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ediÇÃO especial




                              PORTUGAL




EnergIA      O granDE dilema
             dO nOSSo futuro


         A hora
DESAFIOS E
 soluÇÕEs

        de mudar
ILUMINAr
      O CAMINHO


D
      a minha infância no estado do oregon (EUA), conservo vivas duas               Eis o futuro da luz.
                                                                                    Alimentada apenas por
      imagens: as montanhas cobertas de neve já com o Verão bem avançado e          oito watts de electricida-
      a quinta da minha família em Portland, dividida em duas por uma estrada       de, a lâmpada GeoBulb de
                                                                                    C. Crane utiliza díodos
      asfaltada. As duas imagens traduzem o preço cada vez mais elevado que         emissores de luz (LED, da
      temos de pagar por termos desfrutado, durante décadas, de energia barata.     sigla em inglês) e “dedos”
                                                                                    de malha de arame que
          O degelo dessas montanhas próximas, que enchia os rios e as barragens     dissipam o calor para
      hidroeléctricas da região, trazia energia eléctrica até minha casa: energia   emitir mais luz e menos
                                                                                    calor do que uma lâmpada
      renovável, muito antes de esse se ter tornado um objectivo prioritário. No    incandescente de 60
      entanto, os verdadeiros reis eram os automóveis. Uma estrada dividiu em       watts. Actualmente, estas
                                                                                    lâmpadas são muito mais
      duas a nossa quinta de criação de ovelhas e a gasolina barata acabou por      caras do que as
      converter o campo num bairro residencial de pequenas moradias.                incandescentes e a sua
                                                                                    fiabilidade ainda está em
          Hoje, as neves estão a recuar porque o Inverno é cada vez mais curto      teste, mas pode suceder
      devido ao aumento da temperatura. As reservas de petróleo que fizeram         que um dia ocupem um
                                                                                    lugar de destaque entre os
      crescer os subúrbios já não são tão seguras nem tão baratas. Presos na        descendentes dos frágeis
      armadilha, precisamos de novas ideias e de novas tecnologias.                 filamentos criados por
                                                                                    Thomas Edison.
          Esta edição especial da National Geographic explora esse desafio. Ao
      longo de 124 anos, a revista descreveu com rigor o ambiente em que
      vivemos. Actualmente, o nosso planeta está ameaçado pela dependência
      dos combustíveis fósseis. O que podemos conseguir, e com que rapidez,
      aplicando determinadas medidas de conservação? Podemos continuar a
      queimar carvão para produzir energia sem que a emissão dos gases de
      efeito de estufa dispare? O que faria falta para explorar a imensa fortuna
      energética que se derrama, todos os dias, sobre a face da Terra sob a
      forma de luz solar e vento?
          O preço do petróleo flutuou muito devido às recentes turbulências eco-
      nómicas e políticas, mas continuará a aumentar no futuro. A menos que
      aprendamos a alimentar o nosso planeta com outras formas de energia,
      talvez os nossos netos não saibam o que é viver em abundância energética,
      nem conheçam as neves generosas que iluminaram a minha infância.


                                                                                                                 A energia para manter acesa uma lâmpada incan-
                                             Perito da National Geographic
                                                                                                                 descente de 60 watts durante um ano custa cerca
                                             em temas de ciência e ambiente
                                                                                                                 de cinco euros. Para uma lâmpada de tecnologia
                                                                                                                    LED, o custo equivalente seria de 1,10 euros.
2    E N E RG I A          Tyrone Turner                                                                                                                   e n e r g I A  3
O NOSSO
DESAFIO
ENERGÉTICO
O mundo começa a reconhecer a sua dependência
dos combustíveis fósseis baratos e abundantes.


a comodidade do fogo é também a sua maldição.
Desde que os seres humanos aprenderam a dominar o calor,
a luz e o poder das chamas, o seu desejo de possuir estas três
formas de energia não parou de crescer. Um desejo incon-
trolado que conduziu a excessos perigosos e que produz
agora consequências sobre a Terra. O carvão, o petróleo e o
gás natural cobrem cerca de 80% das necessidades de ener-
gia do mundo e produzem a maioria das emissões de dió-
xido de carbono (CO2) e outros gases com efeito de estufa
que estão a aquecer o planeta. Segundo um relatório da
Agência Internacional de Energia (AIE), a procura poderá
aumentar quase 50% até ao ano 2030, com o consequente
aumento das emissões, uma tendência que, se não se alterar,
poderá elevar em 6ºC a temperatura média mundial.                  Em muitos países em
                                                                   desenvolvimento,
    O relatório conclui que a tendência é “manifestamente          centenas de milhões de
insustentável, tanto para o ambiente como do ponto de vista        pessoas obtêm mais de
                                                                   75% dos seus recursos
económico e social”. Para desabituar a humanidade da sua           energéticos a partir da
dependência dos combustíveis fósseis será precisa nada             lenha. Apesar de as
                                                                   partículas e as toxinas do
menos do que uma “revolução energética mundial”, diz               fumo poderem ser noci-
Nobuo Tanaka, que foi director-executivo da AIE até                vas para a saúde, a lenha
                                                                   é barata e renovável, e as
Setembro de 2011. Isso será possível se o mundo investir           suas emissões de gases
maciçamente em energias renováveis, reduzir as emissões            com efeito de estufa são
                                                                   baixas, ao contrário do
de carbono, melhorar a eficiência e apagar umas quantas            carvão, do petróleo e do
luzes. Acontecerá? “Veremos”, diz ele.                             gás natural.



                                                    PETER ESSICK             e n e r g I A  5
1      tonelada
                                                                 Quantidade de carvão
                                                                 necessária para
                                                                 fornecer energia
                                                                 eléctrica a um lar nos
                                                                 Estados Unidos durante
                                                                 dois meses.



                                                                 264         mil milhões
                                                                 Número de toneladas
                                                                 correspondentes
                                                                 às reservas de carvão
                                                                 dos Estados Unidos.
                                                                 Ao ritmo de consumo
                                                                 actual, durariam cerca
                                                                 de 225 anos.




                                                                 46
                                                                 por cento – percenta-
                                                                 gem da produção
                                                                 mundial de antracite
                                                                 correspondente à
                                                                 China, o principal
                                                                 produtor.




                                                                 A central eléctrica
                                                                 Hunter, do Utah,
                                                                 alimenta a rede do
                                                                 Oeste dos Estados
                                                                 Unidos e está em plena
                                                                 expansão. Consome 14
                                                                 mil toneladas de carvão
                                                                 por dia. Abundante e
                                                                 acessível, o carvão gera
                                                                 metade da energia
                                                                 eléctrica daquele país,
                                                                 mas também aquece
                                                                 o planeta. Em 2007,
                                                                 as centrais térmicas
                                                                 dos Estados Unidos
                                                                 libertaram para
                                                                 a atmosfera 2.400
                                                                 milhões de toneladas
                                                                 de dióxido de
                                                                 carbono, superadas
                                                                 apenas pela China.



6  E NLefkowitz / Corbis
 Lester E RG Í A           directional: image credit goes here          e n e r g I A  7
A majestosa torre Jin
                 Mao de Xangai domina
                 o novo distrito
                 financeiro, onde pratica-
                 mente todos os
                 edifícios têm menos de
                 20 anos. Para fomentar
                 a urbanização e o
                 rápido crescimento da
                 economia, a China
                 quadruplicou a sua
                 produção eléctrica
                 entre 1990 e 2006.
                 Provavelmente, o valor
                 voltará a duplicar antes
                 de 2020, à medida que
                 as cidades continuarem
                 a acender mais luzes.



Fritz Hoffmann          e n e r g I A  9
VOLUME DAS RESERVAS MUNDIAIS DOCUMEN-
TADAS DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL LÍQUIDOS:
1,2 BILIÕES DE BARRIS. TEMPO QUE O MUNDO
DEMOROU PARA CONSUMIR O SEU PRIMEIRO
BILIÃO DE BARRIS DE PETRÓLEO: 140 ANOS.
TEMPO QUE DEMORARÁ PARA CONSUMIR O
BILIÃO SEGUINTE: 30 ANOS. A QUANTIDADE DE
GÁS NATURAL NECESSÁRIA PARA EXTRAIR UM
ÚNICO BARRIL DE PETRÓLEO DAS AREIAS BETU-
MINOSAS CANADIANAS PODERIA AQUECER UMA
CASA NORTE-AMERICANA MÉDIA DURANTE QUA-
TRO DIAS. ATÉ 2008, A CALIFÓRNIA CONSUMIU
MAIS GASOLINA DO QUE QUALQUER OUTRO PAÍS
DO MUNDO (SEM CONTAR obviamente COM OS
EUA), INCLUINDO A CHINA. CERCA DE DOIS TER-
ÇOS DE TODA A ENERGIA É CONSUMIDA NAS                      As imagens sísmicas

ÁREAS URBANAS, EMBORA APENAS METADE DA                     da Empresa Petrolífera
                                                           Anadarko, do Texas,

POPULAÇÃO DO MUNDO VIVA EM CIDADES.                        mostram uma secção
                                                           transversal tridimensional
                                                           da Terra a uma profundida-
                                                           de de 3.000 metros, sob o
                                                           leito do golfo do México,
                                                           onde olhos treinados
                                                           podem detectar possíveis
                                                           “armadilhas”, bolsas de
                                                           petróleo ou gás. Este tipo
                                                           de técnicas vanguardistas
                                                           é cada vez mais decisivo,
                                                           à medida que as
                                                           reservas diminuem.



10    E N E RG I A                            Sarah Leen           e n e r g I A  11
Garrafões de gasolina
                                     aguardam comprador
                                     numa rua poeirenta
                                     da cidade de Doba,
                                     próxima dos campos
                                     petrolíferos do Chade.
                                     A nascente indústria
                                     petrolífera do país,
                                     que começou a
                                     exportar crude em
                                     2003, depositou mais
                                     de 2.200 milhões de
                                     euros nos cofres do
                                     Estado. O governo,
                                     contudo, não cumpriu
                                     a promessa de destinar
                                     70% das receitas
                                     do petróleo à ajuda
                                     aos mais necessitados,
                                     que só recebem uma
                                     parte mínima desta
                                     enorme riqueza.



12    e n e r g ía   Pascal Maitre        e n e r g i A  13
BARACK OBAMA AFIRMOU QUE GOSTARIA DE VER
UM MILHÃO DE VEÍCULOS ELÉCTRICOS NAS
ESTRADAS ANTES DE 2015. AO PREÇO ACTUAL DA
ELECTRICIDADE, O CUSTO DE FAZER FUNCIONAR
UM CARRO ELÉCTRICO NOS ESTADOS UNIDOS
EQUIVALE A PAGAR O LITRO DA GASOLINA A 14
CÊNTIMOS. O HAWAI, QUE DEPENDE DO PETRÓLEO
ESTRANGEIRO PARA COLMATAR A MAIOR PARTE
DAS SUAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS, PREVÊ
INSTALAR ESTAÇÕES DE SERVIÇO ELÉCTRICAS
PARA REDUZIR EM 70% O USO DE COMBUSTÍVEIS
FÓSSEIS ANTES DE 2030. AS ENERGIAS
RENOVÁVEIS REPRESENTAVAM 18% DO TOTAL DA
PRODUÇÃO ELÉCTRICA MUNDIAL EM 2007, UM
VALOR QUE PODERÁ DUPLICAR ATÉ 2030.
O CARVÃO CONTINUA A DOMINAR E, DE                             Pronto para a produção em
                                                              série, o Aptera eléctrico
ACORDO COM AS PREVISÕES, A SUA PRODUÇÃO                       converte em realidade as
                                                              promessas de inovação.
AUMENTARÁ ATÉ 60% NOS PRÓXIMOS 25 ANOS.                       Elegante e veloz, consome
                                                              o equivalente a pouco mais
                                                              de um litro de gasolina por
                                                              100 quilómetros em
                                                              velocidade de auto-estrada.
                                                              Tem uma autonomia de
                                                              mais de 160 quilómetros
                                                              com uma única carga e
                                                              gasta cerca de um euro por
                                                              dia em electricidade, uma
                                                              vantagem para o bolso e
                                                              para o planeta.



14    E N E RG Í A
               I                             Misha Gravenor            e n e r g I A  15
182 .000
Número de espelhos
parabólicos que giram
seguindo o percurso do
Sol na Nevada Solar
One, a central solar
que a empresa
espanhola Acciona
construiu no Nevada,
EUA (à direita).




73
 ,
Por cento — percenta-
gem de crescimento
anual da capacidade
instalada das energias
renováveis, a fonte de
energia que cresce
mais rapidamente.




Para captar o sol em
grande escala, a central
solar Nevada Solar One
“semeou” mais de cem
hectares de deserto
com espelhos parabóli-
cos. Concentram assim
o calor do sol para
gerar vapor que, por
sua vez, accionará
turbinas para produzir
energia. Com uma
produção capaz de
abastecer 14 mil lares,
é uma das maiores
centrais termoeléctri-
cas do mundo.



16    E N E RGi A          Michael Melford   e n e r g i A  17
No deserto do Saara,
um painel solar fornece
energia a uma casa
tradicional argelina.
Apesar de ser o
continente com maior
potencial fotovoltaico
e solar térmico, 70%
da população em
África não tem acesso
à rede eléctrica.
Várias empresas
internacionais planeiam
instalar enormes
centrais de energia
solar na área
subsariana, com o
objectivo de satisfazer
as necessidades
energéticas dos países
industrializados.



18    E N E RG I A        Michael Runkel / Getty Images   e n e r g I A  19
Raios laser fazem
explodir uma esfera
diminuta de isótopos
congelados de
hidrogénio, numa
experiência de fusão
realizada no Laboratório
de Energia Laser da
Universidade de
Rochester. Com picos
de geração de 30
terawatts (cerca de 30
vezes mais do que o
total da capacidade
eléctrica dos Estados
Unidos) durante um mil
milionésimo de
segundo, os 60 raios
convergentes podem
aquecer um alvo a mais
de vinte milhões de
graus e comprimi-lo
com a força de milhares
de milhões de atmos-
feras. Os investigadores
esperam demonstrar
que a implosão
resultante pode produzir
um ganho líquido de
energia de fusão, o que
representaria uma fonte
inesgotável de energia.



20    E N E RG I A         Eugene Kowaluk / Cortesia do Laboratório n e r g I A  21
                                                                   e de Energia Laser
                                                        da Universidade de Rochester
O nosso desafio energético




                           Por Bill McKibben


                           Estamos presos entre
                           um subsolo esgotado
                           e uma atmosfera
                           sobreaquecida. Teremos de demonstrar perícia se
                           quisermos sair daqui. O desfecho do dilema decidirá se este sécu-
                           lo passará à história como uma época de progresso continuado ou
                           como o início de uma longa e inexorável decadência. No fundo,
                           vamos saber se poderemos salvar este lar que é o nosso planeta.
                              A energia não é apenas mais um elemento da nossa economia.
                           Para todos os efeitos, ela é a economia. O economista John May-
                           nard Keynes disse certa vez que o nível de vida da maioria da
                           humanidade tinha, na melhor das hipóteses, duplicado no tempo
                           decorrido desde os primórdios da espécie até ao início do século
                           XVIII, quando aprendemos a usar carvão para operar as máquinas.
                           A partir daí, foi como se tivéssemos esfregado uma lâmpada da
                           qual saiu um génio disposto a trabalhar para nós a um preço razoá-
                           vel. Subitamente, no Ocidente consumidor de energia, o nível de
                           vida começou a duplicar com intervalos de algumas décadas.
                              Deixámos de depender exclusivamente da energia que podíamos
                           captar para alimentar os nossos músculos e os dos nossos animais
                           de carga, bem como do vento que soprava as velas dos nossos
                           barcos quando o Sol aquecia algum ponto do planeta e criava uma
                           diferença de pressão. De repente, tínhamos à nossa disposição um
                           capital enorme: os depósitos de fetos, plâncton e dinossauros
                           acumulados durante milhões de anos, que o tempo havia compri-
                           mido até convertê-los em carvão, gás e petróleo. Éramos, quase
                           literalmente, os felizes herdeiros de um antepassado muito rico
                           que morreu há muito tempo e cujo testamento acabava de ser
                           revelado. E começámos a gastar sem pensar duas vezes. Esse esban-
Na cidade alemã de
                           jamento converteu-nos no que somos. Cada uma das nossas revo-
Bergheim, as torres de     luções (a industrial, a química, a electrónica e até a da informação)
refrigeração da central    é tributária desse novo sangue que corre agora nas veias da nossa
térmica de Niederaus-      economia. A revolução do consumo é porventura a que mais lhe
sem dominam a paisa-
                           deve. A nossa expansão urbanística descontrolada revelou-se a
gem. Este gigante forne-
ce electricidade a mais
                           maneira definitiva de multiplicar o consumo de combustível. As
de vinte milhões de        casas cada vez maiores, com mais electrodomésticos e ligadas entre
pessoas. O carvão          si por carros cada vez maiores e mais vazios fizeram que os con-
proporciona 41% da         tadores da electricidade e das bombas de gasolina girassem mais
energia eléctrica, mas
                           rápido do que nunca. E qual foi a imagem que o nosso Ocidente
produz emissões de
mercúrio, dióxido de
                           desenvolvido enviou para o resto do mundo através do cinema e
enxofre e outras           da televisão? Precisamente a do conforto. Não é de estranhar que
substâncias tóxicas.       todos quisessem juntar-se à festa.

 22    e n e rg Ia            Ralph Orlowski / Getty Images
No início, a ideia não pareceu má. O “plano A”     bro de 2008, a Agência Internacional de Energia      fenómeno de retroalimentação. A fusão do solo       anteriormente tínhamos considerado ou porven-
para a espécie humana era que todos seríamos           calculou que a produção dos jazigos de petróleo      permanentemente gelado (permafrost) na tundra       tura tínhamos equacionado apenas uma vez: nos
ricos mais tarde ou mais cedo, passando por essa       maduros do mundo estava a sofrer uma diminui-        setentrional, por exemplo, liberta para a atmos-    piores momentos do terror nuclear.
etapa de escravidão energética que havia funcio-       ção anual de 6,7%, um ritmo que provavelmente        fera mais dióxido de carbono e metano, outro           O prestigiado climatólogo James Hansen, da
nado tão bem para os países industrializados.          piorará com o tempo. Para compensar esse declí-      gás de efeito de estufa. As estações mais quentes   NASA, forneceu-nos um número para definir a
Claro que surgiriam problemas pelo caminho. As         nio seria preciso encontrar todos os anos a pro-     resultantes favorecem a difusão de pragas que       nova condição crítica da vida tal como a conhe-
primeiras gerações de centrais térmicas de carvão      dução de um novo Koweit ou explorar a fundo os       acabam com milhões de hectares de árvores, e os     cemos. James e os seus colaboradores estudaram
produziriam grandes nuvens de contaminação             jazigos conhecidos. Muitos observadores pensam       incêndios alimentados pela madeira morta acres-     a relação histórica entre o carbono atmosférico
em Pequim, tal como tinha sucedido no passado          que já deixámos para trás o auge da produção         centam mais nuvens de carbono à atmosfera.          e fenómenos como o aumento do nível do mar
na Grã-Bretanha, e as vastas frotas de veículos        petrolífera; os mais optimistas crêem que é uma      Não os produzimos directamente, mas na origem       (durante toda a história humana até ao início da
poluiriam o céu da China, como havia aconteci-         questão de anos. Mas o futuro não oferece muitas     estamos nós novamente. É evidente que os nos-       revolução industrial, o ar não conteve mais de 275
do na Califórnia. Mas com alguma rapidez, à            dúvidas. O preço do barril de crude já flutuou em    sos carros e fábricas iniciaram uma reacção em
medida que o aumento da energia produzisse             função de crises e entusiasmos no mercado, mas       cadeia à escala mundial, o que, em retrospectiva,
                                                                                                            não deveria surpreender-nos. No fim de contas,
mais riqueza, também nesses lugares haveria            manter-se-á alto. E o preço da gasolina terá de
                                                                                                            pegámos em todo aquele carbono acumulado ao
                                                                                                                                                                     O carvão é o mais sujo
dinheiro para instalar filtros nas chaminés e cata-    acompanhar essa evolução.
lisadores nos tubos de escape e em pouco tempo            Quais são as opções? Há os outros combustí-       longo de milhões de anos (o plâncton e os antigos   dos combustíveis: quando
o ar voltaria a estar limpo.                           veis fósseis. Mas o gás natural não durará muito     fetos armazenados) e libertámo-lo na atmosfera        arde, liberta para a atmosfera
   Tudo parecia estar a funcionar de acordo com        mais. O substituto mais óbvio é o carvão, do qual    no espaço de algumas gerações. Como pudemos         grandes quantidades de CO2.
o planeado. Durante a década de 1990, a nossa          ainda restam reservas, mas a sua utilização con-     esperar que os problemas não emergissem?
prosperidade e o nosso modelo de uso maciço de         duz-nos directamente à outra face do problema.          Inclusivamente agora, somente duas décadas
energia começaram a estender-se para a Ásia. Mas       Este é o mais sujo dos combustíveis; quando arde,    depois de os meios de comunicação terem come-       partes por milhão de CO2) e depois analisaram os
havia dois pequenos problemas – pormenores que         liberta para a atmosfera quantidades muito gran-     çado a falar do aquecimento global, estamos cla-    dados mais recentes do planeta. A sua conclusão:
anteriormente não tínhamos considerado e que,          des de dióxido de carbono, o principal culpado       ramente à beira de uma série de pontos de infle-    “Se a humanidade deseja conservar o planeta em
na realidade, não queríamos ter em conta, apesar       do aquecimento global que, tal como o pico do        xão. Os dados prevêem um aumento rápido dos         que a civilização se desenvolveu e ao qual a vida
de serem cada vez mais evidentes. Há vinte anos,       petróleo, está a chegar muito mais rapidamente       períodos secos (porque o ar quente retém mais       na Terra está adaptada […], será preciso reduzir
os poucos que pensavam no aquecimento global           do que gostaríamos.                                  vapor de água do que o ar frio) e o consequente     o CO2 dos seus actuais 385 ppm para um máxi-
viam-no como uma ameaça improvável e longín-              No Verão de 2007, por exemplo, o Árctico          aumento de chuvas torrenciais e inundações (o       mo de 350 ppm.” O número actual é demasiado
qua. No início do novo século, a maioria das pes-      derreteu. No final do Verão, havia cerca de 22%      que sobe tem de descer), assim como uma ex-         elevado e é por isso que o Árctico está a fundir.
soas não tinha ouvido falar do pico do petróleo.       menos de gelo marinho do que em toda a histó-        pansão chocante dos mosquitos transmissores         O aquecimento do planeta não é um problema
Agora os dois conceitos são as duas faces de uma       ria desde que existem registos. Um degelo seme-      de doenças e uma redução drástica dos glaciares     para o futuro, mas sim uma crise do presente.
ameaça cada vez mais premente, que limita as alter-    lhante, no Verão seguinte, abriu brevemente e de     que dão de beber às cidades andinas ou ao sub-         Instantaneamente, 350 converteu-se no nú-
nativas num momento em que precisamos deses-           forma simultânea as passagens do Noroeste e do       continente da Índia. Talvez mais ominosos ainda     mero mais importante do globo, o limiar da ân-
peradamente delas. Se os analisarmos com               Nordeste, o que deu pela primeira vez ao ser hu-     são os dados sobre os grandes campos de gelo        sia de todo um planeta. Voltar pouco a pouco
cuidado, talvez nos mostrem a cara com que o           mano a oportunidade de circum-navegar todo o         da Gronelândia e do Oeste da Antárctida, que        a esse nível exigirá adoptar alterações de uma
futuro se nos apresenta: parte da energia que neces-   Árctico em águas abertas. Este degelo antecipou--    nos estão a obrigar a redefinir a expressão “ve-    magnitude difícil de imaginar. Segundo James
sitamos esgotar-se-á e não poderemos usar o res-       -se trinta anos às previsões efectuadas pelos mo-    locidade glaciar”. Escavadas inferiormente por      Hansen, em 2030 não se deveria queimar car-
to sob risco de destruirmos a atmosfera. Será um       delos informáticos do aquecimento global e foi       mares cada vez mais quentes, as camadas geladas     vão em nenhuma parte do planeta e, no mundo
futuro muito diferente do que tínhamos pensado.        uma confirmação de que estamos efectivamente         estão a deslizar até ao oceano. Segundo estudos     desenvolvido, a meta deveria ser atingida antes
   Um pouco de matemática mostrar-nos-á a              a aquecer o planeta. Não há outra explicação. Pior   recentes, um aumento de dois metros do nível        dessa data. O abandono da economia dos com-
causa. Alguns peritos prevêem que o consumo            ainda: o degelo faz parte de uma cadeia de fenó-     do mar está dentro da esfera de possibilidades no   bustíveis fósseis implicará a perda de enormes
mundial de energia aumentará 50% até 2030.             menos retroalimentados que amplificam o aque-        decurso deste século. Seria um duro teste para a    investimentos em tecnologia antiga à qual ainda
É um bom número redondo para resumir o dese-           cimento: em vez do bonito manto de gelo que          civilização porque converteria a maioria das ci-    restam várias décadas de vida útil. Teremos de
jo de frigoríficos, televisores, cubos de gelo, ham-   cobria o Árctico, um espelho que reflectia 80% da    dades costeiras do mundo num equivalente de         deixar de resgatar instituições financeiras para
búrgueres e motocicletas das pessoas de todo o         radiação solar incidente e a devolvia ao espaço,     Nova Orleães após o furacão Katrina, e grande       começar a resgatar centrais térmicas de carvão.
planeta e talvez também de um pequeno aparelho         de repente temos grandes extensões azuis de água     parte das terras mais férteis em algo semelhan-     E a menos que alguém tenha um plano para
de ar condicionado nos trópicos.                       que absorvem 80% dos raios do sol.                   te ao delta do Ayerawaddy, em Myanmar, onde         convencer o mundo de que na realidade não ne-
   O que não está claro é de onde sairá toda essa         Nós pusemos o aquecimento em marcha, mas          em 2008 o tufão Nargis inundou os arrozais com      cessita de frigoríficos, também teremos de en-
energia, uma vez que vivemos na época em que o         agora a natureza encarregou-se do assunto e está     água do mar. Esta perspectiva coloca em dúvida      contrar outras fontes que nos ofereçam toda essa
petróleo está a começar a esgotar-se. Em Novem-        a trabalhar por sua conta. E este não é o único      a actividade humana de uma maneira que nunca        energia. Essa é a tarefa da nossa geração.

24    E N E RG I A                                                                                                                                                                                 e n e r g I A  25
Soluções




PODEMOS                                                                          EUROPA       ARMÉNIA 70
                                                                                                            ISLÂNDIA
                                                                                                               153                                                                                                                                                Consumo
                                                                                                                                                                                                                                                                  de carvão
                                                                                1.172.462                                        LETÓNIA
                                                                                            MOLDÁVIA ALBÂNIA
                                                                                                                                 168


LIMPAR
                                                                                                 110   117   LUXEMBURGO
                                                                                                                 153                 SUÍÇA 171

                                                                                                                          BIELORRÚSSIA 230        LITUÂNIA 408                                                                                                    De 1980 a 2006, o consumo de
                                                                                                                                       CROÁCIA 915          NORUEGA 1.012                                                                                         carvão aumentou dois terços,

O CARVÃO?                                                                                                                                        IRLANDA 2.908        SUÉCIA 3.484
                                                                                                                                                                                      PORTUGAL
                                                                                                                                                                                        5.476
                                                                                                                                                                                                                                                                  igualando o ritmo do consumo
                                                                                                                                                                                                                                                                  total de energia. Na China, o
                                                                                                                                                                                                                                                                  uso de carvão triplicou.
                                                                                                                                                                 ESLOVÉNIA
                                                                                                                                                                   5.230                         MACEDÓNIA
                                                                                                        ARÁBIA                                                                                     6.091
Como parte do plano para fomentar a independência energética e                      ÁSIA      SINGAPURA SAUDITA
                                                                                                                                                                               ÁUSTRIA
                                                                                3.488.879     7            21 GEÓRGIA                                                           5.936                                                                             CONSUMO TOTAL DE CARVÃO
                                                                                                                  23                                                                                                FINLÂNDIA
                                                                                                  SÍRIA                                                                                                                                                           MILHÕES DE TONELADAS, 2006
combater as alterações climáticas, Barack Obama prometeu                                            9     AFEGANISTÃO
                                                                                                                    33                                                                       BÉLGICA
                                                                                                                                                                                                                       8.192
                                                                                                                                                                                                                                                                     EUROPA
                                                                                                                                  BUTÃO 65
                                                                                                                                                                                              7.416
                                                                                                                                         TAJIQUISTÃO 95                                                                                                              ÁSIA
“desenvolver e aplicar tecnologia limpa para o uso do carvão”. No                                                                                SRI LANKA 101                                                                  DINAMARCA
                                                                                                                                                                                                                                   8.481                             AMÉRICA DO NORTE
                                                                                                                                                                                                    ESLOVÁQUIA
                                                                                                                                                            LAOS 120                                   8.390                                                         ÁFRICA
entanto, o prémio Nobel Al Gore e outros peritos argumentam que                                                                                                      LÍBANO 200                                                                                      AMÉRICA DO SUL
                                                                                                                                                                                                                                              HUNGRIA
                                                                                                                                                                             MYANMAR 239
                                                                                                                                                                                                                       BÓSNIA -                11.825                OCEÂNIA
o conceito de “carvão limpo” é em si mesmo contraditório. Quem                                                                                                                       NEPAL 302                      -HERZEGOVINA
                                                                                                                                                                                                                        9.124                            HOLANDA
                                                                                AMÉRICA       PANAMÁ           EL                                                                          BANGLADESH 700                                                 12.338
tem razão? Tudo depende da definição de “limpo”. Essa fonte de                 DO NORTE       2             SALVADOR
                                                                                                                2
                                                                                                                                                                                                QUIRGUÍZIA 907
                                                                                1.090.368         COSTA                                                                                                IRÃO 1.930
                                                                                                   RICA          CUBA                                                                                                                                ESTÓNIA
energia contém uma grande quantidade de contaminantes, em                                            2             30             JAMAICA 32                                                                  USBEQUISTÃO 3.050                       14.454
                                                                                                                                       NICARÁGUA 115                                                                                                       FRANÇA
                                                                                                                                                                                                                     MONGÓLIA 5.693
                                                                                                                           ILHAS VIRGENS                                                                                                                    22.827
especial dióxido de enxofre, azoto e vestígios de mercúrio. Há                                                                 EUA 290         HONDURAS 130                                                              PAQUISTÃO 7.539                           ITÁLIA
                                                                                                                                    GUATEMALA 396                                                                                                                  25.204
muito tempo que o enxofre é eliminado através da trituração e                                                                                  REPÚBLICA                                                                        FILIPINAS 10.146
                                                                                                                                             DOMINICANA 398       MÉXICO
                                                                                                                                                                   19.105                                                                                                BULGÁRIA
                                                                                                                                                                                                                                       MALÁSIA 11.923                     27.901
lavagem do carvão antes da sua queima e do uso de filtros nas                                 MALAWI NIGÉRIA
                                                                                 ÁFRICA
                                                                                              2                                                                                  CANADÁ                                            ISRAEL
                                                                                 188.536                8 MOÇAMBIQUE
                                                                                                                                                                                  59.312                                                                                      ROMÉNIA
chaminés para captar os resíduos. Mediante os sistemas modernos                                 NAMÍBIA
                                                                                                        MADAGÁSCAR
                                                                                                                  23                                                                                                                12.175
                                                                                                                                                                                                                                                                               38.066
                                                                                                  4                                                                                                                                    VIETNAME
                                                                                                             10                                                                                                                          18.705                                      ESPANHA
de leito fluidizado, que queimam o carvão a temperaturas                                                                         TANZÂNIA 68
                                                                                                                                                                                                                                           INDONÉSIA
                                                                                                                                                                                                                                                                                      38.659
                                                                                                                                     SENEGAL 160                                                                                             21.837                                      SÉRVIA E
                                                                                                                             QUÉNIA 140                                                                                                                                                MONTENEGRO
relativamente baixas, reduzindo assim a formação de óxido de                                                                                NÍGER 178
                                                                                                                                                                                                  ESTADOS                                          TAILÂNDIA                              39.750
                                                                                                                                    ZÂMBIA 171                                                                                                       28.641
                                                                                                                                                   REP. DEM. DO CONGO 306                          UNIDOS                                                                                      REP. CHECA
                                                                                                                                                                                                  1.010.554
azoto (smog), as centrais que usam este combustível eliminam                                                                         SUAZILÂNDIA 220                                                                                                   COREIA
                                                                                                                                                                                                                                                      DO NORTE
                                                                                                                                                                                                                                                                                                 58.525
                                                                                                                                           MAURÍCIA 330
                                                                                                                                                              ARGÉLIA 409                                                                              33.437
                                                                                                                                                                                                                                                                                                   UCRÂNIA
95% ou mais dos contaminantes que causam chuva ácida. Talvez                    AMÉRICA       URUGUAI     ARGENTINA                                                                                                                                            TAIWAN                               66.095
                                                                                 DO SUL       3              822                                  BOTSWANA 938                                                                                                  63.539
                                                                                                                                                                            EGIPTO
                                                                                  32.239                                                                                     1.130
                                                                                                VENEZUELA
isso seja “limpo” em comparação com os dados do passado, mas                                        70
                                                                                                                                                                                                                                                                CAZAQUISTÃO
                                                                                                                                                                                                                                                                                                        GRÉCIA
                                                                                                                 PERU                                                                                                                                                                                   66.799
                                                                                                                 1.140           COLÔMBIA                        ZIMBABWE                                                                                          69.082
serve de pouco para neutralizar outra ameaça: o CO2, o elemento                                                                  4.011                              3.266
                                                                                                                                                                                                                                                                                                             REINO
                                                                                                                                                                                                                                                                         TURQUIA                             UNIDO
que mais aquece o planeta. Os partidários do uso do carvão                                                                              CHILE                     MARROCOS                                                                                                78.299                             67.320
                                                                                                                                        4.732                       4.625

apregoam agora o conceito de “captura e armazenamento do                                                                                           BRASIL
                                                                                                                                                   21.461
                                                                                                                                                                                                                                                                            COREIA
                                                                                                                                                                                                                                                                            85.378                             POLÓNIA
                                                                                                                 NOVA                                                                                                                                                                                           140.434
                                                                                OCEÂNIA       FIJI 12           ZELÂNDA                                             ÁFRICA SUL
carbono”, que consiste em extrair o CO2, enviá-lo através de                     145.325                          3.135                                               176.548                                                                                                      JAPÃO
                                                                                                     NOVA                                                                                                                                                                          179.299
tubagens para uma área de acumulação e injectá-lo no subsolo,                                      CALEDÓNIA
                                                                                                      300
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 RÚSSIA
                                                                                                                                                                                                                                                                                      ÍNDIA                      223.571
                                                                                                                                                                                                                                                                                     499.601
um processo que poderia reduzir 90% das emissões de CO2.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 ALEMANHA
Os críticos assinalam que a captura de carbono também reduz a                                                                                                                                                                                                                                                     244.459


eficiência das centrais, o que aumenta a procura de combustível
                                                                                                                                             AUSTRÁLIA
                                                                                                                                              141.878
em 50%. Obama disse que ainda não dispomos da tecnologia                                                                                                                                                                                                                                CHINA
                                                                                                                                                                                                                                                                                       2.355.783

necessária para limpar o carvão de maneira eficiente, mas o

investimento de 150 mil milhões de dólares em tecnologias limpas

previsto pelo seu governo poderia mudar as coisas.


26    E N E RG Í A        Fonte do GRÁFICO: agência de informação de energia
SOLUÇÕES




O QUE É UMA
REDE INTELIGENTE?
O que aconteceria se todo o sangue do nosso corpo circulasse numa única direcção? Foi mais ou menos

isso que sucedeu no “organismo eléctrico” dos países industrializados desde que se criou, há mais de um

século, a rede eléctrica: um gigantesco sistema unidireccional de centrais que alimentam subestações, a

partir das quais esse sangue vital é canalizado através de linhas de alta tensão (à direita) até à economia,

mas com escassa capacidade de reabastecer ou de conhecer as suas pulsações durante o trajecto.

Contudo, tudo isso está a mudar, porque a procura de eficiência energética empurra as companhias para

a construção de uma rede “inteligente”. Em vez do sistema antiquado que simplesmente distribui energia

aos utilizadores, uma rede inteligente permite que estes produzam parte da sua electricidade (e inclusiva-

mente devolvam a restante ao sistema, para que outros a usem) mediante instalações domésticas de

energia eólica e solar, bem como outros microgeradores. Uma rede inteligente caracteriza-se, além disso,

pela capacidade de calcular a “distribuição”, como acontece com a Internet, que se ajusta em função das

necessidades do momento. Por exemplo, poderia programar-se uma máquina de lavar para se ligar

quando a rede indicasse que está num momento de baixa procura, quando o preço do consumo é menor.

Se uma central sofresse uma avaria, pequenas “ilhas” de distribuição da potência (desde painéis fotovol-

taicos nos telhados das casas até células de armazenamento de energia) poderiam ocupar o seu lugar,

pelo menos para manter os serviços mínimos como os semáforos nas ruas e os quartéis de bombeiros.

O resultado final seria uma rede que faria coincidir o fornecimento com a procura, o que aumentaria

a eficiência e reduziria a necessidade de construir mais centrais eléctricas.




28    E N E RGi A                                                                                              sam robinson / getty images   e n e r g i A  29
A ENERGIA NAS
                            NOSSAS VIDAS
                            um gesto simples: carregamos num botão ou num inter-
                            ruptor e acende-se a lâmpada, o televisor, o termóstato ou o
                            carro. Acções simples ao alcance da mão, multiplicadas por
                            milhões de mãos, que bebem de longínquas fontes de ener-
                            gia como centrais eléctricas de carvão, refinarias de petróleo,
                            centrais nucleares ou turbinas hidroeléctricas. Para o bem
                            ou para o mal, essas fontes fazem funcionar grande parte do
                            nosso mundo. Custos ambientais à parte, o preço económi-
                            co de carregar no interruptor varia segundo as oscilações do
                            preço das matérias-primas, os problemas de transporte ou
                            de transmissão e outras questões políticas que escapam ao
                            nosso controlo.
                                                                                              As instalações da BASF
                                No entanto, quase tudo o que requer energia (as casas, os     em Ludwigshafen
                            escritórios, as fábricas, os tractores e os automóveis) poderia   (Alemanha) empregam
                                                                                              33 mil trabalhadores e
                            funcionar de maneira mais económica e eficiente, aplicando        consomem um volume de
                            um pouco de senso comum. Isolar melhor as casas, ajustar          energia que poderia
                                                                                              iluminar dois milhões
                            os termóstatos, levantar o pé do acelerador. Sem esquecer as      de habitações e aquecer
                            técnicas inovadoras e os esboços avançados que estão a sur-       outro meio milhão. A BASF
                                                                                              actua em todo o sector
                            gir no vasto horizonte da energia, desde a sua oferta e pro-      energético: perfura em
                            cura até à sua conservação.                                       busca de petróleo, produz
                                                                                              polímeros plásticos e uma
                                Sucede com a energia o mesmo que com as calorias.             miríade de outros produtos
                            É necessário consumi-la, mas com prudência. Consumamos            e desenvolve projectos
                                                                                              verdes que favorecem o
                            apenas o necessário, tomemos decisões saudáveis, reduzamos        desenvolvimento
                            ao mínimo o desperdício. Vivamos bem.                             sustentável.



30    E N E RG I A
            RGi      BASF                                                                             e n e r g I A  31
                                                                                                                i
Edição especial energia national geographic - siemens
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Edição especial energia national geographic - siemens

  • 1. ediÇÃO especial PORTUGAL EnergIA O granDE dilema dO nOSSo futuro A hora DESAFIOS E soluÇÕEs de mudar
  • 2.
  • 3. ILUMINAr O CAMINHO D a minha infância no estado do oregon (EUA), conservo vivas duas Eis o futuro da luz. Alimentada apenas por imagens: as montanhas cobertas de neve já com o Verão bem avançado e oito watts de electricida- a quinta da minha família em Portland, dividida em duas por uma estrada de, a lâmpada GeoBulb de C. Crane utiliza díodos asfaltada. As duas imagens traduzem o preço cada vez mais elevado que emissores de luz (LED, da temos de pagar por termos desfrutado, durante décadas, de energia barata. sigla em inglês) e “dedos” de malha de arame que O degelo dessas montanhas próximas, que enchia os rios e as barragens dissipam o calor para hidroeléctricas da região, trazia energia eléctrica até minha casa: energia emitir mais luz e menos calor do que uma lâmpada renovável, muito antes de esse se ter tornado um objectivo prioritário. No incandescente de 60 entanto, os verdadeiros reis eram os automóveis. Uma estrada dividiu em watts. Actualmente, estas lâmpadas são muito mais duas a nossa quinta de criação de ovelhas e a gasolina barata acabou por caras do que as converter o campo num bairro residencial de pequenas moradias. incandescentes e a sua fiabilidade ainda está em Hoje, as neves estão a recuar porque o Inverno é cada vez mais curto teste, mas pode suceder devido ao aumento da temperatura. As reservas de petróleo que fizeram que um dia ocupem um lugar de destaque entre os crescer os subúrbios já não são tão seguras nem tão baratas. Presos na descendentes dos frágeis armadilha, precisamos de novas ideias e de novas tecnologias. filamentos criados por Thomas Edison. Esta edição especial da National Geographic explora esse desafio. Ao longo de 124 anos, a revista descreveu com rigor o ambiente em que vivemos. Actualmente, o nosso planeta está ameaçado pela dependência dos combustíveis fósseis. O que podemos conseguir, e com que rapidez, aplicando determinadas medidas de conservação? Podemos continuar a queimar carvão para produzir energia sem que a emissão dos gases de efeito de estufa dispare? O que faria falta para explorar a imensa fortuna energética que se derrama, todos os dias, sobre a face da Terra sob a forma de luz solar e vento? O preço do petróleo flutuou muito devido às recentes turbulências eco- nómicas e políticas, mas continuará a aumentar no futuro. A menos que aprendamos a alimentar o nosso planeta com outras formas de energia, talvez os nossos netos não saibam o que é viver em abundância energética, nem conheçam as neves generosas que iluminaram a minha infância. A energia para manter acesa uma lâmpada incan- Perito da National Geographic descente de 60 watts durante um ano custa cerca em temas de ciência e ambiente de cinco euros. Para uma lâmpada de tecnologia LED, o custo equivalente seria de 1,10 euros. 2  E N E RG I A Tyrone Turner e n e r g I A  3
  • 4. O NOSSO DESAFIO ENERGÉTICO O mundo começa a reconhecer a sua dependência dos combustíveis fósseis baratos e abundantes. a comodidade do fogo é também a sua maldição. Desde que os seres humanos aprenderam a dominar o calor, a luz e o poder das chamas, o seu desejo de possuir estas três formas de energia não parou de crescer. Um desejo incon- trolado que conduziu a excessos perigosos e que produz agora consequências sobre a Terra. O carvão, o petróleo e o gás natural cobrem cerca de 80% das necessidades de ener- gia do mundo e produzem a maioria das emissões de dió- xido de carbono (CO2) e outros gases com efeito de estufa que estão a aquecer o planeta. Segundo um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), a procura poderá aumentar quase 50% até ao ano 2030, com o consequente aumento das emissões, uma tendência que, se não se alterar, poderá elevar em 6ºC a temperatura média mundial. Em muitos países em desenvolvimento, O relatório conclui que a tendência é “manifestamente centenas de milhões de insustentável, tanto para o ambiente como do ponto de vista pessoas obtêm mais de 75% dos seus recursos económico e social”. Para desabituar a humanidade da sua energéticos a partir da dependência dos combustíveis fósseis será precisa nada lenha. Apesar de as partículas e as toxinas do menos do que uma “revolução energética mundial”, diz fumo poderem ser noci- Nobuo Tanaka, que foi director-executivo da AIE até vas para a saúde, a lenha é barata e renovável, e as Setembro de 2011. Isso será possível se o mundo investir suas emissões de gases maciçamente em energias renováveis, reduzir as emissões com efeito de estufa são baixas, ao contrário do de carbono, melhorar a eficiência e apagar umas quantas carvão, do petróleo e do luzes. Acontecerá? “Veremos”, diz ele. gás natural. PETER ESSICK e n e r g I A  5
  • 5. 1 tonelada Quantidade de carvão necessária para fornecer energia eléctrica a um lar nos Estados Unidos durante dois meses. 264 mil milhões Número de toneladas correspondentes às reservas de carvão dos Estados Unidos. Ao ritmo de consumo actual, durariam cerca de 225 anos. 46 por cento – percenta- gem da produção mundial de antracite correspondente à China, o principal produtor. A central eléctrica Hunter, do Utah, alimenta a rede do Oeste dos Estados Unidos e está em plena expansão. Consome 14 mil toneladas de carvão por dia. Abundante e acessível, o carvão gera metade da energia eléctrica daquele país, mas também aquece o planeta. Em 2007, as centrais térmicas dos Estados Unidos libertaram para a atmosfera 2.400 milhões de toneladas de dióxido de carbono, superadas apenas pela China. 6  E NLefkowitz / Corbis Lester E RG Í A directional: image credit goes here e n e r g I A  7
  • 6. A majestosa torre Jin Mao de Xangai domina o novo distrito financeiro, onde pratica- mente todos os edifícios têm menos de 20 anos. Para fomentar a urbanização e o rápido crescimento da economia, a China quadruplicou a sua produção eléctrica entre 1990 e 2006. Provavelmente, o valor voltará a duplicar antes de 2020, à medida que as cidades continuarem a acender mais luzes. Fritz Hoffmann e n e r g I A  9
  • 7. VOLUME DAS RESERVAS MUNDIAIS DOCUMEN- TADAS DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL LÍQUIDOS: 1,2 BILIÕES DE BARRIS. TEMPO QUE O MUNDO DEMOROU PARA CONSUMIR O SEU PRIMEIRO BILIÃO DE BARRIS DE PETRÓLEO: 140 ANOS. TEMPO QUE DEMORARÁ PARA CONSUMIR O BILIÃO SEGUINTE: 30 ANOS. A QUANTIDADE DE GÁS NATURAL NECESSÁRIA PARA EXTRAIR UM ÚNICO BARRIL DE PETRÓLEO DAS AREIAS BETU- MINOSAS CANADIANAS PODERIA AQUECER UMA CASA NORTE-AMERICANA MÉDIA DURANTE QUA- TRO DIAS. ATÉ 2008, A CALIFÓRNIA CONSUMIU MAIS GASOLINA DO QUE QUALQUER OUTRO PAÍS DO MUNDO (SEM CONTAR obviamente COM OS EUA), INCLUINDO A CHINA. CERCA DE DOIS TER- ÇOS DE TODA A ENERGIA É CONSUMIDA NAS As imagens sísmicas ÁREAS URBANAS, EMBORA APENAS METADE DA da Empresa Petrolífera Anadarko, do Texas, POPULAÇÃO DO MUNDO VIVA EM CIDADES. mostram uma secção transversal tridimensional da Terra a uma profundida- de de 3.000 metros, sob o leito do golfo do México, onde olhos treinados podem detectar possíveis “armadilhas”, bolsas de petróleo ou gás. Este tipo de técnicas vanguardistas é cada vez mais decisivo, à medida que as reservas diminuem. 10  E N E RG I A Sarah Leen e n e r g I A  11
  • 8. Garrafões de gasolina aguardam comprador numa rua poeirenta da cidade de Doba, próxima dos campos petrolíferos do Chade. A nascente indústria petrolífera do país, que começou a exportar crude em 2003, depositou mais de 2.200 milhões de euros nos cofres do Estado. O governo, contudo, não cumpriu a promessa de destinar 70% das receitas do petróleo à ajuda aos mais necessitados, que só recebem uma parte mínima desta enorme riqueza. 12  e n e r g ía Pascal Maitre e n e r g i A  13
  • 9. BARACK OBAMA AFIRMOU QUE GOSTARIA DE VER UM MILHÃO DE VEÍCULOS ELÉCTRICOS NAS ESTRADAS ANTES DE 2015. AO PREÇO ACTUAL DA ELECTRICIDADE, O CUSTO DE FAZER FUNCIONAR UM CARRO ELÉCTRICO NOS ESTADOS UNIDOS EQUIVALE A PAGAR O LITRO DA GASOLINA A 14 CÊNTIMOS. O HAWAI, QUE DEPENDE DO PETRÓLEO ESTRANGEIRO PARA COLMATAR A MAIOR PARTE DAS SUAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS, PREVÊ INSTALAR ESTAÇÕES DE SERVIÇO ELÉCTRICAS PARA REDUZIR EM 70% O USO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS ANTES DE 2030. AS ENERGIAS RENOVÁVEIS REPRESENTAVAM 18% DO TOTAL DA PRODUÇÃO ELÉCTRICA MUNDIAL EM 2007, UM VALOR QUE PODERÁ DUPLICAR ATÉ 2030. O CARVÃO CONTINUA A DOMINAR E, DE Pronto para a produção em série, o Aptera eléctrico ACORDO COM AS PREVISÕES, A SUA PRODUÇÃO converte em realidade as promessas de inovação. AUMENTARÁ ATÉ 60% NOS PRÓXIMOS 25 ANOS. Elegante e veloz, consome o equivalente a pouco mais de um litro de gasolina por 100 quilómetros em velocidade de auto-estrada. Tem uma autonomia de mais de 160 quilómetros com uma única carga e gasta cerca de um euro por dia em electricidade, uma vantagem para o bolso e para o planeta. 14  E N E RG Í A I Misha Gravenor e n e r g I A  15
  • 10. 182 .000 Número de espelhos parabólicos que giram seguindo o percurso do Sol na Nevada Solar One, a central solar que a empresa espanhola Acciona construiu no Nevada, EUA (à direita). 73 , Por cento — percenta- gem de crescimento anual da capacidade instalada das energias renováveis, a fonte de energia que cresce mais rapidamente. Para captar o sol em grande escala, a central solar Nevada Solar One “semeou” mais de cem hectares de deserto com espelhos parabóli- cos. Concentram assim o calor do sol para gerar vapor que, por sua vez, accionará turbinas para produzir energia. Com uma produção capaz de abastecer 14 mil lares, é uma das maiores centrais termoeléctri- cas do mundo. 16  E N E RGi A Michael Melford e n e r g i A  17
  • 11. No deserto do Saara, um painel solar fornece energia a uma casa tradicional argelina. Apesar de ser o continente com maior potencial fotovoltaico e solar térmico, 70% da população em África não tem acesso à rede eléctrica. Várias empresas internacionais planeiam instalar enormes centrais de energia solar na área subsariana, com o objectivo de satisfazer as necessidades energéticas dos países industrializados. 18  E N E RG I A Michael Runkel / Getty Images e n e r g I A  19
  • 12. Raios laser fazem explodir uma esfera diminuta de isótopos congelados de hidrogénio, numa experiência de fusão realizada no Laboratório de Energia Laser da Universidade de Rochester. Com picos de geração de 30 terawatts (cerca de 30 vezes mais do que o total da capacidade eléctrica dos Estados Unidos) durante um mil milionésimo de segundo, os 60 raios convergentes podem aquecer um alvo a mais de vinte milhões de graus e comprimi-lo com a força de milhares de milhões de atmos- feras. Os investigadores esperam demonstrar que a implosão resultante pode produzir um ganho líquido de energia de fusão, o que representaria uma fonte inesgotável de energia. 20  E N E RG I A Eugene Kowaluk / Cortesia do Laboratório n e r g I A  21 e de Energia Laser da Universidade de Rochester
  • 13. O nosso desafio energético Por Bill McKibben Estamos presos entre um subsolo esgotado e uma atmosfera sobreaquecida. Teremos de demonstrar perícia se quisermos sair daqui. O desfecho do dilema decidirá se este sécu- lo passará à história como uma época de progresso continuado ou como o início de uma longa e inexorável decadência. No fundo, vamos saber se poderemos salvar este lar que é o nosso planeta. A energia não é apenas mais um elemento da nossa economia. Para todos os efeitos, ela é a economia. O economista John May- nard Keynes disse certa vez que o nível de vida da maioria da humanidade tinha, na melhor das hipóteses, duplicado no tempo decorrido desde os primórdios da espécie até ao início do século XVIII, quando aprendemos a usar carvão para operar as máquinas. A partir daí, foi como se tivéssemos esfregado uma lâmpada da qual saiu um génio disposto a trabalhar para nós a um preço razoá- vel. Subitamente, no Ocidente consumidor de energia, o nível de vida começou a duplicar com intervalos de algumas décadas. Deixámos de depender exclusivamente da energia que podíamos captar para alimentar os nossos músculos e os dos nossos animais de carga, bem como do vento que soprava as velas dos nossos barcos quando o Sol aquecia algum ponto do planeta e criava uma diferença de pressão. De repente, tínhamos à nossa disposição um capital enorme: os depósitos de fetos, plâncton e dinossauros acumulados durante milhões de anos, que o tempo havia compri- mido até convertê-los em carvão, gás e petróleo. Éramos, quase literalmente, os felizes herdeiros de um antepassado muito rico que morreu há muito tempo e cujo testamento acabava de ser revelado. E começámos a gastar sem pensar duas vezes. Esse esban- Na cidade alemã de jamento converteu-nos no que somos. Cada uma das nossas revo- Bergheim, as torres de luções (a industrial, a química, a electrónica e até a da informação) refrigeração da central é tributária desse novo sangue que corre agora nas veias da nossa térmica de Niederaus- economia. A revolução do consumo é porventura a que mais lhe sem dominam a paisa- deve. A nossa expansão urbanística descontrolada revelou-se a gem. Este gigante forne- ce electricidade a mais maneira definitiva de multiplicar o consumo de combustível. As de vinte milhões de casas cada vez maiores, com mais electrodomésticos e ligadas entre pessoas. O carvão si por carros cada vez maiores e mais vazios fizeram que os con- proporciona 41% da tadores da electricidade e das bombas de gasolina girassem mais energia eléctrica, mas rápido do que nunca. E qual foi a imagem que o nosso Ocidente produz emissões de mercúrio, dióxido de desenvolvido enviou para o resto do mundo através do cinema e enxofre e outras da televisão? Precisamente a do conforto. Não é de estranhar que substâncias tóxicas. todos quisessem juntar-se à festa. 22  e n e rg Ia Ralph Orlowski / Getty Images
  • 14. No início, a ideia não pareceu má. O “plano A” bro de 2008, a Agência Internacional de Energia fenómeno de retroalimentação. A fusão do solo anteriormente tínhamos considerado ou porven- para a espécie humana era que todos seríamos calculou que a produção dos jazigos de petróleo permanentemente gelado (permafrost) na tundra tura tínhamos equacionado apenas uma vez: nos ricos mais tarde ou mais cedo, passando por essa maduros do mundo estava a sofrer uma diminui- setentrional, por exemplo, liberta para a atmos- piores momentos do terror nuclear. etapa de escravidão energética que havia funcio- ção anual de 6,7%, um ritmo que provavelmente fera mais dióxido de carbono e metano, outro O prestigiado climatólogo James Hansen, da nado tão bem para os países industrializados. piorará com o tempo. Para compensar esse declí- gás de efeito de estufa. As estações mais quentes NASA, forneceu-nos um número para definir a Claro que surgiriam problemas pelo caminho. As nio seria preciso encontrar todos os anos a pro- resultantes favorecem a difusão de pragas que nova condição crítica da vida tal como a conhe- primeiras gerações de centrais térmicas de carvão dução de um novo Koweit ou explorar a fundo os acabam com milhões de hectares de árvores, e os cemos. James e os seus colaboradores estudaram produziriam grandes nuvens de contaminação jazigos conhecidos. Muitos observadores pensam incêndios alimentados pela madeira morta acres- a relação histórica entre o carbono atmosférico em Pequim, tal como tinha sucedido no passado que já deixámos para trás o auge da produção centam mais nuvens de carbono à atmosfera. e fenómenos como o aumento do nível do mar na Grã-Bretanha, e as vastas frotas de veículos petrolífera; os mais optimistas crêem que é uma Não os produzimos directamente, mas na origem (durante toda a história humana até ao início da poluiriam o céu da China, como havia aconteci- questão de anos. Mas o futuro não oferece muitas estamos nós novamente. É evidente que os nos- revolução industrial, o ar não conteve mais de 275 do na Califórnia. Mas com alguma rapidez, à dúvidas. O preço do barril de crude já flutuou em sos carros e fábricas iniciaram uma reacção em medida que o aumento da energia produzisse função de crises e entusiasmos no mercado, mas cadeia à escala mundial, o que, em retrospectiva, não deveria surpreender-nos. No fim de contas, mais riqueza, também nesses lugares haveria manter-se-á alto. E o preço da gasolina terá de pegámos em todo aquele carbono acumulado ao O carvão é o mais sujo dinheiro para instalar filtros nas chaminés e cata- acompanhar essa evolução. lisadores nos tubos de escape e em pouco tempo Quais são as opções? Há os outros combustí- longo de milhões de anos (o plâncton e os antigos dos combustíveis: quando o ar voltaria a estar limpo. veis fósseis. Mas o gás natural não durará muito fetos armazenados) e libertámo-lo na atmosfera arde, liberta para a atmosfera Tudo parecia estar a funcionar de acordo com mais. O substituto mais óbvio é o carvão, do qual no espaço de algumas gerações. Como pudemos grandes quantidades de CO2. o planeado. Durante a década de 1990, a nossa ainda restam reservas, mas a sua utilização con- esperar que os problemas não emergissem? prosperidade e o nosso modelo de uso maciço de duz-nos directamente à outra face do problema. Inclusivamente agora, somente duas décadas energia começaram a estender-se para a Ásia. Mas Este é o mais sujo dos combustíveis; quando arde, depois de os meios de comunicação terem come- partes por milhão de CO2) e depois analisaram os havia dois pequenos problemas – pormenores que liberta para a atmosfera quantidades muito gran- çado a falar do aquecimento global, estamos cla- dados mais recentes do planeta. A sua conclusão: anteriormente não tínhamos considerado e que, des de dióxido de carbono, o principal culpado ramente à beira de uma série de pontos de infle- “Se a humanidade deseja conservar o planeta em na realidade, não queríamos ter em conta, apesar do aquecimento global que, tal como o pico do xão. Os dados prevêem um aumento rápido dos que a civilização se desenvolveu e ao qual a vida de serem cada vez mais evidentes. Há vinte anos, petróleo, está a chegar muito mais rapidamente períodos secos (porque o ar quente retém mais na Terra está adaptada […], será preciso reduzir os poucos que pensavam no aquecimento global do que gostaríamos. vapor de água do que o ar frio) e o consequente o CO2 dos seus actuais 385 ppm para um máxi- viam-no como uma ameaça improvável e longín- No Verão de 2007, por exemplo, o Árctico aumento de chuvas torrenciais e inundações (o mo de 350 ppm.” O número actual é demasiado qua. No início do novo século, a maioria das pes- derreteu. No final do Verão, havia cerca de 22% que sobe tem de descer), assim como uma ex- elevado e é por isso que o Árctico está a fundir. soas não tinha ouvido falar do pico do petróleo. menos de gelo marinho do que em toda a histó- pansão chocante dos mosquitos transmissores O aquecimento do planeta não é um problema Agora os dois conceitos são as duas faces de uma ria desde que existem registos. Um degelo seme- de doenças e uma redução drástica dos glaciares para o futuro, mas sim uma crise do presente. ameaça cada vez mais premente, que limita as alter- lhante, no Verão seguinte, abriu brevemente e de que dão de beber às cidades andinas ou ao sub- Instantaneamente, 350 converteu-se no nú- nativas num momento em que precisamos deses- forma simultânea as passagens do Noroeste e do continente da Índia. Talvez mais ominosos ainda mero mais importante do globo, o limiar da ân- peradamente delas. Se os analisarmos com Nordeste, o que deu pela primeira vez ao ser hu- são os dados sobre os grandes campos de gelo sia de todo um planeta. Voltar pouco a pouco cuidado, talvez nos mostrem a cara com que o mano a oportunidade de circum-navegar todo o da Gronelândia e do Oeste da Antárctida, que a esse nível exigirá adoptar alterações de uma futuro se nos apresenta: parte da energia que neces- Árctico em águas abertas. Este degelo antecipou-- nos estão a obrigar a redefinir a expressão “ve- magnitude difícil de imaginar. Segundo James sitamos esgotar-se-á e não poderemos usar o res- -se trinta anos às previsões efectuadas pelos mo- locidade glaciar”. Escavadas inferiormente por Hansen, em 2030 não se deveria queimar car- to sob risco de destruirmos a atmosfera. Será um delos informáticos do aquecimento global e foi mares cada vez mais quentes, as camadas geladas vão em nenhuma parte do planeta e, no mundo futuro muito diferente do que tínhamos pensado. uma confirmação de que estamos efectivamente estão a deslizar até ao oceano. Segundo estudos desenvolvido, a meta deveria ser atingida antes Um pouco de matemática mostrar-nos-á a a aquecer o planeta. Não há outra explicação. Pior recentes, um aumento de dois metros do nível dessa data. O abandono da economia dos com- causa. Alguns peritos prevêem que o consumo ainda: o degelo faz parte de uma cadeia de fenó- do mar está dentro da esfera de possibilidades no bustíveis fósseis implicará a perda de enormes mundial de energia aumentará 50% até 2030. menos retroalimentados que amplificam o aque- decurso deste século. Seria um duro teste para a investimentos em tecnologia antiga à qual ainda É um bom número redondo para resumir o dese- cimento: em vez do bonito manto de gelo que civilização porque converteria a maioria das ci- restam várias décadas de vida útil. Teremos de jo de frigoríficos, televisores, cubos de gelo, ham- cobria o Árctico, um espelho que reflectia 80% da dades costeiras do mundo num equivalente de deixar de resgatar instituições financeiras para búrgueres e motocicletas das pessoas de todo o radiação solar incidente e a devolvia ao espaço, Nova Orleães após o furacão Katrina, e grande começar a resgatar centrais térmicas de carvão. planeta e talvez também de um pequeno aparelho de repente temos grandes extensões azuis de água parte das terras mais férteis em algo semelhan- E a menos que alguém tenha um plano para de ar condicionado nos trópicos. que absorvem 80% dos raios do sol. te ao delta do Ayerawaddy, em Myanmar, onde convencer o mundo de que na realidade não ne- O que não está claro é de onde sairá toda essa Nós pusemos o aquecimento em marcha, mas em 2008 o tufão Nargis inundou os arrozais com cessita de frigoríficos, também teremos de en- energia, uma vez que vivemos na época em que o agora a natureza encarregou-se do assunto e está água do mar. Esta perspectiva coloca em dúvida contrar outras fontes que nos ofereçam toda essa petróleo está a começar a esgotar-se. Em Novem- a trabalhar por sua conta. E este não é o único a actividade humana de uma maneira que nunca energia. Essa é a tarefa da nossa geração. 24  E N E RG I A e n e r g I A  25
  • 15. Soluções PODEMOS EUROPA ARMÉNIA 70 ISLÂNDIA 153 Consumo de carvão 1.172.462 LETÓNIA MOLDÁVIA ALBÂNIA 168 LIMPAR 110 117 LUXEMBURGO 153 SUÍÇA 171 BIELORRÚSSIA 230 LITUÂNIA 408 De 1980 a 2006, o consumo de CROÁCIA 915 NORUEGA 1.012 carvão aumentou dois terços, O CARVÃO? IRLANDA 2.908 SUÉCIA 3.484 PORTUGAL 5.476 igualando o ritmo do consumo total de energia. Na China, o uso de carvão triplicou. ESLOVÉNIA 5.230 MACEDÓNIA ARÁBIA 6.091 Como parte do plano para fomentar a independência energética e ÁSIA SINGAPURA SAUDITA ÁUSTRIA 3.488.879 7 21 GEÓRGIA 5.936 CONSUMO TOTAL DE CARVÃO 23 FINLÂNDIA SÍRIA MILHÕES DE TONELADAS, 2006 combater as alterações climáticas, Barack Obama prometeu 9 AFEGANISTÃO 33 BÉLGICA 8.192 EUROPA BUTÃO 65 7.416 TAJIQUISTÃO 95 ÁSIA “desenvolver e aplicar tecnologia limpa para o uso do carvão”. No SRI LANKA 101 DINAMARCA 8.481 AMÉRICA DO NORTE ESLOVÁQUIA LAOS 120 8.390 ÁFRICA entanto, o prémio Nobel Al Gore e outros peritos argumentam que LÍBANO 200 AMÉRICA DO SUL HUNGRIA MYANMAR 239 BÓSNIA - 11.825 OCEÂNIA o conceito de “carvão limpo” é em si mesmo contraditório. Quem NEPAL 302 -HERZEGOVINA 9.124 HOLANDA AMÉRICA PANAMÁ EL BANGLADESH 700 12.338 tem razão? Tudo depende da definição de “limpo”. Essa fonte de DO NORTE 2 SALVADOR 2 QUIRGUÍZIA 907 1.090.368 COSTA IRÃO 1.930 RICA CUBA ESTÓNIA energia contém uma grande quantidade de contaminantes, em 2 30 JAMAICA 32 USBEQUISTÃO 3.050 14.454 NICARÁGUA 115 FRANÇA MONGÓLIA 5.693 ILHAS VIRGENS 22.827 especial dióxido de enxofre, azoto e vestígios de mercúrio. Há EUA 290 HONDURAS 130 PAQUISTÃO 7.539 ITÁLIA GUATEMALA 396 25.204 muito tempo que o enxofre é eliminado através da trituração e REPÚBLICA FILIPINAS 10.146 DOMINICANA 398 MÉXICO 19.105 BULGÁRIA MALÁSIA 11.923 27.901 lavagem do carvão antes da sua queima e do uso de filtros nas MALAWI NIGÉRIA ÁFRICA 2 CANADÁ ISRAEL 188.536 8 MOÇAMBIQUE 59.312 ROMÉNIA chaminés para captar os resíduos. Mediante os sistemas modernos NAMÍBIA MADAGÁSCAR 23 12.175 38.066 4 VIETNAME 10 18.705 ESPANHA de leito fluidizado, que queimam o carvão a temperaturas TANZÂNIA 68 INDONÉSIA 38.659 SENEGAL 160 21.837 SÉRVIA E QUÉNIA 140 MONTENEGRO relativamente baixas, reduzindo assim a formação de óxido de NÍGER 178 ESTADOS TAILÂNDIA 39.750 ZÂMBIA 171 28.641 REP. DEM. DO CONGO 306 UNIDOS REP. CHECA 1.010.554 azoto (smog), as centrais que usam este combustível eliminam SUAZILÂNDIA 220 COREIA DO NORTE 58.525 MAURÍCIA 330 ARGÉLIA 409 33.437 UCRÂNIA 95% ou mais dos contaminantes que causam chuva ácida. Talvez AMÉRICA URUGUAI ARGENTINA TAIWAN 66.095 DO SUL 3 822 BOTSWANA 938 63.539 EGIPTO 32.239 1.130 VENEZUELA isso seja “limpo” em comparação com os dados do passado, mas 70 CAZAQUISTÃO GRÉCIA PERU 66.799 1.140 COLÔMBIA ZIMBABWE 69.082 serve de pouco para neutralizar outra ameaça: o CO2, o elemento 4.011 3.266 REINO TURQUIA UNIDO que mais aquece o planeta. Os partidários do uso do carvão CHILE MARROCOS 78.299 67.320 4.732 4.625 apregoam agora o conceito de “captura e armazenamento do BRASIL 21.461 COREIA 85.378 POLÓNIA NOVA 140.434 OCEÂNIA FIJI 12 ZELÂNDA ÁFRICA SUL carbono”, que consiste em extrair o CO2, enviá-lo através de 145.325 3.135 176.548 JAPÃO NOVA 179.299 tubagens para uma área de acumulação e injectá-lo no subsolo, CALEDÓNIA 300 RÚSSIA ÍNDIA 223.571 499.601 um processo que poderia reduzir 90% das emissões de CO2. ALEMANHA Os críticos assinalam que a captura de carbono também reduz a 244.459 eficiência das centrais, o que aumenta a procura de combustível AUSTRÁLIA 141.878 em 50%. Obama disse que ainda não dispomos da tecnologia CHINA 2.355.783 necessária para limpar o carvão de maneira eficiente, mas o investimento de 150 mil milhões de dólares em tecnologias limpas previsto pelo seu governo poderia mudar as coisas. 26  E N E RG Í A Fonte do GRÁFICO: agência de informação de energia
  • 16. SOLUÇÕES O QUE É UMA REDE INTELIGENTE? O que aconteceria se todo o sangue do nosso corpo circulasse numa única direcção? Foi mais ou menos isso que sucedeu no “organismo eléctrico” dos países industrializados desde que se criou, há mais de um século, a rede eléctrica: um gigantesco sistema unidireccional de centrais que alimentam subestações, a partir das quais esse sangue vital é canalizado através de linhas de alta tensão (à direita) até à economia, mas com escassa capacidade de reabastecer ou de conhecer as suas pulsações durante o trajecto. Contudo, tudo isso está a mudar, porque a procura de eficiência energética empurra as companhias para a construção de uma rede “inteligente”. Em vez do sistema antiquado que simplesmente distribui energia aos utilizadores, uma rede inteligente permite que estes produzam parte da sua electricidade (e inclusiva- mente devolvam a restante ao sistema, para que outros a usem) mediante instalações domésticas de energia eólica e solar, bem como outros microgeradores. Uma rede inteligente caracteriza-se, além disso, pela capacidade de calcular a “distribuição”, como acontece com a Internet, que se ajusta em função das necessidades do momento. Por exemplo, poderia programar-se uma máquina de lavar para se ligar quando a rede indicasse que está num momento de baixa procura, quando o preço do consumo é menor. Se uma central sofresse uma avaria, pequenas “ilhas” de distribuição da potência (desde painéis fotovol- taicos nos telhados das casas até células de armazenamento de energia) poderiam ocupar o seu lugar, pelo menos para manter os serviços mínimos como os semáforos nas ruas e os quartéis de bombeiros. O resultado final seria uma rede que faria coincidir o fornecimento com a procura, o que aumentaria a eficiência e reduziria a necessidade de construir mais centrais eléctricas. 28  E N E RGi A sam robinson / getty images e n e r g i A  29
  • 17. A ENERGIA NAS NOSSAS VIDAS um gesto simples: carregamos num botão ou num inter- ruptor e acende-se a lâmpada, o televisor, o termóstato ou o carro. Acções simples ao alcance da mão, multiplicadas por milhões de mãos, que bebem de longínquas fontes de ener- gia como centrais eléctricas de carvão, refinarias de petróleo, centrais nucleares ou turbinas hidroeléctricas. Para o bem ou para o mal, essas fontes fazem funcionar grande parte do nosso mundo. Custos ambientais à parte, o preço económi- co de carregar no interruptor varia segundo as oscilações do preço das matérias-primas, os problemas de transporte ou de transmissão e outras questões políticas que escapam ao nosso controlo. As instalações da BASF No entanto, quase tudo o que requer energia (as casas, os em Ludwigshafen escritórios, as fábricas, os tractores e os automóveis) poderia (Alemanha) empregam 33 mil trabalhadores e funcionar de maneira mais económica e eficiente, aplicando consomem um volume de um pouco de senso comum. Isolar melhor as casas, ajustar energia que poderia iluminar dois milhões os termóstatos, levantar o pé do acelerador. Sem esquecer as de habitações e aquecer técnicas inovadoras e os esboços avançados que estão a sur- outro meio milhão. A BASF actua em todo o sector gir no vasto horizonte da energia, desde a sua oferta e pro- energético: perfura em cura até à sua conservação. busca de petróleo, produz polímeros plásticos e uma Sucede com a energia o mesmo que com as calorias. miríade de outros produtos É necessário consumi-la, mas com prudência. Consumamos e desenvolve projectos verdes que favorecem o apenas o necessário, tomemos decisões saudáveis, reduzamos desenvolvimento ao mínimo o desperdício. Vivamos bem. sustentável. 30  E N E RG I A RGi BASF e n e r g I A  31 i