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Carlos Drummond de Andrade
Sentimento do Mundo,
1940, 2.ª fase da
poesia modernista no
Brasil, 28 poemas
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Características básicas
 Versos livres e brancos,
estrofação irregular
 Ritmo determinado pelo
impulso sentimental do eu
lírico
rafabebum.blogspot.com
 A medida dos versos segue agora o impulso
lírico, o soluço sentimental do poeta
rafabebum.blogspot.com
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem sequer as minhas dores.
(O texto “O Operário no Mar” é prosa poética)
 Às vezes um poema com uma quase
métrica
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Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
Características básicas
 Tom elevado e sério
substitui o vulgar e o
grotesco
 Compromisso com o
instante social
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Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
9 temas de Drummond
 O indivíduo “retorcido”
 Terra natal
 Família
 “Amigos”
 Choque social
 Amor “amaro”
 Metalinguagem
 Exercícios lúdicos
 Reflexões metafísicas
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A precariedade do indivíduo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
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Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
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Eu tenho um coração maior que o mundo,
tu, formosa Marília, bem o sabes;
um coração, e basta,
onde tu mesma cabes.
(Tomás Antônio Gonzaga)
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Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo.
Mais vasto é meu coração.
(livro Alguma Poesia)
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Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas
[livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
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Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
("Mundo Grande", Sentimento do mundo)
O social
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Poesia contemplada
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Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
(“Mãos Dadas”)
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Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
[presentes,
a vida presente.
Vista da janela da casa de Drummond
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A terra natal
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Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
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De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
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Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
(“Confidência do Itabirano”)
Parede do quarto de Drummond
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A família
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Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.
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Amigos
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Esse incessante morrer
que nos teus versos encontro
é tua vida, poeta,
e por ele te comunicas
com o mundo em que te esvais.
debruço-me em teus poemas
e neles percebo as ilhas
em que nem tu nem nós habitamos
(ou jamais habitaremos!)
(“Ode ao Cinquentenário do Poeta Brasileiro”)
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Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de
Moraes, Manuel Bandeira, Mario Quintana e
Paulo Mendes Campos
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A morte, a consideração
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É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
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É preciso viver com os homens,
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Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
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Meus amigos foram às ilhas.
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Então, meu coração também pode crescer.
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Sentimento do mundo

  • 1. Carlos Drummond de Andrade Sentimento do Mundo, 1940, 2.ª fase da poesia modernista no Brasil, 28 poemas rafabebum.blogspot.com
  • 2. Características básicas  Versos livres e brancos, estrofação irregular  Ritmo determinado pelo impulso sentimental do eu lírico rafabebum.blogspot.com
  • 3.  A medida dos versos segue agora o impulso lírico, o soluço sentimental do poeta rafabebum.blogspot.com Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor. Nele não cabem sequer as minhas dores. (O texto “O Operário no Mar” é prosa poética)
  • 4.  Às vezes um poema com uma quase métrica rafabebum.blogspot.com Dentaduras duplas! Inda não sou bem velho para merecer-vos... Há que contentar-me com uma ponte móvel e esparsas coroas.
  • 5. Características básicas  Tom elevado e sério substitui o vulgar e o grotesco  Compromisso com o instante social rafabebum.blogspot.com Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.
  • 6. 9 temas de Drummond  O indivíduo “retorcido”  Terra natal  Família  “Amigos”  Choque social  Amor “amaro”  Metalinguagem  Exercícios lúdicos  Reflexões metafísicas rafabebum.blogspot.com
  • 7. A precariedade do indivíduo Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes. rafabebum.blogspot.com
  • 8. Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis. Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer esse amanhecer mais noite que a noite. rafabebum.blogspot.com
  • 9. Eu tenho um coração maior que o mundo, tu, formosa Marília, bem o sabes; um coração, e basta, onde tu mesma cabes. (Tomás Antônio Gonzaga) rafabebum.blogspot.com
  • 10. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo. Mais vasto é meu coração. (livro Alguma Poesia) rafabebum.blogspot.com
  • 12. rafabebum.blogspot.com Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo. Por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas [livrarias: preciso de todos. Sim, meu coração é muito pequeno. Só agora vejo que nele não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua. A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. Mas também a rua não cabe todos os homens. A rua é menor que o mundo. O mundo é grande.
  • 13. rafabebum.blogspot.com Outrora escutei os anjos, as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre. ("Mundo Grande", Sentimento do mundo) O social
  • 16. Poesia contemplada rafabebum.blogspot.com Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. (“Mãos Dadas”)
  • 17. rafabebum.blogspot.com Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens [presentes, a vida presente. Vista da janela da casa de Drummond
  • 20. A terra natal rafabebum.blogspot.com Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas.
  • 21. rafabebum.blogspot.com De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa...
  • 22. rafabebum.blogspot.com Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! (“Confidência do Itabirano”) Parede do quarto de Drummond
  • 25. A família rafabebum.blogspot.com Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca. Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava que rebentava daquelas páginas. (“Os Mortos de Sobrecasaca”)
  • 28. rafabebum.blogspot.com Esse incessante morrer que nos teus versos encontro é tua vida, poeta, e por ele te comunicas com o mundo em que te esvais. debruço-me em teus poemas e neles percebo as ilhas em que nem tu nem nós habitamos (ou jamais habitaremos!) (“Ode ao Cinquentenário do Poeta Brasileiro”)
  • 29. rafabebum.blogspot.com Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mario Quintana e Paulo Mendes Campos
  • 31. A morte, a consideração existencial rafabebum.blogspot.com É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbedo, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores.
  • 32. rafabebum.blogspot.com É preciso viver com os homens, é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar o FIM DO MUNDO. (“Poema da Necessidade”) Reificação Aporia
  • 33. rafabebum.blogspot.com Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. (...) Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan. (“Elegia 1938”)
  • 34. O choque social e a Esperança rafabebum.blogspot.com Meus amigos foram às ilhas. Ilhas perdem o homem. Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias, entre o fogo e o amor.
  • 35. rafabebum.blogspot.com Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. — Ó vida futura! nós te criaremos (“Mundo Grande”)