Este documento resume uma análise da geração de resíduos da construção e demolição em Portugal. Apresenta uma metodologia para estimar a geração atual e futura destes resíduos, analisando casos reais de demolição e reabilitação e extrapolando os resultados. Estima-se que a geração aumentará nos próximos anos e tenderá para valores semelhantes aos de outros países europeus. Fornece também informações sobre a composição destes resíduos.
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Análise de viabilidade_de_implantação_de_centrais_de_reciclagem_de_resíduos_da_construção_e_demoliçã
1. UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
ANÁLISE DE VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE CEN-
TRAIS DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO
E DEMOLIÇÃO EM PORTUGAL
PARTE I - ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
André Daniel Vital da Silva Coelho
(Doutorado)
ORIENTADOR: Doutor Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito
Abril 2009
2. i. Resumo
No seguimento da crescente preocupação com a geração de resíduos da construção e
demolição (RCD) no mundo em geral e, em particular, em Portugal, o presente trabalho (Parte
I - Estimativa da geração de Resíduos da Construção e Demolição) pretende quantificar a
produção anual de RCD, a nível nacional, tanto globalmente como por categorias gerais de
geração, relacionadas com o tipo de obras e natureza das intervenções. O estudo procura tam-
bém prever a composição material dessa mesma geração de resíduos, no âmbito das catego-
rias gerais consideradas, constituindo essa uma importante informação para possíveis estima-
tivas de quantidades de resíduos de entrada, por exemplo, no projecto de centrais fixas ou
móveis de reciclagem de RCD, conhecendo a ou as construções em cujas intervenções irá dar-
se a geração de resíduos.
A produção de RCD é estimada para o presente (ano 2008) e para um futuro próximo
(até 2020), utilizando como base os dados estatísticos existentes para a construção, nomeada-
mente a informação existente acerca da quantidade de licenças de construção, demolição e
reabilitação emitidas pelas entidades municipais. A extrapolação é realizada utilizando fun-
ções polinomiais de aproximação aos dados estatísticos, de forma a permitir calcular possíveis
valores de geração futura, seguindo certos parâmetros que definem cenários. A geração final
resultará de considerações acerca dos cenários gerados, face às indicações da evolução dos
mercados da construção, demolição e reabilitação nos próximos anos. A comparação com a
geração de RCD noutros países, citadas em publicações, indica que a produção de RCD em
Portugal irá aumentar e tender para um valor na ordem de grandeza do actualmente gerado
nesses países.
2
3. ii. Abstract
In line with the growing concern over construction and demolition waste (CDW) gen-
eration around the world, and in Portugal in particular, the present work (Part I – Estimating
Construction and Demolition Waste generation) aims at quantifying the national annual CDW
generation, both globally and in general generation categories, related to building type and
intervention. The study also provides material composition in CDW generation groups, re-
lated to the referred categories, which constitutes important information when estimating in-
put CDW quantities, for instance in designing fixed or mobile CDW recycling stations, know-
ing which buildings are targeted for intervention.
CDW generation is predicted in the present (year 2008) and for an immediate future
(up to 2020), based on existing construction, demolition and retrofitting statistical data,
namely the one concerning municipal permits. Extrapolation is achieved by approximating
polynomial functions to the statistical data, allowing the calculation of future waste generation
quantities, following parameters which define scenarios. The final generation figure will re-
sult from certain considerations within the drawn scenarios, based on the construction, demo-
lition and retrofitting market tendencies over the next few years. Comparing the CDW genera-
tion calculated in this way with other countries numbers, as cited in several publications, indi-
cates a steady increase in CDW generation in Portugal, which is expected to stabilize around
some value near these countries present generation quantities.
3
4. iii. Agradecimentos
Eis os agradecimentos devidos a salientar nesta fase:
- Ao meu orientador, Prof. Jorge de Brito, por todo o trabalho de acompanhamento, análise,
correcção e apoio generalizado na feitura deste trabalho;
- Ao Engenheiro Brito Cardoso, da Ambisider, por todos os dados fornecidos e pela disponi-
bilidade;
- Aos técnicos da obra Polis Cacém (Ambisider), pelo acolhimento e fornecimento de infor-
mação;
- Ao Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, pela disponibilidade dos processos
para consulta que permitiram a realização das medições.
4
5. iv. Índice geral
I - Estimativa da geração de Resíduos de Construção e Demolição
1. Introdução
1.1 Considerações preliminares
1.2 Objectivos do estudo
1.3 Organização do trabalho
2. Situação presente da geração de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em Portugal
2.1 Estimativas anteriores da geração de RCD
2.2 Geração de RCD em Portugal face à geração nos países da Comunidade Europeia
(CE) e de outros países
2.3 Origens/fontes de geração de RCD e seu encaminhamento
3. Metodologia para estimativa da geração de RCD - processo de amostragem
3.1 Definições e classificação da geração de materiais por tipo de obra, tipo de interven-
ção e idade da construção
3.2 Recolha de dados para quantificação da geração de resíduos
3.2.1 Operações de demolição
3.2.2 Operações de reabilitação
3.2.3 Construções novas
3.3 Regras de medição sobre projectos existentes
3.3.1 Operações de demolição e reabilitação
3.4 Composição construtiva dos casos analisados
3.5 Classificação dos resíduos e geração por unidade de referência
4. Metodologia para estimativa da geração de RCD - processo de extrapolação
4.1 Determinação da geração de RCD, por tipo de obra e de operação
4.1.1 Edifícios de habitação
4.1.2 Edifícios de serviços
4.1.3 Obras públicas
4.2 Geração global de RCD - presente e previsão futura
4.2.1 Geração global no presente
4.2.2 Metodologia utilizada para previsão futura e resultados de geração de RCD
4.2.2.1 Cenário 1
4.2.2.2 Cenário 2
5. Discussão dos resultados do processo de estimativa da geração de RCD
5.1 Limitações e aproximações inerentes à metodologia utilizada
5.2 Considerações para a obtenção de uma estimativa razoável da geração de RCD, no
presente e a prazo
5.3 Análise sucinta da constituição média dos RCD gerados
6. Conclusões
Anexos
Bibliografia
5
6. v. Índice de quadros
pág.
Quadro 1 - Relação global da geração de resíduos em Portugal 14
[5]
Quadro 2 - Proporção de RCD em relação à produção total de resíduos em vários países 14
Quadro 3 - Estimativa das percentagens de RCD geridos, por destino final 23
Quadro 4 - Distribuição percentual dos fluxos de materiais constituintes dos RCD, tal como apresentada em [3]
24
Quadro 5 - Redistribuição percentual da composição média dos RCD, sem inclusão dos solos e rochas não
contaminados, a partir do Quadro 4 24
[13]
Quadro 6 - Estimativas da geração de RCD por processo produtivo e por tipo de obra, nos EUA 24
Quadro 7 - Soluções construtivas consideradas no tipo de edifício anterior a 1919 28
Quadro 8 - Soluções construtivas consideradas no tipo de edifício construído entre 1946 e 1970 31
Quadro 9 - Soluções construtivas consideradas no tipo de edifício construído entre 1971 e 1990 32
Quadro 10 - Dados gerais referentes aos casos analisados para a quantificação da geração de RCD em obras de
demolição em edifícios de habitação 37
Quadro 11 - Resumo das medições dos elementos construtivos do caso 1 dos edifícios de habitação - demolição
38
Quadro 12 - Resumo das medições dos elementos construtivos do caso 2 dos edifícios de habitação - demolição
39
Quadro 13 - Resumo das medições dos elementos construtivos do caso 3 dos edifícios de habitação - demolição
39
Quadro 14 - Resumo das medições dos elementos construtivos do caso 4 dos edifícios de habitação - demolição
40
Quadro 15 - Quantidades de RCD produzidas na obra de demolição Polis Cacém (habitação - caso 5), por tipo de
resíduo (código LER) 40
Quadro 16 - Dados gerais referentes aos casos analisados para a quantificação da geração de RCD em obras de
demolição em edifícios de serviços 41
Quadro 17 - Resumo das medições dos elementos construtivos do Caso 3 dos edifícios de serviços - demolição42
Quadro 18 - Quantidades de RCD produzidas na obra de demolição do Shopping Center - Rio Sul (serviços -
caso 1), por tipo de resíduo (código LER) 43
Quadro 19 - Quantidades de RCD produzidas na obra de demolição do edifício 82 - ANA (serviços - caso 2), por
tipo de resíduo (código LER) 43
Quadro 20 - Quantidades de RCD produzidas na obra de demolição de um edifício de 17 andares (serviços - caso
4), por tipo de resíduo (código LER) 44
Quadro 21 - Resumo dos dados gerais referentes aos casos analisados para a quantificação da geração de RCD
em obras de reabilitação em edifícios/fracções de habitação 44
Quadro 22 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do caso 1 de habitação - reabilitação
44
Quadro 23 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do caso 2 de habitação - reabilitação
45
6
7. Quadro 24 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do caso 3 de habitação - reabilitação
45
Quadro 25 - Resumo dos dados gerais referentes aos casos analisados para a quantificação da geração de RCD
em obras de reabilitação em edifícios / fracções de serviços 45
Quadro 26 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do caso 1 de serviços - reabilitação 46
Quadro 27 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do caso 2 de serviços – reabilitação 46
Quadro 28 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do caso 3 de serviços - reabilitação 46
Quadro 29 - Resumo das medições dos elementos construtivos (a demolir) do Caso 4 de serviços - reabilitação 46
Quadro 30 - Quantificação da geração de RCD em construção nova[18] 47
Quadro 31 - Distribuição da geração de RCD por materiais, na fase de construção da estrutura 47
Quadro 32 - Distribuição da geração de RCD por materiais, na fase de construção das paredes (não estruturais)47
Quadro 33 - Distribuição da geração de RCD por materiais, na fase da aplicação de revestimentos (tipicamente
edifícios de habitação) 48
Quadro 34 - Distribuição da geração de RCD por materiais, na fase da aplicação de revestimentos (tipicamente
edifícios de serviços) 48
Quadro 35 - Densidades dos materiais soltos consideradas para o cálculo da percentagem da geração de RCD em
peso (para construção nova) 49
Quadro 36 - Regras gerais de medição de elementos construtivos em operações de demolição (incluindo
operações de demolição em reabilitações) 50
Quadro 37 - Estado de conservação dos edifícios existentes (com base em [19]) 53
Quadro 38 - Percentagem de edifícios existentes, conseoante a sua idade e estado de conservação 53
Quadro 39 - Percentagem de edifícios "marcados para demolição", por período de construção (dados de 2001) 53
Quadro 40 - Aglomeração e ordenação de fluxos de materiais resultantes da demolição de edifícios de habitação
55
Quadro 41 - Geração de RCD na demolição de edifícios de habitação (casos analisados), por área de superfície55
Quadro 42 - Geração de RCD na demolição de edifícios de habitação, por tipo de material 57
Quadro 43 - Geração de RCD na reabilitação - componente de demolição - de edifícios de habitação, por tipo de
material 58
Quadro 44 - Geração de RCD na reabilitação - componente de demolição - de edifícios de habitação (casos
analisados), por área de superfície 58
Quadro 45 - Aglomeração e ordenação de fluxos de materiais resultantes da reabilitação de edifícios de
habitação 58
Quadro 46 - Geração de RCD na demolição de edifícios de serviços, por tipo de material 62
Quadro 47 - Geração de RCD na demolição de edifícios de serviços (casos analisados), por área de superfície 62
Quadro 48 - Aglomeração e ordenação de fluxos de materiais resultantes da demolição de edifícios de serviços63
Quadro 49 - Geração de RCD na reabilitação - componente de demolição - de edifícios de serviços, por tipo de
material 64
Quadro 50 - Geração de RCD na reabilitação - componente de demolição - de edifícios de serviços (casos
analisados), por área de superfície 64
7
8. Quadro 51 - Aglomeração e ordenação de fluxos de materiais resultantes da reabilitação de edifícios de serviços
64
Quadro 52 - Geração na área bruta da componente de construção nova em reabilitação de edifícios de serviços 65
Quadro 53 - Geração de RCD na reabilitação/demolição de obras públicas (estradas) (dados de 2007) 68
Quadro 54 - N.º de licenças concedidas para demolição de edifícios e respectivas taxas de variação 70
Quadro 55 - Cálculo da média da relação entre as rubricas ‘alteração’ e ‘ampliação’ citadas na estatística, entre
os anos 2002 a 2004 72
Quadro 56 - Série estatística adaptada do n.º de licenças emitidas para obras de reabilitação, entre 1994 e 2006 72
Quadro 57 - Número de edifícios concluídos, segundo o tipo de obra, em Portugal, por NUTS III - 2006 73
Quadro 58 - Série de valores da quantidade de edifícios de habitação construídos nos anos de 2001 a 2006 e
respectivas taxas de variação e de redução 74
Quadro 59 - Relação entre quantidade de edifícios de serviços e o total, para os anos de 2001 a 2006 76
Quadro 60 - Série de valores da quantidade de edifícios construídos nos anos de 2001 a 2006 e respectivas taxas
de variação e de redução 77
Quadro 61 - Compilação de valores da geração de RCD per capita, para o ano presente 78
Quadro 62 - Séries de tendência (valores estatísticos) para construção nova, demolição e reabilitação em
Portugal, entre os anos de 1994 a 2006 79
Quadro 63 - Extrapolação do número de licenças (construção nova, demolição e reabilitação) concedidas em
Portugal, usando expressões de tendência* - 2006 a 2020, cenário 1 81
Quadro 64 - Previsão da geração de RCD, para os anos 2008-2020 (cenário 1), com base em polinómios de
tendência, kg/hab.ano 82
Quadro 65 - Compilação de valores da geração de RCD per capita, para o ano 2020 (cenário 1) 83
Quadro 66 - Extrapolação do número de licenças (construção nova, demolição e reabilitação) concedidas em
Portugal, usando expressões de tendência* - 2006 a 2020, cenário 2 84
Quadro 67 - Previsão da geração de RCD, para os anos 2008-2020 (cenário 2), com base em polinómios de
tendência*, kg/hab.ano 86
Quadro 68 - Compilação de valores da geração de RCD per capita, para o ano 2020 (cenário 2) 87
Quadro 69 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de habitação - caso 1 92
Quadro 70 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de habitação - caso 2 92
Quadro 71 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de habitação - caso 3 93
Quadro 72 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de habitação - caso 4 93
Quadro 73 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de habitação - caso 5 94
Quadro 74 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de serviços - caso 1 95
Quadro 75 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de serviços - caso 2 95
Quadro 76 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de serviços - caso 3 96
Quadro 77 - Quantidades de RCD gerados na demolição de edifícios de serviços - caso 4 96
Quadro 78 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de habitação - caso 1 97
Quadro 79 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de habitação - caso 2 97
Quadro 80 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de habitação - caso 3 98
Quadro 81 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de serviços - caso 1 98
8
9. Quadro 82 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de serviços - caso 2 98
Quadro 83 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de serviços - caso 3 99
Quadro 84 - Quantidades de RCD gerados na reabilitação de edifícios de serviços - caso 4 99
Quadro 85 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 1 (Av. Duque de Loulé, n.º 42 - anterior a
1919) 100
Quadro 86 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 1 (Av. Duque de Loulé, n.º 42 - anterior a
1919), continuação 1 101
Quadro 87 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 1 (Av. Duque de Loulé, n.º 42 - anterior a
1919), continuação 2 102
Quadro 88 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 1 (Av. Duque de Loulé, n.º 42 - anterior a
1919), continuação 3 103
Quadro 89 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 2 (edifício na R. de São Ciro, n.º 37 - entre
1946 e 1970) 104
Quadro 90 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 2 (edifício na R. de São Ciro, n.º 37 - entre
1946 e 1970), continuação 1 105
Quadro 91 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 2 (edifício na R. de São Ciro, n.º 37 - entre
1946 e 1970), continuação 2 106
Quadro 92 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 2 (edifício na R. de São Ciro, n.º 37 - entre
1946 e 1970), continuação 3 107
Quadro 93 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 3 (Av. Óscar Monteiro Torres, n.º 18 - entre
1946 e 1970) 108
Quadro 94 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 3 (Av. Óscar Monteiro Torres, n.º 18 - entre
1946 e 1970), continuação 1 109
Quadro 95 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 3 (Av. Óscar Monteiro Torres, n.º 18 - entre
1946 e 1970), continuação 2 110
Quadro 96 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 3 (Av. Óscar Monteiro Torres, n.º 18 - entre
1946 e 1970), continuação 3 111
Quadro 97 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 4 (R. Prof. Santos Lucas, lote F - entre 1971 e
1990) 112
Quadro 98 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 4 (R. Prof. Santos Lucas, lote F - entre 1971 e
1990), continuação 1 113
Quadro 99 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 4 (R. Prof. Santos Lucas, lote F - entre 1971 e
1990), continuação 2 114
Quadro 100 - Edifícios de habitação, operação de demolição: caso 4 (R. Prof. Santos Lucas, lote F - entre 1971 e
1990), continuação 3 115
Quadro 101 - Edifícios de serviços, operação de demolição: caso 3 (camarins colectivos Gulbenkian - entre 1946
e 1970) 116
Quadro 102 - Edifícios de serviços, operação de demolição: caso 3 (camarins colectivos Gulbenkian - entre 1946
e 1970), continuação 1 117
9
10. Quadro 103 - Edifícios de serviços, operação de demolição: caso 3 (camarins colectivos Gulbenkian - entre 1946
e 1970), continuação 2 118
Quadro 104 - Edifícios de serviços, operação de demolição: caso 3 (camarins colectivos Gulbenkian - entre 1946
e 1970), continuação 3 119
Quadro 105 - Operação de demolição / reabilitação: obras públicas (estradas) 120
Quadro 106 - Previsão da superfície de intervenção, para os anos 2008-2020, com base em polinómios de
tendência, m2/ano - cenário 1 128
Quadro 107 - Previsão da expressão da actividade no total, para os anos 2008-2020, com base em polinómios de
tendência, % - cenário 1 128
Quadro 108 - Previsão da superfície de intervenção, para os anos 2008-2020, com base em polinómios de
tendência, m2/ano - cenário 2 131
Quadro 109 - Previsão da expressão da actividade no total, para os anos 2008-2020, com base em polinómios de
tendência, % - cenário 2 131
10
11. vi. Índice de figuras
pág.
Figura 1 - Abandono de resíduos de construção e demolição à beira da estrada, nos arredores de Lisboa 13
Figura 2 - Diagrama síntese da metodologia de cálculo da geração global de RCD 15
Figura 3 - Diagrama síntese da metodologia de cálculo da geração global de RCD 16
Figura 4 - Primeira parte do formato-tipo do inquérito entregue a uma amostra de 48 empresas do sector da
demolição e gestão de RCD em Portugal 18
Figura 5 - Segunda parte do formato-tipo do inquérito entregue a uma amostra de 48 empresas do sector da
demolição e gestão de RCD em Portugal 19
Figura 6 - Geração de RCD nos vários países da CE (15), segundo o estudo [8] 22
Figura 7 - Imagem geral do edificado a demolir (selectivamente), no âmbito de uma fase do Programa Polis
Cacém 29
Figura 8 - Pormenor construtivo de uma laje de esteira revestida inferiormente a tabuado (local da intervenção no
âmbito do programa Polis Cacém) 29
Figura 9 - Habitação (no mesmo local de intervenção) em fase final de demolição 30
Figura 10 - Estado de conservação de edifícios existentes (a partir do Quadro 38) 53
Figura 11 - Proporção da geração de RCD por fluxos de materiais, em relação à área útil, na demolição de
edifícios de habitação 54
Figura 12 - Proporção da geração de RCD por fluxos de materiais, em relação à área bruta, na reabilitação de
edifícios de habitação (total das componentes de construção e demolição) 59
Figura 13 - Proporção da geração de RCD por fluxos de materiais, em relação à área bruta, na construção nova
de edifícios de habitação 60
Figura 14 - Proporção da geração de RCD por fluxos de materiais, em relação à área útil, na demolição de
edifícios de serviços 61
Figura 15 - Proporção da geração de RCD por fluxos de materiais, em relação à área bruta, na demolição de
edifícios de serviços 63
Figura 16 - Proporção da geração de RCD por fluxos de materiais, na reabilitação / demolição de obras públicas
(estradas) 67
Figura 17 - Nº de licenças concedidas para demolição de edifícios, entre 1994 e 2006 70
Figura 18 - Evolução do número de licenças concedidas em Portugal (construção nova, demolição e reabilitação)
- 1994 a 2006 80
Figura 19 - Linhas de aproximação aos valores do número de licenças concedidas em Portugal (construção nova,
demolição e reabilitação) - 1999 a 2006, cenário 1 80
Figura 20 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020,
cenário 1) 82
Figura 21 - Linhas de aproximação aos valores do número de licenças concedidas em Portugal (construção nova,
demolição e reabilitação) - 1999 a 2020 (cenário 2) 84
Figura 22 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020,
cenário 2) 86
11
12. Figura 23 - Proporção de geração de RCD, em percentagem, dos fluxos de materiais, para cada tipo de edifício e
de intervenção 91
Figura 24 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020), para
os edifícios de habitação - cenário 1 129
Figura 25 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020), para
os edifícios de serviços - cenário 1 129
Figura 26 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020), para
as obras públicas (estradas) - cenário 1 130
Figura 27 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020), para
os edifícios de habitação - cenário 2 132
Figura 28 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020), para
os edifícios de serviços - cenário 2 132
Figura 29 - Previsão da geração de RCD para Portugal, com base em polinómios de tendência (2008-2020), para
as obras públicas (estradas) - cenário 2 133
12
13. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
I - Estimativa da geração de Resíduos de Construção e Demolição
1. Introdução
1.1 Considerações preliminares
A indústria da construção em Portugal não tem tradição na reutilização ou reciclagem
dos resíduos produzidos nas suas actividades de construção, demolição ou reabilitação.
Enquanto que outras indústrias, como o sector das papeleiras e dos plásticos, já começaram a
implementar esquemas de recuperação e reciclagem dos materiais envolvidos na fabricação
dos seus produtos, essencialmente devido a leis ambientais mais restritivas, nomeadamente
referentes à geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) (as lixeiras a céu-aberto só há pou-
cos anos foram extintas, em território nacional), às empresas de construção e demolição ainda
muito recentemente era permitida a deposição dos resíduos em aterros, quando não era feita
de forma ilegal simplesmente à beira da estrada (Figura 1)[1].
Figura 1 - Abandono de resíduos de construção e demolição à beira da estrada, nos arredores
de Lisboa
Os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) são produzidos em enormes quanti-
dades, comparáveis com a geração de resíduos sólidos urbanos (RSU), cuja quantidade esti-
mada ronda 4.550.000 ton/ano (valor obtido com base em [2]).
Com base num trabalho de investigação[3], uma projecção nacional da geração de RCD
13
14. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
ascende a 6.440.000 ton/ano1, o que significa que, de um ponto de vista estritamente quantita-
tivo, os RCD constituem um problema mais grave do que os RSU.
Em termos de proporção global de geração de resíduos, nos quais estão incluídos os
RSU, os Resíduos Industriais (RI) e os RCD, usando os números até agora citados e os relati-
vos aos RI[4], conclui-se que a geração de RCD em Portugal está na mesma linha do que suce-
de noutros países europeus, bem como noutros como a Austrália e os Estados Unidos da
América (EUA). Com efeito, mostra-se no Quadro 1 a relação global da geração de resíduos
nos 3 grandes grupos referidos e, no Quadro 2, a proporção dos RCD em relação à produção
total de resíduos nesses países, extraída directamente de [5].
Quadro 1 - Relação global da geração de resíduos em Portugal
Ano 2002 Geração, ton/ano % em relação ao total
2
RI 22547406 67.2
RCD 6440000 19.2
RSU 4550000 13.6
Totais 33537406 100.0
Quadro 2 - Proporção de RCD em relação à produção total de resíduos em vários países[5]
País % de RCD em relação ao global3
Holanda 26
Austrália 20-30
EUA 20-29
Alemanha 19
Finlândia 13-15
Apesar disso, as estimativas até agora realizadas da geração global são altamente dís-
pares (ver capítulo 2.1), pelo que não exise, até à data, um valor consistente com a realidade
da geração de RCD em Portugal.
É especialmente importante conhecer este valor de geração global e sua decomposição
em fluxos específicos (diferentes materiais gerados nas operações de construção, demolição e
reabilitação), não só para ter noção dos impactes ambientais e económicos decorrentes da
1
Esta quantidade inclui geração de solos, pelo que a quantidade sem solos se cifra aproximadamente, usando
dados de 1998 (usados em [3]), em 3.604.000 ton/ano. No entanto, a componente dos solos (na sua maioria não
contaminados) terá na mesma de sofrer alguma gestão, nomeadamente transporte e deposição em locais apro-
priados, pelo que, para efeito da comparação com o valor global de RSU, apresenta-se o valor total.
2
Valor calculado considerando uma variação linear entre os valores estimados para o ano 2000 e 2005, em [4].
As quantidades geradas em RI consistem na soma dos valores obtidos para 19 sectores de actividade industrial,
nos quais não se encontram os resíduos da indústria da construção (e demolição).
3
RCD + RSU + RI.
14
15. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
geração de RCD mas também para ganhar uma ideia mais concreta dos fluxos para o dimen-
sionamento de centrais de reciclagem de RCD. Para tal, é importante vir a saber a geração
actual, bem como a progressão expectável dessa geração ao longo dos próximos anos, uma
vez que a indústria da construção e demolição está em acentuada mutação (capítulo 2.4),
como mostram os dados estatísticos dos últimos anos (capítulo 4.1) e outros trabalhos de
investigação recentes realizados no domínio da reabilitação[6] e demolição (selectiva e tradi-
cional)[7].
1.2 Objectivos do estudo
Inserido no âmbito global da presente investigação, que também incide sobre a demo-
lição selectiva e a instalação de centrais de reciclagem de RCD, a presente parte I tem como
objectivo a quantificação da geração de RCD, globalmente e decomposta por tipos de resí-
duos, tipos de obra e tipos de operações. Sistematizando, de modo muito geral, poderá obser-
var-se na Figura 2 os tipos de operações realizadas para a caracterização da geração de RCD,
para o ano corrente.
Quantificação da geração a partir de Quantificação da geração
a partir de médias da Quantificação da geração a
projectos construídos (medições),
geração em obra, kg/m2 partir de perfis-tipo, kg/m2
kg/m2
Edifícios de habitação Edifícios de habitação Obras públicas (estradas)
Edifícios de serviços Edifícios de serviços Operações de
demolição / reabi-
litação
Operações de demolição
Operações de
Operações de reabilitação construção nova
Conversão em kg/hab.ano
Conversão em kg/hab.ano Conversão em kg/hab.ano
Somatório total, em kg/hab.ano
Figura 2 - Diagrama síntese da metodologia de cálculo da geração global de RCD
No seguimento deste cálculo, e porque importa realizar uma estimativa de qual a pro-
gressão expectável dessa geração ao longo do tempo (para ganhar noção de qual a disponibili-
15
16. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
dade futura de resíduos passíveis de serem reciclados), apresenta-se muito sumariamente, na
Figura 3, o esquema de cálculo para essa estimativa.
Superfície bruta de inter-
venção expectável no pre-
sente, por tipo de edifício e Expressão da actividade no Extrapolação do nº de licenças
total, no presente, % concedidas em Portugal, usan-
por tipo de operação, m2
do expressões de tendência
Superfície bruta de inter-
venção expectável no futu-
ro, por tipo de edifício e
por tipo de operação, m2
Geração total no futuro, em kg/hab.ano Expressão da actividade no
total, no futuro, %
Edifícios de habitação
Edifícios de serviços
Geração total no presen-
te, por tipo de edifício e
operações de demolição por tipo de operação, em
operações de reabilitação kg/hab.ano
operações de construção
nova
Obras públicas (estradas)
operações de demolição /
reabilitação
Figura 3 - Diagrama síntese da metodologia de cálculo da geração global de RCD
1.3 Organização do trabalho
A presente parte I do trabalho organiza-se em capítulos, da seguinte forma:
• 1º capítulo - apresenta-se a temática geral do estudo, seus objectivos e metodologias;
• 2º capítulo - faz-se um enquadramento e estabelece-se um ponto da situação actual no
que diz respeito à geração de RCD em Portugal, bem como à sua comparação com a
situação de outros países; analisam-se também, de uma forma qualitativa, as origens
16
17. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
da geração de RCD e ainda o tipo de mudanças e evoluções que ocorrem na indústria
da construção que poderão ter impacte na geração de RCD nos próximos anos;
• 3º capítulo - caracteriza-se todo o processo de amostragem utilizado para servir de
base à extrapolação que resulta na estimativa global de geração de RCD; são descritas
as definições para classificação dos tipos de obra, os tipos de operações, os tipos de
resíduos; além disso são definidas as regras de medição usadas para extrair a informa-
ção dos projectos recolhidos, bem como os pressupostos utilizados na definição dos
elementos construtivos; finalmente, são apresentados os resultados das medições de
cada caso e respectiva geração de resíduos, globalmente e por tipo de fluxo material;
• 4º capítulo - descreve-se toda a metodologia de extrapolação dos resultados obtidos no
capítulo 3, usando dados estatísticos de referência, para obtenção dos valores da gera-
ção de RCD para cada tipo de edificação e tipo de operação, no presente; segue-se a
extrapolação futura desses valores de geração, em dois cenários bem definidos;
• 5º capítulo - realiza-se uma discussão dos resultados obtidos, procurando evidenciar as
vantagens e as limitações do método utilizado;
• 6º capítulo - extraem-se as conclusões possíveis do estudo, com indicação de possíveis
desenvolvimentos futuros.
2. Situação presente da geração de Resíduos de construção e Demolição (RCD) em
Portugal
2.1 Estimativas anteriores da geração de RCD
Antes de realizados quaisquer estudos nacionais para quantificar a geração de RCD em
Portugal, já se usavam estimativas, a propósito da necessidade da Comunidade Europeia (CE)
de conhecer em maior profundidade a problemática da geração de RCD da Europa dos 15.
Esse primeiro grande estudo, “Construction and demolition waste management practices, and
their economic impacts”[8], usa para Portugal um valor amplamente citado desde então, de 325
kg/hab.ano. Este valor provém originalmente de uma estimativa realizada para Espanha,
fazendo uso dos valores publicados pela província da Catalunha, correspondendo à média
entre 375 e 275 kg/hab.ano, valores referentes, respectivamente, à geração estimada nessa
região para zonas urbanas e rurais. Este valor, segundo o mesmo estudo, não inclui a parcela
de solos e/ou terras não contaminadas nem os resíduos gerados na reabilitação ou demolição
17
18. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
de estradas.
No trabalho de investigação [3], a estimativa dos 325 kg/hab.ano foi aplicada directa-
mente para cálculo da geração global de RCD, uma vez que o trabalho desenvolvido para a
recolha de informação mostrou-se sem resultados utilizáveis, o que denota, pelo menos à data
da realização desse trabalho (2002), grande ausência de informação específica para a quantifi-
cação da geração. Concretamente, no inquérito realizado, apenas 4.4% das empresas responde-
ram com informação quantificada, enquanto que 91.2% das mesmas não responderam ou não
dispunham de informação. A consideração dos 325 kg/hab.ano resultou, nesse trabalho, numa
quantidade global de geração para o país de 6440000 ton/ano, tal como citado em 1.1..
No presente trabalho, também se tentou realizar um inquérito junto das empresas dedi-
cadas ao sector da demolição e gestão de RCD, com a mesma ausência de resultados. Mostra-
se, na Figura 4 e na Figura 5, o formato do inquérito enviado para 48 empresas, ao qual
nenhuma respondeu e, em contacto telefónico, apenas em 2 casos houve cedência de informa-
ção quantitativa válida. Por este motivo, tomou-se a opção de seguir a via da medição de pro-
jectos de edifícios reais para quantificar a geração de RCD, tanto em acções de demolição
como de reabilitação.
Identificação do Produtor ou Detentor
Nome:
Morada:
Localidade:
Código Postal:
Telefone:
Nº CAE:
NIF:
Identificação da obra
ID Câmara Municipal:
Morada: Valor total (€):
Localidade: Área total de construção (m2):
Código Postal: Nº de edifícios:
Data de início:
Data de fim:
Tipo de edifício: Tipo de obra:
Residencial Construção
Serviços Reabilitação
Industrial Demolição
Figura 4 - Primeira parte do formato-tipo do inquérito entregue a uma amostra de 48 empresas
do sector da demolição e gestão de RCD em Portugal
18
19. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
Figura 5 - Segunda parte do formato-tipo do inquérito entregue a uma amostra de 48 empresas do sector da demolição e gestão de RCD em Portugal
19
20. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
No trabalho de L. Salinas em 2002[9], a quantificação da geração de RCD é também
realizada através de medições de edifícios existentes, embora apenas referentes a acções de
reabilitação (consideradas de tipo intermédio entre reabilitações ligeiras e profundas). Neste
trabalho, são listados todos os materiais envolvidos nas soluções construtivas existentes em
cada caso (edifício anterior a 1960, edifício da década de 1980 e edifício actual - do ano
2000), estimando as quantidades geradas sabendo as medidas dos elementos a demolir / reabi-
litar. São assim determinados, para cada caso, valores para o coeficiente de geração de RCD,
medido em ton/m2 (geração na área de pavimento). Os casos analisados envolviam também
trabalhos nas coberturas, pelo que a geração/m2 entra em conta não só com o número de pisos
mas também com a existência ou não de obras de reabilitação na cobertura, bom como a sua
natureza (inclinada, em terraço e com vários tipos de revestimento). Neste trabalho, é usado
um valor médio de 0.1 ton/m2 (muito embora este valor não corresponda a um valor médio dos
valores do referido coeficiente calculado, mas a um valor citado numa referência bibliográfi-
ca) para realizar a extrapolação da geração de RCD para o país, resultando num total de 25253
ton/ano, geração esta apenas referente às operações de demolição e reabilitação em fogos de
habitação (no mesmo trabalho, é referido o valor de 235774 ton/ano, contabilizando, no entan-
to, a geração de resíduos inertes pelas indústrias produtivas de materiais de construção).
Como se pode constatar, a diferença entre os valores finais da geração de RCD para
Portugal obtidos em cada um dos estudos referidos é abismal (o valor referido em [3] é cerca
de 255 vezes superior ao referido em [9]). Outras estimativas são referidas, como em [10], por
sua vez fazendo referência a números oficiais do INE (1997) e do INR (1999), corresponden-
do respectivamente a 7690749 e 63614 ton/ano, o que mais uma vez enfatiza as diferenças
entre as estimativas realizadas em Portugal. Foi ainda publicado, num relatório síntese do INR,
em 2003[11], o valor de 1282673 ton/ano para a geração de RCD, muito embora nesse relatório
a indústria da construção não esteja representada (aparecendo, no entanto, a rubrica de código
CER 17, correspondendo aos RCD).
Daqui se conclui que os valores estimados, até ao momento, para a geração de RCD
em Portugal, não oferecem uniformidade suficiente para garantir uma base de trabalho no
dimensionamento de sistemas globais de gestão de RCD.
2.2 Geração de RCD em Portugal face à geração nos países da Comunidade
Europeia (CE) e de outros países
É conhecida a considerável diferença da geração de RCD entre os países europeus
20
21. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
(pertencentes à CE), que se deve principalmente às diferentes características do estado de
desenvolvimento das respectivas indústrias da construção, com nítida preponderância da reabi-
litação nos países do Norte da Europa, contrastando com o relativamente pequeno (embora
crescente) papel da reabilitação de edifícios em Portugal, face ao esforço exercido em constru-
ção nova. Num trabalho recente focado no estudo da reabilitação em Portugal[6], pode obser-
var-se que, após contabilização dos trabalhos de reabilitação realizados informalmente (à mar-
gem dos mecanismos oficiais), para o ano de 2006 (estimativa) e 2007 (projecção), a compo-
nente do sector total da reabilitação compõe 21 e 22%, respectivamente, do sector total da
construção. Embora os valores citados estejam bastante acima do que geralmente é referido
para o sector da reabilitação em Portugal (cerca de 6.5% em reabilitação de edifícios face à
construção nova de edifícios e 4% em reabilitação total face à construção nova total), países
como a França, a Dinamarca, a Alemanha e a Suécia apresentam mais de 40% dos investimen-
tos / gastos4 aplicados em reabilitação em relação ao total da construção nova, relação que
aumenta para mais de 50% quando comparando reabilitação de edifícios com construção nova
de edifícios (com a Suécia a atingir cerca de 64%).
Sendo assim, é de esperar que a geração de RCD em Portugal seja inferior à dos res-
tantes países da CE, em especial aqueles em que a reabilitação tem maior incidência na activi-
dade construtiva, já que a reabilitação tende a gerar mais RCD por unidade de superfície inter-
vencionada do que a construção nova5, principalmente se a necessidade de demolição for ele-
vada (com expoente máximo em obras de reconstrução pura, em que o ou os edifícios existen-
tes são integralmente demolidos para dar origem a construção nova).
No entanto, com o crescimento expectável do sector da reabilitação em Portugal, bem como
com o aumento da quantidade de demolições, à medida que muitos edifícios atingem o fim do
seu tempo de vida útil, é de esperar que rapidamente a geração de RCD devida à demolição e
reabilitação suplante a geração devida à construção nova, embora não seja provável que esta
última abrande significativamente (ver resultados em 4.4.3). O crescimento global da geração
de RCD em Portugal é, portanto, praticamente inevitável (a não ser que fortes políticas de
incentivo à reutilização e reciclagem de materiais de construção sejam implementadas nos
próximos anos, o que se considera improvável, mesmo com o advento da publicação da nova
legislação específica para a gestão de RCD[15]), o que irá aproximar Portugal dos valores gera-
4
As definições inerentes ao cálculo dos investimentos e gastos na indústria da construção variam de país para
país, variando consequentemente os montantes globais contabilizados em construção nova e reabilitação (que
ainda pode ser dividida em actividades, por vezes de definição pouco clara, como a manutenção, a renovação e a
reconstrução), pelo que os números apresentados deverão ser encarados apenas como indicadores[6].
5
Quantificação da geração por tipo de actividade, entre outros detalhes, no capítulo 3.5.
21
22. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
dos pela média dos restantes países da CE. Refira-se que esta análise não parte do pressuposto
de que a geração de RCD em Portugal tem um valor conhecido, tal como em [3], [8] e [10].
O estudo [8] tem sido amplamente citado quando surge a necessidade de comparar a
geração global de RCD nos países da CE, no qual Portugal figura abaixo da média (502
kg/hab.ano), com os já referidos 325 kg/hab.ano. A Irlanda aparece no extremo inferior com
uma geração de 162 kg/hab.ano, enquanto que a Alemanha ocupa a posição superior, com cer-
ca de 720 kg/hab.ano (Figura 6).
Geração de RCD - kg/hab.ano
800
700
600
500
400
300
200
100
0
Fi nha
Irl a
da
ia
Ho ia
Su l
Áu a
Bé ia
a
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-B nça
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bu
a
pa
la
ta
I
m
G
em
nl
re
m
na
Al
rã
Lu
G
Países da CE (15)
Figura 6 - Geração de RCD nos vários países da CE (15), segundo o estudo [8]
Noutros locais, como em Hong Kong, a geração de RCD atinge cerca de 8561000
ton/ano (dado de 2006), muito embora esse valor tenha descido consideravelmente em relação
a anos anteriores (21450000 ton/ano em 2005)[12]. Já nos Estados Unidos da América a gera-
ção total de RCD é superior a 136000000ton/ano, o que corresponde a cerca de 464
kg/hab.ano[13] (valores referentes ao ano de 1996). Na Austrália, a capitação de geração de
RCD ascende a 400 kg/hab.ano, enquanto que no Japão a geração é aproximadamente de
99000000 ton/ano (valor de 2001, incluindo RCD de obras públicas, contribuindo estas com
cerca de 3/5 de toda a geração de RCD), o que se traduz numa capitação de 778 kg/hab.ano[14].
2.3 Origens/fontes de geração de RCD e seu encaminhamento
Embora todas as actividades no domínio da indústria da construção sejam geradoras de
resíduos, é relativamente consensual que a actividade de demolição contribua com a maior
quantidade de resíduos por m2, tendo em conta que a esmagadora maioria dos materiais retira-
22
23. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
dos das demolições não é reaproveitada na obra ou fora dela. Apresenta-se, no Quadro 3, uma
estimativa das quantidades de RCD geridas, por material e por destino final, com base na dis-
tribuição por destinos finais apresentada em [3], considerando 361 kg/hab.ano de geração
(para contabilizar os resíduos resultantes das operações de reabilitação de estradas, das quais
se extrai essencialmente asfalto e betão betuminoso), não contabilizando a parcela referente
aos solos e rochas não contaminados (não constituem, estritamente falando, um resíduo)6.
Quadro 3 - Estimativa das percentagens de RCD geridos, por destino final
Toneladas Total Reutilização Reciclagem Incineração Aterro
betão, tijolos, alvenarias 2232680 334902 0 0 1897778
madeira 318954 31895 95686 95686 95.86
papel, cartão 63791 0 12758 19137 31895
vidro 31895 0 0 0 31895
plásticos 31895 0 3190 1595 27111
metais 318954 31895 191373 0 95686
isolamentos 31895 0 0 0 31895
asfalto, betuminoso 382745 38275 0 0 344471
outros resíduos 414641 0 41464 20732 352444
Totais 3827451 436967 344471 137150 2908863
% do total 11.4 9.0 3.6 76.0
Para este cálculo, foi utilizada a distribuição percentual de materiais que compõem em
geral os RCD, extraída directamente de [3] (Da leitura do Quadro 3 depreende-se que a maior
parte (> 75%) dos materiais resultantes da actividade da construção, reabilitação e demolição
acabam simplesmente aterrada, e, mesmo assim, nem sempre de modo controlado (em aterros
legalizados). Tendo em conta ainda que a incineração não deve ser considerada como recicla-
gem, já que a combustão elimina a massa reciclável dos materiais, então conclui-se que apenas
20% (provavelmente menos) são efectivamente recuperados e reinseridos de alguma forma no
processo produtivo.
Segundo [13], a distribuição dos RCD por processo de origem, construção nova, reabi-
litação e demolição, e por tipo de obra, residencial e não residencial, é resumida no Quadro 6.
Quadro 4) a partir do qual se compôs o Quadro 5, utilizado para composição do Qua-
dro 3, excluindo os solos e rochas não contaminadas.
Da leitura do Quadro 3 depreende-se que a maior parte (> 75%) dos materiais resultan-
tes da actividade da construção, reabilitação e demolição acabam simplesmente aterrada, e,
6
É natural que existam impactes e custos associados à sua gestão, principalmente relacionados com a necessida-
de do seu transporte. No entanto, estes materiais não induzem impacte ambiental em si, não resultam na delapi-
dação de recursos virgens, não são (em geral) produtos transformados e, em geral, são apenas relocalizados para
outros fins, que puderão ir de enchimentos de taludes a recuperações paisagistas. Embora a questão ainda seja
discutível, o facto é que a sua consideração distorce bastante os resultados, no conjunto de todos os resíduos,
pelo que, para se ganhar melhor noção das proporções envolvidas (dos restantes materiais, esses sim, considera-
dos RCD), se retiram da contabilização.
23
24. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
mesmo assim, nem sempre de modo controlado (em aterros legalizados). Tendo em conta ain-
da que a incineração não deve ser considerada como reciclagem, já que a combustão elimina a
massa reciclável dos materiais, então conclui-se que apenas 20% (provavelmente menos) são
efectivamente recuperados e reinseridos de alguma forma no processo produtivo.
Segundo [13], a distribuição dos RCD por processo de origem, construção nova, reabi-
litação e demolição, e por tipo de obra, residencial e não residencial, é resumida no Quadro 6.
Quadro 4 - Distribuição percentual dos fluxos de materiais constituintes dos RCD, tal como
apresentada em [3]
Materiais %
betão, tijolos, alvenarias 35.0
madeira 5.0
papel, cartão 1.0
vidro 0.5
plásticos 0.5
metais 5.0
isolamentos 0.5
solos e britas 40.0
asfalto, betuminoso 6.0
outros resíduos 6.5
Quadro 5 - Redistribuição percentual da composição média dos RCD, sem inclusão dos solos
e rochas não contaminados, a partir do Quadro 4
Materiais %
betão, tijolos, alvenarias 58.33
madeira 8.33
papel, cartão 1.67
vidro 0.83
plásticos 0.83
metais 8.33
isolamentos 0.83
asfalto, betuminoso 10.00
outros resíduos 10.83
Quadro 6 - Estimativas da geração de RCD por processo produtivo e por tipo de obra, nos
EUA[13]
Obras residenciais Obras não residenciais Total
Processo produtivo
ton (x103) % Ton (x103) % Ton (x103) %
Construção nova 6.560 11 4.270 6 10.830 8
Reabilitação 31.900 55 28.000 36 59.900 44
Demolição 19.700 34 45.100 58 64.800 48
Total 58.160 100 77.370 100 135.530 100
% 43 57 100
É evidente a incidência que o sector da reabilitação e demolição tem na geração de
RCD nos EUA, contando com mais de 90% da massa de resíduos. Para esta situação também
contribui o facto de os resíduos de madeira serem os mais abundantes em construção nova
24
25. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
(material com massa volúmica relativamente baixa), enquanto que na reabilitação e demolição
predomina o betão. Refira-se ainda que estes valores não incluem a contribuição para a gera-
ção da construção, reabilitação e demolição de obras públicas (estradas, pontes, obras urbanís-
ticas). Ainda segundo o estudo [13], apenas 20 a 30% de toda a geração de RCD é reciclada ou
reutilizada, sendo os restantes 70 a 80% enviados para aterros legais (exclusivos para RCD),
aterros de RSU ou aterros ilegais.
Em Itália[17], quantificou-se um total de 2225550 ton de RCD tratados em centrais de
reciclagem (dados do ano 2001), comparado com uma geração que se estima ser na ordem de
40000000 ton, ou seja, menos de 6%. Naturalmente que esta última relação não contabiliza a
quantidade de materiais reaproveitados em obra ou noutros locais (sem a passagem pela cen-
tral de reciclagem) mas dá em todo o caso uma ideia da pequena expressão que a valorização
dos RCD tem, neste caso, em Itália.
Segundo [5], na Alemanha, cerca de 68% de toda a geração de RCD provém de demo-
lições (inclui reabilitação), num total de cerca de 30 milhões de toneladas, com os resíduos
provenientes de construções novas a contabilizarem aproximadamente 14 milhões de tonela-
das, ou seja, 32% (valores de 1994). Já ao nível da Europa Ocidental, cita-se no mesmo artigo
que, no global, geram-se cerca de 40 milhões de toneladas em operações de construção e 175
milhões de toneladas em demolição e reabilitação, números que correspondem, respectiva-
mente, a 23 e 77% do total.
Em Espanha[18], o acompanhamento de várias obras com o objectivo de quantificar a
geração de RCD resultou num índice de 0.12 m3/m2 de resíduos produzidos na área de cons-
trução nova, em contraste com o índice de 0.86 m3/m2 gerados em demolições, ou seja cerca
de 7 vezes mais. Embora o documento não faça referência às áreas de construção e demolição
envolvidas, é evidente que a demolição de edifícios tem um impacte na geração de RCD bas-
tante mais significativo, por cada m2 de área intervencionada, do que na construção nova.
3. Metodologia para estimativa da geração de RCD - processo de amostragem
A metodologia usada neste trabalho para estimar a quantidade de RCD a nível nacional
foi baseada nos procedimentos do documento [13], onde foram usados dados reais de geração
de resíduos em obra, quer em casos de construção nova quer em demolição. Nesse documento,
para estimar as quantidade geradas devido à reabilitação e uma vez que os casos reais recolhi-
dos nesse estudo mostraram-se muito heterogéneos, desde 16.2 a 352 kg/m2, escolheu-se a
classificação de tarefas típicas de reabilitação em habitação (renovação de cozinhas, acrescen-
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26. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
to de quartos, renovação de instalações sanitárias, recuperação de coberturas), calculando a
geração multiplicando um número estimado dessas operações típicas pela sua geração unitária.
Ainda segundo [13], após calculada a média da geração em peso por unidade de super-
fície em obras de construção, estimou-se a área respectiva de intervenção a partir do valor
total, em unidade monetária, do mercado da construção em determinado ano, sabendo tam-
bém, a partir de dados estatísticos, qual o valor médio da unidade de área construída. Multipli-
cando então a área construída estimada pela geração média por unidade de área, obtém-se a
estimativa total da geração em obras de construção nova. Para a demolição, o procedimento
básico adoptado em [13] foi apenas obter uma estimativa do número de edifícios a demolir
(com base em valores de anos anteriores), multiplicar pela área média de cada intervenção,
necessariamente ligada à idade de construção do tipo de edificado a demolir (no referido estu-
do, para edifícios construídos entre 1920 e 1969), para finalmente obter a geração de RCD
multiplicando a geração unitária baseada na média dos casos reais pela área total a demolir.
No presente trabalho, na falta de suficientes obras reais monitorizadas para medição da
quantidade de resíduos gerados, tanto para construções novas como para reabilitações e demo-
lições, foram utilizados, ao invés, projectos reais de edifícios (pertencentes ao arquivo munici-
pal de Lisboa) com idades variadas, desde o a primeira década do séc. XX aos anos 1960-70,
dos quais se extraíram as medições necessárias para estimar as quantidades de RCD geradas
em operações de demolição e reabilitação. Para estimar os resíduos em construção nova,
foram utilizados os valores de geração em m3/m2 do documento [18], convertidos em kg/m2,
multiplicando por fim pela área expectável a construir num determinado ano (no presente
caso, 2007, para o qual se fez uso dos valores publicados nas estatísticas de 2006). Uma vez
que a indústria da construção espanhola tem muitas semelhanças com a portuguesa, conside-
rou-se que a utilização dos dados provenientes de [18] era aceitável para uma estimativa da
geração de resíduos em obras novas realizadas em território nacional. A parcela da geração de
resíduos devido à reabilitação/demolição de obras públicas (estradas) foi estimada a partir de
dados reais de geração, sabendo qual a quilometragem respeitante às intervenções.
3.1 Definições e classificação da geração de materiais por tipo de obra, tipo de
intervenção e idade da construção
Obras de habitação
Tipo de intervenção: demolição
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27. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
Edifícios anteriores a 1919
Descrição sumária: trata-se essencialmente de edifícios de estrutura resistente à base de pare-
des exteriores de alvenaria de pedra, com paredes interiores de funções resistentes em alvena-
ria de tijolo maciço inseridos em esqueletos de madeira tipo “gaiola”. As fundações são cons-
tituídas basicamente por blocos de alvenaria de pedra (calcário duro), tipicamente com 1 m de
profundidade em relação à cota mais baixa das paredes exteriores e com uma sobre largura em
relação a esta de 40 cm. As paredes exteriores são revestidas, pelo exterior, com rebocos de
cal e areia, sendo o revestimento interior constituído por estuque tradicional (que serve de
revestimento em ambas as faces das paredes interiores). Os pavimentos são constituídos por
vigas de madeira encastradas nas paredes resistentes exteriores, revestidas superiormente por
tabuado de madeira e inferiormente por suportes de madeira revestidos a estuque tradicional.
A cobertura é constituída por vigas, madres e ripas de madeira, simplesmente cobertas por
telhas cerâmicas tradicionais, cobrindo uma laje de esteira leve em perfis e tabuado de madei-
ra. O pavimento térreo é constituído por lajetas de pedra (mármore), assentes sobre uma base
de alvenaria de pedra (calcário). As tubagens de abastecimento de água são em chumbo, com
as tubagens de drenagem de águas residuais em perfis de grés cerâmico. Os vãos envidraçados
têm vidros simples, inseridos em caixilhos de madeira (pinho). As portas são consideradas
como placas simples em madeira de pinho, enquanto que as guardas exteriores (varandas) são
em ferro fundido. Resumem-se, no Quadro 7, as soluções construtivas consideradas no tipo de
edifício anterior a 1919.
Edifícios construídos entre 1920 e 1945
O caso utilizado para representar este período não teve como base a medição dos projectos de
um ou mais edifícios mas sim os resultados de uma intervenção real, a demolição selectiva
realizada pela empresa Ambisider, no âmbito do Programa Cacém Polis. As soluções constru-
tivas envolvidas reflectem tanto o período anterior (edifícios anteriores a 1919) como posterior
(construídos entre 1946 e 1970), compondo edifícios, neste caso, de qualidade corrente para a
época, com poucos pisos e áreas pequenas. Mostram-se, de seguida, algumas fotografias tira-
das no local da intervenção (Figura 7, Figura 8 e Figura 9).
Edifícios construídos entre 1946 e 1970
Descrição sumária: a estrutura resistente é agora essencialmente composta por pilares, vigas e
lajes de betão armado, muito embora paredes interiores de tijolo maciço desempenhem ainda
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28. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
funções estruturais, na maioria dos casos. As fundações são já constituídas por betão armado,
na forma de sapatas unidas por lintéis, onde assenta o arranque das paredes interiores. As
paredes exteriores são revestidas a rebocos de cal e areia pelo exterior e com rebocos à base de
estuque tradicional, pelo interior. As paredes interiores são também revestidas com rebocos de
estuque tradicional, em ambas as faces. Os pavimentos interiores, já em betão armado, são
revestidos superiormente por tabuado de madeira (tipo soalho ou taco), assentes sobre betoni-
lha, sendo geralmente estucados inferiormente (estuque tradicional).
Quadro 7 - Soluções construtivas consideradas no tipo de edifício anterior a 1919
Materiais resultantes Código LER do
Elemento constru- Densidade
Componentes Espessura da camada (m) da demolição (selecti- resíduo produzi-
tivo (kg/m3)
va) do elemento do
Alvenaria de pedra
Fundações 2000 1.0 (profundidade)
(calcário duro)
Lajedo de pedra Pedra não contamina-
2700 0.03 170504
(mármore) da
Pavimento térreo
Alvenaria de pedra
2000 0.1
(calcário duro)
Tabuado de madeira
600 0.02
superior
Vigamento em madei- Madeira não contami-
600 0.16 (zona das vigas) 170201
Pavimento inter- ra nada
médio Tabuado de madeira
600 0.02
inferior
Reboco interior - Argamassa à base de
1000 0.02 170802
estuque tradicional gesso
Vigamento em madei-
600 0.08 (zona das vigas)
ra Madeira não contami-
170201
Tabuado de madeira nada
Laje de esteira 600 0.02
inferior
Reboco interior - Argamassa à base de
1000 0.02 170802
estuque tradicional gesso
Vigamento em madei- Madeira não contami-
600 0.16 (vigas principais) 170201
Cobertura ra nada
Telhas 2000 - 2400 0.01 Materiais cerâmicos 170103
Reboco interior - Argamassa à base de
1000 0.02 170802
estuque tradicional gesso
Alvenaria de pedra Pedra não contamina-
2000 0.3 - 0.8 170504
Parede exterior (calcário duro) da
Reboco exterior
Argamassa à base de
(argamassa de cal e 1600 0.03 170107
cal
areia)
Reboco interior - Argamassa à base de
1000 0.02 170802
estuque tradicional gesso
Alvenaria em tijolo
2200 0.08 - 0.16 Tijolo cerâmico 170102
maciço
Paredes interiores
0.0048 (secção média dos Madeira não contami-
Esquadria de madeira 600 170201
elementos, em m2) nada
Reboco interior - Argamassa à base de
1000 0.02 170802
estuque tradicional gesso
Vidro não contamina-
Vidro simples 2200 0.004 170202
Envidraçados do
Caixilho 600 0.04
Madeira não contami-
Placa simples de 170201
Portas* 600 0.04 nada
madeira
Guardas de 0.00018 (secção média
Ferro fundido 7500 Ferro 170405
varandas dos varões, em m2)
Tubagens de
0.003 (espessura da
abastecimento de Chumbo 11300 Chumbo 170403
secção circular)
água
Tubagens de
0.01 (espessura da sec-
drenagem de Grés cerâmico 2200 Materiais cerâmicos 170103
ção circular)
águas residuais
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29. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
Sanitas, lavatórios,
Sanitários bidés, banheiras,
bases de duches
* - em especial interiores
Figura 7 - Imagem geral do edificado a demolir (selectivamente), no âmbito de uma fase do
Programa Polis Cacém
Figura 8 - Pormenor construtivo de uma laje de esteira revestida inferiormente a tabuado
(local da intervenção no âmbito do programa Polis Cacém)
Nas zonas das cozinhas e instalações sanitárias, o revestimento superior final é geral-
mente constituído por lajetas de pedra (tipo calcário duro). A laje térrea é assente sobre uma
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30. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
camada de enrocamento calcário, sobre a qual se constrói um massame (betão fracamente
armado), coberto por uma betonilha e revestimento final (madeira ou pedra). Na ocorrência de
terraços, é provável encontrarem-se camadas de areão, asfalto e mosaico (terraços acessíveis).
A cobertura inclinada, tal como anteriormente, é constituída por vigamentos sucessivos de
madeira, revestidos com telha cerâmica.Os envidraçados e as portas são em tudo semelhantes
aos encontrados em edifícios típicos do período anterior, bem como as guardas das varandas,
as tubagens para abastecimento e recolha das águas residuais e os sanitários utilizados.
Figura 9 - Habitação (no mesmo local de intervenção) em fase final de demolição
Resumem-se, no Quadro 8, as soluções construtivas consideradas no tipo de edifício
construído entre 1946 e 1970.
Edifícios construídos entre 1971 e 1990
Descrição sumária: Toda a estrutura do edifício - fundações, pilares, vigas e lajes - é composta
de betão armado, de tal forma que todas as paredes, interiores quer exteriores, não têm funções
estruturais. As fundações são constituídas por sapatas isoladas, a partir das quais arrancam os
pilares. As paredes exteriores são realizadas com tijolo cerâmico furado normal, em dupla
camada, formando uma caixa-de-ar, geralmente não isolada. Interiormente, as paredes são
também constituídas por tijolo furado normal, em fiada única, rebocadas de ambos os lados
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31. Análise de viabilidade de implantação de centrais de reciclagem de Resíduos de Construção e
Demolição em Portugal - Relatório do 1º ano
com argamassa de cimento e areia. As lajes interiores, em betão armado, são revestidas com
betonilha e tacos de madeira, rebocadas inferiormente com argamassa corrente (cimento e
areia). As cozinhas e instalações sanitárias, em geral, são revestidas com elementos cerâmicos,
enquanto que os elementos de revestimento em pedra (calcário duro e/ou mármore) ficam
geralmente reservados para as áreas de átrio e escadas. A cobertura é também, em geral, cons-
truída em betão armado, não isolada, revestida a telha cerâmica tradicional, assente em varas
de madeira. Também as chaminés são em betão armado, monolíticas com a laje de cobertura.
Quadro 8 - Soluções construtivas consideradas no tipo de edifício construído entre 1946 e 1970
Materiais resultantes da Código LER
Elemento constru- Densidade Espessura da camada
Componentes demolição (selectiva) do do resíduo
tivo (kg/m3) (m)
elemento produzido
Betão simples 2400 0.4 Betão 170101
Fundações
armaduras 7800 Aço 170405
Lajedo de pedra (már-
2700 0.02 Pedra não contaminada 170504
more)
Argamassa de cimento e
betonilha 2000 0.04 170107
Pavimento térreo areia
Massame - betão 2400 0.1 Betão 170101
Massame - armaduras 7800 Aço 170405
Enrocamento calcário 2000 0.05 Pedra não contaminada 170504
Tabuado de madeira
600 0.02 Madeira não contaminada 170201
superior
Argamassa de cimento e
Pavimento inter- Betonilha 2000 0.04 170107
areia
médio
Laje de betão 2400 0.1 Betão 170101
Reboco interior - estu- Argamassa à base de ges-
1000 0.02 170802
que tradicional so
Argamassa de cimento e
Betonilha 2000 0.04 170107
areia
Laje de esteira Laje de betão 2400 0.1 Betão 170101
Reboco interior - estu- Argamassa à base de ges-
1000 0.02 170802
que tradicional so
Vigamento em madeira 600 0.16 (vigas principais) Madeira não contaminada 170201
Cobertura
Telhas 2000 - 2400 0.01 Materiais cerâmicos 170103
Reboco interior - estu- Argamassa à base de ges-
1000 0.02 170802
que tradicional so
Parede exterior Tijolo maciço 2200 0.1 - 0.35 Tijolos 170102
Reboco exterior (arga-
1600 0.03 170107
massa de cal e areia) Argamassa à base de cal
Reboco interior - estu- Argamassa à base de ges-
1000 0.02 170802
que tradicional so
Alvenaria em tijolo
Paredes interiores 2200 0.11 - 0.25 Tijolo cerâmico 170102
maciço
Reboco interior - estu- Argamassa à base de ges-
1000 0.02 170802
que tradicional so
Vidro simples 2200 0.004 Vidro não contaminado 170202
Envidraçados
Caixilho 600 0.04
Placa simples de Madeira não contaminada 170201
Portas* 600 0.04
madeira
Guardas de 0.00018 (secção média
Ferro fundido 7500 Ferro 170405
varandas dos varões, em m2)
Tubagens de
0.003 (espessura da
abastecimento de Chumbo 11300 Chumbo 170403
secção circular)
água
Tubagens de
0.01 (espessura da
drenagem de Grés cerâmico 2200
secção circular)
águas residuais
Materiais cerâmicos 170103
Sanitas, lavatórios,
Sanitários bidés, banheiras, bases
de duches
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