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AS
MULHERES
 AZUIS
(Arthur da Távola)



             (clicar)
Ao fim do jantar, falava-se sobre
 televisão, violência, filmes de terror
  e crimes, besteirol dos auditórios, e
     alguém lembrou a inocência das
      séries antigas: “Os Intocáveis”,
  “Bonanza”, “Perdidos no Espaço”,
“Caldeira do Diabo”, “Dr. Kildare”,
estrelada por Richard Chamberlain,
                         então jovem.
Ao mencionarem o nome
deste, notei leve sorriso e
       brilho nos olhos de
 tranqüilo azul da linda
    mulher ao meu lado.
Bonitas buscam bonitos, sei,
     porém não desisti e lhe
       perguntei, de chofre:
   “Você achava o Richard
Chamberlain bonito, não é?”
Ela assentiu em discreto sorriso,
ainda sem saber se era um modo
       de eu puxar conversa, de
        agradá-la, ou percepção
  aguçada – de minha parte - do
 que com ela se passava (o que a
          tornaria vulnerável).
    Sorriu, silenciosa, no eterno
         enigma das mulheres.
Pousou seu azul olhar no
  passado, e por certo lhe vieram
   à memória emotiva os embates
  amorosos que enfrentou por ser
linda, desejada e sedutora numa
       sociedade que lhe ensinou
        monogamia e (vá lá...), a
                      fidelidade.
Minha atenção ousou
        interpretar o brilho
.
    encabulado de seu olhar
                       azul.
      Mulheres lindas são
princesas aprisionadas em
         torres de castelos
         inexpugnáveis.
Não será este cronista tão
   desajeitado, o passo cambaio,
algo tronchudo, não será ele que
            falará de beleza com
        conhecimento de causa.
   Posso, sim, avaliar e admirar
      (na proporção inversa da
       possibilidade de fruir).
Hoje sei apreciar a beleza e a
    solidão da mulher linda, com a
     desambição de quem já a sabe
 impossível para si, sei admirar sua
    resistência a olhares, a paixões
rimbombantes, a cortejadores sutis
ou rombudos, a homens que amaria
                         e não pode.
Ah, ser carente do amor de quem
    ama, mesmo sabendo-o aquém.
        Ah, ter que esconder, calar,
 disfarçar, ver sem olhar, olhar sem
ver, sempre olhada e perseguida por
                  inveja ou paquera.
Comoveu-me aquela mulher
        azul, serena e poderosa,
     certamente perseguida por
quilômetros de olhares, atrações
    e galanteios, a contentar-se
  com guardar para si o enorme
               poder de ser bela.
Olhei-a várias vezes, sempre
encantado, enquanto ela “azulzava”,
              fingindo não perceber.
Mulher sempre sabe quando está a ser
olhada; encabulou e não demonstrou,
      até que reduziu-me a pó com a
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gosta de cinema?”
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A beleza azul e solitária

  • 1. AS MULHERES AZUIS (Arthur da Távola) (clicar)
  • 2. Ao fim do jantar, falava-se sobre televisão, violência, filmes de terror e crimes, besteirol dos auditórios, e alguém lembrou a inocência das séries antigas: “Os Intocáveis”, “Bonanza”, “Perdidos no Espaço”, “Caldeira do Diabo”, “Dr. Kildare”, estrelada por Richard Chamberlain, então jovem.
  • 3. Ao mencionarem o nome deste, notei leve sorriso e brilho nos olhos de tranqüilo azul da linda mulher ao meu lado.
  • 4. Bonitas buscam bonitos, sei, porém não desisti e lhe perguntei, de chofre: “Você achava o Richard Chamberlain bonito, não é?”
  • 5. Ela assentiu em discreto sorriso, ainda sem saber se era um modo de eu puxar conversa, de agradá-la, ou percepção aguçada – de minha parte - do que com ela se passava (o que a tornaria vulnerável). Sorriu, silenciosa, no eterno enigma das mulheres.
  • 6. Pousou seu azul olhar no passado, e por certo lhe vieram à memória emotiva os embates amorosos que enfrentou por ser linda, desejada e sedutora numa sociedade que lhe ensinou monogamia e (vá lá...), a fidelidade.
  • 7. Minha atenção ousou interpretar o brilho . encabulado de seu olhar azul. Mulheres lindas são princesas aprisionadas em torres de castelos inexpugnáveis.
  • 8. Não será este cronista tão desajeitado, o passo cambaio, algo tronchudo, não será ele que falará de beleza com conhecimento de causa. Posso, sim, avaliar e admirar (na proporção inversa da possibilidade de fruir).
  • 9. Hoje sei apreciar a beleza e a solidão da mulher linda, com a desambição de quem já a sabe impossível para si, sei admirar sua resistência a olhares, a paixões rimbombantes, a cortejadores sutis ou rombudos, a homens que amaria e não pode.
  • 10. Ah, ser carente do amor de quem ama, mesmo sabendo-o aquém. Ah, ter que esconder, calar, disfarçar, ver sem olhar, olhar sem ver, sempre olhada e perseguida por inveja ou paquera.
  • 11. Comoveu-me aquela mulher azul, serena e poderosa, certamente perseguida por quilômetros de olhares, atrações e galanteios, a contentar-se com guardar para si o enorme poder de ser bela.
  • 12. Olhei-a várias vezes, sempre encantado, enquanto ela “azulzava”, fingindo não perceber. Mulher sempre sabe quando está a ser olhada; encabulou e não demonstrou, até que reduziu-me a pó com a seguinte e humilhante frase:
  • 13. “E o senhor, gosta de cinema?”
  • 14. “Waterfall” – Enya Formatação: PC