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CONCEITOS DE
    ENVOLVE
       TEMA
        ESTE
               Foto: KLEIDE TEIXEIRA/ EDITORA GLOBO
Guia ÉPOCA




         Em cima da base deixada por Getúlio Vargas, a política para o setor começa
         com Juscelino e tem continuidade sob os militares      POR OSCAR PILAGALLO




                                                                O
                                                                        crescimento do Brasil se dá em espasmos. Após alguns anos de
                                                                        estagnação, segue-se um surto de expansão com intensidade e
             TRANSPORTE RODOVIÁRIO                                      duração variáveis. Até certo ponto, trata-se de um padrão típico do
                                                                capitalismo, em que o mercado, e não o planejamento das antigas socieda-
             > Estima-se que três quartos                       des comunistas, é responsável pela dinâmica da economia. No caso brasi-
             das rodovias do país estejam                       leiro, porém, essa natureza incerta é potencializada pela dependência de
             em estado regular, ruim ou pés-                    fatores que escapam ao controle do governo, como a disponibilidade
             simo. As estradas brasileiras                      de recursos externos.
             são responsáveis por 60% do                          Hoje, com a abundância de dólares no mundo, sobretudo antes da tur-
             transporte de cargas no país.                      bulência dos mercados, o país está em meio a um desses soluços. Depois
                                                                de um período de alta medíocre do Produto Interno Bruto (PIB), é provável
                                                                que até dezembro a média de crescimento dos últimos quatro anos fique
                                                                acima dos 4%. É um resultado que está aquém da necessidade e do poten-
                                                                cial do Brasil, mas que não é desprezível, chegando até a causar efeitos
                                                                negativos, como a formação de gargalos de infra-estrutura.
             REPÚBLICA VELHA                                      A crise aeroportuária é um trágico lembrete de que as condições para
                                                                o país continuar crescendo estão muito próximas do limite. Congonhas,
             > Período que vai da Proclama-                     o aeroporto da cidade de São Paulo, é apenas a ponta do iceberg.
             ção da República, em 1889, à                       Abaixo do nível da água estão a oferta inadequada de energia, o precário
             Revolução de 1930. Foi caracte-                    transporte rodoviário, a malha ferroviária insuficiente, a já saturada
             rizado pelo domínio da oligar-                     capacidade dos portos, enfim, para onde quer que se olhe há uma carência
             quia agrícola. Revezavam-se no                     a ser resolvida.
             poder central representantes                         O anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro
             dos Estados onde essa burgue-                                         deste ano, é um reconhecimento por parte do governo
             sia tinha mais expressão, São                                         da necessidade de desobstrução desses e de outros gar-
             Paulo e Minas Gerais.                                                 galos. O PAC prevê investimentos de mais de meio tri-
                                                                    O PAC é um
                                                                                   lhão de reais ao longo do segundo mandato do presiden-
                                                                 reconhecimento
                                                                                   te Lula, embora, a julgar pela morosidade dos primeiros
                                                                 da necessidade
                                                                                   passos, dificilmente chegue lá.
                                                                  de desobstruir
                                                                                     O programa divide as opiniões. Os críticos falam em
                                                                     gargalos
                                                                                   volta da interferência do Estado, os simpatizantes vêem
                                                                     da infra-
                                                                                   aí um desenvolvimentismo “light”. O fato é que um país
                                                                     estrutura
                                                                                   periférico como o Brasil, que vive a reboque dos grandes
                                                                                   centros de poder e riqueza do mundo, dificilmente teria
                                                                condição de dispensar a presença do Estado em sua expansão, seja como
                                                                investidor, seja como regulador da atividade econômica.
DIVULGAÇÃO




                                                                  Essa é, em resumo, a história da industrialização brasileira, uma história
                                                                que começa meio por acaso com a Revolução de 30. Por acaso, sim, pois
         Deodoro, o primeiro presidente                         o movimento que pôs fim à República Velha não tinha um plano para

2 I          r e v i s ta é p o c a   I   11 de junho de 2007 R E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O I
                                                         2 |
industrializar o                                                                    Getúlio
                  Brasil. Apenas rea-                                                                 (ao centro),
                  giu à Depressão de                                                                  responsável
                  1929, que atingiu                                                                   pela primeira
                                                                                                      siderúrgica
                  em cheio o consu-
                  mo de café, motor
                  da economia bra-
                  sileira. O primeiro                                                                     O PAPEL DAS
                  apoio consistente                                                                       PRIVATIZAÇÕES
                  à indústria viria
                  só com o Estado                                                                            Após os ciclos de expansão
                  Novo, entre 1937 e                                                                      da indústria por indução estatal, o
                  1945, período mar-                                                                      Brasil, em sintonia com a onda
                  cado pela aliança                                                                       liberal liderada pela Grã-Bretanha de
                  entre a burocracia civil e militar e a nascente burguesia industrial.                   Margaret Thatcher (1979-1990) e os
                                           Até o início da Segunda Guerra Mundial, a indústria            Estados Unidos de Ronald Reagan
                                         nacional só engatinhava. O conflito militar proporcionou         (1981-1989), deu início em 1990 a um
                       Até o início      a primeira oportunidade para o setor ficar em pé. Ela            programa de desestatização. Entre
                      da Segunda         foi decorrente da atitude do ditador Getúlio Vargas, que         as primeiras privatizações, ainda no
                    Guerra Mundial, condicionou o apoio do Brasil aos Aliados ao financia-                governo de Fernando Collor (1990-
                       a indústria       mento pelos Estados Unidos da Companhia Siderúrgica              1992), estavam siderúrgicas, o que, até
                        nacional         Nacional, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. A cria-           no nível simbólico, fechou um ciclo.
                         apenas          ção do BNDES, banco de fomento à indústria, e a da                  O programa ganharia impulso
                      engatinhava        Petrobras, no segundo governo Vargas, seriam passos na           nos dois mandatos de Fernando
                                         mesma direção.                                                   Henrique Cardoso (1995-2002),
                                           Embora Vargas tenha lançado as bases, o grande salto           quando as vendas geraram
                  da indústria só seria dado por seu herdeiro político, Juscelino Kubitschek.             US$ 93 bilhões, dos quais 5% em
                  Ao tomar posse, JK anunciou o Plano de Metas, cujo objetivo era crescer                 “moedas podres” (títulos de dívida
                  “50 anos em 5”. Por trás do slogan havia uma iniciativa consistente de                  do governo aceitos como parte do
                  planejamento – a primeira do gênero no Brasil. O plano consistia em apro-               pagamento). No período anterior
                  fundar o processo de substituição de importações. Os setores de energia e               (Collor e Itamar Franco), a receita
                  transporte, que consumiram quase três quartos dos investimentos previs-                 fora de quase US$ 12 bilhões
                  tos, foram privilegiados.                                                               (80% em “moeda podre”).
                     A meta mais visível foi a criação da indústria automobilística. Até então,              Em A Arte da Política, seu livro de
                  circulavam no país apenas carros importados, o que acentuava o desequi-                 memórias, FHC defende o progra-
                  líbrio das contas externas. JK trouxe empresas estrangeiras, inaugurando                ma como uma “inovação na busca
                                 o modelo nacional-desenvolvimentista (em oposição ao nacio-              do interesse público”. O ex-presi-
                                    nalista, avesso ao capital de fora). Ao fim de seu mandato, o         dente cita a criação das agências
                                     presidente chegou próximo da marca dos 100 mil veículos              reguladoras, que têm o objetivo
                                      fabricados que anunciara no início.                                 de imunizar áreas importantes de
                                         O Plano de Metas exigiu um grande esforço de coordena-           ingerências políticas, como um
AGÊNCIA O GLOBO




                                       ção entre áreas distintas. Para evitar gargalos, era preciso       complemento das privatizações.
                                     que não faltassem aço e borracha nas montadoras, nem                 Para tanto, seus integrantes não
                                              material de construção civil para as estradas – e           podem ser demitidos, como na
                                                para Brasília, a cereja do bolo de JK, que custou         tradição anglo-saxã que serviu de
                                                 o equivalente a pouco mais de 2% do PIB. Uma             molde para as agências.
                                                    expansão de tal magnitude teve um preço ele-             O papel lamentável que a Agência
                                                       vado: a conta foi apresentada na forma de          Nacional de Aviação Civil (Anac)
                                                                                                          desempenhou no caos aeroportuário,
                                                                                                          porém, mostra que esses órgãos
                                                           Geisel, que investiu                           ainda precisam ser aperfeiçoados.
                                                           na indústria de base
Guia ÉPOCA



                                                                                                                                 inflação, que dobrou




                                                                 CEDOC
                                                                           Guerra do Yom Kippur,                                 para 40% ao ano
                                                                           que elevaria os preços                                durante o mandato.
                                                                           do petróleo em 1973                                     Depois de patinar
                                                                                                                                 com os dois suces-
                                                                                                                                 sores civis de JK
                                                                                                                                 (Jânio Quadros e João
                                                                                                                                 Goulart), a indústria
                                                                                                                                 teria um novo espas-
                                                                                                                                 mo de crescimento
                   CHOQUE DO PETRÓLEO                                                                                            sob a ditadura militar.
                   > Nos anos 70, a Opep impôs                                                                                   No primeiro momen-
                   dois choques do petróleo. O                                                                                   to, houve o que ficou
                   segundo foi em 1979, quando                                                                                   conhecido como
                   o preço do barril dobrou. A alta                                                                              “milagre brasileiro”.
                   provocou a mais grave recessão                                                                                Entre 1968 e 1973, o
                   mundial desde 1929. No Brasil,                                                                                Brasil teve um cresci-
                   a inflação disparou e houve de-                       mento “chinês”: a expansão anual foi superior a 10%. A receita mostrou-se
                   terioração das contas externas.                       eficiente, mas nada tinha de original: tratava-se apenas de captar os dóla-
                                                                         res que estavam sobrando no mercado internacional.
                                                                           O milagre acabou com o choque do petróleo. Em 1973, a Organização
                                                                         dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) triplicou o preço do barril em
                                                                         represália aos governos ocidentais que haviam apoiado Israel contra os ára-
                                                                         bes na guerra do Yom Kippur. Seria o momento de o Brasil desacelerar, como
                                                                         fez a maioria. Mas os militares decidiram continuar apostando no crescimento.
                                                                           Assim, em 1974, Ernesto Geisel lançou o Segundo Plano Nacional de
                                                                         Desenvolvimento. Se o plano de JK visava à indústria de consumo, o de
                                                                         Geisel visava à indústria de base (fertilizantes, produtos petroquímicos) e
                                                                         à geração de energia. Mais uma vez, o país passaria por um ciclo de subs-
                                                                                                tituição de importações, desta vez de maior enverga-
                                                                                                dura. Entre 1974 e 1978, o Brasil cresceria a um ritmo
                                                                                                médio anual de 7%. Até os críticos de Geisel não
                                                                              Os militares      deixam de reconhecer a importância do investimento
                                                                             lançaram um        em infra-estrutura. O problema foi o elevadíssimo
                                                                                plano de        custo da tentativa de tornar o país auto-suficiente
                                                                           desenvolvimento      em áreas estratégicas. O descontrole da inflação e o
                                                                            num momento         crescimento exponencial da dívida externa – heran-
                                                                                em que o        ças do regime militar – só seriam equacionados duas
MARCO SERRA LIMA




                                                                                 mundo,         décadas mais tarde.
                                                                               depois do           Diante dos planos de JK e dos militares, o PAC
                                                                                primeiro        é um programa modesto, mesmo que venha a ser
               Plataforma                                                      choque do        cumprido à risca, o que é improvável. Uma diferença
               de petróleo                                                      petróleo,       objetiva é a limitação de seu financiamento. Hoje em
               no Brasil                                                      caminhava         dia, o consenso em torno dos valores da estabiliza-
                                                                            para a recessão     ção da moeda não mais permite pagar o crescimento
                                                                              econômica         presente com a inflação futura.


                                                                                                                    OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor
                                                                                                                    de A História do Brasil no Século 20
                                                                                                                    (em cinco volumes, pela Publifolha)



4 I                r e v i s ta é p o c a   I   11 de junho de 2007
Leia o texto:                                                  Sobre as PPPs é correto afirmar:                  são de responsabilidade exclusiva
Depois da necessária e proveitosa discus-                      A) são uma alternativa que o governo              do governo.
são no Congresso Nacional, foi sancionada                      encontrou para atrair investimentos               D) o atual governo nega-se a imple-
a Lei no 11.079, que institui normas para a                    privados para as obras de infra-estrutura         mentar as PPPs, pois faltam meios
contratação das Parcerias Público-Privadas                     necessárias ao país.                              para fiscalizar a correta aplicação dos
no Brasil. Os obstáculos a vencer com as                       B) são um meio de atrair investimentos            recursos, o que implicaria muita cor-
PPPs são muitos e complexos. Para que                          para obras públicas; elas gozam do mais           rupção nas obras públicas.
se obtenha aceitação e confiança públicas,                     absoluto apoio de todas as forças                 E) são um contrato entre o setor público
é preciso, antes de mais nada, grande                          políticas do país.                                e o privado, no qual as empresas tornam-
determinação e apoio governamental,                            C) os empresários não aceitam                     se donas de um serviço público, como
além de plena transparência nas ações.                         as PPPs, pois entendem que os                     uma estrada, em troca da tarifa cobrada
Fonte: CNI in:www.cni.org.br/empauta/src/INFRA-ESTRUTURA.pdf   investimentos em infra-estrutura                  dos usuários.




QUESTÕES RESPONDIDAS

Concreto e bossa nova

1ª questão                                                     ponsável pelo fornecimento de gás natural
                                                               a importantes atividades industriais.
                                                                                                                 2.593 km em território brasileiro.
                                                                                                                 Parte de Santa Cruz de La Sierra, na
A ampliação e diversificação da matriz ener-                   D) a construção do gasoduto pode                  Bolívia, e termina em Porto Alegre,
gética brasileira é uma necessidade frente                     representar o esgotamento rápido do gás           passando por Mato Grosso do Sul,
às possibilidades de retomada do cres-                         natural boliviano, pois, além do Brasil, a        São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
cimento econômico e industrial do país. O                      Bolívia abastece ainda a Argentina, que           Rio Grande do Sul. Seu traçado corta
mapa ilustra o gasoduto Bolívia–Brasil.                        não possui reservas deste recurso.                uma área responsável por boa parte
Sobre o gás natural e seu uso como                             E) após a construção do gasoduto, o gás           do PIB brasileiro.
fonte energética no Brasil, é correto                          natural passou a ser a fonte de
afirmar que:                                                   energia mais consumida no país,
A) o gás natural é um recurso mineral                          pelo baixo custo de sua obten-
                                                                                                                                                                  Ilustração: AKE ASTBURY




renovável, encontrado em bacias sedi-                          ção e facilidade de distribuição.
mentares e formado pela decomposi-                             UFSCar, 2005 (questão 25 da prova de Geografia)
ção de matéria orgânica em ambientes                           COMENTÁRIO
periglaciais.                                                  A presença do mapa constitui
B) a substituição do petróleo e do carvão                      boa dica para o acerto da
mineral e vegetal por gás natural, apesar                      alternativa, mas só ajudará os
de reduzir custos, não é recomendável,                         que conhecem o valor do gás
pois o gás é mais poluente que os demais.                      natural como fonte energéti-
C) o gasoduto, que no Brasil passa                             ca. O gasoduto Brasil–Bolívia
somente por Estados do Centro-Sul, é res-                      possui 3.150 km, dos quais
                                                                                                                                                 GABARITO 1 (C)
Guia ÉPOCA



                                                         que as rodovias federais devem receber          A) diferenças de bitolas entre as linhas
  2ª questão                                             neste ano R$ 1,2 bilhão. No ano que vem
                                                         não devem receber muito mais que isso.
                                                                                                         férreas e traçados desiguais nas diferen-
                                                                                                         tes regiões do país.
     O setor ferroviário ultrapassou o rodo-             (O Estado de S. Paulo, 12/10/2003)              B) reduzida demanda para o transporte
  viário na corrida por investimentos. Um                   Apesar das perspectivas promissoras          de cargas no setor e fracasso do modelo
  levantamento concluído nesta semana                    apontadas na reportagem, o setor ferro-         de gestão privada.
  pela Agência Nacional de Transportes                   viário brasileiro, privatizado nos anos 90,     C) inexistência de fábricas de material
  Terrestres (ANTT) mostra que as conces-                tem apresentado modestos indicadores            ferroviário e preferência das transporta-
  sionárias privadas de estradas de ferro                de crescimento do transporte de cargas.         doras pela navegação de cabotagem.
  já garantiram R$ 2,5 bilhões de recursos                  Entre os fatores que têm contri-             D) custos mais baixos do transporte rodo-
  para 2003 e 2004. Do outro lado, dados                 buído para esse baixo desempenho,               viário para grandes distâncias e reduzida
  do Ministério dos Transportes mostram                  podemos citar:                                  conexão ferroviária entre interior e litoral.
                                                                                                         Uerj, 2004 (questão 14 da prova de Geografia)


                                                                                                         COMENTÁRIO
                                                                                                            Quanto ao enunciado, observe que
                                                                                                         começa com a locução prepositiva “ape-
                                                                                                         sar de”, que indica concessão em relação
                                                                                                         ao afirmado anteriormente. Sendo assim,
                                                                                                         o texto, em destaque, não altera o que o
                                                                                                         enunciado solicita.
                                                                                                            Quanto ao conteúdo, no Brasil, é
                                                                                                         comum o uso de duas bitolas diferentes,
                                                                                                         a métrica e a larga. Alguns traçados têm
                                                                                                         bitolas mistas, adaptadas para o uso
                                                                                                         das duas. Apesar dessa dificuldade, o
                                                                                                         transporte de carga por via férrea, princi-
 Estrada de Ferro Vitória                                                                                palmente de produtos como o minério de
 a Minas, responsável por                                                                                ferro, vem avançando no país. Quanto ao
 um terço do transporte da                                                                               transporte de passageiros, restringe-se
 carga ferroviária no Brasil
                                                                                                         às regiões metropolitanas.




  3ª questão                                             bilaterais que, assinados pelo país, res-
                                                         tringem o número de parceiros e itens
                                                                                                         que não destacam a palavra “incorreta”,
                                                                                                         uma armadilha aos desatentos.
    O desempenho atual da indústria                      comercializados.                                   Nesta questão, veja que os acordos
  brasileira sofre interferência negativa de             D) internamente, pelo baixo poder               bilaterais ampliam – e não restrin-
  fatores de ordem interna ou externa.                   aquisitivo de grande parte do mercado           gem – parceiros e itens comercializa-
    Considerando-se essa informação,                     consumidor, conseqüência da má dis-             dos pelo país. Tais acordos obedecem
  é INCORRETO afirmar que, no Brasil,                    tribuição de renda no país.                     às normas da Organização Mundial do
  a indústria é afetada                                  UFMG, 2006 (questão 40 da prova de Geografia)   Comércio. Observe que a questão é
  A) internamente, pelo custo das tarifas                                                                datada. No início deste ano, com a modi-
  públicas e pela carga tributária, que                  COMENTÁRIO                                      ficação na fórmula de calcular o PIB, o
  penalizam o setor produtivo brasileiro.                  Enunciados que pedem a indicação              montante da carga tributária recuou. Da
  B) externamente, pelas oscilações no                   da informação incorreta exigem cuidado          mesma forma, o consumo das classes
  valor da moeda do país, que interferem                 extra, uma vez que devem ser interpre-          menos favorecidas vem crescendo nos
  na competitividade do produto nacional.                tados no sentido inverso ao normalmen-          últimos dois anos, o que poderia levar a
  C) externamente, pelos acordos                         te solicitado. E atenção: há instituições       um questionamento da alternativa D.
                                                                                                                                                   GABARITO 2 (A) 3 (C)


6 I   r e v i s ta é p o c a   I   11 de junho de 2007
4ª questão                                    A CIDADE EM PROGRESSO
O poema ao lado faz referência ao             “A cidade mudou. Partiu para o futuro
desenvolvimento urbano, muito pre-            Entre semoventes abstratos
sente na década de 1950 no Brasil.            Transpondo da manhã o imarcescível muro
Sobre esse período, é CORRETO                 Da manhã na asa dos DC-4s
afirmar que:
                                              Comeu colinas, comeu templos, comeu mar
01. no final da década de 1950, o             Fez-se empreiteira de pombais
Brasil teve como presidente Juscelino         De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar
Kubitschek (JK), conhecido por                Pombas paraestatais. [...]
seu slogan de governo “50 anos
em 5”.                                        E com uma indagação quem sabe prematura
                                              Fez erigir do chão
02. durante o governo de JK, o país           Os ritmos da superestrutura
                                              De Lúcio, Niemeyer e Leão. [...]
teve grande crescimento da indústria          MORAES, Vinicius de. Nova Antologia Poética. São Paulo: Cia. de Bolso, 2005, p. 237.
de bens de consumo duráveis, a
maioria pertencente a empresas
multinacionais. As propagandas             Indique a soma das
de automóveis e aparelhos                  respostas corretas: ______
eletrodomésticos da época revelam          UFSC, 2007 (questão 17 da prova de História)
essa tendência.
                                           COMENTÁRIO
04. esse período é conhecido pelo          Sobre o enunciado, repare que o
decréscimo da dívida externa               poema, embora guarde relação com
brasileira, que pôde ser paga              o contexto solicitado, só ilustra a
gradativamente graças ao aumento           questão. Ou seja, o entendimento
das exportações.                           do poema é irrelevante para você
                                           dar a resposta certa. Fique esperto:
08. a construção de Brasília foi           nem sempre a presença de poemas,
idealizada por Getúlio Vargas e            trechos de reportagens e gráficos
concluída por JK. O objetivo era           guardam relação determinante com
desenvolver o litoral brasileiro,          o que será solicitado. E atenção
construindo a capital do país na região.   redobrada para não errar a soma
                                           e morrer na praia.
16. o desenvolvimento industrial           Sobre o conteúdo: o governo JK
atingiu, principalmente, o Nordeste        (1956-1961) possibilitou a entra-                                                                       Vinicius,
brasileiro. Isso provocou grande afluxo    da das multinacionais de bens                                                                          poeta que
migratório do Sul e Sudeste para           de consumo duráveis, tendo à                                                                             aderiu à
a região, provocando o inchaço de          frente a indústria automobilís-                                                                       bossa nova
cidades como Salvador e João Pessoa.       tica. No período, o Brasil viveu
                                           grande efervescência cultural,
32. também como reflexo da                 com o surgimento da bossa
industrialização, pôde-se observar         nova – representada por
um grande crescimento na população         João Gilberto, Tom
rural brasileira.                          Jobim e Vinicius
                                           de Moraes, entre
64. no plano cultural, o período do        outros – e grande
governo JK presenciou a difusão do         atividade no cinema,
cinema brasileiro e da bossa nova,         no teatro, na
                                                                                                                                                                        AGÊNCIA O GLOBO




na qual Vinicius de Moraes teve            literatura e na
presença marcante.                         arquitetura.
                                                                                                                                           GABARITO 4 (67=1+2+64)


                                                                                                     11 de junho de 2007             I   r e v i s ta é p o c a   I 7
Guia ÉPOCA




                                                                                   Como aproveitar este guia
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                                                                                          em sua revista em dez fascículos. Além dos temas abordados (veja
                                                                                          o calendário abaixo), haverá outro assunto a ser escolhido pelos
                                                                                   leitores e que será tratado num 11o fascículo disponível apenas no site da
                                Antes de                                           revista. Para votar num dos assuntos propostos, basta acessar www.epoca.com.br
                                começar                                            e clicar na seção “especiais”.
                                a responder às
                                perguntas, leia
                                                                    E fique           O guia ajudará o candidato a melhorar seu desempenho na prova de
                                todas as questões                   atento:        atualidades. O tema de cada fascículo será exposto num texto didático. Para
                                para sentir a                          é comum
                                dimensão da                     aparecer algum     avaliar o grau de conhecimento dos estudantes, os professores vão propor
                                prova e o grau                   dado que pode
                                de dificuldade                  ser utilizado em   uma questão inédita e comentarão outras quatro formuladas para exames em
                                dos enunciados.                outras questões.    universidades espalhadas pelo Brasil.
                                                                                      O comentário será dividido em duas partes. Na primeira, foca-se o enun-
                                                                                   ciado, com destaque para as diversas maneiras de formular uma questão. Na
Ilustração: AKE ASTBURY




                                                                                   segunda, analisa-se o conteúdo. O ideal é o candidato responder à questão
                                                                                   antes de ler o comentário. O gabarito encontra-se no pé da página em que
                                                                                   está a questão. As quatro questões são transcritas sem modificações, para
                                                                                   que você possa treinar em casa a partir de uma situação real.




                                                                          Calendário
                                                                                                                                       DIRETOR EXECUTIVO Juan Ocerin
                                                                                                                                       DIRETOR EDITORIAL Paulo Nogueira
                                                                                                                                       DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Gilberto Corazza
                                                                                                                                       DIRETOR DE FINANÇAS Frederic Zoghaib Kachar
                                                                                                                                       DIRETOR DE ASSINATURAS Stavros Frangoulidis Neto


                                     FASCÍCULO                         TEMA
                                               1                       Infra-Estrutura no Brasil                            DIRETOR DE REDAÇÃO Helio Gurovitz epocadir@edglobo.com.br
                                                                                                                            REDATOR-CHEFE David Cohen
                                               2                       Democracia Brasileira                                DIRETOR DE CRIAÇÃO Saulo Ribas
                                                                                                                            EDITORES-EXECUTIVOS André Fontenelle, David Friedlander
                                                                                                                            DIRETOR DE ARTE Marcos Marques

                                               3                       A Explosão Urbana no Mundo
                                               4                       Os Desafios da Geração de Energia
                                               5                       O Meio Ambiente no Século XXI
                                                                                                                            O Guia ÉPOCA Vestibular 2008 – Atualidades é um projeto
                                               6                       A Ameaça do Aquecimento Global                       editorial de 11 fascículos desenvolvido pelo UNO Sistema de
                                                                                                                            Ensino da Editora Moderna para a Editora Globo. © 2007 Editora
                                                                                                                            Moderna e Editora Globo. Todos os direitos reservados.

                                               7                       O Terrorismo e o Ataque aos Direitos do Cidadão      Nenhuma parte desta coleção pode ser reproduzida sem
                                                                                                                            autorização prévia da Editora Moderna e da Editora Globo.

                                                                                                                            COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Ana Luisa Astiz
                                               8                       China – Crescimento e Repressão                      COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Carlos Piatto (UNO)
                                                                                                                            COORDENAÇÃO DE TEXTOS Antonio Carlos da Silva
                                                                                                                            e Venerando Santiago de Oliveira
                                                                                                                            COMENTÁRIOS AOS ENUNCIADOS Jô Fortarel
                                               9                       Conflitos no Oriente Médio                           EDIÇÃO DE TEXTO Oscar Pilagallo
                                                                                                                            EDIÇÃO DE ARTE Leonardo Nery Protti
                                                                                                                            ILUSTRAÇÕES AKE Astbury
                                               10                      América do Sul – Geopolítica e Energia               REVISÃO Bel Ribeiro
                                                                                                                            SUPERVISORA DE INTERNET Adriana Isidio (UNO)




                            > E NÃO SE ESQUEÇA: vote no site o tema do 11o fascículo
                          8 I   r e v i s ta é p o c a   I   11 de junho de 2007
A                                              Populares ou
        América do Sul, que era
        conhecida por ter governos
        de direita, assistiu nos últi-


                                              populistas, eis
mos anos à ascensão da esquer-
da. Partidos identificados com o
socialismo de diferentes matizes


                                                a questão
estão no poder. Para alguns, são
governos populares; para outros,
neopopulistas. A guinada nem
sempre significou rompimento
com o liberalismo, como no Brasil
e no Chile. Os EUA se mostram                   A esquerda chegou ao poder na América
mais preocupados com Hugo                         do Sul, mas essa uniformidade ainda
Chávez (Venezuela), Evo Morales
(Bolívia) e Rafael Correa (Equa-                não se traduziu na conclusão de projetos
dor), que lideram governos hostis                         energéticos comuns



                                                                                                    © DIDA SAMPAIO/AE
à superpotência. Um fato comum
a esses países é ter gás natural ou
petróleo. São as grandes reservas
da Venezuela que permitem a
Chávez uma política externa mais
ousada. A ação conjunta de paí-
ses da região, no entanto, ainda
esbarra em obstáculos, como se
verá neste fascículo.


 NESTA EDIÇÃO
 Chávez, trajetória
 entre golpes PÁG. 3

 Conheça a gênese
 do Mercosul PÁG. 4

 Veja o tema vencedor
 do 11o fascículo PÁG. 8                 Lula, ladeado por Hugo
                                         Chávez, da Venezuela (à esq.),                > História
                                         e Evo Morales, da Bolívia
                                                                                     > Geografia
ENTENDA O ASSUNTO


                                               Conservadora e oligárquica,
                                               a América do Sul Com petróleo e gás, a região
                                               volve à esquerda poderia ter pesomas projetos
                                                                                 maior nas
                                                                negociações com as potências
                                                                consumidoras,
                                                                                                                                    regionais enfrentam obstáculos
                                                                                                                                    POR EDILSON ADÃO




                                                                                                                                                      A ONDA VERMELHA
                                                                                                                                                      SUL-AMERICANA
                                                                                                                                                             Eleições em abril de 2008

                                                                                                                                                             Governos de esquerda

                                                                                                                                                             Governo de direita




                                                                                                                                                             T
                                                                                                                                                             radicionalmente governada
                                                                                                                                                             por regimes associados à ide-
                                                                                                                                                             ologia de direita, a América do
                                                                                                                                                  Sul assistiu nos últimos anos à ascensão
                                                                                                                                                 da esquerda. Após a onda neoliberal dos
                                                                                                                                                anos 1990, partidos identificados com o
                                                                                                                                              socialismo de diferentes matizes alcançaram
                                                                                                                                             o poder. Para alguns, são governos popula-
                                                                                                                                           res; para outros, neopopulistas.
                                                                                                                                          Em muitos casos, a referida ascensão não
                                                                                                                                   significou rompimento absoluto com práticas liberais,
                                                                                                                            como demonstram os casos chileno e brasileiro. Assim,
                                                                                                                           tanto ao estudante como ao professor, faz-se necessário um
                                                                                                                          filtro ideológico para uma avaliação ponderada do quadro
                                                                                                                         político sul-americano e de sua conjuntura geopolítica.
                                                                                                                         Excetuando-se o claro exemplo da Colômbia, de Álvaro
                                                                                                                   Uribe, a grande maioria dos países sul-americanos encontra-se,
                                                                                                               hoje, governada por partidos e/ou políticos com origem na esquerda.
                                                                                                           Aguardemos a definição no Paraguai (por enquanto, o líder das pesquisas
                                                                                                         para as eleições de 2008 é o ex-bispo Fernando Lugo,
Ilustração: Takashi/Adaptação: AKE Astbury




                                                                                                         candidato de esquerda).
                                                                                                           O atraso social e econômico da América Latina (onde se insere a América
                                                                                                         do Sul) é um produto histórico e, independentemente do viés ideológico dos
                                                                                                         atuais e próximos governantes, é difícil que o quadro se reverta no curto prazo.
                                                                                                         A reparação da desigualdade construída em bases tão sólidas e incrustada há
                                                                                                         séculos na região não será tarefa fácil para liberais ou socialistas.
                                                                                                           Já a geopolítica regional é redesenhada, circunstancialmente, de acordo com

                                             2 I   r e v i s ta é p o c a   I   1 1 d e j u n h o d e2 2 0 0 7 E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X
                                                                                                         | R
Michelle Bachelet,
                                                         presidente do Chile




                                                                                         UMA LIDERANÇA, DOIS GOLPES
                                                                                         > Duas frustradas tentativas
© AP




                                                                                         de golpe de Estado mar-
       o tom partidário daqueles que chegam ao poder. Como líder das Américas,           cam a trajetória política de
       os Estados Unidos vêem com muita reticência os passos de Hugo Chávez              Hugo Chávez, presidente da
       (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), que lideram         Venezuela. A primeira, que
       regimes hostis à superpotência. Um fato comum a esses países é terem gás          ele protagonizou, data de
       natural ou petróleo. Outros líderes preocupam menos. É o caso de Lula, de         fevereiro de 1992. Na épo-
       Michelle Bachelet (Chile) e de Tabaré Vásquez (Uruguai), assim como Néstor        ca, o então tenente-coronel
       Kirchner (Argentina), no início do mandato.                                       Chávez tentou derrubar o
         A América do Sul tem papel importante na estratégica questão da                 presidente Carlos Andrés
       energia no século XXI, particularmente a Venezuela. O país possui reservas        Pérez, identificado com um
       petrolíferas no Orenoco, uma das maiores do mundo. Essas reservas                 programa econômico liberal.
       poderão colocar o país no primeiro lugar mundial, se confirmada a                 Preso, foi anistiado dois anos
       certificação internacional em 316 bilhões de barris (atualmente, as reservas      mais tarde. Com projeção
       são de 77 bilhões de barris, a sexta maior concentração do mundo). As             nacional, venceu a eleição de
       reservas da Arábia Saudita, hoje as maiores do mundo, são de 218 bilhões          1998 e, em abril de 2002, seria
                            de barris. Quanto ao petróleo extrapesado, de menor          vítima de um golpe de direita,
                            qualidade, a Venezuela detém a maior reserva mundial.        que o afastou do cargo por
          A Venezuela         A política externa de Chávez põe seu prumo nessa           apenas algumas horas.
        possui enormes      realidade. Estreitando os laços com Irã, Rússia e China,
           reservas de      suas ações são mais que uma simples provocação
         petróleo, o que    aos Estados Unidos. Há interesses econômicos e
            determina       geopolíticos. Por sua vez, a China já está em busca das
           sua política     principais zonas petrolíferas do mundo; o Sudão é um
             externa        exemplo. A Venezuela seria muito bem-vinda ao papel de
                            fornecedor ao dragão asiático.
                              No âmbito regional, Hugo Chávez lançou, em 2004,
       uma ousada proposta: a criação da Petrosur, uma empresa multinacional
       sul-americana do setor petrolífero, idéia que foi aceita de pronto pelo Brasil.
       A intenção é aproveitar as estruturas da Petrobras e da PDVSA. Com a
       Bolívia, Chávez fundou a Petroandina, empresa binacional, 60% boliviana e
       40% venezuelana.
         Outro grande projeto energético de porte é o Grande Gasoduto do Sul
       (GGS), iniciativa venezuelana, brasileira e argentina, cujo projeto original
       prevê um gasoduto de 8.000 quilômetros. O primeiro trecho ligaria Güiria,
       na Venezuela, ao Recife. Nas fases seguintes, incorporaria Argentina, Bolívia,

                                          3 | R EV ISTA É PO C A | FA SCÍC U L O X
Uruguai, Paraguai, além de outros
      O MERCOSUL E A                                                                        países que desejassem.
      INTEGRAÇÃO REGIONAL                                                                     Para alguns, tais empreendimentos
      Por André Guibur
                                                                                            energéticos fazem parte de um plano
                                                                                            expansionista de Chávez. Para outros,
          As bases políticas para a criação do
      Mercado Comum do Sul surgiram em                                                      representam uma possibilidade de
      1985, com os acordos de cooperação                                                    independência plena da porção austral
      técnica e econômica firmados entre                                                    da América. Esses projetos, no entanto,
      a Argentina e o Brasil. Em 1991, com                                                  sofrem críticas sobre a viabilidade
      a inclusão do Paraguai e do Uruguai,                                                  econômica, técnica e ambiental (o
      foi assinado o Tratado de Assunção,                                                   ramal do gás atravessará a Floresta
      que criou o Mercosul. Porém, foi o                                                    Amazônica).
      Protocolo de Ouro Preto, de 1995,
      que definiu sua estrutura institucional                                                 A consolidação da Petrosur e do GGS
                                                          © ANDREW ALVAREZ/AFP




      e permitiu a celebração de acordos                                                    seria interessante ao menos em duas
      reconhecidos internacionalmente.               Fidel                                  vertentes. Megaempresas regionais
          Entre 1996 e 2004, outros países           Castro, a quem                         teriam robustez para negociar em
      sul-americanos ingressaram no bloco            Chávez se aliou                        melhores condições com as potências
      como países associados, inicialmen-                                                   consumidoras de gás e petróleo e, de
      te Bolívia e Chile, e, mais recente-                                certa forma, garantiriam o abastecimento sul-americano
      mente, Peru, Colômbia e Equador. A
      Venezuela assinou um protocolo de                                   (ainda mais se considerarmos o esgotamento das
                                                        A eleição de      reservas mundiais e a decorrente escassez a que,
      adesão plena com o Mercosul, que                 um político de
      ainda não foi ratificado.                                           com certeza, assistiremos nos anos vindouros;
          Desde sua criação, o Mercosul pro-            esquerda no       problemas de abastecimento energético na região
      porcionou a ampliação das relações               Paraguai pode      estão previstos para 2010).
      comerciais entre os países da região,              causar um           Após a empolgação nos últimos três anos, no entanto,
      apesar da instabilidade nas relações             problema para      neste ano a alternativa do gasoduto ficou mais distante
      entre seus membros, sobretudo Brasil                o Brasil
      e Argentina, e das condições nem sem-                               e o ânimo brasileiro com os projetos de integração
      pre favoráveis da economia mundial.                                 energética diminuiu sensivelmente. Hugo Chávez
          No âmbito institucional e econô-          acusou o golpe e passou a fazer cobranças. O arrefecimento brasileiro
      mico, as maiores dificuldades estão           está diretamente ligado à nova preferência energética do presidente Lula:
      na adoção de medidas protecionistas           o biocombustível. Chávez juntou-se a Fidel Castro e ambos criticaram a
      entre os membros, como sobretaxas             alternativa brasileira, vinculando a questão do biocombustível a uma imediata
      e cotas, a fim de atender a interesses        falta de alimentos, alegando que a cana-de-açúcar substituiria os cultivos de
      de determinados setores das econo-
      mias nacionais, criando obstáculos            alimentos básicos.
      para a livre circulação de mercadorias.          Outra possível celeuma energética (dessa feita, na fonte hidráulica) está
      Além disso, a Tarifa Externa Comum            prevista em caso de vitória de Fernando Lugo no Paraguai, em abril de 2008.
      (TEC), que deveria padronizar as tari-        Sua chegada ao poder, por si só, já seria algo extraordinário, pois poria fim
      fas de importações de fora do bloco,          à hegemonia de seis décadas do Partido Colorado, o mais antigo partido no
      ainda não foi efetivada. Tais desa-                                                   poder do mundo. Igualmente, seria
      justes comprometem a integração
                                                                                                       © NORBERTO DUARTE/AFP




                                                                                            motivo de preocupação ao governo
      proposta em Assunção.
      André Guibur é professor de Geografia da
                                                                                            brasileiro, pois uma das plataformas
      rede privada e em cursos pré-vestibulares                                             eleitorais do candidato é a revisão
                                                                                            dos acordos da usina hidrelétrica
                                                                                            binacional de Itaipu, que ele considera
                                    Fernando Lugo,
                                        candidato à                                         danosos aos paraguaios.             ◆
                                        Presidência
                                        do Paraguai

                                                                                                                               EDILSON ADÃO, mestre em Geografia
                                                                                                                               Humana pela USP e especialista em
                                                                                                                               geopolítica, é autor de Oriente Médio: a
                                                                                                                               Gênese das Fronteiras (Editora Zouk)


4 I   r e v i s ta é p o c a   I   1 1 d e j u n h o d e4 2 0 0 R E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X
                                                            | 7
Qual o sentido da ascensão da
                              esquerda na América do Sul?
                              Avalie o que de fato mudou após partidos de esquerda
                              terem sido eleitos; a resposta e o comentário
                              estarão no fascículo eletrônico da próxima semana
  Sobre o cenário geopolítico sul-        entre Lula e Chávez promoveram                 esquerda terem chegado ao poder
americano, podemos afirmar que:           uma retomada da corrida armamen-               na América do Sul, o sistema de
A) a ascensão de regimes de esquerda      tista sul-americana.                           economia de mercado foi mantido
levou vários países da região a adotar    C) o ingresso da Venezuela no                  em todos eles.
o sistema de economia planificada,        Mercosul foi vetado por conta da ins-          E) o Paraguai saiu do Mercosul devi-
como o Brasil e o Chile.                  piração marxista de Hugo Chávez.               do a uma aproximação estratégica
B) os recentes desentendimentos           D) apesar de muitos partidos de                com os Estados Unidos.




RESPOSTA DA QUESTÃO INÉDITA DO FASCÍCULO IX

Razão geopolítica explica a ocupação
das colinas de Golã
                                                  A


   Um dos motivos para a ocupação                                                       Líbano
das colinas de Golã (letra A no mapa)
                                                                                                       Síria
foi o fato de essa região ser a mais
importante área de nascentes da                                                                      A
Bacia do Jordão, o que a valoriza
geopoliticamente, pois a região é                                                                 Rio Jordão

muito pobre em recursos hídricos.                            Mar Mediterrâneo                                                                          Mar Medit
                                                                                             B
A Cisjordânia (letra B no mapa) é a
mais importante área agrícola; a Faixa
                                                                                C
de Gaza (letra C no mapa) pertencia                                                              Mar Morto
originalmente ao Egito; a Península do                                              Israel
Sinai (letra D no mapa) foi devolvida
em 1979 ao Egito; as colinas de Golã e
Cisjordânia permanecem sob domínio
israelense.
   Gabarito: alternativa A. (Um dos                                     D                    Jordânia
                                                  Egito                                                                                  Egito
motivos que levaram à ocupação da
região A, no território sírio, é o fato                                               Golfo de Ácaba
de tratar-se de importante área de                           Golfo de Suez                                                                             Golfo de S
manancial em uma região marcada
                                                                                                               Ilustração: AKE ASTBURy




                                                                                             Arábia
pela aridez.)                                                                                Saudita


                                                                                Mar Vermelho

                                                                                                                                          Colinas de Golã. Perten
                                     5 | R EV ISTA É PO C A | FA SCÍC U L O X                                                             importante área de ma
                                                                                                                                          Cisjordânia. Pertencia à
                                                                                                                                          zonafértil, gurda grand
QUESTÕES RESPONDIDAS

 Petróleo e geopolítica
 Nas questões a seguir, veja o que já foi perguntado em vestibulares a
 respeito de temas energéticos e ideológicos sobre a América do Sul
                                                                                                            de fluxos e meios de transporte e energia.
 1ª questão                                                                                                 E) podem reforçar os conflitos existentes
                                                                                                            com os países da Comunidade Andina
    Observe o mapa ao lado. Note a linha                                                                    (CAN), em face da perspectiva de
 cheia e a linha pontilhada, quase sempre                                                                   expansão dos interesses brasileiros na
 paralelas.                                                                                                 região. FGV, 2001
    Em relação às obras de infra-estru-
 tura destacadas, assinale a alternativa                                                                    COMENTÁRIO
 INCORRETA:                                                                                                    Tanto a presença do mapa como a
 A) podem permitir a abertura de canal                                                                      solicitação da alternativa incorreta (menos
 de escoamento de produtos da Zona                                                                          comum nos exames) podem confundir o
 Franca de Manaus para outros mercados                                                                      candidato. Mas a alternativa incorreta é tão
 e a consolidação da ligação Brasil–                                                                        óbvia que deve compensar o susto. As obras
 Venezuela, via Manaus e Boa Vista.                                                                         de infra-estrutura apontadas no mapa atuam
 B) podem contribuir para agilizar e                                                                        muito mais num sentido de integração que
 intensificar fluxos econômicos, baratear                   circulação terrestre do subcontinente,          de confrontação, como aponta a alternativa
 a exportação de produtos brasileiros e                     conforme proposta firmada recentemente          incorreta. Os países da Comunidade Andina
 articular zonas da Amazônia setentrional,                  pelos chefes de Estado da América do Sul.       até são vistos como potenciais candidatos a
 numa região fronteiriça.                                   D) podem contribuir para consolidar a           ingressarem no Mercosul, como já anunciou
 C) inscrevem-se no contexto de melhoria                    posição estratégica de Manaus, como             o governo brasileiro. Portanto, o espírito de
 da infra-estrutura de integração física e                  sede da Zona Franca e nó de confluência         conflitos é totalmente improcedente.




  2ª questão                                                oposição venezuelanos.
                                                            B) pelo fato da Venezuela ser membro
                                                                                                            COMENTÁRIO
                                                                                                               A leitura atenta do enunciado auxilia
                                                            da Opep e o terceiro maior exportador           na escolha da alternativa correta, uma
        O presidente da Venezuela, Hugo                     mundial de petróleo e temer um                  vez que, ao final, refere-se à Opep e
      Chávez, voltou ontem a concentrar                     aumento da produção e conseqüente               lembra ao candidato a relação entre os
      a atenção internacional ao tornar-se                  queda de preços do produto.                     países citados. Apesar de a alternativa
      o primeiro chefe de Estado a fazer                    C) pela necessidade de conseguir impor-         correta apontar o fato de a Venezuela
      uma visita oficial ao Iraque desde o                  tar petróleo a preços subsidiados, alivian-     fazer parte da Opep como o principal
      fim da Guerra do Golfo, em 1991. A                    do a pressão inflacionária na Venezuela.        motivo da visita de Chávez ao Iraque, a
      viagem faz parte de seu tour pelos                    D) para tentar reduzir os preços inter-         questão vai além. A visita a Saddam tam-
      países-membros da Opep (...)                          nacionais do petróleo, favorecendo as           bém demonstrou um tom desafiador de
      “O Estado de São Paulo” – 11/8/2000                   exportações venezuelanas do produto,            Chávez à comunidade internacional, uma
                                                            principalmente para os EUA.                     vez que o Iraque estava sob embargo da
    A visita do presidente venezuelano                      E) para se antepor ao isolamento da             ONU desde 1991 e, até então, nenhum
  justifica-se:                                             Venezuela junto à comunidade inter-             chefe de Estado havia adotado tal pos-
  A) pela necessidade de obter apoio                        nacional, que questiona a lisura da             tura. Na mesma viagem, Hugo Chávez
  interno, uma vez que sua eleição                          eleição de Chávez.                              visitou o dirigente líbio, Muammar
  é contestada por vários grupos de                         Mackenzie, 2001                                 Kadafi, e o cubano Fidel Castro.


6 I   r e v i s ta é p o c a   I   1 1 d e j u n h o d e6 2 0 0 7 E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X
                                                            | R
3ª questão                                Golfo Pérsico, foi o principal motivo da
                                          invasão do Iraque pelo Kwait.
                                                                                               didato. Argentina e Chile travaram
                                                                                               intensa disputa pelo controle da rota
  Em relação às vias marinhas de          D) Canal de Suez, no Egito, está com                 do Canal de Beagle, no extremo sul da
circulação destacadas abaixo, assinale    sua navegação impedida por determi-                  América, e essa é uma questão ainda
a alternativa correta:                    nações israelenses.                                  mal resolvida. Ligação entre os ocea-
A) Ilhas Lennox, Picton e Nueva, situa-   E) Estreito de Gibraltar é reivindica-               nos Atlântico e Pacífico, o canal tem
das no Canal de Beagle, extremo sul da    do por Portugal junto à Inglaterra,                  importância estratégica. Também é
América, foram objeto de disputa entre    tendo em vista o controle da navega-                 importante saber: o Canal do Panamá
Argentina e Chile.                        ção comercial entre o Atlântico e o                  foi devolvido em 1999 ao Panamá, e
B) Canal do Panamá, na América            Mediterrâneo.                                        não aos Estados Unidos; o Estreito de
Central, que une os oceanos Atlântico     UFRS, 2000                                           Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico,
e Pacífico, passará ao controle dos       COMENTÁRIO                                           é disputado pelo Irã e pela Arábia
Estados Unidos em 2000.                    Enunciado curto, objetivo e direto,                 Saudita; e a intervenção israelense em
C) Estreito de Ormuz, localizado no       mas que não fornece dica para o can-                 Suez se deu nos anos 1950.




4ª questão                                nomes dos países
                                          envolvidos na questão
                                                                                                       Guiana
                                                                                                             Suriname
  O cenário geopolítico sul-ameri-        representa mais um                                 A                      Guiana Francesa
cano anda turbulento. Assinale a          complicador. Em 2006,                      B
alternativa que indica corretamente       uma proposta norte-                                                                          Arquipélago

alguma característica geopolítica         americana de conceder                 D                                                       Fernando
                                                                                                                                       de Noronha

sul-americana recente, o país e a         vantagens comerciais
respectiva indicação:                     e alfandegárias ao
A) as Farc continuam realizando           Paraguai em troca da                   Peru                          BRASIL
seqüestros em nome de uma ban-            utilização de seu território
deira política = Venezuela.               para uma suposta                                    C
B) o presidente Lúcio Gutierrez não       instalação de base norte-                                E
resistiu à crise política e renunciou     americana causou mal-                       Chile
= Colômbia.                               estar entre os                                                                     Oceano
C) a revolução bolivariana levada         vizinhos, inclusive          Oceano
                                                                                                                             Atlântico
adiante por Hugo Chávez tem con-          com a possibilidade          Pacífico                           Uruguai
quistado simpatia junto à popula-         de expulsão do país                              Argentina
ção de mais baixa renda = Bolívia.        do Mercosul. As mais
D) o líder da oposição Evo Morales        calorosas reações foram
desponta como principal nome nas          do representante das relações
eleições de dezembro = Equador.           exteriores do governo argentino,
E) a concessão de seu território          mas também se manifestou
para uma suposta base militar             o Ministério das Relações                                Ilhas Falkland (Malvinas)

norte-americana foi malvista pelos        Exteriores do Brasil. As regras
vizinhos = Paraguai.                      do Mercosul proíbem que um
ESPM, 2006                                membro do bloco faça acordos
                                          alfandegários em separado com
COMENTÁRIO                                outros países, daí a ameaça de
  Enunciado vago (“alguma                 expulsão. Igualmente, preocupou
característica geopolítica”) sempre       os governos argentino e brasileiro
                                                                                                                                                            Ilustrações: AKE ASTBURy




gera insegurança no candidato.            a possibilidade dessa suposta base
Para aqueles mal informados               norte-americana, próxima às suas
sobre cartografia, a ausência dos         fronteiras.
                                                                                                                     GABARITO: 1 (E), 2 (B), 3 (A), 4 (E)


                                                                                           11 de junho de 2007          I   r e v i s ta é p o c a    I
Biotecnologia encerra série
                                                                                  O próximo fascículo, que terá apenas versão
                                                                                  eletrônica, focará a questão das células-tronco

                                                                                  N
                                                                                         o próximo fascículo do Guia ÉPOCA Vestibular 2008 - Atualidades,
                                                                                         o tema abordado será biotecnologia e células-tronco. Esse foi o
                                                                                         assunto mais votado na enquete realizada no site de ÉPOCA (www.
                                                                                  epoca.com.br). Mais de 40% dos internautas escolheram esse tema, entre
                                                                                  os quatro disponíveis. Os outros três foram: Globalização e Organizações
                                                                                  Multilaterais, União Européia e Crime Organizado.
                                                                                    Biotecnologia é um conceito associado à modernidade. Mas é tão antigo
                                                                                  quanto a própria civilização. Existe há milênios, desde os primeiros tempos
                                                                                  da fabricação de pão e vinho.
                                                                                    A biotecnologia moderna começa com a descoberta e manipulação do
                                                 TOME CUIDADO                     DNA. Seqüenciamento de DNA, manipulação de genes, transgenia, clona-
                                                  com o uso indiscriminado das
                                                   generalizações: “maioria” é    gem, pesquisas com células-tronco e terapias decorrentes são assuntos a
                                                diferente de “todos”, do mesmo
                                                   modo que “muitas vezes” é      serem tratados no fascículo. As questões éticas envolvidas também serão
                                                  diferente de “sempre”. O uso    abordadas. O 11o fascículo, que terá a mesma estrutura dos outros dez,
                                                 inadequado ou a interpretação
Ilustração: AKE ASTBURy




                                                imprecisa desses termos podem     com questões comentadas pelos professores, estará disponível apenas
                                                   significar a resposta errada
                                                          a uma questão.          em versão eletrônica.




                                                                                                                                                   DIRETOR GERAL Juan Ocerin
                                                                                                                                                   DIRETOR EDITORIAL Paulo Nogueira
                                                                                                                                                   DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Gilberto Corazza
                                                                                                                                                   DIRETOR DE FINANÇAS Frederic Zoghaib Kachar
                                                                                                                                                   DIRETOR DE ASSINATURAS Stavros Frangoulidis Neto
                                                                                                                                                   DIRETORA DE MARKETING yara Grottera




                                                                                                                                         DIRETOR DE REDAÇÃO Helio Gurovitz epocadir@edglobo.com.br
                                                                                                                                         REDATOR-CHEFE David Cohen
                                                                                                                                         DIRETOR DE CRIAÇÃO Saulo Ribas
                                                                                                                                         EDITORES-EXECUTIVOS André Fontenelle, David Friedlander
                                                                                                                                         DIRETOR DE ARTE Marcos Marques




                                                                                                                                         O Guia ÉPOCA Vestibular 2008 - Atualidades é um projeto
                                                                                                                                         editorial de 11 fascículos desenvolvido pelo UNO Sistema
                                                                                                                                         de Ensino da Editora Moderna para a Editora Globo. © 2007
                                                                                                                                         Editora Moderna e Editora Globo. Todos os direitos reserva-
                                                                                                                                         dos. Nenhuma parte desta coleção pode ser reproduzida sem
                                                                                                                                         autorização prévia da Editora Moderna e da Editora Globo.

                                                                                                                                         COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Ana Luisa Astiz
                                                                                                                                         COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Carlos Piatto (UNO)
                                                                                                                                         COORDENAÇÃO DE TEXTOS Antonio Carlos da Silva (Prof.
                                                                                                                                         Toni) e Venerando Santiago de Oliveira (Prof. Venê)
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                          8 I   r e v i s ta é p o c a   I   1 1 d e j u n h o d e82 0 0 7 E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X
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B                                        Biotecnologia,
       iotecnologia é um termo que
       nos remete ao estado da
       arte da ciência da vida. Está


                                         promessas
associado ao genoma, ao DNA, a
clones, enfim, a um extenso leque de
descobertas dos tempos modernos.


                                         e polêmicas
Mas a biotecnolgia é tão antiga quan-
to a própria civilização. O primeiro
homem que, 12 mil anos atrás, numa
remota Mesopotâmia, usou fermento
para fazer o pão estava pondo em
curso um processo biotecnológico.
                                         Culturas transgênicas e uso
Hoje a biotecnologia continua a fazer    de células-tronco estão no
o pão, com a diferença de que o
ingrediente pode ser transgênico.
                                         centro de um debate que
Biotecnologia é um termo que tam-        envolve questões éticas,
bém nos remete à polêmica. Am-           legais e religiosas
bientalistas e agricultores debatem
o plantio de alimentos transgênicos,
entre eles a soja. Correntes religio-
sas, em nome do direito da vida do
embrião, se opõem a pesquisadores
que defendem o uso de células-tron-
co em tratamentos de doenças. O de-
bate envolve questões éticas e legais.
Há mais perguntas que respostas.
O importante é ter os argumentos
afiados, tarefa que este fascículo o
ajudará a levar a cabo.


  NESTA EDIÇÃO                                             Representação
  Em que pé está a Lei                                     do DNA
  da Biossegurança PÁG. 3
  Cinco dicas para você
  estudar melhor PÁG. 8                                                       Física
                                                                            Biologia
                                                                            Química
ENTENDA O ASSUNTO


    Biotecnologia, entre
    o milagre e o pecado
    A ciência abre novas perspectivas para o tratamento de doenças, mas
    seu avanço provoca polêmicas e debates sobre a própria noção de vida
         POR FÁBIO L. OLIVEIRA
                                                                                               CÉLULAS PLURIPOTENTES
                                                                                                (Células de blastocisto de 5-14 dias)




          UM BIÓLOGO, DUAS SURPRESAS
           O biólogo James Watson
          surpreendeu o mundo duas                              ÓVULO FERTILIZADO              EMBRIÃO DE 8 DIAS
          vezes. A primeira foi em                                                                                                      BLASTOCISTO
          1953, quando, com Fran-
          cis Crick, físico britânico,
          anunciou o modelo de dupla
          hélice para o DNA, propondo
          como se daria sua replica-                                                                             PLURIPOTENTES
          ção. A segunda foi em outu-




                                                                                                                                                              ilustração: AKE ASTBURY
          bro passado, ao declarar seu
                                                                         NEURÔNIO
          “pessimismo em relação ao                                                                                                       CÉLULAS DO SANGUE
          futuro da África pelo fato de
          os negros terem menos inte-
          ligência que os ocidentais”.                                                                                    MÚSCULO
          Watson se desculpou publi-


                                                                H
          camente, mas foi suspenso                                     oje em dia podemos tomar vinhos de ótima qualidade, de várias partes
          do Laboratório Cold Spring                                    do mundo e a preços acessíveis. Foi longo o caminho para chegar a esse
          Harbor, onde trabalhou por                                    estágio. Começou a ser percorrido há 5 mil anos no Egito, onde encontra-
          40 anos. Acabou por se apo-                           mos os registros mais antigos do processo de vinificação. Naquela época, o uso
          sentar. A declaração mancha                           de fermentos já não era novidade – afinal, a produção do pão na Mesopotâmia
          a biografia do cientista,                             remonta há 12 mil anos.
          mas não tira o valor de sua                             Os antigos não tinham um nome para o processo, mas, ao produzir o pão e o
          descoberta, que lhe valeu o                           vinho, estavam usando a biotecnologia. O termo se refere à utilização de seres
          Prêmio Nobel de Medicina                              vivos para a obtenção de serviços ou produtos. É o que a biotecnologia moderna
                                                                ainda faz, agora com a ajuda da informação genética, que multiplicou sua utili-
          em 1962.                                              dade. Atualmente, por exemplo, a biotecnologia está na base da realização de
                                                                testes de paternidade ou do desenvolvimento de medicamentos.
                                                                  O passo mais importante, que abriu as portas para a biotecnologia moderna,
                                                                foi dado em 7 de março de 1953 por Francis Crick e James Watson. Trabalhando
                                                                no laboratório Cavendish, na Inglaterra, eles foram os primeiros a apresentar
                                                                um modelo da molécula de DNA, com o formato de dupla hélice (parecida com
                                                                uma escada em espiral). Essa descoberta causou uma revolução na biotecnolo-
                                          James                 gia, possibilitando pesquisas com transgênicos, clonagem, genomas e células-
                                          Watson                tronco. Tais avanços defrontaram o homem e a sociedade com dilemas e confli-
                                                                tos éticos, religiosos e legais, ainda passíveis de discussão e solução.
                                                                  Em 1970, a descoberta das enzimas de restrição (que cortam o DNA em
                                                                pontos específicos) tornou possível transferir trechos de DNA de uma espécie
© (AP)




                                                                para outra e, portanto, o desenvolvimento de organismos transgênicos. O pri-

2 I       r e v i s ta é p o c a   I   1 1 d e j u n h o d e 2 0 |0 7R E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X I
                                                             2
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Atualidades 2008 completo para vestibular

  • 1. CONCEITOS DE ENVOLVE TEMA ESTE Foto: KLEIDE TEIXEIRA/ EDITORA GLOBO
  • 2. Guia ÉPOCA Em cima da base deixada por Getúlio Vargas, a política para o setor começa com Juscelino e tem continuidade sob os militares POR OSCAR PILAGALLO O crescimento do Brasil se dá em espasmos. Após alguns anos de estagnação, segue-se um surto de expansão com intensidade e TRANSPORTE RODOVIÁRIO duração variáveis. Até certo ponto, trata-se de um padrão típico do capitalismo, em que o mercado, e não o planejamento das antigas socieda- > Estima-se que três quartos des comunistas, é responsável pela dinâmica da economia. No caso brasi- das rodovias do país estejam leiro, porém, essa natureza incerta é potencializada pela dependência de em estado regular, ruim ou pés- fatores que escapam ao controle do governo, como a disponibilidade simo. As estradas brasileiras de recursos externos. são responsáveis por 60% do Hoje, com a abundância de dólares no mundo, sobretudo antes da tur- transporte de cargas no país. bulência dos mercados, o país está em meio a um desses soluços. Depois de um período de alta medíocre do Produto Interno Bruto (PIB), é provável que até dezembro a média de crescimento dos últimos quatro anos fique acima dos 4%. É um resultado que está aquém da necessidade e do poten- cial do Brasil, mas que não é desprezível, chegando até a causar efeitos negativos, como a formação de gargalos de infra-estrutura. REPÚBLICA VELHA A crise aeroportuária é um trágico lembrete de que as condições para o país continuar crescendo estão muito próximas do limite. Congonhas, > Período que vai da Proclama- o aeroporto da cidade de São Paulo, é apenas a ponta do iceberg. ção da República, em 1889, à Abaixo do nível da água estão a oferta inadequada de energia, o precário Revolução de 1930. Foi caracte- transporte rodoviário, a malha ferroviária insuficiente, a já saturada rizado pelo domínio da oligar- capacidade dos portos, enfim, para onde quer que se olhe há uma carência quia agrícola. Revezavam-se no a ser resolvida. poder central representantes O anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro dos Estados onde essa burgue- deste ano, é um reconhecimento por parte do governo sia tinha mais expressão, São da necessidade de desobstrução desses e de outros gar- Paulo e Minas Gerais. galos. O PAC prevê investimentos de mais de meio tri- O PAC é um lhão de reais ao longo do segundo mandato do presiden- reconhecimento te Lula, embora, a julgar pela morosidade dos primeiros da necessidade passos, dificilmente chegue lá. de desobstruir O programa divide as opiniões. Os críticos falam em gargalos volta da interferência do Estado, os simpatizantes vêem da infra- aí um desenvolvimentismo “light”. O fato é que um país estrutura periférico como o Brasil, que vive a reboque dos grandes centros de poder e riqueza do mundo, dificilmente teria condição de dispensar a presença do Estado em sua expansão, seja como investidor, seja como regulador da atividade econômica. DIVULGAÇÃO Essa é, em resumo, a história da industrialização brasileira, uma história que começa meio por acaso com a Revolução de 30. Por acaso, sim, pois Deodoro, o primeiro presidente o movimento que pôs fim à República Velha não tinha um plano para 2 I r e v i s ta é p o c a I 11 de junho de 2007 R E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O I 2 |
  • 3. industrializar o Getúlio Brasil. Apenas rea- (ao centro), giu à Depressão de responsável 1929, que atingiu pela primeira siderúrgica em cheio o consu- mo de café, motor da economia bra- sileira. O primeiro O PAPEL DAS apoio consistente PRIVATIZAÇÕES à indústria viria só com o Estado Após os ciclos de expansão Novo, entre 1937 e da indústria por indução estatal, o 1945, período mar- Brasil, em sintonia com a onda cado pela aliança liberal liderada pela Grã-Bretanha de entre a burocracia civil e militar e a nascente burguesia industrial. Margaret Thatcher (1979-1990) e os Até o início da Segunda Guerra Mundial, a indústria Estados Unidos de Ronald Reagan nacional só engatinhava. O conflito militar proporcionou (1981-1989), deu início em 1990 a um Até o início a primeira oportunidade para o setor ficar em pé. Ela programa de desestatização. Entre da Segunda foi decorrente da atitude do ditador Getúlio Vargas, que as primeiras privatizações, ainda no Guerra Mundial, condicionou o apoio do Brasil aos Aliados ao financia- governo de Fernando Collor (1990- a indústria mento pelos Estados Unidos da Companhia Siderúrgica 1992), estavam siderúrgicas, o que, até nacional Nacional, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. A cria- no nível simbólico, fechou um ciclo. apenas ção do BNDES, banco de fomento à indústria, e a da O programa ganharia impulso engatinhava Petrobras, no segundo governo Vargas, seriam passos na nos dois mandatos de Fernando mesma direção. Henrique Cardoso (1995-2002), Embora Vargas tenha lançado as bases, o grande salto quando as vendas geraram da indústria só seria dado por seu herdeiro político, Juscelino Kubitschek. US$ 93 bilhões, dos quais 5% em Ao tomar posse, JK anunciou o Plano de Metas, cujo objetivo era crescer “moedas podres” (títulos de dívida “50 anos em 5”. Por trás do slogan havia uma iniciativa consistente de do governo aceitos como parte do planejamento – a primeira do gênero no Brasil. O plano consistia em apro- pagamento). No período anterior fundar o processo de substituição de importações. Os setores de energia e (Collor e Itamar Franco), a receita transporte, que consumiram quase três quartos dos investimentos previs- fora de quase US$ 12 bilhões tos, foram privilegiados. (80% em “moeda podre”). A meta mais visível foi a criação da indústria automobilística. Até então, Em A Arte da Política, seu livro de circulavam no país apenas carros importados, o que acentuava o desequi- memórias, FHC defende o progra- líbrio das contas externas. JK trouxe empresas estrangeiras, inaugurando ma como uma “inovação na busca o modelo nacional-desenvolvimentista (em oposição ao nacio- do interesse público”. O ex-presi- nalista, avesso ao capital de fora). Ao fim de seu mandato, o dente cita a criação das agências presidente chegou próximo da marca dos 100 mil veículos reguladoras, que têm o objetivo fabricados que anunciara no início. de imunizar áreas importantes de O Plano de Metas exigiu um grande esforço de coordena- ingerências políticas, como um AGÊNCIA O GLOBO ção entre áreas distintas. Para evitar gargalos, era preciso complemento das privatizações. que não faltassem aço e borracha nas montadoras, nem Para tanto, seus integrantes não material de construção civil para as estradas – e podem ser demitidos, como na para Brasília, a cereja do bolo de JK, que custou tradição anglo-saxã que serviu de o equivalente a pouco mais de 2% do PIB. Uma molde para as agências. expansão de tal magnitude teve um preço ele- O papel lamentável que a Agência vado: a conta foi apresentada na forma de Nacional de Aviação Civil (Anac) desempenhou no caos aeroportuário, porém, mostra que esses órgãos Geisel, que investiu ainda precisam ser aperfeiçoados. na indústria de base
  • 4. Guia ÉPOCA inflação, que dobrou CEDOC Guerra do Yom Kippur, para 40% ao ano que elevaria os preços durante o mandato. do petróleo em 1973 Depois de patinar com os dois suces- sores civis de JK (Jânio Quadros e João Goulart), a indústria teria um novo espas- mo de crescimento CHOQUE DO PETRÓLEO sob a ditadura militar. > Nos anos 70, a Opep impôs No primeiro momen- dois choques do petróleo. O to, houve o que ficou segundo foi em 1979, quando conhecido como o preço do barril dobrou. A alta “milagre brasileiro”. provocou a mais grave recessão Entre 1968 e 1973, o mundial desde 1929. No Brasil, Brasil teve um cresci- a inflação disparou e houve de- mento “chinês”: a expansão anual foi superior a 10%. A receita mostrou-se terioração das contas externas. eficiente, mas nada tinha de original: tratava-se apenas de captar os dóla- res que estavam sobrando no mercado internacional. O milagre acabou com o choque do petróleo. Em 1973, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) triplicou o preço do barril em represália aos governos ocidentais que haviam apoiado Israel contra os ára- bes na guerra do Yom Kippur. Seria o momento de o Brasil desacelerar, como fez a maioria. Mas os militares decidiram continuar apostando no crescimento. Assim, em 1974, Ernesto Geisel lançou o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento. Se o plano de JK visava à indústria de consumo, o de Geisel visava à indústria de base (fertilizantes, produtos petroquímicos) e à geração de energia. Mais uma vez, o país passaria por um ciclo de subs- tituição de importações, desta vez de maior enverga- dura. Entre 1974 e 1978, o Brasil cresceria a um ritmo médio anual de 7%. Até os críticos de Geisel não Os militares deixam de reconhecer a importância do investimento lançaram um em infra-estrutura. O problema foi o elevadíssimo plano de custo da tentativa de tornar o país auto-suficiente desenvolvimento em áreas estratégicas. O descontrole da inflação e o num momento crescimento exponencial da dívida externa – heran- em que o ças do regime militar – só seriam equacionados duas MARCO SERRA LIMA mundo, décadas mais tarde. depois do Diante dos planos de JK e dos militares, o PAC primeiro é um programa modesto, mesmo que venha a ser Plataforma choque do cumprido à risca, o que é improvável. Uma diferença de petróleo petróleo, objetiva é a limitação de seu financiamento. Hoje em no Brasil caminhava dia, o consenso em torno dos valores da estabiliza- para a recessão ção da moeda não mais permite pagar o crescimento econômica presente com a inflação futura. OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de A História do Brasil no Século 20 (em cinco volumes, pela Publifolha) 4 I r e v i s ta é p o c a I 11 de junho de 2007
  • 5. Leia o texto: Sobre as PPPs é correto afirmar: são de responsabilidade exclusiva Depois da necessária e proveitosa discus- A) são uma alternativa que o governo do governo. são no Congresso Nacional, foi sancionada encontrou para atrair investimentos D) o atual governo nega-se a imple- a Lei no 11.079, que institui normas para a privados para as obras de infra-estrutura mentar as PPPs, pois faltam meios contratação das Parcerias Público-Privadas necessárias ao país. para fiscalizar a correta aplicação dos no Brasil. Os obstáculos a vencer com as B) são um meio de atrair investimentos recursos, o que implicaria muita cor- PPPs são muitos e complexos. Para que para obras públicas; elas gozam do mais rupção nas obras públicas. se obtenha aceitação e confiança públicas, absoluto apoio de todas as forças E) são um contrato entre o setor público é preciso, antes de mais nada, grande políticas do país. e o privado, no qual as empresas tornam- determinação e apoio governamental, C) os empresários não aceitam se donas de um serviço público, como além de plena transparência nas ações. as PPPs, pois entendem que os uma estrada, em troca da tarifa cobrada Fonte: CNI in:www.cni.org.br/empauta/src/INFRA-ESTRUTURA.pdf investimentos em infra-estrutura dos usuários. QUESTÕES RESPONDIDAS Concreto e bossa nova 1ª questão ponsável pelo fornecimento de gás natural a importantes atividades industriais. 2.593 km em território brasileiro. Parte de Santa Cruz de La Sierra, na A ampliação e diversificação da matriz ener- D) a construção do gasoduto pode Bolívia, e termina em Porto Alegre, gética brasileira é uma necessidade frente representar o esgotamento rápido do gás passando por Mato Grosso do Sul, às possibilidades de retomada do cres- natural boliviano, pois, além do Brasil, a São Paulo, Paraná, Santa Catarina e cimento econômico e industrial do país. O Bolívia abastece ainda a Argentina, que Rio Grande do Sul. Seu traçado corta mapa ilustra o gasoduto Bolívia–Brasil. não possui reservas deste recurso. uma área responsável por boa parte Sobre o gás natural e seu uso como E) após a construção do gasoduto, o gás do PIB brasileiro. fonte energética no Brasil, é correto natural passou a ser a fonte de afirmar que: energia mais consumida no país, A) o gás natural é um recurso mineral pelo baixo custo de sua obten- Ilustração: AKE ASTBURY renovável, encontrado em bacias sedi- ção e facilidade de distribuição. mentares e formado pela decomposi- UFSCar, 2005 (questão 25 da prova de Geografia) ção de matéria orgânica em ambientes COMENTÁRIO periglaciais. A presença do mapa constitui B) a substituição do petróleo e do carvão boa dica para o acerto da mineral e vegetal por gás natural, apesar alternativa, mas só ajudará os de reduzir custos, não é recomendável, que conhecem o valor do gás pois o gás é mais poluente que os demais. natural como fonte energéti- C) o gasoduto, que no Brasil passa ca. O gasoduto Brasil–Bolívia somente por Estados do Centro-Sul, é res- possui 3.150 km, dos quais GABARITO 1 (C)
  • 6. Guia ÉPOCA que as rodovias federais devem receber A) diferenças de bitolas entre as linhas 2ª questão neste ano R$ 1,2 bilhão. No ano que vem não devem receber muito mais que isso. férreas e traçados desiguais nas diferen- tes regiões do país. O setor ferroviário ultrapassou o rodo- (O Estado de S. Paulo, 12/10/2003) B) reduzida demanda para o transporte viário na corrida por investimentos. Um Apesar das perspectivas promissoras de cargas no setor e fracasso do modelo levantamento concluído nesta semana apontadas na reportagem, o setor ferro- de gestão privada. pela Agência Nacional de Transportes viário brasileiro, privatizado nos anos 90, C) inexistência de fábricas de material Terrestres (ANTT) mostra que as conces- tem apresentado modestos indicadores ferroviário e preferência das transporta- sionárias privadas de estradas de ferro de crescimento do transporte de cargas. doras pela navegação de cabotagem. já garantiram R$ 2,5 bilhões de recursos Entre os fatores que têm contri- D) custos mais baixos do transporte rodo- para 2003 e 2004. Do outro lado, dados buído para esse baixo desempenho, viário para grandes distâncias e reduzida do Ministério dos Transportes mostram podemos citar: conexão ferroviária entre interior e litoral. Uerj, 2004 (questão 14 da prova de Geografia) COMENTÁRIO Quanto ao enunciado, observe que começa com a locução prepositiva “ape- sar de”, que indica concessão em relação ao afirmado anteriormente. Sendo assim, o texto, em destaque, não altera o que o enunciado solicita. Quanto ao conteúdo, no Brasil, é comum o uso de duas bitolas diferentes, a métrica e a larga. Alguns traçados têm bitolas mistas, adaptadas para o uso das duas. Apesar dessa dificuldade, o transporte de carga por via férrea, princi- Estrada de Ferro Vitória palmente de produtos como o minério de a Minas, responsável por ferro, vem avançando no país. Quanto ao um terço do transporte da transporte de passageiros, restringe-se carga ferroviária no Brasil às regiões metropolitanas. 3ª questão bilaterais que, assinados pelo país, res- tringem o número de parceiros e itens que não destacam a palavra “incorreta”, uma armadilha aos desatentos. O desempenho atual da indústria comercializados. Nesta questão, veja que os acordos brasileira sofre interferência negativa de D) internamente, pelo baixo poder bilaterais ampliam – e não restrin- fatores de ordem interna ou externa. aquisitivo de grande parte do mercado gem – parceiros e itens comercializa- Considerando-se essa informação, consumidor, conseqüência da má dis- dos pelo país. Tais acordos obedecem é INCORRETO afirmar que, no Brasil, tribuição de renda no país. às normas da Organização Mundial do a indústria é afetada UFMG, 2006 (questão 40 da prova de Geografia) Comércio. Observe que a questão é A) internamente, pelo custo das tarifas datada. No início deste ano, com a modi- públicas e pela carga tributária, que COMENTÁRIO ficação na fórmula de calcular o PIB, o penalizam o setor produtivo brasileiro. Enunciados que pedem a indicação montante da carga tributária recuou. Da B) externamente, pelas oscilações no da informação incorreta exigem cuidado mesma forma, o consumo das classes valor da moeda do país, que interferem extra, uma vez que devem ser interpre- menos favorecidas vem crescendo nos na competitividade do produto nacional. tados no sentido inverso ao normalmen- últimos dois anos, o que poderia levar a C) externamente, pelos acordos te solicitado. E atenção: há instituições um questionamento da alternativa D. GABARITO 2 (A) 3 (C) 6 I r e v i s ta é p o c a I 11 de junho de 2007
  • 7. 4ª questão A CIDADE EM PROGRESSO O poema ao lado faz referência ao “A cidade mudou. Partiu para o futuro desenvolvimento urbano, muito pre- Entre semoventes abstratos sente na década de 1950 no Brasil. Transpondo da manhã o imarcescível muro Sobre esse período, é CORRETO Da manhã na asa dos DC-4s afirmar que: Comeu colinas, comeu templos, comeu mar 01. no final da década de 1950, o Fez-se empreiteira de pombais Brasil teve como presidente Juscelino De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar Kubitschek (JK), conhecido por Pombas paraestatais. [...] seu slogan de governo “50 anos em 5”. E com uma indagação quem sabe prematura Fez erigir do chão 02. durante o governo de JK, o país Os ritmos da superestrutura De Lúcio, Niemeyer e Leão. [...] teve grande crescimento da indústria MORAES, Vinicius de. Nova Antologia Poética. São Paulo: Cia. de Bolso, 2005, p. 237. de bens de consumo duráveis, a maioria pertencente a empresas multinacionais. As propagandas Indique a soma das de automóveis e aparelhos respostas corretas: ______ eletrodomésticos da época revelam UFSC, 2007 (questão 17 da prova de História) essa tendência. COMENTÁRIO 04. esse período é conhecido pelo Sobre o enunciado, repare que o decréscimo da dívida externa poema, embora guarde relação com brasileira, que pôde ser paga o contexto solicitado, só ilustra a gradativamente graças ao aumento questão. Ou seja, o entendimento das exportações. do poema é irrelevante para você dar a resposta certa. Fique esperto: 08. a construção de Brasília foi nem sempre a presença de poemas, idealizada por Getúlio Vargas e trechos de reportagens e gráficos concluída por JK. O objetivo era guardam relação determinante com desenvolver o litoral brasileiro, o que será solicitado. E atenção construindo a capital do país na região. redobrada para não errar a soma e morrer na praia. 16. o desenvolvimento industrial Sobre o conteúdo: o governo JK atingiu, principalmente, o Nordeste (1956-1961) possibilitou a entra- Vinicius, brasileiro. Isso provocou grande afluxo da das multinacionais de bens poeta que migratório do Sul e Sudeste para de consumo duráveis, tendo à aderiu à a região, provocando o inchaço de frente a indústria automobilís- bossa nova cidades como Salvador e João Pessoa. tica. No período, o Brasil viveu grande efervescência cultural, 32. também como reflexo da com o surgimento da bossa industrialização, pôde-se observar nova – representada por um grande crescimento na população João Gilberto, Tom rural brasileira. Jobim e Vinicius de Moraes, entre 64. no plano cultural, o período do outros – e grande governo JK presenciou a difusão do atividade no cinema, cinema brasileiro e da bossa nova, no teatro, na AGÊNCIA O GLOBO na qual Vinicius de Moraes teve literatura e na presença marcante. arquitetura. GABARITO 4 (67=1+2+64) 11 de junho de 2007 I r e v i s ta é p o c a I 7
  • 8. Guia ÉPOCA Como aproveitar este guia O Guia ÉPOCA Vestibular 2008 – Atualidades circulará encartado em sua revista em dez fascículos. Além dos temas abordados (veja o calendário abaixo), haverá outro assunto a ser escolhido pelos leitores e que será tratado num 11o fascículo disponível apenas no site da Antes de revista. Para votar num dos assuntos propostos, basta acessar www.epoca.com.br começar e clicar na seção “especiais”. a responder às perguntas, leia E fique O guia ajudará o candidato a melhorar seu desempenho na prova de todas as questões atento: atualidades. O tema de cada fascículo será exposto num texto didático. Para para sentir a é comum dimensão da aparecer algum avaliar o grau de conhecimento dos estudantes, os professores vão propor prova e o grau dado que pode de dificuldade ser utilizado em uma questão inédita e comentarão outras quatro formuladas para exames em dos enunciados. outras questões. universidades espalhadas pelo Brasil. O comentário será dividido em duas partes. Na primeira, foca-se o enun- ciado, com destaque para as diversas maneiras de formular uma questão. Na Ilustração: AKE ASTBURY segunda, analisa-se o conteúdo. O ideal é o candidato responder à questão antes de ler o comentário. O gabarito encontra-se no pé da página em que está a questão. As quatro questões são transcritas sem modificações, para que você possa treinar em casa a partir de uma situação real. Calendário DIRETOR EXECUTIVO Juan Ocerin DIRETOR EDITORIAL Paulo Nogueira DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Gilberto Corazza DIRETOR DE FINANÇAS Frederic Zoghaib Kachar DIRETOR DE ASSINATURAS Stavros Frangoulidis Neto FASCÍCULO TEMA 1 Infra-Estrutura no Brasil DIRETOR DE REDAÇÃO Helio Gurovitz epocadir@edglobo.com.br REDATOR-CHEFE David Cohen 2 Democracia Brasileira DIRETOR DE CRIAÇÃO Saulo Ribas EDITORES-EXECUTIVOS André Fontenelle, David Friedlander DIRETOR DE ARTE Marcos Marques 3 A Explosão Urbana no Mundo 4 Os Desafios da Geração de Energia 5 O Meio Ambiente no Século XXI O Guia ÉPOCA Vestibular 2008 – Atualidades é um projeto 6 A Ameaça do Aquecimento Global editorial de 11 fascículos desenvolvido pelo UNO Sistema de Ensino da Editora Moderna para a Editora Globo. © 2007 Editora Moderna e Editora Globo. Todos os direitos reservados. 7 O Terrorismo e o Ataque aos Direitos do Cidadão Nenhuma parte desta coleção pode ser reproduzida sem autorização prévia da Editora Moderna e da Editora Globo. COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Ana Luisa Astiz 8 China – Crescimento e Repressão COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Carlos Piatto (UNO) COORDENAÇÃO DE TEXTOS Antonio Carlos da Silva e Venerando Santiago de Oliveira COMENTÁRIOS AOS ENUNCIADOS Jô Fortarel 9 Conflitos no Oriente Médio EDIÇÃO DE TEXTO Oscar Pilagallo EDIÇÃO DE ARTE Leonardo Nery Protti ILUSTRAÇÕES AKE Astbury 10 América do Sul – Geopolítica e Energia REVISÃO Bel Ribeiro SUPERVISORA DE INTERNET Adriana Isidio (UNO) > E NÃO SE ESQUEÇA: vote no site o tema do 11o fascículo 8 I r e v i s ta é p o c a I 11 de junho de 2007
  • 9. A Populares ou América do Sul, que era conhecida por ter governos de direita, assistiu nos últi- populistas, eis mos anos à ascensão da esquer- da. Partidos identificados com o socialismo de diferentes matizes a questão estão no poder. Para alguns, são governos populares; para outros, neopopulistas. A guinada nem sempre significou rompimento com o liberalismo, como no Brasil e no Chile. Os EUA se mostram A esquerda chegou ao poder na América mais preocupados com Hugo do Sul, mas essa uniformidade ainda Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equa- não se traduziu na conclusão de projetos dor), que lideram governos hostis energéticos comuns © DIDA SAMPAIO/AE à superpotência. Um fato comum a esses países é ter gás natural ou petróleo. São as grandes reservas da Venezuela que permitem a Chávez uma política externa mais ousada. A ação conjunta de paí- ses da região, no entanto, ainda esbarra em obstáculos, como se verá neste fascículo. NESTA EDIÇÃO Chávez, trajetória entre golpes PÁG. 3 Conheça a gênese do Mercosul PÁG. 4 Veja o tema vencedor do 11o fascículo PÁG. 8 Lula, ladeado por Hugo Chávez, da Venezuela (à esq.), > História e Evo Morales, da Bolívia > Geografia
  • 10. ENTENDA O ASSUNTO Conservadora e oligárquica, a América do Sul Com petróleo e gás, a região volve à esquerda poderia ter pesomas projetos maior nas negociações com as potências consumidoras, regionais enfrentam obstáculos POR EDILSON ADÃO A ONDA VERMELHA SUL-AMERICANA Eleições em abril de 2008 Governos de esquerda Governo de direita T radicionalmente governada por regimes associados à ide- ologia de direita, a América do Sul assistiu nos últimos anos à ascensão da esquerda. Após a onda neoliberal dos anos 1990, partidos identificados com o socialismo de diferentes matizes alcançaram o poder. Para alguns, são governos popula- res; para outros, neopopulistas. Em muitos casos, a referida ascensão não significou rompimento absoluto com práticas liberais, como demonstram os casos chileno e brasileiro. Assim, tanto ao estudante como ao professor, faz-se necessário um filtro ideológico para uma avaliação ponderada do quadro político sul-americano e de sua conjuntura geopolítica. Excetuando-se o claro exemplo da Colômbia, de Álvaro Uribe, a grande maioria dos países sul-americanos encontra-se, hoje, governada por partidos e/ou políticos com origem na esquerda. Aguardemos a definição no Paraguai (por enquanto, o líder das pesquisas para as eleições de 2008 é o ex-bispo Fernando Lugo, Ilustração: Takashi/Adaptação: AKE Astbury candidato de esquerda). O atraso social e econômico da América Latina (onde se insere a América do Sul) é um produto histórico e, independentemente do viés ideológico dos atuais e próximos governantes, é difícil que o quadro se reverta no curto prazo. A reparação da desigualdade construída em bases tão sólidas e incrustada há séculos na região não será tarefa fácil para liberais ou socialistas. Já a geopolítica regional é redesenhada, circunstancialmente, de acordo com 2 I r e v i s ta é p o c a I 1 1 d e j u n h o d e2 2 0 0 7 E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X | R
  • 11. Michelle Bachelet, presidente do Chile UMA LIDERANÇA, DOIS GOLPES > Duas frustradas tentativas © AP de golpe de Estado mar- o tom partidário daqueles que chegam ao poder. Como líder das Américas, cam a trajetória política de os Estados Unidos vêem com muita reticência os passos de Hugo Chávez Hugo Chávez, presidente da (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), que lideram Venezuela. A primeira, que regimes hostis à superpotência. Um fato comum a esses países é terem gás ele protagonizou, data de natural ou petróleo. Outros líderes preocupam menos. É o caso de Lula, de fevereiro de 1992. Na épo- Michelle Bachelet (Chile) e de Tabaré Vásquez (Uruguai), assim como Néstor ca, o então tenente-coronel Kirchner (Argentina), no início do mandato. Chávez tentou derrubar o A América do Sul tem papel importante na estratégica questão da presidente Carlos Andrés energia no século XXI, particularmente a Venezuela. O país possui reservas Pérez, identificado com um petrolíferas no Orenoco, uma das maiores do mundo. Essas reservas programa econômico liberal. poderão colocar o país no primeiro lugar mundial, se confirmada a Preso, foi anistiado dois anos certificação internacional em 316 bilhões de barris (atualmente, as reservas mais tarde. Com projeção são de 77 bilhões de barris, a sexta maior concentração do mundo). As nacional, venceu a eleição de reservas da Arábia Saudita, hoje as maiores do mundo, são de 218 bilhões 1998 e, em abril de 2002, seria de barris. Quanto ao petróleo extrapesado, de menor vítima de um golpe de direita, qualidade, a Venezuela detém a maior reserva mundial. que o afastou do cargo por A Venezuela A política externa de Chávez põe seu prumo nessa apenas algumas horas. possui enormes realidade. Estreitando os laços com Irã, Rússia e China, reservas de suas ações são mais que uma simples provocação petróleo, o que aos Estados Unidos. Há interesses econômicos e determina geopolíticos. Por sua vez, a China já está em busca das sua política principais zonas petrolíferas do mundo; o Sudão é um externa exemplo. A Venezuela seria muito bem-vinda ao papel de fornecedor ao dragão asiático. No âmbito regional, Hugo Chávez lançou, em 2004, uma ousada proposta: a criação da Petrosur, uma empresa multinacional sul-americana do setor petrolífero, idéia que foi aceita de pronto pelo Brasil. A intenção é aproveitar as estruturas da Petrobras e da PDVSA. Com a Bolívia, Chávez fundou a Petroandina, empresa binacional, 60% boliviana e 40% venezuelana. Outro grande projeto energético de porte é o Grande Gasoduto do Sul (GGS), iniciativa venezuelana, brasileira e argentina, cujo projeto original prevê um gasoduto de 8.000 quilômetros. O primeiro trecho ligaria Güiria, na Venezuela, ao Recife. Nas fases seguintes, incorporaria Argentina, Bolívia, 3 | R EV ISTA É PO C A | FA SCÍC U L O X
  • 12. Uruguai, Paraguai, além de outros O MERCOSUL E A países que desejassem. INTEGRAÇÃO REGIONAL Para alguns, tais empreendimentos Por André Guibur energéticos fazem parte de um plano expansionista de Chávez. Para outros, As bases políticas para a criação do Mercado Comum do Sul surgiram em representam uma possibilidade de 1985, com os acordos de cooperação independência plena da porção austral técnica e econômica firmados entre da América. Esses projetos, no entanto, a Argentina e o Brasil. Em 1991, com sofrem críticas sobre a viabilidade a inclusão do Paraguai e do Uruguai, econômica, técnica e ambiental (o foi assinado o Tratado de Assunção, ramal do gás atravessará a Floresta que criou o Mercosul. Porém, foi o Amazônica). Protocolo de Ouro Preto, de 1995, que definiu sua estrutura institucional A consolidação da Petrosur e do GGS © ANDREW ALVAREZ/AFP e permitiu a celebração de acordos seria interessante ao menos em duas reconhecidos internacionalmente. Fidel vertentes. Megaempresas regionais Entre 1996 e 2004, outros países Castro, a quem teriam robustez para negociar em sul-americanos ingressaram no bloco Chávez se aliou melhores condições com as potências como países associados, inicialmen- consumidoras de gás e petróleo e, de te Bolívia e Chile, e, mais recente- certa forma, garantiriam o abastecimento sul-americano mente, Peru, Colômbia e Equador. A Venezuela assinou um protocolo de (ainda mais se considerarmos o esgotamento das A eleição de reservas mundiais e a decorrente escassez a que, adesão plena com o Mercosul, que um político de ainda não foi ratificado. com certeza, assistiremos nos anos vindouros; Desde sua criação, o Mercosul pro- esquerda no problemas de abastecimento energético na região porcionou a ampliação das relações Paraguai pode estão previstos para 2010). comerciais entre os países da região, causar um Após a empolgação nos últimos três anos, no entanto, apesar da instabilidade nas relações problema para neste ano a alternativa do gasoduto ficou mais distante entre seus membros, sobretudo Brasil o Brasil e Argentina, e das condições nem sem- e o ânimo brasileiro com os projetos de integração pre favoráveis da economia mundial. energética diminuiu sensivelmente. Hugo Chávez No âmbito institucional e econô- acusou o golpe e passou a fazer cobranças. O arrefecimento brasileiro mico, as maiores dificuldades estão está diretamente ligado à nova preferência energética do presidente Lula: na adoção de medidas protecionistas o biocombustível. Chávez juntou-se a Fidel Castro e ambos criticaram a entre os membros, como sobretaxas alternativa brasileira, vinculando a questão do biocombustível a uma imediata e cotas, a fim de atender a interesses falta de alimentos, alegando que a cana-de-açúcar substituiria os cultivos de de determinados setores das econo- mias nacionais, criando obstáculos alimentos básicos. para a livre circulação de mercadorias. Outra possível celeuma energética (dessa feita, na fonte hidráulica) está Além disso, a Tarifa Externa Comum prevista em caso de vitória de Fernando Lugo no Paraguai, em abril de 2008. (TEC), que deveria padronizar as tari- Sua chegada ao poder, por si só, já seria algo extraordinário, pois poria fim fas de importações de fora do bloco, à hegemonia de seis décadas do Partido Colorado, o mais antigo partido no ainda não foi efetivada. Tais desa- poder do mundo. Igualmente, seria justes comprometem a integração © NORBERTO DUARTE/AFP motivo de preocupação ao governo proposta em Assunção. André Guibur é professor de Geografia da brasileiro, pois uma das plataformas rede privada e em cursos pré-vestibulares eleitorais do candidato é a revisão dos acordos da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, que ele considera Fernando Lugo, candidato à danosos aos paraguaios. ◆ Presidência do Paraguai EDILSON ADÃO, mestre em Geografia Humana pela USP e especialista em geopolítica, é autor de Oriente Médio: a Gênese das Fronteiras (Editora Zouk) 4 I r e v i s ta é p o c a I 1 1 d e j u n h o d e4 2 0 0 R E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X | 7
  • 13. Qual o sentido da ascensão da esquerda na América do Sul? Avalie o que de fato mudou após partidos de esquerda terem sido eleitos; a resposta e o comentário estarão no fascículo eletrônico da próxima semana Sobre o cenário geopolítico sul- entre Lula e Chávez promoveram esquerda terem chegado ao poder americano, podemos afirmar que: uma retomada da corrida armamen- na América do Sul, o sistema de A) a ascensão de regimes de esquerda tista sul-americana. economia de mercado foi mantido levou vários países da região a adotar C) o ingresso da Venezuela no em todos eles. o sistema de economia planificada, Mercosul foi vetado por conta da ins- E) o Paraguai saiu do Mercosul devi- como o Brasil e o Chile. piração marxista de Hugo Chávez. do a uma aproximação estratégica B) os recentes desentendimentos D) apesar de muitos partidos de com os Estados Unidos. RESPOSTA DA QUESTÃO INÉDITA DO FASCÍCULO IX Razão geopolítica explica a ocupação das colinas de Golã A Um dos motivos para a ocupação Líbano das colinas de Golã (letra A no mapa) Síria foi o fato de essa região ser a mais importante área de nascentes da A Bacia do Jordão, o que a valoriza geopoliticamente, pois a região é Rio Jordão muito pobre em recursos hídricos. Mar Mediterrâneo Mar Medit B A Cisjordânia (letra B no mapa) é a mais importante área agrícola; a Faixa C de Gaza (letra C no mapa) pertencia Mar Morto originalmente ao Egito; a Península do Israel Sinai (letra D no mapa) foi devolvida em 1979 ao Egito; as colinas de Golã e Cisjordânia permanecem sob domínio israelense. Gabarito: alternativa A. (Um dos D Jordânia Egito Egito motivos que levaram à ocupação da região A, no território sírio, é o fato Golfo de Ácaba de tratar-se de importante área de Golfo de Suez Golfo de S manancial em uma região marcada Ilustração: AKE ASTBURy Arábia pela aridez.) Saudita Mar Vermelho Colinas de Golã. Perten 5 | R EV ISTA É PO C A | FA SCÍC U L O X importante área de ma Cisjordânia. Pertencia à zonafértil, gurda grand
  • 14. QUESTÕES RESPONDIDAS Petróleo e geopolítica Nas questões a seguir, veja o que já foi perguntado em vestibulares a respeito de temas energéticos e ideológicos sobre a América do Sul de fluxos e meios de transporte e energia. 1ª questão E) podem reforçar os conflitos existentes com os países da Comunidade Andina Observe o mapa ao lado. Note a linha (CAN), em face da perspectiva de cheia e a linha pontilhada, quase sempre expansão dos interesses brasileiros na paralelas. região. FGV, 2001 Em relação às obras de infra-estru- tura destacadas, assinale a alternativa COMENTÁRIO INCORRETA: Tanto a presença do mapa como a A) podem permitir a abertura de canal solicitação da alternativa incorreta (menos de escoamento de produtos da Zona comum nos exames) podem confundir o Franca de Manaus para outros mercados candidato. Mas a alternativa incorreta é tão e a consolidação da ligação Brasil– óbvia que deve compensar o susto. As obras Venezuela, via Manaus e Boa Vista. de infra-estrutura apontadas no mapa atuam B) podem contribuir para agilizar e muito mais num sentido de integração que intensificar fluxos econômicos, baratear circulação terrestre do subcontinente, de confrontação, como aponta a alternativa a exportação de produtos brasileiros e conforme proposta firmada recentemente incorreta. Os países da Comunidade Andina articular zonas da Amazônia setentrional, pelos chefes de Estado da América do Sul. até são vistos como potenciais candidatos a numa região fronteiriça. D) podem contribuir para consolidar a ingressarem no Mercosul, como já anunciou C) inscrevem-se no contexto de melhoria posição estratégica de Manaus, como o governo brasileiro. Portanto, o espírito de da infra-estrutura de integração física e sede da Zona Franca e nó de confluência conflitos é totalmente improcedente. 2ª questão oposição venezuelanos. B) pelo fato da Venezuela ser membro COMENTÁRIO A leitura atenta do enunciado auxilia da Opep e o terceiro maior exportador na escolha da alternativa correta, uma O presidente da Venezuela, Hugo mundial de petróleo e temer um vez que, ao final, refere-se à Opep e Chávez, voltou ontem a concentrar aumento da produção e conseqüente lembra ao candidato a relação entre os a atenção internacional ao tornar-se queda de preços do produto. países citados. Apesar de a alternativa o primeiro chefe de Estado a fazer C) pela necessidade de conseguir impor- correta apontar o fato de a Venezuela uma visita oficial ao Iraque desde o tar petróleo a preços subsidiados, alivian- fazer parte da Opep como o principal fim da Guerra do Golfo, em 1991. A do a pressão inflacionária na Venezuela. motivo da visita de Chávez ao Iraque, a viagem faz parte de seu tour pelos D) para tentar reduzir os preços inter- questão vai além. A visita a Saddam tam- países-membros da Opep (...) nacionais do petróleo, favorecendo as bém demonstrou um tom desafiador de “O Estado de São Paulo” – 11/8/2000 exportações venezuelanas do produto, Chávez à comunidade internacional, uma principalmente para os EUA. vez que o Iraque estava sob embargo da A visita do presidente venezuelano E) para se antepor ao isolamento da ONU desde 1991 e, até então, nenhum justifica-se: Venezuela junto à comunidade inter- chefe de Estado havia adotado tal pos- A) pela necessidade de obter apoio nacional, que questiona a lisura da tura. Na mesma viagem, Hugo Chávez interno, uma vez que sua eleição eleição de Chávez. visitou o dirigente líbio, Muammar é contestada por vários grupos de Mackenzie, 2001 Kadafi, e o cubano Fidel Castro. 6 I r e v i s ta é p o c a I 1 1 d e j u n h o d e6 2 0 0 7 E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X | R
  • 15. 3ª questão Golfo Pérsico, foi o principal motivo da invasão do Iraque pelo Kwait. didato. Argentina e Chile travaram intensa disputa pelo controle da rota Em relação às vias marinhas de D) Canal de Suez, no Egito, está com do Canal de Beagle, no extremo sul da circulação destacadas abaixo, assinale sua navegação impedida por determi- América, e essa é uma questão ainda a alternativa correta: nações israelenses. mal resolvida. Ligação entre os ocea- A) Ilhas Lennox, Picton e Nueva, situa- E) Estreito de Gibraltar é reivindica- nos Atlântico e Pacífico, o canal tem das no Canal de Beagle, extremo sul da do por Portugal junto à Inglaterra, importância estratégica. Também é América, foram objeto de disputa entre tendo em vista o controle da navega- importante saber: o Canal do Panamá Argentina e Chile. ção comercial entre o Atlântico e o foi devolvido em 1999 ao Panamá, e B) Canal do Panamá, na América Mediterrâneo. não aos Estados Unidos; o Estreito de Central, que une os oceanos Atlântico UFRS, 2000 Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico, e Pacífico, passará ao controle dos COMENTÁRIO é disputado pelo Irã e pela Arábia Estados Unidos em 2000. Enunciado curto, objetivo e direto, Saudita; e a intervenção israelense em C) Estreito de Ormuz, localizado no mas que não fornece dica para o can- Suez se deu nos anos 1950. 4ª questão nomes dos países envolvidos na questão Guiana Suriname O cenário geopolítico sul-ameri- representa mais um A Guiana Francesa cano anda turbulento. Assinale a complicador. Em 2006, B alternativa que indica corretamente uma proposta norte- Arquipélago alguma característica geopolítica americana de conceder D Fernando de Noronha sul-americana recente, o país e a vantagens comerciais respectiva indicação: e alfandegárias ao A) as Farc continuam realizando Paraguai em troca da Peru BRASIL seqüestros em nome de uma ban- utilização de seu território deira política = Venezuela. para uma suposta C B) o presidente Lúcio Gutierrez não instalação de base norte- E resistiu à crise política e renunciou americana causou mal- Chile = Colômbia. estar entre os Oceano C) a revolução bolivariana levada vizinhos, inclusive Oceano Atlântico adiante por Hugo Chávez tem con- com a possibilidade Pacífico Uruguai quistado simpatia junto à popula- de expulsão do país Argentina ção de mais baixa renda = Bolívia. do Mercosul. As mais D) o líder da oposição Evo Morales calorosas reações foram desponta como principal nome nas do representante das relações eleições de dezembro = Equador. exteriores do governo argentino, E) a concessão de seu território mas também se manifestou para uma suposta base militar o Ministério das Relações Ilhas Falkland (Malvinas) norte-americana foi malvista pelos Exteriores do Brasil. As regras vizinhos = Paraguai. do Mercosul proíbem que um ESPM, 2006 membro do bloco faça acordos alfandegários em separado com COMENTÁRIO outros países, daí a ameaça de Enunciado vago (“alguma expulsão. Igualmente, preocupou característica geopolítica”) sempre os governos argentino e brasileiro Ilustrações: AKE ASTBURy gera insegurança no candidato. a possibilidade dessa suposta base Para aqueles mal informados norte-americana, próxima às suas sobre cartografia, a ausência dos fronteiras. GABARITO: 1 (E), 2 (B), 3 (A), 4 (E) 11 de junho de 2007 I r e v i s ta é p o c a I
  • 16. Biotecnologia encerra série O próximo fascículo, que terá apenas versão eletrônica, focará a questão das células-tronco N o próximo fascículo do Guia ÉPOCA Vestibular 2008 - Atualidades, o tema abordado será biotecnologia e células-tronco. Esse foi o assunto mais votado na enquete realizada no site de ÉPOCA (www. epoca.com.br). Mais de 40% dos internautas escolheram esse tema, entre os quatro disponíveis. Os outros três foram: Globalização e Organizações Multilaterais, União Européia e Crime Organizado. Biotecnologia é um conceito associado à modernidade. Mas é tão antigo quanto a própria civilização. Existe há milênios, desde os primeiros tempos da fabricação de pão e vinho. A biotecnologia moderna começa com a descoberta e manipulação do TOME CUIDADO DNA. Seqüenciamento de DNA, manipulação de genes, transgenia, clona- com o uso indiscriminado das generalizações: “maioria” é gem, pesquisas com células-tronco e terapias decorrentes são assuntos a diferente de “todos”, do mesmo modo que “muitas vezes” é serem tratados no fascículo. As questões éticas envolvidas também serão diferente de “sempre”. O uso abordadas. O 11o fascículo, que terá a mesma estrutura dos outros dez, inadequado ou a interpretação Ilustração: AKE ASTBURy imprecisa desses termos podem com questões comentadas pelos professores, estará disponível apenas significar a resposta errada a uma questão. em versão eletrônica. DIRETOR GERAL Juan Ocerin DIRETOR EDITORIAL Paulo Nogueira DIRETOR DE MERCADO ANUNCIANTE Gilberto Corazza DIRETOR DE FINANÇAS Frederic Zoghaib Kachar DIRETOR DE ASSINATURAS Stavros Frangoulidis Neto DIRETORA DE MARKETING yara Grottera DIRETOR DE REDAÇÃO Helio Gurovitz epocadir@edglobo.com.br REDATOR-CHEFE David Cohen DIRETOR DE CRIAÇÃO Saulo Ribas EDITORES-EXECUTIVOS André Fontenelle, David Friedlander DIRETOR DE ARTE Marcos Marques O Guia ÉPOCA Vestibular 2008 - Atualidades é um projeto editorial de 11 fascículos desenvolvido pelo UNO Sistema de Ensino da Editora Moderna para a Editora Globo. © 2007 Editora Moderna e Editora Globo. Todos os direitos reserva- dos. Nenhuma parte desta coleção pode ser reproduzida sem autorização prévia da Editora Moderna e da Editora Globo. COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Ana Luisa Astiz COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Carlos Piatto (UNO) COORDENAÇÃO DE TEXTOS Antonio Carlos da Silva (Prof. Toni) e Venerando Santiago de Oliveira (Prof. Venê) COMENTÁRIOS AOS ENUNCIADOS E DICAS Jô Fortarel EDIÇÃO DE TEXTO Oscar Pilagallo EDIÇÃO DE ARTE Leonardo Nery Protti ILUSTRAÇÕES AKE Astbury REVISÃO Bel Ribeiro SUPERVISORA DE INTERNET Adriana Isidio (UNO) 8 I r e v i s ta é p o c a I 1 1 d e j u n h o d e82 0 0 7 E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X | R
  • 17. B Biotecnologia, iotecnologia é um termo que nos remete ao estado da arte da ciência da vida. Está promessas associado ao genoma, ao DNA, a clones, enfim, a um extenso leque de descobertas dos tempos modernos. e polêmicas Mas a biotecnolgia é tão antiga quan- to a própria civilização. O primeiro homem que, 12 mil anos atrás, numa remota Mesopotâmia, usou fermento para fazer o pão estava pondo em curso um processo biotecnológico. Culturas transgênicas e uso Hoje a biotecnologia continua a fazer de células-tronco estão no o pão, com a diferença de que o ingrediente pode ser transgênico. centro de um debate que Biotecnologia é um termo que tam- envolve questões éticas, bém nos remete à polêmica. Am- legais e religiosas bientalistas e agricultores debatem o plantio de alimentos transgênicos, entre eles a soja. Correntes religio- sas, em nome do direito da vida do embrião, se opõem a pesquisadores que defendem o uso de células-tron- co em tratamentos de doenças. O de- bate envolve questões éticas e legais. Há mais perguntas que respostas. O importante é ter os argumentos afiados, tarefa que este fascículo o ajudará a levar a cabo. NESTA EDIÇÃO Representação Em que pé está a Lei do DNA da Biossegurança PÁG. 3 Cinco dicas para você estudar melhor PÁG. 8 Física Biologia Química
  • 18. ENTENDA O ASSUNTO Biotecnologia, entre o milagre e o pecado A ciência abre novas perspectivas para o tratamento de doenças, mas seu avanço provoca polêmicas e debates sobre a própria noção de vida POR FÁBIO L. OLIVEIRA CÉLULAS PLURIPOTENTES (Células de blastocisto de 5-14 dias) UM BIÓLOGO, DUAS SURPRESAS O biólogo James Watson surpreendeu o mundo duas ÓVULO FERTILIZADO EMBRIÃO DE 8 DIAS vezes. A primeira foi em BLASTOCISTO 1953, quando, com Fran- cis Crick, físico britânico, anunciou o modelo de dupla hélice para o DNA, propondo como se daria sua replica- PLURIPOTENTES ção. A segunda foi em outu- ilustração: AKE ASTBURY bro passado, ao declarar seu NEURÔNIO “pessimismo em relação ao CÉLULAS DO SANGUE futuro da África pelo fato de os negros terem menos inte- ligência que os ocidentais”. MÚSCULO Watson se desculpou publi- H camente, mas foi suspenso oje em dia podemos tomar vinhos de ótima qualidade, de várias partes do Laboratório Cold Spring do mundo e a preços acessíveis. Foi longo o caminho para chegar a esse Harbor, onde trabalhou por estágio. Começou a ser percorrido há 5 mil anos no Egito, onde encontra- 40 anos. Acabou por se apo- mos os registros mais antigos do processo de vinificação. Naquela época, o uso sentar. A declaração mancha de fermentos já não era novidade – afinal, a produção do pão na Mesopotâmia a biografia do cientista, remonta há 12 mil anos. mas não tira o valor de sua Os antigos não tinham um nome para o processo, mas, ao produzir o pão e o descoberta, que lhe valeu o vinho, estavam usando a biotecnologia. O termo se refere à utilização de seres Prêmio Nobel de Medicina vivos para a obtenção de serviços ou produtos. É o que a biotecnologia moderna ainda faz, agora com a ajuda da informação genética, que multiplicou sua utili- em 1962. dade. Atualmente, por exemplo, a biotecnologia está na base da realização de testes de paternidade ou do desenvolvimento de medicamentos. O passo mais importante, que abriu as portas para a biotecnologia moderna, foi dado em 7 de março de 1953 por Francis Crick e James Watson. Trabalhando no laboratório Cavendish, na Inglaterra, eles foram os primeiros a apresentar um modelo da molécula de DNA, com o formato de dupla hélice (parecida com uma escada em espiral). Essa descoberta causou uma revolução na biotecnolo- James gia, possibilitando pesquisas com transgênicos, clonagem, genomas e células- Watson tronco. Tais avanços defrontaram o homem e a sociedade com dilemas e confli- tos éticos, religiosos e legais, ainda passíveis de discussão e solução. Em 1970, a descoberta das enzimas de restrição (que cortam o DNA em pontos específicos) tornou possível transferir trechos de DNA de uma espécie © (AP) para outra e, portanto, o desenvolvimento de organismos transgênicos. O pri- 2 I r e v i s ta é p o c a I 1 1 d e j u n h o d e 2 0 |0 7R E V I S T A É P O C A | F A S C Í C U L O X I 2