2. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, 2008
Adelmir Santana
Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor-presidente
Carlos Alberto dos Santos
Diretor de Administração e Finanças
Luiz Carlos Barboza
Diretor técnico
Raissa Rossiter
Gerente Unidade de Acesso a Mercados
Centro de Políticas Sociais
Instituto Brasileiro de Economia
Fundação Getulio Vargas
Realização
Marcelo Cortes Neri
Coordenação Técnica
Equipe do CPS
Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo
Samanta dos Reis Sacramento
André Luiz Neri
Carolina Marques Bastos
Paloma Madanelo de Carvalho
Ana Lucia Calçada
Roberto Neri (Externo)
3. S E T E M B R O D E 2 0 0 8
atitudes dos
consumidores
e acesso a mercado das
microempresas brasileiras
4.
5. Atitudes dos consumidores e acesso a mercado
das microempresas brasileiras
Os microempreendedores quando perguntados sobre as principais dificulda-
des e desafios de seus negócios elencam no topo de suas percepções aspectos
mercadológicos como “a falta de clientes” e “a concorrência” vis-à-vis a ele-
mentos de oferta, como acesso a insumos, à tecnologia, aos recursos humanos
e administrativos, ou mesmo ao crédito. Essa percepção da importância des-
ses elementos está presente no Brasil e em outras partes, entretanto, a maior
parte de análises e ações públicas se volta para elementos de oferta e não para
as restrições mais prementes percebidas, que são de demanda. Este trabalho
aborda a questão do acesso a mercado das microempresas brasileiras tanto
da perspectiva de como as empresas percebem e agem sobre os demandantes
de seus bens e serviços bem como da forma que estes demandantes agem em
relação aos bens e serviços produzidos pelas empresas. Heuristicamente, o
foco deste trabalho não é sobre o lado da demanda, ou sobre o lado da oferta
de bens e serviços, mas sobre os caminhos entre estas duas dimensões. Como
esses encontros e desencontros entre oferta e demanda se dão em ambientes
de mercado com características específicas, tratamos de alguns setores de ati-
vidade mais relevantes na carteira de projetos do SEBRAE, a saber: turismo,
comércio varejista, têxtil e confecções, madeira e móveis, leite e derivados,
aqüicultura e pesca, alimentos, petróleo e gás, tecnologia da informação, cou-
ro e calçado. Desenvolvemos análise conceitual e empírica das modalidades
de acesso a mercados das microempresas brasileiras, sua difusão, seus deter-
minantes e seus impactos nesses setores específicos.
Similarmente, a análise é feita em dois níveis. Em primeiro lugar, estudamos
como a microempresa chega aos seus consumidores, aí incluindo não só os
indivíduos e suas famílias como outras empresas nacionais grandes ou pe-
quenas, governos e setor externo. Avaliamos o uso dos instrumentos de apoio
microempresarial de cunho mercadológico e de seus impactos sobre o fatura-
mento das empresas. Relacionamos variáveis de acesso ao mercado a atributos
pessoais dos microempreendedores dos mercados formal e informal, e a outros
aspectos da dimensão produtiva e financeira dos negócios de forma a enten-
der as sinergias existentes entre diferentes aspectos dos pequenos negócios,
associados nessa perspectiva da oferta relativa à demanda. O segundo aspec-
to complementar tratado é como o consumidor encara a oferta de produtos e
serviços das empresas. Neste caso, a ênfase recai sobre a demanda de pessoas
físicas por grupos de bens e serviços. Traçamos o perfil socioeconômico dos
consumidores correntes, assim como do conjunto da população. A análise in-
clui, portanto, a demanda presente como potencial dos produtos e serviços dos
negócios.
Um objetivo complementar deste projeto é processar, reunir e disponibili-
zar de maneira amigável um vasto acervo de informações sobre o funciona-
mento, as limitações e as potencialidades do acesso ao mercado dos peque-
nos produtores, negociantes e empreendedores urbanos, na sua relação com
a clientela de seus bens e serviços. Processamos microdados de diversas
outras pesquisas domiciliares e de estabelecimentos, como a POF, a Ecinf, a
6. PNAD e o Censo Demográfico para captar causas e conseqüências práticas
de estratégias de acesso a mercados em alguns setores selecionados. O sítio
do projeto permite ao usuário estender os resultados deste relatório − ou
outros de interesse − a localidades e segmentos específicos. Também permi-
tindo a cada um analisar o acesso aos mercados consumidores desde uma
perspectiva e interesses próprios. De maneira geral, o projeto busca contri-
buir para o aprimoramento de estratégias de acesso a mercado no mapa das
ações de apoio microempresarial.
Palavras-chave
1. A cesso a mercado
2. Consumo
3. Mercado de bens e serviços
4. Apoio microempresarial
5. Vendas
7. Sumário
I. Introdução ............................................................................................................. 11
1. Motivação ......................................................................................................................................................12
2. Objetivos do projeto ..................................................................................................................................13
3. Plano do relatório ........................................................................................................................................14
II. Metodologia Empírica.......................................................................................... 15
1. Descrição geral .............................................................................................................................................16
2. Bases de dados .............................................................................................................................................17
Bases utilizadas ............................................................................................................................................18
POF .............................................................................................................................................................18
Ecinf ...........................................................................................................................................................19
PNAD .........................................................................................................................................................20
Outras bases de dados (passíveis de extensões futuras) ..............................................................21
3. Técnicas utilizadas.......................................................................................................................................25
Análises univariadas e bivariadas ..........................................................................................................25
Análises multivariadas ...............................................................................................................................25
4. Apresentação dos resultados..................................................................................................................26
Sistemas de informação ............................................................................................................................26
Simuladores ...................................................................................................................................................26
Panoramas......................................................................................................................................................26
5. Elementos da análise empírica ...............................................................................................................27
Taxonomia de efeitos .................................................................................................................................27
III. A Visão do consumidor: teoria............................................................................ 29
1. Fundações teóricas .....................................................................................................................................30
Muitos períodos e o ciclo da vida ..........................................................................................................30
O consumo acompanha a renda? .........................................................................................................31
Perfis do consumo ao longo da vida ....................................................................................................32
O consumo e a taxa de juros ...................................................................................................................33
2. Motivos de longo prazo ............................................................................................................................34
Ciclo da vida ..................................................................................................................................................34
Uma visão complementar .................................................................................................................34
Restrições por liquidez e indivisibilidades..........................................................................................35
Precaucional ...........................................................................................................................................36
Herança ....................................................................................................................................................37
3. Sumário da literatura .................................................................................................................................38
IV. A Visão do consumidor: evidência empírica ..................................................... 41
1. Visão geral .....................................................................................................................................................42
2. Mercado corrente ........................................................................................................................................42
8. Panorama das despesas ............................................................................................................................42
Simulador de despesas..............................................................................................................................54
3. Panorama das aquisições .........................................................................................................................56
V. A Evolução temporal da renda............................................................................ 61
1. Visão geral ......................................................................................................................................................62
2. Tendências temporais e mercado potencial .....................................................................................65
VI. O Produtor e o acesso a mercado: a oferta encontra a demanda em setores
específicos ............................................................................................................ 71
1. Visão geral ......................................................................................................................................................73
2. Panorama dos pequenos produtores ..................................................................................................75
Entre setores ..................................................................................................................................................75
Por setores ......................................................................................................................................................81
3. Simulador de comercialização................................................................................................................83
4. Desempenho microempresarial ............................................................................................................85
VII. Mix de marketing: estratégias de acesso a mercados.......................................... 99
1. Visão geral ................................................................................................................................................... 100
2. Análise SWOT ............................................................................................................................................. 101
3. Mix de marketing ..................................................................................................................................... 102
VIII. Conclusões.......................................................................................................... 103
Referências................................................................................................................................................................ 105
9. Visão esquemática
Visão meso das despesas e produção
Dados setoriais
Alimentos
Comércio
Couro e calçado
Leite e derivados
Madeira e móveis
Pesca
Petróleo
Tecnologia da informação
Têxtil
Turismo
Atributos
O que? Produtos e serviços
Onde? Locais de compra
Como? Forma de pagamento
De quem? Empresas ofertantes
Para quem? Demandantes
(Empresa, governo, setor externo)
Por que? Motivações
Quando? Idade, anos e gerações
Quando? Tendências, ciclos e sazonalidades
Site: www.fgv.br/cps/atitudesdoconsumidor
10.
11. I. Introdução1
1 Agradecimentos a toda equipe do SEBRAE pelas valiosas direções, debates, sugestões e apoio
dados durante o decorrer da pesquisa e em particular a Raissa Rossiter e Unidade de Acesso a
Mercados (UAM).
12. 1. Motivação
Na escolha de um elenco de políticas fomentadoras das atividades empresariais em geral,
devemos avaliar a efetividade da restrição de escassez, enfrentada pelos microempresários,
em relação aos diversos tipos de recursos. Nesse sentido, estamos mais especificamente
interessados na aplicação de estratégias que propiciem melhora do acesso aos mercados
consumidores, e conseqüentemente, ao aumento de demanda dos produtos e/ou serviços
produzidos. Segundo tabulações com base na Pesquisa de Economia Informal do IBGE/
SEBRAE Nacional, que cobrem empresas urbanas com cinco empregados ou menos em
2003, a principal dificuldade para desenvolver algum empreendimento é a falta de clientes
em 25,65% dos negócios. A concorrência muito grande − 20,65% − também se destaca entre
as dificuldades percebidas pelos pequenos empresários. Essa soma de dificuldades perce-
bidas pelo lado da demanda de 46,30% supera a soma de todos os itens relativos a dificul-
dades do lado da oferta com 18,32%. Nesse quesito de oferta, uma dificuldade relevante
das empresas está relacionada a problemas de infra-estrutura e instalação física (4,13%).
Outros elementos de oferta, como baixa qualificação de mão-de-obra e problemas com a
fiscalização, permanecem em patamares baixos, com menos de 1% das múltiplas menções.
Assim, 19,1% das empresas reportam como principais as dificuldades do lado financeiro
com 19,1% das empresas como a falta de capital próprio (12,5%) e a escassez de crédito
(6,5%). Apenas 16,1% das microempresas não reportaram dificuldades. Esse conjunto de
dados nos leva à conclusão de que existe um problema de financiamento ou de acesso a
mercados financeiros, mas de importância relativa inferior à dificuldade encontrada no
acesso a mercado de produtos e serviços.
Com vimos, os dados relativos às principais dificuldades percebidas pelos pequenos em-
presários indicam a necessidade de implementação de estratégias políticas de demanda
direcionadas a esses segmentos. Complementarmente, a receita média das nanoempresas
caiu cerca de 20% entre os anos de 1997 e 2003 (de R$ 2.183 para R$ 1.754, mensais a valores
12
constantes de 2003), enquanto que o lucro caiu apenas 7%. A manutenção dos lucros ge-
rados deu-se em função do enxugamento dos custos e não pelo aumento do faturamento.
Ou seja, parece que as empresas fizeram uma reestruturação produtiva, uma reengenharia
silenciosa, melhorando a estrutura de custos, mas as condições de acesso a mercado se
deterioraram.
Em suma, os dados da Ecinf demonstram por elementos subjetivos e objetivos que entre
os principais problemas apresentados pelos nanoempresários está o acesso a mercados
para bens e serviços, enfatizando a relevância de políticas de demanda. Mais forte do que
a escassez de oferta de recursos privados, sejam capitais físico sejam humano ou social, é
a escassez de demanda por produtos e serviços das microempresas. Nesse sentido, o uni-
verso aqui analisado constitui um laboratório privilegiado acerca dos constrangimentos
e carências que devem ser combatidos por meio da ação institucional do SEBRAE e de
suas interações com outras decisões privadas e públicas. Nesse contexto, a implantação
de políticas do lado da oferta, como microcrédito, assistência técnica e treinamento não
são suficientes para o bom desempenho microempresarial, se não há um efetivo dire-
cionamento ao mercado para absorver os produtos e serviços ofertados nesse segmento.
Isso passa pelo conhecimento detalhado do mercado, a analise do público-alvo, a defini-
ção de estratégias de acesso e a combinação desses elementos com pesos diferenciados
por segmento e empresa visando à abertura e à consolidação de novos mercados. Essas
são condições necessárias ao bom andamento dos negócios.
13. 2. Objetivos do projeto
Este projeto tem como objetivo subsidiar a aplicação de ações de incremento do acesso a
mercado de bens e serviços nas atividades microempresariais brasileiras. Enfatizamos a
análise das limitações, recursos e atitudes de pequenos empresários no que se refere a
seus mercados finais.
Procuramos subsidiar a aplicação de ações de incremento da demanda das atividades
microempresariais brasileiras. Ressaltamos na análise as limitações, os recursos e as
atitudes de pequenos empresários no que se refere à área de comercialização de bens e
serviços desagregados para dez subsetores: turismo, comércio varejista, têxtil e con-
fecções, madeira e móveis, leite e derivados, aqüicultura e pesca, alimentos, petróleo
e gás, tecnologia da informação, e couro e calçado definidos pelo SEBRAE. Essa es-
colha deriva dos segmentos aos quais a instituição recebe tradicionalmente maior de-
manda de apoio em conjunção com a oferta de dados e de soluções factíveis. Mapeamos
a partir do binômio tipo de atividade/estrutura de vendas a localização geográfica e
sociodemográficas da clientela corrente e potencial dos segmentos. O projeto disponi-
biliza um acervo detalhado de informações dos diversos fatores que contribuem para
o incremento da atividade microempresarial, enfatizando a importância do conheci-
mento, da definição correta do público-alvo e da estratégia de difusão. Isso passa pela
resposta a algumas perguntas básicas: a primeira é o que comercializar? Já que geral-
mente o pequeno empreendedor produz o que gosta, e não o que o mercado quer, mas
isso nos remete à questão de como fazer? Qual seria a combinação ótima de elementos
mercadológicos? Isso remete a decisões sobre preço, pontos de distribuição e formas de
difusão, e o peso de cada uma no conjunto final. A pergunta está também relacionada
a quem atender, ou seja, que público-alvo (ou segmento) focar e quando deveria a meta
ser perseguida considerando as tendências econômicas e demográficas, sazonalidades
ou até mesmo qual estágio do ciclo da vida das pessoas (adolescentes, terceira idade,
13
etc.), deve ser privilegiado nas ações de abertura de novos mercados. A pergunta se-
guinte é onde buscar a meta de incremento de demanda. Recorreremos à análise deta-
lhada do espaço, no qual heuristicamente a oferta e demanda se encontram, partindo
das localidades geográficas (estados,
municípios, região administrativa,
etc.) e chegando em outras unida-
des físicas (exterior, outros estados,
mesmo bairro, etc.), ou virtuais (te-
levendas, e-commerce). Finalmente,
devemos perguntar por que, isso é,
encarar o processo de produção e de
compra de bens e serviços como um
meio pelos quais firmas e consumi-
dores seguem para se chegar ao fim,
que é a satisfação final, ou o sonho
de consumo que o comprador almeja
alcançar.2
2 Por exemplo, algumas das principais firmas de telefonia móvel que anteriormente se chamavam de
Telefônica e ATL mudaram os seus nomes para Vivo e Claro, refletindo a mudança de perspectiva
da demanda do serviço de fim para meio de alcançar.
14. De maneira geral, o ponto de partida é a importância estratégica de ações de apoio merca-
dológico, a maior dificuldade percebida pelos microempresários do Brasil. Na confecção
deste trabalho processamos e reunimos, em primeira mão, diversas bases de microda-
dos. Essa base integrada oferece a oportunidade ímpar de estudarmos interações do pro-
grama com ações de apoio microempresarial e políticas públicas diversas, em particular
programas de transferência de renda, como o programa Bolsa-Família, aposentadorias e
pensões. Discutimos a possibilidade de arranjos complementares que visam a melhorar
a informação das empresas acerca dos seus clientes potenciais e como conseqüência ex-
pandir as vendas.
3. Plano do relatório
Além dessa introdução com os objetivos do projeto como um todo e das conclusões, o
trabalho está organizado em quatro capítulos centrais complementados por anexos téc-
nicos distribuídos da seguinte forma: no segundo capítulo detalhamos a metodologia
empírica adotada ao longo do trabalho, descrevendo cada base de dados e as técnicas
econométricas utilizadas. No terceiro capítulo oferecemos uma visão conceitual geral
sobre o consumo e o acesso ao mercado, em particular, analisando principais caracterís-
ticas e mecanismos utilizados. No capítulo quatro abrimos, a partir da Pesquisa de Or-
çamentos Familiares (POF), uma análise do mercado corrente dos setores, combinando
atributos pessoais, geográficos e de variáveis ligadas a percepções subjetivas dos indiví-
duos. No capítulo cinco traçamos com base na Pesquisa Nacional de Amostras a Domi-
cílio (PNAD), as principais tendências da população brasileira, funcionando como um
mapeamento do mercado de clientes potenciais, suas famílias e o ambiente social no qual
estão inseridos. No sexto capítulo analisamos em detalhe, a partir da Pesquisa Economia
Informal (Ecinf), o acesso a mercados pelas microempresas brasileiras com uma série
14
de estatísticas descritivas sobre como a oferta de bens e serviços dos diversos setores de
atividade chega aos consumidores e como os microempresários vêem esse trajeto. No
sétimo capítulo abordamos os elementos do mix de marketing das empresas.
16. 1. Descrição geral
A parte empírica da pesquisa consiste no processamento, consolidação, descrição e aná-
lise de um conjunto amplo de base de microdados e de informações secundárias, que
permitirão identificar quais seriam as principais carências e potenciais dos pequenos ne-
gócios no campo das vendas. Essas fontes permitirão analisar o comportamento da clien-
tela. Utilizaremos pesquisas específicas sobre micro e pequenas empresas combinadas
às pesquisas de orçamentos e de domicílios, combinando elementos de oferta e demanda.
Apontaremos ao fim do trabalho diversas outras direções complementares com base em
outras pesquisas domiciliares e de estabelecimentos.
O processamento de inúmeras bases de microdados permite conhecer detalhadamente
as características e as principais dificuldades que afetam o funcionamento das unida-
des produtivas de trabalhadores autônomos e empregadores com até cinco empregados
nos domicílios. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas
parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimentos formais e pela rede de arre-
cadação tributária oficial. Informações específicas sobre os empreendimentos e formas
de atuação serão investigadas, como, por exemplo, a composição/tipo da clientela (in-
cluindo órgãos governamentais); localização dos clientes (outros bairros, municípios,
estados, países); fixação de preços (se negociam, dados pela concorrência, custos); tipos
de vendas (a vista, a prazo); planos futuros; assistência recebida (técnica, jurídica, fi-
nanceira); demanda por assistência; apoio à comercialização; utilização de serviços de
informática, entre outras.
Pesquisas específicas permitirão analisar a estrutura da demanda por bens e serviços
utilizando os domicílios como unidades de análise. Possibilitam um conhecimento de-
talhado dos produtos adquiridos em cada unidade de consumo, além de quantidades
e preços, possibilitam cálculos da sensibilidade frente a políticas de preço ou cenários
16
externos de evolução de renda. É possível mapear, também, os locais utilizados para
aquisição dos produtos (ex: feiras, supermercados, quiosques, entre outros).
Grande acervo de bases de microdados permite a abertura espacial das informações
de empresas por tamanho e segmento de atuação e também completam o mapeamento
do público-alvo, por meio de diferentes características socioeconômicas. Bases espe-
cíficas permitirão captar diferentes indicadores de analise de mercado. Por exemplo,
suplementos especiais fornecerão referências sobre acesso a programas de transferên-
cia de renda o que pode potencializar o mercado de segmentos de baixa renda. Séries
atualizadas de microdados de estabelecimentos formais que possibilitam mapeamento
das unidades produtivas (concorrência) com abertura por bairro (e ruas). De maneira
geral, propomos realizar levantamentos estatísticos por meio da série de pesquisas
realizadas nos últimos dez anos, processadas individualmente e combinadas com ou-
tras bases de microdados.3 Essas informações serão tratadas pelas análises bivariadas
e multivariadas (i.e., tabulações e regressões), tanto para variáveis contínuas quanto
discretas.
3 É possível realizar combinações de microdados de diferentes bases. Por exemplo, combinar in-
formações georreferenciadas oriundas do censo demográfico com a de pesquisas orçamentárias
(vide Lanjouw e Lanjouw (2000).
17. O projeto dispõe de sistemas de provisão de informação interativos e amigáveis volta-
dos aos gestores dos programas de acesso a mercados e aos empresários, com produtos
em linguagem acessível e acompanhados de notas explicativas, tais como simuladores
de probabilidades desenvolvidos a partir dos modelos logísticos binomiais e multino-
miais e panoramas com informações univariadas e bivariadas, além de mapas e banco
de dados disponibilizados na internet, a fim de facilitar a navegação e o entendimento
dos usuários. Por exemplo, os exercícios diversos serão didatizados por esquemas e pop
ups explicativos. Mostraremos de forma pedagógica e seqüencial as diversas abordagens
empíricas que são na verdade extensões do mesmo tipo de análise. O trabalho busca
incrementar o uso de informações de acesso a mercado para o desenvolvimento das lo-
calidades, ao permitir a cada pessoa analisar a sua realidade a partir de uma perspectiva
local.
Visando facilitar o entendimento das metodologias que serão adotadas para a elaboração
dos produtos a serem gerados, detalham-se abaixo individualmente as bases de dados,
os procedimentos econométricos que serão aplicados e os sistemas de informações. O lei-
tor pode voltar para consultar os tópicos abaixo à medida que for transcorrendo a leitura
do trabalho ou operação do sítio do projeto.
2. Bases de dados
O conjunto amplo de microdados fornecerá uma análise de performance dos empreen-
dimentos, buscando mapear o acesso ao mercado no Brasil, tanto em nível de clientes
efetivos quanto de potenciais. Utilizaremos para isso microdados de diversas bases, em
particular:
17
• a Ecinf constitui a melhor base de microdados do lado microempresarial e de suas
atitudes em relação à demanda. É uma pesquisa que investiga as características de fun-
cionamento das unidades produtivas urbanas de trabalhadores autônomos e emprega-
dores com até cinco empregados nos domicílios. Destacamos aqui variáveis com estru-
tura do faturamento, dificuldades de acesso a mercado percebidas em face das demais,
localização física da clientela, entre outras. A vantagem é captar aquelas atividades
excluídas, ou que são apenas parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimen-
tos formais e pela rede de arrecadação tributária oficial.
• as pesquisas domiciliares tradicionais permitem a análise de um amplo conjunto de
atributos dos consumidores efetivos e potenciais e de suas famílias, além dos atributos
dos negócios e dos proprietários dos negócios, explorando as inter-relações entre o
lado pessoa física e jurídica do microempresário, o que pode orientar o mapeamento
de ações que visam a fomentar o acesso ao mercado. A principal fonte de dados do pre-
sente trabalho será a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) cuja finalidade princi-
pal será obter a estrutura de consumo da população. A Pesquisa Nacional de Amostras
a Domicílio (PNAD) permitirá análises mais atuais da evolução da renda.
Utilizaremos apenas as bases de microdados ressaltadas em itálico no esquema a seguir
e procuramos oferecer ao leitor uma visão geral das possibilidades empíricas e de análise
oferecidas pelo rico acervo de dados existentes no Brasil.
18. Mapa de bases de microdados
Pesquisas domiciliares Pesquisas de estabelecimentos
Mercado consumidor e Performance e estratégia de vendas
mapas sociodemográficos consumidor e informais e formais
empresários
POF (48 mil famílias) Ecinf (50 mil unidades)
Orçamentos dos consumidores 2003 Estabelecimentos e proprietários 1997 e 2003
Análise da decisão de gastos de consumo Elementos de estratégias de vendas
Tipos de produtos e pontos de venda Dificuldades e motivações empresariais
PNAD Estabelecimentos formais
Cross-section Anual 1992 a 2005 Pesquisas anuais e mensais comércio e indústria
Atributos do mercado consumidor: Pesquisa anual de serviços
lucro, duração e tamanho de empresa
Mapas estaduais detalhados
Mapeamento Mapeamento
Censo Cadastros de empresas
Mapas municipais detalhados Ministério do Trabalho
Monitoramento Mapeamento e Monitoramento
18
PME (36 mil domicílios por mês defasagem Emprego Caged
de 2 meses)
Mensal com defasagem de 2 meses
De modo geral, o Censo demográfico permite captar informações similares à PNAD,
mas com um detalhamento espacial em municípios e dentro deles. Assim como a PME
também permitiria trazer informações similares à PNAD, mas restritas as maiores áreas
metropolitanas para o ano corrente. Todas as bases supramencionadas têm a virtude de
captar a operação da economia informal, o que é particularmente relevante para a análi-
se em questão e podem ser complementadas por informações de mapeamento espacial e
monitoramento por registros administrativos de estabelecimentos formais.
Bases utilizadas
POF
O objetivo principal da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) é a atualização da cesta bási-
ca de consumo e obtenção de novas estruturas de ponderação para os índices de preços. Esses
dados podem ser utilizados também para traçar perfis de consumo das famílias pesquisadas e
atender a diversos interesses relacionados às áreas de estudos e de planejamento.
19. A primeira POF realizada pelo IBGE ocorreu em 1987-1988 e possui a mesma abrangência
geográfica da pesquisa realizada em 1995-1996, que compreendeu as Regiões Metropo-
litanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal e Município de Goiânia. Em 1996, contou com
uma amostra de 16.060 domicílios, nos quais foram obtidas as informações das despesas
realizadas durante distintos períodos de referência (sete, trinta, noventa dias ou seis me-
ses), cujas informações foram coletadas de outubro de 1995 a setembro de 1996.
Já em 2003, o IBGE voltou a campo e coletou informações de 48.470 domicílios. Além da
realização da pesquisa em todo território nacional, a nova POF, que está sendo utiliza-
da nesse trabalho, apresentou diferenças importantes em relação às anteriores, como a
inclusão de aquisições não-monetárias e opiniões das famílias sobre qualidade de vida.
O objetivo do uso da POF no presente estudo é traçar as características e o perfil de
consumo individual e familiar dos diferentes itens produzidos por setores aqui tratados
(incluindo total de gasto, formas e locais de compra).
Ecinf
Entre as bases externas a serem utilizadas, temos a pesquisa Economia Informal Urbana
(Ecinf) criada pelo IBGE a fim de captar informações que permitam conhecer o papel e a
dimensão do setor informal na economia brasileira, e que constitui a melhor base dispo-
nível de microdados do lado empresarial da economia subterrânea. É uma pesquisa que
procura identificar os trabalhadores por conta-própria e pequenos empregadores envolvi-
dos em negócios com cinco ou menos pessoas, com 10 anos ou mais de idade, ocupados
em atividades não-agrícolas, e moradores em áreas urbanas, nos domicílios em que eles
moram e por meio deles, visando investigar as características de funcionamento das uni-
dades produtivas. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas
parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimentos formais e pela rede de arreca-
dação tributária oficial. A Ecinf permite dar um mergulho no funcionamento da chamada
19
economia subterrânea, que fica tradicionalmente à margem das estatísticas oficiais.
O planejamento desta pesquisa iniciou-se em 1990 com os primeiros resultados dos Cen-
sos Econômicos de 1985. Em 1994 foi realizada uma pesquisa piloto no Município do Rio
de Janeiro. Porém, a pesquisa somente foi de fato implementada em 1997, abrangendo
todos os domicílios situados em áreas urbanas no Brasil. A Ecinf só voltou a ser realizada
novamente, então, em 2003, com o apoio do SEBRAE, incluindo informações mais deta-
lhadas sobre as características individuais dos proprietários.
Em 1997, a pesquisa coletou dados de 44.711 unidades econômicas distribuídas entre as
áreas urbanas de todas as unidades federativas e, em 2003, essa amostra foi de 54.595
domicílios selecionados. Portanto, a Ecinf consiste em uma pesquisa rica em dados e pos-
sui uma amostra suficientemente grande para gerar análises e inferências consistentes.
Além disso, é importante ressaltar que as pesquisas de 1997 e 2003 foram feitas na mes-
ma época do ano, o que elimina o risco de fatores sazonais interferirem no resultado.
A pesquisa adota um recorte urbano, não só metropolitano, mas por outro lado ela deixa
de cobrir as atividades não-agrícolas desenvolvidas por moradores de domicílios em áre-
as rurais. Tal procedimento é justificado não só pela heterogeneidade apresentada entre
os setores rurais e urbanos, como pela característica do negócio e pela própria exigência
do trabalho de campo. Parece fazer sentido restringir a Ecinf aos segmentos dos menores
produtores urbanos e deixar a análise do seu complemento para outras pesquisas de
20. campo, como o Censo Agrícola do IBGE.4 Eles permitem combinar perguntas referentes a
estabelecimentos e àquelas relativas às famílias. Permite obter as mais diversas informa-
ções sobre os micronegócios e o trabalho dos trabalhadores por conta-própria, tais como
tipos de gastos em investimentos, receitas, despesas, lucro médio, capital envolvido, área
de atuação, motivo da abertura do negócio, período do ano em que funciona, forma de
pagamento aceitas, número de clientes e funcionários, nível de formalização, entre mui-
tas outras. Enquanto outro questionário provê dados sobre características das pessoas
ocupadas nas microempresas, tais como sexo, idade, nível de instrução, vínculo empre-
gatício, ocupação, posição na ocupação, renda familiar, número de pessoas morando com
elas no mesmo domicílio, entre outras.
Entre as principais variáveis de interesse da Ecinf para essa pesquisa estão informa-
ções específicas sobre os empreendimentos e formas de atuação como composição/tipo
da clientela (incluindo órgãos governamentais); localização dos clientes (outros bairros,
municípios, estados, países); fixação de preços (se negociam, dados pela concorrência,
custos); tipos de vendas (a vista, a prazo); planos futuros; assistência recebida (técni-
ca, jurídica, financeira); demanda por assistência; apoio à comercialização; utilização
de serviços de informática. Esses atributos foram pesquisados em suplemento especial
co-desenhado e financiado pelo SEBRAE e desempenhará papel central neste trabalho.
As dimensões de pessoa jurídica da pesquisa incluem ainda elementos como receitas,
estrutura de custos, lucratividade, decisões de investimento, cumprimento da legislação,
sazonalidades operacionais, duração do negócio, etc.
PNAD
A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) é coletada anualmente pelo
IBGE desde 1976. A pesquisa abrange todo o Brasil, exceto as áreas rurais de Rondônia,
Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, e só não é realizada nos anos em que acontece
o Censo Demográfico, como 1980, 1991 e 2000 para evitar sobreposição. A partir de 1992,
20
a PNAD foi reformulada, o questionário foi aumentado e foram realizadas mudanças
conceituais, cujos impactos ainda não foram completamente definidos.
Com uma amostra probabilística de cerca de 100 mil famílias, a pesquisa contém in-
formações sobre diversas características demográficas e socioeconômicas da população.
Especificamente: (i) Características dos domicílios: localização, tipo e estrutura do domi-
cílio, número de cômodos e dormitórios, condição de ocupação, acesso a serviços e bens
duráveis; (ii) Características dos indivíduos: sexo, idade, religião, cor, raça, nacionalidade
e naturalidade; (iii) Características das famílias: composição da família e relação de pa-
rentesco; (iv) Características educacionais: alfabetização, escolaridade e nível de instru-
ção, espécie de cursos; 5) Características da mão-de-obra: ocupação, posição na ocupa-
ção, ramo de atividade, carteira de trabalho, horas trabalhadas, rendimento, contribuição
previdenciária, procura de trabalho e trabalho anterior.
O objetivo do uso da PNAD neste estudo é duplo. Em primeiro lugar, permite uma vi-
são mais abrangente do perfil dos empresários, incluindo aqueles com mais de cinco
empregados que não fazem parte do universo da Ecinf; em segundo, permite analisar a
evolução da renda e da composição dos diferentes grupos populacionais.
4
Não são consideradas pessoas ligadas a atividades criminosas, circunscrevendo a análise ao
espectro de práticas econômicas “socialmente aceitas”.
21. Outras bases de dados (passíveis de extensões futuras)
PME
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) implantou a Pesquisa Mensal de
Emprego (PME) em 1980. A PME é uma pesquisa de periodicidade mensal sobre mão-de-
obra e rendimento do trabalho, e inclui as seis principais áreas metropolitanas do Brasil:
Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
A PME é uma pesquisa em painel e replica o esquema de amostragem da US Current Po-
pulation Survey (CPS), visando a coletar informações do mesmo domicílio por oito vezes
durante um período de 16 meses. É realizada em bases rotativas por meio de entrevistas
mensais às famílias durante quatro meses consecutivos, retirando-as da amostra durante
oito meses e em seguida as entrevistando novamente nos quatro últimos meses. Entre
4.500 a 7.500 famílias são entrevistadas por mês em cada uma das seis áreas metropolita-
nas, somando, ao todo, aproximadamente 35.000 famílias. Em agosto de 1988, o tamanho
da amostra foi reduzido para aproximadamente 30.000 famílias por mês. O aspecto longi-
tudinal da PME – acompanhamento das mesmas pessoas ao longo do tempo – permitiria
analisar o risco individual ocupacional e de renda, bem como a probabilidade de cresci-
mento e de formalização dos negócios. Desde a implantação da PME, ocorreram modifica-
ções na pesquisa, com o objetivo de melhor captar as características da população em idade
ativa e sua inserção no sistema produtivo. Os temas tornaram-se mais amplos, englobando
os efeitos conjunturais e as transformações do mercado de trabalho. Contudo, as questões
gerais de demografia e de trabalho são as mesmas desde fevereiro de 1982.
A disponibilidade de informações mensais construídas a partir da Pesquisa Mensal do
Emprego (PME) nos permite trabalhar com médias anuais, o que evita problemas de
sazonalidade, além de permitir uma análise detalhada da dinâmica do processo. A prin-
cipal restrição da PME, que está na abrangência do conceito de renda utilizado, uma
21
vez que trabalha apenas com a renda proveniente do trabalho, não nos atrapalha tanto,
na medida em que a renda do trabalho representa o lucro dos trabalhadores por conta-
própria e empregadores.
A PME, assim como a PNAD, permite analisar a evolução da renda e da composição dos
grupos populacionais, com a vantagem de realização mensal, tornando-se importante
instrumento de monitoramento.
Censo demográfico
O Censo demográfico é uma pesquisa domiciliar que acontece de dez em dez anos e pro-
cura entrevistar 10% da população brasileira em todo o território nacional. O Censo deta-
lha características pessoais e ocupacionais de todos os membros dos domicílios e possui
informações detalhadas sobre fontes de renda, acesso à moradia, serviços públicos e bens
duráveis, entre outros. A pesquisa é restrita aos domicílios ocupados e tem como grande
vantagem à possibilidade de abertura municipal e infra-municipal das informações.
O Censo permite analisar as tendências de longo prazo da população e da renda. O
desenho amostral adotado compreende a seleção sistemática e com eqüiprobabilidade,
dentro de cada setor censitário, de uma amostra dos domicílios particulares e das famí-
lias ou componentes de grupos conviventes recenseados em domicílios coletivos, com
fração amostral constante para setores de um mesmo município. A coleta de dados do
22. Censo 2000 foi realizada no período de 1º de agosto a 30 de novembro de 2000, abrangen-
do 215.811 setores censitários, que constituem as menores unidades territoriais da base
operacional do censo. A operação censitária pesquisou 54.265.618 domicílios nos 5.507
municípios existentes no ano 2000, em todas as 27 Unidades da Federação.
Todas as bases supramencionadas têm a virtude de captar a operação da economia infor-
mal, o que é particularmente relevante para a análise em questão.
Estabelecimentos formais
Pesquisa Anual do Comércio (PAC) − principal fonte de dados sobre a estrutura e o
funcionamento do setor comercial, a série da PAC teve início em 1988, com o objetivo de
fornecer informações anuais sobre o setor de comércio nos períodos intercensitários.
Descrever as características estruturais básicas do segmento empresarial do comércio
atacadista e varejista no Brasil e suas transformações no tempo. Apresenta informações
econômico-financeiras das empresas de comércio atacadista e varejista do país, abran-
gendo, entre outros aspectos, dados sobre receitas, pessoal ocupado, salários, retiradas e
outras remunerações, compras, estoques, formas e margem de comercialização.
Dividido em duas partes, apresentam informações do total das empresas comerciais e
das empresas com vinte ou mais pessoas ocupadas. Tem como referência a Classificação
Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o cadastro básico de seleção é o Ca-
dastro Central de Empresas – Cempre
Pesquisa mensal de comércio – a partir de janeiro de 2001 apresenta tabelas com séries
de indicadores, nominal e de volume, construídos com base na variável receita bruta de
revenda, investigada nas empresas cuja receita bruta provenha predominantemente da
atividade comercial varejista.
22
Pesquisa Anual de Serviços (PAS) – a PAS representa a principal fonte de dados sobre
a estrutura e o funcionamento dos serviços empresariais não-financeiros, com detalha-
mento regional, fornecendo informações relevantes para os planejamentos público e pri-
vado.
A pesquisa, cuja série iniciou-se em 1998, apresenta informações sobre a situação econô-
mico-financeira das empresas, como receitas, valor bruto da produção, valor adicionado,
custos e despesas, pessoal ocupado e gastos com pessoal, entre outras, apresentadas para
segmentos selecionados do setor produtor de serviços empresariais não-financeiros do
país, com destaque para as empresas com vinte ou mais pessoas ocupadas. Esses seg-
mentos abrangem os grupos de atividades ligadas aos serviços prestados às famílias;
serviços de informação; serviços prestados às empresas; transportes, serviços auxiliares
dos transportes e correio; atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis;
serviços de manutenção e reparação; e outros serviços.
Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o
cadastro básico de seleção é o Cadastro Central de Empresas – Cempre
Pesquisa Industrial Anual (PIA) – a pesquisa constitui-se na mais completa fonte de
dados estatísticos sobre o setor industrial brasileiro e reúne informações econômico-fi-
nanceiras sobre esse setor, abrangendo, entre outros aspectos, dados sobre pessoal ocu-
23. pado, salários, retiradas e outras remunerações, receitas, custos e despesas, e valor da
produção e da transformação industrial.
A série da PIA teve início em 1966 e apresentou até 1995 resultados em anos intercen-
sitários. O desenho da pesquisa leva em conta a concentração da atividade produtiva
nos segmentos de maior porte, incluindo na amostra todas as empresas industriais com
trinta ou mais pessoas ocupadas.
Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o
cadastro básico de seleção é o Cadastro Central de Empresas – Cempre
Pesquisa industrial mensal – apresenta tabelas com indicadores de curto prazo rela-
tivos ao comportamento do emprego, dos salários e do valor da produção, tendo como
unidade de coleta os estabelecimentos industriais selecionados por amostragem proba-
bilística. Os resultados são divulgados para o Brasil, regiões Nordeste e Sul e os estados
de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Mapeamento e monitoramento
O CEE – Os Cadastros de Estabelecimentos e Empregados permitem mapear os empre-
endimentos criados em diferentes setores da economia local. O CEE/MTE é formado
a partir dos seguintes cadastros: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE),
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/MTE), Cadastro Específico
do INSS (CEI/MTE), Sistema Federal de Inspeção do Trabalho (SFIT/MTE), Sistema de
Acompanhamento Estatístico e Gerencial do Seguro Desemprego (SAEG/MTE) e Cadas-
tro Nacional da Pessoa Jurídica, do Ministério da Fazenda (CNPJ/MF).
O Cempre – Reúne o registro de informações referentes ao total das atividades pratica-
das por cada entidade legal e em cada um de seus endereços de atuação. As unidades do
23
cadastro são aquelas formalmente constituídas, inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica – CNPJ, sendo suas informações organizadas segundo níveis de detalhamento da
Classificação Nacional das Atividades Econômicas – CNAE. A atualização é feita a partir
de registros administrativos, como a Relação Anual de Informações Sociais – Rais – e das
pesquisas anuais do IBGE nas áreas de Indústria, Comércio, Construção e Serviços.
Caged – O Caged nos permite identificar as características da evolução e dos problemas
de demanda e oferta de mão-de-obra local. Consiste em um registro permanente de ad-
missões e desligamentos de empregados sob o regime da CLT.
Foi criado pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 4.923/65, que instituiu o registro
permanente de admissões e dispensa de empregados.
Os dados estatísticos são apresentados por setor e subsetor de atividade econômica,
em nível geográfico, permitindo que se visualize a movimentação de um município
com sua respectiva microrregião ou Unidade da Federação e, em nível setorial.
Por se tratar de registro administrativo, há que se ressaltar a possibilidade de erro nas
informações referentes aos municípios menores, onde a orientação aos declarantes é
mais precária.
24. A Rais – Relação Anual de Informações Sociais é um registro administrativo de âmbito
nacional, com periodicidade anual, obrigatória para todos os estabelecimentos, inclusive
aqueles sem ocorrência de vínculos empregatícios no exercício, tendo esse tipo de decla-
ração à denominação de Rais Negativa.
Criada para fins estatísticos e administrativos, a Rais registra grande quantidade de in-
formações necessárias ao processo administrativo (viabilização do pagamento do abo-
no salarial, por exemplo) e possibilita, também, tabulações estatísticas de fundamental
importância para o acompanhamento e para a caracterização do mercado de trabalho
formal. Ao contrário das pesquisas domiciliares, nas quais a coleta tem objetivos especi-
ficamente estatísticos, na Rais os produtos estatísticos ocorrem no curso de uma função
administrativa.
O universo abrangido atualmente é de aproximadamente 2 milhões de estabelecimentos
com vínculos empregatícios, contemplando cerca de 19 milhões de empregos celetistas e
5 milhões de estatutários.
Sistema de contas nacionais
Possuem periodicidade anual e permitem analisar a forma como o setor institucional
participa da geração, apropriação, distribuição e uso da renda nacional e da acumulação
de ativos não-financeiros, como também evidenciam as relações entre a economia nacio-
nal e o resto do mundo.
As informações apresentadas mostram os fluxos de oferta e demanda dos bens e serviços
e, também, a geração da renda e do emprego em cada atividade econômica. Oferecem
uma visão de conjunto da economia e descrevem os fenômenos essenciais que consti-
tuem a vida econômica: produção, consumo e acumulação, fornecendo ainda uma repre-
sentação compreensível e simplificada, porém completa, desse conjunto de fenômenos e
24
das suas inter-relações.
Matriz insumo-produto
As matrizes de insumo-produto são elaboradas a partir dos dados das Contas Nacionais
do Brasil. As tabelas da matriz de insumo-produto estão classificadas em três grupos:
• Recursos e usos de bens e serviços. Neste grupo estão as tabelas, em valor, contendo
as seguintes informações: oferta de bens e serviços, produção as atividades e impor-
tações;
• Consumo intermediário das atividades, demanda final e componentes do valor adicio-
nado;
• Dados para passagem das contas nacionais para a matriz de insumo-produto: compre-
ende as transformações de cada vetor componente da oferta, a preço de consumidor,
em uma matriz. Permitem construir uma tabela de insumo-produto, a preço básico,
essencial para a preparação da matriz de insumo-produto;
• Coeficientes técnicos da matriz de insumo-produto: abrange as tabelas de coeficientes
técnicos da matriz de insumo-produto.
25. 3. Técnicas utilizadas
Análises univariadas e bivariadas
O objetivo da análise univariadas e bivariadas é traçar um perfil descritivo de diferentes
grupos de consumidores, assim como dos empreendedores, formais e informais, e de
suas empresas em relação aos principais atributos pessoais, como sexo, raça, idade, esco-
laridade, etc, e de variáveis relativas aos estabelecimentos como setor de atividade, local
de funcionamento, número de empregados, entre outros.
A análise univariada apenas descreve a extensão ou importância de cada variável, in-
formando, por exemplo, qual fração da população tem despesa com turismo, ou qual a
porcentagem de pessoas sem instrução na população.
A análise bivariada, por sua vez, envolve o cruzamento de duas variáveis, mostrando
como se dá a distribuição de uma variável por cada segmento. Informa-nos, por exem-
plo, qual a fração das pessoas que tem condições de moradia ruins e tem despesas com
turismo, ou qual o gasto médio dos indivíduos com mais de 70 anos de idade. Entre-
tanto, a análise bivariada retrata o papel de cada atributo tomado isoladamente, isso é,
desconsiderando-se possíveis e prováveis inter-relações entre as variáveis explicativas.
Por exemplo, o fato de que negócios realizados fora do domicílio (oficinas, lojas, etc)
apresentam maior faturamento não quer necessariamente dizer que o lugar dos negócios
determina o desempenho, uma vez que negócios realizados fora do domicílio em lugar
próprio tendem a pertencer a indivíduos mais educados e com maior renda, e possivel-
mente são essas variáveis que podem estar determinando o sucesso.
Para uma descrição completa das estatísticas univariadas e bivariadas relativas a este
trabalho, basta acessar os diversos panoramas presentes no site da pesquisa.
25
Análises multivariadas
Já a análise multivariada procurará dar conta dessas inter-relações por meio da análise
de regressões de diversas variáveis explicativas tomadas conjuntamente, com o objetivo
de se isolar o efeito de cada variável. Continuando o exemplo anterior, a análise multiva-
riada nos permite distinguir se o que determina o faturamento é o local do negócio ou
outro atributo como educação, mediante comparações de indivíduos iguais em tudo que
é observável (escolaridade, renda, etc.), exceto o local de negócios.
A análise multivariada desempenhará um papel fundamental neste estudo permitindo
isolar as diversas instâncias de atuação das ações. A análise multivariada consiste no
desenho de regressões, que envolve a escolha de uma variável a ser explicada, uma ou
mais variáveis explicativas de interesse, e algumas variáveis de controle, apenas para
tirar o possível efeito dessas variáveis e nos permitir comparar indivíduos iguais naque-
las características em questão. Esses exercícios de regressão nos dirão se existe alguma
correlação entre as variáveis explicativas e a variável explicada, se essa correlação é sig-
nificativa estatisticamente, se a correlação é positiva ou negativa e sua magnitude.
Depois de determinar quais são as variáveis a serem analisadas nas regressões, surge
o desafio de “desenhar as regressões”, ou seja, determinar que fatores testaremos como
explicativos das variações dos fatores estudados.
26. Para uma descrição completa dos exercícios multivariados realizados neste trabalho bas-
ta, acessar os simuladores presentes no site da pesquisa.
Regressão logística
Essa técnica permite analisar as chances de ocorrência de um determinado evento para
um indivíduo com iguais atributos, exceto um. Por exemplo, pode-se comparar as chan-
ces de indivíduos com o mesmo sexo, idade, anos de estudo, exceto a renda, de possuírem
gastos com artigos têxteis. A regressão logística permite estimar as probabilidades de
ocorrência de um evento dado a um conjunto de características observáveis.
Regressão de mínimos quadráticos ordinários
Trabalhamos com uma análise da correlação entre renda/despesa por meio de uma re-
gressão em variável contínua que permite comparar indivíduos que são iguais em uma
série de atributos observáveis menos a variável estudada. Por exemplo, a equação de
despesa permite estudar o papel de cada determinante dos níveis consumo de diferentes
tipos de indivíduos na economia.
4. Apresentação dos resultados
Sistemas de informação para subsidiar a decisão de gestores
Serão desenvolvidos sistemas de informações, interativos e amigáveis para subsidiar a
tomada de decisão de gestores do SEBRAE. Alguns desses instrumentos poderão ser
adaptados como material didático para os microempreendedores, como por exemplo:
26
Simuladores
Um sistema de simuladores de probabilidades foi desenvolvido a partir de modelos mul-
tivariados aplicados a variáveis de interesse contínuas (ex: faturamento do negócio) ou
discretas (eg. probabilidade de atuar em mercados internacionais) controlado por atribu-
tos individuais e geográficos derivados de microdados. Os resultados estimados permi-
tem identificar, por exemplo, vários fatores relativos ao acesso a mercados externos e seus
impactos. Uma vez encontrados, todos esses fatores são sintetizamos num único indica-
tivo de probabilidade. Esse exercício permite aos gestores do programa, de forma amigá-
vel e interativa, calcular a probabilidade de um indivíduo, dadas as suas características
sociodemográficas, geográficas e econômicas, ter acesso a mercado internacional.
Panoramas
O panorama permite obter uma visão bastante ampla de indicadores diversos cruzados
com características gerais da população (demográficas, socioeconômicas e espaciais).
Com ele é possível medir, por exemplo, a probabilidade de ter ou não despesas com turis-
mo, em diferentes grupos, de forma simples e direta. Esse instrumento otimiza e facilita
a consulta, o processamento e a análise dos dados processados neste estudo.
27. 5. Elementos da análise empírica
O objetivo geral do diagnóstico empírico aqui discutido é subsidiar a aplicação de ações
de incremento da inserção de mercado das atividades microempresariais. Em particular,
enfatizamos a análise dos recursos de pequenos empresários e empreendemos em estu-
do de caso dos microempresários de segmentos selecionados. Constatamos, por exemplo,
que mais forte do que a escassez de capacidade de oferta medida por meio da posse de
recursos como capital físico, crédito, tecnologia, é a dificuldade de vendas. Nesse sentido
o universo aqui analisado constitui um laboratório privilegiado acerca dos constran-
gimentos e carências que devem ser combatidos pela ação privada e de suas possíveis
interações com políticas públicas.
Na escolha de um elenco de políticas incentivadoras das atividades nanoempresariais,
deve avaliar a efetividade da restrição de escassez dos diversos tipos de recursos en-
frentada pelos microempresários – aqui estamos mais especificamente interessados na
aplicação de políticas de acesso ao mercado.
No caso de políticas nanoempresariais, é fundamental identificar não só o potencial ge-
rador da estruturação de um conjunto de ativos e passivos como a taxa de penetração nos
mercados finais. Outro elemento fundamental para a determinação do potencial de cres-
cimento das unidades é integrar a alocação de recursos pelas famílias para o consumo,
para compras por parte de outras firmas, governo e setor externo, e decisões mercadoló-
gicas no interior das pequenas firmas. A sobreposição dessas duas facetas implica enten-
dimento da estrutura e funcionamento dessas empresas, devendo-se levar em conta as
características dos consumidores finais.
Taxonomia de efeitos
27
Discutimos aqui brevemente como construir uma ligação entre resultados empíricos ge-
rados e medidas que busquem a expansão do mercado das empresas assistidas.
Diagrama –TIPOS E ESFERAS DE AÇÕES NA ANÁLISE EMPÍRICA
TIPOS DE AÇÔES
DISTRIBUIÇÂO/ MONITORAMENTO DEFINIÇÃO DE
COMUNICAÇÂO DO MERCADO PREÇOS E
PRODUTOS
CONTEXTO
ACESSO A
ECONÔMICO
MERCADO
ESFERAS DAS AÇÕES
POR ATRIBUTOS DOS POR SETORES E POR CARACTERíSTICAS
CONSUMIDORES LOCALIDADES DO NEGÓCIO
28. Geralmente, existem dois grupos de políticas para o aumento das vendas, as estruturais
e as operacionais. No grupo de medidas estruturais figuram, por exemplo, as mudanças
nos produtos de função de inovações tecnológicas e mercadológicas. Entre as medidas
operacionais, encontramos ações na área de comunicação, tais como propaganda. Em
ambos os casos, a análise dos fatores correlacionados com o acesso a mercado pode ser
de extrema valia na escolha do foco de medidas, sejam elas operacionais ou estruturais.
Em termos relativos à comunicação, a identificação das características dos demandantes
pessoas física e/ou jurídica, formais ou informais é fundamental para orientar as ações.
A diversidade setorial é fundamental e deve acompanhar a evolução de variáveis tais
como pontos de venda, e preços por setor de atividade em diferentes níveis de agre-
gação. Além disso, temos também ações regionais, cujo foco está na distribuição espa-
cial da demanda reprimida por bens e serviços em nível regional, estadual, municipal e
abaixo deste para nortear os esforços de colocação da produção no mercado. O que nos
propomos fazer na parte empírica do trabalho é estudar a clientela passada, corrente e
potencial das empresas em setores específicos, a fim de subsidiar o direcionamento de
estratégias de acesso ao mercado.
28
30. 1. Fundações teóricas
O objetivo é fazer uma breve descrição coerente do comportamento do indivíduo, com base
nas suposições usuais de racionalidade humana, podendo contar com uma grande varieda-
de de evidências empíricas, incluindo a evidência de comportamentos agregados e de com-
portamentos individuais. Os fundamentos teóricos têm sido uma preocupação secundária
comparada com a preocupação de agregação dos dados e de prever corretamente usando
modelos agregados. Enquanto podemos esperar que o entendimento da racionalidade do
consumidor possa nos levar a boas previsões, a procura por fundamentos coerentes pode
não ser a forma mais direta de se descobrir regularidades empíricas importantes.
A decisão de quanto consumir em geral é a decisão de se gastar dinheiro agora em opo-
sição a retê-lo para financiar consumo futuro, seja para alguma razão específica ou para
alguma contingência futura não especificada. Dessa forma, a base apropriada para a
teoria do consumo agregado de todos os bens e serviços, vistos de forma conjunta, é a te-
oria da escolha intertemporal, que analisa os dilemas (trade-offs) entre o consumo futuro
ou presente. A versão mais simples possível dessa abordagem é aquela encontrada nos
livros-textos de microeconomia, nos quais o consumidor, morando em um mundo com
apenas dois períodos e sem incerteza, escolhe quanto gastar amanhã. É uma elaboração
de dois períodos de um ponto básico a partir do qual eu vou adicionando paulatinamen-
te um maior nível de complexidade. Mostramos esse material básico e como este pode
ser estendido para modelar a decisão de consumo ao longo do ciclo de vida. Esse modelo
oferece uma moldura teórica básica para a discussão da decisão de gasto de consumo.
No caso mais simples possível, existe um único agente que tem suas preferências defi-
nidas de como consumir nos períodos 1 e 2. Como sempre os gostos são representados
por uma função utilidade: u = v(c1, c2), o qual o consumidor maximiza sujeito às opor-
tunidades disponíveis. Existe um único ativo, o qual o consumidor possui na quantidade
30
A1. No começo do período1, e que aufere uma taxa de juros r2 nos investimentos feitos
entre os períodos 1 e 2. O consumidor pode tomar emprestado ou emprestar o quanto
quiser, porém assume-se que o mundo acabaria após o período 2 e que o consumidor
não pode estar em débito no final do mundo. Se também nos abstrairmos de heranças e
assumirmos que o nosso agente representativo sempre preferirá consumir mais do que
menos, então os ativos serão zero no final do período 2. O consumidor também recebe
uma renda do trabalho y1 e y2 em cada um dos períodos, separadamente de qualquer
fluxo de renda (positivo ou negativo) ganho com o ativo. O acúmulo de ativos evolui de
um período para outro de acordo com: A2 = (1 + r2)(A1 + y1 - c1).
Muitos períodos e o ciclo da vida
A idéia básica do modelo do ciclo da vida é lançar mão da idéia de alocação intertem-
poral para explicar a trajetória do consumo individual com a idade. A teoria estende-se
desde dois períodos, hoje versus amanhã, a um modelo com muitos períodos e idades,
com os consumidores escolhendo quanto (e quando) gastar seus recursos durante o seu
tempo de vida. No modelo do segundo período, o consumo é financiado pelos bens her-
dados e consumidores usam o mercado de capitais para traduzir a trajetória da renda e
dos ativos em termos de uma trajetória desejada de consumo. O processo de escolha é
governado pelo conjunto das preferências intertemporais, que de uma forma geral, pode
ser escrita da seguinte forma: u = V(c1, c2, c3, ..., cT), em que o período de 1 a T correspon-
de aos anos de vida do nosso agente representativo, assim cada nível de consumo anual
31. é escolhido pelo consumidor, de modo que complete o espaço vazio na função utilidade
do ciclo da vida.
As preferências representadas pela função utilidade do ciclo da vida permitem uma ili-
mitada relação de complementaridade e substutabilidade entre nível de consumo em
diferentes períodos que dificultam a realização de proposições mais gerais a partir da
teoria. Iremos discutir vários casos especiais neste relatório, mas irei me debruçar de
forma mais extensa sobre o caso de preferências intertemporalmente aditivas (ou forte-
mente intertemporalmente separáveis), que tem a seguinte forma: u = v1(c1) + v2(c2) +
...+ vT(cT), em que as funções felicidade v1(c1) são crescentes e côncavas. Com ou sem se-
parabilidade, a utilidade é maximizada sujeita à restrição orçamentária ao longo da vida
que é a óbvia generalização de (3).Note que estou usando uma taxa real de juros fixa a
longo prazo para evitar uma notação um pouco mais complicada com fatores múltiplos
descontados, e que, por um momento, estou trabalhando em um ambiente imaginário
onde não existe incerteza.
O consumo acompanha a renda?
A evidência do perfil etário do consumo torna difícil de acreditarmos que a relação entre
poupança e crescimento seja uma conseqüência do fato de que os jovens poupam agora para
não poupar no futuro. Mais importante, o perfil do consumo para diferentes proporções de
economias em crescimento não é consistente com as hipóteses básicas de qual consumo, que
é determinado pelos recursos totais acumulados ao longo do tempo de vida dos agentes. Mas
somente isso não indica que as hipóteses do ciclo de vida devam ser rejeitadas. Entre países,
a variação dos gostos pode ser admitida, e outras explicações são buscadas para a relação
entre poupança e crescimento. Carroll e Summers (1991) utilizam dados das Pesquisas de
Gasto em Consumo nos Estados Unidos de 1960-1 e 1972-3 para desenhar idades-perfil de
consumo e renda para cinco grupos educacionais e nove grupos ocupacionais. Os mode-
los diferem marcadamente de um grupo para outro, embora, eles estejam muito mais está-
31
veis no decorrer tempo, e cada caso de perfil−consumo está próximo do caso perfil−renda.
Aqueles que estão nos grupos educacional ou ocupacional nos quais a renda atinge o topo
por volta dos cinqüenta anos têm trajetória do consumo que também atinge o topo tarde,
enquanto aqueles com pouca educação e sem trabalho especializado têm perfis de renda e
consumo que atingem o topo cedo, que são baixos, ou que caem com a idade. Browning, De-
aton e Irish (1985), usando dados britânicos, também acham que os perfis−consumo e renda
estão sincronizados no ciclo da vida, ambos para trabalhadores manuais ou não. No Painel
de Estudos de Dinâmicas da Renda de Michigan (PSID), Lawrence (1991) encontra que o
consumo de alimentos das famílias mais pobres cresce menos rapidamente com a idade do
que o consumo de alimentos feito pelas famílias mais ricas, um resultado que ela interpreta
mostrando que a taxa de tempo−preferência está relacionada inversamente à renda. Mas
as famílias mais pobres e menos educadas também têm suas rendas crescendo menos ra-
pidamente, assim, mais uma vez, a evidência é consistente com o consumo seguindo a ren-
da no ciclo da vida. Essas descobertas sugerem uma associação muito mais próxima entre
consumo e renda, que poderia ser pensada como incompatível com as hipóteses do ciclo da
vida. Enquanto está claro que uma relação simples entre consumo e renda não é uma boa
alternativa, como o consumo é muito mais suave que a renda, esses resultados sugerem que
vale a pena, considerando com cuidado as hipóteses adotadas, relacionar consumo e renda
em períodos menores do que o ciclos de vida completos.
Um caminho é olhar para fatores que condicionam preferências e que estão correlacionados
com as rendas do trabalho no ciclo da vida. Filhos são uma possibilidade, e tamanho de
32. família e os gastos, que vão juntos tender a atingir o pico no meio ou depois da meia-idade
em volta do mesmo tempo que a renda da família atinge o pico. Sendo um tanto mais enfá-
tico, as preferências seriam diretamente afetadas pela renda, se renda e estilos de vida vêm
com tipos de trabalho particulares. Modelos precaucionais e formação de hábito discutidos
iriam da mesma forma reconciliando a teoria com a evidência, desde que ambos tendam
a baixar o consumo cedo na vida, quando a renda também é baixa. Taxas de juros teriam
uma regra similar, e se os retornos reais são maiores em economias que crescem mais rápi-
do, haveria uma explicação parcial do porquê consumo em economias que crescem rápido
não mais fortemente favorecem o jovem. Algumas dessas hipóteses têm problema nelas
mesmas, e nenhuma tem recurso simples do vínculo direto entre consumo e renda que é
característico da evidência empírica disponível. Contudo, mais pesquisa será necessária
antes de termos uma evidência mais decisiva que discriminaria claramente essas hipóteses
uma da outra, ou de fato coerentemente invalida as hipóteses do ciclo da vida.
Perfis do consumo ao longo da vida
Choques de gostos
Suponha que a variação com idade das funções vt(ct) pode ser capturada escrevendo-se:
v t(ct) = (1 + r) v(ct, zt),
em que zt são variáveis que afetam o desejo de consumo em diferentes pontos do ciclo
da vida, ou seja, capta mudança de gostos estrutura demográfica doméstica sendo tal-
vez mais óbvia. É a taxa de preferência no tempo. Se a variável zt não muda, a condição
de primeira ordem fica:
v (ct,zt) = 1 + ∂
1+r
32
uma equação em que se tem um número de implicações.
Primeiro, note o tamanho da “mudança de gostos” zt. Suponha que r = ∂, então o lado
direito de (9) é constante. Se existem períodos particulares no ciclo da vida no qual as
variáveis zt fazem a utilidade marginal do consumo subir, então, sendo a função utilida-
de marginal decrescente no primeiro argumento, o consumo no período deve subir. Essa
simples história produz uma razoável explicação para o número de fenômenos do ciclo
da vida. Quando existem mais pessoas na família, a utilidade marginal de gasto adicional
vai ser alto, então o consumo doméstico ao longo do ciclo da vida teria a mesma forma da
estrutura do domicílio ao longo do ciclo de vida, aumentando inicialmente com a idade
média do chefe do domicílio e decrescendo depois. Nesse contexto, o baixo consumo dos
idosos pode ser atribuído ao fato da utilidade marginal dos gastos serem baixos em ida-
des mais avançadas, veja, por exemplo, Börsch-Supan e Stahl (1991). Pode ser também o
caso de que o consumo e o lazer sejam substitutos, então, mesmo que estejam corretas as
suposições usuais de que horas trabalhadas sejam dadas exogenamente, a utilidade mar-
ginal do consumo será alta quando as horas de trabalho forem maiores. Essa é outra razão
do consumo ser alto na idade média, veja Thurow (1969) e Heckman (1974).
A segunda implicação de (9) afeta a reação do comportamento do consumo em resposta
à taxa de juros real. Note primeiramente que se zt é constante, o consumo irá crescer ou
declinar com a idade dependendo de se a taxa de juros real é maior ou menor que a taxa
de preferência temporal dos agentes.
33. Consumo e a taxa de juros
A maximização da função utilidade sujeita a restrição orçamentária é o problema básico
a ser abordado. Dado que essa é a forma usual de análise da demanda do consumidor, a
maximização da utilidade sujeita a uma restrição orçamentária linear com parâmetros
de preços, podemos conduzir todos os aparatos usuais da teoria de escolha do consumi-
dor. Em particular, o fator desconto (1 + r2) é o preço do consumo futuro relativo ao con-
sumo presente. Assim os efeitos dos ativos, da renda e dos preços podem ser analisados
usando as ferramentas usuais da teoria do consumidor.
Dessa teoria do consumidor frisamos os resultados abaixo para referência futura:
(i) um aumento na taxa de juros r2: (a) barateia o consumo futuro em relação ao preço do
consumo corrente, o efeito substituição; (b) permite mais consumo no segundo período,
com o mesmo total de recursos e sem cortar o consumo do primeiro período, o efeito
renda, e (c) se y2 for positivo, reduz o valor presente da renda do trabalho auferida ao
longo do horizonte de planejamento do agente, o efeito riqueza. Os efeitos (a) e (c) agem
de modo a cortar o consumo corrente, enquanto (b) trabalha no sentido oposto em vez do
consumo total de mercadorias em conjunto com o serviço. Isso mostra que é implausível
o efeito substituição, podendo ser muito grande, mas em alguns casos, a direção do efeito
do consumo na renda não prejudica a ação da teoria. Por exemplo, isso é o mais simples
exercício para mostrar que a direção do efeito da renda sobre o consumo corrente depen-
de do tamanho do parâmetro.
O efeito na taxa de juros na poupança tem sido sempre uma questão central de política
econômica. A teoria dificilmente sugere uma resposta definitiva a essa questão, de modo
que a resposta se torne uma questão empírica.
(ii) Os impactos de aumentos na renda corrente sobre o consumo, agora ou no futuro,
33
dependem de como a renda futura está relacionada com a renda corrente
Conseqüências mais sérias seguem do reconhecimento de que rendas do trabalho não
são constantes por toda vida de trabalho. Mesmo em ocupações nos quais existem pouco
treinamento, e em que produtividade depende mais da força bruta do que do cérebro.
As rendas tipicamente começam em níveis baixos, aumentando com a idade antes de um
eventual declínio. Em outras palavras, sempre existem alguns períodos de crescimento
de renda no começo do ciclo da vida. Conseqüentemente, se o consumo é constante ao
longo da vida, é possível que consumidores jovens queiram “emprestar” e não poupar,
no início de suas carreiras, especialmente se eles estão em ocupações nas quais a educa-
ção e o treinamento são realizados por longos períodos.
Claro que a taxas de juros positivas, o motivo precaucional, as restrições ao crédito (res-
trições por liquidez), ou os efeitos de defasagem de hábitos podem atuar no sentido de
reter o consumo corrente, então, pessoas jovens com rendas em formato de U-invertido
podem não querer tomar empréstimos, ou não ter como tomar empréstimos. O cresci-
mento rápido da população, se mantido, não só aumenta a razão do número de traba-
lhadores em relação ao do número de aposentados, como também aumenta a razão do
número de crianças em relação ao do número de trabalhadores, assim, o efeito líquido na
poupança não é necessariamente positivo, nem existe nenhuma ligação simples entre os
efeitos da população e do crescimento de produtividade.
34. 2. Motivos de abstenção do consumo de longo
prazo
Keynes (1936, capítulo 15) refere-se às motivações que levam os indivíduos a demanda-
rem moeda. Assim como Keynes destacou os diversos motivos para demandar moeda
podemos destacar os diversos motivos de longo prazo que levam os indivíduos à acu-
mulação.
Ciclo da vida
Poupar para a aposentadoria advém do desejo individual de manter um padrão estável
de consumo ao longo do ciclo da vida. Em função disso, os indivíduos abrem mão de
uma parcela de consumo durante a vida ativa para poder estabilizar o padrão de con-
sumo na velhice, quando em geral ocorre uma queda no rendimento do trabalho. Há,
portanto, uma acumulação até a data da aposentadoria, a partir daí o estoque financeiro
começa a ser utilizado para complementar os recebimentos a título de aposentadoria. A
versão mais simples do modelo do ciclo da vida é aquela na qual o consumo é constante
ao longo da vida, não existe incerteza, a taxa de juros é nula, e a única mudança na renda
que ocorre é quando o consumidor se aposenta.
A figura a seguir ilustra esse caso que Modigliani (1986) denominou como a versão sim-
plificada (stripped down) do modelo do ciclo da vida. Renda é constante durante L anos
de vida de trabalho (L= 40 anos, por exemplo) e igual a uma unidade, e então cai a zero
nos R anos de aposentadoria (R=10 anos, por exemplo). Consumo é constante ao nível de
L/(L+R) por período ou 80% da renda durante a vida de trabalho, de forma que a pou-
pança é de 20% da renda por período R/(R+L), chegando ao máximo de oito vezes a renda
imediatamente anterior a aposentadoria.
34
8
Unidade de
renda 4 Ativos financeiros
Consumo
1 Renda
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Idade economicamente ativa
Inatividade
Uma visão complementar
A incorporação da possibilidade de endividamento no período inicial do ciclo da vida
no esquema simples apresentado por Modigliani na sua Nobel Lecture nos fornece uma
visão alternativa da análise do ciclo da vida. O endividamento dos grupos mais jovens
pode sinalizar um mecanismo de suavização do consumo e do bem-estar ao longo do
ciclo da vida. O que ocorre é que nas etapas iniciais do ciclo da vida, os indivíduos estão
35. entrando no mercado de trabalho, mas a sua renda geralmente é baixa. Se eles acreditam
que irão passar por uma ascensão profissional tentarão utilizar os recursos futuros via
endividamento, suavizando seu consumo e sua renda. Há duas possibilidades quanto
aos empréstimos no esquema simples de Modigliani de duas formas. Na primeira os
jovens conseguem contrair, na segunda eles não conseguem, neste último caso estão
restrito por liquidez. Aqui nós dividimos o ciclo da vida em três etapas: os primeiros
10 anos de idade ativa do indivíduo (J), quando a sua renda é baixa (igual a 0,5 unidade
monetária), os 30 anos seguintes (L) (período de auge profissional, cuja renda média do
indivíduo é 1 unidade monetária) e os 10 últimos anos do ciclo da vida (R), no qual o in-
divíduo se aposenta, e utiliza os ativos poupados durante o período anterior. Nesse caso,
o consumo médio do indivíduo será 0,7 ((0,5x J +1x L )/ J+L+R). Assim, na fase inicial o
consumo dos indivíduos é maior que sua renda e então eles irão contrair empréstimos,
acumulando dívida (ativos negativos). Na segunda fase do ciclo, o aumento inicial da
renda será para cobrir empréstimo, e só a partir de um certo ponto será possível acumu-
lar para a aposentadoria.
No segundo caso, os jovens não conseguem empréstimos. Observamos um caso de res-
trição por liquidez, no qual os indivíduos são obrigados a consumirem toda a sua renda
(ou seja, 0,5 unidades monetárias). Nesse caso, na etapa inicial, a acumulação será nula.
Somente na segunda fase será possível acumular ativos e suavizar o consumo. A partir
dessa fase o consumo será igual a 0,75 (L/L+R).
Restrições por liquidez e indivisibilidades
Indivíduos restritos por liquidez são aqueles cujo desejo de consumo está além das dispo-
nibilidades líquidas, conforme mostra a ilustração a seguir. De acordo com esta ilustração
os consumidores preferem estar no ponto C, onde suavizaria o consumo entre os períodos
1 e 2. No entanto, como sua disponibilidade líquida é inferior ao seu desejo de consumo, a
restrição à liquidez impede o financiamento de seu consumo corrente. Assim, o indivíduo
35
consome toda a sua renda, ficando preso a uma solução de canto no ponto A.
C2
Y2 A
C
C.I .
DL C1
- C1 e C 2 representam o consumo no período 1 e 2 respectivamente
- DL são as disponibilidades líquidas do período 1, ou seja, ativos herdados do passado
mais renda corrente (A0 + Y1)
- Y2 é a renda do período 2
- CI é a Curva de indiferença do agente
36. Normalmente, se esperaria que indivíduos restritos por liquidez não poupassem, já que
poupança é vista como o excedente de renda em relação ao consumo. Contudo, alguns
dos motivos apresentados para poupar podem ser reforçados pela existência de restri-
ção por liquidez. Indivíduos restritos por liquidez seriam induzidos a acumular ativos
financeiros como um “buffer-stock” contra incertezas.
Em geral, nos testes empíricos a restrição por liquidez é avaliada pelo montante de ati-
vos que os indivíduos dispõem. Segundo Runkle (1991) pessoas com pouco ativo líquido
teriam dificuldades em tomar empréstimos e, portanto, estariam restritas por liquidez.
Contudo, autores como Deaton (1992) acreditam que a inabilidade de tomar empréstimo
não implica inabilidade em poupar, podendo existir boas razões para que consumidores
restritos por liquidez acumulem ativos financeiros. Restrições por liquidez poderiam
induzir a uma maior acumulação de ativos, de forma contrária à preconizada pelos
testes empíricos.
A acumulação para aquisição de bens indivisíveis, representados principalmente por
imóveis, resulta do fato que os fluxos de renda mensal tomados individualmente não
são suficientes para compra de bens indivisíveis e de alto valor unitário. Essa situação
é induzida pela inexistência de mercados de crédito perfeitos, indutores de restrições
por liquidez.
Poupar para aquisição de bens é, portanto resultado da interação de dois fatores: in-
divisibilidade dos bens e imperfeições no mercado de crédito. Os indivíduos que se
apresentam numa situação de autarquia têm que acumular recursos por conta própria,
durante alguns períodos até que possam obter o bem indivisível.5 Similarmente, pesso-
as que querem começar um novo negócio, freqüentemente são frustradas pela falta de
acesso ao mercado de capitais, sendo forçadas à acumulação antecipada.
Precaucional
36
A demanda por ativos por motivos precaucionais se dá em razão das incertezas do fu-
turo, que afetam o bem-estar. Dado que poupança fornece recursos que estarão dispo-
níveis no futuro, quando essas incertezas serão resolvidas, a decisão de poupar estaria
também relacionada com a natureza e extensão da incerteza.
Além da incerteza, a forma da função utilidade é importante para estabelecer a necessi-
dade de poupar pelo motivo precaucional. A convexidade da função utilidade marginal
é condição necessária para gerar um motivo precaucional para poupar. A idéia é que em
tempos ruins, quando o nível de consumo é baixo, as conseqüências são muito piores
do que em tempos bons, quando o nível de consumo é alto. Portanto, a desutilidade
marginal de perdas em consumo próximo aos níveis de subsistência é maior do que a
utilidade marginal de ganhos em tempos de relativa abundância. Com isso, indivíduos
desistirão de alto consumo, quando for possível, a fim de se preparar para possíveis
eventualidades. Quanto mais incerta for a renda futura maior é a poupança e menor é
o consumo presente.
Um caso que pode ser solucionado explicitamente é o da aversão absoluta ao risco cons-
tante.
5 A Itália é um exemplo muito citado de economia com altas taxas de poupança por causa do racio-
namento de crédito.
37. Suponha que o consumidor maximize:
max Et [∑ (-1/α) exp (-αCt)/0]
sujeito a
At+1 = (At + Yt - Ct)
E
Yt = Y t-1 + e t e t ~ N(0,)
O consumidor tem aversão a risco absoluto constante, com coeficiente α e vive por T pe-
ríodos. A taxa subjetiva descontada é igual à taxa de juros sem risco, e elas são ambas
iguais a zero. Renda do trabalho segue um caminho aleatório com inovações normal-
mente distribuídas. A suposição importante é de aversão absoluta ao risco constante.
Sendo assim, consumo ótimo satisfaz a seguinte equação de Euler (equação de primeira
ordem).
Ct+1 = Ct + (ασ)/2 + et (1)
A poupança seria igual a:
St = - [1/(T-t)]At + (α (T - t -1) σ) /4 (2)
A primeira equação mostra os efeitos de incerteza da renda na inclinação do caminho
do consumo (Equação de Euler). Incerteza na renda mais alta e maior prudência levam
a uma inclinação mais íngreme da trajetória do consumo ao longo do tempo. A equa-
37
ção (2) dá o nível de poupança como função da riqueza, renda e incerteza. No caso de
“equivalência de certezas” a solução seria dada apenas pelo primeiro termo. Prudência
é refletida no segundo termo: quanto maior a incerteza, maior o nível da poupança para
dados níveis de renda e de riqueza.
Esse motivo também é fortalecido pela existência de restrição a crédito. A possibilida-
de de tomar empréstimos em tempos ruins é uma alternativa que transmite segurança.
Contudo, se essa alternativa não pode ser utilizada, provisão de poupança deve ser feita
para tais eventualidades. Sem acesso a contratos de seguro, os consumidores devem pro-
ver recursos com essa finalidade por meio da acumulação adicional.
Herança
Muito do debate corrente sobre comportamento da poupança em países desenvolvidos
está centrado na importância relativa dos motivos do ciclo da vida (poupar para finan-
ciar o consumo durante a aposentadoria) versus herança (poupar para financiar o consu-
mo dos descendentes).
Indivíduos deixam herança por no mínimo três razões:
1. Altruísmo. Há uma preocupação com as próximas gerações, então, poupa-se
para suavizar o nível de consumo entre gerações.
38. 2. Controle. O doador deixa bens para compensar seus herdeiros pelos serviços forneci-
dos por eles durante a vida do doador.
3. Acidente. Como a maioria dos indivíduos não sabe quando vi morrer, não consegue
elaborar um planejamento exato dos recursos que necessitará até o último dia de sua
vida. Os indivíduos mantêm sempre com eles uma certa quantia que lhes permite viver
mais do que realmente vivem, deixando, portanto, uma certa quantia quando morrem.
Uma importante fonte de incerteza no consumo é a incerteza com relação ao momento da
morte do indivíduo. Quanto menor for a expectativa de vida, menor o consumo que será
realizado depois da aposentadoria. Sendo assim, quanto poupar para a aposentadoria
depende também do grau de incerteza.
Uma visão polar de família “altruística” foi discutida em Barro (1974). Nessa visão, as fa-
mílias derivam utilidade não apenas de seu consumo presente, mas também do consumo
futuro de seus filhos. Isso significa efetivamente que eles derivam utilidade do consumo
de seus descendentes. Kotlikoff e Summers (1981) observaram que uma proporção subs-
tancial de poupanças americanas estavam relacionadas a heranças. Outras evidências
a favor de presentes entre gerações foram destacados também por White (1978), Mirer
(1979), Kurz (1981,1982,1984).
Barro se baseia na hipótese de que os pais deixam heranças para seus filhos porque se
preocupam com eles. Bernheim (1985) discute a segunda razão, citada anteriormente,
pela qual indivíduos deixam herança, sugere que os pais usam as heranças para contro-
lar os filhos. Os pais desejam que os filhos tenham atenção com eles e usam a ameaça de
cortar a herança para induzir os filhos a dar-lhes atenção.
Para testar essa “motivação estratégica das heranças” foram examinados dados relativos
à freqüência com que os filhos visitam os pais. Verificou-se que quanto mais ricos os
38
pais, mais assíduas as visitas dos filhos. Além disso, só a riqueza que pode ser deixada
como herança induzia maior número de visitas. A riqueza que não podia ser deixada,
como pensões que cessam com a morte do pensionista, não estimulavam a visita dos
filhos. Essas evidências sugerem que pode haver outros motivos para as transferências
de riqueza intrageracionais do que o mero altruísmo.
3. Sumário da literatura
A teoria do ciclo da vida de Modigliani é freqüentemente apresentada como a motivação
básica para demanda ao longo prazo de ativos financeiros. De acordo com essa teoria a
queda da renda no final do ciclo da vida induz à acumulação prévia em forma de pou-
pança por parte dos indivíduos com o desejo de manter um padrão estável de consumo
ao longo do ciclo da vida.
A incorporação da possibilidade de endividamento no período inicial do ciclo da vida
nos fornece uma visão complementar à análise proposta por Modigliani. Nesse período
inicial, o desejo de consumo geralmente é maior que a renda, o que induziria a uma de-
manda por empréstimos e não por poupança. Se os indivíduos não estiverem restritos
39. por liquidez, eles irão financiar o seu consumo corrente e maximizar a suavização do
seu consumo ao longo do ciclo da vida, caso contrário, ficarão presos em uma solução de
canto, consumindo toda a sua renda durante o período inicial.
Segundo a vasta literatura sobre poupança, além da suavização do consumo ao longo do
ciclo da vida, a poupança seria ainda induzida por três fatores principais: a) A poupança
para aquisição de bens indivisíveis e de alto valor unitário num contexto de restrição por
liquidez; b) Motivos precaucionais, em uma situação de incerteza com relação ao futuro;
c) Herança, ou seja, caso em que se poupa para financiar o consumo dos descendentes.
39
40.
41. IV. A visão do consumidor:
evidência empírica
41