3. 5 Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José.
4. 6 Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta.
5. 7 Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
6. 8 Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos.
7. 9 Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?
8. 10 Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.
9. 11 Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?
10. 12 És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado?
11. 13 Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede;
12. 14 aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.
13. 15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la.
14. 16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá;
15. 17 ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido;
16. 18 porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.
17. 19 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que tu és profeta.
18. 20 Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
19. 21 Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
20. 22 Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.
21. 23 Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.
22. 24 Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
23. 25 Respondeu a mulher: Eu sei que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas.
24. 26 Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.
25. 27 Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela?
26. 28 Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
27. 29 Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?!
28. 30 Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele.
29. 31 Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo: Mestre, come!
30. 32 Mas ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.
31. 33 Diziam, então, os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer?
32. 34 Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.
33. 35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa.
34. 36 O ceifeiro recebe desde já a recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; e, dessarte, se alegram tanto o semeador como o ceifeiro.
35. 37 Pois, no caso, é verdadeiro o ditado: Um é o semeador, e outro é o ceifeiro.
36. 38 Eu vos enviei para ceifar o que não semeastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
37. 39 Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito.
38. 40 Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias.
39. 41 Muitos outros creram nele, por causa da sua palavra,
40. 42 e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.
41. CONTEXTO Na época do Novo Testamento, havia uma grande animosidade entre samaritanos e judeus.
44. Mudaram-se então para a Samaria, colonos assírios que se misturaram com a população do local.
45. Na ótica dos judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se. O texto bíblico de 2 Re 17:29, retrata bem esta questão.
46.
47. ... os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos.
48.
49. ... os samaritanos cons-truíram um Templo no monte Garizim; no entanto, esse Templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano.
50.
51. ... os samaritanos pro-fanaram o Templo de Jerusalém durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.
52. Os judeus desprezavam os samaritanos por considerá-los impuros, ou seja, eles não eram uma raça pura de judeus, mas sim uma raça misturada com pagãos.
53. Por outro lado, os samaritanos respondiam com um desprezo semelhante.
54. O cenário do texto que fizemos a leitura, é o do “poço de Jacó”.
62. Ao estudarmos o Evan-gelho de João, vemos que o objetivo do autor, é produzir um material catequético. Ou seja, um material a ser usado no discipulado dos seguidores de Cristo.
63. Com o objetivo de ensinar os cristãos, João vai apresentar Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Novo Homem.
64. O nosso texto, faz parte de um texto maior, conhecido como “Livro dos Sinais”. Trata-se de um bloco de textos que vai do capítulo 4,1 ao 11,56.
65. Nele João recorre a alguns sinais para apresentar o poder criador do Messias “Jesus de Nazaré”.
66.
67. É um conjunto de ensinamentos sobre o poder criador do Messias.
68. O nosso texto é, exatamente, o primeiro ensinamento do “Livro dos Sinais”: através do “sinal” da água, João vai descrever a ação criadora e vivificadora de Jesus.
69. MENSAGEM A mulher (aqui apresentada sem nome próprio) representa a Samaria, que procurava desesperadamente a água que é capaz de matar a sua sede de vida plena.
70. Jesus vai ao encontro da “mulher”, ou seja, do povo samaritano. Segundo a tradição era nesse “poço” que eles procuravam a água da vida.
71. Estamos, pois, diante de um quadro que representa a busca pela plenitude de vida. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Nas tradições? Nos outros deuses?
72. A Mulher Samaritana (representando aqui a Samaria), dá conta da finitude dessa oferta de vida. A água do poço de Jacó, pode até matar a sede, mas por um período muito curto.
73. É aqui que entra a novidade de Jesus. Ele se senta “junto do poço”, como quem pretende ocupar o seu lugar.
74. Ele propõe à mulher/Samaria uma “água viva”, que dessedentará para sempre. Apresenta-se como o “novo poço”, onde todos os que têm sede de vida plena poderão dessedentar-se.
75. Qual é então, a água que Jesus tem para oferecer? É a “água do Espírito” que, no Evangelho de João, é o grande dom de Jesus.
76. Esse Espírito, uma vez acolhido no coração do homem, transforma-o, renova-o e torna-o capaz de amar Deus e os outros. Como é então, que a mulher/Samaria responde ao dom de Jesus?
77. Inicialmente, ela fica confusa. Parece disposta a remediar a situação, mas ainda não sabe bem como: ...
78. ... essa vida plena que Jesus está lhe oferecendo significa que a Samaria deve abandonar a sua religiosidade própria e assumir a proposta de Jesus.
79. No entanto, Jesus nega que se trate de escolher entre o caminho dos judeus e o caminho dos samaritanos. Não é no Templo de pedra de Jerusalém ou no Templo de pedra do monte Garizim que Deus está.
80. O que se trata é de acolher a mensagem do próprio Jesus. É de aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida. É dessa forma – e somente dessa forma – que desaparecerá a barreira de inimizade que separa os judeus e os samaritanos.
81. A única coisa que passa a contar é a nova vida em Cristo Jesus que encherá o coração de todos, e ensinará o amor a Deus e ao próximo – sem distinção de raça ou de perspectiva religiosa – uma família de irmãos.
82. A mulher/Samaria responde à proposta de Jesus abandonando o cântaro (agora inútil), e correndo para anunciar aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe fizera.
83. Uma outra questão que vemos nesse texto, é a apresentação do entusiasmo de todos aqueles que tomam conhecimento da proposta de Jesus e o aceitam como o Messias.
84. O nosso texto define, portanto, a missão de Jesus: Ele veio comunicar ao homem o Espírito que dá vida. A vida eterna e abundante.
85. APLICAÇÃO PASTORAL Dentre as várias lições que podemos tirar deste texto, gostaria de destacar três:
86.
87. Assim como existem vários tipos de água: oxigenada, boricada, sanitária, poluída, etc... e somente a potável é saudável e dessedenta... No mundo espiritual existem várias fontes... mas só Cristo pode oferecer a plenitude de vida.
88. Agostinho afirmou em uma de suas orações: “ Tu nos criastes para Ti, e nossa alma não encontra Paz enquanto não descansar em Ti”.
89.
90. Jesus nos basta, não precisamos buscar satisfação em nenhuma outra forma de religiosidade. Ele é suficientemente poderoso para nos dessedentar da sede existencial.