Minicurso apresentado durante IV ERECS Nordeste, em março de 2013.
Professores:
Fernanda Meira(http://lattes.cnpq.br/0805932533029722),
Francisco Jatobá (http://lattes.cnpq.br/2604274612352251),
Rafael dos Santos (http://lattes.cnpq.br/1684334939130563)
Rayane Andrade(http://lattes.cnpq.br/7190036182698859)
Pesquisa Social em Campo: desafios para o(a) pesquisador(a)
1. MINICURSO
Pesquisa Social em Campo:
desafios para o(a)
pesquisador(a)
ERECS NE
João Pessoa, 30 de março de 2013
Professores: Rayane Andrade
Fernanda Meira
Francisco Jatobá
Rafael dos Santos
2. Dados construídos de
maneira inadequada
Constituem “reflexos”
distorcidos da realidade
O questionário pode ser considerado como sendo uma forma de
entrevista estruturada.
Geralmente, os questionários cumprem pelo menos duas
funções: descrever as características e medir determinadas
variáveis de um grupo social.
Experiências passadas de pesquisadores podem ser úteis como
diretrizes para ajudar a gerar dados úteis.
3. Referência a um tipo muito específico de pesquisa
social empírica. Geralmente utilizam amostras ou
subconjuntos de uma população.
Exemplos de pesquisa survey:
◦ Censos demográficos
◦ Pesquisa de opinião pública
◦ Pesquisa de mercado
◦ Estudos acadêmicos sobre preconceito
◦ Perfis epidemiológicos
Pesquisa survey
4. Nem só de perguntas vive um questionário, mas também é
possível lançar mão de declarações.
Se o pesquisador for capaz de resumir a atitude numa declaração
curta, é possível apresentá-la aos respondentes e perguntar se
eles concordam ou discordam dela.
Rensis Likert - Escala Likert:
concordar fortemente, concordar, discordar, discordar
fortemente...
Pode dar mais flexibilidade ao questionário
A Construção do Questionário
5. Duas das
classificações de
questionários mais
utilizadas são
aquelas que
distinguem os
instrumentos:
Pelo modo de
aplicação (auto-
administrado ou
contato direto);
Pelo tipo de
perguntas
(abertas ou
fechadas)
Características do Questionário
6. Questionários aplicados
por contato direto
Partem de uma base mais
proativa na busca pela
informação, onde pessoas
treinadas aplicam o
questionário diretamente.
É possível ao entrevistador tirar
dúvidas, explicar questões e
evitar a falta de preenchimento
de campos, bem como o
preenchimento “errado”.
Características do Questionário
7. Questionário auto-administrado
O questionário e as instruções são enviados por correio,
email ou disponibilizadas digitalmente para um grupo
de pessoas previamente escolhidas.
Deve possuir instruções de preenchimento claras,
de modo a minimizar as dúvidas do entrevistado
na hora do preenchimento.
Marcar um “x”, fazer um círculo na resposta, etc.
Características do Questionário
8. Cada tipo possui dinâmicas diferenciadas para a aplicação.
Auto-administrado:
deve evitar começar com dados
sociodemográficos (sexo,
cidade, estado), pois pode passar
uma ideia de formulário
rotineiro.
Contato direto:
Sugere-se, pelo contrário,
começar por aspectos
sociodemográficos, a fim de
estabelecer a continuidade na
comunicação. Evitar questões
sensíveis a princípio.
Características do Questionário
10. Reside na estruturação das respostas, isto é, quando as respostas relevantes
a uma questão são claras, a sua estruturação não apresenta problemas.
Entretanto, em outros casos, a estruturação pode deixar passar algumas
alternativas de respostas que são importantes;
Pauta de respostas: os entrevistados podem responder, por exemplo, a
primeira alternativa de cada pergunta, com objetivo de terminar o
questionário o mais cedo possível.
Tipos de Pergunta
Perguntas
Fechadas
Desvantagens
11. • Devem ser exaustivas, ou seja, incluir todas
as respostas possíveis que se pode esperar.
Por isso, muitas vezes recorrer a uma
categoria “outros” pode ser uma solução.
Exaustivas:
• Respostas mutuamente excludentes, ou
seja, respondentes não devem se sentir
forçados a escolher mais de uma resposta.
O caso de múltiplas respostas pode gerar
dificuldades no processamento.
Excludentes:
Duas diretrizes para questões fechadas
12. Perguntas Abertas
São perguntas ou afirmações que levam o
candidato a responder com frases ou orações. Neste
caso, o entrevistador não está interessado em
antecipar as respostas, mas deseja uma maior
elaboração da opiniões do entrevistado.
Tipos de Pergunta
13. Vantagens
Exploração do tema – Capta aspectos e dinâmicas que
podem ser levadas a uma outra pesquisa (survey) ou
uma nova etapa dentro de uma mesma pesquisa e que
não haviam sido pensados anteriormente.
Oferece mais liberdade ao entrevistado de expor sua
opinião acerca de uma determinada questão, sem as
estruturas das alternativas previamente estabelecidas
Perguntas Abertas
14. Desvantagens
Dificuldade de classificação e codificação
Em situações específicas, o pesquisador precisa estar
bem familiarizado com vocabulários, costumes,
condições de vida e outras características que o
permitam interpretar as respostas, minimizando
possíveis distorções no sentido de suas respostas
(Exemplo: Pesquisa da Nestlé - diferença entre bolacha
e biscoito).
Perguntas Abertas
15. São aquelas que fazem sentido apenas para um determinado
subconjunto de respondentes. Questões que se desdobram em
outras questões, apenas para um determinado segmento dos
entrevistados.
Exemplo:
1. você vota em Recife?
Sim ( ) Não ( ) {caso a reposta seja “sim", vá para a questão 1.2}
1.2 Se a eleição fosse hoje, Em qual desses candidatos você
votaria para prefeito?
( ) Fulano ( ) Ciclano ( ) Beltrano
Nesse caso, a segunda pergunta é contingente quanto à
resposta à primeira
Pode usar setas no questionário, junto com orientações
escritas, para indicar o roteiro das perguntas.
Questões contingentes
16. Os itens do questionário devem ser claros e não
ambíguos
Exemplo: “Qual sua opinião sobre o Projovem?”
Resposta do entrevistado: “O que é o Projovem?”
Outras Características
17. Questões matriciais
Várias perguntas com o mesmo tipo de categorias de
resposta, a exemplo do uso da escala Likert.
Vantagens: usa o espaço de forma eficiente, é mais fácil de
responder a uma sequencia de questões e o formato facilita
a comparação entre as respostas dadas.
Desvantagem: perigo do padrão-de-resposta/pauta de
resposta nos respondentes. Um padrão de concordância
com todas as declarações.
Questões Matriciais
18. Questões Matriciais
Ex: Ao lado dos enunciados abaixo, por favor indique se você concorda
fortemente, concorda, discorda, discorda fortemente, ou está indeciso.
Concorda
fortemente
Concorda Indeciso Discorda Discorda
fortemente
O Brasil
precisa investir
mais em
segurança
A Guarda
Municipal não
deve portar
arma de fogo
O trânsito nas
cidades deve
ser controlado
pela PM
19. As questões devem ser relevantes
Quando se pede atitudes sobre um tema sobre o qual poucos
pensam ou se importam, os resultados têm pouca possibilidade de
serem úteis. Os entrevistados também podem expressar atitudes
mesmo nunca tendo pensado sobre o assunto, podendo gerar
equívoco para o pesquisador.
Exemplo: Babbie criou um personagem fictício chamado Tom
Sakumoto como exercício metodológico e o colocou numa lista entre
15 figuras políticas locais. 9% respondeu que o conheciam e destes,
metade respondeu que já o tinha visto na tv e lido em jornais.
Outras Características
20. Itens devem ser curtos: A ideia é que um respondente possa ler ou ouvir
um item e respondê-lo rapidamente, entendo sua intenção e escolhendo
uma resposta sem dificuldade. “Pretinho básico".
Evitar itens negativos: Cuidado com a utilização de itens negativos na
elaboração de um item do questionário.
◦ Ex: O Brasil não deve reduzir a emissão de gases poluentes.
◦ ( ) Concorda ( ) Discorda
◦ Ex. 2: Os seguintes tipos de pessoas devem ser proibidos de lecionar em escolas pública:
◦ Padres ( ) sim ( ) não
◦ Juristas ( ) sim ( ) não
◦ Neonazistas ( ) sim ( ) não
◦ Membros do MST ( ) sim ( ) não
• A negativa pode gerar confusão ou ser ignorada pelo respondente desatento.
Outras características
21. Evitando questões duplas: observar se a palavra “e” aparece numa
pergunta ou declaração e checar se não há duplicação de questões.
◦ “A Universidade Federal de Pernambuco pode abrir mais vagas para alunos e
contratar mais professores"
•
• Concorda ( ) discorda ( )
•
Embora muita gente possa concordar facilmente com essa declaração,
outros não conseguirão responder. Alguns podem acreditar que a UFPE
pode abrir mais vagas mas não pode contratar mais professores, ou
contratar mais professores e não abrir mais vagas. Com o que se está
concordando ou discordando afinal?
Outras características
22. Evitando itens e termos tendenciosos: A forma como a pergunta é
elaborada, pode influenciar positiva ou negativamente o
entrevistado, gerando uma resposta pouco confiável
Atenção a forma como a pergunta é elaborada. Utilização de
determinados termos com um cunho ideológico explícito (esquerda,
direita, liberal, conservador, comunista) ou figuras, na elaboração do
item, que possam enviesar as respostas.
◦ Ex: O MST é um dos movimentos mais importantes do Brasil. Qual sua opinião
sobre ele?
Na pergunta já há uma valoração que direciona o entrevistado.
Outras características
23. Competência dos entrevistados em responder
as questões: Os respondentes são capazes de
responder as perguntas de forma confiável?
◦ Ex: Experiência de jovens ao volante. Pergunta aberta:
qual o número de km percorridos desde o momento da
habilitação?
Atentar para os contextos em que são feitas as
perguntas (rural e urbano, por exemplo) e a
linguagem que é e empregada.
Outras características
24. Ordenação das questões no questionário: no
caso de questionário aplicado, evitar começar
com questões polêmicas, por exemplo;
Numeração/codificação das alternativas de
resposta (no caso das perguntas fechadas)
Instruções: todo questionário, seja auto-
administrado ou aplicado por um entrevistador,
deve conter instruções claras e comentários
introdutórios onde apropriado.
Outras Características
25. Esclarecimento de dúvidas, análise de limites e
possibilidades do questionário;
Possibilita uma triangulação entre a questão de
pesquisa, hipótese e os dados.
O pré-teste é um momento de extrema
importância para a viabilidade e
desenvolvimento da pesquisa em questão.
Em última instância, o pré-teste visa assegurar a
criação de dados úteis.
Pré-teste
26. • Por ele, podemos observar elementos como:
O tempo do preenchimento do questionário
Se o questionário demonstra atender seu
propósito investigativo
Compreensão das perguntas por parte dos
entrevistados
Dificuldades do entrevistador
Consistência das respostas
Viabilidade do plano de análise
Inúmeras outras questões.
Pré-teste
27. Após o pré-teste, procedimentos de reavaliação do
questionário devem ser adotados, visando analisar suas
inconsistências e pontos a serem aperfeiçoados, visando
às dinâmicas posteriores do projeto de pesquisa
O pré-teste oferta insumos para consolidar um
treinamento eficiente e apontar questões que precisam
de maior atenção no preenchimento do questionário.
Cabe ao procedimento de crítica observar o
preenchimento adequado do questionário, de acordo
com os parâmetros esperados.
Pré-teste
28. Níveis diferenciados de complexidade do instrumento de pesquisa
exigem níveis diferenciados de qualificação do entrevistador.
As perguntas melhor elaboradas exigem menos capacidade do
entrevistador em de explorá-las.
Os comandos do questionário (“estimulada”, “leia para o
entrevistado”, única/múltipla) devem ser visualmente perceptíveis ao
entrevistador.
Risco do “não sabe” / “não quer responder” / “nem sim, nem não”
foram lidas com muita recorrência.
Há uma tendência do pesquisador considerar automaticamente
questões sobre as quais o entrevistado deu alguma pista.
Desdobramentos para o Pesquisador(a)
29. As questões ordinais (Escala Likert) com opções de resposta em
número ímpar concentraram as respostas na opção do meio.
Isso ocorreu nas questões com:
Ótimo’ ‘bom’ ‘regular’ ‘ ruim’ ‘péssimo’.
A opção de resposta no centro tende a ser a preferida por
entrevistados desinteressados ou que ainda não tem uma resposta
definida.
Diversos entrevistadores têm aplicado questões distintas como se
fossem apenas uma:
Desdobramentos para o Pesquisador(a)
30. Boa parte dos erros cometidos pelos entrevistadores está
relacionada a uma leitura não integral do texto e da frase de cada
questão. Em resumo, isso tem implicado em um alto nível de
improviso no momento de aplicação do questionário. Dessa maneira,
cada pergunta do instrumento de pesquisa (que foi cuidadosamente
pensada para medir um aspecto determinado da realidade) se
transforma em questões completamente diferentes do que foi
proposto e varia por entrevistador e local da coleta.
Alguns termos são de difícil compreensão por parte do
entrevistado. O termo “asfixia” pode ser difícil para o entrevistador
falar e para o entrevistado entender em várias ocasiões. A explicação
terminar tendo que ser improvisada pelo entrevistador.
Desdobramentos para o Pesquisador(a)
31. Dificuldades comuns relativas a Questões sobre renda:
É comum não ficar claro o que se quer: renda total da casa
(familiar) ou individual.
Essa questão é sempre foco de constrangimento, por vários
motivos. O pesquisador deve ter habilidade e delicadeza ao
realizá-la.
Pode-se usar um cartão de renda, desde que as pessoas
consigam se localizar facilmente em cada categoria. Caso
contrário, não é recomendado.
Pessoas que possuem renda inferior a um salário mínimo , por
exemplo, geralmente não conseguem localizar a categoria
correspondente. As pessoas não percebem/não entendem a
opção “até um salário mínimo”. No cartão de renda, os valores
chamam mais atenção que o texto.
Desdobramentos para o Pesquisador(a)
32. Dificuldades comuns relativas a Questões sobre renda:
Em residências de estudantes, ou em casas com pessoas que
estão passando temporadas, questões como renda familiar,
“chefe da família”, não fizeram sentido nesse contexto.
O instrumento visa padronizar a interação do entrevistador com o
entrevistado, garantido que a ‘mesma’ pergunta seja feita às pessoas.
Há uma tendência a improvisação do entrevistados que implicam na
aplicação de vários questionários diferentes e que comprometem a
comparabilidade dos resultados.
Com o tempo, a utilização do instrumento de pesquisa pelos
entrevistadores tende a ser “flexibilizada”. Eles já conhecem as
perguntas, as pausas, etc. Isso tanto pode gerar uma maior
familiaridade com o questionário e, com isso, uma melhor aplicação,
quanto pode aumentar o nível de improvisos e desrespeito ao
instrumento.
Desdobramentos para o Pesquisador(a)
33. Também deve ser considerado que o pesquisador pode
(intencionalmente ou não) dar dicas ao entrevistado de como
“acelerar” a aplicação do questionário.
Pessoas de outros estados (que se mudaram a menos de 2 anos,
mais ou menos) tem dificuldade de responder as perguntas
pensando no novo local de moradia.
Os pesquisadores estarem preparados para solicitar privacidade e
garantir que a entrevista seja realizada individualmente, sem
interferências ou acompanhamentos de familiares e vizinhos.
Desdobramentos para o Pesquisador(a)
34. Termos excessivamente formais e que não fazem parte do
vocabulário cotidiano de certos grupos de pessoas são
frequentemente ininteligíveis em um primeiro momento.
O conceitos utilizados devem estar bastante claros. Termos
próximos ou relacionados podem confundir o entrevistado. Por
exemplo: questões sobre agressões sexuais tendem a ser
consideradas muitas vezes como assédio sexual ou mesmo ofensa
verbal por questões sexuais.
Desdobramentos para o Entrevistado
35. Tempo médio adequado de aplicação do questionário.
Pesquisas domiciliares interferem no cotidiano das pessoas e
muitas vezes ocupam o tempo de outras atividades. Muitas
pessoas não têm disponibilidade (ou interesse) de responder
durante certa de uma hora uma longa bateria de questões.
Pessoas mais idosas, por exemplo, tem grande dificuldade de
dedicar tanto tempo a uma entrevista.
Pessoas mais ocupadas se esquivam imediatamente.
Há uma tendência do interesse diminuir consideravelmente
após os primeiros trinta minutos, o que compromete a
“sinceridade” ou a espontaneidade das respostas.
Questões mais delicadas sobre as vítimas, nesse contexto,
permanecem inacessíveis ao entrevistador, tendo em vista que
exigem um acesso mais cuidadoso.
Desdobramentos para o Entrevistado