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atitudes dos
consumidores
e acesso a mercado das
microempresas brasileiras
               O r g .   M a r c e l o   N e r i
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, 2008




Adelmir Santana
Presidente do Conselho Deliberativo Nacional

Paulo Tarciso Okamotto
Diretor-presidente

Carlos Alberto dos Santos
Diretor de Administração e Finanças

Luiz Carlos Barboza
Diretor técnico

Raissa Rossiter
Gerente Unidade de Acesso a Mercados



Centro de Políticas Sociais
Instituto Brasileiro de Economia
Fundação Getulio Vargas
Realização




Marcelo Cortes Neri
Coordenação Técnica



Equipe do CPS
Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo
Samanta dos Reis Sacramento
André Luiz Neri
Carolina Marques Bastos
Paloma Madanelo de Carvalho
Ana Lucia Calçada
Roberto Neri (Externo)
S E T E M B R O   D E   2 0 0 8




atitudes dos
consumidores
e acesso a mercado das
microempresas brasileiras
Atitudes dos consumidores e acesso a mercado
das microempresas brasileiras

Os microempreendedores quando perguntados sobre as principais dificulda-
des e desafios de seus negócios elencam no topo de suas percepções aspectos
mercadológicos como “a falta de clientes” e “a concorrência” vis-à-vis a ele-
mentos de oferta, como acesso a insumos, à tecnologia, aos recursos humanos
e administrativos, ou mesmo ao crédito. Essa percepção da importância des-
ses elementos está presente no Brasil e em outras partes, entretanto, a maior
parte de análises e ações públicas se volta para elementos de oferta e não para
as restrições mais prementes percebidas, que são de demanda. Este trabalho
aborda a questão do acesso a mercado das microempresas brasileiras tanto
da perspectiva de como as empresas percebem e agem sobre os demandantes
de seus bens e serviços bem como da forma que estes demandantes agem em
relação aos bens e serviços produzidos pelas empresas. Heuristicamente, o
foco deste trabalho não é sobre o lado da demanda, ou sobre o lado da oferta
de bens e serviços, mas sobre os caminhos entre estas duas dimensões. Como
esses encontros e desencontros entre oferta e demanda se dão em ambientes
de mercado com características específicas, tratamos de alguns setores de ati-
vidade mais relevantes na carteira de projetos do SEBRAE, a saber: turismo,
comércio varejista, têxtil e confecções, madeira e móveis, leite e derivados,
aqüicultura e pesca, alimentos, petróleo e gás, tecnologia da informação, cou-
ro e calçado. Desenvolvemos análise conceitual e empírica das modalidades
de acesso a mercados das microempresas brasileiras, sua difusão, seus deter-
minantes e seus impactos nesses setores específicos.

Similarmente, a análise é feita em dois níveis. Em primeiro lugar, estudamos
como a microempresa chega aos seus consumidores, aí incluindo não só os
indivíduos e suas famílias como outras empresas nacionais grandes ou pe-
quenas, governos e setor externo. Avaliamos o uso dos instrumentos de apoio
microempresarial de cunho mercadológico e de seus impactos sobre o fatura-
mento das empresas. Relacionamos variáveis de acesso ao mercado a atributos
pessoais dos microempreendedores dos mercados formal e informal, e a outros
aspectos da dimensão produtiva e financeira dos negócios de forma a enten-
der as sinergias existentes entre diferentes aspectos dos pequenos negócios,
associados nessa perspectiva da oferta relativa à demanda. O segundo aspec-
to complementar tratado é como o consumidor encara a oferta de produtos e
serviços das empresas. Neste caso, a ênfase recai sobre a demanda de pessoas
físicas por grupos de bens e serviços. Traçamos o perfil socioeconômico dos
consumidores correntes, assim como do conjunto da população. A análise in-
clui, portanto, a demanda presente como potencial dos produtos e serviços dos
negócios.

Um objetivo complementar deste projeto é processar, reunir e disponibili-
zar de maneira amigável um vasto acervo de informações sobre o funciona-
mento, as limitações e as potencialidades do acesso ao mercado dos peque-
nos produtores, negociantes e empreendedores urbanos, na sua relação com
a clientela de seus bens e serviços. Processamos microdados de diversas
outras pesquisas domiciliares e de estabelecimentos, como a POF, a Ecinf, a
PNAD e o Censo Demográfico para captar causas e conseqüências práticas
de estratégias de acesso a mercados em alguns setores selecionados. O sítio
do projeto permite ao usuário estender os resultados deste relatório − ou
outros de interesse − a localidades e segmentos específicos. Também permi-
tindo a cada um analisar o acesso aos mercados consumidores desde uma
perspectiva e interesses próprios. De maneira geral, o projeto busca contri-
buir para o aprimoramento de estratégias de acesso a mercado no mapa das
ações de apoio microempresarial.

Palavras-chave

1. A cesso a mercado

2. Consumo

3. Mercado de bens e serviços

4. Apoio microempresarial

5. Vendas
Sumário



I.     Introdução ............................................................................................................. 11

1.     Motivação ......................................................................................................................................................12
2.     Objetivos do projeto ..................................................................................................................................13
3.     Plano do relatório ........................................................................................................................................14

II.    Metodologia Empírica.......................................................................................... 15

1.     Descrição geral .............................................................................................................................................16
2.     Bases de dados .............................................................................................................................................17
       Bases utilizadas ............................................................................................................................................18
           POF .............................................................................................................................................................18
           Ecinf ...........................................................................................................................................................19
           PNAD .........................................................................................................................................................20
       Outras bases de dados (passíveis de extensões futuras) ..............................................................21
3.     Técnicas utilizadas.......................................................................................................................................25
       Análises univariadas e bivariadas ..........................................................................................................25
       Análises multivariadas ...............................................................................................................................25
4.     Apresentação dos resultados..................................................................................................................26
       Sistemas de informação ............................................................................................................................26
       Simuladores ...................................................................................................................................................26
       Panoramas......................................................................................................................................................26
5.     Elementos da análise empírica ...............................................................................................................27
       Taxonomia de efeitos .................................................................................................................................27

III.   A Visão do consumidor: teoria............................................................................ 29

1.     Fundações teóricas .....................................................................................................................................30
       Muitos períodos e o ciclo da vida ..........................................................................................................30
       O consumo acompanha a renda? .........................................................................................................31
       Perfis do consumo ao longo da vida ....................................................................................................32
       O consumo e a taxa de juros ...................................................................................................................33
2.     Motivos de longo prazo ............................................................................................................................34
       Ciclo da vida ..................................................................................................................................................34
           Uma visão complementar .................................................................................................................34
       Restrições por liquidez e indivisibilidades..........................................................................................35
           Precaucional ...........................................................................................................................................36
           Herança ....................................................................................................................................................37

3.     Sumário da literatura .................................................................................................................................38

IV.    A Visão do consumidor: evidência empírica ..................................................... 41

1.     Visão geral .....................................................................................................................................................42
2.     Mercado corrente ........................................................................................................................................42
Panorama das despesas ............................................................................................................................42
            Simulador de despesas..............................................................................................................................54
3.          Panorama das aquisições .........................................................................................................................56

V.          A Evolução temporal da renda............................................................................ 61

1.          Visão geral ......................................................................................................................................................62
2.          Tendências temporais e mercado potencial .....................................................................................65

VI.         O Produtor e o acesso a mercado: a oferta encontra a demanda em setores
            específicos ............................................................................................................ 71

1.          Visão geral ......................................................................................................................................................73
2.          Panorama dos pequenos produtores ..................................................................................................75
            Entre setores ..................................................................................................................................................75
            Por setores ......................................................................................................................................................81
3.          Simulador de comercialização................................................................................................................83
4.          Desempenho microempresarial ............................................................................................................85

VII.        Mix de marketing: estratégias de acesso a mercados.......................................... 99

1.          Visão geral ................................................................................................................................................... 100
2.          Análise SWOT ............................................................................................................................................. 101
3.          Mix de marketing ..................................................................................................................................... 102

VIII.       Conclusões.......................................................................................................... 103

Referências................................................................................................................................................................ 105
Visão esquemática

Visão meso das despesas e produção
             Dados setoriais
                    Alimentos
                    Comércio
                    Couro e calçado
                    Leite e derivados
                    Madeira e móveis
                    Pesca
                    Petróleo
                    Tecnologia da informação
                    Têxtil
                    Turismo
             Atributos
                    O que? Produtos e serviços
             Onde? Locais de compra
             Como? Forma de pagamento
             De quem? Empresas ofertantes
                    Para quem? Demandantes
                            (Empresa, governo, setor externo)
             Por que? Motivações
             Quando? Idade, anos e gerações
                    Quando? Tendências, ciclos e sazonalidades

                    Site: www.fgv.br/cps/atitudesdoconsumidor
I. Introdução1




1   Agradecimentos a toda equipe do SEBRAE pelas valiosas direções, debates, sugestões e apoio
    dados durante o decorrer da pesquisa e em particular a Raissa Rossiter e Unidade de Acesso a
    Mercados (UAM).
1. Motivação

     Na escolha de um elenco de políticas fomentadoras das atividades empresariais em geral,
     devemos avaliar a efetividade da restrição de escassez, enfrentada pelos microempresários,
     em relação aos diversos tipos de recursos. Nesse sentido, estamos mais especificamente
     interessados na aplicação de estratégias que propiciem melhora do acesso aos mercados
     consumidores, e conseqüentemente, ao aumento de demanda dos produtos e/ou serviços
     produzidos. Segundo tabulações com base na Pesquisa de Economia Informal do IBGE/
     SEBRAE Nacional, que cobrem empresas urbanas com cinco empregados ou menos em
     2003, a principal dificuldade para desenvolver algum empreendimento é a falta de clientes
     em 25,65% dos negócios. A concorrência muito grande − 20,65% − também se destaca entre
     as dificuldades percebidas pelos pequenos empresários. Essa soma de dificuldades perce-
     bidas pelo lado da demanda de 46,30% supera a soma de todos os itens relativos a dificul-
     dades do lado da oferta com 18,32%. Nesse quesito de oferta, uma dificuldade relevante
     das empresas está relacionada a problemas de infra-estrutura e instalação física (4,13%).
     Outros elementos de oferta, como baixa qualificação de mão-de-obra e problemas com a
     fiscalização, permanecem em patamares baixos, com menos de 1% das múltiplas menções.
     Assim, 19,1% das empresas reportam como principais as dificuldades do lado financeiro
     com 19,1% das empresas como a falta de capital próprio (12,5%) e a escassez de crédito
     (6,5%). Apenas 16,1% das microempresas não reportaram dificuldades. Esse conjunto de
     dados nos leva à conclusão de que existe um problema de financiamento ou de acesso a
     mercados financeiros, mas de importância relativa inferior à dificuldade encontrada no
     acesso a mercado de produtos e serviços.

     Com vimos, os dados relativos às principais dificuldades percebidas pelos pequenos em-
     presários indicam a necessidade de implementação de estratégias políticas de demanda
     direcionadas a esses segmentos. Complementarmente, a receita média das nanoempresas
     caiu cerca de 20% entre os anos de 1997 e 2003 (de R$ 2.183 para R$ 1.754, mensais a valores
12




     constantes de 2003), enquanto que o lucro caiu apenas 7%. A manutenção dos lucros ge-
     rados deu-se em função do enxugamento dos custos e não pelo aumento do faturamento.
     Ou seja, parece que as empresas fizeram uma reestruturação produtiva, uma reengenharia
     silenciosa, melhorando a estrutura de custos, mas as condições de acesso a mercado se
     deterioraram.

     Em suma, os dados da Ecinf demonstram por elementos subjetivos e objetivos que entre
     os principais problemas apresentados pelos nanoempresários está o acesso a mercados
     para bens e serviços, enfatizando a relevância de políticas de demanda. Mais forte do que
     a escassez de oferta de recursos privados, sejam capitais físico sejam humano ou social, é
     a escassez de demanda por produtos e serviços das microempresas. Nesse sentido, o uni-
     verso aqui analisado constitui um laboratório privilegiado acerca dos constrangimentos
     e carências que devem ser combatidos por meio da ação institucional do SEBRAE e de
     suas interações com outras decisões privadas e públicas. Nesse contexto, a implantação
     de políticas do lado da oferta, como microcrédito, assistência técnica e treinamento não
     são suficientes para o bom desempenho microempresarial, se não há um efetivo dire-
     cionamento ao mercado para absorver os produtos e serviços ofertados nesse segmento.
     Isso passa pelo conhecimento detalhado do mercado, a analise do público-alvo, a defini-
     ção de estratégias de acesso e a combinação desses elementos com pesos diferenciados
     por segmento e empresa visando à abertura e à consolidação de novos mercados. Essas
     são condições necessárias ao bom andamento dos negócios.
2. Objetivos do projeto

Este projeto tem como objetivo subsidiar a aplicação de ações de incremento do acesso a
mercado de bens e serviços nas atividades microempresariais brasileiras. Enfatizamos a
análise das limitações, recursos e atitudes de pequenos empresários no que se refere a
seus mercados finais.

Procuramos subsidiar a aplicação de ações de incremento da demanda das atividades
microempresariais brasileiras. Ressaltamos na análise as limitações, os recursos e as
atitudes de pequenos empresários no que se refere à área de comercialização de bens e
serviços desagregados para dez subsetores: turismo, comércio varejista, têxtil e con-
fecções, madeira e móveis, leite e derivados, aqüicultura e pesca, alimentos, petróleo
e gás, tecnologia da informação, e couro e calçado definidos pelo SEBRAE. Essa es-
colha deriva dos segmentos aos quais a instituição recebe tradicionalmente maior de-
manda de apoio em conjunção com a oferta de dados e de soluções factíveis. Mapeamos
a partir do binômio tipo de atividade/estrutura de vendas a localização geográfica e
sociodemográficas da clientela corrente e potencial dos segmentos. O projeto disponi-
biliza um acervo detalhado de informações dos diversos fatores que contribuem para
o incremento da atividade microempresarial, enfatizando a importância do conheci-
mento, da definição correta do público-alvo e da estratégia de difusão. Isso passa pela
resposta a algumas perguntas básicas: a primeira é o que comercializar? Já que geral-
mente o pequeno empreendedor produz o que gosta, e não o que o mercado quer, mas
isso nos remete à questão de como fazer? Qual seria a combinação ótima de elementos
mercadológicos? Isso remete a decisões sobre preço, pontos de distribuição e formas de
difusão, e o peso de cada uma no conjunto final. A pergunta está também relacionada
a quem atender, ou seja, que público-alvo (ou segmento) focar e quando deveria a meta
ser perseguida considerando as tendências econômicas e demográficas, sazonalidades
ou até mesmo qual estágio do ciclo da vida das pessoas (adolescentes, terceira idade,




                                                                                                          13
etc.), deve ser privilegiado nas ações de abertura de novos mercados. A pergunta se-
guinte é onde buscar a meta de incremento de demanda. Recorreremos à análise deta-
lhada do espaço, no qual heuristicamente a oferta e demanda se encontram, partindo
                                                  das localidades geográficas (estados,
                                                  municípios, região administrativa,
                                                  etc.) e chegando em outras unida-
                                                  des físicas (exterior, outros estados,
                                                  mesmo bairro, etc.), ou virtuais (te-
                                                  levendas, e-commerce). Finalmente,
                                                  devemos perguntar por que, isso é,
                                                  encarar o processo de produção e de
                                                  compra de bens e serviços como um
                                                  meio pelos quais firmas e consumi-
                                                  dores seguem para se chegar ao fim,
                                                  que é a satisfação final, ou o sonho
                                                  de consumo que o comprador almeja
                                                  alcançar.2



2	      Por	exemplo,	algumas	das	principais	firmas	de	telefonia	móvel	que	anteriormente	se	chamavam	de	
        Telefônica	e	ATL	mudaram	os	seus	nomes	para	Vivo	e	Claro,	refletindo	a	mudança	de	perspectiva	
        da	demanda	do	serviço	de	fim	para	meio	de	alcançar.
De maneira geral, o ponto de partida é a importância estratégica de ações de apoio merca-
     dológico, a maior dificuldade percebida pelos microempresários do Brasil. Na confecção
     deste trabalho processamos e reunimos, em primeira mão, diversas bases de microda-
     dos. Essa base integrada oferece a oportunidade ímpar de estudarmos interações do pro-
     grama com ações de apoio microempresarial e políticas públicas diversas, em particular
     programas de transferência de renda, como o programa Bolsa-Família, aposentadorias e
     pensões. Discutimos a possibilidade de arranjos complementares que visam a melhorar
     a informação das empresas acerca dos seus clientes potenciais e como conseqüência ex-
     pandir as vendas.




                 3. Plano do relatório

     Além dessa introdução com os objetivos do projeto como um todo e das conclusões, o
     trabalho está organizado em quatro capítulos centrais complementados por anexos téc-
     nicos distribuídos da seguinte forma: no segundo capítulo detalhamos a metodologia
     empírica adotada ao longo do trabalho, descrevendo cada base de dados e as técnicas
     econométricas utilizadas. No terceiro capítulo oferecemos uma visão conceitual geral
     sobre o consumo e o acesso ao mercado, em particular, analisando principais caracterís-
     ticas e mecanismos utilizados. No capítulo quatro abrimos, a partir da Pesquisa de Or-
     çamentos Familiares (POF), uma análise do mercado corrente dos setores, combinando
     atributos pessoais, geográficos e de variáveis ligadas a percepções subjetivas dos indiví-
     duos. No capítulo cinco traçamos com base na Pesquisa Nacional de Amostras a Domi-
     cílio (PNAD), as principais tendências da população brasileira, funcionando como um
     mapeamento do mercado de clientes potenciais, suas famílias e o ambiente social no qual
     estão inseridos. No sexto capítulo analisamos em detalhe, a partir da Pesquisa Economia
     Informal (Ecinf), o acesso a mercados pelas microempresas brasileiras com uma série
14




     de estatísticas descritivas sobre como a oferta de bens e serviços dos diversos setores de
     atividade chega aos consumidores e como os microempresários vêem esse trajeto. No
     sétimo capítulo abordamos os elementos do mix de marketing das empresas.
II. Metodologia empírica




                           15
1. Descrição geral

     A parte empírica da pesquisa consiste no processamento, consolidação, descrição e aná-
     lise de um conjunto amplo de base de microdados e de informações secundárias, que
     permitirão identificar quais seriam as principais carências e potenciais dos pequenos ne-
     gócios no campo das vendas. Essas fontes permitirão analisar o comportamento da clien-
     tela. Utilizaremos pesquisas específicas sobre micro e pequenas empresas combinadas
     às pesquisas de orçamentos e de domicílios, combinando elementos de oferta e demanda.
     Apontaremos ao fim do trabalho diversas outras direções complementares com base em
     outras pesquisas domiciliares e de estabelecimentos.

     O processamento de inúmeras bases de microdados permite conhecer detalhadamente
     as características e as principais dificuldades que afetam o funcionamento das unida-
     des produtivas de trabalhadores autônomos e empregadores com até cinco empregados
     nos domicílios. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas
     parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimentos formais e pela rede de arre-
     cadação tributária oficial. Informações específicas sobre os empreendimentos e formas
     de atuação serão investigadas, como, por exemplo, a composição/tipo da clientela (in-
     cluindo órgãos governamentais); localização dos clientes (outros bairros, municípios,
     estados, países); fixação de preços (se negociam, dados pela concorrência, custos); tipos
     de vendas (a vista, a prazo); planos futuros; assistência recebida (técnica, jurídica, fi-
     nanceira); demanda por assistência; apoio à comercialização; utilização de serviços de
     informática, entre outras.

     Pesquisas específicas permitirão analisar a estrutura da demanda por bens e serviços
     utilizando os domicílios como unidades de análise. Possibilitam um conhecimento de-
     talhado dos produtos adquiridos em cada unidade de consumo, além de quantidades
     e preços, possibilitam cálculos da sensibilidade frente a políticas de preço ou cenários
16




     externos de evolução de renda. É possível mapear, também, os locais utilizados para
     aquisição dos produtos (ex: feiras, supermercados, quiosques, entre outros).

     Grande acervo de bases de microdados permite a abertura espacial das informações
     de empresas por tamanho e segmento de atuação e também completam o mapeamento
     do público-alvo, por meio de diferentes características socioeconômicas. Bases espe-
     cíficas permitirão captar diferentes indicadores de analise de mercado. Por exemplo,
     suplementos especiais fornecerão referências sobre acesso a programas de transferên-
     cia de renda o que pode potencializar o mercado de segmentos de baixa renda. Séries
     atualizadas de microdados de estabelecimentos formais que possibilitam mapeamento
     das unidades produtivas (concorrência) com abertura por bairro (e ruas). De maneira
     geral, propomos realizar levantamentos estatísticos por meio da série de pesquisas
     realizadas nos últimos dez anos, processadas individualmente e combinadas com ou-
     tras bases de microdados.3 Essas informações serão tratadas pelas análises bivariadas
     e multivariadas (i.e., tabulações e regressões), tanto para variáveis contínuas quanto
     discretas.




     3	      É	possível	realizar	combinações	de	microdados	de	diferentes	bases.	Por	exemplo,	combinar	in-
             formações	georreferenciadas	oriundas	do	censo	demográfico	com	a	de	pesquisas	orçamentárias	
             (vide	Lanjouw	e	Lanjouw	(2000).
O projeto dispõe de sistemas de provisão de informação interativos e amigáveis volta-
dos aos gestores dos programas de acesso a mercados e aos empresários, com produtos
em linguagem acessível e acompanhados de notas explicativas, tais como simuladores
de probabilidades desenvolvidos a partir dos modelos logísticos binomiais e multino-
miais e panoramas com informações univariadas e bivariadas, além de mapas e banco
de dados disponibilizados na internet, a fim de facilitar a navegação e o entendimento
dos usuários. Por exemplo, os exercícios diversos serão didatizados por esquemas e pop
ups explicativos. Mostraremos de forma pedagógica e seqüencial as diversas abordagens
empíricas que são na verdade extensões do mesmo tipo de análise. O trabalho busca
incrementar o uso de informações de acesso a mercado para o desenvolvimento das lo-
calidades, ao permitir a cada pessoa analisar a sua realidade a partir de uma perspectiva
local.

Visando facilitar o entendimento das metodologias que serão adotadas para a elaboração
dos produtos a serem gerados, detalham-se abaixo individualmente as bases de dados,
os procedimentos econométricos que serão aplicados e os sistemas de informações. O lei-
tor pode voltar para consultar os tópicos abaixo à medida que for transcorrendo a leitura
do trabalho ou operação do sítio do projeto.




            2. Bases de dados

O conjunto amplo de microdados fornecerá uma análise de performance dos empreen-
dimentos, buscando mapear o acesso ao mercado no Brasil, tanto em nível de clientes
efetivos quanto de potenciais. Utilizaremos para isso microdados de diversas bases, em
particular:




                                                                                             17
•	 a Ecinf constitui a melhor base de microdados do lado microempresarial e de suas
   atitudes em relação à demanda. É uma pesquisa que investiga as características de fun-
   cionamento das unidades produtivas urbanas de trabalhadores autônomos e emprega-
   dores com até cinco empregados nos domicílios. Destacamos aqui variáveis com estru-
   tura do faturamento, dificuldades de acesso a mercado percebidas em face das demais,
   localização física da clientela, entre outras. A vantagem é captar aquelas atividades
   excluídas, ou que são apenas parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimen-
   tos formais e pela rede de arrecadação tributária oficial.

•	 as pesquisas domiciliares tradicionais permitem a análise de um amplo conjunto de
   atributos dos consumidores efetivos e potenciais e de suas famílias, além dos atributos
   dos negócios e dos proprietários dos negócios, explorando as inter-relações entre o
   lado pessoa física e jurídica do microempresário, o que pode orientar o mapeamento
   de ações que visam a fomentar o acesso ao mercado. A principal fonte de dados do pre-
   sente trabalho será a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) cuja finalidade princi-
   pal será obter a estrutura de consumo da população. A Pesquisa Nacional de Amostras
   a Domicílio (PNAD) permitirá análises mais atuais da evolução da renda.

Utilizaremos apenas as bases de microdados ressaltadas em itálico no esquema a seguir
e procuramos oferecer ao leitor uma visão geral das possibilidades empíricas e de análise
oferecidas pelo rico acervo de dados existentes no Brasil.
Mapa de bases de microdados

                    Pesquisas domiciliares                      Pesquisas de estabelecimentos
                   Mercado consumidor e                       Performance e estratégia de vendas
           mapas sociodemográficos consumidor e                       informais e formais
                       empresários


                    POF (48 mil famílias)                           Ecinf (50 mil unidades)
             Orçamentos dos consumidores 2003            Estabelecimentos e proprietários 1997 e 2003
           Análise da decisão de gastos de consumo            Elementos de estratégias de vendas

             Tipos de produtos e pontos de venda            Dificuldades e motivações empresariais




                            PNAD                                  Estabelecimentos formais
               Cross-section Anual 1992 a 2005          Pesquisas anuais e mensais comércio e indústria
              Atributos do mercado consumidor:                    Pesquisa anual de serviços
            lucro, duração e tamanho de empresa

                 Mapas estaduais detalhados


                        Mapeamento                                      Mapeamento


                           Censo                                    Cadastros de empresas

                Mapas municipais detalhados                         Ministério do Trabalho



                       Monitoramento                            Mapeamento e Monitoramento
18




        PME (36 mil domicílios por mês defasagem                       Emprego Caged
                      de 2 meses)

                                                              Mensal com defasagem de 2 meses


     De modo geral, o Censo demográfico permite captar informações similares à PNAD,
     mas com um detalhamento espacial em municípios e dentro deles. Assim como a PME
     também permitiria trazer informações similares à PNAD, mas restritas as maiores áreas
     metropolitanas para o ano corrente. Todas as bases supramencionadas têm a virtude de
     captar a operação da economia informal, o que é particularmente relevante para a análi-
     se em questão e podem ser complementadas por informações de mapeamento espacial e
     monitoramento por registros administrativos de estabelecimentos formais.


     Bases utilizadas

     POF

     O objetivo principal da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) é a atualização da cesta bási-
     ca de consumo e obtenção de novas estruturas de ponderação para os índices de preços. Esses
     dados podem ser utilizados também para traçar perfis de consumo das famílias pesquisadas e
     atender a diversos interesses relacionados às áreas de estudos e de planejamento.
A primeira POF realizada pelo IBGE ocorreu em 1987-1988 e possui a mesma abrangência
geográfica da pesquisa realizada em 1995-1996, que compreendeu as Regiões Metropo-
litanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal e Município de Goiânia. Em 1996, contou com
uma amostra de 16.060 domicílios, nos quais foram obtidas as informações das despesas
realizadas durante distintos períodos de referência (sete, trinta, noventa dias ou seis me-
ses), cujas informações foram coletadas de outubro de 1995 a setembro de 1996.

Já em 2003, o IBGE voltou a campo e coletou informações de 48.470 domicílios. Além da
realização da pesquisa em todo território nacional, a nova POF, que está sendo utiliza-
da nesse trabalho, apresentou diferenças importantes em relação às anteriores, como a
inclusão de aquisições não-monetárias e opiniões das famílias sobre qualidade de vida.
O objetivo do uso da POF no presente estudo é traçar as características e o perfil de
consumo individual e familiar dos diferentes itens produzidos por setores aqui tratados
(incluindo total de gasto, formas e locais de compra).

Ecinf

Entre as bases externas a serem utilizadas, temos a pesquisa Economia Informal Urbana
(Ecinf) criada pelo IBGE a fim de captar informações que permitam conhecer o papel e a
dimensão do setor informal na economia brasileira, e que constitui a melhor base dispo-
nível de microdados do lado empresarial da economia subterrânea. É uma pesquisa que
procura identificar os trabalhadores por conta-própria e pequenos empregadores envolvi-
dos em negócios com cinco ou menos pessoas, com 10 anos ou mais de idade, ocupados
em atividades não-agrícolas, e moradores em áreas urbanas, nos domicílios em que eles
moram e por meio deles, visando investigar as características de funcionamento das uni-
dades produtivas. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas
parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimentos formais e pela rede de arreca-
dação tributária oficial. A Ecinf permite dar um mergulho no funcionamento da chamada



                                                                                              19
economia subterrânea, que fica tradicionalmente à margem das estatísticas oficiais.

O planejamento desta pesquisa iniciou-se em 1990 com os primeiros resultados dos Cen-
sos Econômicos de 1985. Em 1994 foi realizada uma pesquisa piloto no Município do Rio
de Janeiro. Porém, a pesquisa somente foi de fato implementada em 1997, abrangendo
todos os domicílios situados em áreas urbanas no Brasil. A Ecinf só voltou a ser realizada
novamente, então, em 2003, com o apoio do SEBRAE, incluindo informações mais deta-
lhadas sobre as características individuais dos proprietários.

Em 1997, a pesquisa coletou dados de 44.711 unidades econômicas distribuídas entre as
áreas urbanas de todas as unidades federativas e, em 2003, essa amostra foi de 54.595
domicílios selecionados. Portanto, a Ecinf consiste em uma pesquisa rica em dados e pos-
sui uma amostra suficientemente grande para gerar análises e inferências consistentes.
Além disso, é importante ressaltar que as pesquisas de 1997 e 2003 foram feitas na mes-
ma época do ano, o que elimina o risco de fatores sazonais interferirem no resultado.

A pesquisa adota um recorte urbano, não só metropolitano, mas por outro lado ela deixa
de cobrir as atividades não-agrícolas desenvolvidas por moradores de domicílios em áre-
as rurais. Tal procedimento é justificado não só pela heterogeneidade apresentada entre
os setores rurais e urbanos, como pela característica do negócio e pela própria exigência
do trabalho de campo. Parece fazer sentido restringir a Ecinf aos segmentos dos menores
produtores urbanos e deixar a análise do seu complemento para outras pesquisas de
campo, como o Censo Agrícola do IBGE.4 Eles permitem combinar perguntas referentes a
     estabelecimentos e àquelas relativas às famílias. Permite obter as mais diversas informa-
     ções sobre os micronegócios e o trabalho dos trabalhadores por conta-própria, tais como
     tipos de gastos em investimentos, receitas, despesas, lucro médio, capital envolvido, área
     de atuação, motivo da abertura do negócio, período do ano em que funciona, forma de
     pagamento aceitas, número de clientes e funcionários, nível de formalização, entre mui-
     tas outras. Enquanto outro questionário provê dados sobre características das pessoas
     ocupadas nas microempresas, tais como sexo, idade, nível de instrução, vínculo empre-
     gatício, ocupação, posição na ocupação, renda familiar, número de pessoas morando com
     elas no mesmo domicílio, entre outras.

     Entre as principais variáveis de interesse da Ecinf para essa pesquisa estão informa-
     ções específicas sobre os empreendimentos e formas de atuação como composição/tipo
     da clientela (incluindo órgãos governamentais); localização dos clientes (outros bairros,
     municípios, estados, países); fixação de preços (se negociam, dados pela concorrência,
     custos); tipos de vendas (a vista, a prazo); planos futuros; assistência recebida (técni-
     ca, jurídica, financeira); demanda por assistência; apoio à comercialização; utilização
     de serviços de informática. Esses atributos foram pesquisados em suplemento especial
     co-desenhado e financiado pelo SEBRAE e desempenhará papel central neste trabalho.
     As dimensões de pessoa jurídica da pesquisa incluem ainda elementos como receitas,
     estrutura de custos, lucratividade, decisões de investimento, cumprimento da legislação,
     sazonalidades operacionais, duração do negócio, etc.

     PNAD

     A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) é coletada anualmente pelo
     IBGE desde 1976. A pesquisa abrange todo o Brasil, exceto as áreas rurais de Rondônia,
     Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, e só não é realizada nos anos em que acontece
     o Censo Demográfico, como 1980, 1991 e 2000 para evitar sobreposição. A partir de 1992,
20




     a PNAD foi reformulada, o questionário foi aumentado e foram realizadas mudanças
     conceituais, cujos impactos ainda não foram completamente definidos.

     Com uma amostra probabilística de cerca de 100 mil famílias, a pesquisa contém in-
     formações sobre diversas características demográficas e socioeconômicas da população.
     Especificamente: (i) Características dos domicílios: localização, tipo e estrutura do domi-
     cílio, número de cômodos e dormitórios, condição de ocupação, acesso a serviços e bens
     duráveis; (ii) Características dos indivíduos: sexo, idade, religião, cor, raça, nacionalidade
     e naturalidade; (iii) Características das famílias: composição da família e relação de pa-
     rentesco; (iv) Características educacionais: alfabetização, escolaridade e nível de instru-
     ção, espécie de cursos; 5) Características da mão-de-obra: ocupação, posição na ocupa-
     ção, ramo de atividade, carteira de trabalho, horas trabalhadas, rendimento, contribuição
     previdenciária, procura de trabalho e trabalho anterior.

     O objetivo do uso da PNAD neste estudo é duplo. Em primeiro lugar, permite uma vi-
     são mais abrangente do perfil dos empresários, incluindo aqueles com mais de cinco
     empregados que não fazem parte do universo da Ecinf; em segundo, permite analisar a
     evolução da renda e da composição dos diferentes grupos populacionais.



     4
             Não	 são	 consideradas	 pessoas	 ligadas	 a	 atividades	 criminosas,	 circunscrevendo	 a	 análise	 ao	
             espectro	de	práticas	econômicas	“socialmente	aceitas”.
Outras bases de dados (passíveis de extensões futuras)

PME

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) implantou a Pesquisa Mensal de
Emprego (PME) em 1980. A PME é uma pesquisa de periodicidade mensal sobre mão-de-
obra e rendimento do trabalho, e inclui as seis principais áreas metropolitanas do Brasil:
Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

A PME é uma pesquisa em painel e replica o esquema de amostragem da US Current Po-
pulation Survey (CPS), visando a coletar informações do mesmo domicílio por oito vezes
durante um período de 16 meses. É realizada em bases rotativas por meio de entrevistas
mensais às famílias durante quatro meses consecutivos, retirando-as da amostra durante
oito meses e em seguida as entrevistando novamente nos quatro últimos meses. Entre
4.500 a 7.500 famílias são entrevistadas por mês em cada uma das seis áreas metropolita-
nas, somando, ao todo, aproximadamente 35.000 famílias. Em agosto de 1988, o tamanho
da amostra foi reduzido para aproximadamente 30.000 famílias por mês. O aspecto longi-
tudinal da PME – acompanhamento das mesmas pessoas ao longo do tempo – permitiria
analisar o risco individual ocupacional e de renda, bem como a probabilidade de cresci-
mento e de formalização dos negócios. Desde a implantação da PME, ocorreram modifica-
ções na pesquisa, com o objetivo de melhor captar as características da população em idade
ativa e sua inserção no sistema produtivo. Os temas tornaram-se mais amplos, englobando
os efeitos conjunturais e as transformações do mercado de trabalho. Contudo, as questões
gerais de demografia e de trabalho são as mesmas desde fevereiro de 1982.

A disponibilidade de informações mensais construídas a partir da Pesquisa Mensal do
Emprego (PME) nos permite trabalhar com médias anuais, o que evita problemas de
sazonalidade, além de permitir uma análise detalhada da dinâmica do processo. A prin-
cipal restrição da PME, que está na abrangência do conceito de renda utilizado, uma



                                                                                             21
vez que trabalha apenas com a renda proveniente do trabalho, não nos atrapalha tanto,
na medida em que a renda do trabalho representa o lucro dos trabalhadores por conta-
própria e empregadores.

A PME, assim como a PNAD, permite analisar a evolução da renda e da composição dos
grupos populacionais, com a vantagem de realização mensal, tornando-se importante
instrumento de monitoramento.

Censo demográfico

O Censo demográfico é uma pesquisa domiciliar que acontece de dez em dez anos e pro-
cura entrevistar 10% da população brasileira em todo o território nacional. O Censo deta-
lha características pessoais e ocupacionais de todos os membros dos domicílios e possui
informações detalhadas sobre fontes de renda, acesso à moradia, serviços públicos e bens
duráveis, entre outros. A pesquisa é restrita aos domicílios ocupados e tem como grande
vantagem à possibilidade de abertura municipal e infra-municipal das informações.

O Censo permite analisar as tendências de longo prazo da população e da renda. O
desenho amostral adotado compreende a seleção sistemática e com eqüiprobabilidade,
dentro de cada setor censitário, de uma amostra dos domicílios particulares e das famí-
lias ou componentes de grupos conviventes recenseados em domicílios coletivos, com
fração amostral constante para setores de um mesmo município. A coleta de dados do
Censo 2000 foi realizada no período de 1º de agosto a 30 de novembro de 2000, abrangen-
     do 215.811 setores censitários, que constituem as menores unidades territoriais da base
     operacional do censo. A operação censitária pesquisou 54.265.618 domicílios nos 5.507
     municípios existentes no ano 2000, em todas as 27 Unidades da Federação.

     Todas as bases supramencionadas têm a virtude de captar a operação da economia infor-
     mal, o que é particularmente relevante para a análise em questão.

     Estabelecimentos formais

     Pesquisa Anual do Comércio (PAC) − principal fonte de dados sobre a estrutura e o
     funcionamento do setor comercial, a série da PAC teve início em 1988, com o objetivo de
     fornecer informações anuais sobre o setor de comércio nos períodos intercensitários.

     Descrever as características estruturais básicas do segmento empresarial do comércio
     atacadista e varejista no Brasil e suas transformações no tempo. Apresenta informações
     econômico-financeiras das empresas de comércio atacadista e varejista do país, abran-
     gendo, entre outros aspectos, dados sobre receitas, pessoal ocupado, salários, retiradas e
     outras remunerações, compras, estoques, formas e margem de comercialização.

     Dividido em duas partes, apresentam informações do total das empresas comerciais e
     das empresas com vinte ou mais pessoas ocupadas. Tem como referência a Classificação
     Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o cadastro básico de seleção é o Ca-
     dastro Central de Empresas – Cempre

     Pesquisa mensal de comércio – a partir de janeiro de 2001 apresenta tabelas com séries
     de indicadores, nominal e de volume, construídos com base na variável receita bruta de
     revenda, investigada nas empresas cuja receita bruta provenha predominantemente da
     atividade comercial varejista.
22




     Pesquisa Anual de Serviços (PAS) – a PAS representa a principal fonte de dados sobre
     a estrutura e o funcionamento dos serviços empresariais não-financeiros, com detalha-
     mento regional, fornecendo informações relevantes para os planejamentos público e pri-
     vado.

     A pesquisa, cuja série iniciou-se em 1998, apresenta informações sobre a situação econô-
     mico-financeira das empresas, como receitas, valor bruto da produção, valor adicionado,
     custos e despesas, pessoal ocupado e gastos com pessoal, entre outras, apresentadas para
     segmentos selecionados do setor produtor de serviços empresariais não-financeiros do
     país, com destaque para as empresas com vinte ou mais pessoas ocupadas. Esses seg-
     mentos abrangem os grupos de atividades ligadas aos serviços prestados às famílias;
     serviços de informação; serviços prestados às empresas; transportes, serviços auxiliares
     dos transportes e correio; atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis;
     serviços de manutenção e reparação; e outros serviços.

     Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o
     cadastro básico de seleção é o Cadastro Central de Empresas – Cempre

     Pesquisa Industrial Anual (PIA) – a pesquisa constitui-se na mais completa fonte de
     dados estatísticos sobre o setor industrial brasileiro e reúne informações econômico-fi-
     nanceiras sobre esse setor, abrangendo, entre outros aspectos, dados sobre pessoal ocu-
pado, salários, retiradas e outras remunerações, receitas, custos e despesas, e valor da
produção e da transformação industrial.

A série da PIA teve início em 1966 e apresentou até 1995 resultados em anos intercen-
sitários. O desenho da pesquisa leva em conta a concentração da atividade produtiva
nos segmentos de maior porte, incluindo na amostra todas as empresas industriais com
trinta ou mais pessoas ocupadas.

Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o
cadastro básico de seleção é o Cadastro Central de Empresas – Cempre

Pesquisa industrial mensal – apresenta tabelas com indicadores de curto prazo rela-
tivos ao comportamento do emprego, dos salários e do valor da produção, tendo como
unidade de coleta os estabelecimentos industriais selecionados por amostragem proba-
bilística. Os resultados são divulgados para o Brasil, regiões Nordeste e Sul e os estados
de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Mapeamento e monitoramento

O CEE – Os Cadastros de Estabelecimentos e Empregados permitem mapear os empre-
endimentos criados em diferentes setores da economia local. O CEE/MTE é formado
a partir dos seguintes cadastros: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE),
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/MTE), Cadastro Específico
do INSS (CEI/MTE), Sistema Federal de Inspeção do Trabalho (SFIT/MTE), Sistema de
Acompanhamento Estatístico e Gerencial do Seguro Desemprego (SAEG/MTE) e Cadas-
tro Nacional da Pessoa Jurídica, do Ministério da Fazenda (CNPJ/MF).

O Cempre – Reúne o registro de informações referentes ao total das atividades pratica-
das por cada entidade legal e em cada um de seus endereços de atuação. As unidades do



                                                                                             23
cadastro são aquelas formalmente constituídas, inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica – CNPJ, sendo suas informações organizadas segundo níveis de detalhamento da
Classificação Nacional das Atividades Econômicas – CNAE. A atualização é feita a partir
de registros administrativos, como a Relação Anual de Informações Sociais – Rais – e das
pesquisas anuais do IBGE nas áreas de Indústria, Comércio, Construção e Serviços.

Caged – O Caged nos permite identificar as características da evolução e dos problemas
de demanda e oferta de mão-de-obra local. Consiste em um registro permanente de ad-
missões e desligamentos de empregados sob o regime da CLT.


 Foi criado pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 4.923/65, que instituiu o registro
 permanente de admissões e dispensa de empregados.


 Os dados estatísticos são apresentados por setor e subsetor de atividade econômica,
 em nível geográfico, permitindo que se visualize a movimentação de um município
 com sua respectiva microrregião ou Unidade da Federação e, em nível setorial.


 Por se tratar de registro administrativo, há que se ressaltar a possibilidade de erro nas
 informações referentes aos municípios menores, onde a orientação aos declarantes é
 mais precária.
A Rais – Relação Anual de Informações Sociais é um registro administrativo de âmbito
     nacional, com periodicidade anual, obrigatória para todos os estabelecimentos, inclusive
     aqueles sem ocorrência de vínculos empregatícios no exercício, tendo esse tipo de decla-
     ração à denominação de Rais Negativa.

     Criada para fins estatísticos e administrativos, a Rais registra grande quantidade de in-
     formações necessárias ao processo administrativo (viabilização do pagamento do abo-
     no salarial, por exemplo) e possibilita, também, tabulações estatísticas de fundamental
     importância para o acompanhamento e para a caracterização do mercado de trabalho
     formal. Ao contrário das pesquisas domiciliares, nas quais a coleta tem objetivos especi-
     ficamente estatísticos, na Rais os produtos estatísticos ocorrem no curso de uma função
     administrativa.

     O universo abrangido atualmente é de aproximadamente 2 milhões de estabelecimentos
     com vínculos empregatícios, contemplando cerca de 19 milhões de empregos celetistas e
     5 milhões de estatutários.

     Sistema de contas nacionais

     Possuem periodicidade anual e permitem analisar a forma como o setor institucional
     participa da geração, apropriação, distribuição e uso da renda nacional e da acumulação
     de ativos não-financeiros, como também evidenciam as relações entre a economia nacio-
     nal e o resto do mundo.

     As informações apresentadas mostram os fluxos de oferta e demanda dos bens e serviços
     e, também, a geração da renda e do emprego em cada atividade econômica. Oferecem
     uma visão de conjunto da economia e descrevem os fenômenos essenciais que consti-
     tuem a vida econômica: produção, consumo e acumulação, fornecendo ainda uma repre-
     sentação compreensível e simplificada, porém completa, desse conjunto de fenômenos e
24




     das suas inter-relações.

     Matriz insumo-produto

     As matrizes de insumo-produto são elaboradas a partir dos dados das Contas Nacionais
     do Brasil. As tabelas da matriz de insumo-produto estão classificadas em três grupos:


     •	 Recursos e usos de bens e serviços. Neste grupo estão as tabelas, em valor, contendo
        as seguintes informações: oferta de bens e serviços, produção as atividades e impor-
        tações;

     •	 Consumo intermediário das atividades, demanda final e componentes do valor adicio-
        nado;

     •	   Dados para passagem das contas nacionais para a matriz de insumo-produto: compre-
          ende as transformações de cada vetor componente da oferta, a preço de consumidor,
          em uma matriz. Permitem construir uma tabela de insumo-produto, a preço básico,
          essencial para a preparação da matriz de insumo-produto;

     •	 Coeficientes técnicos da matriz de insumo-produto: abrange as tabelas de coeficientes
        técnicos da matriz de insumo-produto.
3. Técnicas utilizadas

Análises univariadas e bivariadas

O objetivo da análise univariadas e bivariadas é traçar um perfil descritivo de diferentes
grupos de consumidores, assim como dos empreendedores, formais e informais, e de
suas empresas em relação aos principais atributos pessoais, como sexo, raça, idade, esco-
laridade, etc, e de variáveis relativas aos estabelecimentos como setor de atividade, local
de funcionamento, número de empregados, entre outros.

A análise univariada apenas descreve a extensão ou importância de cada variável, in-
formando, por exemplo, qual fração da população tem despesa com turismo, ou qual a
porcentagem de pessoas sem instrução na população.

A análise bivariada, por sua vez, envolve o cruzamento de duas variáveis, mostrando
como se dá a distribuição de uma variável por cada segmento. Informa-nos, por exem-
plo, qual a fração das pessoas que tem condições de moradia ruins e tem despesas com
turismo, ou qual o gasto médio dos indivíduos com mais de 70 anos de idade. Entre-
tanto, a análise bivariada retrata o papel de cada atributo tomado isoladamente, isso é,
desconsiderando-se possíveis e prováveis inter-relações entre as variáveis explicativas.
Por exemplo, o fato de que negócios realizados fora do domicílio (oficinas, lojas, etc)
apresentam maior faturamento não quer necessariamente dizer que o lugar dos negócios
determina o desempenho, uma vez que negócios realizados fora do domicílio em lugar
próprio tendem a pertencer a indivíduos mais educados e com maior renda, e possivel-
mente são essas variáveis que podem estar determinando o sucesso.

Para uma descrição completa das estatísticas univariadas e bivariadas relativas a este
trabalho, basta acessar os diversos panoramas presentes no site da pesquisa.



                                                                                               25
Análises multivariadas

Já a análise multivariada procurará dar conta dessas inter-relações por meio da análise
de regressões de diversas variáveis explicativas tomadas conjuntamente, com o objetivo
de se isolar o efeito de cada variável. Continuando o exemplo anterior, a análise multiva-
riada nos permite distinguir se o que determina o faturamento é o local do negócio ou
outro atributo como educação, mediante comparações de indivíduos iguais em tudo que
é observável (escolaridade, renda, etc.), exceto o local de negócios.

A análise multivariada desempenhará um papel fundamental neste estudo permitindo
isolar as diversas instâncias de atuação das ações. A análise multivariada consiste no
desenho de regressões, que envolve a escolha de uma variável a ser explicada, uma ou
mais variáveis explicativas de interesse, e algumas variáveis de controle, apenas para
tirar o possível efeito dessas variáveis e nos permitir comparar indivíduos iguais naque-
las características em questão. Esses exercícios de regressão nos dirão se existe alguma
correlação entre as variáveis explicativas e a variável explicada, se essa correlação é sig-
nificativa estatisticamente, se a correlação é positiva ou negativa e sua magnitude.

Depois de determinar quais são as variáveis a serem analisadas nas regressões, surge
o desafio de “desenhar as regressões”, ou seja, determinar que fatores testaremos como
explicativos das variações dos fatores estudados.
Para uma descrição completa dos exercícios multivariados realizados neste trabalho bas-
     ta, acessar os simuladores presentes no site da pesquisa.

     Regressão logística

     Essa técnica permite analisar as chances de ocorrência de um determinado evento para
     um indivíduo com iguais atributos, exceto um. Por exemplo, pode-se comparar as chan-
     ces de indivíduos com o mesmo sexo, idade, anos de estudo, exceto a renda, de possuírem
     gastos com artigos têxteis. A regressão logística permite estimar as probabilidades de
     ocorrência de um evento dado a um conjunto de características observáveis.

     Regressão de mínimos quadráticos ordinários

     Trabalhamos com uma análise da correlação entre renda/despesa por meio de uma re-
     gressão em variável contínua que permite comparar indivíduos que são iguais em uma
     série de atributos observáveis menos a variável estudada. Por exemplo, a equação de
     despesa permite estudar o papel de cada determinante dos níveis consumo de diferentes
     tipos de indivíduos na economia.




                  4. Apresentação dos resultados

     Sistemas de informação para subsidiar a decisão de gestores

     Serão desenvolvidos sistemas de informações, interativos e amigáveis para subsidiar a
     tomada de decisão de gestores do SEBRAE. Alguns desses instrumentos poderão ser
     adaptados como material didático para os microempreendedores, como por exemplo:
26




     Simuladores

     Um sistema de simuladores de probabilidades foi desenvolvido a partir de modelos mul-
     tivariados aplicados a variáveis de interesse contínuas (ex: faturamento do negócio) ou
     discretas (eg. probabilidade de atuar em mercados internacionais) controlado por atribu-
     tos individuais e geográficos derivados de microdados. Os resultados estimados permi-
     tem identificar, por exemplo, vários fatores relativos ao acesso a mercados externos e seus
     impactos. Uma vez encontrados, todos esses fatores são sintetizamos num único indica-
     tivo de probabilidade. Esse exercício permite aos gestores do programa, de forma amigá-
     vel e interativa, calcular a probabilidade de um indivíduo, dadas as suas características
     sociodemográficas, geográficas e econômicas, ter acesso a mercado internacional.

     Panoramas

     O panorama permite obter uma visão bastante ampla de indicadores diversos cruzados
     com características gerais da população (demográficas, socioeconômicas e espaciais).
     Com ele é possível medir, por exemplo, a probabilidade de ter ou não despesas com turis-
     mo, em diferentes grupos, de forma simples e direta. Esse instrumento otimiza e facilita
     a consulta, o processamento e a análise dos dados processados neste estudo.
5. Elementos da análise empírica

O objetivo geral do diagnóstico empírico aqui discutido é subsidiar a aplicação de ações
de incremento da inserção de mercado das atividades microempresariais. Em particular,
enfatizamos a análise dos recursos de pequenos empresários e empreendemos em estu-
do de caso dos microempresários de segmentos selecionados. Constatamos, por exemplo,
que mais forte do que a escassez de capacidade de oferta medida por meio da posse de
recursos como capital físico, crédito, tecnologia, é a dificuldade de vendas. Nesse sentido
o universo aqui analisado constitui um laboratório privilegiado acerca dos constran-
gimentos e carências que devem ser combatidos pela ação privada e de suas possíveis
interações com políticas públicas.

Na escolha de um elenco de políticas incentivadoras das atividades nanoempresariais,
deve avaliar a efetividade da restrição de escassez dos diversos tipos de recursos en-
frentada pelos microempresários – aqui estamos mais especificamente interessados na
aplicação de políticas de acesso ao mercado.

No caso de políticas nanoempresariais, é fundamental identificar não só o potencial ge-
rador da estruturação de um conjunto de ativos e passivos como a taxa de penetração nos
mercados finais. Outro elemento fundamental para a determinação do potencial de cres-
cimento das unidades é integrar a alocação de recursos pelas famílias para o consumo,
para compras por parte de outras firmas, governo e setor externo, e decisões mercadoló-
gicas no interior das pequenas firmas. A sobreposição dessas duas facetas implica enten-
dimento da estrutura e funcionamento dessas empresas, devendo-se levar em conta as
características dos consumidores finais.


Taxonomia de efeitos



                                                                                              27
Discutimos aqui brevemente como construir uma ligação entre resultados empíricos ge-
rados e medidas que busquem a expansão do mercado das empresas assistidas.



         Diagrama –TIPOS E ESFERAS DE AÇÕES NA ANÁLISE EMPÍRICA
                                      TIPOS DE AÇÔES

     DISTRIBUIÇÂO/               MONITORAMENTO                DEFINIÇÃO DE
     COMUNICAÇÂO                 DO MERCADO                   PREÇOS E
                                                              PRODUTOS



                                                                CONTEXTO
                          ACESSO A
                                                                ECONÔMICO
                          MERCADO



                                     ESFERAS DAS AÇÕES

    POR ATRIBUTOS DOS            POR SETORES E                POR CARACTERíSTICAS
    CONSUMIDORES                 LOCALIDADES                  DO NEGÓCIO
Geralmente, existem dois grupos de políticas para o aumento das vendas, as estruturais
     e as operacionais. No grupo de medidas estruturais figuram, por exemplo, as mudanças
     nos produtos de função de inovações tecnológicas e mercadológicas. Entre as medidas
     operacionais, encontramos ações na área de comunicação, tais como propaganda. Em
     ambos os casos, a análise dos fatores correlacionados com o acesso a mercado pode ser
     de extrema valia na escolha do foco de medidas, sejam elas operacionais ou estruturais.

     Em termos relativos à comunicação, a identificação das características dos demandantes
     pessoas física e/ou jurídica, formais ou informais é fundamental para orientar as ações.
     A diversidade setorial é fundamental e deve acompanhar a evolução de variáveis tais
     como pontos de venda, e preços por setor de atividade em diferentes níveis de agre-
     gação. Além disso, temos também ações regionais, cujo foco está na distribuição espa-
     cial da demanda reprimida por bens e serviços em nível regional, estadual, municipal e
     abaixo deste para nortear os esforços de colocação da produção no mercado. O que nos
     propomos fazer na parte empírica do trabalho é estudar a clientela passada, corrente e
     potencial das empresas em setores específicos, a fim de subsidiar o direcionamento de
     estratégias de acesso ao mercado.
28
III. A visão do consumidor:
teoria




                              29
1. Fundações teóricas

     O objetivo é fazer uma breve descrição coerente do comportamento do indivíduo, com base
     nas suposições usuais de racionalidade humana, podendo contar com uma grande varieda-
     de de evidências empíricas, incluindo a evidência de comportamentos agregados e de com-
     portamentos individuais. Os fundamentos teóricos têm sido uma preocupação secundária
     comparada com a preocupação de agregação dos dados e de prever corretamente usando
     modelos agregados. Enquanto podemos esperar que o entendimento da racionalidade do
     consumidor possa nos levar a boas previsões, a procura por fundamentos coerentes pode
     não ser a forma mais direta de se descobrir regularidades empíricas importantes.

     A decisão de quanto consumir em geral é a decisão de se gastar dinheiro agora em opo-
     sição a retê-lo para financiar consumo futuro, seja para alguma razão específica ou para
     alguma contingência futura não especificada. Dessa forma, a base apropriada para a
     teoria do consumo agregado de todos os bens e serviços, vistos de forma conjunta, é a te-
     oria da escolha intertemporal, que analisa os dilemas (trade-offs) entre o consumo futuro
     ou presente. A versão mais simples possível dessa abordagem é aquela encontrada nos
     livros-textos de microeconomia, nos quais o consumidor, morando em um mundo com
     apenas dois períodos e sem incerteza, escolhe quanto gastar amanhã. É uma elaboração
     de dois períodos de um ponto básico a partir do qual eu vou adicionando paulatinamen-
     te um maior nível de complexidade. Mostramos esse material básico e como este pode
     ser estendido para modelar a decisão de consumo ao longo do ciclo de vida. Esse modelo
     oferece uma moldura teórica básica para a discussão da decisão de gasto de consumo.

     No caso mais simples possível, existe um único agente que tem suas preferências defi-
     nidas de como consumir nos períodos 1 e 2. Como sempre os gostos são representados
     por uma função utilidade: u = v(c1, c2), o qual o consumidor maximiza sujeito às opor-
     tunidades disponíveis. Existe um único ativo, o qual o consumidor possui na quantidade
30




     A1. No começo do período1, e que aufere uma taxa de juros r2 nos investimentos feitos
     entre os períodos 1 e 2. O consumidor pode tomar emprestado ou emprestar o quanto
     quiser, porém assume-se que o mundo acabaria após o período 2 e que o consumidor
     não pode estar em débito no final do mundo. Se também nos abstrairmos de heranças e
     assumirmos que o nosso agente representativo sempre preferirá consumir mais do que
     menos, então os ativos serão zero no final do período 2. O consumidor também recebe
     uma renda do trabalho y1 e y2 em cada um dos períodos, separadamente de qualquer
     fluxo de renda (positivo ou negativo) ganho com o ativo. O acúmulo de ativos evolui de
     um período para outro de acordo com: A2 = (1 + r2)(A1 + y1 - c1).


     Muitos períodos e o ciclo da vida

     A idéia básica do modelo do ciclo da vida é lançar mão da idéia de alocação intertem-
     poral para explicar a trajetória do consumo individual com a idade. A teoria estende-se
     desde dois períodos, hoje versus amanhã, a um modelo com muitos períodos e idades,
     com os consumidores escolhendo quanto (e quando) gastar seus recursos durante o seu
     tempo de vida. No modelo do segundo período, o consumo é financiado pelos bens her-
     dados e consumidores usam o mercado de capitais para traduzir a trajetória da renda e
     dos ativos em termos de uma trajetória desejada de consumo. O processo de escolha é
     governado pelo conjunto das preferências intertemporais, que de uma forma geral, pode
     ser escrita da seguinte forma: u = V(c1, c2, c3, ..., cT), em que o período de 1 a T correspon-
     de aos anos de vida do nosso agente representativo, assim cada nível de consumo anual
é escolhido pelo consumidor, de modo que complete o espaço vazio na função utilidade
do ciclo da vida.

As preferências representadas pela função utilidade do ciclo da vida permitem uma ili-
mitada relação de complementaridade e substutabilidade entre nível de consumo em
diferentes períodos que dificultam a realização de proposições mais gerais a partir da
teoria. Iremos discutir vários casos especiais neste relatório, mas irei me debruçar de
forma mais extensa sobre o caso de preferências intertemporalmente aditivas (ou forte-
mente intertemporalmente separáveis), que tem a seguinte forma: u = v1(c1) + v2(c2) +
...+ vT(cT), em que as funções felicidade v1(c1) são crescentes e côncavas. Com ou sem se-
parabilidade, a utilidade é maximizada sujeita à restrição orçamentária ao longo da vida
que é a óbvia generalização de (3).Note que estou usando uma taxa real de juros fixa a
longo prazo para evitar uma notação um pouco mais complicada com fatores múltiplos
descontados, e que, por um momento, estou trabalhando em um ambiente imaginário
onde não existe incerteza.


O consumo acompanha a renda?

A evidência do perfil etário do consumo torna difícil de acreditarmos que a relação entre
poupança e crescimento seja uma conseqüência do fato de que os jovens poupam agora para
não poupar no futuro. Mais importante, o perfil do consumo para diferentes proporções de
economias em crescimento não é consistente com as hipóteses básicas de qual consumo, que
é determinado pelos recursos totais acumulados ao longo do tempo de vida dos agentes. Mas
somente isso não indica que as hipóteses do ciclo de vida devam ser rejeitadas. Entre países,
a variação dos gostos pode ser admitida, e outras explicações são buscadas para a relação
entre poupança e crescimento. Carroll e Summers (1991) utilizam dados das Pesquisas de
Gasto em Consumo nos Estados Unidos de 1960-1 e 1972-3 para desenhar idades-perfil de
consumo e renda para cinco grupos educacionais e nove grupos ocupacionais. Os mode-
los diferem marcadamente de um grupo para outro, embora, eles estejam muito mais está-



                                                                                                31
veis no decorrer tempo, e cada caso de perfil−consumo está próximo do caso perfil−renda.
Aqueles que estão nos grupos educacional ou ocupacional nos quais a renda atinge o topo
por volta dos cinqüenta anos têm trajetória do consumo que também atinge o topo tarde,
enquanto aqueles com pouca educação e sem trabalho especializado têm perfis de renda e
consumo que atingem o topo cedo, que são baixos, ou que caem com a idade. Browning, De-
aton e Irish (1985), usando dados britânicos, também acham que os perfis−consumo e renda
estão sincronizados no ciclo da vida, ambos para trabalhadores manuais ou não. No Painel
de Estudos de Dinâmicas da Renda de Michigan (PSID), Lawrence (1991) encontra que o
consumo de alimentos das famílias mais pobres cresce menos rapidamente com a idade do
que o consumo de alimentos feito pelas famílias mais ricas, um resultado que ela interpreta
mostrando que a taxa de tempo−preferência está relacionada inversamente à renda. Mas
as famílias mais pobres e menos educadas também têm suas rendas crescendo menos ra-
pidamente, assim, mais uma vez, a evidência é consistente com o consumo seguindo a ren-
da no ciclo da vida. Essas descobertas sugerem uma associação muito mais próxima entre
consumo e renda, que poderia ser pensada como incompatível com as hipóteses do ciclo da
vida. Enquanto está claro que uma relação simples entre consumo e renda não é uma boa
alternativa, como o consumo é muito mais suave que a renda, esses resultados sugerem que
vale a pena, considerando com cuidado as hipóteses adotadas, relacionar consumo e renda
em períodos menores do que o ciclos de vida completos.

Um caminho é olhar para fatores que condicionam preferências e que estão correlacionados
com as rendas do trabalho no ciclo da vida. Filhos são uma possibilidade, e tamanho de
família e os gastos, que vão juntos tender a atingir o pico no meio ou depois da meia-idade
     em volta do mesmo tempo que a renda da família atinge o pico. Sendo um tanto mais enfá-
     tico, as preferências seriam diretamente afetadas pela renda, se renda e estilos de vida vêm
     com tipos de trabalho particulares. Modelos precaucionais e formação de hábito discutidos
     iriam da mesma forma reconciliando a teoria com a evidência, desde que ambos tendam
     a baixar o consumo cedo na vida, quando a renda também é baixa. Taxas de juros teriam
     uma regra similar, e se os retornos reais são maiores em economias que crescem mais rápi-
     do, haveria uma explicação parcial do porquê consumo em economias que crescem rápido
     não mais fortemente favorecem o jovem. Algumas dessas hipóteses têm problema nelas
     mesmas, e nenhuma tem recurso simples do vínculo direto entre consumo e renda que é
     característico da evidência empírica disponível. Contudo, mais pesquisa será necessária
     antes de termos uma evidência mais decisiva que discriminaria claramente essas hipóteses
     uma da outra, ou de fato coerentemente invalida as hipóteses do ciclo da vida.


     Perfis do consumo ao longo da vida

     Choques de gostos

     Suponha que a variação com idade das funções vt(ct) pode ser capturada escrevendo-se:

           v t(ct) = (1 + r) v(ct, zt),

     em	que	zt	são	variáveis	que	afetam	o	desejo	de	consumo	em	diferentes	pontos	do	ciclo	
     da	vida,	ou	seja,	capta	mudança	de	gostos	estrutura	demográfica	doméstica	sendo	tal-
     vez	mais	óbvia.	É	a	taxa	de	preferência	no	tempo.	Se	a	variável	zt	não	muda,	a	condição	
     de	primeira	ordem	fica:

           v (ct,zt) = 1	+	∂	
                       1+r
32




     uma equação em que se tem um número de implicações.

     Primeiro, note o tamanho da “mudança de gostos” zt. Suponha que r = ∂, então o lado
     direito de (9) é constante. Se existem períodos particulares no ciclo da vida no qual as
     variáveis zt fazem a utilidade marginal do consumo subir, então, sendo a função utilida-
     de marginal decrescente no primeiro argumento, o consumo no período deve subir. Essa
     simples história produz uma razoável explicação para o número de fenômenos do ciclo
     da vida. Quando existem mais pessoas na família, a utilidade marginal de gasto adicional
     vai ser alto, então o consumo doméstico ao longo do ciclo da vida teria a mesma forma da
     estrutura do domicílio ao longo do ciclo de vida, aumentando inicialmente com a idade
     média do chefe do domicílio e decrescendo depois. Nesse contexto, o baixo consumo dos
     idosos pode ser atribuído ao fato da utilidade marginal dos gastos serem baixos em ida-
     des mais avançadas, veja, por exemplo, Börsch-Supan e Stahl (1991). Pode ser também o
     caso de que o consumo e o lazer sejam substitutos, então, mesmo que estejam corretas as
     suposições usuais de que horas trabalhadas sejam dadas exogenamente, a utilidade mar-
     ginal do consumo será alta quando as horas de trabalho forem maiores. Essa é outra razão
     do consumo ser alto na idade média, veja Thurow (1969) e Heckman (1974).

     A segunda implicação de (9) afeta a reação do comportamento do consumo em resposta
     à taxa de juros real. Note primeiramente que se zt é constante, o consumo irá crescer ou
     declinar com a idade dependendo de se a taxa de juros real é maior ou menor que a taxa
     de preferência temporal dos agentes.
Consumo e a taxa de juros

A maximização da função utilidade sujeita a restrição orçamentária é o problema básico
a ser abordado. Dado que essa é a forma usual de análise da demanda do consumidor, a
maximização da utilidade sujeita a uma restrição orçamentária linear com parâmetros
de preços, podemos conduzir todos os aparatos usuais da teoria de escolha do consumi-
dor. Em particular, o fator desconto (1 + r2) é o preço do consumo futuro relativo ao con-
sumo presente. Assim os efeitos dos ativos, da renda e dos preços podem ser analisados
usando as ferramentas usuais da teoria do consumidor.

Dessa teoria do consumidor frisamos os resultados abaixo para referência futura:

(i) um aumento na taxa de juros r2: (a) barateia o consumo futuro em relação ao preço do
consumo corrente, o efeito substituição; (b) permite mais consumo no segundo período,
com o mesmo total de recursos e sem cortar o consumo do primeiro período, o efeito
renda, e (c) se y2 for positivo, reduz o valor presente da renda do trabalho auferida ao
longo do horizonte de planejamento do agente, o efeito riqueza. Os efeitos (a) e (c) agem
de modo a cortar o consumo corrente, enquanto (b) trabalha no sentido oposto em vez do
consumo total de mercadorias em conjunto com o serviço. Isso mostra que é implausível
o efeito substituição, podendo ser muito grande, mas em alguns casos, a direção do efeito
do consumo na renda não prejudica a ação da teoria. Por exemplo, isso é o mais simples
exercício para mostrar que a direção do efeito da renda sobre o consumo corrente depen-
de do tamanho do parâmetro.

O efeito na taxa de juros na poupança tem sido sempre uma questão central de política
econômica. A teoria dificilmente sugere uma resposta definitiva a essa questão, de modo
que a resposta se torne uma questão empírica.

(ii) Os impactos de aumentos na renda corrente sobre o consumo, agora ou no futuro,



                                                                                              33
dependem de como a renda futura está relacionada com a renda corrente

Conseqüências mais sérias seguem do reconhecimento de que rendas do trabalho não
são constantes por toda vida de trabalho. Mesmo em ocupações nos quais existem pouco
treinamento, e em que produtividade depende mais da força bruta do que do cérebro.
As rendas tipicamente começam em níveis baixos, aumentando com a idade antes de um
eventual declínio. Em outras palavras, sempre existem alguns períodos de crescimento
de renda no começo do ciclo da vida. Conseqüentemente, se o consumo é constante ao
longo da vida, é possível que consumidores jovens queiram “emprestar” e não poupar,
no início de suas carreiras, especialmente se eles estão em ocupações nas quais a educa-
ção e o treinamento são realizados por longos períodos.

Claro que a taxas de juros positivas, o motivo precaucional, as restrições ao crédito (res-
trições por liquidez), ou os efeitos de defasagem de hábitos podem atuar no sentido de
reter o consumo corrente, então, pessoas jovens com rendas em formato de U-invertido
podem não querer tomar empréstimos, ou não ter como tomar empréstimos. O cresci-
mento rápido da população, se mantido, não só aumenta a razão do número de traba-
lhadores em relação ao do número de aposentados, como também aumenta a razão do
número de crianças em relação ao do número de trabalhadores, assim, o efeito líquido na
poupança não é necessariamente positivo, nem existe nenhuma ligação simples entre os
efeitos da população e do crescimento de produtividade.
2. Motivos de abstenção do consumo de longo
                 prazo

     Keynes (1936, capítulo 15) refere-se às motivações que levam os indivíduos a demanda-
     rem moeda. Assim como Keynes destacou os diversos motivos para demandar moeda
     podemos destacar os diversos motivos de longo prazo que levam os indivíduos à acu-
     mulação.


     Ciclo da vida

     Poupar para a aposentadoria advém do desejo individual de manter um padrão estável
     de consumo ao longo do ciclo da vida. Em função disso, os indivíduos abrem mão de
     uma parcela de consumo durante a vida ativa para poder estabilizar o padrão de con-
     sumo na velhice, quando em geral ocorre uma queda no rendimento do trabalho. Há,
     portanto, uma acumulação até a data da aposentadoria, a partir daí o estoque financeiro
     começa a ser utilizado para complementar os recebimentos a título de aposentadoria. A
     versão mais simples do modelo do ciclo da vida é aquela na qual o consumo é constante
     ao longo da vida, não existe incerteza, a taxa de juros é nula, e a única mudança na renda
     que ocorre é quando o consumidor se aposenta.

     A figura a seguir ilustra esse caso que Modigliani (1986) denominou como a versão sim-
     plificada (stripped down) do modelo do ciclo da vida. Renda é constante durante L anos
     de vida de trabalho (L= 40 anos, por exemplo) e igual a uma unidade, e então cai a zero
     nos R anos de aposentadoria (R=10 anos, por exemplo). Consumo é constante ao nível de
     L/(L+R) por período ou 80% da renda durante a vida de trabalho, de forma que a pou-
     pança é de 20% da renda por período R/(R+L), chegando ao máximo de oito vezes a renda
     imediatamente anterior a aposentadoria.
34




                          8
            Unidade de
                renda     4                                               Ativos financeiros
                                                                          Consumo
                          1                                               Renda



                                 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
                               Idade economicamente ativa
                                                            Inatividade




     Uma visão complementar

     A incorporação da possibilidade de endividamento no período inicial do ciclo da vida
     no esquema simples apresentado por Modigliani na sua Nobel Lecture nos fornece uma
     visão alternativa da análise do ciclo da vida. O endividamento dos grupos mais jovens
     pode sinalizar um mecanismo de suavização do consumo e do bem-estar ao longo do
     ciclo da vida. O que ocorre é que nas etapas iniciais do ciclo da vida, os indivíduos estão
entrando no mercado de trabalho, mas a sua renda geralmente é baixa. Se eles acreditam
que irão passar por uma ascensão profissional tentarão utilizar os recursos futuros via
endividamento, suavizando seu consumo e sua renda. Há duas possibilidades quanto
aos empréstimos no esquema simples de Modigliani de duas formas. Na primeira os
jovens conseguem contrair, na segunda eles não conseguem, neste último caso estão
restrito por liquidez. Aqui nós dividimos o ciclo da vida em três etapas: os primeiros
10 anos de idade ativa do indivíduo (J), quando a sua renda é baixa (igual a 0,5 unidade
monetária), os 30 anos seguintes (L) (período de auge profissional, cuja renda média do
indivíduo é 1 unidade monetária) e os 10 últimos anos do ciclo da vida (R), no qual o in-
divíduo se aposenta, e utiliza os ativos poupados durante o período anterior. Nesse caso,
o consumo médio do indivíduo será 0,7 ((0,5x J +1x L )/ J+L+R). Assim, na fase inicial o
consumo dos indivíduos é maior que sua renda e então eles irão contrair empréstimos,
acumulando dívida (ativos negativos). Na segunda fase do ciclo, o aumento inicial da
renda será para cobrir empréstimo, e só a partir de um certo ponto será possível acumu-
lar para a aposentadoria.

No segundo caso, os jovens não conseguem empréstimos. Observamos um caso de res-
trição por liquidez, no qual os indivíduos são obrigados a consumirem toda a sua renda
(ou seja, 0,5 unidades monetárias). Nesse caso, na etapa inicial, a acumulação será nula.
Somente na segunda fase será possível acumular ativos e suavizar o consumo. A partir
dessa fase o consumo será igual a 0,75 (L/L+R).


Restrições por liquidez e indivisibilidades

Indivíduos restritos por liquidez são aqueles cujo desejo de consumo está além das dispo-
nibilidades líquidas, conforme mostra a ilustração a seguir. De acordo com esta ilustração
os consumidores preferem estar no ponto C, onde suavizaria o consumo entre os períodos
1 e 2. No entanto, como sua disponibilidade líquida é inferior ao seu desejo de consumo, a
restrição à liquidez impede o financiamento de seu consumo corrente. Assim, o indivíduo



                                                                                             35
consome toda a sua renda, ficando preso a uma solução de canto no ponto A.


            C2

             Y2   A
        C

                                       C.I .

                   DL                      C1




- C1 e C 2 representam o consumo no período 1 e 2 respectivamente

- DL são as disponibilidades líquidas do período 1, ou seja, ativos herdados do passado
mais renda corrente (A0 + Y1)

- Y2 é a renda do período 2

- CI é a Curva de indiferença do agente
Normalmente, se esperaria que indivíduos restritos por liquidez não poupassem, já que
     poupança é vista como o excedente de renda em relação ao consumo. Contudo, alguns
     dos motivos apresentados para poupar podem ser reforçados pela existência de restri-
     ção por liquidez. Indivíduos restritos por liquidez seriam induzidos a acumular ativos
     financeiros como um “buffer-stock” contra incertezas.

     Em geral, nos testes empíricos a restrição por liquidez é avaliada pelo montante de ati-
     vos que os indivíduos dispõem. Segundo Runkle (1991) pessoas com pouco ativo líquido
     teriam dificuldades em tomar empréstimos e, portanto, estariam restritas por liquidez.
     Contudo, autores como Deaton (1992) acreditam que a inabilidade de tomar empréstimo
     não implica inabilidade em poupar, podendo existir boas razões para que consumidores
     restritos por liquidez acumulem ativos financeiros. Restrições por liquidez poderiam
     induzir a uma maior acumulação de ativos, de forma contrária à preconizada pelos
     testes empíricos.

     A acumulação para aquisição de bens indivisíveis, representados principalmente por
     imóveis, resulta do fato que os fluxos de renda mensal tomados individualmente não
     são suficientes para compra de bens indivisíveis e de alto valor unitário. Essa situação
     é induzida pela inexistência de mercados de crédito perfeitos, indutores de restrições
     por liquidez.

     Poupar para aquisição de bens é, portanto resultado da interação de dois fatores: in-
     divisibilidade dos bens e imperfeições no mercado de crédito. Os indivíduos que se
     apresentam numa situação de autarquia têm que acumular recursos por conta própria,
     durante alguns períodos até que possam obter o bem indivisível.5 Similarmente, pesso-
     as que querem começar um novo negócio, freqüentemente são frustradas pela falta de
     acesso ao mercado de capitais, sendo forçadas à acumulação antecipada.

     Precaucional
36




     A demanda por ativos por motivos precaucionais se dá em razão das incertezas do fu-
     turo, que afetam o bem-estar. Dado que poupança fornece recursos que estarão dispo-
     níveis no futuro, quando essas incertezas serão resolvidas, a decisão de poupar estaria
     também relacionada com a natureza e extensão da incerteza.

     Além da incerteza, a forma da função utilidade é importante para estabelecer a necessi-
     dade de poupar pelo motivo precaucional. A convexidade da função utilidade marginal
     é condição necessária para gerar um motivo precaucional para poupar. A idéia é que em
     tempos ruins, quando o nível de consumo é baixo, as conseqüências são muito piores
     do que em tempos bons, quando o nível de consumo é alto. Portanto, a desutilidade
     marginal de perdas em consumo próximo aos níveis de subsistência é maior do que a
     utilidade marginal de ganhos em tempos de relativa abundância. Com isso, indivíduos
     desistirão de alto consumo, quando for possível, a fim de se preparar para possíveis
     eventualidades. Quanto mais incerta for a renda futura maior é a poupança e menor é
     o consumo presente.

     Um caso que pode ser solucionado explicitamente é o da aversão absoluta ao risco cons-
     tante.


     5	      A	Itália	é	um	exemplo	muito	citado	de	economia	com	altas	taxas	de	poupança	por	causa	do	racio-
             namento	de	crédito.
Suponha que o consumidor maximize:

      max Et [∑ (-1/α) exp (-αCt)/0]

sujeito a

      At+1 = (At + Yt - Ct)

E

      Yt = Y t-1 + e t   e t ~ N(0,)

O consumidor tem aversão a risco absoluto constante, com coeficiente α e vive por T pe-
ríodos. A taxa subjetiva descontada é igual à taxa de juros sem risco, e elas são ambas
iguais a zero. Renda do trabalho segue um caminho aleatório com inovações normal-
mente distribuídas. A suposição importante é de aversão absoluta ao risco constante.

Sendo assim, consumo ótimo satisfaz a seguinte equação de Euler (equação de primeira
ordem).

      Ct+1 = Ct + (ασ)/2 + et                                        (1)

A poupança seria igual a:

      St = - [1/(T-t)]At + (α (T - t -1) σ) /4                       (2)

A primeira equação mostra os efeitos de incerteza da renda na inclinação do caminho
do consumo (Equação de Euler). Incerteza na renda mais alta e maior prudência levam
a uma inclinação mais íngreme da trajetória do consumo ao longo do tempo. A equa-



                                                                                           37
ção (2) dá o nível de poupança como função da riqueza, renda e incerteza. No caso de
“equivalência de certezas” a solução seria dada apenas pelo primeiro termo. Prudência
é refletida no segundo termo: quanto maior a incerteza, maior o nível da poupança para
dados níveis de renda e de riqueza.

Esse motivo também é fortalecido pela existência de restrição a crédito. A possibilida-
de de tomar empréstimos em tempos ruins é uma alternativa que transmite segurança.
Contudo, se essa alternativa não pode ser utilizada, provisão de poupança deve ser feita
para tais eventualidades. Sem acesso a contratos de seguro, os consumidores devem pro-
ver recursos com essa finalidade por meio da acumulação adicional.

Herança

Muito do debate corrente sobre comportamento da poupança em países desenvolvidos
está centrado na importância relativa dos motivos do ciclo da vida (poupar para finan-
ciar o consumo durante a aposentadoria) versus herança (poupar para financiar o consu-
mo dos descendentes).

Indivíduos deixam herança por no mínimo três razões:

1. Altruísmo. Há uma preocupação com as próximas gerações, então, poupa-se
para suavizar o nível de consumo entre gerações.
2. Controle. O doador deixa bens para compensar seus herdeiros pelos serviços forneci-
     dos por eles durante a vida do doador.

     3. Acidente. Como a maioria dos indivíduos não sabe quando vi morrer, não consegue
     elaborar um planejamento exato dos recursos que necessitará até o último dia de sua
     vida. Os indivíduos mantêm sempre com eles uma certa quantia que lhes permite viver
     mais do que realmente vivem, deixando, portanto, uma certa quantia quando morrem.

     Uma importante fonte de incerteza no consumo é a incerteza com relação ao momento da
     morte do indivíduo. Quanto menor for a expectativa de vida, menor o consumo que será
     realizado depois da aposentadoria. Sendo assim, quanto poupar para a aposentadoria
     depende também do grau de incerteza.

     Uma visão polar de família “altruística” foi discutida em Barro (1974). Nessa visão, as fa-
     mílias derivam utilidade não apenas de seu consumo presente, mas também do consumo
     futuro de seus filhos. Isso significa efetivamente que eles derivam utilidade do consumo
     de seus descendentes. Kotlikoff e Summers (1981) observaram que uma proporção subs-
     tancial de poupanças americanas estavam relacionadas a heranças. Outras evidências
     a favor de presentes entre gerações foram destacados também por White (1978), Mirer
     (1979), Kurz (1981,1982,1984).

     Barro se baseia na hipótese de que os pais deixam heranças para seus filhos porque se
     preocupam com eles. Bernheim (1985) discute a segunda razão, citada anteriormente,
     pela qual indivíduos deixam herança, sugere que os pais usam as heranças para contro-
     lar os filhos. Os pais desejam que os filhos tenham atenção com eles e usam a ameaça de
     cortar a herança para induzir os filhos a dar-lhes atenção.

     Para testar essa “motivação estratégica das heranças” foram examinados dados relativos
     à freqüência com que os filhos visitam os pais. Verificou-se que quanto mais ricos os
38




     pais, mais assíduas as visitas dos filhos. Além disso, só a riqueza que pode ser deixada
     como herança induzia maior número de visitas. A riqueza que não podia ser deixada,
     como pensões que cessam com a morte do pensionista, não estimulavam a visita dos
     filhos. Essas evidências sugerem que pode haver outros motivos para as transferências
     de riqueza intrageracionais do que o mero altruísmo.




                  3. Sumário da literatura

     A teoria do ciclo da vida de Modigliani é freqüentemente apresentada como a motivação
     básica para demanda ao longo prazo de ativos financeiros. De acordo com essa teoria a
     queda da renda no final do ciclo da vida induz à acumulação prévia em forma de pou-
     pança por parte dos indivíduos com o desejo de manter um padrão estável de consumo
     ao longo do ciclo da vida.

     A incorporação da possibilidade de endividamento no período inicial do ciclo da vida
     nos fornece uma visão complementar à análise proposta por Modigliani. Nesse período
     inicial, o desejo de consumo geralmente é maior que a renda, o que induziria a uma de-
     manda por empréstimos e não por poupança. Se os indivíduos não estiverem restritos
por liquidez, eles irão financiar o seu consumo corrente e maximizar a suavização do
seu consumo ao longo do ciclo da vida, caso contrário, ficarão presos em uma solução de
canto, consumindo toda a sua renda durante o período inicial.

Segundo a vasta literatura sobre poupança, além da suavização do consumo ao longo do
ciclo da vida, a poupança seria ainda induzida por três fatores principais: a) A poupança
para aquisição de bens indivisíveis e de alto valor unitário num contexto de restrição por
liquidez; b) Motivos precaucionais, em uma situação de incerteza com relação ao futuro;
c) Herança, ou seja, caso em que se poupa para financiar o consumo dos descendentes.




                                                                                             39
IV. A visão do consumidor:
evidência empírica




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Atitudes do consumidor
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Atitudes do consumidor

  • 1. atitudes dos consumidores e acesso a mercado das microempresas brasileiras O r g . M a r c e l o N e r i
  • 2. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, 2008 Adelmir Santana Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Paulo Tarciso Okamotto Diretor-presidente Carlos Alberto dos Santos Diretor de Administração e Finanças Luiz Carlos Barboza Diretor técnico Raissa Rossiter Gerente Unidade de Acesso a Mercados Centro de Políticas Sociais Instituto Brasileiro de Economia Fundação Getulio Vargas Realização Marcelo Cortes Neri Coordenação Técnica Equipe do CPS Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo Samanta dos Reis Sacramento André Luiz Neri Carolina Marques Bastos Paloma Madanelo de Carvalho Ana Lucia Calçada Roberto Neri (Externo)
  • 3. S E T E M B R O D E 2 0 0 8 atitudes dos consumidores e acesso a mercado das microempresas brasileiras
  • 4.
  • 5. Atitudes dos consumidores e acesso a mercado das microempresas brasileiras Os microempreendedores quando perguntados sobre as principais dificulda- des e desafios de seus negócios elencam no topo de suas percepções aspectos mercadológicos como “a falta de clientes” e “a concorrência” vis-à-vis a ele- mentos de oferta, como acesso a insumos, à tecnologia, aos recursos humanos e administrativos, ou mesmo ao crédito. Essa percepção da importância des- ses elementos está presente no Brasil e em outras partes, entretanto, a maior parte de análises e ações públicas se volta para elementos de oferta e não para as restrições mais prementes percebidas, que são de demanda. Este trabalho aborda a questão do acesso a mercado das microempresas brasileiras tanto da perspectiva de como as empresas percebem e agem sobre os demandantes de seus bens e serviços bem como da forma que estes demandantes agem em relação aos bens e serviços produzidos pelas empresas. Heuristicamente, o foco deste trabalho não é sobre o lado da demanda, ou sobre o lado da oferta de bens e serviços, mas sobre os caminhos entre estas duas dimensões. Como esses encontros e desencontros entre oferta e demanda se dão em ambientes de mercado com características específicas, tratamos de alguns setores de ati- vidade mais relevantes na carteira de projetos do SEBRAE, a saber: turismo, comércio varejista, têxtil e confecções, madeira e móveis, leite e derivados, aqüicultura e pesca, alimentos, petróleo e gás, tecnologia da informação, cou- ro e calçado. Desenvolvemos análise conceitual e empírica das modalidades de acesso a mercados das microempresas brasileiras, sua difusão, seus deter- minantes e seus impactos nesses setores específicos. Similarmente, a análise é feita em dois níveis. Em primeiro lugar, estudamos como a microempresa chega aos seus consumidores, aí incluindo não só os indivíduos e suas famílias como outras empresas nacionais grandes ou pe- quenas, governos e setor externo. Avaliamos o uso dos instrumentos de apoio microempresarial de cunho mercadológico e de seus impactos sobre o fatura- mento das empresas. Relacionamos variáveis de acesso ao mercado a atributos pessoais dos microempreendedores dos mercados formal e informal, e a outros aspectos da dimensão produtiva e financeira dos negócios de forma a enten- der as sinergias existentes entre diferentes aspectos dos pequenos negócios, associados nessa perspectiva da oferta relativa à demanda. O segundo aspec- to complementar tratado é como o consumidor encara a oferta de produtos e serviços das empresas. Neste caso, a ênfase recai sobre a demanda de pessoas físicas por grupos de bens e serviços. Traçamos o perfil socioeconômico dos consumidores correntes, assim como do conjunto da população. A análise in- clui, portanto, a demanda presente como potencial dos produtos e serviços dos negócios. Um objetivo complementar deste projeto é processar, reunir e disponibili- zar de maneira amigável um vasto acervo de informações sobre o funciona- mento, as limitações e as potencialidades do acesso ao mercado dos peque- nos produtores, negociantes e empreendedores urbanos, na sua relação com a clientela de seus bens e serviços. Processamos microdados de diversas outras pesquisas domiciliares e de estabelecimentos, como a POF, a Ecinf, a
  • 6. PNAD e o Censo Demográfico para captar causas e conseqüências práticas de estratégias de acesso a mercados em alguns setores selecionados. O sítio do projeto permite ao usuário estender os resultados deste relatório − ou outros de interesse − a localidades e segmentos específicos. Também permi- tindo a cada um analisar o acesso aos mercados consumidores desde uma perspectiva e interesses próprios. De maneira geral, o projeto busca contri- buir para o aprimoramento de estratégias de acesso a mercado no mapa das ações de apoio microempresarial. Palavras-chave 1. A cesso a mercado 2. Consumo 3. Mercado de bens e serviços 4. Apoio microempresarial 5. Vendas
  • 7. Sumário I. Introdução ............................................................................................................. 11 1. Motivação ......................................................................................................................................................12 2. Objetivos do projeto ..................................................................................................................................13 3. Plano do relatório ........................................................................................................................................14 II. Metodologia Empírica.......................................................................................... 15 1. Descrição geral .............................................................................................................................................16 2. Bases de dados .............................................................................................................................................17 Bases utilizadas ............................................................................................................................................18 POF .............................................................................................................................................................18 Ecinf ...........................................................................................................................................................19 PNAD .........................................................................................................................................................20 Outras bases de dados (passíveis de extensões futuras) ..............................................................21 3. Técnicas utilizadas.......................................................................................................................................25 Análises univariadas e bivariadas ..........................................................................................................25 Análises multivariadas ...............................................................................................................................25 4. Apresentação dos resultados..................................................................................................................26 Sistemas de informação ............................................................................................................................26 Simuladores ...................................................................................................................................................26 Panoramas......................................................................................................................................................26 5. Elementos da análise empírica ...............................................................................................................27 Taxonomia de efeitos .................................................................................................................................27 III. A Visão do consumidor: teoria............................................................................ 29 1. Fundações teóricas .....................................................................................................................................30 Muitos períodos e o ciclo da vida ..........................................................................................................30 O consumo acompanha a renda? .........................................................................................................31 Perfis do consumo ao longo da vida ....................................................................................................32 O consumo e a taxa de juros ...................................................................................................................33 2. Motivos de longo prazo ............................................................................................................................34 Ciclo da vida ..................................................................................................................................................34 Uma visão complementar .................................................................................................................34 Restrições por liquidez e indivisibilidades..........................................................................................35 Precaucional ...........................................................................................................................................36 Herança ....................................................................................................................................................37 3. Sumário da literatura .................................................................................................................................38 IV. A Visão do consumidor: evidência empírica ..................................................... 41 1. Visão geral .....................................................................................................................................................42 2. Mercado corrente ........................................................................................................................................42
  • 8. Panorama das despesas ............................................................................................................................42 Simulador de despesas..............................................................................................................................54 3. Panorama das aquisições .........................................................................................................................56 V. A Evolução temporal da renda............................................................................ 61 1. Visão geral ......................................................................................................................................................62 2. Tendências temporais e mercado potencial .....................................................................................65 VI. O Produtor e o acesso a mercado: a oferta encontra a demanda em setores específicos ............................................................................................................ 71 1. Visão geral ......................................................................................................................................................73 2. Panorama dos pequenos produtores ..................................................................................................75 Entre setores ..................................................................................................................................................75 Por setores ......................................................................................................................................................81 3. Simulador de comercialização................................................................................................................83 4. Desempenho microempresarial ............................................................................................................85 VII. Mix de marketing: estratégias de acesso a mercados.......................................... 99 1. Visão geral ................................................................................................................................................... 100 2. Análise SWOT ............................................................................................................................................. 101 3. Mix de marketing ..................................................................................................................................... 102 VIII. Conclusões.......................................................................................................... 103 Referências................................................................................................................................................................ 105
  • 9. Visão esquemática Visão meso das despesas e produção Dados setoriais Alimentos Comércio Couro e calçado Leite e derivados Madeira e móveis Pesca Petróleo Tecnologia da informação Têxtil Turismo Atributos O que? Produtos e serviços Onde? Locais de compra Como? Forma de pagamento De quem? Empresas ofertantes Para quem? Demandantes (Empresa, governo, setor externo) Por que? Motivações Quando? Idade, anos e gerações Quando? Tendências, ciclos e sazonalidades Site: www.fgv.br/cps/atitudesdoconsumidor
  • 10.
  • 11. I. Introdução1 1 Agradecimentos a toda equipe do SEBRAE pelas valiosas direções, debates, sugestões e apoio dados durante o decorrer da pesquisa e em particular a Raissa Rossiter e Unidade de Acesso a Mercados (UAM).
  • 12. 1. Motivação Na escolha de um elenco de políticas fomentadoras das atividades empresariais em geral, devemos avaliar a efetividade da restrição de escassez, enfrentada pelos microempresários, em relação aos diversos tipos de recursos. Nesse sentido, estamos mais especificamente interessados na aplicação de estratégias que propiciem melhora do acesso aos mercados consumidores, e conseqüentemente, ao aumento de demanda dos produtos e/ou serviços produzidos. Segundo tabulações com base na Pesquisa de Economia Informal do IBGE/ SEBRAE Nacional, que cobrem empresas urbanas com cinco empregados ou menos em 2003, a principal dificuldade para desenvolver algum empreendimento é a falta de clientes em 25,65% dos negócios. A concorrência muito grande − 20,65% − também se destaca entre as dificuldades percebidas pelos pequenos empresários. Essa soma de dificuldades perce- bidas pelo lado da demanda de 46,30% supera a soma de todos os itens relativos a dificul- dades do lado da oferta com 18,32%. Nesse quesito de oferta, uma dificuldade relevante das empresas está relacionada a problemas de infra-estrutura e instalação física (4,13%). Outros elementos de oferta, como baixa qualificação de mão-de-obra e problemas com a fiscalização, permanecem em patamares baixos, com menos de 1% das múltiplas menções. Assim, 19,1% das empresas reportam como principais as dificuldades do lado financeiro com 19,1% das empresas como a falta de capital próprio (12,5%) e a escassez de crédito (6,5%). Apenas 16,1% das microempresas não reportaram dificuldades. Esse conjunto de dados nos leva à conclusão de que existe um problema de financiamento ou de acesso a mercados financeiros, mas de importância relativa inferior à dificuldade encontrada no acesso a mercado de produtos e serviços. Com vimos, os dados relativos às principais dificuldades percebidas pelos pequenos em- presários indicam a necessidade de implementação de estratégias políticas de demanda direcionadas a esses segmentos. Complementarmente, a receita média das nanoempresas caiu cerca de 20% entre os anos de 1997 e 2003 (de R$ 2.183 para R$ 1.754, mensais a valores 12 constantes de 2003), enquanto que o lucro caiu apenas 7%. A manutenção dos lucros ge- rados deu-se em função do enxugamento dos custos e não pelo aumento do faturamento. Ou seja, parece que as empresas fizeram uma reestruturação produtiva, uma reengenharia silenciosa, melhorando a estrutura de custos, mas as condições de acesso a mercado se deterioraram. Em suma, os dados da Ecinf demonstram por elementos subjetivos e objetivos que entre os principais problemas apresentados pelos nanoempresários está o acesso a mercados para bens e serviços, enfatizando a relevância de políticas de demanda. Mais forte do que a escassez de oferta de recursos privados, sejam capitais físico sejam humano ou social, é a escassez de demanda por produtos e serviços das microempresas. Nesse sentido, o uni- verso aqui analisado constitui um laboratório privilegiado acerca dos constrangimentos e carências que devem ser combatidos por meio da ação institucional do SEBRAE e de suas interações com outras decisões privadas e públicas. Nesse contexto, a implantação de políticas do lado da oferta, como microcrédito, assistência técnica e treinamento não são suficientes para o bom desempenho microempresarial, se não há um efetivo dire- cionamento ao mercado para absorver os produtos e serviços ofertados nesse segmento. Isso passa pelo conhecimento detalhado do mercado, a analise do público-alvo, a defini- ção de estratégias de acesso e a combinação desses elementos com pesos diferenciados por segmento e empresa visando à abertura e à consolidação de novos mercados. Essas são condições necessárias ao bom andamento dos negócios.
  • 13. 2. Objetivos do projeto Este projeto tem como objetivo subsidiar a aplicação de ações de incremento do acesso a mercado de bens e serviços nas atividades microempresariais brasileiras. Enfatizamos a análise das limitações, recursos e atitudes de pequenos empresários no que se refere a seus mercados finais. Procuramos subsidiar a aplicação de ações de incremento da demanda das atividades microempresariais brasileiras. Ressaltamos na análise as limitações, os recursos e as atitudes de pequenos empresários no que se refere à área de comercialização de bens e serviços desagregados para dez subsetores: turismo, comércio varejista, têxtil e con- fecções, madeira e móveis, leite e derivados, aqüicultura e pesca, alimentos, petróleo e gás, tecnologia da informação, e couro e calçado definidos pelo SEBRAE. Essa es- colha deriva dos segmentos aos quais a instituição recebe tradicionalmente maior de- manda de apoio em conjunção com a oferta de dados e de soluções factíveis. Mapeamos a partir do binômio tipo de atividade/estrutura de vendas a localização geográfica e sociodemográficas da clientela corrente e potencial dos segmentos. O projeto disponi- biliza um acervo detalhado de informações dos diversos fatores que contribuem para o incremento da atividade microempresarial, enfatizando a importância do conheci- mento, da definição correta do público-alvo e da estratégia de difusão. Isso passa pela resposta a algumas perguntas básicas: a primeira é o que comercializar? Já que geral- mente o pequeno empreendedor produz o que gosta, e não o que o mercado quer, mas isso nos remete à questão de como fazer? Qual seria a combinação ótima de elementos mercadológicos? Isso remete a decisões sobre preço, pontos de distribuição e formas de difusão, e o peso de cada uma no conjunto final. A pergunta está também relacionada a quem atender, ou seja, que público-alvo (ou segmento) focar e quando deveria a meta ser perseguida considerando as tendências econômicas e demográficas, sazonalidades ou até mesmo qual estágio do ciclo da vida das pessoas (adolescentes, terceira idade, 13 etc.), deve ser privilegiado nas ações de abertura de novos mercados. A pergunta se- guinte é onde buscar a meta de incremento de demanda. Recorreremos à análise deta- lhada do espaço, no qual heuristicamente a oferta e demanda se encontram, partindo das localidades geográficas (estados, municípios, região administrativa, etc.) e chegando em outras unida- des físicas (exterior, outros estados, mesmo bairro, etc.), ou virtuais (te- levendas, e-commerce). Finalmente, devemos perguntar por que, isso é, encarar o processo de produção e de compra de bens e serviços como um meio pelos quais firmas e consumi- dores seguem para se chegar ao fim, que é a satisfação final, ou o sonho de consumo que o comprador almeja alcançar.2 2 Por exemplo, algumas das principais firmas de telefonia móvel que anteriormente se chamavam de Telefônica e ATL mudaram os seus nomes para Vivo e Claro, refletindo a mudança de perspectiva da demanda do serviço de fim para meio de alcançar.
  • 14. De maneira geral, o ponto de partida é a importância estratégica de ações de apoio merca- dológico, a maior dificuldade percebida pelos microempresários do Brasil. Na confecção deste trabalho processamos e reunimos, em primeira mão, diversas bases de microda- dos. Essa base integrada oferece a oportunidade ímpar de estudarmos interações do pro- grama com ações de apoio microempresarial e políticas públicas diversas, em particular programas de transferência de renda, como o programa Bolsa-Família, aposentadorias e pensões. Discutimos a possibilidade de arranjos complementares que visam a melhorar a informação das empresas acerca dos seus clientes potenciais e como conseqüência ex- pandir as vendas. 3. Plano do relatório Além dessa introdução com os objetivos do projeto como um todo e das conclusões, o trabalho está organizado em quatro capítulos centrais complementados por anexos téc- nicos distribuídos da seguinte forma: no segundo capítulo detalhamos a metodologia empírica adotada ao longo do trabalho, descrevendo cada base de dados e as técnicas econométricas utilizadas. No terceiro capítulo oferecemos uma visão conceitual geral sobre o consumo e o acesso ao mercado, em particular, analisando principais caracterís- ticas e mecanismos utilizados. No capítulo quatro abrimos, a partir da Pesquisa de Or- çamentos Familiares (POF), uma análise do mercado corrente dos setores, combinando atributos pessoais, geográficos e de variáveis ligadas a percepções subjetivas dos indiví- duos. No capítulo cinco traçamos com base na Pesquisa Nacional de Amostras a Domi- cílio (PNAD), as principais tendências da população brasileira, funcionando como um mapeamento do mercado de clientes potenciais, suas famílias e o ambiente social no qual estão inseridos. No sexto capítulo analisamos em detalhe, a partir da Pesquisa Economia Informal (Ecinf), o acesso a mercados pelas microempresas brasileiras com uma série 14 de estatísticas descritivas sobre como a oferta de bens e serviços dos diversos setores de atividade chega aos consumidores e como os microempresários vêem esse trajeto. No sétimo capítulo abordamos os elementos do mix de marketing das empresas.
  • 16. 1. Descrição geral A parte empírica da pesquisa consiste no processamento, consolidação, descrição e aná- lise de um conjunto amplo de base de microdados e de informações secundárias, que permitirão identificar quais seriam as principais carências e potenciais dos pequenos ne- gócios no campo das vendas. Essas fontes permitirão analisar o comportamento da clien- tela. Utilizaremos pesquisas específicas sobre micro e pequenas empresas combinadas às pesquisas de orçamentos e de domicílios, combinando elementos de oferta e demanda. Apontaremos ao fim do trabalho diversas outras direções complementares com base em outras pesquisas domiciliares e de estabelecimentos. O processamento de inúmeras bases de microdados permite conhecer detalhadamente as características e as principais dificuldades que afetam o funcionamento das unida- des produtivas de trabalhadores autônomos e empregadores com até cinco empregados nos domicílios. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimentos formais e pela rede de arre- cadação tributária oficial. Informações específicas sobre os empreendimentos e formas de atuação serão investigadas, como, por exemplo, a composição/tipo da clientela (in- cluindo órgãos governamentais); localização dos clientes (outros bairros, municípios, estados, países); fixação de preços (se negociam, dados pela concorrência, custos); tipos de vendas (a vista, a prazo); planos futuros; assistência recebida (técnica, jurídica, fi- nanceira); demanda por assistência; apoio à comercialização; utilização de serviços de informática, entre outras. Pesquisas específicas permitirão analisar a estrutura da demanda por bens e serviços utilizando os domicílios como unidades de análise. Possibilitam um conhecimento de- talhado dos produtos adquiridos em cada unidade de consumo, além de quantidades e preços, possibilitam cálculos da sensibilidade frente a políticas de preço ou cenários 16 externos de evolução de renda. É possível mapear, também, os locais utilizados para aquisição dos produtos (ex: feiras, supermercados, quiosques, entre outros). Grande acervo de bases de microdados permite a abertura espacial das informações de empresas por tamanho e segmento de atuação e também completam o mapeamento do público-alvo, por meio de diferentes características socioeconômicas. Bases espe- cíficas permitirão captar diferentes indicadores de analise de mercado. Por exemplo, suplementos especiais fornecerão referências sobre acesso a programas de transferên- cia de renda o que pode potencializar o mercado de segmentos de baixa renda. Séries atualizadas de microdados de estabelecimentos formais que possibilitam mapeamento das unidades produtivas (concorrência) com abertura por bairro (e ruas). De maneira geral, propomos realizar levantamentos estatísticos por meio da série de pesquisas realizadas nos últimos dez anos, processadas individualmente e combinadas com ou- tras bases de microdados.3 Essas informações serão tratadas pelas análises bivariadas e multivariadas (i.e., tabulações e regressões), tanto para variáveis contínuas quanto discretas. 3 É possível realizar combinações de microdados de diferentes bases. Por exemplo, combinar in- formações georreferenciadas oriundas do censo demográfico com a de pesquisas orçamentárias (vide Lanjouw e Lanjouw (2000).
  • 17. O projeto dispõe de sistemas de provisão de informação interativos e amigáveis volta- dos aos gestores dos programas de acesso a mercados e aos empresários, com produtos em linguagem acessível e acompanhados de notas explicativas, tais como simuladores de probabilidades desenvolvidos a partir dos modelos logísticos binomiais e multino- miais e panoramas com informações univariadas e bivariadas, além de mapas e banco de dados disponibilizados na internet, a fim de facilitar a navegação e o entendimento dos usuários. Por exemplo, os exercícios diversos serão didatizados por esquemas e pop ups explicativos. Mostraremos de forma pedagógica e seqüencial as diversas abordagens empíricas que são na verdade extensões do mesmo tipo de análise. O trabalho busca incrementar o uso de informações de acesso a mercado para o desenvolvimento das lo- calidades, ao permitir a cada pessoa analisar a sua realidade a partir de uma perspectiva local. Visando facilitar o entendimento das metodologias que serão adotadas para a elaboração dos produtos a serem gerados, detalham-se abaixo individualmente as bases de dados, os procedimentos econométricos que serão aplicados e os sistemas de informações. O lei- tor pode voltar para consultar os tópicos abaixo à medida que for transcorrendo a leitura do trabalho ou operação do sítio do projeto. 2. Bases de dados O conjunto amplo de microdados fornecerá uma análise de performance dos empreen- dimentos, buscando mapear o acesso ao mercado no Brasil, tanto em nível de clientes efetivos quanto de potenciais. Utilizaremos para isso microdados de diversas bases, em particular: 17 • a Ecinf constitui a melhor base de microdados do lado microempresarial e de suas atitudes em relação à demanda. É uma pesquisa que investiga as características de fun- cionamento das unidades produtivas urbanas de trabalhadores autônomos e emprega- dores com até cinco empregados nos domicílios. Destacamos aqui variáveis com estru- tura do faturamento, dificuldades de acesso a mercado percebidas em face das demais, localização física da clientela, entre outras. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimen- tos formais e pela rede de arrecadação tributária oficial. • as pesquisas domiciliares tradicionais permitem a análise de um amplo conjunto de atributos dos consumidores efetivos e potenciais e de suas famílias, além dos atributos dos negócios e dos proprietários dos negócios, explorando as inter-relações entre o lado pessoa física e jurídica do microempresário, o que pode orientar o mapeamento de ações que visam a fomentar o acesso ao mercado. A principal fonte de dados do pre- sente trabalho será a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) cuja finalidade princi- pal será obter a estrutura de consumo da população. A Pesquisa Nacional de Amostras a Domicílio (PNAD) permitirá análises mais atuais da evolução da renda. Utilizaremos apenas as bases de microdados ressaltadas em itálico no esquema a seguir e procuramos oferecer ao leitor uma visão geral das possibilidades empíricas e de análise oferecidas pelo rico acervo de dados existentes no Brasil.
  • 18. Mapa de bases de microdados Pesquisas domiciliares Pesquisas de estabelecimentos Mercado consumidor e Performance e estratégia de vendas mapas sociodemográficos consumidor e informais e formais empresários POF (48 mil famílias) Ecinf (50 mil unidades) Orçamentos dos consumidores 2003 Estabelecimentos e proprietários 1997 e 2003 Análise da decisão de gastos de consumo Elementos de estratégias de vendas Tipos de produtos e pontos de venda Dificuldades e motivações empresariais PNAD Estabelecimentos formais Cross-section Anual 1992 a 2005 Pesquisas anuais e mensais comércio e indústria Atributos do mercado consumidor: Pesquisa anual de serviços lucro, duração e tamanho de empresa Mapas estaduais detalhados Mapeamento Mapeamento Censo Cadastros de empresas Mapas municipais detalhados Ministério do Trabalho Monitoramento Mapeamento e Monitoramento 18 PME (36 mil domicílios por mês defasagem Emprego Caged de 2 meses) Mensal com defasagem de 2 meses De modo geral, o Censo demográfico permite captar informações similares à PNAD, mas com um detalhamento espacial em municípios e dentro deles. Assim como a PME também permitiria trazer informações similares à PNAD, mas restritas as maiores áreas metropolitanas para o ano corrente. Todas as bases supramencionadas têm a virtude de captar a operação da economia informal, o que é particularmente relevante para a análi- se em questão e podem ser complementadas por informações de mapeamento espacial e monitoramento por registros administrativos de estabelecimentos formais. Bases utilizadas POF O objetivo principal da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) é a atualização da cesta bási- ca de consumo e obtenção de novas estruturas de ponderação para os índices de preços. Esses dados podem ser utilizados também para traçar perfis de consumo das famílias pesquisadas e atender a diversos interesses relacionados às áreas de estudos e de planejamento.
  • 19. A primeira POF realizada pelo IBGE ocorreu em 1987-1988 e possui a mesma abrangência geográfica da pesquisa realizada em 1995-1996, que compreendeu as Regiões Metropo- litanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal e Município de Goiânia. Em 1996, contou com uma amostra de 16.060 domicílios, nos quais foram obtidas as informações das despesas realizadas durante distintos períodos de referência (sete, trinta, noventa dias ou seis me- ses), cujas informações foram coletadas de outubro de 1995 a setembro de 1996. Já em 2003, o IBGE voltou a campo e coletou informações de 48.470 domicílios. Além da realização da pesquisa em todo território nacional, a nova POF, que está sendo utiliza- da nesse trabalho, apresentou diferenças importantes em relação às anteriores, como a inclusão de aquisições não-monetárias e opiniões das famílias sobre qualidade de vida. O objetivo do uso da POF no presente estudo é traçar as características e o perfil de consumo individual e familiar dos diferentes itens produzidos por setores aqui tratados (incluindo total de gasto, formas e locais de compra). Ecinf Entre as bases externas a serem utilizadas, temos a pesquisa Economia Informal Urbana (Ecinf) criada pelo IBGE a fim de captar informações que permitam conhecer o papel e a dimensão do setor informal na economia brasileira, e que constitui a melhor base dispo- nível de microdados do lado empresarial da economia subterrânea. É uma pesquisa que procura identificar os trabalhadores por conta-própria e pequenos empregadores envolvi- dos em negócios com cinco ou menos pessoas, com 10 anos ou mais de idade, ocupados em atividades não-agrícolas, e moradores em áreas urbanas, nos domicílios em que eles moram e por meio deles, visando investigar as características de funcionamento das uni- dades produtivas. A vantagem é captar aquelas atividades excluídas, ou que são apenas parcialmente captadas, por pesquisas de estabelecimentos formais e pela rede de arreca- dação tributária oficial. A Ecinf permite dar um mergulho no funcionamento da chamada 19 economia subterrânea, que fica tradicionalmente à margem das estatísticas oficiais. O planejamento desta pesquisa iniciou-se em 1990 com os primeiros resultados dos Cen- sos Econômicos de 1985. Em 1994 foi realizada uma pesquisa piloto no Município do Rio de Janeiro. Porém, a pesquisa somente foi de fato implementada em 1997, abrangendo todos os domicílios situados em áreas urbanas no Brasil. A Ecinf só voltou a ser realizada novamente, então, em 2003, com o apoio do SEBRAE, incluindo informações mais deta- lhadas sobre as características individuais dos proprietários. Em 1997, a pesquisa coletou dados de 44.711 unidades econômicas distribuídas entre as áreas urbanas de todas as unidades federativas e, em 2003, essa amostra foi de 54.595 domicílios selecionados. Portanto, a Ecinf consiste em uma pesquisa rica em dados e pos- sui uma amostra suficientemente grande para gerar análises e inferências consistentes. Além disso, é importante ressaltar que as pesquisas de 1997 e 2003 foram feitas na mes- ma época do ano, o que elimina o risco de fatores sazonais interferirem no resultado. A pesquisa adota um recorte urbano, não só metropolitano, mas por outro lado ela deixa de cobrir as atividades não-agrícolas desenvolvidas por moradores de domicílios em áre- as rurais. Tal procedimento é justificado não só pela heterogeneidade apresentada entre os setores rurais e urbanos, como pela característica do negócio e pela própria exigência do trabalho de campo. Parece fazer sentido restringir a Ecinf aos segmentos dos menores produtores urbanos e deixar a análise do seu complemento para outras pesquisas de
  • 20. campo, como o Censo Agrícola do IBGE.4 Eles permitem combinar perguntas referentes a estabelecimentos e àquelas relativas às famílias. Permite obter as mais diversas informa- ções sobre os micronegócios e o trabalho dos trabalhadores por conta-própria, tais como tipos de gastos em investimentos, receitas, despesas, lucro médio, capital envolvido, área de atuação, motivo da abertura do negócio, período do ano em que funciona, forma de pagamento aceitas, número de clientes e funcionários, nível de formalização, entre mui- tas outras. Enquanto outro questionário provê dados sobre características das pessoas ocupadas nas microempresas, tais como sexo, idade, nível de instrução, vínculo empre- gatício, ocupação, posição na ocupação, renda familiar, número de pessoas morando com elas no mesmo domicílio, entre outras. Entre as principais variáveis de interesse da Ecinf para essa pesquisa estão informa- ções específicas sobre os empreendimentos e formas de atuação como composição/tipo da clientela (incluindo órgãos governamentais); localização dos clientes (outros bairros, municípios, estados, países); fixação de preços (se negociam, dados pela concorrência, custos); tipos de vendas (a vista, a prazo); planos futuros; assistência recebida (técni- ca, jurídica, financeira); demanda por assistência; apoio à comercialização; utilização de serviços de informática. Esses atributos foram pesquisados em suplemento especial co-desenhado e financiado pelo SEBRAE e desempenhará papel central neste trabalho. As dimensões de pessoa jurídica da pesquisa incluem ainda elementos como receitas, estrutura de custos, lucratividade, decisões de investimento, cumprimento da legislação, sazonalidades operacionais, duração do negócio, etc. PNAD A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) é coletada anualmente pelo IBGE desde 1976. A pesquisa abrange todo o Brasil, exceto as áreas rurais de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, e só não é realizada nos anos em que acontece o Censo Demográfico, como 1980, 1991 e 2000 para evitar sobreposição. A partir de 1992, 20 a PNAD foi reformulada, o questionário foi aumentado e foram realizadas mudanças conceituais, cujos impactos ainda não foram completamente definidos. Com uma amostra probabilística de cerca de 100 mil famílias, a pesquisa contém in- formações sobre diversas características demográficas e socioeconômicas da população. Especificamente: (i) Características dos domicílios: localização, tipo e estrutura do domi- cílio, número de cômodos e dormitórios, condição de ocupação, acesso a serviços e bens duráveis; (ii) Características dos indivíduos: sexo, idade, religião, cor, raça, nacionalidade e naturalidade; (iii) Características das famílias: composição da família e relação de pa- rentesco; (iv) Características educacionais: alfabetização, escolaridade e nível de instru- ção, espécie de cursos; 5) Características da mão-de-obra: ocupação, posição na ocupa- ção, ramo de atividade, carteira de trabalho, horas trabalhadas, rendimento, contribuição previdenciária, procura de trabalho e trabalho anterior. O objetivo do uso da PNAD neste estudo é duplo. Em primeiro lugar, permite uma vi- são mais abrangente do perfil dos empresários, incluindo aqueles com mais de cinco empregados que não fazem parte do universo da Ecinf; em segundo, permite analisar a evolução da renda e da composição dos diferentes grupos populacionais. 4 Não são consideradas pessoas ligadas a atividades criminosas, circunscrevendo a análise ao espectro de práticas econômicas “socialmente aceitas”.
  • 21. Outras bases de dados (passíveis de extensões futuras) PME O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) implantou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) em 1980. A PME é uma pesquisa de periodicidade mensal sobre mão-de- obra e rendimento do trabalho, e inclui as seis principais áreas metropolitanas do Brasil: Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. A PME é uma pesquisa em painel e replica o esquema de amostragem da US Current Po- pulation Survey (CPS), visando a coletar informações do mesmo domicílio por oito vezes durante um período de 16 meses. É realizada em bases rotativas por meio de entrevistas mensais às famílias durante quatro meses consecutivos, retirando-as da amostra durante oito meses e em seguida as entrevistando novamente nos quatro últimos meses. Entre 4.500 a 7.500 famílias são entrevistadas por mês em cada uma das seis áreas metropolita- nas, somando, ao todo, aproximadamente 35.000 famílias. Em agosto de 1988, o tamanho da amostra foi reduzido para aproximadamente 30.000 famílias por mês. O aspecto longi- tudinal da PME – acompanhamento das mesmas pessoas ao longo do tempo – permitiria analisar o risco individual ocupacional e de renda, bem como a probabilidade de cresci- mento e de formalização dos negócios. Desde a implantação da PME, ocorreram modifica- ções na pesquisa, com o objetivo de melhor captar as características da população em idade ativa e sua inserção no sistema produtivo. Os temas tornaram-se mais amplos, englobando os efeitos conjunturais e as transformações do mercado de trabalho. Contudo, as questões gerais de demografia e de trabalho são as mesmas desde fevereiro de 1982. A disponibilidade de informações mensais construídas a partir da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) nos permite trabalhar com médias anuais, o que evita problemas de sazonalidade, além de permitir uma análise detalhada da dinâmica do processo. A prin- cipal restrição da PME, que está na abrangência do conceito de renda utilizado, uma 21 vez que trabalha apenas com a renda proveniente do trabalho, não nos atrapalha tanto, na medida em que a renda do trabalho representa o lucro dos trabalhadores por conta- própria e empregadores. A PME, assim como a PNAD, permite analisar a evolução da renda e da composição dos grupos populacionais, com a vantagem de realização mensal, tornando-se importante instrumento de monitoramento. Censo demográfico O Censo demográfico é uma pesquisa domiciliar que acontece de dez em dez anos e pro- cura entrevistar 10% da população brasileira em todo o território nacional. O Censo deta- lha características pessoais e ocupacionais de todos os membros dos domicílios e possui informações detalhadas sobre fontes de renda, acesso à moradia, serviços públicos e bens duráveis, entre outros. A pesquisa é restrita aos domicílios ocupados e tem como grande vantagem à possibilidade de abertura municipal e infra-municipal das informações. O Censo permite analisar as tendências de longo prazo da população e da renda. O desenho amostral adotado compreende a seleção sistemática e com eqüiprobabilidade, dentro de cada setor censitário, de uma amostra dos domicílios particulares e das famí- lias ou componentes de grupos conviventes recenseados em domicílios coletivos, com fração amostral constante para setores de um mesmo município. A coleta de dados do
  • 22. Censo 2000 foi realizada no período de 1º de agosto a 30 de novembro de 2000, abrangen- do 215.811 setores censitários, que constituem as menores unidades territoriais da base operacional do censo. A operação censitária pesquisou 54.265.618 domicílios nos 5.507 municípios existentes no ano 2000, em todas as 27 Unidades da Federação. Todas as bases supramencionadas têm a virtude de captar a operação da economia infor- mal, o que é particularmente relevante para a análise em questão. Estabelecimentos formais Pesquisa Anual do Comércio (PAC) − principal fonte de dados sobre a estrutura e o funcionamento do setor comercial, a série da PAC teve início em 1988, com o objetivo de fornecer informações anuais sobre o setor de comércio nos períodos intercensitários. Descrever as características estruturais básicas do segmento empresarial do comércio atacadista e varejista no Brasil e suas transformações no tempo. Apresenta informações econômico-financeiras das empresas de comércio atacadista e varejista do país, abran- gendo, entre outros aspectos, dados sobre receitas, pessoal ocupado, salários, retiradas e outras remunerações, compras, estoques, formas e margem de comercialização. Dividido em duas partes, apresentam informações do total das empresas comerciais e das empresas com vinte ou mais pessoas ocupadas. Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o cadastro básico de seleção é o Ca- dastro Central de Empresas – Cempre Pesquisa mensal de comércio – a partir de janeiro de 2001 apresenta tabelas com séries de indicadores, nominal e de volume, construídos com base na variável receita bruta de revenda, investigada nas empresas cuja receita bruta provenha predominantemente da atividade comercial varejista. 22 Pesquisa Anual de Serviços (PAS) – a PAS representa a principal fonte de dados sobre a estrutura e o funcionamento dos serviços empresariais não-financeiros, com detalha- mento regional, fornecendo informações relevantes para os planejamentos público e pri- vado. A pesquisa, cuja série iniciou-se em 1998, apresenta informações sobre a situação econô- mico-financeira das empresas, como receitas, valor bruto da produção, valor adicionado, custos e despesas, pessoal ocupado e gastos com pessoal, entre outras, apresentadas para segmentos selecionados do setor produtor de serviços empresariais não-financeiros do país, com destaque para as empresas com vinte ou mais pessoas ocupadas. Esses seg- mentos abrangem os grupos de atividades ligadas aos serviços prestados às famílias; serviços de informação; serviços prestados às empresas; transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio; atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis; serviços de manutenção e reparação; e outros serviços. Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o cadastro básico de seleção é o Cadastro Central de Empresas – Cempre Pesquisa Industrial Anual (PIA) – a pesquisa constitui-se na mais completa fonte de dados estatísticos sobre o setor industrial brasileiro e reúne informações econômico-fi- nanceiras sobre esse setor, abrangendo, entre outros aspectos, dados sobre pessoal ocu-
  • 23. pado, salários, retiradas e outras remunerações, receitas, custos e despesas, e valor da produção e da transformação industrial. A série da PIA teve início em 1966 e apresentou até 1995 resultados em anos intercen- sitários. O desenho da pesquisa leva em conta a concentração da atividade produtiva nos segmentos de maior porte, incluindo na amostra todas as empresas industriais com trinta ou mais pessoas ocupadas. Tem como referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE 1.0. E o cadastro básico de seleção é o Cadastro Central de Empresas – Cempre Pesquisa industrial mensal – apresenta tabelas com indicadores de curto prazo rela- tivos ao comportamento do emprego, dos salários e do valor da produção, tendo como unidade de coleta os estabelecimentos industriais selecionados por amostragem proba- bilística. Os resultados são divulgados para o Brasil, regiões Nordeste e Sul e os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Mapeamento e monitoramento O CEE – Os Cadastros de Estabelecimentos e Empregados permitem mapear os empre- endimentos criados em diferentes setores da economia local. O CEE/MTE é formado a partir dos seguintes cadastros: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS/MTE), Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged/MTE), Cadastro Específico do INSS (CEI/MTE), Sistema Federal de Inspeção do Trabalho (SFIT/MTE), Sistema de Acompanhamento Estatístico e Gerencial do Seguro Desemprego (SAEG/MTE) e Cadas- tro Nacional da Pessoa Jurídica, do Ministério da Fazenda (CNPJ/MF). O Cempre – Reúne o registro de informações referentes ao total das atividades pratica- das por cada entidade legal e em cada um de seus endereços de atuação. As unidades do 23 cadastro são aquelas formalmente constituídas, inscritas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica – CNPJ, sendo suas informações organizadas segundo níveis de detalhamento da Classificação Nacional das Atividades Econômicas – CNAE. A atualização é feita a partir de registros administrativos, como a Relação Anual de Informações Sociais – Rais – e das pesquisas anuais do IBGE nas áreas de Indústria, Comércio, Construção e Serviços. Caged – O Caged nos permite identificar as características da evolução e dos problemas de demanda e oferta de mão-de-obra local. Consiste em um registro permanente de ad- missões e desligamentos de empregados sob o regime da CLT. Foi criado pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 4.923/65, que instituiu o registro permanente de admissões e dispensa de empregados. Os dados estatísticos são apresentados por setor e subsetor de atividade econômica, em nível geográfico, permitindo que se visualize a movimentação de um município com sua respectiva microrregião ou Unidade da Federação e, em nível setorial. Por se tratar de registro administrativo, há que se ressaltar a possibilidade de erro nas informações referentes aos municípios menores, onde a orientação aos declarantes é mais precária.
  • 24. A Rais – Relação Anual de Informações Sociais é um registro administrativo de âmbito nacional, com periodicidade anual, obrigatória para todos os estabelecimentos, inclusive aqueles sem ocorrência de vínculos empregatícios no exercício, tendo esse tipo de decla- ração à denominação de Rais Negativa. Criada para fins estatísticos e administrativos, a Rais registra grande quantidade de in- formações necessárias ao processo administrativo (viabilização do pagamento do abo- no salarial, por exemplo) e possibilita, também, tabulações estatísticas de fundamental importância para o acompanhamento e para a caracterização do mercado de trabalho formal. Ao contrário das pesquisas domiciliares, nas quais a coleta tem objetivos especi- ficamente estatísticos, na Rais os produtos estatísticos ocorrem no curso de uma função administrativa. O universo abrangido atualmente é de aproximadamente 2 milhões de estabelecimentos com vínculos empregatícios, contemplando cerca de 19 milhões de empregos celetistas e 5 milhões de estatutários. Sistema de contas nacionais Possuem periodicidade anual e permitem analisar a forma como o setor institucional participa da geração, apropriação, distribuição e uso da renda nacional e da acumulação de ativos não-financeiros, como também evidenciam as relações entre a economia nacio- nal e o resto do mundo. As informações apresentadas mostram os fluxos de oferta e demanda dos bens e serviços e, também, a geração da renda e do emprego em cada atividade econômica. Oferecem uma visão de conjunto da economia e descrevem os fenômenos essenciais que consti- tuem a vida econômica: produção, consumo e acumulação, fornecendo ainda uma repre- sentação compreensível e simplificada, porém completa, desse conjunto de fenômenos e 24 das suas inter-relações. Matriz insumo-produto As matrizes de insumo-produto são elaboradas a partir dos dados das Contas Nacionais do Brasil. As tabelas da matriz de insumo-produto estão classificadas em três grupos: • Recursos e usos de bens e serviços. Neste grupo estão as tabelas, em valor, contendo as seguintes informações: oferta de bens e serviços, produção as atividades e impor- tações; • Consumo intermediário das atividades, demanda final e componentes do valor adicio- nado; • Dados para passagem das contas nacionais para a matriz de insumo-produto: compre- ende as transformações de cada vetor componente da oferta, a preço de consumidor, em uma matriz. Permitem construir uma tabela de insumo-produto, a preço básico, essencial para a preparação da matriz de insumo-produto; • Coeficientes técnicos da matriz de insumo-produto: abrange as tabelas de coeficientes técnicos da matriz de insumo-produto.
  • 25. 3. Técnicas utilizadas Análises univariadas e bivariadas O objetivo da análise univariadas e bivariadas é traçar um perfil descritivo de diferentes grupos de consumidores, assim como dos empreendedores, formais e informais, e de suas empresas em relação aos principais atributos pessoais, como sexo, raça, idade, esco- laridade, etc, e de variáveis relativas aos estabelecimentos como setor de atividade, local de funcionamento, número de empregados, entre outros. A análise univariada apenas descreve a extensão ou importância de cada variável, in- formando, por exemplo, qual fração da população tem despesa com turismo, ou qual a porcentagem de pessoas sem instrução na população. A análise bivariada, por sua vez, envolve o cruzamento de duas variáveis, mostrando como se dá a distribuição de uma variável por cada segmento. Informa-nos, por exem- plo, qual a fração das pessoas que tem condições de moradia ruins e tem despesas com turismo, ou qual o gasto médio dos indivíduos com mais de 70 anos de idade. Entre- tanto, a análise bivariada retrata o papel de cada atributo tomado isoladamente, isso é, desconsiderando-se possíveis e prováveis inter-relações entre as variáveis explicativas. Por exemplo, o fato de que negócios realizados fora do domicílio (oficinas, lojas, etc) apresentam maior faturamento não quer necessariamente dizer que o lugar dos negócios determina o desempenho, uma vez que negócios realizados fora do domicílio em lugar próprio tendem a pertencer a indivíduos mais educados e com maior renda, e possivel- mente são essas variáveis que podem estar determinando o sucesso. Para uma descrição completa das estatísticas univariadas e bivariadas relativas a este trabalho, basta acessar os diversos panoramas presentes no site da pesquisa. 25 Análises multivariadas Já a análise multivariada procurará dar conta dessas inter-relações por meio da análise de regressões de diversas variáveis explicativas tomadas conjuntamente, com o objetivo de se isolar o efeito de cada variável. Continuando o exemplo anterior, a análise multiva- riada nos permite distinguir se o que determina o faturamento é o local do negócio ou outro atributo como educação, mediante comparações de indivíduos iguais em tudo que é observável (escolaridade, renda, etc.), exceto o local de negócios. A análise multivariada desempenhará um papel fundamental neste estudo permitindo isolar as diversas instâncias de atuação das ações. A análise multivariada consiste no desenho de regressões, que envolve a escolha de uma variável a ser explicada, uma ou mais variáveis explicativas de interesse, e algumas variáveis de controle, apenas para tirar o possível efeito dessas variáveis e nos permitir comparar indivíduos iguais naque- las características em questão. Esses exercícios de regressão nos dirão se existe alguma correlação entre as variáveis explicativas e a variável explicada, se essa correlação é sig- nificativa estatisticamente, se a correlação é positiva ou negativa e sua magnitude. Depois de determinar quais são as variáveis a serem analisadas nas regressões, surge o desafio de “desenhar as regressões”, ou seja, determinar que fatores testaremos como explicativos das variações dos fatores estudados.
  • 26. Para uma descrição completa dos exercícios multivariados realizados neste trabalho bas- ta, acessar os simuladores presentes no site da pesquisa. Regressão logística Essa técnica permite analisar as chances de ocorrência de um determinado evento para um indivíduo com iguais atributos, exceto um. Por exemplo, pode-se comparar as chan- ces de indivíduos com o mesmo sexo, idade, anos de estudo, exceto a renda, de possuírem gastos com artigos têxteis. A regressão logística permite estimar as probabilidades de ocorrência de um evento dado a um conjunto de características observáveis. Regressão de mínimos quadráticos ordinários Trabalhamos com uma análise da correlação entre renda/despesa por meio de uma re- gressão em variável contínua que permite comparar indivíduos que são iguais em uma série de atributos observáveis menos a variável estudada. Por exemplo, a equação de despesa permite estudar o papel de cada determinante dos níveis consumo de diferentes tipos de indivíduos na economia. 4. Apresentação dos resultados Sistemas de informação para subsidiar a decisão de gestores Serão desenvolvidos sistemas de informações, interativos e amigáveis para subsidiar a tomada de decisão de gestores do SEBRAE. Alguns desses instrumentos poderão ser adaptados como material didático para os microempreendedores, como por exemplo: 26 Simuladores Um sistema de simuladores de probabilidades foi desenvolvido a partir de modelos mul- tivariados aplicados a variáveis de interesse contínuas (ex: faturamento do negócio) ou discretas (eg. probabilidade de atuar em mercados internacionais) controlado por atribu- tos individuais e geográficos derivados de microdados. Os resultados estimados permi- tem identificar, por exemplo, vários fatores relativos ao acesso a mercados externos e seus impactos. Uma vez encontrados, todos esses fatores são sintetizamos num único indica- tivo de probabilidade. Esse exercício permite aos gestores do programa, de forma amigá- vel e interativa, calcular a probabilidade de um indivíduo, dadas as suas características sociodemográficas, geográficas e econômicas, ter acesso a mercado internacional. Panoramas O panorama permite obter uma visão bastante ampla de indicadores diversos cruzados com características gerais da população (demográficas, socioeconômicas e espaciais). Com ele é possível medir, por exemplo, a probabilidade de ter ou não despesas com turis- mo, em diferentes grupos, de forma simples e direta. Esse instrumento otimiza e facilita a consulta, o processamento e a análise dos dados processados neste estudo.
  • 27. 5. Elementos da análise empírica O objetivo geral do diagnóstico empírico aqui discutido é subsidiar a aplicação de ações de incremento da inserção de mercado das atividades microempresariais. Em particular, enfatizamos a análise dos recursos de pequenos empresários e empreendemos em estu- do de caso dos microempresários de segmentos selecionados. Constatamos, por exemplo, que mais forte do que a escassez de capacidade de oferta medida por meio da posse de recursos como capital físico, crédito, tecnologia, é a dificuldade de vendas. Nesse sentido o universo aqui analisado constitui um laboratório privilegiado acerca dos constran- gimentos e carências que devem ser combatidos pela ação privada e de suas possíveis interações com políticas públicas. Na escolha de um elenco de políticas incentivadoras das atividades nanoempresariais, deve avaliar a efetividade da restrição de escassez dos diversos tipos de recursos en- frentada pelos microempresários – aqui estamos mais especificamente interessados na aplicação de políticas de acesso ao mercado. No caso de políticas nanoempresariais, é fundamental identificar não só o potencial ge- rador da estruturação de um conjunto de ativos e passivos como a taxa de penetração nos mercados finais. Outro elemento fundamental para a determinação do potencial de cres- cimento das unidades é integrar a alocação de recursos pelas famílias para o consumo, para compras por parte de outras firmas, governo e setor externo, e decisões mercadoló- gicas no interior das pequenas firmas. A sobreposição dessas duas facetas implica enten- dimento da estrutura e funcionamento dessas empresas, devendo-se levar em conta as características dos consumidores finais. Taxonomia de efeitos 27 Discutimos aqui brevemente como construir uma ligação entre resultados empíricos ge- rados e medidas que busquem a expansão do mercado das empresas assistidas. Diagrama –TIPOS E ESFERAS DE AÇÕES NA ANÁLISE EMPÍRICA TIPOS DE AÇÔES DISTRIBUIÇÂO/ MONITORAMENTO DEFINIÇÃO DE COMUNICAÇÂO DO MERCADO PREÇOS E PRODUTOS CONTEXTO ACESSO A ECONÔMICO MERCADO ESFERAS DAS AÇÕES POR ATRIBUTOS DOS POR SETORES E POR CARACTERíSTICAS CONSUMIDORES LOCALIDADES DO NEGÓCIO
  • 28. Geralmente, existem dois grupos de políticas para o aumento das vendas, as estruturais e as operacionais. No grupo de medidas estruturais figuram, por exemplo, as mudanças nos produtos de função de inovações tecnológicas e mercadológicas. Entre as medidas operacionais, encontramos ações na área de comunicação, tais como propaganda. Em ambos os casos, a análise dos fatores correlacionados com o acesso a mercado pode ser de extrema valia na escolha do foco de medidas, sejam elas operacionais ou estruturais. Em termos relativos à comunicação, a identificação das características dos demandantes pessoas física e/ou jurídica, formais ou informais é fundamental para orientar as ações. A diversidade setorial é fundamental e deve acompanhar a evolução de variáveis tais como pontos de venda, e preços por setor de atividade em diferentes níveis de agre- gação. Além disso, temos também ações regionais, cujo foco está na distribuição espa- cial da demanda reprimida por bens e serviços em nível regional, estadual, municipal e abaixo deste para nortear os esforços de colocação da produção no mercado. O que nos propomos fazer na parte empírica do trabalho é estudar a clientela passada, corrente e potencial das empresas em setores específicos, a fim de subsidiar o direcionamento de estratégias de acesso ao mercado. 28
  • 29. III. A visão do consumidor: teoria 29
  • 30. 1. Fundações teóricas O objetivo é fazer uma breve descrição coerente do comportamento do indivíduo, com base nas suposições usuais de racionalidade humana, podendo contar com uma grande varieda- de de evidências empíricas, incluindo a evidência de comportamentos agregados e de com- portamentos individuais. Os fundamentos teóricos têm sido uma preocupação secundária comparada com a preocupação de agregação dos dados e de prever corretamente usando modelos agregados. Enquanto podemos esperar que o entendimento da racionalidade do consumidor possa nos levar a boas previsões, a procura por fundamentos coerentes pode não ser a forma mais direta de se descobrir regularidades empíricas importantes. A decisão de quanto consumir em geral é a decisão de se gastar dinheiro agora em opo- sição a retê-lo para financiar consumo futuro, seja para alguma razão específica ou para alguma contingência futura não especificada. Dessa forma, a base apropriada para a teoria do consumo agregado de todos os bens e serviços, vistos de forma conjunta, é a te- oria da escolha intertemporal, que analisa os dilemas (trade-offs) entre o consumo futuro ou presente. A versão mais simples possível dessa abordagem é aquela encontrada nos livros-textos de microeconomia, nos quais o consumidor, morando em um mundo com apenas dois períodos e sem incerteza, escolhe quanto gastar amanhã. É uma elaboração de dois períodos de um ponto básico a partir do qual eu vou adicionando paulatinamen- te um maior nível de complexidade. Mostramos esse material básico e como este pode ser estendido para modelar a decisão de consumo ao longo do ciclo de vida. Esse modelo oferece uma moldura teórica básica para a discussão da decisão de gasto de consumo. No caso mais simples possível, existe um único agente que tem suas preferências defi- nidas de como consumir nos períodos 1 e 2. Como sempre os gostos são representados por uma função utilidade: u = v(c1, c2), o qual o consumidor maximiza sujeito às opor- tunidades disponíveis. Existe um único ativo, o qual o consumidor possui na quantidade 30 A1. No começo do período1, e que aufere uma taxa de juros r2 nos investimentos feitos entre os períodos 1 e 2. O consumidor pode tomar emprestado ou emprestar o quanto quiser, porém assume-se que o mundo acabaria após o período 2 e que o consumidor não pode estar em débito no final do mundo. Se também nos abstrairmos de heranças e assumirmos que o nosso agente representativo sempre preferirá consumir mais do que menos, então os ativos serão zero no final do período 2. O consumidor também recebe uma renda do trabalho y1 e y2 em cada um dos períodos, separadamente de qualquer fluxo de renda (positivo ou negativo) ganho com o ativo. O acúmulo de ativos evolui de um período para outro de acordo com: A2 = (1 + r2)(A1 + y1 - c1). Muitos períodos e o ciclo da vida A idéia básica do modelo do ciclo da vida é lançar mão da idéia de alocação intertem- poral para explicar a trajetória do consumo individual com a idade. A teoria estende-se desde dois períodos, hoje versus amanhã, a um modelo com muitos períodos e idades, com os consumidores escolhendo quanto (e quando) gastar seus recursos durante o seu tempo de vida. No modelo do segundo período, o consumo é financiado pelos bens her- dados e consumidores usam o mercado de capitais para traduzir a trajetória da renda e dos ativos em termos de uma trajetória desejada de consumo. O processo de escolha é governado pelo conjunto das preferências intertemporais, que de uma forma geral, pode ser escrita da seguinte forma: u = V(c1, c2, c3, ..., cT), em que o período de 1 a T correspon- de aos anos de vida do nosso agente representativo, assim cada nível de consumo anual
  • 31. é escolhido pelo consumidor, de modo que complete o espaço vazio na função utilidade do ciclo da vida. As preferências representadas pela função utilidade do ciclo da vida permitem uma ili- mitada relação de complementaridade e substutabilidade entre nível de consumo em diferentes períodos que dificultam a realização de proposições mais gerais a partir da teoria. Iremos discutir vários casos especiais neste relatório, mas irei me debruçar de forma mais extensa sobre o caso de preferências intertemporalmente aditivas (ou forte- mente intertemporalmente separáveis), que tem a seguinte forma: u = v1(c1) + v2(c2) + ...+ vT(cT), em que as funções felicidade v1(c1) são crescentes e côncavas. Com ou sem se- parabilidade, a utilidade é maximizada sujeita à restrição orçamentária ao longo da vida que é a óbvia generalização de (3).Note que estou usando uma taxa real de juros fixa a longo prazo para evitar uma notação um pouco mais complicada com fatores múltiplos descontados, e que, por um momento, estou trabalhando em um ambiente imaginário onde não existe incerteza. O consumo acompanha a renda? A evidência do perfil etário do consumo torna difícil de acreditarmos que a relação entre poupança e crescimento seja uma conseqüência do fato de que os jovens poupam agora para não poupar no futuro. Mais importante, o perfil do consumo para diferentes proporções de economias em crescimento não é consistente com as hipóteses básicas de qual consumo, que é determinado pelos recursos totais acumulados ao longo do tempo de vida dos agentes. Mas somente isso não indica que as hipóteses do ciclo de vida devam ser rejeitadas. Entre países, a variação dos gostos pode ser admitida, e outras explicações são buscadas para a relação entre poupança e crescimento. Carroll e Summers (1991) utilizam dados das Pesquisas de Gasto em Consumo nos Estados Unidos de 1960-1 e 1972-3 para desenhar idades-perfil de consumo e renda para cinco grupos educacionais e nove grupos ocupacionais. Os mode- los diferem marcadamente de um grupo para outro, embora, eles estejam muito mais está- 31 veis no decorrer tempo, e cada caso de perfil−consumo está próximo do caso perfil−renda. Aqueles que estão nos grupos educacional ou ocupacional nos quais a renda atinge o topo por volta dos cinqüenta anos têm trajetória do consumo que também atinge o topo tarde, enquanto aqueles com pouca educação e sem trabalho especializado têm perfis de renda e consumo que atingem o topo cedo, que são baixos, ou que caem com a idade. Browning, De- aton e Irish (1985), usando dados britânicos, também acham que os perfis−consumo e renda estão sincronizados no ciclo da vida, ambos para trabalhadores manuais ou não. No Painel de Estudos de Dinâmicas da Renda de Michigan (PSID), Lawrence (1991) encontra que o consumo de alimentos das famílias mais pobres cresce menos rapidamente com a idade do que o consumo de alimentos feito pelas famílias mais ricas, um resultado que ela interpreta mostrando que a taxa de tempo−preferência está relacionada inversamente à renda. Mas as famílias mais pobres e menos educadas também têm suas rendas crescendo menos ra- pidamente, assim, mais uma vez, a evidência é consistente com o consumo seguindo a ren- da no ciclo da vida. Essas descobertas sugerem uma associação muito mais próxima entre consumo e renda, que poderia ser pensada como incompatível com as hipóteses do ciclo da vida. Enquanto está claro que uma relação simples entre consumo e renda não é uma boa alternativa, como o consumo é muito mais suave que a renda, esses resultados sugerem que vale a pena, considerando com cuidado as hipóteses adotadas, relacionar consumo e renda em períodos menores do que o ciclos de vida completos. Um caminho é olhar para fatores que condicionam preferências e que estão correlacionados com as rendas do trabalho no ciclo da vida. Filhos são uma possibilidade, e tamanho de
  • 32. família e os gastos, que vão juntos tender a atingir o pico no meio ou depois da meia-idade em volta do mesmo tempo que a renda da família atinge o pico. Sendo um tanto mais enfá- tico, as preferências seriam diretamente afetadas pela renda, se renda e estilos de vida vêm com tipos de trabalho particulares. Modelos precaucionais e formação de hábito discutidos iriam da mesma forma reconciliando a teoria com a evidência, desde que ambos tendam a baixar o consumo cedo na vida, quando a renda também é baixa. Taxas de juros teriam uma regra similar, e se os retornos reais são maiores em economias que crescem mais rápi- do, haveria uma explicação parcial do porquê consumo em economias que crescem rápido não mais fortemente favorecem o jovem. Algumas dessas hipóteses têm problema nelas mesmas, e nenhuma tem recurso simples do vínculo direto entre consumo e renda que é característico da evidência empírica disponível. Contudo, mais pesquisa será necessária antes de termos uma evidência mais decisiva que discriminaria claramente essas hipóteses uma da outra, ou de fato coerentemente invalida as hipóteses do ciclo da vida. Perfis do consumo ao longo da vida Choques de gostos Suponha que a variação com idade das funções vt(ct) pode ser capturada escrevendo-se: v t(ct) = (1 + r) v(ct, zt), em que zt são variáveis que afetam o desejo de consumo em diferentes pontos do ciclo da vida, ou seja, capta mudança de gostos estrutura demográfica doméstica sendo tal- vez mais óbvia. É a taxa de preferência no tempo. Se a variável zt não muda, a condição de primeira ordem fica: v (ct,zt) = 1 + ∂ 1+r 32 uma equação em que se tem um número de implicações. Primeiro, note o tamanho da “mudança de gostos” zt. Suponha que r = ∂, então o lado direito de (9) é constante. Se existem períodos particulares no ciclo da vida no qual as variáveis zt fazem a utilidade marginal do consumo subir, então, sendo a função utilida- de marginal decrescente no primeiro argumento, o consumo no período deve subir. Essa simples história produz uma razoável explicação para o número de fenômenos do ciclo da vida. Quando existem mais pessoas na família, a utilidade marginal de gasto adicional vai ser alto, então o consumo doméstico ao longo do ciclo da vida teria a mesma forma da estrutura do domicílio ao longo do ciclo de vida, aumentando inicialmente com a idade média do chefe do domicílio e decrescendo depois. Nesse contexto, o baixo consumo dos idosos pode ser atribuído ao fato da utilidade marginal dos gastos serem baixos em ida- des mais avançadas, veja, por exemplo, Börsch-Supan e Stahl (1991). Pode ser também o caso de que o consumo e o lazer sejam substitutos, então, mesmo que estejam corretas as suposições usuais de que horas trabalhadas sejam dadas exogenamente, a utilidade mar- ginal do consumo será alta quando as horas de trabalho forem maiores. Essa é outra razão do consumo ser alto na idade média, veja Thurow (1969) e Heckman (1974). A segunda implicação de (9) afeta a reação do comportamento do consumo em resposta à taxa de juros real. Note primeiramente que se zt é constante, o consumo irá crescer ou declinar com a idade dependendo de se a taxa de juros real é maior ou menor que a taxa de preferência temporal dos agentes.
  • 33. Consumo e a taxa de juros A maximização da função utilidade sujeita a restrição orçamentária é o problema básico a ser abordado. Dado que essa é a forma usual de análise da demanda do consumidor, a maximização da utilidade sujeita a uma restrição orçamentária linear com parâmetros de preços, podemos conduzir todos os aparatos usuais da teoria de escolha do consumi- dor. Em particular, o fator desconto (1 + r2) é o preço do consumo futuro relativo ao con- sumo presente. Assim os efeitos dos ativos, da renda e dos preços podem ser analisados usando as ferramentas usuais da teoria do consumidor. Dessa teoria do consumidor frisamos os resultados abaixo para referência futura: (i) um aumento na taxa de juros r2: (a) barateia o consumo futuro em relação ao preço do consumo corrente, o efeito substituição; (b) permite mais consumo no segundo período, com o mesmo total de recursos e sem cortar o consumo do primeiro período, o efeito renda, e (c) se y2 for positivo, reduz o valor presente da renda do trabalho auferida ao longo do horizonte de planejamento do agente, o efeito riqueza. Os efeitos (a) e (c) agem de modo a cortar o consumo corrente, enquanto (b) trabalha no sentido oposto em vez do consumo total de mercadorias em conjunto com o serviço. Isso mostra que é implausível o efeito substituição, podendo ser muito grande, mas em alguns casos, a direção do efeito do consumo na renda não prejudica a ação da teoria. Por exemplo, isso é o mais simples exercício para mostrar que a direção do efeito da renda sobre o consumo corrente depen- de do tamanho do parâmetro. O efeito na taxa de juros na poupança tem sido sempre uma questão central de política econômica. A teoria dificilmente sugere uma resposta definitiva a essa questão, de modo que a resposta se torne uma questão empírica. (ii) Os impactos de aumentos na renda corrente sobre o consumo, agora ou no futuro, 33 dependem de como a renda futura está relacionada com a renda corrente Conseqüências mais sérias seguem do reconhecimento de que rendas do trabalho não são constantes por toda vida de trabalho. Mesmo em ocupações nos quais existem pouco treinamento, e em que produtividade depende mais da força bruta do que do cérebro. As rendas tipicamente começam em níveis baixos, aumentando com a idade antes de um eventual declínio. Em outras palavras, sempre existem alguns períodos de crescimento de renda no começo do ciclo da vida. Conseqüentemente, se o consumo é constante ao longo da vida, é possível que consumidores jovens queiram “emprestar” e não poupar, no início de suas carreiras, especialmente se eles estão em ocupações nas quais a educa- ção e o treinamento são realizados por longos períodos. Claro que a taxas de juros positivas, o motivo precaucional, as restrições ao crédito (res- trições por liquidez), ou os efeitos de defasagem de hábitos podem atuar no sentido de reter o consumo corrente, então, pessoas jovens com rendas em formato de U-invertido podem não querer tomar empréstimos, ou não ter como tomar empréstimos. O cresci- mento rápido da população, se mantido, não só aumenta a razão do número de traba- lhadores em relação ao do número de aposentados, como também aumenta a razão do número de crianças em relação ao do número de trabalhadores, assim, o efeito líquido na poupança não é necessariamente positivo, nem existe nenhuma ligação simples entre os efeitos da população e do crescimento de produtividade.
  • 34. 2. Motivos de abstenção do consumo de longo prazo Keynes (1936, capítulo 15) refere-se às motivações que levam os indivíduos a demanda- rem moeda. Assim como Keynes destacou os diversos motivos para demandar moeda podemos destacar os diversos motivos de longo prazo que levam os indivíduos à acu- mulação. Ciclo da vida Poupar para a aposentadoria advém do desejo individual de manter um padrão estável de consumo ao longo do ciclo da vida. Em função disso, os indivíduos abrem mão de uma parcela de consumo durante a vida ativa para poder estabilizar o padrão de con- sumo na velhice, quando em geral ocorre uma queda no rendimento do trabalho. Há, portanto, uma acumulação até a data da aposentadoria, a partir daí o estoque financeiro começa a ser utilizado para complementar os recebimentos a título de aposentadoria. A versão mais simples do modelo do ciclo da vida é aquela na qual o consumo é constante ao longo da vida, não existe incerteza, a taxa de juros é nula, e a única mudança na renda que ocorre é quando o consumidor se aposenta. A figura a seguir ilustra esse caso que Modigliani (1986) denominou como a versão sim- plificada (stripped down) do modelo do ciclo da vida. Renda é constante durante L anos de vida de trabalho (L= 40 anos, por exemplo) e igual a uma unidade, e então cai a zero nos R anos de aposentadoria (R=10 anos, por exemplo). Consumo é constante ao nível de L/(L+R) por período ou 80% da renda durante a vida de trabalho, de forma que a pou- pança é de 20% da renda por período R/(R+L), chegando ao máximo de oito vezes a renda imediatamente anterior a aposentadoria. 34 8 Unidade de renda 4 Ativos financeiros Consumo 1 Renda 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Idade economicamente ativa Inatividade Uma visão complementar A incorporação da possibilidade de endividamento no período inicial do ciclo da vida no esquema simples apresentado por Modigliani na sua Nobel Lecture nos fornece uma visão alternativa da análise do ciclo da vida. O endividamento dos grupos mais jovens pode sinalizar um mecanismo de suavização do consumo e do bem-estar ao longo do ciclo da vida. O que ocorre é que nas etapas iniciais do ciclo da vida, os indivíduos estão
  • 35. entrando no mercado de trabalho, mas a sua renda geralmente é baixa. Se eles acreditam que irão passar por uma ascensão profissional tentarão utilizar os recursos futuros via endividamento, suavizando seu consumo e sua renda. Há duas possibilidades quanto aos empréstimos no esquema simples de Modigliani de duas formas. Na primeira os jovens conseguem contrair, na segunda eles não conseguem, neste último caso estão restrito por liquidez. Aqui nós dividimos o ciclo da vida em três etapas: os primeiros 10 anos de idade ativa do indivíduo (J), quando a sua renda é baixa (igual a 0,5 unidade monetária), os 30 anos seguintes (L) (período de auge profissional, cuja renda média do indivíduo é 1 unidade monetária) e os 10 últimos anos do ciclo da vida (R), no qual o in- divíduo se aposenta, e utiliza os ativos poupados durante o período anterior. Nesse caso, o consumo médio do indivíduo será 0,7 ((0,5x J +1x L )/ J+L+R). Assim, na fase inicial o consumo dos indivíduos é maior que sua renda e então eles irão contrair empréstimos, acumulando dívida (ativos negativos). Na segunda fase do ciclo, o aumento inicial da renda será para cobrir empréstimo, e só a partir de um certo ponto será possível acumu- lar para a aposentadoria. No segundo caso, os jovens não conseguem empréstimos. Observamos um caso de res- trição por liquidez, no qual os indivíduos são obrigados a consumirem toda a sua renda (ou seja, 0,5 unidades monetárias). Nesse caso, na etapa inicial, a acumulação será nula. Somente na segunda fase será possível acumular ativos e suavizar o consumo. A partir dessa fase o consumo será igual a 0,75 (L/L+R). Restrições por liquidez e indivisibilidades Indivíduos restritos por liquidez são aqueles cujo desejo de consumo está além das dispo- nibilidades líquidas, conforme mostra a ilustração a seguir. De acordo com esta ilustração os consumidores preferem estar no ponto C, onde suavizaria o consumo entre os períodos 1 e 2. No entanto, como sua disponibilidade líquida é inferior ao seu desejo de consumo, a restrição à liquidez impede o financiamento de seu consumo corrente. Assim, o indivíduo 35 consome toda a sua renda, ficando preso a uma solução de canto no ponto A. C2 Y2 A C C.I . DL C1 - C1 e C 2 representam o consumo no período 1 e 2 respectivamente - DL são as disponibilidades líquidas do período 1, ou seja, ativos herdados do passado mais renda corrente (A0 + Y1) - Y2 é a renda do período 2 - CI é a Curva de indiferença do agente
  • 36. Normalmente, se esperaria que indivíduos restritos por liquidez não poupassem, já que poupança é vista como o excedente de renda em relação ao consumo. Contudo, alguns dos motivos apresentados para poupar podem ser reforçados pela existência de restri- ção por liquidez. Indivíduos restritos por liquidez seriam induzidos a acumular ativos financeiros como um “buffer-stock” contra incertezas. Em geral, nos testes empíricos a restrição por liquidez é avaliada pelo montante de ati- vos que os indivíduos dispõem. Segundo Runkle (1991) pessoas com pouco ativo líquido teriam dificuldades em tomar empréstimos e, portanto, estariam restritas por liquidez. Contudo, autores como Deaton (1992) acreditam que a inabilidade de tomar empréstimo não implica inabilidade em poupar, podendo existir boas razões para que consumidores restritos por liquidez acumulem ativos financeiros. Restrições por liquidez poderiam induzir a uma maior acumulação de ativos, de forma contrária à preconizada pelos testes empíricos. A acumulação para aquisição de bens indivisíveis, representados principalmente por imóveis, resulta do fato que os fluxos de renda mensal tomados individualmente não são suficientes para compra de bens indivisíveis e de alto valor unitário. Essa situação é induzida pela inexistência de mercados de crédito perfeitos, indutores de restrições por liquidez. Poupar para aquisição de bens é, portanto resultado da interação de dois fatores: in- divisibilidade dos bens e imperfeições no mercado de crédito. Os indivíduos que se apresentam numa situação de autarquia têm que acumular recursos por conta própria, durante alguns períodos até que possam obter o bem indivisível.5 Similarmente, pesso- as que querem começar um novo negócio, freqüentemente são frustradas pela falta de acesso ao mercado de capitais, sendo forçadas à acumulação antecipada. Precaucional 36 A demanda por ativos por motivos precaucionais se dá em razão das incertezas do fu- turo, que afetam o bem-estar. Dado que poupança fornece recursos que estarão dispo- níveis no futuro, quando essas incertezas serão resolvidas, a decisão de poupar estaria também relacionada com a natureza e extensão da incerteza. Além da incerteza, a forma da função utilidade é importante para estabelecer a necessi- dade de poupar pelo motivo precaucional. A convexidade da função utilidade marginal é condição necessária para gerar um motivo precaucional para poupar. A idéia é que em tempos ruins, quando o nível de consumo é baixo, as conseqüências são muito piores do que em tempos bons, quando o nível de consumo é alto. Portanto, a desutilidade marginal de perdas em consumo próximo aos níveis de subsistência é maior do que a utilidade marginal de ganhos em tempos de relativa abundância. Com isso, indivíduos desistirão de alto consumo, quando for possível, a fim de se preparar para possíveis eventualidades. Quanto mais incerta for a renda futura maior é a poupança e menor é o consumo presente. Um caso que pode ser solucionado explicitamente é o da aversão absoluta ao risco cons- tante. 5 A Itália é um exemplo muito citado de economia com altas taxas de poupança por causa do racio- namento de crédito.
  • 37. Suponha que o consumidor maximize: max Et [∑ (-1/α) exp (-αCt)/0] sujeito a At+1 = (At + Yt - Ct) E Yt = Y t-1 + e t e t ~ N(0,) O consumidor tem aversão a risco absoluto constante, com coeficiente α e vive por T pe- ríodos. A taxa subjetiva descontada é igual à taxa de juros sem risco, e elas são ambas iguais a zero. Renda do trabalho segue um caminho aleatório com inovações normal- mente distribuídas. A suposição importante é de aversão absoluta ao risco constante. Sendo assim, consumo ótimo satisfaz a seguinte equação de Euler (equação de primeira ordem). Ct+1 = Ct + (ασ)/2 + et (1) A poupança seria igual a: St = - [1/(T-t)]At + (α (T - t -1) σ) /4 (2) A primeira equação mostra os efeitos de incerteza da renda na inclinação do caminho do consumo (Equação de Euler). Incerteza na renda mais alta e maior prudência levam a uma inclinação mais íngreme da trajetória do consumo ao longo do tempo. A equa- 37 ção (2) dá o nível de poupança como função da riqueza, renda e incerteza. No caso de “equivalência de certezas” a solução seria dada apenas pelo primeiro termo. Prudência é refletida no segundo termo: quanto maior a incerteza, maior o nível da poupança para dados níveis de renda e de riqueza. Esse motivo também é fortalecido pela existência de restrição a crédito. A possibilida- de de tomar empréstimos em tempos ruins é uma alternativa que transmite segurança. Contudo, se essa alternativa não pode ser utilizada, provisão de poupança deve ser feita para tais eventualidades. Sem acesso a contratos de seguro, os consumidores devem pro- ver recursos com essa finalidade por meio da acumulação adicional. Herança Muito do debate corrente sobre comportamento da poupança em países desenvolvidos está centrado na importância relativa dos motivos do ciclo da vida (poupar para finan- ciar o consumo durante a aposentadoria) versus herança (poupar para financiar o consu- mo dos descendentes). Indivíduos deixam herança por no mínimo três razões: 1. Altruísmo. Há uma preocupação com as próximas gerações, então, poupa-se para suavizar o nível de consumo entre gerações.
  • 38. 2. Controle. O doador deixa bens para compensar seus herdeiros pelos serviços forneci- dos por eles durante a vida do doador. 3. Acidente. Como a maioria dos indivíduos não sabe quando vi morrer, não consegue elaborar um planejamento exato dos recursos que necessitará até o último dia de sua vida. Os indivíduos mantêm sempre com eles uma certa quantia que lhes permite viver mais do que realmente vivem, deixando, portanto, uma certa quantia quando morrem. Uma importante fonte de incerteza no consumo é a incerteza com relação ao momento da morte do indivíduo. Quanto menor for a expectativa de vida, menor o consumo que será realizado depois da aposentadoria. Sendo assim, quanto poupar para a aposentadoria depende também do grau de incerteza. Uma visão polar de família “altruística” foi discutida em Barro (1974). Nessa visão, as fa- mílias derivam utilidade não apenas de seu consumo presente, mas também do consumo futuro de seus filhos. Isso significa efetivamente que eles derivam utilidade do consumo de seus descendentes. Kotlikoff e Summers (1981) observaram que uma proporção subs- tancial de poupanças americanas estavam relacionadas a heranças. Outras evidências a favor de presentes entre gerações foram destacados também por White (1978), Mirer (1979), Kurz (1981,1982,1984). Barro se baseia na hipótese de que os pais deixam heranças para seus filhos porque se preocupam com eles. Bernheim (1985) discute a segunda razão, citada anteriormente, pela qual indivíduos deixam herança, sugere que os pais usam as heranças para contro- lar os filhos. Os pais desejam que os filhos tenham atenção com eles e usam a ameaça de cortar a herança para induzir os filhos a dar-lhes atenção. Para testar essa “motivação estratégica das heranças” foram examinados dados relativos à freqüência com que os filhos visitam os pais. Verificou-se que quanto mais ricos os 38 pais, mais assíduas as visitas dos filhos. Além disso, só a riqueza que pode ser deixada como herança induzia maior número de visitas. A riqueza que não podia ser deixada, como pensões que cessam com a morte do pensionista, não estimulavam a visita dos filhos. Essas evidências sugerem que pode haver outros motivos para as transferências de riqueza intrageracionais do que o mero altruísmo. 3. Sumário da literatura A teoria do ciclo da vida de Modigliani é freqüentemente apresentada como a motivação básica para demanda ao longo prazo de ativos financeiros. De acordo com essa teoria a queda da renda no final do ciclo da vida induz à acumulação prévia em forma de pou- pança por parte dos indivíduos com o desejo de manter um padrão estável de consumo ao longo do ciclo da vida. A incorporação da possibilidade de endividamento no período inicial do ciclo da vida nos fornece uma visão complementar à análise proposta por Modigliani. Nesse período inicial, o desejo de consumo geralmente é maior que a renda, o que induziria a uma de- manda por empréstimos e não por poupança. Se os indivíduos não estiverem restritos
  • 39. por liquidez, eles irão financiar o seu consumo corrente e maximizar a suavização do seu consumo ao longo do ciclo da vida, caso contrário, ficarão presos em uma solução de canto, consumindo toda a sua renda durante o período inicial. Segundo a vasta literatura sobre poupança, além da suavização do consumo ao longo do ciclo da vida, a poupança seria ainda induzida por três fatores principais: a) A poupança para aquisição de bens indivisíveis e de alto valor unitário num contexto de restrição por liquidez; b) Motivos precaucionais, em uma situação de incerteza com relação ao futuro; c) Herança, ou seja, caso em que se poupa para financiar o consumo dos descendentes. 39
  • 40.
  • 41. IV. A visão do consumidor: evidência empírica 41