O documento descreve o PT do estado de Tocantins como uma "estrela distante" de seus ideais originais de luta e causas populares. Afirma que o partido está sob o comando de poucas lideranças que tomam decisões longe dos princípios democráticos que antes o nortearam, e que está distante dos olhos e mãos de seus militantes. Conclui que a estrela vermelha do PT hoje está "distante de suas origens".
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Pt do tocantins pálida estrela distante
1. PT do Tocantins, pálida estrela distante
Nada pessoal. Também e muito menos não é da estrela da boina do Che, nem da
estrela solitária do Botafogo de Mané Garrincha, nem alusão ao vigoroso romance de
Roberto Bolaño, Estrela Distante. Não é do PT das ruas, das praças, das manifestações
em defesa das causas comuns do povo brasileiro. Falo aqui do PT do Tocantins – sob
minha ótica e creio que de tantos outros militantes, enfastiados de sucessivos vexames
por que tem passado essa estrela encardida – que ao longo dos últimos oito anos mais
parece uma instância privada sob o comando de eternas lideranças de umbigo
dilatado, narcisos de plantão, com hora extra e assento garantido no panteão do
egocentrismo.
Por aqui, anos atrás havia fortes sintomas de democracia nas relações internas do
Partido dos Trabalhadores. Depois os militantes tradicionais e outros tantos
comprometidos com o perfil histórico do Partido foram preteridos por novas
lideranças oriundas de partidos de direita. Daí tudo vem sendo feito no sentido de o PT
conquistar o poder pelo poder. Pode se dizer que a direção do Partido é alternada só
entre quatro mãos. Presenciamos um prefeito que nas eleições passadas não apoiou o
candidato a senador da própria sigla; que está levando a cidade de Palmas ao caos
urbano. Agora o presidente do Partido faz articulações explícitas em prol dos
candidatos governistas à eleição da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa. As
pessoas perguntam: quem pode explicar o PT do Tocantins? Como explicar essa
inclinação do presidente do PT de querer plantar girassol na estrela cambaleante?
É claro, o PT do Tocantins não mais pertence aos seus militantes de carteira na mão e
bandeira no coração. Pertence, isso sim, a um restrito grupo que se acha no direito e
dever de tomar as decisões mais estapafúrdias em nome do Partido, longe dos
princípios que sempre nortearam sua história de lutas democráticas. Não é necessário
um cientista político para se constatar que essa agremiação partidária, entre nós,
encontra-se distante de seus ideais de luta, de sua bandeira de causas populares.
Dizem que o pátio de todo palácio seduz e engaveta convicções, talvez seja essa a
máxima que apadrinha as últimas façanhas do PT tocantinense.
Aquela estrela vermelha que sempre buscou luz própria pela voz da multidão, agora
está distante dos olhos do povo, distante das mãos estendidas de seus militantes de
toda hora. É provável que alguns dirigentes do PT tenham mais fascínio pelo canto do
tucano que pela voz das ruas. Bom seria se esses líderes se confrontassem, em público,
com aqueles versos que Pedro Casaldáliga, o poeta e profeta do Araguaia, escreveu
num poema dedicado ao Che: “Não escondo o coração nem a bandeira.” Ocorre que a
transparência e a sinceridade de espírito são matérias, por ora, banidas do ambiente
2. político-partidário. E eis que presenciamos a agonia pública dessa estrela fosca de
polpa azul-amarelo irônico. Estrela distante de suas origens, nada pessoal!
Paulo Aires Marinho é escritor. E-mail: pauloaires@uft.edu.br