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O Barroco
                                                                         Bibliografia


                      Bibliografia

ARGAN, Giulio Carlo Argan. Imagem e Persuasão. Ensaios
sobre o Barroco . São Paulo. Cia. das Letras, 2004.
BAUMGART, Fritz. Breve História da Arte. 2 ed. São Paulo.
Martins Fontes, 1999.
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo.
Perspectiva, 1999.
GOMBRICH, Arnold. História da Arte. Rio de Janeiro. LTC,
1999.
HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da Arte. V
1. 3 ed. São Paulo. Mestre Jou, 1982.
JANSON, H. W. História Geral da Arte. São Paulo. Martins
Fontes, 1993.
NUTTGENS, Patrick. The story of architecture. 2 ed.
Phaidon, 1997.




                               Bartolomé Murillo : A imaculada conceição
                                   (Prado: óleo s/tela – 2,06x1,44m; 1660)
O Barroco
                                Bibliografia




 Giotto – 1305
 Ognissanti Madona ( Uffizi)


 Nossa Senhora entronizada com o menino
 (Têmpera sobre madeira, 81,5cm x 49 cm;
 Galeria Nacional de Arte; Washington, 1280)




                                                         Bartolomé Murillo : A imaculada conceição
                                                             (Prado: óleo s/tela – 2,06x1,44m; 1660)
Rafael
Madona di Campi (Têmpera s/madeira, 113 x 88 cm, 1506)
O Barroco
A Europa católica, primeira metade do século XVII


                                Na Itália, após o Concílio de Trento (1545-63), surge uma igreja
                                revigorada pela definição de novas posturas pela Contra-reforma,
                                que se volta para as massas e permite uma concepção mais
                                emocional e universalmente compreensível.
                                O barroco rompe, assim, com o intelectualismo classicista do
                                Maneirismo.
                                Apesar do desejo de influenciar um público tão vasto quanto
                                possível, o espírito aristocrático da Igreja manifesta-se por toda a
                                parte. A Cúria gostaria de criar uma arte do povo, para
                                propagação da fé católica e ao mesmo tempo limitar o elemento
                                popular à simplicidade de idéias e formas, evitando assim a
                                simplicidade plebéia de expressão.
                                Os sagrados personagens retratados têm que falar de fé tão
                                insistentemente quanto possível, mas em nenhuma circunstância
                                descer do seu pedestal.
                                Roma vive seu esplendor, não só como residência papal, mas
                                como capital da Cristandade católica. Os papas mandam erigir,
                                não apenas novas igrejas, como também palácios, vilas e jardins.
                                O catolicismo torna-se, cada vez mais, palaciano e o
                                protestantismo, da classe média.
O Barroco
A Europa católica, primeira metade do século XVII


                        No século XVII, na Europa, surge um tipo de arte que assume grande
                        variedade de formas e interpretações.
                        Até há pouco tempo, o Barroco era compreendido, em parte, por sua
                        definição etimológica: bizarro, grotesco.
                        Na verdade, pode-se considerá-lo, não como uma ruptura com o
                        classicismo da Renascença, mas como uma evolução, que passa pelo
                        maneirismo e vai desaguar nos estilos rococó e romântico classicista.
                        A arte Barroca se utiliza de elementos de ilusão, de aproximação dos
                        personagens principais, linhas diagonais, claro-escuro...
                        Certamente, trata-se de uma nova forma, mais popular e menos
                        intelectualizada que a de seus antecessores, em que o papel da arte,
                        como divulgadora de uma ideologia, de uma forma de pensar, se
                        expande e multiplica seus objetivos.
                        Sob o governo de Urbano VIII, Roma torna-se o centro cultural e
                        artístico da Europa. Bernini e Borromini são os mais importantes
                        arquitetos (os 4 B´s da arquitetura italiana com Bruneleschi e
                        Bramante).
                        Nas artes, o naturalismo de Caravaggio e o emocionalismo dos Carracci,
                        representam as duas principais orientações. A expressão do Cristo no
                        calvário, da piedade de Nossa Senhora, entre outros personagens
                        sagrados, como temos até hoje, origina-se das pinturas e esculturas
                        barrocas.




                         Gian Lorenzo Bernini :
                         O Êxtase de Sta. Tereza/ Capela Cornaro ( Roma: 1648)
O Barroco
                               A Europa católica, primeira metade do século XVII
Michelangelo Caravaggio – A Crucificação de São Pedro e a Conversão de São Paulo ( Sta. Maria del Popolo, Roma:
                                                     1601)
O Barroco
                               A Europa católica, primeira metade do século XVII
   Michelangelo Caravaggio – Tomé o Incrédulo (1602; óleo sobre tela, 42 1/8 x 57 1/2; Neues Palais, Potsdam ))

                                                                   Vejamos o seu quadro de São Tomé: os três apóstolos, de
                                                                   olhos pregados em Jesus, um deles enfiando um dedo na
                                                                   ferida em Sua ilharga, têm um aspecto nada convencional.
                                                                   Pode-se convir que uma tal pintura poderia impressionar
                                                                   pessoas devotas como desrespeitosa e mesmo ultrajante.
                                                                   Estavam todas habituadas a ver os apóstolos como figuras
                                                                   dignas, envoltas em belos mantos; no quadro de
                                                                   Caravaggio, eles pareciam trabalhadores comuns, seus
                                                                   rostos eram curtidos pelo tempo e as testas enrugadas.
                                                                   Mas, teria replicado o pintor, eles eram velhos
                                                                   trabalhadores, gente comum - e quanto ao gesto indelicado
                                                                   de Tomé, o Incrédulo, a Bíblia é muito explícita a esse
                                                                   respeito. Disse-lhe Jesus: "Põe aqui o teu dedo, e vê as
                                                                   minhas mãos; aproxima também a tua mão, e põe-na no
                                                                   meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente" (S. João XX,
                                                                   27).
                                                                   O "naturalismo" de Caravaggio, ou seja, a sua intenção de
                                                                   copiar fielmente a natureza, quer a considerasse feia ou
                                                                   bela, talvez fosse mais devoto do que a ênfase de Carracci
                                                                   sobre a beleza.
                                                                   A luz não faz o corpo parecer gracioso e macio; é áspera e
Caravaggio : Tomé, o incrédulo                                     quase ofuscante no contraste com as sombras profundas.
(Sanssouci: óleo s/tela – 1,07x1,46m; 1602)
                                                                   Faz toda a estranha cena destacar-se com uma honestidade
                                                                   intransigente que poucos de seus contemporâneos
                                                                   souberam apreciar, mas que iria ter um efeito decisivo
                                                                   sobre artistas subseqüentes.
O Barroco
                            A Europa católica, primeira metade do século XVII
Michelangelo Caravaggio – Tomé o Incrédulo (1602; óleo sobre tela, 42 1/8 x 57 1/2; Neues Palais, Potsdam ))




  Caravaggio : Tomé, o incrédulo
  (Sanssouci: óleo s/tela – 1,07x1,46m; 1602)
O Barroco
                  A Europa católica, primeira metade do século XVII
Michelangelo Caravaggio – Baco (1597; Óleo sobre tela, 37 3/8 x 33 1/2; Uffizi, Florence)




                                                      Caravaggio : Baco
                                                      (Uffizi; óleo s/tela – 1597)
O Barroco
               A Europa católica, primeira metade do século XVII
Michelangelo Caravaggio – Medusa (1590; óleo sobre tela sobre madeira, Uffizi)




                                                         Caravaggio : Medusa
                                                         (Uffizi; óleo s/tela e madeira – 1590)
O Barroco
                A Europa católica, primeira metade do século XVII
Michelangelo Caravaggio – O sacrifício de Isaac (1590 - 1610; óleo sobre tela, Uffizi)
O Barroco
A Europa católica, primeira metade do século XVII
    Michelangelo Caravaggio – Davi e Golias




                                                                        Michelangelo Caravaggio Davi e Golias
                                                    (1606 - óleo sobre tela Kunsthistorisches Museum, Viena)


                               Michelangelo Caravaggio Davi e Golias
                               (1606 - óleo sobre tela , Prado)
O Barroco
               A Europa católica, primeira metade do século XVII
Annibale Carracci – Pietá (Nápoles: Museo di Capodimonte; óleo 156x149: 1600)


                                                   Annibale Carracci era membro de uma família de pintores
                                                   e tinha estudado a arte de Veneza e a de Correggio.
                                                   Chegando a Roma, ficou fascinado pelas obras de Rafael,
                                                   que admirou imensamente.
                                                   Pessoalmente, Carracci era um artista autêntico demais
                                                   para se dedicar a uma idéia tão tola. Mas o lema dos seus
                                                   partidários nas "panelinhas" de Roma era o cultivo da
                                                   beleza clássica. Podemos ver a sua intenção no retábulo da
                                                   Virgem chorando sobre o corpo do Senhor morto.
                                                   Basta-nos relembrar o corpo atormentado do Cristo de
                                                   Grünewald para nos apercebermos de como Annibale
                                                   Carracci se esmerou em não nos oferecer os horrores da
                                                   morte e as agonias da dor.
                                                   O quadro é tão simples e harmonioso no arranjo quanto o
                                                   de um pintor renascentista. Contudo, não seria fácil
                                                   confundi-lo com uma pintura da Renascença. O modo
                                                   como faz a luz cair sobre o corpo do Salvador, todo o apelo
                                                   feito às nossas emoções, é bem diferente: é barroco.
                                                   É facil tachar esse quadro de sentimental, mas não
                                                   devemos esquecer para que finalidade foi pintado. É um
                                                   retábulo para ser contemplado em prece e devoção, com
                                                   velas ardendo à sua frente.




                                                 Annibale Carracci – Pietá
                                                 (Nápoles: Museo di Capodimonte; óleo 156x149: 1600)
Itália 2009
Roma



ÁREA: 1.285 km²
POPULAÇÃO: 2,5 milhões (2001)




                                Roma espalha-se pelas margens rio Tibre, compreendendo o seu centro histórico
                                com as suas sete colinas: Palatino, Aventino, Campidoglio, Quirinale, Viminale,
                                Esquilino e Celio. Segundo o mito romano, a cidade foi fundada cerca de 753 a.
                                C., (data convencionada) por Rômulo e Remo.
                                No interior da cidade encontra-se o estado doVaticano, residência do Papa. É
                                uma das cidades com maior importância na Histórioa mundial, sendo um dos
                                símbolos da civilização europeia. Conserva inúmeras ruínas e monumentos na
                                parte antiga da cidade, especialmente da época do Império Romano, e do
                                Renascimento, o movimento cultural que nasceu na Itália.
O Barroco
                                           A Europa católica, primeira metade do século XVII
                                              Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568)

                                                                                                   Gian Lorenzo Bernini
                                                                                                   Praça de São Pedro/Colunata
                                                                                                   ( Roma: 1568)




Sob o governo de Urbano VIII, Roma torna-se o centro cultural e artístico da Europa. Bernini e
Borromini são os mais importantes arquitetos (os 4 B´s da arquitetura italiana com Bruneleschi e
Bramante). A praça de S. Pedro envolve projetos de Michelangelo (a cúpula, em 1547), fachada de
Maderna (1606) e de Bernini (colunata, 1657).
Itália 2009
Roma
Basílica de São Pedro
Itália 2009
Roma
Basílica de São Pedro
O Barroco
                                A Europa católica, primeira metade do século XVII
                                   Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568)




Gian Lorenzo Bernini
Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568)
O Barroco
                                        A Europa católica, primeira metade do século XVII
                                           Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568)




Gian Lorenzo Bernini
Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568)
O Barroco
                                 A Europa católica, primeira metade do século XVII
                                    Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568)




Gian Lorenzo Bernini
Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568)
O Barroco
A Europa católica, primeira metade do século XVII
   Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568)

                    Um dossel colossal (de quase dez andares de altura), feito de
                    bronze e mármore, o baldaquino marca o local de sepultamento
                    de São Pedro.
                    Bernini planejou iluminá-lo com a luz dourada da Cátedra Petri,
                    para elevar o impacto emocional.




                    Gian Lorenzo Bernini
                    Baldaquino / Basílica de São Pedro ( Roma: 1633)
Itália 2009
Roma                                             Bernini
Bernini - Arte nas ruas   Fontana de Trevi ( Roma: 1629)
Itália 2009
Roma                                                                               Bernini
Bernini - Arte nas ruas   Obelisco della Minerva (Piazza Santa Maria Sopra Miverva – 1666)
Itália 2009
Roma                                                                Bernini
Bernini - Arte nas ruas   Fontana dei Quattro Fiumi ( Piazza Navona – 1648)
Itália 2009
Roma               Desconhecido
Arte nas ruas   O Pé de Mármore
Itália 2009
Roma
Il Gesù (1568.)




                     Giacomo della Porta
                  Il Gesù ( Roma: 1568)
Itália 2009                                                                 Borromini
Roma                                     San Carlo alle Quattro Fontane ( Roma: 1641)

Arquitetura Cristã Barroca - Borromini                                       Borromini
                                          Santo Ivo della Sapienza ( Roma: 1642-1660)
O Barroco
A Europa católica, primeira metade do século XVII
   Diego Velázquez – O Aguadeiro de Sevilha

                             Embora não tivesse ainda estado na Itália, Velázquez ficara muito
                             impressionado com as descobertas e o estilo de Caravaggio, que
                             conhecia através da obra de imitadores. Absorvera o programa do
                             "naturalismo", e devotou sua arte à observação desapaixonada da
                             natureza, independentemente de convenções.
                             A ilustração mostra um dos seus primeiros trabalhos, um velho
                             aguadeiro nas ruas de Sevilha. É uma pintura de genre, do tipo que
                             os holandeses tinham inventado para exibir sua habilidade, mas foi
                             feita com toda a intensidade e penetração de "Tomé, o Incrédulo",
                             de Caravaggio.
                             O ancião com sua face cansada e cheia de rugas, a capa esfarrapada,
                             a grande bilha de barro, a superfície vidrada do jarro de louça sobre
                             o banco e o jogo de luz no copo transparente, tudo isso está pintado
                             de um modo tão real que temos a impressão de poder tocar os
                             objetos.
                             Ninguém que se coloque defronte desse quadro se sente inclinado a
                             perguntar se os objetos representados são belos ou feios, ou se a
                             cena é importante ou trivial. Nem mesmo as cores são
                             rigorosamente bonitas por si mesmas. Predominam os tons
                             castanho, cinza e esverdeado. E, no entanto, o todo compõe uma tão
                             rica e suave harmonia que a tela se toma inesquecível para quem
                             quer que faça uma pausa diante dela.




                            Diego Velázquez : O aguadeiro de Sevilha
                            (Londres: óleo s/tela – 106,7x81cm; 1620)
O Barroco
A Europa católica, primeira metade do século XVII
   Diego Velázquez – O Aguadeiro de Sevilha
                                   Vemos o próprio Velázquez trabalhando num quadro
                                   enorme, e, se observarmos com mais cuidado, também
                                   veremos o que ele está pintando. O espelho na parede do
                                   fundo reflete as figuras do Rei e da Rainha, que estão
                                   posando para o retrato. Portanto, vemos o mesmo que os
                                   monarcas: um grupo de pessoas que entrou no ateliê do
                                   pintor. Aí está a filha pequena do régio casal, a infanta
                                   Margarita, ladeada por duas damas de honra, uma delas
                                   servindo-lhe um lanche, enquanto a outra faz uma
                                   reverência ao casal real.
                                   Conhecemos os seus nomes, assim como sabemos também
                                   quem são os dois anões (a mulher feia e o rapaz que açula o
                                   cão) que a corte mantinha para divertir-se. Os austeros
                                   adultos ao fundo parecem zelar pela boa conduta dos
                                   visitantes.
                                   O que significa exatamente tudo isso? É possível que nunca
                                   o saibamos, mas eu gostaria de imaginar que Velázquez
                                   fixou um momento real de tempo muito antes da invenção
                                   da câmera fotográfica. Talvez a princesa tenha sido trazida à
                                   presença de seus régios pais a fim de aliviar o tédio da longa
                                   pose para o quadro, e o Rei ou a Rainha comentasse com
                                   Velázquez que ali estava um tema digno do seu pincel.
                                   As palavras proferidas pelo soberano são sempre tratadas
                                   como uma ordem, e, assim, é provável que devamos essa
                                   obra-prima a um desejo passageiro que somente Velázquez
                                   seria capaz de converter em realidade.




                                  Diego Velázquez : As meninas
                                  (Prado: Madri; óleo s/tela – 3,18x2,76cm; 1656)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
O Barroco
          A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
Peter Paul Rubens: Virgem com o menino entronizados com santos

                               O flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640) chegou a Roma em 1600,
                               aos 23 anos de idade - talvez a idade em que se é mais
                               impressionável.
                               Rubens era um homem com grande capacidade de organização e não
                               menor simpatia pessoal; muitos pintores talentosos de Flandres
                               orgulhavam-se de pintar sob sua orientação e, por conseguinte,
                               aprender com ele. Se a encomenda para um novo quadro chegava de
                               uma das igrejas, ou de um dos reis ou príncipes da Europa, Rubens
                               limitava-se às vezes a pintar apenas um pequeno esboço colorido.
                               Seria tarefa dos seus alunos ou assistentes transferirem tais idéias
                               para a tela grande, e só quando eles terminavam de preparar o fundo
                               e a pintura de acordo com os esboços do mestre, é que Rubens
                               pegava de novo o pincel e retocava um rosto aqui, um vestido de
                               seda acolá, ou atenuava alguns contrastes mais ásperos. Tinha plena
                               confiança em que suas pinceladas podiam rapidamente insuflar vida a
                               qualquer trabalho, e estava certo. Pois esse era o maior segredo da
                               arte de Rubens: sua mágica habilidade para tomar viva, intensa e
                               jubilosamente real qualquer figura. Podemos aferir e admirar essa
                               mestria em alguns de seus desenhos mais simples e nas pinturas que
                               fazia para seu próprio prazer.




                                Peter Paul Rubens : Virgem com menino entronizados com santos
                                (Museu de Berlim: óleo s/madeira – 80,2x55,5cm; 1628)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
      Peter Paul Rubens: Clara Serena

                      A ilustração mostra a cabeça de uma menina,
                      provavelmente filha de Rubens. Não há aqui nenhum
                      estratagema de composição, nada de esplêndidas
                      roupagens nem torrentes de luz, mas um simples retrato
                      en face de uma criança. E no entanto parece respirar e
                      palpitar como um ser de carne e osso.
                      Comparados com este, os retratos de séculos anteriores
                      parecem um parecem um tanto remotos e irreais - por
                      maiores que sejam como obras de arte.
                      É ocioso tentar analisar como Rubens conseguiu criar
                      essa impressão de alegre vitalidade, mas certamente
                      teve algo a ver com os afoitos e delicados toques de luz
                      por meio dos quais indicou a umidade dos lábios e a mo
                      delação do rosto e dos cabelos. Em proporção ainda
                      maior do que Ticiano antes dele, Rubens usou o pincel
                      como principal instrumento.
                      Suas pinturas já não são desenhos cuidadosamente
                      modelados em cor; são produzidas por meios
                      característicos da própria técnica de aplicação de cores
                      sobre a massa, e isso aumenta a impressão de vida e
                      vigor.




                      Peter Paul Rubens : Clara Serena
                      (Liechtenstein: óleo s/tela – 33x26,3cm; 1616)
O Barroco
                                         A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                 Franz Hals: Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company



O primeiro mestre notável da Holanda livre, Frans Hals (1580?-
1666) foi forçado a levar essa existência precária. Hals pertenceu à
mesma geração de Rubens. Seus pais tinham deixado o sul dos
Países Baixos porque eram protestantes, e instalaram-se na cidade
holandesa de Haarlem.
Os cidadãos das orgulhosamente independentes cidades dos
Países Baixos tiveram que cumprir seu papel servindo como
milicianos, geralmente sob o comando dos habitantes mais
prósperos.
Era costume na cidade de Haarlem homenagear os oficiais dessas
unidades com um suntuoso banquete, e também passou a ser
tradição comemorar esses alegres eventos em uma grande
pintura, Certamente não era tarefa fácil para um artista registrar
as figuras de tantos homens em uma moldura sem que o                   Frarnz Hals – Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company
resultado parecesse rígido ou artificial - como antes acontecera       (Óleo s/tela: 175X324cm; Haarlem : 1616)
invariavelmente com tais esforços.
Hals entendeu desde o início como transmitir o espírito da alegre
ocasião e como dar vida a um tal grupo cerimonial sem
negligenciar o propósito de mostrar cada um dos doze membros
presentes de forma tão convincente que sentimos que já devemos
tê-los encontrado: do corpulento coronel que preside à
extremidade da mesa, erguendo seu copo, ao jovem alferes no
lado oposto, que orgulhosamente olha para fora do quadro como
se quisesse que admirássemos seu esplêndido traje.
O Barroco
                                           A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                   Franz Hals: Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company




Frarnz Hals – Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company
(Óleo s/tela: 175X324cm; Haarlem : 1616)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
      Franz Hals: Peter van den Broke

                             Comparado com retratos anteriores, parece quase uma
                             fotografia. Temos a impressão de conhecer esse Pieter van den
                             Broecke, um autêntico mercador-aventureiro do século XVII.
                             Os retratos de Hals dão-nos a impressão de que o pintor
                             "capta" seus modelos num momento característico, fixando-os
                             para sempre na tela. É difícil imaginarmos como essas pinturas
                             audaciosas e não-convencionais devem ter impressionado o
                             público.
                             A própria maneira como Hals manipula a tinta e o pincel sugere
                             que ele registrou rapidamente uma impressão fugidia.
                             Parece que testemunhamos seu ágil e rápido manuseio do
                             pincel, através do qual faz surgir a imagem de um cabelo
                             revolto ou de uma manga enrugada, com algumas pinceladas
                             de tinta clara ou escura.
                             É claro, a impressão que Hals nos dá, a de que viu o seu modelo
                             num relance, num movimento e humor característicos, jamais
                             seria obtida sem um esforço muito aprimorado. O que à
                             primeira vista parece ser um enfoque displicente é, na
                             realidade, um efeito cuidadosamente premeditado.
                             Embora o retrato não seja simétrico, como eram quase sempre
                             os retratos anteriores, tampouco lhe falta equilíbrio. Tal como
                             outros mestres do período barroco, Hals sabia como obter essa
                             impressão de equilíbrio sem parecer que estivesse obedecendo
                             a uma regra.




                             Frarnz Hals –
                             Pieter van den Brocke ( Londres: 1633)
O Barroco
                                          A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                               Willian van Haecht : A coleção de quadros de Cornelis van der Geest


Os pintores da Holanda protestante que não tinham inclinação ou
talento para o retrato precisaram renunciar à idéia de: viver
principalmente de encomendas. Ao contrário dos mestres da Idade
Média e da Renascença, eles deviam pintar primeiro os seus
quadros e depois sair à procura de um comprador.
Estamos hoje tão habituados a essa situação, consideramos um
ponto tão pacífico o artista passar os dias pintando em seu ateliê
abarrotado de quadros que ele necessita desesperadamente
vender, que mal podemos imaginar a transformação causada por
essa mudança na Holanda.
Num aspecto, é possível que os artistas se alegrassem ao ficar livres
de patrocinadores que interferiam na sua obra e que, muitas vezes,
os tiranizavam. Mas essa liberdade foi comprada por alto preço, pois
agora, em vez de um único freguês, o artista tinha que enfrentar um
patrão ainda mais opressivo: o público comprador. Precisava ir aos
mercados e às feiras públicas para negociar sua mercadoria, ou
recorrer a intermediários, os negociantes de quadros, que o
aliviavam dessa tarefa mas pagavam o mais barato possível, para
obter maior lucro na venda.
Além disso, a concorrência era acirrada; havia excessivos artistas em                                                       Willian van Haecht
cada cidade holandesa expondo suas telas em bancas, e a única                  A coleção de quadros de Cornelis van der Geest ( Antuérpia: 1628)
maneira de muitos deles conseguirem adquirir reputação consistia
em se especializarem num determinado ramo ou gênero de pintura.
Naqueles tempos, como agora, o público gostava de saber o que
estava comprando. Quando um pintor granjeava fama como mestre
em cenas de batalhas, eram cenas de batalhas o que provavelmente
ele iria vender mais daí em diante. Se tinha êxito com paisagens ao
luar, era mais seguro especializar-se nisso e continuar vendendo
paisagens enluaradas.
O Barroco
           A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
Willian van Haecht : A coleção de quadros de Cornelis van der Geest




                                                                                  Willian van Haecht
                                     A coleção de quadros de Cornelis van der Geest ( Antuérpia: 1628)
O Barroco
                                             A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                               Jan van Goyen: Moinho à beira de um rio


Esses holandeses foram os primeiros na história da arte a descobrir
a beleza do céu. Não precisavam de algo espetacular ou
impressionante para tornar suas pinturas interessantes.
Representavam simplesmente um fragmento do mundo, tal como
se lhes apresentava aos olhos, e descobriram que assim podiam
fazer um quadro tão satisfatório quanto qualquer ilustração de uma
gesta heróica ou de um tema cômico.
Um desses descobridores foi Jan van Goyen (1596-1656), natural
de Haia, que era mais ou menos da mesma geração do pintor
paisagista Claude Lorrain.
Em vez de templos grandiosos, o holandês pintou um moinho de
vento; em vez de atraentes veredas e clareiras, um trecho muito
comum da sua terra natal. Mas Van Goyen sabe como transformar
a cena banal numa visão de repousante beleza. Transfigura motivos
familiares e conduz nosso olhar para a nebulosa distância, de modo
a sentirmos que nos encontramos num privilegiado ponto de
observação de onde contemplamos a luz do entardecer.
Habituamo-nos desde então a empregar essa palavra (ou seu
sinônimo mais comum, "pitoresco") em relação não só a castelos
em ruínas e a poentes, mas também a coisas tão simples quanto
barcos a vela e moinhos de vento. Quando passamos a prestar-Ihes
atenção, foi porque tais motivos nos lembram, não as pinturas de                    Jan van Goyen – Moinho à beira de um rio (Óleo s/madeira
                                                                                                                  25,2x34cm; Londres: 1642)
Claude, mas os mestres como de Vlieger ou Van Goyen, que nos
ensinaram a ver o "pitoresco" numa cena simples.
O Barroco
                                     A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                       Jan van Goyen: Moinho à beira de um rio




Jan van Goyen – Moinho à beira de um rio (Óleo s/madeira
25,2x34cm; Londres: 1642)
O Barroco
                               A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                       Willen Kalf: Natureza Morta



                                                            Arte e natureza nunca são tão frias nem tão polidas quanto um
                                                            espelho. A natureza refletida na arte reproduz sempre o próprio
                                                            espírito do artista, suas predileções, seus prazeres e, portanto,
                                                            seu estado de ânimo. É esse fato, sobretudo, que torna o mais
                                                            "especializado" ramo da pintura holandesa tão interessante: o
                                                            ramo conhecido por natureza-morta. Usualmente, essas
                                                            naturezas-mortas exibem belos vasos cheios de vinho e trutas
                                                            apetitosas, ou outras iguarias convidativamente dispostas em
                                                            requintadas porcelanas.
                                                            Tais quadros se harmonizavam bem com uma sala de jantar e
                                                            não faltavam, por certo, os compradores. Contudo, são mais do
                                                            que meros lembretes dos prazeres da mesa. Os artistas podiam
                                                            escolher livremente, nessas naturezas-mortas, quaisquer objetos
                                                            que lhes aprouvessem pintar e dispô-los sobre uma mesa
                                                            segundo a sua fantasia. Assim, tornaram-se um estupendo
                                                            campo de experimentos para certos problemas especiais dos
                                                            pintores. Willem Kalf (1619-93), por exemplo, gostava de estudar
                                                            a maneira como a luz é refletida e retratada pelo vidro colorido.
                                                            Estudou os contrastes e harmonias de cores e texturas, e tentou
                                                            realizar novas harmonias em ricos tapetes persas, reluzentes
                                                            porcelanas, frutos brilhantes e coloridos, e metais polidos.


Willem Kalf – Natureza Morta
(Londres: 1653)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
        Willen Kalf: Natureza Morta




                                                Willem Kalf – Natureza Morta
                                                (Londres: 1653)
O Barroco
                                      A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                          Jan Davidz de Heem: Natureza Morta


                                                                             Isto talvez pareça uma observação algo estranha,
                                                                             depois da ênfase que é dada sobre os temas da
                                                                             pintura de Rembrandt. Contudo, não creio na verdade
                                                                             que haja aí qualquer contradição.
                                                                             Um compositor que compõe a música para um grande
                                                                             poema, não um texto trivial, quer que entendamos o
                                                                             poema, para podermos apreciar a sua interpretação
                                                                             musical. Do mesmo modo, um artista que pinta uma
                                                                             cena bíblica quer que entendamos a cena a fim de
                                                                             apreciarmos o modo como a concebeu. Mas assim
                                                                             como existe grande música absolutamente sem
                                                                             palavras, também há grande pintura sem temas
                                                                             importantes.
                                                                             Foi essa a descoberta que os artistas do século XVII
                                                                             vinham se esforçando para alcançar desde o instante
                                                                             em que perceberam a beleza pura do mundo visível. E
                                                                             os especialistas holandeses que consumiram a vida
                                                                             pintando o mesmo tipo de assunto acabaram
                                                                             provando que o tema é de importância secundária.




Jan Davidz de Heem – Natureza Morta
(haia: 1642)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
    Jan Davidz de Heem: Natureza Morta




                                                Jan Davidz de Heem –
                                                Natureza Morta (haia: 1642)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
      Rembrandt van Rijn: Autorretrato


                               O maior pintor da Holanda, e um dos maiores que a arte
                               conheceu até hoje, foi Rembrandt van Rijn (1606-69)
                               O quadro mostra-nos o rosto de Rembrandt durante os
                               seus últimos anos. Não era um belo rosto, e Rembrandt
                               nunca tentou, supomos, esconder sua fealdade.
                               Observou-se num espelho absolutamente sincero. E por
                               causa dessa sinceridade depressa esquecemos as
                               indagações sobre beleza ou finura. Temos, diante de nós,
                               o rosto de um ser humano real.
                               Não há qualquer sinal de pose, nenhum indício de
                               vaidade, apenas o olhar penetrante de um pintor que
                               examina atentamente as próprias feições, sempre
                               disposto a aprender mais e mais sobre os segredos do
                               rosto humano.




                               Rembrandt van Rijn
                               Autorretrato ( Haia: 1658)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
     Rembrandt van Rijn: O boi esfolado




                        Rembrandt van Rijn - O boi esfolado
                        (Óleo s/ tela: 94x67cm; Louvre: 1655)
O Barroco
                                      A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
                                    Rembrandt van Rijn: A aula de anatomia do dr. Tulp




Rembrandt van Rijn
A aula de anatomia do dr. Tulp ( Haia: 1632)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
           Jan Vermeer: A leiteira

                               Jan Vermeer van Delft (1632-75) foi um trabalhador lento e
                               meticuloso. Não pintou muitos quadros em sua vida. E poucos
                               representam uma cena importante. A maioria deles exibe
                               figuras simples num aposento de uma casa tipicamente
                               holandesa. Alguns não mostram mais do que uma figura solitária
                               entregue a um afazer simples, como uma mulher despejando
                               leite numa vasilha de barro.
                               Com Vermeer, a pintura de genre perdeu o último vestígio de
                               ilustração bem-humorada. Seus quadros são, na realidade,
                               naturezas mortas incluindo seres humanos. É difícil explicar as
                               razões que fazem de uma tela tão simples e despretensiosa uma
                               das maiores obras-primas de todos os tempos. Mas os poucos
                               que tiveram a sorte de ver o original não discordarão de mim de
                               que se trata de algo que está muito próximo de um milagre.
                               Uma de suas características milagrosas talvez possa ser descrita,
                               embora dificilmente explicada. É o modo pelo qual Vermeer
                               consegue a completa e laboriosa precisão na reprodução de
                               texturas, cores e formas, sem que o quadro tenha jamais o
                               aspecto de elaborado ou rude.
                               Como um fotógrafo que deliberadamente suaviza os contrastes
                               fortes de uma foto sem com isso anuviar as formas, Vermeer
                               também suavizou os contornos e, não obstante, reteve o efeito
                               de solidez e firmeza. É essa combinação estranha e ímpar de
                               suavidade e precisão que torna tão inesquecíveis as suas
                               melhores pinturas. Elas nos fazem ver a serena beleza de uma
                               cena simples com novos olhos e nos dão uma idéia do que o
                               artista sentiu ao observar a luz jorrando através da janela e
                               realçando a cor de uma peça de pano.



                               Jan Vermeer – A leiteira
                               (Óleo s/ tela, 45,5x41cm; Amsterdam: 1660)
O Barroco
A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
 Jan Vermeer: A moça com brinco de pérola




                               Jan Vermeer – A moça com brinco de pérola
                               (Óleo s/ tela, 45,5x41cm; Amsterdam: 1666)
O Barroco
                                                  A Europa protestante, França (séc. XVII)
                                  Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82)



                                                                            Não foi somente a Igreja Romana que descobriu o poder da arte
                                                                            para impressionar e dominar pela emoção. Os reis e príncipes da
                                                                            Europa seiscentista estavam igualmente ansiosos por exibir seu
                                                                            poderio e assim aumentar a sua ascendência sobre a mente de
                                                                            seus súditos. Também eles queriam parecer criaturas de uma
                                                                            espécie diferente, guindadas por direito divino acima do homem
                                                                            comum.
                                                                            Isso se aplica de maneira especial ao mais poderoso governante
                                                                            da segunda metade do século XVII, Luís XIV da França, em cujo
                                                                            programa político a exibição e o esplendor da realeza foram
                                                                            deliberadamente usados. Não foi, sem dúvida, por acidente que
                                                                            Luís XIV chamou Bemini a Paris para ajudar no projeto de seu
                                                                            palácio. Esse projeto grandioso nunca se concretizou, mas um
                                                                            outro dos palácios de Luís XIV converteu-se no próprio símbolo do
                                                                            seu imenso poder. Foi o palácio de Versalhes, construído no
                                                                            período entre 1660 e 1680.
                                                                            Versalhes é tão gigantesco que nenhuma fotografia pode dar uma
                                                                            idéia adequada do seu aspecto. Há nada menos de 123 janelas
                                                                            que dão, em cada andar, para o parque.




Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart
Palácio de Versalhes ( 1655 – 82)
O Barroco
                A Europa protestante, França (séc. XVII)
Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82)




                                                                         Louis le Vau & Jules
                                                                         Hardouin-Mansart
                                                                         Versalhes (1655–82)
O Barroco
                A Europa protestante, França (séc. XVII)
Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82)


                                                              Versalhes é barroco mais por sua
                                                              imensidão do que por seus detalhes
                                                              decorativos.
                                                              A intenção principal dos seus
                                                              arquitetos foi agrupar os enormes
                                                              volumes do edifício em alas
                                                              nitidamente distintas, e dar a cada ala
                                                              um aspecto de nobreza e
                                                              grandiosidade.




                                                              Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart
                                                              Versalhes (1655–82)
O Barroco
                A Europa protestante, França (séc. XVII)
Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82)

                                                                  O próprio parque, com suas
                                                                  avenidas de arbustos aparados,
                                                                  suas umas e estatuária e seus
                                                                  terraços e tanques, estende-se por
                                                                  muitos quilômetros de campo.




                                                                Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart
                                                                Versalhes (1655–82)
O Barroco
                                                  A Europa protestante, França (séc. XVII)
                                                   Nicolas Poussin: Ergo in Arcadia Ego


                                                                                O maior dos mestres "acadêmicos" foi o francês Nicolas
                                                                                Poussin (1594/1665), que fez de Roma a sua cidade adotiva.
                                                                                Poussin estudou as estátuas clássicas com fervoroso
                                                                                empenho, pois queria que a beleza delas o ajudasse a
                                                                                transmitir sua visão das terras de inocência e dignidade de
                                                                                outrora.
                                                                                O quadro ao lado representa um dos mais famosos
                                                                                resultados desses infatigáveis estudos. Mostra uma calma e
                                                                                ensolarada paisagem meridional. Belos moços e uma jovem
                                                                                de nobre e formoso porte reúnem-se em tomo de uma
                                                                                grande lápide. Um dos pastores - pois de pastores se trata,
                                                                                como se vê por suas coroas florais e seus cajados - ajoelha-se
                                                                                para tentar decifrar a inscrição epigráfica, e um segundo
                                                                                aponta para ela enquanto fita a bela pegureira que, à
                                                                                semelhança do companheiro no lado oposto, permanece de
                                                                                pé em silenciosa melancolia.
                                                                                A inscrição está em latim, ET IN ARCADIA EGO (E na Arcádia
                                                                                estou): eu, a Morte, reino até na terra idílica das pastorais,
                                                                                na Arcádia dos sonhos. Agora entendemos o maravilhoso
                                                                                gesto de temor e de reverente contemplação com que as
                                                                                figuras que emolduram a lápide a olham, e ainda mais a
Nicolas Poussin : Ergo in Arcadia Ego                                           beleza com que as figuras que lêem a inscrição respondem
(Louvre, Paris: óleo s/tela – 0,85x1,21m; 1639)                                 aos movimentos recíprocos. O arranjo parece bastante
                                                                                simples, mas é a simplicidade nascida de um imenso
                                                                                conhecimento artístico.
                                                                                Somente esse conhecimento poderia evocar semelhante
                                                                                visão nostálgica de repousante calma, em que a morte
                                                                                perdeu todo o seu terror.
O Barroco
                                                  A Europa protestante, França (séc. XVII)
                                                   Nicolas Poussin: Ergo in Arcadia Ego




Nicolas Poussin : Ergo in Aradia Ego
(Louvre, Paris: óleo s/tela – 0,85x1,21m; 1639)
O Barroco
                                                       A Europa protestante, França (séc. XVII)
                                                   Claude Lorrain: Paisagem com sacrifício a Apolo

                                                                                       Foi pelo mesmo estado de espírito nostálgico que ficaram
                                                                                       famosas as obras de outro francês italianizado. Trata-se de
                                                                                       Claude Lorrain (1600-82), uns seis anos mais moço que
                                                                                       Poussin. Claude estudou a paisagem da campagna romana,
                                                                                       as planícies e colinas em torno de Roma, com suas
                                                                                       encantadoras tonalidades meridionais e seus majestosos
                                                                                       restos de um grande passado.
                                                                                       Tal como Poussin, ele mostrou em seus esboços que era um
                                                                                       perfeito mestre da representação realista da natureza, e
                                                                                       seus estudos de árvores são uma alegria para os olhos. Mas,
                                                                                       para as suas pinturas acabadas e suas águas-fortes, ele
                                                                                       selecionou apenas os motivos que considerava dignos de
                                                                                       pertencer a uma visão onírica do passado, e impregnou-os
                                                                                       de uma luz dourada ou de uma atmosfera prateada que
                                                                                       parecem transfigurar toda a cena.
                                                                                       Foi Claude quem abriu primeiro os olhos das pessoas para a
                                                                                       beleza sublime da natureza, e por quase um século após sua
                                                                                       morte os viajantes costumavam julgar um trecho de
                                                                                       paisagem real de acordo com os padrões por ele fixados em
                                                                                       suas telas. Se o cenário natural lhes recordava as visões do
                                                                                       artista, consideravam-no adorável e aí se detinham para
                                                                                       seus piqueniques.
                                                                                       Os ingleses ricos foram ainda mais longe e decidiram
                                                                                       modelar os trechos da natureza que consideravam sua
Claude Lorrain : Paisagem com sacrifício a Apolo                                       propriedade, os jardins em seus domínios particulares, de
(Cambridgeshire: óleo s/tela – 1,74x2,20m; 1663)                                       acordo com os sonhos de beleza de Claude.
O Barroco
                                      A Europa protestante, França (séc. XVII)
                                  Claude Lorrain: Paisagem com sacrifício a Apolo




Claude Lorrain : Paisagem com sacrifício a Apolo
(Cambridgeshire: óleo s/tela – 1,74x2,20m; 1663)
O Barroco
                           Brasil (séc. XVII)
Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho): Igreja de São Francisco de Assis


                                                    A Igreja de São Francisco de Assis de Ouro
                                                    Preto é, com certeza, a obra-prima de
                                                    Antônio Francisco Lisboa e, possivelmente, a
                                                    mais importante criação da arquitetura
                                                    brasileira da época colonial.
                                                    O projeto é inteiramente proporcionado
                                                    segundo o número de ouro.




                                                     Aleijadinho – Igreja de São Francisco de Assis
                                                     ( Ouro Preto / Brasil: 1765)
O Barroco
                           Brasil (séc. XVII)
Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho): Igreja de São Francisco de Assis




                                     A magnífica portada é coroada por medalhão que representa a
                                     Virgem. Ligado a este e em substituição ao óculo tradicional, um
                                     baixo-relevo figura a cena de São Francisco de Assis ao receber as
                                     Chagas de Cristo.
                                     Todo esse trabalho é obra do Aleijadinho e dele são igualmente
                                     os dois extraordinários púlpitos com baixos-relevos de pedra-
                                     sabão, que se inserem nas aduelas do arco-cruzeiro e o retábulo e
                                     a decoração do barrete do teto da capela-mar.


                                      Aleijadinho – Igreja de São Francisco de Assis
                                      ( Ouro Preto / Brasil: 1765)

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Barroco Bibliografia

  • 1. O Barroco Bibliografia Bibliografia ARGAN, Giulio Carlo Argan. Imagem e Persuasão. Ensaios sobre o Barroco . São Paulo. Cia. das Letras, 2004. BAUMGART, Fritz. Breve História da Arte. 2 ed. São Paulo. Martins Fontes, 1999. BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo. Perspectiva, 1999. GOMBRICH, Arnold. História da Arte. Rio de Janeiro. LTC, 1999. HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da Arte. V 1. 3 ed. São Paulo. Mestre Jou, 1982. JANSON, H. W. História Geral da Arte. São Paulo. Martins Fontes, 1993. NUTTGENS, Patrick. The story of architecture. 2 ed. Phaidon, 1997. Bartolomé Murillo : A imaculada conceição (Prado: óleo s/tela – 2,06x1,44m; 1660)
  • 2. O Barroco Bibliografia Giotto – 1305 Ognissanti Madona ( Uffizi) Nossa Senhora entronizada com o menino (Têmpera sobre madeira, 81,5cm x 49 cm; Galeria Nacional de Arte; Washington, 1280) Bartolomé Murillo : A imaculada conceição (Prado: óleo s/tela – 2,06x1,44m; 1660) Rafael Madona di Campi (Têmpera s/madeira, 113 x 88 cm, 1506)
  • 3. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Na Itália, após o Concílio de Trento (1545-63), surge uma igreja revigorada pela definição de novas posturas pela Contra-reforma, que se volta para as massas e permite uma concepção mais emocional e universalmente compreensível. O barroco rompe, assim, com o intelectualismo classicista do Maneirismo. Apesar do desejo de influenciar um público tão vasto quanto possível, o espírito aristocrático da Igreja manifesta-se por toda a parte. A Cúria gostaria de criar uma arte do povo, para propagação da fé católica e ao mesmo tempo limitar o elemento popular à simplicidade de idéias e formas, evitando assim a simplicidade plebéia de expressão. Os sagrados personagens retratados têm que falar de fé tão insistentemente quanto possível, mas em nenhuma circunstância descer do seu pedestal. Roma vive seu esplendor, não só como residência papal, mas como capital da Cristandade católica. Os papas mandam erigir, não apenas novas igrejas, como também palácios, vilas e jardins. O catolicismo torna-se, cada vez mais, palaciano e o protestantismo, da classe média.
  • 4. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII No século XVII, na Europa, surge um tipo de arte que assume grande variedade de formas e interpretações. Até há pouco tempo, o Barroco era compreendido, em parte, por sua definição etimológica: bizarro, grotesco. Na verdade, pode-se considerá-lo, não como uma ruptura com o classicismo da Renascença, mas como uma evolução, que passa pelo maneirismo e vai desaguar nos estilos rococó e romântico classicista. A arte Barroca se utiliza de elementos de ilusão, de aproximação dos personagens principais, linhas diagonais, claro-escuro... Certamente, trata-se de uma nova forma, mais popular e menos intelectualizada que a de seus antecessores, em que o papel da arte, como divulgadora de uma ideologia, de uma forma de pensar, se expande e multiplica seus objetivos. Sob o governo de Urbano VIII, Roma torna-se o centro cultural e artístico da Europa. Bernini e Borromini são os mais importantes arquitetos (os 4 B´s da arquitetura italiana com Bruneleschi e Bramante). Nas artes, o naturalismo de Caravaggio e o emocionalismo dos Carracci, representam as duas principais orientações. A expressão do Cristo no calvário, da piedade de Nossa Senhora, entre outros personagens sagrados, como temos até hoje, origina-se das pinturas e esculturas barrocas. Gian Lorenzo Bernini : O Êxtase de Sta. Tereza/ Capela Cornaro ( Roma: 1648)
  • 5. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – A Crucificação de São Pedro e a Conversão de São Paulo ( Sta. Maria del Popolo, Roma: 1601)
  • 6. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – Tomé o Incrédulo (1602; óleo sobre tela, 42 1/8 x 57 1/2; Neues Palais, Potsdam )) Vejamos o seu quadro de São Tomé: os três apóstolos, de olhos pregados em Jesus, um deles enfiando um dedo na ferida em Sua ilharga, têm um aspecto nada convencional. Pode-se convir que uma tal pintura poderia impressionar pessoas devotas como desrespeitosa e mesmo ultrajante. Estavam todas habituadas a ver os apóstolos como figuras dignas, envoltas em belos mantos; no quadro de Caravaggio, eles pareciam trabalhadores comuns, seus rostos eram curtidos pelo tempo e as testas enrugadas. Mas, teria replicado o pintor, eles eram velhos trabalhadores, gente comum - e quanto ao gesto indelicado de Tomé, o Incrédulo, a Bíblia é muito explícita a esse respeito. Disse-lhe Jesus: "Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; aproxima também a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente" (S. João XX, 27). O "naturalismo" de Caravaggio, ou seja, a sua intenção de copiar fielmente a natureza, quer a considerasse feia ou bela, talvez fosse mais devoto do que a ênfase de Carracci sobre a beleza. A luz não faz o corpo parecer gracioso e macio; é áspera e Caravaggio : Tomé, o incrédulo quase ofuscante no contraste com as sombras profundas. (Sanssouci: óleo s/tela – 1,07x1,46m; 1602) Faz toda a estranha cena destacar-se com uma honestidade intransigente que poucos de seus contemporâneos souberam apreciar, mas que iria ter um efeito decisivo sobre artistas subseqüentes.
  • 7. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – Tomé o Incrédulo (1602; óleo sobre tela, 42 1/8 x 57 1/2; Neues Palais, Potsdam )) Caravaggio : Tomé, o incrédulo (Sanssouci: óleo s/tela – 1,07x1,46m; 1602)
  • 8. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – Baco (1597; Óleo sobre tela, 37 3/8 x 33 1/2; Uffizi, Florence) Caravaggio : Baco (Uffizi; óleo s/tela – 1597)
  • 9. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – Medusa (1590; óleo sobre tela sobre madeira, Uffizi) Caravaggio : Medusa (Uffizi; óleo s/tela e madeira – 1590)
  • 10. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – O sacrifício de Isaac (1590 - 1610; óleo sobre tela, Uffizi)
  • 11. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Michelangelo Caravaggio – Davi e Golias Michelangelo Caravaggio Davi e Golias (1606 - óleo sobre tela Kunsthistorisches Museum, Viena) Michelangelo Caravaggio Davi e Golias (1606 - óleo sobre tela , Prado)
  • 12. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Annibale Carracci – Pietá (Nápoles: Museo di Capodimonte; óleo 156x149: 1600) Annibale Carracci era membro de uma família de pintores e tinha estudado a arte de Veneza e a de Correggio. Chegando a Roma, ficou fascinado pelas obras de Rafael, que admirou imensamente. Pessoalmente, Carracci era um artista autêntico demais para se dedicar a uma idéia tão tola. Mas o lema dos seus partidários nas "panelinhas" de Roma era o cultivo da beleza clássica. Podemos ver a sua intenção no retábulo da Virgem chorando sobre o corpo do Senhor morto. Basta-nos relembrar o corpo atormentado do Cristo de Grünewald para nos apercebermos de como Annibale Carracci se esmerou em não nos oferecer os horrores da morte e as agonias da dor. O quadro é tão simples e harmonioso no arranjo quanto o de um pintor renascentista. Contudo, não seria fácil confundi-lo com uma pintura da Renascença. O modo como faz a luz cair sobre o corpo do Salvador, todo o apelo feito às nossas emoções, é bem diferente: é barroco. É facil tachar esse quadro de sentimental, mas não devemos esquecer para que finalidade foi pintado. É um retábulo para ser contemplado em prece e devoção, com velas ardendo à sua frente. Annibale Carracci – Pietá (Nápoles: Museo di Capodimonte; óleo 156x149: 1600)
  • 13. Itália 2009 Roma ÁREA: 1.285 km² POPULAÇÃO: 2,5 milhões (2001) Roma espalha-se pelas margens rio Tibre, compreendendo o seu centro histórico com as suas sete colinas: Palatino, Aventino, Campidoglio, Quirinale, Viminale, Esquilino e Celio. Segundo o mito romano, a cidade foi fundada cerca de 753 a. C., (data convencionada) por Rômulo e Remo. No interior da cidade encontra-se o estado doVaticano, residência do Papa. É uma das cidades com maior importância na Histórioa mundial, sendo um dos símbolos da civilização europeia. Conserva inúmeras ruínas e monumentos na parte antiga da cidade, especialmente da época do Império Romano, e do Renascimento, o movimento cultural que nasceu na Itália.
  • 14. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568) Gian Lorenzo Bernini Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568) Sob o governo de Urbano VIII, Roma torna-se o centro cultural e artístico da Europa. Bernini e Borromini são os mais importantes arquitetos (os 4 B´s da arquitetura italiana com Bruneleschi e Bramante). A praça de S. Pedro envolve projetos de Michelangelo (a cúpula, em 1547), fachada de Maderna (1606) e de Bernini (colunata, 1657).
  • 17. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568) Gian Lorenzo Bernini Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568)
  • 18. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568) Gian Lorenzo Bernini Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568)
  • 19. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568) Gian Lorenzo Bernini Praça de São Pedro/Colunata ( Roma: 1568)
  • 20. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Bernini - Praça de São Pedro (Roma 1568) Um dossel colossal (de quase dez andares de altura), feito de bronze e mármore, o baldaquino marca o local de sepultamento de São Pedro. Bernini planejou iluminá-lo com a luz dourada da Cátedra Petri, para elevar o impacto emocional. Gian Lorenzo Bernini Baldaquino / Basílica de São Pedro ( Roma: 1633)
  • 21. Itália 2009 Roma Bernini Bernini - Arte nas ruas Fontana de Trevi ( Roma: 1629)
  • 22. Itália 2009 Roma Bernini Bernini - Arte nas ruas Obelisco della Minerva (Piazza Santa Maria Sopra Miverva – 1666)
  • 23. Itália 2009 Roma Bernini Bernini - Arte nas ruas Fontana dei Quattro Fiumi ( Piazza Navona – 1648)
  • 24. Itália 2009 Roma Desconhecido Arte nas ruas O Pé de Mármore
  • 25. Itália 2009 Roma Il Gesù (1568.) Giacomo della Porta Il Gesù ( Roma: 1568)
  • 26. Itália 2009 Borromini Roma San Carlo alle Quattro Fontane ( Roma: 1641) Arquitetura Cristã Barroca - Borromini Borromini Santo Ivo della Sapienza ( Roma: 1642-1660)
  • 27. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Diego Velázquez – O Aguadeiro de Sevilha Embora não tivesse ainda estado na Itália, Velázquez ficara muito impressionado com as descobertas e o estilo de Caravaggio, que conhecia através da obra de imitadores. Absorvera o programa do "naturalismo", e devotou sua arte à observação desapaixonada da natureza, independentemente de convenções. A ilustração mostra um dos seus primeiros trabalhos, um velho aguadeiro nas ruas de Sevilha. É uma pintura de genre, do tipo que os holandeses tinham inventado para exibir sua habilidade, mas foi feita com toda a intensidade e penetração de "Tomé, o Incrédulo", de Caravaggio. O ancião com sua face cansada e cheia de rugas, a capa esfarrapada, a grande bilha de barro, a superfície vidrada do jarro de louça sobre o banco e o jogo de luz no copo transparente, tudo isso está pintado de um modo tão real que temos a impressão de poder tocar os objetos. Ninguém que se coloque defronte desse quadro se sente inclinado a perguntar se os objetos representados são belos ou feios, ou se a cena é importante ou trivial. Nem mesmo as cores são rigorosamente bonitas por si mesmas. Predominam os tons castanho, cinza e esverdeado. E, no entanto, o todo compõe uma tão rica e suave harmonia que a tela se toma inesquecível para quem quer que faça uma pausa diante dela. Diego Velázquez : O aguadeiro de Sevilha (Londres: óleo s/tela – 106,7x81cm; 1620)
  • 28. O Barroco A Europa católica, primeira metade do século XVII Diego Velázquez – O Aguadeiro de Sevilha Vemos o próprio Velázquez trabalhando num quadro enorme, e, se observarmos com mais cuidado, também veremos o que ele está pintando. O espelho na parede do fundo reflete as figuras do Rei e da Rainha, que estão posando para o retrato. Portanto, vemos o mesmo que os monarcas: um grupo de pessoas que entrou no ateliê do pintor. Aí está a filha pequena do régio casal, a infanta Margarita, ladeada por duas damas de honra, uma delas servindo-lhe um lanche, enquanto a outra faz uma reverência ao casal real. Conhecemos os seus nomes, assim como sabemos também quem são os dois anões (a mulher feia e o rapaz que açula o cão) que a corte mantinha para divertir-se. Os austeros adultos ao fundo parecem zelar pela boa conduta dos visitantes. O que significa exatamente tudo isso? É possível que nunca o saibamos, mas eu gostaria de imaginar que Velázquez fixou um momento real de tempo muito antes da invenção da câmera fotográfica. Talvez a princesa tenha sido trazida à presença de seus régios pais a fim de aliviar o tédio da longa pose para o quadro, e o Rei ou a Rainha comentasse com Velázquez que ali estava um tema digno do seu pincel. As palavras proferidas pelo soberano são sempre tratadas como uma ordem, e, assim, é provável que devamos essa obra-prima a um desejo passageiro que somente Velázquez seria capaz de converter em realidade. Diego Velázquez : As meninas (Prado: Madri; óleo s/tela – 3,18x2,76cm; 1656)
  • 29. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos
  • 30. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Peter Paul Rubens: Virgem com o menino entronizados com santos O flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640) chegou a Roma em 1600, aos 23 anos de idade - talvez a idade em que se é mais impressionável. Rubens era um homem com grande capacidade de organização e não menor simpatia pessoal; muitos pintores talentosos de Flandres orgulhavam-se de pintar sob sua orientação e, por conseguinte, aprender com ele. Se a encomenda para um novo quadro chegava de uma das igrejas, ou de um dos reis ou príncipes da Europa, Rubens limitava-se às vezes a pintar apenas um pequeno esboço colorido. Seria tarefa dos seus alunos ou assistentes transferirem tais idéias para a tela grande, e só quando eles terminavam de preparar o fundo e a pintura de acordo com os esboços do mestre, é que Rubens pegava de novo o pincel e retocava um rosto aqui, um vestido de seda acolá, ou atenuava alguns contrastes mais ásperos. Tinha plena confiança em que suas pinceladas podiam rapidamente insuflar vida a qualquer trabalho, e estava certo. Pois esse era o maior segredo da arte de Rubens: sua mágica habilidade para tomar viva, intensa e jubilosamente real qualquer figura. Podemos aferir e admirar essa mestria em alguns de seus desenhos mais simples e nas pinturas que fazia para seu próprio prazer. Peter Paul Rubens : Virgem com menino entronizados com santos (Museu de Berlim: óleo s/madeira – 80,2x55,5cm; 1628)
  • 31. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Peter Paul Rubens: Clara Serena A ilustração mostra a cabeça de uma menina, provavelmente filha de Rubens. Não há aqui nenhum estratagema de composição, nada de esplêndidas roupagens nem torrentes de luz, mas um simples retrato en face de uma criança. E no entanto parece respirar e palpitar como um ser de carne e osso. Comparados com este, os retratos de séculos anteriores parecem um parecem um tanto remotos e irreais - por maiores que sejam como obras de arte. É ocioso tentar analisar como Rubens conseguiu criar essa impressão de alegre vitalidade, mas certamente teve algo a ver com os afoitos e delicados toques de luz por meio dos quais indicou a umidade dos lábios e a mo delação do rosto e dos cabelos. Em proporção ainda maior do que Ticiano antes dele, Rubens usou o pincel como principal instrumento. Suas pinturas já não são desenhos cuidadosamente modelados em cor; são produzidas por meios característicos da própria técnica de aplicação de cores sobre a massa, e isso aumenta a impressão de vida e vigor. Peter Paul Rubens : Clara Serena (Liechtenstein: óleo s/tela – 33x26,3cm; 1616)
  • 32. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Franz Hals: Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company O primeiro mestre notável da Holanda livre, Frans Hals (1580?- 1666) foi forçado a levar essa existência precária. Hals pertenceu à mesma geração de Rubens. Seus pais tinham deixado o sul dos Países Baixos porque eram protestantes, e instalaram-se na cidade holandesa de Haarlem. Os cidadãos das orgulhosamente independentes cidades dos Países Baixos tiveram que cumprir seu papel servindo como milicianos, geralmente sob o comando dos habitantes mais prósperos. Era costume na cidade de Haarlem homenagear os oficiais dessas unidades com um suntuoso banquete, e também passou a ser tradição comemorar esses alegres eventos em uma grande pintura, Certamente não era tarefa fácil para um artista registrar as figuras de tantos homens em uma moldura sem que o Frarnz Hals – Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company resultado parecesse rígido ou artificial - como antes acontecera (Óleo s/tela: 175X324cm; Haarlem : 1616) invariavelmente com tais esforços. Hals entendeu desde o início como transmitir o espírito da alegre ocasião e como dar vida a um tal grupo cerimonial sem negligenciar o propósito de mostrar cada um dos doze membros presentes de forma tão convincente que sentimos que já devemos tê-los encontrado: do corpulento coronel que preside à extremidade da mesa, erguendo seu copo, ao jovem alferes no lado oposto, que orgulhosamente olha para fora do quadro como se quisesse que admirássemos seu esplêndido traje.
  • 33. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Franz Hals: Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company Frarnz Hals – Banquete dos oficiais da Milícia St. George Company (Óleo s/tela: 175X324cm; Haarlem : 1616)
  • 34. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Franz Hals: Peter van den Broke Comparado com retratos anteriores, parece quase uma fotografia. Temos a impressão de conhecer esse Pieter van den Broecke, um autêntico mercador-aventureiro do século XVII. Os retratos de Hals dão-nos a impressão de que o pintor "capta" seus modelos num momento característico, fixando-os para sempre na tela. É difícil imaginarmos como essas pinturas audaciosas e não-convencionais devem ter impressionado o público. A própria maneira como Hals manipula a tinta e o pincel sugere que ele registrou rapidamente uma impressão fugidia. Parece que testemunhamos seu ágil e rápido manuseio do pincel, através do qual faz surgir a imagem de um cabelo revolto ou de uma manga enrugada, com algumas pinceladas de tinta clara ou escura. É claro, a impressão que Hals nos dá, a de que viu o seu modelo num relance, num movimento e humor característicos, jamais seria obtida sem um esforço muito aprimorado. O que à primeira vista parece ser um enfoque displicente é, na realidade, um efeito cuidadosamente premeditado. Embora o retrato não seja simétrico, como eram quase sempre os retratos anteriores, tampouco lhe falta equilíbrio. Tal como outros mestres do período barroco, Hals sabia como obter essa impressão de equilíbrio sem parecer que estivesse obedecendo a uma regra. Frarnz Hals – Pieter van den Brocke ( Londres: 1633)
  • 35. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Willian van Haecht : A coleção de quadros de Cornelis van der Geest Os pintores da Holanda protestante que não tinham inclinação ou talento para o retrato precisaram renunciar à idéia de: viver principalmente de encomendas. Ao contrário dos mestres da Idade Média e da Renascença, eles deviam pintar primeiro os seus quadros e depois sair à procura de um comprador. Estamos hoje tão habituados a essa situação, consideramos um ponto tão pacífico o artista passar os dias pintando em seu ateliê abarrotado de quadros que ele necessita desesperadamente vender, que mal podemos imaginar a transformação causada por essa mudança na Holanda. Num aspecto, é possível que os artistas se alegrassem ao ficar livres de patrocinadores que interferiam na sua obra e que, muitas vezes, os tiranizavam. Mas essa liberdade foi comprada por alto preço, pois agora, em vez de um único freguês, o artista tinha que enfrentar um patrão ainda mais opressivo: o público comprador. Precisava ir aos mercados e às feiras públicas para negociar sua mercadoria, ou recorrer a intermediários, os negociantes de quadros, que o aliviavam dessa tarefa mas pagavam o mais barato possível, para obter maior lucro na venda. Além disso, a concorrência era acirrada; havia excessivos artistas em Willian van Haecht cada cidade holandesa expondo suas telas em bancas, e a única A coleção de quadros de Cornelis van der Geest ( Antuérpia: 1628) maneira de muitos deles conseguirem adquirir reputação consistia em se especializarem num determinado ramo ou gênero de pintura. Naqueles tempos, como agora, o público gostava de saber o que estava comprando. Quando um pintor granjeava fama como mestre em cenas de batalhas, eram cenas de batalhas o que provavelmente ele iria vender mais daí em diante. Se tinha êxito com paisagens ao luar, era mais seguro especializar-se nisso e continuar vendendo paisagens enluaradas.
  • 36. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Willian van Haecht : A coleção de quadros de Cornelis van der Geest Willian van Haecht A coleção de quadros de Cornelis van der Geest ( Antuérpia: 1628)
  • 37. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Jan van Goyen: Moinho à beira de um rio Esses holandeses foram os primeiros na história da arte a descobrir a beleza do céu. Não precisavam de algo espetacular ou impressionante para tornar suas pinturas interessantes. Representavam simplesmente um fragmento do mundo, tal como se lhes apresentava aos olhos, e descobriram que assim podiam fazer um quadro tão satisfatório quanto qualquer ilustração de uma gesta heróica ou de um tema cômico. Um desses descobridores foi Jan van Goyen (1596-1656), natural de Haia, que era mais ou menos da mesma geração do pintor paisagista Claude Lorrain. Em vez de templos grandiosos, o holandês pintou um moinho de vento; em vez de atraentes veredas e clareiras, um trecho muito comum da sua terra natal. Mas Van Goyen sabe como transformar a cena banal numa visão de repousante beleza. Transfigura motivos familiares e conduz nosso olhar para a nebulosa distância, de modo a sentirmos que nos encontramos num privilegiado ponto de observação de onde contemplamos a luz do entardecer. Habituamo-nos desde então a empregar essa palavra (ou seu sinônimo mais comum, "pitoresco") em relação não só a castelos em ruínas e a poentes, mas também a coisas tão simples quanto barcos a vela e moinhos de vento. Quando passamos a prestar-Ihes atenção, foi porque tais motivos nos lembram, não as pinturas de Jan van Goyen – Moinho à beira de um rio (Óleo s/madeira 25,2x34cm; Londres: 1642) Claude, mas os mestres como de Vlieger ou Van Goyen, que nos ensinaram a ver o "pitoresco" numa cena simples.
  • 38. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Jan van Goyen: Moinho à beira de um rio Jan van Goyen – Moinho à beira de um rio (Óleo s/madeira 25,2x34cm; Londres: 1642)
  • 39. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Willen Kalf: Natureza Morta Arte e natureza nunca são tão frias nem tão polidas quanto um espelho. A natureza refletida na arte reproduz sempre o próprio espírito do artista, suas predileções, seus prazeres e, portanto, seu estado de ânimo. É esse fato, sobretudo, que torna o mais "especializado" ramo da pintura holandesa tão interessante: o ramo conhecido por natureza-morta. Usualmente, essas naturezas-mortas exibem belos vasos cheios de vinho e trutas apetitosas, ou outras iguarias convidativamente dispostas em requintadas porcelanas. Tais quadros se harmonizavam bem com uma sala de jantar e não faltavam, por certo, os compradores. Contudo, são mais do que meros lembretes dos prazeres da mesa. Os artistas podiam escolher livremente, nessas naturezas-mortas, quaisquer objetos que lhes aprouvessem pintar e dispô-los sobre uma mesa segundo a sua fantasia. Assim, tornaram-se um estupendo campo de experimentos para certos problemas especiais dos pintores. Willem Kalf (1619-93), por exemplo, gostava de estudar a maneira como a luz é refletida e retratada pelo vidro colorido. Estudou os contrastes e harmonias de cores e texturas, e tentou realizar novas harmonias em ricos tapetes persas, reluzentes porcelanas, frutos brilhantes e coloridos, e metais polidos. Willem Kalf – Natureza Morta (Londres: 1653)
  • 40. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Willen Kalf: Natureza Morta Willem Kalf – Natureza Morta (Londres: 1653)
  • 41. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Jan Davidz de Heem: Natureza Morta Isto talvez pareça uma observação algo estranha, depois da ênfase que é dada sobre os temas da pintura de Rembrandt. Contudo, não creio na verdade que haja aí qualquer contradição. Um compositor que compõe a música para um grande poema, não um texto trivial, quer que entendamos o poema, para podermos apreciar a sua interpretação musical. Do mesmo modo, um artista que pinta uma cena bíblica quer que entendamos a cena a fim de apreciarmos o modo como a concebeu. Mas assim como existe grande música absolutamente sem palavras, também há grande pintura sem temas importantes. Foi essa a descoberta que os artistas do século XVII vinham se esforçando para alcançar desde o instante em que perceberam a beleza pura do mundo visível. E os especialistas holandeses que consumiram a vida pintando o mesmo tipo de assunto acabaram provando que o tema é de importância secundária. Jan Davidz de Heem – Natureza Morta (haia: 1642)
  • 42. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Jan Davidz de Heem: Natureza Morta Jan Davidz de Heem – Natureza Morta (haia: 1642)
  • 43. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Rembrandt van Rijn: Autorretrato O maior pintor da Holanda, e um dos maiores que a arte conheceu até hoje, foi Rembrandt van Rijn (1606-69) O quadro mostra-nos o rosto de Rembrandt durante os seus últimos anos. Não era um belo rosto, e Rembrandt nunca tentou, supomos, esconder sua fealdade. Observou-se num espelho absolutamente sincero. E por causa dessa sinceridade depressa esquecemos as indagações sobre beleza ou finura. Temos, diante de nós, o rosto de um ser humano real. Não há qualquer sinal de pose, nenhum indício de vaidade, apenas o olhar penetrante de um pintor que examina atentamente as próprias feições, sempre disposto a aprender mais e mais sobre os segredos do rosto humano. Rembrandt van Rijn Autorretrato ( Haia: 1658)
  • 44. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Rembrandt van Rijn: O boi esfolado Rembrandt van Rijn - O boi esfolado (Óleo s/ tela: 94x67cm; Louvre: 1655)
  • 45. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Rembrandt van Rijn: A aula de anatomia do dr. Tulp Rembrandt van Rijn A aula de anatomia do dr. Tulp ( Haia: 1632)
  • 46. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Jan Vermeer: A leiteira Jan Vermeer van Delft (1632-75) foi um trabalhador lento e meticuloso. Não pintou muitos quadros em sua vida. E poucos representam uma cena importante. A maioria deles exibe figuras simples num aposento de uma casa tipicamente holandesa. Alguns não mostram mais do que uma figura solitária entregue a um afazer simples, como uma mulher despejando leite numa vasilha de barro. Com Vermeer, a pintura de genre perdeu o último vestígio de ilustração bem-humorada. Seus quadros são, na realidade, naturezas mortas incluindo seres humanos. É difícil explicar as razões que fazem de uma tela tão simples e despretensiosa uma das maiores obras-primas de todos os tempos. Mas os poucos que tiveram a sorte de ver o original não discordarão de mim de que se trata de algo que está muito próximo de um milagre. Uma de suas características milagrosas talvez possa ser descrita, embora dificilmente explicada. É o modo pelo qual Vermeer consegue a completa e laboriosa precisão na reprodução de texturas, cores e formas, sem que o quadro tenha jamais o aspecto de elaborado ou rude. Como um fotógrafo que deliberadamente suaviza os contrastes fortes de uma foto sem com isso anuviar as formas, Vermeer também suavizou os contornos e, não obstante, reteve o efeito de solidez e firmeza. É essa combinação estranha e ímpar de suavidade e precisão que torna tão inesquecíveis as suas melhores pinturas. Elas nos fazem ver a serena beleza de uma cena simples com novos olhos e nos dão uma idéia do que o artista sentiu ao observar a luz jorrando através da janela e realçando a cor de uma peça de pano. Jan Vermeer – A leiteira (Óleo s/ tela, 45,5x41cm; Amsterdam: 1660)
  • 47. O Barroco A Europa protestante, Holanda e Países Baixos Jan Vermeer: A moça com brinco de pérola Jan Vermeer – A moça com brinco de pérola (Óleo s/ tela, 45,5x41cm; Amsterdam: 1666)
  • 48. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82) Não foi somente a Igreja Romana que descobriu o poder da arte para impressionar e dominar pela emoção. Os reis e príncipes da Europa seiscentista estavam igualmente ansiosos por exibir seu poderio e assim aumentar a sua ascendência sobre a mente de seus súditos. Também eles queriam parecer criaturas de uma espécie diferente, guindadas por direito divino acima do homem comum. Isso se aplica de maneira especial ao mais poderoso governante da segunda metade do século XVII, Luís XIV da França, em cujo programa político a exibição e o esplendor da realeza foram deliberadamente usados. Não foi, sem dúvida, por acidente que Luís XIV chamou Bemini a Paris para ajudar no projeto de seu palácio. Esse projeto grandioso nunca se concretizou, mas um outro dos palácios de Luís XIV converteu-se no próprio símbolo do seu imenso poder. Foi o palácio de Versalhes, construído no período entre 1660 e 1680. Versalhes é tão gigantesco que nenhuma fotografia pode dar uma idéia adequada do seu aspecto. Há nada menos de 123 janelas que dão, em cada andar, para o parque. Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart Palácio de Versalhes ( 1655 – 82)
  • 49. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82) Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart Versalhes (1655–82)
  • 50. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82) Versalhes é barroco mais por sua imensidão do que por seus detalhes decorativos. A intenção principal dos seus arquitetos foi agrupar os enormes volumes do edifício em alas nitidamente distintas, e dar a cada ala um aspecto de nobreza e grandiosidade. Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart Versalhes (1655–82)
  • 51. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Louis le Vau & Jules Harduin Mansart: Palácio de Versalhes (1655 – 82) O próprio parque, com suas avenidas de arbustos aparados, suas umas e estatuária e seus terraços e tanques, estende-se por muitos quilômetros de campo. Louis le Vau & Jules Hardouin-Mansart Versalhes (1655–82)
  • 52. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Nicolas Poussin: Ergo in Arcadia Ego O maior dos mestres "acadêmicos" foi o francês Nicolas Poussin (1594/1665), que fez de Roma a sua cidade adotiva. Poussin estudou as estátuas clássicas com fervoroso empenho, pois queria que a beleza delas o ajudasse a transmitir sua visão das terras de inocência e dignidade de outrora. O quadro ao lado representa um dos mais famosos resultados desses infatigáveis estudos. Mostra uma calma e ensolarada paisagem meridional. Belos moços e uma jovem de nobre e formoso porte reúnem-se em tomo de uma grande lápide. Um dos pastores - pois de pastores se trata, como se vê por suas coroas florais e seus cajados - ajoelha-se para tentar decifrar a inscrição epigráfica, e um segundo aponta para ela enquanto fita a bela pegureira que, à semelhança do companheiro no lado oposto, permanece de pé em silenciosa melancolia. A inscrição está em latim, ET IN ARCADIA EGO (E na Arcádia estou): eu, a Morte, reino até na terra idílica das pastorais, na Arcádia dos sonhos. Agora entendemos o maravilhoso gesto de temor e de reverente contemplação com que as figuras que emolduram a lápide a olham, e ainda mais a Nicolas Poussin : Ergo in Arcadia Ego beleza com que as figuras que lêem a inscrição respondem (Louvre, Paris: óleo s/tela – 0,85x1,21m; 1639) aos movimentos recíprocos. O arranjo parece bastante simples, mas é a simplicidade nascida de um imenso conhecimento artístico. Somente esse conhecimento poderia evocar semelhante visão nostálgica de repousante calma, em que a morte perdeu todo o seu terror.
  • 53. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Nicolas Poussin: Ergo in Arcadia Ego Nicolas Poussin : Ergo in Aradia Ego (Louvre, Paris: óleo s/tela – 0,85x1,21m; 1639)
  • 54. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Claude Lorrain: Paisagem com sacrifício a Apolo Foi pelo mesmo estado de espírito nostálgico que ficaram famosas as obras de outro francês italianizado. Trata-se de Claude Lorrain (1600-82), uns seis anos mais moço que Poussin. Claude estudou a paisagem da campagna romana, as planícies e colinas em torno de Roma, com suas encantadoras tonalidades meridionais e seus majestosos restos de um grande passado. Tal como Poussin, ele mostrou em seus esboços que era um perfeito mestre da representação realista da natureza, e seus estudos de árvores são uma alegria para os olhos. Mas, para as suas pinturas acabadas e suas águas-fortes, ele selecionou apenas os motivos que considerava dignos de pertencer a uma visão onírica do passado, e impregnou-os de uma luz dourada ou de uma atmosfera prateada que parecem transfigurar toda a cena. Foi Claude quem abriu primeiro os olhos das pessoas para a beleza sublime da natureza, e por quase um século após sua morte os viajantes costumavam julgar um trecho de paisagem real de acordo com os padrões por ele fixados em suas telas. Se o cenário natural lhes recordava as visões do artista, consideravam-no adorável e aí se detinham para seus piqueniques. Os ingleses ricos foram ainda mais longe e decidiram modelar os trechos da natureza que consideravam sua Claude Lorrain : Paisagem com sacrifício a Apolo propriedade, os jardins em seus domínios particulares, de (Cambridgeshire: óleo s/tela – 1,74x2,20m; 1663) acordo com os sonhos de beleza de Claude.
  • 55. O Barroco A Europa protestante, França (séc. XVII) Claude Lorrain: Paisagem com sacrifício a Apolo Claude Lorrain : Paisagem com sacrifício a Apolo (Cambridgeshire: óleo s/tela – 1,74x2,20m; 1663)
  • 56. O Barroco Brasil (séc. XVII) Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho): Igreja de São Francisco de Assis A Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto é, com certeza, a obra-prima de Antônio Francisco Lisboa e, possivelmente, a mais importante criação da arquitetura brasileira da época colonial. O projeto é inteiramente proporcionado segundo o número de ouro. Aleijadinho – Igreja de São Francisco de Assis ( Ouro Preto / Brasil: 1765)
  • 57. O Barroco Brasil (séc. XVII) Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho): Igreja de São Francisco de Assis A magnífica portada é coroada por medalhão que representa a Virgem. Ligado a este e em substituição ao óculo tradicional, um baixo-relevo figura a cena de São Francisco de Assis ao receber as Chagas de Cristo. Todo esse trabalho é obra do Aleijadinho e dele são igualmente os dois extraordinários púlpitos com baixos-relevos de pedra- sabão, que se inserem nas aduelas do arco-cruzeiro e o retábulo e a decoração do barrete do teto da capela-mar. Aleijadinho – Igreja de São Francisco de Assis ( Ouro Preto / Brasil: 1765)