2. Oriente na Amazônia? Este foi o ousado desafio muito menos, do outro lado do mundo. Logicamente, as
dos estudantes de curso de Comunicação Social –
ÁsiaKi práticas culturais são diversas e singulares. Entretanto,
Jornalismo, da Universidade Federal do Pará, ao somos, em sua maioria, homens e mulheres urbanos,
idealizar a Revista ÁSIAKI. A proposta era combinar consumidores de uma cultura global e híbrida por
diversidade cultural, novas visões de mundo e a natureza.
boa e velha dose de entretenimento cotidiano. Por conta dessa mistura, reunimos o que de Oriente
Conseguimos? Ao leitor, deixamos a tarefa de tem na Amazônia e o que de Amazônia tem no Oriente.
folhear essa idéia. Esporte, literatura, cinema, economia, religião. Dos
Mas, o que a cultura oriental tem haver com a diversos temas aos mais invisíveis dos prazeres de uma
“Belém-Amazônia-Brasil”? Diríamos quase tudo. população que convive com o rotineiramente inusitado.
O cotidiano daqui não diferente do daí, do de lá e,
Nesta edição
· Visual Kei em Belém. pág 3 · A tradição da literatura japonesa. pág 35
· O Laço entre Brasil e Japão. pág 11 · A ideologia do judô. pág 39
· Espiritualidade do Seicho-no-ie. pág 14 · O budismo e a sociedade de valores. pág 42
· A rejuvenescedora massagem tailandesa. pág 18 · A terapia contra demônios. pág 44
· Conexão digital Brasil Japão. pág 22 · Realidade aumentada. pág 47
· Os quimonos de Belém. pág 25 · A arte da imortalidade. pág 49
· Viaje pela mundo de Chihiro. pág 29 · A filosofia do taoísmo. pág 52
· A arte da dança oriental. pág 31 · O país do futebol. pág 55
· O canto transcendental. pág 59
Ficha técnica
* Professores responsáveis: Ana Petruc-
celli, Ronaldo e Simone Romero
.
* Produtores de textos e fotos: Abílo
Dantas; Aílton Faro; Andréa Mota;
Brena Freire; Clareana Rodrigues;
Felipe Cortez; José Fontelles; Josué Ri-
beiro; Killzy Lucena; Paula Catarina;
Raphael Freire; Suanny Lopes; Wellington
Lima
* Diagramação e tratamento de imagens:
Raphael Freire
3. ÁsiaKi 3
Cultura pop japone-
sa em Belém
Muito vermelho, flores coloridas, karaokê...
Tradicionalmente, o Japão é conhecido por expressar sua
cultura brilhantemente colorida por meio de comidas
diferentes, quimonos de cores vibrantes, teatro com
personagens típicos. Mas durante a 2ª Guerra Mundial, a
vida dos japoneses mudou como se tivesse desaparecido
toda a tradição e encantamento da sociedade japonesa.
O
por: Felipe Cortez e Raphael Freire
impulso e o desejo de expressar seus estilos e car-
Foto: Felipe Cortez
acterísticas que lhes são próprios foram reprimidos. Os
japoneses viviam em uma sociedade onde os valores
individuais e os padrões de homogeneidade eram im-
postos com a justificativa para alcançar a supremacia
econômica e tecnológica, na tentativa de reerguer o país
que havia sido destruído durante a guerra. Em casa, na
escola e entre amigos, a regra era simplesmente aceitar
e seguir os mandamentos impostos pelo grupo. Com
quase todos os prazeres individuais negados, a nação
perseguia seus objetivos em concordância harmoniosa
e sempre com pensamento coletivo, deixando de lado
a riqueza cultural e a variedade individual.
Cansados dessa uniformização e padronização, di-
versos movimentos surgem com o objetivo de buscar
a individualidade e expressão dos sentimentos mais
profundos. Um dos precursores é o J-Rock ou rock
japonês, movimento musical de contra-cultura que
Jaime Neto é o precursor do movimento
surgiu com a intenção de romper com convenções. “Os
jovens japoneses não tinham imagem definidas deles mes-
mos. Por não saberem, ainda, a pensar como indivíduos,
eles queriam se libertar das semelhanças, abraçando o
diferente, o exótico”, diz Ken Ohira, autor de 10 livros
sobre psiquiatria de adolescentes. Todo esse desespero
4. 4 ÁsiaKi
Foto: Felipe Cortez
pela busca da diferencia-
ção do todo é perfeita-
mente vista por meio de
um movimento visual
chamado de Visual Kei
ou simplesmente VK.
Antes de tratarmos
mais a fundo sobre o
Visual Kei, uma coisa
deve ser esclarecida:
todo VK pertence ao
J-Rock, mas nem todas
as bandas adotam o es-
tilo VK. Ambos estão A turma de VK’s se reúne todos os fins de semana na cidade
estreitamente relacionados.
Se você está lendo essa matéria e chegou até aqui con-
seguindo perceber que VK e J-Rock não são a mesma
coisa, parabéns! Mas se você ainda não entendeu essa
diferença, a hora é agora.
Imagine que você é um adolescente japonês que está
cansado de seguir as normas que lhe são impostas e de
se vestir quase igual a todo mundo. Por ser um estilo
musical popular no Japão, você ouve J-Rock e gosta
bastante da mistura de sons. Depois fica sabendo o que
compõe todo esse movimente e começa a se vestir como
os integrantes dessas bandas. Pronto você já é um VK!
A partir de agora, você passa a usa roupas muito
chamativas, maquiagem bastante carregada, muitas vezes
aposta nas tentativas de copiar modelos de personagens
de animes... Segundo a psicóloga Sandra Bastos, tipos
O Visual Kei é apenas uma
de comportamentos como este ocorrem principalmente
vertente dentro do J-Rock,
devido uma fase conhecida como polarização, onde o
que pode ser considerado um
desvio de atenção do âmbito familiar é transferido para
dos principais, ou o principal,
o social. “O adolescente começa a descobrir uma outra
movimento que romperam
visão de mundo, ele está deixando de priorizar o núcleo
com convenções e com a
familiar e começa a priorizar o núcleo social e as relações
desindividualização no Japão.
interpessoais”, explica.
Com essa transformação o adolescente procura se
apoiar em alguém que o entenda. “Quando começa a
ter os primeiros embates com a família, o grupo social
funciona como um suporte para esta fase de insegurança,
descoberta, transição. O grupo é compreensivo, acha que
ele está certo. A necessidade de se sentir igual, de ser
aprovado em um grupo, pode ser motivada por diver-
5. ÁsiaKi 5
Foto: Felipe Cortez
sos fatores. Todos os adolescentes querem
chamar atenção, com tanto que não chame
atenção sozinho”, explica Sandra.
Essa busca pela individualidade do grupo
muitas vezes é alvo de preconceitos e estra-
nhesa, principalmente pelos mais tradicio-
nalistas. “Já aconteceu de eu estar andando
na rua e uma senhora, quando me viu,
desviou o caminho para não passar perto
de mim”, conta a promoter e empresária Cris
Vasconcelos, 30, dona da banca Cristal
Mistical e VK.
Existem bandas que não abusam de
roupas e maquiagens elaboradas e per-
formances extravagantes – seguem uma
tendência mais ocidental na maneira de
se vestir –, mas tocam J-Rock, entre elas
estão as bandas 175 R, L’Arc~en~Ciel, Sex
Machineguns, Wyse, BUCK-TICK. “Pro ado-
lescente ‘o mundo é seu limite’. O processo
Algumas garotas se vestem com roupas maculinas
de rebeldia, de ser diferente, de querer
aparecer é passageiro”, justifica Sandra.
Esse estilo musical é bem difícil de ser classificado, pois cada banda possui a sua maneira
de tocar e nem sempre seguem o mesmo estilo o tempo todo. As bandas de J-Rock sofrem
influência de outras derivações do rock, punk e metal. Quando grupos musicais resolvem
mudar a sonoridade das músicas, eles não param por aí: mudam todo o aparato, o interesse e
o pensamento. Quando questionados sobre a qualidade das músicas, os jovens disseram que
retratam a realidade da nossa sociedade. “A música não é para ser entendida, mas para ser
sentida”, conta Giovanna Sovano, 17, VK desde os 14 e gosta de ser chamada de Gika.
Apesar desse estilo se chamar J-Rock (rock japonês), ser popular no Japão e as bandas
serem compostas todas por japoneses, a
maioria dos nomes das bandas não são es-
Foto: Felipe Cortez
critos em japonês: Malice Mizer, Dir em Grey,
X Japan, entre outras.
Em Belém existem cinco bandas (Otaku
Band, X Japan Cover, Shinob 88, Kuroi
Usaghi e Hasenga) que se dedicam a tocar
no estilo do rock japonês e que também são
adeptas do Visual Kei, as bandas geralmente
tocam em reuniões feitas pelos próprios
integrantes ou em eventos como o Japan
Rock Festival, que está sendo organizado
por Cris. Alguns se vestem para
6. 6 ÁsiaKi
Foto: Felipe Cortez
Otaku, é?
“O seu clã” ou “a sua família”
são os significados originais
da palavra japonesa otaku.
Porém, no Japão da década de
80, Otaku virou sinônimo de
fanático ou maníaco. A popu-
larização da palavra entre os
fãs de anime ocorreu por vol-
ta de 1989, quando o croni-
sta Akio Nakamori utilizou a
palavra em um de seus livros,
“A era de M”, cujo enredo
O hobbie dos jovens é posar para fotos nos fins de semana descreve uma série de assas-
sinatos praticados por um
VK’s de Belém buscam viciado em animes e mangás
identidade própria pornográficos. A publicação
O movimento que mudou a cara do rock japonês contribuiu para disseminar
a partir da década de 80 surgiu em Belém no seio de uma imagem pejorativa do
um outro fenômeno da cultura nipônica, o universo otaku, que passou a sugerir
Otaku. o portador de qualquer tipo
Em 2004, um amante dos desenhos japoneses chamado de obsessão dentro e fora de
Jaime Netto, 16, plantou as sementes do Visual Kei na Nihon. O viciado em videog-
Cidade das Mangueiras. Ele percebeu que, apesar dos ames, por exemplo, é um g–mu
eventos direcionados para os fãs de desenhos japoneses já otaku. Já um pasokon otaku
apresentarem vídeos-clipe das bandas visuais de J-Rock, seria um maníaco por com-
ninguém via nisso a inspiração para se vestir como estes putadores. Anime e mangá
artistas, como até então só se fazia com personagens de otakus são os fãs do universo
desenhos. dos desenhos japoneses.
Jaimediz que sempre foi “alucinado” por cultura Em Belém, o fenômeno Otaku
japonesa. Sempre participou das festas promovidas pela já se encontra consolidado,
comunidade nipônica local e buscou ler tudo o que lhe mas reservado a um pequeno
caia nas mãos sobre a cultura oriental. “Até que um dia, público, composto por fãs que
numa revista de variedades que o consulado japonês buscam trocar informações
do Pará distribui, tinha uma matéria sobre Harajuku. sobre seus desenhos favoritos
Eu achei curioso e resolvi pesquisar mais na internet. e acabam se tornando grandes
Nessa época, em meados de 2003, eu nem sabia que amigos, formando ramificadas
havia eventos de anime em Belém e que faziam cosplays. redes de relações. Uma delas
Daí, no ano seguinte, quando fui ao primeiro evento, vi pode ser observada no Orkut,
pessoas fazendo cosplay e clipes de j-rock como atrações
do evento, mas ninguém fazia VK”.
No Animazon, realizado no Taikai (tradicional encontro
de otakus em Belém) de 2005, Jaime, acompanhado de
Giovanna Sovano, amiga da escola, usava roupas pretas
7. ÁsiaKi 7
mas precisamente na comuni- e rasgadas e maquiagens feitas pelos próprios adoles-
dade Animazon. “A gente não centes, que lembravam os VK’s da década de 90, em que
conhece todo mundo, mas predominou o Kote Kote Kei (ver boxe ‘Gêneros de Visual
essas redes de relações per- Kei’). “Já no nosso segundo VK nos preocupamos em
mitem que a gente possa di- mandar fazer as roupas em costureiras e tivemos mais
vulgar os eventos”, diz Arcan- cuidado com cabelo e maquiagem.
jo – na verdade Alexandre – Algum tempo depois, o garoto adotou um pseudônimo,
otaku de 24 anos que continua como faz todo VK. Seu novo nome era Hooki. “Hooki
firme no que gosta e faz cara pode significar várias coisas: abandono, rebeldia, difer-
feia para quem ainda acredita ente e vassoura. Naquela época o que eu queria mesmo
que anime é coisa de criança eram os três primeiros significados. Vale lembrar que
ou adolescente. A divulga- todo artista do cenário J-Rock/Visual Kei adota um
ção do primeiro Tomodachi de pseudônimo”, Jame continua dando exemplo do guitar-
2008, ocorrido em março, por rista da banda The Gazette, conhecido como Aoi (significa
exemplo, foi feita apenas por “Azul”), que, na verdade, se chama Shiroyama Yuu, um
Orkut. Assim, conseguimos nome comum no Japão.
reunir no Cefet-PA cerca “Inspirado nisso, muitos
de 700 otakus. Os principais fãs adotam pseudônimos
eventos de Belém são o também”.
‘Otaku no Matsuri’, ‘Tomodachi- Hoje, os eventos que
Con’, ‘Animazon no Taikai’ e o reúnem os otakus da
‘Animazon Connection’ (os dois cidade recebem VK’s
últimos se diferenciam apenas aos montes. Entretanto,
pelos grupos organizadores). também há encontros
Nesses eventos, os otakus exclusivos para esses
basicamente fazem concursos grupos, que ocorrem
de cosplay, onde quem vence geralmente sob as for-
é quem imita a atitude e se mas de reuniões fecha-
veste mais fielmente como os das em locais específicos
seus personagens de desenho – casas, salões alugados e
favoritos; cantam os animesongs praças reservadas – e de
ou outras músicas asiáticas passeios do tipo Hara-
que gostam. Além disso, juku, em que os VK’s
Rege, celebridade entre os VK’s de Belém
jogam games como Super Smash desfilam, em grupo, por
Brothers e The King of Fighters e lugares públicos como
também dançam, conhecem um shopping, uma praça ou um bosque. Já nas reuniões
novos otakus e trocam idéias fechadas, os VK’s ouvem e conversam sobre J-Rock,
sobre os velhos e novos an- cantam músicas que gostam em karaokês, brincam, para
imes da praça. não deixar nada passar em branco, se fotografam. É a
fotografia aliás, que permite o contato de outros otakus
com o universo do VK através de sites de relacionamento
como o Orkut, ferramenta virtual já enraizada na cultura
comunicacional desta turma.
Reges, lembra que Visual Kei não está ligado apenas
8. 8 ÁsiaKi
à aparência. “Visual Kei não é só pose, é uma atitude.
Não adianta querer fazer um figurino bem feito
se a pessoa não conhecer o j-rock e as bandas.
VK não é uma tribo, é um movimento”, diz o
jovem de 18 anos, vocalista de pelo menos três
bandas de música japonesa de Belém, também
animador de encontros, cosplayer e, além de tudo
isso, o rapaz ainda se dedica em ser o hair design
do grupo. Isso mesmo, Reges prepara os cabelos
dos amigos VK’s e o próprio, além de conhecer
técnicas de maquiagem. Não é à toa que ele cursa
Design em uma faculdade de Belém. Para ver o
Harajuku: O outro lado do espelho
Belém não possui um “point” específico para
o Visual Kei. Normalmente, nossos VK’s se
reúnem em locais como Parque da Residência e Casa
das Onze Janelas, onde, dizem com unanimidade, ficam
a salvo de “olhares maldosos”. Entretanto, no berço do
movimento músico-visual japonês, há um bairro que Um dos locais
acolhe todos os fins de semana, não apenas os VK’s, preferidos dos
mas todas as tribos de Nihon.. VK’s de Belém
Quem chega de trem à província de Shibuya (em Tóquio) é o complexo
pela linha Yamanote e dá os primeiros passos para fora da Feliz Lusitania
estação Harajuku pode se sentir transportado para outra
dimensão da moda alternativa, onde seres, aparentemente
jovens e humanos, desfilam com o que há de mais in-
imaginável na arte de se vestir. Adolescentes as portas
da vida adulta, perseguidores do reconhecimento
à sua singularidade. Bairro tradicional da moda Foto: Felipe Cortez
underground japonesa, Harajuku, herdeiro do
nome da estação que circunda, é, aos domingos,
um dos maiores palcos da imaginação oriental.
Grupos de adolescentes com estilos em comum
transitam pelas ruas, consomem nas lojas das
grandes grifes, conhecem outros jovens e obser-
vam peças que poderão usar de um jeito diferente
do observado no próximo domingo. Garotas
Gyaru de ar infantil posam loiras e bronzeadas
para as lentes curiosas de amigos e turistas. Loli-
tas, góticas ou elegantes, observam sorridentes os
artistas de rua não menos exuberantes, rodeados
de cosplays de bandas de J-Rock e Visual Keis.
Muitos flashes, vídeos gravados, apresentações de novas
9. ÁsiaKi 9
bandas e a tecnologia “made in japan” afloram a todo
minuto em cada esquina.
No fim da tarde de domingo, começa a metamorfose. O
que eram seres de intrigante e, muitas vezes, apaixonante
aparência, entram em casúlos – geralmente os banheiros
de lanchonetes como McDonald’s e Burger King – para
tornar às suas formas originais. Harajuku recebe todos os
domingos entre 3 e 4 mil jovens que, não raro, passaram
a semana ralando na escola, dando duro no trabalho e se
comportando bem no ambiente familiar para, naquele
dia, provar sua capacidade de superar moda(s) do do-
mingo anterior, desenhando, produzindo e usando suas
próprias peças.
Criatividade e grana
Incorporar o
Foto: Felipe Cortez
grotesco Eroguro Kei
ou o tradicional An-
gura em um figurino
oportuno não é tarefa
para qualquer um.
Se a criatividade é
fundamental para a
Os garotos também ousam confecção da peça, a
com roupas femininas verba para continuar
produzindo é indis-
pensável. O processo
de criação é demora-
do e exige paciência.
Basicamente, segue
as seguintes etapas:
1) escolha do visual,
pode ser cosplay do integrante de uma banda ou mais
uma criação pessoal; 2) a pesquisa dos materiais, peças
e assessórios que vão compor o figurino; 3) testes e
pesquisas de cabelo e maquiagem; 4) teste de tecidos,
linhas e assessórios com a costureira; 5) finalização do
figurino.
Ter paciência ajuda muito na escolha dos elementos
adequados a cada composição, já que é quase impossível
alcançar o resultado ideal num primeiro instante. Feira
pós-moderna, a internet é um dos locais mais indicados
para o início das pesquisas de construção do figurino.
Sites de venda são as principais barracas para consulta.
10. 10 ÁsiaKi
Encontrar uma costureira paciente e com habilidade de
cópia suficiente para produzir exatamente o que se pede
é outra tarefa difícil, mas não impossível. É com essa
profissional que eles trocam informações diariamente
em busca da costura perfeita ou da manga de corte reto
do casaco para um visual aristocrático, por exemplo.
Diferente do Cosplay, em que a necessidade de alcançar
uma semelhança extrema com o original é o que conta,
a criação do VK é livre e permite o reaproveitamento
de peças. E, em se tratando de Visual Kei, o importante
é agregar o máximo de informações e inovação. Botas
com salto plataforma velhas são exemplos de peças
aproveitadas por adeptos de vários estilos VK.
O preço das roupas, assessórios e cosméticos varia
bastante. Existem visuais em que se gasta R$30 – com
maquiagem e alguns detalhes – e outros que custam
R$300. Não existe um preço fixo, pois cada criação é
única. Mas a construção sempre exige um investimento.
“As roupas do meu primeiro visual eu tinha em casa. Já
o segundo, em que fiz cosplay do Mana (do Malice Mizer)
em Beast of Blood, tive que pegar várias fotos e levar na
costureira”, diz Gio-
Foto: Felipe Cortez
vanna Sovano, 17, que
fez seu primeiro VK
em 2005.
Quem faz VK em
Belém, então, é quem
possui, além da criativ-
idade, recursos para a
empreitada. Dinheiro
esse que vem do tra-
balho próprio – como
fazem muitos jovens
em Harajuku para ali-
mentar seus hobbies
– ou dos pais. É pos-
sível obter ajuda para a
produção de figurinos
com quem entende As ruas de Belém servem como passarelas de desfile de moda
disso em Belém. Mem-
bros da comunidade Visual Kei Pará, do Orkut, ensinam
onde pesquisar e indicam costureiras que já trabalharam
com VK e cosplay.
11. ÁsiaKi 11
O laço entre
Brasil e Japão
Culturalmente falando, Brasil e Japão são bem diferentes.
Seja nas religiões tradicionais de cada um, nas relações
internacionais ou na culinária. Enquanto um cria seus filhos
para o mundo, o outro abriga três ou mais gerações da
mesma família sob o mesmo teto; um produz filme carregado
de mazelas do real, o outro exporta as lutas no patamar de
arte. Entretanto, um alimento os une, o arroz.
por: Andréa Mota
Ingrediente essencial na
alimentação dos dois países,
Foto: Google
o arroz se apresenta em
diversas versões e acom-
panhamentos: tradicional, à
grega, sopa de arroz do pai
José (mais uma dieta para
emagrecer) e os diversos
tipos de sushi que existem:
Niguiri, Gunkan, Norimaki,
entre outros. Sozinho ele in-
tegra a lista dos mais nutriti-
vos alimentos para consumo.
Já serviu de moeda para
pagamentos de impostos no
O Brasil é um dos maiores expotadores de arooz do mundo Período Edo (1660 – 1800),
no Japão. Além de ser con-
siderada uma das armas da
longevidade. Atualmente teve o seu genoma decodificado
em pesquisa realizada por cientistas de vários países,
dentre eles Brasil e Japão.
No Japão, o arroz é assunto de Estado. A rizicultura
transformou a planície de Kanto, região leste do Japão,
em uma zona bastante povoada. O cereal foi a principal
atividade econômica do país até metade do século XIX,
mesmo com as limitações de clima e solo da região.
O território japonês apresenta limitações, devido ao
12. 12 ÁsiaKi
fato de 80% de área apresentar relevo montanhoso – No Japão, o arroz é assunto
meio desfavorável para atividades agrícolas – e apenas de Estado. A rizicultura
16% de planícies, onde o cultivo é facilitado. Já o clima transformou a planície de
da região é favorável a esse setor agrícola, principalmente Kanto, região leste do Japão,
pela ocorrência de quatro estações do ano responsáveis em uma zona bastante
em fornecer calor e umidade, exigida para o sucesso do povoada. O cereal foi a
cultivo. principal atividade econômica
Antes mesmo de vir a ser um dos produtos agrícolas do país até metade do
mais nutritivos, o Oryza Sativa – como o arroz é nomeado século XIX, mesmo com as
cientificamente – é considerado um alimento tradicional limitações de clima e solo da
na cultura agrícola do Brasil desde 1530 quando foi en- região.
contrado o primeiro registro de cultivo na capitania São O território japonês apresenta
Vicente, no período colonial. limitações, devido ao fato
Hoje, o grão não só ocupa notoriedade na história de 80% de área apresentar
como também movimenta a balança comercial anual relevo montanhoso – meio
no Brasil. Em 1989, o país tornou-se um dos principais desfavorável para atividades
importadores de arroz no mundo, atingindo, em 1998, agrícolas – e apenas 16%
uma média superior a 10% da demanda interna. Grande de planícies, onde o cultivo
Foto: Google
parte dos brasileiros é facilitado. Já o clima da
consome o produto, região é favorável a esse setor
que é considerado o agrícola, principalmente
principal alimento pela ocorrência de quatro
da cesta básica e estações do ano responsáveis
corresponde a 22% em fornecer calor e umidade,
do orçamento ali- exigida para o sucesso do
mentar mensal do cultivo.
trabalhador.
A cultura do arroz,
O consumo médio de arroz no Brasil no Pará é introduz-
varia de 74 a 76 Kg/habitante/ano ida no campo com
o início do período
chuvoso, que se estende de janeiro a maio e como al-
ternativa para cultivos em regiões úmidas. Boa parte
do cultivo no Estado concentra-se na agricultura de
subsistência. Com o objetivo de dinamizar o cultivo do A cultura do arroz, no Pará
arroz no país e ampliar parcerias com países que possuem é introduzida no campo com
história e ações de vanguarda na prática da rizicultura, o início do período chuvoso,
foi realizado, no dia 26 de março, o “I Seminário Nipo- que se estende de janeiro
Brasileiro sobre a cultura do arroz”, em Brasília (DF). a maio e como alternativa
O evento, promovido pela embaixada do Japão no Bra- para cultivos em regiões
sil em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa úmidas. Boa parte do cultivo
Agropecuária (EMBRAPA), inaugurou a união entre os no Estado concentra-se na
países em questão. agricultura de subsistência.
13. ÁsiaKi 13
Makizushi (sushi enrolado): Um pedaço
Foto: Google
cilíndrico, formado com a ajuda de uma esteira
enrolável de bambu, chamada makisu ou sudare.
O makizushi é geralmente embrulhado em nori,
uma folha de alga marinha desidratada que
abriga o arroz e o recheio.
Foto: Google
Uramaki (enrolado ao contrário): Um
pedaço cilíndrico médio, com dois ou mais
recheios. O Uramaki se diferencia dos
outros maki porque o arroz está na parte
externa e o nori na interna. O recheio fica
no centro, rodeada por uma camada de
nori, então uma camada de arroz e uma
cobertura de ovas de peixe ou sementes de
gergelim torradas completam a especiaria.
Futomaki (rolinhos grandes):
Foto: Google
Cilíndrico e grande, é um dos
mais populares sushis. Possui
como recheio variada combi-
nação de peixes, folhas e raízes.
Tendo tradicionalmente recheios
ímpares, é um dos mais aprecia-
dos em festivais e datas comem-
orativas.
Oshizushi (sushi prensado): Um pedaço
Foto: Google
em forma de bloco usando um molde
de madeira, chamado oshibako. O
chefe de cozinha alinha o fundo do
oshibako com a cobertura, cobre-o com
arroz de sushi, e pressiona a tampa
do molde para baixo para criar um
bloco compacto e retilíneo. O bloco
é removido do molde e cortado em
pedaços que cabem na boca.
14. 14 ÁsiaKi
Juventude,
Espiritualidade e
Engajamento
Jovens do Brasil inteiro resolveram seguir uma doutrina que
prega a manifestação do amor em todos os atos, anulação
do ego e a prática da meditação como maneira de iluminar a
por: Brena Freire
Isso é algo de grande destaque, pois egoísmo, vaidade
e stress parecem palavras de ordem no mundo moderno.
Por isso, a Seicho-No-Ie, filosofia/
religião de origem japonesa, tem se
mostrado um ótimo seguimento
Foto: Brena
para quem decide viver melhor
buscando o equilíbrio mental e
espiritual.
Qualquer pessoa pode ser adepta
da Seicho-No-Ie, e cada vez mais
aumenta o número dos que entram
em contado com sua doutrina e re-
solvem praticá-la. Mas a Associação
dos Jovens da Seicho-No-Ie (AJSI)
merece atenção. Ela existe desde
1948 e tem o objetivo de difundir
a doutrina e despertar a capacidade
de cada jovem seguidor, a partir de As reuniões acontecem semanalmente Belém
15 anos, para benefício próprio e
da sociedade.
A AJSI é uma das organizações da Seicho-No-Ie que
promove eventos e reuniões semanais com o foco na
difusão dos ensinamentos. Cada cidade possui uma As-
sociação regional e cada regional possui uma local (AL).
Em Belém existem três Associações Locais em que
muitos jovens desenvolvem trabalhos.
Juliana Bandeira, 17 anos, é ligada a Seicho-No-Ie
15. ÁsiaKi 15
desde a infância. Ela conta que ao nascer, teve problemas
de saúde, e sua mãe, conhecedora dos ensinamentos,
mas afastada na época, procurou a religião em busca de
ajuda. Ao crescer, Juliana começou a se interessar pelos
ensinamentos, e hoje é presidente da Associação Local
Umarizal.
Outros jovens simplesmente se interessam pela doutri-
na e resolvem segui-la, como Jádua Fernandes, 26. Ela
começou a frequentar as reuniões por
convite da mãe e atualmente faz parte
da AJSI. Jádua conta que por causa da
prática dos ensinamentos, já realizou
muitos desejos, principalmente a con-
Imagem:
quista de seu primeiro emprego.
A existência de uma Associação de
jovens é justificada pelos diferentes in-
teresses. Por esse motivo, assim com os
jovens, os homens adultos, as mulheres,
os professores e os empresários possuem
grupos específicos em associações. No
entanto, essas especificações não dificul-
tam a participação de pessoas de fora nas
reuniões. “Não queremos que as pessoas
pensem que aqui é fechado só para quem
já participa. Sou católica, mas freqüento
a Seicho-No-Ie assim como vou à missa.
Os espíritas, evangélicos, católicos... Todo
mundo é bem vindo!”, ressalta Juliana Bandeira.
Em todas as organizações há um Preletor, uma pessoa
que toma a dianteira durante as reuniões, lendo os sutras
e fazendo as orações. A Preletora Vitorina faz parte da
AJSI de Belém e passou a exercer o cargo depois de
passar por alguns níveis de estudo e de trabalho na As-
sociação. “Os jovens precisam de orientações específicas”
disse a Preletora ao explicar a necessidade de os jovens
se reunirem e trabalharem para a Associação.
“As pessoas devem ter um canal para conversar com
Deus.”, disse Juliana ao se referir à necessidade que as
pessoas, incluindo os mais jovens, têm de um direciona-
mento espiritual, “A Seicho é um bom caminho porque
as pessoas precisam se reverenciar mais como filhos de
Deus, e entender que a vida que pulsa em nós, nada mais
é que a vida de Deus.”, completa.
Na Associação Local Umarizal, as reuniões acontecem
todos os domingos às 17h na rua Generalíssimo Deodoro
16. 16 ÁsiaKi
nº 675, entre Domingos Marreiros e Boa Ventura. Todos
são convidados, sem restrições.
Sobre a Seicho-No-Ie
Embora a Seicho-No-Ie tenha se tornado oficial em
1930, já era praticada anteriormente em uma vila no
município de Kobe no Japão. Seu fundador foi Masa-
haru Taniguchi que ficou muito conhecido durante a II
Guerra Mundial, incorporando elementos do Xintoísmo,
Budismo e cristianismo na nova doutrina.
Chegou ao Brasil trazida pelo grande número de
imigrates japoneses no início do século XX. Em
pouco tempo os ensinamentos da Seicho-No-Ie já es-
tavam difundidos em todo país por meio de revistas e
calendários.
A Seicho-No-Ie ou “Casa da Plenitude” pode ser
considerada uma religião ou uma filosofia de vida. Seus
adeptos crêem que somente Deus e o que ele cria, prin-
cipalmente os humanos, existem verdadeiramente. Todas
as outras coisas são manifestações da mente humana, não
SEICHO-NO-IE
Os praticantes e sua doutrina
· Agradecer a todas as coisas do Universo;
· Conservar sempre o sentimento natural;
· Manifestar o amor em todos os atos;
· Ser atencioso para com todas as pessoas, coisas e fatos;
· Ver sempre a parte positiva das pessoas, coisas e fatos, e nunca as suas
partes negativas;
· Anular totalmente o ego;
· Fazer da vida humana uma vida divina e avançar crendo sempre na
vitória infalível;
17. ÁsiaKi 17
tem a mesma natureza divina. Nesse sentido, doença,
pecado, morte e até mesmo o mal não são eternos, por
isso não existem. São projeções da mente humana.A
essência de toda a doutrina é que “O homem é filho
de Deus” e por isso precisa manifestar sua perfeição
praticando cotidianamente os atos de amor e caridade,
leituras de Sutras sagrados e a meditação. Como con-
sequência da prática dessas ações,
os seguidores da Seicho-No-Ie
Foto: Brena Freire
acreditam ser contemplados com
fatos milagrosos como a cura de
doenças, harmonia em seus lares,
solução de problemas econômicos
e êxito profissional.
Pessoas de qualquer religião
podem ser seguidores dos ensi-
namentos da Seicho-No-Ie. Isso
porque é uma filosofia que não
prega o sectarismo religioso, ou
seja, para os seguidores, todas as
religiões possuem bons aspectos.
Todas provêm de um único Deus,
Na AJSI também são vendidos livros sobre a doutrina japonesa
o que aliás é outro ensinamento: o
monoteísmo.
Organização
Atualmente a Seicho-No-Ie do Brasil é dividida em
cinco organizações: Associação Fraternidade, Associa-
ção Pomba Branca, Associação dos Jovens, Associação
da Prosperidade e Departamento de Educadores. Tais
organizações promovem eventos para diferentes tipos
de publico, dando atenção especial a cada um.
Além disso, programas de TV e rádio, livros e revistas,
são utilizados para propagar as ações dessas organizações,
bem como os ensinamentos da doutrina. Existem tam-
bém as Academias de Treina-
Para saber mais mento Espiritual procuradas
por quem deseja equilíbrio e paz
Seicho-No-Ie do Brasil: interiores. Em 2006 foi inau-
www.sni.org.br gurado em São Paulo o Museu
Histórico da Seicho-No-Ie do
Sede de Belém: Brasil, atendendo a necessidade
Av. Generalíssimo Deodoro, 675 - CEP 66055-240 de preservação da memória do
Fone/Fax.: (91) 3224-5579 / 3212 - 4458 seguimento no país.
18. ÁsiaKi
Massagem Tailande-
sa: relaxante e reju-
venescedora
Dores na costa, pernas, cabeça, ansaço, estresse... Essas são
reclamações comuns que ouvimos (e também sentimos)
diariamente de trabalhadores que passam de seis a oito
horas exercendo sua profissão. Mas essas pessoas se queixam
porque ainda não conhecem um estilo de massagem oriental
que promete relaxamento, tranqüilidade e a capacidade de
preservar a juventude.
por: Raphael Freire
Foto: Google
A massagem citada acima é conhecida como Thai
Massagem ou simplesmente Massagem Tailandesa.
Desenvolvida no século V a.C - época de Siddhartha
Gautama, o Budha - pelo médico indiano Jivaka Kumar
19. ÁsiaKi
Bhaccha (considerado o pai da medicina tailandesa) na
região que hoje compreende a Índia e o Nepal, a técnica
chegou à Tailândia - por tradição oral mestre/discípulo
há quase 2500 anos com a expansão do Budismo na
região. Intimamente ligada a essa doutrina, a massagem
Thai é um caminho para se cultivar os quatro estados
divinos de: Metta (bondade amorosa), Karuna (com-
paixão), Mudita (alegria contagiante) e Uppekha (im-
parcialidade, não-agressão). Hoje,
é praticada como um dos pilares
da medicina tradicional tailandesa,
que é composta por quatro ramos
distintos: a medicina nutricional, a
fitoterapia, a prática da meditação,
além da própria massagem.
Com um enfoque mais energé-
tico do que físico, a Thai Massa-
gem é feita por meio de pressões
profundas com as mãos, pole-
gares, joelhos, cotovelos e ante-
braços nos canais chamados Sen,
por onde circula a energia vital
do corpo e também por alonga-
mentos musculares, manipulações
articulares e torções. O objetivo é
liberar os bloqueios e estagnações da energia vital, para
que haja um equilíbrio no nível de energia essencial à
manutenção de um indivíduo saudável e livre de dores;
ou seja, manter em equilíbrio e harmonia o corpo, a
mente e o espírito.
A cadência dos movimentos da massagem propicia
um profundo relaxamento e bem-estar interior tanto
para o cliente como para o massagista. Por isso, para
que a eficácia da massagem seja alcançada é necessário
que o terapeuta utilize a meditação e o Yoga; e o cliente
precisa respirar profundamente, além de ambos estarem
em um lugar tranqüilo. Durante uma seção, que dura em
média duas horas, há um sentido de fluidez, integração
e companheirismo. “O corpo físico tem memória emo-
cional . Muitas vezes quando tocamos alguém, estamos
tocando os pais e a família e toda a influência deles na
pessoa. Estas memórias estão enraizadas nos músculos,
tendões,olhar, postura, respiração. A intenção da Mas-
sagem Thai é então , dissolver memórias emocionais
20. 20 ÁsiaKi
que possam estar limitando o crescimento verdadeiro
do cliente”, conta Sônia.
Apesar de tantos benefícios, a massagem é contra
indicada para pessoas que sofrem de doenças cardíacas
congestivas, osteoporose, as que possuem próteses de
joelho, quadril, etc.
Ligação com o erotismo
Logo quando se pensa em massagem tailandesa a
primeira imagem que vem em nossas mentes é a de
prostitutas oferecendo-a em troca de dinheiro. Não se
pode negar que esse tipo de massagem possui uma con-
hecida conotação erótica, mas esse não é o real sentido
da massagem.
No Ocidente a massagem tailandesa foi disseminada
como sendo uma massagem de cunho erótico, servindo
para excitação e prazer sexual, sendo distorcida a sua
natureza terapêutica e espiritual. Segundo Sônia, as
guerras no Oriente - em especial as do Vietnã, Laos e
Camboja, países vizinhos da Tailândia – contribuíram
para o crescimento da prostituição e outras circunstâncias
sócio-econômicas da própria Tailândia. Foi dessa forma
que os ocidentais tiveram o primeiro contato com a Thai
Massagem, sob a experiên-
Foto: Google
cia da conotação sexual.
O contato corporal nesse
tipo é massagem é muito
intenso, mas o nível de
concentração, relaxamento,
confiança e seriedade é
muito alto; além disso, o
“paciente” permanece ves-
tido em roupas confortáveis
durante a massagem Thai e
não são necessários óleos
para a pele.
As pessoas estão buscando
cada vez mais um conforto
espiritual, onde as relações
humanas ultrapassem cada
vez mais os valores mate-
riais e as pessoas busquem
uma vida subjetivamente
mais saudável e mais próxima dos seus semelhantes.
21. ÁsiaKi 21
Espiritualidade
Nós ocidentais estamos
acostumados a um médico
nos receitar remédios para
que uma doença seja curada,
talvez por isso, às vezes é difí-
cil acreditarmos no potencial
de cura dado a um ser vivente,
como sendo um dom da
própria natureza. “Todo o que
sofremos no corpo físico é
apenas expressão do que está
em desequilíbrio nos planos
energéticos e sutis de nossos
corpos psíquicos, emocio-
nais e espirituais. Por isso, no
oriente, a medicina sempre
esteve ligada às práticas es-
pirituais. Todos os recursos e
procedimentos médicos deco-
rrem desta visão espiritual do
ser humano”, diz a terapeuta
corporal Sônia Imenes.
Thai Massagem na Gravidez
A Thai Massagem é uma prática meditativa que promove estados meditativos e contem-
plativos que estreitam os laços mãe/filho e permitem à gestante saborear uma gravidez
prazerosa e saudável. Durante a gestação, a massagem alivia os desconfortos, bem como
prepara o corpo para o parto trabalhando a mobilidade e o fortalecimento das articulações,
atuando sobre o sistema nervoso, melhorando o sono, a digestão e diminuindo o stress;
propicia, com o toque acolhedor, suporte emocional e conforto; reduz e alivia dores nas
articulações, pescoço e costas causadas pelas alterações na postura, fraqueza muscular,
tensões e ganho de peso; melhora a circulação sanguínea e estimula o sistema linfático e
ajuda a manter a elasticidade da pele. No fim das sessões, há também espaço para debates
em grupo sobre questões da gravidez, parto, corpo e maternidade. “Em grupos com outras
gestantes ou em sessões individuais, a massagem tem um papel significativo na preparação
da futura mamãe. A experiência do contato corporal durante a gestação, o trabalho de parto
e após o nascimento do bebê ajudam-na a tocar com mais eficiência e transmitir carinho,
conforto e segurança a seu filho”, afirma Sônia Imenes.
22. 22 ÁsiaKi
Conexão digital
Há 57 anos, Assis Chateaubriand, um dos maiores visionários
da historia do Brasil inaugurava na cidade de São Paulo a TV
Tupi, a primeira emissora de televisão da América Latina. De
lá para cá a televisão exerce um papel fundamental e mar-
cante em nosso país, tanto que hoje a TV está presente em
96% das residências brasileiras. Ela tem o poder de levar o
mais variado cardápio de conteúdos até seus telespectadores
e estes por sua vez resignificam essas informações da forma
que melhor lhes convém. A TV se tornou um espaço público
com constantes tensões e disputas de poder
por: Aílton Faro
quando as teorias apocalípticas anunciavam o seu fim
em conseqüência do advento da internet, surge a TV
Digital para mostrar que esse meio de comunicação está
longe de seu fim.
No Brasil as transmições da TVD
tiveram inicio no dia 2 de dezembro de
2007, em São Paulo, A solenidade de
inauguração reuniu a cúpula do Gov-
erno Federal, as principais empresas
de radiodifusão do país, políticos dos
mais variados nichos. Os discursos
calorosos e um vídeo promocional
ditaram o ritmo da festividade. No
que tange o processo de digitalização
das transmições televisivas sobram
duvidas do que mudou e do que real-
mente pode mudar. E se para alguns
o modelo adotado irá reconfigurar as
relações sociais e conduzir o processo
de convergência midiática, para outros
muda sem mudar nada.
Algo que vem gerando muita dis-
cussão diz respeito ao modelo de TVD adotado pelo
Brasil. No dia 26 de junho de 2006 o presidente Luiz
23. ÁsiaKi 23
Inácio Lula da Silva decidiu por decreto que o Brasil
adotaria o sistema de modulação de TVD do Japão, o
ISBD-T, para servir como base do Sistema Brasileiro
de TV Digital. Estavam na briga também os modelos
ATSC dos Estados Unidos e o Europeu DVB. Além de
consórcios financiados pelo governo (conduzidos pelo
De acordo com o Prof. Dr. CPqD e Anatel, e pela SET/Abert, esta ultima ligada
Evaldo Gonçalves Pelaes, do as radiodifusoras) envolvendo diversas instituições de
curso de pós-graduação em pesquisa para desenvolverem um sistema brasileiro e
telecomunicação da UFPA, também analisar, caso implantados, qual dos modelos
o ISBD-T foi o modelo estrangeiros se adaptaria melhor às condições do país.
que melhor se adaptou as Mas por que foi escolhido o modelo do Japão?
condições geoclimáticas e . O ISBD-T é o único modelo que já oferece porta-
ao relevo do país, apesar das bilidade, ou seja, que possa ser transmitido à aparelhos
diferenças em relação ao moveis como celulares e leptops, e sem custo ao usuário.
Japão Outro motivo considerável para a escolha desse modelo
foi a dispensa do pagamento de royalties. Já entidades
como o INTERVOZES “Coletivo Brasil de Comuni-
cação Social” argumentam que o principal motivo por
essa escolha se deu por conseqüência da enorme pressão
que a Rede Globo e as outras radiodifusoras fizeram em
defesa do japonês.
A professora da Faculdade de Comunicação Social
da UFPA Maria Ataíde Malcher esclarece que a Rede
Globo promoveu audições e pesquisas para saber qual
modelo seria o melhor,de acordo com os seus interesses,
e que mudanças poderiam ocorrer nesse processo de
migração digital. “Para a Globo o padrão japonês é mais
interessante por conta da alta qualidade das imagens e
do som e por motivos mercadológicos. O ISDB permite
A TVD pode ainda oferecer
às emissoras de TV disponibilizarem sua programação
outros tipos de serviços
aos receptores moveis como celulares sem a necessidade
como: acesso a internet,
de encaminha-las antes às redes de transmissões das
informações sobre o clima/
operadoras de celular”, esclarece a professora. O que
temperatura, resenhas
deixaria as teles de fora de um negócio de cerca de 100
de filmes, detalhes da
bilhões de dólares. Gerando certo descontentamento
programação e a tão sonhada
dessas empresas em relação ao governo. Esse valor pode
interatividade.
explicar a dispensa dos royalties pelo governo japonês pelo
uso de sua tecnologia, pois o contrato assinado por Celso
Amorim, Ministro das Relações Exteriores do Brasil e
por Taro Aso, Ministro dos Negócios Estrangeiros do
Japão, prevê a construção de uma indústria de semi-
condutores com capital japonês. O que gerou um outro
descontentamento com o governo, dessa vez por parte
24. 24 ÁsiaKi
das empresas que trabalham com a indústria de semicon-
dutores aqui no Brasil.
O que muda na forma de se fazer TV no Brasil?
Muito se argumenta em relação ao fato de nós viver-
mos em uma sociedade das imagens. Em certa medida
a televisão é o espelho dessa sociedade. E quando se
fala em alta definição quer dizer que um maior número Mudanças
de detalhes se tornam perceptíveis. “Nas audições pro- Segundo o professor Evaldo
movidas pela Rede Globo foram exibidas cenas de um Pelaes “A TV Digital possui
mesmo programa nos padrões analógico e digital a fim uma tecnologia bem mais avan-
de estabelecer as diferenças entre eles. Se na TV analógica çada; uma definição bem maior
o rosto da Fátima Bernardes parece perfeito, na digital das imagens. Em quanto na TV
sobram rugas e marcas de espinhas, se nos comerciais analógica a resolução média é
de cerveja as modelos exibam seus corpos esculturais, de 480 linhas com um formato
agora aquela celulite inocente, a estria quase invisível de (4:3), na digital é de 1.080
pode se tornar um grande incomodo, principalmente linhas e no formato widescreen
para quem quer transparecer perfeição. E isso demanda (16:9), possui cores mais níti-
muitas mudanças: na maquiagem, na composição dos das, com seis canais de som
cenários, na forma física dos atores”. - Dolby Digital, já o analógico
As transmissões da TV Digital no Brasil tiveram inicio no suporta apenas dois - mono e
final do ano passado. Inaugurações de emissoras de tele- estéreo”.
visão e de inovações tecnológicas as vésperas de grandes Ainda é cedo para afirmar que
eventos esportivos, tipos de serviços a respeito da
como Ólimpíadas e interatividade serão realmente
Imagem: Google
Copas do Mundo, disponibilizados no Brasil. Essa
não é nenhuma novi- característica da TVD é um
dade no Brasil. Era processo que ainda está sendo
prática corriqueira estudado não só em nosso país
no período da Ditadura mas também em outros onde já
Militar. Por isso nem foram implantados e que ainda
a tecnologia pela téc- irão implantar, como a China,
nica nem a tecno- que até o final de 2008 pretende
logia pelos grandes iniciar as suas transmições de
latifúndios da ra- TVD.
diodifusão poderão
consolidar o direito a
uma comunicação
democrática. Por
isso discutir com a
população e dão-
lhes condições de aceso a essas tecnologias, será sempre
o melhor começo para novas eras.
25. ÁsiaKi 25
Os quimonos de
Belém
Foto: Google
Início agitado de uma manhã em
Kyoto, no Japão. No seio da turba
de ternos, blazers e calçados mod-
ernos ocidentais que flutuam pelas
ruas envolvendo seus usuários,
uma senhora caminha apressada
trazendo pelo braço direito uma
jovem, provavelmente sua neta,
ambas vestindo finos e coloridos
kosodes. Há cerca de 30 anos, estas
vestes representavam a superfície
da alma japonesa
por Felipe Cortez
Hoje, porém, cederam espaço à criatividade dos es-
tilistas de Nihon e de vários cantos do planeta. “A coisa
para se vestir” (significado literal de kosode), entretanto,
sobrevive como vestuário padrão das reuniões mais for-
mais e tradicionais da família japonesa. Em pensar que,
há um século, o kosode chegou ao Brasil com outro nome,
vigorante até hoje. Seria ela Kimono, palavra resultante
das transformações advindas da reabertura japonesa ao
Ocidente, no século XIX. A original kosode, entretanto,
designa os belos e finos trajes que marcaram atores soci-
ais da história japonesa por mais de um milênio, quando
Kyoto virou capital do Império Nipônico.
A versão aportuguesada quimono, por sua vez, rep-
resenta não apenas a tradicional veste japonesa, como
também os trajes típicos de artes marciais como o Karatê
e o Judô. Trata-se, na verdade, do primeiro significado
ao qual a palavra quimono remete no estado do Pará. A
tradicional veste é rara em Belém, podendo ser observada
26. 26 ÁsiaKi
em algumas reuniões da comunidade nipônica
local. E não havendo muitas lojas especializadas
em sua comercialização nessa região do Brasil, é
comum que muitos quimonos sejam importados
dos estados de São Paulo e Paraná, principais pólos
da cultura japonesa no Brasil, ou até mesmo do
Japão. Mas há na Cidade das Mangueiras quem se
inspire no kimono para recriar a moda.
A sofisticação milenar do quimono pode ser
observada desde as primeiras coleções da grife
Manufatura, criada em 2005 pelas estilistas Izabela
Jatene e Milene Fonseca. Naquele ano, as paraenses
resolveram fazer releituras dos padrões do kimono,
utilizado como referência para a criação de trajes
adaptados ao clima local e estampados à moda
brasileira. Assim, Izabela e Milene criaram outras
formatações do quimono, como vestidos e blusas
de uma só camada, agradáveis nos costumeiros 28º
C de Belém, além de serem muito mais leves e práti-
cos do que os antigos quimonos de 12 cama-
das do Japão Feudal. “O que fizemos
foi dar um grande ‘quê’ de brasilidade
Foto: Felipe Cortez
nesses quimonos, quando você dá a cor,
a estampa”, explica Izabela.
A brasilidade a que a estilista se refere
não está presente apenas no colorido
dos quimonos que desenha com Milene,
mas ao próprio formato que o traje ad-
quiriu no panorama climático do Trópico
Úmido. Izabela conta que o trabalho
desenvolvido com estampas é também
influenciado pela própria cultura japone-
sa. “O Japão é extremamente colorido.
E hoje, se você for analisar a sociedade
japonesa pós-moderna, verá que ela é
mais colorida do que antes. Então eles
[os estilistas japoneses], e até nós, vamos
buscar essas cores nas referências ori-
entais, inclusive religiosas”, diz. Izabela
conta que seus quimonos sempre sofrem
alterações na forma entre uma coleção e
Isabela Jatene, além de estilista, le- eoutra, devido à ânsia
ciona no curso de ciências sociais na
27. ÁsiaKi 27
O QUIMONO ATRAVÉS DAS ERAS
Heian (794-897) Edo (1603-1868)
Paz, fartura para as elites e a arte Se virasse filme, se chamaria a
se desenvolvendo plenamente. “Supremacia Kosode”. Neste
Esse foi o terreno fértil para o período o kosode, até então
surgimento oficial dos primeiros limitado às mulheres, conquistou
kimonos japoneses. Os nobres a macharada a partir de
usavam sokutai, conjunto com adaptações de tamanho e temas. O
mangas e caudas largas que, à desenvolvimento e popularização
época, só perderia em pompa para de movimentos culturais como
os juni-hitoes, kimonos formados o teatro Kabuki só aumentaram
por conjuntos de 12 camadas a moral do kosode, que viu o
que davam um aspecto singular nascimento de um famoso irmão, o
–difícil encontrar um adjetivo para furisode, kimono de manga longa
expressar tal beleza- às cortesãs da usado por gueixas como ferramenta
corte imperial japonesa. de sedução. Data daí a consolidação
do kosode como veste padrão dos
japoneses.
Kamakura (1185-1333)
Todo militar odeia frescura –a Meiji (1868-1912)
exceção dos bofes de elite da Aí avacalhou. Nesses tempos o
vida. Não é a toa que, durante Japão se abriu para o Ocidente e
o surgimento da classe militar este chegou ao arquipélago com
dos Samurai, os quilos e mais tudo o que tinha direito: ternos,
quilos de pano de sokutais e gravatas, sapatos de couro e
juni-hitoes perderam a vez vestidos dos mais variados.
para os hitatares (homens) e Governo japonês viu aquilo
kosodes (mulheres), conjuntos e gamou, né? Decretou que
mais simples com mangas todos os funcionários públicos,
curtas e saiões flexíveis militares e civis deveriam usar
chamados hakamas, mas trajes à moda do Ocidente –leia-
ainda feitos a partir da seda. A se à inglesa.
frescura ainda sobrevivia.
Muromachi (1338-1568)
Showa (1926-1989)
Constantes batalhas pelo
O processo se intensificou ainda mais
fragmentado poder do arquipélago
após a segunda guerra, quando o
fizeram deste período o mais
derrotado Japão conheceu um aliado um
sanguinolento da história japonesa.
tanto culpado por brincar de cowboy
No meio de todo o quebra pau,
com bombas atômicas: Os Estados
os caras inventaram de trocar a
Unidos. Os estilos de kimono ficaram
seda dos hitatares pelo linho, o que
menos complexos e a distinação entre
resultou no suô e no daimon. A
wafuku (roupas japonesas) e ifuku
mulherada, por sua vez, manteve o
(roupas orientais) ficou mais clara.
kosode no topo da parada de veste
padrão.
Crédito das gravuras: The Book of Kimono
28. 28 ÁsiaKi
por exclusividade da clientela. “Como a gente mistura
muito tecido, nenhuma peça fica parecida com outra”.
A demanda, que exige a manutenção mensal de cinco a
seis peças nos cabides da Manufatura, é interpretada por
Izabela de dois modos: o antropológico e o da moda. O Ocidente se apropria de
“O Brasil tem uma relação com a cultura oriental muito algumas referências da cultura
forte, não só a partir da lógica migratória”, lembra. A oriental, pois há uma relação
estilista entende que a contemporaneidade, também com as pessoas que chegaram
reclama uma resignificação de valores, o que trouxe à aqui, culturalmente falando, e
tona os valores da cultura oriental, sobretudo as filosofias também porque o ser humano
espirituais orientais, o que, por sua vez, estreitaram os está para o consumo assim
vínculos culturais não só entre Brasil e Japão, mas entre o como está para a lógica do
Ocidente e o Oriente, em uma ótica mais abrangente. “O belo, porque ele acha bonito,
meu princípio de vida é o budismo. A partir dele eu tento porque ele internaliza algumas
resignificar uma série de coisas na minha vida. A própria coisas. Dentro dessa grande
filosofia budista vem crescendo no mundo inteiro, e não miscelânea pós-moderna,
vem crescendo à toa. Isso acontece porque ela realmente você tem várias referências
repensa os significados do consumo, da alimentação e culturais postas e você vai
da vida cotidiana a partir de uma lógica que não é uma apropriando isso de diversas
lógica do outro, mas uma lógica de você mesmo”. formas
É bem provável que a esta altura da matéria você
esteja louca (o) para ter um quimono. Mas antes de sair
em busca do traje pela Internet ou até mesmo de fazer
uma visita às estilistas da Manufatura, é bom ter uma
idéia do quanto custa essa verdadeira iguaria da moda
mundial. A reportagem pesquisou
preços de quimonos em diversas lojas Foto: Google
e a uma conclusão chegou: encontrar
quimono bom e barato é tarefa para
difícil. Em alguns sites é possível encon-
trar quimonos entre US$ 80 e US$ 150.
Por aqui, a releitura dos quimonos da
Manufatura, dependendo do formato,
se blusa ou vestido, custam entre R$
120 e R$ 160. Nada mal para o similar
de um original que pode chegar aos
salgadinhos US$ 40 mil.
A apropriação cultural muitas vezes
passa despercebida, encoberta por um
desejo pelo que é belo. Kosode ou ki-
mono, “made in Japan” ou “du Pará”,
a peça encanta gerações de mulheres de todas as etnias
e mesmo que não seja a mais indicada para se usar no
calor de Belém, vale experimentar.
29. ÁsiaKi 29
A Viagem de
Fantástico, sensível e empolgante.
Imagem: Google
Assim podemos começar a
descrever o filme “A Viagem de
Chihiro”. Amantes do gênero
Animação/Aventura gostaram do
filme, principalmente por prende o
espectador até o final feliz, que
apesar de doce, não é “meloso”.
por: Killzy Kelly
A personagem principal do filme é Chihiro, uma garota
de 10 anos que acredita que todo o universo deve atender
aos seus caprichos.
Após seus pais lhe contarem que vão mudar de cidade,
ela fica furiosa, e não faz nenhum esforço para esconder
sua raiva. Durante a viagem de mudança, completamente
absorvida pelas lembranças dos amigos que estão ficando
para trás, Chihiro percebe que seu pai se perdeu no cidade
aparentemente sem nenhum habitante. Famintos, os pais
da garota decidem comer a comida que está disponível
Imagem: Google
30. 30 ÁsiaKi
em uma das casas, enquanto a menina explora a cidade.
Entretanto, logo ela encontra com Haku, um garoto que
lhe diz para ir embora o mais rápido possível.
Ao reencontrar seus pais, Chihiro fica surpresa ao ver
que eles se transformaram em gigantescos porcos, en-
quanto que misteriosos seres começam a surgir do nada.
É o início da jornada da garota em um mundo fantasma,
povoado por seres fantásticos, no qual humanos não
são bem-vindos. Sua estadia nesse lugar mágico não é
gratuita e muito menos de aventuras cheias de flores ou
príncipes. Logo ela começa a trabalhar numa casa de
banhos, onde o trabalho é grande, exaustivo e nem um
pouco compensador, mas para Chihiro isso é apenas uma
parte do seu aprendizado, não de afazeres domésticos,
mas de como ser uma criança mais humana, generosa e
compreensiva.
Foto: Google
Extras que valem a pena
Após ver o filme é quase con-
seqüência pular para os extras,
e nele o material é fundamental
para conhecer mais como o
filme. São mostradas todas as
etapas de produção dos desen-
hos, da história e da animação.
O foco principal, entretanto,
é para o prazo apertado que
o diretor e roteirista Hayao
Miyazaki teve para concluir o
filme. Não se sabe ao certo o porquê, mas o apuro técnico
pode ser uma das explicações, já que os desenhos são
no mínimo impecáveis. Ao contrário do que se pensa,
japoneses tem problemas com tempo e projetos como
o restante de nós, mortais.
Lançado em 2001, com 122 minutos de duração, o filme
de Miyazaki é uma produção de sete estúdios. No Oscar
2001 era um dos favoritos a Melhor Filme de Anima-
ção e de fato levou a estatueta pra casa. Recebeu uma
indicação ao BAFTA e ao Cesar, na categoria de Melhor
Filme Estrangeiro, mas foi ao ganhar o Urso de Ouro
no Festival de Berlim que realizou sua grande façanha já
que se trata do primeiro longa-metragem de animação
a ganhar o prêmio.
31. ÁsiaKi 31
Yosakoi Soran: arte
e dança oriental
Quarenta braços ágeis atiram redes de pesca imaginárias
ao ar. Os pés, em igual número, conduzem com harmonia
pescadores dançarinos que vibram a cada “dokaisho!
dokaisho!” e “soran! soran!”.
por Felipe Cortez
No salão da Associação Nipo-Brasileira, o público
que contemplava esta seqüência de movimentos pela
primeira vez pasmou e aplaudiu. A cena, ocorrida em
2005 em Belém, certamente pode ser observada em
outras cidades brasileiras onde um grupo de Yosakoi
Soran tenha feito sua primeira apresentação
Oficialmente criado em 1992, o Yosakoi Soran é uma
das mais populares manifestações da recente e expansiva
cultura popular japonesa. Naquele ano, em uma viagem
a província de Kochi, ao sul do arquipélago nipônico,
estudantes de Hokkaido, cidade do Norte japonês, con-
heceram a dança Yosakoi Naruko, que expressa o amor
entre um monge e uma mulher. De volta a Hokkaido, os
jovens decidiram fundir o Yosakoi Naruko com o Soran
Bushi, outra dança tradicional do Japão, que enaltece a
força dos pescadores do Norte do país. Não demorou
muito para que o híbrido pop resultante da fusão destas
danças ganhasse força na terra do sol nascente e ultra-
32. 32 ÁsiaKi
passasse seus limites geográficos, chegando a cidades de
todos os continentes, como Belém.
A cada apresentação na cidade das Mangueiras, os gru-
pos de Yosakoi ganham novos componentes, desejosos
de conhecer mais uma expressão artística de uma cultura
que abre os braços ao paraense e que vai comemorar, em
2009, oitenta anos de enraizamento no estado. Sim, esta
é a idade que a imigração japonesa no Pará –ou melhor,
na Amazônia- está prestes a completar.
Diferente do que ocorre com boa parte da chamada
cultura pop japonesa, muitas vezes “baixada” via Internet
–como ocorre com as animações japonesas-, o Yosakoi
Soran aqui chegou através de um nipônico de carne e
osso. Em 2004, Momoe Omura, professora de japonês
nascida em Hokkaido, veio para um intercâmbio de dois
anos com a escola Novo Mundo, na capital paraense,
onde ensinou os passos da dança a crianças das turmas de
língua japonesa. “Como todos os anos a escola promove
um festival de cultura brasileira e japonesa, ela ensinou as
crianças das turmas de japonês a dança Yosakoi Soran e
Foto: Felipe Cortez
33. ÁsiaKi 33
Foto: Felipe Cortez
tivemos a idéia de passar também
passar para os alunos jovens apren-
derem”, conta Mônica Honda,
coordenadora do grupo Shinsekai,
que, em português, significa Novo
Mundo. O Yosakoi Soran do Shin-
sekai conta com 36 integrantes
ensaiando regularmente, durante
as manhãs de sábado.
“Yosakoi Soran constitui-se
essencialmente de uma sincronia
de movimentos simples, em geral,
baseados no cotidiano dos pesca-
dores. Também é interessante a
necessidade de um grande numero de pessoas (no Brasil
os grupos costumam ter entre 30 e 40 pessoas, e no Japão,
passam de 100 pessoas por grupo) para apresentações,
posto que o efeito visual da sincronia torna-se mais
evidente, algo que acentua a beleza da dança”, diz Igor
Almeida, também membro do Shinsekai.
Segundo grupo de Yosakoi Soran fundado em Belém,
Há quem diga que a dança o Yui, da escola Kyoto Oti, cresce junto com o interesse
agrada pela simplicidade dos do paraense pelo Oriente. Yui significa união e nomeia
movimentos e pela disciplina o grupo fundado em 2007. Com pouco mais de um ano
que desperta. de existência, o grupo aproveita os eventos comemora-
tivos do centenário da imigração japonesa no Brasil –a
exemplo do que também faz o Shinsekai- para congregar
novos dançarinos, como é o caso da estudante Agrícia
Pimenta, de 22 anos, que começou a aprender Yosakoi
Soran em uma das oficinas festivas da Kyoko Oti.
“Meu namorado é japonês, então já tenho um certo
contato com essa cultura. Mas foi num evento, o
Amazônia no Matsuri do ano passado, que vi a dança
e fiquei admirada. Quando vi no jornal que tinha uma
O fortalecimento dos grupos oficina ensinando Yosakoi Soran, pensei que não podia
de Yosakoi Soran em Belém perder a chance de aprender”. Agrícia desconhecia a jovi-
é condicionado pelo interesse alidade do Yosakoi Soran até se deparar com a professora
crescente do brasileiro por da dança, cinco anos mais jovem que a aprendiz. Caro-
um Oriente cada vez mais lina Loureiro, 17 anos, aprendeu a dançar no início de
próximo. 2007 e com dois meses de treinos já ensinava o Yosakoi
Soran. “Já havia tido contato com essa dança em outra
escola de japonês. Mas aqui, na Kyoko Oti, um profes-
sor mostrou um vídeo de Yosakoi pra gente. Muitos
gostaram e começaram a ensaiar. Hoje nosso grupo tem
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cerca de 20 componentes regulares, número
que aumenta a cada mês. Muitos deles já
faziam japonês e resolveram participar, até
porque é de graça, ninguém paga mensali-
dade pra aprender Yosakoi”. O ensino do
Yosakoi Soran é gratuito nos dois grupos de
Belém. Entretanto, se o dançarino pensa em
participar das apresentações do Shinsekai ou
do Yui, precisa mandar fazer a própria roupa,
que custa de R$70 a R$100.
Ser convidado para novas apresentações e receber
integrantes é o reconhecimento a um trabalho intenso
de divulgação da cultura japonesa no Pará. Para corre-
sponder a isso, os dançarinos das escolas Novo Mundo e
Kyoko Oti tentarão levar o estado aos lugares mais altos
do pódio do 6º Festival Yosakoi Soran, que vai reunir 40
grupos de todos o Brasil em São Paulo no dia 27 de julho
e distribuir R$20 mil em prêmios. Enquanto o festival não
chega, os grupos aproveitam cada evento da comunidade
nipônica local para atiçar a coceira da curiosidade de pes-
soas de toda Belém. Contudo, independente da posição
alcançada no concurso na Paulicéia, o Yosakoi Soran de
Belém só tem a crescer até 2009, quando a presença do
japonês na Amazônia completa oito décadas e muitas
festas em homenagem a ocasião devem querer, entre
suas atrações, o híbrido pop de Hokkaido.
Foto: Felipe Cortez
35. ÁsiaKi 35
Tradição e modernidade:
literatura japonesa
Por mais de séculos a cultura oriental, com
seus mitos e lendas, instiga a mentalidade
do Ocidente. Dragões, samurais e gueixas,
personagens que chegam à imaginação
contemporânea por meio de suas histórias
repassadas de boca-em-boca seja pela literatura
O
popular ou pela tradicional.
por: Paula Catarina
século III foi o período inicial em que a cultura japonesa
passou por uma forte influência estrangeira. Os carac-
teres chineses preencheram a lacuna fonética que os
ideogramas – símbolos que representam somente idéias
e não sons – como os kanjis, deixavam. Assim como a
nossa literatura, a literatura japonesa é dividida em fases,
porém os períodos são denominados de acordo com o
nome da capital do Império.
O Kojiki, que é “O Registro de Assuntos Antigos” e data
de 712 d.C., é uma das obras mais antigas.
A Manyoshu (Miríade de flores) também
Foto: Google
faz parte dos clássicos dessa literatura e
é a mostra de uma diversidade de textos
escritos por vários membros das classes
sociais japonesa, de membros das classes
mais populares a imperadores. Kakino-
moto no Hitomaro, membro da aristocracia
do período Nara, é considerado o poeta
representativo do Manyoshu, nele escreveu