Regulacao a unidade_de_saude_novo_horizonte_parte_2_leitura_previa25set
1. A UNIDADE DE SAÚDE NOVO HORIZONTE – Parte 2
A UBS Novo Horizonte, localizada no distrito norte de Pólis, tem 11.328 habitantes
(dados de 2012) em sua área de abrangência e está subdividida em três territórios onde
atuam três equipes de Saúde da Família e três de Saúde Bucal. Cada equipe de PSF é
constituída de um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e seis agentes
comunitários de saúde e é responsável por 3.500 a 4.000 pessoas. As equipes de saúde
bucal não tem uma vinculação precisa com territórios e contam cada uma com um
cirurgião dentista, um técnico em higiene dental e um auxiliar de consultório dentário.
O diagnóstico do território/população foi realizado a partir de estudos de
territorialização, cadastramento dos usuários e famílias (60% estão cadastradas) e
de informações geoprocessadas da diretoria de informações da secretaria
municipal de saúde. As micro áreas de risco social e as informações sobre condições
de saúde estão razoavelmente identificadas. Mais recentemente, alguns técnicos
da UBS passaram a trabalhar com planilhas do COAP (contrato organizativo de ação
pública), em conjunto com a coordenação da atenção básica, para orientar a
programação, mas este é um processo ainda incipiente.
A enfermeira Matilde, coordenadora da UBS há alguns anos, tem uma percepção de
que o processo de mudança que se quer implantar para que a unidade qualifique
sua atuação vai enfrentar muitas dificuldades, assim como ocorreu com outras
tentativas similares anteriormente. Por quê - pensa ela - é tão difícil mudar? Ela sabe
que um dos motivos é a forte pressão da demanda espontânea na porta de entrada da
UBS. De certa forma as equipes ficam reféns dessa situação e não conseguem mudar a
cultura instituída e implementar novas práticas.
Matilde recentemente fez um curso de capacitação em gestão da produção do
cuidado e está muito motivada em contribuir com a qualificação do trabalho das
equipes. Está convencida de que, apesar dos esforços feitos nos últimos anos, a UBS
Novo Horizonte permanece com um modelo de atenção tradicional, centrado em
procedimentos e não nas reais necessidades dos usuários. Outro dia teve uma longa
conversa com a filha da Dona Celestina, moradora antiga de Novo Horizonte, que a
entristeceu e a incomodou.
D. Celestina, de 46 anos, trabalhava como diarista e mal sabe assinar o nome.
Atualmente está sendo acompanhada em casa pela equipe de PSF e pelo serviço de
atenção domiciliar de Pólis, devido a um câncer em fase terminal. Compareceu há cerca
de oito meses na UBS por ter notado um caroço na mama. Não conseguiu consulta com
o médico e retornou algumas vezes, sem sucesso. A ACS, que a conhecia,
conversou com a enfermeira do PSF e conseguiu agendamento com um ginecologista
para o mês seguinte. Entre fazer a mamografia, a biópsia, ter o diagnóstico e ser
encaminhada ao Centro de Oncologia foram muitas idas e vindas e meses se passaram.
2. A filha informa que no CACON (Centro de assistência em alta complexidade em
oncologia) ainda recebeu uma bronca do médico por ter demorado muito para procurar
atendimento especializado. A terapêutica (quimio e radio) não teve o resultado
esperado. Houve recrudescimento do tumor e aparecimento de metástases, o que
resultou em seu encaminhamento para cuidados paliativos, classificando-a como um
caso fora de possibilidade terapêutica.
Matilde sabe que na UBS Novo Horizonte, as vezes sob a liderança dela própria, foram
tomadas várias iniciativas visando implantar um acolhimento mais solidário e tornar o
modelo de atenção mais adequado, evitando que situações como essa aconteçam. Com
essas preocupações na cabeça, promove uma reunião com a equipe para avaliarem
conjuntamente os resultados que estão obtendo e os desafios futuros.
Os relatos da equipe mostram que foram identificadas as principais áreas de micro risco
social e, com a atualização do cadastro de usuários e famílias foi possível identificar boa
parte dos usuários portadores das doenças mais prevalentes e em situações de maior
risco, mas, reconhecem alguns membros, mudanças na forma de interagir com essas
pessoas visando efetivamente cuidar melhor de sua saúde foram tímidas e pontuais. Não
chegaram, segundo eles, a alterar substancialmente o modelo queixa/conduta
existente. O acompanhamento da maioria dos usuários acamados pelas equipes de PSF
é um exemplo positivo, que anima, fortalece, mas, constata a maioria, isso é muito
pouco diante das necessidades (...)
Isso talvez explique porque situações parecidas com a de D. Celestina são tão
frequentes. No ano passado, por exemplo, só 40% dos nascidos vivos da área fizeram
pré--natal na unidade. A captação da gestante para o pré--natal é tardia, os exames
laboratoriais demoram muito e, o que é pior, ocorreram óbitos evitáveis, relacionados,
por exemplo, à infecção urinária não detectada ou tratada incorretamente. E com
relação às enfermidades crônicas? O perfil epidemiológico mostra, como era de se
esperar, que doenças cardiovasculares, enfermidades degenerativas, problemas
mentais e os ligados à violência predominam. Nossos contatos com as pessoas que
sofrem desses problemas, no entanto, excetuando aquelas que estão inseridos em
alguns programas, e que são uma minoria, são episódicos e acontecem quando vem
pegar medicamentos, tem agudização da sua condição, e as vezes nem assim, pois
muitas procuram a UPA ou vão diretamente para o Pronto Socorro Central.
E sobre a violência? E o uso de drogas, que tem crescido muito, especialmente devido
à disseminação do consumo de crack? A atuação da UBS diante desses problemas
tem sido também eventual, atendendo algumas complicações ou encaminhando
para alguma serviço especializado, geralmente com muita dificuldade de acesso.
O Caps II, por exemplo, não é longe da unidade, mas eles estão sempre
sobrecarregados e ultimamente, para piorar, tem tido furos na escala de plantonistas,
o que reduz ainda mais a capacidade de atendimento.
3. Não tenho dúvidas – afirma um dos participantes da reunião - de que só poderemos
avançar em direção a um modelo de atenção integral se tivermos uma boa articulação
com os outros setores da saúde e, não só com esses, mas também com a
assistência social, educação etc. Se a articulação da UBS com outros serviços da
saúde é difícil
(comenta) imaginem então com essas outras áreas. Após os relatos e ao final dos
debates Matilde pergunta para a equipe: O que poderemos fazer com essas questões
tão importantes que vocês trazem?
x
Após a reunião e instigados pelos desafios, Rodrigo e Luísa, dois dos participantes, se
reúnem para analisar como podem ajudar de alguma forma. Concluem que o
primeiro passo talvez seja ter uma ideia mais precisa dos serviços que o SUS está
oferecendo para a população da unidade. Consultando o sistema de informações da
Secretaria obtiveram alguns dados sobre os serviços prestados no ano de 2012:
Na atenção básica (realizados na própria Unidade de Saúde Novo Horizonte):
Produção ambulatorial, subgrupos da Atenção Básica, UBS Novo Horizonte, 2012
Subgrupos de procedimentos Frequência
0101 Ações coletivas/individuais em saúde 9.243
0201 Coleta de material 3.494
0214 Diagnóstico por teste rápido 2.210
0301 Consultas / Atendimentos / Acompanhamentos 31.237
0307 Tratamentos odontológicos 2.784
0401 Pequenas cirurgias e cirurgias de pele, tecido subcutâneo e mucosa 633
0414 Bucomaxilofacial 374
0801 Ações relacionadas ao estabelecimento 130
Total 50.105
Fonte: Sistema de Informações, Município de Polis.
Selecionaram os dez procedimentos mais frequentes que a unidade realiza:
Dez procedimentos ambulatoriais básicos mais frequentes na UBS Novo Horizonte, 2012
Procedimento Frequência
0301010064 CONSULTA MEDICA EM ATENÇAO BASICA 11.231
0301100039 AFERICAO DE PRESSAO ARTERIAL 6.739
0301010030 CONSULTA DE PROFISSIONAIS DE NIVEL SUPERIOR NA ATENÇÃO BÁSICA (EXCETO MÉDICO) 6.642
0301100101 INALACAO / NEBULIZACAO 1.567
0301100020 ADMINISTRACAO DE MEDICAMENTOS EM ATENCAO BASICA (POR PACIENTE) 1.389
0301010153 PRIMEIRA CONSULTA ODONTOLOGICA PROGRAMÁTICA 1.086
0307030016 RASPAGEM ALISAMENTO E POLIMENTO SUPRAGENGIVAIS (POR SEXTANTE) 959
0301010080 CONSULTA P/ ACOMPANHAMENTO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO (PUERICULTURA) 857
0301010110 CONSULTA PRE--NATAL 833
0301060037 ATENDIMENTO DE URGÊNCIA EM ATENÇÃO BÁSICA 761
Total
32.064
4. Procuraram em seguida dados sobre os procedimentos de atenção especializada que
foram realizados nos serviços de referência, com finalidade diagnóstica.
Frequência de procedimentos, Grupo 02--‐ Procedimentos com finalidade diagnóstica,
por subgrupo, UBS Novo Horizonte, 2012
Subgrupo de procedimentos Frequência
0202 Diagnóstico em laboratório clínico 35.407
0203 Diagnóstico por anatomia patológica e citopatologia 904
0204 Diagnóstico por radiologia 7.401
0205 Diagnóstico por ultra--sonografia 1.649
0206 Diagnóstico por tomografia 433
0207 Diagnóstico por ressonância magnética 5
0208 Diagnóstico por medicina nuclear in vivo 13
0209 Diagnóstico por endoscopia 51
0210 Diagnóstico por radiologia intervencionista 28
0211 Métodos diagnósticos em especialidades 5.985
0212 Diagnóstico e procedimentos especiais em hemoterapia 1.567
0213 Diagnóstico em vigilância epidemiológica e ambiental 77
Total 53.521
Fonte: Central de Regulação, Município de Polis.
e, interessados em conhecer a situação da oferta em mamografias nas mulheres da área
de abrangência, obtiveram as seguintes informações :
0204030030 Mamografia unilateral - 34 exames
0204030188 Mamografia bilateral para rastreamento - 624 exames
Os exames de ultrassonografia realizados para os usuários da UBS Novo Horizonte, no
ano de 2012, foram:
Produção ambulatorial, usuários referenciados pela UBS Novo Horizonte, procedimentos do subgrupo
0205 Diagnóstico por ultra--‐sonografia, 2012
Procedimento Frequência
0205010032 ECOCARDIOGRAFIA TRANSTORACICA 127
0205010040 ULTRA--SONOGRAFIA DOPPLER COLORIDO DE VASOS ( ATE 3 VASOS ) 181
0205010059 ULTRA--SONOGRAFIA DOPPLER DE FLUXO OBSTETRICO 2
0205020020 PAQUIMETRIA ULTRASSÔNICA 151
0205020038 ULTRA--SONOGRAFIA DE ABDOMEN SUPERIOR (FIGADO, VESICULA, VIAS BILIARES) 29
0205020046 ULTRA--SONOGRAFIA DE ABDOMEN TOTAL 213
0205020054 ULTRA--SONOGRAFIA DE APARELHO URINARIO 83
0205020062 ULTRA--SONOGRAFIA DE ARTICULACAO 157
0205020070 ULTRA--SONOGRAFIA DE BOLSA ESCROTAL 17
0205020089 ULTRA--SONOGRAFIA DE GLOBO OCULAR / ORBITA (MONOCULAR) 66
0205020097 ULTRA--SONOGRAFIA MAMARIA BILATERAL 106
0205020100 ULTRA--SONOGRAFIA DE PROSTATA (VIA ABDOMINAL) 32
0205020119 ULTRA--SONOGRAFIA DE PROSTATA (VIA TRANSRETAL) 13
0205020127 ULTRA--SONOGRAFIA DE TIREOIDE 40
0205020135 ULTRA--SONOGRAFIA DE TORAX (EXTRACARDIACA) 1
0205020143 ULTRA--SONOGRAFIA OBSTETRICA 181
0205020151 ULTRA--SONOGRAFIA OBSTETRICA C/ DOPPLER COLORIDO E PULSADO 6
0205020160 ULTRA--SONOGRAFIA PELVICA (GINECOLOGICA) 46
0205020178 ULTRA--SONOGRAFIA TRANSFONTANELA 2
0205020186 ULTRA--SONOGRAFIA TRANSVAGINAL 196
Total 1.649
Fonte: Central de Regulação, Secretaria Municipal de Saúde, Município de Polis
X
Na reunião seguinte, Matilde, agradece a Rodrigo e Luísa pela apresentação das
informações, retoma as reflexões da reunião anterior e pergunta: Nossa oferta de
serviços está condizente com as necessidades? O que vocês acham?
Várias pessoas começam a falar ao mesmo. Matilde percebe que a reunião será
animada...