1. SEMINÁRIO MARIA MATER ECCLESIÆ DO BRASIL
BACHARELADO EM TEOLOGIA
A REFORMA DE BENTO XVI
GIAN PAULO RANGEL RUZZI
ITAPECERICA DA SERRA/2010
2. GIAN PAULO RANGEL RUZZI
A REFORMA DE BENTO XV
Monografia apresentada como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Teologia pelo
Seminário Maria Mater Ecclesiæ do Brasil, sob a
orientação do Profº Pe. Celso Nogueira L.C.
ITAPECERICA DA SERRA/2010
3. APROVAÇÃO DO PROFESSOR
Comentário e avaliação do professor:
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Itapecerica da Serra, ___ de _________________________ de 2010.
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Assinatura do Professor
4. “Toda a minha trajetória espiritual pode ser encontrada neste trabalho sobre a liturgia, intenso
não apenas por si, mas por tratar-se da questão fundamental da relação entre Deus e o mundo,
o homem e seu criador, a religião e a vida pública. É na liturgia que o cristão encontra a Igreja
como tal, em ato, como crente e mediadora da graça. Todo o resto é secundário. Assim afir-
mou o Vaticano II: a liturgia é verdadeiramente o centro do qual deriva o resto da vida cristã”.
(Joseph Ratzinger, Davanti al Protagonista, alle radici dela liturgia)
5. RESUMO
Como téologo, o Card. Ratzinger possui vasta bibliografia sobre liturgia. De fato, ao editar
sua Opera Omnia, decidiu que estes escritos, devido a centralidade em seu pensamento teoló-
gico e, conforme afirma o Vaticano II, na própria vida da Igreja (Sacrossanctum Concilum §
10), são os primeiros a serem publicados. Defende a ideia de que a correta ‘forma’ da Cele-
bração Eucarística é a conjugação de sacrifício e banquete. Entretanto, entendeu que a concre-
ta realização da reforma litúrgica pós-conciliar privilegiou a dimensão do banquete e, um dos
sinais deste equívoco foi a retirada do crucifixo do centro do altar em muitas Igrejas. Propõe,
ainda como teólogo, uma ‘reforma da reforma’, que não consiste em abruptas rupturas ou
mudanças dramáticas, mas, principalmente, num novo movimento litúrgico que estimule o
desenvolvimento de nova espiritualidade litúrgica e estudo da liturgia. Em termos práticos,
sugere também o que ele mesmo faz em suas celebrações já como Papa Bento XVI, portanto,
modelo para liturgia romana, ou seja, a imediata reposição da cruz no centro do altar, servindo
como ponto fixo para olhar tanto do sacerdote como da comunidade.
6. ABSTRACT
Como teólogo, el Car. Ratzinger tiene extensa bibliografía litúrgica. De hecho, en la edición
de su Opera Omnia decidió que estos escritos, debido la centralidad en su pensamiento teoló-
gico y, de acuerdo con el Vaticano II, en la vida misma de la Iglesia (Sacrosanctum Concilum
§ 10), son los primeros en ser publicados. Tiene claro que la correcta ‘forma’ de la Celebra-
ción Eucarística sea la combinación entre sacrificio y banquete. Sin embargo, entiende que la
realización concreta de la reforma litúrgica post-conciliar favoreció la dimensión del banquete
y uno de los signos de este error fue la retirada de la cruz desde el centro del altar en muchas
Iglesias. Propone, aún como teólogo, un ‘reformar la reforma’ que no consiste en saltos brus-
cos o cambios drásticos, pero sobre todo en un nuevo movimiento litúrgico que fomente el
desarrollo de nueva espiritualidad litúrgica y el estudio de la liturgia. En términos prácticos,
sugiere lo que él mismo hace en las sus celebraciones ya como Papa Benedicto XVI, por lo
tanto modelo de la liturgia romana, es decir, la reposición inmediata de la cruz en el centro del
altar, que sirve como un punto fijo para la mirarada al igual que el sacerdote y de la comuni-
dad.
7. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9
1 A FORMA DA LITURGIA CATÓLICA ......................................................................... 10
1.1 Uma nova categoria na Liturgia ..................................................................................... 10
1.2 A proposta de Guardini: a forma da Missa é a Ceia ou o Banquete ................................ 11
1.2.1 Implicações da proposta de Guardini .......................................................................... 11
1.2.2 Problema dogmático da ‘forma’ da Missa exclusivamente como ceia ou banquete ...... 12
1.3 A proposta do Cardeal Ratzinger para a ‘forma’ da Missa: o Sacrifício e o Banquete ..... 13
1.3.1 O relato da instituição .................................................................................................. 14
1.3.2 O verdadeiro sentido de sacrifício no culto cristão ....................................................... 15
1.3.3 O culto racional ........................................................................................................... 16
1.3.4 Sacrifício e Banquete: termos convergentes ................................................................. 17
2 A ‘REFORMA DA REFORMA’ SEGUNDO BENTO XVI.............................................. 18
2.1 A problemática em torno da reforma litúrgica ................................................................ 18
2.1.1 As prescrições da Sacrosanctum Concilium ................................................................. 19
2.1.2 A criatividade litúrgica ............................................................................................... 20
2.1.3 A hermenêutica da continuidade e a hermenêutica da descontinuidade ....................... 21
2.2 O sentido da ‘reforma da reforma’ .................................................................................. 22
8. 2.2.1 Distorções das intenções de Bento XVI ....................................................................... 23
2.2.2 Proposta de Bento XVI: um novo movimento litúrgico ................................................ 25
2.3 Medidas concretas já tomadas em vista de um novo movimento litúrgico ....................... 26
3 A ORIENTAÇÃO LITÚRGICA ...................................................................................... 28
3.1 Orientação na liturgia .................................................................................................... 28
3.1.1 Dimensão escatológica da orientação na liturgia ......................................................... 30
3.1.2 O Oriente Litúrgico ..................................................................................................... 30
3.1.3 Dimensão cósmica da liturgia e Orientação Litúrgica .................................................. 31
3.1.4 Catolicidade da liturgia e Orientação Litúrgica ............................................................ 32
3.2 A legislação vigente e a Orientação Litúrgica ................................................................. 32
3.3 A proposta de Bento XVI ............................................................................................... 34
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 38
9. 9
INTRODUÇÃO
A liturgia foi um dos grandes temas que mobilizaram os católicos no século XX. O desenvol-
vimento do movimento litúrgico na Bélgica, França e inclusive no Brasil, acenderam animo-
sidades entre aqueles que visavam uma liturgia ‘mais viva’ e aqueles que defendiam a perma-
nência da tradição estabelecida por Pio V1.
As lutas interpretativas em torno da Sacosanctum Concilum, não só dela, mas de todos os tex-
tos conciliares, desencadeou abusos na prática litúrgica que geraram, por parte muitos, um
olhar negativo e, em alguns casos, até o rechaço em relação a todo o Concílio 2.
Esta tese quer demonstrar a continuidade que o Santo Padre observa com insistência entre as
formas ‘pré’ e ‘pós’ conciliares do Rito Romano e sua proposta em como corrigir alguns
equívocos, não no que concerne à letra em si, tanto do Missal, tanto como, muito menos, de
qualquer outro documento magisterial recente sobre a liturgia, mas sim na práxis celebrativa e
seus pressupostos e implicações teológicas.
O primeiro capítulo aborda uma novidade na teologia litúrgica proposta pelo Pe. Guardini, o
conceito de ‘forma fundamental’ da Celebração Eucarística, suas implicações e influências na
teologia posterior.
O segundo capítulo apresenta a proposta do Santo Padre de uma ‘reforma da reforma’, suas
interpretações equivocadas e seu verdadeiro sentido desejado pelo Sumo Pontífice.
Em sequencia, a terceira parte deste estudo desenvolve o tema da Orientação Litúrgica e seu
significado, concluindo com uma nova proposta, no mesmo sentido de uma ‘reforma da re-
forma’, feita pelo então Card. Ratzinger em seu famoso ‘Introdução ao espírito da Liturgia’.
1
Cf. A reforma de Bento XVI entre inovação e tradição. Disponível em:
http://perfasetpernefas.blogspot.com/2009/06/reforma-de-bento-xvi-entre-inovacao-e.html. Acesso em: 05 de
jun. 2010.
2
Ibidem.
10. 10
1 A FORMA DA LITURGIA CATÓLICA
1.1 Uma nova categoria na Liturgia
A teologia litúrgica experimentou um notável desenvolvimento graças ao Movimento Litúr-
gico surgido em meados do século XIX com a restauração dos mosteiros beneditinos na
França. As publicações de Guérange, Beauduin, Casel, Guardini, Jungmann, Bouyer, e ou-
tros, favoreceram a redescoberta da centralidade da Liturgia na vida da Igreja 3, o que culmi-
nou na reforma do rito romano desejada pelo Concílio Vaticano II4.
Os beneditinos Beauduin e Casel formularam os primeiros esboços de definição para litur-
gia5, mas somente Pio XII precisou-a em sua magistral Mediator Dei,– reafirmada pelo Cate-
cismo da Igreja Católica6 – da seguinte forma: “ela (a liturgia) constitui o culto público inte-
gral do místico Corpo de Jesus Cristo, isto é, da cabeça e dos seus membros”7.
Além da definição, outra categoria foi proposta ao debate teológico8: a ‘forma’ da Celebração
Eucarística. Este novo olhar sobre a liturgia inaugura seu estatuto epistemológico moderno9
e, segundo o Card. Ratzinger, “é a chave para alcançar a essência do evento eucarístico”10.
Guardini afirma que toda ação litúrgica contém uma grundgestal, que significa ‘figura fun-
damental’ ou ‘forma fundamental’11. O dicionário Houaiss define o verbete ‘forma’ como a
3
Cf. SACROSANCTUM CONCILIUM. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. 3ª ed. São Paulo:
Paulus. 2004. § 10. p. 39.
4
Ibidem. § 21. p. 43.
5
Cf. DICIONÁRIO DE LITURGIA. Trad. Isabel Fontes Leal Ferreira. São Paulo: Paulinas, 1992. p. 640.
6
Cf. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2000. p.302. §1070.
7
DENZINGER, Heinrich; HÜNERMANN, Petrus. Compêndio dos símbolos: definições e declarações de fé e
moral. Trad. José Marino e Johan Konings. São Paulo: Paulinas: Loyola, 2007. § 3841. p. 840.
8
GUARDINI, Romano. apud HAUKE, Manfred. A santa missa, sacrifício da nova aliança. Disponível em:
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=santa-missa-
sacrificio&lang=bra#_ftn1. Acesso em: 20 de ago. 2010.
9
Cf. RATZINGER, Joseph. In: GALEOTTI, Alessandro. (Org.). Davanti al protagonista – alle radici dela
liturgia. Trad. Ellero Babini; Carlo Fedeli. Milão: Cantagalli, 2009. p. 96.
10
Ibidem.
11. 11
“configuração física característica dos seres e das coisas, como decorrência da estruturação
das suas partes”12. Em sentido platônico, consiste “em cada uma das realidades transcen-
dentes que contêm a essência imaterial dos objetos concretos”13 e, no aristotelismo, em um
“princípio que determina, modela ou delineia a matéria bruta, fazendo com que cada ser
adquira uma identidade imagética, um traçado definido, uma configuração característica”14.
Nas acepções do termo encontram-se três elementos que, relacionados entre si, ajudam a en-
tender em que consiste a categoria ‘forma’ para a liturgia: as partes do objeto, o conteúdo es-
sencial e a identidade. A forma é, portanto, o conteúdo fenomenológico 15 da Celebração da
Eucaristia.
1.2 A proposta de Guardini: a forma da Missa é a Ceia ou o Banquete
Em que consiste afinal a estrutura fundamental, ou forma da Missa? Para encontrá-la Guardini
percorreu uma estrada muito simples: a eucaristia exemplar, a instituição da Eucaristia opera-
da pelo próprio Jesus16. Portanto, conclui que “a forma última da Eucaristia é o banquete”17.
1.2.1 Implicações da proposta de Guardini
Os teólogos seguidores das ideias de Guardini afirmavam que ‘sacrifício’ corresponde ao ca-
ráter dogmático da missa18, enquanto que seu caráter celebrativo, ou seja, ‘formal’ correspon-
dia exclusivamente à ‘ceia’ ou ‘banquete’.
11
Cf. HAUKE, M. Acesso em: 20 de ago. 2010.
12
DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Instituto Antônio Houaiss. Objetiva, 2007. 1 CD.
13
Ibidem.
14
Ibidem.
15
A Fenomenologia era objeto recorrente da filosofia dos principais autores do final século XIX e início do
século XX. Não é intenção sugerir os pressupostos filosóficos das personagens do Movimento Litúrgico, contu-
do, ao que parece, algo da epistemologia kantiana perpassa suas obras.
16
Cf. RATZINGER, J. 2009. p. 96.
17
Ibidem.
12. 12
Ora, “o problema não está na devida redescoberta da categoria de banquete, mas na diferen-
ça entre ‘interno’ e ‘externo’. Numa correta relação entre interno e externo, a realidade inte-
rior e a forma exterior deveriam corresponder-se mutuamente”19. Uma vez que, segundo o
mesmo Guardini, “a liturgia é por essência e deve sê-lo por antonomásia a lex orandi”20 e
que “a lex orandi, ou seja, a liturgia, é, por sua vez, segundo reza um antigo aforismo clássi-
co a lex credendi, ou seja, a norma da fé”21, não deve haver discordância entre ‘o que se ce-
lebra’ e ‘como se celebra’. Se toda ação ritual, simbólica, formal, faz referência unicamente
ao banquete, a lex orandi deixa de corresponder perfeitamente à lex credendi. Cria-se uma
ruptura entre liturgia e dogma.
1.2.2 Problema dogmático da ‘forma’ da Missa exclusivamente como ceia ou banquete
Não obstante a cisão entre o conteúdo dogmático e o conteúdo celebrativo da Eucaristia, as
suposições de Guardini influenciaram a comissão que elaborou missal pós-Conciliar. A pri-
meira redação da introdução ao missal de 1969 chegou a descrever a Santa Missa como a
‘Ceia do Senhor’22. “O Cardeal Ratzinger sublinha justamente que a distinção entre sacrifí-
cio e banquete, entre forma e conteúdo, entre dogmática e ciência litúrgica foi o problema
central da reforma litúrgica”23.
A tese da ‘forma fundamental’ da Eucaristia exclusivamente como banquete nega necessaria-
mente o caráter sacrificial da Missa e esta era justamente a posição de Lutero condenada pelo
Concílio de Trento24.
18
Cf. HAUKE, M. Acesso em: 20 de ago. 2010.
19
Ibidem.
20
GUARDINI, Romano. El espíritu de la liturgia. Trad. Josep Urdeix. 2ª ed. Barcelona: Centre de Pastoral
Litúrgica, 2006. p. 9.
21
Ibidem. p. 10.
22
Cf. HAUKE, M. Acesso em: 20 de ago. 2010.
23
Ibidem.
24
Cf. RATZINGER, J. 2009. p. 97.
13. 13
De fato, “a forma não é constituída simplesmente de cerimônias puramente casuais, mas é
uma manifestação substancial do conteúdo em seu núcleo insubstituível”25 em que “a nature-
za sacrifical do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente
da cruz ou como uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário26”.
1.3 A proposta do Cardeal Ratzinger para a ‘forma’ da Missa: o Sacrifício e o Banquete
“Apesar do Senhor ter oferecido a novidade do culto cristão no sentido de uma ceia judaica,
ele não ordenou a reiteração da ceia em si, mas sim do ‘novo’ que ela constituía”27. “A últi-
ma ceia é o fundamento de toda liturgia cristã, mas ela mesma não é ainda uma liturgia cris-
tã,... (ela) funda o conteúdo dogmático da Eucaristia, mas não sua forma litúrgica” 28.
Estas afirmações do Card. Ratzinger assinalam que, além do problema dogmático, a limitação
da ‘forma fundamental’ da Eucaristia à ceia carrega consigo uma oposição à intenção de Jesus
e à prática das comunidades primitivas. A liturgia tomou sua forma no seio destas comunida-
des e “a preocupação principal daqueles cristãos era realizar o mistério de uma ação simbó-
lica, e não a observância estrita do relato da instituição”29.
Entretanto, o aspecto de refeição na liturgia não pode simplesmente ser ignorado, pois “o
próprio Cristo fez uma ligação explícita do cerimonial da Última Ceia com Seu iminente sa-
crifício do Calvário, oferecendo Seu Corpo e Sangue assim como fez Melquisedeque com o
pão e o vinho”30. Também os primeiros cristãos “sabiam que o sacrifício da Páscoa devia ser
25
RATZINGER, J. 2009. p. 97.
26
ECCLESIA DE EUCHARISTIA. In: DENZINGER, Heinrich; HÜNERMANN, Petrus. op. cit. p. 1232 § 5092
27
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. Trad. Jana Almeida Olsansky. 2ª. ed. Águeda:
Paulinas, 2006. p. 58.
28
Idem. op. cit.. p. 102.
29
JUNG, C.G. O símbolo da transformação na missa. Trad. Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha. 4ª ed. Petrópo-
lis: Vozes, 2007. p. 9
30
NASH, Thomas In: HAHN, Scott; FLAHERTY. Regis J. (Org.). A sagrada escritura no mistério da santa
missa: razões para ser católico. Trad. Leide Severina Costa. São Paulo: Palavra & Prece, 2008. p. 84.
14. 14
celebrado continuamente, ou seja, como ‘um memorial perpétua’ (Ex 12, 14.17.24), que re-
queria não só oferecer cordeiros a Deus, mas também em comê-los (cf. Ex 12, 5-9)”31. Embo-
ra a eucaristia não significasse uma simples repetição ritual, a dimensão de nutrimento do
Sêder de Pêssach no contexto da Última Ceia é um elemento de continuidade entre as duas
Alianças presente na Santa Missa. Neste sentido, o Catecismo da Igreja Católica afirma: “A
Missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o
sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor”32.
1.3.1 O relato da instituição
O relato mais antigo da instituição da Eucaristia está em 1Cor 11, 23-26.
Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor, o que vos transmiti: na noite em que foi en-
tregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é
o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo,
após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova Aliança em meu
sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim”. Todas as
vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor
até que ele venha.
No conceito de sacrifício misturam-se duas representações distintas: deipnon (δεῖπνον) e
thysia (θυσία). Thysia é o sacrifício ritual em que a vítima é imolada, consagrada e oferecida
em holocausto à divindade. Deipnon é a ceia daqueles que participam do sacrifício e comem o
que foi consagrado, isto é, um sacrificium (de sacrificare, tornar sagrado, consagrar) 33.
Tanto o sentido de ‘deipnon’ quanto o de ‘thysia’ já se encontram nas palavras da
instituição: τὸ σῶμα τὸ ὑπὲρ ὑµῶν = ‘o corpo que foi dado por vós’. Isto pode signi-
ficar: que vos foi dado para comer ou (de modo indireto) que foi dado por vós a
Deus. Graças ao conceito de ceia, a palavra ‘corpo’ logo assume o sentido de σάρξ =
carne (enquanto substância comestível)34.
Outra passagem aproxima a ideia de sacrifício à de refeição. Em 1Cor 10, 21b Paulo diz:
“Não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”. A palavra utilizada
31
NASH, T. 2008. p. 74.
32
CIC 1382.
33
Cf. JUNG, C.G. 2007. p. 2-3.
34
Ibidem. p. 3.
15. 15
neste versículo é mesa (τράπεζα) e não altar (θυσιαστήριον). No entanto, “mesa pode signifi-
car ‘altar’, se o contexto é claramente de um sacrifício. Paulo (...) está falando em comer o
que foi imolado”35.
O relato bíblico da instituição da Eucaristia e a teologia paulina propõem uma relação de
identidade entre os conceitos de sacrifício e banquete.
1.3.2 O verdadeiro sentido de sacrifício no culto cristão
“O fato de que se possa não reconhecer um sacrifício na Eucaristia (...) está essencialmente
na questão de saber o que se entende por sacrifício”36. “Considera-se comumente o sacrifício
como a destruição de uma realidade preciosa aos olhos do homem; destruindo-a, ele quer
consagrar esta realidade a Deus (...). Todavia, uma destruição não honra a Deus”37.
O sentido do sacrifício na economia da salvação está intimamente ligado ao movimento de
exitus e reditus. Em princípio, exitus não é a origem da miséria do mundo, mas algo comple-
tamente positivo. Exitus é o livre ato de criação Divina: tudo que existe provém de Deus38. Já
“percurso do reditus significa salvação, e a salvação significa libertar-se da finitude que é,
em si, o autêntico peso de nosso ser”39. Com efeito, o exitus visa o reditus. O homem é criado
por Deus para comunhão com Ele.
A dimensão expiatória do sacrifício é evidente, “a teologia do Novo Testamento (...) dá preci-
samente a entender que o episódio aparentemente profano da crucifixão de Cristo é um sacri-
fício de expiação, um ato salvífico do amor reconciliador do Deus feito homem”40.
35
NASH, T. op. cit. p. 75.
36
RATZINGER, J. 2009. p. 135.
37
Ibidem. p. 139.
38
Cf. Idem. 2006. p. 23.
39
Ibidem. p. 22.
40
Idem. op. cit. p. 138.
16. 16
Existe, contudo, outra dimensão no sacrifício, não apenas de restauração, mas de transforma-
ção do homem. “A humanidade que, transformada em amor, diviniza a criação, transferindo
assim o Universo para Deus: Deus tudo em todos (1Cor, 15, 28) – essa é finalidade do mun-
do, essa é a natureza do ‘sacrifício’ e do culto”41.
“Em que consiste então o sacrifício? Não na destruição, mas na transformação do homem
(...), na conformação do homem a Deus, em sua Theiosis”42,“tornamo-nos não apenas cris-
tãos, mas o próprio Cristo”43.
1.3.3 O culto racional
Dado que a lex orandi é a lex credendi, “a oração litúrgica está embebida de dogma e vivifi-
cada poderosamente por ele”44. Deduz-se, portanto, uma íntima conexão entre banquete, sa-
crifício, expiação e divinização do homem na forma da Eucaristia. Esta íntima conexão é o
próprio Mistério que não está contido nem pressuposto no conceito de deipnon e de thysia 45.
A partir da ideia de transformação da substância, a antiguidade tardia aprofundou o conceito
de sacrifício através de uma expressão que entrou para o cânon romano com a fórmula de
oblatio rationabilis46. “O sacrifício à divindade não vem somente da oferta de dons, mas
também da autodoação do Espírito que encontra a própria forma na palavra”47. Desta for-
ma, “a oração eucarística constitui um ingresso na oração de Jesus Cristo, um ingresso da
41
RATZINGER, J. 2006. p. 20.
42
Ibidem. p. 140.
43
SACRAMENTUM CARITATIS. Exortação Apostólica Pós-Sinodal. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 59. § 36.
44
GUARDINI, R. 2006. p. 10.
45
JUNG, C.G. 2007. p. 4
46
λογικὴν λατρείαν, logiké latreía (Rom 12, 1)
47
RATZINGER, J. 2009. p. 99.
17. 17
Igreja no Logos, o verbo do Pai, um ingresso da Igreja na autodoação do Logos ao Pai que
na cruz é transformada contemporaneamente na oferta de toda humanidade ao Pai”48.
Isto significa que a verdadeira adoração, o verdadeiro sacrifício, está na comunhão com Deus.
Os dons ofertados na Missa são transformados, pela ação do Espírito, no Corpo e Sangue de
Jesus Cristo, dados como verdadeira comida e verdadeira bebida. O Pão e o Vinho – Corpo e
Sangue – transformam e elevam, por sua vez, a natureza humana, tornando-a um sacrifício
agradável a Deus. Este é o verdadeiro loghikè thysia – sacrifício consciente, (Rm 12,1), nisto
consiste a loghkè latreia, serviço divino segundo a palavra, ou seja, segundo a razão 49.
1.3.4 Sacrifício e Banquete: termos convergentes
O culto cristão conjuga em sua essência e em sua ‘forma’ duas dimensões aparentemente
opostas: o banquete e o sacrifício. Certamente “a liturgia tem por sua natureza o caráter de
festa”50, mas um tipo particular de festa, de cunho escatológico, uma vez que “é, por sua na-
tureza, festa da ressurreição, Mysterium Paschae, que, enquanto tal, carrega dentro de si o
mistério da cruz, premissa da ressurreição”51. “É essa a verdadeira substância e grandeza
da celebração eucarística; ela é sempre mais que simplesmente ceia – ela é ser arrebatado
para simultaneidade com o mistério de Pascha Cristo”52. Logo, na ‘forma’ da celebração
Eucarística ceia e sacrifício “não divergem, mas um converge ao outro e se determinam reci-
procamente”53.
48
RATZINGER, J. 2009. p. 99.
49
Cf. Ibdidem. 144-145.
50
Ibidem. p. 82.
51
Ibidem. p. 85.
52
Idem. 2006. p. 43-44.
53
Idem. op. cit. p. 100.
18. 18
2 A ‘REFORMA DA REFORMA’ SEGUNDO BENTO XVI
2.1 A problemática em torno da reforma litúrgica
No célebre discurso à Cúria Romana de 22 de dezembro de 2005 o Papa Bento XVI expôs o
panorama sobre a aceitação do Concílio Vaticano II e as disputas que se multiplicaram no
interior da Igreja após seu encerramento.
Qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido de modo correcto? O que, na recep-
ção do Concílio, foi bom, o que foi insuficiente ou errado? O que ainda deve ser fei-
to? Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio teve
lugar de modo bastante difícil, mesmo que não se deseje aplicar àquilo que aconte-
ceu nestes anos a descrição que o grande Doutor da Igreja, São Basílio, faz da situa-
ção da Igreja depois do Concílio de Niceia: ele compara-a com uma batalha naval na
escuridão da tempestade, dizendo entre outras coisas: ‘O grito rouco daqueles que,
pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados incompreensíveis e
o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase toda a Igreja falsifi-
cando, por excesso ou por defeito, a recta doutrina da fé...’54.
Segundo o Card. Stickler – perito da Comissão Conciliar para a Liturgia e especialista em
direito canônico – a “edição final do novo Missal Romano não correspondia aos textos Con-
ciliares, (...) continha muita coisa que ampliava, mudava, e até ia diretamente contra as de-
terminações Conciliares”55.
As contundentes críticas de influentes cardeais e bispos, como o Card. Ottaviani, Card. Bacci,
Card. Antonelli, D. Lefebvre, entre outros, ainda hoje são repetidas por significativa parcela
de fiéis. Graves acusações foram feitas à comissão responsável pela redação do novo missal –
a famosa Consilium – principalmente à pessoa de seu secretário, Pe. Bugnini. Até as Igrejas
54
BENTO XVI. Discurso do papa Bento XVI aos cardeais, arcebispos e prelados da cúria romana na apre-
sentação dos votos de natal. Disponível em:
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2005/december/documents/hf_ben_xvi_spe_20051222
_roman-curia_po.html. Acesso em: 20 de ago. 2010.
55
STICKLER, Alfons. Die heilige Liturgie. Disponível em:
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=concilio_novus_ordo&lang=bra.
Acesso em: 20 de ago. 2010.
19. 19
Orientais manifestaram seu desconforto com as mudanças na liturgia56, uma vez que o núcleo
da reforma atingiu justamente os pontos em comum com estas famílias litúrgicas57.
2.1.1 As prescrições da Sacrosanctum Concilium
Os fundamentos teológicos para a reforma do rito romano estão, sobretudo, no artigo 2 da
Sacrosanctum Concilium. Nele é estabelecido como a liturgia deveria expressar a natureza
terreno-celestial da Igreja, evidenciando um vínculo estreito entre eclesiologia e liturgia.
Os critérios do que poderia e deveria ser reformado estão no artigo 21: “a liturgia compõe-se
de uma parte imutável, porque de instituição divina, e de partes suscetíveis de mudanças”58.
Também é previsto que: “textos e cerimônias devem ordenar-se de tal modo, que de fato ex-
primam mais claramente as coisas santas que eles significam”59, sempre de acordo com que
foi estabelecido no artigo 2. Já o artigo 23 prevê uma precisa investigação teológica, histórica
e pastoral a fim de alcançar uma justa relação entre tradição e progresso.
“Convém assinalar que as normas práticas para a tarefa da reforma surgem da natureza
didática e pastoral da liturgia”60, de modo que do número 33 ao 36 são postas indicações
que evidenciam o caráter simbólico do culto à majestade de Deus61, a saber: harmonia dos
ritos, pregação e catequese mistagógica e o uso do latim.
56
Cf. STICKLER, Alfons. Acesso em: 20 de ago. 2010.
57
Cf. CAÑIZARES, Antonio. In: BUX, Nicola. La reforma de Benedicto XVI: la liturgia entre la inovación
y la tradición. Trad. Stella Maris Correa. Madri: Ciudadela Libros. 2008. p. 16.
58
SACROSANCTUM CONCILIUM. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. 3ª ed. São Paulo: Pau-
lus. 2004. § 21. p. 43.
59
Ibidem.
60
STICKLER, Alfons. op. cit.
61
Indicação em consonância com o Concílio de Trento, preocupado em proteger patrimônio simbólico-
mistagógico do culto protestante - racionalista e insípido.
20. 20
A revisão do rito é pedida somente no artigo 50. A simplificação requerida não consiste em
‘enxugar’ o rito, mas em manifestar “mais claramente a natureza específica de cada uma das
suas partes bem como a sua mútua conexão”62.
Não se encontra uma linha sequer sobre a orientação da liturgia – assunto do próximo capítu-
lo –, recomendações para que a Santa Missa seja celebrada toda em vernáculo, ou apologias à
criatividade litúrgica.
2.1.2 A criatividade litúrgica
Talvez pela quantidade de opções e variantes no rito, ou quem sabe por um suposto caráter
antropocêntrico do Missal de Paulo VI, a criatividade litúrgica é uma característica marcante
nas celebrações eucarísticas pós-conciliares. Segundo o Card. Ratzinger, “os conceitos, (...)
da nova visão sobre a liturgia podem ser resumidos nestas palavras-chave: criatividade, li-
berdade, festa, comunidade”63.
Certamente a anarquia litúrgica não era pretendida pelos padres conciliares, tão pouco pelos
membros da Consilium. De fato o número 22 da Sacrosanctum Concilium diz com muita cla-
reza: “ninguém mais, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, supri-
mir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica”64. A equipe do Pe. Bugnini desejava, ani-
mada pelas descobertas da arqueologia litúrgica, eliminar do rito romano todo acréscimo me-
dieval e renascentista65 em vista da reconstrução de um rito puro, livre de toda contaminação
histórica, ou seja, um rito universal. “Entretanto, o processo de uniformização iniciado caiu
62
SC. § 50. p. 54.
63
RATZINGER, Joseph. In: GALEOTTI, Alessandro. Davanti al protagonista – alle radici dela liturgia.
Trad. Ellero Babini; Carlo Fedeli. Milão: Cantagalli: 2009. p. 81.
64
SC. § 22. p. 44.
65
Cf. RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. Trad. Jana Almeida Olsansky. 2ª ed. Águeda,
2006. p. 122.
21. 21
no seu próprio inverso: o rito foi maioritariamente dissolvido, devendo ser substituído pela
‘criatividade’ das comunidades”66.
A equipe de expertos não levou em conta que a liturgia latina é fruto da evolução orgânica de
tradições apostólicas67 e que, portanto, “só é sagrada se não é feita por mãos humanas, por-
que, de outro, seria idolatria”68. O Card. Ratzinger conclui que a liturgia “não pode ser fruto
da nossa fantasia e criatividade – pois assim, seria apenas um grito na escuridão ou sim-
plesmente uma afirmação de nós próprios”69.
2.1.3 A hermenêutica da continuidade e a hermenêutica da descontinuidade
Segundo afirmou o Papa Bento XVI, no já citado discurso à Cúria Romana, para entender e
aplicar o Concílio Vaticano II existe duas chaves de leitura contraditórias que se e embatem
entre si70.
A primeira é a hermenêutica da descontinuidade, que promoveu uma ruptura entre a Igreja
pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Os próprios termos ‘pré’ e ‘pós’ conciliar indicam esta
descontinuidade.
Apesar de possuírem opiniões diametralmente opostas sobre eclesiologia, ecumenismo e li-
turgia, tanto os promotores da missa-banquete e da criatividade litúrgica como os chamados
tradicionalistas – que rejeitam parcial ou integralmente o Concílio – interpretam o Vaticano II
à luz dessa hermenêutica de ruptura. Isto significa que ambas as posturas radicais estão à
margem da compreensão que o Magistério tem sobre si.
66
RATZINGER, J. 2006. p. 122.
67
Ibidem. p. 122-123.
68
BUX, N. 2008. p. 35.
69
RATZINGER, J. op. cit. p. 15.
70
Cf. BENTO XVI. Acesso em: 20 de ago. 2010.
22. 22
Já a hermenêutica da continuidade, ou da reforma, entende a renovação na continuidade do
único sujeito-Igreja71. No que diz respeito às intenções conciliares, o Pe. Bux – consultor para
as Cerimônias Pontifícias e das congregações para a Doutrina da Fé e Causa dos Santos –
fazendo alusão a São Paulo (ICor 11, 23), afirma que que a liturgia se recebe por tradição,
pois é um dom. “Ela mesma é tradição72”. Entretanto, acrescenta que “a reforma litúrgica,
em sua concreta realização, distanciou-se sempre mais desta origem”73.
2.2 O sentido da ‘reforma da reforma’
“O termo reforma, adotado pela liturgia, pode ser aceitável ou não: é aceitável se a forma
corresponde ao conteúdo, e não é aceitável se a forma indica outro conteúdo”74. Portanto,
segundo a hermenêutica da continuidade, reformar é tirar o que ofusca a forma a fim de torná-
la visível, ou seja, tornar visível o rosto da Igreja e o rosto de Jesus75.
Tendo em conta o que foi abordado no primeiro capítulo, se a reforma pós-conciliar não ex-
primiu com perfeição o conteúdo dogmático tradicional da Santa Missa, concluir-se-ia que
“não é, em absoluto, perfeita nem está concluída”76..
Em algumas ocasiões,77 o Papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito para Congregação da
Doutrina e da Fé, afirmou ser favorável a uma ‘reforma da reforma’. Este tema converteu-se
em um campo de batalha com calorosos debates. A questão que se coloca, segundo o Papa,
71
Cf. BENTO XVI. Acesso em: 20 de ago. 2010.
72
BUX, N. 2008. p. 43-44.
73
RATZINGER, J. 2009. p. 191.
74
BUX, N. op. cit. p. 70.
75
Cf. Ibidem. p. 69.
76
Ibidem. p. 137.
77
Para citar apenas alguns exemplos, têm-se as entrevistas concedidas a Michel Kubler em 2001 e a Peter See-
wald em 1996 e uma carta ao Dr. Heinz-Lothar Barth de 2003.
23. 23
diante de todas as evoluções e remodelações da liturgia é “o que é que corresponde à nature-
za da celebração e o que é que nos afasta dela?”78.
2.2.1 Distorções das intenções de Bento XVI
Em princípio, as discussões sobre uma eventual ‘reforma da reforma’ parece especulação de
teólogos démodé e de fiéis saudosistas sem engajamento pastoral, que se comprazem com
discussões infrutíferas em blogs da internet. Contudo, segundo o Pe. Barthe “a ‘reforma da
reforma’ já existe em muitas paróquias”79.
A quantidade de publicações a respeito e rumores em meios de comunicação especializados
dão força à tese do Pe. Barthe, que recebe o endosso do Pe. Bux e do Card. Cañizares, entre
muitos outros. Não obstante, liturgistas eminentes, como o Pe. Augé80, por exemplo, não
acreditam que haja uma reforma em curso e expressam receios de que certas posições conser-
vadoras possam contribuir ainda mais para o desajuste litúrgico.
O fato é que em certa ocasião81, quando ainda era cardeal, o Santo Padre afirmou crer que
“em longo prazo a Igreja Romana deverá ter novamente apenas um rito romano (...) celebra-
do em latim ou em vernáculo, mas completamente na tradição do rito que o precedeu”82.
Baseados nesta afirmação e em interpretações de livros e artigos do Santo Padre – interpreta-
ções que mais revelam desejos e opiniões pessoais do que uma preocupação sincera com a
78
RATZINGER, J. 2006. p. 55.
79
BARTHÉ, Claude. La crítica de la reforma. Disponível em: http://la-buhardilla-de-
jeronimo.blogspot.com/2010/10/p-claude-barthe-la-critica-de-la.html. Acesso em: 05 de out. 2010.
80
Indica-se apenas este artigo, entretanto o Blog do autor oferece abundantes reflexões sobre o tema. AUGUÉ,
Matias. La riforma della riforma liturgica?. Disponível em: http://liturgia-opus-trinitatis.over-blog.it/article-
27843945.html. Acesso em: 3 de ago. 2010.
81
Carta ao Dr. Heinz-Lothar Barth de 23 de Junho de 2003.
82
RATZINGER, J. 2009. p. 127-128.
24. 24
verdade e unidade da Igreja – alguns alardeiam que uma reforma no missal é iminente ou que
o Sumo Pontífice simplesmente revogaria o missal de Paulo VI.
Suposições desta natureza carecem de qualquer fundamento. Os defensores da ‘reforma da
reforma’, especialmente o primeiro deles, o Papa, não desejam promove-la “com textos, de-
cretos, ou um novo Missal que unisse os dois ritos, um Missal de Bento XVI que se agregasse
aos missais de São Pio V e o de Papa Paulo VI”83.
Sobre a possibilidade de descartar o novo missal, o sucessor de Pedro afirma que “as dificul-
dades e alguns abusos assinalados não podem ofuscar a excelência e a validade da referida
renovação litúrgica, que contém riquezas ainda não plenamente exploradas”84.
Quando justamente a artificialidade da reforma pós-conciliar é alvo de críticas, em certa me-
dida reconhecida pelo próprio Pe. Bugnini85, os defensores de uma ‘reforma da reforma’ ne-
cessitam observar que “evolução da liturgia não pode ser projetada em gabinetes, por comis-
sões que levam em conta apenas a utilidade pastoral e sua aplicabilidade prática; deve-se ter
o devido respeito pelo peso que os séculos carregam consigo e avaliar as decisões com toda
cautela possível”86.
Perguntado por Peter Seewald se uma ‘reforma da reforma’ é necessária para que se recupere
o sentido do sagrado perdido em muitos lugares, o Card. Ratzinger indica critérios para uma
eventual nova reforma:
a primeira coisa é resistir à tentação de um agir despótico (...). O segundo passo
consistirá em avaliar onde existem cortes drásticos para restaurar de modo claro
e orgânico a conexão com a história. Eu mesmo falei neste sentido em ‘reforma
da reforma’. Mas, no meu modo de ver, tudo isto deve ser precedido de um pro-
cesso educativo87.
83
BARTHÉ, C. Acesso em: 05 de out. 2010.
84
SACRAMENTUM CARITATIS. Exortação Apostólica Pós-Sinodal. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 6. § 3.
85
Cf.BARTHÉ, C. op. cit.
86
RATZINGER, J. 2009. p. 113.
87
Ibidem. p. 114.
25. 25
2.2.2 Proposta de Bento XVI: um novo movimento litúrgico
As propostas do Papa Bento XVI, como demonstrado, não caminham na direção de mudanças
radicais e unilaterais na liturgia. Uma ‘reforma da reforma’ à luz da hermenêutica da conti-
nuidade “trata-se, em concreto, de ler as mudanças queridas pelo Concílio dentro da unidade
que caracteriza o desenvolvimento histórico do próprio rito, sem introduzir artificiosas rup-
turas”88.
Penso, portanto, que uma nova sensibilidade no confronto com a realidade litúrgica
e de seu mistério, junto a uma nova educação litúrgica, sejam a primeira coisa a fa-
zer. Não é necessário pensar em mudanças imediatas. Se se reencontra uma compre-
ensão mais profunda, as mudanças ocorrem necessariamente89.
Fica claro, portanto, que uma ‘reforma da reforma’ será a conclusão natural de uma verdadei-
ra educação litúrgica. Isto não significa cair em rubricismo. Conhecer a liturgia não se limita
em decorar as normas da ação litúrgica, “mas sim em conduzir para a verdadeira actio, que
faz da Liturgia o que ela é; conduzir para o poder transformador de Deus, o qual, através do
acontecimento litúrgico, queria transformar os homens e o Mundo”90.
Finalmente, o desejo do Santo Padre é criar um novo movimento litúrgico, como ele mesmo
deixou claro no prefácio de seu ‘Introdução ao espírito da liturgia’: “caso esse livro consiga
ser um novo estimulo para um ‘movimento litúrgico’ diferente, um movimento para a execu-
ção correcta da Liturgia no seu exterior e interior, então seria cumprida satisfatoriamente
minha intenção”91. “Precisamos de um novo começo que se origina do íntimo da liturgia,
como desejou o movimento litúrgico quando se encontrava no apogeu de sua verdadeira es-
sência”92.
88
SACRAMENTUM CARITATIS. p. 6. § 3.
89
RATZINGER, J. 2009. p. 57.
90
Idem. 2006. p. 130.
91
Ibidem. p. 6.
92
Idem. op. cit. p. 191.
26. 26
2.3 Medidas concretas já tomadas em vista de um novo movimento litúrgico
A primeira medida foi tomada em outubro de 2007, quando o prefeito da Congregação para o
Culto Divino, o Card. Arinze, escreveu para todas as conferências episcopais do mundo, em
concordância com a Instrução do ano 2001 Liturgiam Authenticam, do Card. Estevez, que
pedia uma revisão na tradução dos livros litúrgicos, ordenando a correção nas edições em
vernáculo da expressão pro multis, muitas vezes traduzida como ‘por todos’93.
A segunda ação parte da Congregação para o Clero. Em setembro de 2006 foi erigido o Insti-
tuto Bom Pastor, uma sociedade de vida apostólica que celebra a Missa exclusivamente na
forma anterior ao Concílio. Depende ao mesmo tempo da Comissão Ecclesia Dei e da Con-
gregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica,94.
Em março de 2007 o Santo Padre deu a conhecer a Exortação Apostólica pós-Sinodal Sacra-
mentum Caritatis. Nela, o Papa Bento XVI reitera o dever dos sacerdotes em obedecer as
“normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há
dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes”95. Indica também, na segunda parte
do documento, critérios para a ars celebrandi. Recomenda o uso do latim em concelebrações
internacionais e a recitação de ao menos algumas partes fixas do cânon neste idioma.
No sentido concreto de uma reforma, a Sacramentum Caritatis expressa o desejo de colocar a
saudação da paz em outro momento da celebração e pede às conferências episcopais aprova-
rem textos que expressem melhor o significado da despedida ite, missa est96.
93
Cf. Revista Brasileira de História das Religiões – ANPUH REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA DAS
RELIGIÕES. Anais do II encontro nacional do GT história das religiões e das religiosidades. Disponível
em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/rbhr/bento_XVI_e_a_hermeneutica_da_continuidade.pdf. Acesso em: 10
de mar. 2010.
94
Cf. Ibidem.
95
SACRAMENTUM CARITATIS. §38. p. 60.
96
Ibidem. § 49. p. 73. e §51. p. 76.
27. 27
Ainda em 2007 o Papa promulgou o Moto Próprio Summorum Pontificum, dando liberdade a
todo padre para celebrar a missa tridentina sem a prévia permissão do bispo, como era anteri-
ormente acordado97. O documento insiste que o missal de Pio V e o missal de Paulo VI são
duas expressões de um único Rito Romano, a primeira em sua forma extraordinária e a se-
gunda em sua forma ordinária.
Em 1999, ainda como Cardeal, o Papa escreveu ao Pe. Augé afirmando que “nesta situação, a
presença do missal anterior poderá se tornar um baluarte contra as alterações da liturgia,
infelizmente frequentes, e ser, deste modo, ser um verdadeiro apoio para a reforma”98.
O Motu Próprio “é uma resposta a quantos, tradicionalistas e inovadores, que tenham afir-
mado que o antigo rito romano morreu com a reforma litúrgica e que nasceu outro em des-
continuidade”99.
Ademais de todo o exposto, é importante ressaltar o exemplo que o Santo Padre dá nas cele-
brações que preside publicamente. A este respeito o Mestre de Celebrações Litúrgicas Pontifí-
cias, Guido Marini, menciona um elemento de vital importância: “as mudanças a que você se
refere devem ser lidas sob o signo de uma evolução em continuidade com o passado, incluin-
do o mais recente, lembro-me de um em particular: a localização da cruz no centro de al-
tar”100.
97
Cf. Revista Brasileira de História das Religiões. Acesso em: 10 de mar. 2010.
98
RATZINGER, J. Respuesta del Cardenal Ratzinger al Padre Augé. Disponível em: http://la-buhardilla-de-
jeronimo.blogspot.com/2010/09/una-interesante-carta-inedita-del.html. Acesso em: 10 de out. 2010.
99
BUX, N. 2008. p. 84.
100
MARINI, Guido. Desde la Liturgia se pone en marcha la renovación de la iglesia. Disponível em:
http://la-buhardilla-de-jeronimo.blogspot.com/2009/02/desde-la-liturgia-se-pone-en-marcha-la.html. Acesso em:
23 de maio. 2009.
28. 28
3 A ORIENTAÇÃO LITÚRGICA
A questão da orientação litúrgica, ou seja, para onde o sacerdote e os fiéis devem dirigir seus
olhares durante a celebração eucarística, tornou-se “uma das principais polémicas pós-
conciliares”101. Segundo o Santo Padre, o debate sobre a posição correta do altar, do crucifi-
xo e do sacerdote durante a Celebração Eucarística “não se trata de algo casual, mas sim
substancial”102.
3.1 Orientação na liturgia
Segundo o dicionário Houaiss ‘orientação’ consiste no “ato ou efeito de orientar(-se), de di-
recionar(-se) para o Oriente” 103. “Na Igreja antiga, a oração voltada para o Oriente sempre
foi vista como uma tradição apostólica (...) e como uma característica essencial da liturgia
cristã”104. Entretanto, desde 1964, com a publicação da Instrução Inter Oecumenici, é acres-
centa à orientação tradicional da liturgia a possibilidade do sacerdote celebrar a Missa voltado
para o povo - versus populum.
Quando os cristãos dirigiam seus olhares para o Oriente, à semelhança do culto sinagogal que
se voltava na direção do Templo de Jerusalém, buscavam a Cristo – lugar da Schekhina – re-
presentado pelo Sol nascente. A analogia feita entre Jesus Glorioso e o Sol Invictvs não era
“um culto ao Sol, pois é o Cosmos que fala de Cristo”105. De fato, ela encontra apoio em di-
versas passagens da Sagrada Escritura106. Dizia S. Clemente de Alexandria: “O oriente é a
101
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. Trad. Jana Almeida Olsansky. 2ª ed. Águeda:
Paulinas, 2006. p. 53.
102
Ibidem. p. 60.
103
DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Instituto Antônio Houaiss. Objetiva, 2007. 1 CD.
104
RATZINGER, J. op. cit. p. 51.
105
Ibidem.
106
“põe-te em pé, resplandece, porque a tua luz é chegada, a glória de Iahweh raia sobre ti” (Is 60, 1); “pois
assim como o relâmpago parte do oriente e brilha até o poente, assim será a vinda do Filho do Homem” (Mt
29. 29
imagem do dia que nasce. É deste lado também que cresce a luz, a qual em primeiro lugar faz
desaparecer as trevas (...). Por isto, é normal que se dirijam as orações rumo ao nascimento
da manhã”107.
A definição que Pio XII deu à liturgia – culto público integral do místico Corpo de Jesus
Cristo, isto é, da cabeça e dos seus membros”108 – evidencia o protagonismo de Cristo na
ação litúrgica. “Entende-se sob actio da Liturgia a oração eucarística. A verdadeira acção
litúrgica, o verdadeiro acto litúrgico é a oratio”109. A liturgia eucarística, por sua vez, “con-
cretiza-se no olhar fixo em Jesus, ela é o olhar fixo em Jesus”110. Portanto, “Ele torna-se o
culto dos seus, enquanto esses se juntam nele e em volta dele”111. Na liturgia o homem não se
volta sobre si, não se interioriza em seu próprio espírito; é à Deus que dirige seu olhar e à Ele
voam todas as suas aspirações112.
Poder-se-ia argumentar em contrapartida que Deus é puramente espiritual, que existe em to-
dos os lugares e, portanto, mesmo a Orientação Litúrgica sendo herança da tradição sinago-
gal113 e indiscutivelmente patrimônio de todas as famílias litúrgicas cristãs114, trata-se de um
elemento acessório que perdeu seu uso no rito romano 115.
A tese descrita não leva em conta o caráter mistagógico da liturgia. Deve-se ter presente que
“o ‘símbolo’ não é um sinal arbitrário e intencional de um fato conhecido e compreensível,
24, 27); “graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo qual nos visita o Astro das alturas” (Lc 1, 78);
“temos, também, por mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que
brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d'alva em nossos corações” (2Ped 1, 19); “Dar-lhe-
ei ainda a Estrela da manhã” (Ap 2, 28); “vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo”
(Ap 7, 2); “Eu sou o rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (Ap 22, 16).
107
Disponível em: http://praelio.blogspot.com/2009_06_01_archive.html. Acesso em 10 de jun. 2010.
108
DENZINGER, Heinrich; HÜNERMANN, Petrus. Compêndio dos símbolos: definições e declarações de fé
e moral. Trad. José Marino e Johan Konings. São Paulo: Paulinas: Loyola, 2007. § 3841. p. 840.
109
RATZINGER, J. 2006. p. 127.
110
Ibidem. p. 53.
111
Ibidem. p. 47.
112
Cf. GUARDINI, Romano. El espíritu de la liturgia. Trad. Josep Urdeix. 2ª ed. Barcelona: Centre de Pastoral
Litúrgica, 2006. p. 65-66.
113
Cf. RATZINGER, J. op. cit. p.48-49.
114
Cf. Ibidem. p. 55-56.
115
Os católicos de rito maronita também assumiram a possibilidade de celebrar a Santa Missa na posição versus
populum nas comunidades que se encontram no ocidente.
30. 30
mas uma expressão de caráter reconhecidamente antropomórfico (...) de um conteúdo sobre-
natural”116. A natureza pessoal de Deus e seu desígnio de amor salvífico – objeto e fim do
culto em suas dimensões anabática e catabática – somente são conhecidos através da Revela-
ção.
E, precisamente por essa razão, continua a ser conveniente que a oração cristã se di-
rija para o Deus que se nos revelou. E, tal como Deus encarnou e entrou no Espaço e
Tempo, tal é conveniente para a oração – pelo menos na Missa – que o nosso falar
com Deus seja «encarnador» e cristológico e que, mediante aquele que se encarnou,
se dirija a Deus trino117.
3.1.1 Dimensão escatológica da orientação na liturgia
“O sol nascente está no lugar de Cristo ressurrecto cujo retorno esperamos no fim dos tem-
pos”118. O oriente evoca a ascensão de Jesus: lá os Apóstolos ouviram de dois mensageiros
celestes que Ele voltaria do mesmo modo que partiu para o céu (At 1,9-11). Em suma, o que
os cristãos esperavam ao ter os olhos fitos no oriente era o retorno em glória e majestade de
Cristo, vencedor e soberano juiz. A celebração eucarística, onde se anuncia a morte do Se-
nhor, se proclama sua ressurreição enquanto se espera sua vinda gloriosa, é penhor da glória
futura.
3.1.2 O Oriente Litúrgico
Por diversas razões – questões topográficas, adaptações de antigos templos pagãos, necessi-
dade de colocar o altar sobre algum túmulo, perigo de sincretismo, etc. – algumas Igrejas da
antiguidade, e tantas outras a partir da idade média até a contemporaneidade, não foram cons-
116
JUNG, C.G. O símbolo da transformação na missa. Trad. Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha. 4ª ed. Petrópo-
lis: Vozes, 2007. p. 5
117
RATZINGER, J. 2006. p. 56.
118
HAUKE, Manfred. A santa missa, sacrifício da nova aliança. Disponível em:
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=santa-missa-
sacrificio&lang=bra#_ftn1. Acesso em: 20 de ago. 2010.
31. 31
truídas em direção ao Oriente. Nestes casos, “já há muitos séculos, o sinal escolhido pela
Igreja para a orientação do coração e corpo durante a liturgia é a representação de Jesus
crucificado” 119. Onde não era possível voltar-se coletivamente para o Oriente, a cruz servia
como Oriente interior da fé120.
“O simbolismo da cruz e do oriente entrelaçam-se; ambos são expressão da mesma fé, em
que a memória de Jesus Pascha se faz presente”121.
3.1.3 Dimensão cósmica da liturgia e Orientação Litúrgica
O Sol nascente e os pontos cardeais apontados nas extremidades do crucifixo abrangem sim-
bolicamente a totalidade do cosmos e sua correlação com a História da salvação122. “A nossa
oração insere-se assim na peregrinação dos povos rumo a Deus”123.
O Apocalipse, com o altar do Cordeiro no centro de Jerusalém que desce do céu so-
bre a terra, é o arquétipo do culto cristão: é adoração de Deus por parte do homem e
comunhão do homem com Deus. O Cânone Romano, na invocação Supplices te ro-
gamus, alude ao ‘altar do céu’, porque de lá desce a graça d’Aquele que é o Ressus-
citado e o Vivente, e se realiza o admirável intercâmbio que salva o homem.
Cristo é o catholicus Patris sacerdos (...). Segundo os Orientais, a presença da Trin-
dade confere à sinaxe eucarística a qualidade de assembleia da terra e do céu: ‘a ten-
da de Deus com os homens’ (Ap 21, 3). (...) A presença de Cristo onde os fiéis se
reúnem para a Eucaristia faz da terra céu: ‘Este mistério transforma para ti a terra em
céu … Mostrar-te-ei, de facto, presente sobre a terra, o que no céu há de mais vene-
rável [...] Mostro-te, não os Anjos nem os Arcanjos, mas o seu próprio Senhor’.
Portanto, é possível ‘experimentar fortemente o carácter universal e, por assim dizer,
cósmico (da Eucaristia). Sim, cósmico! Porque, mesmo quando tem lugar no peque-
no altar de uma igreja da aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, so-
bre o altar do mundo. Une o céu e a terra. Abraça e impregna toda a criação’124.
119
OFICINA DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SANTO PADRE. Disponível em:
http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20091117_crocifisso_it.html. Acesso em: 10 de
aug. 2010.
120
Cf. RATZINGER, J. 2006. p.62
121
Ibidem. p. 52.
122
Cf. Ibidem. p.52.
123
Ibidem. p. 56.
124
SÍNODO DOS BISPOS - XI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA. A Eucaristia: fonte e ápice da vida e
da missão da Igreja. Disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20040528_lineamenta-xi-
assembly_po.html. Acesso em: 23 de out. 2010.
32. 32
3.1.4 Catolicidade da liturgia e Orientação Litúrgica
“Há uma evidência comum para toda a Cristandade, que prevaleceu a todas as variações até
ao segundo milénio tardio: a orientação da oração para o Oriente.”125. O símbolo cósmico
do Sol nascente e da cruz sobre o altar é uma expressão riquíssima da universalidade da Igreja
manifestada em todas as famílias litúrgicas.126.
A fé comum expressa com clareza que “o verdadeiro e único protagonista é Deus, e sinais de
sua presença e centro são o altar e o Crucifixo, que todos, comunidade e presbítero, devem
olhar”127.
3.2 A legislação vigente e a Orientação Litúrgica
No capítulo anterior, afirmou-se que os textos conciliares não fizeram nenhuma referência à
Orientação Litúrgica. De fato, o primeiro documento que diz algo a respeito é a Instrução In-
ter Oecumenici de Setembro 1964: “convém que a altar-mor seja construído separado da
parede a fim de que se possa facilmente dar a volta em torno dele e celebrar de frente para as
pessoas” 128.
A primeira edição do Missal de Paulo VI tão pouco assumiu a posição versus populum. Ela
apenas repete no número 262 o que a Instrução Inter Oecumenici já havia dito. Entretanto,
quando em suas rubricas, especificamente no orate Fratres, no pax Domini, no ecce Agnus
Dei e no ritus conclusionis, pede que o sacerdote se volte em direção ao povo, fica subtendida
125
RATZINGER, J. 2006. p. 55-56.
126
Cf. Ibidem. p. 56.
127
CAÑIZARES, Antonio. Disponível em: http://www.rinascimentosacro.org/2009/12/il-card-canizares-alla-
conferenza-di-gubbio/. Acesso em 10 de fev. 2010.
128
INTER OECUMENICI. Disponível em: http://www.adoremus.org/Interoecumenici.html. Acesso em: 10 de
jan. 2010
33. 33
a celebração versus orientem, segundo atesta o Pe. Weishaupt – latinista e canonista, perito do
Pontifício Conselho para a Interpretação dos Textos Legislativos129.
No ano 2000, a Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos publi-
cou uma nota relativa à posição do sacerdote durante a Missa. Explica que “a posição versus
populum parece a mais cómoda na medida em que ela torna mais fácil a comunicação” 130.
Acrescenta, todavia, que “supor que a acção sacrificial deve ser orientada principalmente
para a comunidade seria um grave erro. Se o sacerdote celebra versus populum, coisa legíti-
ma e frequentemente aconselhável, a sua orientação espiritual deve estar sempre voltada
para Deus por Jesus Cristo”131.
No que se refere à posição da cruz em relação ao altar, a Instrução Geral do Missal Romano
em sua 3ª edição apresenta duas opções: sobre o altar ou ao lado dele, conforme as notas 117,
188, 308. Entretanto, quando dá indicações a respeito da incensação – notas 49, 75, 123, 144,
173, 178, 190, 211, 276 b e d e 277 b – afirma que a cruz deve ser incensada antes do altar. A
redação destas notas no IGMR, endossada pela nota 350 – “acima de tudo há-de prestar-se a
maior atenção àquilo que, na celebração eucarística, está diretamente relacionado com o
altar, como são a cruz do altar e a cruz que é levada na procissão”132 parece dar preferência
à posição da cruz sobre o altar.
129
Cf. La orientación de la Liturgia según la ley vigente. Disponível em: http://la-buhardilla-de-
jeronimo.blogspot.com/2009/09/la-orientacion-de-la-liturgia-segun-la.html. Acesso em: 10 de jan. 2010
130
BRODBECK, Rafael Vitola. D. Athanasius Schneider, ORC, sobre o mútuo enriquecimento entre a
Missa nova e a tradicional, e a reforma da reforma. Disponível em:
http://www.salvemaliturgia.com/2010/11/d-athanasius-schneider-orc-sobre-o.html. Acesso em 01 de out. 2010.
131
Ibidem.
132
INSTRUÇÃO GERAL DO MISSAL ROMANO E INTRODUÇÃO AO LECIONÁRIO. 2ª ed. Brasília:
CNBB. 2009. § 350. p. 135.
34. 34
3.3 A proposta de Bento XVI
Observou-se no primeiro capítulo que o Papa Bento XVI fez duras críticas a ‘forma’de Cele-
bração Eucarística reduzida exclusivamente à categoria de banquete. Credita esta nova com-
preensão da natureza da liturgia, em grande parte, à direção da celebração versus populum133.
Segundo explica, “o sacerdote que se volta para a comunidade forma, juntamente com ela,
um círculo fechado em si”134 e “isso levou a uma clericalização jamais vista. O sacerdote –
ou melhor, o agora chamado presidente da celebração – torna-se o ponto de referência do
todo (...), cada vez menos é Deus quem se encontra em destaque”135.
Não obstante, como também se verificou, o Santo Padre não é favorável a mudanças artificio-
sas. Segundo escreveu, “nada é tão prejudicial para a liturgia como o permanente «mexer»,
mesmo quando se trata de invocações aparentemente essenciais”136.
Como teólogo, o Card.Ratzinger sublinhou repetidamente que, mesmo durante a celebração
versus populum, o crucifixo deve manter a sua posição central. Sempre considerou “impossí-
vel imaginar que a representação do Senhor crucificado – expressão do seu sacrifício e, por-
tanto, do significado mais importante Eucaristia – possa de alguma forma ser um transtor-
no”137.
Recentemente, já como Bento XVI, escreveu a introdução do primeiro volume de sua Ge-
sammelte Schriften. Nela, afirmou estar feliz por causa da aceitação da proposta que fez em
seu famoso ensaio Introdução ao Espírito da Liturgia:
Onde não é possível voltar-se colectivamente para o Oriente, pode a cruz servir co-
mo o Oriente interior da fé. Ela deveria encontrar-se no meio do altar, sendo o ponto
de vista comum para o sacerdote e para a comunidade orante. Assim, seguimos a an-
tiga exclamação de oração no limiar da Eucaristia: ‘Conversi ad Dominum’138.
133
Cf. RATZINGER, J. 2006. p. 57.
134
Ibidem. p. 59.
135
Ibidem.
136
Ibidem. p. 61.
137
OFICINA DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SANTO PADRE. Acesso em: 10 de aug. 2010.
138
RATZINGER, J. op cit. p. 62.
35. 35
No dia 28 de dezembro de 2001, em entrevista concedia ao periódico francês La Croix, rea-
firmou sua proposta:
a cruz pode muito bem substituir o Oriente: se não há a possibilidade de mover o al-
tar para que toda a assembleia ‘se oriente’ em direção ao Sol que nasce, se deveria
sempre, ao menos, orientar visivelmente toda a comunidade em direção ao crucifixo
colocado sobre o altar (não no alto: os olhares devem se concentrar em Cristo, não
no padre)139.
Segundo testemunho do Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, Mons. Marini “o mo-
tivo da proposta feita pelo então Card. Ratzinger, agora reafirmada no curso de seu pontifi-
cado, de colocar o crucifixo no centro do altar é para que todos, no momento da Liturgia
Eucarística, possam olhar para o Senhor, orientando assim a oração e o coração” 140.
Quando o sacerdote fala com Deus, não faz sentido que se volte em direção à assembleia.
Seria melhor que o celebrante estivesse, junto com toda a assembleia, com os olhos fitos na
cruz. Um voltar-se ao povo, pelo contrário, seria conveniente para a proclamação da Palavra
de Deus e para comunicação da graça nas saudações, bênção e distribuição da Comunhão141.
“Tornar-se-ia assim novamente cheia de significado a distinção entre a liturgia da palavra e
o cânon”142.
Portanto, conforme assegura o Pe. Bux, esta proposta do Papa Bento XVI “é muito importan-
te como uma forma de prosseguir a reforma litúrgica, que não se acaba, que continua sem-
pre, em todas as gerações”143.
139
RATZINGER, J. 2009. p. 180.
140
MARINI, G. Disponível em: http://la-buhardilla-de-jeronimo.blogspot.com/2009/11/el-autentico-espiritu-de-
la-liturgia.html. Acesso em: 02 de mar. 2010.
141
Cf. HAUKE, M. Acesso em: 20 de ago. 2010.
142
RATZINGER, J. 2009. p. 224.
143
BUX, N. Despropósitos litúrgicos contemporáneos: antropocentrismo litúrgico. Disponível em:
http://sacramliturgiam.blogspot.com/2010_05_01_archive.html 26/10/10. Acesso em: 26 de out. 2010.
36. 36
CONCLUSÃO
Desde os anos do Concílio, da discussão sobre a Constituição litúrgica do Vaticano II, e de-
pois o encaminhamento da reforma pós-conciliar – para além do que tinha ficado decidido e
das intenções dos Padres Conciliares – Joseph Ratzinger teceu sem rodeios considerações
originais e contracorrente. Importa salientar que as posições do cardeal não se assemelham de
forma alguma às de grupos tradicionalistas como o de D. Lefebvre. Ratzinger não tem, nem
nunca teve, intenção de regressar ao passado. Não é um saudosista aguerrido cujo sonho é
derrubar os altares despegados da parede, nem reintroduzir o ritual de São Pio V. Pelo contrá-
rio, foi um precursor e admirador do Movimento Litúrgico. Ainda assim, afirmou não com-
preender o motivo do o antigo rito tridentino ter sido abandonado com tanta rapidez e de for-
ma tão definitiva.
Na introdução de sua recém-publicada Opera Omnia, o Papa Bento XVI diz: “A liturgia da
Igreja tem sido para mim desde a minha infância, a atividade central da minha vida”144.
Ainda no prefácio, o Santo Padre comenta as controvérsias que surgiram após o seu livro ‘In-
trodução ao Espirito da Liturgia’. Confidencia que chegou a pensar em retirar da obra o capi-
tulo III da 2ª parte, ‘o altar e a orientação da oração na liturgia’, uma vez que muitos reduzem
sua reflexão a um desejo de ver novamente a Missa celebrada ‘de costas para o povo’145.
O sentido da ‘reforma da reforma’ que o Santo Padre propõe para a liturgia está em olhar para
o passado, recebê-lo e renová-lo. “Ela não pode ser fruto da nossa fantasia e criatividade –
144
Disponível em: http://www.salvemaliturgia.com/2010/10/bento-xvi-liturgia-da-igreja-tem-sido.html. Acesso
em: 20 de out. 2010.
145
Cf. Ibidem.
37. 37
pois assim, seria apenas um grito na escuridão ou simplesmente uma afirmação de nós pró-
prios”146.
Finalmente, pode-se concluir com o Papa Bento XVI: “cabe a cada geração avaliar o que se
pode melhorar para estar sempre conforme as origens e o verdadeiro espirito da liturgia. E
eu penso que seja efetivamente uma pauta para nova geração um ‘reformar a reforma’”147.
146
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. Trad. Jana Almeida Olsansky. 2ª ed. Águeda:
Paulinas, 2006. p. 15.
147
Idem. In: GALEOTTI, Alessandro. Davanti al protagonista – alle radici dela liturgia. Trad. Ellero Babini;
Carlo Fedeli. Milão: Cantagalli: 2009. p. 181.
38. 38
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