHO, Gilberto (org.). (org.) O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1979. ____. Desvio e Divergência. Rio de Janeiro: Zahar, 1974. ____. VELHO, Gilberto. “Juventudes, projetos e trajetórias na sociedade”. In: In: MENDES DE ALMEIDA, Maria Isabel & EUGÊNIO, Fernanda (Orgs). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 192-200. VANDENBERGHE, Frédéric. As Sociologias de Georg Simmel. Tradução Marco Roberto Flamínio Peres. Bauru, SP: Edusc; Belém: EDUFPA, 2005. VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1988. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Juventude, violência e cidadania: os jovens de Brasília. Brasília: Unesco, 1998. ____. Mapa da Violência IV: os jovens do Brasil. Brasília: Instituto Ayrton Sena; Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2004.
  • 42. 42 ____. Mortes matadas por armas de fogo no Brasil, 1979-2003. Brasília: Unesco, 2005. Consultado em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue0 00103.pdf ____. e MACIEL, Maria. Revertendo violências, semeando futuros. Brasília: UNESCO, 2003. WERTHEIN, Jorge. “Por uma escola de paz”. Folha de S. Paulo no dia 16 de setembro de 2004. ZAIDAN FILHO, M. ZAIDAN FILHO, M. . Violência, Sociabilidade e Escola Publica. Cadernos Municipal de Educação. 3 ed. Recife: Undime, 2003, v., p. 45-47. ____. Violência e sociedade civil,. Folha de Pernambuco, p. 5, 12 jul. 2003. ____. Palestra. Encontro Estadual da Ressocialização. A ressocialização enquanto proposta de enfrentamento da violência e a criminalidade . 2006. ____. Ética, Violência e Cultura. In: Isabel Cristina Martins Guillen; Maria Ângela de Faria Grillo. (Org.). Cutura, Cidadania e Violência. 2 ed. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009, v., p. 9-13. ZALUAR, Alba. Violência e educação. São Paulo: Livros do Tatu/Cortez, 1992. ____. “Teleguiados e chefes: juventude e crime”. In: RIZZINI, I. (Org.) A criança no Brasil hoje. Rio de Janeiro: Editora Universitária Santa Úrsula, 1993. ____. Cidadãos não vão ao Paraíso: Juventude e Política Social. São Paulo: Escuta; Campinas: Editora da Unicamp, 1994. ____. Condomínio do Diabo. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994. ____. Da revolta ao crime S.A. São Paulo: Moderna, 1996. ____. “Violência e criminalidade: saída para os excluídos ou desafio para a democracia?”, in Sérgio MICELI, Sergio (org.), O que ler para conhecer o Brasil, vol. I, São Paulo, Anpocs, 1999. ____. “Gangs, galeras e quadrilhas: globalização, juventude e violência". In: ______. Integração perversa: pobreza e
  • 43. 43 tráfico de drogas, Rio de Janeiro, Editora da UFRJ, 2004, p. 177-201. ZUIN, Antônio. “Adoro odiar meu professor: o orkut, os alunos e a imagem dos mestres”. In: 29a. Reunião Anual da Anped, 2006, Caxambú. Anais da 29ª Reunião Anual da Anped. Rio de Janeiro: Anped, 2006. v. 1. Disponível em: ttp://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/trabal ho/GT16-1670--Int.pdf.
  • 44. 44 MÚSICA E SOCIABILIDADE ENTRE JOVENS NEGROS NO RECIFE: OS MARACATUS NAÇÃO Isabel Cristina Martins Guillen Resumo: Este artigo discute as transformações ocorridas nos maracatus nação do Recife devido em grande parte ao sucesso que alcançaram nas duas últimas décadas. Analisa alguns fenômenos da espetacularização nos grupos de modo geral, e esmiúça, avaliando, os seus efeitos em um maracatu-nação em particular, o Cambinda Estrela, concluindo com algumas considerações a respeito do que é ser jovem e como se organizam neste maracatu. “Eu tinha vinte anos. E ninguém me diga que esta foi a melhor fase da minha vida.” O autor da frase acima (ou algo muito semelhante) é Paul Nizan. Quando fui convidada a esboçar estas linhas fiquei pensando no grande desafio que é, para nós professores universitários, exercermos um atividade crítica acerca de um ator social com quem lidamos cotidianamente. Acredito que temos lidado com certa dificuldade com as mudanças que tem ocorrido com os anseios e angústias dos jovens que entram na universidade. Forçosamente teríamos que pensar sobre a condição do jovem no mundo de hoje, como se constrói esse lugar social, quais as sociabilidades que lhe estão postas na definição das identidades, principalmente o papel que a cultura tem exercido nessa definição. Quando pensamos em jovem, a idéia de rebeldia, de inquietação, de estar sempre pensando em um mundo novo, de estar desafiando as regras, surge como primeira associação. Mas esta é uma referência da minha geração, que tinha 1968, e todos os acontecimentos que circundam este ano, como parâmetro. O que pensam e o que desejam os jovens hoje? Muitos estudos têm apontado para a criação de um lugar em que consumo e atitudes se interligam na definição do ser jovem no mundo contemporâneo. Aos jovens da atualidade se atribui alguns estereótipos, dentre os quais de destaca o da
  • 45. 45 alienação advindo do consumo, o descomprometimento com a política, e com a construção da cidadania. Estaríamos vivendo sob a égide de uma geração pós coca-cola, super informada graças ao acesso à internet, com tecnologias diversas à sua disposição, mas acima de tudo descomprometidos. Temos que concordar com isso? Trata-se de estereótipos, e não se pode objetar a condição de protagonista que os jovens vêm assumindo no mundo contemporâneo, em diversos segmentos. (Martin-Barbero, 2008). Inclusive se pode discutir se a geração de 1968, que tomamos como parâmetro, era assim tão comprometida... Dentre muitos aspectos que poderíamos apontar na construção das identidades entre os jovens no mundo contemporâneo, a cultura tem assumido uma grande importância, principalmente a musical, que aparece como central na própria definição do que é ser jovem. Esta cultura musical não aparece apenas aos jovens como produtos a serem consumidos, pois estes têm construído novas sensibilidades musicais, novas linguagens estão sendo criadas ou ressignificadas. Ao mesmo tempo, a cultura musical que tem sido criada pelos jovens tem proporcionado a construção de novos espaços de sociabilidade, de elaboração de identidades, tanto individuais quanto coletivas, espaços estes que, por sua vez, permitem a formulação e eleição de valores e posturas de vida. Através da música, pode-se afirmar, estes jovens têm criado espaços de sociabilidade em que elegem um estilo de vida, um modo de ver e se posicionar no mundo, bem como de expressar esse posicionamento (Abramo, 2008; Dayrell, 2002). Jovens e maracatus na cena cultural recifense Os maracatus têm se mostrado um espaço de criatividade e mobilização entre os jovens recifenses. A batida do maracatu, desde que Chico Science e o Nação Zumbi fincaram a parabólica na lama, tem sido central em Pernambuco para se pensar os movimentos culturais na cidade,
  • 46. 46 e como os jovens têm se posicionado na cena cultural. Os maracatus hoje expressam aquilo que é mais pernambucano, que é símbolo da pernambucanidade, que expressa uma idéia de ser de Pernambuco. Aliás, isso já foi dito por Katarina Real, na década de 1960, quando afirmou que “ser de Pernambuco é sentir o maracatu” (Real, 1990). Só que no momento que Katarina Real disse isso, os maracatus passavam por uma grande crise, a ponto desta antropóloga prognosticar o seu desaparecimento. Como eram considerados tradições que vinham da África estavam, neste sentido, fadados a desaparecer, a não terem continuidade, porque os velhos -que transmitiam a tradição- estavam morrendo. Não haveria, portanto, como repassar essa tradição antiga e imemorial, porque os negros também estariam desaparecendo no Brasil, uma vez que se tomava como verdade inquestionável os ideais de mestiçagem presentes no mito da democracia racial. Então, desde o início do século XX até a década de 1960 os maracatus estariam fadados ao desaparecimento, o que não condiz com a história e com a vitalidade de cada um deles na contemporaneidade. Assim, se os maracatus nação hoje têm uma vitalidade própria, não é dessa forma que foram vistos pelos intelectuais, pelos folcloristas de uma forma geral, que proclamaram por década os perigos que a tradição vinha sofrendo de desaparecer completamente. Isso não impede que reconheçamos que se adentrou os anos de 1970 e 1980 com pouquíssimos maracatus nação em atuação na cidade. Não mais do que seis grupos foram os que conseguiram se manter em atividade, desfilando no carnaval, ou simplesmente desenvolvendo atividades em suas comunidades (Indiano, Leão Coroado, Estrela Brilhante, Cambinda Estrela, Porto Rico do Oriente e Almirante do Forte). Esse quadro começa a se modificar já nos anos oitenta com a recriação de três novos maracatus (Porto Rico em 1981; Sol Nascente em 1985; Elefante em 1986) que até então estavam desarticulados ou sem desfilar há alguns anos. Esse ressurgimento dos maracatus ocorreu em função, em parte, da própria ação dos maracatuzeiros, que em virtude das
  • 47. 47 divergências nos seus grupos optaram pela recriação de outros maracatus que estavam “guardados no museu”. Em parte é fundamental considerar a ação do movimento negro em Pernambuco - que se articula em torno dessas manifestações culturais que são definidoras de uma identidade, de uma negritude, principalmente no final da década. Esses maracatus nação ganharam uma nova força. Em 1986, por exemplo, o Maracatu Nação Elefante, que foi o maracatu da famosa Dona Santa (Guillen, 2006; Lima e Guillen, 2007), foi “retirado” do museu e propiciou um reviver desta manifestação cultural. Os maracatus se tornaram mais visíveis para a cena cultural do mundo todo quando, no início dos anos noventa, Chico Sciense e o Nação Zumbi usam a afaya e seus toques, propagando a batida do maracatu para todo o mundo. Não se pode atribuir este reviver dos maracatus exclusivamente à ação de Chico Sciense, mas também à própria ação do Movimento Negro e dos maracatuzeiros que vão colocar o maracatu nação numa cena cultural mais ampla do que a das passarelas do carnaval (Lima, 2010). Assim sendo, ao final dos anos noventa a batida do maracatu se espalhava por todo o mundo. O maracatu deixava de ser uma manifestação da cultura popular pernambucana, feita nas favelas e nos morros da cidade do Recife para chegar no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul. Em quase todas as capitais do Brasil (se não em todas) há jovens que têm um grupo musical que chamam de maracatu. Se é maracatu - legítimo ou autêntico - ou não, é uma outra controvérsia. Mas eles tocam essa música que chamam de maracatu, muitos deles influenciados pelos toques dos grandes grupos de maracatu nação de Pernambuco. Para além disso, uma série de produtores culturais tem levado os grandes grupos de maracatus nação para fora do Brasil, contribuindo para que hoje existam grupos que tocam maracatu na França, Inglaterra, Alemanha, Rússia, Japão e Canadá, dentre outros países. Assim sendo, temos jovens que não são brasileiros necessariamente, e que tocam maracatu. Este ano, por exemplo, no mês de julho realiza-se na França
  • 48. 48 um encontro internacional de maracatus, que já vai em sua quinta edição. Na cidade do Recife, surgiu um grande número de grupos que tocam maracatu, comumente formados por jovens de classe média, que mantém essas atividades como entretenimento, mas que têm contribuído para afirmar uma pernambucanidade na contemporaneidade. Ainda hoje, circulando pelo bairro do Recife nos finais de semana, podemos encontrar pelas ruas e esquinas grupos de jovens carregando suas “afayas” (ou tambores) ao encontro de outros jovens, para simplesmente tocar maracatu. Estes grupos se caracterizam por serem formados por jovens, em sua grande maioria pertencentes à classe média, brancos e brancas, que moram em diversos lugares da cidade – o que demonstra a não vinculação com uma comunidade – e os instrumentos musicais utilizados pelo grupo são, via de regra, dos membros que se encontram para tocar Há ainda aqueles grupos que, mesmo os jovens sendo donos de seus instrumentos, pagam uma mensalidade para deles fazerem parte (Lima e Guillen, 2007). Neste novo panorama, fazer maracatu se tornou uma espécie de atividade eminentemente jovem? Uma manifestação cultural feita pelos jovens e para os jovens? O que é esse maracatu que foi descrito? Alerto ao leitor e à leitora que não podemos denominar estes grupos que se formaram fora de Pernambuco, recentemente, ou mesmo aqui, de maracatu nação, mas sim de grupos percussivos. Preferimos diferenciar essas atividades dos maracatus nação efetivamente, que são aqueles grupos possuidores de práticas e costumes compartilhados e que, grosso modo, possuem a maior parte de seus integrantes em uma só comunidade. Nestes maracatus os instrumentos musicais pertencem ao grupo, e o pertencimento à religião (candomblé, jurema e umbanda) é fundamental na definição da identidade. Além do mais, os maracatus nação são caracterizados não apenas pelo conjunto musical, mas também pela corte de súditos de um rei e rainha, corte esta que é composta por uma série de figuras ou personagens. Até bem recentemente, quando se falava em
  • 49. 49 maracatu lembrava-se imediatamente do rei ou da rainha. O batuque acompanhava a corte, e o conjunto constituía um maracatu nação. Lembramos que a corte não está presente na grande maioria dos grupos percussivos, pois o que interessa verdadeiramente a estes agrupamentos é a música. Nem por isso estes grupos percussivos deixam de ser considerados espaços de sociabilidade e definição de identidades, mas não se pode – definitivamente – confundi-los com os maracatus nação. O lugar dos jovens nos maracatus nação O maracatu nação, ainda hoje, é tido como o lugar da tradição. Ele foi representado como um espaço de sociabilidade em que os velhos transmitiam um determinado saber aos mais jovens, compartilhando um lugar no mundo, enquanto negros e negras que viviam nas favelas e morros da periferia do Recife. Até recentemente os maracatus não eram tidos como espaços de sociabilidade para os jovens. Ao contrário, os maracatus nação eram considerados manifestações culturais em que pais e mães de santo de senioridade reproduziam seu poder e autoridade, e aos mais jovens destinava-se o lugar de aprendizes, sobretudo lugares secundários. Quando se toma como parâmetro um maracatu nação considerado tradicional, como o Elefante de Dona Santa, percebemos que mesmo no batuque (orquestra percussiva) havia uma predominância de homens formados, e não de jovens. Essa configuração começa a mudar no final dos anos oitenta, quando encontramos com mais facilidade jovens integrandos os maracatus, a exemplo do Elefante de Dona Madalena e o Leão Coroado de Luis de França, este último em menor proporção. Na atualidade, assistimos a um fenômeno interessante, em que a corte é tida como um espaço dos mais velhos, no qual pais e mães de santo continuam a exercer sua autoridade, ao contrário do batuque que é predominantemente formado
  • 50. 50 por jovens. E os mais velhos sequer têm espaço, ou conseguem deles participar. Este fenômeno tem chegado aos mestres, que a cada dia são mais jovens, o que era inconcebível nos maracatus nação algumas décadas atrás. Atualmente há um visível rejuvenescimento do maracatu nação. Num universo de vinte e cinco maracatus nação existentes hoje no grande Recife, apenas quatro mestres têm mais de cinqüenta anos (Walter do Estrela Brilhante do Recife, Toinho do Encanto da Alegria, Geraldo do Gato Preto e Antônio Roberto do Nação de Luanda). Os maracatus nação têm sofrido com o fenômeno da espetacularização da cultura popular. A convivência entre as pessoas, outrora comunitária, propiciava que o aprendizado ocorresse no quotidiano, de modo informal, e o saber se transmitia acima de tudo, fazendo e se observando fazer. E se aprendia não apenas a tocar um instrumento, mas a construí-lo e afiná-lo. E aprendia-se também a exercer outras funções de modo que um mestre era considerado aquele que detinha esse saber. Consoante à espetacularização ocorre contemporaneamente uma desritualização do maracatu que se transforma em “música” que pode ser ensinada e aprendida em oficinas e workshops (Carvalho, 2007). Paga-se e recebe-se para se aceder ao saber musical. O maracatu nação expressa muitos conflitos advindos dessa relação com o mercado cultural e as demandas que este impõe aos maracatuzeiros. Ele continua a se manter como uma comunidade orgânica e que tem vinculação com as religiões afro-descendentes, No entanto, no âmbito da reprodução do saber fazer o mestre teve seu lugar transformado. Não mais se mantém enquanto mestre simplesmente porque detém o saber, mas devido a qualidades performáticas, adequando-se às necessidades de se produzir o espetáculo. Alguns mestres de maracatu, mais antigos, têm expressado uma dificuldade muito grande em fazer oficinas, em ensinar jovem a tocar maracatu, porque tem outra forma de transmissão do saber, diferente da lógica em que se organizam esses cursos. Essa diferença se expressa no tempo de formação de um batuqueiro. No modo
  • 51. 51 tradicional levavam-se anos, passava-se por todo um processo de iniciação para se aprender a tocar todos os instrumentos. Atualmente, com apenas uma oficina muitos jovens conseguem executar alguns toques básicos. Nesse sentido, o maracatu nação sintetiza diversas questões e contradições: qual é o lugar do jovem e qual é o lugar do velho? Se o maracatu é ainda símbolo da tradição, como essa herança cultural tem sido transmitida de modo tão moderno? O que é que os velhos mestres de maracatu querem transmitir aos jovens? Podemos observar, por exemplo, que alguns mestres de maracatu se sentem extremamente angustiados com essas questões. Assim sendo, no interior dos maracatus nação claramente há uma tensão entre o lugar do jovem e do velho, entre os modos como se dá a transmissão do saber nessa expressão cultural. O Maracatu Nação Cambinda Estrela Fundado no Alto Santa Isabel, bairro de Casa Amarela, em 1935, o Cambinda Estrela surgiu como maracatu de baque solto (também conhecido como maracatu de orquestra ou rural) e nessa modalidade atuou até provavelmente o início dos anos 1960. O Cambinda Estrela foi fundado por trabalhadores migrantes da mata norte do Estado de Pernambuco, e que na zona norte da cidade do Recife reconstruíram fortes redes de sociabilidade. Nas lembranças de Dona Leinha, filha de um dos fundadores do maracatu, o convívio entre parentes e amigos fazia o quotidiano mais suportável e o Cambinda o lugar da alegria e da diversão. Muitos moradores idosos do Alto Santa Isabel ainda se lembram com saudades do maracatu, e de seu famoso articulador, Tercílio, considerado um mestre de primeira categoria por sua capacidade de improvisação e beleza das toadas que compunha. Tercílio criou fama entre os maracatuzeiros de ser um excelente versejador. “Como ele não tinha igual!”, afirma o senhor Zezinho, morador do Alto, e que quando jovem saia no grupo como caboclo de lança.
  • 52. 52 Enquanto maracatu de baque solto o Cambinda Estrela foi objeto de estudo do maestro César Guerra Peixe, um dos primeiros estudiosos a diferenciar as modalidades de maracatu bem como a respeitá-la em sua diversidade. As observações de Guerra Peixe em seu livro Maracatus do Recife (1981) atestam a importância do Cambinda no universo dos maracatus. Não obstante, como maracatu de orquestra, o Cambinda Estrela sofreu as mesmas pressões que existiram sobre esta modalidade rítmica, e que impeliram vários grupos para a mudança de baque, a exemplo do Indiano. Não se pode precisar com certeza quando esta mudança ocorreu, mas a transformação do baque não acarretou a desestruturação do grupo. O maracatu se re-configurou para receber novos membros, destacando-se a atuação do famoso carnavalesco Mário Miranda, também afamado pai-de-santo da comunidade do Alto Santa Isabel, mais conhecido como Maria Aparecida. O Cambinda Estrela, nesses anos, conquistou espaços, e alguns títulos. Nas décadas de 1960 e 1970 encontramos o Cambinda Estrela em atuação no carnaval da cidade, disputando concursos, ou mesmo sendo homenageado, a exemplo de Abelardo da Hora que em meados da década de 1960 tomou seu símbolo (o peixe) como motivo para a decoração carnavalesca da cidade do Recife. O Cambinda Estrela foi perdendo seu brilho ao longo dos anos 1980, sobretudo após a morte do Sr. Tercílio e Dona Inês, que era a rainha. Em 1997, ressurgiu com sede em Chão de Estrelas, graças ao trabalho de um grupo de pessoas que congregava estudantes, pais e mães de santo e moradores das comunidades. Desde esse momento o Cambinda Estrela abrigou uma variedade de terreiros e comunidades, bem como de interesses e concepções acerca do que define um maracatu nação, e para resolver as tensões inerentes à forma como se deu seu ressurgimento o grupo optou por instituir fóruns de decisão que, esperava-se, pudessem dirimir conflitos e disputas. O Cambinda Estrela é, na atualidade, um maracatu que possui uma diretoria organizada e que efetivamente dirige
  • 53. 53 os trabalhos necessários para manter o grupo, tanto no carnaval, mas principalmente no restante do ano. No início da década de 2000 estabeleceu-se uma parceria com o grupo de maracatu da Alemanha, o Nation Stern der Elbe, sediado em Hamburgo, e que contribuía financeiramente com alguns projetos que começaram a ser desenvolvidos na ocasião, tais como aulas de alfabetização para jovens e adultos, oficinas de percussão para crianças e jovens da comunidade. O projeto com o maracatu alemão se encerrou, mas o Cambinda Estrela não deixou de atuar de forma decisiva entre os jovens de Chão de Estrela. Daquele tímido início para os dias de hoje o Cambinda Estrela progressivamente ampliou sua ação, e contribui financeiramente para que os meninos e meninas, de seu batuque e corte, estudem em escolas particulares da região, bem como mantém alguns jovens na universidade. Alguns desses jovens que estão na universidade acompanham o maracatu desde que eram garotos e participaram das primeiras aulas comunitárias. São eles que hoje coordenam as atividades do batuque do Cambinda. Do ponto de vista do espetáculo que delineamos acima, o Cambinda Estrela destoa de muitos dos maracatus nação mais “tradicionais”. Seja devido à atuação de seu mestre, ou à própria composição da diretoria, o maracatu é conhecido na cena cultural recifense por ter uma performance mais politizada e engajada, e traz em sua camiseta a frase Festa e Luta, como uma espécie de “palavra de ordem”. Isto porque nos últimos anos se notabilizou por discutir publicamente, em suas apresentações, o respeito pela diferença (gênero, sexual e geracional), bem como por claramente lutar contra o racismo e a homofobia. Neste ano de 2010, no show de abertura do carnaval, que ocorre no Marco Zero e é conduzido por Naná Vasconcelos acompanhado do batuque de dezessete maracatus nação, o Cambinda Estrela se apresentou com uma grande bandeira verde, amarela e vermelha, na qual estava estampado: “contra o apartheid brasileiro: quotas raciais para negros e negras na UFPE, UFRPE e UPE”. Além da bandeira o
  • 54. 54 grupo entoou a canção “Nkosi si ke le la”, reconhecido hino do CNA (Congresso Nacional Africano) e que nos anos oitenta foi consagrado na luta contra o racismo no Brasil. Esta é uma performance que tem caracterizado o Cambinda Estrela ao longo de suas apresentações. Suas toadas aludem a reivindicações do grupo, às lutas nas quais o Cambinda tem se engajado. Essas toadas têm contribuído para a afirmação da identidade do grupo, reforçando a auto-estima e o orgulho de pertencerem à “nação”. A identidade do grupo, portanto, tem se definido a partir de uma ressignificação da África para o maracatu, a politização da religião com o enaltecimento de Malunguinho (entidade da jurema) e forte apelo à consciência política. A África aparece não de forma difusa e homogênea, como o lugar da tradição e da origem, mas de fonte de inspiração na luta contra o racismo e a discriminação. Líderes e personagens históricos como Chaka Zulu e Steve Biko, tem seus nomes gravados nos muros do bairro misturados aos nomes de Martin Luther King, Zapata, Xangô, Acotirene, Zumbi e outros. Estes nomes aparecem constantemente nas toadas, como referências para a construção de identidade. A África, neste contexto, não é aludida de forma genérica, mas é tratada como lugar em que uma história de luta se desenvolveu. A Etiópia é referida como exemplo: “o único pais que não sucumbiu aos colonizadores”. Malunguinho, entidade da jurema, também tem sido ressignificado. Por ter sido um líder quilombola, tem a sua história contada e seus pontos são constantemente cantados. Diga-se de passagem que foi gravado nos dois CDs do grupo. Por outro lado, os quilombos, de modo geral, servem de referência nessa formação de identidade, e quando o grupo conseguiu uma apresentação em Salgueiro, durante a semana pré-carnavalesca, não perdeu a oportunidade de levar seus membros para se apresentarem em Conceição das Crioulas, um dos mais conhecidos e organizados “remanescentes” de quilombos do Estado. Não sem antes ter visitado uma das maiores favelas de Salgueiro e lá ter conhecido um terreiro de
  • 55. 55 jurema. Desse modo, nessas ações, percebemos que o Cambinda Estrela tem afirmado sua identidade de “quilombola”, de “favelado” e de ser formado por negros e negras. Esse esforço de construção de identidades está bastante presente nas toadas. Uma delas define bem a tentativa do grupo em traduzir-se: “construímos nossa casa para todo o povo cantar. Só não pode ter elite nem senhor neste lugar.” Outra toada com letra definidora dos caminhos trilhados pelo grupo afirma um pertencimento social e uma crítica política quando afirma: “falei e disse, vou cantar com alegria, o Cambinda é uma mosca na sopa da burguesia.” Diante desta performance pode-se entender porque o Cambinda Estrela não é o maracatu que mais atrai os jovens de classe média para tocar no seu batuque. Ao contrário! A entrada de jovens de classe média no batuque tem gerado acaloradas discussões. No contexto em que fazer maracatu tem forte apelo entre os jovens da classe média, o Cambinda Estrela tem se notabilizado por debater o branqueamento que os maracatus nação têm sofrido, discutindo em seus fóruns a entrada ou não de pessoas que não são da comunidade no seu batuque. Em uma de suas toadas afirma: “eu sou do asfalto eu sou da lama, gente rica não me engana, Cambinda tem orgulho de ser do Vasco da Gama.” Dessa forma afirma positivamente o pertencimento ao lugar onde mora. Em outras, à religião e à negritude. Ser jovem no Cambinda Estrela Chão de Estrelas é um bairro que se caracteriza, como tantos outros da periferia do Recife, pela carência de equipamentos culturais e dificuldade de acesso aos bens culturais, como teatros ou mesmo cinema. Para os jovens do Cambinda Estrela o maracatu tem se mostrado um espaço de
  • 56. 56 criatividade e mobilização, motivando os jovens a participar de certos espaços de debate público e de alguns canais de participação política, a exemplo da inserção no orçamento participativo, nos debates sobre a igualdade racial e o combate ao racismo. A atuação dos jovens no maracatu tem propiciado que exercitem sua criatividade e sua capacidade de realizar eventos e projetos. São eles os responsáveis pela organização das aulas de percussão, bem como de todo o batuque na época do carnaval. O mestre têm se submetido aos fóruns de decisão coletivos, e todos os aspectos que envolvem a organização do batuque são discutidos em “assembléias”. A performance da bandeira não foi diferente uma vez que passou por um intenso processo de discussão e preparação, inclusive do aprendizado da letra da canção Nkosi si ke le la, cantada em três línguas diferentes. Há um claro reforço à atuação coletiva, e o maracatu tem se tornado um pólo de referência para os jovens que não participam diretamente dele. Podemos citar outros grupos culturais, como o Gambiarra que agia fazendo pequenos curtas-metragens sobre a atuação dos jovens em Chão de Estrelas. Mesmo para os jovens que pertencem ao Cambinda a atuação mais destacada de alguns deles também se constitui numa referência. O que podemos observar ao longo destes anos é que tem aumentado a procura para ingressar na universidade bem como para concluir seus estudos, seja o ensino médio ou o fundamental. Estes jovens que atuam no maracatu têm um claro protagonismo social e cultural, pois formaram outro grupo musical, o Coco dos Pretos, no qual atuam paralelamente às atividades que exercem no maracatu. Pode-se sem sombra de dúvidas afirmar que há uma aposta do grupo maior do Cambinda Estrela na potencialidade criativa dos jovens, no seu desenvolvimento pessoal e social. Nesse sentido, o maracatu Cambinda Estrela tem demonstrado habilidade para atuar como instrumento auxiliar na formação educativa dos jovens, evitando desvios na formação e no desenvolvimento desses jovens, pois tem conseguido ocupá-los positivamente e evitado
  • 57. 57 que permaneçam no ócio e à mercê dos perigos da rua e da delinqüência, principalmente o tráfico de drogas. As oficinas oferecidas pelo Cambinda Estrela ocorrem todos os sábados no período vespertino, em sua sede, e dela participam principalmente jovens da comunidade de Chão de Estrelas e regiões adjacentes. Não são ministradas pelo mestre, mas por jovens que dirigem o batuque, e que atuam como contra-mestres durante o período do carnaval. Estes jovens tem atuado no Cambinda Estrela há muitos anos, e alguns deles que estão no grupo desde garotos passaram por um longo processo de aprendizado. Hoje, o Cambinda Estrela é talvez o único maracatu nação que tem mais de um “mestre” jovem, e que têm condições de substituir em apresentações diversas o mestre Ivaldo Marciano. Adriano, Wanessa, Jefferson e Madson são jovens que estão no grupo há mais de dez anos, e que hoje tem condições de conduzir o batuque sem a presença de outro mestre. Ao longo desse processo de aprendizado tornaram-se protagonistas do batuque, dirigindo-o e discutindo suas formas de atuação e identidade. Estes jovens discutem intensamente os processos de transmissão do saber entre os maracatus nação, e tem se posicionado criticamente quanto à questão da oferta de oficinas pagas pelos que desejam aprender a tocar maracatu. Sempre que surge um convite para se oferecer oficinas, discute-se internamente quem irá ministrá-la e em que condições, e via de regra os proventos recebidos revertem em parte para o maracatu. Instituiu-se um sistema de rodízio entre os contra-mestres de modo a que todos possam participar desse processo de aprendizado de se tornar mestre. Normalmente a função de oficineiro é reservado ao mestre, que agrega além dos proventos que recebe, capital simbólico ao seu nome. Se as oficinas são intensamente discutidas e organizadas pelos jovens, as atividades do batuque na época do carnaval não ficam atrás. Durante o processo de preparação do maracatu para as apresentações do período momesco, o batuque ensaia semanalmente, e na medida em que se
  • 58. 58 aproxima o carnaval mais de uma vez na semana. Os ensaios são coordenados pelos jovens acima referidos, e o mestre invariavelmente propicia que haja um revezamento entre os que podem ocupar esta posição. Discute-se em assembléias o valor da ajuda de custo que cada batuqueiro receberá pelas apresentações feitas, qual o modelo da fantasia a ser adotada, a disciplina e as regras a serem obedecidas por todos a respeito do consumo de bebidas alcoólicas ou outras drogas, bem como outras questões que regulamentam o convívio dos jovens. É necessário se observar que no período do carnaval o batuque assume proporções muito grandes, chegando a ser composto por mais de cem batuqueiros. Não se trata de organizar a apresentação de uma banda! O Cambinda Estrela não atua com vista a impedir que o jovem se torne um problema, tirando-o da rua, mas postula radicalmente o direito ao protagonismo sócio-cultural e junto com esse protagonismo o enriquecimento enquanto pessoas através do alargamento e acesso aos meios de informação, meios de intervenção e participação no universo simbólico da sociedade. Na medida em que discutem corriqueiramente o que é ser negro nesta sociedade, e através de suas manifestações culturais postulam um modo positivo de ser jovem e negro, têm contribuído para criar identidade, um modo de ser jovem na periferia do Recife. Não se trata simplesmente de “ser jovem”, mas de, através destas atuações culturais, se posicionarem como atores e interlocutores dos debates que se processam na sociedade de modo mais amplo. BIBLIOGRAFIA ABRAMO, Helena. Retratos da juventude brasileira. São Paulo, Perseu Abramo, 2006.
  • 59. 59 BORELLI, Silvia H. S.; FREIRE FILHO, João. Culturas juvenis no século XXI. São Paulo, EDUC, 2008. CARVALHO, Ernesto Ignácio de. Diálogo de negros, monólogo de brancos: transformações e apropriações musicais no maracatu de baque virado. Recife, Dissertação de mestrado em Antropologia, UFPE, 2007. DAYRELL, Juarez. A escola faz as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28 n. 100, 2007, p.1105-1128. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação. N. 24, set/dez 2003, p. 40-52. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a04.pdf DAYRELL, Juarez. O rap e o funk na socialização da juventude. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28 n. 01, p. 117-136, jan- junh 2002. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11660.pdf GUILLEN, Isabel Cristina Martins. Dona Santa, rainha do maracatu: memória e identidade no Recife. Cadernos de Estudos Sociais. Recife: vol. 22, n. 01, p. 33-48, 2006. GUILLEN, Isabel Cristina Martins; LIMA, Ivaldo Marciano de França. Cultura afro-descendente no Recife: maracatus, capoeiras e catimbós. Recife, Bagaço, 2007. LIMA, Ari. Funkeiros, timbaleiros e pagodeiros: notas sobre juventude e música negra na cidade de Salvador. Cadernos Ceres, vol. 22, n. 57, 2002. P. 77-96. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v22n57/12004.pdf LIMA, Ivaldo Marciano de França. Maracatus e maracatuzeiros: desconstruindo certezas, batendo afayas e fazendo histórias. Recife, 1930 – 1945. Recife: Dissertação de mestrado em História, UFPE, 2006. LIMA, Ivaldo Marciano de França. Identidade negra no Recife: maracatus e afoxés. Recife: Bagaço, 2009. LIMA, Ivaldo Marciano de França. Maracatus-nação: ressignificando velhas histórias. Recife: Bagaço, 2005.
  • 60. 60 LIMA, Ivaldo Marciano de França. Os maracatus do Recife, as disputas e influências entre o fazer e o refazer dos toques: os casos do Cambinda Estrela, Porto Rico e Estrela Brilhante. Anais eletrônicos do II encontro nacional da ABET – Associação Brasileira de Etno-musicologia, Salvador: 2004. REAL, Katarina. O folclore no carnaval do Recife. 2.ed. Recife: Massangana, 1990. SAVAGE, John. A criação da juventude. Rio de Janeiro, Rocco, 2009. SCHMITT, Jean claude; LEVI, Giovanni. História dos Jovens. São Paulo, Companhia das Letras, 1996, vol. 02.