A presença do negro em terras de Belo Campo, Bahia, é noticiada a partir do ano de 1804, na fazenda “Vereda” na região da Mata-de-Cipó e vai aumentando de quantidade nos anos seguintes. Destaca-se a presença de negros na região do Panela, hoje, Campo Formoso, onde vivia a célebre “Fulô do Panela”, negra rica e de grande beleza.
Na região da caatinga belo-campense a presença do negro é muito pequena.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
A Presença do Negro em Belo Campo
1. Título
A PRESENÇA DO NEGRO EM BELO
CAMPO
Na atual área territorial de Belo Campo, nota-se, com facilidade, acentuada presença do negro na
região do Mato Cipó, ao passo que na região da Caatinga sua presença é pequena, e a maioria, constituída
de brancos.
Este tema não é assunto para este nosso trabalho, mas para um trabalho muito profundo a fim de
verificar a origem da raça negra e a dos brancos e sua miscigenação ocorrida ao longo destes dois últimos
séculos na região de Belo Campo. Este tipo de pesquisa deixa-se aos acadêmicos em História que poderão
elaborar riquíssimos trabalhos a esse respeito.
Contudo, desejamos fazer rápido esboço sobre a presença da raça negra em terra belo-campense e de
alguma maneira levantar a questão que, pelos indícios, a Família Gonçalves da Costa era constituída de
negros ou de mulatos.
É notória a presença do negro escravo em terras da região do 'Sertão da Ressaca' e mais
especificamente na grande Fazenda Vereda que, grosso modo, compreende quase toda a região do Mato
Cipó de Belo Campo. Os negros escravos serviam os senhores das terras e suas famílias fazendo todo o tipo
de serviço. A venda e compra de escravos na época era livre, e o seu preço variava de acordo com sua idade
e saúde física.
Comumente veem-se nos antigos testamentos e inventários a passagem de um escravo para outro
dono como uma mercadoria ou um bem da família. Muitos alcançavam a alforria por estarem velhos, outros
ainda por ter prestado bons serviços aos seus donos e, ainda, muitas escravas tinham sua liberdade por
serem mães de filhos de seus senhores.
Na medida em que os negros escravos eram alforriados e, não tendo para onde ir, continuam a residir
na região e formavam novas famílias, aumentando o numero de descendentes de sua raça.
1 fonte: www.robertolettiere.com.br
Escritor Roberto Lettière
2. Título
Existe uma referência antiga que é a 'Carta Patente' do posto de Capitão do terço de Henrique Dias
concedida a João Gonçalves da Costa, citada por Maria Aparecida Silva de Sousa [Sertão da Ressaca], de que
João Gonçalves da Costa, o grande latifundiário do Sertão da Ressaca, era 'preto forro', a autora comenta
sobre essa assertiva e faz alguns questionamentos.
Aníbal Lopes Viana [Revista Histórica de Conquista], nascido no início do século XX, sobre esse assunto
escreve livremente e com muita naturalidade, como ele, tendo conhecido os descendentes mais diretos da
Família Gonçalves Costa tivesse a certeza que o patriarca dessa família fosse negro ou mulato e, assim, se
expressa:
'Dona Faustina Gonçalves da Costa era mulher de boa estatura, mulata, simpática, de corpo
esbelto'. Aníbal também escreveu: 'O Coronel de Milícias João Gonçalves da Costa, português de
nascimento, mulato, e seus filhos foram os primeiros povoadores [...]'. [grifos meus]
'[...] Os grandes líderes políticos do passado, José Fernandes de Oliveira Gugé, Pompílio Nunes
de Oliveira, José Maximiliano Fernandes de Oliveira, o poeta Manoel Fernandes de Oliveira
[Maneca Grosso], o grande filólogo conquistense José de Sá Nunes [já falecidos], o ilustre
Desembargador Wilde de Oliveira Lima, o jornalista e intelectual conquistense Bruno Bacelar de
Oliveira, o atual Prefeito engenheiro civil José Fernandes Pedral Sampaio, são, todos,
descendentes de Dona Faustina Gonçalves da Costa, que era mulher de cor, casada com um
branco europeu 'dos olhos de gato'.[grifos meus]
Aníbal Lopes Viana escreve ainda sobre outra descendente de João Gonçalves da Costa, mais
precisamente descendente de sua filha Faustina Gonçalves da Costa e, diretamente, de seu filho Capitão
Ajudante João de Oliveira Freitas que possivelmente não tinha problemas em casar-se com mulher negra ou,
ainda, por ser ele próprio, negro ou mulato.
'Divorciado, João de Oliveira, uniu-se com uma preta, escrava forra, de nome Maria Bernarda
com a qual teve filhos inclusive Eufrosina de Oliveira Freitas geralmente conhecida por 'Fulô da
Panela', por ter sido moradora do arraial do Panela [atual Campo Formoso] em cujo lugar era
Dona de uma casa comercial.'
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Escritor Roberto Lettière
3. Título
'Segundo narram seus contemporâneos DonaEufrosina era mulata, de belos traços fisionômicos,
cabelos anelados, boa estatura. Herdou a audácia de seu bisavô Cel. João Gonçalves da
Costa'.[grifos meus]
Ao que parece, João Gonçalves da Costa [e demais familiares] não tinha restrições quanto a cor da
pele, porque seu filho ilegítimo, o Sargento-Mor Raymundo Gonçalves da Costa era filho de João com uma
mulher negra [ou mulata] e, esse mesmo filho, o Raymundo, teria se casado com uma negra importada de
Cabo Verde, África, de nome Carlota.
A relativa quantidade de negros escravos existentes nesse grande latifúndio e a baixíssima densidade
demográfica de brancos na região aproximou essas duas raças e delas surgiram os mestiços que muitos
senhores reconheceram como seus filhos naturais, inclusive com direito a uma parte de seus bens de raiz e
de semoventes o que dava algumas condições e possibilidade de casar-se com pessoas brancas. Havia
também alguns casos de brancos terem filhos com as indígenas, posto que isso fosse bem mais raro, que
dava ensejo a novo tipo de miscigenação.
Atualmente verifica-se na região do Mato Cipó expressiva quantidade de negros e mulatos com
sobrenomes de Gonçalves, de Costa, de Ferreira, de Campos, de Oliveira Freitas, de Oliveira e de Freitas e
demais sobrenomes cujas origens são dos primeiros exploradores e latifundiários da região.
Na região da Caatinga de Belo Campo a maioria de seus habitantes é composta por elementos da raça
branca e possuem o tipo e as características típicas do homem nordestino, inclusive o seu modo de se
expressar, é diferente do habitante do Mato Cipó. Até na alimentação diária as diferenças são bem distintas.
Com isso, distingue-se, facilmente, o habitante das regiões do Mato Cipó e da Caatinga de Belo
Campo, pela cor da pele, pelas características morfológicas, pelo modo de se expressar, o que vem
demonstrar que suas origens apresentam pontos nada comuns a esses habitantes que são, em suma, bem
diferentes.
Extraído do livro de Roberto Lettière: “BELO CAMPO – A TERRA E A GENTE” – 2008.
3 fonte: www.robertolettiere.com.br
Escritor Roberto Lettière