SlideShare una empresa de Scribd logo
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Descargar para leer sin conexión
pág. 3 - 4
Entrevista com: Avtar Panesar
pág. 4
Enquete!
pág. 5 - 7
Matéria da Capa: Os 100 anos do cinema indiano
pág. 7 - 8
Um dia na fábrica dos sonhos
pág. 9 - 10
Entretenimento:
O jeito indiano de ir aos cinemas
pág. 11 - 12
A India vai a Cannes
pág. 12 - 13
Notícias do Mês
pág. 14 - 15
Crítica: Sholay
pág. 16 - 17
Agenda de Estreias
100 anos de história. Do cinema mudo, em preto e branco, às superproduções em 3D.
O cinema indiano tem muito o que comemorar e a Bollywood Brasil também comemora
com uma edição especial.
Esta edição traz uma matéria especial com os grandes clássicos do cinema indiano, ex-
plicando por que eles marcaram época.
Imagine a profissão de um executivo de uma das maiores produtoras de Bollywood, tra-
balhando com as superestrelas... Avtar Panesar, da produtora Yash Raj Films, nos conta
um pouco dessa rotina.
E tem mais: vamos mostrar como a fábrica de sonhos funciona! Visitamos os estúdios
de gravação, onde grandes sucessos de Bollywood são filmados. Trazemos a crítica do
clássico Sholay, as notícias do mês (filme de Tollywood filmado em Portugal, um super-
herói preguiçoso e que gosta de samosa e ainda um pedido de casamento com Flash-
mob estilo Bollywood).
Mas não paramos por aí. Esta é uma edição especial então trazemos também a cober-
tura do festival de Cannes, que este ano homenageia os 100 anos do cinema indiano.
Esperamos que gostem desta edição especial e como sempre estamos abertos a sug-
estões por e-mail (jornalismo@bollywoodbrasil.com.br) ou pelo nosso Facebook (Bolly-
woodBrasil).
Forte abraço,
Equipe da Bollywood Brasil
Bollywood Brasil
Expediente:
Editor-chefe: André Ricardo
Redação: André Ricardo, Claudia Rabelo Lopes, Feliz Luz, Fernanda Beltrand, Juily Manghirmalani, Rosely
Toledo e Tiago Ursulino
Edição e revisão: Tiago Ursulino
Diagramação: Aline Moreira, Dayna Disha Malani, Juily Manghirmalani e Welber Conceição
Publicidade: Themis Nascimento
Divulgação: Shadia Fernanda
Contato:
Redação: jornalismo@bollywoodbrasil.com.br
Divulgação: divulgacao@bollywoodbrasil.com.br
Anúncios/patrocínio: comercial@bollywoodbrasil.com.br
ENTREVISTA
com Avtar Panesar,o superexecutivo da YRF
	 Vivemos em tempos em que tudo gira em função
da concorrência, em que a disputa por mais “potência”
está presente em tudo, desde eletrodomésticos a car-
ros. Isto também se sente presente no cinema indiano
através de grandes empresas como a Yash Raj Films
(YRF), estabelecida por Yash Chopra, um diretor e produ-
tor de cinema conhecido como o “rei do romance” e que
é considerado um magnata do entretenimento na Índia.
	 A YRF, além de produzir filmes, lançou o seu
próprio selo musical, chamado YRF Music. Para que es-
tas potências sejam bem administradas é necessário ter
os melhores executivos e este mês a nossa entrevista é
com um deles.
	 Avtar Panesar está no ramo de entretenimento
há mais de 25 anos, atuando no mercado internacional
para música e filmes indianos. Há 16 anos está com a
YRF, onde criou e desenvolveu o departamento de distribuição internacional a partir do primeiro escritório no exterior da
YRF no Reino Unido em 1997. Atualmente supervisiona todas as negociações realizadas fora da Índia, tendo com foco a
formação de novos mercados para a empresa.
...Como foi que você se envolveu na indústria de
cinema? E com a YRF?
	 Eu sempre estive neste negócio. Comecei com
a EMI Índia / HMV por volta de 1984 e, posteriormente,
com a YRF partir de 1997, quando eu criei o primeiro
escritório internacional em Londres, com o filme Dil To
Pagal Hai (O Coração é louco) de Yash Chopra, em se-
guida nos EUA e Dubai desenvolvendo o mercado fora
da Índia. Então eu acho que foi um passo natural para
mim.
...O que você mais gosta no seu trabalho?
	 Quando eu viajo para qualquer lugar do mundo
e conheço pessoas que me dizem que viram um filme
dos nossos estúdios e como isso impactou suas vidas.
É ótimo saber que eu fui parte do processo de real-
ização do filme e ajudei a levar alegria a suas vidas.
Para as pessoas que vivem longe da Índia, Bollywood é
uma maneira de ficar conectado com o seu país, raízes
e valores. Eu nasci na Índia, mas fui criado no Reino
Unido e compartilho este sentimento.
...Você está constantemente lidando com estrelas
de Bollywood. Como é lidar com as celebridades?
	 É um trabalho para eles e para nós e todos
nós fazemos a nossa parte. No entanto, existem sem-
pre alguns momentos especiais, e os meus dois fa-
voritos “superstars” são Amitabh Bachchan e Shah
Rukh Khan, que sempre são atenciosos para que você
possa se sentir especial.
...Qual é o seu filme favorito, podendo ser da YRF ou
não?
	 Essa é sempre uma pergunta difícil e nunca
poderia ser só um. Cada filme é especial por causa
dele mesmo ou das memórias ligadas a ele. Se tivesse
que escolher um filme, teria que ser Veer Zaara, por
causa do assunto, performances, música, roteiro e o
filme na sua totalidade, bem como as memórias liga-
das ao mesmo e também ao fato de termos aberto
nosso escritórios no Oriente Médio com este filme e
o mercado ter-se desenvolvido muito. Estou muito or-
gulhoso dos nossos esforços e dos resultados alcança-
dos.
...E o seu ator e atriz favoritos?
	 Meu ator favorito é Amitabh Bachchan. Se você
perguntar sobre a atual safra de atores, temos vários,
mas Shah Rukh Khan é, talvez, a minha primeira es-
colha.
Quanto as atrizes, mais uma vez, é uma pergunta
difícil, mas Madhuri Dixit é uma das atrizes mais tal-
entosas, e da nova geração seria Anushka Sharma.
...Yash Chopra deu uma nova dimensão ao cinema indiano por ter uma forma singular de contar uma história
romântica para o público. Além disso, ele foi um dos pioneiros em filmes de Bollywood do gênero masala, cri-
ando um novo padrão para o cinema indiano. Podemos dizer que os seus blockbusters ajudaram Bollywood a se
expandir internacionalmente. Como você vê Bollywood evoluindo no futuro?
	 Sim, Yashji era um veterano e sempre nadou contra a maré, ele travou muitas batalhas nas bilheterias,
ganhou algumas, perdeu outras, mas uma coisa que o seu público esperava dele era o inesperado, e ele nunca os
decepcionou. Foi esta abordagem inusitada que manteve seus filmes em um rumo de constantes mudanças nos
últimos 50 anos.
O futuro é brilhante para Bollywood e nós estamos nos preparando para o mundo; e o mundo já começou a apreci-
ar os filmes indianos, os quais tem uma identidade muito distinta e é isso que os tornam especiais e os destacam.
Estamos contando histórias diferentes e esses filmes estão encontrando público, o que é muito encorajador, por
isso nós seremos uma marca ainda maior no futuro, tanto nacional como internacionalmente.
...Você teve alguma situação engraçada durante o seu
trabalho?
	 Muitas para listar, mas durante as filmagens de
Mohabbatein, tivemos muitos momentos engraçados e
de várias maneiras, mas o momento mais assustador
de todos foi quando tivemos que construir um cenário
para um Gazebo e um templo no térreo da Longleat
House (a residência do Senhor e Senhora Bath, no
Reino Unido), e 2 dias antes das filmagens o cenário
começou a afundar por causa do excesso de chuva.
Mas felizmente conseguimos corrigir isso, com grande
dificuldade.
...O cinema indiano será homenageado em Cannes
este ano. Quais são os planos para o Festival?
	 Nós estaremos lá com o maior filme da Índia,
Dhoom 3, que é a mais bem-sucedida franquia de ação
da Índia. É o longa metragem mais caro do país e será
o primeiro filme indiano em IMAX . O filme está pre-
visto para lançamento em dezembro. Nós filmamos
Dhoom 2, em parte, no Rio de Janeiro e isso ajudou o
filme a tornar-se o maior sucesso de público em 2006.
“É ótimo saber que eu fui parte do processo de realização
do filme e ajudei a levar alegria a suas vidas.”
“Nós seremos uma marca
ainda maior no futuro, tan-
to nacional como interna-
cionalmente.”
por Rosely Toledo
3
...Você acha que o tema dos filmes estão mudando devido
à integração da Índia aos valores ocidentais?
	 Isso faz parte do jogo. Estamos em um negócio
onde nós precisamos ter contato com o que o nosso pú-
blico quer. É claro que cinema é um reflexo dos tempos em
que vivemos e temos de entender isso. Então a mudança é
inevitável.
...Quais são as melhores e as piores coisas sobre o seu
trabalho?
	 Temos que dar esperança a todos que veem os nos-
sos filmes. Se você é pobre nós
somos capaz de mostrar-lhe um mundo do qual você talvez
nunca consiga experimentar. Se você está apaixonado, nós
fazemos épicos que conectam os povos. O que poderia ser
melhor do que fazer sonhos se tornarem realidade?
...Qual é o filme da empresa que teve a maior distri-
buição em números na Índia?
	 Isso sempre varia a cada ano e depende do
número de filmes lançados pelo estúdio, como é o caso
do ano de 2012 em que tivemos os filmes de 1º (Ek Tha
Tiger) e 2º (Jab Tak Hai Jaan) lugar de bilheteria.
...Hoje em dia, como é a distribuição de filmes de Bol-
lywood em outros países? Que país você acha que é mais
receptivo a filmes indianos?
	 Estamos sempre à procura de novos mercados
para levar nossos filmes. Eu sempre sinto que
existem três fases para os nossos filmes: 1) Intriga, 2)
Aceitação, 3) Abraço.
A maioria dos países está na fase 1, pois eles agora es-
tão intrigados com Bollywood, por isso precisamos levar
os filmes direito a esses mercados, a fim de que passem
para a fase 2. Claro que há países como a Alemanha que já
abraçaram o nosso cinema.
...Você acha que Bollywood pode ter uma presença no
Brasil, como em outros países, como a Alemanha ou
Peru?
	 Sim, de fato estou muito confiante de que va-
mos, embora não seja uma tarefa fácil, já que o Brasil
tem um forte cinema local, mas acredito que os filmes
indianos são como a comida indiana: uma vez adquiri-
do o gosto você está viciado e não pode viver sem ela.
...A YRF tem planos para o Brasil? Talvez um novo filme
rodado aqui?
	 Nós esperamos poder começar a ver sucesso no
escritório brasileiro e adoraríamos filmar mais nesse lindo
país.
“Filmes indianos são como a comi-
da indiana uma vez adquirido o
gosto você está viciado e não pode
viver sem ela.”
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contato: comercial@bollywoodbrasil.com.br
Enquete!
A Bollywood Filmes desta vez perguntou qual seria o ator indiano preferido dos brasileiros.
A competição foi ainda mais acirrada do que a com as atrizes, como vocês verão pela diferença entre
os primeiros colocados. Então vamos aos mais votados:
4º colocado – HRITHIK ROSHAN com 13% dos votos
3º colocado - SALMAN KHAN, com 15% dos votos.
A partir daqui, a disputa foi voto a voto:
2º colocado – O rei do romance SHAH RUKH KHAN, com 29% dos votos
E em primeiríssimo lugar, provavelmente o mais versátil de todos. Ele já foi vilão, mocinho e até idiota!
Famoso por seus filmes de cunho social, além de ator é também produtor, embaixador da UNICEF e
apresentador de TV nas “horas vagas”. Ele é conhecido em Bollywood como o senhor perfeccionista.
Com 31% da preferência do público brasileiro: AAMIR KHAN
Agradecemos a todos que votaram e fiquem ligados que em breve teremos mais enquetes.
4
Os 100 anos do cinema indiano
Como parte das comemorações para o centenário do cinema indiano, a Bollywood Brasil relembra alguns clássicos
indianos que marcaram as suas décadas e que, claro, continuaram influenciando o cinema das décadas seguintes.
Na seleção, somente filmes da indústria híndi.
Anos 50
Anos 10
Raja Harishchandra
(O Rei Harischchandra) – (1913)
O filme conta a história sobre Harishchandra, um rei que sacrificou
perante os deuses sua família, o poder e seu reino em nome de seus
princípios e amor pela verdade. E que, após passar por muitas difi-
culdades descobre que tudo não passava de um teste de integridade.
Raja Harishchandra é destaque no Cinema Nacional Indiano, pois
foi o primeiro longa-metragem produzido na Índia (então uma colônia britânica) e por um indiano. Lançado em 3 de
maio de 1913, o longa coroou o cinema em Mumbai. Dirigido e produzido por Dadasaheb Phalke (1870 – 1944), o
filme é silencioso e em preto e branco, e os papéis femininos foram encenados apenas por homens, pois a profissão
de atriz era considerada indecente naquela época. O longa é tão importante para o cinema indiano que o seu dire-
tor, considerado o pai do cinema na Índia, dá nome a um dos prêmios de cinema mais cobiçados do país, entregue
anualmente em reconhecimento a contribuições excepcionais ao cinema.
O filme tinha 4 rolos, dos quais apenas o primeiro e o último sobreviveram nos arquivos da NFAI (National Film
Archive of India), sendo que alguns historiadores acreditam que estes rolos na verdade pertencem a um remake que
o próprio Phalke teria feito do filme em 1917.
Baseado em uma peça teatral, o filme conta a história de um rei
e a rivalidade de suas duas rainhas Navbahar e Dilbahar que dispu-
tam qual de seus filhos será o herdeiro do trono.
A estreia do filme ocorreu no dia 14 de março de 1931. Alam Ara
é o primeiro filme falado da história do cinema indiano. Além disso,
conta com números musicais, detalhe que se tornaria um sucesso
na indústria cinematográfica conhecida como Bollywood. O filme
introduziu a música popular indiana no enredo de filmes e fez tanto
sucesso que era necessário reforço policial para conter as multi-
dões. A partir de Alam Ara, a indústria do cinema indiano percebeu
que os filmes sonoros seriam um sucesso e passaram rapidamente
ao novo gênero. Em 2003, a versão original foi destruída em um
incêndio no NFAI, e o filme não está mais disponível em seu formato original.
Recentemente, o longa foi homenageado na comemoração de seu 80º aniversário pelo site de busca Google Ín-
dia, através de um doodle, na página inicial.
Anos 40
Trata-se da história de um proprietário de um antigo te-
atro e de sua filha que estão vivendo na pobreza. Até que a
filha encontra um jovem batedor de carteiras que ao tentar
enganá-la acaba se apaixonando pela garota e traz de volta
a chance do pai voltar a ser dono do teatro.
O destaque para este blockbuster indiano é que ele tra-
ta de temas ousados para a época, como a gravidez fora do
casamento e pela primeira vez traz um ator indiano Ashok
Kumar interpretando dois papéis (Shekhar e Madan).
Dirigido e escrito por Gyan Mukherjee e produzido pela
Bombay Talkies, Kismet se tornou sucesso de bilheterias,
fazendo mais de 10 milhões de rúpias – o que representa-
ria, em valores atuais, mais de 639 milhões de rúpias ou
23 milhões de reais.
Kismet - (1943)
Mother India
(Mãe Índia) - (1957)
Os recém-casados Rhada (Nargis Dutt) e Shyamu vivem em condi-
ções precárias em uma comunidade rural, juntamente com a mãe de
Shyamu, que, para ajudar o casal, faz um empréstimo com Sukhihala,
um homem que controla a vila. Ao emprestar o dinheiro, Sukhihala se
aproveita da ingenuidade da mulher, e faz com que ela assine um docu-
mento que colocará a família em uma situação de extrema exploração.
Para ajudar sua família, na ausência de seu marido, Radha luta para
criar seus filhos e sobreviver. Apesar de seu sofrimento, ela se define
como exemplo moral de uma mulher indiana ideal.
Mother India é considerado a produção mais cara de Bollywood. Levou
três anos para ser confeccionado, desde a organização, planejamento e
criação de roteiro até o término das filmagens.
O filme recebeu muitas indicações e premiações. Em 1957, ganhou dois prêmios no 5º Prêmio Nacional de Cinema:
Certificado de Mérito de Melhor Longa Metragem (entre todas as línguas) e Certificado de Mérito para o Melhor Longa
Metragem (em híndi). Já em 1958, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas perdeu para Noites de Cabí-
ria, de Federico Fellini, por um único voto. Ganhou o prêmio de melhor filme da Filmfare, e também os de melhor diretor
para Mehboob Khan, melhor atriz principal para Nargis, melhor diretor de fotografia para Faredoon Irani e melhor som
para R. Kaushik. Nargis também tornou-se a primeira indiana a receber o prêmio de Melhor Atriz no Karlovy Vary Inter-
national Film Festival, da hoje chamada República Tcheca.
	 Mother India se tornou um clássico cult e é considerado um dos melhores filmes indianos. O longa estreou
no Cinema Liberdade em Mumbai, no dia 25 de outubro de 1957, e foi lançado no mesmo dia em Kolkata (Calcutá),
em Délhi uma semana depois, e até o final de novembro já havia sido lançado em todas as regiões.
Anos 30
Alam Ara
(A luz do mundo) - (1931)
5
Anos 80
Salaam Bombay
(Saudações a Bombaim) - (1989)
O longa narra a história de um menino chamado Krishna, de dez
anos, abandonado por um circo ambulante, conhecido como Circo
Apollo. Sem rumo, ele vai para Bombaim, chegando em meio ao turbi-
lhão da grande metrópole. O garoto sonha em trabalhar e guardar 500
rúpias que o levarão de volta a sua casa e para os braços de sua mãe,
mas a vida nas ruas não é fácil.
O filme é o primeiro longa da diretora indiana Mira Nair, que se tor-
nou conhecida no Brasil pelo filme “Um Casamento à Indiana”. Foi in-
dicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e reflete o problema das
crianças abandonadas em países do terceiro mundo. A maioria dos jo-
vens atores que apareceram em Salaam Bombay eram de fato crianças
de rua. Todos receberam um treinamento em uma oficina em Bombaim
antes de aparecerem no filme.
Em 1989, a diretora Mira Nair criou uma organização chamada Salaam Baalak Trust, para reabilitar as crianças
que apareceram no filme. A maioria deles foi ajudada. A organização ainda existe, e agora presta apoio a crianças
de rua em Mumbai/Bombaim, Délhi e Bhubaneshwar. Shafiq Syed, que desempenhou o papel de Krishna no filme,
agora ganha a vida como motorista de autorickshaw (o riquixá motorizado indiano) em Bangalore e luta para susten-
tar uma família de cinco pessoas no sul da Índia.
Anos 90
Dil Se
(Do coração) - (1998)
Amarkant Varma (Shah Rukh Khan), um jornalista que está a serviço
de uma rádio, vai para o nordeste indiano reportar os eventos relacio-
nados ao 50º aniversário da independência da Índia (livre do comando
britânico desde 1947). Numa de suas jornadas, apaixona-se por uma
bela e misteriosa mulher chamada Meghna (Manisha Koirala), envolvida
em atentados terroristas.
O melodrama político Dil Se é a última parte da trilogia do diretor Mani
Ratnam dedicada ao terrorismo. Os anteriores são Roja (1992) e Bombay
(1995). A atriz Manisha Koirala também coescreveu o roteiro. A história foi
filmada em Himachal, Hashmir, Délhi, Assam e Kerala durante um período
de 55 dias. É considerado um exemplo para o cinema indiano. Apesar do
fracasso de bilheteria internamente, tornou-se um sucesso no exterior ga-
nhando cerca de 980 mil dólares nos Estados Unidos e Reino Unido.
Além de ser premiado no Festival de Berlim de 1999, ganhou sete prêmios Filmfare das dez indicações na ce-
rimônia de 1998 e dois National Film Awards. Dil Se é dito ser uma viagem através dos sete tons de amor que são
definidos na literatura árabe antiga: atração, paixão, amor, reverência, adoração, obsessão e morte. O personagem
interpretado por Shah Rukh Khan passa através de cada uma dessas máscaras no decorrer do filme.
Anos 70
Sholay (1975)
Veeru e Jai são uma dupla de bandidos imbatíveis, de segunda
classe, que acabam sendo recrutados pelo próprio policial que os
prendeu para uma missão quase impossível: capturar o terrível
Gabbar Singh, um psicopata que anda aterrorizando o pequeno
vilarejo de Ramgarh.
Sholay é o filme de maior sucesso dos últimos tempos. Arreca-
dou cerca de 88 milhões de dólares. Após o sucesso de Sholay, ne-
nhum filme chegou perto de tal arrecadação. No início, cogitou-se
que o filme seria um fracasso, mas para que não houvesse prejuízo
o filme continuou em cartaz. Dessa forma, possibilitou que muitas
pessoas o assistissem ficando mais de cinco anos em cartaz na
sala Minerva, em Mumbai.
O longa é estreado por Dharmendra, Amitabh Bachchan, Sanje-
ev Kumar, Hema Malini, Jaya Bhaduri Bachchan e Amjad Khan. Em
2005, durante a 50ª premiação anual Filmfare ganhou um prêmio especial chamado de Melhor Filme em 50 anos.
Estudiosos discutiram vários temas que surgiram a partir do filme, como a glorificação da violência, a evolução dia-
lética entre ordem social e usurpadores mobilizados, ligação homossexual entre os dois protagonistas masculinos
e o papel do filme como uma alegoria nacional. Os diálogos e alguns personagens do filme se tornaram extrema-
mente populares. Leia mais sobre o filme na nossa crítica do mês.
Anos 60
Mughal-e-Azam (1960)
Ambientado no século XVI, o filme conta a história de amor
entre Salim e Anarkali, um príncipe e uma bailarina que lutam
contra as diferenças sociais em nome de um grande e poderoso
amor. Salim é filho de Akbar, o Grande, o mesmo imperador retrata-
do no mais recente filme Jodhaa-Akbar.
Um dos longas de maior sucesso do cinema indiano, aclamado pela
crítica e que inspira atores e diretores, Mughal-e-Azam, dirigido por
K. Asif, foi uma das maiores superproduções que Bollywood já viu
em sua história e levou nove anos para ser concluído. Foi recorde de
bilheteria até o lançamento de Sholay (1975).
Originalmente filmado em preto e branco, conta com a participa-
ção dos atores Prithviraj Kapoor, Dilip Kumar e Madhubala nos prin-
cipais papéis. A versão colorida, para o delírio dos fãs, foi criada
em 2004 e lançada no mesmo ano, por Rajeev Dwivedi e Sankran-
ti, demonstrando ainda mais o sucesso desse grande e lendário
filme da história de Bollywood.
6
Anos 2000
3 Idiots
(3 idiotas) - (2009)
Dois amigos, Farhan (R.Madhavan) e Raju (Sharman
Joshi), estão à procura do melhor amigo (Aamir Khan),
que desapareceu após decidir mudar sua maneira de
ver o mundo. Assim, eles retornam à escola onde es-
tudaram, onde relembram insólitas experiências com
uma jovem e bonita garota e também com o tirânico
professor. Mas o pior é terem de lidar com uma aposta
indesejada, um casamento e um funeral.
O filme teve sua estreia marcada para o dia 25 de
dezembro de 2009 e no dia 4 de janeiro de 2010, já
havia quebrado todos os recordes do cinema indiano.
Superou os recordes de arrecadação dentro e fora do
país e também o de salas ocupadas.
O principal motivo do sucesso é o seu tema: num
país em que os meninos muitas vezes são obrigados
pelos pais a cursar engenharia e as meninas a se torna-
rem médicas, o filme mostra o drama vivido dentro das
universidades por esses jovens que não necessariamen-
te compartilham os sonhos dos pais.
O longa é escrito e dirigido por Rajkumar Hirani. A produção é da Vinod Chopra Productions e o roteiro de Abhijat
Joshi. Conta com a participação, além dos atores citados, de Kareena Kapoor.
Durante os dez dias de lançamento, o filme alcançou a marca dos 18 milhões de dólares nos Estados Unidos
e tornou-se o filme de maior bilheteria da história de Bollywood também em mercados estrangeiros. Além disso,
levou seis prêmios Filmfare, incluindo melhor filme e melhor diretor, dez prêmios Star Screen e dezesseis IIFA.
Um dia na Fábrica de Sonhos
Juily Manghirmalani visitou na Índia um dos maiores estúdios de produção de Filmes de Bollywood
e conta para os leitores da Bollywood Brasil, como a magia e cores de Bollywood são produzidas.
7
por Juily Manghirmalani
Era uma tarde tranquila e quente em Mumbai, quando um dos assistentes do vice-presidente da Yash
Raj Films retornou uma ligação que tinha feito a alguns dias. Ele perguntou se eu estava disponível naquela
segunda feira, dia 28/01, às 16hs para uma visita guiada pelos estúdios de uma das maiores produtoras de filmes
de Bollywood. Minha reação, após alguns gagueijos, foi de profunda alegria. Meu mundo parou naquele telefonema.
	 Estava ansiosamente tentando marcar uma possível visita a Yash Raj Films, para conhecer melhor
o processo de gravação, pós-produção e respirar o mesmo ar que grandes produtores e estrelas do cinema
indiano que tanto admiro. Falei com o senhor Avtar Panesar, vice-presidente da Yash Raj, que foi muito aten-
cioso e gentil.
	 No dia da visita, chegamos cedo a sede da Yash Raj, que fica no bairro de Andheri, Mumbai e ficamos
em um grande hall esperando sermos atendidos. Pelas paredes, enormes imagens de filmes indianos e pin-
turas do incrível pintor indiano M. F. Hussain. Após um café, um dos assistentes do senhor Panesar veio ao
nosso encontro. Muito simpático, conversamos sobre a possibilidade de ascensão do mercado cinematografico
indiano no Brasil e sobre interesses da YRF, mas tudo muito rapidamente. Mais tarde, outra pessoa veios nos
receber para nos dar o tour pelos estúdios.
	 De forma ágil e decidida, nosso guia falava e andava com pressa, mas não deixou de nos responder
nada. A visita durou cerca de uma hora e meia, vimos quase todas as instalações do conjunto de estúdios.
Primeiro, ele nos explicou a divisão dos prédios da YRJ. Em um conjunto de quatro prédios, acontecem: 1.
administração geral, 2. e 3. produção de filmes, 3. pós-produção e distribuição. Logo após essa introdução,
ele nos levou aos soundstages, que são aqueles grandes estúdios compartimentados, onde monta-se cenários
para cenas controladas. A YRJ possuem 3 grandes soundstages, porém o 1 é o maior de todos. Ao entrarmos
lá, no meio de muitas pessoas trabalhando e poeira por todo canto, descobrimos que foi alí, que dias atrás,
ocorreu o Filmfare Award, a maior premiação de filmes indianos.
	 No segundo andar do mesmo prédio, nosso guia nos apresentou os camarins que os atores mais fa-
mosos possuem já reservados. Entramos no do Shahrukh Khan, que obviamente estava vazio, mas nosso guia
queria nos contar como esse super astro de Bollywood se comporta, e por isso, nos falou que ele possui grande
supertição e afinidade pelo número 05, por exemplo. No terceiro andar, ficam os salões de ensaio, que estão
entre os maiores que existe no mundo. Entramos em um que possuia fotos enormes de atores como o próprio
Shahrukh Khan e Madhuri Dixit. Ficamos sabendo que para filmar um item de dança de um filme de Bollywood,
são necessários entre três a sete diárias de gravação e que enquanto outras cenas são gravadas, os dançarinos
se concentram nessa sala.
	 Enquanto andávamos até o segundo prédio, nosso guia, curioso, perguntava como funciona a indústria
midiática brasileira, o que foi difícil de explicar, já que é tão diferente da indiana. Chegando lá, visitamos os
setores de gravação de som. Fomos, desde onde as cenas são dubladas pelos atores, onde orquestras tocam
para mixagem das trilhas sonoras até chegar a tocar nos objetos utilizados para foley.Para os que não sabem,
maior parte dos filmes indianos ainda são dublados e o som é quase inteiramente feito em pós-produção.
Essa visita foi inspiradora, cheia de aprendizados e nos deu uma visão muito realista de como é produzido um
filme de Bollywood.
	 Não conseguimos visitar os outros prédios, pois estavam sendo usados para gravações e também não
tínhamos permissão para tirarmos fotos, porém, Avtar Panesar nos enviou fotos para utilizarmos nessa matéria.
	 Eles mandaram notícias para os brasileiros, que como eu, já estão ansiosos por mais filmes indianos
no cinema! Depois de Fanaa, eles já estão pensando qual o próximo filme que será lançado aqui e nos deixou
escapar uma pista. Para felicidade dos fãs do super astro Aamir Khan, provavelmente será algum dos novos
filmes dele! Esperaremos ansiosos por mais novidades e filmes de Bollywood na telona!
8
O jeito indiano
por Claudia Rabelo Lopes
Espontaneidade e interatividade são palavras-chaves
para compreender o comportamento do público de cin-
ema na Índia.
	 No lado ocidental do planeta, em geral, a boa eti-
queta recomenda silêncio no cinema. Em qualquer sala
de cinema de grandes cidades do Brasil, comentários
em voz alta ou um choro de criança são imediatamente
reprovados com um “shhh”. A presença mesma de cri-
anças na exibição de um filme não rotulado como infan-
til é inesperada, para não dizer indesejada, assim como
qualquer coisa que possa desviar a atenção dos especta-
dores daquilo que acontece na tela. Mas ao entrar numa
sala de cinema na Índia, caro leitor, esqueça tudo isso e
se prepare para uma experiência que pode lembrar mais
a de assistir a um jogo de futebol no estádio ou a um
espetáculo de música pop.
	 Assobiar, aplaudir, jogar moedas na tela, gritar
conselhos ou avisos para os personagens, fazer comen-
tários em voz alta, levantar-se, sair e voltar, cantar e até
dançar são comportamentos normais para o público de
cinema na Índia. E não se trata de falta de educação.
Esse modo indiano de assistir aos filmes provém do fato
de que ir ao cinema, naquele país, é uma experiência
coletiva e criativa, como explica a pesquisadora Lakshmi
Srinivas no artigo “O público ativo: espectador, relações
sociais e a experiência do cinema na Índia” (The active
audience: spectatorship, social relations and the expe-
rience of cinema in India. Media, Culture and Society,
2002).
	 Embora os multiplexes tenham chegado às
grandes cidades indianas na última década, oferecen-
do salas menores que possibilitam atender a nichos de
mercado, tradicionalmente os cinemas na Índia têm ca-
pacidade para mil pessoas ou mais, com alguns “meno-
res” chegando a 600 ou 700 cadeiras. O público que
eles recebem é altamente diverso – de diferentes classes
sociais, castas, idades, línguas, gêneros e religiões.
	 Um aspecto observado por Srinivas, que usou da
própria experiência além de entrevistas com o público
para sua pesquisa, é de que, na Índia, cinemas são locais
para serem usufruídos em grupo. A experiência social de
ir ao cinema é tão ou mais importante do que o filme
em si. Vai-se em família – incluindo as crianças, mesmo
de colo, e os velhos – ou com os amigos ou colegas de
trabalho. Apenas homens, quase sempre trabalhadores
da rua, como os motoristas de “rickshaw”, por exemplo,
vão sozinhos durante algum intervalo do serviço. Estes
são os que tradicionalmente ocupam as poltronas mais
próximas da tela – apelidadas de “Ghandi class”.
	 As salas de cinema organizam suas poltronas
por seções a preços diferentes. Enquanto o “balcão”, na
parte alta, é normalmente ocupado pela classe média, a
plateia tem preços mais baratos, e as fileiras próximas
à tela saem ainda mais em conta. Quem está no balcão
consegue ver os homens que estão sentados na “Ghan-
di class”, e que se tornam parte do espetáculo por seu
comportamento mais “performático”.
	 A pesquisadora chama atenção para o fato de
que “em conversas sobre filmes, as pessoas sempre con-
tam histórias de família ou amigos relacionadas à oca-
sião em que ele foi assistido”. Assim, alguém escolhe o
que ver muito mais pela conveniência do grupo do que
por seu interesse pessoal em um filme específico.
	 Tais características do público afetam a produção
dos filmes. São evitadas cenas que possam causar con-
strangimento entre as famílias e tornar o filme um fra-
casso nas bilheterias. Sexo é apenas sugerido, jamais
mostrado explicitamente. Cenas de beijo só recente-
mente passaram a ser aceitas. A diversidade da audiên-
cia levou os realizadores a fazerem filmes com ingredien-
tes para todos os gostos no mesmo “pacote”. Um filme
indiano popular normalmente mistura romance, drama,
comédia, ação, aventura, musical, de forma que esse
tipo de produção ganhou o apelido de “masala” (mistura
de temperos).
	 Para englobar tantos gêneros, com as conse-
quentes reviravoltas na trama e as partes musicais, um
filme indiano tradicional costuma durar algo em torno
de três horas. Por isso há um intervalo durante a ses-
são, a “intermission”. São dez ou quinze minutos que os
espectadores aproveitam para ir ao banheiro, fazer um
lanche ou dar uma olhada nas lojas próximas, mas prin-
cipalmente para conversar. O costume do intervalo é tão
arraigado que mesmo filmes de Hollywood estão sujeitos
a ele. Se a parada demora a acontecer, o público fica
inquieto e pode começar a circular pela sala e a bater
de ir ao cinema
9
papo com quem está ao lado. Mas o burburinho de
conversas e de crianças é normal em qualquer ses-
são. Para compensar os ruídos constantes, o som dos
filmes é colocado em volume máximo.
	 Para Lakshmi Srinivas, dois comportamentos
do público indiano indicam que o filme em si é ape-
nas parte da experiência construída coletivamente de
“ver o filme”: eles são a “seletividade” e a “repetição”.
	 A seletividade é o hábito de selecionar as ce-
nas que ser quer ver, e simplesmente dar pouca ou
nenhuma atenção a outras. Há quem deixe de lado as
sequências musicais, e outros que aproveitam diálo-
gos longos para fazer algo fora da sala e voltam cor-
rendo para uma dança, por exemplo. É comum tam-
bém ir ao cinema apenas para ver uma ou algumas
sequências preferidas, e sair depois. Ou mesmo tro-
car de filme no meio da sessão. Em outras palavras,
o público “edita” o filme segundo seus próprios inter-
esses e gostos.
	 É costume chegar ao cinema com a sessão já
começada e ir embora antes da última cena. Por isso,
as luzes da sala de exibição permanecem acesas du-
rante 10 a 15 minutos após o início do filme, a pri-
meira sequência costuma ter pouca importância para
a trama e não aparecem créditos finais. Pode-se dizer
que o comportamento seletivo do público influencia o
formato das produções.
	 Já a repetição é o hábito de assistir a um
filme mais de uma vez, o que é rotineiro na Índia.
Com frequência, o que varia é o grupo com o qual
se vai, e assim o mesmo filme se torna sempre uma
nova experiência. Esse hábito contribui para o caráter
participativo do público, pois, pela repetição, as pes-
soas acabam aprendendo as músicas, as danças e os
diálogos. Dessa forma, elas são capazes, por exem-
plo, de improvisar respostas alternativas ao que os
atores estão dizendo e chegam a dar conselhos aos
personagens.
	 Cenas muito dramáticas costumam ser alvo
de ironias e zombaria. Em meio a sequências de
tensão, podem surgir comentários sobre a roupa da
atriz, a decoração do set, o local da filmagem, re-
lacionando elementos daquela produção com a vida
cotidiana das pessoas. Alguns espectadores forne-
cem “efeitos sonoros”, imitando sons de armas de
fogo, de bichos e outros, provocando risadas na sala.
Ninguém se aborrece por isso. Pelo contrário, espera-
se e deseja-se essa interação que, segundo Srinivas,
torna o filme uma construção coletiva. É um modo
pelo qual a plateia pode subverter completamente o
sentido pretendido pelo diretor.
	 Os exibidores procuram atender às deman-
das do público e se adaptar a ele. A pesquisadora
relata que, em sessões do filme “Hum” (1991), as
plateias fizeram com que uma cena musical fosse repetida várias vezes, porque queriam continuar cantando
e dançando com ela. Por outro lado, se o público não gosta do que vê, sua resposta pode vir na forma de pol-
tronas rasgadas, principalmente na “Ghandi class”. Uma sala na cidade de Bangalore colocou poltronas de
cimento nas primeiras fileiras para evitar prejuízos.
	 Lakshmi Srinivas termina suas observações concluindo que “o cinema indiano e sua cultura de recep-
ção por parte do público põem em questão muitas suposições básicas sobre os efeitos dos meios de comuni-
cação de massa”. Percebe-se que o cinema “de massa” na Índia não tem necessariamente um efeito homoge-
neizador ou alienador, como alguns teóricos poderiam pensar. Pelo contrário, ele proporciona uma experiência
criativa e “revela a geração de senso de comunidade e de interações face a face” pelo consumo de um “produto
de massa”.
	 Teorias à parte, não dá vontade de participar dessa festa?
10
A equipe do filme Monsoon Shootout reunida em Cannes.
O ator Nawazuddin Siddiqui (à esquerda) está presente também em The Lunchbox.
Amitabh Bachchan sendo entrevistado pela crítica Anupama Chopra, numa
praia em Cannes (Fonte - Twitter de Anupama Chopra)
Vidya Balan (facilmente reconhecível) ao lado de seus colegas do júri do festival.
por Tiago Ursulino
11
Flashmobs já não são mais novidade, mas já imaginou um
flashmob de pedido de casamento, estilo Bollywood e em
Nova York? Salman Ali organizou um só para pedir a mão
de sua namorada, Shumaila Rangoonwalla, na Times Square,
bem no centro de Nova York. O evento teve a participação de
dançarinos profissionais e custou 2 mil dólares. O pedido foi
feito ao som de Chammak Challo, do filme Ra One (2011).
Clique aqui para ver o vídeo. 		
Momento em que Ali leva Sumaila para o meio
do flashmob para pedir sua mão
Um pedido de casamento no coração
de Nova York, à la Bollywood
Já pensou num super-herói
preguiçoso e que adora uma
samosa?
O roteirista e diretor Saurabh Varma está plane-
jando lançar um filme de super-herói nada con-
vencional, intitulado O Superrápido Raftaar Singh.
O filme gira em torno de um rapaz do estado de
Punjab com poderes sobrenaturais, mas que é
preguiçoso e tem fetiche por samosas. “Este será
o primeiro filme de super-herói em estilo comé-
dia da Índia. Ele vai destacar um herói azarão de
uma forma que a juventude vai gostar de ver e se
conectar com ele”, declarou Saurabh Varma. O
longa está previsto para ser lançado até o final
deste ano.
Pôster do filme O Superrápido Raftaar Singh
Peru pode sediar
cerimônia de
premiação de Bollywood
Fontes da Embaixada da Índia na Es-
panha confirmaram que uma delega-
ção indiana foi a Lima para negociar
a possibilidade de que os Internatio-
nal Indian Film Academy Awards (IIFA
Awards), seja realizado no país. Esta
seria a primeira vez em que um país
sul-americano sediaria o evento, que
no ano passado aconteceu em Singa-
pura e foi apresentado pelos atores Fa-
rhan Akhtar e Shahid Kapoor.
NOTÍCIAS DO MÊS
Anurag Kashyap,
um cavaleiro francês
por André Ricardo
12
Filme de Tollywood
filmado em Portugal
Na edição de abril, a Bollywood Brasil publicou uma matéria
sobre a investida portuguesa para se tornar um dos cenários
de locações de filmes indianos. E não demorou muito para
os portugueses começarem a colher os frutos. O filme em
telugu Balupu (2013), com Ravi Teja e Shruti Haasan como
protagonistas, terá cenas filmadas em Lisboa e no Algarve.
O teaser do filme pode ser visto clicando aqui. Esse primeiro
investimento indiano em Portugal é de quase 400 mil reais.
Que as belas paisagens lusitanas passem a ser uma con-
stante nos filmes indianos... 	
Pôster do filme Balupu
Cinema indiano tentando
mudar a sociedade?
O estupro que levou à morte da estudante in-
diana de 23 anos Jyoti Singh Pandey e que
chocou o mundo vai virar um filme. O longa
será chamado Kill the Rapist - Mate o Estuprador
(2013). Apesar do norme forte e da polêmica
que a produção deverá gerar, o produtor Sid-
dhartha Jain garante que o filme será muito
mais sobre o empoderamento feminino do
que sobre a violência ou o ato do estupro.
Segundo Jain, “Queremos deter os violadores
com este filme”.
Pôster do filme Kill the Rapist
Aamir Khan na lista das 100
pessoas mais influentes do
mundo da Time
Aamir Khan foi escolhido para estar em uma
das sete capas especiais da edição da revista
Time com a lista das 100 pessoas mais in-
fluentes do mundo. Aamir foi escolhido por
usar sua influência para aumentar a consciên-
cia social na Índia. Outros indianos também
entraram na lista: a advogada Vrinda Grover
(que ganhou destaque por seus apelos por
mudanças após o caso do estupro em Délhi
– ver edição de março) e P. Chidambaram, Mi-
nistro das Finanças da Índia. Também cons-
tam os brasileiros Joaquim Barbosa (o “juiz
do mensalão”) e o chef Alex Atala.
Capa da Time, destacando Aamir Khan
Mais uma beldade latina
para Bollywood:
A mexicana Marimar Vega
A atriz mexicana Marimar Vega irá parti-
cipar de um filme de Bollywood, que está
sendo provisoriamente chamado de The
Twist, dirigido por Himayath Khan. Vega
será uma turista que, de férias na Índia,
se envolverá em situações perigosas e
que colocarão sua vida em risco. Boa sor-
te para a bela mexicana!
A atriz mexicana Marimar Vega
Inaugurado o primeiro parque
temático inspirado em Bollywood
A Índia ganhou o seu primeiro parque temático, nas
proximidades de Mumbai. O Adlabs Imagica foi cons-
truído utilizando tecnologia baseada no legado india-
no de contar histórias. O parque, que tem cerca de
110 hectares e conta com 18 atrações, foi inaugurado
em abril. O ingresso custa o equivalente a 45 reais
para adultos e 35 para crianças.
Pôster do parque Adlabs Imagica
Um feliz e musical
“Bollywood” aniversário
Iniciou-se na Índia a venda de cartões musicais
inspirados em grandes sucessos de Bollywood.
O cartão tem a foto de um ídolo de Bollywood
na capa e quando aberto, toca a música do
respectivo filme. Agora os indianos já podem
desejar um feliz Dhoom aniversário ou de-
clarar seu amor ao som do filme Veer-Zaara.
São 24 cartões diferentes. Você pode acessar
a coleção, clicando aqui. O cartão custa cerca
de 10 reais, mas por enquanto está disponível
somente na Índia.
Capa do cartão musical com o tema do filme Dhoom 2
13
Sholay é o tipo de filme que você quer assistir
e fica deixando para depois, pois você tem ainda
muitos filmes mais atuais para ver. Não se trata de
um filme muito dinâmico, tem mais de 3 horas de
duração com algumas cenas sem utilidade para a
trama e isso o torna cansativo.
Apesar de tudo, ele é um filme muito especial e é
realmente um clássico do cinema mundial e tem que
ser visto por qualquer pessoa que é apaixonada pelo
cinema indiano.
Seguem algumas das principais razões pelas quais
você deve assistir esse filme.
1º. Realmente, o filme não é muito dinâmico, mas
as cenas de ação são impressionantes. O filme é de
1975 e o realismo das cenas deixam vários filmes
atuais no chinelo. O filme segue o estilo de velho
oeste americano e deu muito certo.
2º.
A parceria entre o Dharmendra (Veeru) e Amitabh
Bachchan (Jai) ficou perfeita. Enquanto o Veeru
é brincalhão, infantil e alegre, Jai é mais sério e
ponderado. Porém, ambos possuem uma amizade
verdadeira e eterna. Uma música que eles cantam
no inicio do filme diz: “Nossa amizade nunca vai
acabar. Minha alma pode partir, mas ela sempre
estará a seu lado... Sua tristeza é minha tristeza.
Minha vida é sua vida, assim é nosso amor.” Real-
mente, o trecho da música retrata perfeitamente a
relação dos dois.
3º.
O fato de Veeru e Jai comprarem uma briga que
não é deles. O filme gira em torno do personagem
de Sanjeev Kumar (Thakur), um ex-policial que
quando ainda estava na ativa, levava em um trem
os assaltantes Veeru e Jai para uma penitenciária,
quando foram subitamente atacados por uma
gangue de assassinos. Graças à valentia e coragem
de Veeru e Jai, Thakur não foi morto e a partir daí,
ele pegou uma afeição e simpatia pelos dois.
Por causa dessa afeição, tempos depois ele os
procura dando-lhes a missão de capturar o bandido
Gabbar Singh, vivido pelo ator Amjad Khan. Quando
Thakur ainda era policial, ele perseguiu e prendeu
Gabbar Singh. Este, para se vingar, foge da prisão e
mata a sangue frio quase toda a família de Thakur,
incluindo seu neto pequeno. A única que sobrevive
à chacina é Radha (Jaya Bachchan), sua nora. Você
deve se perguntar... Por que o próprio Thakur não
faz isso? Bem, o motivo é mostrado em uma cena
muito chocante e triste.
4º.
Os casais vividos por Dharmendra e Hema Malini,
Amitabh Bachchan e Jaya Bhaduri Bachchan.
Na verdade, os personagens de Dharmendra e
Hema Malini tiveram mais destaque no filme como
casal. O casal Radha (Jaya) e Jai (Amitabh) não
te conquista e não convence e você só entenderá
o porquê no final. Você achará muito louvável a
atitude dele em pedi-la em casamento, já que ela é
viúva e na Índia as viúvas não tem um futuro muito
agradável, mas.... Quem disse que tudo são flores?
Vocês precisam assistir o filme para entender...
5º.
As músicas do filme são belíssimas. Como exemplo
tem a que fala da amizade entre Veeru e Jai já citada
“Yeh Dosti” e é conhecida na Índia como um hino da
amizade.
6º.
A participação de umas das maiores dançarinas de
todos os tempos, Helen na música “Mehbooba Meh-
booba”. Foi uma aparição que por si só valeu ficar em
frente a TV por mais de 3 horas.
Sholay, um clássico do cinema indiano, estrelado por um elenco lendário: Dharmendra, Amitabh Bachchan,
Hema Malini, Jaya Bachchan, Sanjeev Kumar e Amjad Khan.
CRÍTICA: SHOLAYPor Feliz Luz
14
7º.
O ator Amjad Khan (Gabbar Singh), viveu um dos
melhores vilões do cinema indiano. Ele é mau, sem
qualquer piedade. A cena em que ele diz que “as
mães dizem às crianças para elas irem dormir ou
calarem a boca, se não, Gabbar Singh vai chegar.”
Diálogo perfeito!
8º.
O cenário do filme é muito diferente do que estamos
acostumados a ver no cinema indiano. Um lugar
longe da civilização, com muitas rochas, poucas
árvores, com pessoas simples e humildes, sem man-
sões, sem joias, sem roupas glamorosas. Um lugar
onde a lei não alcança, onde o bandido pode fazer
tudo, ou quase tudo.
9º.
A cena onde o Gabbar Singh pede para Basanti
dançar para ele, caso contrário ele mataria Veeru.
Debaixo de um sol escaldante do deserto, ela dança
para que o seu amado não perca a vida. Belíssima e
emocionante cena!
O filme teria mais centenas de razões para serem
enumeradas, por ser o que ele é e representa no
cinema indiano, mas vou finalizar aqui senão viraria
um livro.
Algumas curiosidades so-
bre o filme:
• Amjad Khan não era a primeira opção para inter-
petrar Gabbar Singh. O ator escolhido era Danny
Denzongpa, mas este teve que recusar porque estava
filmando Dharmatma no Afeganistão. O roteirista
relutou em aceitar Khan, pois achava sua voz fraca
demais para lhe permitir atuar de forma convincente
como vilão. Ainda bem que o roteirista o aceitou.
• Hema Malini tinha acabado de recusar uma pro-
posta de casamento de Sanjeev Kumar e não queria
estar perto dele. Se prestarem a atenção, Hema Ma-
lini não tem cenas com o personagem Thakur Singh
no filme.
• Apesar de ser o maior hit do ano, Sholay perdeu
todos os prêmios Filmfare para Deewar, também estre-
lado por Amitabh Bachchan.
• Balas reais foram supostamente usadas na cena
clímax do filme e uma bala perdida quase acertou
Amitabh.
• Amitabh Bachchan e Jaya Bhaduri, Dharmendra e
Hema Malini são casados até hoje.
• O filme passou por 4 anos ininterruptos em Mum-
bai e continuou por mais 2 anos no show matinê. Em
2004, Sholay foi remasterizado digitalmente e estreou
mais uma vez nos cinemas indianos.
• Sholay inspirou muitos filmes e gerou todo um
subgênero, o “curry western”. É considerado o mais
importante dos primeiros filmes de masala (mistura
de gêneros) e é o criador de tendências de filmes mul-
tiestrelados.
• O filme foi um divisor de águas para roteiristas de
Bollywood, que não eram bem pagos até então.
• Gabbar Singh, o vilão sádico, marcou o início de
uma era em filmes híndi caracterizada por vilões
opressores e aparentemente onipotentes que desem-
penham o papel central na criação do contexto da
história.
• Sholay recebeu muitas honrarias. Foi declarado
como o “Filme do Milênio” pela BBC da Índia, em
1999, e em 2002 liderou uma enquete dos “Top 10 de
filmes indianos” de todos os tempos do British Film
Institute. Em 2004, foi eleito o melhor filme indiano
em uma enquete por um milhão de indianos na Grã-
Bretanha, e em 2006 foi eleito como o melhor filme
pelos iranianos.
• A mídia indiana noticiou que o filme estaria sendo
convertido para 3D para lançamento este ano, em
comemoração do centenário do cinema indiano. Devi-
do a problemas de direitos autorais, não há ainda uma
confirmação de data. Seria uma interessante mistura
de um filme clássico, com uma roupagem mais mod-
erna. Vamos torcer!
15
AGENDA DE ESTREIAS
por Tiago Ursulino
24 de maio
Ishkq in Paris
Direção: Prem Raj
Direção musical: Sajid-Wajid
Elenco: Preity Zinta, Rhehan Malliek, Isabelle Adjani, Salman Khan (participação especial)
Gênero: Romance
Entrando para a galeria de atores/atrizes donos de suas próprias produtoras, a estrela Preity Zinta,
com sua PZNZ Media, produz seu primeiro filme, uma história de amor ambientada na cidade das
luzes.
31 de maio
Yeh Jawaani Hai Deewani
Direção: Ayan Mukerji
Direção musical: Pritam
Elenco: Ranbir Kapoor, Deepika Padukone, Aditya Roy Kapur, Kunaal Roy Kapur, Kalki Koechlin e Mad-
huri Dixit (em número musical)
Gênero: Romance
Filme que marca a reunião do ex-casal Ranbir Kapoor & Deepika Padukone, o filme conta a história
de 4 amigos vivendo intensamente os últimos anos da sua juventude, conforme as responsabilidades
da vida adulta começam a se impor.
14 de junho
Fukrey
Direção: Mrigdeep Singh Lamba
Direção musical: Ram Sampat
Elenco: Pulkit Samrat, Manjot Singh, Ali Fazal, Varun Sharma
Gênero: Comédia
Esperada produção de Farhan Akhtar, o filme promete uma divertida história sobre a vida de amigos
que não são nada do que a sociedade espera deles. O filme já inovou no seu primeiro trailer, feito no
formato de desenho animado.
21 de junho
Raanjhanaa
Direção: Aanand L. Rai
Direção musical: A R Rahman
Elenco: Sonam Kapoor, Dhanush, Swara Bhaskar, Abhay Deol
Gênero: Romance
Kundan (Dhanush, ator da indústria tâmil estreando em Bollywood) desde criança ama Zoya (So-
nam Kapoor). Mas seu amor pode estar ameaçado pela chegada de um estranho (Abhay Deol) na
vila onde moram. O filme promete ser uma história de amor épica, de ferir os corações.
100 anos de Bollywood

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100 anos de Bollywood

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  • 2. pág. 3 - 4 Entrevista com: Avtar Panesar pág. 4 Enquete! pág. 5 - 7 Matéria da Capa: Os 100 anos do cinema indiano pág. 7 - 8 Um dia na fábrica dos sonhos pág. 9 - 10 Entretenimento: O jeito indiano de ir aos cinemas pág. 11 - 12 A India vai a Cannes pág. 12 - 13 Notícias do Mês pág. 14 - 15 Crítica: Sholay pág. 16 - 17 Agenda de Estreias 100 anos de história. Do cinema mudo, em preto e branco, às superproduções em 3D. O cinema indiano tem muito o que comemorar e a Bollywood Brasil também comemora com uma edição especial. Esta edição traz uma matéria especial com os grandes clássicos do cinema indiano, ex- plicando por que eles marcaram época. Imagine a profissão de um executivo de uma das maiores produtoras de Bollywood, tra- balhando com as superestrelas... Avtar Panesar, da produtora Yash Raj Films, nos conta um pouco dessa rotina. E tem mais: vamos mostrar como a fábrica de sonhos funciona! Visitamos os estúdios de gravação, onde grandes sucessos de Bollywood são filmados. Trazemos a crítica do clássico Sholay, as notícias do mês (filme de Tollywood filmado em Portugal, um super- herói preguiçoso e que gosta de samosa e ainda um pedido de casamento com Flash- mob estilo Bollywood). Mas não paramos por aí. Esta é uma edição especial então trazemos também a cober- tura do festival de Cannes, que este ano homenageia os 100 anos do cinema indiano. Esperamos que gostem desta edição especial e como sempre estamos abertos a sug- estões por e-mail (jornalismo@bollywoodbrasil.com.br) ou pelo nosso Facebook (Bolly- woodBrasil). Forte abraço, Equipe da Bollywood Brasil Bollywood Brasil Expediente: Editor-chefe: André Ricardo Redação: André Ricardo, Claudia Rabelo Lopes, Feliz Luz, Fernanda Beltrand, Juily Manghirmalani, Rosely Toledo e Tiago Ursulino Edição e revisão: Tiago Ursulino Diagramação: Aline Moreira, Dayna Disha Malani, Juily Manghirmalani e Welber Conceição Publicidade: Themis Nascimento Divulgação: Shadia Fernanda Contato: Redação: jornalismo@bollywoodbrasil.com.br Divulgação: divulgacao@bollywoodbrasil.com.br Anúncios/patrocínio: comercial@bollywoodbrasil.com.br
  • 3. ENTREVISTA com Avtar Panesar,o superexecutivo da YRF Vivemos em tempos em que tudo gira em função da concorrência, em que a disputa por mais “potência” está presente em tudo, desde eletrodomésticos a car- ros. Isto também se sente presente no cinema indiano através de grandes empresas como a Yash Raj Films (YRF), estabelecida por Yash Chopra, um diretor e produ- tor de cinema conhecido como o “rei do romance” e que é considerado um magnata do entretenimento na Índia. A YRF, além de produzir filmes, lançou o seu próprio selo musical, chamado YRF Music. Para que es- tas potências sejam bem administradas é necessário ter os melhores executivos e este mês a nossa entrevista é com um deles. Avtar Panesar está no ramo de entretenimento há mais de 25 anos, atuando no mercado internacional para música e filmes indianos. Há 16 anos está com a YRF, onde criou e desenvolveu o departamento de distribuição internacional a partir do primeiro escritório no exterior da YRF no Reino Unido em 1997. Atualmente supervisiona todas as negociações realizadas fora da Índia, tendo com foco a formação de novos mercados para a empresa. ...Como foi que você se envolveu na indústria de cinema? E com a YRF? Eu sempre estive neste negócio. Comecei com a EMI Índia / HMV por volta de 1984 e, posteriormente, com a YRF partir de 1997, quando eu criei o primeiro escritório internacional em Londres, com o filme Dil To Pagal Hai (O Coração é louco) de Yash Chopra, em se- guida nos EUA e Dubai desenvolvendo o mercado fora da Índia. Então eu acho que foi um passo natural para mim. ...O que você mais gosta no seu trabalho? Quando eu viajo para qualquer lugar do mundo e conheço pessoas que me dizem que viram um filme dos nossos estúdios e como isso impactou suas vidas. É ótimo saber que eu fui parte do processo de real- ização do filme e ajudei a levar alegria a suas vidas. Para as pessoas que vivem longe da Índia, Bollywood é uma maneira de ficar conectado com o seu país, raízes e valores. Eu nasci na Índia, mas fui criado no Reino Unido e compartilho este sentimento. ...Você está constantemente lidando com estrelas de Bollywood. Como é lidar com as celebridades? É um trabalho para eles e para nós e todos nós fazemos a nossa parte. No entanto, existem sem- pre alguns momentos especiais, e os meus dois fa- voritos “superstars” são Amitabh Bachchan e Shah Rukh Khan, que sempre são atenciosos para que você possa se sentir especial. ...Qual é o seu filme favorito, podendo ser da YRF ou não? Essa é sempre uma pergunta difícil e nunca poderia ser só um. Cada filme é especial por causa dele mesmo ou das memórias ligadas a ele. Se tivesse que escolher um filme, teria que ser Veer Zaara, por causa do assunto, performances, música, roteiro e o filme na sua totalidade, bem como as memórias liga- das ao mesmo e também ao fato de termos aberto nosso escritórios no Oriente Médio com este filme e o mercado ter-se desenvolvido muito. Estou muito or- gulhoso dos nossos esforços e dos resultados alcança- dos. ...E o seu ator e atriz favoritos? Meu ator favorito é Amitabh Bachchan. Se você perguntar sobre a atual safra de atores, temos vários, mas Shah Rukh Khan é, talvez, a minha primeira es- colha. Quanto as atrizes, mais uma vez, é uma pergunta difícil, mas Madhuri Dixit é uma das atrizes mais tal- entosas, e da nova geração seria Anushka Sharma. ...Yash Chopra deu uma nova dimensão ao cinema indiano por ter uma forma singular de contar uma história romântica para o público. Além disso, ele foi um dos pioneiros em filmes de Bollywood do gênero masala, cri- ando um novo padrão para o cinema indiano. Podemos dizer que os seus blockbusters ajudaram Bollywood a se expandir internacionalmente. Como você vê Bollywood evoluindo no futuro? Sim, Yashji era um veterano e sempre nadou contra a maré, ele travou muitas batalhas nas bilheterias, ganhou algumas, perdeu outras, mas uma coisa que o seu público esperava dele era o inesperado, e ele nunca os decepcionou. Foi esta abordagem inusitada que manteve seus filmes em um rumo de constantes mudanças nos últimos 50 anos. O futuro é brilhante para Bollywood e nós estamos nos preparando para o mundo; e o mundo já começou a apreci- ar os filmes indianos, os quais tem uma identidade muito distinta e é isso que os tornam especiais e os destacam. Estamos contando histórias diferentes e esses filmes estão encontrando público, o que é muito encorajador, por isso nós seremos uma marca ainda maior no futuro, tanto nacional como internacionalmente. ...Você teve alguma situação engraçada durante o seu trabalho? Muitas para listar, mas durante as filmagens de Mohabbatein, tivemos muitos momentos engraçados e de várias maneiras, mas o momento mais assustador de todos foi quando tivemos que construir um cenário para um Gazebo e um templo no térreo da Longleat House (a residência do Senhor e Senhora Bath, no Reino Unido), e 2 dias antes das filmagens o cenário começou a afundar por causa do excesso de chuva. Mas felizmente conseguimos corrigir isso, com grande dificuldade. ...O cinema indiano será homenageado em Cannes este ano. Quais são os planos para o Festival? Nós estaremos lá com o maior filme da Índia, Dhoom 3, que é a mais bem-sucedida franquia de ação da Índia. É o longa metragem mais caro do país e será o primeiro filme indiano em IMAX . O filme está pre- visto para lançamento em dezembro. Nós filmamos Dhoom 2, em parte, no Rio de Janeiro e isso ajudou o filme a tornar-se o maior sucesso de público em 2006. “É ótimo saber que eu fui parte do processo de realização do filme e ajudei a levar alegria a suas vidas.” “Nós seremos uma marca ainda maior no futuro, tan- to nacional como interna- cionalmente.” por Rosely Toledo 3
  • 4. ...Você acha que o tema dos filmes estão mudando devido à integração da Índia aos valores ocidentais? Isso faz parte do jogo. Estamos em um negócio onde nós precisamos ter contato com o que o nosso pú- blico quer. É claro que cinema é um reflexo dos tempos em que vivemos e temos de entender isso. Então a mudança é inevitável. ...Quais são as melhores e as piores coisas sobre o seu trabalho? Temos que dar esperança a todos que veem os nos- sos filmes. Se você é pobre nós somos capaz de mostrar-lhe um mundo do qual você talvez nunca consiga experimentar. Se você está apaixonado, nós fazemos épicos que conectam os povos. O que poderia ser melhor do que fazer sonhos se tornarem realidade? ...Qual é o filme da empresa que teve a maior distri- buição em números na Índia? Isso sempre varia a cada ano e depende do número de filmes lançados pelo estúdio, como é o caso do ano de 2012 em que tivemos os filmes de 1º (Ek Tha Tiger) e 2º (Jab Tak Hai Jaan) lugar de bilheteria. ...Hoje em dia, como é a distribuição de filmes de Bol- lywood em outros países? Que país você acha que é mais receptivo a filmes indianos? Estamos sempre à procura de novos mercados para levar nossos filmes. Eu sempre sinto que existem três fases para os nossos filmes: 1) Intriga, 2) Aceitação, 3) Abraço. A maioria dos países está na fase 1, pois eles agora es- tão intrigados com Bollywood, por isso precisamos levar os filmes direito a esses mercados, a fim de que passem para a fase 2. Claro que há países como a Alemanha que já abraçaram o nosso cinema. ...Você acha que Bollywood pode ter uma presença no Brasil, como em outros países, como a Alemanha ou Peru? Sim, de fato estou muito confiante de que va- mos, embora não seja uma tarefa fácil, já que o Brasil tem um forte cinema local, mas acredito que os filmes indianos são como a comida indiana: uma vez adquiri- do o gosto você está viciado e não pode viver sem ela. ...A YRF tem planos para o Brasil? Talvez um novo filme rodado aqui? Nós esperamos poder começar a ver sucesso no escritório brasileiro e adoraríamos filmar mais nesse lindo país. “Filmes indianos são como a comi- da indiana uma vez adquirido o gosto você está viciado e não pode viver sem ela.” ANUNCIE AQUI contato: comercial@bollywoodbrasil.com.br Enquete! A Bollywood Filmes desta vez perguntou qual seria o ator indiano preferido dos brasileiros. A competição foi ainda mais acirrada do que a com as atrizes, como vocês verão pela diferença entre os primeiros colocados. Então vamos aos mais votados: 4º colocado – HRITHIK ROSHAN com 13% dos votos 3º colocado - SALMAN KHAN, com 15% dos votos. A partir daqui, a disputa foi voto a voto: 2º colocado – O rei do romance SHAH RUKH KHAN, com 29% dos votos E em primeiríssimo lugar, provavelmente o mais versátil de todos. Ele já foi vilão, mocinho e até idiota! Famoso por seus filmes de cunho social, além de ator é também produtor, embaixador da UNICEF e apresentador de TV nas “horas vagas”. Ele é conhecido em Bollywood como o senhor perfeccionista. Com 31% da preferência do público brasileiro: AAMIR KHAN Agradecemos a todos que votaram e fiquem ligados que em breve teremos mais enquetes. 4
  • 5. Os 100 anos do cinema indiano Como parte das comemorações para o centenário do cinema indiano, a Bollywood Brasil relembra alguns clássicos indianos que marcaram as suas décadas e que, claro, continuaram influenciando o cinema das décadas seguintes. Na seleção, somente filmes da indústria híndi. Anos 50 Anos 10 Raja Harishchandra (O Rei Harischchandra) – (1913) O filme conta a história sobre Harishchandra, um rei que sacrificou perante os deuses sua família, o poder e seu reino em nome de seus princípios e amor pela verdade. E que, após passar por muitas difi- culdades descobre que tudo não passava de um teste de integridade. Raja Harishchandra é destaque no Cinema Nacional Indiano, pois foi o primeiro longa-metragem produzido na Índia (então uma colônia britânica) e por um indiano. Lançado em 3 de maio de 1913, o longa coroou o cinema em Mumbai. Dirigido e produzido por Dadasaheb Phalke (1870 – 1944), o filme é silencioso e em preto e branco, e os papéis femininos foram encenados apenas por homens, pois a profissão de atriz era considerada indecente naquela época. O longa é tão importante para o cinema indiano que o seu dire- tor, considerado o pai do cinema na Índia, dá nome a um dos prêmios de cinema mais cobiçados do país, entregue anualmente em reconhecimento a contribuições excepcionais ao cinema. O filme tinha 4 rolos, dos quais apenas o primeiro e o último sobreviveram nos arquivos da NFAI (National Film Archive of India), sendo que alguns historiadores acreditam que estes rolos na verdade pertencem a um remake que o próprio Phalke teria feito do filme em 1917. Baseado em uma peça teatral, o filme conta a história de um rei e a rivalidade de suas duas rainhas Navbahar e Dilbahar que dispu- tam qual de seus filhos será o herdeiro do trono. A estreia do filme ocorreu no dia 14 de março de 1931. Alam Ara é o primeiro filme falado da história do cinema indiano. Além disso, conta com números musicais, detalhe que se tornaria um sucesso na indústria cinematográfica conhecida como Bollywood. O filme introduziu a música popular indiana no enredo de filmes e fez tanto sucesso que era necessário reforço policial para conter as multi- dões. A partir de Alam Ara, a indústria do cinema indiano percebeu que os filmes sonoros seriam um sucesso e passaram rapidamente ao novo gênero. Em 2003, a versão original foi destruída em um incêndio no NFAI, e o filme não está mais disponível em seu formato original. Recentemente, o longa foi homenageado na comemoração de seu 80º aniversário pelo site de busca Google Ín- dia, através de um doodle, na página inicial. Anos 40 Trata-se da história de um proprietário de um antigo te- atro e de sua filha que estão vivendo na pobreza. Até que a filha encontra um jovem batedor de carteiras que ao tentar enganá-la acaba se apaixonando pela garota e traz de volta a chance do pai voltar a ser dono do teatro. O destaque para este blockbuster indiano é que ele tra- ta de temas ousados para a época, como a gravidez fora do casamento e pela primeira vez traz um ator indiano Ashok Kumar interpretando dois papéis (Shekhar e Madan). Dirigido e escrito por Gyan Mukherjee e produzido pela Bombay Talkies, Kismet se tornou sucesso de bilheterias, fazendo mais de 10 milhões de rúpias – o que representa- ria, em valores atuais, mais de 639 milhões de rúpias ou 23 milhões de reais. Kismet - (1943) Mother India (Mãe Índia) - (1957) Os recém-casados Rhada (Nargis Dutt) e Shyamu vivem em condi- ções precárias em uma comunidade rural, juntamente com a mãe de Shyamu, que, para ajudar o casal, faz um empréstimo com Sukhihala, um homem que controla a vila. Ao emprestar o dinheiro, Sukhihala se aproveita da ingenuidade da mulher, e faz com que ela assine um docu- mento que colocará a família em uma situação de extrema exploração. Para ajudar sua família, na ausência de seu marido, Radha luta para criar seus filhos e sobreviver. Apesar de seu sofrimento, ela se define como exemplo moral de uma mulher indiana ideal. Mother India é considerado a produção mais cara de Bollywood. Levou três anos para ser confeccionado, desde a organização, planejamento e criação de roteiro até o término das filmagens. O filme recebeu muitas indicações e premiações. Em 1957, ganhou dois prêmios no 5º Prêmio Nacional de Cinema: Certificado de Mérito de Melhor Longa Metragem (entre todas as línguas) e Certificado de Mérito para o Melhor Longa Metragem (em híndi). Já em 1958, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas perdeu para Noites de Cabí- ria, de Federico Fellini, por um único voto. Ganhou o prêmio de melhor filme da Filmfare, e também os de melhor diretor para Mehboob Khan, melhor atriz principal para Nargis, melhor diretor de fotografia para Faredoon Irani e melhor som para R. Kaushik. Nargis também tornou-se a primeira indiana a receber o prêmio de Melhor Atriz no Karlovy Vary Inter- national Film Festival, da hoje chamada República Tcheca. Mother India se tornou um clássico cult e é considerado um dos melhores filmes indianos. O longa estreou no Cinema Liberdade em Mumbai, no dia 25 de outubro de 1957, e foi lançado no mesmo dia em Kolkata (Calcutá), em Délhi uma semana depois, e até o final de novembro já havia sido lançado em todas as regiões. Anos 30 Alam Ara (A luz do mundo) - (1931) 5
  • 6. Anos 80 Salaam Bombay (Saudações a Bombaim) - (1989) O longa narra a história de um menino chamado Krishna, de dez anos, abandonado por um circo ambulante, conhecido como Circo Apollo. Sem rumo, ele vai para Bombaim, chegando em meio ao turbi- lhão da grande metrópole. O garoto sonha em trabalhar e guardar 500 rúpias que o levarão de volta a sua casa e para os braços de sua mãe, mas a vida nas ruas não é fácil. O filme é o primeiro longa da diretora indiana Mira Nair, que se tor- nou conhecida no Brasil pelo filme “Um Casamento à Indiana”. Foi in- dicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e reflete o problema das crianças abandonadas em países do terceiro mundo. A maioria dos jo- vens atores que apareceram em Salaam Bombay eram de fato crianças de rua. Todos receberam um treinamento em uma oficina em Bombaim antes de aparecerem no filme. Em 1989, a diretora Mira Nair criou uma organização chamada Salaam Baalak Trust, para reabilitar as crianças que apareceram no filme. A maioria deles foi ajudada. A organização ainda existe, e agora presta apoio a crianças de rua em Mumbai/Bombaim, Délhi e Bhubaneshwar. Shafiq Syed, que desempenhou o papel de Krishna no filme, agora ganha a vida como motorista de autorickshaw (o riquixá motorizado indiano) em Bangalore e luta para susten- tar uma família de cinco pessoas no sul da Índia. Anos 90 Dil Se (Do coração) - (1998) Amarkant Varma (Shah Rukh Khan), um jornalista que está a serviço de uma rádio, vai para o nordeste indiano reportar os eventos relacio- nados ao 50º aniversário da independência da Índia (livre do comando britânico desde 1947). Numa de suas jornadas, apaixona-se por uma bela e misteriosa mulher chamada Meghna (Manisha Koirala), envolvida em atentados terroristas. O melodrama político Dil Se é a última parte da trilogia do diretor Mani Ratnam dedicada ao terrorismo. Os anteriores são Roja (1992) e Bombay (1995). A atriz Manisha Koirala também coescreveu o roteiro. A história foi filmada em Himachal, Hashmir, Délhi, Assam e Kerala durante um período de 55 dias. É considerado um exemplo para o cinema indiano. Apesar do fracasso de bilheteria internamente, tornou-se um sucesso no exterior ga- nhando cerca de 980 mil dólares nos Estados Unidos e Reino Unido. Além de ser premiado no Festival de Berlim de 1999, ganhou sete prêmios Filmfare das dez indicações na ce- rimônia de 1998 e dois National Film Awards. Dil Se é dito ser uma viagem através dos sete tons de amor que são definidos na literatura árabe antiga: atração, paixão, amor, reverência, adoração, obsessão e morte. O personagem interpretado por Shah Rukh Khan passa através de cada uma dessas máscaras no decorrer do filme. Anos 70 Sholay (1975) Veeru e Jai são uma dupla de bandidos imbatíveis, de segunda classe, que acabam sendo recrutados pelo próprio policial que os prendeu para uma missão quase impossível: capturar o terrível Gabbar Singh, um psicopata que anda aterrorizando o pequeno vilarejo de Ramgarh. Sholay é o filme de maior sucesso dos últimos tempos. Arreca- dou cerca de 88 milhões de dólares. Após o sucesso de Sholay, ne- nhum filme chegou perto de tal arrecadação. No início, cogitou-se que o filme seria um fracasso, mas para que não houvesse prejuízo o filme continuou em cartaz. Dessa forma, possibilitou que muitas pessoas o assistissem ficando mais de cinco anos em cartaz na sala Minerva, em Mumbai. O longa é estreado por Dharmendra, Amitabh Bachchan, Sanje- ev Kumar, Hema Malini, Jaya Bhaduri Bachchan e Amjad Khan. Em 2005, durante a 50ª premiação anual Filmfare ganhou um prêmio especial chamado de Melhor Filme em 50 anos. Estudiosos discutiram vários temas que surgiram a partir do filme, como a glorificação da violência, a evolução dia- lética entre ordem social e usurpadores mobilizados, ligação homossexual entre os dois protagonistas masculinos e o papel do filme como uma alegoria nacional. Os diálogos e alguns personagens do filme se tornaram extrema- mente populares. Leia mais sobre o filme na nossa crítica do mês. Anos 60 Mughal-e-Azam (1960) Ambientado no século XVI, o filme conta a história de amor entre Salim e Anarkali, um príncipe e uma bailarina que lutam contra as diferenças sociais em nome de um grande e poderoso amor. Salim é filho de Akbar, o Grande, o mesmo imperador retrata- do no mais recente filme Jodhaa-Akbar. Um dos longas de maior sucesso do cinema indiano, aclamado pela crítica e que inspira atores e diretores, Mughal-e-Azam, dirigido por K. Asif, foi uma das maiores superproduções que Bollywood já viu em sua história e levou nove anos para ser concluído. Foi recorde de bilheteria até o lançamento de Sholay (1975). Originalmente filmado em preto e branco, conta com a participa- ção dos atores Prithviraj Kapoor, Dilip Kumar e Madhubala nos prin- cipais papéis. A versão colorida, para o delírio dos fãs, foi criada em 2004 e lançada no mesmo ano, por Rajeev Dwivedi e Sankran- ti, demonstrando ainda mais o sucesso desse grande e lendário filme da história de Bollywood. 6
  • 7. Anos 2000 3 Idiots (3 idiotas) - (2009) Dois amigos, Farhan (R.Madhavan) e Raju (Sharman Joshi), estão à procura do melhor amigo (Aamir Khan), que desapareceu após decidir mudar sua maneira de ver o mundo. Assim, eles retornam à escola onde es- tudaram, onde relembram insólitas experiências com uma jovem e bonita garota e também com o tirânico professor. Mas o pior é terem de lidar com uma aposta indesejada, um casamento e um funeral. O filme teve sua estreia marcada para o dia 25 de dezembro de 2009 e no dia 4 de janeiro de 2010, já havia quebrado todos os recordes do cinema indiano. Superou os recordes de arrecadação dentro e fora do país e também o de salas ocupadas. O principal motivo do sucesso é o seu tema: num país em que os meninos muitas vezes são obrigados pelos pais a cursar engenharia e as meninas a se torna- rem médicas, o filme mostra o drama vivido dentro das universidades por esses jovens que não necessariamen- te compartilham os sonhos dos pais. O longa é escrito e dirigido por Rajkumar Hirani. A produção é da Vinod Chopra Productions e o roteiro de Abhijat Joshi. Conta com a participação, além dos atores citados, de Kareena Kapoor. Durante os dez dias de lançamento, o filme alcançou a marca dos 18 milhões de dólares nos Estados Unidos e tornou-se o filme de maior bilheteria da história de Bollywood também em mercados estrangeiros. Além disso, levou seis prêmios Filmfare, incluindo melhor filme e melhor diretor, dez prêmios Star Screen e dezesseis IIFA. Um dia na Fábrica de Sonhos Juily Manghirmalani visitou na Índia um dos maiores estúdios de produção de Filmes de Bollywood e conta para os leitores da Bollywood Brasil, como a magia e cores de Bollywood são produzidas. 7 por Juily Manghirmalani
  • 8. Era uma tarde tranquila e quente em Mumbai, quando um dos assistentes do vice-presidente da Yash Raj Films retornou uma ligação que tinha feito a alguns dias. Ele perguntou se eu estava disponível naquela segunda feira, dia 28/01, às 16hs para uma visita guiada pelos estúdios de uma das maiores produtoras de filmes de Bollywood. Minha reação, após alguns gagueijos, foi de profunda alegria. Meu mundo parou naquele telefonema. Estava ansiosamente tentando marcar uma possível visita a Yash Raj Films, para conhecer melhor o processo de gravação, pós-produção e respirar o mesmo ar que grandes produtores e estrelas do cinema indiano que tanto admiro. Falei com o senhor Avtar Panesar, vice-presidente da Yash Raj, que foi muito aten- cioso e gentil. No dia da visita, chegamos cedo a sede da Yash Raj, que fica no bairro de Andheri, Mumbai e ficamos em um grande hall esperando sermos atendidos. Pelas paredes, enormes imagens de filmes indianos e pin- turas do incrível pintor indiano M. F. Hussain. Após um café, um dos assistentes do senhor Panesar veio ao nosso encontro. Muito simpático, conversamos sobre a possibilidade de ascensão do mercado cinematografico indiano no Brasil e sobre interesses da YRF, mas tudo muito rapidamente. Mais tarde, outra pessoa veios nos receber para nos dar o tour pelos estúdios. De forma ágil e decidida, nosso guia falava e andava com pressa, mas não deixou de nos responder nada. A visita durou cerca de uma hora e meia, vimos quase todas as instalações do conjunto de estúdios. Primeiro, ele nos explicou a divisão dos prédios da YRJ. Em um conjunto de quatro prédios, acontecem: 1. administração geral, 2. e 3. produção de filmes, 3. pós-produção e distribuição. Logo após essa introdução, ele nos levou aos soundstages, que são aqueles grandes estúdios compartimentados, onde monta-se cenários para cenas controladas. A YRJ possuem 3 grandes soundstages, porém o 1 é o maior de todos. Ao entrarmos lá, no meio de muitas pessoas trabalhando e poeira por todo canto, descobrimos que foi alí, que dias atrás, ocorreu o Filmfare Award, a maior premiação de filmes indianos. No segundo andar do mesmo prédio, nosso guia nos apresentou os camarins que os atores mais fa- mosos possuem já reservados. Entramos no do Shahrukh Khan, que obviamente estava vazio, mas nosso guia queria nos contar como esse super astro de Bollywood se comporta, e por isso, nos falou que ele possui grande supertição e afinidade pelo número 05, por exemplo. No terceiro andar, ficam os salões de ensaio, que estão entre os maiores que existe no mundo. Entramos em um que possuia fotos enormes de atores como o próprio Shahrukh Khan e Madhuri Dixit. Ficamos sabendo que para filmar um item de dança de um filme de Bollywood, são necessários entre três a sete diárias de gravação e que enquanto outras cenas são gravadas, os dançarinos se concentram nessa sala. Enquanto andávamos até o segundo prédio, nosso guia, curioso, perguntava como funciona a indústria midiática brasileira, o que foi difícil de explicar, já que é tão diferente da indiana. Chegando lá, visitamos os setores de gravação de som. Fomos, desde onde as cenas são dubladas pelos atores, onde orquestras tocam para mixagem das trilhas sonoras até chegar a tocar nos objetos utilizados para foley.Para os que não sabem, maior parte dos filmes indianos ainda são dublados e o som é quase inteiramente feito em pós-produção. Essa visita foi inspiradora, cheia de aprendizados e nos deu uma visão muito realista de como é produzido um filme de Bollywood. Não conseguimos visitar os outros prédios, pois estavam sendo usados para gravações e também não tínhamos permissão para tirarmos fotos, porém, Avtar Panesar nos enviou fotos para utilizarmos nessa matéria. Eles mandaram notícias para os brasileiros, que como eu, já estão ansiosos por mais filmes indianos no cinema! Depois de Fanaa, eles já estão pensando qual o próximo filme que será lançado aqui e nos deixou escapar uma pista. Para felicidade dos fãs do super astro Aamir Khan, provavelmente será algum dos novos filmes dele! Esperaremos ansiosos por mais novidades e filmes de Bollywood na telona! 8
  • 9. O jeito indiano por Claudia Rabelo Lopes Espontaneidade e interatividade são palavras-chaves para compreender o comportamento do público de cin- ema na Índia. No lado ocidental do planeta, em geral, a boa eti- queta recomenda silêncio no cinema. Em qualquer sala de cinema de grandes cidades do Brasil, comentários em voz alta ou um choro de criança são imediatamente reprovados com um “shhh”. A presença mesma de cri- anças na exibição de um filme não rotulado como infan- til é inesperada, para não dizer indesejada, assim como qualquer coisa que possa desviar a atenção dos especta- dores daquilo que acontece na tela. Mas ao entrar numa sala de cinema na Índia, caro leitor, esqueça tudo isso e se prepare para uma experiência que pode lembrar mais a de assistir a um jogo de futebol no estádio ou a um espetáculo de música pop. Assobiar, aplaudir, jogar moedas na tela, gritar conselhos ou avisos para os personagens, fazer comen- tários em voz alta, levantar-se, sair e voltar, cantar e até dançar são comportamentos normais para o público de cinema na Índia. E não se trata de falta de educação. Esse modo indiano de assistir aos filmes provém do fato de que ir ao cinema, naquele país, é uma experiência coletiva e criativa, como explica a pesquisadora Lakshmi Srinivas no artigo “O público ativo: espectador, relações sociais e a experiência do cinema na Índia” (The active audience: spectatorship, social relations and the expe- rience of cinema in India. Media, Culture and Society, 2002). Embora os multiplexes tenham chegado às grandes cidades indianas na última década, oferecen- do salas menores que possibilitam atender a nichos de mercado, tradicionalmente os cinemas na Índia têm ca- pacidade para mil pessoas ou mais, com alguns “meno- res” chegando a 600 ou 700 cadeiras. O público que eles recebem é altamente diverso – de diferentes classes sociais, castas, idades, línguas, gêneros e religiões. Um aspecto observado por Srinivas, que usou da própria experiência além de entrevistas com o público para sua pesquisa, é de que, na Índia, cinemas são locais para serem usufruídos em grupo. A experiência social de ir ao cinema é tão ou mais importante do que o filme em si. Vai-se em família – incluindo as crianças, mesmo de colo, e os velhos – ou com os amigos ou colegas de trabalho. Apenas homens, quase sempre trabalhadores da rua, como os motoristas de “rickshaw”, por exemplo, vão sozinhos durante algum intervalo do serviço. Estes são os que tradicionalmente ocupam as poltronas mais próximas da tela – apelidadas de “Ghandi class”. As salas de cinema organizam suas poltronas por seções a preços diferentes. Enquanto o “balcão”, na parte alta, é normalmente ocupado pela classe média, a plateia tem preços mais baratos, e as fileiras próximas à tela saem ainda mais em conta. Quem está no balcão consegue ver os homens que estão sentados na “Ghan- di class”, e que se tornam parte do espetáculo por seu comportamento mais “performático”. A pesquisadora chama atenção para o fato de que “em conversas sobre filmes, as pessoas sempre con- tam histórias de família ou amigos relacionadas à oca- sião em que ele foi assistido”. Assim, alguém escolhe o que ver muito mais pela conveniência do grupo do que por seu interesse pessoal em um filme específico. Tais características do público afetam a produção dos filmes. São evitadas cenas que possam causar con- strangimento entre as famílias e tornar o filme um fra- casso nas bilheterias. Sexo é apenas sugerido, jamais mostrado explicitamente. Cenas de beijo só recente- mente passaram a ser aceitas. A diversidade da audiên- cia levou os realizadores a fazerem filmes com ingredien- tes para todos os gostos no mesmo “pacote”. Um filme indiano popular normalmente mistura romance, drama, comédia, ação, aventura, musical, de forma que esse tipo de produção ganhou o apelido de “masala” (mistura de temperos). Para englobar tantos gêneros, com as conse- quentes reviravoltas na trama e as partes musicais, um filme indiano tradicional costuma durar algo em torno de três horas. Por isso há um intervalo durante a ses- são, a “intermission”. São dez ou quinze minutos que os espectadores aproveitam para ir ao banheiro, fazer um lanche ou dar uma olhada nas lojas próximas, mas prin- cipalmente para conversar. O costume do intervalo é tão arraigado que mesmo filmes de Hollywood estão sujeitos a ele. Se a parada demora a acontecer, o público fica inquieto e pode começar a circular pela sala e a bater de ir ao cinema 9
  • 10. papo com quem está ao lado. Mas o burburinho de conversas e de crianças é normal em qualquer ses- são. Para compensar os ruídos constantes, o som dos filmes é colocado em volume máximo. Para Lakshmi Srinivas, dois comportamentos do público indiano indicam que o filme em si é ape- nas parte da experiência construída coletivamente de “ver o filme”: eles são a “seletividade” e a “repetição”. A seletividade é o hábito de selecionar as ce- nas que ser quer ver, e simplesmente dar pouca ou nenhuma atenção a outras. Há quem deixe de lado as sequências musicais, e outros que aproveitam diálo- gos longos para fazer algo fora da sala e voltam cor- rendo para uma dança, por exemplo. É comum tam- bém ir ao cinema apenas para ver uma ou algumas sequências preferidas, e sair depois. Ou mesmo tro- car de filme no meio da sessão. Em outras palavras, o público “edita” o filme segundo seus próprios inter- esses e gostos. É costume chegar ao cinema com a sessão já começada e ir embora antes da última cena. Por isso, as luzes da sala de exibição permanecem acesas du- rante 10 a 15 minutos após o início do filme, a pri- meira sequência costuma ter pouca importância para a trama e não aparecem créditos finais. Pode-se dizer que o comportamento seletivo do público influencia o formato das produções. Já a repetição é o hábito de assistir a um filme mais de uma vez, o que é rotineiro na Índia. Com frequência, o que varia é o grupo com o qual se vai, e assim o mesmo filme se torna sempre uma nova experiência. Esse hábito contribui para o caráter participativo do público, pois, pela repetição, as pes- soas acabam aprendendo as músicas, as danças e os diálogos. Dessa forma, elas são capazes, por exem- plo, de improvisar respostas alternativas ao que os atores estão dizendo e chegam a dar conselhos aos personagens. Cenas muito dramáticas costumam ser alvo de ironias e zombaria. Em meio a sequências de tensão, podem surgir comentários sobre a roupa da atriz, a decoração do set, o local da filmagem, re- lacionando elementos daquela produção com a vida cotidiana das pessoas. Alguns espectadores forne- cem “efeitos sonoros”, imitando sons de armas de fogo, de bichos e outros, provocando risadas na sala. Ninguém se aborrece por isso. Pelo contrário, espera- se e deseja-se essa interação que, segundo Srinivas, torna o filme uma construção coletiva. É um modo pelo qual a plateia pode subverter completamente o sentido pretendido pelo diretor. Os exibidores procuram atender às deman- das do público e se adaptar a ele. A pesquisadora relata que, em sessões do filme “Hum” (1991), as plateias fizeram com que uma cena musical fosse repetida várias vezes, porque queriam continuar cantando e dançando com ela. Por outro lado, se o público não gosta do que vê, sua resposta pode vir na forma de pol- tronas rasgadas, principalmente na “Ghandi class”. Uma sala na cidade de Bangalore colocou poltronas de cimento nas primeiras fileiras para evitar prejuízos. Lakshmi Srinivas termina suas observações concluindo que “o cinema indiano e sua cultura de recep- ção por parte do público põem em questão muitas suposições básicas sobre os efeitos dos meios de comuni- cação de massa”. Percebe-se que o cinema “de massa” na Índia não tem necessariamente um efeito homoge- neizador ou alienador, como alguns teóricos poderiam pensar. Pelo contrário, ele proporciona uma experiência criativa e “revela a geração de senso de comunidade e de interações face a face” pelo consumo de um “produto de massa”. Teorias à parte, não dá vontade de participar dessa festa? 10
  • 11. A equipe do filme Monsoon Shootout reunida em Cannes. O ator Nawazuddin Siddiqui (à esquerda) está presente também em The Lunchbox. Amitabh Bachchan sendo entrevistado pela crítica Anupama Chopra, numa praia em Cannes (Fonte - Twitter de Anupama Chopra) Vidya Balan (facilmente reconhecível) ao lado de seus colegas do júri do festival. por Tiago Ursulino 11
  • 12. Flashmobs já não são mais novidade, mas já imaginou um flashmob de pedido de casamento, estilo Bollywood e em Nova York? Salman Ali organizou um só para pedir a mão de sua namorada, Shumaila Rangoonwalla, na Times Square, bem no centro de Nova York. O evento teve a participação de dançarinos profissionais e custou 2 mil dólares. O pedido foi feito ao som de Chammak Challo, do filme Ra One (2011). Clique aqui para ver o vídeo. Momento em que Ali leva Sumaila para o meio do flashmob para pedir sua mão Um pedido de casamento no coração de Nova York, à la Bollywood Já pensou num super-herói preguiçoso e que adora uma samosa? O roteirista e diretor Saurabh Varma está plane- jando lançar um filme de super-herói nada con- vencional, intitulado O Superrápido Raftaar Singh. O filme gira em torno de um rapaz do estado de Punjab com poderes sobrenaturais, mas que é preguiçoso e tem fetiche por samosas. “Este será o primeiro filme de super-herói em estilo comé- dia da Índia. Ele vai destacar um herói azarão de uma forma que a juventude vai gostar de ver e se conectar com ele”, declarou Saurabh Varma. O longa está previsto para ser lançado até o final deste ano. Pôster do filme O Superrápido Raftaar Singh Peru pode sediar cerimônia de premiação de Bollywood Fontes da Embaixada da Índia na Es- panha confirmaram que uma delega- ção indiana foi a Lima para negociar a possibilidade de que os Internatio- nal Indian Film Academy Awards (IIFA Awards), seja realizado no país. Esta seria a primeira vez em que um país sul-americano sediaria o evento, que no ano passado aconteceu em Singa- pura e foi apresentado pelos atores Fa- rhan Akhtar e Shahid Kapoor. NOTÍCIAS DO MÊS Anurag Kashyap, um cavaleiro francês por André Ricardo 12
  • 13. Filme de Tollywood filmado em Portugal Na edição de abril, a Bollywood Brasil publicou uma matéria sobre a investida portuguesa para se tornar um dos cenários de locações de filmes indianos. E não demorou muito para os portugueses começarem a colher os frutos. O filme em telugu Balupu (2013), com Ravi Teja e Shruti Haasan como protagonistas, terá cenas filmadas em Lisboa e no Algarve. O teaser do filme pode ser visto clicando aqui. Esse primeiro investimento indiano em Portugal é de quase 400 mil reais. Que as belas paisagens lusitanas passem a ser uma con- stante nos filmes indianos... Pôster do filme Balupu Cinema indiano tentando mudar a sociedade? O estupro que levou à morte da estudante in- diana de 23 anos Jyoti Singh Pandey e que chocou o mundo vai virar um filme. O longa será chamado Kill the Rapist - Mate o Estuprador (2013). Apesar do norme forte e da polêmica que a produção deverá gerar, o produtor Sid- dhartha Jain garante que o filme será muito mais sobre o empoderamento feminino do que sobre a violência ou o ato do estupro. Segundo Jain, “Queremos deter os violadores com este filme”. Pôster do filme Kill the Rapist Aamir Khan na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da Time Aamir Khan foi escolhido para estar em uma das sete capas especiais da edição da revista Time com a lista das 100 pessoas mais in- fluentes do mundo. Aamir foi escolhido por usar sua influência para aumentar a consciên- cia social na Índia. Outros indianos também entraram na lista: a advogada Vrinda Grover (que ganhou destaque por seus apelos por mudanças após o caso do estupro em Délhi – ver edição de março) e P. Chidambaram, Mi- nistro das Finanças da Índia. Também cons- tam os brasileiros Joaquim Barbosa (o “juiz do mensalão”) e o chef Alex Atala. Capa da Time, destacando Aamir Khan Mais uma beldade latina para Bollywood: A mexicana Marimar Vega A atriz mexicana Marimar Vega irá parti- cipar de um filme de Bollywood, que está sendo provisoriamente chamado de The Twist, dirigido por Himayath Khan. Vega será uma turista que, de férias na Índia, se envolverá em situações perigosas e que colocarão sua vida em risco. Boa sor- te para a bela mexicana! A atriz mexicana Marimar Vega Inaugurado o primeiro parque temático inspirado em Bollywood A Índia ganhou o seu primeiro parque temático, nas proximidades de Mumbai. O Adlabs Imagica foi cons- truído utilizando tecnologia baseada no legado india- no de contar histórias. O parque, que tem cerca de 110 hectares e conta com 18 atrações, foi inaugurado em abril. O ingresso custa o equivalente a 45 reais para adultos e 35 para crianças. Pôster do parque Adlabs Imagica Um feliz e musical “Bollywood” aniversário Iniciou-se na Índia a venda de cartões musicais inspirados em grandes sucessos de Bollywood. O cartão tem a foto de um ídolo de Bollywood na capa e quando aberto, toca a música do respectivo filme. Agora os indianos já podem desejar um feliz Dhoom aniversário ou de- clarar seu amor ao som do filme Veer-Zaara. São 24 cartões diferentes. Você pode acessar a coleção, clicando aqui. O cartão custa cerca de 10 reais, mas por enquanto está disponível somente na Índia. Capa do cartão musical com o tema do filme Dhoom 2 13
  • 14. Sholay é o tipo de filme que você quer assistir e fica deixando para depois, pois você tem ainda muitos filmes mais atuais para ver. Não se trata de um filme muito dinâmico, tem mais de 3 horas de duração com algumas cenas sem utilidade para a trama e isso o torna cansativo. Apesar de tudo, ele é um filme muito especial e é realmente um clássico do cinema mundial e tem que ser visto por qualquer pessoa que é apaixonada pelo cinema indiano. Seguem algumas das principais razões pelas quais você deve assistir esse filme. 1º. Realmente, o filme não é muito dinâmico, mas as cenas de ação são impressionantes. O filme é de 1975 e o realismo das cenas deixam vários filmes atuais no chinelo. O filme segue o estilo de velho oeste americano e deu muito certo. 2º. A parceria entre o Dharmendra (Veeru) e Amitabh Bachchan (Jai) ficou perfeita. Enquanto o Veeru é brincalhão, infantil e alegre, Jai é mais sério e ponderado. Porém, ambos possuem uma amizade verdadeira e eterna. Uma música que eles cantam no inicio do filme diz: “Nossa amizade nunca vai acabar. Minha alma pode partir, mas ela sempre estará a seu lado... Sua tristeza é minha tristeza. Minha vida é sua vida, assim é nosso amor.” Real- mente, o trecho da música retrata perfeitamente a relação dos dois. 3º. O fato de Veeru e Jai comprarem uma briga que não é deles. O filme gira em torno do personagem de Sanjeev Kumar (Thakur), um ex-policial que quando ainda estava na ativa, levava em um trem os assaltantes Veeru e Jai para uma penitenciária, quando foram subitamente atacados por uma gangue de assassinos. Graças à valentia e coragem de Veeru e Jai, Thakur não foi morto e a partir daí, ele pegou uma afeição e simpatia pelos dois. Por causa dessa afeição, tempos depois ele os procura dando-lhes a missão de capturar o bandido Gabbar Singh, vivido pelo ator Amjad Khan. Quando Thakur ainda era policial, ele perseguiu e prendeu Gabbar Singh. Este, para se vingar, foge da prisão e mata a sangue frio quase toda a família de Thakur, incluindo seu neto pequeno. A única que sobrevive à chacina é Radha (Jaya Bachchan), sua nora. Você deve se perguntar... Por que o próprio Thakur não faz isso? Bem, o motivo é mostrado em uma cena muito chocante e triste. 4º. Os casais vividos por Dharmendra e Hema Malini, Amitabh Bachchan e Jaya Bhaduri Bachchan. Na verdade, os personagens de Dharmendra e Hema Malini tiveram mais destaque no filme como casal. O casal Radha (Jaya) e Jai (Amitabh) não te conquista e não convence e você só entenderá o porquê no final. Você achará muito louvável a atitude dele em pedi-la em casamento, já que ela é viúva e na Índia as viúvas não tem um futuro muito agradável, mas.... Quem disse que tudo são flores? Vocês precisam assistir o filme para entender... 5º. As músicas do filme são belíssimas. Como exemplo tem a que fala da amizade entre Veeru e Jai já citada “Yeh Dosti” e é conhecida na Índia como um hino da amizade. 6º. A participação de umas das maiores dançarinas de todos os tempos, Helen na música “Mehbooba Meh- booba”. Foi uma aparição que por si só valeu ficar em frente a TV por mais de 3 horas. Sholay, um clássico do cinema indiano, estrelado por um elenco lendário: Dharmendra, Amitabh Bachchan, Hema Malini, Jaya Bachchan, Sanjeev Kumar e Amjad Khan. CRÍTICA: SHOLAYPor Feliz Luz 14
  • 15. 7º. O ator Amjad Khan (Gabbar Singh), viveu um dos melhores vilões do cinema indiano. Ele é mau, sem qualquer piedade. A cena em que ele diz que “as mães dizem às crianças para elas irem dormir ou calarem a boca, se não, Gabbar Singh vai chegar.” Diálogo perfeito! 8º. O cenário do filme é muito diferente do que estamos acostumados a ver no cinema indiano. Um lugar longe da civilização, com muitas rochas, poucas árvores, com pessoas simples e humildes, sem man- sões, sem joias, sem roupas glamorosas. Um lugar onde a lei não alcança, onde o bandido pode fazer tudo, ou quase tudo. 9º. A cena onde o Gabbar Singh pede para Basanti dançar para ele, caso contrário ele mataria Veeru. Debaixo de um sol escaldante do deserto, ela dança para que o seu amado não perca a vida. Belíssima e emocionante cena! O filme teria mais centenas de razões para serem enumeradas, por ser o que ele é e representa no cinema indiano, mas vou finalizar aqui senão viraria um livro. Algumas curiosidades so- bre o filme: • Amjad Khan não era a primeira opção para inter- petrar Gabbar Singh. O ator escolhido era Danny Denzongpa, mas este teve que recusar porque estava filmando Dharmatma no Afeganistão. O roteirista relutou em aceitar Khan, pois achava sua voz fraca demais para lhe permitir atuar de forma convincente como vilão. Ainda bem que o roteirista o aceitou. • Hema Malini tinha acabado de recusar uma pro- posta de casamento de Sanjeev Kumar e não queria estar perto dele. Se prestarem a atenção, Hema Ma- lini não tem cenas com o personagem Thakur Singh no filme. • Apesar de ser o maior hit do ano, Sholay perdeu todos os prêmios Filmfare para Deewar, também estre- lado por Amitabh Bachchan. • Balas reais foram supostamente usadas na cena clímax do filme e uma bala perdida quase acertou Amitabh. • Amitabh Bachchan e Jaya Bhaduri, Dharmendra e Hema Malini são casados até hoje. • O filme passou por 4 anos ininterruptos em Mum- bai e continuou por mais 2 anos no show matinê. Em 2004, Sholay foi remasterizado digitalmente e estreou mais uma vez nos cinemas indianos. • Sholay inspirou muitos filmes e gerou todo um subgênero, o “curry western”. É considerado o mais importante dos primeiros filmes de masala (mistura de gêneros) e é o criador de tendências de filmes mul- tiestrelados. • O filme foi um divisor de águas para roteiristas de Bollywood, que não eram bem pagos até então. • Gabbar Singh, o vilão sádico, marcou o início de uma era em filmes híndi caracterizada por vilões opressores e aparentemente onipotentes que desem- penham o papel central na criação do contexto da história. • Sholay recebeu muitas honrarias. Foi declarado como o “Filme do Milênio” pela BBC da Índia, em 1999, e em 2002 liderou uma enquete dos “Top 10 de filmes indianos” de todos os tempos do British Film Institute. Em 2004, foi eleito o melhor filme indiano em uma enquete por um milhão de indianos na Grã- Bretanha, e em 2006 foi eleito como o melhor filme pelos iranianos. • A mídia indiana noticiou que o filme estaria sendo convertido para 3D para lançamento este ano, em comemoração do centenário do cinema indiano. Devi- do a problemas de direitos autorais, não há ainda uma confirmação de data. Seria uma interessante mistura de um filme clássico, com uma roupagem mais mod- erna. Vamos torcer! 15
  • 16. AGENDA DE ESTREIAS por Tiago Ursulino 24 de maio Ishkq in Paris Direção: Prem Raj Direção musical: Sajid-Wajid Elenco: Preity Zinta, Rhehan Malliek, Isabelle Adjani, Salman Khan (participação especial) Gênero: Romance Entrando para a galeria de atores/atrizes donos de suas próprias produtoras, a estrela Preity Zinta, com sua PZNZ Media, produz seu primeiro filme, uma história de amor ambientada na cidade das luzes. 31 de maio Yeh Jawaani Hai Deewani Direção: Ayan Mukerji Direção musical: Pritam Elenco: Ranbir Kapoor, Deepika Padukone, Aditya Roy Kapur, Kunaal Roy Kapur, Kalki Koechlin e Mad- huri Dixit (em número musical) Gênero: Romance Filme que marca a reunião do ex-casal Ranbir Kapoor & Deepika Padukone, o filme conta a história de 4 amigos vivendo intensamente os últimos anos da sua juventude, conforme as responsabilidades da vida adulta começam a se impor.
  • 17. 14 de junho Fukrey Direção: Mrigdeep Singh Lamba Direção musical: Ram Sampat Elenco: Pulkit Samrat, Manjot Singh, Ali Fazal, Varun Sharma Gênero: Comédia Esperada produção de Farhan Akhtar, o filme promete uma divertida história sobre a vida de amigos que não são nada do que a sociedade espera deles. O filme já inovou no seu primeiro trailer, feito no formato de desenho animado. 21 de junho Raanjhanaa Direção: Aanand L. Rai Direção musical: A R Rahman Elenco: Sonam Kapoor, Dhanush, Swara Bhaskar, Abhay Deol Gênero: Romance Kundan (Dhanush, ator da indústria tâmil estreando em Bollywood) desde criança ama Zoya (So- nam Kapoor). Mas seu amor pode estar ameaçado pela chegada de um estranho (Abhay Deol) na vila onde moram. O filme promete ser uma história de amor épica, de ferir os corações.