A fruticultura brasileira tem grande importância econômica e social no país. É o terceiro maior produtor mundial de frutas, atrás da China e Índia, gerando 6 milhões de empregos diretos e renda para a agricultura familiar. As principais frutas cultivadas são laranja, banana e abacaxi. A maior parte da produção é destinada ao consumo interno, com apenas 1,8% sendo exportado em 2009, devido à baixa qualidade e infraestrutura deficiente. Contudo, as exportações de frut
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA NATUREZA
FRUTICULTURA TROPICAL
Profº. Sebastião Elviro de Araújo Neto
Rio Branco – Acre
2012
2. SUMÁRIO
1. IMPORTÂNCIA DA FRUTICULTURA BRASILEIRA .......................................................... 3
1.1 - Aspectos econômicos e sociais .......................................................................................... 3
1.2 - Exportações brasileiras de frutas .................................................................................... 4
1.3 - Em busca da auto-suficiência........................................................................................... 5
1.4 - Desperdiço de frutas no Brasil ......................................................................................... 5
1.5 - Consumo Per Capta de frutas .......................................................................................... 6
1.6 - Principais países produtores de frutas ............................................................................ 6
1.7 Pólos frutícolas do Brasil .................................................................................................... 7
1.8 Divisão das plantas frutíferas quanto ao clima .......................................................... 7
1.9 - Aspectos sociais ................................................................................................................. 8
1.10 - Aspectos nutracêuticos ................................................................................................... 8
1.11 Função medicinal das frutas........................................................................................... 16
1.12 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 18
2. PANORAMA ATUAL E POTENCIAL DA FRUTICULTURA ACREANA ........................ 20
2.1 Fruticultura na Amazônia ................................................................................................ 20
2.2 Aspectos Gerais do Estado do Acre ................................................................................. 20
2.3 Principais fruteiras cultivadas no Acre ........................................................................... 20
2.4 Frutas potenciais ............................................................................................................... 24
2.5 Fruticultura nos Sistemas Agroflorestais-SAFs ............................................................. 25
2.6 Tecnificação dos pomares ................................................................................................. 25
2.7 Agroindústria ..................................................................................................................... 26
2.8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 26
3. SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA FRUTICULTURA ............................................................ 28
4. PROPAGAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS ..................................................................... 39
4.1 - Propagação por semente................................................................................................. 39
4.2. Propagação assexuada ..................................................................................................... 45
4.3. Métodos de propagação vegetativa ................................................................................. 48
4.5 Matrizes copa e porta-enxertos ........................................................................................ 69
4.6 Referências ......................................................................................................................... 70
5. VIVEIROS ................................................................................................................................ 71
5.1 Tipos ................................................................................................................................... 71
5.2 Localização ......................................................................................................................... 72
5.3 Dimensionamento .............................................................................................................. 73
5.4 Instalações .......................................................................................................................... 73
5.5 Formação da muda............................................................................................................ 74
5.6 Substratos e recipientes .................................................................................................... 75
5.7 Recipientes ......................................................................................................................... 79
5.8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 80
6. PLANEJAMENTO E IMPLANTAÇÃO DE POMAR ............................................................ 82
6.1 –Planejamento do pomar .................................................................................................. 82
6.2 – Talhões............................................................................................................................. 82
6.3 - Sistema de Plantio ........................................................................................................... 84
6.4 - Marcação das Covas ....................................................................................................... 85
6.5 - Preparo do solo ................................................................................................................ 86
6.6 - Abertura e preparo das covas ........................................................................................ 86
6.7 - Plantio .............................................................................................................................. 87
6.8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 88
7. PODA DAS PLANTAS FRUTIFERAS ................................................................................... 90
7.1 Princípios fisiológicos que regem a poda......................................................................... 90
3. 7.2 Poda e condução de frutíferas .......................................................................................... 92
7.3 Tipos de poda ..................................................................................................................... 93
7.4 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 97
8. FLORESCIMENTO E FRUTIFICAÇÃO ................................................................................ 98
8.1 Fatores internos que afetam a frutificação ..................................................................... 98
8.2 Fatores externos que afetam a frutificação ................................................................... 102
8.3 Efeito hormonal na frutificação ..................................................................................... 105
8.4 Referências ....................................................................................................................... 105
9. COLHEITA E PÓS-COLHEITA DE FRUTOS ..................................................................... 106
9. 1 Definição de Fruto e Fruta ............................................................................................ 106
9.2 Fisiologia do desenvolvimento dos frutos ...................................................................... 106
9.3 Tipos de colheita .............................................................................................................. 111
9.4 Estádio de maturação...................................................................................................... 113
9.5 Pré-resfriamento.............................................................................................................. 114
9.6 Higiene do campo e aspectos fitossanitários ................................................................. 115
9.7 Sistema de armazenamento ............................................................................................ 118
9.8 Padronização e classificação ........................................................................................... 121
9.9 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 122
10 CULTURA DO AÇAIZEIRO ................................................................................................ 124
10.1. Produção brasileira de açaí ......................................................................................... 124
10.2 Produtividade ................................................................................................................ 124
10.3 Origem, Dispersão e Botânica ...................................................................................... 125
10.4 Período de produção ..................................................................................................... 127
10.5 Ecofisiologia ................................................................................................................... 128
10.6 Melhoramento Genético ............................................................................................... 129
10.7 Cultivares ....................................................................................................................... 130
10.8 Propagação ..................................................................................................................... 131
10.9 Nutrição mineral ........................................................................................................... 132
10.10 Manejo agronômico..................................................................................................... 133
10.11 Pragas ........................................................................................................................... 134
10.12 Doenças ......................................................................................................................... 134
10.13 Colheita e Pós-colheita ................................................................................................ 134
10.14 Pós-colheita .................................................................................................................. 135
10.15 Mercado e Comercialização ....................................................................................... 138
10.16 Coeficiente técnico ....................................................................................................... 140
10.17 Referências ................................................................................................................... 140
11 CULTURA DO CUPUAÇUZEIRO ...................................................................................... 142
11.1 Aspectos Sócio-Econômicos .......................................................................................... 143
11.2. Origem, Dispersão, Botânica e Ecologia .................................................................... 144
11.3 Ecofisiologia ................................................................................................................... 144
11.4 Melhoramento Genético ............................................................................................... 145
11.5 Cultivares ....................................................................................................................... 151
11.6 Propagação ..................................................................................................................... 151
11.7 Nutrição mineral ........................................................................................................... 151
11.8 Manejo agronômico....................................................................................................... 152
11.9 Pragas do cupuaçuzeiro ................................................................................................ 154
11.10 Doenças do cupuaçuzeiro............................................................................................ 155
11.11 Colheita e beneficiamento ........................................................................................... 158
11.12 Mercado e Comercialização ....................................................................................... 159
11.13 Coeficiente técnico ....................................................................................................... 159
3
4. 11.14 Referências ................................................................................................................... 160
12. CULTURA DO MARACUJAZEIRO .................................................................................. 162
12.1 Aspectos socioeconômicos ............................................................................................. 162
12.2 - Produção Brasileira .................................................................................................... 162
12.3 Origem, Dispersão e Botânica ...................................................................................... 163
12.4 Ecofisiologia ................................................................................................................... 164
12.5 genéticA do maracujazeiro ........................................................................................... 164
12.6 Melhoramento Genético do Maracujazeiro ................................................................ 166
12.7 Cultivares ....................................................................................................................... 167
12.8 Propagação ..................................................................................................................... 169
12.9 Solos e Nutrição Mineral .............................................................................................. 172
12.10 Manejo agronômico..................................................................................................... 173
12.11 Pragas ........................................................................................................................... 177
12.12 Doenças ......................................................................................................................... 180
12.13 Colheita e Pós-colheita ................................................................................................ 182
12.14 Mercado e Comercialização ....................................................................................... 185
Custo de produção e rendimento econômico ...................................................................... 186
12.15 Coeficiente técnico para implantação de 1 hectare de maracujá (espaçamento 3,0 x
3,0m) ....................................................................................................................................... 187
12.16 Referências ................................................................................................................... 190
13 CULTURA DO ABACAXIZEIRO ....................................................................................... 195
14 CULTURA DO MAMOEIRO ............................................................................................... 210
4
5. Importância da fruticultura brasileira
1. IMPORTÂNCIA DA FRUTICULTURA No Brasil, o estado de São Paulo se destaca na
BRASILEIRA produção de frutas, principalmente pela alta produção
de citros e exportação de suco de laranja concentrado e
O Brasil por possui uma extensa área congelado (SLCC), colocando o Brasil como o maior
territorial, com 8.500.000 km2 encontra-se uma produtor mundial de citros e maior exportador do
grande variação climática e seus microclimas que SLCC. Além disso, destaca-se também pela grande
possibilitam o cultivo econômico da maioria das variedade de espécies frutíferas cultivadas em cada um
fruteiras, que torna o país o terceiro produtor mundial de seus microclimas. Aliado a outros fatores, o alto
de frutas, atrás apenas da China e Índia, primeiro e índice tecnológico nos pomares paulistas, contribui
segundo maiores produtores, respectivamente. Aliado para a boa produtividade alcançada.
ao volume de produção, a geração de renda e
emprego, o consumo interno de frutas, torna a Quadro 1.1 Produção, produtividade e área cultivada
fruticultura um ramo econômico que promove das principais espécies cultivadas no Brasil em 2009.
desenvolvimento social no país.
Além do valor da produção, a fruticultura faz
parte de rotas turísticas, como os vinhedos do sul do
pais, incorporando recursos econômicos e sociais
importante para odesenvolvimento dessas regiões,
especificamente do campo, com maior agregação de
valor, diversificação de produtos e serviços.
1.1 - Aspectos econômicos e sociais
A cadeia produtiva das frutas no campo,
abrange 2,5 milhões de hectares, gera 6 milhões de
empregos diretos ou seja, 27% do total da mão-de-
obra agrícola ocupada no campo. Este setor demanda
mão-de-obra intensiva, fixando o homem no campo.
Apesar do baixo retorno econômico nos
primeiros anos do pomar, durante a frutificação de
A maioria da produção brasileira é destinada
muitas espécies, há redução da mão de obra e do
ao consumo interno, tanto ao natural quanto
custo de produção, podendo garantir renda na
processada na forma de doces, geléias, sucos, vinhos
agricultura familiar, principalamente em propriedades
e outros. Pois o terceiro maior produtor de frutas não
com pouca mão-de-obra ou mão de obra de idosos.
é um dos principais exportadores, em 2009, exportou
Em se tratando de empresas rurais, é possível
apenas 1,8% da produção. Porém, apesar de não
alcançar um faturamento bruto de R$1.000 a
aumentar o saldo na balança comercial brasileira com
R$20.000 por hectare. Além disso, para cada 10.000
as exportações, o consumo interno pode reduzir a
dólares investidos em fruticultura, geram-se 3
importação pelo consumo das frutas brasileiras e com
empregos diretos permanentes e dois empregos
isso, melhorar a saúde da população que se
indiretos. O valor bruto da produção de frutas em
consientiza cada vez mais da importancial alimentar
2009 situou-se em 17,5 bilhões de reais.
das frutas na saúde humana.
As principais frutíferas cultivadas no Brasil
O principal motivo da baixa exportação de
são: laranja, banana, abacaxi, melancia, coco,
frutas pelo Brasil é a baixa qualidade das frutas,
mamão, uva, maçã, manga, tangerina, limão,
infraestrutura deficiente e principalmente os
maracujá, melão, goiaba, pêssego, Caqui, abacate,
embargos econômicos e sanitários impostos pelos
figo, pêra dentre outras (Quasdro 1). Outras frutas
países importadores.
regionais “raras” (exóticas e nativas) possuem alto
potencial de mercado, incluindo acerola, atemoya,
açaí, cupuaçú, bacuri, marolo, pinha, castanhas, cajá,
ceriguela, mangaba, sapoti, graviola, envira-cajú e
outras que necessitam ser estudadas (Alves et al.,
2008, Farias, 2009).
Dessas frutas, a laranja, representam 42,9% do
total da produção de frutas brasileria, seguida da
banana com 16,5% da produtção, por isso, seu
comportamento tem influência muito forte nos
números gerais. E elas registraram desempenho bem
diferenciado de 2004 para 2005.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de
laranja e o segundo produtor mundial de banana,
atrás apenas da Índia.
3
6. Importância da fruticultura brasileira
1.2 - Exportações brasileiras de frutas 1000000
US$
900000
t
As frutas brasileiras, aos poucos, vão
800000
ganhando o mercado mundial e abrindo espaço para
700000
transformar o Brasil em um grande exportador,
600000
criando novas oportunidades de negócio para os
agricultores brasileiros em um empreendimento com 500000
alta rentabilidade. No total, a receita com as 400000
exportações brasileiras de frutas cresce 300000
constantemente e atinge seus 609 milhores de reais 200000
em 2010 (Figura 1.1). 100000
A colheita mundial de frutas, no entanto, é de 0
540 milhões de toneladas, correspondendo ao 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2009 2010
montante de US$ 162 bilhões, em valor comercial. A
China, sozinha, é responsável por 157.716 milhões de Figura 1.1 – Evolução das exportações brasileiras de
toneladas (Quadro 1.2). Embora o País constitua um frutas frescas 1998-2010 (IBRAF, 2012).
grande produtor, a participação do Brasil nos
negócios mundiais de frutas é pequena, representando Quadro 1.3 Exportação brasileira de frutas em 2009.
1,6% em divisas e 2,3% em volume. A Nação situa- Frutas Valor Quantidade
se em 20º lugar entre os exportadores. (US$) (kg)
Uva 136.648.806 60.805.185
Quadro 1.2 Produção dos principais países produtores
Melão 121.969.814 177.828.525
de frutas.
Manga 119.929.762 124.694.284
País Produção (t) 2004 Maçã 55.365.805 90.839.409
China 157.716.081 Banana 45.389.163 139.553.134
Índia 54.581.900
Limão 50.693.603 63.060.909
Brasil 39.112.663
Mamão 35.121.752 27.057.332
Estados Unidos 32.523.920
Laranja 16.276.736 37.821.810
Itália 18.091.800
México 16.863.506 Abacaxi 998.318 1.889.842
Turquia 16.305.750 Melancia 12.356.105 28.261.716
Irã 15.139.110 Figo 7.310.886 1.446.458
França 11.764.270 Tangerina 1.850.034 1.977.479
Fone: FAO/DATAFRUTA-IBRAF. Goiaba 326.364 147.348
Coco 121.240 407.737
Esse mercado movimenta US$21 bilhões por Outras frutas 1.931.663 815.874
ano. Mas as vendas brasileiras vêm crescendo, tendo Outros citrus 4.978 4.51941.117
aumentado em torno de 200% nos últimos seis anos. Total Frutas Frescas 609.612.136 759.420.595
Em 2007, a receita com o comércio de frutas ao Fonte: SECEX/IBRAF em 03/12/2012
exterior foi de US$ 642.743 milhões.
A valorização do real em relação ao dólar foi o Mesmo com esses problemas, e com todas as
principal obstáculo para um melhor comportamento exigências comerciais e sanitárias dos países
das vendas brasileiras de frutas a outros países. importadores, o Brasil continua com sua imagem
Analisando o caso da maçã: muitas empresas fortalecida como grande fornecedor mundial, pois
exportaram porque havia contrato firmado e também ocupa o terceiro lugar nas exportações de manga
para não perder o cliente, pois o preço da espécie no (com 111 mil toneladas), depois de México (212 mil)
mercado externo não compensava. A queda da maçã e Índia (156 mil), em números da safra 2004. O País
foi de 36,91% em valor e de 35,1% em volume em fica em quinto lugar nas exportações de melão, atrás
2005, no comparativo com o ano anterior, quando ela da Espanha, Costa Rica, Estados Unidos e Honduras.
fora a grande estrela. A banana, que representa o maior volume de vendas
Outra fruta que teve redução acentuada – de por parte do Brasil (188,087 mil toneladas em 2004),
58,34% em valor e de 65,99% em volume – nas torna o País o 15º exportador, sendo as primeiras
exportações de 2005 foi a laranja. Além do dólar posições ocupadas por Equador, Costa Rica,
baixo, a doença conhecida como pinta-preta Filipinas, Colômbia e Guatemala. No coco, os
dificultou as remessas para o exterior. “Todos os brasileiros ocupam o 20º lugar; na maçã e na laranja,
contêineres eram verificados e, se fosse constatado o 12º; e na uva, o 18º.
qualquer indício, a firma era riscada do rol dos Além de ter havido crescimento nas
exportadores por parte da Europa”, assinala o gerente exportações brasileiras nos últimos anos, com a
de Exportação do IBRAF. Em razão disso, muitas conquista de novos mercados na Ásia e no Oriente
empresas nem chegaram a abrir seus packing-houses. Médio, um ponto fundamental é que as importações
Sebastião Elviro de Araújo Neto 4
7. Importância da fruticultura brasileira
de frutas foram acentuadamente reduzidas. Elas têm Quadro 1.4. Importação brasileira de frutas em 2009.
se limitado a alguns períodos do ano em que ainda
não se registra produção interna ou a alguns tipos Frutas Valor Quantidade
específicos. As mais importadas são pêra, maçã, (US$/mil) (tonelada)
ameixa, kiwi, cereja e nectarina. Em 2005, segundo Pêra 161.974.250 189.840.518
dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e Maçâ 60.046.723 76.879.090
do Ibraf, as importações brasileiras chegaram a Ameixa 32.417.159 24.278.543
224,494 mil toneladas em volume e a US$ 125,634 Quiwi 21.867.849 20.596.664
milhões em valor. Uva 36.074.860 24.794.695
Os maiores compradores são os países baixos Ameixas 32.417.159 24.278.543
(Holanda), com 32% do volume exportado, seguido Pêssegos 13.322.481 11.074.033
pelo Reino Unido, com 18%, este, desde a década de Nectarinas 13.221.893 10.421.857
90 vem se constituindo como o principal mercado Laranjas 4.841.635 6.002.603
para as frutas brasileiras. Tangerinas 2.960.118 3.438.598
Também no Mercosul está crescendo o Total Outras Frutas 367.491.907 374.037.298
mercado para a fruticultura nacional, sendo a Fonte: SECEX/DECEX/MDIC;DECOM/SPC/MAPA
Argentina responsável por 12% das nossas
exportações e o Uruguai por outros 6%. Além disso, Os investimentos realizados nos pólos de
o Brasil exporta para Estados Unidos, Portugal, fruticultura irrigada no Nordeste, no sudeste do País e
Bélgica, Finlândia e Emirados Árabes Unidos. no Sul estão se consolidando porque há um grande
Apenas para fazer uma comparação, o Chile retorno econômico e social nesta atividade. Para cada
que é um dos maiores exportadores de frutas ao hectare de pomar é gerada uma renda de
natural, exporta cerca de US$1,6bilhão, aproximadamente R$ 15 mil. Isso que dizer que,
aproximadamente o mesmo valor que rende a dentro da agricultura, o segmento frutícola está entre
exportação do suco de laranja brasileiro, exportação os principais geradores de renda, de empregos e de
de fruta na forma de suco e com valor agregado nas desenvolvimento rural.
grandes industrias paulistas. Fatores que incentivam a produção
Além dos US$ 643 milhões, o Brasil exportou 1. Geração de empregos no campo e na cidade
em frutas processadas, o equivalente a US$ 2.7 bi. 2. Renda de R$ 1 mil a R$ 25 mil por hectare
3. Sustentabilidade da produção
1.3 - Em busca da auto-suficiência 4. Disponibilidade de recurso
5. Grande demanda no mercado interno
Mesmo sendo o terceiro maior produtor 6. Grande demanda no mercado internacional
mundial de frutas, o Brasil, país de dimensões 7. Incentivo às exportações
continentais, encontra dificuldade em atender ao seu
mercado interno e precisa importar para suprir sua Exemplos de rentabilidade
demanda de consumo. Mas, nos últimos anos, Cada hectare de vinho gera:
observa-se um crescente aumento nas exportações e Renda/hectare/ano: R$ 20 mil de dinheiro novo
diminuição na importação de frutas (Figura 1.2). circulando na região produtora
Renda com industrialização
Os problemas para este atendimento vão desde Mais R$ 20 mil (R$ 40 mil/ha/ano)
aspectos culturais, precariedade de logística, falta de Cada hectare de vinhedo oferece
planejamento e integração dos mercados regionais, 1 emprego direto, a permanência de uma família no
até as dificuldades econômicas da maioria da campo e 2 empregos indiretos
população. Atualmente, o mercado interno segue a
tendência mundial de aumento do consumo de frutas
frescas, dentro dos princípios difundidos de melhoria 1.4 - Desperdiço de frutas no Brasil
da qualidade de vida e cuidados com a saúde.
Portanto, além de exportar para o mercado O Brasil acumula prejuízos de milhões de
internacional, o Brasil precisará aprender a exportar dólares todos os anos na produção e processamento
para ele mesmo, qualificando a produção, a de frutas. As perdas variam de 30% a 60% do total
distribuição e a comercialização. produzido nos pomares brasileiros, dependendo da
Contudo, a cadeia produtiva da fruticultura é a espécie e do estágio em que a fruta é descartada pelo
área que mais cresce dentro do agronegócio brasileiro mercado.
e deverá alcançar um patamar de grande exportador. As perdas começam na lavoura e terminam nas
Todos os estados da federação acordaram para gôndolas dos supermercados. Antes disso, passa pela
uma realidade: a fruticultura gera dinheiro, o País tem embalagem inadequada, o transporte indevido,
potencial para produzir muito e com qualidade, há manejo equivocado e estocagem errada. As perdas na
um mercado com alta demanda e em crescimento. lavoura ocorrem por desconhecimento do produtor,
que adota manejo inadequado do pomar e usa
variedades não-adaptadas. Além disso, há os fatores
Sebastião Elviro de Araújo Neto 5
8. Importância da fruticultura brasileira
climáticos que podem influenciar, como tempestades, O consumo de frutas do quintal também não
ventos, geadas, excesso hídrico ou estiagens. entra nas estatísticas.
A utilização de embalagens inadequadas
também é fator de prejuízos à produção nacional de Quadro 1.5 Consumo Per Capta de frutas em alguns
frutas. No Brasil é costume utilizar caixas de madeira países.
estreitas, impróprias para acondicionar o produto.
Isso aperta as frutas, machuca e ainda provoca País Consumo (Kg / ano)
contaminações pelo uso contínuo sem os cuidados de Alemanha 112,00
higiene necessários. Por isso é necessária a Reino Unido 68,50
adequação das embalagens. França 91,40
Outro ponto fraco do processo pós-colheita da Itália 114,80
fruticultura brasileira é o transporte, que deveria ser Países Baixos 90,80
feito em caminhões refrigerados e já com as frutas Espanha 120,10
embaladas. Normalmente a operação é realizada em
EUA 67,40
caminhões comuns cobertos com lonas.
E na comercialização, pelo falta de um bom Canadá 81,10
sistema de informações para viabilizar o Japão 61,80
planejamento da produção, medida que é rotineira na Brasil 57,00
Europa e nos Estados Unidos. Com informações de
mercado, o produtor poderia se planejar para produzir De Angelis (2001) afirma que a educação
exatamente o volume de frutas que terá demanda. nutricional ao longo da vida é uma necessidade para
melhorar as condições nutricionais.
1.5 - Consumo Per Capta de frutas
1.6 - Principais países produtores de frutas
O consumo per capta brasileiro é praticamente
a metade em relação à Itália, Espanha e Alemanha e A China foi o maior produtor mundial de
bem abaixo de outros países (Quadro1.4). Vários frutas no ano de 2002, com a quantidade de
fatores estão relacionados a este fato: 133.077.000 toneladas e destacando-se como grande
O brasileiro ainda não tem consciência da produtora mundial de melancia, maçã, melão e pêra.
importância das frutas na alimentação. A Índia foi o segundo produtor mundial neste
O baixo índice tecnologia empregada na mesmo ano quando registrou a quantidade de
fruticultura brasileira causa preços elevados das 58.970.000 de toneladas e sendo um grande produtor
frutas, além da baixa renda per capta do brasileiro. de banana, manga e coco.
O consumo de frutas nativas, como açaí,
jabuticaba, cajá, jaca, cupuaçu, graviola e outras não
entram na estatística do consumo per capta brasileiro.
Quadro 1.6 Produção mundial de frutas em 2004. (mil toneladas)
Mundo China Índia Brasil USA Filipinas Indonésia Itália México Espanha Turquia
Total 503.278.149 157.716 54.582 39.113 32.524 18.092 16.864
Melancia 94.938.957 68.300.000 255.000 622.060 1.669.940 107.056 - 500.000 970.055 764.600 4.300.00
Banana 71.343.413 6.420.000 16.820.000 6.602.750 10.000 5.638.060 4.393.685 400 2.026.610 412.700 110.000
Uva 66.569.761 5.527.500 1.200.000 1.278.885 5.418.160 120 - 8.691.970 456.638 7.147.600 3.600.000
Laranja 62.814.424 1.977.575 3.100.000 18.256.500 11.729.900 28.700 871.610 2.064.099 3.969.810 2.883.400 1.280.000
Maçã 61.919.060 22.163.000 1.470.000 977.863 4.571.440 - - 2.069.243 503.000 603.000 2.300.000
Melão 27.703.132 14.338.00 645.000 180.000 1.150.440 19.000 - 608.200 590.000 1.102.400 1.700.000
Manga 26.573.579 3.582.000 10.800.000 850.000 2.800 967.535 1.006.006 - 1.503.010 - -
Tangerina 22.942.253 10.556.000 - 1.270.000 492.600 55.500 - 576.446 360.000 2.368.700 565.00
Abacaxi 15.288.018 1.420.000 1.300.000 1.435.190 270.000 1.759,290 463.063 - 720.900 - -
Limão 12.338.795 611.300 1.420.000 1.000.000 732.000 52.000 - 564.794 1.824.890 908.700 535.000
Mamão 6.708.551 161.000 700.000 1.650.000 16.240 131.869 - - 955.694 - -
Abacate 3.078.111 84.000 - 175.000 200.000 - 177.263 - 1.040.390 75.699 370
Fonte: FAO (2005).
O Brasil está classificado em terceiro lugar produtor de manga, citros, melão e outras frutas
com a quantidade de 39.113.000 toneladas, sendo um tropicais.
grande produtor de laranja, banana, coco e mamão.
Depois em quarto lugar aparece os Estados
Unidos como grande produtor mundial de laranja,
uva, maça e pomelo, a Itália em quinto lugar
destacando-se como produtora de uva, maçã e
pêssego. O México em sexto lugar como grande
Sebastião Elviro de Araújo Neto 6
9. Importância da fruticultura brasileira
1.7 Pólos frutícolas do Brasil
Existem hoje no Brasil 30 pólos de
fruticultura, espalhados de norte a sul e abrangendo
mais de 50 municípios.
O Pólo Assu/Mossoró, no Rio Grande do
Norte, que se tornou a maior região produtora de
melão do País, e o Pólo Petrolina/Juazeiro, que já
conta com mais de 100 mil hectares irrigados,
exportando manga, banana, coco, uva, goiaba e
pinha, e garantindo emprego a 4000 mil pessoas em
áreas do semi-árido da Bahia e Pernambuco, são
exemplos de sucesso.
Outro que vem crescendo e que é um dos mais
avançados na produção de frutas para exportação é o
Pólo Baixo Jaguaribe, no Ceará, que já conta com 52
mil hectares irrigados.
Também o Pólo de desenvolvimento Norte de
Minas/MG merece ser citado por sua importância na
produção frutícola que atingiu, em 1999, 264.050 Figura 1.1 – Localização do pólos frutícolas do
toneladas de banana, limão, manga, uva, coco e Brasil.
mamão.
Não pode ser esquecido o Pólo de São Paulo, 1.8 Divisão das plantas frutíferas quanto ao
um dos primeiros a surgir no País e que hoje sofre a clima
concorrência do Nordeste nas exportações, mas que
ainda é o grande fornecedor do mercado interno de Quanto às exigências de clima, as plantas
frutas frescas, o primeiro nas exportações de citros e podem dividir-se em plantas de clima temperado,
suco de laranja e tem forte presença em banana, subtropical e tropical.
manga, goiaba, uva de mesa e outras. São Paulo
exportou, em 2001, 194.660 toneladas de frutas, com Plantas de clima temperado
destaque para laranja (139.553 t), tangerina (17.250
t), limão (12.498 t), banana (9.695 t), mamão (4.808 Essas plantas podem ser sub divididas, em
t), abacaxi (2.560 t), manga (1.996 t), melão (1.783), muito exigentes e pouco exigentes em frio.
uva (1.436 t) e outras, representando um faturamento Dentro de uma mesma espécie, encontramos
de US$ 50,1 milhões. variedades que se acomodam a essa exigência, como
Há ainda o pólo do Rio Grande do Sul, o pessegueiro, a macieira, a pereira, a ameixeira, a
tradicional produtor de uva para produção de vinho e pecã, o caqui. Existem variedades que produzem
de pêssego para a industria e de mesa. Além disso, na satisfatoriamente em regiões de inverno brando, ao
região de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, passo que outras exigem inverno longo e rigoroso
florescem os pomares de maçã, dando ao Estado o para frutificar economicamente, que dure de dois a
segundo lugar nas exportações dessa fruta, depois de três meses, com temperatura de 0ºC, podendo atingir,
Santa Catarina, onde as macieiras se estendem pelos no verão, de 30 a 40ºC.
municípios de Fraiburgo e São Joaquim. As espécies de clima temperado podem
desenvolver a frutificação na área subtropical e
mesmo na tropical, desde que o repouso hibernal seja
substituído por período seco que impeça a vegetação,
porém as plantas de clima tropical e subtropical
dificilmente encontram condições para prosperar nas
zonas temperadas.
A área de distribuição favorável para as
espécies frutíferas de clima temperado concentra-se
no sul do Estado de São Paulo até o Rio Grande do
Sul. Encontram-se, entretanto, dispersas pelo país,
regiões microclimáticas, como a serra da
Mantiqueira, a serra dos Cristais e regiões do interior
e do norte do Brasil, que compensam a latitude com a
altitude, oferecendo também microclimas favoráveis.
Sebastião Elviro de Araújo Neto 7
10. Importância da fruticultura brasileira
Plantas de clima subtropical e tropical em sistemas de produção de alta tecnologia geram
apenas entre 2 a 40 horas/ha (Mello et al., 2000).
Os vegetais tropicais e subtropicais encontram, A alta geração de emprego ocorre por se tratar
a partir do centro do Estado de São Paulo até o de cultivo extensivo e intensivo, exigindo a presença
Amazonas, condições ecológicas para o seu constante de mão-de-obra.
desenvolvimento, com exceção das regiões Por isso, existe atualmente grandes incentivos
montanhosas, onde a queda de temperatura oferece à projetos de irrigação, principalmente por ser umas
microclima favorável às culturas temperadas. das atividades agrícolas que exige pouco recursos
Pelos conhecimentos adquiridos sobre espécies para gerar empregos.
de clima temperado, subtropical e tropical, e
conhecendo-se as condições ecológicas de cada 1.10 - Aspectos nutracêuticos
região, podem-se estabelecer pomares comerciais
com grande probabilidade de êxito. A estimativa dos órgãos governamentais é que
Assim, as culturas de abacaxi, anona, banana, 70% das mortes de brasileiros ocorreram por motivo
coco-da-bahía, mamão, manga, tâmara, citros, abacate, de doenças crônicas. Aproximadamente 35% dos
goiaba, jabuticaba encontrariam condições ecológicas casos de câncer no mundo tem como causa principal
das mais favoráveis a partir da parte central do Estado uma alimentação desequilibrada.
de São Paulo até o norte, incluindo as regiões central e Os alimentos vegetais, em geral, são alimentos
nordeste, que se enquadram dentro de clima indispensáveis e mais importantes para a vida. Eles
subtropical e tropical. As espécies de clima temperado, são fontes principais de minerais, vitaminas, fibras,
entretanto, como ameixeira, figueira, macieira, açúcar, além de proteínas e gorduras, em menor
oliveira, pecã, pessegueiro, pereira e videira, quantidade, substâncias essenciais para todo o
encontrariam condições mais satisfatórias do sul do funcionamento do organismo. Os vegetais contém,
Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul. também, substâncias protetoras e curativas, com ação
anti-infecciosa, anti-inflamatória, anti-parasitária,
1.9 - Aspectos sociais anti-reumática, anti-hipertensiva, diurética, laxativa,
desintoxicante e vitalizadora de todo organismo. São
Os 6 milhões de empregos gerados nos 2,5 alimentos equilibrados e determinam uma perfeita
milhões de hectares de fruticultura é em grande parte saciedade do apetite, impedindo o comer excessivo, a
por causa do baixo investimento necessário para a busca constante por comidas, portanto, evitam e
geração de emprego, pois, para cada 10.000 dólares curam a obesidade.
investidos em fruticultura, geram-se 3 empregos
diretos permanentes e dois empregos indiretos. Visto 1.10.1 Comportamento alimentar do homem
por outro ângulo, 2,5 milhões hectares com frutas no
Brasil significam 6 milhões de empregos diretos (2 a Uma grande parte de nossa população passa
5 pessoas por hectare). fome, no sentido de escassez ou de impossibilidade
Química de adquirir os alimentos fundamentais, outra parte
220000 Investimento médio para gerar um emprego (US$) gasta-se além do necessário em sistemas alimentares
de verdadeiras manias (De Angelis, 2001).
Mas, para os que comem, “comer não é
apenas uma questão de matar a fome” (Burgierman,
Metalúrgica
145000 2002).
A decisão sobre que comida colocar no prato
Pecuária tem implicações econômicas, ambientais, éticas,
100000 Automobilísmo culturais, fisiológicas, históricas, religiosas e etc.
91000
Turismo Assim, os lactovegetarianos comem ovos, leite e
66000
Agricultura
derivados, por não “resultarem” do sofrimento animal
37000 ou por não conter toxinas produzidas antes da morte
Fruticultura animal; os vegans acreditam na liberdade total dos
6000 2500 animais e não se alimentam de produtos de origem
animal e deveriam fotografar apenas com máquinas
Figura 1.2 - Investimento médio para gerar um digitais, devido os filmes das máquinas analógicas
emprego em algumas atividades industriais, turismo e conterem uma gelatina retirada da canela da vaca; os
agropecuárias. frugivoristas não só rejeitam carne como evitam
machucar ou matar vegetais. Por isso, comem apenas
Um exemplo de geração de emprego é o caso aquilo que as plantas “querem” que seja comido:
da atemóia no Estado de São Paulo. Segundo estudos frutas, castanhas e sementes, consideram o consumo
de Mello et al., (2004), a atemóia assim como outras de folhas, caules e raízes uma violência.
frutíferas, é grande absorvedora de mão-de-obra, Mas afinal, o homem é onívoro ou frugívoro?
requer cuidados agronômicos sistemáticos cerca de
1.153 horas/ha/ano, enquanto que as culturas anuais
Sebastião Elviro de Araújo Neto 8
11. Importância da fruticultura brasileira
Baubach, (1992) cita o Dr. Friedman, que como alguns biscoitos. A vitamina B12 pode está
afirma ser o homem um frugívoro, não só pela forma presente em alguns pró-bióticos, como o Kefir,
e disposição do seu sistema dentário, mas, também, colônia de microrganismos lácticos.
pela constituição dos órgãos digestivos, e muitos Um outro cuidado no balanceamento da dieta
afirmam que é erro considerarmo-nos onívoros. dos vegetarianos é o iodo. Um trabalho de
Portanto, acredita-se que as frutas são investigação constatou que a população vegetariana
alimentos naturais do homem, mineralizantes por (sem consumo de qualquer alimento de origem
excelência, e é nesta fonte pura e não nos cadáveres animal), a ingestão média de iodo foi abaixo de 100
que se deve apoiar-se para a reparação das forças do g/dia, enquanto as recomendações são de 150
organismo. g/dia (De Angelis, 2001).
Um outro problema sério na alimentação dos
1.10.2 Valor nutritivo das frutas vegetarianos é a pouca concentração de ferro nos
vegetais ao contrário das carnes e víceras. Mas, a
É possível o homem alimentar-se apenas de frutas? ingestão diárias de diversas frutas, hortaliças e outros
Nas frutas tem-se os princípios necessários vegetais, garante a necessidade diária de ferro. A
para atender as necessidades vitais dos humanos goiaba é um dos frutos mais completos, em termos de
(Quadro 1.7). balanço nutricional, mas possui baixo teor de Fe. No
O tamarindo, as uvas, a banana, o açaí e geral, não existe um fruto ideal que possa servir
outros, fornecem os carboidratos; o coco, as como única fonte de alimento vegetal, mas que a
castanha-da-amazônia1 e castanha-de-caju, sementes alimentação deve ser feita de uma “salada” de frutas,
de baru e outras, fornecem gorduras e proteínas. As ou seja, uma alimentação com vários tipos de frutas e
frutas também suprem com os mais variados sais de preferência respeitando a sazonalidade regional.
minerais, vitaminas, fermentos, água (com o selo da As castanhas, a exemplo a castanha-da-
vida) e fibras. Com regime exclusivo de frutas, o amazônia, pode suprir a necessidade diária de
homem pode viver em bom estado de saúde, mas é proteínas e cálcio, este último é encontrado em maior
preciso individualiza-lo devidamente (Quadro 1.8). concentração que no leite de vaca, o leite de vaca e
seus derivados, por ter também elevado teor de
cálcio, leva os nutricionistas convencionais a
Quadro 1.7 – Composição química em 100g de recomendarem este alimento, porém, esquecem de
algumas frutas. que o leite, muito importante para os mamíferos
jovens, pode trazer problemas para a saúde humana,
Vit.A Vit.B1 Vit.B2 Vit.B3 Vit.C Ca P Fe Prot principalmente pela contaminação por doenças dos
Frutas Kcal (µg) (µg) (µg) (mg) (mg) (mg) (%) animais, muitas vezes mal tratados.
Abacate 162 20 70 100 0,80 10,2 13 47 0,70 1,3
Em natureza, não se observa mamíferos
Açaí 247 150 360 10 0,40 5,0 118 0,5 2,00 3,5 adultos mamando em suas genitoras, será que o
Ameixa 54 200 120 150 0,37 6,8 11 16 0,36 0,6 homem adulto poderia alimentar-se de leite natural?
Banana 89 10 92 103 0,82 17,3 15 26 0,20 1,3
Caqui 87 250 30 45 0,80 17,1 4 42 0,41 0,8 Quadro 1.8 – Necessidade diária de um homem
Caju 37 16 58 50 2,56 200,0 50 18 1,00 0,8 adulto e elementos consumidos em 1,6 kg de frutas,
Castanha 700 7 1094 118 7,71 10,3 172 746 5,00 17,0
Coco seco 619 0 60 40 0,50 1,6 108 209 4,80 5,0 castanhas e sementes.
Goiaba 43 245 190 154 1,20 45,6 17 30 0,70 1,0 Necessidade Consumo 1,6 kg de frutas e
Laranja 43 14 40 21 0,19 40,9 45 28 0,20 0,9 diária castanhas
Limão 28 2,5 55 60 0,31 30,2 41 15 0,70 0,8
Maracujá 90 70 150 100 1,51 15,6 13 17 1,60 1,8 Energia Kcal >2600 3075 50 g de cada fruta
Manga 64 220 51 56 0,51 43,0 21 17 0,78 0,6 Proteína (g) 56 83 Castanha-da-
Coca-cola 39 0 0 0 0 0 2 1 0 0 Amazônia, Castanha-
Fibra (g) 20 - 35 92
Fonte: Franco, 1992; Aguiar et al., 1980; Donadio et al., 2002. de-Caju, Amêndoa,
Cálcio (mg) 800 733 Burití, Pinhão,
Ferro (mg) 10 41 Bacurí.
Na alimentação dos frugivoristas e dos vegans, Fósforo (mg) 800 1650 100g de cada fruta
deve haver um cuidado especial quanto ao Caju,açaí, manga,
Vit. A (g) 1000 1200
suprimento de vitamina B12, pois estas não contem maracujá, biribá,
Vit. B1 (g) 1400 2940 jenipapo, baru,
nos vegetais, é sintetizada por bactérias de solo, Vit.B2 (g) 1700 1620 goiaba.
consumidas pelos animais durante o pastejo e Vit. B3 (mg) 18 22 150 g de cada fruta
encontrada nas carnes dos mesmos. Porém, pode ser laranja, abacate
Vit. C (mg) 60 560 200 g de banana
encontrada facilmente em alimentos enriquecidos,
Fonte: Franco, 1992; Aguiar et al., 1980, Donadio et
al., 2002.
1
Castanha-da-Amazônia é o termo que respeitosamente
emprego para a Castanha-do-Pará, que não é apenas do Um concorrente direto na comercialização das
Pará, ou Castanha-do-Brasil, que não é apenas do Brasil, frutas é o refrigerante, um produto artificial, sem
mas, a Bertholletia excelsa é da Amazônia Real, inclusive
nenhum valor nutricional, intoxica e desmineraliza o
da Bolívia, Peru, Colômbia, Guianas, Suriname e
Venezuela.
organismo. Têm muita caloria inútil e engorda. O
"diet", com menos calorias, é artificial e tóxico. Ao
Sebastião Elviro de Araújo Neto 9
12. Importância da fruticultura brasileira
contrário das frutas, não contém vitaminas, proteínas, Os ácidos biliares são derivados do colesterol
sais minerais (raro poucas exceções) e contém e sintetizados no fígado. Se mais componentes de bile
corantes e acidulantes, tóxicos ao organismo. Além são eliminados do corpo, mais estes deverão ser
de não respeitar o próprio corpo ao beber um sintetizados para fazer a bile normal. Este processo
refrigerante multinacional, que tem inclusive acaba gastando mais colesterol (substrato), reduzindo
incentivos fiscais (não oferecido às industrias assim o colesterol circulante (De Angelis, 2001).
nacionais de refrigerante), paga-se aos estrangeiros e Vitaminas e minerais – está comprovado
desempregam-se brasileiros nos campos de produção que a lignina, as hemiceluloses ácidas, as pectinas e
de frutas, café e chás. algumas gomas são capazes de fixar determinados
minerais, como cálcio, fósforo, zinco, magnésio e
Fibras dietéticas ferro, e algumas vitaminas podem ter alterado sua
absorção. Esses efeitos, que, à primeira vista,
Além dos carboidratos, proteínas, vitaminas e poderiam ser prejudiciais, na prática não constituem
sais minerais, as frutas têm um outro componente problema quando a ingestão de fibras dietética é
muito importante na nutrição humana, as fibras. moderada, ou seja, dentro das recomendações
Atualmente as fibras deixam de exercer apenas a nutricionais. Pode se observar balanço negativo de
função digestiva muito preconizada no passado e cálcio, magnésio, fósforo, ferro e zinco em grandes
passa a ocupar o lugar que lhe corresponde dentro do consumidores de pão integral. Essas alterações
arsenal terapêutico atual, ganhando um novo subclínicas desapareceram quando se aumenta o
conceito: o de “fibra dietética”. consumo de pão branco. Indivíduos que ingerem
As características físico-químicas, menos que 50g de fibras ao dia, não estão expostos a
concernentes à solubilidade, viscosidade, nenhum desequilíbrio nutricional.
geleificação, capacidade de incorporar substâncias As fibras dietéticas chegam ao intestino grosso
moleculares ou minerais, determinarão as de forma inalterada e, ao contrario do que ocorre no
diferenciações entre fibras. intestino delgado, as bactérias do cólon, com suas
As fibras classificam em fibras solúveis em numerosas enzimas de grande atividade metabólica,
água (pectinas, gomas, mucilagens, hemicelulose B) podem digerir as fibras em maior ou menor grau,
e Insolúveis em água (celulose, lignina e dependendo de sua composição química e estrutura.
hemicelulose A). E ainda tem algumas substâncias As moléculas complexas são desdobradas a
que participam do grupo das “fibras dietéticas” por hexoses, pentoses e álcoois, que já podem ser
sua similaridade (amido resistente, absorvidos pelo intestino, servindo de substrato a
frutooligossacarídeos, açúcares não-absorvidos e outras colônias bacterianas, que, por sua vez, as
inulina). degradam em ácido lático, água, dióxido de carbono,
A fibra dietética passa através do intestino, no hidrogênio, metano e ácidos graxos de cadeia curta
qual desenvolve sua capacidade de hidratação e (acetato, propionato e butirato), com produção de
fixação, interferindo na absorção de substâncias energia. A produção e ação metabólica desses ácidos
orgânicas e inorgânicas como segue: graxos têm sido o principal foco de investigação atual
Proteínas, carboidratos e lipídios – são os sobre fibras, pois podem se constituir de importante
primeiros nutrientes a serem hidrolisados no intestino substrato energético, serem utilizados pelo fígado
delgado para serem absorvidos. Como a ação das para gliconeogênese, além de exercerem ação
fibras solúveis, principalmente das gomas, pectinas e antitumoral.
mucilagens, estas substâncias terão sua absorção Por outro lado, é sabido que uma dieta pobre
retardada e algumas vezes sua excreção ligeiramente em fibras pode ocasionar mudanças na microbiota e
aumentada. As perdas de proteínas, carboidratos e converter os lactobacilos habituais do cólon em
gorduras nas fezes não são importantes do ponto de bacterióides capazes de desdobrar os ácidos biliares
vista nutricional, mas são, sem dúvida, relevantes em compostos cancinogênicos.
para o controle de algumas doenças como os diabetes
e as coronariopatias. Carboidratos -
Sais biliares – a lignina, as gomas, pectinas
e mucilagens são capazes de seqüestrar os sais As frutas são ótimas fontes de carboidratos e
biliares, permitindo sua eliminação nas fezes, o que açúcar simples. Os carboidratos são recomendados
tem grande importância na prevenção de tumores, já como o principal nutriente da composição das
que determinadas cepas de bactérias, particularmente pirâmides alimentares, mas podem se tornarem
a Clostridium putrificans, têm capacidade de vilões, como nos EUA, por exemplo, causando
sintetizar cancerígenos utilizando-se dos ácidos obesidade, hipoglicemia e diabetes.
biliares e colesterol como substrato. Não basta apenas consumir carboidratos, é
A absorção de gorduras torna-se diminuída, preciso que esse carboidrato esteja nas frutas,
pela impossibilidade de não serem emulsionadas e hortaliças e nos cereais integrais. Sua energia é
nem transportadas na mucosa intestinal. liberada durante um período mais longo e contínuo,
ao contrário dos curtos derrames de energia do açúcar
Sebastião Elviro de Araújo Neto 10
13. Importância da fruticultura brasileira
simples. Apesar de não serem considerados como vez mais sobre como a dieta pode prevenir doenças.
complexos de carboidratos, os açúcares simples O tema nutrição é o ponto alto na relação entre dieta
encontrados nas frutas estão misturados com e doenças crônicas como obesidade, doenças
vitaminas, sais minerais e fibras. É nisso em que cardíacas e câncer. Em outras palavras, estamos
diferem do açúcar branco, refinado, que é usado em caminhando para promoção da saúde, longevidade e
altas concentrações associados com muitos alimentos qualidade de vida.
ruins, repletos de “calorias vazias” (Blauer, 2004). As Por ser um tema “recente” e despertar
fibras contidas nesses alimentos retardam a absorção interesses diversos, recebem também, diversas
de glicose, permitindo que as pessoas se sintam terminologias. Os mais usuais são alimentos
alimentadas por mais tempo. Isto também impede as funcionais, fitoquímicos ou compostos bioativos e
oscilações da insulina, que sobe violentamente com a também nutracêutico, estudado pela “medicina
ingestão de açúcares de tudo que se transforma ortomolecular", que consiste no combate aos
imediatamente em açúcar no organismo, como o pão "radicais livres" através de substâncias
branco e a batata. "antioxidantes", representadas principalmente pelas
vitaminas e pelos minerais.
Os minerais das frutas Lajolo define os nutracêuticos como:
“Alimento semelhante em aparência ao alimento
Os minerais das frutas são minerais quelantes, convencional, consumido como parte da dieta usual,
diferente dos minerais sintéticos, porque o organismo capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos ou
reconhece e usa mais facilmente, é por isso que uma fisiológicos úteis na manutenção de uma saúde física e
dieta rica em minerais orgânicos, é de fácil mental, podendo auxiliar na redução do risco de
assimilação e ajuda a garantir que o organismo doenças crônico-degenerativas, além de manter suas
receba todos os minerais importantes de que precisa. funções nutricionais” (Lajolo, 2001).
Os minerais das frutas e sucos naturais ajudam Estudos epidemiológicos, por exemplo, têm
a manter alta a energia do corpo, os nervos calmos, associado a dieta rica em vegetais ao uso da soja,
os dentes, os ossos e as unhas. Além disso, mantêm o com uma menor incidência de osteoporose e câncer
sangue limpo e seu pH equilibrado. E fazem isso de mama na mulher. A dieta mediterrânea, rica em
neutralizando os resíduos ácidos e alcalinos, ou seja, frutas e vegetais, óleo de oliva e carboidratos, leva a
resíduos da digestão e do metabolismo humano. níveis de colesterol elevados, mas não correlacionado
Em adição a essas funções gerais, cada mineral a um maior número de mortes por enfarto.
tem uma função específica. As funções específicas de
vários dos mais importantes minerais existentes nas 1.10.4 - Fome oculta
frutas estão relacionados abaixo.
O potássio é o mineral responsável pelo “Os fitoquímicos defendem as células do
equilíbrio eletroquímico dos tecidos do coração e de corpo, as quais estão constantemente sofrendo
outros músculos. O ferro é um componente das ataques, seja do meio ambiente, da alimentação
células vermelhas do sangue, que transporta o inadequada ou da própria genética”. A essa
oxigênio para os pulmões e ajuda os alvéolos na necessidade do organismo em receber proteção
respiração. O fósforo é essencial para o bom contra doenças por meio dos fitoquímicos. É uma
funcionamento do cérebro e dos nervos. fome que não se percebe, mas de algo de que o corpo
O cálcio mantém o equilíbrio ácido/alcalino do precisa (De Ângelis, 1999).
sangue e fortalece os ossos. O enxofre ajuda o Estudos epidemiológicos têm confirmado essa
cérebro e os nervos a funcionarem; e é o depurador tendência que indica déficit do consumo de ácidos
do organismo. O iodo alimenta a glândula tireóide, graxos polinsaturados, proteínas de alto valor biológico,
que controla o metabolismo. O magnésio ajuda o vitaminas, cálcio, ferro, iodo, flúor, selênio e zinco. Este
relaxamento muscular, a sintetização das proteínas, a estado nutricional carente tem originado elevadas
produção de energia e é um laxante natural. incidências de doenças crônico degenerativas, dentre
O manganês é necessário para o elas, doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão,
funcionamento cerebral. O selênio funciona em diabetes, obesidade, entre outras. A fome oculta é uma
conjunto com a vitamina E para evitar a oxidação dos fome universal, que agrava principalmente os habitantes
ácidos graxos. O sódio com o potássio, o cálcio e o de países desenvolvidos. Segundo dados da OMS
magnésio, agem na neutralização de ácidos, mantém mostram que essas doenças são responsáveis por 70% a
a integridade das células e conserva a energia 80% da mortalidade nos países desenvolvidos e cerca de
eletromagnética dos tecidos. 40% naqueles em desenvolvimento.
1.10.3 Fitoquímicos ou alimentos funcionais
1.10.5 Antioxidantes
Apesar da conexão entre dieta e saúde ser
reconhecida há muito tempo, à medida que Oxidação em sistemas biológicos
caminhamos para o século XXI, descobrimos cada
Sebastião Elviro de Araújo Neto 11
14. Importância da fruticultura brasileira
A oxidação nos sistemas biológicos ocorre aberrações cromossômicas. Além destes efeitos
devido à ação dos radicais livres no organismo. Estas indiretos, há a ação tóxica resultante de altas
moléculas têm um elétron isolado, livre para se ligar concentrações de íon superóxido e peróxido de
a qualquer outro elétron, e por isso são extremamente hidrogênio na célula.
reativas. Elas podem ser geradas por fontes
endógenas ou exógenas. Por fontes endógenas, Compostos antioxidantes
originam-se de processos biológicos que
normalmente ocorrem no organismo, tais como: Os processos oxidativos podem ser evitados
redução de flavinas e tióis; resultado da atividade de através da modificação das condições ambientais ou
oxidases, cicloxigenases, lipoxigenases, pela utilização de substâncias antioxidantes com a
desidrogenases e peroxidases; presença de metais de propriedade de impedir ou diminuir o
transição no interior da célula e de sistemas de desencadeamento das reações oxidativas.
transporte de elétrons. Os antioxidantes são capazes de inibir a
Esta geração de radicais livres envolve várias oxidação de diversos substratos, de moléculas
organelas celulares, como mitocôndrias, lisossomos, simples a polímeros e biossistemas complexos, por
peroxissomos, núcleo, retículo endoplasmático e meio de dois mecanismos: o primeiro envolve a
membranas. As fontes exógenas geradoras de radicais inibição da formação de radicais livres que
livres incluem tabaco, poluição do ar, solventes possibilitam a etapa de iniciação; o segundo abrange
orgânicos, anestésicos, pesticidas e radiações. a eliminação de radicais importantes na etapa de
Nos processos biológicos há formação de uma propagação, como alcoxila e peroxila, através da
variedade de radicais livres. São eles: doação de átomos de hidrogênio a estas moléculas,
interrompendo a reação em cadeia.
- Radicais do oxigênio ou espécies reativas do Sabe-se que, por um lado, as vitaminas C, E e
oxigênio íon superóxido (O2 -*) os carotenóides funcionam como antioxidantes em
Hidroxila (OH·); Peróxido de hidrogênio (H2O2); sistemas biológicos, e por outro, o processo
Alcoxila (RO*); Peroxila (ROO*); Peridroxila carcinogênico é caracterizado por um estado
(HOO*); Oxigênio sinlete (1O2); oxidativo crônico, especialmente na etapa de
promoção. Além disso, a fase de iniciação está
- Complexos de Metais de Transição associada com dano irreversível no material genético
Fe+3/Fe+2; Cu+2/Cu+ da célula, muitas vezes devido ao ataque de radicais
- Radicais de Carbono livres. Desse modo, os nutrientes antioxidantes
Triclorometil (CCl3*); poderiam reduzir o risco de câncer inibindo danos
oxidativos no DNA, sendo, portanto considerados
- Radicais de Enxofre como agentes potencialmente quimiopreventivos
Tiol (RS·) (Silva e Naves, 2001).
Outras doenças degenerativas do
- Radicais de Nitrogênio envelhecimento, incluindo câncer, doenças
Fenildiazina (C6H5N = N·) cardiovasculares e cataratas são prevenidas ou
Óxido nítrico (NO*) retardadas no início, por esses três antioxidantes
Estes radicais irão causar alterações nas (vitamina C, vitamina E e carotenóides).
células, agindo diretamente sobre alguns Para se ter uma idéia sobre a oxidação natural
componentes celulares. Os ácidos graxos no organismo, “o DNA em cada célula do corpo
polinsaturados das membranas, por exemplo, são recebe aproximadamente 10.000 ataques oxidativos
muito vulneráveis ao ataque de radicais livres. por dia” (Ames et al., 1993).
Estas moléculas desencadeiam reações de
oxidação nos ácidos graxos da membrana • Carotenóides
lipoprotéica, denominadas de peroxidação lipídica, Os carotenóides compreendem um grande
que afetarão a integridade estrutural e funcional da número de compostos, muitos dos quais com
membrana celular, alterando sua fluidez e atividade biológica. Alguns, como o -caroteno, são
permeabilidade. Além disso, os produtos da oxidação pró-vitaminas A (transforma-se em vitamina A no
dos lipídios da membrana podem causar alterações organismo). Outros como o licopeno não são
em certas funções celulares. Os radicais livres podem precursores de vitamina A, mas agem no organismo
provocar também modificações nas proteínas como antioxidantes, na eliminação de espécies ativas
celulares, resultando em sua fragmentação, cross de oxigênio, formadas ou não no nosso organismo.
linking, agregação e, em certos casos, ativação ou Ao contrário de muitas vitaminas, a
inativação de certas enzimas devido à reação dos biodisponibilidade de carotenóides é aumentada com
radicais livres com aminoácidos constituintes da o aquecimento dos alimentos, como no
cadeia polipeptídica. A reação de radicais livres com processamento do tomate ou da goiaba, por exemplo.
ácidos nucléicos também foi observada, gerando
mudanças em moléculas de DNA e acarretando certas
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15. Importância da fruticultura brasileira
• Vitamina C cancerígena ou alteração celular promove
O termo vitamina C é uma denominação sucessivamente o crescimento do câncer. Este
genérica para todos os compostos que apresentam crescimento não ocorre, porém, até que um dos
atividade biológica do ácido ascórbico. Dentre eles, o vários fatores chamado “promotores” aja alterando a
ácido ascórbico é o mais largamente encontrado nos célula. Em câncer de mama, a causa mais comum de
alimentos e possui maior poder antioxidantes mortalidade em mulheres, estes fatores
encontrado nos alimentos e possui maior poder (“promotores”) incluem danos oxidativos, a ação de
antioxidante. Os possíveis efeitos anticarcinogênicos hormônios esteróides, e a ação de certos tipos de
da vitamina C estão relacionados com sua habilidade prostaglandinas (PGS). Na Figura 1.3, estar um
em detoxicar substâncias carcinogênicas e suas esquema altamente simplificado, ilustrando como e
atividades antioxidantes. Além disso, tem-se quais estágios certos fitoquímicos podem agir para
constatado que a vitamina C pode inibir a formação bloquear o processo de promoção do câncer,
de nitrosaminas in vivo a partir de nitratos e nitritos combatendo o efeito de certos cancerígenos,
usados como conservantes, sendo, portanto iniciadores e promotores (Caragay, 1992).
adicionados para prevenir a formação desses
compostos reconhecidamente carcinogênicos. Danos oxidativos
carotenóides, fenólicos, s fibras, terpenos,
• Vitamina E flavonóides, terpenos. fenólicos, sulfetos,
A vitamina E é uma substância lipossolúvel e isoflavonas
Carcinogênicos
existente na natureza como tocoferóis e tocotrienóis, s
em quatro formas diferentes (, , e ), sendo o - Iniciação Promoção do
tocoferol a forma antioxidante mais ativa e do tumor tumor
hormônios
amplamente distribuída nos tecidos e no plasma. A esteróide
vitamina E constitui o antioxidante lipossolúvel mais cumarina, sulfetos, s
flavonóides, isoflavonas fenólicos, flavonóides,
efetivo encontrado na natureza, e importante fator de triterpenóides sulfetos, poliacetilenos
proteção contra a peroxidação lipídica nas Prostaglandinas
membranas celulares e na circulação sanguínea.
Figura 1.3 - Fitoquímicos podem afetar o padrão
• Flavonóides metabólico associado com câncer dos seios.
Os flavonóides são ativos, em geral variáveis, (Adaptada de Pierson, 1992).
contra radicais livres, os quais, por sua vez, podem
estar associados a doenças cardiovasculares (melhor Consumo de carne ou não consumo de vegetais
distribuição periférica do sangue, melhora fluxo
arterial e venoso), câncer, envelhecimento e outras: “Cerca de 80% dos cânceres de mamas,
- antiinflamatória; próstata e de cólon são atribuídos aos hábitos
- estabilizadora do endotélio vascular – melhora alimentares, especialmente consumo de carnes
função da célula endotelial, diminuindo a vermelhas e gorduras” (Binhham, 1999, citado por
permeabilidade; De Angelis, 2001).
- antiespasmódica- ação principal na musculatura lisa; A carne parece estar associada com câncer,
- cardiovascular- - antialérgico; apenas em povos que não tem uma dieta variada. Os
- antiulcerogênico; franceses e os mediterrâneos em geral, têm uma dieta
- antivirais. variada e rica em vegetais frescos, azeite de oliva,
Os flavonóides são constituídos vinho e carne de todos os tipos. Ao contrário dos
principalmente de antocianina, flavonois, flavonas, americanos, esses povos comem com calma, em
catequinas e flavonoides. ambiente descontraídos, fatores também relacionados
Para se ter uma alimentação saudável, com prevenção de doenças e qualidade de vida.
recomenda-se comer pelo menos cinco (5) refeições Uma coisa ninguém tem dúvidas: vegetais
de frutas e hortaliças diariamente. As frutas e fazem bem. Uma dieta rica em frutas, e hortaliças
hortaliças são as principais fontes dos três nutrientes claramente reduz as chances de ter câncer no
antioxidantes mais importantes: vitamina C, estômago, na boca, no intestino, no reto, no pulmão,
carotenóides e vitamina E. na próstata e na laringe, além de afastar os ataques
cardíacos. Frutas e hortaliças amarelas têm caroteno,
1.10.6 – Prevenção de câncer que previne câncer no estômago, a soja possui
isoflavona, que diminui a incidência de câncer de
Causas de indução mama e osteoporose; o alho tem alicina, que fortalece
o sistema imunológico e por aí vai.
Até o momento, a pesquisa determinou muitos Mas, a carcinogênese que não dependem da
aspectos de desenvolvimento do câncer, se conhece alimentação pode ocorrer inclusive em vegetarianos,
que o crescimento do tumor tem dois estágios com ocorrência de câncer de estômago, por exemplo,
críticos: iniciação e promoção. A “iniciação” pois outros fatores estão relacionados com câncer,
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16. Importância da fruticultura brasileira
como a predisposição genética, o tabaco, o álcool, Muitas frutas são adequadas para as pessoas de
infecções viróticas e o ambiente (Anelli, 2004). Tipo O. Mas, algumas frutas são consideradas
1.10.7 – As frutas e o tipo sanguíneo nocivas. A razão por que ameixas são tão benéficas
ao Tipo O é que a maior parte das frutas de cor
Os doutores James D’Adamo e Peter vermelha escura, azul e roxa tende a provocar uma
D’Adamo, revelaram por meio de suas pesquisas e reação alcalina em vez de ácida no aparelho
estudos, que a escolha do tipo de alimento não deve digestível. O aparelho digestivo das pessoas de Tipo
ser casual, simplesmente por questões culturais ou O tem alto nível de acidez e precisa equilibrar a
religiosas, mas que deve obedecer o tipo sanguíneo alcalinidade para reduzir úlceras e irritações da
de cada pessoa. Seus estudos estão publicados no mucose estomacal.
livro A dieta pelo tipo sanguíneo, publicado em 1996, Devido a sua alcalinidade, sucos de hortaliças
lançado no Brasil pela Editora Campus, em 1998 e são mais indicados para os de Tipo O que sucos de
reeditado em 2005 (D’Adamo e Whitney, 2005). frutas. Os sucos de frutas devem ser de frutas pobres
O sistema imunológico encontra-se no sangue, em sacarose (Tabela 1.9).
e possui mecanismos sofisticados para determinar se O suco de abacaxi pode ser particularmente
uma substância é estranha ou não ao corpo. Um dos eficaz para evitar retenção de líquido e inchaço,
métodos reside nos marcadores químicos chamados ambos fatores que contribuem para o aumento de
“antígenos”, que são encontrados nas células do peso.
corpo humano.
Quando o antígeno do tipo sanguíneo percebe A dieta para o tipo A
que um antígeno estranho entrou no sistema, a As pessoas de sangue Tipo A se dão bem com
primeira coisa que ele faz é criar anticopos contra dietas vegetarianas – herança de seus ancestrais
esses antígenos. agricultores, mais sedentário e menos guerreiros.
Quando ocorre uma reação química entre o Precisam consumir alimentos em estado o mais
sangue e os alimentos consumidos, essa reação faz natural possível: frescos, puros e orgânicos. Esse
parte da herança genética do tipo sanguíneo. É cuidado é importante para o sensível sistema
estranho, mas verdadeiro que hoje, no século XXI, imunológico dos organismos. Pois são pessoas
nosso sistema digestório e imunológico ainda biologicamente predispostas para diabetes, câncer e
mantenha uma preferência pelos alimentos que doenças do coração.
nossos ancestrais com o mesmo tipo sanguíneo O sistema digestível de pessoas Tipo A é mais
comiam. alcalino que ácido.
Sabe-se disso devido a um fator chamado As laranjas devem ser evitadas, pois elas
lectina. As lectinas são abundantes e variadas irritam o estômago do Tipo A e interferem também
proteínas encontradas nos alimentos, têm propriedade na absorção de importantes nutrientes. Embora a
de aglutinação, afetando o sangue. acidez estomacal seja em geral baixa nos organismos
As lectinas dos alimentos incompatíveis com o de Tipo A e possa admitir um estimulante, as laranjas
antígeno de um determinado tipo sanguíneo, ao irritam a delicada mucosa estomacal. O limão mais
serem ingeridas atingem um órgão ou sistema ácido que a laranja, é excelente para esse tipo
corporal (rins, fígado, cérebro, estômago etc.) e sanguíneo, pois apresenta tendência de alcalinidade
começam a aglutinar células sanguíneas nessa área. na digestão, auxilia na digestão e eliminação do muco
do organismo, recomendado inclusive para
A dieta para o tipo O tratamento de azia (acidez no estômago).
O aparelho digestível de pessoas Tipo O A dieta para o tipo B
conserva a memória dos tempos antigos. A dieta rica As maiorias das frutas podem ser consumidas
em proteína animal de caçador-coletor e as enormes pelas pessoas de Tipo B, pois possuem aparelhos
demandas físicas do sistema dos primitivos seres digestível muito equilibrados, com um saudável nível
humanos de Tipo O provavelmente manteve a ácido-alcalino, de modo que, se pode consumir frutas
maioria deles em um branco estado de cetose – uma que são muito ácidas para outros tipos de sangue.
condição em que o metabolismo do corpo fica O abacaxi pode ser particularmente benéfico
alterado. A cetose é o resultado de uma dieta rica em para organismos de Tipo B. que são susceptíveis a
proteína e em gordura que inclui poucos carboidratos. edemas – especialmente quando não inclui laticínios
O corpo metabolisa as proteínas e gorduras em e carnes na dieta. A bromelaína, uma enzima
cetoses, que são usadas em lugar dos açúcares numa existente no abacaxi, ajuda-o a digerir mais
tentativa de manter os níveis de glicose estáveis. facilmente os alimentos.
Para digerir melhor uma dieta rica em carnes,
o sistema digestível de pessoas Tipo O é ácido. Por A dieta para o tipo AB
isso, uma dieta ácida, acidifica cada vez mais o
estômago dessas pessoas, causando problemas de O sangue Tipo AB é biologicamente
saúde, como úlcera e gastrites. complexo. Ele não se encaixa bem em nenhuma das
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17. Importância da fruticultura brasileira
outras categorias. Vários antígenos fazem com que o goiabas. Mas o abacaxi é um excelente auxiliar da
AB às vezes seja semelhante ao A, outras ao B e às digestão para os organismos de Tipo AB.
vezes parece uma fusão de ambos – uma espécie de No Quadro 1.9, está a relação de amêndoas,
tipo sanguíneo centauro. frutas e sementes que são benéficas, nocivas e
As pessoas de Tipo AB compartilham a maior neutros, que não apresentam efeitos ao organismo.
parte das intolerâncias e preferências das de Tipo A
por certas frutas. Frutas alcalinas, como as uvas, as 1.5.8 As frutas e a energia do corpo
ameixas e frutas da família das rosáceas (morango,
amora, framboesa etc), podem ajudar a neutralizar o As causas da falta de energia no organismo são
efeito dos cereais que provocam acidez em seus várias, uma delas é o consumo de açúcar simples,
tecidos musculares. contido nas “gulosemas”, sucos artificiais e
As pessoas de Tipo AB, não se dão bem com refrigerantes, que estimulam o organismo. Mas, logo
certas frutas tropicais especialmente mangas e a sensação de energia é substituída pelo cansaço.
Quadro 1.9 – Amêndoas, frutas e sementes recomendadas na dieta de pessoas de diferentes tipos sanguíneos.
Tipo O
Benéficos Neutros Nocivos
sementes de abóbora torradas, amêndoas, avelãs, gergelim, nozes em amendoim,casctanha-de-caju e do Pará,
sementes de linhaça geral, pinhão pistache, sementes de girassol
ameixas em geral, figos frescos e abacate, abacaxi, bananas, caqui, açaí, acerola, amora-preta, banana-da-
secos, goiaba, jaca, manga carambola, limão, maçã, mamão, terra, coco (água e leite), cupuaçu,
melancia, melão, morango, pêra, pêssego, graviola, kiwi, laranja ácida, maracujá,
uvas melão cantalupo, tangerina ácida.
Tipo A
Benéficos Neutros Nocivos
amendoim, sementes de linhaça e amêndoas, avelãs, castanha-portuguesa, castanha-de-caju, e castanha-da-
de abóbora torrada gergelim, nozes em geral, pinhão, girassol amazônia
abacaxi, açaí, ameixas, amoras, abacate, caqui, carambola, goiaba, kiwi, bananas em geral, coco (água e leite),
cerejas, damascos, jaca, figos kunquat, maçã, melancia, morango, pêra, cupuaçu, laranja ácida, manga,
frescos e secos, limão pêssego, uvas maracujá, melões em geral, mamão,
tangerina
Tipo B
Benéficos Neutros Nocivos
nozes-negra amêndoas, castanha-portuguesa, castanha- amendoim, castanha-de-caju, pinhão,
da-amazônia, linhaça gergelim, girassol
abacaxi, ameixas, bananas (exceto ameixas secas, amora, banana-da-terra, abacate, caqui, coco (água e leite),
banana-da-terra) jaca, mamão, figos, goiaba, kiwi, laranjas, limão, maçã, carambola, romã
melancia, uvas manga, melão, morango, pêra, pêssego,
tangerina
Tipo AB
Benéficos Neutros Nocivos
amendoim, castanha-portuguesa, amêndoas, castanha-de-caju, linhaça, avelã, abóbora-moranga, gergelim,
nozes-de-natal castanha-da-amazônia, pinhão girassol
abacaxi, ameixas, cerejas, figos, amora, banana-da-terra, fruta-pão, abacate, caqui, bananas,, caqui,
jaca, kiwi, limão, melancia e uvas kumquat, maçã, mamão, melão, morango, carambola, coco (água e leite), goiaba,
pêra, pêssego, tangerina laranja, manga
Fonte: Teixeira (2002); D’Adamo (2005)
células do cérebro, estimulando-as a produzir a
Os carboidratos complexos, encontrados em acetilcolina, um neuro-transmissor do sistema
todos os cereais, frutas, hortaliças e leguminosas, nervoso central que age sobre outras células
proporcionam uma energia mais permanente no nervosas, bem como sobre os músculos e órgãos do
organismo, evitando a fadiga anormal. corpo inteiro. Existem muitos indícios associados as
Além dos carboidratos complexos, as frutas células que usam a acetilcolina à formação da
são ricas em vitaminas do complexo B, que ajudam a memória.
combater o cansaço e dobram sua energia em questão Outro estimulante encontrado nas frutas são as
de minutos. enzimas.
No complexo B, encontra-se a colina, uma das As enzimas das frutas e dos sucos naturais são
poucas substâncias que consegue penetrar na rapidamente utilizadas, para aumentar a energia e
chamada barreira sanguínea do cérebro, atingindo as promover a cura e regeneração. Elas melhoram o
Sebastião Elviro de Araújo Neto 15