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Organizadores:
Erineu Foerste
Gerda Margit Schütz-Foerste
Rogério Caliari




                           INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO

                           Povos
                           Territórios
                           Movimentos Sociais
                           Saberes da Terra
                           Sustentabilidade




Ministério da Educação
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
Universidade Aberta do Brasil
Universidade Federal do Espírito Santo
Programa de Pós-Graduação em EducaçãoUFES
INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO

Povos
Territórios
Movimentos Sociais
Saberes da Terra
Sustentabilidade




       Organizadores:
        Erineu Foerste
  Gerda Margit Schütz-Foerste
        Rogério Caliari




        Colaboradores:
          Ademar Bogo
 Bernardo Mançano Fernandes
   Carlos Rodrigues Brandão
     Danilo Romeu Streck
   Damián Sánchez Sánchez
           Derly Casali
   Edmerson dos Santos Reis
       Eliesér Toretta Zen
          Flávio Moreira
      Giovanni Semeraro
    Janinha Gerke de Jesus
        Josimara Pezzin
  Maria das Graças F. Lobino
  Maurice Barcellos da Costa
           Pedro Jacobi
     Roseli Salete Caldart
      Sônia A. B. Beltrame




       VitóriaES - 2009
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva



Ministro da Educação
Fernando Haddad



Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
André Lázaro



Educação do Campo da SECADMEC
Coordenador Geral
Wanessa Zavarese Sechim



Universidade Aberta do Brasil
Coordenador Geral
Celso Costa



Universidade Federal do Espírito Santo
Reitor
Rubens Sérgio Rasseli



Coordenação da UAB / UFES
Maria José Campos Rodrigues



Centro de EducaçãoUFES
Diretora
Maria Aparecida Santos Correia Barreto



Programa de Pós-Graduação em EducaçãoUFES
Coordenadora
Denise Meyrelles de Jesus
© 2009. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECADMEC)

Universidades parceiras
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
Universidade de Montes Claros - UNIMONTES
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS
Universidade Federal do Paraná – UFPR
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA

Coordenação Editorial – SECAD/MEC
Maria Adelaide Santana Chamusca

Conselho Editorial de Educação do Campo – SECAD/MEC
Cezar Nonato Bezerra Candeias - UFAL
Edmílson Cezar Paglia – UFPR
Erineu Foerste – UFES
Icléia A. de Vargas – UFMS

Equipe de Apoio – SECAD/MEC
Divina Lúcia Bastos
Eliete Ávila Wolff

Equipe de Apoio – UFES
Adriana Vieira Guedes Hartwig
Andressa Dias Koehler
Arlete Maria Pinheiro Schubert
Charles Moreto
Cláudio David Cari
Janinha Gerke de Jesus
Jorcy F. Jacob
Josimara Pezzin
Maria Peres
Marli da Penha Vieira Gomes dos Santos
Ozirlei Teresa Marcilino
Rachel Curto Machado Moreira

Revisão
Elida Maria Fiorot Costalonga

Projeto gráfico e Diagramação
Leandro Macêdo




                                   Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
                           (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)


E24       Introdução à Educação do Campo : povos, territórios, saberes da terra, movimentos sociais, sustentabilidade / or-
ganizadores, Gerda Margit Schütz-Foerste, Erineu Foerste, Rogério Caliari ; colaboradores, Ademar Bogo ... [et al.]. - Vitória,
ES : UFES, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2009.
          154 p. : il.

          Inclui bibliografia.
          ISBN 978-85-60050-18-5
          1. Educação rural. 2. Movimentos sociais. I. Schütz-Foerste, Gerda Margit. II. Foerste, Erineu. III. Caliari, Rogério.

                                                                                                               CDU: 37.018.51

       Os autores são responsáveis pelas opiniões expressas nos respectivos textos, que não são necessariamente
                                             as do Ministério da Educação.
SUMÁRIO


MOVIMENTOS SOCIAIS

Texto I – Professor Danilo Romeu Streck .................................................................................................................................................... 15
PRÁTICAS EDUCATIVAS E MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA: APRENDER NAS FRONTEIRAS

Texto II – Professor Geovanni Semeraro....................................................................................................................................................... 29
DA LIBERTAÇÃO À HEGEMONIA: FREIRE E GRAMSCI NO PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL

Texto III - Professor Damián Sánchez Sánchez ........................................................................................................................................... 33
MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO - LUTAS DOS POVOS INDÍGENAS

Texto IV – Professor Erineu Foerste e Professora Josimara Pezzin ...................................................................................................... 37
O CAMPESINATO MORREU?

Texto V – Professor Bernardo Mançano Fernandes.................................................................................................................................. 43
TEORIA E POLÍTICA AGRÁRIA: SUBSÍDIOS PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DO CAMPO




EDUCAÇÃO DO CAMPO

Texto I – Professor Bernardo Mançano Fernandes ................................................................................................................................... 49
EDUCAÇÃO DO CAMPO E TERRITÓRIO

Texto II - Professor Derli Casali ......................................................................................................................................................................... 71
O CAMPO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Texto III – Professor Flávio Moreira ................................................................................................................................................................. 73
AS IMAGENS SOCIAIS PRODUZIDAS A RESPEITO DA “ROÇA”

Texto IV – Professor Erineu Foerste e Professora Janinha Gerke de Jesus ....................................................................................... 75
ESCOLAS FAMÍLIAS AGRÍCOLAS: UM PROJETO DE EDUCAÇÃO ESPECÍFICO DO CAMPO

Texto V – Professor Rogério Caliari ................................................................................................................................................................. 77
CONTEXTOS CAMPESINOS: QUAL EDUCAÇÃO?

Texto VI – Professor Erineu Foerste e Professora Gerda Margit Schütz-Foerste ............................................................................. 83
EDUCAÇÃO DO CAMPO: QUEM ASSUME ESTA TAREFA?

Texto VII – Professor Erineu Foerste e Professora Janinha Gerke de Jesus ...................................................................................... 87
EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL: UMA APROXIMAÇÃO

Texto VIII – Professora Sônia Beltrame .......................................................................................................................................................... 91
CENÁRIOS DA ESCOLA DO CAMPO

Texto IX – Professora Roseli Salete Caldart.................................................................................................................................................. 95
SOBRE EDUCAÇÃO DO CAMPO

Texto X – Professores Erineu Foerse e Eliesér Toretta Zen .................................................................................................................... 99
DISCUSSÕES SOBRE PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Texto XI – Professores Erineu Forste, Gerda Margit Schütz-Foerste e Lírio Drescher ................................................................... 103
PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA BÁSICA: QUESTÕES SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO
EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Texto I – Professor Carlos Rodrigues Brandão............................................................................................................................................ 109
CONVIVER, APRENDER A SER RECÍPROCO

Texto II – Professor Ademar Bogo................................................................................................................................................................... 133
A EDUCAÇÃO E A DISPUTA DE PROJETOS EM NOSSA AGRICULTURA

Texto III - Professor Edmerson Santos dos Reis.......................................................................................................................................... 135
ENTRELAÇANDO SABERES PARA A CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Texto IV – Professor Pedro Jacobi ................................................................................................................................................................... 139
EDUCAR PARA A SUSTENTABILIDADE: COMPLEXIDADE, REFLEXIVIDADE, DESAFIOS

Texto V – Professor Pedro Jacobi .................................................................................................................................................................... 141
MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO E CIDADANIA: DESAFIOS DA MUDANÇA

Texto VI – Professores Alexandre de Gusmão Pedrini e Maria Inês Meira Santos Brito............................................................... 143
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTOOU SOCIEDADE SUSTENTÁVEL?
UMA BREVE REFLEXÃO PARA A AMÉRICA LATINA

Texto VII – Professor Maurice Barcellos da Costa ...................................................................................................................................... 147
QUESTÕES AMBIENTAIS E EDUCAÇÃO

Texto VIII - Professora Maria das Graças F. Lobino ................................................................................................................................... 151
DIMENSÕES INTER/TRANSDISCIPLINARES NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR(A)
APRESENTAÇÃO DO CURSO


     Queremos dar boas vindas a todos vocês!

      O Curso de Especialização Lato Sensu em Educação do Campo é uma conquista co-
letiva dos profissionais da educação. Há muito tempo vínhamos lutando para que isso se
tornasse realidade. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do
Ministério da Educação do Ministério da Educação – SECADMEC vem favorecendo parcerias
no desenvolvimento de trabalhos na formação continuada de professores do campo, resga-
tando assim uma dívida histórica de nosso país com aqueles que vivem no campo.
      Os profissionais do ensino que atuam na educação do campo produziram e acumu-
laram conhecimentos a partir de práticas educativas em contextos campesinos e desenvol-
veram ferramentas para garantir educação aos trabalhadores do campo. Isso tem sido feito
com reflexões e esforço para produção de saberes da experiência, que precisam ser sistema-
tizados através de pesquisas em colaboração com pesquisadores da academia, bem como
socializados de forma mais efetiva.
      A parceria entre Universidade, Escola Básica diferentes órgãos públicos (Secretaria Es-
tadual de Educação, Secretarias Municipais de Educação) e setores organizados da socie-
dade civil (Movimentos Sociais, Entidades, Sindicatos, Associações etc.) abre possibilidades
concretas de trocas de saberes (acadêmicos e práticos), fortalecendo identidades profissio-
nais dos docentes e a autonomia daqueles que se dedicam ao magistério.
      Precisamos unir esforços para construir em diferentes contextos campesinos a escola
que os trabalhadores do campo querem, levando em consideração povos tradicionais (indí-
genas, quilombolas, pomeranos, trabalhadores sem-terra, ribeirinhos, pescadores etc.), terri-
tórios e saberes da terra. O projeto político e pedagógico da educação do campo não é uma
obra que se pode dar por terminada num determinado tempo. Deve ser permanentemente
problematizada e construída a partir das necessidades dos sujeitos do campo, fortalecendo
lutas contra o latifúndio e agronegócio.
APRESENTAÇÃO DAS TEMÁTICAS I E II DO EIXO ESPECÍFICO II
INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO


       O Eixo Específico - Introdução à Educação do Campo do Curso de Especialização
Lato Sensu em Educação do Campo: Interculturlidade e Campesinato em Processos Educa-
tivos, na modalidade aberta e a distância articula discussões sobre os cinco Eixos Temáticos,
a saber:
       Povos
       Territórios
       Movimentos Sociais
       Saberes da Terra
       Sustentabilidade

      Para o desenvolvimento dos trabalhos propostos, produzimos este Caderno Impresso
e CD – Rom (em anexo), organizados em três capítulos que abordam os cinco Eixos Temáti-
cos do curso. O propósito foi manter os Eixos Temáticos como articuladores. A partir disso,
possibilitam-se condições concretas para a indissociabilidade do Eixo Específico: Intro-
dução à Educação do Campo, onde são desenvolvidos os capítulos: Movimentos Sociais,
Educação do Campo e Educação e Sustentabilidade, a partir dos textos selecionados e os
demais Eixos Específicos que constituem o currículo do Curso. O material digital apresenta
os textos integrais, da forma como foram disponibilizados pelos respectivos autores de dife-
rentes contextos do cenário nacional.
      O CD – Rom contém os roteiros para aprofundamento do estudo dos textos, propostos
pelos autores e/ou organizadores. O Caderno Impresso apresenta para cada Eixo Temático
um texto integral com as questões para aprofundamento das reflexões individuais e nos
grupos.
      Além disso, selecionamos fragmentos de alguns artigos, seguidos de sugestões de tí-
tulos para leituras complementares. São igualmente apresentadas questões eou roteiros
para aprofundamento das leituras a partir de pesquisas bibliográficas eou de campo.
      No Capítulo – Movimentos Sociais estão apresentados textos que discutem questões
sobre as lutas dos oprimidos por mais dignidade. Isso significa dizer que os trabalhadores
campesinos organizam-se coletivamente e fortalecem movimentos de resistência e de liber-
tação dos povos historicamente marginalizados no projeto de desenvolvimento econômico
das elites, que tem fortalecido o latifúndio e agronegócio no contexto brasileiro e na Améri-
ca Latina, em detrimento da agroecologia e sustentabilidade.
      No Capítulo - Educação do Campo encontram-se textos para aprofundamento de
reflexões a respeito do tipo de educação que os povos tradicionais do campo vêm cons-
truindo em suas lutas históricas pela valorização das culturas, seus saberes e identidades
campesinas.
      Para os povos campesinos há que se mostrar as contradições da sociedade de classes,
que produz e reforça imagens muito negativas do campo e sujeitos que nele produzem seu
sustento. Observa-se que os movimentos sociais articulam saberes que remetem as práticas
educativas ao modo de produzir existência e sua noção de territorialidade, através do culti-
vo da terra, na perspectiva da agricultura familiar sustentável. Não se trata de negar o conhe-
cimento sistematizado a estes sujeitos, mas sim de cotejá-los a prática daqueles que vivem
nas comunidades indígenas, nas comunidades quilombolas, nas comunidades pomeranas,
nos assentamentos de reforma agrária etc.
Finalmente, no Capítulo – Educação e Sustentabilidade os artigos disponibilizados
       problematizam a relação predatória do ser humano com a Terra, criticando o projeto
de desenvolvimento proposto pela racionalidade capitalista. Os autores colocam-se num
movimento pela formação de uma consciência humana, no sentido proposto por Paulo
Freire, buscando contribuir no debate pela relação responsável da espécie humana com a
Natureza. A educação é compreendida, nesse contexto, como possibilidade concreta para
construção coletiva de outro projeto de produção da existência humana a partir do cultivo
da Terra. Nesse sentido as culturas e identidades dos povos do campo e os saberes da terra
remete-nos ao projeto de sustentabilidade agrícola, sobretudo quando se trata de agricul-
tura familiar como contraponto ao latifúndio e ao agronegócio.
       Cada Capítulo apresenta textos na íntegra e parte de outros, sempre remetendo o lei-
tor ao conjunto de textos integrais disponiblizados no CD - Rom e/ou na plataforma Moodle.
Os artigos estão seguidos de propostas de trabalho, para aprofundamento das reflexões.
Parte do pressuposto que a prática da leitura requer rigor do pesquisador na busca do co-
nhecimento novo, que favoreça a problematização da prática e registros de saberes produ-
zidos a partir das experiências.
       Cabe ressaltar que este Eixo Específico não se esgota em si mesmo. Ele deve ser pro-
blematizado no processo de aprofundamento de estudos a partir de outras fontes bibliográ-
ficas inclusive. O presente Eixo Específico, portanto, deve ser tomado como produto de de-
terminado tempo, produzido por sujeitos concretos, e como tal, é marcado por contradição.
Tomando o princípio do movimento e da precariedade das ações humanas, compreende-se
que está em permanente construção, para superação de lacunas e fragilidades que carrega.

     Bom estudo!
     Os organizadores, maio de 2009.
CAPÍTULO



   MOVIMENTOS SOCIAIS




                       Recomendações

     Realize uma leitura inicial dos textos, fazendo anotações para
elaboração de uma síntese, que será discutida no grupo de estudo.
Em seguida retome os artigos, buscando dados para resolver as ati-
vidades propostas. Não deixe de registrar suas reflexões, com vistas
ao compartilhamento das mesmas no seu grupo e no encontro da
turma de que você faz parte no Polo da UAB.
Movimentos Sociais




              14     Capítulo: Movimentos Sociais
Texto I – Professor Danilo Romeu Streck

      Objetivo: Discutir aspectos sobre Movimentos Sociais na Amé-
rica Latina e educação em contextos de fronteira.

      Realize uma leitura inicial do texto, fazendo anotações para ela-
boração de uma síntese, que será discutida no grupo de estudo . Em




                                                                                                                       Movimentos Sociais
seguida retome o artigo, buscando dados para resolver as questões
propostas. Não deixe de registrar suas reflexões, com vistas ao com-
partilhamento das mesmas no seu grupo e no encontro da turma de
que você faz parte no Polo da UAB.
                                                                              Grupo de estudo: formar grupos
                                                                              de até quatro componentes para
                                                                              trabalhar os textos e realizar ativi-
PRÁTICAS EDUCATIVAS E MOVIMENTOS SOCIAIS NA                                   dades propostas. Este grupo pre-
                                                                              para discussões para os encontros
AMÉRICA LATINA: APRENDER NAS FRONTEIRAS                                       coletivos.


     Danilo R. Streck/UNISINOS 1

                  Não morrerá a flor da palavra. Poderá morrer o rosto es-
           condido de quem a pronuncia hoje, mas a palavra que brota
           do fundo da história e da terra já não poderá ser arrancada
           pela soberba do poder. Nós nascemos da noite. Nela vivemos.
                                                                              1 Professor do Programa de Pós-
           Morrermos nela. Mas a luz será manhã para os demais, para to-      Graduação em Educação da Uni-
           dos os que hoje choram a noite, para quem se nega o dia, para      versidade do Vale do Rio dos Sinos
           quem a morte é um presente, para quem a vida está proibida.        – UNISINOS, São Leopoldo – RS
                                                                              Correio eletrônico:
           Para todos, tudo. Para nós a dor e a angústia, para nós a alegre   dstreck@unisinos.br
           rebeldia, para nós o futuro negado, para nós a dignidade insur-
           reta. (Quarta Declaración de la Sielva Lacandona) 2                2 No morirá la flor de la palabra.
                                                                              Podrá morir el rostro oculto de
                                                                              quien la nombra hoy, pero la pala-
                                                                              bra que vino desde el fondo de la
                                                                              historia y de la tierra ya no podrá
                                                                              ser arrancada por la soberba del
     Resumo:                                                                  poder. Nosotros nacimos de la no-
                                                                              che. Em ella vivimos. Moriremos
      O artigo analisa a relação entre práticas educativas e movimen-         em ella. Pero la luz será mañana
tos sociais populares na América Latina, destacando tanto aprendiza-          para los más, para todos aquellos
                                                                              que hoy lloran la noche, para quie-
gens que os mesmos proporcionam para os seus integrantes quanto               nes se niega el día, para quienes
aprendizagens que possibilitam para a sociedade. Dentre os aspec-             es regalo la muerte, para quienes
                                                                              está prohibida la vida. Para todos
tos abordados encontram-se os seguintes: o redimensionamento                  la luz. Para todos todo. Para no-
do popular, o enraizamento, a ruptura e a insurgênia como parte da            sotros el dolor y la angustia, para
                                                                              nosotros la alegre rebeldía, para
pedagogia dos movimentos sociais, a participação como uma princí-             nosotros el futuro negado, para
pio metodológico, uma nova compreensão de sujeito, a produção de              nosotros la dignidad insurrecta.
                                                                              Para nosotros nada. (Quarta De-
saberes específicos da área de atuação dos movimentos sociais e um            claración de la Sielva Lacandona).
redimensionamento do local e do global. Como conclusão, procura-              In G. Caparó, Ansias del alba: tex-
                                                                              tos zapatista, 2001, p. 312.
se sinalizar o que significa, hoje, a inserção crítica da educação nos
movimentos da sociedade.

    Palavras-chave: Movimentos sociais – práticas educativas -
América Latina




Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                          15
3 O texto serviu de base para a
                     conferência sobre o tema Práticas
                                                                Aproximações ao tema
                     educativas e movimentos sociais
                     no seminário “Fronteiras étnico-
                     culturais e fronteiras da exclusão”
                                                                 Neste tema cabem muitas perguntas, motivo pelo qual a pri-
                     promovido pela Universidade           meira tarefa consiste em definir as questões que estarão postas para
                     Católica Dom Bosco, de Campo
                     Grande, MS, de 21 a 24 de setem-
                                                           análise neste artigo. Situo o tema no contexto das discussões sobre
                     bro de 2006.                          as mediações pedagógicas nos processos sociais 3 , entendendo que
                                                           os movimentos sociais se constituem hoje em espaços privilegiados
Movimentos Sociais




                                                           para alavancar o desenvolvimento de uma cidadania ativa e compro-
                                                           metida com a superações da realidade e das condições de exclusão
                                                           social. A pergunta poderia ser colocada da seguinte forma: De que
                                                           maneira os movimentos sociais populares na América Latina se cons-
                                                           tituem como mediações pedagógicas para gerar uma sociedade que
                                                           tenha lugar para todos? O que se pode aprender neles, com eles de-
                                                           les?
                                                                 Algumas advertências iniciais são necessárias. A primeira delas
                                                           diz respeito a tomar a América Latina como referência. Muito já se
                                                           escreveu e discutiu sobre a identidade latino-americana. Este próprio
                                                           fato parece ser sintomático de uma experiência sentida e vivida nes-
                                                           ta parte do mundo e que se expressa no sentimento de que vivemos
                                                           num tempo e numa realidade que não são nossos. Quem sabe a pró-
                                                           pria idéia de busca do que se é como conjunto de povos e nações,
                                                           com traços comuns de formação histórica, possa ser uma base da
                                                           identificação como América Latina. Foge-se assim tanto de identida-
                                                           des fixas, não raro de caráter folclórico, e também de um vazio que
                                                           apenas exacerba o espírito de orfandade.
                                                                 Uma segunda advertência tem a ver com o risco de idealização
                                                           de movimentos sociais e do popular como entidades quase sagra-
                                                           das, portadoras da verdade e acima de críticas. Aprendemos a ver
                                                           que a ética não é um atributo fixo de determinadas pesssoas e tam-
                                                           bém não está colada a determinados grupos sociais. Essa visão ide-
                                                           alizadora se opõe a outra, no campo ideológico oposto, que procura
                                                           demonizar os movimentos sociais, especialmente os populares, des-
                                                           qualificando-os como promotores de desordem. Se neste trabalho
                                                           os movimentos sociais são vistos, sobretudo pelo seu lado positivo
                                                           é por causa do pressuposto de que, mesmo não isentos de falhas e
                                                           acima de críticas, eles trazem importantes contribuições para o de-
                                                           senvolvimento da sociedade.
                                                                 A partir da pergunta acima anunciada, elaboro a abordagem
                                                           enfocando os seguintes itens: a) um olhar sobre a compreensão de
                                                           movimentos sociais e o seu papel na América Latina; b) uma refle-
                                                           xão sobre o seu potencial pedagógico, verificando tanto a educação
                                                           dentro do movimento quanto a sua função educadora na sociedade
                                                           enquanto movimento que dela faz parte; c) por fim, a título de con-
                                                           clusão, retomo o significado do movimento social para a superação
                                                           da exclusão através da educação.




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Notas sobre movimentos sociais na América Latina                       4 O livro Mundialización de las re-
                                                                             sisténcias: Estado de las luchas, or-
                                                                             ganizado por Samir Amin e Fran-
                                                                             çois Houtart (2004), que textos de
       Ao falar de movimentos sociais na América Latina é impossí-           acadêmicos e militantes dos mo-
vel não lembrar imediatamente do Movimento dos Trabalhadores                 vimentos sociais, é uma tentativa
                                                                             de proporcionar uma visão global
Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e do Exército Zapatista de Liberta-       dos movimentos sociais dentro
ção Nacional (EZLN), no México. São movimentos que se constituem             da compreensão do Fórum Social
                                                                             Mundial.
como forças sociais com atuação marcante em seus países e contam




                                                                                                                      Movimentos Sociais
com uma grande visibilidade nacional e internacional. No entanto,
ao focarmos a atenção nestes movimentos grandes corremos o ris-
co de não ver o contexto no qual eles próprios encontram o nicho
para continuar existindo. Principalmente a partir da década de 90 o
grande pano de fundo dos movimentos sociais é a contestação das
políticas neoliberais, seja em suas repercussões na educação, na eco-
logia, no mundo do trabalho, na organização política ou nas diversas
formas de expressão cultural. 4
       Se os movimentos sociais são diversos, também a compreen-
são sobre eles não é menos diversificada. A definição proposta por
Maria da Glória Gohn (2002, p.25) dá conta daquilo que neste traba-
lho se entende por movimentos sociais. Segundo ela, movimentos
sociais são “ações sociais coletivas, de caráter sociopolítico e cultural,
que viabilizam distintas formas de organização e de expressão das
demandas da população.” Estão presentes aqui as idéias de confli-
to em torno de projetos sociais e políticos, de identidade cultural,
de solidariedade interna, de ação coletiva e de inovação social que,
com ênfases distintas, encontramos em autores como Alain Touraine
(1994), Alberto Melucci (2002) e Boaventura de Sousa Santos (1996).
         Historicamente os movimentos sociais estão entre as vozes
silenciadas. Ao menos a história ensinada para os cidadãos comuns
traz muito pouco sobre os movimentos da sociedade que não se en-
quadram na perspectiva hegemônica, aquela que conta como se for-
mou o império, depois a república, com os seus respectivos heróis
protagonistas. Na educação, por exemplo, aprendemos sobre a ação
de Anchieta e o grande esforço dos jesuítas dentro do projeto coloni-
zador. Hoje começam a ser desveladas estratégias de resistência e de
enfrentamento que também passavam pela educação. Começa-se a
abandonar a idéia de tabula rasa para reconhecer que havia um com-
plexo sistema pedagógico para dar conta desta maneira específica
de viver. “Da parte dos povos nativos, diz Helena Dias da Silva (2000,
p. 95), estes procuravam manter seus processos educativos próprios
de todas as formas. Mesmo nas fugas, refúgios ou na escravização,
procuraram recriar espaços que possibilitassem construir e recons-
truir sua história, seus valores e seus projetos de vida, educando as
futuras gerações.”
       O mesmo pode ser dito em relação aos negros - por exemplo,
sua organização nos quilombos - e a outros grupos sociais cuja atua-
ção se tornou invisibilizada na história. Boaventura de Sousa Santos
fala da necessidade de uma “sociologia das ausências” para recompor
as lacunas da história, o que muitas vezes pode significar contar o ou-
tro lado da mesma história. Vítor Westehelle (2000, p. 36) argumenta



Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                         17
que uma cultura colonizada não é uma cultura morta, “é uma cultura
                                                           que esconde, nas profundezas de seus silêncios, vozes prontas para
                                                           sair à superfície.” É uma cultura que se torna invisível e se comunica
                                                           através do silêncio, da dissimulação e do ocultamento.
                                                                   A presença desta história encoberta (Dussel, 1993) nos atuais
                                                           processos sociais na América Latina é bem expressa por Alcira Argu-
                                                           medo quando escreve que não existem marcos teóricos inocentes e
Movimentos Sociais




                                                           que é possível recuperar o potencial teórico autônomo contido no
                                                           pensamento latino-americano:

                                                                             O reconhecimento da heterogeneidade cultural dos se-
                                                                      tores populares da América Latina – que se destaca diante da
                                                                      crescente homogeneização de suas classes dominantes e das
                                                                      camadas médias acomodadas – surge com força como pro-
                                                                      blemática das ciências sociais ao calor da crise dos “paradig-
                     5 “Os movimentos contemporâne-                   mas teóricos”. A emergência de novas formas de organização
                     os são profetas do presente. Não                 e solidariedade; de movimentos sociais reivindicatórios que
                     têm a força dos aparatos, mas a
                     força da palavra. Anunciam a mu-
                                                                      ultrapassam os partidos políticos; o aumento de massas mar-
                     dança possível, não para um futu-                ginais e de seus novos comportamentos de desesperação; a
                     ro distante, mas para o presente                 persistência de identidades sociais que ligam o presente com
                     de nossa vida. Obrigam o poder
                     a tornar-se visível e lhe dão assim              vários séculos de memórias culturais, para além das caracterís-
                     forma e rosto. Falam uma língua                  ticas adquiridas nas diversas regiões, dão conta de fenômenos
                     que parece unicamente deles,                     que não podem ser explicados integralmente a partir das con-
                     mas dizem algumas coisas que os
                     transcende e, deste modo, falam                  cepções oficializadas nas ciências sociais e na análise política.
                     para todos.” (Melucci, 2001, p. 21)              (Argumedo, 2004, p.15)

                                                                 Esse breve pano de fundo histórico parece importante para
                                                           entender que a quantidade e diversidade de movimentos sociais na
                                                           América Latina, hoje, não se devem a um processo de geração espon-
                                                           tânea. Houve uma luta silenciosa pela terra, pelo respeito de identi-
                                                           dades, por direitos de cidadania que hoje passa a ser ouvida e vista. E
                                                           dependendo do lugar social de onde se olha, passa a ser vista como
                                                           profecia 5 ou como ameaça.
                                                                 Embora os movimentos sociais façam parte da dinâmica da
                                                           sociedade, o conceito surge por volta de 1840 como categoria para
                                                           estudar o movimento proletário e o comunismo e socialismo emer-
                                                           gentes. (Ramirez, 2000, p. 50). Houve, na segunda metade do sécu-
                                                           lo passado importantes deslocamentos e rupturas, ocasionando o
                                                           surgimento do conceito de novos movimentos sociais. Segundo
                                                           Boaventura de Sousa Santos (1996, p. 258) a novidade maior reside
                                                           no fato de estes novos movimentos identificarem novas formas de
                                                           opressão, para além da crítica da regulação social tanto capitalista
                                                           quanto socialista. Isso se comprova na diversidade de temas presen-
                                                           tes nestes movimentos: gênero, paz, anti-racismo, anti-produtivismo,
                                                           além de lutas por direitos como moradia, terra, saúde e educação.
                                                                 Na medida em que os movimentos sociais são a expressão da
                                                           sociedade em movimento (Rucht, 2001) eles parecem fugir a tentati-
                                                           vas de classificação e se constituem num desafio para a compreensão
                                                           dentro de parâmetros preestabelecidos porque eles próprios procu-
                                                           ram romper estes parâmetros. Seguindo a argumentação de Melucci
                                                           (2002, p. 34), os movimentos sociais não são simplesmente a expres-



              18                                                                                     Capítulo: Movimentos Sociais
são de uma crise, que se refere à desintegração do sistema e induz a        6 O Município de São Leopoldo
                                                                            (RS) foi o primeiro a criar uma lei
reações que tendem a restabelecer o sistema. Eles são, em sua visão,        anti-discriminatória de gays no
antes expressões de um conflito onde estão em jogo interesses an-           Brasil, em 2006, a partir da luta do
                                                                            movimento gay aliam com outros
tagônicos e por isso têm como resultado produzir mudanças no sis-           movimentos sociais da cidade e
tema e não simples ajustes. Estes conflitos surgem por uma série de         da região.

contingências em lugares diferentes e nem sempre previsíveis.
       Para Touraine (1994, p. 254) um “movimento social é ao mes-




                                                                                                                    Movimentos Sociais
mo tempo um conflito social e um projeto cultural.” Estão em jogo
nos movimentos sociais tanto as disputas sociais e políticas quanto a
aposta em determinados valores culturais. Por exemplo, o movimen-
to gay não apenas cria estratégias para convencer as comunidades
de seu direito de ser diferente, mas procura criar mecanismos legais
para coibir discriminação no mundo do trabalho e em lugares públi-
cos. 6 Estas duas dimensões – conflito social e projeto cultural – po-
dem variar em intensidade, ora prevalecendo um ora outro.
       A força dos movimentos sociais na América Latina é corrobora-
da pela eleição de dois presidentes. No Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva
formou-se no movimento sindical durante o período de lutas contra
a ditadura militar. Na Bolívia, Evo Morales passou de líder cocalero
a presidente de um país onde a maioria indígena é historicamente
alijada do poder. No México, embora os zapatistas com o Comandan-
te Marcos não ambicionem a conquista do poder na forma cargos
públicos, também é incontestável que eles representam uma impor-
tante força política.
       Essas breves considerações mostram que é praticamente invi-
ável compreender a realidade latino-americana sem levar em conta
os movimentos sociais. Eles são responsáveis por grande parte das
conquistas hoje transformadas em políticas sociais, buscando garan-
tir direitos básicos do cidadão.


      A educação no e pelo movimento social

      Os movimentos sociais podem ser analisados como um espaço
da educação em dois sentidos. Uma vez, pelo tipo de práticas peda-
gógicas que promovem em seu interior e, outra, pelo que represen-
tam como fator pedagógico para a sociedade em que se realizam.
Tomando como exemplo os MST pode-se constatar a preocupação
pela formação interna, desde a escola itinerante para as crianças dos
acampamentos até a formação de professores e outras lideranças. O
aspecto formativo para a sociedade começa com a relação que o Mo-
vimento estabelece com as comunidades até o uso dos modernos
meios de comunicação para expor seus argumentos, muitas vezes
através de ações com grande expressão, concreta e simbólica. Para
fins desta exposição estas duas dimensões serão consideradas de
forma integrada. Os itens abaixo pretendem dar uma visão geral da
contribuição do movimento social enquanto também um movimen-
to pedagógico para a sociedade.
      A relevância dos movimentos sociais para a educação fica evi-



Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                       19
dente quando se compreende a educação como o processo auto-
                     formativo da sociedade. Essa compreensão de educação situa-a no
                     âmago das práticas sociais e no cruzamento dos conflitos. Uma das
                     razões da atual crise da escola é que ela assume o lugar de “ilha”, onde
                     os alunos se encontram sob a orientação dos professores para ser
                     formados. Em primeiro lugar, esta ilha não existe. Em segundo lugar,
                     a pretensão de ser esta ilha ou de permitir ser colocada nesta posi-
Movimentos Sociais




                     ção, ocasiona um isolamento de fato daquelas forças que poderiam
                     impulsionar mudanças.

                                      Ao referir-me à educação como autoformação da so-
                                ciedade desejo acentuar a necessidade de ter o máximo de
                                consciência e lucidez possível das forças e dos conflitos que
                                alimentam e são alimentados pelos movimentos sociais. Ali
                                estão impulsos que, se incorporados às práticas educativas,
                                podem ajudar estas a encontrar o seu lugar na sociedade ao
                                lado das forças que buscam construir e ampliar a cidadania e
                                as possibilidades de vida.


                                       O redimensionamento do popular: A categoria “popular”
                                passou de uma compreensão genérica como algo do “povo”
                                para uma compreensão mais específica de identificação com
                                as classes subalternas. Assim, a partir da segunda metade do
                                século XX temos referência à cultura popular, ao teatro popular
                                e à educação popular como expressão contra-hegemônicas.
                                Havia, nestas definições, uma clara conotação classista. Os as-
                                sim chamados novos movimentos sociais trazem um redimen-
                                sionamento do popular, devolvendo-lhe um sentido mais am-
                                plo de público, muitas vezes nitidamente transclassista, como
                                é o caso dos movimentos ecologistas, feministas ou de gays.

                            O desafio consiste em abrir a categoria popular para abranger
                     outros grupos, mas ao mesmo tempo não perder de vista a impor-
                     tante conquista de uma identificação mais restrita com grupos so-
                     ciais excluídos ou subalternizados no sistema de produção. O Fórum
                     Social Mundial (FSM) é uma boa expressão da articulação dos movi-
                     mentos sociais e dos cruzamentos entre diversas categorias dando ao
                     popular um caráter mais multifacetado (Streck, 2004). Isso não signi-
                     fica que todos os movimentos sociais presentes ou representados no
                     FSM pudessem ser incluídos na categoria de populares, mas indica
                     novas possibilidades de encontro e maior porosidade nas fronteiras.
                            As práticas educativas, nos diversos contextos, podem alimen-
                     tar-se dessa riqueza de experiências que brotam em muitos setores
                     da sociedade. Mais importante ainda, podem colocar-se junto nessa
                     diversidade de movimentos que a sociedade realiza e procurar ser
                     protagonista. No caso da escola, por exemplo, pode significar abrir
                     as portas para o grupo de mulheres não apenas para usarem uma
                     sala para reuniões, mas para trazerem as suas experiências para as
                     crianças e jovens.




              20                                              Capítulo: Movimentos Sociais
Enraizamento e ruptura: Os movimentos sociais, como
           vimos acima, expressam conflito, mas eles também são instru-
           mentos para a manutenção ou recriação da identidade cultu-
           ral. Os conflitos sinalizam rupturas com padrões ou processos
           sociais hegemônicos vistos como limitadores de direitos de ci-
           dadania ou como ameaças à própria vida. Sua luta é para que
           a partir de determinadas rupturas se possa recompor o senso




                                                                                Movimentos Sociais
           comum em um nível que amplia as possibilidades de realiza-
           ção humana. Por exemplo, é difícil que hoje alguém conteste
           o direito de voto das mulheres ou o acesso de negros à esco-
           la, esquecendo que estes direitos são frutos de duras e longas
           conquistas.

       Junto com isso, no entanto, é importante destacar o enraiza-
mento na cultura do grupo, que pode ser expresso na busca de res-
posta do que se é: “Quem somos, como sem-terra, para além ou fora
dos estereótipos que encontram guarida nas ideologias conservado-
ras?” “Quem somos, como “gays” num mundo que tende a não ver
além do preto e branco?”
       A partir da experiência do MST, Roseli Salete Caldart (2000, p.
140) vê no enraizamento o início da educação no interior do movi-
mento. “Saber que não está solta no mundo é a primeira condição
da pessoa se abrir para esta nova experiência de vida. Este costuma
ser o sentimento que diminui o medo em uma ocupação, ou que faz
enfrentar a fome em um acampamento.” Mas não se trata de uma raiz
desvinculada da utopia e de projetos. Daí o uso da expressão enraiza-
mento projetivo, numa combinação criativa de raiz e projeto.
       Do ponto de vista das práticas educativas pode-se aprender
muito com a forma como os movimentos lidam com os conflitos na
sociedade circundante; com as suas estratégias para experienciar as
continuidades e as rupturas. Pode-se aprender também a enraizar as
práticas educativas na cultura ou nas culturas do lugar ou da região,
colocando as perguntas sobre quem se é e quem se pretende ser
e recompondo a memória. É impressionante a riqueza e o vigor do
conhecimento produzido por movimentos que buscam recuperar a
sua trajetória, seja de negros, de povos indígenas, dos movimentos
do campo ou das mulheres. Trata-se de aproveitar estes saberes ali
produzidos, mas também de conhecer a metodologia desenvolvida.

                  Analisando o movimento indígena equatoriano, reuni-
           do na CONAIE (Confederação das Nacionalidades Indígenas no
           Equador) Pierre Mouterde (2003, p.81) constata que “justamen-
           te porque começa como um movimento social fortemente en-
           raizado nas comunidades autóctones que seu discurso político
           de aspirações democráticas parece tão crível, justificado e legí-
           timo.” Isso também vale para outros movimentos sociais.


                  A participação: Sendo uma ação coletiva, o movimento
           social precisa encontrar os mecanismos de manter a coesão in-
           terna. A solidariedade entre os membros parece ser, por isso,
           uma característica importante na maioria dos movimentos so-



Capítulo: Movimentos Sociais                                                   21
ciais. Criam-se rituais, existem símbolos próprios e organizam-
                                                                       se manifestações públicas que aproximam os membros entre
                                                                       si e dão um senso de pertença.(Melucci, 2001, p. 36).

                                                                   Evelina Dagnino (2000, p.81) reconhece a tendência de misti-
                                                            ficar as ações coletivas dos movimentos como expressões da virtu-
                                                            de, mas argumenta que nem por isso se deveria deixar de perceber
Movimentos Sociais




                                                            as “mudanças moleculares” que resultam de ações de movimentos
                                                            sociais. Segundo ela, mesmo fragmentárias, incompletas e contradi-
                                                            tórias essas práticas devem ser vistas como “constitutivas de esforço
                                                            dos movimentos sociais para redefinir o significado e os limites da
                                                            própria política.” Pierre Mouterde (2003, p. 155) conclui em sua análi-
                                                            se de alguns dos grandes movimentos sociais da América Latina que
                                                            todos eles salientam a idéia de uma ruptura democrática no sentido
                                                            de romperem e superarem os limites formais da democracia repre-
                                                            sentativa.
                                                                   Em termos de práticas educativas o desafio consiste em trans-
                                                            formar a participação em um princípio metodológico, portanto, mui-
                                                            to mais do que em usá-la como técnica de ensino. Dos movimentos
                                                            pode-se aprender que, como dito antes, participação implica neces-
                                                            sariamente em conflitos. Os movimentos sociais, apesar de terem um
                                                            foco de atuação e direcionarem a sua luta, encerram uma pluralida-
                                                            de de idéias e de posições que nem sempre são perceptíveis a partir
                                                            de fora. Um elemento importante para garantir a participação é o
                                                            que no MST é chamado de mística. Nela se encontram os elemen-
                                                            tos evocativos, convocativos e provocativos que garantem a força do
                                                            movimento. (Peresson, 2006). Evocativo no sentido de recomporem
                     7 Estima-se que, uma árvore de
                                                            a memória, convocativo no sentido de chamarem à solidariedade e
                     eucalipto necessita de 38 mil litros   provocativo no sentido de, partindo da denúncia de determinada re-
                     de água por ano. O que significa a
                     plantação de milhares de hectares
                                                            alidade, anunciarem alternativas.
                     para o ecossistema?
                                                                             A lida com o poder: Os movimentos sociais colocam em
                                                                       pauta algum tema que conflitua com os interesses dominantes
                                                                       na sociedade e por isso a relação com o poder é um dos seus
                                                                       mais importantes desafios. Decidir sobre a ocupação de terras,
                                                                       o bloqueio de estradas ou o boicote a produtos representa um
                                                                       confronto com o poder estabelecido. Nessa relação, possivel-
                                                                       mente uma das mais importantes lições é a desmistificação da
                                                                       autoridade. O confronto força o poder a se relevar, a dizer de
                                                                       que lado e a serviço de quem está.
                                                                  Muitas práticas educativas, especialmente através do movi-
                                                            mento da educação popular incorporaram o pressuposto da reali-
                                                            dade do poder no seu cotidiano. Aconteceu, assim, um interessante
                                                            deslocamento, em termos metodológicos, da “troca de saberes” em
                                                            direção à “negociação cultural” (Mejía y Awad, 2001, p. 119) onde se
                                                            reconhece que na relação pedagógica se negociam desde visões de
                                                            mundo e valores até conhecimentos práticos; e que na negociação
                                                            estão em jogo relações de poder. Faz parte também da aprendiza-
                                                            gem através dos movimentos sociais que não basta tomar ou ocupar
                                                            o poder, mas que é necessário reinventá-los (Freire), uma tarefa per-
                                                            manente.



              22                                                                                     Capítulo: Movimentos Sociais
A produção de saberes: os movimentos sociais criam
           condições para valorizar os saberes do próprio grupo como
           contraponto aos saberes que os mantêm à margem e causa-
           ram o próprio movimento. Com isso, no entanto, eles se colo-
           cam também como produtores de novos saberes. Um exemplo
           é a disputa entre conhecimento que neste momento se trava
           entre os defensores do uso de grandes extensões de terra na




                                                                                                                  Movimentos Sociais
           metade sul do Rio Grande do Sul para plantação de eucalip-
           tos com o fim de alimentar a indústria de celulose e o contra-
           argumento de grupos ecologistas sobre o perigo de perdas
           irreparáveis para o eco-sistema do pampa 7 . O mérito está, em
           primeiro lugar, em trazer o assunto à consciência publica atra-
           vés de debates. Em segundo lugar, gera condições para nego-
           ciações políticas que repercutem regulação para o uso do solo.


                  A relação entre o local e o global: Uma das tendências
           verificadas entre os movimentos sociais é a sua capacidade de
           funcionamento em rede. Os novos meios de comunicação, es-
           pecialmente a Internet, contribuíram para que a situação de
           agressão aos direitos humanos numa pequena localidade em
           um pequeno país longínquo do centro do poder seja conheci-
           do e se transforme em um caso e eventualmente em notícia.
           Este funcionamento em rede não é privilégio nem invenção
           dos movimentos sociais, dado que hoje presenciamos a este
           tipo de funcionamento inclusive entre quadrilhas de assaltan-
           tes e gangues. O que está em jogo é uma nova relação entre
           ações em nível local ou regional e ações em nível global, com
           várias implicações. Para o indivíduo isso significa criar novas
           referências através de contatos físicos ou virtuais como, por
           exemplo, as comunidades do Orkut. Para a cidadania repre-
           senta uma revisão do conceito de fronteiras do estado-nação,
           uma vez que os controles em limites territoriais fixos se tornam
           praticamente inviáveis. Para os movimentos sociais se traduz
           na possibilidade de conectar ações locais em diferentes luga-
           res de um país ou do mundo.

      Este movimento exige mais do que aprender o domínio das
tecnologias ou de habilidades lingüísticas. Exige sobretudo o reco-
nhecimento das diferenças de formas de ação e de estratégias, enfim,          8 Para uma elaboração deste tema
de viver. O viver junto se coloca nestes tempos de globalização, para-        veja Educação para um novo con-
                                                                              trato social (Streck, 2003).
doxalmente, como um grande desafio.

                  Revisão da idéia de sujeito: As discussões sobre pós-mo-
           dernidade trouxeram à tona o debate sobre o sujeito e a possi-
           bilidade da ação histórica. Em alguns momentos a vara foi cur-
           vada para o outro lado, numa tentativa de desconstrução do
           sujeito consciente e fazedor da história, bem como da história
           como um projeto imbuído de uma linearidade de certa forma
           previsível. Os movimentos sociais interferem na idéia do sujei-
           to ao mostrarem que o mesmo não existe de forma abstrata e
           fixa, mas se constrói no movimento da história. É ao assumir os
           riscos de ser histórico e cultural que o ser humano se constitui
           como sujeito. Nas palavras de Alain Touraine (2004, p. 150):



Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                     23
O que há se sujeito em nós está sempre ao mesmo tem-
                                                                      po engajando e desengajado. É por essa razão que você não
                                                                      pode dizer que tal grupo social, tal indivíduo ou mesmo tal
                                                                      idéia, tal convicção, constitui um sujeito social. O sujeito é uma
                                                                      força de desligamento, de superação, e não pertence à ordem
                                                                      do ter. Eu “não tenho”um sujeito; há um sujeito em mim, e eu
                                                                      pago caro por isso.
Movimentos Sociais




                                                                 O sujeito pedagógico pode ser entendido dentro desta mesma
                                                           visão. Na medida em que a aprendizagem é um processo do sujeito, o
                                                           pólo do processo desloca-se para o sujeito aprendente. Mas também
                                                           não é mais o sujeito como indivíduo, mas construído na intersubjeti-
                                                           vidade. Essa é sem dúvida uma das grandes diferenças entre o Emílio
                     9 “Tenho o direito de ter raiva, de   de Rousseau e o educando de Paulo Freire 8. Enquanto o primeiro
                     manifestá-la, de tê-la como moti-
                     vação para minha briga tal qual te-
                                                           é protegido para não ser corrompido pelo meio, o segundo desde
                     nho o direito de amar, de expres-     cedo sabe que não tem como sair do mundo, como Robinson Crusoé
                     sar meu amo ao mundo, de tê-lo
                     como motivação de minha briga
                                                           em sua ilha, e que por isso precisa conhecê-lo para transformá-lo.
                     porque, histórico, vivo a Hitória
                     como tempo de possibilidades                            A insurgência como princípio pedagógico: os movimen-
                     e não de determinação.” (Freire,                 tos traduzem a insatisfação de grupos sociais com a realidade
                     1997, p. 84).
                                                                      existente. Eles são, por isso, forças com uma potencialidade de
                                                                      trazer mudanças, representando um momento instituinte na
                                                                      sociedade. Este é um tema difícil para a educação formal uma
                                                                      vez que a escola se institui basicamente como uma força con-
                                                                      servadora e disciplinadora na sociedade moderna. Sabemos
                                                                      também que há uma infinidade de formas de subverter esta
                                                                      força, desde a rejeição até a resistência passiva ou violenta.

                                                                 O desafio para a educação parece estar em deixar cair cercas
                                                           entre a educação formal e a não-formal, especialmente aquela nos
                                                           movimentos sociais populares para possibilitar que a insurgência
                                                           como um movimento de inovação seja uma possibilidade real no in-
                                                           terior das práticas educativas. Trata-se de insurgência no sentido de
                                                           recuperar ou criar a possibilidade de dizer a sua palavra, de fazer com
                                                           que a revolta e a indignação contra condições opressivas seja trans-
                                                           forme numa força potencializadora de mudanças.
                                                                 Quando Paulo Freire no “direito de ter raiva” 9 ela aponta para
                                                           esta condição humana que está na base do agir ético. Mas esta con-
                                                           dição precisa ser educada para que se evite que a raiva vire raivosida-
                                                           de, que a indignação se transforme em cinismo. No mesmo sentido
                                                           que Freire (1992) propôs uma pedagogia da esperança e não para a
                                                           esperança, considerando ser esta ontologicamente constitutiva do
                                                           ser humano, assim também proporá uma pedagogia da indignação
                                                           (2000).




              24                                                                                     Capítulo: Movimentos Sociais
Conclusão

A grande lição deixada pelos movimentos sociais para a educação é a
de inserir as práticas educativas no movimento da sociedade, contra-
riando a tendência de tornar o espaço pedagógico um lugar preser-          10 “Por trabajar nos matam, por vi-
                                                                           ver nos matam. No hay lugar para
vado dos conflitos e das tensões que existem na sociedade, mas com         nosotros em el mundo del poder.




                                                                                                                  Movimentos Sociais
isso também tornando-o relativamente inócuo como promotor de               Por luchar nos matarán, pero así
                                                                           nos haremos um mundo donde
mudanças e como força inovadora. Para tanto, a título de conclusão,        nos quepamos todos y todos nos
cabe registrar algumas implicações para a própria pedagogia.               vivamos sin muerte en la palabra.”
                                                                           (Quarta Declaración de la Selva
      A primeira é a de repensar hoje os espaços pedagógicos, es-          Lacandona. In: Caparó, 2001, p.
                                                                           314)
pecialmente retomando a pergunta sobre quem forma o educador
e onde ele é formado. Os movimentos sociais – por serem o que são
- não ocupam o centro da sociedade ou determinam as relações de
produção e de poder. Eles se constituem nas margens e, por ocupa-
rem este lugar, eles representam forças questionadoras. A educação
voltada para os parâmetros da eficiência dificilmente reconhece que
exatamente ali possam estar competências sem as quais a sociedade
morre por asfixia.
      Uma segunda questão, de cunho epistemológico, diz respeito
à superação da noção estática de conhecimento como produto a ser
transmitido. Esta é uma velha luta pedagógica, mas está longe de ser
vencida. Quem sabe a dificuldade seja até maior hoje, porque as no-
vas tecnologias educacionais passam a falsa noção de que o simples
fato de buscar o conhecimento através da internet já significa estar
envolvido no processo de criação. Os movimentos sociais ensinam
que o conhecimento produtivo do ponto de vista social e humano
tem como referência a experiência do sujeito. O pensar certo, confor-
me uma lição de Freire (1997, p. 42), começa com o pensar a própria
prática.
      Por fim, os movimentos sociais realçam a necessidade de ali-
mentar e reelaborar as utopias. O ideal zapatista do mundo como um
lugar onde caibam todos é uma bela metáfora para uma sociedade
que vive a unidade na diversidade:

                  Por trabalhar nos matam, por viver nos matam. Não há
           lugar para nós na sociedade. Por lutar nos matarão, mas assim
           faremos para nós um mundo onde caibamos todos e todos
           possamos viver sem morte na palavra. (Quarta Declaración de
           la Selva Lacandona. In: Caparó, 2001, p. 314) 10




Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                     25
Referências (Leituras complementares)

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Capítulo: Movimentos Sociais                                            27
Atividades
                                                             Orientar a segunda leitura do texto a partir de questões suge-
                                                      ridas pelos organizadores para aprofundamento de reflexões, abaixo
                                                      apresentadas:

                                                            Atividade I: Localizando movimentos sociais
Movimentos Sociais




                                                            1. Que movimentos sociais você conhece, em seu município, re-
                                                      gião, ou distrito e o que você sabe /conhece sobre os seus objetivos,
                     Recomendações: Fazer registros
                                                      propósitos (o que eles querem)?
                     escritos de cada atividade             2. Relate sobre alguma das atividades/ações por eles realizadas.
                                                            3. Em sua experiência de ensino, que ações/temas construídos
                                                      pelo movimento social tiveram, ou têm, implicações na sua prática
                                                      educativa.

                                                            Atividade II: Analisando as contribuições dos movimentos
                                                      sociais para a construção da prática pedagógica escolar
                                                            1. Liste os itens comentados no artigo como sendo as “contri-
                                                      buições dos movimentos sociais enquanto também um movimento
                                                      pedagógico para a sociedade”: Sublinhe (no texto) as idéias que você
                                                      considera importante serem discutidas, em cada um dos itens.
                                                            2. À luz dos itens listados na questão acima, analise, critique e
                                                      avalie sua atividade pedagógica na sala de aula, levando em conside-
                                                      ração a sua experiência profissional e de vida.

                                                            Atividade III: Refletindo sobre limites e possibilidades das
                                                      contribuições do autor para a construção conceitual da educa-
                                                      ção
                                                            1. Após ler as conclusões do texto, analise e critique as noções
                                                      de conhecimento, explicitadas pelo autor.
                                                            2. Reconhece nessas práticas dos movimentos sociais alguma
                                                      contribuição possível de nos questionar, nos fazer revisar e mesmo,
                                                      reconstruir nossos conceitos sobre educação?




              28                                                                              Capítulo: Movimentos Sociais
Texto II – Professor Geovanni Semeraro

     Objetivo: Discutir “libertação” e “hegemonia” como conceitos
complementares nas lutas coletivas pela terra e por uma educação
do campo diferenciada e de qualidade.




                                                                                                                 Movimentos Sociais
      A construção coletiva de projeto diferenciado de educação do
campo remete-nos à história do pensamento, para compreender o
que é “libertação” e o que é “hegemonia”.
      Na década de 1970, Paulo Freire lançou o livro Pedagogia do
Oprimido que traz importantes contribuições para compreender e
discutir lutas coletivas dos oprimidos pela de uma sociedade eman-
cipada.
      Antonio Gramsci, por sua vez, é intelectual que contribui para
aprofundar análise sobre hegemonia, na correlação de forças na so-
ciedade de classes.
      Como debates sobre libertação e hegemonia podem contribuir
para discutir a construção de processos de participação das popula-
ções excluídas, superando estruturas de exploração de classes e de
distribuição desigual de riquezas materiais e bens culturais?
      O professor Geovane Semeraro da Universidade Federal Flumi-
nense aprofunda análises nesse sentido, partindo de questões con-
cretas de nosso tempo. Por isso estamos lançando o desafio para ini-
ciarmos discussões sobre esta problemática, a partir de um de seus
artigos: “Da libertação à hegemonia: Freire e Gramsci no processo de
democratização do Brasil”.

                 Leia a introdução do artigo, buscando estabelecer di-
           álogo com o autor a partir de algumas questões iniciais. Em
           seguida, acesse o artigo na íntegra na plataforma Moodle e/ou
           CD Rom, para aprofundamento das análises propostas pelas
           questões aqui apresentadas. Como o autor discute “libertação”
           e “hegemonia”?

     Vamos à leitura do texto!

                                                                           Ler atentamente os textos do livro e do
                                                                           CD- Rom




Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                  29
DA LIBERTAÇÃO À HEGEMONIA: FREIRE E GRAMSCI NO
                     PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL

                          Giovanni SEMERAROUFF

                          RESUMO
Movimentos Sociais




                           As lutas populares que se desencadearam no Brasil desde os
                     anos 1960 até hoje podem ser caracterizadas por dois grandes para-
                     digmas: “libertação” e “hegemonia”. A “libertação” foi a tônica predo-
                     minante nos anos 1960 e 1970. A “hegemonia” tem sido a palavra de
                     ordem ao longo dos anos 1980 e 1990. A primeira, representada par-
                     ticularmente por Paulo Freire, e a segunda, tendo em Antonio Gra-
                     msci sua referência maior, foram se entrelaçando e tornaram-se inse-
                     paráveis no desenho de um projeto alternativo de sociedade. Neste
                     artigo, apresenta-se uma análise crítica de seus significados em de-
                     corrência dos dez anos da morte de Paulo Freire e dos 70 da morte
                     de Gramsci. O texto que segue, além de percorrer os significados, as
                     diferenças e o entrelaçamento de “libertação” e “hegemonia” em seu
                     contexto histórico e social, apresenta uma reinterpretação dos dois
                     paradigmas ante as mudanças políticas e culturais atualmente em
                     curso no Brasil e na América Latina.

                          Palavras-chave: hegemonia; libertação; política.




              30                                            Capítulo: Movimentos Sociais
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Capítulo: Movimentos Sociais                                                             31
Atividades:
                                                            Para aprofundamento do estudo do texto, realize as seguintes
                                                      atividades sugeridas pelos organizadores.

                                                             Atividade I: Analisando conceitos
                                                             Leia inicialmente a introdução do artigo, buscando estabelecer
                                                      diálogo com o autor a partir de algumas questões iniciais. Em segui-
Movimentos Sociais




                                                      da, acesse o artigo na íntegra na plataforma moodle e/ou CD Rom,
                     Recomendações: Fazer registros
                                                      para aprofundamento das análises propostas pelas questões aqui
                     escritos de cada atividade       apresentadas.
                                                             1. Como o autor discute “libertação” e “hegemonia”?
                                                             Atividade II: Ressignificando a Educação do Campo
                                                             A partir dos anos 1990, no entanto, intensas mudanças na polí-
                                                      tica, na economia e na cultura vêm provocando uma ressignificação
                                                      dos paradigmas de “libertação” e “hegemonia”, sinalizando um novo
                                                      ciclo da história das lutas populares. Nas páginas que se seguem,
                                                      queremos mostrar como Paulo Freire (1921-1997) e Antonio Gramsci
                                                      (1891-1937) aparecem juntos não apenas nas datas comemorativas
                                                      de nascimento e morte, mas continuam associados na inspiração das
                                                      atuais lutas dos “oprimidos” e dos “subalternos” do Brasil e do mun-
                                                      do. A leitura do texto nos leva compreender o sentido das palavras
                                                      “libertação” e “hegemonia” e sua utilização ao longo das ultimas dé-
                                                      cadas da História do Brasil. Seu entendimento nos conduz a reflexões
                                                      sobre as incoerências estruturais; as profundas raízes da dominação;
                                                      a geração de forças organizativas; e as articulações políticas junto aos
                                                      movimentos sociais.
                                                             Responda:
                                                             1. Que argumentos você empregaria para apoiar a idéia de que
                                                      uma Educação do Campo envolvida com sua realidade de inserção
                                                      promoveria um projeto alternativo de sociedade?
                                                             2. Tendo como espaço de análise sua a prática educacional su-
                                                      gira ações para famílias camponesas da área de inserção da escola
                                                      em que você atua. Ações que: a) proporcione melhoria na qualidade
                                                      de vida; b) fortaleça politicamente suas formas de organização so-
                                                      cial; c) encoraje práticas de produção que respeite suas diversidades
                                                      e lógicas produtivas e; d) resgate e valoriza suas formas de manifes-
                                                      tações culturais e lingüísticas.




              32                                                                              Capítulo: Movimentos Sociais
Texto III - Professor Damián Sánchez Sánchez

     Objetivo: Avaliar lutas de povos indígenas pelo direito à terra,
com valorização de suas culturas, identidades e saberes.

      Realize uma leitura inicial do texto, fazendo anotações para ela-
boração de uma síntese, que será discutida no subgrupo de estudo.




                                                                                                                     Movimentos Sociais
Em seguida retome o artigo, buscando dados para resolver as ques-
tões propostas. Não deixe de registrar suas reflexões, com vistas ao
compartilhamento das mesmas no seu subgrupo e no encontro da
turma de que você faz parte no Polo da UAB. Aprofunde suas inves-
tigações navegando nos sites sugeridos pelo autor, no final do texto.


MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO - LUTAS DOS PO-
VOS INDÍGENAS

     Damián Sánchez Sánchez 11

       Nesses mais de 500 anos de existência de uma sociedade fun-
dada na invasão e no extermínio dos povos indígenas, construída na        Leia atentamente os textos do livro e do
escravidão e na exploração dos negros e dos setores populares, as         CD- Rom.
revoltas, insurreições, movimentos políticos e sociais emergem como       Registre as atividades de forma escrita, oral
formas de resistência dos povos que aqui viviam há mais de 40 mil         e fílmica.
anos. Há estimativas de que, em 1500, existiriam cerca de 6 milhões
12
   de nativos no País. Hoje, estima-se a população indígena em pouco      11 Aluno do curso de doutorado
                                                                          do Programa de Pós-Graduação
mais de 350 mil, não chegando a 0,20% da população brasileira. Eles       em Educação do Ceentro de Edu-
estão espalhados em quase todo o País, encontrando-se, principal-         cação da Universidade Federal do
                                                                          Espírito Santo. Ex-coordenador da
mente, nas regiões Norte e Centro-Oeste. O maior local de concen-         Comissão Pastoral da Terra - CPT
tração é a Amazônia legal. 13 Atualmente, sobrevivem cerca de 241         da Regional do Espírito Santo e Rio
                                                                          de Janeiro. Foi membro da Articu-
povos indígenas identificados . 14                                        lação Nacional “Por uma Educação
       Os índios foram escravizados pelos portugueses assim que es-       Básica do Campo” e coordenador
                                                                          da grande região Minas Gerais, Es-
tes chegaram e se apropriaram do País. A partir de 1595, fica proibi-     pírito /santo e Rio de Janeiro. Foi
do o aprisionamento dos índios, porém isso só acontece no papel.          membro da comissão organizado-
                                                                          ra da I Conferência Nacional “Por
O fato é que a escravização, a aculturação e o extermínio deliberado      uma Educação Básica do Campo”.
continuaram ocorrendo, fazendo com que vários grupos indígenas            Participou do I ENERA - Encontyro
                                                                          Nacional de Educadores e Educa-
desaparecessem ou ficassem restritos a um número reduzido de              doras da Reforma Agrária.
membros.
                                                                          12 Fonte: Conselho Indigenista
                                                                          Missionário (CIMI).

                                                                          13 Área geográfica criada pelo Go-
                                                                          verno em 1966, compreendendo
                                                                          os Estados de Maranhão, Pará, To-
                                                                          cantins, Amapá, Amazonas, Acre,
                                                                          Roraima, Rondônia e Mato Grosso,
                                                                          abrangendo uma área total de
                                                                          4.900.000km2 (60% do território
                                                                          nacional).

                                                                          14 Para maiores informações
                                                                          remetemos o leitor à página
                                                                          do Conselho Indigenista Misi-
                                                                          sionário: <http://www.cimi.org.
                                                                          br/?system=news&eid=292




Capítulo: Movimentos Sociais                                                                                     33
Referências (Leituras complementares)


                     BASTOS, Elide Rugai. As Ligas Camponesas. Petrópolis: Vozes, 1984.

                     COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. CPT: pastoral e compromisso. Pe-
                     trópolis: Vozes, 1983
Movimentos Sociais




                     FREI BETO. Para uma melhor distribuição da terra: o desafio da refor-
                     ma agrária - versão popular. São Paulo: Loyola, 1998

                     GÖRGEN, Frei Sérgio Antônio. A resistência dos pequenos gigantes:
                     a luta e a organização dos pequenos agricultores. Petrópolis: Vozes,
                     1998

                     STÉDILE, João Pedro. Situação perspectiva da agricultura brasileira:
                     texto para o manual de monitor do conselho popular. Brasília, 1998.
                     Mimeografado.

                     MEINCKE, Sílvio. Luta pela terra e reino de Deus. São Leopoldo-RS:
                     Sinodal, 1987.



                           Sugestões de sites e endereços eletrônicos:
                     Comissão Pastoral da Terra - http://www.cptnac.com.br/

                     Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - http://www.mst.
                     org.br/



                           Sugestões de Filmes:
                           Sarandi
                            Direção: Carlos Carmo * Duração: 26 min * 2007 * Apoio: NEAD
                            No dia 7 de setembro de 1979, um grupo de mais de 100 famílias de agri-
                     cultores marcou a história da luta pela terra no Brasil. Expulsas de uma reserva in-
                     dígena em Nonoaí (RS), essas famílias reúnem-se e organizam a primeira ocupação
                     de terra bem sucedida após a implantação da ditadura militar, em 1964. Os agri-
                     cultores familiares ocupam as granjas Macali e Brilhante, duas fatias de um grande
                     latifúndio chamado Fazenda Sarandi, no Norte gaúcho. Na ocasião, as expectativas
                     dos sem-terra foram documentadas, em Super 8, no filme “Fazenda Sarandi”. Esse
                     registro raro é um dos materiais históricos usados no documentário “Sarandi”, que
                     traça, por meio de depoimentos e memórias, um panorama da região ao longo
                     desses 27 anos.

                           Memórias Clandestinas
                            Direção: Maria Thereza Azevedo * Duração: 52 min * 2007 * Apoio: NEAD e
                     PPIGRE
                            O filme narra parte da história de vida de Alexina Crespo, primeira mulher
                     de Francisco Julião – ex-deputado estadual e advogado pernambucano, liderança
                     das Ligas Camponesas, – e sua atuação na organização e ampliação das Ligas. A
                     obra traz depoimentos de Alexina e seus quatro filhos - Anatailde, Anatilde, Ana-



              34                                                    Capítulo: Movimentos Sociais
tólio e Anacleto, além da participação de pesquisadores e moradores do engenho
Galiléia. Os entrevistados abordam a organização do movimento, o golpe militar, a
guerrilha e o exílio de Alexina em Cuba, em importantes episódios que ficaram no
silêncio e na clandestinidade.

       Expedito: Em Busca de Outros Nortes
       Direção: Beto Novaes e Aida Marques * Duração: 80 min * 2006 * Apoio:




                                                                                      Movimentos Sociais
NEAD
        Em busca de dinheiro, poder, ou simplesmente do tão sonhado pedaço de
terra, lavradores, madeireiros, pistoleiros, pequenos comerciantes e garimpeiros
empreenderam uma migração maciça para a Amazônia durante a década de 1970.
Expedito Ribeiro de Souza, trabalhador rural de Minas Gerais, resolve entrar nessa
aventura com a família. Ele parte para o Sudeste do Pará guiado pela notícia da
reforma agrária nas redondezas, ouvida no rádio. A saga de Expedito e seu enga-
jamento na luta social e política na região do Araguaia, que o levaram a enfrentar
ameaças de morte arquitetadas pelos fazendeiros locais, constituem o enredo do
filme.

       Zé Pureza
        Direção: Marcelo Ernandez * Duração: 97 min * 2006 * Apoio: NEAD
        O filme acompanha um grupo de pessoas na trajetória do acampamento
até o assentamento, que leva o nome “Zé Pureza” em homenagem ao mais impor-
tante líder camponês do Rio de Janeiro do período pré-64. São mostradas as reu-
niões de mobilização, ocupações, os despejos, as manifestações públicas e dramas
sociais dessas famílias nos diversos locais onde estiveram acampadas.

       Quadra Fechada
       Direção: Beto Novaes * Duração: 27 min * 2006 * Apoio: NEAD
       Roubos nas medições da jornada de trabalho, na pesagem e no preço da
cana colhida têm motivado freqüentes conflitos na zona canavieira. Para superar
essas distorções, o Sindicato dos Empregados Rurais de Cosmópolis e região ne-
gociaram o sistema Quadra Fechada, em que o sindicato controla a metragem cor-
tada por meio de mapas de campo e o peso através de um computador colocado
na balança da usina. O vídeo apresenta esse sistema e também os desafios enfren-
tados pelos trabalhadores rurais com a intensificação cada vez maior do ritmo de
trabalho.




       Para saber mais - A CARTA DA TERRA


      Se depender do esforço da sociedade civil organizada, as futu-
ras gerações poderão viver em um mundo melhor. Mais de 100 mil
pessoas se mobilizaram em prol da Carta da Terra, aprovada na Fran-
ça. O documento é fruto da discussão de 46 Países, incluindo o Brasil.
      Com a mesma representatividade internacional da Declaração
dos Direitos Humanos, a Carta propõe aos Países envolvidos “formar
uma aliança global” em respeito à terra e à vida. Para conhecer o con-
teúdo da carta entre no seguinte endereço: www.mma.gov.br/estru-
turas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc




Capítulo: Movimentos Sociais                                                         35
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  • 1. Organizadores: Erineu Foerste Gerda Margit Schütz-Foerste Rogério Caliari INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO Povos Territórios Movimentos Sociais Saberes da Terra Sustentabilidade Ministério da Educação Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo Programa de Pós-Graduação em EducaçãoUFES
  • 2.
  • 3. INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO Povos Territórios Movimentos Sociais Saberes da Terra Sustentabilidade Organizadores: Erineu Foerste Gerda Margit Schütz-Foerste Rogério Caliari Colaboradores: Ademar Bogo Bernardo Mançano Fernandes Carlos Rodrigues Brandão Danilo Romeu Streck Damián Sánchez Sánchez Derly Casali Edmerson dos Santos Reis Eliesér Toretta Zen Flávio Moreira Giovanni Semeraro Janinha Gerke de Jesus Josimara Pezzin Maria das Graças F. Lobino Maurice Barcellos da Costa Pedro Jacobi Roseli Salete Caldart Sônia A. B. Beltrame VitóriaES - 2009
  • 4. Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade André Lázaro Educação do Campo da SECADMEC Coordenador Geral Wanessa Zavarese Sechim Universidade Aberta do Brasil Coordenador Geral Celso Costa Universidade Federal do Espírito Santo Reitor Rubens Sérgio Rasseli Coordenação da UAB / UFES Maria José Campos Rodrigues Centro de EducaçãoUFES Diretora Maria Aparecida Santos Correia Barreto Programa de Pós-Graduação em EducaçãoUFES Coordenadora Denise Meyrelles de Jesus
  • 5. © 2009. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECADMEC) Universidades parceiras Universidade Federal de Alagoas – UFAL Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Universidade de Montes Claros - UNIMONTES Universidade Estadual do Maranhão – UEMA Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Universidade Federal do Paraná – UFPR Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Coordenação Editorial – SECAD/MEC Maria Adelaide Santana Chamusca Conselho Editorial de Educação do Campo – SECAD/MEC Cezar Nonato Bezerra Candeias - UFAL Edmílson Cezar Paglia – UFPR Erineu Foerste – UFES Icléia A. de Vargas – UFMS Equipe de Apoio – SECAD/MEC Divina Lúcia Bastos Eliete Ávila Wolff Equipe de Apoio – UFES Adriana Vieira Guedes Hartwig Andressa Dias Koehler Arlete Maria Pinheiro Schubert Charles Moreto Cláudio David Cari Janinha Gerke de Jesus Jorcy F. Jacob Josimara Pezzin Maria Peres Marli da Penha Vieira Gomes dos Santos Ozirlei Teresa Marcilino Rachel Curto Machado Moreira Revisão Elida Maria Fiorot Costalonga Projeto gráfico e Diagramação Leandro Macêdo Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) E24 Introdução à Educação do Campo : povos, territórios, saberes da terra, movimentos sociais, sustentabilidade / or- ganizadores, Gerda Margit Schütz-Foerste, Erineu Foerste, Rogério Caliari ; colaboradores, Ademar Bogo ... [et al.]. - Vitória, ES : UFES, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2009. 154 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-60050-18-5 1. Educação rural. 2. Movimentos sociais. I. Schütz-Foerste, Gerda Margit. II. Foerste, Erineu. III. Caliari, Rogério. CDU: 37.018.51 Os autores são responsáveis pelas opiniões expressas nos respectivos textos, que não são necessariamente as do Ministério da Educação.
  • 6.
  • 7. SUMÁRIO MOVIMENTOS SOCIAIS Texto I – Professor Danilo Romeu Streck .................................................................................................................................................... 15 PRÁTICAS EDUCATIVAS E MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA: APRENDER NAS FRONTEIRAS Texto II – Professor Geovanni Semeraro....................................................................................................................................................... 29 DA LIBERTAÇÃO À HEGEMONIA: FREIRE E GRAMSCI NO PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL Texto III - Professor Damián Sánchez Sánchez ........................................................................................................................................... 33 MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO - LUTAS DOS POVOS INDÍGENAS Texto IV – Professor Erineu Foerste e Professora Josimara Pezzin ...................................................................................................... 37 O CAMPESINATO MORREU? Texto V – Professor Bernardo Mançano Fernandes.................................................................................................................................. 43 TEORIA E POLÍTICA AGRÁRIA: SUBSÍDIOS PARA PENSAR A EDUCAÇÃO DO CAMPO EDUCAÇÃO DO CAMPO Texto I – Professor Bernardo Mançano Fernandes ................................................................................................................................... 49 EDUCAÇÃO DO CAMPO E TERRITÓRIO Texto II - Professor Derli Casali ......................................................................................................................................................................... 71 O CAMPO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Texto III – Professor Flávio Moreira ................................................................................................................................................................. 73 AS IMAGENS SOCIAIS PRODUZIDAS A RESPEITO DA “ROÇA” Texto IV – Professor Erineu Foerste e Professora Janinha Gerke de Jesus ....................................................................................... 75 ESCOLAS FAMÍLIAS AGRÍCOLAS: UM PROJETO DE EDUCAÇÃO ESPECÍFICO DO CAMPO Texto V – Professor Rogério Caliari ................................................................................................................................................................. 77 CONTEXTOS CAMPESINOS: QUAL EDUCAÇÃO? Texto VI – Professor Erineu Foerste e Professora Gerda Margit Schütz-Foerste ............................................................................. 83 EDUCAÇÃO DO CAMPO: QUEM ASSUME ESTA TAREFA? Texto VII – Professor Erineu Foerste e Professora Janinha Gerke de Jesus ...................................................................................... 87 EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL: UMA APROXIMAÇÃO Texto VIII – Professora Sônia Beltrame .......................................................................................................................................................... 91 CENÁRIOS DA ESCOLA DO CAMPO Texto IX – Professora Roseli Salete Caldart.................................................................................................................................................. 95 SOBRE EDUCAÇÃO DO CAMPO Texto X – Professores Erineu Foerse e Eliesér Toretta Zen .................................................................................................................... 99 DISCUSSÕES SOBRE PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Texto XI – Professores Erineu Forste, Gerda Margit Schütz-Foerste e Lírio Drescher ................................................................... 103 PARCERIA ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA BÁSICA: QUESTÕES SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO
  • 8. EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE Texto I – Professor Carlos Rodrigues Brandão............................................................................................................................................ 109 CONVIVER, APRENDER A SER RECÍPROCO Texto II – Professor Ademar Bogo................................................................................................................................................................... 133 A EDUCAÇÃO E A DISPUTA DE PROJETOS EM NOSSA AGRICULTURA Texto III - Professor Edmerson Santos dos Reis.......................................................................................................................................... 135 ENTRELAÇANDO SABERES PARA A CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL Texto IV – Professor Pedro Jacobi ................................................................................................................................................................... 139 EDUCAR PARA A SUSTENTABILIDADE: COMPLEXIDADE, REFLEXIVIDADE, DESAFIOS Texto V – Professor Pedro Jacobi .................................................................................................................................................................... 141 MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO E CIDADANIA: DESAFIOS DA MUDANÇA Texto VI – Professores Alexandre de Gusmão Pedrini e Maria Inês Meira Santos Brito............................................................... 143 EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTOOU SOCIEDADE SUSTENTÁVEL? UMA BREVE REFLEXÃO PARA A AMÉRICA LATINA Texto VII – Professor Maurice Barcellos da Costa ...................................................................................................................................... 147 QUESTÕES AMBIENTAIS E EDUCAÇÃO Texto VIII - Professora Maria das Graças F. Lobino ................................................................................................................................... 151 DIMENSÕES INTER/TRANSDISCIPLINARES NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR(A)
  • 9. APRESENTAÇÃO DO CURSO Queremos dar boas vindas a todos vocês! O Curso de Especialização Lato Sensu em Educação do Campo é uma conquista co- letiva dos profissionais da educação. Há muito tempo vínhamos lutando para que isso se tornasse realidade. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação do Ministério da Educação – SECADMEC vem favorecendo parcerias no desenvolvimento de trabalhos na formação continuada de professores do campo, resga- tando assim uma dívida histórica de nosso país com aqueles que vivem no campo. Os profissionais do ensino que atuam na educação do campo produziram e acumu- laram conhecimentos a partir de práticas educativas em contextos campesinos e desenvol- veram ferramentas para garantir educação aos trabalhadores do campo. Isso tem sido feito com reflexões e esforço para produção de saberes da experiência, que precisam ser sistema- tizados através de pesquisas em colaboração com pesquisadores da academia, bem como socializados de forma mais efetiva. A parceria entre Universidade, Escola Básica diferentes órgãos públicos (Secretaria Es- tadual de Educação, Secretarias Municipais de Educação) e setores organizados da socie- dade civil (Movimentos Sociais, Entidades, Sindicatos, Associações etc.) abre possibilidades concretas de trocas de saberes (acadêmicos e práticos), fortalecendo identidades profissio- nais dos docentes e a autonomia daqueles que se dedicam ao magistério. Precisamos unir esforços para construir em diferentes contextos campesinos a escola que os trabalhadores do campo querem, levando em consideração povos tradicionais (indí- genas, quilombolas, pomeranos, trabalhadores sem-terra, ribeirinhos, pescadores etc.), terri- tórios e saberes da terra. O projeto político e pedagógico da educação do campo não é uma obra que se pode dar por terminada num determinado tempo. Deve ser permanentemente problematizada e construída a partir das necessidades dos sujeitos do campo, fortalecendo lutas contra o latifúndio e agronegócio.
  • 10.
  • 11. APRESENTAÇÃO DAS TEMÁTICAS I E II DO EIXO ESPECÍFICO II INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO DO CAMPO O Eixo Específico - Introdução à Educação do Campo do Curso de Especialização Lato Sensu em Educação do Campo: Interculturlidade e Campesinato em Processos Educa- tivos, na modalidade aberta e a distância articula discussões sobre os cinco Eixos Temáticos, a saber: Povos Territórios Movimentos Sociais Saberes da Terra Sustentabilidade Para o desenvolvimento dos trabalhos propostos, produzimos este Caderno Impresso e CD – Rom (em anexo), organizados em três capítulos que abordam os cinco Eixos Temáti- cos do curso. O propósito foi manter os Eixos Temáticos como articuladores. A partir disso, possibilitam-se condições concretas para a indissociabilidade do Eixo Específico: Intro- dução à Educação do Campo, onde são desenvolvidos os capítulos: Movimentos Sociais, Educação do Campo e Educação e Sustentabilidade, a partir dos textos selecionados e os demais Eixos Específicos que constituem o currículo do Curso. O material digital apresenta os textos integrais, da forma como foram disponibilizados pelos respectivos autores de dife- rentes contextos do cenário nacional. O CD – Rom contém os roteiros para aprofundamento do estudo dos textos, propostos pelos autores e/ou organizadores. O Caderno Impresso apresenta para cada Eixo Temático um texto integral com as questões para aprofundamento das reflexões individuais e nos grupos. Além disso, selecionamos fragmentos de alguns artigos, seguidos de sugestões de tí- tulos para leituras complementares. São igualmente apresentadas questões eou roteiros para aprofundamento das leituras a partir de pesquisas bibliográficas eou de campo. No Capítulo – Movimentos Sociais estão apresentados textos que discutem questões sobre as lutas dos oprimidos por mais dignidade. Isso significa dizer que os trabalhadores campesinos organizam-se coletivamente e fortalecem movimentos de resistência e de liber- tação dos povos historicamente marginalizados no projeto de desenvolvimento econômico das elites, que tem fortalecido o latifúndio e agronegócio no contexto brasileiro e na Améri- ca Latina, em detrimento da agroecologia e sustentabilidade. No Capítulo - Educação do Campo encontram-se textos para aprofundamento de reflexões a respeito do tipo de educação que os povos tradicionais do campo vêm cons- truindo em suas lutas históricas pela valorização das culturas, seus saberes e identidades campesinas. Para os povos campesinos há que se mostrar as contradições da sociedade de classes, que produz e reforça imagens muito negativas do campo e sujeitos que nele produzem seu sustento. Observa-se que os movimentos sociais articulam saberes que remetem as práticas educativas ao modo de produzir existência e sua noção de territorialidade, através do culti- vo da terra, na perspectiva da agricultura familiar sustentável. Não se trata de negar o conhe- cimento sistematizado a estes sujeitos, mas sim de cotejá-los a prática daqueles que vivem nas comunidades indígenas, nas comunidades quilombolas, nas comunidades pomeranas, nos assentamentos de reforma agrária etc.
  • 12. Finalmente, no Capítulo – Educação e Sustentabilidade os artigos disponibilizados problematizam a relação predatória do ser humano com a Terra, criticando o projeto de desenvolvimento proposto pela racionalidade capitalista. Os autores colocam-se num movimento pela formação de uma consciência humana, no sentido proposto por Paulo Freire, buscando contribuir no debate pela relação responsável da espécie humana com a Natureza. A educação é compreendida, nesse contexto, como possibilidade concreta para construção coletiva de outro projeto de produção da existência humana a partir do cultivo da Terra. Nesse sentido as culturas e identidades dos povos do campo e os saberes da terra remete-nos ao projeto de sustentabilidade agrícola, sobretudo quando se trata de agricul- tura familiar como contraponto ao latifúndio e ao agronegócio. Cada Capítulo apresenta textos na íntegra e parte de outros, sempre remetendo o lei- tor ao conjunto de textos integrais disponiblizados no CD - Rom e/ou na plataforma Moodle. Os artigos estão seguidos de propostas de trabalho, para aprofundamento das reflexões. Parte do pressuposto que a prática da leitura requer rigor do pesquisador na busca do co- nhecimento novo, que favoreça a problematização da prática e registros de saberes produ- zidos a partir das experiências. Cabe ressaltar que este Eixo Específico não se esgota em si mesmo. Ele deve ser pro- blematizado no processo de aprofundamento de estudos a partir de outras fontes bibliográ- ficas inclusive. O presente Eixo Específico, portanto, deve ser tomado como produto de de- terminado tempo, produzido por sujeitos concretos, e como tal, é marcado por contradição. Tomando o princípio do movimento e da precariedade das ações humanas, compreende-se que está em permanente construção, para superação de lacunas e fragilidades que carrega. Bom estudo! Os organizadores, maio de 2009.
  • 13. CAPÍTULO MOVIMENTOS SOCIAIS Recomendações Realize uma leitura inicial dos textos, fazendo anotações para elaboração de uma síntese, que será discutida no grupo de estudo. Em seguida retome os artigos, buscando dados para resolver as ati- vidades propostas. Não deixe de registrar suas reflexões, com vistas ao compartilhamento das mesmas no seu grupo e no encontro da turma de que você faz parte no Polo da UAB.
  • 14. Movimentos Sociais 14 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 15. Texto I – Professor Danilo Romeu Streck Objetivo: Discutir aspectos sobre Movimentos Sociais na Amé- rica Latina e educação em contextos de fronteira. Realize uma leitura inicial do texto, fazendo anotações para ela- boração de uma síntese, que será discutida no grupo de estudo . Em Movimentos Sociais seguida retome o artigo, buscando dados para resolver as questões propostas. Não deixe de registrar suas reflexões, com vistas ao com- partilhamento das mesmas no seu grupo e no encontro da turma de que você faz parte no Polo da UAB. Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar ativi- PRÁTICAS EDUCATIVAS E MOVIMENTOS SOCIAIS NA dades propostas. Este grupo pre- para discussões para os encontros AMÉRICA LATINA: APRENDER NAS FRONTEIRAS coletivos. Danilo R. Streck/UNISINOS 1 Não morrerá a flor da palavra. Poderá morrer o rosto es- condido de quem a pronuncia hoje, mas a palavra que brota do fundo da história e da terra já não poderá ser arrancada pela soberba do poder. Nós nascemos da noite. Nela vivemos. 1 Professor do Programa de Pós- Morrermos nela. Mas a luz será manhã para os demais, para to- Graduação em Educação da Uni- dos os que hoje choram a noite, para quem se nega o dia, para versidade do Vale do Rio dos Sinos quem a morte é um presente, para quem a vida está proibida. – UNISINOS, São Leopoldo – RS Correio eletrônico: Para todos, tudo. Para nós a dor e a angústia, para nós a alegre dstreck@unisinos.br rebeldia, para nós o futuro negado, para nós a dignidade insur- reta. (Quarta Declaración de la Sielva Lacandona) 2 2 No morirá la flor de la palabra. Podrá morir el rostro oculto de quien la nombra hoy, pero la pala- bra que vino desde el fondo de la historia y de la tierra ya no podrá ser arrancada por la soberba del Resumo: poder. Nosotros nacimos de la no- che. Em ella vivimos. Moriremos O artigo analisa a relação entre práticas educativas e movimen- em ella. Pero la luz será mañana tos sociais populares na América Latina, destacando tanto aprendiza- para los más, para todos aquellos que hoy lloran la noche, para quie- gens que os mesmos proporcionam para os seus integrantes quanto nes se niega el día, para quienes aprendizagens que possibilitam para a sociedade. Dentre os aspec- es regalo la muerte, para quienes está prohibida la vida. Para todos tos abordados encontram-se os seguintes: o redimensionamento la luz. Para todos todo. Para no- do popular, o enraizamento, a ruptura e a insurgênia como parte da sotros el dolor y la angustia, para nosotros la alegre rebeldía, para pedagogia dos movimentos sociais, a participação como uma princí- nosotros el futuro negado, para pio metodológico, uma nova compreensão de sujeito, a produção de nosotros la dignidad insurrecta. Para nosotros nada. (Quarta De- saberes específicos da área de atuação dos movimentos sociais e um claración de la Sielva Lacandona). redimensionamento do local e do global. Como conclusão, procura- In G. Caparó, Ansias del alba: tex- tos zapatista, 2001, p. 312. se sinalizar o que significa, hoje, a inserção crítica da educação nos movimentos da sociedade. Palavras-chave: Movimentos sociais – práticas educativas - América Latina Capítulo: Movimentos Sociais 15
  • 16. 3 O texto serviu de base para a conferência sobre o tema Práticas Aproximações ao tema educativas e movimentos sociais no seminário “Fronteiras étnico- culturais e fronteiras da exclusão” Neste tema cabem muitas perguntas, motivo pelo qual a pri- promovido pela Universidade meira tarefa consiste em definir as questões que estarão postas para Católica Dom Bosco, de Campo Grande, MS, de 21 a 24 de setem- análise neste artigo. Situo o tema no contexto das discussões sobre bro de 2006. as mediações pedagógicas nos processos sociais 3 , entendendo que os movimentos sociais se constituem hoje em espaços privilegiados Movimentos Sociais para alavancar o desenvolvimento de uma cidadania ativa e compro- metida com a superações da realidade e das condições de exclusão social. A pergunta poderia ser colocada da seguinte forma: De que maneira os movimentos sociais populares na América Latina se cons- tituem como mediações pedagógicas para gerar uma sociedade que tenha lugar para todos? O que se pode aprender neles, com eles de- les? Algumas advertências iniciais são necessárias. A primeira delas diz respeito a tomar a América Latina como referência. Muito já se escreveu e discutiu sobre a identidade latino-americana. Este próprio fato parece ser sintomático de uma experiência sentida e vivida nes- ta parte do mundo e que se expressa no sentimento de que vivemos num tempo e numa realidade que não são nossos. Quem sabe a pró- pria idéia de busca do que se é como conjunto de povos e nações, com traços comuns de formação histórica, possa ser uma base da identificação como América Latina. Foge-se assim tanto de identida- des fixas, não raro de caráter folclórico, e também de um vazio que apenas exacerba o espírito de orfandade. Uma segunda advertência tem a ver com o risco de idealização de movimentos sociais e do popular como entidades quase sagra- das, portadoras da verdade e acima de críticas. Aprendemos a ver que a ética não é um atributo fixo de determinadas pesssoas e tam- bém não está colada a determinados grupos sociais. Essa visão ide- alizadora se opõe a outra, no campo ideológico oposto, que procura demonizar os movimentos sociais, especialmente os populares, des- qualificando-os como promotores de desordem. Se neste trabalho os movimentos sociais são vistos, sobretudo pelo seu lado positivo é por causa do pressuposto de que, mesmo não isentos de falhas e acima de críticas, eles trazem importantes contribuições para o de- senvolvimento da sociedade. A partir da pergunta acima anunciada, elaboro a abordagem enfocando os seguintes itens: a) um olhar sobre a compreensão de movimentos sociais e o seu papel na América Latina; b) uma refle- xão sobre o seu potencial pedagógico, verificando tanto a educação dentro do movimento quanto a sua função educadora na sociedade enquanto movimento que dela faz parte; c) por fim, a título de con- clusão, retomo o significado do movimento social para a superação da exclusão através da educação. 16 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 17. Notas sobre movimentos sociais na América Latina 4 O livro Mundialización de las re- sisténcias: Estado de las luchas, or- ganizado por Samir Amin e Fran- çois Houtart (2004), que textos de Ao falar de movimentos sociais na América Latina é impossí- acadêmicos e militantes dos mo- vel não lembrar imediatamente do Movimento dos Trabalhadores vimentos sociais, é uma tentativa de proporcionar uma visão global Rurais Sem Terra (MST), no Brasil, e do Exército Zapatista de Liberta- dos movimentos sociais dentro ção Nacional (EZLN), no México. São movimentos que se constituem da compreensão do Fórum Social Mundial. como forças sociais com atuação marcante em seus países e contam Movimentos Sociais com uma grande visibilidade nacional e internacional. No entanto, ao focarmos a atenção nestes movimentos grandes corremos o ris- co de não ver o contexto no qual eles próprios encontram o nicho para continuar existindo. Principalmente a partir da década de 90 o grande pano de fundo dos movimentos sociais é a contestação das políticas neoliberais, seja em suas repercussões na educação, na eco- logia, no mundo do trabalho, na organização política ou nas diversas formas de expressão cultural. 4 Se os movimentos sociais são diversos, também a compreen- são sobre eles não é menos diversificada. A definição proposta por Maria da Glória Gohn (2002, p.25) dá conta daquilo que neste traba- lho se entende por movimentos sociais. Segundo ela, movimentos sociais são “ações sociais coletivas, de caráter sociopolítico e cultural, que viabilizam distintas formas de organização e de expressão das demandas da população.” Estão presentes aqui as idéias de confli- to em torno de projetos sociais e políticos, de identidade cultural, de solidariedade interna, de ação coletiva e de inovação social que, com ênfases distintas, encontramos em autores como Alain Touraine (1994), Alberto Melucci (2002) e Boaventura de Sousa Santos (1996). Historicamente os movimentos sociais estão entre as vozes silenciadas. Ao menos a história ensinada para os cidadãos comuns traz muito pouco sobre os movimentos da sociedade que não se en- quadram na perspectiva hegemônica, aquela que conta como se for- mou o império, depois a república, com os seus respectivos heróis protagonistas. Na educação, por exemplo, aprendemos sobre a ação de Anchieta e o grande esforço dos jesuítas dentro do projeto coloni- zador. Hoje começam a ser desveladas estratégias de resistência e de enfrentamento que também passavam pela educação. Começa-se a abandonar a idéia de tabula rasa para reconhecer que havia um com- plexo sistema pedagógico para dar conta desta maneira específica de viver. “Da parte dos povos nativos, diz Helena Dias da Silva (2000, p. 95), estes procuravam manter seus processos educativos próprios de todas as formas. Mesmo nas fugas, refúgios ou na escravização, procuraram recriar espaços que possibilitassem construir e recons- truir sua história, seus valores e seus projetos de vida, educando as futuras gerações.” O mesmo pode ser dito em relação aos negros - por exemplo, sua organização nos quilombos - e a outros grupos sociais cuja atua- ção se tornou invisibilizada na história. Boaventura de Sousa Santos fala da necessidade de uma “sociologia das ausências” para recompor as lacunas da história, o que muitas vezes pode significar contar o ou- tro lado da mesma história. Vítor Westehelle (2000, p. 36) argumenta Capítulo: Movimentos Sociais 17
  • 18. que uma cultura colonizada não é uma cultura morta, “é uma cultura que esconde, nas profundezas de seus silêncios, vozes prontas para sair à superfície.” É uma cultura que se torna invisível e se comunica através do silêncio, da dissimulação e do ocultamento. A presença desta história encoberta (Dussel, 1993) nos atuais processos sociais na América Latina é bem expressa por Alcira Argu- medo quando escreve que não existem marcos teóricos inocentes e Movimentos Sociais que é possível recuperar o potencial teórico autônomo contido no pensamento latino-americano: O reconhecimento da heterogeneidade cultural dos se- tores populares da América Latina – que se destaca diante da crescente homogeneização de suas classes dominantes e das camadas médias acomodadas – surge com força como pro- blemática das ciências sociais ao calor da crise dos “paradig- 5 “Os movimentos contemporâne- mas teóricos”. A emergência de novas formas de organização os são profetas do presente. Não e solidariedade; de movimentos sociais reivindicatórios que têm a força dos aparatos, mas a força da palavra. Anunciam a mu- ultrapassam os partidos políticos; o aumento de massas mar- dança possível, não para um futu- ginais e de seus novos comportamentos de desesperação; a ro distante, mas para o presente persistência de identidades sociais que ligam o presente com de nossa vida. Obrigam o poder a tornar-se visível e lhe dão assim vários séculos de memórias culturais, para além das caracterís- forma e rosto. Falam uma língua ticas adquiridas nas diversas regiões, dão conta de fenômenos que parece unicamente deles, que não podem ser explicados integralmente a partir das con- mas dizem algumas coisas que os transcende e, deste modo, falam cepções oficializadas nas ciências sociais e na análise política. para todos.” (Melucci, 2001, p. 21) (Argumedo, 2004, p.15) Esse breve pano de fundo histórico parece importante para entender que a quantidade e diversidade de movimentos sociais na América Latina, hoje, não se devem a um processo de geração espon- tânea. Houve uma luta silenciosa pela terra, pelo respeito de identi- dades, por direitos de cidadania que hoje passa a ser ouvida e vista. E dependendo do lugar social de onde se olha, passa a ser vista como profecia 5 ou como ameaça. Embora os movimentos sociais façam parte da dinâmica da sociedade, o conceito surge por volta de 1840 como categoria para estudar o movimento proletário e o comunismo e socialismo emer- gentes. (Ramirez, 2000, p. 50). Houve, na segunda metade do sécu- lo passado importantes deslocamentos e rupturas, ocasionando o surgimento do conceito de novos movimentos sociais. Segundo Boaventura de Sousa Santos (1996, p. 258) a novidade maior reside no fato de estes novos movimentos identificarem novas formas de opressão, para além da crítica da regulação social tanto capitalista quanto socialista. Isso se comprova na diversidade de temas presen- tes nestes movimentos: gênero, paz, anti-racismo, anti-produtivismo, além de lutas por direitos como moradia, terra, saúde e educação. Na medida em que os movimentos sociais são a expressão da sociedade em movimento (Rucht, 2001) eles parecem fugir a tentati- vas de classificação e se constituem num desafio para a compreensão dentro de parâmetros preestabelecidos porque eles próprios procu- ram romper estes parâmetros. Seguindo a argumentação de Melucci (2002, p. 34), os movimentos sociais não são simplesmente a expres- 18 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 19. são de uma crise, que se refere à desintegração do sistema e induz a 6 O Município de São Leopoldo (RS) foi o primeiro a criar uma lei reações que tendem a restabelecer o sistema. Eles são, em sua visão, anti-discriminatória de gays no antes expressões de um conflito onde estão em jogo interesses an- Brasil, em 2006, a partir da luta do movimento gay aliam com outros tagônicos e por isso têm como resultado produzir mudanças no sis- movimentos sociais da cidade e tema e não simples ajustes. Estes conflitos surgem por uma série de da região. contingências em lugares diferentes e nem sempre previsíveis. Para Touraine (1994, p. 254) um “movimento social é ao mes- Movimentos Sociais mo tempo um conflito social e um projeto cultural.” Estão em jogo nos movimentos sociais tanto as disputas sociais e políticas quanto a aposta em determinados valores culturais. Por exemplo, o movimen- to gay não apenas cria estratégias para convencer as comunidades de seu direito de ser diferente, mas procura criar mecanismos legais para coibir discriminação no mundo do trabalho e em lugares públi- cos. 6 Estas duas dimensões – conflito social e projeto cultural – po- dem variar em intensidade, ora prevalecendo um ora outro. A força dos movimentos sociais na América Latina é corrobora- da pela eleição de dois presidentes. No Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva formou-se no movimento sindical durante o período de lutas contra a ditadura militar. Na Bolívia, Evo Morales passou de líder cocalero a presidente de um país onde a maioria indígena é historicamente alijada do poder. No México, embora os zapatistas com o Comandan- te Marcos não ambicionem a conquista do poder na forma cargos públicos, também é incontestável que eles representam uma impor- tante força política. Essas breves considerações mostram que é praticamente invi- ável compreender a realidade latino-americana sem levar em conta os movimentos sociais. Eles são responsáveis por grande parte das conquistas hoje transformadas em políticas sociais, buscando garan- tir direitos básicos do cidadão. A educação no e pelo movimento social Os movimentos sociais podem ser analisados como um espaço da educação em dois sentidos. Uma vez, pelo tipo de práticas peda- gógicas que promovem em seu interior e, outra, pelo que represen- tam como fator pedagógico para a sociedade em que se realizam. Tomando como exemplo os MST pode-se constatar a preocupação pela formação interna, desde a escola itinerante para as crianças dos acampamentos até a formação de professores e outras lideranças. O aspecto formativo para a sociedade começa com a relação que o Mo- vimento estabelece com as comunidades até o uso dos modernos meios de comunicação para expor seus argumentos, muitas vezes através de ações com grande expressão, concreta e simbólica. Para fins desta exposição estas duas dimensões serão consideradas de forma integrada. Os itens abaixo pretendem dar uma visão geral da contribuição do movimento social enquanto também um movimen- to pedagógico para a sociedade. A relevância dos movimentos sociais para a educação fica evi- Capítulo: Movimentos Sociais 19
  • 20. dente quando se compreende a educação como o processo auto- formativo da sociedade. Essa compreensão de educação situa-a no âmago das práticas sociais e no cruzamento dos conflitos. Uma das razões da atual crise da escola é que ela assume o lugar de “ilha”, onde os alunos se encontram sob a orientação dos professores para ser formados. Em primeiro lugar, esta ilha não existe. Em segundo lugar, a pretensão de ser esta ilha ou de permitir ser colocada nesta posi- Movimentos Sociais ção, ocasiona um isolamento de fato daquelas forças que poderiam impulsionar mudanças. Ao referir-me à educação como autoformação da so- ciedade desejo acentuar a necessidade de ter o máximo de consciência e lucidez possível das forças e dos conflitos que alimentam e são alimentados pelos movimentos sociais. Ali estão impulsos que, se incorporados às práticas educativas, podem ajudar estas a encontrar o seu lugar na sociedade ao lado das forças que buscam construir e ampliar a cidadania e as possibilidades de vida. O redimensionamento do popular: A categoria “popular” passou de uma compreensão genérica como algo do “povo” para uma compreensão mais específica de identificação com as classes subalternas. Assim, a partir da segunda metade do século XX temos referência à cultura popular, ao teatro popular e à educação popular como expressão contra-hegemônicas. Havia, nestas definições, uma clara conotação classista. Os as- sim chamados novos movimentos sociais trazem um redimen- sionamento do popular, devolvendo-lhe um sentido mais am- plo de público, muitas vezes nitidamente transclassista, como é o caso dos movimentos ecologistas, feministas ou de gays. O desafio consiste em abrir a categoria popular para abranger outros grupos, mas ao mesmo tempo não perder de vista a impor- tante conquista de uma identificação mais restrita com grupos so- ciais excluídos ou subalternizados no sistema de produção. O Fórum Social Mundial (FSM) é uma boa expressão da articulação dos movi- mentos sociais e dos cruzamentos entre diversas categorias dando ao popular um caráter mais multifacetado (Streck, 2004). Isso não signi- fica que todos os movimentos sociais presentes ou representados no FSM pudessem ser incluídos na categoria de populares, mas indica novas possibilidades de encontro e maior porosidade nas fronteiras. As práticas educativas, nos diversos contextos, podem alimen- tar-se dessa riqueza de experiências que brotam em muitos setores da sociedade. Mais importante ainda, podem colocar-se junto nessa diversidade de movimentos que a sociedade realiza e procurar ser protagonista. No caso da escola, por exemplo, pode significar abrir as portas para o grupo de mulheres não apenas para usarem uma sala para reuniões, mas para trazerem as suas experiências para as crianças e jovens. 20 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 21. Enraizamento e ruptura: Os movimentos sociais, como vimos acima, expressam conflito, mas eles também são instru- mentos para a manutenção ou recriação da identidade cultu- ral. Os conflitos sinalizam rupturas com padrões ou processos sociais hegemônicos vistos como limitadores de direitos de ci- dadania ou como ameaças à própria vida. Sua luta é para que a partir de determinadas rupturas se possa recompor o senso Movimentos Sociais comum em um nível que amplia as possibilidades de realiza- ção humana. Por exemplo, é difícil que hoje alguém conteste o direito de voto das mulheres ou o acesso de negros à esco- la, esquecendo que estes direitos são frutos de duras e longas conquistas. Junto com isso, no entanto, é importante destacar o enraiza- mento na cultura do grupo, que pode ser expresso na busca de res- posta do que se é: “Quem somos, como sem-terra, para além ou fora dos estereótipos que encontram guarida nas ideologias conservado- ras?” “Quem somos, como “gays” num mundo que tende a não ver além do preto e branco?” A partir da experiência do MST, Roseli Salete Caldart (2000, p. 140) vê no enraizamento o início da educação no interior do movi- mento. “Saber que não está solta no mundo é a primeira condição da pessoa se abrir para esta nova experiência de vida. Este costuma ser o sentimento que diminui o medo em uma ocupação, ou que faz enfrentar a fome em um acampamento.” Mas não se trata de uma raiz desvinculada da utopia e de projetos. Daí o uso da expressão enraiza- mento projetivo, numa combinação criativa de raiz e projeto. Do ponto de vista das práticas educativas pode-se aprender muito com a forma como os movimentos lidam com os conflitos na sociedade circundante; com as suas estratégias para experienciar as continuidades e as rupturas. Pode-se aprender também a enraizar as práticas educativas na cultura ou nas culturas do lugar ou da região, colocando as perguntas sobre quem se é e quem se pretende ser e recompondo a memória. É impressionante a riqueza e o vigor do conhecimento produzido por movimentos que buscam recuperar a sua trajetória, seja de negros, de povos indígenas, dos movimentos do campo ou das mulheres. Trata-se de aproveitar estes saberes ali produzidos, mas também de conhecer a metodologia desenvolvida. Analisando o movimento indígena equatoriano, reuni- do na CONAIE (Confederação das Nacionalidades Indígenas no Equador) Pierre Mouterde (2003, p.81) constata que “justamen- te porque começa como um movimento social fortemente en- raizado nas comunidades autóctones que seu discurso político de aspirações democráticas parece tão crível, justificado e legí- timo.” Isso também vale para outros movimentos sociais. A participação: Sendo uma ação coletiva, o movimento social precisa encontrar os mecanismos de manter a coesão in- terna. A solidariedade entre os membros parece ser, por isso, uma característica importante na maioria dos movimentos so- Capítulo: Movimentos Sociais 21
  • 22. ciais. Criam-se rituais, existem símbolos próprios e organizam- se manifestações públicas que aproximam os membros entre si e dão um senso de pertença.(Melucci, 2001, p. 36). Evelina Dagnino (2000, p.81) reconhece a tendência de misti- ficar as ações coletivas dos movimentos como expressões da virtu- de, mas argumenta que nem por isso se deveria deixar de perceber Movimentos Sociais as “mudanças moleculares” que resultam de ações de movimentos sociais. Segundo ela, mesmo fragmentárias, incompletas e contradi- tórias essas práticas devem ser vistas como “constitutivas de esforço dos movimentos sociais para redefinir o significado e os limites da própria política.” Pierre Mouterde (2003, p. 155) conclui em sua análi- se de alguns dos grandes movimentos sociais da América Latina que todos eles salientam a idéia de uma ruptura democrática no sentido de romperem e superarem os limites formais da democracia repre- sentativa. Em termos de práticas educativas o desafio consiste em trans- formar a participação em um princípio metodológico, portanto, mui- to mais do que em usá-la como técnica de ensino. Dos movimentos pode-se aprender que, como dito antes, participação implica neces- sariamente em conflitos. Os movimentos sociais, apesar de terem um foco de atuação e direcionarem a sua luta, encerram uma pluralida- de de idéias e de posições que nem sempre são perceptíveis a partir de fora. Um elemento importante para garantir a participação é o que no MST é chamado de mística. Nela se encontram os elemen- tos evocativos, convocativos e provocativos que garantem a força do movimento. (Peresson, 2006). Evocativo no sentido de recomporem 7 Estima-se que, uma árvore de a memória, convocativo no sentido de chamarem à solidariedade e eucalipto necessita de 38 mil litros provocativo no sentido de, partindo da denúncia de determinada re- de água por ano. O que significa a plantação de milhares de hectares alidade, anunciarem alternativas. para o ecossistema? A lida com o poder: Os movimentos sociais colocam em pauta algum tema que conflitua com os interesses dominantes na sociedade e por isso a relação com o poder é um dos seus mais importantes desafios. Decidir sobre a ocupação de terras, o bloqueio de estradas ou o boicote a produtos representa um confronto com o poder estabelecido. Nessa relação, possivel- mente uma das mais importantes lições é a desmistificação da autoridade. O confronto força o poder a se relevar, a dizer de que lado e a serviço de quem está. Muitas práticas educativas, especialmente através do movi- mento da educação popular incorporaram o pressuposto da reali- dade do poder no seu cotidiano. Aconteceu, assim, um interessante deslocamento, em termos metodológicos, da “troca de saberes” em direção à “negociação cultural” (Mejía y Awad, 2001, p. 119) onde se reconhece que na relação pedagógica se negociam desde visões de mundo e valores até conhecimentos práticos; e que na negociação estão em jogo relações de poder. Faz parte também da aprendiza- gem através dos movimentos sociais que não basta tomar ou ocupar o poder, mas que é necessário reinventá-los (Freire), uma tarefa per- manente. 22 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 23. A produção de saberes: os movimentos sociais criam condições para valorizar os saberes do próprio grupo como contraponto aos saberes que os mantêm à margem e causa- ram o próprio movimento. Com isso, no entanto, eles se colo- cam também como produtores de novos saberes. Um exemplo é a disputa entre conhecimento que neste momento se trava entre os defensores do uso de grandes extensões de terra na Movimentos Sociais metade sul do Rio Grande do Sul para plantação de eucalip- tos com o fim de alimentar a indústria de celulose e o contra- argumento de grupos ecologistas sobre o perigo de perdas irreparáveis para o eco-sistema do pampa 7 . O mérito está, em primeiro lugar, em trazer o assunto à consciência publica atra- vés de debates. Em segundo lugar, gera condições para nego- ciações políticas que repercutem regulação para o uso do solo. A relação entre o local e o global: Uma das tendências verificadas entre os movimentos sociais é a sua capacidade de funcionamento em rede. Os novos meios de comunicação, es- pecialmente a Internet, contribuíram para que a situação de agressão aos direitos humanos numa pequena localidade em um pequeno país longínquo do centro do poder seja conheci- do e se transforme em um caso e eventualmente em notícia. Este funcionamento em rede não é privilégio nem invenção dos movimentos sociais, dado que hoje presenciamos a este tipo de funcionamento inclusive entre quadrilhas de assaltan- tes e gangues. O que está em jogo é uma nova relação entre ações em nível local ou regional e ações em nível global, com várias implicações. Para o indivíduo isso significa criar novas referências através de contatos físicos ou virtuais como, por exemplo, as comunidades do Orkut. Para a cidadania repre- senta uma revisão do conceito de fronteiras do estado-nação, uma vez que os controles em limites territoriais fixos se tornam praticamente inviáveis. Para os movimentos sociais se traduz na possibilidade de conectar ações locais em diferentes luga- res de um país ou do mundo. Este movimento exige mais do que aprender o domínio das tecnologias ou de habilidades lingüísticas. Exige sobretudo o reco- nhecimento das diferenças de formas de ação e de estratégias, enfim, 8 Para uma elaboração deste tema de viver. O viver junto se coloca nestes tempos de globalização, para- veja Educação para um novo con- trato social (Streck, 2003). doxalmente, como um grande desafio. Revisão da idéia de sujeito: As discussões sobre pós-mo- dernidade trouxeram à tona o debate sobre o sujeito e a possi- bilidade da ação histórica. Em alguns momentos a vara foi cur- vada para o outro lado, numa tentativa de desconstrução do sujeito consciente e fazedor da história, bem como da história como um projeto imbuído de uma linearidade de certa forma previsível. Os movimentos sociais interferem na idéia do sujei- to ao mostrarem que o mesmo não existe de forma abstrata e fixa, mas se constrói no movimento da história. É ao assumir os riscos de ser histórico e cultural que o ser humano se constitui como sujeito. Nas palavras de Alain Touraine (2004, p. 150): Capítulo: Movimentos Sociais 23
  • 24. O que há se sujeito em nós está sempre ao mesmo tem- po engajando e desengajado. É por essa razão que você não pode dizer que tal grupo social, tal indivíduo ou mesmo tal idéia, tal convicção, constitui um sujeito social. O sujeito é uma força de desligamento, de superação, e não pertence à ordem do ter. Eu “não tenho”um sujeito; há um sujeito em mim, e eu pago caro por isso. Movimentos Sociais O sujeito pedagógico pode ser entendido dentro desta mesma visão. Na medida em que a aprendizagem é um processo do sujeito, o pólo do processo desloca-se para o sujeito aprendente. Mas também não é mais o sujeito como indivíduo, mas construído na intersubjeti- vidade. Essa é sem dúvida uma das grandes diferenças entre o Emílio 9 “Tenho o direito de ter raiva, de de Rousseau e o educando de Paulo Freire 8. Enquanto o primeiro manifestá-la, de tê-la como moti- vação para minha briga tal qual te- é protegido para não ser corrompido pelo meio, o segundo desde nho o direito de amar, de expres- cedo sabe que não tem como sair do mundo, como Robinson Crusoé sar meu amo ao mundo, de tê-lo como motivação de minha briga em sua ilha, e que por isso precisa conhecê-lo para transformá-lo. porque, histórico, vivo a Hitória como tempo de possibilidades A insurgência como princípio pedagógico: os movimen- e não de determinação.” (Freire, tos traduzem a insatisfação de grupos sociais com a realidade 1997, p. 84). existente. Eles são, por isso, forças com uma potencialidade de trazer mudanças, representando um momento instituinte na sociedade. Este é um tema difícil para a educação formal uma vez que a escola se institui basicamente como uma força con- servadora e disciplinadora na sociedade moderna. Sabemos também que há uma infinidade de formas de subverter esta força, desde a rejeição até a resistência passiva ou violenta. O desafio para a educação parece estar em deixar cair cercas entre a educação formal e a não-formal, especialmente aquela nos movimentos sociais populares para possibilitar que a insurgência como um movimento de inovação seja uma possibilidade real no in- terior das práticas educativas. Trata-se de insurgência no sentido de recuperar ou criar a possibilidade de dizer a sua palavra, de fazer com que a revolta e a indignação contra condições opressivas seja trans- forme numa força potencializadora de mudanças. Quando Paulo Freire no “direito de ter raiva” 9 ela aponta para esta condição humana que está na base do agir ético. Mas esta con- dição precisa ser educada para que se evite que a raiva vire raivosida- de, que a indignação se transforme em cinismo. No mesmo sentido que Freire (1992) propôs uma pedagogia da esperança e não para a esperança, considerando ser esta ontologicamente constitutiva do ser humano, assim também proporá uma pedagogia da indignação (2000). 24 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 25. Conclusão A grande lição deixada pelos movimentos sociais para a educação é a de inserir as práticas educativas no movimento da sociedade, contra- riando a tendência de tornar o espaço pedagógico um lugar preser- 10 “Por trabajar nos matam, por vi- ver nos matam. No hay lugar para vado dos conflitos e das tensões que existem na sociedade, mas com nosotros em el mundo del poder. Movimentos Sociais isso também tornando-o relativamente inócuo como promotor de Por luchar nos matarán, pero así nos haremos um mundo donde mudanças e como força inovadora. Para tanto, a título de conclusão, nos quepamos todos y todos nos cabe registrar algumas implicações para a própria pedagogia. vivamos sin muerte en la palabra.” (Quarta Declaración de la Selva A primeira é a de repensar hoje os espaços pedagógicos, es- Lacandona. In: Caparó, 2001, p. 314) pecialmente retomando a pergunta sobre quem forma o educador e onde ele é formado. Os movimentos sociais – por serem o que são - não ocupam o centro da sociedade ou determinam as relações de produção e de poder. Eles se constituem nas margens e, por ocupa- rem este lugar, eles representam forças questionadoras. A educação voltada para os parâmetros da eficiência dificilmente reconhece que exatamente ali possam estar competências sem as quais a sociedade morre por asfixia. Uma segunda questão, de cunho epistemológico, diz respeito à superação da noção estática de conhecimento como produto a ser transmitido. Esta é uma velha luta pedagógica, mas está longe de ser vencida. Quem sabe a dificuldade seja até maior hoje, porque as no- vas tecnologias educacionais passam a falsa noção de que o simples fato de buscar o conhecimento através da internet já significa estar envolvido no processo de criação. Os movimentos sociais ensinam que o conhecimento produtivo do ponto de vista social e humano tem como referência a experiência do sujeito. O pensar certo, confor- me uma lição de Freire (1997, p. 42), começa com o pensar a própria prática. Por fim, os movimentos sociais realçam a necessidade de ali- mentar e reelaborar as utopias. O ideal zapatista do mundo como um lugar onde caibam todos é uma bela metáfora para uma sociedade que vive a unidade na diversidade: Por trabalhar nos matam, por viver nos matam. Não há lugar para nós na sociedade. Por lutar nos matarão, mas assim faremos para nós um mundo onde caibamos todos e todos possamos viver sem morte na palavra. (Quarta Declaración de la Selva Lacandona. In: Caparó, 2001, p. 314) 10 Capítulo: Movimentos Sociais 25
  • 26. Referências (Leituras complementares) AMIN, Samir e HOUTART, François. Mundialización de las resisténcias: Estado de las luchas 2004. Bogotá: Ed. Desde Abajo, 2004. ARGUMEDO, Alcira. Los silencios y las voces em América Latina: No- Movimentos Sociais tas sobre el pensamiento nacional y popular. Buenos Aires: Colihue, 2004. ALVAREZ, Sonia E.; DAGNINO, Evelina; ESCOBAR, Arturo. (Org.). Cultu- ra e política nos movimentos sociais latino-americanos: Novas leitu- ras. Belo Horizonte: UFMG, 2000. CALDART, Roseli Salete. O MST e a formação dos Sem-Terra: o movi- mento social como princípio educativo. In: GENTILI, Pablo & FRIGOTT, Gaudêncio (Org.). A cidadania negada: Políticas de exclusão na edu- cação e no trabalho. Buenos Aires: CLACSO, 2000. p. 125-144. CAPARÓ, Gabriel (Comp.) Ansias del alba: Textos zapatistas. La Haba- na: Editorial Caminos, 2001. DUSSEL, Enrique. O descobrimento do outro: A origem do mito da modernidade. Tradução de Jaime A. Frankfurt. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à práti- ca educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. ______. Pedagogia da esperança: Um reeencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1992. ______. Pedagogia da indignação: Cartas pedagógicas e outros escri- tos. São Paulo: Editora Unesp, 2000. GOHN, Maria da Gloria. Movimentos sociales: Participación sociopo- lítica y educación en el Nuevo Milenio. In: GARCÉS, Fernando Rosero. (Org). Formación de líderes y movimientos sociales: Experiencias y propuestas educativas. Ecuador: Abya-Yala, 2002. MEJÍA, Marco Raúl & AWAD, Myriam. Pedagogías y Metodologías en Educación Popular. Quito: Fe y Alegria, 2001. MELUCCI, Alberto. A invenção do presente: Movimentos sociais nas sociedades complexas. Tradução de Maria do Carmo Alves do Bomfim. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. MOUTERDE, Pierre. Reinventando a utopia: Práticas alternativas da esquerda latino-americana. Tradução de Ethon Fonseca; Patrícia Chit- toni Ramos Reuillard; Sandra Dias Loguércio. Porto Alegre: Tomo edi- torial, 2003. PERESSON, Mario L. Pedagogias e culturas. In: SCARLATELLI, Cleide; 26 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 27. STRECK, Danilo; FOLLMANN, José Ivo (Ogg.) Religião, cultura e edu- cação. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2006. RAMIREZ, Janett. Movimentos Sociais: Lócus de uma educação para a cidadania. In: CANDAU, Vera Maria; SACAVINO, Susana. (Org.). Educar em direitos humanos: construir democracia. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. Movimentos Sociais RUCHT, Diether. Sociedade como projeto: projetos na sociedade: so- bre o papel dos movimentos sociais. Civitas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001, ano 1, n. 1, p. 13-28, jun. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: O social e o político na pós-modernidade. 2º edição. São Paulo: Cortez, 1966. STRECK, Danilo R. O Fórum Social Mundial e a agenda da educação popular. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro: ANPED, 2004, n. 26, p. 58-69, Mai/Jun/Jul/Ago. ______. Educação para um novo contrato social. Petrópolis: Vozes, 2006. TOURAINE, Alain. Critica da modernidade. Tradução de Elia Ferreira Edel. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. _____ e KHOSROKHAVAR, Alain. A busca de si: Diálogo sobre o sujei- to. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. WESTHELLE, Vitor. Voces de protesta en América Latina. México: CE- TPJDR, 2000. Capítulo: Movimentos Sociais 27
  • 28. Atividades Orientar a segunda leitura do texto a partir de questões suge- ridas pelos organizadores para aprofundamento de reflexões, abaixo apresentadas: Atividade I: Localizando movimentos sociais Movimentos Sociais 1. Que movimentos sociais você conhece, em seu município, re- gião, ou distrito e o que você sabe /conhece sobre os seus objetivos, Recomendações: Fazer registros propósitos (o que eles querem)? escritos de cada atividade 2. Relate sobre alguma das atividades/ações por eles realizadas. 3. Em sua experiência de ensino, que ações/temas construídos pelo movimento social tiveram, ou têm, implicações na sua prática educativa. Atividade II: Analisando as contribuições dos movimentos sociais para a construção da prática pedagógica escolar 1. Liste os itens comentados no artigo como sendo as “contri- buições dos movimentos sociais enquanto também um movimento pedagógico para a sociedade”: Sublinhe (no texto) as idéias que você considera importante serem discutidas, em cada um dos itens. 2. À luz dos itens listados na questão acima, analise, critique e avalie sua atividade pedagógica na sala de aula, levando em conside- ração a sua experiência profissional e de vida. Atividade III: Refletindo sobre limites e possibilidades das contribuições do autor para a construção conceitual da educa- ção 1. Após ler as conclusões do texto, analise e critique as noções de conhecimento, explicitadas pelo autor. 2. Reconhece nessas práticas dos movimentos sociais alguma contribuição possível de nos questionar, nos fazer revisar e mesmo, reconstruir nossos conceitos sobre educação? 28 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 29. Texto II – Professor Geovanni Semeraro Objetivo: Discutir “libertação” e “hegemonia” como conceitos complementares nas lutas coletivas pela terra e por uma educação do campo diferenciada e de qualidade. Movimentos Sociais A construção coletiva de projeto diferenciado de educação do campo remete-nos à história do pensamento, para compreender o que é “libertação” e o que é “hegemonia”. Na década de 1970, Paulo Freire lançou o livro Pedagogia do Oprimido que traz importantes contribuições para compreender e discutir lutas coletivas dos oprimidos pela de uma sociedade eman- cipada. Antonio Gramsci, por sua vez, é intelectual que contribui para aprofundar análise sobre hegemonia, na correlação de forças na so- ciedade de classes. Como debates sobre libertação e hegemonia podem contribuir para discutir a construção de processos de participação das popula- ções excluídas, superando estruturas de exploração de classes e de distribuição desigual de riquezas materiais e bens culturais? O professor Geovane Semeraro da Universidade Federal Flumi- nense aprofunda análises nesse sentido, partindo de questões con- cretas de nosso tempo. Por isso estamos lançando o desafio para ini- ciarmos discussões sobre esta problemática, a partir de um de seus artigos: “Da libertação à hegemonia: Freire e Gramsci no processo de democratização do Brasil”. Leia a introdução do artigo, buscando estabelecer di- álogo com o autor a partir de algumas questões iniciais. Em seguida, acesse o artigo na íntegra na plataforma Moodle e/ou CD Rom, para aprofundamento das análises propostas pelas questões aqui apresentadas. Como o autor discute “libertação” e “hegemonia”? Vamos à leitura do texto! Ler atentamente os textos do livro e do CD- Rom Capítulo: Movimentos Sociais 29
  • 30. DA LIBERTAÇÃO À HEGEMONIA: FREIRE E GRAMSCI NO PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL Giovanni SEMERAROUFF RESUMO Movimentos Sociais As lutas populares que se desencadearam no Brasil desde os anos 1960 até hoje podem ser caracterizadas por dois grandes para- digmas: “libertação” e “hegemonia”. A “libertação” foi a tônica predo- minante nos anos 1960 e 1970. A “hegemonia” tem sido a palavra de ordem ao longo dos anos 1980 e 1990. A primeira, representada par- ticularmente por Paulo Freire, e a segunda, tendo em Antonio Gra- msci sua referência maior, foram se entrelaçando e tornaram-se inse- paráveis no desenho de um projeto alternativo de sociedade. Neste artigo, apresenta-se uma análise crítica de seus significados em de- corrência dos dez anos da morte de Paulo Freire e dos 70 da morte de Gramsci. O texto que segue, além de percorrer os significados, as diferenças e o entrelaçamento de “libertação” e “hegemonia” em seu contexto histórico e social, apresenta uma reinterpretação dos dois paradigmas ante as mudanças políticas e culturais atualmente em curso no Brasil e na América Latina. Palavras-chave: hegemonia; libertação; política. 30 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 31. Referências (Leituras complementares) ASSMANN, H. 1974. Teologia della prassi di liberazione. Assisi : Cittadella. BONDY, A. S. 1968. Existe una filosofia de nuestra América? México : Siglo XXI. CAR- DOSO, F. H. & FALETTO, E. 1967. Dependencia y desarrollo en América Latina. Mé- xico : Siglo XXI. Movimentos Sociais DUSSEL, E. 2002. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petró- polis : Vozes. FREIRE, P. 1967. Educação como prática da liberdade. São Paulo : Cortez. _____. 1970. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro : Zahar. _____. 1980. Conscientização. São Paulo : Moraes. _____. 1982. A importância do ato de ler. São Paulo : Cortez. _____. 1992. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro : Zahar. FREIRE, P. & SHOR, I. 1987. Medo e ousadia : o cotidiano do professor. Rio de Janeiro : Paz e Terra. FREIRE, P.; GADOTTI, M. & GUIMARÃES, S. 1986. Pedagogia : diálogo e conflito. São Paulo : Cortez. GOHN, M. G. 1997. Teorias dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e contem- porâneos. São Paulo : Loyola. GUTIERREZ, G. 1972. Teologia de la Liberación. Salamanca : Sígueme. _____. 1981. A força histórica dos pobres. Petrópolis : Vozes. GRAMSCI, A. 1975. Quaderni del carcere. 4 v. Torino : Einaudi. LOSURDO, D. 2005. Controstoria del liberalismo. Roma : Laterza. LÖWY, M. 1991. Marxismo e Teologia da Libertação. São Paulo : Cortez. _____. 2006. Introdução. In : MARIÁTEGUI, J. C. Por um socialismo indo-americano. Rio de Janeiro : UFRJ. MARX, K. 1998. O Capital. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira. MARX, K. & ENGELS, F. 1998. A ideologia alemã. São Paulo : Martins Fontes. QUIJANO, A. 1967. Dependencia, cambio social y urbanización latinoamericana. Revista Mexicana de Sociologia, Ciudad de México, n. 30, p. 505-510. SANTOS, T. 1969. Crise de la teoria del desarrollo y las relaciones de dependencia en América Latina. Ciudad de México : Siglo XXI. SEMERARO, G. 1994. A primavera dos anos 60. São Paulo : Loyola. _____. 2001. Gramsci e a sociedade civil. 2ª ed. Petrópolis : Vozes. _____. 2006. Gramsci e os novos embates da filosofia da práxis. Aparecida : Idéias e Letras. Capítulo: Movimentos Sociais 31
  • 32. Atividades: Para aprofundamento do estudo do texto, realize as seguintes atividades sugeridas pelos organizadores. Atividade I: Analisando conceitos Leia inicialmente a introdução do artigo, buscando estabelecer diálogo com o autor a partir de algumas questões iniciais. Em segui- Movimentos Sociais da, acesse o artigo na íntegra na plataforma moodle e/ou CD Rom, Recomendações: Fazer registros para aprofundamento das análises propostas pelas questões aqui escritos de cada atividade apresentadas. 1. Como o autor discute “libertação” e “hegemonia”? Atividade II: Ressignificando a Educação do Campo A partir dos anos 1990, no entanto, intensas mudanças na polí- tica, na economia e na cultura vêm provocando uma ressignificação dos paradigmas de “libertação” e “hegemonia”, sinalizando um novo ciclo da história das lutas populares. Nas páginas que se seguem, queremos mostrar como Paulo Freire (1921-1997) e Antonio Gramsci (1891-1937) aparecem juntos não apenas nas datas comemorativas de nascimento e morte, mas continuam associados na inspiração das atuais lutas dos “oprimidos” e dos “subalternos” do Brasil e do mun- do. A leitura do texto nos leva compreender o sentido das palavras “libertação” e “hegemonia” e sua utilização ao longo das ultimas dé- cadas da História do Brasil. Seu entendimento nos conduz a reflexões sobre as incoerências estruturais; as profundas raízes da dominação; a geração de forças organizativas; e as articulações políticas junto aos movimentos sociais. Responda: 1. Que argumentos você empregaria para apoiar a idéia de que uma Educação do Campo envolvida com sua realidade de inserção promoveria um projeto alternativo de sociedade? 2. Tendo como espaço de análise sua a prática educacional su- gira ações para famílias camponesas da área de inserção da escola em que você atua. Ações que: a) proporcione melhoria na qualidade de vida; b) fortaleça politicamente suas formas de organização so- cial; c) encoraje práticas de produção que respeite suas diversidades e lógicas produtivas e; d) resgate e valoriza suas formas de manifes- tações culturais e lingüísticas. 32 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 33. Texto III - Professor Damián Sánchez Sánchez Objetivo: Avaliar lutas de povos indígenas pelo direito à terra, com valorização de suas culturas, identidades e saberes. Realize uma leitura inicial do texto, fazendo anotações para ela- boração de uma síntese, que será discutida no subgrupo de estudo. Movimentos Sociais Em seguida retome o artigo, buscando dados para resolver as ques- tões propostas. Não deixe de registrar suas reflexões, com vistas ao compartilhamento das mesmas no seu subgrupo e no encontro da turma de que você faz parte no Polo da UAB. Aprofunde suas inves- tigações navegando nos sites sugeridos pelo autor, no final do texto. MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO - LUTAS DOS PO- VOS INDÍGENAS Damián Sánchez Sánchez 11 Nesses mais de 500 anos de existência de uma sociedade fun- dada na invasão e no extermínio dos povos indígenas, construída na Leia atentamente os textos do livro e do escravidão e na exploração dos negros e dos setores populares, as CD- Rom. revoltas, insurreições, movimentos políticos e sociais emergem como Registre as atividades de forma escrita, oral formas de resistência dos povos que aqui viviam há mais de 40 mil e fílmica. anos. Há estimativas de que, em 1500, existiriam cerca de 6 milhões 12 de nativos no País. Hoje, estima-se a população indígena em pouco 11 Aluno do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação mais de 350 mil, não chegando a 0,20% da população brasileira. Eles em Educação do Ceentro de Edu- estão espalhados em quase todo o País, encontrando-se, principal- cação da Universidade Federal do Espírito Santo. Ex-coordenador da mente, nas regiões Norte e Centro-Oeste. O maior local de concen- Comissão Pastoral da Terra - CPT tração é a Amazônia legal. 13 Atualmente, sobrevivem cerca de 241 da Regional do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Foi membro da Articu- povos indígenas identificados . 14 lação Nacional “Por uma Educação Os índios foram escravizados pelos portugueses assim que es- Básica do Campo” e coordenador da grande região Minas Gerais, Es- tes chegaram e se apropriaram do País. A partir de 1595, fica proibi- pírito /santo e Rio de Janeiro. Foi do o aprisionamento dos índios, porém isso só acontece no papel. membro da comissão organizado- ra da I Conferência Nacional “Por O fato é que a escravização, a aculturação e o extermínio deliberado uma Educação Básica do Campo”. continuaram ocorrendo, fazendo com que vários grupos indígenas Participou do I ENERA - Encontyro Nacional de Educadores e Educa- desaparecessem ou ficassem restritos a um número reduzido de doras da Reforma Agrária. membros. 12 Fonte: Conselho Indigenista Missionário (CIMI). 13 Área geográfica criada pelo Go- verno em 1966, compreendendo os Estados de Maranhão, Pará, To- cantins, Amapá, Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia e Mato Grosso, abrangendo uma área total de 4.900.000km2 (60% do território nacional). 14 Para maiores informações remetemos o leitor à página do Conselho Indigenista Misi- sionário: <http://www.cimi.org. br/?system=news&eid=292 Capítulo: Movimentos Sociais 33
  • 34. Referências (Leituras complementares) BASTOS, Elide Rugai. As Ligas Camponesas. Petrópolis: Vozes, 1984. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. CPT: pastoral e compromisso. Pe- trópolis: Vozes, 1983 Movimentos Sociais FREI BETO. Para uma melhor distribuição da terra: o desafio da refor- ma agrária - versão popular. São Paulo: Loyola, 1998 GÖRGEN, Frei Sérgio Antônio. A resistência dos pequenos gigantes: a luta e a organização dos pequenos agricultores. Petrópolis: Vozes, 1998 STÉDILE, João Pedro. Situação perspectiva da agricultura brasileira: texto para o manual de monitor do conselho popular. Brasília, 1998. Mimeografado. MEINCKE, Sílvio. Luta pela terra e reino de Deus. São Leopoldo-RS: Sinodal, 1987. Sugestões de sites e endereços eletrônicos: Comissão Pastoral da Terra - http://www.cptnac.com.br/ Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - http://www.mst. org.br/ Sugestões de Filmes: Sarandi Direção: Carlos Carmo * Duração: 26 min * 2007 * Apoio: NEAD No dia 7 de setembro de 1979, um grupo de mais de 100 famílias de agri- cultores marcou a história da luta pela terra no Brasil. Expulsas de uma reserva in- dígena em Nonoaí (RS), essas famílias reúnem-se e organizam a primeira ocupação de terra bem sucedida após a implantação da ditadura militar, em 1964. Os agri- cultores familiares ocupam as granjas Macali e Brilhante, duas fatias de um grande latifúndio chamado Fazenda Sarandi, no Norte gaúcho. Na ocasião, as expectativas dos sem-terra foram documentadas, em Super 8, no filme “Fazenda Sarandi”. Esse registro raro é um dos materiais históricos usados no documentário “Sarandi”, que traça, por meio de depoimentos e memórias, um panorama da região ao longo desses 27 anos. Memórias Clandestinas Direção: Maria Thereza Azevedo * Duração: 52 min * 2007 * Apoio: NEAD e PPIGRE O filme narra parte da história de vida de Alexina Crespo, primeira mulher de Francisco Julião – ex-deputado estadual e advogado pernambucano, liderança das Ligas Camponesas, – e sua atuação na organização e ampliação das Ligas. A obra traz depoimentos de Alexina e seus quatro filhos - Anatailde, Anatilde, Ana- 34 Capítulo: Movimentos Sociais
  • 35. tólio e Anacleto, além da participação de pesquisadores e moradores do engenho Galiléia. Os entrevistados abordam a organização do movimento, o golpe militar, a guerrilha e o exílio de Alexina em Cuba, em importantes episódios que ficaram no silêncio e na clandestinidade. Expedito: Em Busca de Outros Nortes Direção: Beto Novaes e Aida Marques * Duração: 80 min * 2006 * Apoio: Movimentos Sociais NEAD Em busca de dinheiro, poder, ou simplesmente do tão sonhado pedaço de terra, lavradores, madeireiros, pistoleiros, pequenos comerciantes e garimpeiros empreenderam uma migração maciça para a Amazônia durante a década de 1970. Expedito Ribeiro de Souza, trabalhador rural de Minas Gerais, resolve entrar nessa aventura com a família. Ele parte para o Sudeste do Pará guiado pela notícia da reforma agrária nas redondezas, ouvida no rádio. A saga de Expedito e seu enga- jamento na luta social e política na região do Araguaia, que o levaram a enfrentar ameaças de morte arquitetadas pelos fazendeiros locais, constituem o enredo do filme. Zé Pureza Direção: Marcelo Ernandez * Duração: 97 min * 2006 * Apoio: NEAD O filme acompanha um grupo de pessoas na trajetória do acampamento até o assentamento, que leva o nome “Zé Pureza” em homenagem ao mais impor- tante líder camponês do Rio de Janeiro do período pré-64. São mostradas as reu- niões de mobilização, ocupações, os despejos, as manifestações públicas e dramas sociais dessas famílias nos diversos locais onde estiveram acampadas. Quadra Fechada Direção: Beto Novaes * Duração: 27 min * 2006 * Apoio: NEAD Roubos nas medições da jornada de trabalho, na pesagem e no preço da cana colhida têm motivado freqüentes conflitos na zona canavieira. Para superar essas distorções, o Sindicato dos Empregados Rurais de Cosmópolis e região ne- gociaram o sistema Quadra Fechada, em que o sindicato controla a metragem cor- tada por meio de mapas de campo e o peso através de um computador colocado na balança da usina. O vídeo apresenta esse sistema e também os desafios enfren- tados pelos trabalhadores rurais com a intensificação cada vez maior do ritmo de trabalho. Para saber mais - A CARTA DA TERRA Se depender do esforço da sociedade civil organizada, as futu- ras gerações poderão viver em um mundo melhor. Mais de 100 mil pessoas se mobilizaram em prol da Carta da Terra, aprovada na Fran- ça. O documento é fruto da discussão de 46 Países, incluindo o Brasil. Com a mesma representatividade internacional da Declaração dos Direitos Humanos, a Carta propõe aos Países envolvidos “formar uma aliança global” em respeito à terra e à vida. Para conhecer o con- teúdo da carta entre no seguinte endereço: www.mma.gov.br/estru- turas/agenda21/_arquivos/carta_terra.doc Capítulo: Movimentos Sociais 35