SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 17
Baixar para ler offline
Ser ou não ser um docente-artista? - Questões sobre os currículos das
                                                                licenciaturas em teatro no RS


                                                                              Autora: Taís Ferreira 1


1. Questionando currículos de licenciaturas, perguntando sobre identidades docentes


        Este é um texto de perguntas, não de respostas. Seu título: a mais famosa das questões
dramáticas. Pode parecer lugar comum este título, assim como poderão parecer as perguntas
propostas nesse artigo. No entanto, me parece que o exercício de questionar possibilita a
abertura de espaços para o debate, para a discussão, para a reflexão. E este é um momento
eminentemente propício a estes exercícios na universidade brasileira, já que sentimos e
vivenciamos, em nossos corpos e cotidianos, talvez (ouso dizer) as transformações mais
radicais que a universidade pública brasileira tenha sofrido desde seus primórdios. Este,
portanto, é um texto tecido pelas dúvidas que atravessam minha prática como professora,
como atriz, como pesquisadora, como coordenadora de um curso de licenciatura em teatro. E,
possivelmente, sejam dúvidas pertinentes aos diálogos que desenvolveremos (alunos/as,
professores/as, funcionários/as) na construção deste novo curso: a graduação em Teatro-
Licenciatura da UFPel, que é hoje um “working in progress na cena contemporânea 2 ”.
        Muito tem se falado, escrito, pensado e discutido acerca dos currículos escolares no
último meio século. Muito tem se dito acerca da escola como instrumento disciplinar e de
seus dispositivos de controle dos corpos e mentes infantes e púberes. Muito tem se pensado
sobre como se constituem identidades docentes e identidades discentes. Muito tem se
articulado em nome de uma transdisciplinaridade desejável e de uma desconstrução das
lógicas cartesianas e disciplinares de organização curricular. Muito, muito, muito. Destarte,
percebemos uma proliferação de teses, dissertações, monografias, artigos, livros, periódicos,
congressos, simpósios, palestras e toda série de mecanismos acadêmicos disponíveis que
problematizam as questões curriculares no Brasil e no mundo.
        Os currículos de graduação também têm sido objetos de análise, assim como projetos
político-pedagógicos de universidades e cursos. As licenciaturas no Brasil vêm se

1
  Coordenadora do curso de Teatro – Licenciatura da UFPEL e coordenadora da área de Teatro no PIBID/
UFPEL 2009.
2
  Livro de Renato Cohen, constante nas referências bibliográficas deste artigo.
(re)pensando na medida em que praticamente todos os cursos com mais de 10 anos de
funcionamento sofreram drásticas mudanças curriculares com a extinção das modalidades
licenciatura plena e licenciatura curta e a partir da Lei de Diretrizes e Bases para Educação
Básica de 1996. Para além deste fato, hoje vivenciamos no Brasil uma expansão jamais vista,
com o aumento considerável dos cursos de licenciatura (presenciais e à distância),
incentivados por programas do governo federal como PROUNI 3 (que concede bolsas em
universidade particulares), REUNI 4 (programa de reestruturação e expansão universitária) e
UAB 5 (propostas de cursos de graduação à distância). Outros programas de incentivo
específico às licenciaturas como Prodocência6 e PIBID 7 têm dado visibilidade aos cursos que
se propõem à formação de professores. Enfim, as atuais políticas públicas de incentivo à
educação superior e ao acesso à educação, bem como à formação de professores, são um
outro capítulo da história da educação brasileira a ser escrito e desenvolvido nas próximas
décadas por pesquisadores do campo educacional.


2. Mapeando as licenciaturas em teatro no Rio Grande do Sul


        Mas partamos agora para a pergunta que nos trás a esta escrita: ser ou não ser um
docente-artista? Brevemente apresentado o contexto no qual estão inseridas as licenciaturas
no Brasil contemporaneamente, este artigo intentará articular uma pequena análise da
composição dos currículos dos quatro cursos de Teatro – Licenciatura oferecidos no estado
do Rio Grande do Sul, no que tange à formação de um docente-artista em teatro. Por que esta
análise se faz pertinente, devem se perguntar alguns leitores? Respondo contextualizando a
implantação e situação atual destes cursos do extremo Sul do Brasil.
        Por muitos anos (desde a década de 70), no estado do Rio Grande do Sul, contamos
com duas licenciaturas em artes cênicas, uma na UFSM 8 e outra na UFRGS 9 . Em 1996 a


3
  Programa Universidade para Todos, ligado ao PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação),
informações no site: <http://siteprouni.mec.gov.br/>, acesso em 02/03/2010.
4
  Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, ligado ao PDE (Plano de
Desenvolvimento da Educação), informações no site: <http://reuni.mec.gov.br/>, aceso em 02/03/2010.
5
   Universidade Aberta do Brasil, vinculada a CAPES e ao MEC, informações no site:
<http://www.uab.capes.gov.br/>, acesso em 02/03/2010.
6
     Programa     de     Consolidação     das    Licenciaturas,    da     CAPES,     informações  em:
<http://www.capes.gov.br/educacao-basica/prodocencia>, />, acesso em 02/03/2010.
7
   Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, da CAPES, informações em:
<http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>, aceso em 02/03/2010.
8
  Universidade Federal de Santa Maria, localizada na região central do estado do RS.
9
  Universidade Federal do Rio Grande do Sul, localizada na capital do estado do RS, Porto Alegre.
UFSM opta por manter somente um curso de bacharelado em artes cênicas, fato decorrente
do demérito que as licenciaturas em artes sofreram em todo o Brasil durante várias décadas,
com a desvalorização concomitante do trabalho docente nas escolas e dos cursos de
licenciatura em artes nas universidades. Esta situação que “minorizou” as licenciaturas em
artes e seus alunos, bem como seus egressos, começou a ser paulatinamente revertida com a
LDB de 1996, que regulamenta a necessidade de professores com formação específica em
cada uma das quatro linguagens artísticas a serem contempladas na educação básica: música,
artes visuais, dança e teatro. Assim, currículos são reformulados, licenciaturas em educação
artística de caráter polivalente e licenciaturas curtas são extintas e são fortalecidos os cursos
de artes visuais, música, teatro e dança na modalidade licenciatura. Por muitos anos a
UFRGS foi a única responsável pela formação de professores de teatro no estado, contando
com o número ínfimo de 15 ingressos anuais para alunos de licenciatura no Departamento de
Arte Dramática do Instituto de Artes.
       Já nos anos 2000 o governo do estado do RS propõe a fundação de uma universidade
estadual, a UERGS 10 . Esta, em parceria com a FUNDARTE 11 , torna-se responsável pela
abertura de cursos de Pedagogia da Arte, que posteriormente viriam a ser nomeados de
licenciaturas, nas quatro áreas já citadas (música, artes visuais, teatro e dança). Portanto,
passam a ser dois os cursos de formação de professores de teatro no estado. A situação atual
da UERGS em todas as áreas e em todo estado é nebulosa, com unidades e cursos sendo
arbitrariamente fechados e outras penando com falta de docentes, funcionários e estrutura
básica para seu funcionamento. O ingresso de novos alunos nestes cursos de licenciatura em
artes da UERGS não acontece há alguns anos, sendo que a justificativa que se encontra no
site da instituição na internet é: “Curso em convênio com a FUNDARTE, aguardando
provimento de vagas para docentes por concurso público para novas turmas 12 ”. Contudo,
apesar das visíveis agruras pela qual passa a UERGS, na página de divulgação da educação
formal da FUNDARTE ainda constam os quatro cursos de licenciatura promovidos pela
parceria entre as duas instituições e no site da UERGS, em campo referente às vagas abertas
para edital de ingresso 2010 13 , a informação a qual se tem acesso é a de que há disponíveis

10
    Universidade do Estado do Rio Grande do Sul, multicampi.
11
    Fundação de Arte do Município de Montenegro, pertencente à Região do Vale do Caí.
12
     Dado obtido em: <http://www.uergs.edu.br/index.php?action=cursosLocais.php>. Acesso em
26/02/2010.
13
   Informação constante em :
<http://www.uergs.edu.br/index.php?action=vestibular&subaction=cursos&int_ano=2010&cod_vestibula
r=21>, acesso em 10/03/2010.
20 vagas para o curso noturno de graduação em Teatro – Licenciatura. No entanto, a
efetividade do início das aulas está condicionada ao provimento das vagas docentes.
       Já o REUNI é responsável pela abertura dos dois novos cursos de licenciatura em
teatro no estado: no ano de 2008 a UFPel abriu as portas para sua primeira turma de teatro e
em 2010 a UFSM retoma as atividades na licenciatura em teatro, abrindo 20 vagas para o
ingresso neste novo curso, concomitantemente aos 20 ingressos anuais que já oferecia em seu
bacharelado. Desta forma, contamos, oficialmente (segundo dados dos sites das
universidades), no ano de 2010, com quatro cursos de Teatro – Licenciatura em terras
gaúchas. Contabilizando: são 20 vagas da UERGS/FUNDARTE, 50 vagas da UFPel, 20
vagas da UFSM e 15 vagas da UFRGS, num total de 105 ingressantes anuais. O número
parece pequeno, se levarmos em consideração o fato de que toda a escola de ensino
fundamental e médio deveria contar com pelo menos um professor de teatro. No entanto, ao
pensarmos que durante mais de 10 anos somente 15 vagas eram abertas no estado para
licenciandos em teatro, temos um considerável avanço promovido, fundamentalmente, pelas
políticas de ampliação do ensino superior do atual governo federal, e isso em curtíssimo
espaço de tempo. Regionalmente, temos contempladas a Região Metropolitana, o Vale do
Caí, a Região Sul e a Região Central do estado, se pensarmos em áreas atendidas pelas
universidade que oferecem tais cursos.
       Assim, podemos vislumbrar no panorama da educação superior gaúcha a existência
de quatro cursos de licenciatura em teatro: um já consolidado e em funcionamento há mais de
três décadas (caso da UFRGS) e outros três jovens cursos, que se encontram em fase de
estruturação e de formação de seus quadros docentes e funcionais, o que certamente
acarretará que sejam feitas determinadas escolhas na construção de seus currículos e,
conseqüentemente, nas identidades destas graduações e de seus egressos.


3. Perguntas aos currículos: o que fala e o que cala


       Apresentei brevemente, portanto, quatro cursos de teatro que se propõem a formar
professores. Por conseguinte, surgem questões: que professor é este que queremos formar?
Quais os conteúdos e práticas básicos para aquisição da linguagem teatral? Quais os
conteúdos e práticas necessários à formação de um educador? É preciso fazer teatro para
ensinar teatro? O que é necessário para formar uma artista-docente? Que saberes devem ser
“postos em movimento” para forjar este profissional? Ou melhor: é possível (em quatro anos,
oito semestres e com uma média de 3.000 horas de atividades obrigatórias) formar um
docente-artista ou um artista-docente?
       Emergem, como documentos destes processos criativos (SALLES, 1998), os
currículos: documentos de identidade (SILVA, 1999)? Documentos que organizam,
classificam e dividem o conhecimento em tempos-espaços específicos, que normatizam o que
deve ou não ser aprendido, pensado, debatido ou calado. Que dão a luz a determinados
conhecimentos e a negam a outros, que, esquecidos, jazem no subsolo do teatro. No entanto,
seria ingênuo pensar em um currículo que abrangesse tudo que se possa relacionar ao campo
teatral (ou a qualquer outro campo do conhecimento), já que, para que possamos falar em um
campo, devemos assumir que em processos sociais e culturais algumas convenções foram, ao
longo dos tempos, sendo conhecidas e reconhecidas como aquelas que definem as
características (materiais e simbólicas) dos artefatos classificados como literatura, teatro,
dança, música, cinema ou ligados ao macro campo das artes (BOURDIEU).
       E mais uma vez trago a questão inicial: ser ou não ser um docente-artista? Esta tem
sido uma questão amplamente debatida na construção dos currículos dos cursos de teatro no
Brasil. Priorizam-se os conhecimentos específicos (teóricos e práticos) da linguagem teatral?
Abarca-se a possibilidade do discente experienciar conhecimentos técnicos do campo
(entendo como tal as atividades de iluminação, sonoplastia, figurinos, maquiagem,
cenografia, contrarregragem, etc.)? Como desenvolver a vivência e o aprendizado
pedagógico necessários ao exercício docente? Quais as questões que devem ser debatidas e
tornadas relevantes pelo currículo no que concerne ao campo da educação? Como e através
de que mecanismos seria possível formar um artista que pudesse exercer o magistério e um
professor que pudesse vivenciar e exercer as funções artísticas?
       Parece-me quase um consenso que grande parte dos currículos das licenciaturas em
teatro tenta abarcar estas duas dimensões: a artística e a pedagógica. O imbricamento entre
estas é que difere nas construções curriculares, conforme tentarei explicitar a seguir a partir
de exemplos retirados dos quatro currículos das licenciaturas em teatro no estado do RS, que
me parecem ser uma amostragem significativa dos modelos seguidos também por outros
cursos de graduação em todo o Brasil.
       Obviamente as escolhas na constituição de um currículo não são arbitrárias e não
dependem somente da vontade de determinado colegiado ou corpo docente. Há documentos
que as normatizam e regulamentam, nestes casos sendo os dois principais a Resolução 4, de 8
de março de 2004 da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação,
que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Teatro
(bacharelados e licenciaturas) e a Resolução CNE/CP2, de 19 de fevereiro de 2002, que
institui a duração e carga-horária dos cursos de licenciatura plena. Ambos os documentos
balizam, obrigatoriamente, os currículos que ora analiso. Somente a análise destes
documentos já propiciaria amplas discussões, já que ambos foram concebidos por comissões
de especialistas na área de teatro e de educação, respectivamente; ou seja, por pares.
       Sendo estas as diretrizes e resoluções que regulamentam os cursos, percebo em uma
primeira mirada sobre estes quatro currículos, que muito eles têm em comum, principalmente
no que concerne ao quadro de disciplinas obrigatórias, que, seguindo a Resolução CNE/ CES
4 de 2004, traz um conjunto de disciplinas de caráter teórico (história do teatro, estética,
crítica, dramaturgia, entre outras), outro de caráter prático-teórico (atuação, encenação,
corpo, voz, metodologias e fundamentos do ensino do teatro), bem como disciplinas
estritamente ligadas ao campo da educação (sociologia, psicologia, filosofia e história da
educação, organização da educação no Brasil, entre outras), estas sendo oferecidas pelas
faculdades de educação das universidade federais nos casos da UFRGS, UFSM e UFPel, bem
como os estágios docentes (400 horas obrigatórias segundo a Resolução CNE/CP2 de 2002)
e um grupo de disciplinas voltadas à pesquisa e projetos de conclusão de curso (envolvendo
monografias ou trabalhos práticos).
       No entanto, o que diferencia estes currículos? O que lhes dá caráter único? Como
cada um destes currículos responde às questões já anteriormente propostas neste texto, que
dizem respeito à formação de um docente-artista, que é o que parecem promulgar as leis que
normatizam e regulamentam as licenciaturas em teatro no Brasil? Voltam-se mais ao artista
futuro ou ao futuro docente? Quem ganha este “cabo-de-guerra” que (infelizmente) se coloca
em muitas realidades acadêmicas de cursos de licenciatura, entre os conhecimentos/práticas
específicos da área e os conhecimentos/práticas pedagógicos? Como construir uma
articulação entre dois campos nos processos de ensino-aprendizagem de um licenciando?
Como formar um docente-artista ou um artista-docente que consiga articular organicamente a
arte e a docência?
       Posso inferir, a partir de uma análise preliminar e superficial das grades curriculares
destes quatro cursos de graduação, que todos eles atendem às exigências dos documentos
acima citados, compreendendo núcleos de disciplinas ligadas à prática teatral, à teoria teatral,
à pesquisa acadêmica, à prática educacional e à reflexão pedagógica, bem como um conjunto
de créditos de formação livre e/ou caráter optativo e as atividades complementares de ensino.
No entanto, relativamente à distribuição espaço-temporal de proposta destes currículos, que
envolve as dimensões de carga-horária e de seriação, há diferenças que também falam sobre
este docente-artista que os currículos pretendem formar e como ocorrerá este processo
formativo.
       Uma tabela comparativa preliminar guiou algumas análises que aqui apresento. Esta
tabela desdobrou-se em pequenas tabelas que sugeriam algumas categorias analíticas, e é
partir delas que tecerei alguns comentários comparativos acerca destes quatro currículos que
pretendem a formação de um docente-artista em teatro.


3.1 Distribuição de cargas-horárias: em busca de autonomia na formação do
licenciando?


       Conforme já foi dito anteriormente, a distribuição das cargas horárias dos cursos
obedece a leis, normativas e resoluções específicas do MEC. A tabela abaixo demonstra que
há equiparação, pelo menos no que concerne ao quesito quantitativo, no número de horas a
serem cursadas pelo licenciando a fim de integralizar a graduação. São também semelhantes
as horas de atividades complementares (estipuladas em carga mínima de 200 horas pela
Resolução CNE/CP2 de 2002) e as horas de estágios curriculares docentes (estipuladas em
carga mínima de 400 horas pela mesma resolução). Somente a UFRGS ainda não adequou
sua carga-horária de atividades complementares à exigência do MEC.
       No que concerne à carga-horária dedicada às modalidades de disciplinas optativas,
eletivas ou de formação livre (as nomenclaturas divergem e não há normas que
regulamentem esta nomeação), percebemos que os currículos tendem a abrir espaço de
escolha para o acadêmico, possibilitando que este opte entre um elenco de disciplinas
oferecidas e indicadas pelo próprio projeto pedagógico do curso (caso da UFRGS e da
UERGS) ou dentro das ofertas de todos os cursos da universidade, desde que aprovada a
escolha do aluno pelo colegiado de curso (casos da UFPel e da UFSM).
       A inclusão de parte da grade curricular como optativa ou de formação livre tem como
finalidades: a) promover a mobilidade acadêmica, prevendo que intercâmbios de alunos em
cursos de outra universidades do Brasil sejam parte integrante da sua formação e b) gerar
autonomia, possibilitando ao discente traçar seus percursos formativos, buscando cursar
disciplinas e atividades que satisfaçam seus desejos e necessidades, ligando estas escolhas às
suas vontades investigativas e de atuação social, ou seja, vinculando o ensino à pesquisa e à
extensão.
        Muito tem se dito acerca desta modalidade de atividades de ensino que compreendem
formação livre e elencos de disciplinas optativas. Para que se efetivem escolhas produtivas,
há a necessidade de acompanhamento da construção do currículo deste aluno pelo colegiado
de curso ou pela figura de um professor orientador. No entanto, sabe-se que a estrutura
universitária nem sempre dá conta de atender a estas demandas, tornando-se mais fácil
indicar um elenco de disciplinas pré-estabelecidas entre as quais o aluno poderá escolher
cursar algumas, mas não se abrindo completamente as possibilidades de escolha. Assim
sendo, há uma movimento contraditório dentro deste espaço que deveria ser de escolha
consciente e individual, pois ao estabelecer restrições, volta-se à rigidez promovida pelos
currículos fechados. E esta contradição é fruto do despreparo técnico e da falta de recursos
das instituições para construir redes de escolha amplas e irrestritas aos seus alunos.
        É importante salientar que a construção curricular passa também pelas restrições
burocráticas e materiais decorrentes da situação das instituições superiores de ensino no país.
Não é somente do desejo de formar identidades docentes específicas que se constrói um
currículo: uma série de fatores o atravessa e vai transformando suas questões ideológicas e
políticas também em problemas e entraves técnicos, burocráticos e físicos a serem resolvidos.
As linhas de poder que atravessam um currículo podem ser insidiosas, reticulares e
invisíveis, no entanto, adquirem forma, cor e som ao materializarem-se como algumas das
carências e dificuldades enfrentadas nos últimos 50 anos pelas universidades públicas
brasileiras.


Tabela 1. Comparativa entre cargas-horárias nos currículos das licenciaturas em teatro no
RS:

Carga-horária Carga-              Carga-         Carga-horária       Carga-       Turno
              horária             horária        atividades          horária      das
              disciplinas         disciplinas    complementares      total do     aulas
              obrigatórias        eletivas                           curso
                                  (formação
Licenciaturas                     livre)

UERGS            2640 horas       180 horas      200 horas           3020 horas   noturno

UFPel            2533 horas       200 horas      200 horas           2933 horas   noturno
UFRGS            2640 horas        150 horas       90 horas           2880 horas   diurno

UFSM             2460 horas        180 horas       200 horas          2840 horas   diurno




       Outros fatores devem ser levados em consideração ao analisar-se um currículo,
como o perfil dos ingressantes desejados, que se caracteriza já na proposta de turno de
funcionamento do curso. Aliado a este fator, podemos também pensar na distribuição
das atividades de ensino por semestre e de sua respectiva carga-horária. Ao optar por
serem cursos noturnos, a UFPel e a UERGS abrem espaço tanto para o aluno
trabalhador da empresa formal como para aqueles professores do ensino básico que já
trabalham com teatro e carecem de formação específica na área ou até mesmo ainda não
possuem nenhuma graduação.

       O número de horas total dos currículos ora analisados pode parecer reduzido
(quando comparado a cursos na área da saúde, por exemplo), ficando em torno de 3.000
horas nas quatro licenciaturas em teatro do estado (200 horas somente a mais do que
indica a Resolução CNE/CP2 de 2002 como carga-horária mínima para uma
licenciatura: 2.800 horas). Entretanto, a possibilidade de integralização da graduação em
quatro anos é imprescindível para o público de alunos trabalhadores e/ou carentes
financeiramente, sendo que os primeiros cursam a graduação com grandes esforços, por
vezes abdicando de diversas esferas de suas vidas, e os segundos necessitam ingressar
no mercado de trabalho o quanto antes, sendo a conclusão do ensino superior a primeira
possibilidade de terem aberta esta porta.



3.2 Trabalhos de conclusão de curso formam pesquisador, artista ou professor?


Tabela 2. Atividades de trabalhos de conclusão de curso.


                Atividades   TCC prático       TCC teórico     Montagem final
                 de ensino
                             (coletivo ou      (monografia) (coletiva)

                             individual)
              Licenciatura
UERGS    X (em atuação)

                 UFPel                     X              X

                 UFRGS                     X

                 UFSM                      X              X




       No que concerne aos trabalhos de conclusão de curso em relação à prática
teatral, percebemos um interesse em alguns destes currículos em propiciar aos seus
alunos ocasiões de prática teatral levada a público, como no caso dos cursos da UFSM e
da UFPel com suas montagens coletivas (espetáculos dirigidos por professores nos
quais todos alunos licenciandos tomarão parte da prática artística, como atores e ou em
alguma outra função do espetáculo) e no caso da UERGS com um trabalho de conclusão
de curso prático na área de atuação, ou seja, um trabalho de conclusão muito semelhante
àqueles dos bacharelados em interpretação teatral.

       Já o curso da UFRGS privilegia a monografia final, teórica, baseada em trabalho
de pesquisa individual do formando, como trabalho de conclusão de curso. Esses
projetos de graduação da licenciatura em teatro da UFRGS são levados a público (tanto
como os projetos de bacharelado em atuação ou direção teatral) através dos Painéis da
Licenciatura, que ocorrem semestralmente junto com a Mostra Teatro DAD, que
engloba a apresentação de trabalhos de formandos em artes cênicas desta instituição.
Assim, do mesmo modo que os trabalhos de prática teatral são de conhecimento
público, as práticas e teorias (teatrais e pedagógicas) investigadas nas monografias dos
licenciandos, sejam elas atreladas ou não ao campo da educação, também se tornam de
conhecimento público, já que apresentadas e debatidas em sessões abertas. A UFSM e a
UFPel também propõem em seus currículos monografias finais de curso, mas nenhuma
turma ingressante alcançou este estágio de sua graduação ainda, por serem cursos
novos. Portanto, as diretrizes que os TCCs seguirão nestes dois cursos ainda não estão
estabelecidas.

       Posso inferir, a partir das características apresentadas por estas propostas de
trabalhos de conclusão de curso de graduação, que a dimensão investigativa coloca-se
tanto no âmbito da formação teatral como no da formação pedagógica, propiciando ao
aluno experiências práticas com a linguagem teatral, espaços de reflexão e articulação
teórica e iniciação aos caminhos de pesquisas individuais e/ou coletivas. Deste modo,
estágios docentes obrigatórios, projetos de pesquisa (teóricos e/ou práticos, almejando a
não dissociação entre estas duas esferas) e investigações cênicas articulam-se na
constituição dos percursos formativos dos futuros professores de teatro, buscando
contemplar, pelo menos através das atividades obrigatórias nos últimos três semestres
de graduação, a formação de um docente-artista em teatro que possua ferramentas para
pesquisar em sua área de atuação.

        O cabedal de disciplinas que abordam questões metodológicas e de iniciação à
pesquisa também demonstram o interesse destes currículos em promover (para aquém
ou para além das possíveis experiências como bolsistas de iniciação científica, por
exemplo) o acesso ao conhecimento acadêmico ligado à dimensão da pesquisa, assim
como as horas de atividades complementares e de formação livre privilegiam
contemplar as atividades de extensão, compondo assim o triângulo “ensino, pesquisa e
extensão” que está na base da constituição e da ação das universidades públicas
brasileiras.

        Certamente a efetividade das intenções e propostas trazidas por um currículo só
se dá na prática, só se concretiza no dia-a-dia de um curso, nas relações professor-aluno,
aluno-aluno, aluno-funcionário, aluno-instituição, entre tantas outras que compõem os
meandros universitários. Cumpre notar, contudo, que os currículos devem ser estruturas
relativamente cambiantes, abertas ao debate e à incorporação das necessidades locais,
regionais e, inclusive, pessoais dos sujeitos envolvidos em sua execução. Devem,
também, em meu ponto de vista, ser estruturas pré-dispostas à desestrutura (ainda que
estruturadas e estruturantes), já que o fracasso é parte integrante de qualquer projeto, de
qualquer proposta que se coloque em prática. E aprender com o que não funciona,
deslocando aqueles saberes aos quais estamos agarrados e que julgamos serem os
únicos cabíveis, é parte profícua e saudável dos processos de construção de um
currículo, de um curso e dos sujeitos neles envolvidos.
3.3 É possível articular (organicamente) teatro e educação?


       Quatrocentas horas de estágios docentes obrigatórios levam as quatro licenciaturas
analisadas, ou seus currículos, a contar com no mínimo três atividades de estágio. Tanto a
UFRGS como a UERGS possuem em seus currículos disciplinas de introdução ao estágio e
dois estágios obrigatórios, um no ensino fundamental e outro no ensino médio. A UFPel e a
UFSM contam com três estágios obrigatórios em sua grade curricular, sendo que um deles
voltado à educação informal, ou seja, aos trabalhos com aulas de teatro direcionados aos mais
diversos públicos e comunidades. A UFPel abre, inclusive, a possibilidade de que seus alunos
realizem um dos estágios em escolas de educação infantil, bem como nas séries iniciais do
ensino fundamental.
       Esses “estágios na comunidade”, como vêm sendo comumente chamados nos
currículos, apresentam-se como uma ponte necessária entre o futuro docente-artista e as
conjunturas e espaços nos quais atuará, já que é notório e parte do processo histórico-cultural
do Brasil que aulas de teatro e/ou a formação de grupos teatrais sejam constantes em projetos
sociais, em comunidades, em associações de bairros, em ONGs, em projetos extra-classe, em
espaços de convívio e de promoção do bem-estar social voltados aos mais diferentes públicos
e faixas-etárias. Asilos, abrigos da FASE, presídios, casas de passagem, associações de
bairro, creches, entre tantos outros espaços, recebem as conhecidas “oficinas de teatro”. Isso
sem falar na longa tradição brasileira de grupos de teatro amador e estudantil. E essa
realidade não pode ser negada na construção de um currículo de uma licenciatura em teatro,
já que os espaços fora do ensino regular básico são muito mais numerosos e mais abertos à
atuação de um docente-artista em teatro do que as instituições escolares propriamente.
       Portanto, torna-se premente o “peso” que adquirem tais atividades de estágios dentro
da integralização curricular destes licenciandos, que passarão por volta de 15% da carga-
horária obrigatória de suas graduações envolvidos com os estágios docentes. Isto vai ao
encontro de outra exigência da Resolução CNE/CES 2 de 2002, que torna obrigatórias nas
licenciaturas no mínimo 400 horas de atividades de práticas educacionais, estas para além
dos estágios. Essa exigência obriga a existência de disciplinas e/ou atividades curriculares de
caráter pedagógico não puramente teóricas, que coloquem o aluno frente a frente com as
metodologias, práticas e realidades das escolas e ambientes educacionais os mais
heterogêneos. No entanto, cumpre notar que não é em todas as propostas que a formação
deste profissional possuidor de experiências artísticas e pedagógicas possibilita uma
incorporação orgânica destas etapas, que deveriam estar imbricadas e indelevelmente
relacionadas na formação de um artista-docente ou docente-artista.
         Como se pode visualizar no quadro abaixo, as quatro licenciaturas em questão
ofertam disciplinas de cunho pedagógico a seus alunos desde o primeiro semestre da grade.
Porém, as disciplinas nas quais se propõem uma articulação mais direta e prática entre o
teatro e a educação só vão figurar em alguns currículos a partir do quinto semestre da
seriação, ouse seja, quando o aluno tiver integralizado mais de 50% do curso de graduação,
como no caso da UFRGS. A UFSM e a UERGS propiciam aos alunos desde o terceiro
semestre de curso disciplinas com este caráter, bem como a UFPel desde o primeiro ano de
curso.
         Parece-me que esta desarticulação (ou articulação precária) entre o teatro e a
educação em alguns currículos de licenciaturas em teatro deve-se à herança dos antigos
                                         14
currículos de curso “4+1 ou 3+1”              , nos quais os alunos recebiam uma formação artística
absolutamente desvinculada de sua futura prática pedagógica, promovendo improváveis (ou
impossíveis) construções de sentidos nas atividades curriculares pedagógicas, que “surgiam”
dentro da seriação completamente dissociadas dos conteúdos específicos, como um “deus ex-
machina” capaz de “salvar” a vida profissional destes egressos com o título de licenciados,
que lhes daria o direito a serem professores em suas respectivas áreas, não sofrendo, desta
forma, as agruras de uma carreira artística. O magistério surge não como uma opção
consciente, mas como uma possibilidade de subsistência, tão somente.
         As colocações anteriores não se apresentam aqui como uma forma de julgamento
arbitrário, e sim buscam problematizar os traços herdados de um passado muito recente na
educação brasileira, já que grande parte dos professores que hoje atuam nos cursos de
licenciatura no Brasil é oriunda desta formação em que imperava a absoluta desarticulação
entre a educação e as áreas de conhecimento específico, com a evidente supremacia destas
sobre aquela. E não foi o campo das artes o único a sofrer com este modelo: disciplinas como
biologia, física, química, matemática, história, geografia, filosofia, português, entre outras,
sofreram (e possivelmente sofram) as conseqüências nefastas destas estruturas curriculares.




14
   Neste formato curricular, os alunos cursavam três ou quatro anos de um bacharelado, para depois, em
mais um ano, cumprirem as exigências curriculares obrigatórias para receberem também o diploma de
licenciados. Assim, estes bacharéis-licenciados formavam-se com poucas possibilidades de construir
articulações entre a educação e suas áreas de atuação/ formação inicial.
Tabela 3. Atividades de estágios docentes e disciplinas articulando teatro e
educação.



 Atividades    Número de estágios e área     Semestre de início   Semestre de início
               de abrangência                disciplinas          disciplinas teatro e
   de ensino
                                             pedagógicas          educação


Licenciatura

UERGS          2 (EF e EM) + disciplina de   1º                   3º
               introdução ao estágio

UFPel          3 (EI, EF, EM e comunidade)   1º                   2º

UFRGS          2 (EF séries finais e EM) +   1º                   5º
               disciplina de introdução ao
               estágio

UFSM           3 (EF, EM e comunidade)       1º                   3º




4. Interessa-nos o que está guardado no porão do teatro?


        O porão é lugar que para muitos pode ser insalubre, úmido, sujo, escuro e, por isso
mesmo, passível de esquecimento. É para onde vai aquilo que não nos serve mais, aquilo que
se quer esconder (mesmo sabendo que não se pode simplesmente desfazer-se destes objetos e
de seus sentidos e significados). O porão é também o lugar da memória, do saudosismo, do
passado. Para as pessoas do teatro e para as crianças o porão pode ter um sentido diverso: é
território fértil. É no porão que se escondem não somente aranhas, ratos e coisas velhas: é no
porão que se escondem histórias, ditos e não-ditos do passado que podem ser presente
quando evocados.
        Assim sendo, não só o que é posto nestes currículos, mas o que é silenciado (ou seja,
as dimensões não contempladas), também fala. Aquilo que foi armazenado, empilhado,
guardado no porão também é parte, ainda que latente, dos currículos. Não trabalho aqui a
partir de hipóteses de currículos ocultos, ou teorias semelhantes, somente julgo pertinente
levantar algumas temáticas e/ou pontos de vista que não constam (ou constam parcamente)
nestas grades curriculares e que fazem parte das discussões contemporâneas tanto no campo
educacional como no campo teatral.
       Uma formação humanístico-pedagógica contemporânea se faz com quantas
disciplinas? Esta me parece uma questão pertinente em tempos culturalistas. Onde estão,
nestes currículos, categorias como gênero, raça, etnia, nacionalidade, sexualidade, classe
social, faixa-etária, enfim, todas estas dimensões exaustivamente abordadas pelos estudos
culturais? Há espaço nestes currículos para o debate acerca destas temáticas que emergem na
quase totalidade dos discursos contemporâneos? Estão estes currículos contemplando o
debate atual (e necessário) acerca destas questões?
       Alguns podem responder que estes temas deveriam atravessar as discussões em todas
as instâncias, disciplinares ou não, de um processo de formação docente contemporâneo.
Creio que sim, porém se estas forem silenciadas já na composição dos currículos, como
lançá-las à luz do dia? Como retirá-las do porão e torná-las histórias do presente? Como
discutir religião, mídia, novas tecnologias, meio-ambiente, ética, consumo e saúde como
protagonistas na história de um docente-artista, e não como meros coadjuvantes em sua
formação?
       Não pretendo responder a estas questões, mas, mais uma vez, problematizar aquilo
que é (praticamente) silenciado nestes currículos que ora analiso. Há presentes algumas
disciplinas dispersas que tratam de temas como educação especial, educação inclusiva e
LIBRAS (disciplina agora obrigatória por lei em todas as licenciaturas do Brasil). A ética
profissional e a identidade docente também se fazem presentes nos títulos de algumas
propostas disciplinares. Educação indígena, de jovens e adultos e quilombola não parecem
figurar no quadro disciplinar. Outra ausência significativa em quase todos os currículos é a
de disciplinas que debatam a mídia e as novas tecnologias em sua relação tanto com o teatro
como com a educação, debates estes presentes em ambos os campos.
       Por fim, percebemos disciplinas de caráter técnico de aprendizagem teatral relegadas
ao plano de optativas e/ou formação livre. É óbvio que um curso que tem quatro anos como
ideal de integralização para obtenção do grau de licenciado não pode inserir em sua grade
curricular obrigatória todos estes conhecimentos aqui elencados como necessários, e todos os
outros que este próprio texto silenciou, já que trabalhamos na tênue linha entre o possível e o
desejável. É o ponto de vista de um sujeito único, que através de seus horizontes de
expectativas em relação ao teatro, à educação e à formação de docentes-artistas guia este
texto. Atravessado este ponto de vista, por diferentes discursos, pelas muitas vozes que
constituíram e constituem esta professoratriz que sou, esta docente-artista em construção.
        Ficam as questões, na esperança de que elas abram espaços de debate e dêem a pensar
a todos aqueles que constroem e vivenciam em seus corpos estes currículos e, portanto, estes
cursos de licenciatura em teatro do sul do Brasil.


Referências bibliográficas:


BOURDIEU, Pierre. The field of cultural production – Essays on Art and Literature.
Columbia: Columbia University Press, 1993.

______. As Regras da Arte – Gênese e estrutura do campo literário. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.

CANDAU, V. M. (org). Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
COHEN, Renato. Work in Progress na Cena Contemporânea. São Paulo: Perspectiva,
1998.

COSTA, M. V.; SILVEIRA, R.M.H.; SOMMER, L. H. Estudos culturais, educação e
pedagogia. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 23-61, Maio/Jun/Jul/Ago 2003.

LARROSA, Jorge. Tecnologias do eu e educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. O
Sujeito da Educação – estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 35-86.

LOURO, Guacira Lopes et al (orgs.). Corpo, Gênero e Sexualidade – Um debate
contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003.
LARROSA, J.; LARA, N. P. de. Imagens do outro. Petrópolis: Vozes, 1998.
OROZCO GÓMEZ, Guillermo. La influencia de la TV em la educación de niños y
jovenes: opiniones, mitos, hechos. México: Universidad Iberoamericana, 1992.

SALLES, C. A. Gesto Inacabado – Processo de criação artística. São Paulo: Annablume,
1998.
SILVA, T. T. da. Documentos de identidade – Uma introdução às teorias do currículo. 11ª
reimp. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
SILVA, T. T. da (org.). Identidade e diferença – A perspectivas dos Estudos Culturais. 9ª
ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
Taís Ferreira é professora de teatro, atriz e pesquisadora. Bacharel em Interpretação Teatral
e Mestre em Educação pela UFRGS. Foi professora nas graduações em teatro da UFRGS,
UFSM e atualmente é coordenadora do curso de Teatro – Licenciatura da UFPel e da área de
teatro no PIBID/UFPel 2009. Foi professora em vários projetos sociais e no curso de
Formação de Atores da UCS. Atuou em diversos espetáculos e publicou artigos e livros sobre
teatro. Contato: taisferreirars@yahoo.com.br ou http://historiadoteatroufpel.blogspot.com/

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Ser ou não ser um docente-artista

Livro faz teatro o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamental
Livro faz teatro   o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamentalLivro faz teatro   o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamental
Livro faz teatro o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamentalHelena Romero
 
GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...
GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...
GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...EDSON HANSEN SANT ' ANA
 
43577454 apostila-usp-literatura-modulo-03
43577454 apostila-usp-literatura-modulo-0343577454 apostila-usp-literatura-modulo-03
43577454 apostila-usp-literatura-modulo-03Lilly Li
 
Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...
Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...
Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...pibiduergsmontenegro
 
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrjRelatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrjMarcelinho Anato
 
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrjRelatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrjMarcelinho Anato
 
Teatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTeatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTaís Ferreira
 
projeto teatro de leitores.pdf
projeto teatro de leitores.pdfprojeto teatro de leitores.pdf
projeto teatro de leitores.pdfAgathaGoss
 
A leitura literária no ensino médio um breve olhar sobre a lit africana apr...
A leitura literária no ensino médio   um breve olhar sobre a lit africana apr...A leitura literária no ensino médio   um breve olhar sobre a lit africana apr...
A leitura literária no ensino médio um breve olhar sobre a lit africana apr...Ines Astreia Marques
 
Dancando na-escola-1254151985
Dancando na-escola-1254151985Dancando na-escola-1254151985
Dancando na-escola-1254151985andreteatro
 
Carta à nova administração alunos de teatro
Carta à nova administração   alunos de teatroCarta à nova administração   alunos de teatro
Carta à nova administração alunos de teatroSérgio Azevedo
 
Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas 2012
Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas  2012Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas  2012
Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas 2012Monique Carvalho
 
Arte livro 2013 - Curriculo minimo
Arte livro 2013 - Curriculo minimoArte livro 2013 - Curriculo minimo
Arte livro 2013 - Curriculo minimoMunique Silva
 

Semelhante a Ser ou não ser um docente-artista (20)

Livro faz teatro o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamental
Livro faz teatro   o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamentalLivro faz teatro   o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamental
Livro faz teatro o ensino de teatro na ed. infantil e no ensino fundamental
 
GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...
GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...
GESTO E IMAGEM NO ENSINO COLETIVO DE FLAUTA DOCE: CONTEÚDOS MÚLTIPLOS NA DISC...
 
Manual musica 2012
Manual musica 2012Manual musica 2012
Manual musica 2012
 
43577454 apostila-usp-literatura-modulo-03
43577454 apostila-usp-literatura-modulo-0343577454 apostila-usp-literatura-modulo-03
43577454 apostila-usp-literatura-modulo-03
 
Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...
Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...
Licenciatura em música na universidade estadual do rio grande do sul, wolffen...
 
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrjRelatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
 
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrjRelatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
Relatório cidade-constitucional marcelo antunes ufrrj
 
Teatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia culturalTeatro amador como pedagogia cultural
Teatro amador como pedagogia cultural
 
Manifesto de ji paraná
Manifesto de ji paranáManifesto de ji paraná
Manifesto de ji paraná
 
Folder ii (1)
Folder ii (1)Folder ii (1)
Folder ii (1)
 
Danca escola
Danca escolaDanca escola
Danca escola
 
projeto teatro de leitores.pdf
projeto teatro de leitores.pdfprojeto teatro de leitores.pdf
projeto teatro de leitores.pdf
 
A leitura literária no ensino médio um breve olhar sobre a lit africana apr...
A leitura literária no ensino médio   um breve olhar sobre a lit africana apr...A leitura literária no ensino médio   um breve olhar sobre a lit africana apr...
A leitura literária no ensino médio um breve olhar sobre a lit africana apr...
 
Dancando na-escola-1254151985
Dancando na-escola-1254151985Dancando na-escola-1254151985
Dancando na-escola-1254151985
 
A Pureza do Silêncio
A Pureza do SilêncioA Pureza do Silêncio
A Pureza do Silêncio
 
Carta à nova administração alunos de teatro
Carta à nova administração   alunos de teatroCarta à nova administração   alunos de teatro
Carta à nova administração alunos de teatro
 
Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas 2012
Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas  2012Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas  2012
Projeto de apresentacao do TATÁ para as escolas 2012
 
Currúlo reflexões
Currúlo reflexõesCurrúlo reflexões
Currúlo reflexões
 
Elvia apost0001
Elvia apost0001Elvia apost0001
Elvia apost0001
 
Arte livro 2013 - Curriculo minimo
Arte livro 2013 - Curriculo minimoArte livro 2013 - Curriculo minimo
Arte livro 2013 - Curriculo minimo
 

Mais de Taís Ferreira

Pelo devir de uma historiografia do teatro gaucho
Pelo devir de uma historiografia do teatro gauchoPelo devir de uma historiografia do teatro gaucho
Pelo devir de uma historiografia do teatro gauchoTaís Ferreira
 
Workshop-teachers-vienna 2016
Workshop-teachers-vienna 2016Workshop-teachers-vienna 2016
Workshop-teachers-vienna 2016Taís Ferreira
 
Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.
Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.
Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.Taís Ferreira
 
O Poeta, a crente e o berrante
O Poeta, a crente e o berranteO Poeta, a crente e o berrante
O Poeta, a crente e o berranteTaís Ferreira
 
Infâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aqui
Infâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aquiInfâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aqui
Infâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aquiTaís Ferreira
 
Artefatos culturais para infância e a escola
Artefatos culturais para infância e a escolaArtefatos culturais para infância e a escola
Artefatos culturais para infância e a escolaTaís Ferreira
 
Fundamentos da linguagem teatral
Fundamentos da linguagem teatralFundamentos da linguagem teatral
Fundamentos da linguagem teatralTaís Ferreira
 
Por uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreira
Por uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreiraPor uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreira
Por uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreiraTaís Ferreira
 
Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)
Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)
Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)Taís Ferreira
 
Identidades no contexto escolar livro
Identidades no contexto escolar   livroIdentidades no contexto escolar   livro
Identidades no contexto escolar livroTaís Ferreira
 
Conversações sobre teatro e educação livro
Conversações sobre teatro e educação   livroConversações sobre teatro e educação   livro
Conversações sobre teatro e educação livroTaís Ferreira
 
Capa livro identidades no contexto escolar
Capa livro identidades no contexto escolarCapa livro identidades no contexto escolar
Capa livro identidades no contexto escolarTaís Ferreira
 
Capa livro conversações sobre teatro e educação
Capa livro conversações sobre teatro e educaçãoCapa livro conversações sobre teatro e educação
Capa livro conversações sobre teatro e educaçãoTaís Ferreira
 
Múltiplas linguagens revista art& 02
Múltiplas linguagens   revista art& 02Múltiplas linguagens   revista art& 02
Múltiplas linguagens revista art& 02Taís Ferreira
 
As infâncias no teatro para crianças revista art& 01
As infâncias no teatro para crianças   revista art& 01As infâncias no teatro para crianças   revista art& 01
As infâncias no teatro para crianças revista art& 01Taís Ferreira
 
Oficina fantoches papel mache
Oficina fantoches papel macheOficina fantoches papel mache
Oficina fantoches papel macheTaís Ferreira
 
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...Taís Ferreira
 

Mais de Taís Ferreira (20)

Pelo devir de uma historiografia do teatro gaucho
Pelo devir de uma historiografia do teatro gauchoPelo devir de uma historiografia do teatro gaucho
Pelo devir de uma historiografia do teatro gaucho
 
Selfpresentation
Selfpresentation Selfpresentation
Selfpresentation
 
Workshop-teachers-vienna 2016
Workshop-teachers-vienna 2016Workshop-teachers-vienna 2016
Workshop-teachers-vienna 2016
 
Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.
Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.
Slides II Seminário Subtexto - Galpão, BH, Minas, 2011.
 
O Poeta, a crente e o berrante
O Poeta, a crente e o berranteO Poeta, a crente e o berrante
O Poeta, a crente e o berrante
 
Do amor à profissão
Do amor à profissãoDo amor à profissão
Do amor à profissão
 
Infâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aqui
Infâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aquiInfâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aqui
Infâncias, fotografias, literatura para crianças: cadê o teatro que estava aqui
 
Artefatos culturais para infância e a escola
Artefatos culturais para infância e a escolaArtefatos culturais para infância e a escola
Artefatos culturais para infância e a escola
 
Fundamentos da linguagem teatral
Fundamentos da linguagem teatralFundamentos da linguagem teatral
Fundamentos da linguagem teatral
 
Por uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreira
Por uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreiraPor uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreira
Por uma (des)necessária pedagogia do espectador taís ferreira
 
Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)
Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)
Cena 4 - Pequena tragédia para crianças em um ato (2005)
 
Identidades no contexto escolar livro
Identidades no contexto escolar   livroIdentidades no contexto escolar   livro
Identidades no contexto escolar livro
 
Conversações sobre teatro e educação livro
Conversações sobre teatro e educação   livroConversações sobre teatro e educação   livro
Conversações sobre teatro e educação livro
 
Capa livro identidades no contexto escolar
Capa livro identidades no contexto escolarCapa livro identidades no contexto escolar
Capa livro identidades no contexto escolar
 
Capa livro conversações sobre teatro e educação
Capa livro conversações sobre teatro e educaçãoCapa livro conversações sobre teatro e educação
Capa livro conversações sobre teatro e educação
 
Múltiplas linguagens revista art& 02
Múltiplas linguagens   revista art& 02Múltiplas linguagens   revista art& 02
Múltiplas linguagens revista art& 02
 
As infâncias no teatro para crianças revista art& 01
As infâncias no teatro para crianças   revista art& 01As infâncias no teatro para crianças   revista art& 01
As infâncias no teatro para crianças revista art& 01
 
Oficina fantoches papel mache
Oficina fantoches papel macheOficina fantoches papel mache
Oficina fantoches papel mache
 
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...Moitará e oigalê   o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
Moitará e oigalê o jogo das identidades populares brasileiras e a commedia ...
 
Teatro brasileiro
Teatro brasileiroTeatro brasileiro
Teatro brasileiro
 

Último

Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfaulasgege
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPanandatss1
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxBiancaNogueira42
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirFCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirIedaGoethe
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.keislayyovera123
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaaulasgege
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarCaixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarIedaGoethe
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 

Último (20)

Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SP
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
 
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirFCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarCaixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 

Ser ou não ser um docente-artista

  • 1. Ser ou não ser um docente-artista? - Questões sobre os currículos das licenciaturas em teatro no RS Autora: Taís Ferreira 1 1. Questionando currículos de licenciaturas, perguntando sobre identidades docentes Este é um texto de perguntas, não de respostas. Seu título: a mais famosa das questões dramáticas. Pode parecer lugar comum este título, assim como poderão parecer as perguntas propostas nesse artigo. No entanto, me parece que o exercício de questionar possibilita a abertura de espaços para o debate, para a discussão, para a reflexão. E este é um momento eminentemente propício a estes exercícios na universidade brasileira, já que sentimos e vivenciamos, em nossos corpos e cotidianos, talvez (ouso dizer) as transformações mais radicais que a universidade pública brasileira tenha sofrido desde seus primórdios. Este, portanto, é um texto tecido pelas dúvidas que atravessam minha prática como professora, como atriz, como pesquisadora, como coordenadora de um curso de licenciatura em teatro. E, possivelmente, sejam dúvidas pertinentes aos diálogos que desenvolveremos (alunos/as, professores/as, funcionários/as) na construção deste novo curso: a graduação em Teatro- Licenciatura da UFPel, que é hoje um “working in progress na cena contemporânea 2 ”. Muito tem se falado, escrito, pensado e discutido acerca dos currículos escolares no último meio século. Muito tem se dito acerca da escola como instrumento disciplinar e de seus dispositivos de controle dos corpos e mentes infantes e púberes. Muito tem se pensado sobre como se constituem identidades docentes e identidades discentes. Muito tem se articulado em nome de uma transdisciplinaridade desejável e de uma desconstrução das lógicas cartesianas e disciplinares de organização curricular. Muito, muito, muito. Destarte, percebemos uma proliferação de teses, dissertações, monografias, artigos, livros, periódicos, congressos, simpósios, palestras e toda série de mecanismos acadêmicos disponíveis que problematizam as questões curriculares no Brasil e no mundo. Os currículos de graduação também têm sido objetos de análise, assim como projetos político-pedagógicos de universidades e cursos. As licenciaturas no Brasil vêm se 1 Coordenadora do curso de Teatro – Licenciatura da UFPEL e coordenadora da área de Teatro no PIBID/ UFPEL 2009. 2 Livro de Renato Cohen, constante nas referências bibliográficas deste artigo.
  • 2. (re)pensando na medida em que praticamente todos os cursos com mais de 10 anos de funcionamento sofreram drásticas mudanças curriculares com a extinção das modalidades licenciatura plena e licenciatura curta e a partir da Lei de Diretrizes e Bases para Educação Básica de 1996. Para além deste fato, hoje vivenciamos no Brasil uma expansão jamais vista, com o aumento considerável dos cursos de licenciatura (presenciais e à distância), incentivados por programas do governo federal como PROUNI 3 (que concede bolsas em universidade particulares), REUNI 4 (programa de reestruturação e expansão universitária) e UAB 5 (propostas de cursos de graduação à distância). Outros programas de incentivo específico às licenciaturas como Prodocência6 e PIBID 7 têm dado visibilidade aos cursos que se propõem à formação de professores. Enfim, as atuais políticas públicas de incentivo à educação superior e ao acesso à educação, bem como à formação de professores, são um outro capítulo da história da educação brasileira a ser escrito e desenvolvido nas próximas décadas por pesquisadores do campo educacional. 2. Mapeando as licenciaturas em teatro no Rio Grande do Sul Mas partamos agora para a pergunta que nos trás a esta escrita: ser ou não ser um docente-artista? Brevemente apresentado o contexto no qual estão inseridas as licenciaturas no Brasil contemporaneamente, este artigo intentará articular uma pequena análise da composição dos currículos dos quatro cursos de Teatro – Licenciatura oferecidos no estado do Rio Grande do Sul, no que tange à formação de um docente-artista em teatro. Por que esta análise se faz pertinente, devem se perguntar alguns leitores? Respondo contextualizando a implantação e situação atual destes cursos do extremo Sul do Brasil. Por muitos anos (desde a década de 70), no estado do Rio Grande do Sul, contamos com duas licenciaturas em artes cênicas, uma na UFSM 8 e outra na UFRGS 9 . Em 1996 a 3 Programa Universidade para Todos, ligado ao PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), informações no site: <http://siteprouni.mec.gov.br/>, acesso em 02/03/2010. 4 Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, ligado ao PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), informações no site: <http://reuni.mec.gov.br/>, aceso em 02/03/2010. 5 Universidade Aberta do Brasil, vinculada a CAPES e ao MEC, informações no site: <http://www.uab.capes.gov.br/>, acesso em 02/03/2010. 6 Programa de Consolidação das Licenciaturas, da CAPES, informações em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/prodocencia>, />, acesso em 02/03/2010. 7 Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, da CAPES, informações em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>, aceso em 02/03/2010. 8 Universidade Federal de Santa Maria, localizada na região central do estado do RS. 9 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, localizada na capital do estado do RS, Porto Alegre.
  • 3. UFSM opta por manter somente um curso de bacharelado em artes cênicas, fato decorrente do demérito que as licenciaturas em artes sofreram em todo o Brasil durante várias décadas, com a desvalorização concomitante do trabalho docente nas escolas e dos cursos de licenciatura em artes nas universidades. Esta situação que “minorizou” as licenciaturas em artes e seus alunos, bem como seus egressos, começou a ser paulatinamente revertida com a LDB de 1996, que regulamenta a necessidade de professores com formação específica em cada uma das quatro linguagens artísticas a serem contempladas na educação básica: música, artes visuais, dança e teatro. Assim, currículos são reformulados, licenciaturas em educação artística de caráter polivalente e licenciaturas curtas são extintas e são fortalecidos os cursos de artes visuais, música, teatro e dança na modalidade licenciatura. Por muitos anos a UFRGS foi a única responsável pela formação de professores de teatro no estado, contando com o número ínfimo de 15 ingressos anuais para alunos de licenciatura no Departamento de Arte Dramática do Instituto de Artes. Já nos anos 2000 o governo do estado do RS propõe a fundação de uma universidade estadual, a UERGS 10 . Esta, em parceria com a FUNDARTE 11 , torna-se responsável pela abertura de cursos de Pedagogia da Arte, que posteriormente viriam a ser nomeados de licenciaturas, nas quatro áreas já citadas (música, artes visuais, teatro e dança). Portanto, passam a ser dois os cursos de formação de professores de teatro no estado. A situação atual da UERGS em todas as áreas e em todo estado é nebulosa, com unidades e cursos sendo arbitrariamente fechados e outras penando com falta de docentes, funcionários e estrutura básica para seu funcionamento. O ingresso de novos alunos nestes cursos de licenciatura em artes da UERGS não acontece há alguns anos, sendo que a justificativa que se encontra no site da instituição na internet é: “Curso em convênio com a FUNDARTE, aguardando provimento de vagas para docentes por concurso público para novas turmas 12 ”. Contudo, apesar das visíveis agruras pela qual passa a UERGS, na página de divulgação da educação formal da FUNDARTE ainda constam os quatro cursos de licenciatura promovidos pela parceria entre as duas instituições e no site da UERGS, em campo referente às vagas abertas para edital de ingresso 2010 13 , a informação a qual se tem acesso é a de que há disponíveis 10 Universidade do Estado do Rio Grande do Sul, multicampi. 11 Fundação de Arte do Município de Montenegro, pertencente à Região do Vale do Caí. 12 Dado obtido em: <http://www.uergs.edu.br/index.php?action=cursosLocais.php>. Acesso em 26/02/2010. 13 Informação constante em : <http://www.uergs.edu.br/index.php?action=vestibular&subaction=cursos&int_ano=2010&cod_vestibula r=21>, acesso em 10/03/2010.
  • 4. 20 vagas para o curso noturno de graduação em Teatro – Licenciatura. No entanto, a efetividade do início das aulas está condicionada ao provimento das vagas docentes. Já o REUNI é responsável pela abertura dos dois novos cursos de licenciatura em teatro no estado: no ano de 2008 a UFPel abriu as portas para sua primeira turma de teatro e em 2010 a UFSM retoma as atividades na licenciatura em teatro, abrindo 20 vagas para o ingresso neste novo curso, concomitantemente aos 20 ingressos anuais que já oferecia em seu bacharelado. Desta forma, contamos, oficialmente (segundo dados dos sites das universidades), no ano de 2010, com quatro cursos de Teatro – Licenciatura em terras gaúchas. Contabilizando: são 20 vagas da UERGS/FUNDARTE, 50 vagas da UFPel, 20 vagas da UFSM e 15 vagas da UFRGS, num total de 105 ingressantes anuais. O número parece pequeno, se levarmos em consideração o fato de que toda a escola de ensino fundamental e médio deveria contar com pelo menos um professor de teatro. No entanto, ao pensarmos que durante mais de 10 anos somente 15 vagas eram abertas no estado para licenciandos em teatro, temos um considerável avanço promovido, fundamentalmente, pelas políticas de ampliação do ensino superior do atual governo federal, e isso em curtíssimo espaço de tempo. Regionalmente, temos contempladas a Região Metropolitana, o Vale do Caí, a Região Sul e a Região Central do estado, se pensarmos em áreas atendidas pelas universidade que oferecem tais cursos. Assim, podemos vislumbrar no panorama da educação superior gaúcha a existência de quatro cursos de licenciatura em teatro: um já consolidado e em funcionamento há mais de três décadas (caso da UFRGS) e outros três jovens cursos, que se encontram em fase de estruturação e de formação de seus quadros docentes e funcionais, o que certamente acarretará que sejam feitas determinadas escolhas na construção de seus currículos e, conseqüentemente, nas identidades destas graduações e de seus egressos. 3. Perguntas aos currículos: o que fala e o que cala Apresentei brevemente, portanto, quatro cursos de teatro que se propõem a formar professores. Por conseguinte, surgem questões: que professor é este que queremos formar? Quais os conteúdos e práticas básicos para aquisição da linguagem teatral? Quais os conteúdos e práticas necessários à formação de um educador? É preciso fazer teatro para ensinar teatro? O que é necessário para formar uma artista-docente? Que saberes devem ser “postos em movimento” para forjar este profissional? Ou melhor: é possível (em quatro anos,
  • 5. oito semestres e com uma média de 3.000 horas de atividades obrigatórias) formar um docente-artista ou um artista-docente? Emergem, como documentos destes processos criativos (SALLES, 1998), os currículos: documentos de identidade (SILVA, 1999)? Documentos que organizam, classificam e dividem o conhecimento em tempos-espaços específicos, que normatizam o que deve ou não ser aprendido, pensado, debatido ou calado. Que dão a luz a determinados conhecimentos e a negam a outros, que, esquecidos, jazem no subsolo do teatro. No entanto, seria ingênuo pensar em um currículo que abrangesse tudo que se possa relacionar ao campo teatral (ou a qualquer outro campo do conhecimento), já que, para que possamos falar em um campo, devemos assumir que em processos sociais e culturais algumas convenções foram, ao longo dos tempos, sendo conhecidas e reconhecidas como aquelas que definem as características (materiais e simbólicas) dos artefatos classificados como literatura, teatro, dança, música, cinema ou ligados ao macro campo das artes (BOURDIEU). E mais uma vez trago a questão inicial: ser ou não ser um docente-artista? Esta tem sido uma questão amplamente debatida na construção dos currículos dos cursos de teatro no Brasil. Priorizam-se os conhecimentos específicos (teóricos e práticos) da linguagem teatral? Abarca-se a possibilidade do discente experienciar conhecimentos técnicos do campo (entendo como tal as atividades de iluminação, sonoplastia, figurinos, maquiagem, cenografia, contrarregragem, etc.)? Como desenvolver a vivência e o aprendizado pedagógico necessários ao exercício docente? Quais as questões que devem ser debatidas e tornadas relevantes pelo currículo no que concerne ao campo da educação? Como e através de que mecanismos seria possível formar um artista que pudesse exercer o magistério e um professor que pudesse vivenciar e exercer as funções artísticas? Parece-me quase um consenso que grande parte dos currículos das licenciaturas em teatro tenta abarcar estas duas dimensões: a artística e a pedagógica. O imbricamento entre estas é que difere nas construções curriculares, conforme tentarei explicitar a seguir a partir de exemplos retirados dos quatro currículos das licenciaturas em teatro no estado do RS, que me parecem ser uma amostragem significativa dos modelos seguidos também por outros cursos de graduação em todo o Brasil. Obviamente as escolhas na constituição de um currículo não são arbitrárias e não dependem somente da vontade de determinado colegiado ou corpo docente. Há documentos que as normatizam e regulamentam, nestes casos sendo os dois principais a Resolução 4, de 8 de março de 2004 da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação,
  • 6. que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Teatro (bacharelados e licenciaturas) e a Resolução CNE/CP2, de 19 de fevereiro de 2002, que institui a duração e carga-horária dos cursos de licenciatura plena. Ambos os documentos balizam, obrigatoriamente, os currículos que ora analiso. Somente a análise destes documentos já propiciaria amplas discussões, já que ambos foram concebidos por comissões de especialistas na área de teatro e de educação, respectivamente; ou seja, por pares. Sendo estas as diretrizes e resoluções que regulamentam os cursos, percebo em uma primeira mirada sobre estes quatro currículos, que muito eles têm em comum, principalmente no que concerne ao quadro de disciplinas obrigatórias, que, seguindo a Resolução CNE/ CES 4 de 2004, traz um conjunto de disciplinas de caráter teórico (história do teatro, estética, crítica, dramaturgia, entre outras), outro de caráter prático-teórico (atuação, encenação, corpo, voz, metodologias e fundamentos do ensino do teatro), bem como disciplinas estritamente ligadas ao campo da educação (sociologia, psicologia, filosofia e história da educação, organização da educação no Brasil, entre outras), estas sendo oferecidas pelas faculdades de educação das universidade federais nos casos da UFRGS, UFSM e UFPel, bem como os estágios docentes (400 horas obrigatórias segundo a Resolução CNE/CP2 de 2002) e um grupo de disciplinas voltadas à pesquisa e projetos de conclusão de curso (envolvendo monografias ou trabalhos práticos). No entanto, o que diferencia estes currículos? O que lhes dá caráter único? Como cada um destes currículos responde às questões já anteriormente propostas neste texto, que dizem respeito à formação de um docente-artista, que é o que parecem promulgar as leis que normatizam e regulamentam as licenciaturas em teatro no Brasil? Voltam-se mais ao artista futuro ou ao futuro docente? Quem ganha este “cabo-de-guerra” que (infelizmente) se coloca em muitas realidades acadêmicas de cursos de licenciatura, entre os conhecimentos/práticas específicos da área e os conhecimentos/práticas pedagógicos? Como construir uma articulação entre dois campos nos processos de ensino-aprendizagem de um licenciando? Como formar um docente-artista ou um artista-docente que consiga articular organicamente a arte e a docência? Posso inferir, a partir de uma análise preliminar e superficial das grades curriculares destes quatro cursos de graduação, que todos eles atendem às exigências dos documentos acima citados, compreendendo núcleos de disciplinas ligadas à prática teatral, à teoria teatral, à pesquisa acadêmica, à prática educacional e à reflexão pedagógica, bem como um conjunto de créditos de formação livre e/ou caráter optativo e as atividades complementares de ensino.
  • 7. No entanto, relativamente à distribuição espaço-temporal de proposta destes currículos, que envolve as dimensões de carga-horária e de seriação, há diferenças que também falam sobre este docente-artista que os currículos pretendem formar e como ocorrerá este processo formativo. Uma tabela comparativa preliminar guiou algumas análises que aqui apresento. Esta tabela desdobrou-se em pequenas tabelas que sugeriam algumas categorias analíticas, e é partir delas que tecerei alguns comentários comparativos acerca destes quatro currículos que pretendem a formação de um docente-artista em teatro. 3.1 Distribuição de cargas-horárias: em busca de autonomia na formação do licenciando? Conforme já foi dito anteriormente, a distribuição das cargas horárias dos cursos obedece a leis, normativas e resoluções específicas do MEC. A tabela abaixo demonstra que há equiparação, pelo menos no que concerne ao quesito quantitativo, no número de horas a serem cursadas pelo licenciando a fim de integralizar a graduação. São também semelhantes as horas de atividades complementares (estipuladas em carga mínima de 200 horas pela Resolução CNE/CP2 de 2002) e as horas de estágios curriculares docentes (estipuladas em carga mínima de 400 horas pela mesma resolução). Somente a UFRGS ainda não adequou sua carga-horária de atividades complementares à exigência do MEC. No que concerne à carga-horária dedicada às modalidades de disciplinas optativas, eletivas ou de formação livre (as nomenclaturas divergem e não há normas que regulamentem esta nomeação), percebemos que os currículos tendem a abrir espaço de escolha para o acadêmico, possibilitando que este opte entre um elenco de disciplinas oferecidas e indicadas pelo próprio projeto pedagógico do curso (caso da UFRGS e da UERGS) ou dentro das ofertas de todos os cursos da universidade, desde que aprovada a escolha do aluno pelo colegiado de curso (casos da UFPel e da UFSM). A inclusão de parte da grade curricular como optativa ou de formação livre tem como finalidades: a) promover a mobilidade acadêmica, prevendo que intercâmbios de alunos em cursos de outra universidades do Brasil sejam parte integrante da sua formação e b) gerar autonomia, possibilitando ao discente traçar seus percursos formativos, buscando cursar disciplinas e atividades que satisfaçam seus desejos e necessidades, ligando estas escolhas às
  • 8. suas vontades investigativas e de atuação social, ou seja, vinculando o ensino à pesquisa e à extensão. Muito tem se dito acerca desta modalidade de atividades de ensino que compreendem formação livre e elencos de disciplinas optativas. Para que se efetivem escolhas produtivas, há a necessidade de acompanhamento da construção do currículo deste aluno pelo colegiado de curso ou pela figura de um professor orientador. No entanto, sabe-se que a estrutura universitária nem sempre dá conta de atender a estas demandas, tornando-se mais fácil indicar um elenco de disciplinas pré-estabelecidas entre as quais o aluno poderá escolher cursar algumas, mas não se abrindo completamente as possibilidades de escolha. Assim sendo, há uma movimento contraditório dentro deste espaço que deveria ser de escolha consciente e individual, pois ao estabelecer restrições, volta-se à rigidez promovida pelos currículos fechados. E esta contradição é fruto do despreparo técnico e da falta de recursos das instituições para construir redes de escolha amplas e irrestritas aos seus alunos. É importante salientar que a construção curricular passa também pelas restrições burocráticas e materiais decorrentes da situação das instituições superiores de ensino no país. Não é somente do desejo de formar identidades docentes específicas que se constrói um currículo: uma série de fatores o atravessa e vai transformando suas questões ideológicas e políticas também em problemas e entraves técnicos, burocráticos e físicos a serem resolvidos. As linhas de poder que atravessam um currículo podem ser insidiosas, reticulares e invisíveis, no entanto, adquirem forma, cor e som ao materializarem-se como algumas das carências e dificuldades enfrentadas nos últimos 50 anos pelas universidades públicas brasileiras. Tabela 1. Comparativa entre cargas-horárias nos currículos das licenciaturas em teatro no RS: Carga-horária Carga- Carga- Carga-horária Carga- Turno horária horária atividades horária das disciplinas disciplinas complementares total do aulas obrigatórias eletivas curso (formação Licenciaturas livre) UERGS 2640 horas 180 horas 200 horas 3020 horas noturno UFPel 2533 horas 200 horas 200 horas 2933 horas noturno
  • 9. UFRGS 2640 horas 150 horas 90 horas 2880 horas diurno UFSM 2460 horas 180 horas 200 horas 2840 horas diurno Outros fatores devem ser levados em consideração ao analisar-se um currículo, como o perfil dos ingressantes desejados, que se caracteriza já na proposta de turno de funcionamento do curso. Aliado a este fator, podemos também pensar na distribuição das atividades de ensino por semestre e de sua respectiva carga-horária. Ao optar por serem cursos noturnos, a UFPel e a UERGS abrem espaço tanto para o aluno trabalhador da empresa formal como para aqueles professores do ensino básico que já trabalham com teatro e carecem de formação específica na área ou até mesmo ainda não possuem nenhuma graduação. O número de horas total dos currículos ora analisados pode parecer reduzido (quando comparado a cursos na área da saúde, por exemplo), ficando em torno de 3.000 horas nas quatro licenciaturas em teatro do estado (200 horas somente a mais do que indica a Resolução CNE/CP2 de 2002 como carga-horária mínima para uma licenciatura: 2.800 horas). Entretanto, a possibilidade de integralização da graduação em quatro anos é imprescindível para o público de alunos trabalhadores e/ou carentes financeiramente, sendo que os primeiros cursam a graduação com grandes esforços, por vezes abdicando de diversas esferas de suas vidas, e os segundos necessitam ingressar no mercado de trabalho o quanto antes, sendo a conclusão do ensino superior a primeira possibilidade de terem aberta esta porta. 3.2 Trabalhos de conclusão de curso formam pesquisador, artista ou professor? Tabela 2. Atividades de trabalhos de conclusão de curso. Atividades TCC prático TCC teórico Montagem final de ensino (coletivo ou (monografia) (coletiva) individual) Licenciatura
  • 10. UERGS X (em atuação) UFPel X X UFRGS X UFSM X X No que concerne aos trabalhos de conclusão de curso em relação à prática teatral, percebemos um interesse em alguns destes currículos em propiciar aos seus alunos ocasiões de prática teatral levada a público, como no caso dos cursos da UFSM e da UFPel com suas montagens coletivas (espetáculos dirigidos por professores nos quais todos alunos licenciandos tomarão parte da prática artística, como atores e ou em alguma outra função do espetáculo) e no caso da UERGS com um trabalho de conclusão de curso prático na área de atuação, ou seja, um trabalho de conclusão muito semelhante àqueles dos bacharelados em interpretação teatral. Já o curso da UFRGS privilegia a monografia final, teórica, baseada em trabalho de pesquisa individual do formando, como trabalho de conclusão de curso. Esses projetos de graduação da licenciatura em teatro da UFRGS são levados a público (tanto como os projetos de bacharelado em atuação ou direção teatral) através dos Painéis da Licenciatura, que ocorrem semestralmente junto com a Mostra Teatro DAD, que engloba a apresentação de trabalhos de formandos em artes cênicas desta instituição. Assim, do mesmo modo que os trabalhos de prática teatral são de conhecimento público, as práticas e teorias (teatrais e pedagógicas) investigadas nas monografias dos licenciandos, sejam elas atreladas ou não ao campo da educação, também se tornam de conhecimento público, já que apresentadas e debatidas em sessões abertas. A UFSM e a UFPel também propõem em seus currículos monografias finais de curso, mas nenhuma turma ingressante alcançou este estágio de sua graduação ainda, por serem cursos novos. Portanto, as diretrizes que os TCCs seguirão nestes dois cursos ainda não estão estabelecidas. Posso inferir, a partir das características apresentadas por estas propostas de trabalhos de conclusão de curso de graduação, que a dimensão investigativa coloca-se
  • 11. tanto no âmbito da formação teatral como no da formação pedagógica, propiciando ao aluno experiências práticas com a linguagem teatral, espaços de reflexão e articulação teórica e iniciação aos caminhos de pesquisas individuais e/ou coletivas. Deste modo, estágios docentes obrigatórios, projetos de pesquisa (teóricos e/ou práticos, almejando a não dissociação entre estas duas esferas) e investigações cênicas articulam-se na constituição dos percursos formativos dos futuros professores de teatro, buscando contemplar, pelo menos através das atividades obrigatórias nos últimos três semestres de graduação, a formação de um docente-artista em teatro que possua ferramentas para pesquisar em sua área de atuação. O cabedal de disciplinas que abordam questões metodológicas e de iniciação à pesquisa também demonstram o interesse destes currículos em promover (para aquém ou para além das possíveis experiências como bolsistas de iniciação científica, por exemplo) o acesso ao conhecimento acadêmico ligado à dimensão da pesquisa, assim como as horas de atividades complementares e de formação livre privilegiam contemplar as atividades de extensão, compondo assim o triângulo “ensino, pesquisa e extensão” que está na base da constituição e da ação das universidades públicas brasileiras. Certamente a efetividade das intenções e propostas trazidas por um currículo só se dá na prática, só se concretiza no dia-a-dia de um curso, nas relações professor-aluno, aluno-aluno, aluno-funcionário, aluno-instituição, entre tantas outras que compõem os meandros universitários. Cumpre notar, contudo, que os currículos devem ser estruturas relativamente cambiantes, abertas ao debate e à incorporação das necessidades locais, regionais e, inclusive, pessoais dos sujeitos envolvidos em sua execução. Devem, também, em meu ponto de vista, ser estruturas pré-dispostas à desestrutura (ainda que estruturadas e estruturantes), já que o fracasso é parte integrante de qualquer projeto, de qualquer proposta que se coloque em prática. E aprender com o que não funciona, deslocando aqueles saberes aos quais estamos agarrados e que julgamos serem os únicos cabíveis, é parte profícua e saudável dos processos de construção de um currículo, de um curso e dos sujeitos neles envolvidos.
  • 12. 3.3 É possível articular (organicamente) teatro e educação? Quatrocentas horas de estágios docentes obrigatórios levam as quatro licenciaturas analisadas, ou seus currículos, a contar com no mínimo três atividades de estágio. Tanto a UFRGS como a UERGS possuem em seus currículos disciplinas de introdução ao estágio e dois estágios obrigatórios, um no ensino fundamental e outro no ensino médio. A UFPel e a UFSM contam com três estágios obrigatórios em sua grade curricular, sendo que um deles voltado à educação informal, ou seja, aos trabalhos com aulas de teatro direcionados aos mais diversos públicos e comunidades. A UFPel abre, inclusive, a possibilidade de que seus alunos realizem um dos estágios em escolas de educação infantil, bem como nas séries iniciais do ensino fundamental. Esses “estágios na comunidade”, como vêm sendo comumente chamados nos currículos, apresentam-se como uma ponte necessária entre o futuro docente-artista e as conjunturas e espaços nos quais atuará, já que é notório e parte do processo histórico-cultural do Brasil que aulas de teatro e/ou a formação de grupos teatrais sejam constantes em projetos sociais, em comunidades, em associações de bairros, em ONGs, em projetos extra-classe, em espaços de convívio e de promoção do bem-estar social voltados aos mais diferentes públicos e faixas-etárias. Asilos, abrigos da FASE, presídios, casas de passagem, associações de bairro, creches, entre tantos outros espaços, recebem as conhecidas “oficinas de teatro”. Isso sem falar na longa tradição brasileira de grupos de teatro amador e estudantil. E essa realidade não pode ser negada na construção de um currículo de uma licenciatura em teatro, já que os espaços fora do ensino regular básico são muito mais numerosos e mais abertos à atuação de um docente-artista em teatro do que as instituições escolares propriamente. Portanto, torna-se premente o “peso” que adquirem tais atividades de estágios dentro da integralização curricular destes licenciandos, que passarão por volta de 15% da carga- horária obrigatória de suas graduações envolvidos com os estágios docentes. Isto vai ao encontro de outra exigência da Resolução CNE/CES 2 de 2002, que torna obrigatórias nas licenciaturas no mínimo 400 horas de atividades de práticas educacionais, estas para além dos estágios. Essa exigência obriga a existência de disciplinas e/ou atividades curriculares de caráter pedagógico não puramente teóricas, que coloquem o aluno frente a frente com as metodologias, práticas e realidades das escolas e ambientes educacionais os mais heterogêneos. No entanto, cumpre notar que não é em todas as propostas que a formação deste profissional possuidor de experiências artísticas e pedagógicas possibilita uma
  • 13. incorporação orgânica destas etapas, que deveriam estar imbricadas e indelevelmente relacionadas na formação de um artista-docente ou docente-artista. Como se pode visualizar no quadro abaixo, as quatro licenciaturas em questão ofertam disciplinas de cunho pedagógico a seus alunos desde o primeiro semestre da grade. Porém, as disciplinas nas quais se propõem uma articulação mais direta e prática entre o teatro e a educação só vão figurar em alguns currículos a partir do quinto semestre da seriação, ouse seja, quando o aluno tiver integralizado mais de 50% do curso de graduação, como no caso da UFRGS. A UFSM e a UERGS propiciam aos alunos desde o terceiro semestre de curso disciplinas com este caráter, bem como a UFPel desde o primeiro ano de curso. Parece-me que esta desarticulação (ou articulação precária) entre o teatro e a educação em alguns currículos de licenciaturas em teatro deve-se à herança dos antigos 14 currículos de curso “4+1 ou 3+1” , nos quais os alunos recebiam uma formação artística absolutamente desvinculada de sua futura prática pedagógica, promovendo improváveis (ou impossíveis) construções de sentidos nas atividades curriculares pedagógicas, que “surgiam” dentro da seriação completamente dissociadas dos conteúdos específicos, como um “deus ex- machina” capaz de “salvar” a vida profissional destes egressos com o título de licenciados, que lhes daria o direito a serem professores em suas respectivas áreas, não sofrendo, desta forma, as agruras de uma carreira artística. O magistério surge não como uma opção consciente, mas como uma possibilidade de subsistência, tão somente. As colocações anteriores não se apresentam aqui como uma forma de julgamento arbitrário, e sim buscam problematizar os traços herdados de um passado muito recente na educação brasileira, já que grande parte dos professores que hoje atuam nos cursos de licenciatura no Brasil é oriunda desta formação em que imperava a absoluta desarticulação entre a educação e as áreas de conhecimento específico, com a evidente supremacia destas sobre aquela. E não foi o campo das artes o único a sofrer com este modelo: disciplinas como biologia, física, química, matemática, história, geografia, filosofia, português, entre outras, sofreram (e possivelmente sofram) as conseqüências nefastas destas estruturas curriculares. 14 Neste formato curricular, os alunos cursavam três ou quatro anos de um bacharelado, para depois, em mais um ano, cumprirem as exigências curriculares obrigatórias para receberem também o diploma de licenciados. Assim, estes bacharéis-licenciados formavam-se com poucas possibilidades de construir articulações entre a educação e suas áreas de atuação/ formação inicial.
  • 14. Tabela 3. Atividades de estágios docentes e disciplinas articulando teatro e educação. Atividades Número de estágios e área Semestre de início Semestre de início de abrangência disciplinas disciplinas teatro e de ensino pedagógicas educação Licenciatura UERGS 2 (EF e EM) + disciplina de 1º 3º introdução ao estágio UFPel 3 (EI, EF, EM e comunidade) 1º 2º UFRGS 2 (EF séries finais e EM) + 1º 5º disciplina de introdução ao estágio UFSM 3 (EF, EM e comunidade) 1º 3º 4. Interessa-nos o que está guardado no porão do teatro? O porão é lugar que para muitos pode ser insalubre, úmido, sujo, escuro e, por isso mesmo, passível de esquecimento. É para onde vai aquilo que não nos serve mais, aquilo que se quer esconder (mesmo sabendo que não se pode simplesmente desfazer-se destes objetos e de seus sentidos e significados). O porão é também o lugar da memória, do saudosismo, do passado. Para as pessoas do teatro e para as crianças o porão pode ter um sentido diverso: é território fértil. É no porão que se escondem não somente aranhas, ratos e coisas velhas: é no porão que se escondem histórias, ditos e não-ditos do passado que podem ser presente quando evocados. Assim sendo, não só o que é posto nestes currículos, mas o que é silenciado (ou seja, as dimensões não contempladas), também fala. Aquilo que foi armazenado, empilhado, guardado no porão também é parte, ainda que latente, dos currículos. Não trabalho aqui a partir de hipóteses de currículos ocultos, ou teorias semelhantes, somente julgo pertinente levantar algumas temáticas e/ou pontos de vista que não constam (ou constam parcamente)
  • 15. nestas grades curriculares e que fazem parte das discussões contemporâneas tanto no campo educacional como no campo teatral. Uma formação humanístico-pedagógica contemporânea se faz com quantas disciplinas? Esta me parece uma questão pertinente em tempos culturalistas. Onde estão, nestes currículos, categorias como gênero, raça, etnia, nacionalidade, sexualidade, classe social, faixa-etária, enfim, todas estas dimensões exaustivamente abordadas pelos estudos culturais? Há espaço nestes currículos para o debate acerca destas temáticas que emergem na quase totalidade dos discursos contemporâneos? Estão estes currículos contemplando o debate atual (e necessário) acerca destas questões? Alguns podem responder que estes temas deveriam atravessar as discussões em todas as instâncias, disciplinares ou não, de um processo de formação docente contemporâneo. Creio que sim, porém se estas forem silenciadas já na composição dos currículos, como lançá-las à luz do dia? Como retirá-las do porão e torná-las histórias do presente? Como discutir religião, mídia, novas tecnologias, meio-ambiente, ética, consumo e saúde como protagonistas na história de um docente-artista, e não como meros coadjuvantes em sua formação? Não pretendo responder a estas questões, mas, mais uma vez, problematizar aquilo que é (praticamente) silenciado nestes currículos que ora analiso. Há presentes algumas disciplinas dispersas que tratam de temas como educação especial, educação inclusiva e LIBRAS (disciplina agora obrigatória por lei em todas as licenciaturas do Brasil). A ética profissional e a identidade docente também se fazem presentes nos títulos de algumas propostas disciplinares. Educação indígena, de jovens e adultos e quilombola não parecem figurar no quadro disciplinar. Outra ausência significativa em quase todos os currículos é a de disciplinas que debatam a mídia e as novas tecnologias em sua relação tanto com o teatro como com a educação, debates estes presentes em ambos os campos. Por fim, percebemos disciplinas de caráter técnico de aprendizagem teatral relegadas ao plano de optativas e/ou formação livre. É óbvio que um curso que tem quatro anos como ideal de integralização para obtenção do grau de licenciado não pode inserir em sua grade curricular obrigatória todos estes conhecimentos aqui elencados como necessários, e todos os outros que este próprio texto silenciou, já que trabalhamos na tênue linha entre o possível e o desejável. É o ponto de vista de um sujeito único, que através de seus horizontes de expectativas em relação ao teatro, à educação e à formação de docentes-artistas guia este
  • 16. texto. Atravessado este ponto de vista, por diferentes discursos, pelas muitas vozes que constituíram e constituem esta professoratriz que sou, esta docente-artista em construção. Ficam as questões, na esperança de que elas abram espaços de debate e dêem a pensar a todos aqueles que constroem e vivenciam em seus corpos estes currículos e, portanto, estes cursos de licenciatura em teatro do sul do Brasil. Referências bibliográficas: BOURDIEU, Pierre. The field of cultural production – Essays on Art and Literature. Columbia: Columbia University Press, 1993. ______. As Regras da Arte – Gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. CANDAU, V. M. (org). Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. COHEN, Renato. Work in Progress na Cena Contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 1998. COSTA, M. V.; SILVEIRA, R.M.H.; SOMMER, L. H. Estudos culturais, educação e pedagogia. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 23-61, Maio/Jun/Jul/Ago 2003. LARROSA, Jorge. Tecnologias do eu e educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. O Sujeito da Educação – estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 35-86. LOURO, Guacira Lopes et al (orgs.). Corpo, Gênero e Sexualidade – Um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. LARROSA, J.; LARA, N. P. de. Imagens do outro. Petrópolis: Vozes, 1998. OROZCO GÓMEZ, Guillermo. La influencia de la TV em la educación de niños y jovenes: opiniones, mitos, hechos. México: Universidad Iberoamericana, 1992. SALLES, C. A. Gesto Inacabado – Processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998. SILVA, T. T. da. Documentos de identidade – Uma introdução às teorias do currículo. 11ª reimp. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. SILVA, T. T. da (org.). Identidade e diferença – A perspectivas dos Estudos Culturais. 9ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009. SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
  • 17. Taís Ferreira é professora de teatro, atriz e pesquisadora. Bacharel em Interpretação Teatral e Mestre em Educação pela UFRGS. Foi professora nas graduações em teatro da UFRGS, UFSM e atualmente é coordenadora do curso de Teatro – Licenciatura da UFPel e da área de teatro no PIBID/UFPel 2009. Foi professora em vários projetos sociais e no curso de Formação de Atores da UCS. Atuou em diversos espetáculos e publicou artigos e livros sobre teatro. Contato: taisferreirars@yahoo.com.br ou http://historiadoteatroufpel.blogspot.com/