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“JOGANDO OS DADOS” –
        OS JOGOS TEATRAIS COMO POSSÍVEL
     METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE DADOS EM
         ESTUDOS DE RECEPÇÃO TEATRAL1

                                  Taís Ferreira∗
                      Universidade Federal de Pelotas – UFPel
                                   taisferreirars@yahoo.com.br



RESUMO: Este artigo trata-se de uma discussão acerca da possibilidade dos jogos teatrais como
indutores à construção de dados a serem utilizados em investigações de recepção teatral. As reflexões
partem da experiência empírica desenvolvida durante um processo de investigação com crianças
espectadoras.

PALAVRAS-CHAVE: Recepção teatral – Metodologia de pesquisa – Jogos teatrais.

ABSTRACT: This paper is a discussion about the possibility of theater games as inducers for the
construction of data for use in research of theatrical reception. The reflections are about the empirical
experience developed during a process of research with children spectators.

KEYWORDS: Theatrical reception – Research’s methodology – Theater games.




                          1) INTRODUÇÃO – JOGAR OS DADOS...

          Jogar os dados... Lançar a sorte. Lançar-se à sorte. Arremessar-se rumo ao
imprevisto, construindo o rumo. Assim jogam-se também os jogos teatrais: como jogo,
dependem das regras, de um início e um fim determinados, com um meio absoluta(ou
absurda)mente imprevisível. E o prazer, este se dá pelo lançar-se, pelo deixar-se levar


1
    O projeto de investigação de recepção teatral com crianças espectadoras que instigou a feitura deste
    artigo fez parte da pesquisa de mestrado que resultou na dissertação Teatro infantil, crianças
    espectadoras, escola – um estudo acerca de experiências e mediações em processo de recepção,
    defendido junto ao PPGEdu/UFRGS em março de 2005, com financiamento do CNPq. Decorrente
    desta pesquisa também é a publicação o livro FERREIRA, Taís. A escola no teatro e o teatro na
    escola. Porto Alegre: Editora Mediação, 2007.
∗
    Mestre em Educação – UFRGS.
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                   Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
                                         ISSN: 1807-6971
                              Disponível em: www.revistafenix.pro.br


ou pelo conduzir seu próprio caminho? Talvez pela possibilidade de conjugar estes três
momentos...
           O título aqui posto indica algumas pistas: posso “jogar os dados” (cubos
brancos com pontinhos negros) e lançar a sorte, como posso “jogar com dados” (das
mais distintas formas, cores, tamanhos e modelos) na feitura de uma pesquisa, partindo
de um início preciso, mas sem ter um fim definido de antemão, construindo caminhos e
descaminhos, jogando, desafiando, competindo, compartilhando na construção de
sentidos e significados particulares sobre um objeto (que pode ser uma pergunta, um
sujeito, uma situação, um lugar, um grupo, uma instituição, uma conjuntura, um
artefato, um conjunto de artefatos, um discurso, distintos discursos, e, até mesmo, um
objeto).
           Ao ser instigada a escrever tendo como temática os jogos teatrais, sendo
professora de teatro e atriz, seria mais provável que me referisse a estes ligados às
minhas experiências docentes com crianças, jovens e adultos, ou aos jogos teatrais
sempre tão presentes e caros aos processos criativos nos quais estive envolvida como
atriz .
           No entanto, aqui a voz que falará (escreverá enunciando, especificamente) é
aquela que se construiu justamente a partir das vivências das outras duas: a voz da
pesquisadora preocupada com possibilidades de construção de uma investigação em
teatro. Certamente, as três “vozes-personas” que aqui disseco não estão apartadas umas
das outras. Ao contrário: estão indelevelmente relacionadas, constituindo uma
identidade múltipla, híbrida e cambiante de professora-atriz-pesquisadora em teatro.
Assim, assumo que neste breve espaço de reflexão far-se-á mais presente a voz da
pesquisadora, sendo que estes escritos apresentam-se como uma narrativa, reflexiva e
não conclusiva, acerca da possibilidade, ou das múltiplas possibilidades, de se exercitar
o jogo teatral como uma metodologia de construção de dados.
           Ainda que possa parecer que, mais uma vez, parte-se para o utilitarismo do
teatro e dos jogos teatrais (algo muito comum durante várias décadas no Brasil,
principalmente junto ao campo educacional), negando que sua existência e prática por si
só tenham valor e constituam conhecimento legítimo, não é essa a pretensão deste
pequeno artigo. Destarte, é um dos objetivos destes escritos demonstrar, através da
exposição de uma experiência desenvolvida na prática investigativa de uma pesquisa de
recepção teatral, mais uma das diversas facetas que nos apresentam os jogos teatrais
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desenvolvidos por Viola Spolin e divulgados no Brasil há trinta anos, data
comemorativa à qual se filia a escrita deste artigo.
         Nestes 30 anos, podemos encontrar os jogos teatrais sendo brincados, jogados e
exercitados em escolas das redes pública e privada, em todos os níveis de ensino, em
cursos superiores de teatro, dança, educação física, pedagogia e artes, em oficinas livres,
em salas de ensaio de grupos teatrais profissionais e amadores, em grupos de idosos e
recreação de funcionários de escritórios e fábricas, na formação de professores, em
dinâmicas de relacionamento de grupos, em consultórios de psicólogos, em grupos de
terapia coletiva, nos pátios das casas, nos playgrounds e, por que não?, nas ruas em que
crianças ainda podem brincar. Sim, porque hoje os jogos teatrais propostos por Spolin
com objetivos claros específicos de propiciar a aquisição de conhecimentos relativos à
linguagem teatral através de sua vivência mesma, mesclam-se com as brincadeiras
tradicionais das crianças contemporâneas quando estas podem estar em lugares abertos,
brincando em grupos, assim como era o “normal” há 30 ou 40 anos nas grandes e
pequenas cidades do Brasil.
         Quando os jogos teatrais chegam ao Brasil, encontram crianças acostumadas a
jogar com seus corpos no espaço. Hoje, os jogos teatrais relacionam-se com crianças
que, na maioria das vezes, tem os espaços limitados de seus quartos como lugar de jogo
a as telas de computadores e televisões como moldura de suas imaginações. Portanto, os
jogos teatrais que estas crianças vivenciam em suas escolas e aulas de teatro são,
possivelmente, muitas das brincadeiras que vão reproduzir nos raros momentos de suas
vidas em que podem ocupar espaços de jogo livre.
         Seguindo estas colocações preliminares que pincelam levianamente a
importância dos jogos teatrais no Brasil em diversos campos (Educação, Psicologia,
Medicina, Terapia Ocupacional, Artes, Educação Física, Administração são somente
alguns exemplos), gostaria de introduzir a reflexão que aqui proponho discutindo alguns
conceitos que a norteiam.


2) OS ESTUDOS EMPÍRICOS DE RECEPÇÃO TEATRAL: JOGAR COM DADOS...

         No Brasil, poucas (pouquíssimas) investigações de caráter empírico têm sido
realizadas atreladas àquilo que podemos considerar como pesquisa de recepção ligada
ao campo teatral. No entanto, nas primeiras aulas de fundamentos do teatro ou
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introdução à linguagem teatral, tanto em universidades, como nas escolas e cursos livre,
quando iniciamos a relação de ensino-apredizagem do(s) teatro(s), ouve-se e fala-se dos
três vértices, interligados, que compõem a linguagem teatral: ator, espectador e intenção
estética2.
          No entanto, o que sabemos sobre ou como pensamos o receptor de teatro? Que
trabalhos investigativos, práticos e teóricos, têm tratado da questão do espectador e das
platéias? Mesmo nos espaços dos cursos de graduação em teatro, a questão da recepção
geralmente fica atrelada à formação do aluno como espectador dos colegas nas aulas
práticas e jogos teatrais e não necessariamente debate-se sobre a apreciação estética e as
ferramentas necessárias a ela. Alguns currículos no Brasil contam, hoje, com disciplinas
de Estética e de Crítica Teatral, mas a temática da recepção, o acontecimento teatral do
ponto de vista do espectador, obviamente, deveria ser tema transversal em disciplinas de
direção teatral, interpretação, história do teatro, dramaturgia, entre tantas outras. E o
espectador comum, aquele que não possui nenhum vínculo mais aprofundado com o
campo, aquele que não é uma “pessoa de teatro”, que espaço tem sido dado ao estudo do
“espectador-espectador” e sua relação com a linguagem teatral?
          Há trabalhos sérios vinculadas à Estética da Recepção 3 , realizados por
estudiosos brasileiros, o que pressupõe que estes sejam digressões de caráter
prioritariamente teórico e não análises empíricas de recepção teatral. Já ouvi em
distintos momentos que há certo pudor, ousaria dizer medo, por parte de alguns
pesquisadores em encarar a pesquisa empírica de recepção teatral, em construir
trabalhos a partir de espectadores reais, de carne e osso, e de seus discursos acerca do
teatro, acerca de suas experiências, os significados e sentidos construídos a partir do
acontecimento teatral.
          E justificando tal lacuna há uma série de motivos, que não serão aqui elencados
por não ser este o objetivo deste artigo. Cumpre notar, no entanto, que o mais
perceptível deles talvez seja o fato de não possuirmos (o campo teatral) ainda um
arcabouço teórico e metodológico próprio para estes estudos. Não pretendo afirmar,
com isto, que não haja estudos e análises estéticas realizadas no campo de pesquisa


2
    Tenho utilizado este termo em minhas aulas, mas outros autores e professores colocam outros com
    valor similar.
3
    Os trabalhos de doutoramento dos professores Clóvis Massa (UFRGS) e Luís Cláudio Cajaíba (UFBa)
    são exemplos.
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teatral brasileiro; pretendo alertar para a carência no que concerne à projetos de
pesquisa que empreendam investigações que envolvam sujeitos, que desenvolvam
metodologias empíricas de análise e construção de dados. Todavia, considero de suma
importância dar continuidade a este subcampo de investigação dentro do campo dos
estudos teatrais, com a construção de pesquisas e escolhas metodológicas no ato mesmo
de empreendê-las, não compreendendo o processo de investigação como algo apartado
do objeto de estudo e do sujeito pesquisador.
           Destarte, é importante salientar que dentro de um processo de construção de
pesquisa, “dados” não nos são “dados”. Dados são construídos, ousaria dizer até
“inventados”, a despeito de sua materialidade necessária, já que são “os olhos que
querem ver” do pesquisador, as lentes das teorias que norteiam seu olhar, que vão
através de uma mirada específica construir estes dados e os sentidos e significados que a
partir deles poderão ser criados, construídos e, mais uma vez ousando, inventados.
           Diversas questões relativas à recepção teatral e às ferramentas e caminhos
metodológicos empreendidos em estudos relativos à recepção têm permeado minhas
vivências como pesquisadora e pode ser produtivo compartilhar algumas delas neste
espaço, ainda que não busque respondê-las. Pois então: como apreender a recepção?
Como entender a experiência do outro a partir de um artefato teatral? Como construir
dados em uma pesquisa de recepção que não sejam somente discursos orais ou escritos
(ainda que estes tenham se mostrado muito produtivos também)? É possível que
especificidades da linguagem teatral como a presencialidade e a efemeridade sejam
transformadas ou compreendidas em dados? Como o corpo do espectador em relação
aos corpos dos atores pode ser considerado e estudado em uma pesquisa de recepção
teatral?
           E o jogo teatral, seria ele uma forma de expressão legítima (produtiva para a
investigação) de um espectador em relação com a linguagem teatral? Como conduzir
espectadores não-atores a expressar e construir significados e sentidos acerca do
visto/ouvido/vivido no teatro através dos jogos? E depois: como apreender o jogo? O
jogo pode ter resultados? Isso não desvirtuaria a própria existência do jogo? Estes
supostos resultados podem ser convertidos em dados pelo olhar do pesquisador? O que,
em um jogo, é passível de ser transformado em dados? Tempo, ritmo, uso do espaço, do
corpo-voz, intensidade, engajamento? Como registrar isso? Através de fotos? Vídeos?
Anotações? Enfim, pode-se perceber que são muitas as perguntas, para as quais
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obviamente não possuo respostas. Contudo, são estas perguntas que têm sido o principal
indutor de diversas práticas que tenho desenvolvido como professora e pesquisadora.


     3) JOGOS TEATRAIS COMO METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE DADOS

           A seguir, apresento o relato reflexivo acerca do trabalho de campo realizado
junto a um grupo de crianças espectadoras (meninos e meninas) com idades entre os 5 e
os 11 anos, cursando do Jardim B à 4ª série do Ensino Fundamental em uma escola
pública de um município do interior do estado do Rio Grande do Sul. Dentro de uma
proposta multimetodológica de construção de dados para uma pesquisa de recepção
teatral com crianças espectadoras, os jogos teatrais foram exercitados e jogados com o
intuito de produzir material que pudesse ser analisado na investigação.


    3.1 JOGOS TEATRAIS EM PESQUISA DE RECEPÇÃO: PARA QUÊ? POR QUÊ?

           Partindo dos pressupostos de Viola Spolin4, propositora do sistema dos jogos
teatrais, de que a linguagem teatral e seu exercício não têm relação de dependência
alguma com aquilo que se convenciona chamar de “talento” ou “dom natural” no
ocidente, conceitos muito propagados desde a instalação do romantismo como corrente
estética dominante na primeira metade do século XIX na Europa e nas Américas;
percebi como pesquisadora, que um dos possíveis caminhos a serem seguidos na
construção de dados a serem analisados em um estudo de recepção estaria ligado à
própria compreensão da linguagem teatral pelos espectadores.
           Assim, entendendo que a experiência vivenciada é uma forma de aprendizagem
legítima e, segundo Spolin, a mais eficaz no caso da apreensão da linguagem teatral,
considerei que poderia ser produtivo trabalhar a partir de seus jogos teatrais com os
receptores, levantando como hipótese que estes momentos suscitariam formas de
expressão diferenciadas da oral e da escrita, possibilitando que os corpos destes sujeitos
pesquisados em sua relação com o artefato teatral também colaborassem para que eu,
pesquisadora, construísse sentidos e significados a partir desta relação.



4
     Viola Spolin possui quatro obras de sua autoria traduzidas para o português, publicadas pela Editora
     Perspectiva (São Paulo): Improvisação para o teatro; Jogo teatral no livro do diretor; Jogos
     teatrais na sala de aula e Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin, todas reimpressas no ano de
     2008.
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        Segue excerto de meu Diário de Trabalho, no qual se pode notar como o
exercício dos jogos teatrais trouxe ao trabalho de campo uma outra dimensão, que
mesmo estando sempre presente, nem sempre pode ser claramente percebida: a
dimensão do corpo.
                        Dia 3. Bento Gonçalves, RS. 19 de setembro de 2003.
                        Este encontro, no dia após a ida ao teatro, foi muito produtivo.
                        Conversamos longamente sobre a peça, sobre outras peças que
                        assistiram, sobre suas preferências, entrevistaram-me, interessados por
                        minha história com o teatro, contaram-me suas histórias com o teatro.
                        Após esta conversa, propus que fizéssemos três jogos teatrais: estátua
                        em duplas, jogo do quadro/ fotografia sobre a peça e jogo Quem eu
                        sou? livre. Muitas relações, significados e sentidos conferidos pelos
                        alunos ao (e através do) espetáculo que assistiram no dia anterior
                        surgiram durante os jogos, com seus gestos, ações, movimentos e
                        falas. Corpos (re)produzindo e (re)criando a experiência do dia
                        anterior, com o artefato teatral e sua linguagem peculiar. Corpos vivos
                        brincando e inventando.

        O corpo, sua gestualidade e sua energia tornam-se locutores de sentidos e da
relação das crianças com a linguagem teatral. E nesse caso, concomitante ao
experimentar o “fazer teatral” que os jogos propiciavam, estávamos construindo
sentidos acerca de suas relações como espectadoras ao assistirem a um espetáculo
teatral. Neste momento do trabalho de campo, o conhecimento teatral produzido pelas
crianças sujeitos da pesquisa esteve intrinsecamente ligado tanto a experiências
vivenciadas no “fazer” quanto no “ver” teatro.
        E o anteriormente afirmado pode parecer óbvio, tratando-se da prática de jogos
teatrais, que já na proposta veiculada por Spolin apresenta a capacidade de ver, analisar
e avaliar o que foi realizado em cena pelos colegas como instrumento da relação ensino-
aprendizagem. No entanto, quando falamos de pesquisas de recepção, temos como
únicas metodologias encontráveis aquelas mais comuns na pesquisa qualitativa em
humanidades, como os questionários, observação participante, entrevistas, grupos
focais, e, no caso da pesquisa com crianças, a expressão plástica do desenho. O
engajamento do corpo-mente em atividades para além das de caráter da expressão oral
não figuram no elenco de metodologias possíveis.
        Assim sendo, pareceu-me instigante que a partir dos jogos teatrais realizados
com as crianças, estas tivessem mostrado e expressado outras relações com a linguagem
teatral, reafirmando, negando ou subvertendo até aquelas que foram colocadas através
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de suas falas. Portanto, cabem aqui algumas reflexões acerca do jogo e de suas funções
(ou não funções) implicadas com as culturas que nos constituem.
          A linguagem teatral (com todas as questões suscitadas pelo uso deste termo)
pode ser pensada como uma forma de jogo inexoravelmente ligada à espécie humana.
Segundo as características que Huizinga5 levanta como sendo próprias das atividades
lúdicas, o teatro apresenta-se como uma modalidade de jogo por excelência.
          Conforme este autor, o jogo não é “vida corrente”, é um intervalo na vida
cotidiana e prosaica; contudo, é parte integrante de uma suposta “vida real” e utiliza-se
de elementos e influências desta para sua posterior negação e reorganização no universo
próprio do jogo; tem sempre uma finalidade autônoma e se realiza tendo em vista uma
satisfação que consiste no próprio ato de jogar, sendo uma atividade livre e voluntária,
mesmo que siga regras internas rígidas; as regras de um jogo devem ser aceitas e
conhecidas por todos os jogadores para que ele suceda com êxito pleno; o jogo só pode
existir em uma limitação definida de espaço e tempo, ele cria um espaço e um tempo
próprios e durante este espaço-tempo tudo é movimento, mudança, associação e
separação; entretanto, o jogo cria ordem e é ordem, pois dentro de seus domínios a
ordem deve ser específica e absoluta.
          Após esta longa listagem de características abordadas por Huizinga (2000)
como sendo necessárias a uma atividade lúdica ou jogo, posso inferir que há uma forte e
marcada analogia entre as práticas teatrais e o jogo ou as atividades lúdicas. Tal como
no jogo, no teatro busca-se uma espécie de evasão da vida prosaica na qual se constrói
uma nova situação galgada em elementos retirados do contexto cultural e de seus
sujeitos, reorganizados de forma estético-poética; a efemeridade e a limitação espacial
do teatro são idênticas as do jogo (e absolutamente necessárias à existência de ambos);
as regras do jogo são homólogas às convenções estéticas e éticas que seguimos na
elaboração e reconhecimento de uma linguagem teatral (produtores e receptores devem
conhecer e respeitar as mesmas regras no teatro). Assim sendo, mesmo que sejam
atividades exteriores à vida cotidiana e habitual, tanto o teatro como o jogo são capazes
de absorver os participantes de uma maneira intensa, criando uma tensão que
“transportaria” os jogadores a um espaço-tempo diferenciado, extracotidiano.


5
    HUIZINGA, Johan. Homo Ludens – O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000.
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          No espaço-tempo não-cotidiano do jogo desenvolvem-se sentimentos
“genuínos”, como a sensação que experimentam os jogadores de estar “separadamente
juntos”6, em uma situação excepcional, partilhando algo importante. Logo, penso que
no caso específico do teatro a “comunhão teatral”, ou o “estar junto” que vivenciam
atores e espectadores, atores e atores e atores e personagens, possa ser significado por
seus participantes enquanto algo que os arrebata e provoca sensações semelhantes ao
envolvimento em um jogo coletivo. Portanto, o público deve ser seduzido e convencido
a aceitar o jogo proposto pelos atores em cena e pela estética da encenação e seus
elementos, e a partir daí compartilhar das regras e (des)prazeres possíveis.
          Após estas considerações que têm o intuito de contextualizar a analogia
possível entre a linguagem teatral e o jogo, julgo ser pertinente ressaltar que a prática de
jogos dramáticos e teatrais é amplamente utilizada tanto na formação de atores como na
de platéias, bem como estímulo para a iniciação de crianças e adultos com a linguagem
teatral e algumas de suas especificidades técnicas, formais e estéticas. Diversos autores,
professores, diretores, atores e teóricos formularam suas metodologias da abordagem
teatral através de jogos. Podemos citar alguns deles como Peter Slade e a relação entre
o jogo dramático e o jogo infantil, Viola Spolin e o jogo teatral improvisacional,
Augusto Boal e suas propostas do Teatro do Oprimido, além de tantos outros como
Bertold Brecht e seu teatro didático, somente referindo-me aos mais trabalhados no
Brasil junto ao campo teatral7.
          Justificando a proposta do uso de jogos teatrais como uma das metodologias de
construção de dados junto às crianças espectadoras, posso dizer que desde o início do
desenvolvimento do trabalho de pesquisa minhas idéias encaminhavam-se no sentido de
não somente ouvir as falas das crianças, ou seja, não me ater somente às informações
que poderia obter através da linguagem verbal ou escrita. Ora, se o teatro apresenta-se
marcadamente ligado a diversas linguagens, entre elas, e talvez com mais força, pela
linguagem dos movimentos e gestos dos atores em cena, por que não possibilitar às
crianças que expressassem aquilo que sentem e pensam sobre a linguagem teatral
através de seus corpos, da tonicidade e ritmo de seus movimentos, da plasticidade de


6
    HUIZINGA, Johan. Homo Ludens – O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000.
7
    É importante salientar que docentes de universidades brasileiras têm levado à cabo nas últimas
    décadas importantes pesquisas e práticas envolvendo jogos (dramáticos de origem inglesa, francesa,
    brechtianos, etc.).
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seus gestos? Além disso, sendo eu uma professoratriz, parecia-me óbvio que abordasse
aquelas crianças e tentasse construir uma relação com elas através da linguagem com a
qual estou familiarizada, da língua que porto, e que, enfim, era e é o objeto central de
minhas vontades de pesquisa.


     3.2 JOGOS TEATRAIS EM UMA PESQUISA DE RECEPÇÃO: RELATO DE
                                           EXPERIÊNCIA

          Por conseguinte, ofertei às crianças, desde nosso primeiro encontro, a
possibilidade de realizarmos uma série de jogos teatrais, inspirados principalmente no
sistema de Spolin que, segundo Desgranges8, “está calcado em jogos de improvisação e
tem o intuito de estimular o participante a construir o próprio conhecimento acerca da
linguagem teatral, em um método em que o aluno, junto com o grupo, aprende fazendo,
experimentando, e pensando criticamente acerca daquilo que foi realizado”. De sua
parte, as crianças acolheram a proposta e mostraram-se sempre muito entusiasmadas na
realização das atividades que envolviam jogos teatrais e atividades lúdicas de caráter
corporal e cinestésico.
          No primeiro encontro, jogamos jogos de atenção, disponibilidade, confiança,
ritmo, desinibição e respeito pelo corpo do colega, sempre pensando na relação palco-
platéia, sendo que enquanto um grupo realizava o jogo o outro observava e
posteriormente comentava-se a percepção e as impressões dos jogadores e
observadores. Jogos de mímese corpórea também foram realizados, sempre
encaminhando o foco na direção de meu objetivo central, que era o de construir dados
que me revelassem como acontecem as experiências das crianças para com a linguagem
teatral, tínhamos como temática o próprio teatro.




8
    DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: HUCITEC, 2003.
Id. Jogo Teatral: uma criação de Viola Spolin. Texto digitado. Material para fins didáticos, s/d.
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais                         11
                     Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
                                           ISSN: 1807-6971
                                Disponível em: www.revistafenix.pro.br




                    Encontro 1: jogo de apresentação com gesto e nome, em círculo.
                           Márcio faz seu gesto e diz seu nome para mim.9




                   Encontro 1: jogo das partes do corpo grudadas com deslocamento.
                             Jogo de atenção, confiança e disponibilidade.




                                   Encontro 1: hipnose em duplas.
                         Jogo de concentração, corporeidade, confiança, ritmo.



9
    O uso das imagens, das falas e dos desenhos das crianças foi devidamente autorizado pelos pais e
    responsáveis. A participação delas na investigação se deu de forma espontânea. Os nomes das crianças
    mencionados no artigo são fictícios.
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais                       12
                      Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
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                                 Disponível em: www.revistafenix.pro.br


           Assim, não tive a intenção, com o uso dos jogos teatrais, de realizar algo que se
assemelhasse ao que Desgranges (2003) nomeia de “animação teatral”, ou seja,
atividades com a finalidade de otimizar a recepção do espetáculo por parte dos
espectadores. Simplesmente tentei possibilitar às crianças que construíssem significados
acerca do teatro através da linguagem corporal, propiciada então pelos jogos.
           Durante o Encontro 3, que sucedeu a assistência ao espetáculo teatral infantil
A Terrível Viseira do Dr. Chip, propus vários jogos de mímese corpórea de caráter
livre10, em grupos, nos quais as crianças poderiam ou não reproduzir cenas, situações e
personagens do espetáculo assistido. Diversas relações que as crianças construíram com
o espetáculo em questão surgiram nestes jogos, bem como algumas concepções
advindas de seu repertório cultural anterior também se fizeram presentes11.
           Como já foi anteriormente citado, uma de minhas preocupações acerca da
realização dos jogos foi como apreender os resultados destes para sua possível
utilização como dados, ou seja, como objetos a serem analisados na feitura da pesquisa
de recepção. Assim, julguei pertinente, naquele momento, utilizar o mínimo possível de
equipamentos que suscitassem às crianças presença de interferências externas em nossos
encontros. Foram utilizados, portanto, um pequeno gravador de voz (que gerou,
obviamente, muita curiosidade entre elas) e uma câmara fotográfica simples, portátil,
ambos manuseados por mim. Algumas filmagens também foram feitas, mas
posteriormente descartadas, pois as imagens fotográficas e transcrições de falas,
juntamente com as anotações me meu Diário de Trabalho, mostraram-se material
suficiente e consistente para análise acerca das relações de recepção daquele grupo de
crianças com o teatro.
           Acerca destes registros fotográficos, que foram considerados documentos a
serem analisados, considero importante lembrar a seguinte colocação: “A fotografia é,
na verdade, um constante convite à releitura, a uma forma diversa de ordenar o texto
imagético. Pode ser olhada muitas vezes, em diferentes ordens e momentos, pode ter




10
     A descrição detalhada de todos os procedimentos metodológicos envolvidos nesta pesquisa está
     presente na dissertação de mestrado da autora, que pode ser acessada gratuitamente pelo Sistema de
     Bibliotecas de Teses e Dissertações da UFRGS: www.sabi.ufrgs.br .
11
     As análises dos dados construídos no trabalho de campo podem ser encontradas em FERREIRA, Taís.
     A escola no teatro e o teatro na escola. Porto Alegre: Mediação, 2007.
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais                 13
                       Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
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                                  Disponível em: www.revistafenix.pro.br


outras interpretações: ela é sempre uma foto ali presente, pois uma foto se transforma
cada vez que é contemplada, revive a cada olhar”12.
            Percebo a fotografia neste trabalho de investigação enquanto um instrumento
valioso à pesquisa tanto na construção dos dados quanto nas reflexões e discussões
desenvolvidas nas análises propriamente. Deste modo, compartilho da idéia de que “o
que é importante para as Ciências Sociais não é a foto em si, mas a reflexão que pode
ser desenvolvida a partir de uma fotografia ou de uma série de fotografias”13.
            No caso dos registros dos jogos teatrais, por seu caráter de efemeridade, estes
não poderiam ser capturados e transformados em dados de outra forma que não através
de minhas notas em Diário de Trabalho e dos registros fotográficos realizados. Assim,
percebo que a utilidade e qualidade da “fotografia [para a pesquisa] é mais evidente
quando se trata do estudo de relações sociais em que os indivíduos se definem
principalmente através da linguagem gestual”14, como nos jogos teatrais realizados, nos
quais me interessava, prioritariamente, perceber como através de seus corpos, gestos e
ações as crianças poderiam expressar e construir suas relações para com o teatro.
            Seguem algumas das fotografias obtidas durante a realização de jogos teatrais
com as crianças, em que relações construídas por elas com o espetáculo assistido
mesclam-se a construção do conhecimento teatral que estas estavam desenvolvendo em
diversos espaços de suas vivências: a família, a escola, a igreja e o próprio trabalho que
realizávamos juntos naquele momento.




12
     KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas na pesquisa com crianças. Cadernos de
     Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/Autores Associados, n. 116, p. 41-59, julho/2002.
13
     GURAN, Milton. A “fotografia eficiente” e as Ciências Sociais. In: ACHUTTI, Luiz Eduardo R.
     (Org.). Ensaios sobre o fotográfico. Porto Alegre: Unidade Editorial/PMPA, 1998. p. 87-99.
14
     Ibid., p. 87-99
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais                    14
         Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
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Encontro 3: jogo da estátua em duplas, livre. Os escultores montam suas estátuas.




               Encontro 3: os escultores observam suas estátuas.
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais        15
Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
                      ISSN: 1807-6971
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      Paulo constrói sua estátua com a colega Janaína.




     Marcela mostra-nos sua estátua, a colega Tamires.
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais             16
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   4. CONCLUINDO ESTA PROPOSTA: JOGOS TEATRAIS, JOGOS DE DADOS

        Assim, posso afirmar que nesta experiência, com este grupo de crianças,
conversamos sobre teatro, discutimos e debatemos teatro, assistimos teatro e
exercitamos e aprendemos o teatro através do próprio teatro. Construímos conhecimento
sobre teatro a partir do teatro e de todas as relações e mediações que interpolam o
espaço de experiência das crianças contemporaneamente com a linguagem teatral. E os
jogos teatrais, estes foram porta de entrada e boas-vindas ao trabalho que construímos,
já que desde o momento em que nos conhecemos, as crianças e eu, propus que nos
relacionássemos de modo lúdico, em que o corpo-voz de cada um se fizesse ver e ouvir
dentro do grupo. Ofertei a estas crianças a possibilidade de analisar, pensar e construir
significados e sentidos a partir daquilo que haviam assistido no espetáculo não somente
através de sua escrita e de sua fala, os corpos ali, juntos e engajados na brincadeira,
queriam expressar de outros modos, através do gesto, da imagem, do movimento, da
intensidade, das energias empreendidas.
        Pretendo dar continuidade a pesquisas de recepção, principalmente àquelas de
caráter empírico, do qual se ressente o campo teatral por sua carência. E os jogos
teatrais parecem-me ter seu lugar confirmado entre as metodologias possíveis na
construção de dados de pesquisas empíricas de recepção. Ainda que estes demandem
mais espaço, mais tempo e maior envolvimento entre o pesquisador e os sujeitos
pesquisados do que a realização de questionários e entrevistas, considero que sua
existência dentro de uma metodologia de construção de dados para análise da recepção
abre caminho para pensar-agir teatralmente, evocando a linguagem teatral naquilo que
ela tem de mais específico, que é a troca, que é a comunhão corporal e energética entre
aqueles que fazem e aqueles que receptam.
        “Jogar os dados” na construção de dados coloca em jogo muito mais do que
racional e logicamente podemos conceber e analisar. “Jogar com dados” na construção
de análises em pesquisas de caráter empírico faz-se necessário, mas a natureza destes
dados pode e deve ser repensada. E o espaço entre, o espaço no qual se faz o teatro, este
precisa ser compreendido através de mecanismos que viabilizem linhas de fuga à
centralidade da palavra como meio de expressão. E o jogo teatral, mais uma vez, nos
permite aprender e apreender o teatro para além da palavra atrelada à lógica moderna e
cartesiana, apontando para a percepção das culturas e mediações que constituem as
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais        17
                Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1
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identidades de espectadores de teatro, das sensações e sentidos experimentados por
estes.

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"Jogando os dados" - Os jogos teatrais como possível metodologia de construção de dados em estudos de recepção (2010)

  • 1. “JOGANDO OS DADOS” – OS JOGOS TEATRAIS COMO POSSÍVEL METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE DADOS EM ESTUDOS DE RECEPÇÃO TEATRAL1 Taís Ferreira∗ Universidade Federal de Pelotas – UFPel taisferreirars@yahoo.com.br RESUMO: Este artigo trata-se de uma discussão acerca da possibilidade dos jogos teatrais como indutores à construção de dados a serem utilizados em investigações de recepção teatral. As reflexões partem da experiência empírica desenvolvida durante um processo de investigação com crianças espectadoras. PALAVRAS-CHAVE: Recepção teatral – Metodologia de pesquisa – Jogos teatrais. ABSTRACT: This paper is a discussion about the possibility of theater games as inducers for the construction of data for use in research of theatrical reception. The reflections are about the empirical experience developed during a process of research with children spectators. KEYWORDS: Theatrical reception – Research’s methodology – Theater games. 1) INTRODUÇÃO – JOGAR OS DADOS... Jogar os dados... Lançar a sorte. Lançar-se à sorte. Arremessar-se rumo ao imprevisto, construindo o rumo. Assim jogam-se também os jogos teatrais: como jogo, dependem das regras, de um início e um fim determinados, com um meio absoluta(ou absurda)mente imprevisível. E o prazer, este se dá pelo lançar-se, pelo deixar-se levar 1 O projeto de investigação de recepção teatral com crianças espectadoras que instigou a feitura deste artigo fez parte da pesquisa de mestrado que resultou na dissertação Teatro infantil, crianças espectadoras, escola – um estudo acerca de experiências e mediações em processo de recepção, defendido junto ao PPGEdu/UFRGS em março de 2005, com financiamento do CNPq. Decorrente desta pesquisa também é a publicação o livro FERREIRA, Taís. A escola no teatro e o teatro na escola. Porto Alegre: Editora Mediação, 2007. ∗ Mestre em Educação – UFRGS.
  • 2. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 2 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br ou pelo conduzir seu próprio caminho? Talvez pela possibilidade de conjugar estes três momentos... O título aqui posto indica algumas pistas: posso “jogar os dados” (cubos brancos com pontinhos negros) e lançar a sorte, como posso “jogar com dados” (das mais distintas formas, cores, tamanhos e modelos) na feitura de uma pesquisa, partindo de um início preciso, mas sem ter um fim definido de antemão, construindo caminhos e descaminhos, jogando, desafiando, competindo, compartilhando na construção de sentidos e significados particulares sobre um objeto (que pode ser uma pergunta, um sujeito, uma situação, um lugar, um grupo, uma instituição, uma conjuntura, um artefato, um conjunto de artefatos, um discurso, distintos discursos, e, até mesmo, um objeto). Ao ser instigada a escrever tendo como temática os jogos teatrais, sendo professora de teatro e atriz, seria mais provável que me referisse a estes ligados às minhas experiências docentes com crianças, jovens e adultos, ou aos jogos teatrais sempre tão presentes e caros aos processos criativos nos quais estive envolvida como atriz . No entanto, aqui a voz que falará (escreverá enunciando, especificamente) é aquela que se construiu justamente a partir das vivências das outras duas: a voz da pesquisadora preocupada com possibilidades de construção de uma investigação em teatro. Certamente, as três “vozes-personas” que aqui disseco não estão apartadas umas das outras. Ao contrário: estão indelevelmente relacionadas, constituindo uma identidade múltipla, híbrida e cambiante de professora-atriz-pesquisadora em teatro. Assim, assumo que neste breve espaço de reflexão far-se-á mais presente a voz da pesquisadora, sendo que estes escritos apresentam-se como uma narrativa, reflexiva e não conclusiva, acerca da possibilidade, ou das múltiplas possibilidades, de se exercitar o jogo teatral como uma metodologia de construção de dados. Ainda que possa parecer que, mais uma vez, parte-se para o utilitarismo do teatro e dos jogos teatrais (algo muito comum durante várias décadas no Brasil, principalmente junto ao campo educacional), negando que sua existência e prática por si só tenham valor e constituam conhecimento legítimo, não é essa a pretensão deste pequeno artigo. Destarte, é um dos objetivos destes escritos demonstrar, através da exposição de uma experiência desenvolvida na prática investigativa de uma pesquisa de recepção teatral, mais uma das diversas facetas que nos apresentam os jogos teatrais
  • 3. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 3 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br desenvolvidos por Viola Spolin e divulgados no Brasil há trinta anos, data comemorativa à qual se filia a escrita deste artigo. Nestes 30 anos, podemos encontrar os jogos teatrais sendo brincados, jogados e exercitados em escolas das redes pública e privada, em todos os níveis de ensino, em cursos superiores de teatro, dança, educação física, pedagogia e artes, em oficinas livres, em salas de ensaio de grupos teatrais profissionais e amadores, em grupos de idosos e recreação de funcionários de escritórios e fábricas, na formação de professores, em dinâmicas de relacionamento de grupos, em consultórios de psicólogos, em grupos de terapia coletiva, nos pátios das casas, nos playgrounds e, por que não?, nas ruas em que crianças ainda podem brincar. Sim, porque hoje os jogos teatrais propostos por Spolin com objetivos claros específicos de propiciar a aquisição de conhecimentos relativos à linguagem teatral através de sua vivência mesma, mesclam-se com as brincadeiras tradicionais das crianças contemporâneas quando estas podem estar em lugares abertos, brincando em grupos, assim como era o “normal” há 30 ou 40 anos nas grandes e pequenas cidades do Brasil. Quando os jogos teatrais chegam ao Brasil, encontram crianças acostumadas a jogar com seus corpos no espaço. Hoje, os jogos teatrais relacionam-se com crianças que, na maioria das vezes, tem os espaços limitados de seus quartos como lugar de jogo a as telas de computadores e televisões como moldura de suas imaginações. Portanto, os jogos teatrais que estas crianças vivenciam em suas escolas e aulas de teatro são, possivelmente, muitas das brincadeiras que vão reproduzir nos raros momentos de suas vidas em que podem ocupar espaços de jogo livre. Seguindo estas colocações preliminares que pincelam levianamente a importância dos jogos teatrais no Brasil em diversos campos (Educação, Psicologia, Medicina, Terapia Ocupacional, Artes, Educação Física, Administração são somente alguns exemplos), gostaria de introduzir a reflexão que aqui proponho discutindo alguns conceitos que a norteiam. 2) OS ESTUDOS EMPÍRICOS DE RECEPÇÃO TEATRAL: JOGAR COM DADOS... No Brasil, poucas (pouquíssimas) investigações de caráter empírico têm sido realizadas atreladas àquilo que podemos considerar como pesquisa de recepção ligada ao campo teatral. No entanto, nas primeiras aulas de fundamentos do teatro ou
  • 4. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 4 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br introdução à linguagem teatral, tanto em universidades, como nas escolas e cursos livre, quando iniciamos a relação de ensino-apredizagem do(s) teatro(s), ouve-se e fala-se dos três vértices, interligados, que compõem a linguagem teatral: ator, espectador e intenção estética2. No entanto, o que sabemos sobre ou como pensamos o receptor de teatro? Que trabalhos investigativos, práticos e teóricos, têm tratado da questão do espectador e das platéias? Mesmo nos espaços dos cursos de graduação em teatro, a questão da recepção geralmente fica atrelada à formação do aluno como espectador dos colegas nas aulas práticas e jogos teatrais e não necessariamente debate-se sobre a apreciação estética e as ferramentas necessárias a ela. Alguns currículos no Brasil contam, hoje, com disciplinas de Estética e de Crítica Teatral, mas a temática da recepção, o acontecimento teatral do ponto de vista do espectador, obviamente, deveria ser tema transversal em disciplinas de direção teatral, interpretação, história do teatro, dramaturgia, entre tantas outras. E o espectador comum, aquele que não possui nenhum vínculo mais aprofundado com o campo, aquele que não é uma “pessoa de teatro”, que espaço tem sido dado ao estudo do “espectador-espectador” e sua relação com a linguagem teatral? Há trabalhos sérios vinculadas à Estética da Recepção 3 , realizados por estudiosos brasileiros, o que pressupõe que estes sejam digressões de caráter prioritariamente teórico e não análises empíricas de recepção teatral. Já ouvi em distintos momentos que há certo pudor, ousaria dizer medo, por parte de alguns pesquisadores em encarar a pesquisa empírica de recepção teatral, em construir trabalhos a partir de espectadores reais, de carne e osso, e de seus discursos acerca do teatro, acerca de suas experiências, os significados e sentidos construídos a partir do acontecimento teatral. E justificando tal lacuna há uma série de motivos, que não serão aqui elencados por não ser este o objetivo deste artigo. Cumpre notar, no entanto, que o mais perceptível deles talvez seja o fato de não possuirmos (o campo teatral) ainda um arcabouço teórico e metodológico próprio para estes estudos. Não pretendo afirmar, com isto, que não haja estudos e análises estéticas realizadas no campo de pesquisa 2 Tenho utilizado este termo em minhas aulas, mas outros autores e professores colocam outros com valor similar. 3 Os trabalhos de doutoramento dos professores Clóvis Massa (UFRGS) e Luís Cláudio Cajaíba (UFBa) são exemplos.
  • 5. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 5 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br teatral brasileiro; pretendo alertar para a carência no que concerne à projetos de pesquisa que empreendam investigações que envolvam sujeitos, que desenvolvam metodologias empíricas de análise e construção de dados. Todavia, considero de suma importância dar continuidade a este subcampo de investigação dentro do campo dos estudos teatrais, com a construção de pesquisas e escolhas metodológicas no ato mesmo de empreendê-las, não compreendendo o processo de investigação como algo apartado do objeto de estudo e do sujeito pesquisador. Destarte, é importante salientar que dentro de um processo de construção de pesquisa, “dados” não nos são “dados”. Dados são construídos, ousaria dizer até “inventados”, a despeito de sua materialidade necessária, já que são “os olhos que querem ver” do pesquisador, as lentes das teorias que norteiam seu olhar, que vão através de uma mirada específica construir estes dados e os sentidos e significados que a partir deles poderão ser criados, construídos e, mais uma vez ousando, inventados. Diversas questões relativas à recepção teatral e às ferramentas e caminhos metodológicos empreendidos em estudos relativos à recepção têm permeado minhas vivências como pesquisadora e pode ser produtivo compartilhar algumas delas neste espaço, ainda que não busque respondê-las. Pois então: como apreender a recepção? Como entender a experiência do outro a partir de um artefato teatral? Como construir dados em uma pesquisa de recepção que não sejam somente discursos orais ou escritos (ainda que estes tenham se mostrado muito produtivos também)? É possível que especificidades da linguagem teatral como a presencialidade e a efemeridade sejam transformadas ou compreendidas em dados? Como o corpo do espectador em relação aos corpos dos atores pode ser considerado e estudado em uma pesquisa de recepção teatral? E o jogo teatral, seria ele uma forma de expressão legítima (produtiva para a investigação) de um espectador em relação com a linguagem teatral? Como conduzir espectadores não-atores a expressar e construir significados e sentidos acerca do visto/ouvido/vivido no teatro através dos jogos? E depois: como apreender o jogo? O jogo pode ter resultados? Isso não desvirtuaria a própria existência do jogo? Estes supostos resultados podem ser convertidos em dados pelo olhar do pesquisador? O que, em um jogo, é passível de ser transformado em dados? Tempo, ritmo, uso do espaço, do corpo-voz, intensidade, engajamento? Como registrar isso? Através de fotos? Vídeos? Anotações? Enfim, pode-se perceber que são muitas as perguntas, para as quais
  • 6. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 6 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br obviamente não possuo respostas. Contudo, são estas perguntas que têm sido o principal indutor de diversas práticas que tenho desenvolvido como professora e pesquisadora. 3) JOGOS TEATRAIS COMO METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE DADOS A seguir, apresento o relato reflexivo acerca do trabalho de campo realizado junto a um grupo de crianças espectadoras (meninos e meninas) com idades entre os 5 e os 11 anos, cursando do Jardim B à 4ª série do Ensino Fundamental em uma escola pública de um município do interior do estado do Rio Grande do Sul. Dentro de uma proposta multimetodológica de construção de dados para uma pesquisa de recepção teatral com crianças espectadoras, os jogos teatrais foram exercitados e jogados com o intuito de produzir material que pudesse ser analisado na investigação. 3.1 JOGOS TEATRAIS EM PESQUISA DE RECEPÇÃO: PARA QUÊ? POR QUÊ? Partindo dos pressupostos de Viola Spolin4, propositora do sistema dos jogos teatrais, de que a linguagem teatral e seu exercício não têm relação de dependência alguma com aquilo que se convenciona chamar de “talento” ou “dom natural” no ocidente, conceitos muito propagados desde a instalação do romantismo como corrente estética dominante na primeira metade do século XIX na Europa e nas Américas; percebi como pesquisadora, que um dos possíveis caminhos a serem seguidos na construção de dados a serem analisados em um estudo de recepção estaria ligado à própria compreensão da linguagem teatral pelos espectadores. Assim, entendendo que a experiência vivenciada é uma forma de aprendizagem legítima e, segundo Spolin, a mais eficaz no caso da apreensão da linguagem teatral, considerei que poderia ser produtivo trabalhar a partir de seus jogos teatrais com os receptores, levantando como hipótese que estes momentos suscitariam formas de expressão diferenciadas da oral e da escrita, possibilitando que os corpos destes sujeitos pesquisados em sua relação com o artefato teatral também colaborassem para que eu, pesquisadora, construísse sentidos e significados a partir desta relação. 4 Viola Spolin possui quatro obras de sua autoria traduzidas para o português, publicadas pela Editora Perspectiva (São Paulo): Improvisação para o teatro; Jogo teatral no livro do diretor; Jogos teatrais na sala de aula e Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin, todas reimpressas no ano de 2008.
  • 7. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 7 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br Segue excerto de meu Diário de Trabalho, no qual se pode notar como o exercício dos jogos teatrais trouxe ao trabalho de campo uma outra dimensão, que mesmo estando sempre presente, nem sempre pode ser claramente percebida: a dimensão do corpo. Dia 3. Bento Gonçalves, RS. 19 de setembro de 2003. Este encontro, no dia após a ida ao teatro, foi muito produtivo. Conversamos longamente sobre a peça, sobre outras peças que assistiram, sobre suas preferências, entrevistaram-me, interessados por minha história com o teatro, contaram-me suas histórias com o teatro. Após esta conversa, propus que fizéssemos três jogos teatrais: estátua em duplas, jogo do quadro/ fotografia sobre a peça e jogo Quem eu sou? livre. Muitas relações, significados e sentidos conferidos pelos alunos ao (e através do) espetáculo que assistiram no dia anterior surgiram durante os jogos, com seus gestos, ações, movimentos e falas. Corpos (re)produzindo e (re)criando a experiência do dia anterior, com o artefato teatral e sua linguagem peculiar. Corpos vivos brincando e inventando. O corpo, sua gestualidade e sua energia tornam-se locutores de sentidos e da relação das crianças com a linguagem teatral. E nesse caso, concomitante ao experimentar o “fazer teatral” que os jogos propiciavam, estávamos construindo sentidos acerca de suas relações como espectadoras ao assistirem a um espetáculo teatral. Neste momento do trabalho de campo, o conhecimento teatral produzido pelas crianças sujeitos da pesquisa esteve intrinsecamente ligado tanto a experiências vivenciadas no “fazer” quanto no “ver” teatro. E o anteriormente afirmado pode parecer óbvio, tratando-se da prática de jogos teatrais, que já na proposta veiculada por Spolin apresenta a capacidade de ver, analisar e avaliar o que foi realizado em cena pelos colegas como instrumento da relação ensino- aprendizagem. No entanto, quando falamos de pesquisas de recepção, temos como únicas metodologias encontráveis aquelas mais comuns na pesquisa qualitativa em humanidades, como os questionários, observação participante, entrevistas, grupos focais, e, no caso da pesquisa com crianças, a expressão plástica do desenho. O engajamento do corpo-mente em atividades para além das de caráter da expressão oral não figuram no elenco de metodologias possíveis. Assim sendo, pareceu-me instigante que a partir dos jogos teatrais realizados com as crianças, estas tivessem mostrado e expressado outras relações com a linguagem teatral, reafirmando, negando ou subvertendo até aquelas que foram colocadas através
  • 8. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 8 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br de suas falas. Portanto, cabem aqui algumas reflexões acerca do jogo e de suas funções (ou não funções) implicadas com as culturas que nos constituem. A linguagem teatral (com todas as questões suscitadas pelo uso deste termo) pode ser pensada como uma forma de jogo inexoravelmente ligada à espécie humana. Segundo as características que Huizinga5 levanta como sendo próprias das atividades lúdicas, o teatro apresenta-se como uma modalidade de jogo por excelência. Conforme este autor, o jogo não é “vida corrente”, é um intervalo na vida cotidiana e prosaica; contudo, é parte integrante de uma suposta “vida real” e utiliza-se de elementos e influências desta para sua posterior negação e reorganização no universo próprio do jogo; tem sempre uma finalidade autônoma e se realiza tendo em vista uma satisfação que consiste no próprio ato de jogar, sendo uma atividade livre e voluntária, mesmo que siga regras internas rígidas; as regras de um jogo devem ser aceitas e conhecidas por todos os jogadores para que ele suceda com êxito pleno; o jogo só pode existir em uma limitação definida de espaço e tempo, ele cria um espaço e um tempo próprios e durante este espaço-tempo tudo é movimento, mudança, associação e separação; entretanto, o jogo cria ordem e é ordem, pois dentro de seus domínios a ordem deve ser específica e absoluta. Após esta longa listagem de características abordadas por Huizinga (2000) como sendo necessárias a uma atividade lúdica ou jogo, posso inferir que há uma forte e marcada analogia entre as práticas teatrais e o jogo ou as atividades lúdicas. Tal como no jogo, no teatro busca-se uma espécie de evasão da vida prosaica na qual se constrói uma nova situação galgada em elementos retirados do contexto cultural e de seus sujeitos, reorganizados de forma estético-poética; a efemeridade e a limitação espacial do teatro são idênticas as do jogo (e absolutamente necessárias à existência de ambos); as regras do jogo são homólogas às convenções estéticas e éticas que seguimos na elaboração e reconhecimento de uma linguagem teatral (produtores e receptores devem conhecer e respeitar as mesmas regras no teatro). Assim sendo, mesmo que sejam atividades exteriores à vida cotidiana e habitual, tanto o teatro como o jogo são capazes de absorver os participantes de uma maneira intensa, criando uma tensão que “transportaria” os jogadores a um espaço-tempo diferenciado, extracotidiano. 5 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens – O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000.
  • 9. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 9 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br No espaço-tempo não-cotidiano do jogo desenvolvem-se sentimentos “genuínos”, como a sensação que experimentam os jogadores de estar “separadamente juntos”6, em uma situação excepcional, partilhando algo importante. Logo, penso que no caso específico do teatro a “comunhão teatral”, ou o “estar junto” que vivenciam atores e espectadores, atores e atores e atores e personagens, possa ser significado por seus participantes enquanto algo que os arrebata e provoca sensações semelhantes ao envolvimento em um jogo coletivo. Portanto, o público deve ser seduzido e convencido a aceitar o jogo proposto pelos atores em cena e pela estética da encenação e seus elementos, e a partir daí compartilhar das regras e (des)prazeres possíveis. Após estas considerações que têm o intuito de contextualizar a analogia possível entre a linguagem teatral e o jogo, julgo ser pertinente ressaltar que a prática de jogos dramáticos e teatrais é amplamente utilizada tanto na formação de atores como na de platéias, bem como estímulo para a iniciação de crianças e adultos com a linguagem teatral e algumas de suas especificidades técnicas, formais e estéticas. Diversos autores, professores, diretores, atores e teóricos formularam suas metodologias da abordagem teatral através de jogos. Podemos citar alguns deles como Peter Slade e a relação entre o jogo dramático e o jogo infantil, Viola Spolin e o jogo teatral improvisacional, Augusto Boal e suas propostas do Teatro do Oprimido, além de tantos outros como Bertold Brecht e seu teatro didático, somente referindo-me aos mais trabalhados no Brasil junto ao campo teatral7. Justificando a proposta do uso de jogos teatrais como uma das metodologias de construção de dados junto às crianças espectadoras, posso dizer que desde o início do desenvolvimento do trabalho de pesquisa minhas idéias encaminhavam-se no sentido de não somente ouvir as falas das crianças, ou seja, não me ater somente às informações que poderia obter através da linguagem verbal ou escrita. Ora, se o teatro apresenta-se marcadamente ligado a diversas linguagens, entre elas, e talvez com mais força, pela linguagem dos movimentos e gestos dos atores em cena, por que não possibilitar às crianças que expressassem aquilo que sentem e pensam sobre a linguagem teatral através de seus corpos, da tonicidade e ritmo de seus movimentos, da plasticidade de 6 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens – O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000. 7 É importante salientar que docentes de universidades brasileiras têm levado à cabo nas últimas décadas importantes pesquisas e práticas envolvendo jogos (dramáticos de origem inglesa, francesa, brechtianos, etc.).
  • 10. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 10 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br seus gestos? Além disso, sendo eu uma professoratriz, parecia-me óbvio que abordasse aquelas crianças e tentasse construir uma relação com elas através da linguagem com a qual estou familiarizada, da língua que porto, e que, enfim, era e é o objeto central de minhas vontades de pesquisa. 3.2 JOGOS TEATRAIS EM UMA PESQUISA DE RECEPÇÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA Por conseguinte, ofertei às crianças, desde nosso primeiro encontro, a possibilidade de realizarmos uma série de jogos teatrais, inspirados principalmente no sistema de Spolin que, segundo Desgranges8, “está calcado em jogos de improvisação e tem o intuito de estimular o participante a construir o próprio conhecimento acerca da linguagem teatral, em um método em que o aluno, junto com o grupo, aprende fazendo, experimentando, e pensando criticamente acerca daquilo que foi realizado”. De sua parte, as crianças acolheram a proposta e mostraram-se sempre muito entusiasmadas na realização das atividades que envolviam jogos teatrais e atividades lúdicas de caráter corporal e cinestésico. No primeiro encontro, jogamos jogos de atenção, disponibilidade, confiança, ritmo, desinibição e respeito pelo corpo do colega, sempre pensando na relação palco- platéia, sendo que enquanto um grupo realizava o jogo o outro observava e posteriormente comentava-se a percepção e as impressões dos jogadores e observadores. Jogos de mímese corpórea também foram realizados, sempre encaminhando o foco na direção de meu objetivo central, que era o de construir dados que me revelassem como acontecem as experiências das crianças para com a linguagem teatral, tínhamos como temática o próprio teatro. 8 DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: HUCITEC, 2003. Id. Jogo Teatral: uma criação de Viola Spolin. Texto digitado. Material para fins didáticos, s/d.
  • 11. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 11 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br Encontro 1: jogo de apresentação com gesto e nome, em círculo. Márcio faz seu gesto e diz seu nome para mim.9 Encontro 1: jogo das partes do corpo grudadas com deslocamento. Jogo de atenção, confiança e disponibilidade. Encontro 1: hipnose em duplas. Jogo de concentração, corporeidade, confiança, ritmo. 9 O uso das imagens, das falas e dos desenhos das crianças foi devidamente autorizado pelos pais e responsáveis. A participação delas na investigação se deu de forma espontânea. Os nomes das crianças mencionados no artigo são fictícios.
  • 12. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 12 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br Assim, não tive a intenção, com o uso dos jogos teatrais, de realizar algo que se assemelhasse ao que Desgranges (2003) nomeia de “animação teatral”, ou seja, atividades com a finalidade de otimizar a recepção do espetáculo por parte dos espectadores. Simplesmente tentei possibilitar às crianças que construíssem significados acerca do teatro através da linguagem corporal, propiciada então pelos jogos. Durante o Encontro 3, que sucedeu a assistência ao espetáculo teatral infantil A Terrível Viseira do Dr. Chip, propus vários jogos de mímese corpórea de caráter livre10, em grupos, nos quais as crianças poderiam ou não reproduzir cenas, situações e personagens do espetáculo assistido. Diversas relações que as crianças construíram com o espetáculo em questão surgiram nestes jogos, bem como algumas concepções advindas de seu repertório cultural anterior também se fizeram presentes11. Como já foi anteriormente citado, uma de minhas preocupações acerca da realização dos jogos foi como apreender os resultados destes para sua possível utilização como dados, ou seja, como objetos a serem analisados na feitura da pesquisa de recepção. Assim, julguei pertinente, naquele momento, utilizar o mínimo possível de equipamentos que suscitassem às crianças presença de interferências externas em nossos encontros. Foram utilizados, portanto, um pequeno gravador de voz (que gerou, obviamente, muita curiosidade entre elas) e uma câmara fotográfica simples, portátil, ambos manuseados por mim. Algumas filmagens também foram feitas, mas posteriormente descartadas, pois as imagens fotográficas e transcrições de falas, juntamente com as anotações me meu Diário de Trabalho, mostraram-se material suficiente e consistente para análise acerca das relações de recepção daquele grupo de crianças com o teatro. Acerca destes registros fotográficos, que foram considerados documentos a serem analisados, considero importante lembrar a seguinte colocação: “A fotografia é, na verdade, um constante convite à releitura, a uma forma diversa de ordenar o texto imagético. Pode ser olhada muitas vezes, em diferentes ordens e momentos, pode ter 10 A descrição detalhada de todos os procedimentos metodológicos envolvidos nesta pesquisa está presente na dissertação de mestrado da autora, que pode ser acessada gratuitamente pelo Sistema de Bibliotecas de Teses e Dissertações da UFRGS: www.sabi.ufrgs.br . 11 As análises dos dados construídos no trabalho de campo podem ser encontradas em FERREIRA, Taís. A escola no teatro e o teatro na escola. Porto Alegre: Mediação, 2007.
  • 13. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 13 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br outras interpretações: ela é sempre uma foto ali presente, pois uma foto se transforma cada vez que é contemplada, revive a cada olhar”12. Percebo a fotografia neste trabalho de investigação enquanto um instrumento valioso à pesquisa tanto na construção dos dados quanto nas reflexões e discussões desenvolvidas nas análises propriamente. Deste modo, compartilho da idéia de que “o que é importante para as Ciências Sociais não é a foto em si, mas a reflexão que pode ser desenvolvida a partir de uma fotografia ou de uma série de fotografias”13. No caso dos registros dos jogos teatrais, por seu caráter de efemeridade, estes não poderiam ser capturados e transformados em dados de outra forma que não através de minhas notas em Diário de Trabalho e dos registros fotográficos realizados. Assim, percebo que a utilidade e qualidade da “fotografia [para a pesquisa] é mais evidente quando se trata do estudo de relações sociais em que os indivíduos se definem principalmente através da linguagem gestual”14, como nos jogos teatrais realizados, nos quais me interessava, prioritariamente, perceber como através de seus corpos, gestos e ações as crianças poderiam expressar e construir suas relações para com o teatro. Seguem algumas das fotografias obtidas durante a realização de jogos teatrais com as crianças, em que relações construídas por elas com o espetáculo assistido mesclam-se a construção do conhecimento teatral que estas estavam desenvolvendo em diversos espaços de suas vivências: a família, a escola, a igreja e o próprio trabalho que realizávamos juntos naquele momento. 12 KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas na pesquisa com crianças. Cadernos de Pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/Autores Associados, n. 116, p. 41-59, julho/2002. 13 GURAN, Milton. A “fotografia eficiente” e as Ciências Sociais. In: ACHUTTI, Luiz Eduardo R. (Org.). Ensaios sobre o fotográfico. Porto Alegre: Unidade Editorial/PMPA, 1998. p. 87-99. 14 Ibid., p. 87-99
  • 14. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 14 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br Encontro 3: jogo da estátua em duplas, livre. Os escultores montam suas estátuas. Encontro 3: os escultores observam suas estátuas.
  • 15. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 15 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br Paulo constrói sua estátua com a colega Janaína. Marcela mostra-nos sua estátua, a colega Tamires.
  • 16. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 16 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br 4. CONCLUINDO ESTA PROPOSTA: JOGOS TEATRAIS, JOGOS DE DADOS Assim, posso afirmar que nesta experiência, com este grupo de crianças, conversamos sobre teatro, discutimos e debatemos teatro, assistimos teatro e exercitamos e aprendemos o teatro através do próprio teatro. Construímos conhecimento sobre teatro a partir do teatro e de todas as relações e mediações que interpolam o espaço de experiência das crianças contemporaneamente com a linguagem teatral. E os jogos teatrais, estes foram porta de entrada e boas-vindas ao trabalho que construímos, já que desde o momento em que nos conhecemos, as crianças e eu, propus que nos relacionássemos de modo lúdico, em que o corpo-voz de cada um se fizesse ver e ouvir dentro do grupo. Ofertei a estas crianças a possibilidade de analisar, pensar e construir significados e sentidos a partir daquilo que haviam assistido no espetáculo não somente através de sua escrita e de sua fala, os corpos ali, juntos e engajados na brincadeira, queriam expressar de outros modos, através do gesto, da imagem, do movimento, da intensidade, das energias empreendidas. Pretendo dar continuidade a pesquisas de recepção, principalmente àquelas de caráter empírico, do qual se ressente o campo teatral por sua carência. E os jogos teatrais parecem-me ter seu lugar confirmado entre as metodologias possíveis na construção de dados de pesquisas empíricas de recepção. Ainda que estes demandem mais espaço, mais tempo e maior envolvimento entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados do que a realização de questionários e entrevistas, considero que sua existência dentro de uma metodologia de construção de dados para análise da recepção abre caminho para pensar-agir teatralmente, evocando a linguagem teatral naquilo que ela tem de mais específico, que é a troca, que é a comunhão corporal e energética entre aqueles que fazem e aqueles que receptam. “Jogar os dados” na construção de dados coloca em jogo muito mais do que racional e logicamente podemos conceber e analisar. “Jogar com dados” na construção de análises em pesquisas de caráter empírico faz-se necessário, mas a natureza destes dados pode e deve ser repensada. E o espaço entre, o espaço no qual se faz o teatro, este precisa ser compreendido através de mecanismos que viabilizem linhas de fuga à centralidade da palavra como meio de expressão. E o jogo teatral, mais uma vez, nos permite aprender e apreender o teatro para além da palavra atrelada à lógica moderna e cartesiana, apontando para a percepção das culturas e mediações que constituem as
  • 17. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais 17 Janeiro/ Fevereiro/ Março/ Abril de 2010 Vol. 7 Ano VII nº 1 ISSN: 1807-6971 Disponível em: www.revistafenix.pro.br identidades de espectadores de teatro, das sensações e sentidos experimentados por estes.