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SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE ENSINO DE SÃO JOÃO DEL-REI
Equipe PIP CBC/NAPEM
8 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DA MULHER
A NECESSIDADE DE UM OLHAR CRÍTICO DA EDUCAÇÃO BÁSICA SOBRE O
PAPEL DA MULHER NA CONTEMPORANEIDADE
São João del-Rei, 04 de fevereiro de 2014
Objetivo Geral
Levar aos educandos reflexões acerca do papel da mulher, levando em consideração aspectos histórico-culturais e
suas implicações na contemporaneidade, a partir de um projeto interdisciplinar, que tem como motivação o dia
internacional da mulher.
Objetivos Específicos
Promover na escola leitura de textos e atividades relacionadas à reflexão crítica sobre o gênero feminino.
Conscientizar os educandos e a comunidade escolar acerca da violência contra a mulher, e do espaço que
esta mulher ocupa na sociedade.
Justificativa
É relevante aproveitar a data que celebra o dia das mulheres para levar o alunado a uma reflexão: os valores
sociais são construídos historicamente. A concepção que desvaloriza o gênero feminino e que justifica contra as
mulheres uma série de injustiças tem raízes no passado, e, portanto, foram produzidas, afirmadas e reafirmadas ao
longo do tempo. É preciso educar o alunado para viver de fato em uma sociedade onde os indivíduos sejam
respeitados independentemente de seu gênero, raça ou credo. Para tomar as palavras de Boa Ventura de Souza
Santos: é preciso formar jovens que saibam que tem direito a reivindicar a igualdade sempre que a diferença os
inferiorize ou reivindicar a diferença sempre que a igualdade os descaracterize.
Sugestão De Desenvolvimento
Sugerimos que o projeto seja desenvolvido na escola de maneira interdisciplinar, ficando a cargo da direção indicar
professores que possuam perfil para tal tarefa, e cujas disciplinas favoreçam a reflexão. A partir da análise dos textos
e das sugestões em anexo os professores poderão elaborar planos de aula compatíveis com o público da escola e
com a faixa etária.
Para tanto, sugerimos trabalhar o tema Mulher a partir das seguintes frentes:
RELAÇÕES DE GÊNERO: DIFERENÇAS E DESIGUALDADES
↑
FEMINISMO CONTEMPORÂNEO←MULHER→VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
↓
O ESTEREÓTIPO FEMININO FABRICADO PELA INDÚSTRIA DO CONSUMO
É possível trazer para sala de aula atividades diversificadas, tais como:
Simulação de júri;
-Ex: Depois da exibição do vídeo “O Silêncio das Inocentes”, do diretor Ique Gazzola (link enviado por e-mail),
indicar um caso de violência contra mulher com base no vídeo (ou um caso conhecido pelos alunos) e
simular um júri popular onde os alunos assumam os papéis de promotoria, defesa, juiz, vítima, ofensor e júri.
Obs: O texto “Violência contra as mulheres: a situação” (em anexo) faz um levantamento de dados sobre a
violência contra a mulher no âmbito mundial e pode auxiliar na atividade.
Produçãode cartazes/colagens:
- Ex: Leitura do texto “relações de gênero” (texto em anexo); Conduzir reflexão/debate e propor a realização
de cartazescom o tema: o que “elas e eles” pensam? Em cada cartaz desenhar do contorno do corpo
feminino/masculino e ali colar e escrever figuras e palavras que identifiquem os gêneros.
Obs: O texto “Os papéis femininos historicamente constituídos” (em anexo) pode auxiliar a discussão ao
contextualizar como se moldou ao longo dos séculos o papel da mulher como mãe e esposa.
Releiturasde obras de arte que tratam do tema mulher
Ex: Apreciação e contextualização das obras da artista visual Rosana Paulino (texto em anexo); discussão
sobre o tema; produção de obras que dialogam com o trabalho da artista (releituras).
Exibição de vídeos;
Ex: Exibição do vídeo “Acorda Raimundo, Acorda”(link enviado por e-mail). Inicialmente o professor poderá
conceituar gênero e suas diferenças. Após o vídeo discutir a construção histórica do gênero e papéis
femininos e apontar as desconstruções apresentadas no vídeo.
Obs: O texto “Acorda Raimundo” apresenta conceituação sobre gênero, masculinidade, violência contra
mulher e depoimento de homens que podem acrescentar notas interessantes ao debate.
Pesquisas:
Ex: Realizar pesquisas na internet sobre a marcha das vadias. Promover reflexões:
O que é o movimento?
O que busca?
Onde acontece?
O movimento extrapola em suas manifestações? Por quê? Quando?
Obs: O texto “Um novo feminismo na Marcha das Vadias” (em anexo) pode ser utilizado para iniciar o
levantamento de dados sobre o movimento.
Produção de Jornal:
Ex: Apresentações de jornais de TV. Reunidos em grupos os alunos dividem-se em: apresentadores,
repórteres de rua, entrevistados, atores de comercial. A formulação da pauta do jornal dirá respeito a temas
sobre as mulheres:anorexia, bulimia, embelezamento, exploração da imagem feminina e outros.
Obs: Os textos anexos apoiam a formulação das notícias. “Mulher uso e abuso”; “Artigo: A Ditadura da
Beleza”; “Anorexia Nervosa”.
Sugestão De Conclusão
Sugerimos que o projeto esteja concluído até o dia 8 de março, dia internacional da mulher. É interessante que todo
o processo seja registrado através de fotos e/ou vídeos.
Os Papéis Femininos Historicamente Constituídos1
DuranteoséculoXIX,asociedadebrasileirapassouporumasériedetransformações:aconsolidaçãodocapitalismo,o
incrementodeumavidaurbanaesuaconsequentevariedadedeconvivênciassociais,oadventodaburguesiaeadisseminaçã
odeseumododevida.Presenciamosnesseperíodoonascimentodeumanovamulherquenasrelaçõesdachamadafamíliabu
rguesaassumiuopapeldeesposadevotadaaomarido,donadeumlaracolhedoremãeeducadoradefilhos-
cadavezmaiséreforçadaaideiadequeémuitoimportantequeasprópriasmãescuidemdaprimeiraeducaçãodosfilhosenão
osdeixemsimplesmentesoltossobinfluênciadeamas.Assim,nointeriordoespaçodomésticoseredefineopapelfemininoco
mnovaseabsorventesatividades.
Ocasamentoentrefamíliasricaseburguesaserausadocomoumdegraudeascensãosocialouumaformademanuten
çãodostatus.Mulherescasadasganhavamumanovafunção:contribuirparaoprojetofamiliardemobilidadesocialatravésd
esuapostura.Numcertosentido,oshomenserambastantedependentesdaimagemquesuasmulherespudessemtraduzirp
araorestantedaspessoasdeseugrupodeconvívio.Significavamumcapitalsimbólicoimportante,emboraaautoridadefamili
arsemantivesseemmãosmasculinas. A sexualidade feminina seria, então, tolida na medida em que seu valor social
ligar-se-ia a sua honra e essa a sua castidade. Essa concepção impõe ao gênero feminino o desconhecimento de seu
próprio corpo e abre caminhos para a repressão de sua sexualidade. Decorre daí o fato das mulheres manterem com
seu corpo uma relação matizada por sentimentos de culpa, de impureza, de diminuição, de vergonha de não ser
mais virgem.
A identidade sexual e social da mulher através de tais informações molda-se para atender a um sistema de
dominação familiar e social.
Comofuturaguardiãdolaredafamíliaaesposaemãeburguesadeveriaadotarregrascastasnoencontrosexualcomomarido.
Antesedepoisqueesseencontroseconcretizasseasmulheressofreriamcomavigilância.Avirgindadeeraumrequisitofunda
1
O texto compõe-se, em sua maior parte, por um conjunto de fragmentos retirados do livro “História das Mulheres
no Brasil”, livro ganhador do Prêmio Jabuti e organizado por Mary Del Priore. Foram utilizados nesse texto os
capítulos: “Mulher e Família Burguesa”, “Mulheres do Sertão Nordestino”, “Mulheres dos Anos Dourados” e
“Mulher, mulheres”.
mental,funcionandocomoum
dispositivoparamanterostatusdanoivacomoobjetodevaloreconômicoepolítico,sobreoqualseassentariaosistemadeher
ança e
depropriedade.Muitasfilhasdefamíliaspoderosasnasceram,cresceram,casarame,emgeral,morreramnasfazendas. A
Preocupação com o
casamentodasfilhasmoçaseraumaconstante.Èverdadequemuitasmulheresnãosecasaram,entreoutrasrazõespordificul
dadesdeencontrarparceirosaaltura,problemasdeherançaedote,maslogopassadasasprimeirasregras(menstruação)ea
mocinhafizessecorpodemulher,ospaiscomeçavamasepreocuparcomofuturoencaminhamentodajovemparaocasament
o.Aos12anosdeidadecomeçava-
seaconfeccionaroenxoval,avalorizaçãodavidamatrimonialerainculcadanavidafeminina.Poroutrolado,imprimiam-
lheumaprofundaangústia,casoelanãoviesseacontraircasamentoantesdos25anosdeidade.
No século XX as distinções entre os papéis masculinos e femininos continuaram nítidas. Na família-modelo
dessa época, os homens tinham autoridade e poder sobre as mulheres e eram os responsáveis pelo sustento da
esposa e dos filhos. Estamos falando dos anos 50. Momento em que o Brasil vivia um período de ascensão da classe
média. Com o fim da 2ª Guerra Mundial, o país, otimista, vivia um crescimento urbano e industrial. Se o Brasil
acompanhou, à sua maneira, as tendências internacionais de modernização e emancipação feminina –
impulsionadas pela participação das mulheres no esforço de guerra e pelo desenvolvimento econômico-, também foi
influenciado pelas campanhas estrangeiras que, com o fim da guerra, passaram a pregar a volta das mulheres ao lar
e aos valores tradicionais da sociedade. As moças a essa época eram classificadas entre moças de família e moças
levianas. As primeiras se comportavam corretamente, de modo a não ficarem mal faladas. Tinham gestos contidos,
respeitavam os pais, preparavam-se para o casamento, conservavam sua inocência sexual. Era preciso dar-se o
respeito para serem respeitadas, admitidas pela sociedade como moças para casar. Ainda no século XX existia o
temor apontado lá no XIX: o medo de não contrair casamento, traduzido na linguagem contemporânea pela
expressão “ficar para titia”. Tal fato pode ser verificado na propaganda de pasta dental demonstrada abaixo. O
produto em si não possui uma ligação estreita de sentido com o casamento. Sendo esse, porém, um valor
fundamental daquela sociedade tudo poderia lhe dizer respeito e lhe ser associado.
Esse quadro configura uma modalidade de violência que, embora não compreenda atos de agressão física,
decorre de uma normalização cultural, da discriminação e submissão feminina. Violência que se constitui fonte de
inúmeras outras violências. Assim, permaneceriam as mulheres por longo tempo sem poder dispor livremente de
seu corpo, de sua sexualidade. Quanto aos homens, estipulou-se o livre exercício de sua sexualidade, símbolo de
virilidade; na mulher tal atitude era condenada. Aquelas que ousassem tal liberdade eram taxadas como levianas,
vadias. Interessante é notar, hoje, no século XXI, a apropriação do termo “vadia” para denominação do movimento
mundial que marcha em busca de direitos e liberdades para as mulheres. No dicionário encontramos o verbete para
designar “mulher de vida licenciosa sem ser necessariamente prostituta”. Licencioso “é aquele que não respeita
normas, que demonstra desregramento moral e ou sexual, que é devasso”. Ora, por que as mulheres escolheram
denominar tal movimento como “marcha das vadias”? Para alardear – mesmo que causando escândalo, ainda! - seu
direito de dispor de seu corpo como bem quiser, pois seu corpo não é um bem, mas é seu. É possível que indiquem
algum excesso no movimento, talvez por que, ainda hoje , possamos reconhecer costumes e valores que definem,
unem ou separam, e até estabelecem hierarquias entre homens e mulheres. O movimento quer romper com o
tempo em que a mulher era escondida. Guardada. Reprimida e ainda assim sob suspeita. Se ser vadia é não respeitar
normas, o termo é bem adequado, pois ainda é preciso desfazer muitas amarras culturais. É preciso endurecer o
discurso e ampliar a pauta de reivindicações, sem a preocupação – nesse momento histórico- de perder a doçura.
Existe apenas uma verdade universal, aplicável a todos os países, culturas e comunidades: a violência contra as
mulheres nunca é aceitável, nunca é perdoável, nunca é tolerável.
SECRETÁRIO-GERAL BAN KI-MOON
A campanha do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, UNA-SE pelo fim da violência contra as
mulheres, tem por objetivo prevenir e eliminar a violência contra as mulheres e meninas em todas as partes do
mundo.
A campanha reúne diversas agências e escritórios da ONU para impulsionar ações em todo o Sistema ONU, a fim de
prevenir e punir a violência contra as mulheres.
Através da campanha, a ONU está unindo forças com indivíduos, sociedade civil e governos pelo fim da violência
contra as mulheres em todas as suas formas.
Violência contra as mulheres: a situação
O PROBLEMA
A violência contra as mulheres assume muitas formas – física, sexual, psicológica e econômica. Essas formas de
violência se inter-relacionam e afetam as mulheres desde antes do nascimento até a velhice.
Alguns tipos de violência, como o tráfico de mulheres, cruzam as fronteiras nacionais.
As mulheres que experimentam a violência sofrem uma série de problemas de saúde, e sua capacidade de participar da
vida púbica diminui. A violência contra as mulheres prejudica as famílias e comunidades de todas as gerações e
reforça outros tipos de violência predominantes na sociedade.
A violência contra as mulheres também empobrece as mulheres, suas famílias, suas comunidades e seus países.
A violência contra as mulheres não está confinada a uma cultura, uma região ou um país específicos, nem a grupos de
mulheres em particular dentro de uma sociedade. As raízes da violência contra as mulheres decorrem da discriminação
persistente contra as mulheres.
Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida.
As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de
carro, guerra e malária, de acordo com dados do Banco Mundial.
Violência praticada pelo parceiro íntimo
A forma mais comum de violência experimentada pelas mulheres em todo o mundo é a violência física praticada por
um parceiro íntimo, em que as mulheres são surradas, forçadas a manter relações sexuais ou abusadas de outro modo.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em 11 países constatou que a porcentagem de
mulheres submetidas à violência sexual por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia.
Diversas pesquisas mundiais apontam que metade de todas as mulheres vítimas de homicídio é morta pelo marido ou
parceiro, atual ou anterior.
Na Austrália, no Canadá, em Israel, na África do Sul e nos Estados Unidos, 40% a 70% das mulheres vítimas
de homicídio foram mortas pelos parceiros, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
Na Colômbia, a cada seis dias uma mulher é morta pelo parceiro ou ex-parceiro.
A violência psicológica ou emocional praticada pelos parceiros íntimos também está disseminada.
Violência sexual
Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se tornará uma vítima de estupro ou tentativa de
estupro no decorrer da vida.
A prática do matrimônio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o mundo, especialmente na
África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta
riscos para a saúde, inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola.
Um dos efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do rompimento severo dos
tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e indesejável socialmente.
Violência sexual em conflitos
A violência sexual em conflitos é uma grave atrocidade atual que afeta milhões de pessoas, principalmente mulheres e
meninas.
Trata-se, com frequência, de uma estratégia deliberada empregada em larga escala por grupos armados a fim de
humilhar os oponentes, aterrorizar as pessoas e destruir as sociedades. Mulheres e meninas também podem ser
submetidas à exploração sexual por aqueles que têm a obrigação de protegê-las.
As mulheres sejam elas avós ou bebês, têm rotineiramente sofrido violento abuso sexual nas mãos de forças militares
e rebeldes.
O estupro há muito é usado como tática de guerra, com relatos de violência contra as mulheres durante ou após
conflitos armados em todas as zonas de guerra internacionais ou não internacionais.
Na República Democrática do Congo, aproximadamente 1.100 estupros são relatados todo mês, com uma
média de 36 mulheres e meninas estupradas todos os dias. Acredita-se que mais de 200 mil mulheres tenham
sofrido violência sexual nesse país desde o início do conflito armado.
O estupro e a violação sexual de mulheres e meninas permeia o conflito na região de Darfur, no Sudão.
Entre 250 mil e 500 mil mulheres foram estupradas durante o genocídio de 1994 em Ruanda.
A violência sexual foi um traço característico da guerra civil que durou 14 anos na Libéria.
Durante o conflito na Bósnia, no início dos anos 1990, entre 20 mil e 50 mil mulheres foram estupradas.
Violência e HIV/AIDS
A incapacidade de negociar sexo seguro e de recusar o sexo não desejado está intimamente ligada à alta incidência de
HIV/AIDS. O sexo não desejado resulta em maior risco de escoriações e sangramento, o que facilita a transmissão do
vírus.
Mulheres que são surradas por seus parceiros estão 48% mais propensas à infecção pelo HIV/AIDS.
As mulheres jovens são particularmente vulneráveis ao sexo forçado e cada vez mais são infectadas com o HIV/AIDS.
Mais da metade das novas infecções por HIV em todo o mundo ocorrem entre os jovens de 15 a 24 anos, e mais de
60% dos jovens infectados com o vírus nessa faixa etária são mulheres.
Excisão/Mutilação Genital Feminina
A Excisão/Mutilação Genital Feminina (E/MGF) refere-se a vários tipos de operações de mutilação realizadas em
mulheres e meninas.
Estima-se que mais de 130 milhões de meninas e mulheres que estão vivas hoje foram submetidas à E/MGF,
sobretudo na África e em alguns países do Oriente Médio.
Estima-se que 2 milhões de meninas por ano estão sob a ameaça de sofrer mutilação genital.
Assassinato por dote
O assassinato por dote é uma prática brutal, na qual a mulher é assassinada pelo marido ou parentes deste porque a
família não pode cumprir as exigências do dote — pagamento feito à família do marido quando do casamento, como
um presente à nova família da noiva.
Embora os dotes ou pagamentos semelhantes predominem em todo o mundo, os assassinatos por dote ocorrem
sobretudo na África do Sul.
“Homicídio em defesa da honra”
Em muitas sociedades, vítimas de estupro, mulheres suspeitas de praticar sexo pré-matrimonial e mulheres acusadas
de adultério têm sido assassinadas por seus parentes, porque a violação da castidade da mulher é considerada uma
afronta à honra da família.
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) estima que o número anual mundial do chamado ―homicídio em
defesa da honra‖ pode chegar a 5 mil mulheres.
Tráfico de pessoas
Entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente em situações incluindo prostituição, mão de obra
forçada, escravidão ou servidão, segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas
detectadas.
Violência durante a gravidez
A violência antes e durante a gravidez tem graves consequências para a saúde da mãe e da criança. Leva a gravidezes
de alto risco e problemas relacionado à gravidez, incluindo aborto espontâneo, trabalho de parto prematuro e baixo
peso ao nascer.
O infanticídio feminino, a seleção pré-natal do sexo e o abandono sistemático das meninas estão disseminados no Sul
e Leste Asiáticos, no Norte da África e no Oriente Médio.
Discriminação e violência
Muitas mulheres enfrentam múltiplas formas de discriminação e um risco cada vez maior de violência.
No Canadá, mulheres indígenas são cinco vezes mais propensas a morrer como resultado da violência do que
as outras mulheres da mesma idade.
Na Europa, América do Norte e Austrália, mais da metade das mulheres portadoras de deficiência sofreram
abuso físico, em comparação a um terço das mulheres sem deficiência.
A violência contra as mulheres detidas pela polícia é comum e inclui violência sexual, vigilância inadequada,
revistas com desnudamento realizadas por homens e exigência de atos sexuais em troca de privilégios ou
necessidades básicas.
CUSTOS E CONSEQUÊNCIAS
Os custos da violência contra as mulheres são extremamente altos. Compreendem os custos diretos de serviços para o
tratamento e apoio às mulheres vítimas de abuso e seus filhos, e para levar os culpados à justiça.
Os custos indiretos incluem a perda de emprego e de produtividade, além dos custos em termos de dor e sofrimento
humano.
O custo da violência doméstica entre casais, somente nos Estados Unidos, ultrapassa os 5,8 bilhões de dólares
por ano: 4,1 bilhões de dólares em serviços médicos e cuidados de saúde, enquanto a perda de produtividade
totaliza quase 1,8 milhão de dólares.
Um estudo realizado em 2004 no Reino Unido estimou que os custos totais, diretos e indiretos, da violência
doméstica, incluindo a dor e o sofrimento, chegam a 23 bilhões de libras por ano, ou 440 libras por pessoa.
http://www.onu.org.br
Rosana Paulino
Publicado em8 de abril de 2012porvivalavulva
Rosana Paulino é artista plástica e educadora brasileira, investigando em sua obra questões ligadas a gênero e raça,
especialmente com o tema da mulher negra no Brasil. A artista costuma utilizar técnicas e objetos tradicionalmente
ligados ao universo feminino das artes aplicadas, vistas como domésticas e, portanto, femininas, tais como costura e o
bordado.
Rosana comenta a respeito de seu trabalho:
―[...]Olhar no espelho e me localizar em um mundo que muitas vezes se mostra preconceituoso e hostil é um desafio
diário. Aceitar as regras impostas por um padrão de beleza ou de comportamento que traz muito preconceito, velado
ou não, ou discutir esses padrões, eis a questão.
Dentro desse pensar, faz parte do meu fazer artístico apropriar-me de objetos do cotidiano ou elementos pouco
valorizados para produzir meus trabalhos. Objetos banais, sem importância. utilizar-me de objetos do domínio quase
exclusivo das mulheres. Utilizar-me de tecidos e linhas. Linhas que modificam o sentido, costurando novos
significados, transformando um objeto banal, ridículo, alterando-o, tornando-o um elemento de violência, de
repressão. O fio que torce, puxa, modifica o formato do rosto, produzindo bocas que não gritam, dando nós na
garganta. Olhos costurados, fechados para o mundo e, principalmente, para sua condição de mundo. [...] Gritar,
mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou outros nomes na parede. Ele tem sido meu fazer, meu desafio,
minha busca.‖
A artista, com seus trabalhos em pequena escala, tece uma política de dimensão íntima.
Na obra “Bastidores”(1997), a violência simbólica aparece nas linhas que costuram as bocas e gargantas. Os
bastidores, essa espécie de armação de madeira circular em que se prega o que se quer bordar, forma a moldura de
uma condição: figuras de mulheres negras estampadas, sem voz. Esse ofício ligado a um corpo feminino silenciado,
lugar de opressão.
Na obra ―Sem título (da série As três Graças)‖ de 1998, o cabelo crespo é colocado lado a lado com um feixe de
cabelo loiro e liso, confrontando uma mentalidade colonialista e embranquecedora corrente no Brasil.
A artista tece essas tramas simbólicas em seus bordados e costuras evidenciando enredamento do corpo da mulher
negra em estereótipos perversos e coerções estéticas em que memórias pessoais esboçam um cenário político de
opressão no país. E é no cotidiano e em seus objetos habituais que a artista trata a partir da sua própria condição, da
violência histórica que assola a população negra.
http://vivalavulva.wordpress.com/2012/04/08/rosana-paulino/
Um novo feminismo na Marcha das Vadias?
Publicado em 6 de julho de 2013por admin
Manifestações espalharam-se pelo país e chegam ao Rio dia 27. Sua pauta, que valoriza liberdade sexual,
representará um passo a mais na luta por igualdade de gêneros?
Por Anna Carolina Iunes
Uma saia curta não é convite para estupro, um corpo bonito não é motivo para cantadas grosseiras. Segundo dados da
ONU, aproximadamente uma em cada cinco mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da
vida. O número de assédios sexuais está ligado à cultura machista e patriarcal que promove o pensamento da mulher
como alguém inferior – além de fomentar ideias como a não liberdade sexual ou a criminalização do aborto. O
movimento feminista tem o papel de desconstrução do comportamento sexista, com o objetivo de uma vivência mais
igualitária. Apesar de ter raízes no século XIX, o feminismo teve seu ápice nas décadas de 1960 e 70, e agora retorna
com movimentos por todo o mundo, tendo a ―Marcha das Vadias‖ como um deles.
―Se ser livre é ser vadia, então eu sou vadia‖ – uma fala impactante, e que carrega um grito por liberdade e igualdade.
A declaração é uma resposta: em janeiro de 2011, na Universidade de Toronto, Canadá, o policial Michael
Sanguinetti, ao falar sobre abusos sexuais, comentou ―as mulheres deviam evitar se vestir como vadias, para não
serem vítimas‖. O argumento de Sanguinetti teve repercussão mundial e como reação surgiu a ―Marcha das Vadias‖.
O movimento se espalhou no mundo e por todo o Brasil. No caso do Rio de Janeiro, a Marcha, que ocorre em
Copacabana, reuniu 300 pessoas em 2011 e cerca de 500 em 2012, segundo a Polícia Militar.
Não há líder, partido e nem um centro organizacional. As reuniões são feitas regularmente em locais diversos: a sala
de uma faculdade, uma praça ou, até mesmo, um bar. São divididas comissões – segurança, comunicação, artes e
manifesto – assim, há divisão de tarefas sem hierarquização de poder. É um movimento aberto – abarca pessoas de
todas as cores, sexualidades e gêneros. Qualquer um pode participar da parte organizacional e da marcha em si, o
contato é feito através da página online. No Rio de Janeiro, ocorrerá, este ano, em 27 de Julho e a expectativa da
organização é que aumente o número de pessoas.
Ana Carolina Brandão, 24 anos, formada em Direito pela UFF, faz parte do movimento desde 2011 e vê a Marcha
como uma responsável por renovar e ampliar o feminismo. Atualmente, luta-se pela laicidade do estado,
regulamentação da prostituição, legalização do aborto, descriminalização de gênero e por mais liberdade sexual do
indivíduo, sobretudo da mulher que é moralmente julgada quando exerce sua sexualidade livremente. De Aracaju,
Bárbara Moura, 24 anos, explicou que a Marcha desse ano ocorrerá no mesmo dia e local da peregrinação de fiéis
católicos pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e afirma não ser uma provocação: ―A Jornada tem objetivos
contrários ao nosso movimento. Eles pretendem distribuir fetos de plástico e desconstruir toda uma luta pela
descriminalização do aborto.‖.
A Marcha vive, constantemente, um combate ideológico. O termo ―vadia‖ assusta à primeira vista e muitos acabam
por não compreender a verdadeira motivação ideológica. Tobias Abdalla, aluno da PUC-Rio, fortemente católico e
não ligado aos ideais feministas, pensa como um movimento de prostituas e travestis que apenas ambiciona o fim da
violência com os mesmos e almeja o nudismo como uma prática livre. Há também fortes setores com pensamentos
opostos: como a Frente Parlamentar Evangélica ou a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) presidida
pelo pastor, abertamente homofóbico e racista, Marco Feliciano. O movimento tornou-se um espaço de fala, de
argumentação com os ideais machistas tão intrínsecos e reafirmados, o tempo todo, na sociedade. É como define
Gabriela da Fonseca, 25 anos, estudante de História pela UFF e integrante da Marcha: ―Vivemos pequenas violências
diariamente que não nos deixam ser plenas. A Marcha das Vadias é onde podemos reivindicar nossos direitos e expor
nossos pensamentos.‖.
A Marcha do Rio de Janeiro conta com o apoio do movimento de outras cidades próximas: Viviane Faria pesquisadora
de 36 anos, veio da Marcha da Baixada Fluminense, canta letras de funk que ela mesma compôs, sempre colocando o
papel da mulher em foco; vê o funk como uma forte manifestação cultural de ideais feministas – mal elaborados,
muitas vezes.
Além da presença de outras cidades, há também, na Marcha carioca, a expressão da luta de transexuais e prostitutas
por direitos iguais e respeito. Indianara Siqueira, transexual de 42 anos e prostituta por opção desde os 18, é símbolo
dessa luta; foi a responsável pelo fim da ―cafetinagem‖ em Copacabana, diminuindo a exploração de mulheres no
local. Indianara já morou na Europa e foi presa na França por ter dado abrigo a prostitutas que estavam em regime
desumano de trabalho. Hoje se dedica à regulamentação da prostituição.
O movimento cresce, e cresce junto dele a conscientização. A Marcha é um ícone do feminismo atual: pretende muito
mais do que só queimar sutiã em público: empenhar-se para construir — e conquistar — uma vivência igualitária de
direitos e condições de vida.
http://outraspalavras.net/blog/2013/07/06/um-novo-feminismo-na-marcha-das-vadias/
Artigo: A ditadura da beleza
Por Marcelo Norio Inada
Estamos convivendo com a mídia nos impondo diariamente uma ditadura da beleza, mas até que ponto isso é real?
Porque a sociedade impõe que devemos ser magros? A maioria da população não se encontra nos padrões das modelos
e atrizes da nossa atualidade. Aliás uma minoria dita o que é belo. Mas quem realmente é belo? O que é a beleza?
A definição de beleza segundo o dicionário: qualidade do que é belo, agradável ou que desperta admiração. A beleza é
uma experiência, um processo cognitivo ou mental, ou ainda, espiritual, relacionada à percepção de elementos que
agradam de forma singular aquele que a experimenta. A beleza agrada a quem vê, muitas vezes não podemos definir o
que achamos belo. Simplesmente nos sentimos bem em admirar certas formas, figuras, paisagens ou pessoas.
Os padrões humanos para definição de beleza são culturais, geográficos e temporais.Uma mulher considerada bela
antigamente, não necessariamente estaria nos conceitos de beleza de hoje. Porque antigamente preferia-se uma mulher
com uma silhueta mais cheia. Na Grécia antiga as esculturas das mulheres sempre aparecem mais gordinhas como
diríamos hoje em dia. Mesmo nas décadas de 40 e 50 os ícones da beleza, como Brigitte Bardot e Marilyn Monroe,
talvez, hoje nem passariam numa seleção como modelo.
Os padrões de beleza mudam. O que é belo aqui, talvez em outra cultura não seja. Alguém comum num local pode ser
considerado belo num outro país. Ou, alguém que não lhe pareça bela para você, às vezes para seu colega ao lado seja
a mulher mais linda que ele já viu! Como diria um poeta: A beleza está nos olhos de quem a vê.
Matematicamente consideramos belo algo harmonioso. Um rosto bonito normalmente apresenta uma simetria.
Leonardo da Vinci já escreveu séculos atrás: ―podemos dividir o rosto em 3 partes proporcionais: da implantação dos
cabelos até o nariz, deste até os lábios e a última parte até o mento‖. Um rosto considerado bonito possui estas
medidas proporcionais. Porém não podemos dizer que somente quem possui tais medidas é belo. A modelo Gisele
Bündchen não entra nesse conceito, mas quem tem coragem de dizer que ela não é linda? O conceito de beleza é
subjetivo.
O que leva todo mundo a esta ditadura da beleza? Todos sentem necessidade de aceitação. As mulheres querem ficar
bonitas para arranjar um namorado, casar e ter filhos e para se sentirem felizes. Os homens estão se cuidando cada vez
mais também. Hoje, o conceito de beleza da magreza vem fazendo as pessoas viverem em dietas, academias e
recorrendo aos cirurgiões plásticos. Estamos vivendo num mundo em que uma minoria é magra e dita os conceitos de
beleza, a maioria está fora do padrão considerado belo e faz de tudo para alcançá-lo.
Pitanguy também já criticou a magreza excessiva das modelos ao tratar da imposição do marketing sobre a beleza. "O
belo é aquilo que agrada. De repente, você vê uma menina anoréxica desfilando e não agrada. A partir do momento
que se começa a vender produtos e se desenvolve uma mentalidade que não é saudável, cria-se uma inversão de
valores".
Hoje em dia vemos mulheres na televisão com corpos esculpidos na academia e até às custas de esteróides
anabolizantes. Algumas pacientes já pedem: ―quero ficar igual a tal artista!‖. Quase todos gostariam de mudar alguma
coisa em nossos corpos. Se você tem vontade de fazer uma cirurgia plástica, se for para ser feliz, por que não?
No meu conceito de beleza, o mais importante é ser feliz. Não estou dizendo para deixar de se cuidar ou que devemos
ser magros. Se você não se sente incomodada, tudo bem! Seja feliz!
Mas quem é que não gosta de receber um elogio? Saber que está bonita? Se cuidar é para sempre! É o que digo para
minhas pacientes. Afinal, sem saúde não temos nada. E felicidade transparece beleza! Ser belo é ser feliz! Seja feliz!
*Marcelo Norio Inada é cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e Titular em
Oncologia Cutânea. Realiza cirurgia plástica estética e reparadora da face, mamas, contorno corporal e procedimentos
estéticos.
http://www.oficinadacomunicacao.inf.br/new/index.php/contato/27-marcelo-inada/27-artigo-a-ditadura-da-beleza
Anorexia Nervosa
Introdução
Desde a idade média há relatos de anorexia. Esta estava relacionada a uma conduta religiosa de privação. Porém
atualmente a anorexia nervosa nada tem haver com religiosidade e sim com a busca de um corpo perfeito imposto pela
sociedade.
A anorexia nervosa se trata de um transtorno alimentar em que há perda de peso auto-induzida. Esta perda de peso
pode ser induzida por vômitos, uso de diuréticos, laxantes e, muitas vezes, os indivíduos podem se dedicar à
realização de exercícios intensos para queimar calorias e perder peso. Está associada a uma alteração na percepção da
forma e do peso do corpo, levando a uma preocupação exagerada em relação ao físico além de um temor intenso de
engordar, e que deve ser diagnosticada por meio dos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-IV) e da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
Fonte: http://www.qpcpesquisa.com/]
Adicionada por Natalia Zardo
Durante o desenvolvimento da anorexia nervosa, a perda de peso é retratada como um sinal de proeza e autodisciplina
por parte do indivíduo, uma vez que o ganho de peso é percebido como uma inaceitável perda de autocontrole. O
pensamento constante do medo de engordar não é aliviado pelo emagrecimento, mas, ao contrário, na medida em que
o sujeito diminui o peso, aumenta o seu medo de engordar. A restrição alimentar é severa, e no decorrer da doença ela
aumenta cada vez mais.
Adicionada por Natalia Zardo
A anoréxica passa fome, vai dormir com o estomago ‗roncando‘ e possuem a característica de cozinhar, muitas vezes
para satisfazer o desejo de comer dos outros , já que ela não se permite este desejo.
A sociedade atual estima a atratividade e a magreza em particular, tornando a obesidade uma condição estigmatizada e
rejeitada aumentando assim cada vez mais a incidência de indivíduos com anorexia nervosa. A mídia promove uma
grande influencia no padrão corporal.
As novelas, propagandas, revistas entre outros impõe um padrão de físico invejáveis, porém muitas vezes são meros
―foto shop‖, ou seja, aquelas modelos que todos acham perfeitas muitas vezes nem são reais. Essa disparidade entre o
observado e o desejado pode levar à insatisfação, levando a comportamentos alimentares inadequados em uma
tentativa de mudar a sua forma corpórea e se igualar ao padrão imposto pela mídia.
Epidemiologia
A anorexia nervosa tem aumentado nas últimas décadas, especialmente entre as mulheres jovens dos países ocidentais.
Este aumento se deve às influências culturais e mercadológicas que valorizam o corpo esbelto e esguio da mulher.
Dados epidemiológicos têm mostrado que a incidência média anual da anorexia nervosa na população em geral é de
18,5 por 100.000 entre as mulheres e 2,25 por 100.000 entre os homens. Isto ocorre porque os homens estão mais
preocupados com a forma do corpo e com a massa muscular, já as mulheres estão mais preocupadas com o peso. Em
países industrializados, a anorexia nervosa aparece ocorrer com mais freqüência, mas não é observado com maior
freqüência nas classes mais ricas.
Etiologia
A causa da anorexia nervosa ainda é obscura. Sabemos que ela é uma condição complexa baseada em fatores
biológicos, psicológicos e sociais. Sua causa ainda permanece obscura. Os fatores biológicos não são muito
conclusivos. Estes geralmente estão relacionados aos sintomas de inanição, que acarreta grandes mudanças no
funcionamento do organismo. Os fatores psicológicos podem estar relacionados com a adolescência. O adolescente
possui dificuldade de entrar no funcionamento sexual e a crescente complexidade do convívio social. O grande
número de separações entre pais, casal sem líder definido e famílias reconstituídas tem dificultado o processo de
identidade dos adolescentes. O comportamento obsessivo das anoréxicas em perder peso pode ser uma forma de
substituir as preocupações em relação aos pais e passar esta preocupação para o medo de ganhar peso e para as dietas
de restrição alimentar.
Sinais e sintomas
• Visão distorcida do próprio corpo. Apesar de extremamente magras, essas pessoas julgam-se com excesso de peso;
Fonte: http://z.hubpages.com/u/301524_f260.jpg
Adicionada por Natalia Zardo
• Perda exagerada de peso em curto espaço de tempo sem nenhuma justificativa.
• Recusa em participar das refeições familiares. Os anoréxicos alegam que já comeram e que não estão mais com
fome;
• Brincar com a comida no prato em vez de comer;
• Saltar refeições;
• Esconder comida (num guardanapo, debaixo de uma travessa, etc.) para evitar comê-la;
• Preocupação exagerada com o valor calórico dos alimentos. Esses pacientes chegam a ingerir apenas 200 kcal por
dia;
• Medem a circunferência corporal e se pesam-se diariamente,
http://www.splendicity.com/shopaholicsdaily/files/2008/01/anorexie1.jpg
Adicionada por Natalia Zardo
• Interrupção do ciclo menstrual (amenorréia) e regressão das características femininas;
• Atividade física intensa e exagerada;
• Depressão, síndrome do pânico, comportamentos obsessivo-compulsivos;
• Pele extremamente seca e coberta por lanugo (pêlos parecidos com a barba de milho).
• Excessivo interesse em questões relacionadas com peso, imagem corporal e jejum;
• Vestir (para esconder o corpo) roupa larga ou disforme;
• Baixos níveis de energia;
• Sono excessivo;
• Reduzido ou inexistente apetite sexual
Complicações
• Alterações metabólicas
As principais alterações metabólicas são aumento do colesterol (40% dos pacientes anoréxicos) e a hipoglicemia (56%
dos pacientes anoréxicos) que se deve a jejuns prolongados e/ou a resposta a um ECA (diurético) seguido de vômitos.
A ausência de menstruação é um dos principais achados para o diagnóstico da anorexia nervosa. A amenorréia pode
ser acompanhada de uma diminuição dos caracteres femininos secundários, ocorrendo perda dos contornos do quadril
e das nádegas. Ainda pode ocorrer: regressão dos ovários para estágios pré-puberais, regressão do tamanho mamário e,
às vezes, perda parcial dos pelos pubianos. O útero, também se encontra diminuído e observam-se mudanças atróficas
na parede vaginal levando a diminuição da libido. A infertilidade pode ocorrer.
Nos homens, a anorexia nervosa vem acompanhada de uma redução dos níveis de testosterona, FSH e LH, associados
a uma redução do volume testicular. Pode ocorrer a perda do libido, e isto pode persistir após a recuperação do peso.
Nos pacientes com anorexia nervosa pode ocorrer diminuição nos níveis de T3 e T4(hormônios tireoidianos). Com
essa redução do T3 podem ocorrer: pele seca e amarelada, constipação, intolerância ao frio e bradicardia.
• Alterações hematológicas A anemia é um achado freqüente na anorexia nervosa.
• Alterações das estruturas da pele (pele, cabelo, unhas e pêlos) e alterações visuais
Pode haver pele pálida, seca, sem brilho e, por vezes coberta por uma fina camada de pêlos. Pode ser ainda observada
uma coloração amarelada da pele. Os pêlos e cabelos encontram-se ralos, finos e opacos, muitas vezes quebradiços e
avermelhados (típicos da desnutrição). As unhas podem se encontrar quebradiças e com crescimento lento,
favorecendo o desenvolvimento de micoses nas unhas. Catarata, atrofia do nervo óptico e degeneração da retina
podem também acompanhar a falta de comida.
Ainda podem ocorrer alterações: ósseas e do crescimento, hidroeletrolíticas, pulmonares, renais, cardiovasculares
e gastrointestinais.
Recomendações
• Estar atento a profissões de risco como: bailarinas, jóqueis, atletas olímpicos, pois vivem sobre pressão para reduzir
o peso corporal;
Arquivo:Anorexia-nervosa.jpghttp://lookfordiagnosis.com
• A família precisa observar especialmente as meninas que disfarçam o emagrecimento usando roupas largas e soltas
no corpo e se recusam a participar das refeições em casa; precisam ainda perceber se há alterações comportamentais e
psicológicas como: depressão, isolamento social, etc.
•Às vezes, os familiares só se dão conta do que está acontecendo quando, por acaso, surpreendem a paciente com
pouca roupa e vêem seu corpo esquelético, transformado em pele e osso. Nesse caso, é urgente procurar atendimento
médico especializado;
•O ideal de beleza que a sociedade e os meios de comunicação impõem está associado à magreza absoluta. É preciso
olhar para esses apelos com espírito critico e bom senso e não se deixar levar pela mensagem enganosa.
Diagnóstico
Os critérios do CID-10 são bastante utilizados, assim como o DSM-VI. Em geral os critérios são: o peso corporal esta
abaixo de 15% do esperado, a perda de peso é auto- induzida, há distorção da imagem corporal, há transtorno
endócrino generalizado, medo intenso de ganhar peso, ausência de menstruação na puberdade, etc. Porém, A
utilização de critérios rigorosos, pode impedir o reconhecimento dos transtornos alimentares nas suas fases iniciais e
na sua forma sub-clínica (pré-requisito para uma prevenção primária ou secundária), e pode excluir alguns
adolescentes com comportamentos anormal, atitudes e comportamentos alimentares, tais como aqueles que vomitar ou
tomar laxantes regularmente. O diagnóstico de um transtorno alimentar deve ser considerado em um paciente
adolescente que se envolve em práticas de controle de peso excessivo e / ou demonstra o pensamento obsessivo sobre
comida, peso, forma ou de exercício.
http://www.hc.fmb.unesp.br/nutricao/anorexia_nervosa.php
Adicionada por Natalia Zardo
Prognóstico
A proporção de pacientes que se recuperam é pequena. Um terço dos indivíduos com anorexia continuam a ter
problemas com imagem corporal; 40% destes desenvolvem problemas como bulimia ou diversos tipos de dificuldades
psiquiátricas. Existe um aumento na morbidade e mortalidade presente na anorexia nervosa comparado a outros
transtornos psiquiátricos. Quanto mais duradoura a doença, maior é a possibilidade de óbito, que chega até 25% dos
pacientes que não melhoram. As principais causas de morte são: complicações cardiovasculares, insuficiência renal e
suicídio.
Referências bibliográficas
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nutrição, Campinas, 16(1):51-60, jan./mar., 2003
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8)UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS BUTUCATU. Serviço Técnico de Nutrição e Dietética . Disponível em:
http://www.hc.fmb.unesp.br/nutricao/anorexia_nervosa.php. Acesso em: 12 de Novembro de 2009
9)ADOLESCENT MEDICINE COMMITTE, CANADIAN PAEDIATRIC SOCIETY (CPS).Eating disorders in adolescents: Principles of
diagnosis and treatment. Disponível em: http://www.cps.ca/english/statements/AM/am96-04.htm. Acesso em: 10 de Novembro de 2009
10)ALIMENTAÇÕA SAUDÁVEL. Transtornos alimentares. Disponível em: http://www.alimentacaosaudavel.org/Anorexia-Nervosa.html.
Acesso em: 12 de Novembro de 2009
Mulher: uso e abuso
Por Frei Betto
A 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Neste ano, a data coincide com a Quarta-Feira de Cinzas.
Instaura-se o paradoxo. A beleza defronta-se com o espectro da morte. Após o Carnaval da nudez despudorada, as
cinzas.
A sociedade de consumo, privilégio de poucos, gira em torno do lucro obtido com a venda de bens e serviços. E de
aplicações financeiras que multiplicam o dinheiro. Aos olhos da publicidade, o cidadão reduz-se a mero consumidor
movido a desejos. Toda a propaganda transforma-se num jogo de sedução. Quanto mais emoções e ilusões, menos
razões e valores, mais vulneráveis nos tornamos aos apelos consumistas, cuja principal isca é a mulher.
O mercado, onde outrora o homem figurava como único provedor, exceto para as compras da feira e das crianças, hoje
tem na mulher uma mantenedora de mão cheia. Daí a publicidade dirigida à consumidora, à mulher que tem profissão
e renda própria. Na escolha de bens e serviços, ela agora concentra um poder de decisão equiparável ao do homem.
A propaganda vende quimeras. Não se compra apenas um sabonete, uma roupa ou uma bebida. Compram-se
sobretudo o sonho de ser mais uma entre as dez atrizes que se banham com aquele produto, a fantasia de tornar-se tão
sedutora quanto a jovem que entra no jeans, a aspiração de desfrutar da alegre ociosidade de tanta juventude a
borbulhar no gargalo da garrafa.
Reificada, coisificada, destituída de mente e espírito, a mulher é reduzida a formas e trejeitos, sem que os movimentos
feministas consigam fazer ouvir sua voz de protesto. Como um ninho de serpentes, moças retorcem-se em gemidos no
prostíbulo televisivo, enquanto no filme e na telenovela o adultério é propagado como direito à liberdade. Nos
programas humorísticos, a mulher é imbecilizada e ridicularizada.
Não só homens fazem da mulher objeto do desejo. Basta uma olhada nas capas das revistas femininas. Mulher se
compara a mulher na busca de melhor performance social, sexual e estética. Se, além da roupa, a moda dita um corpo
esquálido como o de uma africana abatida pela fome, a anorexia impõe-se como salário da vaidade. A medicina cria
um novo ramo para atender ao luxo da ditadura estética, como se o corpo que foge ao modelo imperante fosse
portador de doenças e anomalias. A ponto de, recentemente, uma mulher —Eva na contramão— arrancar costelas para
renascer bela no corpo atrofiado.
Essa cultura da glamourização move as lucrativas indústrias de cosméticos, publicações, esportes e academias de
ginástica. Sua isca é a mulher reduzida à aparência e destituída de direitos, essência, subjetividade, idéias e valores.
Dócil aos caprichos da publicidade, o corpo vai a leilão na feira de amostras das revistas masculinas.
Ora, como estranhar que, na esfera da realidade, as relações sejam conflitivas e até violentas? Proliferam delegacias de
mulheres. Pois não há de ser essa propagação da mulher como mero objeto de consumo que suscitará no homem
respeito e alteridade. Uma coisa é uma coisa. Manipula-se, usa-se, descarta-se.
Enquanto a mulher aceitar esse jogo de marketing, movida pela quimera de ser tão bela quanto a fera, será difícil cegar
os olhos do machismo, tanto o masculino, que a submete, quanto o feminino, de quem aceita ser submetida e,
portanto, humilhada. A exposição erótica da mulher é uma notória humilhação do feminino, pois torna a beleza
resultado da soma de atributos físicos exacerbados pela protuberância das formas e os ditames da moda.
Belas, a meus olhos, são Fernanda Montenegro, Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Odete Lara e Zilda Arns
Neumann. Elas correspondem ao que Marcello Mastroianni, que entendia de mulheres, e com quem estive em 1986,
qualificou de mais fascinante que pode haver numa mulher: a coerência de sua história de vida. Mas isto não está à
venda. É uma conquista.
http://www.correiocidadania.com.br/antigo/ed183/cultura3.htm
Acorda Raimundo! Homens discutindo violências e
masculinidade
Andréia Dioxopoulos Carneiro Pinto
Stela Nazareth Meneghel
Ana Paula Maraschin Karwowski Marques
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
RESUMO
Este é um estudo pautado nos referenciais de gênero que tem por objetivo investigar o que pensam os homens sobre a violência
doméstica de gênero e quais os valores envolvidos na construção da identidademasculina na cultura contemporânea. O trabalho foi
realizado por meio de grupos de discussão com trabalhadores de uma empresa de transportes coletivos da cidade de Porto Alegre.
Foram três grupos nos quais participaram voluntariamente 10 homens adultos casados. A primeira questão lançada ao
grupoproblematizava o porquê da violência conjugal. Os homens discutiram animadamente, contaram episódios de suas vidas,
assumiram a agressão às mulheres, porém, culpando-as por isso, afirmando que elas começam as brigas. Assistiram ao filme
―Acorda Raimundo‖ que estimulou uma reflexão sobre a construção da masculinidade, os papéis de gênero e a validação
homossocial do ser homem. Houve relatos de violências, brigas e traições, mas também falaram de relações conjugais pautadas no
respeito e na negociação de conflitos. Ao encerrar eles avaliaram positivamente a atividade e sugeriram a continuidade do grupo
na empresa.
Palavras chave: Grupos de discussão; masculinidades; identidade de gênero; violência de gênero.
ABSTRACT
Wake up, Raimundo! Men discussing violence and masculinity
This study is based on gender references, aiming at looking into what men think about domestic violenceand what values take part
in the process of building the masculine identity in contemporary culture. Thework was done through discussion groups consisting
of collective transportation workers in the city of PortoAlegre. We worked with three groups, each of 10 voluntary men, all of
them married. The first questionproposed to the group problematized the reasons of marital violence. Men discussed animatedly,
toldepisodes of their lives, admitted to having abused women, but put the blame on them for that, insisting that itis they, the
women, who pick up fights. Then they watched the film Acorda, Raimundo… acorda! [Wake up,Raimundo, Brazil, 1990], which
encouraged them to reflect about the construction of masculinity, genderroles and homosocial validation of what being a man
means. Some of them reported cases involving violence,fights and unfaithfulness; on the other hand, marital relations based on
respect and conflict negotiation werealso mentioned. In the end, they assessed positively the activity and suggested that the group
go on meetingwithin the framework of the company.
Keywords: Discussion groups; masculinities; gender identity; gender violence.
INTRODUÇÃO
As violências contra a mulher são consideradas um fenômeno que ocorre em âmbito mundial e entendidas
pela Organização Mundial de Saúde como um problema de saúde publica. Os efeitos da violência de gênero atingem
diretamente a auto-estima, a segurança e o bem-estar das pessoas atingidas.
Os primeiros estudos sobre violência contra as mulheres divulgaram que essa situação acontecia em todas as
classes sociais. Saffioti (1999), uma autora feminista, referiu o ―nó gordio‖ constituído pelos sistemas de dominação e
exploração pautados em gênero, classe social e etnia. Dessa maneira, as mulheres negras e pobres estão em situação de
maior vulnerabilidade. Pesquisas mostram que homens desempregados são mais violentos com a família. Esses dados
indicam que a maior vulnerabilidade social está diretamente relacionada ao aumento da prevalência de violência física
e psicológica (Krug, 2000).
Embora haja muitas denominações para designar a violência perpetrada por homens contra as mulheres,
incluindo os termos violência doméstica, violência intrafamiliar e violência sexual, nos alinhamos aos que usam o
conceito de violência de gênero. Considera-se violência de gênero qualquer ato de violência praticado contra a mulher
que resulte, ou possa resultar, em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, assim como a ameaça de tais atos
ou coerção a privação da liberdade seja na vida publica ou no âmbito doméstico. A violência no âmbito conjugal
expressa o conflito de interesses entre duas partes que participam da relação de convivência. É importante entender a
ambigüidade e as tensões estabelecidas nas relações de gênero e os padrões que orientam a conduta como um
movimento, uma passagem que implica contradições e diversidades (Gregori, 1993).
Gênero é uma categoria constituinte das relações sociais entre homens e mulheres e tem sido utilizada para
explicar a construção e organização social da diferença entre os sexos. O conceito de gênero, no âmbito dos estudos da
mulher, questionou as diferençasentre os sexos atribuídas à biologia para enfatizar a importância social e cultural
desse conceito. Gênero é um sistema simbólico de significados, que configura e reflete posições hierárquicas e
antagônicas entre homens e mulheres (Saffioti & Almeida, 1995; Giffin,1994; 2002; Scott, 1990).
A violência de gênero é um fenômeno complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseadas no
gênero e na sexualidade. Estudos indicam que as relações hierárquicas de gênero perpetuadas através da socialização
e as desigualdades socioeconômicas são determinantes da violência contra a mulher (Heise et al.,1994). A maioria das
situações de violência masculina é perpetrada pelos parceiros íntimos das mulheres, na maioria das vezes, de maneira
crônica (Saffioti, 1999; Grossi e Werba, 2002).
A relação entre os gêneros é hierarquizada e entendida como um princípio que classifica as pessoas e serve
como instrumento ideológico de dominação. Para entender a violência de gênero a partir do ponto de vista dos
homens, buscamos inspiração nas idéias que embasam a construção social da masculinidade. As identidades de gênero
remetem a uma reflexão mais aprofundada acerca dos valores que fazem parte da identidade masculina, assim como a
expressão em seus comportamentos.
Para os autores (Badinter, 1993; Nolasco 1995; Almeida 1996) a crise da masculinidade pode ser
compreendida como um mal-estar, um conflito de identidadeuma tentativa em manter um modelo de
gênerohegemônico ao mesmo tempo pluralista, às vezesbaseado em modelos tradicionais, às vezes em
modelosmodernos de masculinidade, porém incapaz de sustentara hegemonia referente à subjetividade (Rolnik e
Guattari, 1996).
Os estudos históricos e antropológicos indicam adominação da mulher pelo homem ao longo dos séculos.Para
cimentar esse processo, utiliza-se a ideologiapatriarcal e o machismo. Azevedo (1985) define machismo
como um sistema de idéias e valores não igualitárioentre homens e mulheres ou a dominação dohomem sobre a
mulher. O machismo enquanto ideologiaé constituinte de um sistema de crenças e valoreselaborados pelo homem com
a finalidade de garantir asupremacia através de dois artifícios básicos: afirmaçãoda superioridade masculina e reforço
da inferioridadeatribuída à mulher. O machismo pode ser reconhecidono imaginário ou nas representações sociais
esocioculturais sendo considerado o resultado de umprocesso longo de construção do que é ser uma mulher
e do que é ser um homem.
Azevedo (1985) considera que o discurso machista,tanto erudito quanto popular, está a serviço dareafirmação
da superioridade masculina e da inferioridadefeminina, como forma legítima de perpetuar a
dominação da mulher. Já o machismo enquanto ideologiaé uma forma sutil de violência simbólica, e
procuraconvencer o dominado da inexistência de opressãoou subordinação, considerando-a, até mesmo,benéfica e
natural. O machismo não se restringe aoshomens, a maioria das mulheres sofre uma socializaçãoque as preparou para
aceitar a dominação masculinae, portanto, para serem machistas. A solidariedadeexistente entre homens, visando à
preservação deseus privilégios não corresponde à solidariedade femininana reivindicação de igualdade de direitos.
A sociedade patriarcal provê experiências diferentespara meninos e meninas; da menina é
esperadocomportamento meigo, gentil, carinhoso, passivo. Sãoconsideradas sensíveis, ou fracas, como se sempre
estivessemnecessitando de proteção. Dos meninos é esperadoque sejam rudes, autoritários, ―durões‖, sujos,que tenham
força e não demonstrem fraqueza. Nas sociedadespatriarcais o prestígio das mulheres provémdos homens. Esses são
os detentores do poder, tomamas decisões e são considerados responsáveis pela proteçãoda família. Às mulheres cabe
facilitar a carreiraprofissional do marido e tornar a vida confortável, emtroca, obtém sustento e proteção. O processo
de fabricaçãode ―machos e fêmeas‖ é uma dinâmica psicossocialque se desenvolve de forma intencional através da
escolae da família, da igreja e outros grupos (Strey, 2004).
A situação de conflito é vivida por inúmeras famíliasque fazem parte da sociedade contemporânea,
justificandoestudos neste campo. A experiência práticavivenciada por uma das autoras ao longo do curso, emestágios
e pesquisas no tema da violência de gênero(Meneghel e cols, 2007), motivou a realização destetrabalho. Refletindo
sobre a importância de escutar oque os homens têm a dizer sobre o tema, surgiu a idéiade realizar os grupos, buscando
compreender o queocorre nas relações de conjugalidade, as violências e a
construção da masculinidade. Questionamos formas deintervenção mais eficazes para melhorar a qualidade de
vida das famílias, reduzir a ocorrência de violênciasno âmbito das relações entre homens e mulheres emelhorar a
qualidade dos serviços de atendimento.
O presente estudo tem por objetivo investigar oque pensam os homens sobre a violência doméstica degênero.
Além disso, identificar os valores envolvidosna construção da identidade masculina na cultura contemporânea.
TRAJETO METODOLÓGICO
Esta pesquisa faz parte do projeto ―Violênciaintrafamiliar e de gênero – mulheres enfrentando o
sofrimento‖em desenvolvimento na UNISINOS e contempladano Edital 045 CNPq – Relações de gênero:mulheres e
feminismos, aprovada pelo Comitê de Ética/UNISINOS.
Esse trabalho foi realizado em uma empresa de transportes coletivos, localizada em uma comunidadede baixa
renda, na cidade de Porto Alegre. Atualmentea empresa conta com uma frota de 63 ônibus, queem média, transportam
40.000 passageiros por dia econta com cerca de 350 funcionários, 90% deles dosexo masculino. Essa elevada
prevalência de trabalhadoreshomens foi uma das razões para focar a pesquisa
no tema das masculinidades.
Este é um estudo qualitativo que utilizou gruposde reflexão para a coleta de dados. A idéia de realizarum
grupo de homens neste espaço institucional significoupossibilitar a escuta e a reflexão sobre o temadas identidades e
masculinidades. Desse modo seaproveitou o material produzido no campo grupal paraposterior análise e colaboração
para o próprio grupo.
Ao nuclear o grupo de reflexão com os trabalhadoresde uma empresa de transportes coletivos, vínhamosde
uma experiência prévia com grupos de reflexãofreqüentados por mulheres (Meneghel e Barbiani,2003). Imaginamos
que os grupos de homens poderiamconstituir um caminho para refletir as relações degênero e construir modos de
relacionamento maisigualitários. O grupo foi pensado como uma estruturabásica de trabalho e investigação, assim
como umainstância de ancoragem do cotidiano. As forças interacionaisinternas dos grupos implicam em sustentaçãoe
apoio socioemocional, no fortalecimento das interaçõesemocionais, na comunicação aberta, no compromissoe
responsabilidade, na participação efetiva e naconstrução de uma individualidade crítica (Meneghelet al., 2000; Rauter,
2000).
De acordo com Fernandez (2006) observa-se queem qualquer grupo humano produzem-se
―movimentosdiversificados, como ressonâncias, fantasmáticas,processos identificatórios e transferências, assim
comosentimentos ora de amor ora de ódio em todos os seusmatizes, jogos de papéis e produções lingüísticas‖.Nos
grupos são instituídos mitos, utopias e até ilusõesonde a regra de funcionamento organiza as redes designificações
imaginárias que inscrevem o grupo emuma posição institucional dando forma aos contratos,pondo em ação os jogos
de poder e hierarquias.
Nos grupos de reflexão organizados na empresa detransportes coletivos, o primeiro movimento foi a consultaà
supervisora local, mencionando a idéia de trabalharcom os homens. A direção da empresa aprovoue recomendou a
idéia, indicando local e horário paraos encontros. Foi veiculado um convite dirigido a homenscasados e propondo a
participação em três gruposde discussão. A proposta para os grupos inicioucom a apresentação do tema de pesquisa da
investigadora;após essa introdução, todos contaram fragmentosde suas histórias de vida.
O primeiro encontro teve o objetivo de abordaro tema da violência intrafamiliar, com o
seguintequestionamento: quais as opiniões sobre os fatoresdesencadeantes da violência entre os casais. No
segundoencontro foi apresentado o filme ―AcordaRaimundo‖ que aborda as transformações de papéis,as novas
configurações familiares com a mulher ocupandoprofissões que até pouco tempo eram consideradasexclusivamente
masculinas. No terceiro encontro,foi abordada a questão referente aos valores envolvidosna construção da identidade
masculina. Epara o encerramento foi sugerida a avaliação do trabalhorealizado.
Nesse artigo, todos os nomes mencionados são fictíciose comuns: Antônio, Luiz, Manoel, André, Isaías,
Pedro, Cleber, Paulo, Joaquim, Júlio.
A avaliação do processo grupal foi realizada tendopor base os relatos transcritos e utilizando-se a
análisetemática proposta por Bardin (1979). Para Bardin, otema é a unidade de significado que se liberta
naturalmentede um texto analisado segundo critérios relativosà teoria que serve de guia à leitura. Operacionalmentea
análise temática divide-se em três etapas:a pré-análise, com leitura das comunicações e abusca das categorias mais
expressivas, a exploraçãodo material e por último, o tratamento dos resultados ea interpretação (Minayo, 1992). Após
a leitura do materialtranscrito, foram identificados os temas mais discutidose mais significativos aos participantes.
Devidoà grande quantidade de material transcrito, nem todosos assuntos foram explorados.
O QUE DIZEM OS HOMENS SOBRE
A VIOLÊNCIA?
Iniciamos a apresentação dos resultados, contandodo primeiro grupo realizado com os homens. Na salade
treinamento da empresa estavam presentes um totalde dez trabalhadores, casados, na faixa etária de 25 a40 anos, todos
motoristas e cobradores da empresa detransportes.
O primeiro momento correspondeu às apresentaçõesdos participantes e dos objetivos do trabalho,
aimportância de ouvir o que pensam sobre a violênciaintrafamiliar. Os depoimentos dos participantes derama
impressão de envolvimento com o tema e exposiçãoaberta de idéias e experiências, ao contrário de situaçõesem que os
participantes parecem estar apenascumprindo uma obrigação formal de responder as perguntasdo pesquisador. Nos
encontros que tivemos, osparticipantes mostraram-se interessados, relataramhistórias e fatos de suas vidas e houve
constante trocade saberes.
Foi lançada uma pergunta direta: por que os homensbatem nas mulheres? Foi-lhes explicado que oobjetivo
não era saber se haviam batido nas suas mulheres,mas sim o que pensavam sobre o tema. A perguntafoi respondida
por meio do relato de experiênciasou exemplos de outras pessoas e todos os homensdo grupo falaram de situações em
que ocorreu ou continuaocorrendo violência contra a mulher. Ao relatarepisódios de violência em suas vidas ou nas
vidas deconhecidos, eles não esconderam a situação de agressores:―Eu já tive uma namorada que já bati”; “umavez
ela me deu um tapa na cara e aí eu devolvi”. Porém,eles afirmaram que, na maioria das vezes, as mulheresprovocam e
iniciam o conflito ―ela deu primeiro”(Cleber) e o homem defende-se agredindo, ou seja,justificaram a conduta
agressiva como reativa a umaprovocação feminina anterior, como é possível constatarna explicação de Paulo:
―Eu já tive uma namorada que já bati. Mas elaquem partia para cima de mim. Nunca chegou ame bater, só me deu
uns empurrões. Aí eu me protegia,quando ela vinha para cima de mim eu seguravanos braços dela para ela parar.”
(Paulo)
Na explicação de Paulo, ele apenas se ―protegia”,embora a contradição venha em seguida quando afirmaque
―batia‖ na namorada. Cleber relatou fatos semelhantes,admitindo, que a gravidade da agressãomasculina é maior:
―claro, minha mão é mais pesadaque a dela‖ e que a teria machucado muito. Masminimiza a violência dizendo que
ela estava com umproblema dentário, talvez por esse fato a lesão tenhasido tão intensa, “o homem é mais animal”:
“Uma vez ela me deu um tapa na cara e aí eu devolvi,na hora não consegui segurar, foi instantâneo,acho que
isso é humano né? Sentimento dedefesa. Estávamos no carro e inclusive na presençade meus pais. Foi muito chato me
senti agredidoe envergonhado. Foi horrível, essa mulher choroumuito, pegou bem no dente que estava em
tratamentode canal. Agora toda vez que dá discussãofico até com medo...Mas é aquela história, elapartiu para a
violência, ela me deu com vontade,foi por isso que dei nela, claro minha mão é maispesada que a dela. Depois me
arrependi, mas eladeu primeiro! O homem é mais animal!” (Cleber)
Trouxeram exemplos, relativizando a agressãomasculina e culpabilizando as mulheres por provocaros
homens, por considerar esses homens como bobos,por exemplo, dando e retirando queixa nas delegacias.
―Meu primo, uma vez deu um soco no vidro do barpara não bater na mulher dele, que foi lá fazer escândalono
buteco chamando ele de bêbado. Aimesmo que ele bebia mais e acabava em agressãofísica. Ele batia nela e ela corria
para a delegaciaregistrar a queixa contra ele. Passava uns dois atrês dias ela ia lá e retirava. Ela já é conhecida
nadelegacia.‖ (Pedro)
A propósito das agressões femininas, Saffioti (1994)pontua com propriedade que: ―não se está, de
formaalguma, afirmando que as mulheres são santas. Aocontrário, elas participam da relação de violência
chegandomesmo a desencadeá-la. Nem por isto, porém, amulher detém do mesmo poder que o homem. [...] Trata-se
de uma correlação de forças que muito raramentebeneficia a mulher. Socialmente falando, o saldo negativoda
violência de gênero é tremendamente maisnegativo para a mulher que para o homem‖.
Houve unanimidade no grupo em atribuir ―a provocação‖ou o ―início‖ dos episódios de violências àsmulheres,
ou seja, eles conseguem assumir que existea violência e eles agridem, porém minimizam o seupapel colocando a
responsabilidade sobre as mulheres,inclusive misturando a violência no âmbito doméstico,com a violência vivenciada
no trabalho, comomanifestou Joaquim:
“Na minha opinião, a mulher é violenta tantoquanto o homem, a mulher briga mais com gentena roleta do
que o homem, a tolerância da mulherparece menor que a do homem. Qualquer coisaque a gente fizer de errado ela
vem com tudo pracima do cara, já quer bater em ti, faz misérias nafrente da roleta. O homem já é mais controlado
doque a mulher. A mulher explode na hora, se elapuder já se bota e arranha o cara e dá na cara. Aí
o homem dá na mulher e vai preso. Se a mulher dáno homem e chama a policia eles ainda vão darrisada que o cara
apanhou de mulher.” (Joaquim)
Eles se queixaram repetidamente das ―cobranças‖feitas pelas mulheres, como algo que dispara o atoabusivo.
Como meninos, afirmaram enfaticamenteque não gostam, não querem, não suportam serem cobrados.
―A mulher cobra demais, cobra o que o homemnão pode dar.”(Luiz) “Chego em casa cansado dotrabalho e
ela, quer conversar, tá eu entendo, masela não entende que eu tô cansado, aí ela cobra aatenção e diz que eu não dou
bola prá ela, aí já dáincomodação.” (Manoel)
O estereótipo é uma espécie de molde que pretendeenquadrar a todos, independente das particularidadesde
cada um, diz Saffiotti (1987). A fala de Joaquimé pautada nos velhos chavões ou estereótipos degênero: homem
controlado/mulher histérica e outrasdicotomias semelhantes. Joaquim também se preocupacom a confraria masculina
que ―vai dar risada queo cara apanhou da mulher‖. Júlio expressou as representaçõesatuais sobre os papéis
diferenciados de gênero:
“Já está confirmado que o homem é agressor e amulher é a vítima, já vem de antigamente, assimcomo que a
mulher deve arrumar a casa e homemtrabalhar para sustentar a família” (Julio)
COMO SE CONSTRÓI A MASCULINIDADE?
O homem é considerado macho, na medida em quefor capaz de disfarçar, ou melhor, interditar o
afeto,processo efetivado através da educação diferenciadade gênero. “Aprendi que homem não chora” [...] “Láem
casa era assim: homem que é homem não apanhana rua” (Cleber).
Os alicerces da masculinidade são lançados na infânciado menino, na sua experiência na família, naescola, e
com amigos da mesma idade. Estes formamno seu conjunto, o quadro primário da ―socializaçãomasculina‖: o
processo que orienta a conformação doque é ser homem em nossa sociedade. A socializaçãomasculina é um processo
universal de aprendizagem eadaptação (Tolson, 1977; Cecarelli, 2006).
A definição de homem na sociedade patriarcal baseia-se em figuras de linguagem negativas como: homemnão
chora, não demonstra seus sentimentos, nãopode amar as mulheres como as mulheres amam oshomens, não pode ser
fraco, muito menos covarde, jamaisser perdedor ou passivo nas relações sexuais.Contrapondo as afirmativas positivas:
homem deve serforte, corajoso, macho, provedor, viril, autoconfiante,destemido, agressivo, independente. A relação
de―possuir‖, dinheiro, força, músculos, pênis, um filhohomem, tantas mulheres quanto for possível durantesua vida
sexual, emprego fixo, poder executar tarefasdifíceis que só compete a homens, sustentar a família.Os ideais de
masculinidade se reportam aos aspectosque hierarquicamente estabelecem e mantém o domíniodos homens sobre as
mulheres (Silva, 2006). Emrelação à construção da identidade masculina, ouçamoso que nos disseram os nossos
Joaquins, Manoéise Antonios.
―Existe muita diferença entre o homem e a mulher,o homem já escuta desde cedo, tu é macho e temum tico no
meio das pernas, então tem que honrar”(Joaquim)“A minha própria mãe dizia segura tuas cabrasque meus bodes
estão soltos. Quer dizer que, osguris têm que partir para cima da mulher, se nãofor é desconsiderado, e as mulheres
se são muitoatiradas já são consideradas atiradas.” (Manoel)“A própria mulher, mãe ou vó, ensina para os filhosou
netos que tem que ser macho.” (Antonio)
Eles também se referiram à educação diferenciadade gênero, transmitida pelas mulheres enquanto agentesde
socialização. Esses valores são transmitidos degeração em geração, reforçando e sustentando omachismo.
“O guri, já joga bola desde pequeno, brinca delutinha, de polícia e ladrão, admira e imita ossuper-heróis.”
(Jorge)“Se a menina cai e rala o joelho, é a coitadinha.Se acontece a mesma coisa com o guri, todos caemem cima, já
vão chamar o cara de bixinha.”(Isaias)“Lá no interior era assim, faca na cintura, e revólver.Quando eu era pequeno,
sempre escutavameu pai dizer que em cara de homem eles não batiamcom a mão.” (Jorge)
Embora haja autores que creditam a violência aouso de álcool e drogas, sabe-se que a violência de
gênerodecorre das relações hierarquizadas entre homense mulheres, ou seja, é uma ação socialmente construída.Os
homens deixaram evidente que sabem disso:“A bebida alcoólica não é responsável pela briga.O cara que ta bêbado
chega em casa bêbado, e sóquer dormir, que alias é só isso que o bêbadoquer.” (Antonio)
Na cultura patriarcal ser provedor é papel masculino.Se o homem possui rendimentos inferiores ao da
mulher, ou até mesmo se está desempregado, isto poderáabalar a sua identidade masculina. A falta de rendimentos,
como conseqüência da falta de empregogera sintomas como estresse e depressão; além disso,contribui e muito para o
clima de tensão nas relaçõesentre os casais. Paulo nos fala de uma situação destetipo, e como em todas as explicações,
a ―culpa‖ é damulher:
―Meu primo tinha um ótimo salário, sustentava amulher e toda a família, tinham do bom e do melhorem casa. Até que
um dia houve um problemaentre ele e um colega, aí ele foi demitido, e lógicoa situação ficou apertada. O coitado
começou aficar louco! A mulher começou a cobrar e exigiras coisas que ele estava acostumado, mandandoque ele
encontrasse serviço urgente. Um dia elepegou e deu nela, não agüentou.” (Paulo)
Os homens sentem-se inferiorizados e impotentesfrente a situações de mudança dos padrões tradicionais
e buscam reafirmar o ―papel do macho‖, usando,inclusive, a violência.
DE QUE OS HOMENS SE ENVERGONHAM?
A masculinidade requer uma validação homossocial:são outros homens que podem ver um sujeitocomo
efeminado; são outros homens que analisam cuidadosamente,examinam, classificam e concedem ounão ingresso no
domínio da virilidade. O que parecerelevante ressaltar é que o fato de a validação serhomossocial é conseqüência da
própria dominaçãomasculina, das relações de poder envolvidas nas configuraçõesde gênero, em que as mulheres
ocupam umaposição tão baixa na cabeça dos homens que o queeles necessitam é a aprovação dos próprios
homens(Knauth et al., 2005). Essa validação externa homossocialaparece claramente na asserção de Joaquim:―Se a
mulher dá no homem e chama a policia eles aindavão dar risada que o cara apanhou de mulher.” Elese mostra
envergonhado não pelo fato de apanhar damulher, mas o principal é ―o que o policial – no casooutro macho - vai
pensar‖. Na sua visão de mundo, aprimeira coisa que lhe ocorre, é que será motivo dechacota, e isso vem expresso em
um sentimento demuita vergonha, que ele quer evitar.
A validação homossocial implica na dificuldadeem confiar em outro homem, pelo medo de se exporao
ridículo, ou melhor, do medo da desaprovação dooutro. Cleber nos fala da insegurança que os homensenfrentam para
confiarem uns nos outros. “Deus o livre,o cara se abrir, problemas particulares. Não dá
quando o cara vira as costas todo mundo fica sabendo.”Esse assunto está diretamente ligado à traiçãomasculina. Os
homens referem-se à traição masculinacomo um comportamento desigual, os homens traemmais do que as mulheres,
conforme o que nos disseram,Cleber, Luiz , Julio, Manuel, Paulo e Isaias:
“O homem é sem vergonha, basta só olhar. A questãoé física mesmo”. (Cleber)“O homem trai a mulher porque sente
curiosidade,e aí acaba não resistindo.” (Luiz)
Na autocomplacência do discurso masculino, outravez a ―culpa‖, essa vez da traição, é creditada àsmulheres.
Eles apontam como motivos para a traição,o envolvimento da mulher com o bebê recém nascido,o fato de ousar não
querer fazer sexo, ou seja, eximirsedo ―dever‖ de prestar favores sexuais ao marido, ouainda a ditadura estética de não
estar ―magra‖:
“Depois que a mulher ganhou o filho ela simplesmente,não quis mais fazer sexo! E aí como é que
o cara fica? Acaba traindo!” (Julio)“A mulher engordou muito depois desta ultimagravidez, já falei pra ela se cuidar,
mas ela nãome escuta!” (Manuel)“No ônibus a gente vê todos os tipos, elas se atirampro cara! Se o cara não pega! É
porque éveado”! (Paulo)“Os amigos também botam pilha, mostram e incentivama traição” (Isaias)
As explicações justificam o comportamento desiguale machista. A mulher fica no lugar de cúmplicena traição,
como se a traição fosse ocasionada pelafalha no desempenho de seu papel de fêmea.
O QUE FAZER PARA A RELAÇÃODAR CERTO?
No processo grupal também foi possível ouvir relatosde homens que dizem negociar uma relação
igualitária,de companheirismo e auxílio mútuo e relacionamentosmaduros baseados no respeito à individualidadedo
outro. Luiz mostra maturidade para administraros conflitos, protegendo as crianças de cenas debrigas,
desentendimentos e violência.
“Conheci minha esposa em uma festa junina, agente morava na mesma rua, mas nunca tinha sevisto. A
convivência hoje após nove anos de casado,com certeza é melhor do que antes. Agora agente já conhece os defeitos
um do outro. Agora émais real, quando a gente casa, tudo é amor. Masdepois vem a realidade. Se o casal sabe como
conduzir,só se dá bem. Nossa relação amadureceu.E é muito raro brigarmos. Temos uma filha paracriar. Se pensa
duas vezes antes de discutir aindamais na frente da criança.” (Luiz)
Pedro constatou que para não dar continuidade e,muito menos, repetir sua historia familiar, o melhorcaminho
a tomar foi a separação. Às vezes, as pessoastêm muitas incompatibilidades que tornam insuportávela convivência e a
separação pode ser a melhoropção:
“Somos casados há sete anos e não deu mais paracontinuar. Ela me deu uma tapa na cara, e issonão posso
agüentar. Meu pai agredia minha mãe,até que um dia intimei ele e disse que assim comoele tinha me dado a vida
poderia me tirar, mas quena mãe ele não batia mais.Como é que eu vou suportarum relacionamento que tenha
violência.Ela era uma pessoa muito inflexível. Então paranão dar continuidade achei melhor a separação.”(Pedro)
Outra atitude estratégica tomada na tentativa deevitar conflito, nos foi relatada por André. Ele não
seenvergonhou de contar ao grupo que passou a noite narua, esperou a raiva passar e pode conversar com amulher e
resolver o conflito. Mesmo na vigência daviolência, depoimentos como esse podem ajudar a validaroutros padrões de
comportamento masculinos efundar relações mais igualitárias entre homens e mulheres.
“Um dia minha mulher me atirou uma garrafa derefrigerante na cabeça, a minha sorte é que passoude
raspão. Aí achei que era melhor sair decasa para não bater nela. Fiquei na rua de madrugadasentado num banco da
parada do ônibus.Pensando em não voltar mais para casa. Mas aí agente pensa nos filhos...E assim acabei
voltando.Como é que eu iria ficar longe das crianças. Masfoi bom, por que a poeira baixou e até a gente
podeconversar depois sobre a atitude dela e combinarque estas atitudes a gente deve controlar.” (André)
Ao final dos encontros, realizamos uma avaliaçãoindividual e coletiva do trabalho. Eles foram unânimesem
sugerir que o trabalho tenha continuidade, aindagostariam de tratar muitos temas referentes à masculinidade.Ocorreu
resistência para a finalização dogrupo e o desejo de continuar. Eles valorizaram a atividade,engajando-se no processo
grupal:
“Foi ótimo, a empresa ter aberto este espaço paraque nós possamos falar sobre nós mesmos, semmedo de ser
excluído, ainda mais de um assuntotão sério como violência nas famílias” (Manoel)“Olha, sinceramente, eu não
tenho o costume deme abrir, mas aqui me senti muito à vontade.”(Paulo)
“A gente até se sente importante! O cara pode falaro que pensa, sem se preocupar se o que vaifalar vai ser usado
contra ele” (Isaias)“Tomara que a gente possa auxiliar as pesquisas,a gente observa que nossas vidas têm valor, e
queé importante o que cada um de nós pensa” (Pedro)
PALAVRAS FINAIS
A violência de gênero é um fenômeno complexo,enraizado nas relações de poder entre homens e
mulheres.Este artigo poblematizou, em um grupo de homens,a construção das diferenças entre os sexos, aeducação
diferenciada, os valores da sociedade patriarcalmantidos pela cultura. Esse cenário cristalizaas posições hierárquicas
entre homens e mulheres reforçandoe mantendo a desigualdade entre os sexos egerando violência ao longo da história.
A reflexão acerca de questões referentes às violênciasno âmbito doméstico, certamente contribuipara a
melhora da comunicação entre os homens e asmulheres. Para isto foi importante problematizar osconceitos de
violência, de estereótipos de gênero, assimcomo da construção da identidade masculina, parareferendar relações
menos hierárquicas e violentas entreos casais.
A violência não pode mais ser naturalizada, nemaceita. Para isso, é importante e urgente a reflexão do
agressor, para a compreensão dos diversos fatores quecolaboram para que os homens pratiquem atos de violência
contra as mulheres. A Psicologia, a Saúde Coletivae a Educação em Saúde são campos disciplinaresque podem
contribuir no enfrentamento às violências,incluindo as de gênero, e na resolução dos conflitosentre os sexos. E isso
não é tarefa muito fácil. Éneste sentido que a discussão de gênero, pode ser uminstrumento para auxiliar na
transformação de relaçõesmais igualitárias entre homens e mulheres.
REFERÊNCIAS
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Tolson, A. (1977). Os limites da masculinidade. Tavistok Publications,LTD.
Filme: Acorda Raimundo (Alfredo Neves, 1990).
Autoras:
Andréia Dioxopoulos Carneiro Pinto – Aluna do Curso de Psicologia da Universidadedo Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Stela Nazareth Meneghel – Professora e pesquisadora do PPG Saúde Coletiva/UNISINOS.
Ana Paula Maraschin Karwowski Marques – Psicóloga organizacional.
Endereço para correspondência:
Andréia Dioxopoulos Carneiro Pinto
Rua Santo Antonio, 611 ap. 32
CEP 90220-011, Porto Alegre, RS, Brasil
E-mail: smeneghel@hotmail.com
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Projeto mulher a necessidade de um olhar crítico da educação básica sobre o papel da mulher na contemporaneidade

  • 1. SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DE ENSINO DE SÃO JOÃO DEL-REI Equipe PIP CBC/NAPEM 8 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DA MULHER A NECESSIDADE DE UM OLHAR CRÍTICO DA EDUCAÇÃO BÁSICA SOBRE O PAPEL DA MULHER NA CONTEMPORANEIDADE São João del-Rei, 04 de fevereiro de 2014
  • 2. Objetivo Geral Levar aos educandos reflexões acerca do papel da mulher, levando em consideração aspectos histórico-culturais e suas implicações na contemporaneidade, a partir de um projeto interdisciplinar, que tem como motivação o dia internacional da mulher. Objetivos Específicos Promover na escola leitura de textos e atividades relacionadas à reflexão crítica sobre o gênero feminino. Conscientizar os educandos e a comunidade escolar acerca da violência contra a mulher, e do espaço que esta mulher ocupa na sociedade. Justificativa É relevante aproveitar a data que celebra o dia das mulheres para levar o alunado a uma reflexão: os valores sociais são construídos historicamente. A concepção que desvaloriza o gênero feminino e que justifica contra as mulheres uma série de injustiças tem raízes no passado, e, portanto, foram produzidas, afirmadas e reafirmadas ao longo do tempo. É preciso educar o alunado para viver de fato em uma sociedade onde os indivíduos sejam respeitados independentemente de seu gênero, raça ou credo. Para tomar as palavras de Boa Ventura de Souza Santos: é preciso formar jovens que saibam que tem direito a reivindicar a igualdade sempre que a diferença os inferiorize ou reivindicar a diferença sempre que a igualdade os descaracterize. Sugestão De Desenvolvimento Sugerimos que o projeto seja desenvolvido na escola de maneira interdisciplinar, ficando a cargo da direção indicar professores que possuam perfil para tal tarefa, e cujas disciplinas favoreçam a reflexão. A partir da análise dos textos e das sugestões em anexo os professores poderão elaborar planos de aula compatíveis com o público da escola e com a faixa etária. Para tanto, sugerimos trabalhar o tema Mulher a partir das seguintes frentes: RELAÇÕES DE GÊNERO: DIFERENÇAS E DESIGUALDADES ↑ FEMINISMO CONTEMPORÂNEO←MULHER→VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ↓ O ESTEREÓTIPO FEMININO FABRICADO PELA INDÚSTRIA DO CONSUMO
  • 3. É possível trazer para sala de aula atividades diversificadas, tais como: Simulação de júri; -Ex: Depois da exibição do vídeo “O Silêncio das Inocentes”, do diretor Ique Gazzola (link enviado por e-mail), indicar um caso de violência contra mulher com base no vídeo (ou um caso conhecido pelos alunos) e simular um júri popular onde os alunos assumam os papéis de promotoria, defesa, juiz, vítima, ofensor e júri. Obs: O texto “Violência contra as mulheres: a situação” (em anexo) faz um levantamento de dados sobre a violência contra a mulher no âmbito mundial e pode auxiliar na atividade. Produçãode cartazes/colagens: - Ex: Leitura do texto “relações de gênero” (texto em anexo); Conduzir reflexão/debate e propor a realização de cartazescom o tema: o que “elas e eles” pensam? Em cada cartaz desenhar do contorno do corpo feminino/masculino e ali colar e escrever figuras e palavras que identifiquem os gêneros. Obs: O texto “Os papéis femininos historicamente constituídos” (em anexo) pode auxiliar a discussão ao contextualizar como se moldou ao longo dos séculos o papel da mulher como mãe e esposa. Releiturasde obras de arte que tratam do tema mulher Ex: Apreciação e contextualização das obras da artista visual Rosana Paulino (texto em anexo); discussão sobre o tema; produção de obras que dialogam com o trabalho da artista (releituras). Exibição de vídeos; Ex: Exibição do vídeo “Acorda Raimundo, Acorda”(link enviado por e-mail). Inicialmente o professor poderá conceituar gênero e suas diferenças. Após o vídeo discutir a construção histórica do gênero e papéis femininos e apontar as desconstruções apresentadas no vídeo. Obs: O texto “Acorda Raimundo” apresenta conceituação sobre gênero, masculinidade, violência contra mulher e depoimento de homens que podem acrescentar notas interessantes ao debate. Pesquisas: Ex: Realizar pesquisas na internet sobre a marcha das vadias. Promover reflexões: O que é o movimento? O que busca? Onde acontece? O movimento extrapola em suas manifestações? Por quê? Quando? Obs: O texto “Um novo feminismo na Marcha das Vadias” (em anexo) pode ser utilizado para iniciar o levantamento de dados sobre o movimento. Produção de Jornal: Ex: Apresentações de jornais de TV. Reunidos em grupos os alunos dividem-se em: apresentadores, repórteres de rua, entrevistados, atores de comercial. A formulação da pauta do jornal dirá respeito a temas sobre as mulheres:anorexia, bulimia, embelezamento, exploração da imagem feminina e outros.
  • 4. Obs: Os textos anexos apoiam a formulação das notícias. “Mulher uso e abuso”; “Artigo: A Ditadura da Beleza”; “Anorexia Nervosa”. Sugestão De Conclusão Sugerimos que o projeto esteja concluído até o dia 8 de março, dia internacional da mulher. É interessante que todo o processo seja registrado através de fotos e/ou vídeos. Os Papéis Femininos Historicamente Constituídos1 DuranteoséculoXIX,asociedadebrasileirapassouporumasériedetransformações:aconsolidaçãodocapitalismo,o incrementodeumavidaurbanaesuaconsequentevariedadedeconvivênciassociais,oadventodaburguesiaeadisseminaçã odeseumododevida.Presenciamosnesseperíodoonascimentodeumanovamulherquenasrelaçõesdachamadafamíliabu rguesaassumiuopapeldeesposadevotadaaomarido,donadeumlaracolhedoremãeeducadoradefilhos- cadavezmaiséreforçadaaideiadequeémuitoimportantequeasprópriasmãescuidemdaprimeiraeducaçãodosfilhosenão osdeixemsimplesmentesoltossobinfluênciadeamas.Assim,nointeriordoespaçodomésticoseredefineopapelfemininoco mnovaseabsorventesatividades. Ocasamentoentrefamíliasricaseburguesaserausadocomoumdegraudeascensãosocialouumaformademanuten çãodostatus.Mulherescasadasganhavamumanovafunção:contribuirparaoprojetofamiliardemobilidadesocialatravésd esuapostura.Numcertosentido,oshomenserambastantedependentesdaimagemquesuasmulherespudessemtraduzirp araorestantedaspessoasdeseugrupodeconvívio.Significavamumcapitalsimbólicoimportante,emboraaautoridadefamili arsemantivesseemmãosmasculinas. A sexualidade feminina seria, então, tolida na medida em que seu valor social ligar-se-ia a sua honra e essa a sua castidade. Essa concepção impõe ao gênero feminino o desconhecimento de seu próprio corpo e abre caminhos para a repressão de sua sexualidade. Decorre daí o fato das mulheres manterem com seu corpo uma relação matizada por sentimentos de culpa, de impureza, de diminuição, de vergonha de não ser mais virgem. A identidade sexual e social da mulher através de tais informações molda-se para atender a um sistema de dominação familiar e social. Comofuturaguardiãdolaredafamíliaaesposaemãeburguesadeveriaadotarregrascastasnoencontrosexualcomomarido. Antesedepoisqueesseencontroseconcretizasseasmulheressofreriamcomavigilância.Avirgindadeeraumrequisitofunda 1 O texto compõe-se, em sua maior parte, por um conjunto de fragmentos retirados do livro “História das Mulheres no Brasil”, livro ganhador do Prêmio Jabuti e organizado por Mary Del Priore. Foram utilizados nesse texto os capítulos: “Mulher e Família Burguesa”, “Mulheres do Sertão Nordestino”, “Mulheres dos Anos Dourados” e “Mulher, mulheres”.
  • 5. mental,funcionandocomoum dispositivoparamanterostatusdanoivacomoobjetodevaloreconômicoepolítico,sobreoqualseassentariaosistemadeher ança e depropriedade.Muitasfilhasdefamíliaspoderosasnasceram,cresceram,casarame,emgeral,morreramnasfazendas. A Preocupação com o casamentodasfilhasmoçaseraumaconstante.Èverdadequemuitasmulheresnãosecasaram,entreoutrasrazõespordificul dadesdeencontrarparceirosaaltura,problemasdeherançaedote,maslogopassadasasprimeirasregras(menstruação)ea mocinhafizessecorpodemulher,ospaiscomeçavamasepreocuparcomofuturoencaminhamentodajovemparaocasament o.Aos12anosdeidadecomeçava- seaconfeccionaroenxoval,avalorizaçãodavidamatrimonialerainculcadanavidafeminina.Poroutrolado,imprimiam- lheumaprofundaangústia,casoelanãoviesseacontraircasamentoantesdos25anosdeidade. No século XX as distinções entre os papéis masculinos e femininos continuaram nítidas. Na família-modelo dessa época, os homens tinham autoridade e poder sobre as mulheres e eram os responsáveis pelo sustento da esposa e dos filhos. Estamos falando dos anos 50. Momento em que o Brasil vivia um período de ascensão da classe média. Com o fim da 2ª Guerra Mundial, o país, otimista, vivia um crescimento urbano e industrial. Se o Brasil acompanhou, à sua maneira, as tendências internacionais de modernização e emancipação feminina – impulsionadas pela participação das mulheres no esforço de guerra e pelo desenvolvimento econômico-, também foi influenciado pelas campanhas estrangeiras que, com o fim da guerra, passaram a pregar a volta das mulheres ao lar e aos valores tradicionais da sociedade. As moças a essa época eram classificadas entre moças de família e moças levianas. As primeiras se comportavam corretamente, de modo a não ficarem mal faladas. Tinham gestos contidos, respeitavam os pais, preparavam-se para o casamento, conservavam sua inocência sexual. Era preciso dar-se o respeito para serem respeitadas, admitidas pela sociedade como moças para casar. Ainda no século XX existia o temor apontado lá no XIX: o medo de não contrair casamento, traduzido na linguagem contemporânea pela expressão “ficar para titia”. Tal fato pode ser verificado na propaganda de pasta dental demonstrada abaixo. O produto em si não possui uma ligação estreita de sentido com o casamento. Sendo esse, porém, um valor fundamental daquela sociedade tudo poderia lhe dizer respeito e lhe ser associado.
  • 6. Esse quadro configura uma modalidade de violência que, embora não compreenda atos de agressão física, decorre de uma normalização cultural, da discriminação e submissão feminina. Violência que se constitui fonte de inúmeras outras violências. Assim, permaneceriam as mulheres por longo tempo sem poder dispor livremente de seu corpo, de sua sexualidade. Quanto aos homens, estipulou-se o livre exercício de sua sexualidade, símbolo de virilidade; na mulher tal atitude era condenada. Aquelas que ousassem tal liberdade eram taxadas como levianas,
  • 7. vadias. Interessante é notar, hoje, no século XXI, a apropriação do termo “vadia” para denominação do movimento mundial que marcha em busca de direitos e liberdades para as mulheres. No dicionário encontramos o verbete para designar “mulher de vida licenciosa sem ser necessariamente prostituta”. Licencioso “é aquele que não respeita normas, que demonstra desregramento moral e ou sexual, que é devasso”. Ora, por que as mulheres escolheram denominar tal movimento como “marcha das vadias”? Para alardear – mesmo que causando escândalo, ainda! - seu direito de dispor de seu corpo como bem quiser, pois seu corpo não é um bem, mas é seu. É possível que indiquem algum excesso no movimento, talvez por que, ainda hoje , possamos reconhecer costumes e valores que definem, unem ou separam, e até estabelecem hierarquias entre homens e mulheres. O movimento quer romper com o tempo em que a mulher era escondida. Guardada. Reprimida e ainda assim sob suspeita. Se ser vadia é não respeitar normas, o termo é bem adequado, pois ainda é preciso desfazer muitas amarras culturais. É preciso endurecer o discurso e ampliar a pauta de reivindicações, sem a preocupação – nesse momento histórico- de perder a doçura.
  • 8. Existe apenas uma verdade universal, aplicável a todos os países, culturas e comunidades: a violência contra as mulheres nunca é aceitável, nunca é perdoável, nunca é tolerável. SECRETÁRIO-GERAL BAN KI-MOON A campanha do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, UNA-SE pelo fim da violência contra as mulheres, tem por objetivo prevenir e eliminar a violência contra as mulheres e meninas em todas as partes do mundo. A campanha reúne diversas agências e escritórios da ONU para impulsionar ações em todo o Sistema ONU, a fim de prevenir e punir a violência contra as mulheres. Através da campanha, a ONU está unindo forças com indivíduos, sociedade civil e governos pelo fim da violência contra as mulheres em todas as suas formas. Violência contra as mulheres: a situação O PROBLEMA A violência contra as mulheres assume muitas formas – física, sexual, psicológica e econômica. Essas formas de violência se inter-relacionam e afetam as mulheres desde antes do nascimento até a velhice. Alguns tipos de violência, como o tráfico de mulheres, cruzam as fronteiras nacionais. As mulheres que experimentam a violência sofrem uma série de problemas de saúde, e sua capacidade de participar da vida púbica diminui. A violência contra as mulheres prejudica as famílias e comunidades de todas as gerações e reforça outros tipos de violência predominantes na sociedade. A violência contra as mulheres também empobrece as mulheres, suas famílias, suas comunidades e seus países. A violência contra as mulheres não está confinada a uma cultura, uma região ou um país específicos, nem a grupos de mulheres em particular dentro de uma sociedade. As raízes da violência contra as mulheres decorrem da discriminação persistente contra as mulheres. Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida. As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com dados do Banco Mundial. Violência praticada pelo parceiro íntimo A forma mais comum de violência experimentada pelas mulheres em todo o mundo é a violência física praticada por um parceiro íntimo, em que as mulheres são surradas, forçadas a manter relações sexuais ou abusadas de outro modo. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em 11 países constatou que a porcentagem de mulheres submetidas à violência sexual por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia. Diversas pesquisas mundiais apontam que metade de todas as mulheres vítimas de homicídio é morta pelo marido ou parceiro, atual ou anterior.
  • 9. Na Austrália, no Canadá, em Israel, na África do Sul e nos Estados Unidos, 40% a 70% das mulheres vítimas de homicídio foram mortas pelos parceiros, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Na Colômbia, a cada seis dias uma mulher é morta pelo parceiro ou ex-parceiro. A violência psicológica ou emocional praticada pelos parceiros íntimos também está disseminada. Violência sexual Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. A prática do matrimônio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o mundo, especialmente na África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta riscos para a saúde, inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola. Um dos efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do rompimento severo dos tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e indesejável socialmente. Violência sexual em conflitos A violência sexual em conflitos é uma grave atrocidade atual que afeta milhões de pessoas, principalmente mulheres e meninas. Trata-se, com frequência, de uma estratégia deliberada empregada em larga escala por grupos armados a fim de humilhar os oponentes, aterrorizar as pessoas e destruir as sociedades. Mulheres e meninas também podem ser submetidas à exploração sexual por aqueles que têm a obrigação de protegê-las. As mulheres sejam elas avós ou bebês, têm rotineiramente sofrido violento abuso sexual nas mãos de forças militares e rebeldes. O estupro há muito é usado como tática de guerra, com relatos de violência contra as mulheres durante ou após conflitos armados em todas as zonas de guerra internacionais ou não internacionais. Na República Democrática do Congo, aproximadamente 1.100 estupros são relatados todo mês, com uma média de 36 mulheres e meninas estupradas todos os dias. Acredita-se que mais de 200 mil mulheres tenham sofrido violência sexual nesse país desde o início do conflito armado. O estupro e a violação sexual de mulheres e meninas permeia o conflito na região de Darfur, no Sudão. Entre 250 mil e 500 mil mulheres foram estupradas durante o genocídio de 1994 em Ruanda. A violência sexual foi um traço característico da guerra civil que durou 14 anos na Libéria. Durante o conflito na Bósnia, no início dos anos 1990, entre 20 mil e 50 mil mulheres foram estupradas. Violência e HIV/AIDS A incapacidade de negociar sexo seguro e de recusar o sexo não desejado está intimamente ligada à alta incidência de HIV/AIDS. O sexo não desejado resulta em maior risco de escoriações e sangramento, o que facilita a transmissão do vírus. Mulheres que são surradas por seus parceiros estão 48% mais propensas à infecção pelo HIV/AIDS. As mulheres jovens são particularmente vulneráveis ao sexo forçado e cada vez mais são infectadas com o HIV/AIDS. Mais da metade das novas infecções por HIV em todo o mundo ocorrem entre os jovens de 15 a 24 anos, e mais de 60% dos jovens infectados com o vírus nessa faixa etária são mulheres. Excisão/Mutilação Genital Feminina A Excisão/Mutilação Genital Feminina (E/MGF) refere-se a vários tipos de operações de mutilação realizadas em mulheres e meninas.
  • 10. Estima-se que mais de 130 milhões de meninas e mulheres que estão vivas hoje foram submetidas à E/MGF, sobretudo na África e em alguns países do Oriente Médio. Estima-se que 2 milhões de meninas por ano estão sob a ameaça de sofrer mutilação genital. Assassinato por dote O assassinato por dote é uma prática brutal, na qual a mulher é assassinada pelo marido ou parentes deste porque a família não pode cumprir as exigências do dote — pagamento feito à família do marido quando do casamento, como um presente à nova família da noiva. Embora os dotes ou pagamentos semelhantes predominem em todo o mundo, os assassinatos por dote ocorrem sobretudo na África do Sul. “Homicídio em defesa da honra” Em muitas sociedades, vítimas de estupro, mulheres suspeitas de praticar sexo pré-matrimonial e mulheres acusadas de adultério têm sido assassinadas por seus parentes, porque a violação da castidade da mulher é considerada uma afronta à honra da família. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) estima que o número anual mundial do chamado ―homicídio em defesa da honra‖ pode chegar a 5 mil mulheres. Tráfico de pessoas Entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente em situações incluindo prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão, segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas detectadas. Violência durante a gravidez A violência antes e durante a gravidez tem graves consequências para a saúde da mãe e da criança. Leva a gravidezes de alto risco e problemas relacionado à gravidez, incluindo aborto espontâneo, trabalho de parto prematuro e baixo peso ao nascer. O infanticídio feminino, a seleção pré-natal do sexo e o abandono sistemático das meninas estão disseminados no Sul e Leste Asiáticos, no Norte da África e no Oriente Médio. Discriminação e violência Muitas mulheres enfrentam múltiplas formas de discriminação e um risco cada vez maior de violência. No Canadá, mulheres indígenas são cinco vezes mais propensas a morrer como resultado da violência do que as outras mulheres da mesma idade. Na Europa, América do Norte e Austrália, mais da metade das mulheres portadoras de deficiência sofreram abuso físico, em comparação a um terço das mulheres sem deficiência. A violência contra as mulheres detidas pela polícia é comum e inclui violência sexual, vigilância inadequada, revistas com desnudamento realizadas por homens e exigência de atos sexuais em troca de privilégios ou necessidades básicas. CUSTOS E CONSEQUÊNCIAS Os custos da violência contra as mulheres são extremamente altos. Compreendem os custos diretos de serviços para o tratamento e apoio às mulheres vítimas de abuso e seus filhos, e para levar os culpados à justiça. Os custos indiretos incluem a perda de emprego e de produtividade, além dos custos em termos de dor e sofrimento humano.
  • 11. O custo da violência doméstica entre casais, somente nos Estados Unidos, ultrapassa os 5,8 bilhões de dólares por ano: 4,1 bilhões de dólares em serviços médicos e cuidados de saúde, enquanto a perda de produtividade totaliza quase 1,8 milhão de dólares. Um estudo realizado em 2004 no Reino Unido estimou que os custos totais, diretos e indiretos, da violência doméstica, incluindo a dor e o sofrimento, chegam a 23 bilhões de libras por ano, ou 440 libras por pessoa. http://www.onu.org.br Rosana Paulino Publicado em8 de abril de 2012porvivalavulva Rosana Paulino é artista plástica e educadora brasileira, investigando em sua obra questões ligadas a gênero e raça, especialmente com o tema da mulher negra no Brasil. A artista costuma utilizar técnicas e objetos tradicionalmente ligados ao universo feminino das artes aplicadas, vistas como domésticas e, portanto, femininas, tais como costura e o bordado. Rosana comenta a respeito de seu trabalho: ―[...]Olhar no espelho e me localizar em um mundo que muitas vezes se mostra preconceituoso e hostil é um desafio diário. Aceitar as regras impostas por um padrão de beleza ou de comportamento que traz muito preconceito, velado ou não, ou discutir esses padrões, eis a questão. Dentro desse pensar, faz parte do meu fazer artístico apropriar-me de objetos do cotidiano ou elementos pouco
  • 12. valorizados para produzir meus trabalhos. Objetos banais, sem importância. utilizar-me de objetos do domínio quase exclusivo das mulheres. Utilizar-me de tecidos e linhas. Linhas que modificam o sentido, costurando novos significados, transformando um objeto banal, ridículo, alterando-o, tornando-o um elemento de violência, de repressão. O fio que torce, puxa, modifica o formato do rosto, produzindo bocas que não gritam, dando nós na garganta. Olhos costurados, fechados para o mundo e, principalmente, para sua condição de mundo. [...] Gritar, mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou outros nomes na parede. Ele tem sido meu fazer, meu desafio, minha busca.‖
  • 13. A artista, com seus trabalhos em pequena escala, tece uma política de dimensão íntima. Na obra “Bastidores”(1997), a violência simbólica aparece nas linhas que costuram as bocas e gargantas. Os bastidores, essa espécie de armação de madeira circular em que se prega o que se quer bordar, forma a moldura de uma condição: figuras de mulheres negras estampadas, sem voz. Esse ofício ligado a um corpo feminino silenciado, lugar de opressão. Na obra ―Sem título (da série As três Graças)‖ de 1998, o cabelo crespo é colocado lado a lado com um feixe de cabelo loiro e liso, confrontando uma mentalidade colonialista e embranquecedora corrente no Brasil. A artista tece essas tramas simbólicas em seus bordados e costuras evidenciando enredamento do corpo da mulher negra em estereótipos perversos e coerções estéticas em que memórias pessoais esboçam um cenário político de opressão no país. E é no cotidiano e em seus objetos habituais que a artista trata a partir da sua própria condição, da violência histórica que assola a população negra. http://vivalavulva.wordpress.com/2012/04/08/rosana-paulino/
  • 14. Um novo feminismo na Marcha das Vadias? Publicado em 6 de julho de 2013por admin Manifestações espalharam-se pelo país e chegam ao Rio dia 27. Sua pauta, que valoriza liberdade sexual, representará um passo a mais na luta por igualdade de gêneros? Por Anna Carolina Iunes Uma saia curta não é convite para estupro, um corpo bonito não é motivo para cantadas grosseiras. Segundo dados da ONU, aproximadamente uma em cada cinco mulheres será vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. O número de assédios sexuais está ligado à cultura machista e patriarcal que promove o pensamento da mulher como alguém inferior – além de fomentar ideias como a não liberdade sexual ou a criminalização do aborto. O movimento feminista tem o papel de desconstrução do comportamento sexista, com o objetivo de uma vivência mais igualitária. Apesar de ter raízes no século XIX, o feminismo teve seu ápice nas décadas de 1960 e 70, e agora retorna com movimentos por todo o mundo, tendo a ―Marcha das Vadias‖ como um deles. ―Se ser livre é ser vadia, então eu sou vadia‖ – uma fala impactante, e que carrega um grito por liberdade e igualdade. A declaração é uma resposta: em janeiro de 2011, na Universidade de Toronto, Canadá, o policial Michael Sanguinetti, ao falar sobre abusos sexuais, comentou ―as mulheres deviam evitar se vestir como vadias, para não serem vítimas‖. O argumento de Sanguinetti teve repercussão mundial e como reação surgiu a ―Marcha das Vadias‖. O movimento se espalhou no mundo e por todo o Brasil. No caso do Rio de Janeiro, a Marcha, que ocorre em Copacabana, reuniu 300 pessoas em 2011 e cerca de 500 em 2012, segundo a Polícia Militar. Não há líder, partido e nem um centro organizacional. As reuniões são feitas regularmente em locais diversos: a sala de uma faculdade, uma praça ou, até mesmo, um bar. São divididas comissões – segurança, comunicação, artes e manifesto – assim, há divisão de tarefas sem hierarquização de poder. É um movimento aberto – abarca pessoas de todas as cores, sexualidades e gêneros. Qualquer um pode participar da parte organizacional e da marcha em si, o contato é feito através da página online. No Rio de Janeiro, ocorrerá, este ano, em 27 de Julho e a expectativa da organização é que aumente o número de pessoas. Ana Carolina Brandão, 24 anos, formada em Direito pela UFF, faz parte do movimento desde 2011 e vê a Marcha como uma responsável por renovar e ampliar o feminismo. Atualmente, luta-se pela laicidade do estado, regulamentação da prostituição, legalização do aborto, descriminalização de gênero e por mais liberdade sexual do indivíduo, sobretudo da mulher que é moralmente julgada quando exerce sua sexualidade livremente. De Aracaju, Bárbara Moura, 24 anos, explicou que a Marcha desse ano ocorrerá no mesmo dia e local da peregrinação de fiéis católicos pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e afirma não ser uma provocação: ―A Jornada tem objetivos contrários ao nosso movimento. Eles pretendem distribuir fetos de plástico e desconstruir toda uma luta pela descriminalização do aborto.‖.
  • 15. A Marcha vive, constantemente, um combate ideológico. O termo ―vadia‖ assusta à primeira vista e muitos acabam por não compreender a verdadeira motivação ideológica. Tobias Abdalla, aluno da PUC-Rio, fortemente católico e não ligado aos ideais feministas, pensa como um movimento de prostituas e travestis que apenas ambiciona o fim da violência com os mesmos e almeja o nudismo como uma prática livre. Há também fortes setores com pensamentos opostos: como a Frente Parlamentar Evangélica ou a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) presidida pelo pastor, abertamente homofóbico e racista, Marco Feliciano. O movimento tornou-se um espaço de fala, de argumentação com os ideais machistas tão intrínsecos e reafirmados, o tempo todo, na sociedade. É como define Gabriela da Fonseca, 25 anos, estudante de História pela UFF e integrante da Marcha: ―Vivemos pequenas violências diariamente que não nos deixam ser plenas. A Marcha das Vadias é onde podemos reivindicar nossos direitos e expor nossos pensamentos.‖. A Marcha do Rio de Janeiro conta com o apoio do movimento de outras cidades próximas: Viviane Faria pesquisadora de 36 anos, veio da Marcha da Baixada Fluminense, canta letras de funk que ela mesma compôs, sempre colocando o papel da mulher em foco; vê o funk como uma forte manifestação cultural de ideais feministas – mal elaborados, muitas vezes. Além da presença de outras cidades, há também, na Marcha carioca, a expressão da luta de transexuais e prostitutas por direitos iguais e respeito. Indianara Siqueira, transexual de 42 anos e prostituta por opção desde os 18, é símbolo dessa luta; foi a responsável pelo fim da ―cafetinagem‖ em Copacabana, diminuindo a exploração de mulheres no local. Indianara já morou na Europa e foi presa na França por ter dado abrigo a prostitutas que estavam em regime desumano de trabalho. Hoje se dedica à regulamentação da prostituição. O movimento cresce, e cresce junto dele a conscientização. A Marcha é um ícone do feminismo atual: pretende muito mais do que só queimar sutiã em público: empenhar-se para construir — e conquistar — uma vivência igualitária de direitos e condições de vida. http://outraspalavras.net/blog/2013/07/06/um-novo-feminismo-na-marcha-das-vadias/
  • 16. Artigo: A ditadura da beleza Por Marcelo Norio Inada Estamos convivendo com a mídia nos impondo diariamente uma ditadura da beleza, mas até que ponto isso é real? Porque a sociedade impõe que devemos ser magros? A maioria da população não se encontra nos padrões das modelos e atrizes da nossa atualidade. Aliás uma minoria dita o que é belo. Mas quem realmente é belo? O que é a beleza? A definição de beleza segundo o dicionário: qualidade do que é belo, agradável ou que desperta admiração. A beleza é uma experiência, um processo cognitivo ou mental, ou ainda, espiritual, relacionada à percepção de elementos que agradam de forma singular aquele que a experimenta. A beleza agrada a quem vê, muitas vezes não podemos definir o que achamos belo. Simplesmente nos sentimos bem em admirar certas formas, figuras, paisagens ou pessoas. Os padrões humanos para definição de beleza são culturais, geográficos e temporais.Uma mulher considerada bela antigamente, não necessariamente estaria nos conceitos de beleza de hoje. Porque antigamente preferia-se uma mulher com uma silhueta mais cheia. Na Grécia antiga as esculturas das mulheres sempre aparecem mais gordinhas como diríamos hoje em dia. Mesmo nas décadas de 40 e 50 os ícones da beleza, como Brigitte Bardot e Marilyn Monroe, talvez, hoje nem passariam numa seleção como modelo. Os padrões de beleza mudam. O que é belo aqui, talvez em outra cultura não seja. Alguém comum num local pode ser considerado belo num outro país. Ou, alguém que não lhe pareça bela para você, às vezes para seu colega ao lado seja a mulher mais linda que ele já viu! Como diria um poeta: A beleza está nos olhos de quem a vê. Matematicamente consideramos belo algo harmonioso. Um rosto bonito normalmente apresenta uma simetria. Leonardo da Vinci já escreveu séculos atrás: ―podemos dividir o rosto em 3 partes proporcionais: da implantação dos cabelos até o nariz, deste até os lábios e a última parte até o mento‖. Um rosto considerado bonito possui estas medidas proporcionais. Porém não podemos dizer que somente quem possui tais medidas é belo. A modelo Gisele Bündchen não entra nesse conceito, mas quem tem coragem de dizer que ela não é linda? O conceito de beleza é subjetivo. O que leva todo mundo a esta ditadura da beleza? Todos sentem necessidade de aceitação. As mulheres querem ficar bonitas para arranjar um namorado, casar e ter filhos e para se sentirem felizes. Os homens estão se cuidando cada vez mais também. Hoje, o conceito de beleza da magreza vem fazendo as pessoas viverem em dietas, academias e recorrendo aos cirurgiões plásticos. Estamos vivendo num mundo em que uma minoria é magra e dita os conceitos de beleza, a maioria está fora do padrão considerado belo e faz de tudo para alcançá-lo. Pitanguy também já criticou a magreza excessiva das modelos ao tratar da imposição do marketing sobre a beleza. "O belo é aquilo que agrada. De repente, você vê uma menina anoréxica desfilando e não agrada. A partir do momento que se começa a vender produtos e se desenvolve uma mentalidade que não é saudável, cria-se uma inversão de valores". Hoje em dia vemos mulheres na televisão com corpos esculpidos na academia e até às custas de esteróides anabolizantes. Algumas pacientes já pedem: ―quero ficar igual a tal artista!‖. Quase todos gostariam de mudar alguma coisa em nossos corpos. Se você tem vontade de fazer uma cirurgia plástica, se for para ser feliz, por que não? No meu conceito de beleza, o mais importante é ser feliz. Não estou dizendo para deixar de se cuidar ou que devemos ser magros. Se você não se sente incomodada, tudo bem! Seja feliz! Mas quem é que não gosta de receber um elogio? Saber que está bonita? Se cuidar é para sempre! É o que digo para minhas pacientes. Afinal, sem saúde não temos nada. E felicidade transparece beleza! Ser belo é ser feliz! Seja feliz! *Marcelo Norio Inada é cirurgião plástico membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e Titular em Oncologia Cutânea. Realiza cirurgia plástica estética e reparadora da face, mamas, contorno corporal e procedimentos estéticos. http://www.oficinadacomunicacao.inf.br/new/index.php/contato/27-marcelo-inada/27-artigo-a-ditadura-da-beleza
  • 18. Introdução Desde a idade média há relatos de anorexia. Esta estava relacionada a uma conduta religiosa de privação. Porém atualmente a anorexia nervosa nada tem haver com religiosidade e sim com a busca de um corpo perfeito imposto pela sociedade. A anorexia nervosa se trata de um transtorno alimentar em que há perda de peso auto-induzida. Esta perda de peso pode ser induzida por vômitos, uso de diuréticos, laxantes e, muitas vezes, os indivíduos podem se dedicar à realização de exercícios intensos para queimar calorias e perder peso. Está associada a uma alteração na percepção da forma e do peso do corpo, levando a uma preocupação exagerada em relação ao físico além de um temor intenso de engordar, e que deve ser diagnosticada por meio dos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) e da Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Fonte: http://www.qpcpesquisa.com/] Adicionada por Natalia Zardo Durante o desenvolvimento da anorexia nervosa, a perda de peso é retratada como um sinal de proeza e autodisciplina por parte do indivíduo, uma vez que o ganho de peso é percebido como uma inaceitável perda de autocontrole. O pensamento constante do medo de engordar não é aliviado pelo emagrecimento, mas, ao contrário, na medida em que o sujeito diminui o peso, aumenta o seu medo de engordar. A restrição alimentar é severa, e no decorrer da doença ela aumenta cada vez mais. Adicionada por Natalia Zardo
  • 19. A anoréxica passa fome, vai dormir com o estomago ‗roncando‘ e possuem a característica de cozinhar, muitas vezes para satisfazer o desejo de comer dos outros , já que ela não se permite este desejo. A sociedade atual estima a atratividade e a magreza em particular, tornando a obesidade uma condição estigmatizada e rejeitada aumentando assim cada vez mais a incidência de indivíduos com anorexia nervosa. A mídia promove uma grande influencia no padrão corporal. As novelas, propagandas, revistas entre outros impõe um padrão de físico invejáveis, porém muitas vezes são meros ―foto shop‖, ou seja, aquelas modelos que todos acham perfeitas muitas vezes nem são reais. Essa disparidade entre o observado e o desejado pode levar à insatisfação, levando a comportamentos alimentares inadequados em uma tentativa de mudar a sua forma corpórea e se igualar ao padrão imposto pela mídia. Epidemiologia A anorexia nervosa tem aumentado nas últimas décadas, especialmente entre as mulheres jovens dos países ocidentais. Este aumento se deve às influências culturais e mercadológicas que valorizam o corpo esbelto e esguio da mulher. Dados epidemiológicos têm mostrado que a incidência média anual da anorexia nervosa na população em geral é de 18,5 por 100.000 entre as mulheres e 2,25 por 100.000 entre os homens. Isto ocorre porque os homens estão mais preocupados com a forma do corpo e com a massa muscular, já as mulheres estão mais preocupadas com o peso. Em países industrializados, a anorexia nervosa aparece ocorrer com mais freqüência, mas não é observado com maior freqüência nas classes mais ricas. Etiologia A causa da anorexia nervosa ainda é obscura. Sabemos que ela é uma condição complexa baseada em fatores biológicos, psicológicos e sociais. Sua causa ainda permanece obscura. Os fatores biológicos não são muito conclusivos. Estes geralmente estão relacionados aos sintomas de inanição, que acarreta grandes mudanças no funcionamento do organismo. Os fatores psicológicos podem estar relacionados com a adolescência. O adolescente possui dificuldade de entrar no funcionamento sexual e a crescente complexidade do convívio social. O grande número de separações entre pais, casal sem líder definido e famílias reconstituídas tem dificultado o processo de identidade dos adolescentes. O comportamento obsessivo das anoréxicas em perder peso pode ser uma forma de substituir as preocupações em relação aos pais e passar esta preocupação para o medo de ganhar peso e para as dietas de restrição alimentar. Sinais e sintomas • Visão distorcida do próprio corpo. Apesar de extremamente magras, essas pessoas julgam-se com excesso de peso;
  • 20. Fonte: http://z.hubpages.com/u/301524_f260.jpg Adicionada por Natalia Zardo • Perda exagerada de peso em curto espaço de tempo sem nenhuma justificativa. • Recusa em participar das refeições familiares. Os anoréxicos alegam que já comeram e que não estão mais com fome; • Brincar com a comida no prato em vez de comer; • Saltar refeições; • Esconder comida (num guardanapo, debaixo de uma travessa, etc.) para evitar comê-la; • Preocupação exagerada com o valor calórico dos alimentos. Esses pacientes chegam a ingerir apenas 200 kcal por dia; • Medem a circunferência corporal e se pesam-se diariamente, http://www.splendicity.com/shopaholicsdaily/files/2008/01/anorexie1.jpg Adicionada por Natalia Zardo • Interrupção do ciclo menstrual (amenorréia) e regressão das características femininas; • Atividade física intensa e exagerada; • Depressão, síndrome do pânico, comportamentos obsessivo-compulsivos; • Pele extremamente seca e coberta por lanugo (pêlos parecidos com a barba de milho). • Excessivo interesse em questões relacionadas com peso, imagem corporal e jejum; • Vestir (para esconder o corpo) roupa larga ou disforme;
  • 21. • Baixos níveis de energia; • Sono excessivo; • Reduzido ou inexistente apetite sexual Complicações • Alterações metabólicas As principais alterações metabólicas são aumento do colesterol (40% dos pacientes anoréxicos) e a hipoglicemia (56% dos pacientes anoréxicos) que se deve a jejuns prolongados e/ou a resposta a um ECA (diurético) seguido de vômitos. A ausência de menstruação é um dos principais achados para o diagnóstico da anorexia nervosa. A amenorréia pode ser acompanhada de uma diminuição dos caracteres femininos secundários, ocorrendo perda dos contornos do quadril e das nádegas. Ainda pode ocorrer: regressão dos ovários para estágios pré-puberais, regressão do tamanho mamário e, às vezes, perda parcial dos pelos pubianos. O útero, também se encontra diminuído e observam-se mudanças atróficas na parede vaginal levando a diminuição da libido. A infertilidade pode ocorrer. Nos homens, a anorexia nervosa vem acompanhada de uma redução dos níveis de testosterona, FSH e LH, associados a uma redução do volume testicular. Pode ocorrer a perda do libido, e isto pode persistir após a recuperação do peso. Nos pacientes com anorexia nervosa pode ocorrer diminuição nos níveis de T3 e T4(hormônios tireoidianos). Com essa redução do T3 podem ocorrer: pele seca e amarelada, constipação, intolerância ao frio e bradicardia. • Alterações hematológicas A anemia é um achado freqüente na anorexia nervosa. • Alterações das estruturas da pele (pele, cabelo, unhas e pêlos) e alterações visuais Pode haver pele pálida, seca, sem brilho e, por vezes coberta por uma fina camada de pêlos. Pode ser ainda observada uma coloração amarelada da pele. Os pêlos e cabelos encontram-se ralos, finos e opacos, muitas vezes quebradiços e avermelhados (típicos da desnutrição). As unhas podem se encontrar quebradiças e com crescimento lento, favorecendo o desenvolvimento de micoses nas unhas. Catarata, atrofia do nervo óptico e degeneração da retina podem também acompanhar a falta de comida. Ainda podem ocorrer alterações: ósseas e do crescimento, hidroeletrolíticas, pulmonares, renais, cardiovasculares e gastrointestinais. Recomendações • Estar atento a profissões de risco como: bailarinas, jóqueis, atletas olímpicos, pois vivem sobre pressão para reduzir o peso corporal; Arquivo:Anorexia-nervosa.jpghttp://lookfordiagnosis.com • A família precisa observar especialmente as meninas que disfarçam o emagrecimento usando roupas largas e soltas no corpo e se recusam a participar das refeições em casa; precisam ainda perceber se há alterações comportamentais e psicológicas como: depressão, isolamento social, etc.
  • 22. •Às vezes, os familiares só se dão conta do que está acontecendo quando, por acaso, surpreendem a paciente com pouca roupa e vêem seu corpo esquelético, transformado em pele e osso. Nesse caso, é urgente procurar atendimento médico especializado; •O ideal de beleza que a sociedade e os meios de comunicação impõem está associado à magreza absoluta. É preciso olhar para esses apelos com espírito critico e bom senso e não se deixar levar pela mensagem enganosa. Diagnóstico Os critérios do CID-10 são bastante utilizados, assim como o DSM-VI. Em geral os critérios são: o peso corporal esta abaixo de 15% do esperado, a perda de peso é auto- induzida, há distorção da imagem corporal, há transtorno endócrino generalizado, medo intenso de ganhar peso, ausência de menstruação na puberdade, etc. Porém, A utilização de critérios rigorosos, pode impedir o reconhecimento dos transtornos alimentares nas suas fases iniciais e na sua forma sub-clínica (pré-requisito para uma prevenção primária ou secundária), e pode excluir alguns adolescentes com comportamentos anormal, atitudes e comportamentos alimentares, tais como aqueles que vomitar ou tomar laxantes regularmente. O diagnóstico de um transtorno alimentar deve ser considerado em um paciente adolescente que se envolve em práticas de controle de peso excessivo e / ou demonstra o pensamento obsessivo sobre comida, peso, forma ou de exercício. http://www.hc.fmb.unesp.br/nutricao/anorexia_nervosa.php Adicionada por Natalia Zardo Prognóstico A proporção de pacientes que se recuperam é pequena. Um terço dos indivíduos com anorexia continuam a ter problemas com imagem corporal; 40% destes desenvolvem problemas como bulimia ou diversos tipos de dificuldades psiquiátricas. Existe um aumento na morbidade e mortalidade presente na anorexia nervosa comparado a outros transtornos psiquiátricos. Quanto mais duradoura a doença, maior é a possibilidade de óbito, que chega até 25% dos pacientes que não melhoram. As principais causas de morte são: complicações cardiovasculares, insuficiência renal e suicídio. Referências bibliográficas 1) CATALDO A; GAUER, G J C; Furtado, N., Psiquiatria para estudantes de medicina. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 944 p. ISBN 8574303704 2) ASSUMPÇÃO C. e CABRAL M. , Complicações clínicas da anorexia nervosa e bulimia nervosa. Revista Brasileira de Psiquiatria 2002; 24(Supl III):29-33 3) SCHIMIDT E. E MATA G, Anorexia nervosa: Uma revisão. Revista de psicologia, V-12, N2, pg 387-400, Jul-Dezembro 2008 4) DUNKER K E PHILIPPI S, Hábitos e comportamentos alimentares de adolescentes com sintomas de anorexia nervosa. Revista de nutrição, Campinas, 16(1):51-60, jan./mar., 2003
  • 23. 5) GIORDANI R, A auto- imagem corporal na anorexia nervosa: Uma abordagem sociológica, Universidade Federal do Paraná, Psicologia & Sociedade; 18 (2): 81-88; mai./ago. 2006 6) KANESHIMA A, FRANÇA A, KNEUBE D E KANESHIMA E, Ocorrência de anorexia nervosa e distúrbio de imagem corporal em estudantes do ensino médio de uma escola da rede pública da cidade de Maringá, Estado do Paraná, Maringá, v. 28, n. 2, p. 119-127, 2006 7)BERNSTEIN, B E. Eating Disorder: Anorexia. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/912187-overview. Acesso em : 10 de Novembro de 2009 8)UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS BUTUCATU. Serviço Técnico de Nutrição e Dietética . Disponível em: http://www.hc.fmb.unesp.br/nutricao/anorexia_nervosa.php. Acesso em: 12 de Novembro de 2009 9)ADOLESCENT MEDICINE COMMITTE, CANADIAN PAEDIATRIC SOCIETY (CPS).Eating disorders in adolescents: Principles of diagnosis and treatment. Disponível em: http://www.cps.ca/english/statements/AM/am96-04.htm. Acesso em: 10 de Novembro de 2009 10)ALIMENTAÇÕA SAUDÁVEL. Transtornos alimentares. Disponível em: http://www.alimentacaosaudavel.org/Anorexia-Nervosa.html. Acesso em: 12 de Novembro de 2009 Mulher: uso e abuso Por Frei Betto A 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Neste ano, a data coincide com a Quarta-Feira de Cinzas. Instaura-se o paradoxo. A beleza defronta-se com o espectro da morte. Após o Carnaval da nudez despudorada, as cinzas. A sociedade de consumo, privilégio de poucos, gira em torno do lucro obtido com a venda de bens e serviços. E de aplicações financeiras que multiplicam o dinheiro. Aos olhos da publicidade, o cidadão reduz-se a mero consumidor movido a desejos. Toda a propaganda transforma-se num jogo de sedução. Quanto mais emoções e ilusões, menos razões e valores, mais vulneráveis nos tornamos aos apelos consumistas, cuja principal isca é a mulher. O mercado, onde outrora o homem figurava como único provedor, exceto para as compras da feira e das crianças, hoje tem na mulher uma mantenedora de mão cheia. Daí a publicidade dirigida à consumidora, à mulher que tem profissão e renda própria. Na escolha de bens e serviços, ela agora concentra um poder de decisão equiparável ao do homem. A propaganda vende quimeras. Não se compra apenas um sabonete, uma roupa ou uma bebida. Compram-se sobretudo o sonho de ser mais uma entre as dez atrizes que se banham com aquele produto, a fantasia de tornar-se tão sedutora quanto a jovem que entra no jeans, a aspiração de desfrutar da alegre ociosidade de tanta juventude a borbulhar no gargalo da garrafa. Reificada, coisificada, destituída de mente e espírito, a mulher é reduzida a formas e trejeitos, sem que os movimentos feministas consigam fazer ouvir sua voz de protesto. Como um ninho de serpentes, moças retorcem-se em gemidos no prostíbulo televisivo, enquanto no filme e na telenovela o adultério é propagado como direito à liberdade. Nos programas humorísticos, a mulher é imbecilizada e ridicularizada.
  • 24. Não só homens fazem da mulher objeto do desejo. Basta uma olhada nas capas das revistas femininas. Mulher se compara a mulher na busca de melhor performance social, sexual e estética. Se, além da roupa, a moda dita um corpo esquálido como o de uma africana abatida pela fome, a anorexia impõe-se como salário da vaidade. A medicina cria um novo ramo para atender ao luxo da ditadura estética, como se o corpo que foge ao modelo imperante fosse portador de doenças e anomalias. A ponto de, recentemente, uma mulher —Eva na contramão— arrancar costelas para renascer bela no corpo atrofiado. Essa cultura da glamourização move as lucrativas indústrias de cosméticos, publicações, esportes e academias de ginástica. Sua isca é a mulher reduzida à aparência e destituída de direitos, essência, subjetividade, idéias e valores. Dócil aos caprichos da publicidade, o corpo vai a leilão na feira de amostras das revistas masculinas. Ora, como estranhar que, na esfera da realidade, as relações sejam conflitivas e até violentas? Proliferam delegacias de mulheres. Pois não há de ser essa propagação da mulher como mero objeto de consumo que suscitará no homem respeito e alteridade. Uma coisa é uma coisa. Manipula-se, usa-se, descarta-se. Enquanto a mulher aceitar esse jogo de marketing, movida pela quimera de ser tão bela quanto a fera, será difícil cegar os olhos do machismo, tanto o masculino, que a submete, quanto o feminino, de quem aceita ser submetida e, portanto, humilhada. A exposição erótica da mulher é uma notória humilhação do feminino, pois torna a beleza resultado da soma de atributos físicos exacerbados pela protuberância das formas e os ditames da moda. Belas, a meus olhos, são Fernanda Montenegro, Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Odete Lara e Zilda Arns Neumann. Elas correspondem ao que Marcello Mastroianni, que entendia de mulheres, e com quem estive em 1986, qualificou de mais fascinante que pode haver numa mulher: a coerência de sua história de vida. Mas isto não está à venda. É uma conquista. http://www.correiocidadania.com.br/antigo/ed183/cultura3.htm Acorda Raimundo! Homens discutindo violências e masculinidade Andréia Dioxopoulos Carneiro Pinto Stela Nazareth Meneghel Ana Paula Maraschin Karwowski Marques Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) RESUMO Este é um estudo pautado nos referenciais de gênero que tem por objetivo investigar o que pensam os homens sobre a violência doméstica de gênero e quais os valores envolvidos na construção da identidademasculina na cultura contemporânea. O trabalho foi realizado por meio de grupos de discussão com trabalhadores de uma empresa de transportes coletivos da cidade de Porto Alegre. Foram três grupos nos quais participaram voluntariamente 10 homens adultos casados. A primeira questão lançada ao grupoproblematizava o porquê da violência conjugal. Os homens discutiram animadamente, contaram episódios de suas vidas, assumiram a agressão às mulheres, porém, culpando-as por isso, afirmando que elas começam as brigas. Assistiram ao filme ―Acorda Raimundo‖ que estimulou uma reflexão sobre a construção da masculinidade, os papéis de gênero e a validação homossocial do ser homem. Houve relatos de violências, brigas e traições, mas também falaram de relações conjugais pautadas no respeito e na negociação de conflitos. Ao encerrar eles avaliaram positivamente a atividade e sugeriram a continuidade do grupo na empresa. Palavras chave: Grupos de discussão; masculinidades; identidade de gênero; violência de gênero. ABSTRACT Wake up, Raimundo! Men discussing violence and masculinity This study is based on gender references, aiming at looking into what men think about domestic violenceand what values take part in the process of building the masculine identity in contemporary culture. Thework was done through discussion groups consisting of collective transportation workers in the city of PortoAlegre. We worked with three groups, each of 10 voluntary men, all of them married. The first questionproposed to the group problematized the reasons of marital violence. Men discussed animatedly, toldepisodes of their lives, admitted to having abused women, but put the blame on them for that, insisting that itis they, the women, who pick up fights. Then they watched the film Acorda, Raimundo… acorda! [Wake up,Raimundo, Brazil, 1990], which
  • 25. encouraged them to reflect about the construction of masculinity, genderroles and homosocial validation of what being a man means. Some of them reported cases involving violence,fights and unfaithfulness; on the other hand, marital relations based on respect and conflict negotiation werealso mentioned. In the end, they assessed positively the activity and suggested that the group go on meetingwithin the framework of the company. Keywords: Discussion groups; masculinities; gender identity; gender violence. INTRODUÇÃO As violências contra a mulher são consideradas um fenômeno que ocorre em âmbito mundial e entendidas pela Organização Mundial de Saúde como um problema de saúde publica. Os efeitos da violência de gênero atingem diretamente a auto-estima, a segurança e o bem-estar das pessoas atingidas. Os primeiros estudos sobre violência contra as mulheres divulgaram que essa situação acontecia em todas as classes sociais. Saffioti (1999), uma autora feminista, referiu o ―nó gordio‖ constituído pelos sistemas de dominação e exploração pautados em gênero, classe social e etnia. Dessa maneira, as mulheres negras e pobres estão em situação de maior vulnerabilidade. Pesquisas mostram que homens desempregados são mais violentos com a família. Esses dados indicam que a maior vulnerabilidade social está diretamente relacionada ao aumento da prevalência de violência física e psicológica (Krug, 2000). Embora haja muitas denominações para designar a violência perpetrada por homens contra as mulheres, incluindo os termos violência doméstica, violência intrafamiliar e violência sexual, nos alinhamos aos que usam o conceito de violência de gênero. Considera-se violência de gênero qualquer ato de violência praticado contra a mulher que resulte, ou possa resultar, em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, assim como a ameaça de tais atos ou coerção a privação da liberdade seja na vida publica ou no âmbito doméstico. A violência no âmbito conjugal expressa o conflito de interesses entre duas partes que participam da relação de convivência. É importante entender a ambigüidade e as tensões estabelecidas nas relações de gênero e os padrões que orientam a conduta como um movimento, uma passagem que implica contradições e diversidades (Gregori, 1993). Gênero é uma categoria constituinte das relações sociais entre homens e mulheres e tem sido utilizada para explicar a construção e organização social da diferença entre os sexos. O conceito de gênero, no âmbito dos estudos da mulher, questionou as diferençasentre os sexos atribuídas à biologia para enfatizar a importância social e cultural desse conceito. Gênero é um sistema simbólico de significados, que configura e reflete posições hierárquicas e antagônicas entre homens e mulheres (Saffioti & Almeida, 1995; Giffin,1994; 2002; Scott, 1990). A violência de gênero é um fenômeno complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseadas no gênero e na sexualidade. Estudos indicam que as relações hierárquicas de gênero perpetuadas através da socialização e as desigualdades socioeconômicas são determinantes da violência contra a mulher (Heise et al.,1994). A maioria das situações de violência masculina é perpetrada pelos parceiros íntimos das mulheres, na maioria das vezes, de maneira crônica (Saffioti, 1999; Grossi e Werba, 2002). A relação entre os gêneros é hierarquizada e entendida como um princípio que classifica as pessoas e serve como instrumento ideológico de dominação. Para entender a violência de gênero a partir do ponto de vista dos homens, buscamos inspiração nas idéias que embasam a construção social da masculinidade. As identidades de gênero remetem a uma reflexão mais aprofundada acerca dos valores que fazem parte da identidade masculina, assim como a expressão em seus comportamentos. Para os autores (Badinter, 1993; Nolasco 1995; Almeida 1996) a crise da masculinidade pode ser compreendida como um mal-estar, um conflito de identidadeuma tentativa em manter um modelo de gênerohegemônico ao mesmo tempo pluralista, às vezesbaseado em modelos tradicionais, às vezes em modelosmodernos de masculinidade, porém incapaz de sustentara hegemonia referente à subjetividade (Rolnik e Guattari, 1996). Os estudos históricos e antropológicos indicam adominação da mulher pelo homem ao longo dos séculos.Para cimentar esse processo, utiliza-se a ideologiapatriarcal e o machismo. Azevedo (1985) define machismo como um sistema de idéias e valores não igualitárioentre homens e mulheres ou a dominação dohomem sobre a mulher. O machismo enquanto ideologiaé constituinte de um sistema de crenças e valoreselaborados pelo homem com a finalidade de garantir asupremacia através de dois artifícios básicos: afirmaçãoda superioridade masculina e reforço da inferioridadeatribuída à mulher. O machismo pode ser reconhecidono imaginário ou nas representações sociais esocioculturais sendo considerado o resultado de umprocesso longo de construção do que é ser uma mulher e do que é ser um homem. Azevedo (1985) considera que o discurso machista,tanto erudito quanto popular, está a serviço dareafirmação da superioridade masculina e da inferioridadefeminina, como forma legítima de perpetuar a dominação da mulher. Já o machismo enquanto ideologiaé uma forma sutil de violência simbólica, e procuraconvencer o dominado da inexistência de opressãoou subordinação, considerando-a, até mesmo,benéfica e natural. O machismo não se restringe aoshomens, a maioria das mulheres sofre uma socializaçãoque as preparou para aceitar a dominação masculinae, portanto, para serem machistas. A solidariedadeexistente entre homens, visando à preservação deseus privilégios não corresponde à solidariedade femininana reivindicação de igualdade de direitos.
  • 26. A sociedade patriarcal provê experiências diferentespara meninos e meninas; da menina é esperadocomportamento meigo, gentil, carinhoso, passivo. Sãoconsideradas sensíveis, ou fracas, como se sempre estivessemnecessitando de proteção. Dos meninos é esperadoque sejam rudes, autoritários, ―durões‖, sujos,que tenham força e não demonstrem fraqueza. Nas sociedadespatriarcais o prestígio das mulheres provémdos homens. Esses são os detentores do poder, tomamas decisões e são considerados responsáveis pela proteçãoda família. Às mulheres cabe facilitar a carreiraprofissional do marido e tornar a vida confortável, emtroca, obtém sustento e proteção. O processo de fabricaçãode ―machos e fêmeas‖ é uma dinâmica psicossocialque se desenvolve de forma intencional através da escolae da família, da igreja e outros grupos (Strey, 2004). A situação de conflito é vivida por inúmeras famíliasque fazem parte da sociedade contemporânea, justificandoestudos neste campo. A experiência práticavivenciada por uma das autoras ao longo do curso, emestágios e pesquisas no tema da violência de gênero(Meneghel e cols, 2007), motivou a realização destetrabalho. Refletindo sobre a importância de escutar oque os homens têm a dizer sobre o tema, surgiu a idéiade realizar os grupos, buscando compreender o queocorre nas relações de conjugalidade, as violências e a construção da masculinidade. Questionamos formas deintervenção mais eficazes para melhorar a qualidade de vida das famílias, reduzir a ocorrência de violênciasno âmbito das relações entre homens e mulheres emelhorar a qualidade dos serviços de atendimento. O presente estudo tem por objetivo investigar oque pensam os homens sobre a violência doméstica degênero. Além disso, identificar os valores envolvidosna construção da identidade masculina na cultura contemporânea. TRAJETO METODOLÓGICO Esta pesquisa faz parte do projeto ―Violênciaintrafamiliar e de gênero – mulheres enfrentando o sofrimento‖em desenvolvimento na UNISINOS e contempladano Edital 045 CNPq – Relações de gênero:mulheres e feminismos, aprovada pelo Comitê de Ética/UNISINOS. Esse trabalho foi realizado em uma empresa de transportes coletivos, localizada em uma comunidadede baixa renda, na cidade de Porto Alegre. Atualmentea empresa conta com uma frota de 63 ônibus, queem média, transportam 40.000 passageiros por dia econta com cerca de 350 funcionários, 90% deles dosexo masculino. Essa elevada prevalência de trabalhadoreshomens foi uma das razões para focar a pesquisa no tema das masculinidades. Este é um estudo qualitativo que utilizou gruposde reflexão para a coleta de dados. A idéia de realizarum grupo de homens neste espaço institucional significoupossibilitar a escuta e a reflexão sobre o temadas identidades e masculinidades. Desse modo seaproveitou o material produzido no campo grupal paraposterior análise e colaboração para o próprio grupo. Ao nuclear o grupo de reflexão com os trabalhadoresde uma empresa de transportes coletivos, vínhamosde uma experiência prévia com grupos de reflexãofreqüentados por mulheres (Meneghel e Barbiani,2003). Imaginamos que os grupos de homens poderiamconstituir um caminho para refletir as relações degênero e construir modos de relacionamento maisigualitários. O grupo foi pensado como uma estruturabásica de trabalho e investigação, assim como umainstância de ancoragem do cotidiano. As forças interacionaisinternas dos grupos implicam em sustentaçãoe apoio socioemocional, no fortalecimento das interaçõesemocionais, na comunicação aberta, no compromissoe responsabilidade, na participação efetiva e naconstrução de uma individualidade crítica (Meneghelet al., 2000; Rauter, 2000). De acordo com Fernandez (2006) observa-se queem qualquer grupo humano produzem-se ―movimentosdiversificados, como ressonâncias, fantasmáticas,processos identificatórios e transferências, assim comosentimentos ora de amor ora de ódio em todos os seusmatizes, jogos de papéis e produções lingüísticas‖.Nos grupos são instituídos mitos, utopias e até ilusõesonde a regra de funcionamento organiza as redes designificações imaginárias que inscrevem o grupo emuma posição institucional dando forma aos contratos,pondo em ação os jogos de poder e hierarquias. Nos grupos de reflexão organizados na empresa detransportes coletivos, o primeiro movimento foi a consultaà supervisora local, mencionando a idéia de trabalharcom os homens. A direção da empresa aprovoue recomendou a idéia, indicando local e horário paraos encontros. Foi veiculado um convite dirigido a homenscasados e propondo a participação em três gruposde discussão. A proposta para os grupos inicioucom a apresentação do tema de pesquisa da investigadora;após essa introdução, todos contaram fragmentosde suas histórias de vida. O primeiro encontro teve o objetivo de abordaro tema da violência intrafamiliar, com o seguintequestionamento: quais as opiniões sobre os fatoresdesencadeantes da violência entre os casais. No segundoencontro foi apresentado o filme ―AcordaRaimundo‖ que aborda as transformações de papéis,as novas configurações familiares com a mulher ocupandoprofissões que até pouco tempo eram consideradasexclusivamente masculinas. No terceiro encontro,foi abordada a questão referente aos valores envolvidosna construção da identidade masculina. Epara o encerramento foi sugerida a avaliação do trabalhorealizado. Nesse artigo, todos os nomes mencionados são fictíciose comuns: Antônio, Luiz, Manoel, André, Isaías, Pedro, Cleber, Paulo, Joaquim, Júlio.
  • 27. A avaliação do processo grupal foi realizada tendopor base os relatos transcritos e utilizando-se a análisetemática proposta por Bardin (1979). Para Bardin, otema é a unidade de significado que se liberta naturalmentede um texto analisado segundo critérios relativosà teoria que serve de guia à leitura. Operacionalmentea análise temática divide-se em três etapas:a pré-análise, com leitura das comunicações e abusca das categorias mais expressivas, a exploraçãodo material e por último, o tratamento dos resultados ea interpretação (Minayo, 1992). Após a leitura do materialtranscrito, foram identificados os temas mais discutidose mais significativos aos participantes. Devidoà grande quantidade de material transcrito, nem todosos assuntos foram explorados. O QUE DIZEM OS HOMENS SOBRE A VIOLÊNCIA? Iniciamos a apresentação dos resultados, contandodo primeiro grupo realizado com os homens. Na salade treinamento da empresa estavam presentes um totalde dez trabalhadores, casados, na faixa etária de 25 a40 anos, todos motoristas e cobradores da empresa detransportes. O primeiro momento correspondeu às apresentaçõesdos participantes e dos objetivos do trabalho, aimportância de ouvir o que pensam sobre a violênciaintrafamiliar. Os depoimentos dos participantes derama impressão de envolvimento com o tema e exposiçãoaberta de idéias e experiências, ao contrário de situaçõesem que os participantes parecem estar apenascumprindo uma obrigação formal de responder as perguntasdo pesquisador. Nos encontros que tivemos, osparticipantes mostraram-se interessados, relataramhistórias e fatos de suas vidas e houve constante trocade saberes. Foi lançada uma pergunta direta: por que os homensbatem nas mulheres? Foi-lhes explicado que oobjetivo não era saber se haviam batido nas suas mulheres,mas sim o que pensavam sobre o tema. A perguntafoi respondida por meio do relato de experiênciasou exemplos de outras pessoas e todos os homensdo grupo falaram de situações em que ocorreu ou continuaocorrendo violência contra a mulher. Ao relatarepisódios de violência em suas vidas ou nas vidas deconhecidos, eles não esconderam a situação de agressores:―Eu já tive uma namorada que já bati”; “umavez ela me deu um tapa na cara e aí eu devolvi”. Porém,eles afirmaram que, na maioria das vezes, as mulheresprovocam e iniciam o conflito ―ela deu primeiro”(Cleber) e o homem defende-se agredindo, ou seja,justificaram a conduta agressiva como reativa a umaprovocação feminina anterior, como é possível constatarna explicação de Paulo: ―Eu já tive uma namorada que já bati. Mas elaquem partia para cima de mim. Nunca chegou ame bater, só me deu uns empurrões. Aí eu me protegia,quando ela vinha para cima de mim eu seguravanos braços dela para ela parar.” (Paulo) Na explicação de Paulo, ele apenas se ―protegia”,embora a contradição venha em seguida quando afirmaque ―batia‖ na namorada. Cleber relatou fatos semelhantes,admitindo, que a gravidade da agressãomasculina é maior: ―claro, minha mão é mais pesadaque a dela‖ e que a teria machucado muito. Masminimiza a violência dizendo que ela estava com umproblema dentário, talvez por esse fato a lesão tenhasido tão intensa, “o homem é mais animal”: “Uma vez ela me deu um tapa na cara e aí eu devolvi,na hora não consegui segurar, foi instantâneo,acho que isso é humano né? Sentimento dedefesa. Estávamos no carro e inclusive na presençade meus pais. Foi muito chato me senti agredidoe envergonhado. Foi horrível, essa mulher choroumuito, pegou bem no dente que estava em tratamentode canal. Agora toda vez que dá discussãofico até com medo...Mas é aquela história, elapartiu para a violência, ela me deu com vontade,foi por isso que dei nela, claro minha mão é maispesada que a dela. Depois me arrependi, mas eladeu primeiro! O homem é mais animal!” (Cleber) Trouxeram exemplos, relativizando a agressãomasculina e culpabilizando as mulheres por provocaros homens, por considerar esses homens como bobos,por exemplo, dando e retirando queixa nas delegacias. ―Meu primo, uma vez deu um soco no vidro do barpara não bater na mulher dele, que foi lá fazer escândalono buteco chamando ele de bêbado. Aimesmo que ele bebia mais e acabava em agressãofísica. Ele batia nela e ela corria para a delegaciaregistrar a queixa contra ele. Passava uns dois atrês dias ela ia lá e retirava. Ela já é conhecida nadelegacia.‖ (Pedro) A propósito das agressões femininas, Saffioti (1994)pontua com propriedade que: ―não se está, de formaalguma, afirmando que as mulheres são santas. Aocontrário, elas participam da relação de violência chegandomesmo a desencadeá-la. Nem por isto, porém, amulher detém do mesmo poder que o homem. [...] Trata-se de uma correlação de forças que muito raramentebeneficia a mulher. Socialmente falando, o saldo negativoda violência de gênero é tremendamente maisnegativo para a mulher que para o homem‖. Houve unanimidade no grupo em atribuir ―a provocação‖ou o ―início‖ dos episódios de violências àsmulheres, ou seja, eles conseguem assumir que existea violência e eles agridem, porém minimizam o seupapel colocando a responsabilidade sobre as mulheres,inclusive misturando a violência no âmbito doméstico,com a violência vivenciada no trabalho, comomanifestou Joaquim: “Na minha opinião, a mulher é violenta tantoquanto o homem, a mulher briga mais com gentena roleta do que o homem, a tolerância da mulherparece menor que a do homem. Qualquer coisaque a gente fizer de errado ela
  • 28. vem com tudo pracima do cara, já quer bater em ti, faz misérias nafrente da roleta. O homem já é mais controlado doque a mulher. A mulher explode na hora, se elapuder já se bota e arranha o cara e dá na cara. Aí o homem dá na mulher e vai preso. Se a mulher dáno homem e chama a policia eles ainda vão darrisada que o cara apanhou de mulher.” (Joaquim) Eles se queixaram repetidamente das ―cobranças‖feitas pelas mulheres, como algo que dispara o atoabusivo. Como meninos, afirmaram enfaticamenteque não gostam, não querem, não suportam serem cobrados. ―A mulher cobra demais, cobra o que o homemnão pode dar.”(Luiz) “Chego em casa cansado dotrabalho e ela, quer conversar, tá eu entendo, masela não entende que eu tô cansado, aí ela cobra aatenção e diz que eu não dou bola prá ela, aí já dáincomodação.” (Manoel) O estereótipo é uma espécie de molde que pretendeenquadrar a todos, independente das particularidadesde cada um, diz Saffiotti (1987). A fala de Joaquimé pautada nos velhos chavões ou estereótipos degênero: homem controlado/mulher histérica e outrasdicotomias semelhantes. Joaquim também se preocupacom a confraria masculina que ―vai dar risada queo cara apanhou da mulher‖. Júlio expressou as representaçõesatuais sobre os papéis diferenciados de gênero: “Já está confirmado que o homem é agressor e amulher é a vítima, já vem de antigamente, assimcomo que a mulher deve arrumar a casa e homemtrabalhar para sustentar a família” (Julio) COMO SE CONSTRÓI A MASCULINIDADE? O homem é considerado macho, na medida em quefor capaz de disfarçar, ou melhor, interditar o afeto,processo efetivado através da educação diferenciadade gênero. “Aprendi que homem não chora” [...] “Láem casa era assim: homem que é homem não apanhana rua” (Cleber). Os alicerces da masculinidade são lançados na infânciado menino, na sua experiência na família, naescola, e com amigos da mesma idade. Estes formamno seu conjunto, o quadro primário da ―socializaçãomasculina‖: o processo que orienta a conformação doque é ser homem em nossa sociedade. A socializaçãomasculina é um processo universal de aprendizagem eadaptação (Tolson, 1977; Cecarelli, 2006). A definição de homem na sociedade patriarcal baseia-se em figuras de linguagem negativas como: homemnão chora, não demonstra seus sentimentos, nãopode amar as mulheres como as mulheres amam oshomens, não pode ser fraco, muito menos covarde, jamaisser perdedor ou passivo nas relações sexuais.Contrapondo as afirmativas positivas: homem deve serforte, corajoso, macho, provedor, viril, autoconfiante,destemido, agressivo, independente. A relação de―possuir‖, dinheiro, força, músculos, pênis, um filhohomem, tantas mulheres quanto for possível durantesua vida sexual, emprego fixo, poder executar tarefasdifíceis que só compete a homens, sustentar a família.Os ideais de masculinidade se reportam aos aspectosque hierarquicamente estabelecem e mantém o domíniodos homens sobre as mulheres (Silva, 2006). Emrelação à construção da identidade masculina, ouçamoso que nos disseram os nossos Joaquins, Manoéise Antonios. ―Existe muita diferença entre o homem e a mulher,o homem já escuta desde cedo, tu é macho e temum tico no meio das pernas, então tem que honrar”(Joaquim)“A minha própria mãe dizia segura tuas cabrasque meus bodes estão soltos. Quer dizer que, osguris têm que partir para cima da mulher, se nãofor é desconsiderado, e as mulheres se são muitoatiradas já são consideradas atiradas.” (Manoel)“A própria mulher, mãe ou vó, ensina para os filhosou netos que tem que ser macho.” (Antonio) Eles também se referiram à educação diferenciadade gênero, transmitida pelas mulheres enquanto agentesde socialização. Esses valores são transmitidos degeração em geração, reforçando e sustentando omachismo. “O guri, já joga bola desde pequeno, brinca delutinha, de polícia e ladrão, admira e imita ossuper-heróis.” (Jorge)“Se a menina cai e rala o joelho, é a coitadinha.Se acontece a mesma coisa com o guri, todos caemem cima, já vão chamar o cara de bixinha.”(Isaias)“Lá no interior era assim, faca na cintura, e revólver.Quando eu era pequeno, sempre escutavameu pai dizer que em cara de homem eles não batiamcom a mão.” (Jorge) Embora haja autores que creditam a violência aouso de álcool e drogas, sabe-se que a violência de gênerodecorre das relações hierarquizadas entre homense mulheres, ou seja, é uma ação socialmente construída.Os homens deixaram evidente que sabem disso:“A bebida alcoólica não é responsável pela briga.O cara que ta bêbado chega em casa bêbado, e sóquer dormir, que alias é só isso que o bêbadoquer.” (Antonio) Na cultura patriarcal ser provedor é papel masculino.Se o homem possui rendimentos inferiores ao da mulher, ou até mesmo se está desempregado, isto poderáabalar a sua identidade masculina. A falta de rendimentos, como conseqüência da falta de empregogera sintomas como estresse e depressão; além disso,contribui e muito para o clima de tensão nas relaçõesentre os casais. Paulo nos fala de uma situação destetipo, e como em todas as explicações, a ―culpa‖ é damulher: ―Meu primo tinha um ótimo salário, sustentava amulher e toda a família, tinham do bom e do melhorem casa. Até que um dia houve um problemaentre ele e um colega, aí ele foi demitido, e lógicoa situação ficou apertada. O coitado começou aficar louco! A mulher começou a cobrar e exigiras coisas que ele estava acostumado, mandandoque ele encontrasse serviço urgente. Um dia elepegou e deu nela, não agüentou.” (Paulo) Os homens sentem-se inferiorizados e impotentesfrente a situações de mudança dos padrões tradicionais
  • 29. e buscam reafirmar o ―papel do macho‖, usando,inclusive, a violência. DE QUE OS HOMENS SE ENVERGONHAM? A masculinidade requer uma validação homossocial:são outros homens que podem ver um sujeitocomo efeminado; são outros homens que analisam cuidadosamente,examinam, classificam e concedem ounão ingresso no domínio da virilidade. O que parecerelevante ressaltar é que o fato de a validação serhomossocial é conseqüência da própria dominaçãomasculina, das relações de poder envolvidas nas configuraçõesde gênero, em que as mulheres ocupam umaposição tão baixa na cabeça dos homens que o queeles necessitam é a aprovação dos próprios homens(Knauth et al., 2005). Essa validação externa homossocialaparece claramente na asserção de Joaquim:―Se a mulher dá no homem e chama a policia eles aindavão dar risada que o cara apanhou de mulher.” Elese mostra envergonhado não pelo fato de apanhar damulher, mas o principal é ―o que o policial – no casooutro macho - vai pensar‖. Na sua visão de mundo, aprimeira coisa que lhe ocorre, é que será motivo dechacota, e isso vem expresso em um sentimento demuita vergonha, que ele quer evitar. A validação homossocial implica na dificuldadeem confiar em outro homem, pelo medo de se exporao ridículo, ou melhor, do medo da desaprovação dooutro. Cleber nos fala da insegurança que os homensenfrentam para confiarem uns nos outros. “Deus o livre,o cara se abrir, problemas particulares. Não dá quando o cara vira as costas todo mundo fica sabendo.”Esse assunto está diretamente ligado à traiçãomasculina. Os homens referem-se à traição masculinacomo um comportamento desigual, os homens traemmais do que as mulheres, conforme o que nos disseram,Cleber, Luiz , Julio, Manuel, Paulo e Isaias: “O homem é sem vergonha, basta só olhar. A questãoé física mesmo”. (Cleber)“O homem trai a mulher porque sente curiosidade,e aí acaba não resistindo.” (Luiz) Na autocomplacência do discurso masculino, outravez a ―culpa‖, essa vez da traição, é creditada àsmulheres. Eles apontam como motivos para a traição,o envolvimento da mulher com o bebê recém nascido,o fato de ousar não querer fazer sexo, ou seja, eximirsedo ―dever‖ de prestar favores sexuais ao marido, ouainda a ditadura estética de não estar ―magra‖: “Depois que a mulher ganhou o filho ela simplesmente,não quis mais fazer sexo! E aí como é que o cara fica? Acaba traindo!” (Julio)“A mulher engordou muito depois desta ultimagravidez, já falei pra ela se cuidar, mas ela nãome escuta!” (Manuel)“No ônibus a gente vê todos os tipos, elas se atirampro cara! Se o cara não pega! É porque éveado”! (Paulo)“Os amigos também botam pilha, mostram e incentivama traição” (Isaias) As explicações justificam o comportamento desiguale machista. A mulher fica no lugar de cúmplicena traição, como se a traição fosse ocasionada pelafalha no desempenho de seu papel de fêmea. O QUE FAZER PARA A RELAÇÃODAR CERTO? No processo grupal também foi possível ouvir relatosde homens que dizem negociar uma relação igualitária,de companheirismo e auxílio mútuo e relacionamentosmaduros baseados no respeito à individualidadedo outro. Luiz mostra maturidade para administraros conflitos, protegendo as crianças de cenas debrigas, desentendimentos e violência. “Conheci minha esposa em uma festa junina, agente morava na mesma rua, mas nunca tinha sevisto. A convivência hoje após nove anos de casado,com certeza é melhor do que antes. Agora agente já conhece os defeitos um do outro. Agora émais real, quando a gente casa, tudo é amor. Masdepois vem a realidade. Se o casal sabe como conduzir,só se dá bem. Nossa relação amadureceu.E é muito raro brigarmos. Temos uma filha paracriar. Se pensa duas vezes antes de discutir aindamais na frente da criança.” (Luiz) Pedro constatou que para não dar continuidade e,muito menos, repetir sua historia familiar, o melhorcaminho a tomar foi a separação. Às vezes, as pessoastêm muitas incompatibilidades que tornam insuportávela convivência e a separação pode ser a melhoropção: “Somos casados há sete anos e não deu mais paracontinuar. Ela me deu uma tapa na cara, e issonão posso agüentar. Meu pai agredia minha mãe,até que um dia intimei ele e disse que assim comoele tinha me dado a vida poderia me tirar, mas quena mãe ele não batia mais.Como é que eu vou suportarum relacionamento que tenha violência.Ela era uma pessoa muito inflexível. Então paranão dar continuidade achei melhor a separação.”(Pedro) Outra atitude estratégica tomada na tentativa deevitar conflito, nos foi relatada por André. Ele não seenvergonhou de contar ao grupo que passou a noite narua, esperou a raiva passar e pode conversar com amulher e resolver o conflito. Mesmo na vigência daviolência, depoimentos como esse podem ajudar a validaroutros padrões de comportamento masculinos efundar relações mais igualitárias entre homens e mulheres. “Um dia minha mulher me atirou uma garrafa derefrigerante na cabeça, a minha sorte é que passoude raspão. Aí achei que era melhor sair decasa para não bater nela. Fiquei na rua de madrugadasentado num banco da parada do ônibus.Pensando em não voltar mais para casa. Mas aí agente pensa nos filhos...E assim acabei voltando.Como é que eu iria ficar longe das crianças. Masfoi bom, por que a poeira baixou e até a gente podeconversar depois sobre a atitude dela e combinarque estas atitudes a gente deve controlar.” (André)
  • 30. Ao final dos encontros, realizamos uma avaliaçãoindividual e coletiva do trabalho. Eles foram unânimesem sugerir que o trabalho tenha continuidade, aindagostariam de tratar muitos temas referentes à masculinidade.Ocorreu resistência para a finalização dogrupo e o desejo de continuar. Eles valorizaram a atividade,engajando-se no processo grupal: “Foi ótimo, a empresa ter aberto este espaço paraque nós possamos falar sobre nós mesmos, semmedo de ser excluído, ainda mais de um assuntotão sério como violência nas famílias” (Manoel)“Olha, sinceramente, eu não tenho o costume deme abrir, mas aqui me senti muito à vontade.”(Paulo) “A gente até se sente importante! O cara pode falaro que pensa, sem se preocupar se o que vaifalar vai ser usado contra ele” (Isaias)“Tomara que a gente possa auxiliar as pesquisas,a gente observa que nossas vidas têm valor, e queé importante o que cada um de nós pensa” (Pedro) PALAVRAS FINAIS A violência de gênero é um fenômeno complexo,enraizado nas relações de poder entre homens e mulheres.Este artigo poblematizou, em um grupo de homens,a construção das diferenças entre os sexos, aeducação diferenciada, os valores da sociedade patriarcalmantidos pela cultura. Esse cenário cristalizaas posições hierárquicas entre homens e mulheres reforçandoe mantendo a desigualdade entre os sexos egerando violência ao longo da história. A reflexão acerca de questões referentes às violênciasno âmbito doméstico, certamente contribuipara a melhora da comunicação entre os homens e asmulheres. Para isto foi importante problematizar osconceitos de violência, de estereótipos de gênero, assimcomo da construção da identidade masculina, parareferendar relações menos hierárquicas e violentas entreos casais. A violência não pode mais ser naturalizada, nemaceita. Para isso, é importante e urgente a reflexão do agressor, para a compreensão dos diversos fatores quecolaboram para que os homens pratiquem atos de violência contra as mulheres. A Psicologia, a Saúde Coletivae a Educação em Saúde são campos disciplinaresque podem contribuir no enfrentamento às violências,incluindo as de gênero, e na resolução dos conflitosentre os sexos. E isso não é tarefa muito fácil. Éneste sentido que a discussão de gênero, pode ser uminstrumento para auxiliar na transformação de relaçõesmais igualitárias entre homens e mulheres. REFERÊNCIAS Azevedo, M. A. (1985). Mulheres espancadas: a violência denunciada.São Paulo: Cortez. Almeida, M. I. M. (1996). Masculino/Feminino: tensão insolúvel.Rio de Janeiro: Rocco. Badinter, E. (1993). XY: sobre a identidade masculina. Rio deJaneiro: Nova Fronteira. Bardin, L. (1979). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. Cecarelli, P. R. (1997). A construção da masculinidade. Percurso.Revista de Psicanálise, X, 19, 49-56. Fernandez, A. M. (2006). O campo grupal – notas para umagenealogia. São Paulo: Martins Fontes. Giffin, K. (2002). Pobreza, desigualdade e equidade em saúde:considerações a partir de uma perspectiva de gênero. Cad. SaúdePública, 18, supl. 1. Giffin, K. (1994). Violência de gênero, sexualidade e saúde. Cad.Saúde Pública, 10, 146-155. Gregori, M. F. (1993). Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres,relações violentas e práticas femininas. Rio de Janeiro:Paz e Terra. Grossi, P., & Werba, G. (2002). Violências e gênero – coisas quea gente não gostaria de saber. Porto Alegre: EDIPUCRS. Heise, K. (1994). Violência de gênero, sexualidade e saúde. Cad.Saúde Pública, 10, suppl. 1, 146-155. Knauth, D. R., et al. (2005). Liberdade, sexo e drogas: a vulnerabilidadede homens jovens de camadas populares. In Adorno,R. C. F. (Org.). Jovens, trajetórias, masculinidades e direitos.São Paulo: FAPESP. Krug, E. (2003). Informe mundial sobre la violencia y la salud.Washington: OPAS/OMS. Meneghel, S. N., Armani, T., Severino, R. (2000). CotidianoViolento – oficinas de promoção em saúde mental em PortoAlegre. Ciência e Saúde Coletiva, 5, 1, 193-203. Meneghel, S. N., Barbiani, R., Steffen, H., Wunder, A. P., Roza,M. D., Rotermund, J., Brito, S. (2003). Impacto de grupos demulheres em vulnerabilidade de gênero. Cad. Saúde Pública,19, 4, 955-63. Meneghel, S. N., et al. (2007). Violência de gênero: A rota críticadas mulheres em situação de violência. In Meneghel, S. N.(Org.). Rotas críticas – mulheres enfrentando as violências.São Leopoldo: UNISINOS. Minayo, M. C. (1992). O desafio do conhecimento – pesquisaqualitativa em saúde. Rio de Janeiro: HUCITEC/ABRASCO. Nolasco, S. (1995). 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Questões contemporâneas,(1ª ed.). Porto Alegre: Edipucrs. Tolson, A. (1977). Os limites da masculinidade. Tavistok Publications,LTD. Filme: Acorda Raimundo (Alfredo Neves, 1990). Autoras:
  • 31. Andréia Dioxopoulos Carneiro Pinto – Aluna do Curso de Psicologia da Universidadedo Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Stela Nazareth Meneghel – Professora e pesquisadora do PPG Saúde Coletiva/UNISINOS. Ana Paula Maraschin Karwowski Marques – Psicóloga organizacional. Endereço para correspondência: Andréia Dioxopoulos Carneiro Pinto Rua Santo Antonio, 611 ap. 32 CEP 90220-011, Porto Alegre, RS, Brasil E-mail: smeneghel@hotmail.com