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ÁsiaKi
Oriente na Amazônia? Este foi o ousado desafio      muito menos, do outro lado do mundo. Logicamente, as
    dos estudantes de curso de Comunicação Social –
          ÁsiaKi                                          práticas culturais são diversas e singulares. Entretanto,
    Jornalismo, da Universidade Federal do Pará, ao       somos, em sua maioria, homens e mulheres urbanos,
    idealizar a Revista ÁSIAKI. A proposta era combinar   consumidores de uma cultura global e híbrida por
    diversidade cultural, novas visões de mundo e a       natureza.
    boa e velha dose de entretenimento cotidiano.           Por conta dessa mistura, reunimos o que de Oriente
    Conseguimos? Ao leitor, deixamos a tarefa de          tem na Amazônia e o que de Amazônia tem no Oriente.
    folhear essa idéia.                                   Esporte, literatura, cinema, economia, religião. Dos
       Mas, o que a cultura oriental tem haver com a      diversos temas aos mais invisíveis dos prazeres de uma
    “Belém-Amazônia-Brasil”? Diríamos quase tudo.         população que convive com o rotineiramente inusitado.
    O cotidiano daqui não diferente do daí, do de lá e,



                             Nesta edição
·     Visual Kei em Belém. pág 3                            ·   A tradição da literatura japonesa. pág 35

·     O Laço entre Brasil e Japão. pág 11                   ·   A ideologia do judô. pág 39

·     Espiritualidade do Seicho-no-ie. pág 14               ·   O budismo e a sociedade de valores. pág 42

·     A rejuvenescedora massagem tailandesa. pág 18 ·           A terapia contra demônios. pág 44

·     Conexão digital Brasil Japão. pág 22                  ·   Realidade aumentada. pág 47

·     Os quimonos de Belém. pág 25                          ·   A arte da imortalidade. pág 49

·     Viaje pela mundo de Chihiro. pág 29                   ·   A filosofia do taoísmo. pág 52

·     A arte da dança oriental. pág 31                      ·   O país do futebol. pág 55

                                                            ·   O canto transcendental. pág 59




             Ficha técnica
       * Professores responsáveis: Ana Petruc-
       celli, Ronaldo e Simone Romero
       .
       * Produtores de textos e fotos: Abílo
       Dantas; Aílton Faro; Andréa Mota;
       Brena Freire; Clareana Rodrigues;
       Felipe Cortez; José Fontelles; Josué Ri-
       beiro; Killzy Lucena; Paula Catarina;
       Raphael Freire; Suanny Lopes; Wellington
       Lima

       * Diagramação e tratamento de imagens:
        Raphael Freire
ÁsiaKi 3




                         Cultura pop japone-
                         sa em Belém
                                              Muito vermelho, flores coloridas, karaokê...
                                Tradicionalmente, o Japão é conhecido por expressar sua
                                    cultura brilhantemente colorida por meio de comidas
                                      diferentes, quimonos de cores vibrantes, teatro com
                                personagens típicos. Mas durante a 2ª Guerra Mundial, a
                                vida dos japoneses mudou como se tivesse desaparecido
                                  toda a tradição e encantamento da sociedade japonesa.



                                                     O
                         por: Felipe Cortez e Raphael Freire


                                                               impulso e o desejo de expressar seus estilos e car-
Foto: Felipe Cortez




                                                             acterísticas que lhes são próprios foram reprimidos. Os
                                                             japoneses viviam em uma sociedade onde os valores
                                                             individuais e os padrões de homogeneidade eram im-
                                                             postos com a justificativa para alcançar a supremacia
                                                             econômica e tecnológica, na tentativa de reerguer o país
                                                             que havia sido destruído durante a guerra. Em casa, na
                                                             escola e entre amigos, a regra era simplesmente aceitar
                                                             e seguir os mandamentos impostos pelo grupo. Com
                                                             quase todos os prazeres individuais negados, a nação
                                                             perseguia seus objetivos em concordância harmoniosa
                                                             e sempre com pensamento coletivo, deixando de lado
                                                             a riqueza cultural e a variedade individual.
                                                                Cansados dessa uniformização e padronização, di-
                                                             versos movimentos surgem com o objetivo de buscar
                                                             a individualidade e expressão dos sentimentos mais
                                                             profundos. Um dos precursores é o J-Rock ou rock
                                                             japonês, movimento musical de contra-cultura que
                  Jaime Neto é o precursor do movimento
                                                             surgiu com a intenção de romper com convenções. “Os
                                                           jovens japoneses não tinham imagem definidas deles mes-
                                                           mos. Por não saberem, ainda, a pensar como indivíduos,
                                                           eles queriam se libertar das semelhanças, abraçando o
                                                           diferente, o exótico”, diz Ken Ohira, autor de 10 livros
                                                           sobre psiquiatria de adolescentes. Todo esse desespero
4 ÁsiaKi




                                                                                                    Foto: Felipe Cortez
pela busca da diferencia-
ção do todo é perfeita-
mente vista por meio de
um movimento visual
chamado de Visual Kei
ou simplesmente VK.
    Antes de tratarmos
mais a fundo sobre o
Visual Kei, uma coisa
deve ser esclarecida:
todo VK pertence ao
J-Rock, mas nem todas
as bandas adotam o es-
tilo VK. Ambos estão                        A turma de VK’s se reúne todos os fins de semana na cidade
estreitamente relacionados.
Se você está lendo essa matéria e chegou até aqui con-
seguindo perceber que VK e J-Rock não são a mesma
coisa, parabéns! Mas se você ainda não entendeu essa
diferença, a hora é agora.
   Imagine que você é um adolescente japonês que está
cansado de seguir as normas que lhe são impostas e de
se vestir quase igual a todo mundo. Por ser um estilo
musical popular no Japão, você ouve J-Rock e gosta
bastante da mistura de sons. Depois fica sabendo o que
compõe todo esse movimente e começa a se vestir como
os integrantes dessas bandas. Pronto você já é um VK!
    A partir de agora, você passa a usa roupas muito
chamativas, maquiagem bastante carregada, muitas vezes
aposta nas tentativas de copiar modelos de personagens
de animes... Segundo a psicóloga Sandra Bastos, tipos
                                                                 O Visual Kei é apenas uma
de comportamentos como este ocorrem principalmente
                                                                 vertente dentro do J-Rock,
devido uma fase conhecida como polarização, onde o
                                                              que pode ser considerado um
desvio de atenção do âmbito familiar é transferido para
                                                              dos principais, ou o principal,
o social. “O adolescente começa a descobrir uma outra
                                                                 movimento que romperam
visão de mundo, ele está deixando de priorizar o núcleo
                                                                  com convenções e com a
familiar e começa a priorizar o núcleo social e as relações
                                                              desindividualização no Japão.
interpessoais”, explica.
    Com essa transformação o adolescente procura se
apoiar em alguém que o entenda. “Quando começa a
ter os primeiros embates com a família, o grupo social
funciona como um suporte para esta fase de insegurança,
descoberta, transição. O grupo é compreensivo, acha que
ele está certo. A necessidade de se sentir igual, de ser
aprovado em um grupo, pode ser motivada por diver-
ÁsiaKi 5
Foto: Felipe Cortez




                                                                              sos fatores. Todos os adolescentes querem
                                                                              chamar atenção, com tanto que não chame
                                                                              atenção sozinho”, explica Sandra.
                                                                                Essa busca pela individualidade do grupo
                                                                              muitas vezes é alvo de preconceitos e estra-
                                                                              nhesa, principalmente pelos mais tradicio-
                                                                              nalistas. “Já aconteceu de eu estar andando
                                                                              na rua e uma senhora, quando me viu,
                                                                              desviou o caminho para não passar perto
                                                                              de mim”, conta a promoter e empresária Cris
                                                                              Vasconcelos, 30, dona da banca Cristal
                                                                              Mistical e VK.
                                                                                 Existem bandas que não abusam de
                                                                              roupas e maquiagens elaboradas e per-
                                                                              formances extravagantes – seguem uma
                                                                              tendência mais ocidental na maneira de
                                                                              se vestir –, mas tocam J-Rock, entre elas
                                                                              estão as bandas 175 R, L’Arc~en~Ciel, Sex
                                                                              Machineguns, Wyse, BUCK-TICK. “Pro ado-
                                                                              lescente ‘o mundo é seu limite’. O processo
                      Algumas garotas se vestem com roupas maculinas
                                                                              de rebeldia, de ser diferente, de querer
                                                                              aparecer é passageiro”, justifica Sandra.
                             Esse estilo musical é bem difícil de ser classificado, pois cada banda possui a sua maneira
                           de tocar e nem sempre seguem o mesmo estilo o tempo todo. As bandas de J-Rock sofrem
                           influência de outras derivações do rock, punk e metal. Quando grupos musicais resolvem
                           mudar a sonoridade das músicas, eles não param por aí: mudam todo o aparato, o interesse e
                           o pensamento. Quando questionados sobre a qualidade das músicas, os jovens disseram que
                           retratam a realidade da nossa sociedade. “A música não é para ser entendida, mas para ser
                           sentida”, conta Giovanna Sovano, 17, VK desde os 14 e gosta de ser chamada de Gika.
                             Apesar desse estilo se chamar J-Rock (rock japonês), ser popular no Japão e as bandas
                           serem compostas todas por japoneses, a
                           maioria dos nomes das bandas não são es-
                                                                                                                               Foto: Felipe Cortez




                           critos em japonês: Malice Mizer, Dir em Grey,
                           X Japan, entre outras.
                              Em Belém existem cinco bandas (Otaku
                           Band, X Japan Cover, Shinob 88, Kuroi
                           Usaghi e Hasenga) que se dedicam a tocar
                           no estilo do rock japonês e que também são
                           adeptas do Visual Kei, as bandas geralmente
                           tocam em reuniões feitas pelos próprios
                           integrantes ou em eventos como o Japan
                           Rock Festival, que está sendo organizado
                           por Cris.                                                                   Alguns se vestem para
6 ÁsiaKi
Foto: Felipe Cortez




                                                                                     Otaku, é?
                                                                                     “O seu clã” ou “a sua família”
                                                                                     são os significados originais
                                                                                     da palavra japonesa otaku.
                                                                                     Porém, no Japão da década de
                                                                                     80, Otaku virou sinônimo de
                                                                                     fanático ou maníaco. A popu-
                                                                                     larização da palavra entre os
                                                                                     fãs de anime ocorreu por vol-
                                                                                     ta de 1989, quando o croni-
                                                                                     sta Akio Nakamori utilizou a
                                                                                     palavra em um de seus livros,
                                                                                     “A era de M”, cujo enredo
                           O hobbie dos jovens é posar para fotos nos fins de semana descreve uma série de assas-
                                                                                     sinatos praticados por um
                      VK’s de Belém buscam                                           viciado em animes e mangás
                      identidade própria                                             pornográficos. A publicação
                         O movimento que mudou a cara do rock japonês contribuiu para disseminar
                      a partir da década de 80 surgiu em Belém no seio de uma imagem pejorativa do
                      um outro fenômeno da cultura nipônica, o universo otaku, que passou a sugerir
                      Otaku.                                                         o portador de qualquer tipo
                        Em 2004, um amante dos desenhos japoneses chamado de obsessão dentro e fora de
                      Jaime Netto, 16, plantou as sementes do Visual Kei na Nihon. O viciado em videog-
                      Cidade das Mangueiras. Ele percebeu que, apesar dos ames, por exemplo, é um g–mu
                      eventos direcionados para os fãs de desenhos japoneses já otaku. Já um pasokon otaku
                      apresentarem vídeos-clipe das bandas visuais de J-Rock, seria um maníaco por com-
                      ninguém via nisso a inspiração para se vestir como estes putadores. Anime e mangá
                      artistas, como até então só se fazia com personagens de otakus são os fãs do universo
                      desenhos.                                                      dos desenhos japoneses.
                        Jaimediz que sempre foi “alucinado” por cultura Em Belém, o fenômeno Otaku
                      japonesa. Sempre participou das festas promovidas pela já se encontra consolidado,
                      comunidade nipônica local e buscou ler tudo o que lhe mas reservado a um pequeno
                      caia nas mãos sobre a cultura oriental. “Até que um dia, público, composto por fãs que
                      numa revista de variedades que o consulado japonês buscam trocar informações
                      do Pará distribui, tinha uma matéria sobre Harajuku. sobre seus desenhos favoritos
                      Eu achei curioso e resolvi pesquisar mais na internet. e acabam se tornando grandes
                      Nessa época, em meados de 2003, eu nem sabia que amigos, formando ramificadas
                      havia eventos de anime em Belém e que faziam cosplays. redes de relações. Uma delas
                      Daí, no ano seguinte, quando fui ao primeiro evento, vi pode ser observada no Orkut,
                      pessoas fazendo cosplay e clipes de j-rock como atrações
                      do evento, mas ninguém fazia VK”.
                       No Animazon, realizado no Taikai (tradicional encontro
                      de otakus em Belém) de 2005, Jaime, acompanhado de
                      Giovanna Sovano, amiga da escola, usava roupas pretas
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 mas precisamente na comuni-         e rasgadas e maquiagens feitas pelos próprios adoles-
dade Animazon. “A gente não          centes, que lembravam os VK’s da década de 90, em que
      conhece todo mundo, mas        predominou o Kote Kote Kei (ver boxe ‘Gêneros de Visual
     essas redes de relações per-    Kei’). “Já no nosso segundo VK nos preocupamos em
   mitem que a gente possa di-       mandar fazer as roupas em costureiras e tivemos mais
vulgar os eventos”, diz Arcan-       cuidado com cabelo e maquiagem.
   jo – na verdade Alexandre –         Algum tempo depois, o garoto adotou um pseudônimo,
otaku de 24 anos que continua        como faz todo VK. Seu novo nome era Hooki. “Hooki
  firme no que gosta e faz cara      pode significar várias coisas: abandono, rebeldia, difer-
  feia para quem ainda acredita      ente e vassoura. Naquela época o que eu queria mesmo
   que anime é coisa de criança      eram os três primeiros significados. Vale lembrar que
      ou adolescente. A divulga-     todo artista do cenário J-Rock/Visual Kei adota um
  ção do primeiro Tomodachi de       pseudônimo”, Jame continua dando exemplo do guitar-
2008, ocorrido em março, por         rista da banda The Gazette, conhecido como Aoi (significa
  exemplo, foi feita apenas por      “Azul”), que, na verdade, se chama Shiroyama Yuu, um
    Orkut. Assim, conseguimos        nome comum no Japão.
        reunir no Cefet-PA cerca     “Inspirado nisso, muitos
    de 700 otakus. Os principais     fãs adotam pseudônimos
          eventos de Belém são o     também”.
 ‘Otaku no Matsuri’, ‘Tomodachi-        Hoje, os eventos que
 Con’, ‘Animazon no Taikai’ e o      reúnem os otakus da
  ‘Animazon Connection’ (os dois     cidade recebem VK’s
últimos se diferenciam apenas        aos montes. Entretanto,
  pelos grupos organizadores).       também há encontros
       Nesses eventos, os otakus     exclusivos para esses
 basicamente fazem concursos         grupos, que ocorrem
    de cosplay, onde quem vence      geralmente sob as for-
      é quem imita a atitude e se    mas de reuniões fecha-
  veste mais fielmente como os       das em locais específicos
  seus personagens de desenho        – casas, salões alugados e
favoritos; cantam os animesongs      praças reservadas – e de
      ou outras músicas asiáticas    passeios do tipo Hara-
         que gostam. Além disso,     juku, em que os VK’s
                                                                 Rege, celebridade entre os VK’s de Belém
jogam games como Super Smash         desfilam, em grupo, por
 Brothers e The King of Fighters e   lugares públicos como
   também dançam, conhecem           um shopping, uma praça ou um bosque. Já nas reuniões
   novos otakus e trocam idéias      fechadas, os VK’s ouvem e conversam sobre J-Rock,
    sobre os velhos e novos an-      cantam músicas que gostam em karaokês, brincam, para
                   imes da praça.    não deixar nada passar em branco, se fotografam. É a
                                     fotografia aliás, que permite o contato de outros otakus
                                     com o universo do VK através de sites de relacionamento
                                     como o Orkut, ferramenta virtual já enraizada na cultura
                                     comunicacional desta turma.
                                        Reges, lembra que Visual Kei não está ligado apenas
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à aparência. “Visual Kei não é só pose, é uma atitude.
Não adianta querer fazer um figurino bem feito
se a pessoa não conhecer o j-rock e as bandas.
VK não é uma tribo, é um movimento”, diz o
jovem de 18 anos, vocalista de pelo menos três
bandas de música japonesa de Belém, também
animador de encontros, cosplayer e, além de tudo
isso, o rapaz ainda se dedica em ser o hair design
do grupo. Isso mesmo, Reges prepara os cabelos
dos amigos VK’s e o próprio, além de conhecer
técnicas de maquiagem. Não é à toa que ele cursa
Design em uma faculdade de Belém. Para ver o

Harajuku: O outro lado do espelho
  Belém não possui um “point” específico para
o Visual Kei. Normalmente, nossos VK’s se
reúnem em locais como Parque da Residência e Casa
das Onze Janelas, onde, dizem com unanimidade, ficam
a salvo de “olhares maldosos”. Entretanto, no berço do
movimento músico-visual japonês, há um bairro que           Um dos locais
acolhe todos os fins de semana, não apenas os VK’s,         preferidos dos
mas todas as tribos de Nihon..                              VK’s de Belém
  Quem chega de trem à província de Shibuya (em Tóquio)     é o complexo
pela linha Yamanote e dá os primeiros passos para fora da   Feliz Lusitania
estação Harajuku pode se sentir transportado para outra
dimensão da moda alternativa, onde seres, aparentemente
jovens e humanos, desfilam com o que há de mais in-
imaginável na arte de se vestir. Adolescentes as portas
da vida adulta, perseguidores do reconhecimento
à sua singularidade. Bairro tradicional da moda                               Foto: Felipe Cortez
underground japonesa, Harajuku, herdeiro do
nome da estação que circunda, é, aos domingos,
um dos maiores palcos da imaginação oriental.
  Grupos de adolescentes com estilos em comum
transitam pelas ruas, consomem nas lojas das
grandes grifes, conhecem outros jovens e obser-
vam peças que poderão usar de um jeito diferente
do observado no próximo domingo. Garotas
Gyaru de ar infantil posam loiras e bronzeadas
para as lentes curiosas de amigos e turistas. Loli-
tas, góticas ou elegantes, observam sorridentes os
artistas de rua não menos exuberantes, rodeados
de cosplays de bandas de J-Rock e Visual Keis.
Muitos flashes, vídeos gravados, apresentações de novas
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                                                bandas e a tecnologia “made in japan” afloram a todo
                                                minuto em cada esquina.
                                                  No fim da tarde de domingo, começa a metamorfose. O
                                                que eram seres de intrigante e, muitas vezes, apaixonante
                                                aparência, entram em casúlos – geralmente os banheiros
                                                de lanchonetes como McDonald’s e Burger King – para
                                                tornar às suas formas originais. Harajuku recebe todos os
                                                domingos entre 3 e 4 mil jovens que, não raro, passaram
                                                a semana ralando na escola, dando duro no trabalho e se
                                                comportando bem no ambiente familiar para, naquele
                                                dia, provar sua capacidade de superar moda(s) do do-
                                                mingo anterior, desenhando, produzindo e usando suas
                                                próprias peças.

                                                Criatividade e grana
                                                                                        Incorporar o
                          Foto: Felipe Cortez




                                                                                   grotesco Eroguro Kei
                                                                                   ou o tradicional An-
                                                                                   gura em um figurino
                                                                                   oportuno não é tarefa
                                                                                   para qualquer um.
                                                                                   Se a criatividade é
                                                                                   fundamental para a
Os garotos também ousam                                                            confecção da peça, a
com roupas femininas                                                               verba para continuar
                                                                                   produzindo é indis-
                                                                                   pensável. O processo
                                                                                   de criação é demora-
                                                                                   do e exige paciência.
                                                                                   Basicamente, segue
                                                                                   as seguintes etapas:
                                                                                   1) escolha do visual,
                                                pode ser cosplay do integrante de uma banda ou mais
                                                uma criação pessoal; 2) a pesquisa dos materiais, peças
                                                e assessórios que vão compor o figurino; 3) testes e
                                                pesquisas de cabelo e maquiagem; 4) teste de tecidos,
                                                linhas e assessórios com a costureira; 5) finalização do
                                                figurino.
                                                   Ter paciência ajuda muito na escolha dos elementos
                                                adequados a cada composição, já que é quase impossível
                                                alcançar o resultado ideal num primeiro instante. Feira
                                                pós-moderna, a internet é um dos locais mais indicados
                                                para o início das pesquisas de construção do figurino.
                                                Sites de venda são as principais barracas para consulta.
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 Encontrar uma costureira paciente e com habilidade de
 cópia suficiente para produzir exatamente o que se pede
 é outra tarefa difícil, mas não impossível. É com essa
 profissional que eles trocam informações diariamente
 em busca da costura perfeita ou da manga de corte reto
 do casaco para um visual aristocrático, por exemplo.
 Diferente do Cosplay, em que a necessidade de alcançar
 uma semelhança extrema com o original é o que conta,
 a criação do VK é livre e permite o reaproveitamento
 de peças. E, em se tratando de Visual Kei, o importante
 é agregar o máximo de informações e inovação. Botas
 com salto plataforma velhas são exemplos de peças
 aproveitadas por adeptos de vários estilos VK.
 O preço das roupas, assessórios e cosméticos varia
 bastante. Existem visuais em que se gasta R$30 – com
 maquiagem e alguns detalhes – e outros que custam
 R$300. Não existe um preço fixo, pois cada criação é
 única. Mas a construção sempre exige um investimento.
 “As roupas do meu primeiro visual eu tinha em casa. Já
 o segundo, em que fiz cosplay do Mana (do Malice Mizer)
 em Beast of Blood, tive que pegar várias fotos e levar na
 costureira”, diz Gio-




                                                                               Foto: Felipe Cortez
 vanna Sovano, 17, que
 fez seu primeiro VK
 em 2005.
    Quem faz VK em
 Belém, então, é quem
 possui, além da criativ-
 idade, recursos para a
 empreitada. Dinheiro
 esse que vem do tra-
 balho próprio – como
 fazem muitos jovens
 em Harajuku para ali-
 mentar seus hobbies
 – ou dos pais. É pos-
 sível obter ajuda para a
 produção de figurinos
 com quem entende As ruas de Belém servem como passarelas de desfile de moda
 disso em Belém. Mem-
 bros da comunidade Visual Kei Pará, do Orkut, ensinam
 onde pesquisar e indicam costureiras que já trabalharam
 com VK e cosplay.
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               O laço entre
               Brasil e Japão
               Culturalmente falando, Brasil e Japão são bem diferentes.
               Seja nas religiões tradicionais de cada um, nas relações
               internacionais ou na culinária. Enquanto um cria seus filhos
               para o mundo, o outro abriga três ou mais gerações da
               mesma família sob o mesmo teto; um produz filme carregado
               de mazelas do real, o outro exporta as lutas no patamar de
               arte. Entretanto, um alimento os une, o arroz.
               por: Andréa Mota
                                                                                 Ingrediente essencial na
                                                                              alimentação dos dois países,
Foto: Google




                                                                              o arroz se apresenta em
                                                                              diversas versões e acom-
                                                                              panhamentos: tradicional, à
                                                                              grega, sopa de arroz do pai
                                                                              José (mais uma dieta para
                                                                              emagrecer) e os diversos
                                                                              tipos de sushi que existem:
                                                                              Niguiri, Gunkan, Norimaki,
                                                                              entre outros. Sozinho ele in-
                                                                              tegra a lista dos mais nutriti-
                                                                              vos alimentos para consumo.
                                                                              Já serviu de moeda para
                                                                              pagamentos de impostos no
               O Brasil é um dos maiores expotadores de arooz do mundo        Período Edo (1660 – 1800),
                                                                              no Japão. Além de ser con-
                                                                              siderada uma das armas da
                                                  longevidade. Atualmente teve o seu genoma decodificado
                                                  em pesquisa realizada por cientistas de vários países,
                                                  dentre eles Brasil e Japão.
                                                     No Japão, o arroz é assunto de Estado. A rizicultura
                                                  transformou a planície de Kanto, região leste do Japão,
                                                  em uma zona bastante povoada. O cereal foi a principal
                                                  atividade econômica do país até metade do século XIX,
                                                  mesmo com as limitações de clima e solo da região.
                                                     O território japonês apresenta limitações, devido ao
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                 fato de 80% de área apresentar relevo montanhoso –             No Japão, o arroz é assunto
                 meio desfavorável para atividades agrícolas – e apenas         de Estado. A rizicultura
                 16% de planícies, onde o cultivo é facilitado. Já o clima      transformou a planície de
                 da região é favorável a esse setor agrícola, principalmente    Kanto, região leste do Japão,
                 pela ocorrência de quatro estações do ano responsáveis         em uma zona bastante
                 em fornecer calor e umidade, exigida para o sucesso do         povoada. O cereal foi a
                 cultivo.                                                       principal atividade econômica
                    Antes mesmo de vir a ser um dos produtos agrícolas          do país até metade do
                 mais nutritivos, o Oryza Sativa – como o arroz é nomeado       século XIX, mesmo com as
                 cientificamente – é considerado um alimento tradicional        limitações de clima e solo da
                 na cultura agrícola do Brasil desde 1530 quando foi en-        região.
                 contrado o primeiro registro de cultivo na capitania São       O território japonês apresenta
                 Vicente, no período colonial.                                  limitações, devido ao fato
                     Hoje, o grão não só ocupa notoriedade na história          de 80% de área apresentar
                 como também movimenta a balança comercial anual                relevo montanhoso – meio
                 no Brasil. Em 1989, o país tornou-se um dos principais         desfavorável para atividades
                 importadores de arroz no mundo, atingindo, em 1998,            agrícolas – e apenas 16%
                 uma média superior a 10% da demanda interna. Grande            de planícies, onde o cultivo
Foto: Google




                                                        parte dos brasileiros   é facilitado. Já o clima da
                                                        consome o produto,      região é favorável a esse setor
                                                        que é considerado o     agrícola, principalmente
                                                        principal alimento      pela ocorrência de quatro
                                                        da cesta básica e       estações do ano responsáveis
                                                        corresponde a 22%       em fornecer calor e umidade,
                                                        do orçamento ali-       exigida para o sucesso do
                                                        mentar mensal do        cultivo.
                                                        trabalhador.
                                                          A cultura do arroz,
                O consumo médio de arroz no Brasil no Pará é introduz-
                varia de 74 a 76 Kg/habitante/ano       ida no campo com
                                                        o início do período
                 chuvoso, que se estende de janeiro a maio e como al-
                 ternativa para cultivos em regiões úmidas. Boa parte
                 do cultivo no Estado concentra-se na agricultura de
                 subsistência. Com o objetivo de dinamizar o cultivo do            A cultura do arroz, no Pará
                 arroz no país e ampliar parcerias com países que possuem        é introduzida no campo com
                 história e ações de vanguarda na prática da rizicultura,        o início do período chuvoso,
                 foi realizado, no dia 26 de março, o “I Seminário Nipo-              que se estende de janeiro
                 Brasileiro sobre a cultura do arroz”, em Brasília (DF).             a maio e como alternativa
                 O evento, promovido pela embaixada do Japão no Bra-                   para cultivos em regiões
                 sil em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa            úmidas. Boa parte do cultivo
                 Agropecuária (EMBRAPA), inaugurou a união entre os                 no Estado concentra-se na
                 países em questão.                                                 agricultura de subsistência.
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                                 Makizushi (sushi enrolado): Um pedaço
 Foto: Google




                                 cilíndrico, formado com a ajuda de uma esteira
                                 enrolável de bambu, chamada makisu ou sudare.
                                 O makizushi é geralmente embrulhado em nori,
                                 uma folha de alga marinha desidratada que
                                 abriga o arroz e o recheio.




                                                                                                      Foto: Google
                     Uramaki (enrolado ao contrário): Um
                pedaço cilíndrico médio, com dois ou mais
                      recheios. O Uramaki se diferencia dos
                   outros maki porque o arroz está na parte
                  externa e o nori na interna. O recheio fica
                    no centro, rodeada por uma camada de
                    nori, então uma camada de arroz e uma
                cobertura de ovas de peixe ou sementes de
                 gergelim torradas completam a especiaria.



                                 Futomaki (rolinhos grandes):
Foto: Google




                                 Cilíndrico e grande, é um dos
                                 mais populares sushis. Possui
                                 como recheio variada combi-
                                 nação de peixes, folhas e raízes.
                                 Tendo tradicionalmente recheios
                                 ímpares, é um dos mais aprecia-
                                 dos em festivais e datas comem-
                                 orativas.


                Oshizushi (sushi prensado): Um pedaço
                                                                                       Foto: Google




                 em forma de bloco usando um molde
                       de madeira, chamado oshibako. O
                    chefe de cozinha alinha o fundo do
                oshibako com a cobertura, cobre-o com
                     arroz de sushi, e pressiona a tampa
                     do molde para baixo para criar um
                   bloco compacto e retilíneo. O bloco
                    é removido do molde e cortado em
                           pedaços que cabem na boca.
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 Juventude,
 Espiritualidade e
 Engajamento
 Jovens do Brasil inteiro resolveram seguir uma doutrina que
 prega a manifestação do amor em todos os atos, anulação
 do ego e a prática da meditação como maneira de iluminar a

 por: Brena Freire


   Isso é algo de grande destaque, pois egoísmo, vaidade
 e stress parecem palavras de ordem no mundo moderno.
 Por isso, a Seicho-No-Ie, filosofia/
 religião de origem japonesa, tem se
 mostrado um ótimo seguimento




                                                                                Foto: Brena
 para quem decide viver melhor
 buscando o equilíbrio mental e
 espiritual.
   Qualquer pessoa pode ser adepta
 da Seicho-No-Ie, e cada vez mais
 aumenta o número dos que entram
 em contado com sua doutrina e re-
 solvem praticá-la. Mas a Associação
 dos Jovens da Seicho-No-Ie (AJSI)
 merece atenção. Ela existe desde
 1948 e tem o objetivo de difundir
 a doutrina e despertar a capacidade
 de cada jovem seguidor, a partir de As reuniões acontecem semanalmente Belém
 15 anos, para benefício próprio e
 da sociedade.
   A AJSI é uma das organizações da Seicho-No-Ie que
 promove eventos e reuniões semanais com o foco na
 difusão dos ensinamentos. Cada cidade possui uma As-
 sociação regional e cada regional possui uma local (AL).
 Em Belém existem três Associações Locais em que
 muitos jovens desenvolvem trabalhos.
     Juliana Bandeira, 17 anos, é ligada a Seicho-No-Ie
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          desde a infância. Ela conta que ao nascer, teve problemas
          de saúde, e sua mãe, conhecedora dos ensinamentos,
          mas afastada na época, procurou a religião em busca de
          ajuda. Ao crescer, Juliana começou a se interessar pelos
          ensinamentos, e hoje é presidente da Associação Local
          Umarizal.
            Outros jovens simplesmente se interessam pela doutri-
          na e resolvem segui-la, como Jádua Fernandes, 26. Ela
                          começou a frequentar as reuniões por
                          convite da mãe e atualmente faz parte
                          da AJSI. Jádua conta que por causa da
                          prática dos ensinamentos, já realizou
                          muitos desejos, principalmente a con-
Imagem:




                          quista de seu primeiro emprego.
                             A existência de uma Associação de
                          jovens é justificada pelos diferentes in-
                          teresses. Por esse motivo, assim com os
                          jovens, os homens adultos, as mulheres,
                          os professores e os empresários possuem
                          grupos específicos em associações. No
                          entanto, essas especificações não dificul-
                          tam a participação de pessoas de fora nas
                          reuniões. “Não queremos que as pessoas
                          pensem que aqui é fechado só para quem
                          já participa. Sou católica, mas freqüento
                          a Seicho-No-Ie assim como vou à missa.
                          Os espíritas, evangélicos, católicos... Todo
          mundo é bem vindo!”, ressalta Juliana Bandeira.
            Em todas as organizações há um Preletor, uma pessoa
          que toma a dianteira durante as reuniões, lendo os sutras
          e fazendo as orações. A Preletora Vitorina faz parte da
          AJSI de Belém e passou a exercer o cargo depois de
          passar por alguns níveis de estudo e de trabalho na As-
          sociação. “Os jovens precisam de orientações específicas”
          disse a Preletora ao explicar a necessidade de os jovens
          se reunirem e trabalharem para a Associação.
            “As pessoas devem ter um canal para conversar com
          Deus.”, disse Juliana ao se referir à necessidade que as
          pessoas, incluindo os mais jovens, têm de um direciona-
          mento espiritual, “A Seicho é um bom caminho porque
          as pessoas precisam se reverenciar mais como filhos de
          Deus, e entender que a vida que pulsa em nós, nada mais
          é que a vida de Deus.”, completa.
            Na Associação Local Umarizal, as reuniões acontecem
          todos os domingos às 17h na rua Generalíssimo Deodoro
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 nº 675, entre Domingos Marreiros e Boa Ventura. Todos
 são convidados, sem restrições.




 Sobre a Seicho-No-Ie
    Embora a Seicho-No-Ie tenha se tornado oficial em
 1930, já era praticada anteriormente em uma vila no
 município de Kobe no Japão. Seu fundador foi Masa-
 haru Taniguchi que ficou muito conhecido durante a II
 Guerra Mundial, incorporando elementos do Xintoísmo,
 Budismo e cristianismo na nova doutrina.
    Chegou ao Brasil trazida pelo grande número de
 imigrates japoneses no início do século XX. Em
 pouco tempo os ensinamentos da Seicho-No-Ie já es-
 tavam difundidos em todo país por meio de revistas e
 calendários.
    A Seicho-No-Ie ou “Casa da Plenitude” pode ser
 considerada uma religião ou uma filosofia de vida. Seus
 adeptos crêem que somente Deus e o que ele cria, prin-
 cipalmente os humanos, existem verdadeiramente. Todas
 as outras coisas são manifestações da mente humana, não


                                 SEICHO-NO-IE
                          Os praticantes e sua doutrina
    ·   Agradecer a todas as coisas do Universo;

    ·   Conservar sempre o sentimento natural;

    ·   Manifestar o amor em todos os atos;

    ·   Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos;

    ·   Ver sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as suas
        partes negativas;

    ·   Anular totalmente o ego;

    ·   Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na
        vitória infalível;
ÁsiaKi 17


                                                          tem a mesma natureza divina. Nesse sentido, doença,
                                                          pecado, morte e até mesmo o mal não são eternos, por
                                                          isso não existem. São projeções da mente humana.A
                                                          essência de toda a doutrina é que “O homem é filho
                                                          de Deus” e por isso precisa manifestar sua perfeição
                                                          praticando cotidianamente os atos de amor e caridade,
                                                          leituras de Sutras sagrados e a meditação. Como con-
                                                                                sequência da prática dessas ações,
                                                                                os seguidores da Seicho-No-Ie
Foto: Brena Freire




                                                                                acreditam ser contemplados com
                                                                                fatos milagrosos como a cura de
                                                                                doenças, harmonia em seus lares,
                                                                                solução de problemas econômicos
                                                                                e êxito profissional.
                                                                                    Pessoas de qualquer religião
                                                                                podem ser seguidores dos ensi-
                                                                                namentos da Seicho-No-Ie. Isso
                                                                                porque é uma filosofia que não
                                                                                prega o sectarismo religioso, ou
                                                                                seja, para os seguidores, todas as
                                                                                religiões possuem bons aspectos.
                                                                                Todas provêm de um único Deus,
                 Na AJSI também são vendidos livros sobre a doutrina japonesa
                                                                                o que aliás é outro ensinamento: o
                                                                                monoteísmo.
                                                   Organização
                                                      Atualmente a Seicho-No-Ie do Brasil é dividida em
                                                   cinco organizações: Associação Fraternidade, Associa-
                                                   ção Pomba Branca, Associação dos Jovens, Associação
                                                   da Prosperidade e Departamento de Educadores. Tais
                                                   organizações promovem eventos para diferentes tipos
                                                   de publico, dando atenção especial a cada um.
                                                     Além disso, programas de TV e rádio, livros e revistas,
                                                   são utilizados para propagar as ações dessas organizações,
                                                   bem como os ensinamentos da doutrina. Existem tam-
                                                                            bém as Academias de Treina-
                                       Para saber mais                      mento Espiritual procuradas
                                                                            por quem deseja equilíbrio e paz
                      Seicho-No-Ie do Brasil:                               interiores. Em 2006 foi inau-
                      www.sni.org.br                                        gurado em São Paulo o Museu
                                                                            Histórico da Seicho-No-Ie do
                      Sede de Belém:                                        Brasil, atendendo a necessidade
                      Av. Generalíssimo Deodoro, 675 - CEP 66055-240 de preservação da memória do
                      Fone/Fax.: (91) 3224-5579 / 3212 - 4458               seguimento no país.
ÁsiaKi




Massagem Tailande-
sa: relaxante e reju-
venescedora
Dores na costa, pernas, cabeça, ansaço, estresse... Essas são
reclamações comuns que ouvimos (e também sentimos)
diariamente de trabalhadores que passam de seis a oito
horas exercendo sua profissão. Mas essas pessoas se queixam
porque ainda não conhecem um estilo de massagem oriental
que promete relaxamento, tranqüilidade e a capacidade de
preservar a juventude.
por: Raphael Freire
                                                      Foto: Google




  A massagem citada acima é conhecida como Thai
Massagem ou simplesmente Massagem Tailandesa.
Desenvolvida no século V a.C - época de Siddhartha
Gautama, o Budha - pelo médico indiano Jivaka Kumar
ÁsiaKi


Bhaccha (considerado o pai da medicina tailandesa) na
região que hoje compreende a Índia e o Nepal, a técnica
chegou à Tailândia - por tradição oral mestre/discípulo
há quase 2500 anos com a expansão do Budismo na
região. Intimamente ligada a essa doutrina, a massagem
Thai é um caminho para se cultivar os quatro estados
divinos de: Metta (bondade amorosa), Karuna (com-
paixão), Mudita (alegria contagiante) e Uppekha (im-
                       parcialidade, não-agressão). Hoje,
                       é praticada como um dos pilares
                       da medicina tradicional tailandesa,
                       que é composta por quatro ramos
                       distintos: a medicina nutricional, a
                       fitoterapia, a prática da meditação,
                       além da própria massagem.
                          Com um enfoque mais energé-
                       tico do que físico, a Thai Massa-
                       gem é feita por meio de pressões
                       profundas com as mãos, pole-
                       gares, joelhos, cotovelos e ante-
                       braços nos canais chamados Sen,
                       por onde circula a energia vital
                       do corpo e também por alonga-
                       mentos musculares, manipulações
                       articulares e torções. O objetivo é
liberar os bloqueios e estagnações da energia vital, para
que haja um equilíbrio no nível de energia essencial à
manutenção de um indivíduo saudável e livre de dores;
ou seja, manter em equilíbrio e harmonia o corpo, a
mente e o espírito.
   A cadência dos movimentos da massagem propicia
um profundo relaxamento e bem-estar interior tanto
para o cliente como para o massagista. Por isso, para
que a eficácia da massagem seja alcançada é necessário
que o terapeuta utilize a meditação e o Yoga; e o cliente
precisa respirar profundamente, além de ambos estarem
em um lugar tranqüilo. Durante uma seção, que dura em
média duas horas, há um sentido de fluidez, integração
e companheirismo. “O corpo físico tem memória emo-
cional . Muitas vezes quando tocamos alguém, estamos
tocando os pais e a família e toda a influência deles na
pessoa. Estas memórias estão enraizadas nos músculos,
tendões,olhar, postura, respiração. A intenção da Mas-
sagem Thai é então , dissolver memórias emocionais
20 ÁsiaKi


 que possam estar limitando o crescimento verdadeiro
 do cliente”, conta Sônia.
    Apesar de tantos benefícios, a massagem é contra
 indicada para pessoas que sofrem de doenças cardíacas
 congestivas, osteoporose, as que possuem próteses de
 joelho, quadril, etc.
 Ligação com o erotismo
     Logo quando se pensa em massagem tailandesa a
 primeira imagem que vem em nossas mentes é a de
 prostitutas oferecendo-a em troca de dinheiro. Não se
 pode negar que esse tipo de massagem possui uma con-
 hecida conotação erótica, mas esse não é o real sentido
 da massagem.
    No Ocidente a massagem tailandesa foi disseminada
 como sendo uma massagem de cunho erótico, servindo
 para excitação e prazer sexual, sendo distorcida a sua
 natureza terapêutica e espiritual. Segundo Sônia, as
 guerras no Oriente - em especial as do Vietnã, Laos e
 Camboja, países vizinhos da Tailândia – contribuíram
 para o crescimento da prostituição e outras circunstâncias
 sócio-econômicas da própria Tailândia. Foi dessa forma
 que os ocidentais tiveram o primeiro contato com a Thai
 Massagem, sob a experiên-


                                                              Foto: Google
 cia da conotação sexual.
 O contato corporal nesse
 tipo é massagem é muito
 intenso, mas o nível de
 concentração, relaxamento,
 confiança e seriedade é
 muito alto; além disso, o
 “paciente” permanece ves-
 tido em roupas confortáveis
 durante a massagem Thai e
 não são necessários óleos
 para a pele.
   As pessoas estão buscando
 cada vez mais um conforto
 espiritual, onde as relações
 humanas ultrapassem cada
 vez mais os valores mate-
 riais e as pessoas busquem
 uma vida subjetivamente
 mais saudável e mais próxima dos seus semelhantes.
ÁsiaKi 21


               Espiritualidade
        Nós ocidentais estamos
    acostumados a um médico
     nos receitar remédios para
  que uma doença seja curada,
talvez por isso, às vezes é difí-
 cil acreditarmos no potencial
de cura dado a um ser vivente,
       como sendo um dom da
própria natureza. “Todo o que
    sofremos no corpo físico é
 apenas expressão do que está
   em desequilíbrio nos planos
  energéticos e sutis de nossos
     corpos psíquicos, emocio-
 nais e espirituais. Por isso, no
    oriente, a medicina sempre
    esteve ligada às práticas es-
 pirituais. Todos os recursos e
procedimentos médicos deco-
 rrem desta visão espiritual do
  ser humano”, diz a terapeuta
        corporal Sônia Imenes.



                              Thai Massagem na Gravidez
A Thai Massagem é uma prática meditativa que promove estados meditativos e contem-
plativos que estreitam os laços mãe/filho e permitem à gestante saborear uma gravidez
prazerosa e saudável. Durante a gestação, a massagem alivia os desconfortos, bem como
prepara o corpo para o parto trabalhando a mobilidade e o fortalecimento das articulações,
atuando sobre o sistema nervoso, melhorando o sono, a digestão e diminuindo o stress;
propicia, com o toque acolhedor, suporte emocional e conforto; reduz e alivia dores nas
articulações, pescoço e costas causadas pelas alterações na postura, fraqueza muscular,
tensões e ganho de peso; melhora a circulação sanguínea e estimula o sistema linfático e
ajuda a manter a elasticidade da pele. No fim das sessões, há também espaço para debates
em grupo sobre questões da gravidez, parto, corpo e maternidade. “Em grupos com outras
gestantes ou em sessões individuais, a massagem tem um papel significativo na preparação
da futura mamãe. A experiência do contato corporal durante a gestação, o trabalho de parto
e após o nascimento do bebê ajudam-na a tocar com mais eficiência e transmitir carinho,
conforto e segurança a seu filho”, afirma Sônia Imenes.
22 ÁsiaKi




 Conexão digital
 Há 57 anos, Assis Chateaubriand, um dos maiores visionários
 da historia do Brasil inaugurava na cidade de São Paulo a TV
 Tupi, a primeira emissora de televisão da América Latina. De
   lá para cá a televisão exerce um papel fundamental e mar-
   cante em nosso país, tanto que hoje a TV está presente em
   96% das residências brasileiras. Ela tem o poder de levar o
 mais variado cardápio de conteúdos até seus telespectadores
  e estes por sua vez resignificam essas informações da forma
 que melhor lhes convém. A TV se tornou um espaço público
           com constantes tensões e disputas de poder
 por: Aílton Faro

 quando as teorias apocalípticas anunciavam o seu fim
 em conseqüência do advento da internet, surge a TV
 Digital para mostrar que esse meio de comunicação está
 longe de seu fim.
    No Brasil as transmições da TVD
 tiveram inicio no dia 2 de dezembro de
 2007, em São Paulo, A solenidade de
 inauguração reuniu a cúpula do Gov-
 erno Federal, as principais empresas
 de radiodifusão do país, políticos dos
 mais variados nichos. Os discursos
 calorosos e um vídeo promocional
 ditaram o ritmo da festividade. No
 que tange o processo de digitalização
 das transmições televisivas sobram
 duvidas do que mudou e do que real-
 mente pode mudar. E se para alguns
 o modelo adotado irá reconfigurar as
 relações sociais e conduzir o processo
 de convergência midiática, para outros
 muda sem mudar nada.
    Algo que vem gerando muita dis-
 cussão diz respeito ao modelo de TVD adotado pelo
 Brasil. No dia 26 de junho de 2006 o presidente Luiz
ÁsiaKi 23


                                  Inácio Lula da Silva decidiu por decreto que o Brasil
                                  adotaria o sistema de modulação de TVD do Japão, o
                                  ISBD-T, para servir como base do Sistema Brasileiro
                                  de TV Digital. Estavam na briga também os modelos
                                  ATSC dos Estados Unidos e o Europeu DVB. Além de
                                  consórcios financiados pelo governo (conduzidos pelo
De acordo com o Prof. Dr.         CPqD e Anatel, e pela SET/Abert, esta ultima ligada
Evaldo Gonçalves Pelaes, do       as radiodifusoras) envolvendo diversas instituições de
curso de pós-graduação em         pesquisa para desenvolverem um sistema brasileiro e
telecomunicação da UFPA,          também analisar, caso implantados, qual dos modelos
o ISBD-T foi o modelo             estrangeiros se adaptaria melhor às condições do país.
que melhor se adaptou as          Mas por que foi escolhido o modelo do Japão?
condições geoclimáticas e            . O ISBD-T é o único modelo que já oferece porta-
ao relevo do país, apesar das     bilidade, ou seja, que possa ser transmitido à aparelhos
diferenças em relação ao          moveis como celulares e leptops, e sem custo ao usuário.
Japão                             Outro motivo considerável para a escolha desse modelo
                                  foi a dispensa do pagamento de royalties. Já entidades
                                  como o INTERVOZES “Coletivo Brasil de Comuni-
                                  cação Social” argumentam que o principal motivo por
                                  essa escolha se deu por conseqüência da enorme pressão
                                  que a Rede Globo e as outras radiodifusoras fizeram em
                                  defesa do japonês.
                                      A professora da Faculdade de Comunicação Social
                                  da UFPA Maria Ataíde Malcher esclarece que a Rede
                                  Globo promoveu audições e pesquisas para saber qual
                                  modelo seria o melhor,de acordo com os seus interesses,
                                  e que mudanças poderiam ocorrer nesse processo de
                                  migração digital. “Para a Globo o padrão japonês é mais
                                  interessante por conta da alta qualidade das imagens e
                                  do som e por motivos mercadológicos. O ISDB permite
  A TVD pode ainda oferecer
                                  às emissoras de TV disponibilizarem sua programação
      outros tipos de serviços
                                  aos receptores moveis como celulares sem a necessidade
      como: acesso a internet,
                                  de encaminha-las antes às redes de transmissões das
  informações sobre o clima/
                                  operadoras de celular”, esclarece a professora. O que
        temperatura, resenhas
                                  deixaria as teles de fora de um negócio de cerca de 100
         de filmes, detalhes da
                                  bilhões de dólares. Gerando certo descontentamento
 programação e a tão sonhada
                                  dessas empresas em relação ao governo. Esse valor pode
                interatividade.
                                  explicar a dispensa dos royalties pelo governo japonês pelo
                                  uso de sua tecnologia, pois o contrato assinado por Celso
                                  Amorim, Ministro das Relações Exteriores do Brasil e
                                  por Taro Aso, Ministro dos Negócios Estrangeiros do
                                  Japão, prevê a construção de uma indústria de semi-
                                  condutores com capital japonês. O que gerou um outro
                                  descontentamento com o governo, dessa vez por parte
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          das empresas que trabalham com a indústria de semicon-
          dutores aqui no Brasil.

          O que muda na forma de se fazer TV no Brasil?
          Muito se argumenta em relação ao fato de nós viver-
          mos em uma sociedade das imagens. Em certa medida
          a televisão é o espelho dessa sociedade. E quando se
          fala em alta definição quer dizer que um maior número          Mudanças
          de detalhes se tornam perceptíveis. “Nas audições pro-         Segundo o professor Evaldo
          movidas pela Rede Globo foram exibidas cenas de um             Pelaes “A TV Digital possui
          mesmo programa nos padrões analógico e digital a fim           uma tecnologia bem mais avan-
          de estabelecer as diferenças entre eles. Se na TV analógica    çada; uma definição bem maior
          o rosto da Fátima Bernardes parece perfeito, na digital        das imagens. Em quanto na TV
          sobram rugas e marcas de espinhas, se nos comerciais           analógica a resolução média é
          de cerveja as modelos exibam seus corpos esculturais,          de 480 linhas com um formato
          agora aquela celulite inocente, a estria quase invisível       de (4:3), na digital é de 1.080
          pode se tornar um grande incomodo, principalmente              linhas e no formato widescreen
          para quem quer transparecer perfeição. E isso demanda          (16:9), possui cores mais níti-
          muitas mudanças: na maquiagem, na composição dos               das, com seis canais de som
          cenários, na forma física dos atores”.                         - Dolby Digital, já o analógico
          As transmissões da TV Digital no Brasil tiveram inicio no      suporta apenas dois - mono e
          final do ano passado. Inaugurações de emissoras de tele-       estéreo”.
          visão e de inovações tecnológicas as vésperas de grandes         Ainda é cedo para afirmar que
                                                eventos esportivos,      tipos de serviços a respeito da
                                                como Ólimpíadas e        interatividade serão realmente
Imagem: Google




                                                Copas do Mundo,          disponibilizados no Brasil. Essa
                                                não é nenhuma novi-      característica da TVD é um
                                                dade no Brasil. Era      processo que ainda está sendo
                                                prática corriqueira      estudado não só em nosso país
          no                                    período da Ditadura      mas também em outros onde já
                                                Militar. Por isso nem    foram implantados e que ainda
          a                                     tecnologia pela téc-     irão implantar, como a China,
                                                nica nem a tecno-        que até o final de 2008 pretende
                                                logia pelos grandes      iniciar as suas transmições de
                                                latifúndios da ra-       TVD.
                                                diodifusão poderão
                                                consolidar o direito a
                                                uma comunicação
                                                democrática. Por
                                                isso discutir com a
                                                população e dão-
          lhes condições de aceso a essas tecnologias, será sempre
          o melhor começo para novas eras.
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Os quimonos de
Belém




                                                                                   Foto: Google
  Início agitado de uma manhã em
  Kyoto, no Japão. No seio da turba
 de ternos, blazers e calçados mod-
ernos ocidentais que flutuam pelas
     ruas envolvendo seus usuários,
  uma senhora caminha apressada
   trazendo pelo braço direito uma
    jovem, provavelmente sua neta,
  ambas vestindo finos e coloridos
 kosodes. Há cerca de 30 anos, estas
 vestes representavam a superfície
                  da alma japonesa

por Felipe Cortez
                            Hoje, porém, cederam espaço à criatividade dos es-
                        tilistas de Nihon e de vários cantos do planeta. “A coisa
                        para se vestir” (significado literal de kosode), entretanto,
                        sobrevive como vestuário padrão das reuniões mais for-
                        mais e tradicionais da família japonesa. Em pensar que,
                        há um século, o kosode chegou ao Brasil com outro nome,
                        vigorante até hoje. Seria ela Kimono, palavra resultante
                        das transformações advindas da reabertura japonesa ao
                        Ocidente, no século XIX. A original kosode, entretanto,
                        designa os belos e finos trajes que marcaram atores soci-
                        ais da história japonesa por mais de um milênio, quando
                        Kyoto virou capital do Império Nipônico.
                            A versão aportuguesada quimono, por sua vez, rep-
                        resenta não apenas a tradicional veste japonesa, como
                        também os trajes típicos de artes marciais como o Karatê
                        e o Judô. Trata-se, na verdade, do primeiro significado
                        ao qual a palavra quimono remete no estado do Pará. A
                        tradicional veste é rara em Belém, podendo ser observada
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                em algumas reuniões da comunidade nipônica
                local. E não havendo muitas lojas especializadas
                em sua comercialização nessa região do Brasil, é
                comum que muitos quimonos sejam importados
                dos estados de São Paulo e Paraná, principais pólos
                da cultura japonesa no Brasil, ou até mesmo do
                Japão. Mas há na Cidade das Mangueiras quem se
                inspire no kimono para recriar a moda.
                    A sofisticação milenar do quimono pode ser
                observada desde as primeiras coleções da grife
                Manufatura, criada em 2005 pelas estilistas Izabela
                Jatene e Milene Fonseca. Naquele ano, as paraenses
                resolveram fazer releituras dos padrões do kimono,
                utilizado como referência para a criação de trajes
                adaptados ao clima local e estampados à moda
                brasileira. Assim, Izabela e Milene criaram outras
                formatações do quimono, como vestidos e blusas
                de uma só camada, agradáveis nos costumeiros 28º
                C de Belém, além de serem muito mais leves e práti-
                cos do que os antigos quimonos de 12 cama-


                                                                  das do Japão Feudal. “O que fizemos
                                                                  foi dar um grande ‘quê’ de brasilidade
Foto: Felipe Cortez




                                                                  nesses quimonos, quando você dá a cor,
                                                                  a estampa”, explica Izabela.
                                                                    A brasilidade a que a estilista se refere
                                                                  não está presente apenas no colorido
                                                                  dos quimonos que desenha com Milene,
                                                                  mas ao próprio formato que o traje ad-
                                                                  quiriu no panorama climático do Trópico
                                                                  Úmido. Izabela conta que o trabalho
                                                                  desenvolvido com estampas é também
                                                                  influenciado pela própria cultura japone-
                                                                  sa. “O Japão é extremamente colorido.
                                                                  E hoje, se você for analisar a sociedade
                                                                  japonesa pós-moderna, verá que ela é
                                                                  mais colorida do que antes. Então eles
                                                                  [os estilistas japoneses], e até nós, vamos
                                                                  buscar essas cores nas referências ori-
                                                                  entais, inclusive religiosas”, diz. Izabela
                                                                  conta que seus quimonos sempre sofrem
                                                                  alterações na forma entre uma coleção e
                Isabela Jatene, além de estilista, le-            eoutra, devido à ânsia
                ciona no curso de ciências sociais na
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                      O QUIMONO ATRAVÉS DAS ERAS
Heian (794-897)                                                      Edo (1603-1868)
Paz, fartura para as elites e a arte                   Se virasse filme, se chamaria a
se desenvolvendo plenamente.                            “Supremacia Kosode”. Neste
Esse foi o terreno fértil para o                         período o kosode, até então
surgimento oficial dos primeiros                   limitado às mulheres, conquistou
kimonos japoneses. Os nobres                                  a macharada a partir de
usavam sokutai, conjunto com                     adaptações de tamanho e temas. O
mangas e caudas largas que, à                      desenvolvimento e popularização
época, só perderia em pompa para                      de movimentos culturais como
os juni-hitoes, kimonos formados                     o teatro Kabuki só aumentaram
por conjuntos de 12 camadas                             a moral do kosode, que viu o
que davam um aspecto singular                   nascimento de um famoso irmão, o
–difícil encontrar um adjetivo para               furisode, kimono de manga longa
expressar tal beleza- às cortesãs da            usado por gueixas como ferramenta
corte imperial japonesa.                        de sedução. Data daí a consolidação
                                                  do kosode como veste padrão dos
                                                                             japoneses.
Kamakura (1185-1333)
Todo militar odeia frescura –a                                      Meiji (1868-1912)
exceção dos bofes de elite da                         Aí avacalhou. Nesses tempos o
vida. Não é a toa que, durante                      Japão se abriu para o Ocidente e
o surgimento da classe militar                       este chegou ao arquipélago com
dos Samurai, os quilos e mais                        tudo o que tinha direito: ternos,
quilos de pano de sokutais e                              gravatas, sapatos de couro e
juni-hitoes perderam a vez                                 vestidos dos mais variados.
para os hitatares (homens) e                              Governo japonês viu aquilo
kosodes (mulheres), conjuntos                             e gamou, né? Decretou que
mais simples com mangas                               todos os funcionários públicos,
curtas e saiões flexíveis                               militares e civis deveriam usar
chamados hakamas, mas                               trajes à moda do Ocidente –leia-
ainda feitos a partir da seda. A                                            se à inglesa.
frescura ainda sobrevivia.


Muromachi (1338-1568)
                                                                Showa (1926-1989)
Constantes batalhas pelo
                                              O processo se intensificou ainda mais
fragmentado poder do arquipélago
                                                   após a segunda guerra, quando o
fizeram deste período o mais
                                           derrotado Japão conheceu um aliado um
sanguinolento da história japonesa.
                                              tanto culpado por brincar de cowboy
No meio de todo o quebra pau,
                                                com bombas atômicas: Os Estados
os caras inventaram de trocar a
                                              Unidos. Os estilos de kimono ficaram
seda dos hitatares pelo linho, o que
                                             menos complexos e a distinação entre
resultou no suô e no daimon. A
                                                 wafuku (roupas japonesas) e ifuku
mulherada, por sua vez, manteve o
                                                 (roupas orientais) ficou mais clara.
kosode no topo da parada de veste
padrão.

Crédito das gravuras: The Book of Kimono
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 por exclusividade da clientela. “Como a gente mistura
 muito tecido, nenhuma peça fica parecida com outra”.
 A demanda, que exige a manutenção mensal de cinco a
 seis peças nos cabides da Manufatura, é interpretada por
 Izabela de dois modos: o antropológico e o da moda.                O Ocidente se apropria de
 “O Brasil tem uma relação com a cultura oriental muito         algumas referências da cultura
 forte, não só a partir da lógica migratória”, lembra. A          oriental, pois há uma relação
 estilista entende que a contemporaneidade, também               com as pessoas que chegaram
 reclama uma resignificação de valores, o que trouxe à           aqui, culturalmente falando, e
 tona os valores da cultura oriental, sobretudo as filosofias   também porque o ser humano
 espirituais orientais, o que, por sua vez, estreitaram os          está para o consumo assim
 vínculos culturais não só entre Brasil e Japão, mas entre o        como está para a lógica do
 Ocidente e o Oriente, em uma ótica mais abrangente. “O           belo, porque ele acha bonito,
 meu princípio de vida é o budismo. A partir dele eu tento      porque ele internaliza algumas
 resignificar uma série de coisas na minha vida. A própria         coisas. Dentro dessa grande
 filosofia budista vem crescendo no mundo inteiro, e não             miscelânea pós-moderna,
 vem crescendo à toa. Isso acontece porque ela realmente            você tem várias referências
 repensa os significados do consumo, da alimentação e                culturais postas e você vai
 da vida cotidiana a partir de uma lógica que não é uma           apropriando isso de diversas
 lógica do outro, mas uma lógica de você mesmo”.                                         formas
     É bem provável que a esta altura da matéria você
 esteja louca (o) para ter um quimono. Mas antes de sair
 em busca do traje pela Internet ou até mesmo de fazer
 uma visita às estilistas da Manufatura, é bom ter uma
 idéia do quanto custa essa verdadeira iguaria da moda
 mundial. A reportagem pesquisou
 preços de quimonos em diversas lojas                                                          Foto: Google
 e a uma conclusão chegou: encontrar
 quimono bom e barato é tarefa para
 difícil. Em alguns sites é possível encon-
 trar quimonos entre US$ 80 e US$ 150.
 Por aqui, a releitura dos quimonos da
 Manufatura, dependendo do formato,
 se blusa ou vestido, custam entre R$
 120 e R$ 160. Nada mal para o similar
 de um original que pode chegar aos
 salgadinhos US$ 40 mil.
    A apropriação cultural muitas vezes
 passa despercebida, encoberta por um
 desejo pelo que é belo. Kosode ou ki-
 mono, “made in Japan” ou “du Pará”,
 a peça encanta gerações de mulheres de todas as etnias
 e mesmo que não seja a mais indicada para se usar no
 calor de Belém, vale experimentar.
ÁsiaKi 29




                 A Viagem de
                                            Fantástico, sensível e empolgante.
Imagem: Google




                                                   Assim podemos começar a
                                              descrever o filme “A Viagem de
                                                Chihiro”. Amantes do gênero
                                            Animação/Aventura gostaram do
                                          filme, principalmente por prende o
                                               espectador até o final feliz, que
                                              apesar de doce, não é “meloso”.

                 por: Killzy Kelly
                                       A personagem principal do filme é Chihiro, uma garota
                                     de 10 anos que acredita que todo o universo deve atender
                                     aos seus caprichos.
                                       Após seus pais lhe contarem que vão mudar de cidade,
                                     ela fica furiosa, e não faz nenhum esforço para esconder
                                     sua raiva. Durante a viagem de mudança, completamente
                                     absorvida pelas lembranças dos amigos que estão ficando
                                     para trás, Chihiro percebe que seu pai se perdeu no cidade
                                     aparentemente sem nenhum habitante. Famintos, os pais
                                     da garota decidem comer a comida que está disponível
Imagem: Google
30 ÁsiaKi


 em uma das casas, enquanto a menina explora a cidade.
 Entretanto, logo ela encontra com Haku, um garoto que
 lhe diz para ir embora o mais rápido possível.
   Ao reencontrar seus pais, Chihiro fica surpresa ao ver
 que eles se transformaram em gigantescos porcos, en-
 quanto que misteriosos seres começam a surgir do nada.
 É o início da jornada da garota em um mundo fantasma,
 povoado por seres fantásticos, no qual humanos não
 são bem-vindos. Sua estadia nesse lugar mágico não é
 gratuita e muito menos de aventuras cheias de flores ou
 príncipes. Logo ela começa a trabalhar numa casa de
 banhos, onde o trabalho é grande, exaustivo e nem um
 pouco compensador, mas para Chihiro isso é apenas uma
 parte do seu aprendizado, não de afazeres domésticos,
 mas de como ser uma criança mais humana, generosa e
 compreensiva.




                                                             Foto: Google
 Extras que valem a pena
   Após ver o filme é quase con-
 seqüência pular para os extras,
 e nele o material é fundamental
 para conhecer mais como o
 filme. São mostradas todas as
 etapas de produção dos desen-
 hos, da história e da animação.
 O foco principal, entretanto,
 é para o prazo apertado que
 o diretor e roteirista Hayao
 Miyazaki teve para concluir o
 filme. Não se sabe ao certo o porquê, mas o apuro técnico
 pode ser uma das explicações, já que os desenhos são
 no mínimo impecáveis. Ao contrário do que se pensa,
 japoneses tem problemas com tempo e projetos como
 o restante de nós, mortais.
 Lançado em 2001, com 122 minutos de duração, o filme
 de Miyazaki é uma produção de sete estúdios. No Oscar
 2001 era um dos favoritos a Melhor Filme de Anima-
 ção e de fato levou a estatueta pra casa. Recebeu uma
 indicação ao BAFTA e ao Cesar, na categoria de Melhor
 Filme Estrangeiro, mas foi ao ganhar o Urso de Ouro
 no Festival de Berlim que realizou sua grande façanha já
 que se trata do primeiro longa-metragem de animação
 a ganhar o prêmio.
ÁsiaKi 31




Yosakoi Soran: arte
e dança oriental




Quarenta braços ágeis atiram redes de pesca imaginárias
ao ar. Os pés, em igual número, conduzem com harmonia
pescadores dançarinos que vibram a cada “dokaisho!
dokaisho!” e “soran! soran!”.

por Felipe Cortez
                        No salão da Associação Nipo-Brasileira, o público
                      que contemplava esta seqüência de movimentos pela
                      primeira vez pasmou e aplaudiu. A cena, ocorrida em
                      2005 em Belém, certamente pode ser observada em
                      outras cidades brasileiras onde um grupo de Yosakoi
                      Soran tenha feito sua primeira apresentação
                        Oficialmente criado em 1992, o Yosakoi Soran é uma
                      das mais populares manifestações da recente e expansiva
                      cultura popular japonesa. Naquele ano, em uma viagem
                      a província de Kochi, ao sul do arquipélago nipônico,
                      estudantes de Hokkaido, cidade do Norte japonês, con-
                      heceram a dança Yosakoi Naruko, que expressa o amor
                      entre um monge e uma mulher. De volta a Hokkaido, os
                      jovens decidiram fundir o Yosakoi Naruko com o Soran
                      Bushi, outra dança tradicional do Japão, que enaltece a
                      força dos pescadores do Norte do país. Não demorou
                      muito para que o híbrido pop resultante da fusão destas
                      danças ganhasse força na terra do sol nascente e ultra-
32 ÁsiaKi


 passasse seus limites geográficos, chegando a cidades de
 todos os continentes, como Belém.
   A cada apresentação na cidade das Mangueiras, os gru-
 pos de Yosakoi ganham novos componentes, desejosos
 de conhecer mais uma expressão artística de uma cultura
 que abre os braços ao paraense e que vai comemorar, em
 2009, oitenta anos de enraizamento no estado. Sim, esta
 é a idade que a imigração japonesa no Pará –ou melhor,
 na Amazônia- está prestes a completar.
    Diferente do que ocorre com boa parte da chamada
 cultura pop japonesa, muitas vezes “baixada” via Internet
 –como ocorre com as animações japonesas-, o Yosakoi
 Soran aqui chegou através de um nipônico de carne e
 osso. Em 2004, Momoe Omura, professora de japonês
 nascida em Hokkaido, veio para um intercâmbio de dois
 anos com a escola Novo Mundo, na capital paraense,
 onde ensinou os passos da dança a crianças das turmas de
 língua japonesa. “Como todos os anos a escola promove
 um festival de cultura brasileira e japonesa, ela ensinou as
 crianças das turmas de japonês a dança Yosakoi Soran e




                                                                Foto: Felipe Cortez
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Foto: Felipe Cortez




                                                                             tivemos a idéia de passar também
                                                                             passar para os alunos jovens apren-
                                                                             derem”, conta Mônica Honda,
                                                                             coordenadora do grupo Shinsekai,
                                                                             que, em português, significa Novo
                                                                             Mundo. O Yosakoi Soran do Shin-
                                                                             sekai conta com 36 integrantes
                                                                             ensaiando regularmente, durante
                                                                             as manhãs de sábado.
                                                                                 “Yosakoi Soran constitui-se
                                                                             essencialmente de uma sincronia
                                                                             de movimentos simples, em geral,
                                                                             baseados no cotidiano dos pesca-
                                                                             dores. Também é interessante a
                                                       necessidade de um grande numero de pessoas (no Brasil
                                                       os grupos costumam ter entre 30 e 40 pessoas, e no Japão,
                                                       passam de 100 pessoas por grupo) para apresentações,
                                                       posto que o efeito visual da sincronia torna-se mais
                                                       evidente, algo que acentua a beleza da dança”, diz Igor
                                                       Almeida, também membro do Shinsekai.
                                                         Segundo grupo de Yosakoi Soran fundado em Belém,
                      Há quem diga que a dança         o Yui, da escola Kyoto Oti, cresce junto com o interesse
                      agrada pela simplicidade dos     do paraense pelo Oriente. Yui significa união e nomeia
                      movimentos e pela disciplina     o grupo fundado em 2007. Com pouco mais de um ano
                      que desperta.                    de existência, o grupo aproveita os eventos comemora-
                                                       tivos do centenário da imigração japonesa no Brasil –a
                                                       exemplo do que também faz o Shinsekai- para congregar
                                                       novos dançarinos, como é o caso da estudante Agrícia
                                                       Pimenta, de 22 anos, que começou a aprender Yosakoi
                                                       Soran em uma das oficinas festivas da Kyoko Oti.
                                                          “Meu namorado é japonês, então já tenho um certo
                                                       contato com essa cultura. Mas foi num evento, o
                                                       Amazônia no Matsuri do ano passado, que vi a dança
                                                       e fiquei admirada. Quando vi no jornal que tinha uma
                      O fortalecimento dos grupos      oficina ensinando Yosakoi Soran, pensei que não podia
                        de Yosakoi Soran em Belém      perder a chance de aprender”. Agrícia desconhecia a jovi-
                      é condicionado pelo interesse    alidade do Yosakoi Soran até se deparar com a professora
                         crescente do brasileiro por   da dança, cinco anos mais jovem que a aprendiz. Caro-
                          um Oriente cada vez mais     lina Loureiro, 17 anos, aprendeu a dançar no início de
                                          próximo.     2007 e com dois meses de treinos já ensinava o Yosakoi
                                                       Soran. “Já havia tido contato com essa dança em outra
                                                       escola de japonês. Mas aqui, na Kyoko Oti, um profes-
                                                       sor mostrou um vídeo de Yosakoi pra gente. Muitos
                                                       gostaram e começaram a ensaiar. Hoje nosso grupo tem
Foto: Felipe Cortez
34 ÁsiaKi


 cerca de 20 componentes regulares, número
 que aumenta a cada mês. Muitos deles já
 faziam japonês e resolveram participar, até
 porque é de graça, ninguém paga mensali-
 dade pra aprender Yosakoi”. O ensino do
 Yosakoi Soran é gratuito nos dois grupos de
 Belém. Entretanto, se o dançarino pensa em
 participar das apresentações do Shinsekai ou
 do Yui, precisa mandar fazer a própria roupa,
 que custa de R$70 a R$100.
    Ser convidado para novas apresentações e receber
 integrantes é o reconhecimento a um trabalho intenso
 de divulgação da cultura japonesa no Pará. Para corre-
 sponder a isso, os dançarinos das escolas Novo Mundo e
 Kyoko Oti tentarão levar o estado aos lugares mais altos
 do pódio do 6º Festival Yosakoi Soran, que vai reunir 40
 grupos de todos o Brasil em São Paulo no dia 27 de julho
 e distribuir R$20 mil em prêmios. Enquanto o festival não
 chega, os grupos aproveitam cada evento da comunidade
 nipônica local para atiçar a coceira da curiosidade de pes-
 soas de toda Belém. Contudo, independente da posição
 alcançada no concurso na Paulicéia, o Yosakoi Soran de
 Belém só tem a crescer até 2009, quando a presença do
 japonês na Amazônia completa oito décadas e muitas
 festas em homenagem a ocasião devem querer, entre
 suas atrações, o híbrido pop de Hokkaido.
                                                               Foto: Felipe Cortez
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               Tradição e modernidade:
               literatura japonesa




                                         Por mais de séculos a cultura oriental, com
                                          seus mitos e lendas, instiga a mentalidade
                                          do Ocidente. Dragões, samurais e gueixas,
                                             personagens que chegam à imaginação
                                          contemporânea por meio de suas histórias
                                     repassadas de boca-em-boca seja pela literatura




                                       O
                                                         popular ou pela tradicional.
               por: Paula Catarina
                                              século III foi o período inicial em que a cultura japonesa
                                             passou por uma forte influência estrangeira. Os carac-
                                             teres chineses preencheram a lacuna fonética que os
                                             ideogramas – símbolos que representam somente idéias
                                             e não sons – como os kanjis, deixavam. Assim como a
                                             nossa literatura, a literatura japonesa é dividida em fases,
                                             porém os períodos são denominados de acordo com o
                                             nome da capital do Império.
                                               O Kojiki, que é “O Registro de Assuntos Antigos” e data
                                                              de 712 d.C., é uma das obras mais antigas.
                                                              A Manyoshu (Miríade de flores) também
Foto: Google




                                                              faz parte dos clássicos dessa literatura e
                                                              é a mostra de uma diversidade de textos
                                                              escritos por vários membros das classes
                                                              sociais japonesa, de membros das classes
                                                              mais populares a imperadores. Kakino-
                                                              moto no Hitomaro, membro da aristocracia
                                                              do período Nara, é considerado o poeta
                                                              representativo do Manyoshu, nele escreveu
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Cultura pop japonesa em Belém: o movimento Visual Kei

  • 2. Oriente na Amazônia? Este foi o ousado desafio muito menos, do outro lado do mundo. Logicamente, as dos estudantes de curso de Comunicação Social – ÁsiaKi práticas culturais são diversas e singulares. Entretanto, Jornalismo, da Universidade Federal do Pará, ao somos, em sua maioria, homens e mulheres urbanos, idealizar a Revista ÁSIAKI. A proposta era combinar consumidores de uma cultura global e híbrida por diversidade cultural, novas visões de mundo e a natureza. boa e velha dose de entretenimento cotidiano. Por conta dessa mistura, reunimos o que de Oriente Conseguimos? Ao leitor, deixamos a tarefa de tem na Amazônia e o que de Amazônia tem no Oriente. folhear essa idéia. Esporte, literatura, cinema, economia, religião. Dos Mas, o que a cultura oriental tem haver com a diversos temas aos mais invisíveis dos prazeres de uma “Belém-Amazônia-Brasil”? Diríamos quase tudo. população que convive com o rotineiramente inusitado. O cotidiano daqui não diferente do daí, do de lá e, Nesta edição · Visual Kei em Belém. pág 3 · A tradição da literatura japonesa. pág 35 · O Laço entre Brasil e Japão. pág 11 · A ideologia do judô. pág 39 · Espiritualidade do Seicho-no-ie. pág 14 · O budismo e a sociedade de valores. pág 42 · A rejuvenescedora massagem tailandesa. pág 18 · A terapia contra demônios. pág 44 · Conexão digital Brasil Japão. pág 22 · Realidade aumentada. pág 47 · Os quimonos de Belém. pág 25 · A arte da imortalidade. pág 49 · Viaje pela mundo de Chihiro. pág 29 · A filosofia do taoísmo. pág 52 · A arte da dança oriental. pág 31 · O país do futebol. pág 55 · O canto transcendental. pág 59 Ficha técnica * Professores responsáveis: Ana Petruc- celli, Ronaldo e Simone Romero . * Produtores de textos e fotos: Abílo Dantas; Aílton Faro; Andréa Mota; Brena Freire; Clareana Rodrigues; Felipe Cortez; José Fontelles; Josué Ri- beiro; Killzy Lucena; Paula Catarina; Raphael Freire; Suanny Lopes; Wellington Lima * Diagramação e tratamento de imagens: Raphael Freire
  • 3. ÁsiaKi 3 Cultura pop japone- sa em Belém Muito vermelho, flores coloridas, karaokê... Tradicionalmente, o Japão é conhecido por expressar sua cultura brilhantemente colorida por meio de comidas diferentes, quimonos de cores vibrantes, teatro com personagens típicos. Mas durante a 2ª Guerra Mundial, a vida dos japoneses mudou como se tivesse desaparecido toda a tradição e encantamento da sociedade japonesa. O por: Felipe Cortez e Raphael Freire impulso e o desejo de expressar seus estilos e car- Foto: Felipe Cortez acterísticas que lhes são próprios foram reprimidos. Os japoneses viviam em uma sociedade onde os valores individuais e os padrões de homogeneidade eram im- postos com a justificativa para alcançar a supremacia econômica e tecnológica, na tentativa de reerguer o país que havia sido destruído durante a guerra. Em casa, na escola e entre amigos, a regra era simplesmente aceitar e seguir os mandamentos impostos pelo grupo. Com quase todos os prazeres individuais negados, a nação perseguia seus objetivos em concordância harmoniosa e sempre com pensamento coletivo, deixando de lado a riqueza cultural e a variedade individual. Cansados dessa uniformização e padronização, di- versos movimentos surgem com o objetivo de buscar a individualidade e expressão dos sentimentos mais profundos. Um dos precursores é o J-Rock ou rock japonês, movimento musical de contra-cultura que Jaime Neto é o precursor do movimento surgiu com a intenção de romper com convenções. “Os jovens japoneses não tinham imagem definidas deles mes- mos. Por não saberem, ainda, a pensar como indivíduos, eles queriam se libertar das semelhanças, abraçando o diferente, o exótico”, diz Ken Ohira, autor de 10 livros sobre psiquiatria de adolescentes. Todo esse desespero
  • 4. 4 ÁsiaKi Foto: Felipe Cortez pela busca da diferencia- ção do todo é perfeita- mente vista por meio de um movimento visual chamado de Visual Kei ou simplesmente VK. Antes de tratarmos mais a fundo sobre o Visual Kei, uma coisa deve ser esclarecida: todo VK pertence ao J-Rock, mas nem todas as bandas adotam o es- tilo VK. Ambos estão A turma de VK’s se reúne todos os fins de semana na cidade estreitamente relacionados. Se você está lendo essa matéria e chegou até aqui con- seguindo perceber que VK e J-Rock não são a mesma coisa, parabéns! Mas se você ainda não entendeu essa diferença, a hora é agora. Imagine que você é um adolescente japonês que está cansado de seguir as normas que lhe são impostas e de se vestir quase igual a todo mundo. Por ser um estilo musical popular no Japão, você ouve J-Rock e gosta bastante da mistura de sons. Depois fica sabendo o que compõe todo esse movimente e começa a se vestir como os integrantes dessas bandas. Pronto você já é um VK! A partir de agora, você passa a usa roupas muito chamativas, maquiagem bastante carregada, muitas vezes aposta nas tentativas de copiar modelos de personagens de animes... Segundo a psicóloga Sandra Bastos, tipos O Visual Kei é apenas uma de comportamentos como este ocorrem principalmente vertente dentro do J-Rock, devido uma fase conhecida como polarização, onde o que pode ser considerado um desvio de atenção do âmbito familiar é transferido para dos principais, ou o principal, o social. “O adolescente começa a descobrir uma outra movimento que romperam visão de mundo, ele está deixando de priorizar o núcleo com convenções e com a familiar e começa a priorizar o núcleo social e as relações desindividualização no Japão. interpessoais”, explica. Com essa transformação o adolescente procura se apoiar em alguém que o entenda. “Quando começa a ter os primeiros embates com a família, o grupo social funciona como um suporte para esta fase de insegurança, descoberta, transição. O grupo é compreensivo, acha que ele está certo. A necessidade de se sentir igual, de ser aprovado em um grupo, pode ser motivada por diver-
  • 5. ÁsiaKi 5 Foto: Felipe Cortez sos fatores. Todos os adolescentes querem chamar atenção, com tanto que não chame atenção sozinho”, explica Sandra. Essa busca pela individualidade do grupo muitas vezes é alvo de preconceitos e estra- nhesa, principalmente pelos mais tradicio- nalistas. “Já aconteceu de eu estar andando na rua e uma senhora, quando me viu, desviou o caminho para não passar perto de mim”, conta a promoter e empresária Cris Vasconcelos, 30, dona da banca Cristal Mistical e VK. Existem bandas que não abusam de roupas e maquiagens elaboradas e per- formances extravagantes – seguem uma tendência mais ocidental na maneira de se vestir –, mas tocam J-Rock, entre elas estão as bandas 175 R, L’Arc~en~Ciel, Sex Machineguns, Wyse, BUCK-TICK. “Pro ado- lescente ‘o mundo é seu limite’. O processo Algumas garotas se vestem com roupas maculinas de rebeldia, de ser diferente, de querer aparecer é passageiro”, justifica Sandra. Esse estilo musical é bem difícil de ser classificado, pois cada banda possui a sua maneira de tocar e nem sempre seguem o mesmo estilo o tempo todo. As bandas de J-Rock sofrem influência de outras derivações do rock, punk e metal. Quando grupos musicais resolvem mudar a sonoridade das músicas, eles não param por aí: mudam todo o aparato, o interesse e o pensamento. Quando questionados sobre a qualidade das músicas, os jovens disseram que retratam a realidade da nossa sociedade. “A música não é para ser entendida, mas para ser sentida”, conta Giovanna Sovano, 17, VK desde os 14 e gosta de ser chamada de Gika. Apesar desse estilo se chamar J-Rock (rock japonês), ser popular no Japão e as bandas serem compostas todas por japoneses, a maioria dos nomes das bandas não são es- Foto: Felipe Cortez critos em japonês: Malice Mizer, Dir em Grey, X Japan, entre outras. Em Belém existem cinco bandas (Otaku Band, X Japan Cover, Shinob 88, Kuroi Usaghi e Hasenga) que se dedicam a tocar no estilo do rock japonês e que também são adeptas do Visual Kei, as bandas geralmente tocam em reuniões feitas pelos próprios integrantes ou em eventos como o Japan Rock Festival, que está sendo organizado por Cris. Alguns se vestem para
  • 6. 6 ÁsiaKi Foto: Felipe Cortez Otaku, é? “O seu clã” ou “a sua família” são os significados originais da palavra japonesa otaku. Porém, no Japão da década de 80, Otaku virou sinônimo de fanático ou maníaco. A popu- larização da palavra entre os fãs de anime ocorreu por vol- ta de 1989, quando o croni- sta Akio Nakamori utilizou a palavra em um de seus livros, “A era de M”, cujo enredo O hobbie dos jovens é posar para fotos nos fins de semana descreve uma série de assas- sinatos praticados por um VK’s de Belém buscam viciado em animes e mangás identidade própria pornográficos. A publicação O movimento que mudou a cara do rock japonês contribuiu para disseminar a partir da década de 80 surgiu em Belém no seio de uma imagem pejorativa do um outro fenômeno da cultura nipônica, o universo otaku, que passou a sugerir Otaku. o portador de qualquer tipo Em 2004, um amante dos desenhos japoneses chamado de obsessão dentro e fora de Jaime Netto, 16, plantou as sementes do Visual Kei na Nihon. O viciado em videog- Cidade das Mangueiras. Ele percebeu que, apesar dos ames, por exemplo, é um g–mu eventos direcionados para os fãs de desenhos japoneses já otaku. Já um pasokon otaku apresentarem vídeos-clipe das bandas visuais de J-Rock, seria um maníaco por com- ninguém via nisso a inspiração para se vestir como estes putadores. Anime e mangá artistas, como até então só se fazia com personagens de otakus são os fãs do universo desenhos. dos desenhos japoneses. Jaimediz que sempre foi “alucinado” por cultura Em Belém, o fenômeno Otaku japonesa. Sempre participou das festas promovidas pela já se encontra consolidado, comunidade nipônica local e buscou ler tudo o que lhe mas reservado a um pequeno caia nas mãos sobre a cultura oriental. “Até que um dia, público, composto por fãs que numa revista de variedades que o consulado japonês buscam trocar informações do Pará distribui, tinha uma matéria sobre Harajuku. sobre seus desenhos favoritos Eu achei curioso e resolvi pesquisar mais na internet. e acabam se tornando grandes Nessa época, em meados de 2003, eu nem sabia que amigos, formando ramificadas havia eventos de anime em Belém e que faziam cosplays. redes de relações. Uma delas Daí, no ano seguinte, quando fui ao primeiro evento, vi pode ser observada no Orkut, pessoas fazendo cosplay e clipes de j-rock como atrações do evento, mas ninguém fazia VK”. No Animazon, realizado no Taikai (tradicional encontro de otakus em Belém) de 2005, Jaime, acompanhado de Giovanna Sovano, amiga da escola, usava roupas pretas
  • 7. ÁsiaKi 7 mas precisamente na comuni- e rasgadas e maquiagens feitas pelos próprios adoles- dade Animazon. “A gente não centes, que lembravam os VK’s da década de 90, em que conhece todo mundo, mas predominou o Kote Kote Kei (ver boxe ‘Gêneros de Visual essas redes de relações per- Kei’). “Já no nosso segundo VK nos preocupamos em mitem que a gente possa di- mandar fazer as roupas em costureiras e tivemos mais vulgar os eventos”, diz Arcan- cuidado com cabelo e maquiagem. jo – na verdade Alexandre – Algum tempo depois, o garoto adotou um pseudônimo, otaku de 24 anos que continua como faz todo VK. Seu novo nome era Hooki. “Hooki firme no que gosta e faz cara pode significar várias coisas: abandono, rebeldia, difer- feia para quem ainda acredita ente e vassoura. Naquela época o que eu queria mesmo que anime é coisa de criança eram os três primeiros significados. Vale lembrar que ou adolescente. A divulga- todo artista do cenário J-Rock/Visual Kei adota um ção do primeiro Tomodachi de pseudônimo”, Jame continua dando exemplo do guitar- 2008, ocorrido em março, por rista da banda The Gazette, conhecido como Aoi (significa exemplo, foi feita apenas por “Azul”), que, na verdade, se chama Shiroyama Yuu, um Orkut. Assim, conseguimos nome comum no Japão. reunir no Cefet-PA cerca “Inspirado nisso, muitos de 700 otakus. Os principais fãs adotam pseudônimos eventos de Belém são o também”. ‘Otaku no Matsuri’, ‘Tomodachi- Hoje, os eventos que Con’, ‘Animazon no Taikai’ e o reúnem os otakus da ‘Animazon Connection’ (os dois cidade recebem VK’s últimos se diferenciam apenas aos montes. Entretanto, pelos grupos organizadores). também há encontros Nesses eventos, os otakus exclusivos para esses basicamente fazem concursos grupos, que ocorrem de cosplay, onde quem vence geralmente sob as for- é quem imita a atitude e se mas de reuniões fecha- veste mais fielmente como os das em locais específicos seus personagens de desenho – casas, salões alugados e favoritos; cantam os animesongs praças reservadas – e de ou outras músicas asiáticas passeios do tipo Hara- que gostam. Além disso, juku, em que os VK’s Rege, celebridade entre os VK’s de Belém jogam games como Super Smash desfilam, em grupo, por Brothers e The King of Fighters e lugares públicos como também dançam, conhecem um shopping, uma praça ou um bosque. Já nas reuniões novos otakus e trocam idéias fechadas, os VK’s ouvem e conversam sobre J-Rock, sobre os velhos e novos an- cantam músicas que gostam em karaokês, brincam, para imes da praça. não deixar nada passar em branco, se fotografam. É a fotografia aliás, que permite o contato de outros otakus com o universo do VK através de sites de relacionamento como o Orkut, ferramenta virtual já enraizada na cultura comunicacional desta turma. Reges, lembra que Visual Kei não está ligado apenas
  • 8. 8 ÁsiaKi à aparência. “Visual Kei não é só pose, é uma atitude. Não adianta querer fazer um figurino bem feito se a pessoa não conhecer o j-rock e as bandas. VK não é uma tribo, é um movimento”, diz o jovem de 18 anos, vocalista de pelo menos três bandas de música japonesa de Belém, também animador de encontros, cosplayer e, além de tudo isso, o rapaz ainda se dedica em ser o hair design do grupo. Isso mesmo, Reges prepara os cabelos dos amigos VK’s e o próprio, além de conhecer técnicas de maquiagem. Não é à toa que ele cursa Design em uma faculdade de Belém. Para ver o Harajuku: O outro lado do espelho Belém não possui um “point” específico para o Visual Kei. Normalmente, nossos VK’s se reúnem em locais como Parque da Residência e Casa das Onze Janelas, onde, dizem com unanimidade, ficam a salvo de “olhares maldosos”. Entretanto, no berço do movimento músico-visual japonês, há um bairro que Um dos locais acolhe todos os fins de semana, não apenas os VK’s, preferidos dos mas todas as tribos de Nihon.. VK’s de Belém Quem chega de trem à província de Shibuya (em Tóquio) é o complexo pela linha Yamanote e dá os primeiros passos para fora da Feliz Lusitania estação Harajuku pode se sentir transportado para outra dimensão da moda alternativa, onde seres, aparentemente jovens e humanos, desfilam com o que há de mais in- imaginável na arte de se vestir. Adolescentes as portas da vida adulta, perseguidores do reconhecimento à sua singularidade. Bairro tradicional da moda Foto: Felipe Cortez underground japonesa, Harajuku, herdeiro do nome da estação que circunda, é, aos domingos, um dos maiores palcos da imaginação oriental. Grupos de adolescentes com estilos em comum transitam pelas ruas, consomem nas lojas das grandes grifes, conhecem outros jovens e obser- vam peças que poderão usar de um jeito diferente do observado no próximo domingo. Garotas Gyaru de ar infantil posam loiras e bronzeadas para as lentes curiosas de amigos e turistas. Loli- tas, góticas ou elegantes, observam sorridentes os artistas de rua não menos exuberantes, rodeados de cosplays de bandas de J-Rock e Visual Keis. Muitos flashes, vídeos gravados, apresentações de novas
  • 9. ÁsiaKi 9 bandas e a tecnologia “made in japan” afloram a todo minuto em cada esquina. No fim da tarde de domingo, começa a metamorfose. O que eram seres de intrigante e, muitas vezes, apaixonante aparência, entram em casúlos – geralmente os banheiros de lanchonetes como McDonald’s e Burger King – para tornar às suas formas originais. Harajuku recebe todos os domingos entre 3 e 4 mil jovens que, não raro, passaram a semana ralando na escola, dando duro no trabalho e se comportando bem no ambiente familiar para, naquele dia, provar sua capacidade de superar moda(s) do do- mingo anterior, desenhando, produzindo e usando suas próprias peças. Criatividade e grana Incorporar o Foto: Felipe Cortez grotesco Eroguro Kei ou o tradicional An- gura em um figurino oportuno não é tarefa para qualquer um. Se a criatividade é fundamental para a Os garotos também ousam confecção da peça, a com roupas femininas verba para continuar produzindo é indis- pensável. O processo de criação é demora- do e exige paciência. Basicamente, segue as seguintes etapas: 1) escolha do visual, pode ser cosplay do integrante de uma banda ou mais uma criação pessoal; 2) a pesquisa dos materiais, peças e assessórios que vão compor o figurino; 3) testes e pesquisas de cabelo e maquiagem; 4) teste de tecidos, linhas e assessórios com a costureira; 5) finalização do figurino. Ter paciência ajuda muito na escolha dos elementos adequados a cada composição, já que é quase impossível alcançar o resultado ideal num primeiro instante. Feira pós-moderna, a internet é um dos locais mais indicados para o início das pesquisas de construção do figurino. Sites de venda são as principais barracas para consulta.
  • 10. 10 ÁsiaKi Encontrar uma costureira paciente e com habilidade de cópia suficiente para produzir exatamente o que se pede é outra tarefa difícil, mas não impossível. É com essa profissional que eles trocam informações diariamente em busca da costura perfeita ou da manga de corte reto do casaco para um visual aristocrático, por exemplo. Diferente do Cosplay, em que a necessidade de alcançar uma semelhança extrema com o original é o que conta, a criação do VK é livre e permite o reaproveitamento de peças. E, em se tratando de Visual Kei, o importante é agregar o máximo de informações e inovação. Botas com salto plataforma velhas são exemplos de peças aproveitadas por adeptos de vários estilos VK. O preço das roupas, assessórios e cosméticos varia bastante. Existem visuais em que se gasta R$30 – com maquiagem e alguns detalhes – e outros que custam R$300. Não existe um preço fixo, pois cada criação é única. Mas a construção sempre exige um investimento. “As roupas do meu primeiro visual eu tinha em casa. Já o segundo, em que fiz cosplay do Mana (do Malice Mizer) em Beast of Blood, tive que pegar várias fotos e levar na costureira”, diz Gio- Foto: Felipe Cortez vanna Sovano, 17, que fez seu primeiro VK em 2005. Quem faz VK em Belém, então, é quem possui, além da criativ- idade, recursos para a empreitada. Dinheiro esse que vem do tra- balho próprio – como fazem muitos jovens em Harajuku para ali- mentar seus hobbies – ou dos pais. É pos- sível obter ajuda para a produção de figurinos com quem entende As ruas de Belém servem como passarelas de desfile de moda disso em Belém. Mem- bros da comunidade Visual Kei Pará, do Orkut, ensinam onde pesquisar e indicam costureiras que já trabalharam com VK e cosplay.
  • 11. ÁsiaKi 11 O laço entre Brasil e Japão Culturalmente falando, Brasil e Japão são bem diferentes. Seja nas religiões tradicionais de cada um, nas relações internacionais ou na culinária. Enquanto um cria seus filhos para o mundo, o outro abriga três ou mais gerações da mesma família sob o mesmo teto; um produz filme carregado de mazelas do real, o outro exporta as lutas no patamar de arte. Entretanto, um alimento os une, o arroz. por: Andréa Mota Ingrediente essencial na alimentação dos dois países, Foto: Google o arroz se apresenta em diversas versões e acom- panhamentos: tradicional, à grega, sopa de arroz do pai José (mais uma dieta para emagrecer) e os diversos tipos de sushi que existem: Niguiri, Gunkan, Norimaki, entre outros. Sozinho ele in- tegra a lista dos mais nutriti- vos alimentos para consumo. Já serviu de moeda para pagamentos de impostos no O Brasil é um dos maiores expotadores de arooz do mundo Período Edo (1660 – 1800), no Japão. Além de ser con- siderada uma das armas da longevidade. Atualmente teve o seu genoma decodificado em pesquisa realizada por cientistas de vários países, dentre eles Brasil e Japão. No Japão, o arroz é assunto de Estado. A rizicultura transformou a planície de Kanto, região leste do Japão, em uma zona bastante povoada. O cereal foi a principal atividade econômica do país até metade do século XIX, mesmo com as limitações de clima e solo da região. O território japonês apresenta limitações, devido ao
  • 12. 12 ÁsiaKi fato de 80% de área apresentar relevo montanhoso – No Japão, o arroz é assunto meio desfavorável para atividades agrícolas – e apenas de Estado. A rizicultura 16% de planícies, onde o cultivo é facilitado. Já o clima transformou a planície de da região é favorável a esse setor agrícola, principalmente Kanto, região leste do Japão, pela ocorrência de quatro estações do ano responsáveis em uma zona bastante em fornecer calor e umidade, exigida para o sucesso do povoada. O cereal foi a cultivo. principal atividade econômica Antes mesmo de vir a ser um dos produtos agrícolas do país até metade do mais nutritivos, o Oryza Sativa – como o arroz é nomeado século XIX, mesmo com as cientificamente – é considerado um alimento tradicional limitações de clima e solo da na cultura agrícola do Brasil desde 1530 quando foi en- região. contrado o primeiro registro de cultivo na capitania São O território japonês apresenta Vicente, no período colonial. limitações, devido ao fato Hoje, o grão não só ocupa notoriedade na história de 80% de área apresentar como também movimenta a balança comercial anual relevo montanhoso – meio no Brasil. Em 1989, o país tornou-se um dos principais desfavorável para atividades importadores de arroz no mundo, atingindo, em 1998, agrícolas – e apenas 16% uma média superior a 10% da demanda interna. Grande de planícies, onde o cultivo Foto: Google parte dos brasileiros é facilitado. Já o clima da consome o produto, região é favorável a esse setor que é considerado o agrícola, principalmente principal alimento pela ocorrência de quatro da cesta básica e estações do ano responsáveis corresponde a 22% em fornecer calor e umidade, do orçamento ali- exigida para o sucesso do mentar mensal do cultivo. trabalhador. A cultura do arroz, O consumo médio de arroz no Brasil no Pará é introduz- varia de 74 a 76 Kg/habitante/ano ida no campo com o início do período chuvoso, que se estende de janeiro a maio e como al- ternativa para cultivos em regiões úmidas. Boa parte do cultivo no Estado concentra-se na agricultura de subsistência. Com o objetivo de dinamizar o cultivo do A cultura do arroz, no Pará arroz no país e ampliar parcerias com países que possuem é introduzida no campo com história e ações de vanguarda na prática da rizicultura, o início do período chuvoso, foi realizado, no dia 26 de março, o “I Seminário Nipo- que se estende de janeiro Brasileiro sobre a cultura do arroz”, em Brasília (DF). a maio e como alternativa O evento, promovido pela embaixada do Japão no Bra- para cultivos em regiões sil em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa úmidas. Boa parte do cultivo Agropecuária (EMBRAPA), inaugurou a união entre os no Estado concentra-se na países em questão. agricultura de subsistência.
  • 13. ÁsiaKi 13 Makizushi (sushi enrolado): Um pedaço Foto: Google cilíndrico, formado com a ajuda de uma esteira enrolável de bambu, chamada makisu ou sudare. O makizushi é geralmente embrulhado em nori, uma folha de alga marinha desidratada que abriga o arroz e o recheio. Foto: Google Uramaki (enrolado ao contrário): Um pedaço cilíndrico médio, com dois ou mais recheios. O Uramaki se diferencia dos outros maki porque o arroz está na parte externa e o nori na interna. O recheio fica no centro, rodeada por uma camada de nori, então uma camada de arroz e uma cobertura de ovas de peixe ou sementes de gergelim torradas completam a especiaria. Futomaki (rolinhos grandes): Foto: Google Cilíndrico e grande, é um dos mais populares sushis. Possui como recheio variada combi- nação de peixes, folhas e raízes. Tendo tradicionalmente recheios ímpares, é um dos mais aprecia- dos em festivais e datas comem- orativas. Oshizushi (sushi prensado): Um pedaço Foto: Google em forma de bloco usando um molde de madeira, chamado oshibako. O chefe de cozinha alinha o fundo do oshibako com a cobertura, cobre-o com arroz de sushi, e pressiona a tampa do molde para baixo para criar um bloco compacto e retilíneo. O bloco é removido do molde e cortado em pedaços que cabem na boca.
  • 14. 14 ÁsiaKi Juventude, Espiritualidade e Engajamento Jovens do Brasil inteiro resolveram seguir uma doutrina que prega a manifestação do amor em todos os atos, anulação do ego e a prática da meditação como maneira de iluminar a por: Brena Freire Isso é algo de grande destaque, pois egoísmo, vaidade e stress parecem palavras de ordem no mundo moderno. Por isso, a Seicho-No-Ie, filosofia/ religião de origem japonesa, tem se mostrado um ótimo seguimento Foto: Brena para quem decide viver melhor buscando o equilíbrio mental e espiritual. Qualquer pessoa pode ser adepta da Seicho-No-Ie, e cada vez mais aumenta o número dos que entram em contado com sua doutrina e re- solvem praticá-la. Mas a Associação dos Jovens da Seicho-No-Ie (AJSI) merece atenção. Ela existe desde 1948 e tem o objetivo de difundir a doutrina e despertar a capacidade de cada jovem seguidor, a partir de As reuniões acontecem semanalmente Belém 15 anos, para benefício próprio e da sociedade. A AJSI é uma das organizações da Seicho-No-Ie que promove eventos e reuniões semanais com o foco na difusão dos ensinamentos. Cada cidade possui uma As- sociação regional e cada regional possui uma local (AL). Em Belém existem três Associações Locais em que muitos jovens desenvolvem trabalhos. Juliana Bandeira, 17 anos, é ligada a Seicho-No-Ie
  • 15. ÁsiaKi 15 desde a infância. Ela conta que ao nascer, teve problemas de saúde, e sua mãe, conhecedora dos ensinamentos, mas afastada na época, procurou a religião em busca de ajuda. Ao crescer, Juliana começou a se interessar pelos ensinamentos, e hoje é presidente da Associação Local Umarizal. Outros jovens simplesmente se interessam pela doutri- na e resolvem segui-la, como Jádua Fernandes, 26. Ela começou a frequentar as reuniões por convite da mãe e atualmente faz parte da AJSI. Jádua conta que por causa da prática dos ensinamentos, já realizou muitos desejos, principalmente a con- Imagem: quista de seu primeiro emprego. A existência de uma Associação de jovens é justificada pelos diferentes in- teresses. Por esse motivo, assim com os jovens, os homens adultos, as mulheres, os professores e os empresários possuem grupos específicos em associações. No entanto, essas especificações não dificul- tam a participação de pessoas de fora nas reuniões. “Não queremos que as pessoas pensem que aqui é fechado só para quem já participa. Sou católica, mas freqüento a Seicho-No-Ie assim como vou à missa. Os espíritas, evangélicos, católicos... Todo mundo é bem vindo!”, ressalta Juliana Bandeira. Em todas as organizações há um Preletor, uma pessoa que toma a dianteira durante as reuniões, lendo os sutras e fazendo as orações. A Preletora Vitorina faz parte da AJSI de Belém e passou a exercer o cargo depois de passar por alguns níveis de estudo e de trabalho na As- sociação. “Os jovens precisam de orientações específicas” disse a Preletora ao explicar a necessidade de os jovens se reunirem e trabalharem para a Associação. “As pessoas devem ter um canal para conversar com Deus.”, disse Juliana ao se referir à necessidade que as pessoas, incluindo os mais jovens, têm de um direciona- mento espiritual, “A Seicho é um bom caminho porque as pessoas precisam se reverenciar mais como filhos de Deus, e entender que a vida que pulsa em nós, nada mais é que a vida de Deus.”, completa. Na Associação Local Umarizal, as reuniões acontecem todos os domingos às 17h na rua Generalíssimo Deodoro
  • 16. 16 ÁsiaKi nº 675, entre Domingos Marreiros e Boa Ventura. Todos são convidados, sem restrições. Sobre a Seicho-No-Ie Embora a Seicho-No-Ie tenha se tornado oficial em 1930, já era praticada anteriormente em uma vila no município de Kobe no Japão. Seu fundador foi Masa- haru Taniguchi que ficou muito conhecido durante a II Guerra Mundial, incorporando elementos do Xintoísmo, Budismo e cristianismo na nova doutrina. Chegou ao Brasil trazida pelo grande número de imigrates japoneses no início do século XX. Em pouco tempo os ensinamentos da Seicho-No-Ie já es- tavam difundidos em todo país por meio de revistas e calendários. A Seicho-No-Ie ou “Casa da Plenitude” pode ser considerada uma religião ou uma filosofia de vida. Seus adeptos crêem que somente Deus e o que ele cria, prin- cipalmente os humanos, existem verdadeiramente. Todas as outras coisas são manifestações da mente humana, não SEICHO-NO-IE Os praticantes e sua doutrina · Agradecer a todas as coisas do Universo; · Conservar sempre o sentimento natural; · Manifestar o amor em todos os atos; · Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos; · Ver sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as suas partes negativas; · Anular totalmente o ego; · Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na vitória infalível;
  • 17. ÁsiaKi 17 tem a mesma natureza divina. Nesse sentido, doença, pecado, morte e até mesmo o mal não são eternos, por isso não existem. São projeções da mente humana.A essência de toda a doutrina é que “O homem é filho de Deus” e por isso precisa manifestar sua perfeição praticando cotidianamente os atos de amor e caridade, leituras de Sutras sagrados e a meditação. Como con- sequência da prática dessas ações, os seguidores da Seicho-No-Ie Foto: Brena Freire acreditam ser contemplados com fatos milagrosos como a cura de doenças, harmonia em seus lares, solução de problemas econômicos e êxito profissional. Pessoas de qualquer religião podem ser seguidores dos ensi- namentos da Seicho-No-Ie. Isso porque é uma filosofia que não prega o sectarismo religioso, ou seja, para os seguidores, todas as religiões possuem bons aspectos. Todas provêm de um único Deus, Na AJSI também são vendidos livros sobre a doutrina japonesa o que aliás é outro ensinamento: o monoteísmo. Organização Atualmente a Seicho-No-Ie do Brasil é dividida em cinco organizações: Associação Fraternidade, Associa- ção Pomba Branca, Associação dos Jovens, Associação da Prosperidade e Departamento de Educadores. Tais organizações promovem eventos para diferentes tipos de publico, dando atenção especial a cada um. Além disso, programas de TV e rádio, livros e revistas, são utilizados para propagar as ações dessas organizações, bem como os ensinamentos da doutrina. Existem tam- bém as Academias de Treina- Para saber mais mento Espiritual procuradas por quem deseja equilíbrio e paz Seicho-No-Ie do Brasil: interiores. Em 2006 foi inau- www.sni.org.br gurado em São Paulo o Museu Histórico da Seicho-No-Ie do Sede de Belém: Brasil, atendendo a necessidade Av. Generalíssimo Deodoro, 675 - CEP 66055-240 de preservação da memória do Fone/Fax.: (91) 3224-5579 / 3212 - 4458 seguimento no país.
  • 18. ÁsiaKi Massagem Tailande- sa: relaxante e reju- venescedora Dores na costa, pernas, cabeça, ansaço, estresse... Essas são reclamações comuns que ouvimos (e também sentimos) diariamente de trabalhadores que passam de seis a oito horas exercendo sua profissão. Mas essas pessoas se queixam porque ainda não conhecem um estilo de massagem oriental que promete relaxamento, tranqüilidade e a capacidade de preservar a juventude. por: Raphael Freire Foto: Google A massagem citada acima é conhecida como Thai Massagem ou simplesmente Massagem Tailandesa. Desenvolvida no século V a.C - época de Siddhartha Gautama, o Budha - pelo médico indiano Jivaka Kumar
  • 19. ÁsiaKi Bhaccha (considerado o pai da medicina tailandesa) na região que hoje compreende a Índia e o Nepal, a técnica chegou à Tailândia - por tradição oral mestre/discípulo há quase 2500 anos com a expansão do Budismo na região. Intimamente ligada a essa doutrina, a massagem Thai é um caminho para se cultivar os quatro estados divinos de: Metta (bondade amorosa), Karuna (com- paixão), Mudita (alegria contagiante) e Uppekha (im- parcialidade, não-agressão). Hoje, é praticada como um dos pilares da medicina tradicional tailandesa, que é composta por quatro ramos distintos: a medicina nutricional, a fitoterapia, a prática da meditação, além da própria massagem. Com um enfoque mais energé- tico do que físico, a Thai Massa- gem é feita por meio de pressões profundas com as mãos, pole- gares, joelhos, cotovelos e ante- braços nos canais chamados Sen, por onde circula a energia vital do corpo e também por alonga- mentos musculares, manipulações articulares e torções. O objetivo é liberar os bloqueios e estagnações da energia vital, para que haja um equilíbrio no nível de energia essencial à manutenção de um indivíduo saudável e livre de dores; ou seja, manter em equilíbrio e harmonia o corpo, a mente e o espírito. A cadência dos movimentos da massagem propicia um profundo relaxamento e bem-estar interior tanto para o cliente como para o massagista. Por isso, para que a eficácia da massagem seja alcançada é necessário que o terapeuta utilize a meditação e o Yoga; e o cliente precisa respirar profundamente, além de ambos estarem em um lugar tranqüilo. Durante uma seção, que dura em média duas horas, há um sentido de fluidez, integração e companheirismo. “O corpo físico tem memória emo- cional . Muitas vezes quando tocamos alguém, estamos tocando os pais e a família e toda a influência deles na pessoa. Estas memórias estão enraizadas nos músculos, tendões,olhar, postura, respiração. A intenção da Mas- sagem Thai é então , dissolver memórias emocionais
  • 20. 20 ÁsiaKi que possam estar limitando o crescimento verdadeiro do cliente”, conta Sônia. Apesar de tantos benefícios, a massagem é contra indicada para pessoas que sofrem de doenças cardíacas congestivas, osteoporose, as que possuem próteses de joelho, quadril, etc. Ligação com o erotismo Logo quando se pensa em massagem tailandesa a primeira imagem que vem em nossas mentes é a de prostitutas oferecendo-a em troca de dinheiro. Não se pode negar que esse tipo de massagem possui uma con- hecida conotação erótica, mas esse não é o real sentido da massagem. No Ocidente a massagem tailandesa foi disseminada como sendo uma massagem de cunho erótico, servindo para excitação e prazer sexual, sendo distorcida a sua natureza terapêutica e espiritual. Segundo Sônia, as guerras no Oriente - em especial as do Vietnã, Laos e Camboja, países vizinhos da Tailândia – contribuíram para o crescimento da prostituição e outras circunstâncias sócio-econômicas da própria Tailândia. Foi dessa forma que os ocidentais tiveram o primeiro contato com a Thai Massagem, sob a experiên- Foto: Google cia da conotação sexual. O contato corporal nesse tipo é massagem é muito intenso, mas o nível de concentração, relaxamento, confiança e seriedade é muito alto; além disso, o “paciente” permanece ves- tido em roupas confortáveis durante a massagem Thai e não são necessários óleos para a pele. As pessoas estão buscando cada vez mais um conforto espiritual, onde as relações humanas ultrapassem cada vez mais os valores mate- riais e as pessoas busquem uma vida subjetivamente mais saudável e mais próxima dos seus semelhantes.
  • 21. ÁsiaKi 21 Espiritualidade Nós ocidentais estamos acostumados a um médico nos receitar remédios para que uma doença seja curada, talvez por isso, às vezes é difí- cil acreditarmos no potencial de cura dado a um ser vivente, como sendo um dom da própria natureza. “Todo o que sofremos no corpo físico é apenas expressão do que está em desequilíbrio nos planos energéticos e sutis de nossos corpos psíquicos, emocio- nais e espirituais. Por isso, no oriente, a medicina sempre esteve ligada às práticas es- pirituais. Todos os recursos e procedimentos médicos deco- rrem desta visão espiritual do ser humano”, diz a terapeuta corporal Sônia Imenes. Thai Massagem na Gravidez A Thai Massagem é uma prática meditativa que promove estados meditativos e contem- plativos que estreitam os laços mãe/filho e permitem à gestante saborear uma gravidez prazerosa e saudável. Durante a gestação, a massagem alivia os desconfortos, bem como prepara o corpo para o parto trabalhando a mobilidade e o fortalecimento das articulações, atuando sobre o sistema nervoso, melhorando o sono, a digestão e diminuindo o stress; propicia, com o toque acolhedor, suporte emocional e conforto; reduz e alivia dores nas articulações, pescoço e costas causadas pelas alterações na postura, fraqueza muscular, tensões e ganho de peso; melhora a circulação sanguínea e estimula o sistema linfático e ajuda a manter a elasticidade da pele. No fim das sessões, há também espaço para debates em grupo sobre questões da gravidez, parto, corpo e maternidade. “Em grupos com outras gestantes ou em sessões individuais, a massagem tem um papel significativo na preparação da futura mamãe. A experiência do contato corporal durante a gestação, o trabalho de parto e após o nascimento do bebê ajudam-na a tocar com mais eficiência e transmitir carinho, conforto e segurança a seu filho”, afirma Sônia Imenes.
  • 22. 22 ÁsiaKi Conexão digital Há 57 anos, Assis Chateaubriand, um dos maiores visionários da historia do Brasil inaugurava na cidade de São Paulo a TV Tupi, a primeira emissora de televisão da América Latina. De lá para cá a televisão exerce um papel fundamental e mar- cante em nosso país, tanto que hoje a TV está presente em 96% das residências brasileiras. Ela tem o poder de levar o mais variado cardápio de conteúdos até seus telespectadores e estes por sua vez resignificam essas informações da forma que melhor lhes convém. A TV se tornou um espaço público com constantes tensões e disputas de poder por: Aílton Faro quando as teorias apocalípticas anunciavam o seu fim em conseqüência do advento da internet, surge a TV Digital para mostrar que esse meio de comunicação está longe de seu fim. No Brasil as transmições da TVD tiveram inicio no dia 2 de dezembro de 2007, em São Paulo, A solenidade de inauguração reuniu a cúpula do Gov- erno Federal, as principais empresas de radiodifusão do país, políticos dos mais variados nichos. Os discursos calorosos e um vídeo promocional ditaram o ritmo da festividade. No que tange o processo de digitalização das transmições televisivas sobram duvidas do que mudou e do que real- mente pode mudar. E se para alguns o modelo adotado irá reconfigurar as relações sociais e conduzir o processo de convergência midiática, para outros muda sem mudar nada. Algo que vem gerando muita dis- cussão diz respeito ao modelo de TVD adotado pelo Brasil. No dia 26 de junho de 2006 o presidente Luiz
  • 23. ÁsiaKi 23 Inácio Lula da Silva decidiu por decreto que o Brasil adotaria o sistema de modulação de TVD do Japão, o ISBD-T, para servir como base do Sistema Brasileiro de TV Digital. Estavam na briga também os modelos ATSC dos Estados Unidos e o Europeu DVB. Além de consórcios financiados pelo governo (conduzidos pelo De acordo com o Prof. Dr. CPqD e Anatel, e pela SET/Abert, esta ultima ligada Evaldo Gonçalves Pelaes, do as radiodifusoras) envolvendo diversas instituições de curso de pós-graduação em pesquisa para desenvolverem um sistema brasileiro e telecomunicação da UFPA, também analisar, caso implantados, qual dos modelos o ISBD-T foi o modelo estrangeiros se adaptaria melhor às condições do país. que melhor se adaptou as Mas por que foi escolhido o modelo do Japão? condições geoclimáticas e . O ISBD-T é o único modelo que já oferece porta- ao relevo do país, apesar das bilidade, ou seja, que possa ser transmitido à aparelhos diferenças em relação ao moveis como celulares e leptops, e sem custo ao usuário. Japão Outro motivo considerável para a escolha desse modelo foi a dispensa do pagamento de royalties. Já entidades como o INTERVOZES “Coletivo Brasil de Comuni- cação Social” argumentam que o principal motivo por essa escolha se deu por conseqüência da enorme pressão que a Rede Globo e as outras radiodifusoras fizeram em defesa do japonês. A professora da Faculdade de Comunicação Social da UFPA Maria Ataíde Malcher esclarece que a Rede Globo promoveu audições e pesquisas para saber qual modelo seria o melhor,de acordo com os seus interesses, e que mudanças poderiam ocorrer nesse processo de migração digital. “Para a Globo o padrão japonês é mais interessante por conta da alta qualidade das imagens e do som e por motivos mercadológicos. O ISDB permite A TVD pode ainda oferecer às emissoras de TV disponibilizarem sua programação outros tipos de serviços aos receptores moveis como celulares sem a necessidade como: acesso a internet, de encaminha-las antes às redes de transmissões das informações sobre o clima/ operadoras de celular”, esclarece a professora. O que temperatura, resenhas deixaria as teles de fora de um negócio de cerca de 100 de filmes, detalhes da bilhões de dólares. Gerando certo descontentamento programação e a tão sonhada dessas empresas em relação ao governo. Esse valor pode interatividade. explicar a dispensa dos royalties pelo governo japonês pelo uso de sua tecnologia, pois o contrato assinado por Celso Amorim, Ministro das Relações Exteriores do Brasil e por Taro Aso, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, prevê a construção de uma indústria de semi- condutores com capital japonês. O que gerou um outro descontentamento com o governo, dessa vez por parte
  • 24. 24 ÁsiaKi das empresas que trabalham com a indústria de semicon- dutores aqui no Brasil. O que muda na forma de se fazer TV no Brasil? Muito se argumenta em relação ao fato de nós viver- mos em uma sociedade das imagens. Em certa medida a televisão é o espelho dessa sociedade. E quando se fala em alta definição quer dizer que um maior número Mudanças de detalhes se tornam perceptíveis. “Nas audições pro- Segundo o professor Evaldo movidas pela Rede Globo foram exibidas cenas de um Pelaes “A TV Digital possui mesmo programa nos padrões analógico e digital a fim uma tecnologia bem mais avan- de estabelecer as diferenças entre eles. Se na TV analógica çada; uma definição bem maior o rosto da Fátima Bernardes parece perfeito, na digital das imagens. Em quanto na TV sobram rugas e marcas de espinhas, se nos comerciais analógica a resolução média é de cerveja as modelos exibam seus corpos esculturais, de 480 linhas com um formato agora aquela celulite inocente, a estria quase invisível de (4:3), na digital é de 1.080 pode se tornar um grande incomodo, principalmente linhas e no formato widescreen para quem quer transparecer perfeição. E isso demanda (16:9), possui cores mais níti- muitas mudanças: na maquiagem, na composição dos das, com seis canais de som cenários, na forma física dos atores”. - Dolby Digital, já o analógico As transmissões da TV Digital no Brasil tiveram inicio no suporta apenas dois - mono e final do ano passado. Inaugurações de emissoras de tele- estéreo”. visão e de inovações tecnológicas as vésperas de grandes Ainda é cedo para afirmar que eventos esportivos, tipos de serviços a respeito da como Ólimpíadas e interatividade serão realmente Imagem: Google Copas do Mundo, disponibilizados no Brasil. Essa não é nenhuma novi- característica da TVD é um dade no Brasil. Era processo que ainda está sendo prática corriqueira estudado não só em nosso país no período da Ditadura mas também em outros onde já Militar. Por isso nem foram implantados e que ainda a tecnologia pela téc- irão implantar, como a China, nica nem a tecno- que até o final de 2008 pretende logia pelos grandes iniciar as suas transmições de latifúndios da ra- TVD. diodifusão poderão consolidar o direito a uma comunicação democrática. Por isso discutir com a população e dão- lhes condições de aceso a essas tecnologias, será sempre o melhor começo para novas eras.
  • 25. ÁsiaKi 25 Os quimonos de Belém Foto: Google Início agitado de uma manhã em Kyoto, no Japão. No seio da turba de ternos, blazers e calçados mod- ernos ocidentais que flutuam pelas ruas envolvendo seus usuários, uma senhora caminha apressada trazendo pelo braço direito uma jovem, provavelmente sua neta, ambas vestindo finos e coloridos kosodes. Há cerca de 30 anos, estas vestes representavam a superfície da alma japonesa por Felipe Cortez Hoje, porém, cederam espaço à criatividade dos es- tilistas de Nihon e de vários cantos do planeta. “A coisa para se vestir” (significado literal de kosode), entretanto, sobrevive como vestuário padrão das reuniões mais for- mais e tradicionais da família japonesa. Em pensar que, há um século, o kosode chegou ao Brasil com outro nome, vigorante até hoje. Seria ela Kimono, palavra resultante das transformações advindas da reabertura japonesa ao Ocidente, no século XIX. A original kosode, entretanto, designa os belos e finos trajes que marcaram atores soci- ais da história japonesa por mais de um milênio, quando Kyoto virou capital do Império Nipônico. A versão aportuguesada quimono, por sua vez, rep- resenta não apenas a tradicional veste japonesa, como também os trajes típicos de artes marciais como o Karatê e o Judô. Trata-se, na verdade, do primeiro significado ao qual a palavra quimono remete no estado do Pará. A tradicional veste é rara em Belém, podendo ser observada
  • 26. 26 ÁsiaKi em algumas reuniões da comunidade nipônica local. E não havendo muitas lojas especializadas em sua comercialização nessa região do Brasil, é comum que muitos quimonos sejam importados dos estados de São Paulo e Paraná, principais pólos da cultura japonesa no Brasil, ou até mesmo do Japão. Mas há na Cidade das Mangueiras quem se inspire no kimono para recriar a moda. A sofisticação milenar do quimono pode ser observada desde as primeiras coleções da grife Manufatura, criada em 2005 pelas estilistas Izabela Jatene e Milene Fonseca. Naquele ano, as paraenses resolveram fazer releituras dos padrões do kimono, utilizado como referência para a criação de trajes adaptados ao clima local e estampados à moda brasileira. Assim, Izabela e Milene criaram outras formatações do quimono, como vestidos e blusas de uma só camada, agradáveis nos costumeiros 28º C de Belém, além de serem muito mais leves e práti- cos do que os antigos quimonos de 12 cama- das do Japão Feudal. “O que fizemos foi dar um grande ‘quê’ de brasilidade Foto: Felipe Cortez nesses quimonos, quando você dá a cor, a estampa”, explica Izabela. A brasilidade a que a estilista se refere não está presente apenas no colorido dos quimonos que desenha com Milene, mas ao próprio formato que o traje ad- quiriu no panorama climático do Trópico Úmido. Izabela conta que o trabalho desenvolvido com estampas é também influenciado pela própria cultura japone- sa. “O Japão é extremamente colorido. E hoje, se você for analisar a sociedade japonesa pós-moderna, verá que ela é mais colorida do que antes. Então eles [os estilistas japoneses], e até nós, vamos buscar essas cores nas referências ori- entais, inclusive religiosas”, diz. Izabela conta que seus quimonos sempre sofrem alterações na forma entre uma coleção e Isabela Jatene, além de estilista, le- eoutra, devido à ânsia ciona no curso de ciências sociais na
  • 27. ÁsiaKi 27 O QUIMONO ATRAVÉS DAS ERAS Heian (794-897) Edo (1603-1868) Paz, fartura para as elites e a arte Se virasse filme, se chamaria a se desenvolvendo plenamente. “Supremacia Kosode”. Neste Esse foi o terreno fértil para o período o kosode, até então surgimento oficial dos primeiros limitado às mulheres, conquistou kimonos japoneses. Os nobres a macharada a partir de usavam sokutai, conjunto com adaptações de tamanho e temas. O mangas e caudas largas que, à desenvolvimento e popularização época, só perderia em pompa para de movimentos culturais como os juni-hitoes, kimonos formados o teatro Kabuki só aumentaram por conjuntos de 12 camadas a moral do kosode, que viu o que davam um aspecto singular nascimento de um famoso irmão, o –difícil encontrar um adjetivo para furisode, kimono de manga longa expressar tal beleza- às cortesãs da usado por gueixas como ferramenta corte imperial japonesa. de sedução. Data daí a consolidação do kosode como veste padrão dos japoneses. Kamakura (1185-1333) Todo militar odeia frescura –a Meiji (1868-1912) exceção dos bofes de elite da Aí avacalhou. Nesses tempos o vida. Não é a toa que, durante Japão se abriu para o Ocidente e o surgimento da classe militar este chegou ao arquipélago com dos Samurai, os quilos e mais tudo o que tinha direito: ternos, quilos de pano de sokutais e gravatas, sapatos de couro e juni-hitoes perderam a vez vestidos dos mais variados. para os hitatares (homens) e Governo japonês viu aquilo kosodes (mulheres), conjuntos e gamou, né? Decretou que mais simples com mangas todos os funcionários públicos, curtas e saiões flexíveis militares e civis deveriam usar chamados hakamas, mas trajes à moda do Ocidente –leia- ainda feitos a partir da seda. A se à inglesa. frescura ainda sobrevivia. Muromachi (1338-1568) Showa (1926-1989) Constantes batalhas pelo O processo se intensificou ainda mais fragmentado poder do arquipélago após a segunda guerra, quando o fizeram deste período o mais derrotado Japão conheceu um aliado um sanguinolento da história japonesa. tanto culpado por brincar de cowboy No meio de todo o quebra pau, com bombas atômicas: Os Estados os caras inventaram de trocar a Unidos. Os estilos de kimono ficaram seda dos hitatares pelo linho, o que menos complexos e a distinação entre resultou no suô e no daimon. A wafuku (roupas japonesas) e ifuku mulherada, por sua vez, manteve o (roupas orientais) ficou mais clara. kosode no topo da parada de veste padrão. Crédito das gravuras: The Book of Kimono
  • 28. 28 ÁsiaKi por exclusividade da clientela. “Como a gente mistura muito tecido, nenhuma peça fica parecida com outra”. A demanda, que exige a manutenção mensal de cinco a seis peças nos cabides da Manufatura, é interpretada por Izabela de dois modos: o antropológico e o da moda. O Ocidente se apropria de “O Brasil tem uma relação com a cultura oriental muito algumas referências da cultura forte, não só a partir da lógica migratória”, lembra. A oriental, pois há uma relação estilista entende que a contemporaneidade, também com as pessoas que chegaram reclama uma resignificação de valores, o que trouxe à aqui, culturalmente falando, e tona os valores da cultura oriental, sobretudo as filosofias também porque o ser humano espirituais orientais, o que, por sua vez, estreitaram os está para o consumo assim vínculos culturais não só entre Brasil e Japão, mas entre o como está para a lógica do Ocidente e o Oriente, em uma ótica mais abrangente. “O belo, porque ele acha bonito, meu princípio de vida é o budismo. A partir dele eu tento porque ele internaliza algumas resignificar uma série de coisas na minha vida. A própria coisas. Dentro dessa grande filosofia budista vem crescendo no mundo inteiro, e não miscelânea pós-moderna, vem crescendo à toa. Isso acontece porque ela realmente você tem várias referências repensa os significados do consumo, da alimentação e culturais postas e você vai da vida cotidiana a partir de uma lógica que não é uma apropriando isso de diversas lógica do outro, mas uma lógica de você mesmo”. formas É bem provável que a esta altura da matéria você esteja louca (o) para ter um quimono. Mas antes de sair em busca do traje pela Internet ou até mesmo de fazer uma visita às estilistas da Manufatura, é bom ter uma idéia do quanto custa essa verdadeira iguaria da moda mundial. A reportagem pesquisou preços de quimonos em diversas lojas Foto: Google e a uma conclusão chegou: encontrar quimono bom e barato é tarefa para difícil. Em alguns sites é possível encon- trar quimonos entre US$ 80 e US$ 150. Por aqui, a releitura dos quimonos da Manufatura, dependendo do formato, se blusa ou vestido, custam entre R$ 120 e R$ 160. Nada mal para o similar de um original que pode chegar aos salgadinhos US$ 40 mil. A apropriação cultural muitas vezes passa despercebida, encoberta por um desejo pelo que é belo. Kosode ou ki- mono, “made in Japan” ou “du Pará”, a peça encanta gerações de mulheres de todas as etnias e mesmo que não seja a mais indicada para se usar no calor de Belém, vale experimentar.
  • 29. ÁsiaKi 29 A Viagem de Fantástico, sensível e empolgante. Imagem: Google Assim podemos começar a descrever o filme “A Viagem de Chihiro”. Amantes do gênero Animação/Aventura gostaram do filme, principalmente por prende o espectador até o final feliz, que apesar de doce, não é “meloso”. por: Killzy Kelly A personagem principal do filme é Chihiro, uma garota de 10 anos que acredita que todo o universo deve atender aos seus caprichos. Após seus pais lhe contarem que vão mudar de cidade, ela fica furiosa, e não faz nenhum esforço para esconder sua raiva. Durante a viagem de mudança, completamente absorvida pelas lembranças dos amigos que estão ficando para trás, Chihiro percebe que seu pai se perdeu no cidade aparentemente sem nenhum habitante. Famintos, os pais da garota decidem comer a comida que está disponível Imagem: Google
  • 30. 30 ÁsiaKi em uma das casas, enquanto a menina explora a cidade. Entretanto, logo ela encontra com Haku, um garoto que lhe diz para ir embora o mais rápido possível. Ao reencontrar seus pais, Chihiro fica surpresa ao ver que eles se transformaram em gigantescos porcos, en- quanto que misteriosos seres começam a surgir do nada. É o início da jornada da garota em um mundo fantasma, povoado por seres fantásticos, no qual humanos não são bem-vindos. Sua estadia nesse lugar mágico não é gratuita e muito menos de aventuras cheias de flores ou príncipes. Logo ela começa a trabalhar numa casa de banhos, onde o trabalho é grande, exaustivo e nem um pouco compensador, mas para Chihiro isso é apenas uma parte do seu aprendizado, não de afazeres domésticos, mas de como ser uma criança mais humana, generosa e compreensiva. Foto: Google Extras que valem a pena Após ver o filme é quase con- seqüência pular para os extras, e nele o material é fundamental para conhecer mais como o filme. São mostradas todas as etapas de produção dos desen- hos, da história e da animação. O foco principal, entretanto, é para o prazo apertado que o diretor e roteirista Hayao Miyazaki teve para concluir o filme. Não se sabe ao certo o porquê, mas o apuro técnico pode ser uma das explicações, já que os desenhos são no mínimo impecáveis. Ao contrário do que se pensa, japoneses tem problemas com tempo e projetos como o restante de nós, mortais. Lançado em 2001, com 122 minutos de duração, o filme de Miyazaki é uma produção de sete estúdios. No Oscar 2001 era um dos favoritos a Melhor Filme de Anima- ção e de fato levou a estatueta pra casa. Recebeu uma indicação ao BAFTA e ao Cesar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas foi ao ganhar o Urso de Ouro no Festival de Berlim que realizou sua grande façanha já que se trata do primeiro longa-metragem de animação a ganhar o prêmio.
  • 31. ÁsiaKi 31 Yosakoi Soran: arte e dança oriental Quarenta braços ágeis atiram redes de pesca imaginárias ao ar. Os pés, em igual número, conduzem com harmonia pescadores dançarinos que vibram a cada “dokaisho! dokaisho!” e “soran! soran!”. por Felipe Cortez No salão da Associação Nipo-Brasileira, o público que contemplava esta seqüência de movimentos pela primeira vez pasmou e aplaudiu. A cena, ocorrida em 2005 em Belém, certamente pode ser observada em outras cidades brasileiras onde um grupo de Yosakoi Soran tenha feito sua primeira apresentação Oficialmente criado em 1992, o Yosakoi Soran é uma das mais populares manifestações da recente e expansiva cultura popular japonesa. Naquele ano, em uma viagem a província de Kochi, ao sul do arquipélago nipônico, estudantes de Hokkaido, cidade do Norte japonês, con- heceram a dança Yosakoi Naruko, que expressa o amor entre um monge e uma mulher. De volta a Hokkaido, os jovens decidiram fundir o Yosakoi Naruko com o Soran Bushi, outra dança tradicional do Japão, que enaltece a força dos pescadores do Norte do país. Não demorou muito para que o híbrido pop resultante da fusão destas danças ganhasse força na terra do sol nascente e ultra-
  • 32. 32 ÁsiaKi passasse seus limites geográficos, chegando a cidades de todos os continentes, como Belém. A cada apresentação na cidade das Mangueiras, os gru- pos de Yosakoi ganham novos componentes, desejosos de conhecer mais uma expressão artística de uma cultura que abre os braços ao paraense e que vai comemorar, em 2009, oitenta anos de enraizamento no estado. Sim, esta é a idade que a imigração japonesa no Pará –ou melhor, na Amazônia- está prestes a completar. Diferente do que ocorre com boa parte da chamada cultura pop japonesa, muitas vezes “baixada” via Internet –como ocorre com as animações japonesas-, o Yosakoi Soran aqui chegou através de um nipônico de carne e osso. Em 2004, Momoe Omura, professora de japonês nascida em Hokkaido, veio para um intercâmbio de dois anos com a escola Novo Mundo, na capital paraense, onde ensinou os passos da dança a crianças das turmas de língua japonesa. “Como todos os anos a escola promove um festival de cultura brasileira e japonesa, ela ensinou as crianças das turmas de japonês a dança Yosakoi Soran e Foto: Felipe Cortez
  • 33. ÁsiaKi 33 Foto: Felipe Cortez tivemos a idéia de passar também passar para os alunos jovens apren- derem”, conta Mônica Honda, coordenadora do grupo Shinsekai, que, em português, significa Novo Mundo. O Yosakoi Soran do Shin- sekai conta com 36 integrantes ensaiando regularmente, durante as manhãs de sábado. “Yosakoi Soran constitui-se essencialmente de uma sincronia de movimentos simples, em geral, baseados no cotidiano dos pesca- dores. Também é interessante a necessidade de um grande numero de pessoas (no Brasil os grupos costumam ter entre 30 e 40 pessoas, e no Japão, passam de 100 pessoas por grupo) para apresentações, posto que o efeito visual da sincronia torna-se mais evidente, algo que acentua a beleza da dança”, diz Igor Almeida, também membro do Shinsekai. Segundo grupo de Yosakoi Soran fundado em Belém, Há quem diga que a dança o Yui, da escola Kyoto Oti, cresce junto com o interesse agrada pela simplicidade dos do paraense pelo Oriente. Yui significa união e nomeia movimentos e pela disciplina o grupo fundado em 2007. Com pouco mais de um ano que desperta. de existência, o grupo aproveita os eventos comemora- tivos do centenário da imigração japonesa no Brasil –a exemplo do que também faz o Shinsekai- para congregar novos dançarinos, como é o caso da estudante Agrícia Pimenta, de 22 anos, que começou a aprender Yosakoi Soran em uma das oficinas festivas da Kyoko Oti. “Meu namorado é japonês, então já tenho um certo contato com essa cultura. Mas foi num evento, o Amazônia no Matsuri do ano passado, que vi a dança e fiquei admirada. Quando vi no jornal que tinha uma O fortalecimento dos grupos oficina ensinando Yosakoi Soran, pensei que não podia de Yosakoi Soran em Belém perder a chance de aprender”. Agrícia desconhecia a jovi- é condicionado pelo interesse alidade do Yosakoi Soran até se deparar com a professora crescente do brasileiro por da dança, cinco anos mais jovem que a aprendiz. Caro- um Oriente cada vez mais lina Loureiro, 17 anos, aprendeu a dançar no início de próximo. 2007 e com dois meses de treinos já ensinava o Yosakoi Soran. “Já havia tido contato com essa dança em outra escola de japonês. Mas aqui, na Kyoko Oti, um profes- sor mostrou um vídeo de Yosakoi pra gente. Muitos gostaram e começaram a ensaiar. Hoje nosso grupo tem
  • 34. Foto: Felipe Cortez 34 ÁsiaKi cerca de 20 componentes regulares, número que aumenta a cada mês. Muitos deles já faziam japonês e resolveram participar, até porque é de graça, ninguém paga mensali- dade pra aprender Yosakoi”. O ensino do Yosakoi Soran é gratuito nos dois grupos de Belém. Entretanto, se o dançarino pensa em participar das apresentações do Shinsekai ou do Yui, precisa mandar fazer a própria roupa, que custa de R$70 a R$100. Ser convidado para novas apresentações e receber integrantes é o reconhecimento a um trabalho intenso de divulgação da cultura japonesa no Pará. Para corre- sponder a isso, os dançarinos das escolas Novo Mundo e Kyoko Oti tentarão levar o estado aos lugares mais altos do pódio do 6º Festival Yosakoi Soran, que vai reunir 40 grupos de todos o Brasil em São Paulo no dia 27 de julho e distribuir R$20 mil em prêmios. Enquanto o festival não chega, os grupos aproveitam cada evento da comunidade nipônica local para atiçar a coceira da curiosidade de pes- soas de toda Belém. Contudo, independente da posição alcançada no concurso na Paulicéia, o Yosakoi Soran de Belém só tem a crescer até 2009, quando a presença do japonês na Amazônia completa oito décadas e muitas festas em homenagem a ocasião devem querer, entre suas atrações, o híbrido pop de Hokkaido. Foto: Felipe Cortez
  • 35. ÁsiaKi 35 Tradição e modernidade: literatura japonesa Por mais de séculos a cultura oriental, com seus mitos e lendas, instiga a mentalidade do Ocidente. Dragões, samurais e gueixas, personagens que chegam à imaginação contemporânea por meio de suas histórias repassadas de boca-em-boca seja pela literatura O popular ou pela tradicional. por: Paula Catarina século III foi o período inicial em que a cultura japonesa passou por uma forte influência estrangeira. Os carac- teres chineses preencheram a lacuna fonética que os ideogramas – símbolos que representam somente idéias e não sons – como os kanjis, deixavam. Assim como a nossa literatura, a literatura japonesa é dividida em fases, porém os períodos são denominados de acordo com o nome da capital do Império. O Kojiki, que é “O Registro de Assuntos Antigos” e data de 712 d.C., é uma das obras mais antigas. A Manyoshu (Miríade de flores) também Foto: Google faz parte dos clássicos dessa literatura e é a mostra de uma diversidade de textos escritos por vários membros das classes sociais japonesa, de membros das classes mais populares a imperadores. Kakino- moto no Hitomaro, membro da aristocracia do período Nara, é considerado o poeta representativo do Manyoshu, nele escreveu