O poema "Soneto de Separação", de Vinícius de Moraes, é estruturado em forma de soneto com rimas ABBA CDCD EFE FFE. Ele descreve a dor da separação do eu lírico através do uso de antíteses e comparações. Já o poema "Profundamente", de Manuel Bandeira, está em versos livres e retrata as lembranças de infância do poeta através de referências a pessoas queridas. Por fim, "Meninos Carvoeiros" denuncia as condições de trabalho infantil
1. ANÁLISE DA ESTRUTURA E CONTEÚDO DOS POEMAS
Soneto De Separação (Vinícius de Moraes)= Forma fixa: Soneto (2 quartetos e 2 tercetos)
De/ re/pen/te/ do/ ri/so/ fez/-se o/ pran/(to) A (ANTÍTESE/PARALELISMO)
Si/len/ci/o/so e/ bran/co/ co/mo a/ bru/(ma) B (COMPARAÇÃO/PROSOPOPEIA)
E/ das/ bo/cas/ u/ni/das/ fez/-se a es/pu/(ma) B
E/ das/ mãos/ es/pal/ma/das/ fez/-se o es/pan/(to) A (ALITERAÇÃO/ASSONÂNCIA)
De/ re/pen/te/ da/ cal/ma/ fez/-se o/ ven/to C
Que/ dos/ o/lhos/ des/fez/ a úl/ti/ma/ cha/ma D
E /da/ pai/xão/ fez/-se o/ pres/sen/ti/men/to C
E/ do/ mo/men/to i/mó/vel/ fez/-se o/ dra/ma D
De/ re/pen/te/ não/ mais/ que/ de/ re/pen/te E
Fez/-se /de/ tris/te o/ que/ se/ fez/ a/man/te F
E/ de/ so/zi/nho o/ que/ se/ fez/ con/ten/te E
Fez/-se/ do a/mi/go/ pró/xi/mo/, dis/tan/te F
Fez/-se/ da/ vi/da u/ma a/ven/tu//ra er/ran/te F
De/ re/pen/te/, não/ mais/ que/ de/ re/pen/te. E (PARALELISMO/ANÁFORA)
Versos decassílabos (medida nova); tradicionais/REGULARES.
ABBA: interpoladas/opostas. (disposição)
A (pranto/espanto)= rima pobre (qualidade); B (bruma/espuma)=rima pobre
Quanto à tonicidade= (graves/femininas paroxítona)
Diferenciar sílabas gramaticais de sílabas métricas/poéticas.
Decassílabos/10 sílabas métricas/Medida nova.
Plano de conteúdo: temática da separação e o sofrimento do eu lírico em relação
à pessoa amada.
O soneto lírico amoroso de Vinícius de Moraes, ―Soneto de separação”, dialoga
com uma das mais importantes tradições da poesia lírica (caracterizada, essencialmente,
2. por manifestar a subjetividade do eu lírico, expressando-lhe os sentimentos, as emoções, o
mundo interior).
De um modo geral, a musicalidade é um elemento fundamental no texto lírico.
Vinícius de Moraes explora recursos poéticos no plano da sonoridade, do ritmo e das figuras
de linguagens e versos decassílabos (dez sílabas poéticas em toda a sua estrutura) e um
variado jogo rimático que compreende as rimas ABBA CDCD EFE FFE. A ocorrência da
aliteração ( repetição constante de um mesmo fonema consonantal) entre palavras
(―espuma‖, ―espalmadas‖, ―espanto‖) e a assonância (repetição constante das vogais /e/
e /o/ no decorrer do soneto) consistem nos principais recursos empregados pelo artista
para alcançar a referida sonoridade.
Na primeira estrofe, o eu lírico enfatiza o trauma da ―separação‖ através da
expressão ―De repente‖, que aponta uma mudança súbita: da segurança para a
insegurança; do certo para o incerto(instabilidades face ao inesperado). A antítese, figura
de linguagem que se constrói a partir de oposição de ideias (―riso/pranto‖), estabelece o
contraditório entre o passado e o presente. Antes, tudo era bom; havia o riso, o beijo... O
presente é ruim; pranto, espanto... A partir deste ponto, fica nítida a sensação de que as
relações amorosas podem ser fugazes e imprevisíveis. Perceba que Vinícius também
emprega outros recursos de linguagem como a comparação (atribuir características de um
ser a outro, em virtude de uma determinada semelhança; há uso de termo comparativo –
como, igual a , semelhante a, etc.): ―Silencioso e branco como a bruma‖(imagem de algo
que se esgarça e se dispersa, assim como a palavra ―espuma‖). Se fosse uma metáfora,
seria colocado o verso assim: O pranto é a bruma.
Na segunda estrofe, o eu lírico vivencia um conflito que atinge seu ápice num
determinado momento do poema, através do verso 8: ―E do momento imóvel fez-se o
drama‖ ( drama: palavra que conota esse clímax). A imagem da ―chama‖ simbolizando a
sensualidade e a finitude do amor, do ir e vir das relações amorosas, intensas mas não
eternas, pode ser considerada o traço típico desse poeta, que dessa forma contribui com a
proposta modernista de aprimorar a experiência poética da experiência vivida.
Na terceira estrofe, o eu lírico acentua o aspecto temporal do poema: ―De repente,
não mais que de repente‖. Neste contexto, a expressão atenua o espanto causado pela
separação, isto é, o fato de tudo ter sido destruído num repente. Trata-se da ―separação‖
que desencadeia, inevitavelmente, uma angústia ante a solidão. O poeta coloca como
antíteses as palavras ―triste”/amante, sozinho/ contente‖, demonstrando a importância da
correspondência no amor.
Há o recurso estilístico denominado paralelismo/anáfora; isto é, a repetição de
palavras no início de vários versos.
Na quarta estrofe, o eu lírico atormenta-se, impotentemente, diante de um fato
consumado: sem o amor, perdem-se o sentido e a direção da vida (―Fez-se da vida uma
aventura errante‖). O emprego de um único tempo (pretérito perfeito do indicativo),
representado pelo verbo fazer (fez/desfez), esboça que o fato (separação) já ocorreu e,
portanto, é uma ação acabada, visto como algo irreversível.
Repare que o poema centra-se em seguidas antíteses que realçam a mudança de
situação provocada pela perda ( o segundo membro da antítese sempre traz uma conotação
de dor, de infelicidade: ―próximo/distante‖). Outro aspecto que chama a atenção é a
valorização do momento, a força do destino (ou do acaso) que muda a nossa vida ―De
3. repente‖ ( locução adverbial empregada seis vezes no poema, utilizada para demonstrar a
forma imprevista como as ações ocorreram), quando não há mais esperança de reencontro.
PROFUNDAMENTE (MANUEL BANDEIRA) Versos livres (diferentes métricas)
Ver página 21/livro didático (análise do conteúdo).
Quan/do on/tem/ a/dor/me/ci (7 sílabas métricas) Redondilha maior/heptassílabo.
Na/ noi/te/ de/ São/ Jo/ão/ (7 sílabas métricas) Medida velha
Ha/via a/le/gri/a e/ ru/mor/ (7 sílabas métricas)
Vo/zes/ can/ti/gas/ e/ ri/sos (7 sílabas métricas)
Ao/ pé/ das/ fo/guei/ras/ a/ce/(sas). (8 sílabas métricas) octossílabo
No/ me/io/ da/ noi/te/ des/per/tei/(9 sílabas métricas) (eneassílabo)
Não/ ou/vi/ mais/ vo/zes/ nem/ ri/(sos) (8 sílabas métricas)/ (Metonímia/aliteração)
A/pe/nas/ ba/lões/ (5 sílabas métricas)/ Redondilha menor/pentassílabo/ Medida velha
Pas/sa/vam/ er/ran/(tes) (5 sílabas métricas)/ Redondilha menor
Si/len/cio/sa/men/(te)
A/pe/nas/ de/ vez/ em/ quan/(do)
O/ ruí/do/ de um/ bon/(de)
Cor/ta/va o/ si/lên/(cio) (sinestesia/personificação)
Co/mo um/ tú/(nel). (trissílabo) (comparação)
On/de es/ta/vam/ os/ que há/ pou/(co)
Dan/ça/(vam) (dissílabo)
Can/ta/(vam)
E/ ri/(am)
Ao/ pé/ das/ fo/guei/ras/ a/ce/(sas)?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Pro/fun/da/men/(te). (Tetrassílabo)
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo (Metonímia)
Mi/nha a/vó/
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
4. Ro/(sa) (monossílabo)
On/de es/tão/ to/dos/ e/(les)? (hexassílabos)
Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente. (Eufemismo)
Meninos carvoeiros (Temática social/denúncia da realidade social/ trabalho infantil)
Manuel Bandeira
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho1 enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem2 é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido. Catacrese)
— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles. (prosopopeia/metáfora)
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis! (comparação)
—Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Chicote.
1
2
Sacos feitos com material de aniagem, derivado do sisal.