1. Licenciatura em Relações Internacionais
Ano Letivo 2013 – 2014
1º Ano
História das Relações Internacionais
Avaliação Contínua
Elemento de Avaliação 2
Ficha Temática nº 1
Alemanha: Análise do seu papel definidor de dinâmicas de cooperação e conflito
durante o Século XIX e do seu estatuto no início da 1ª Guerra Mundial e em 1918
Ana Oliveira A71256
Marta Silva A71299
Pedro Rocha A72100
Vânia Sousa A70954
Abril de 2014
2. 1
Nota Introdutória
A Europa do século XIX é, por vezes, apresentada como um modelo de um
sistema de equilíbrio de poder multipolar (Joseph S. Nye, 2002). É certo que, este
sistema, produziu o mais longo intervalo sem conflito mundial. No entanto, esta
estrutura é profundamente abalada maioritariamente pela Alemanha que ditou as
dinâmicas de cooperação e conflito durante o século XIX e do seu estatuto no início da
1ª Guerra Mundial em 1918.
Neste sentido, é necessário numa primeira fase analisarmos os primórdios da
Europa bismarkiana em que se esboça a densa rede de alianças bem como o seu
principal obreiro – Otto von Bismarck.
A Europa Bismarquiana
Otto von Bismarck, estadista prusso-germano, é um dos vultos mais distintos da
história das relações internacionais que merece uma cuidada análise ao nível do
indivíduo. Político hábil e diplomata de sucesso, seguindo fielmente a premissa do
Realpolitik, Bismarck era dotado de uma personalidade ímpar e sempre prudente nas
opções que fazia, nomeadamente nas alianças que formava. Graças ao pragmatismo de
Bismarck, foi possível iniciar o grandioso e árduo projeto da união alemã.
De facto, o processo de unificação vai ser executado a «ferro e fogo» (Excerto do
discurso "Sague e Ferro" de Bismarck (1862, s.d.) e que irá culminar na última etapa de
unificação - a guerra franco-prussiana de 1870-1871 - onde os germânicos levaram a
melhor sobre os gauleses. O conflito franco-prussiano termina em 1871, um ano de
referência na História das Relações Internacionais. Consequentemente consagra-se a
supremacia do II Reichno continente com aproclamação do Império Alemão na Salados
Espelhos em Versalhes.
O seu primeiro sistema (1871-1878) passava por manter no continente um statu
quo territorial favorável ao seu país (Milza, 2007), garantir que a França se restringia ao
seu isolamento diplomático de modo a tornar impossível a desforra francesa e impedir
um possível alinhamento francês com outra potência europeia. Cumprir estes objetivos
só seria possível com um tratado consistente que restringisse qualquer movimento
diplomático francês. O Tratado de Frankfurt assegurava isso.
3. 2
Dado o primeiro passo, Bismarck inicia negociações com as potências
continentais. A aproximação à dupla monarquia austro-húngara processou-se sem
dificuldades, mas Bismarck quis ir mais longe. O chanceler alemão pretendia que o
Império Russo entrasse no seu jogo, tarefa que, à primeira vista, não seria difícil de
concretizar já que não existia nenhum antagonismo entre Alemanha e a Rússia. Era
necessário, ao mesmo tempo, certificar que as ambições austríacas não colidissemcom
as russas. E, mais uma vez, Bismarck mostra a sua habilidade e o seu maquiavelismo
(Milza, 2007). Alexandre II julga preferível juntar-se-lhes, formalizando assima Liga dos
Três Imperadores em 1873 dedicada a conter os impulsos revolucionários (objetivo
similar ao Concerto da Europa). Esta efémera aliança apresentou alguns problemas e
não dissipou o dilema das rivalidades austro-russas na península balcânica. O problema
agudiza-se com o Congresso de Berlim em 1878 e Bismarck continuava a não conseguir
resolver o problema da hostilidade austro-húngara, amplificando o descontentamento
da Rússia. O primeiro sistema bismarquiano acaba por colapsar. Desta forma, esta Liga
só veio comprovar que era impossível a existência de uma aliança emque coexistissem
uma Áustria-Hungria e uma Rússia. Mas Bismarck não desistiu e abrem-se as portas ao
seu segundo sistema (1879-1886), tentando garantir o isolamento da França através de
uma aliança austro-alemã que tomou corpo na Dupla Aliança. Apesar de garantir a
satisfação da Austro-Hungria, este tratado não protegia a Alemanha a ocidente, pois a
Áustria-Hungria limitava-se à neutralidade.
A teia de alianças adensou-se coma adesão da Itália à Dupla Aliança que criou a
Tripla Aliança consequentemente em 1882. É certo que Bismarck não nutria grandes
simpatias com a Itália, mas não desprezava este estado que possuía o desejo de
ascender a grande potência europeia. Bismarck consegue assim reunir, na mesma rede
de alianças, a Áustria e a Rússia, mas a máquina de alianças bemoleada não tarda a dar
sinais de problemas.
No entanto, o sistema bismarquiano atinge o seu apogeu quando se renova a
Tripla Aliança. Paralelamente, Bismarck efetua outros acordos, nomeadamente o
tratado secreto de Resseguro que tentou manter a aliança com o Imperio Russo após a
dissolução da Liga e evitar a «coligação-pesadelo» fraco-russa. A Alemanha encontrasse
agora ligada à Áustria-Hungria e à Itália. Bismarck consegue, também, manter uma linha
4. 3
de contacto com Londres e São Petersburgo. A diplomacia do chanceler de ferro triunfa
e a França nunca esteve tão isolada como em 1887. A Alemanha encontra-se agora no
centro da vida internacional (Milza, 2007).
O Termo da Europa de Bismarck
Em 1888 o Kaiser Guilherme II, um jovem de 27 anos que ansiou desde o início
reunir em si todas as responsabilidades do poder, principalmente os destinos da política
externa do Império, sobe ao trono do Império Alemão, mas rapidamente entrou em
choque e desacordo com grande parte das posições do velho chanceler. Face a
divergências nos domínios da política interna e, nomeadamente, na forma de conduzir
a política externa do Império, Bismarck é obrigado a deixar o poder em 1890.
Guilherme II, fortemente influenciado pela premissa do Weltpolitik, adota uma
nova política externa que vai lançar o Império Alemão não sóem novas iniciativas navais
e coloniais de grande dimensão, mas também na inauguração de um ambicioso projeto
de expansão das forças navais chefiadas pelo almirante Tirpitz. De facto, Kaiser vai
substituir o sistema demasiado europeu por uma política mundial. O Império alemão
preparava-se, assim, para adquirir o seu «lugar ao sol», mas chegara atrasado à
competição imperialista uma vez que que as colónias mais atraentes já se encontravam
ocupadas. Um importante facto deste pico de expansão colonial é que vai servir como
uma válvula de segurança para aliviar as tensões europeias. Na ótica do Kaiser e de
Tirpitz, só uma forte armada poderia inclinar a balança de poder para seu lado e pôr
termo ao poderio naval da Grã-Bretanha. De facto, os espetaculares progressos navais
do II Reich fizeram tremer a hegemonia britânica, levando os britânicos a romper com a
sua política de containment e a formalizarem a Entente cordiale com a França em 1904.
O Kaiser, no meio da sua política externa desastrada, vai desprezar a Rússia, não
renovando o tratado de Resseguro. Face a este desprezo, o czar vai iniciar uma
aproximação à França com a assinatura de vários acordos. A relação com a Itália
degrada-se igualmente, não rompendo os seus compromissos com a Tripla Aliança e
iniciando uma aproximação à França. A política bismarquiana, que visava o isolamento
diplomático da França, colapsara. Guilherme II não revelara a capacidade de renovar o
sistema do velho chanceler o que resultou no isolamento europeu do Império Alemão.
5. 4
O Império Alemão vai viver um autêntico isolamento. A Europa encontra-se
dividida em dois blocos antagónicos (Milza, 2007) e, dentro de cada aliança, as
rivalidades estão atenuadas, embora entre um campo e outro estejam exacerbadas. A
Europa vai assistir a crises cada vez mais fortes e frequentes que vão ameaçar a paz
europeia, provocadas pelas ambições nos Balcãs. Vivendo um autêntico «cerco» desde
1907, a Alemanha não vai desperdiçar uma oportunidade para quebrar o círculo de
amizades francesas, mas, por outro lado, vai reunir esforços para criar um clima de
desconfiança e de desinquietação que vai despoletar a corrida aos armamentos. Este
ambiente tenso atingiu o seu clímax e ponto sem retorno em 1914. O detonador vai ser
uma questão estritamente europeia - o assassinato do herdeiro do trono da Áustria-
Hungria em Sarajevo. A 3 de Agosto de 1914 a espada sobrepõem-se ao diálogo e o
conflito inevitável eclode.
1918 – Um novo capítulo da história alemã
A Alemanha chega ao início da guerra com um estatuto de um Império isolado,
pouco credível e pouco previsível o que suscitavareceio nas outras potências. Não havia
certezas das intenções dos alemães devido à confusa política do Kaiser.
O conflito mortífero desenrolou-se de uma forma global nunca antes vista, é
certo, mas importa neste momento analisar o estatuto da Alemanha saída da Guerra. O
armistício foi assinado entre os Aliados e a Alemanha a 11 de novembro de 1918,
seguindo-se o humilhante tratado de Versalhes em 1919. A agitação social crescente
chegou ao ponto de levar o desacreditado Kaiser Guilherme II a abdicar e restringir-se
ao exílio. Internamente, o ambiente vivido no seio do Império era propício a uma
convulsão social. A influência da Revolução Russa de 1917 chegava ao território alemão
e acrescente força daInternacional Comunista fazia-sesentir.A efervescênciadas ideias
mais marxistas e esquerdistas na Alemanha era inevitável. Os polos de proliferação
comunista começaram a florescer ao longo de toda a Alemanha. A Revolução Alemã,
que eclodiu em 1918, só terminaria em 1919 com a instituição da Constituição da
República de Weimar. No mesmo ano a Alemanha fragilizada iria ser humilhada pelo
diktat de Versalhes. Só restava ao povo reergue-se e reconstruir. Um novo capítulo da
história alemã inicia-se.
6. 5
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