O documento discute a correspondência entre os poetas portugueses Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner, que ocorreram entre 1959 e 1978. A correspondência retrata sua luta política e ética contra a ditadura de Salazar em Portugal nas décadas de 1960 e 1970. O documento também inclui trechos da poesia e visões políticas de ambos os poetas.
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
Cartas entre Sophia e Jorge
1. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX – Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 “ Sophia de Mello Breyner, Jorge de Sena – Correspondência” junta as cartas que os dois escritores, Sophia de Mello Breyner (Porto, 1919-2004) e Jorge de Sena (Lisboa, 1919-Califórnia, 1978) trocaram de 1959, quando Sena partiu para o exílio, e 1978, data da morte do escritor. . Libelo implacável contra a mesquinhez de parte do mundo cultural português: ditadura salazarista . Retrato da luta política, ética e estética de dois criadores sublimes e dos momentos da história de Portugal dos anos 60 e 70.
2. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Carta(s) a Jorge de Sena I Não és navegador mas emigrante Legítimo português de novecentos Levaste contigo os teus e levaste Sonhos fúrias trabalhos e saudade; Moraste dia por dia a tua ausência No mais profundo fundo das profundas Cavernas altas onde o estar se esconde II E agora chega a notícia que morreste E algo se desloca em nossa vida in: Ilhas. Lisboa: Caminho, 2004. p. 41-42.
3. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Jorge de Sena “ Sou pessoalmente contra qualquer igreja organizada ou qualquer partido organizado , mas reconheço o direito de qualquer pessoa a ser um membro seja do que for, desde que a minha liberdade pessoal não seja com isso afectada. (…) … politicamente , sou contra qualquer espécie de ditadura (quer das maiorias, quer de minorias), e em favor da democracia representativa. Não tenho quaisquer ilusões acerca desta – pode ser uma máscara para o mais impiedoso dos imperialismos. (…) Sou a favor da paz e do entendimento entre as nações (…) Não subscrevo a divisão do mundo em Bons e Maus, entre Deus e o Diabo (estejam de qual lado estiverem). (…)
4. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Moralmente falando, sou um homem casado e pai de nove filhos, que nunca teve vocação para patriarca, e sempre foi a favor de a mais completa liberdade ser garantida a todas as formas de amor e de contacto sexual. Nenhuma liberdade estará jamais segura, em qualquer parte, enquanto uma igreja, um partido, ou um grupo de cidadãos hiper-sensíveis, possa ter o direito de governar a vida privada de alguém. Do mesmo modo, não devemos nunca pactuar com a ideia de que qualquer reforma vale o preço de uma vida humana. (…)” Santa Barbara, Julho de 1977 (parágrafo final do “Prefácio à Segunda Edição” de Poesia I, datado um ano antes do falecimento do escritor) De mim não falo mais :não quero nada. (…) Não há verdade:O mundo não a esconde. Tudo se vê: só se não sabe aonde. Mortais ou imortais, todos mentiram.
5. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Jorge de Sena: Entrevista (22/12/1968) in Diário de Lisboa Esta entrevista não passou despercebida à Policia Política do Governo Salazarista – PIDE. “ Não me arrependo de ter tido essas palavras Tive-as, não as tenho mais, elas me têm a mim.” Jorge de Sena, Pedra Filosofal
6. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 3 de Maio de 1808 em Madrid “ Para ter o gosto de dizer eternamente aos homens que não sejam bárbaros” (Goya) CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA, de Jorge de Sena (1963) Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. .
7. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Epígrafe para a Arte de Furtar Roubam-me Deus Outros o Diabo Quem cantarei Roubam-me a pátria E a humanidade Outros ma roubam Quem cantarei Sempre há quem roube Quem eu deseje E de mim mesmo Todos me roubam Quem cantarei Quem cantarei Roubam-me Deus Outros o Diabo Quem cantarei Roubam-me a patria E a humanidade Outros ma roubam Quem cantarei Roubam-me a voz Quando me calo Ou o silêncio Mesmo se falo Aqui d’el rei Aqui d’el rei (Jorge de Sena/ José Afonso)
8. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 SOPHIA Da lusitana antiga fidalguia um dizer claro e justo e franco uma concreta e certa geometria uma estética do branco debruado de azul. Sua escrita é de nau e singradura 1 e há nela o mar o mapa a maravilha. Sophia lê-se como quem procura a ilha sempre mais ao sul. Manuel Alegre 1 . Mar; acto de singrar (velejar); rumo por onde se singra.
9. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Merecida Homenagem a Sophia de Mello Breyner Tive amigos que morriam, amigos que partiam Outros quebravam o seu rosto contra o tempo. Odiei o que era fácil Procurei-te na luz, no mar, no vento. Sophia de Mello Breyner, "No Tempo Dividido e Mar Novo", 1985
10. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010 /2011 Independência Recuso-me a aceitar o que me derem. Recuso-me às verdades acabadas; recuso-me, também, às que tiverem pousadas no sem-fim as sete espadas. Recuso-me às espadas que não ferem e às que ferem por não serem dadas. Recuso-me aos eus-próprios que vierem a às almas que já foram conquistadas. Recuso-me a estar lúcido ou comprado e a estar sozinho ou estar acompanhado. Recuso-me a morrer. Recuso a vida. Recuso-me à inocência e ao pecado como a ser livre ou ser predestinado. Recuso tudo , ó Terra dividida! Jorge de Sena Liberdade Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade . Sophia de Mello Breyner
11. | Português – 10º ano | Poetas do Séc. XX Dina Baptista | www.sebentadigital.com EB 2,3/S de Vale de Cambra 2010011 Fontes: http://www.letras.ufrj.br/lerjorgedesena/port/vida/autoretrato/texto.php?id=101 http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/jdesena.html http://www.inforarte.com/cantando2/JorgedeSena1.html http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/SophiaMBreyner.htm http://www.astormentas.com/andresen.htm http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/sophia.htm Para saber mais: . Ficha de apoio a Sophia de Mello Breyner (Poesia); . Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya, de Jorge de Sena In www.sebentadigital.com .