O senhor é meu pastor e hospedeiro salmo 23 (2012)
Seguindo o exemplo de cristo na humildade, no serviço e no amor 20 03 2005 - domingo de ramos - culto matutino
1. SEGUINDO O EXEMPLO DE CRISTO
NA HUMILDADE, NO SERVIÇO E NO AMOR
INTRODUÇÃO:
Queridos irmãos e irmãs...
Hoje é o Último Domingo da Quaresma, conhecido como: Domingo da Paixão
ou dos Ramos.
Durante todo este período litúrgico, incentivados pelas leituras propostas pelo
Lecionário Comum, de forma especial as leituras dos Evangelhos, temos refletido
sobre a pessoa de Jesus.
Vimos no decorrer dos últimos cinco domingos como Jesus foi apresentado
nos evangelhos:
1º) Vencedor sobre as tentações - Mateus 4,1-11
2º) Filho de Deus, cheio da Glória do Pai - Mt 17,1-9
3º) A Água da Vida - João 4,5-42
4º) A Luz do Mundo - João 9,1-41
5º) Poderoso para dar a Verdadeira Vida - João 11,1-45
Hoje se propõe a leitura de dois textos do Evangelho.
O primeiro trata-se da “Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém” (Mateus
21,1-11), texto que lemos logo no início do culto. Este é um texto festivo que aclama
Jesus como Senhor e Rei. As declarações são: “Bendito o que vem em nome do
SENHOR”.
Já o segundo, tem o gosto amargo da morte. Trata-se da narração da Paixão
e da Morte de Jesus de Nazaré (Mateus 27,11-54. Este é o texto que irei pregar no
culto da noite. Portanto convido-os a não faltarem.
Agora pela manhã não irei utilizar os textos do Evangelho de Mateus, mas sim
a proposta de leitura no Novo Testamento que é a de Filipenses 2,5-11.
Nela, encontramos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da
arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, a ponto de
dar a sua própria vida na cruz do Calvário.
Portanto, neste último domingo da Quaresma – tempo oportuno de revermos
os nossos conceitos e preconceitos, quero convida-los a refletir sobre este texto da
Palavra de Deus.
Intitulei o sermão desta manhã de: “Seguindo o exemplo de Cristo: na
humildade, no serviço e no amor”.
2. TEXTO: Filipenses 2,5-11
5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus,
6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação
o ser igual a Deus;
7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura
humana,
8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte
de cruz.
9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome
que está acima de todo nome,
10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na
terra e debaixo da terra,
11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai.
CONTEXTO
Vamos entender um pouquinho o contexto.
Filipos não era uma capital de província, mas era uma importante cidade da
Macedônia.
Ela ficava situada a beira de uma estrada muito movimentada da época, a Via
Egnatia. Esta era uma estrada que ligava a Itália à Ásia.
Filipos era um importante pólo comercial. Uma outra característica da cidade
é que ali residiam muitos militares aposentados. Naturalmente muitos aspectos da
vida da cidade lembrava a vida militar.
Ao lado dos muitos militares (e eram muitos mesmo), havia também a antiga
população da cidade, bem como muitas outras pessoas procedentes de diversas
regiões do Império Romano.
Paulo chegou pela primeira vez em Filipos por volta do ano 50. Foi aí que
começou a evangelização da Europa. Filipos foi a primeira cidade européia visitada
por Paulo, e ali se converteram os primeiros cristãos europeus.
Lídia, a vendedora de púrpura, residente na cidade acolheu o apóstolo em
sua própria casa. Foi ali que nasceu a comunidade cristã de Filipos.
Contudo, nessa primeira vez Paulo não se demorou na cidade, pois logo foi
denunciado, preso e encarcerado.
3. A comunidade cristã, ali fundada, era uma comunidade entusiasta, generosa,
comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja. Paulo
nutria um afeto especial pelos filipenses.
Apesar destes sinais positivos, não era, no entanto, uma comunidade
perfeita… O desprendimento, a humildade e a simplicidade pareciam não fazer
parte das características dos cristãos filipenses.
É nesta linha que podemos situar o nosso texto.
Paulo convida os Filipenses a encarnar os valores que marcaram a trajetória
existencial de Jesus.
Para isso, ele vai se utilizar de um hino muito conhecido pelos cristãos da
época, e que era recitado nas celebrações cúlticas.
Fazendo uso da letra desse hino, Paulo vai expor aos irmãos filipenses o
exemplo de desprendimento, humildade, simplicidade e obediência de Cristo Jesus
MENSAGEM
Como cristãos, ou seja, discípulos de Cristo, os filipenses deveriam imitá-lo.
Jesus é o paradigma a ser seguido. O modelo a ser copiado. Esse é o motivo do
hino, apresentar Jesus como o exemplo a quem os discípulos devem seguir.
Vejamos então como é o exemplo de Cristo:
O hino começa apresentando o contraste entre Adão e Cristo.
Adão é o homem que reivindicou ser como Deus e lhe desobedeceu – cf. Gn
3,5.22.
Cristo é o Homem Novo que, diferentemente de Adão tem atitudes de
humildade e obediência.
A atitude de Adão trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe
exaltação e vida.
O hino apresenta o “despojamento” de Cristo. A palavrinha grega utilizada é
“kenosis”: esvaziar, anular, tornar vão...
Cristo não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas
aceitou a encarnação, assumindo com humildade a condição humana.
Ele não deixou de ser Deus; mas aceitou fazer-se servidor dos homens, para
garantir vida nova para a humanidade corrompida.
Esse “desprendimento” de Jesus assumiu foros de escândalo: Jesus aceitou
uma morte infamante – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema lição do
serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
4. Essa completa entrega ao plano do Pai não foi uma perda nem um fracasso:
a obediência e entrega de Jesus ao projeto do Pai resultaram em ressurreição e
glória.
Como resultado da sua obediência, do seu amor, da sua entrega, Deus fez
dele o “Kyrios”, ou seja, o Senhor.
“Senhor” aqui, tem a mesma conotação do nome impronunciável de Deus, no
Antigo Testamento.
O Judeu não pronuncia o nome de Deus. Quando ele está lendo a Torah, e
aparece o Tetragrama Sagrado, ele automaticamente realiza substituições. Dentre
uma delas é a palavrinha “Adonai” (Senhor). Algumas vezes eles simplesmente
dizem “O Nome”.
No texto que estamos estudando, a palavra “Kyrios”, segue o raciocínio de
“Adonai”, SENHOR.
No contexto do Império Romano somente o César era chamado de “Kyrios”.
Ou seja, ele era o Senhor com S maiúsculo.
O que vemos então neste texto é o apelo de Paulo para que os filipenses,
bem como todos os cristãos (ou seja, todos os seguidores de Cristo), para a
humildade, o desprendimento, o dom da vida.
O cristão deve seguir o exemplo desse Cristo, servo sofredor e humilde, que
fez da sua vida um dom a todos.
Esse caminho levará à glória e à vida plena.
Como nos afirmou o próprio Cristo: “Pois todo o que se exalta será humilhado;
e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14,11).
APLICAÇÃO PASTORAL
Vejamos algumas lições que podemos aprender neste belo hino da igreja
cristã primitiva:
Assim como na época de Paulo, os valores existenciais ensinados por Cristo
não eram apreciados, vemos o mesmo acontecer em pleno século XXI.
No nosso mundo, assim como na sociedade dos filipenses, os grandes
“ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com
humildade e simplicidade, mas sim aqueles que enfrentam o mundo com
agressividade e com auto-suficiência.
Aqueles que fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique “passar
por cima de alguém”, é que são considerados os merecedores de vitória.
5. Uma questão que podemos trazer à nossa mente é: Como pode um cristão,
inserido num mundo competitivo como o nosso, viver estes ensinamentos do
apóstolo Paulo?
Acredito que Paulo tinha consciência de que o que ele estava pedindo era
algo realmente difícil; porém fundamental, para os seguidores de Cristo.
O mesmo apelo feito aos filipenses, nos é feito hoje também.
Que nestes últimos dias que antecedem a celebração Páscoa, possamos
assumir o caminho da humildade, do serviço, e do amor.
Sigamos o exemplo de Cristo Jesus.
Rev. Paulo Dias Nogueira
Catedral Metodista de Piracicaba
Culto Matutino – 20/03//2005