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Confederación Iberoamericana de Asociaciones Científicas y Académicas de la Comunicación



Da prática à reflexão: a formação de gestores de projetos educomunicativos nas
escolas da rede municipal de São Paulo

(Trabalho apresentado ao GT de Educomunicação do I Congresso Mundial de Comunicação Ibero-
americana, realizado em agosto de 2011, na Escola de Comunicações e Artes da USP)

                                                                                                                        1
                                                                                           Silene de A G Lourenço
                                                                                                                        2
                                                                                                      Paola Prandini
                                                                                                                        3
                                                                                     Maria Izabel de Araújo Leão
                                                                                                                        4
                                                                                                         Alda Ribeiro
                                                                                                                        5
                                                                              Carmen Lucia Melges Elias Gattás



Resumo: Trata-se de uma discussão sobre a formação do “Gestor de Projetos Educomunicativos”, um
novo (per)curso para os educadores da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Sua missão é
identificar, estimular, planejar e implementar práticas educomunicativas no âmbito da escola, com o
compromisso de promover um modo de pensar aberto e livre através de uma Educação para e pela
Comunicação, do estímulo ao protagonismo infanto-juvenil e pela gestão e circulação democrática da
informação e do conhecimento no espaço escolar. Essa formação foi bem avaliada pelos participantes do
curso e, segundo seus próprios relatos, possibilitou a discussão e reflexão sobre as ações
educomunicativas das escolas.

Palavras-chave: Educomunicação, gestor de projetos, tecnologias da comunicação e da informação




Abstract: This article discusses the course called "Projects Management in Educommunication", a new
(per) course for teachers of schools in the city of São Paulo, Brazil. Its mission is to identify, encourage,
plan and implement practices in Educommunication within the school, with a commitment to
promote open thinking and free through Education and Communication, encouraging the children and
youth leadership. The aim is to encourage the circulation of democratic information and knowledge in
school. This training proved to be welcome by the participants of the course, which according to his own
accounts, allowed for discussion and reflection of the actions in Educommunication at school.

Key words: Educommunication, project manager, communication and information technologies



1
  Doutoranda em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do
Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: silene.lourenco@gmail.com
2
  Mestranda em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do
Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: paprandini@gmail.com
3
  Mestre em Comunicação Social e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do Programa Nas
Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: izabelwiz@gmail.com
4
  Mestranda da Pontificia Universidade Catolica de São Paulo. Pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP).
Assessora do Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: alda_ribeiro@uol.com.br
5
  Doutoranda em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação(ECA/USP). Assessora do
Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP).E-mail: caluga8@gmail.com
Introdução
         As tecnologias da comunicação e da informação estão chegando às escolas e são
poucos os que ainda apontam a necessidade de a escola se adaptar ao perfil das novas
gerações, nascidas e imersas na sociedade da imagem e do som, e prontas, desde cedo, a
interagir com suportes tecnológicos cada vez mais acessíveis e sofisticados.
         A integração das novas tecnologias aos processos pedagógicos, por sua vez,
tendem a alterar as formas de ensinar e de aprender, conferindo um novo papel ao
educador à medida que o educando ocupa o lugar central do processo de ensino-
aprendizagem6. No entanto, o potencial de desenvolvimento de formas mais autônomas
de aprendizado inerentes às novas tecnologias, e a possibilidade de construção
compartilhada e colaborativa do conhecimento criada pelas ferramentas da Web 2.0 7,
não garantem por si só as transformações almejadas. É preciso garantir que a inserção
das novas tecnologias em espaços educativos, além de estimular novas formas de
ensinar e aprender, reforce os valores solidários e democráticos necessários à construção
de uma sociedade mais justa.
         Assim, a apropriação das novas tecnologias deve ampliar as possibilidades de
comunicação entre professores e alunos e a humanização do espaço escolar; deve
estimular a expressão comunicativa de crianças e jovens e o protagonismo juvenil,
transformando simples expectadores em produtores criativos e originais de mídia.
         Esse processo exige, cada vez mais, a presença de gestores de recursos técnicos
e humanos, bem como de produtos midiáticos originados dos exercícios de autoria na
escola: profissionais que entendam o potencial educativo das mídias e a necessidade de
a escola apropriar-se coletiva e criticamente dessas ferramentas, de maneira a fazer
prevalecer os interesses sociais sobre os interesses privados e mercadológicos. Em
outras     palavras,       um      professor-mediador            dos     processos        comunicativos          ou




6
  Para Moran (2004), “o professor, em qualquer curso presencial, precisa hoje aprender a gerenciar vários espaços e a
integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula equipada e com
atividades diferentes, que se integra com a ida ao laboratório para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio
técnico-pedagógico. Estas atividades se ampliam e complementam a distância, nos ambientes virtuais de
aprendizagem e se complementam com espaços e tempos de experimentação, de conhecimento da realidade, de
inserção em ambientes profissionais e informais. Antes o professor só se preocupava com o aluno em sala de aula.
Agora, continua com o aluno no laboratório (organizando a pesquisa), na Internet (atividades a distância) e no
acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aluno à realidade, à sua profissão (ponto
entre a teoria e a prática)”. Disponível em <http://www.eca.usp.br/prof/moran/espacos.htm >. Acesso em 26/06/2011.
7
 O termo Web 2.0 não é empregado aqui com referência à atualização das especificações técnicas da Internet, mas à
mudança na forma como ela, cada vez mais, vem sendo encarada por usuários e desenvolvedores, ou seja, como
ambiente de interação, colaboração e cooperação que engloba inúmeras linguagens e intencionalidades.
educomunicador, conforme denomina o Núcleo de Comunicação e Educação da USP,
desde 19978.
         Estes são os pressupostos que, em 2011, levaram a equipe de assessores do
Programa Nas Ondas do Rádio, pertencente à Secretaria Municipal de Educação da
cidade de São Paulo, a oferecer um novo (per)curso para os educadores da rede,
possibilitando a reflexão sobre projetos e práticas por eles desenvolvidas. Trata-se da
formação denominada “Gestor de Projetos Educomunicativos” ou, simplesmente,
“Professor-Mediador”.


Projeto Educom. Rádio e Programa Nas Ondas do Rádio
         O Programa Nas Ondas do Rádio é resultado do desenvolvimento do Projeto
Educom.rádio – Educomunicação Nas Ondas do Rádio, que, em 2001, surgiu de uma
demanda social, acrescida de vontade política, para diminuir a violência nas escolas.
         O projeto, destinado a atender as 455 escolas de Ensino Fundamental do
município de São Paulo, propiciou a um grupo de aproximadamente 25 pessoas de cada
uma das unidades, um curso de 100 horas de duração, oferecido aos sábados, ao longo
de um semestre, mediante o qual a comunidade escolar entrava em contato com o
conceito de Educomunicação: discutia as relações entre a comunicação e os temas
transversais ao currículo escolar como multiculturalismo, protagonismo juvenil, saúde,
meio ambiente, participação política, etc., e aprendia a manejar a linguagem
radiofônica, usando-a para exercitar a capacidade de expressão dos indivíduos para
atingirem seus objetivos de forma colaborativa.
         Em 28 de dezembro de 2004, a então Prefeita Marta Suplicy transforma o
Projeto Educom.radio em Lei Municipal. De acordo com a Lei 13.941, cabe ao poder
municipal criar programas para “desenvolver e articular práticas de Educomunicação,
incluindo a radiodifusão restrita, a radiodifusão comunitária, bem como toda forma de
veiculação midiática, de acordo com a legislação vigente, no âmbito da administração
municipal”, além de “incentivar atividades de rádio e televisão comunitária em
equipamentos públicos”. O governo municipal deverá, ainda, “capacitar, em atividades
de Educomunicação, os dirigentes e coordenadores de escolas e equipamentos de
cultura do Município”. 9


8
  SOARES, Ismar de Oliveira. O perfil do educomunicador. Disponível em:
<http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/29.pdf >. Acesso em 26/06/2011.
9
  LEI Nº 13.941, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2004. Disponível em
<http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt=29122004L
139410000&secr=&depto=&descr_tipo=LEI> . Acesso em 26/06/2011.
A Lei Educom, como foi denominado o documento legal, foi regulamentada
pelo Prefeito José Serra em 15 de agosto de 2005. Tanto o projeto de lei, de autoria do
vereador Carlos Neder, quanto seu projeto de regulamentação, contaram com a
assessoria do Prof. Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e
Educação da ECA/USP e responsável pela implantação do Projeto Educom.rádio.
       No dia 15 de dezembro de 2009, o Secretário da Educação, Alexandre Alves
Schneider, editou a Portaria Nº 5.792, definindo normas complementares e
procedimentos para a aplicação da Lei Educom, através do “Programa nas Ondas do
Rádio”, nas Escolas Municipais de Educação Infantil – EMEIs; Escolas Municipais de
Ensino Fundamental – EMEFs; Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos –
CIEJAs; Escolas Municipais de Educação Especial – EMEEs e nas Escolas Municipais
de Ensino Fundamental e Médio – EMEFMs.
       Ao se transformar em política pública, o Programa Nas Ondas do Rádio cria as
condições para continuidade e ampliação da proposta, que se concretiza por meio de
novos projetos nas escolas.


A opção por projetos
       A opção por se trabalhar com projetos não é original. Ela está presente em
muitas áreas de atuação profissional, inclusive a pedagógica, fazendo parte, cada vez
mais, da cultura escolar. Nesse âmbito, especificamente, a ideia de projeto se concretiza
por meio de atividades que se desenvolvem em torno da resolução de problemas. Em
outras palavras, são experiências de trabalho em equipe motivadas por desafios que
exigem ações coordenadas para que determinados objetivos sejam alcançados. A troca
de conhecimentos e a cooperação entre os pares são, nesse sentido, necessárias, o que
faz um projeto ser interdisciplinar por natureza.
       Essa tendência está diretamente relacionada com as transformações econômicas,
políticas e sociais impulsionadas pelo avanço tecnológico que altera a ordem até então
estabelecida e cria novos desafios para a humanidade.
       Estamos falando de uma sociedade marcada por um ritmo de vida acelerado e
que tem cada vez mais acesso às inovações tecnológicas. Essas inovações estão
alterando as noções de tempo e de espaço, abalando antigas crenças, tradições e gerando
incertezas em relação ao futuro.
       Segundo Castells (1999, p. 69):
                       As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a
                       serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores
                       podem tornar-se a mesma coisa. Dessa forma, os usuários podem assumir o
controle da tecnologia como no caso da internet (...). Pela primeira vez na
                       história, a mente humana é uma força direta da produção, não apenas um
                       elemento decisivo no sistema produtivo.


       A escola é, sem dúvida, uma das instituições mais atingidas por essas
transformações. Com a perda do poder hegemônico sobre a transmissão do
conhecimento – hoje as informações estão disponíveis e acessíveis a (quase) todos – a
escola busca um novo sentido para a sua existência, sentido esse que deverá lhe conferir
novamente legitimidade social.
       Essa busca tem sido marcada pela tentativa de corresponder às ansiedades e às
necessidades das novas gerações, que crescem em contato com as tecnologias e são
pressionadas - desde muito cedo - por um mercado de trabalho instável e, cada vez
mais, competitivo. Essas mesmas gerações são convocadas a participar da construção de
uma nova sociedade, tendo em vista a emergência com que certas questões precisam ser
tratadas e, entre elas, a sustentabilidade do planeta.
       Nesse sentido, ficam evidentes as competências e habilidades exigidas pelos
novos tempos. Além da busca permanente e autônoma por novos conhecimentos, as
pessoas precisam estar aptas a tomar decisões rápidas e criativas diante de problemas
complexos. Essa complexidade, por sua vez, exige trabalho em equipe e tomada de
decisões conjuntas; em outras palavras, espírito de coletividade e cooperação.
       No entanto, essa realidade é vivenciada de forma contraditória, já que as
transformações tecnológicas ocorrem no contexto da ordem capitalista internacional e
são por ela impulsionadas. O capitalismo, por sua vez, é um sistema que estimula a
guerra entre as nações, a disputa de mercado, o consumo desenfreado, a competição
entre os indivíduos e a luta pelos interesses pessoais.
       A escola, neste contexto, se apresenta como instância mediadora que, através de
uma educação humanista, pode ajudar crianças e jovens a desenvolverem uma visão
mais crítica do mundo, buscando construir novos modelos que superem estas
contradições. Isso significa prepará-los para além dos interesses e das necessidades do
mercado; significa, pois, prepará-los para a vida de maneira a que possam se sentir
confortáveis no mundo.
       Nesse sentido, surge a Pedagogia de Projetos, metodologia de ensino-
aprendizagem que parte dos conhecimentos dos alunos e de suas experiências cotidianas
para abordagem dos conteúdos acadêmicos. Essa abordagem, no entanto, deve partir de
uma situação-problema vivida ou percebida e para a qual se busca entendimento e
solução. Dessa forma, surge a concepção de projeto, isto é, um conjunto de ações
planejadas e coordenadas para atingir determinado fim. Essas ações são baseadas no
diálogo entre as experiências empíricas dos alunos e os conteúdos acadêmicos. Desse
diálogo, surgem, então, novos conhecimentos. Assim, ao optar pela Pedagogia de
Projetos, a escola deixa de ser o local de transmissão de conteúdo para ser um local
onde o conhecimento é construído colaborativamente, com a intensa participação dos
educandos.
       Nesse contexto,
                     o aluno é estimulado a reconhecer o seu papel dentro da engrenagem social,
                     percebendo seus potenciais diante das situações, ele também reconhecerá as
                     suas possibilidades de ação. Partindo da comunidade local, os projetos
                     objetivam mostrar também como as comunidades se enquadram dentro da
                     sociedade, como as relações sociais se estabelecem. (Apud ANDRADE &
                     ROMANCINI, 2009, p.3)


       O trabalho com projetos, portanto, exige a busca e a troca permanente de
informações em torno das questões problematizadoras que lhes dão origem. Assim,
trabalhar em equipe é uma necessidade. O trabalho em equipe, por sua vez, provoca o
confronto de opiniões, o que exige respeito e flexibilidade entre os pares. A
comunicação, portanto, assume um papel de destaque na Pedagogia de Projetos. Além
disso, uma concepção democrática de educação deve promover a socialização dos
conhecimentos construídos no âmbito da escola, criando a necessidade de se ter canais
de divulgação e comunicação com a comunidade do entorno.
       Nesse ponto, percebemos a aproximação entre a Educomunicação e a Pedagogia
de Projetos. A Educomunicação pode facilitar o desenvolvimento de projetos na medida
em que estimula o protagonismo de crianças e adolescentes, promove o diálogo e
desenvolve a capacidade de expressão. Assim, a educomunicação ajuda a construir a
base das relações interpessoais na escola e a democratizar o conhecimento por meio da
apropriação das tecnologias da informação e da comunicação. Por outro lado, quando o
tema gerador de um projeto está intimamente ligado a problemas de comunicação na
escola, então temos um projeto educomunicativo por excelência.


Natureza dos projetos educomunicativos
       Entendemos por projetos educomunicativos iniciativas que tenham por objetivo
promover o direito à liberdade de expressão e relações mais democráticas nas escolas.
Para atingir esse objetivo, as ações educomunicativas precisam ser encaradas como
exercícios pedagógicos, uma vez que a democracia - ainda em construção na nossa
sociedade - requer novos aprendizados.
Soma-se a isso a necessidade das escolas incorporarem as novas tecnologias da
comunicação e da informação (TICs) aos processos de ensino-aprendizagem para
corresponder às expectativas das novas gerações, tão familiarizadas com essas
ferramentas e suas linguagens. A adaptação da escola a essa nova realidade, no entanto,
não pode ser guiada pelas tendências de mercado, pois isso significaria tornar a escola
refém dos interesses econômicos da indústria da informática e do audiovisual, conforme
apontam Silva e Moreira (1995, p.33):
                       [...] As novas tecnologias e a informática ilustram profundas transformações
                       que estão se dando na esfera de produção do conhecimento
                       técnico/administrativo. [...] não incorporar uma compreensão dessas
                       transformações à nossa teorização curricular crítica significará entregar a
                       direção de sua incorporação à educação e ao currículo nas mãos de forças que
                       as utilizarão fundamentalmente para seus objetivos mercadológicos e de
                       preparação de mão-de-obra adequada aos fins de acumulação e legitimação.


       Podemos afirmar, então, que um projeto educomunicativo é uma ação planejada
a partir de certos princípios que, em conjunto, definem a sua natureza. Vejamos, a
seguir, quais seriam esses princípios.


1) Educação para e pela Comunicação
       Uma vez que a educomunicação nasce da aproximação entre a comunicação e a
educação, um projeto educomunicativo deve caminhar por via de mão dupla,
promovendo a educação para a comunicação e a comunicação para a educação. Em
outras palavras, um projeto de educomunicação na escola deve estimular a reflexão
crítica sobre as mídias, por um lado, e a apropriação de suas ferramentas e linguagens
por meio de exercícios de autoria, por outro, com incentivo à criatividade e autonomia
dos sujeitos frente aos meios.
       Não se trata, pois, de reforçar a resistência diante das mudanças ou de estimular
posturas preconceituosas em relação à mídia, mas de propor a incorporação das novas
tecnologias à educação de forma criteriosa, tendo em vista o bem da coletividade e a
humanização do espaço escolar.


2) Estímulo ao protagonismo infanto-juvenil
       O objetivo de estímular o protagonismo infanto-juvenil é desenvolver a
iniciativa e a autonomia dos estudantes, tornando-os capazes de encontrar soluções
próprias para enfrentar os problemas. A iniciativa e a construção da autonomia, por sua
vez, passa pelo desenvolvimento da capacidade de expressão, que, aliás, é condição para
o exercício do direito à liberdade de expressão. Assim, faz parte da natureza de um
projeto educomunicativo o exercício do direito à liberdade de expressão dos educandos
e a incorporação do erro (“ruído” na comunicação) como parte do aprendizado.


3) Gestão e circulação democrática da informação e do conhecimento
          A gestão educomunicativa é democrática por natureza. Tem por compromisso o
estabelecimento de relações de poder horizontais em espaços educativos, em oposição
às estruturas rígidas e verticalizadas que marcam a cultura escolar. Isso significa
conquistar o reconhecimento do direito à voz e ao voto, tanto de educadores quanto de
educandos, nos processos decisórios que influenciam a todos, considerando, ainda, em
alguns momentos, a participação da comunidade do entorno.
          A horizontalidade das relações, por sua vez, deve contribuir para uma melhor
circulação das informações, para a democratização do conhecimento, para a construção
do saber de forma compartilhada e para uma convivência mais humana no espaço
escolar. Note-se aqui que a complexidade é uma marca dos projetos educomunicativos.
Em consequência, a natureza complexa desses projetos tem exigido a presença de
educadores com capacidade de gestão de processos e ferramentas de comunicação, além
de habilidade para mediação de conflitos.
          Como “educomunicador” é um nome ainda não legitimado no âmbito da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, continuaremos a chamar de professor-
mediador esse profissional, cujo perfil, competências e habilidades são descritas a
seguir.


O perfil do professor-mediador
          O papel do professor-mediador seria o de identificar, estimular, planejar e
implementar práticas educomunicativas no âmbito da escola, isto é, iniciativas
pedagógicas nascidas da aproximação entre Comunicação e Educação, com o
compromisso de promover a democracia e a liberdade de expressão no espaço escolar.
Resumidamente, um sujeito capaz de: reconhecer o potencial educativo dos meios de
comunicação, identificar problemas e soluções relacionados à comunicação no espaço
escolar e promover a apropriação das novas tecnologias, tendo em vista a melhoria das
relações e a construção de uma sociedade mais democrática.
Embora tenha como uma de suas principais preocupações a democratização do
acesso às novas tecnologias, o professor-mediador não se encaixa no perfil do educador
tecnológico, mas sim do educador humanista10. Vejamos a diferença.
         Os educadores tecnológicos, encantados com as inovações, procuram ressaltar os
avanços dos softwares, a velocidade da transmissão de dados e as soluções telemáticas.
Estão preocupados em ampliar o número de alunos atendidos simultaneamente em
ambientes virtuais de aprendizagem, reforçando uma concepção de educação com foco
nos conteúdos. Nesse caso, a autoaprendizagem é estimulada, antes de tudo, com a
intenção de se reduzir os custos da Educação por meio do ensino a distância.
Consequentemente, as interações entre os sujeitos do processo ensino-aprendizagem –
professor-tutor-aluno – são reduzidas ao mínimo possível.
         Os educadores humanistas, por sua vez, acreditam na construção – e não
transmissão – do conhecimento. Essa construção se dá de forma compartilhada, por isso
investem na formação de comunidades de aprendizagem, sejam elas presenciais ou
virtuais, enfatizando a interação não apenas com o conteúdo, mas principalmente, entre
os próprios sujeitos envolvidos no processo. A comunicação humana é, nesse caso, a
base da educação aqui estabelecida.
         A partir do perfil traçado para esse profissional, procurou-se então identificar as
competências e habilidades que deveriam ser desenvolvidas pelo mesmo.


Competências e habilidades
         Primeiramente, percebeu-se que o professor-mediador deveria conseguir abstrair
os princípios e valores que norteiam as práticas educomunicativas. O professor, tomado
pelos problemas e desafios diários, muitas vezes não pára para refletir sobre sua prática
e não se percebe como agente transformador do espaço escolar. Deixa de ser sujeito
consciente e passa à condição de objeto do sistema educativo. Nessa condição, corre o
risco de incorporar as tecnologias da informação e da comunicação à sua prática
pedagógica sem critério e sem criticidade.
         Refletir sobre a presença das novas tecnologias na escola a partir do conceito de
Educomunicação é o caminho – ou paradigma – oferecido aos educadores, para que
entendam o papel que as tecnologias e a própria comunicação poderão assumir na
escola e na comunidade, e a partir daí tomem suas decisões e façam suas próprias
escolhas.

10
  MIDIAS NA EDUCAÇÃO. Módulo Introdutório - Integração de Mídias na Educação. Etapa1. Disponível em:
<http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/gestao/ges_basico/etapa_1/p7.html >. Acesso em: 26/06/2011.
Segundo Ismar de Oliveira Soares, o que se busca com a educomunicação,
                          é um esforço processual coletivo - envolvendo direção, professores e alunos de
                          uma escola - no sentido da comunidade se apoderar não apenas das novas
                          linguagens, mas principalmente dos conceitos e métodos inerentes ao
                          planejamento e execução de propostas voltadas a criar um novo ambiente de
                          comunicação em espaços educativos, aberto e criativo, mediante o uso das
                          formas de expressão (como o teatro, o canto e dança) e/ou as tecnologias da
                                                                                      11
                          informação, como a imprensa, o rádio, o vídeo e a Internet.

        Da mesma forma, o professor-mediador deve conhecer o Programa Nas Ondas
do Rádio desde sua origem, como demanda social que resultou em importante política
pública, representando mais uma conquista na luta pela construção de uma sociedade
democrática. A partir do histórico, dos objetivos e da legislação que o sustenta, saber o
que fazer no âmbito da escola, assim como e por que fazer.
        Além da apropriação dos conceitos que embasam a Educomunicação e do amplo
entendimento do Programa Nas Ondas do Rádio, entendem-se como competências e
habilidades do professor-mediador:
        ● A apropriação crítica das novas tecnologias;
        ● A capacidade de promover o protagonismo infanto-juvenil e a competência
             comunicativa dos estudantes;
        ● A implementação de processos colaborativos de aprendizagem em oposição à
             comunicação e à educação verticalizadas;
        ● A gestão do conhecimento com ênfase nos recursos humanos e tecnológicos;
        ● A elaboração e implementação de projetos educomunicativos no contexto
             escolar;
        ● O domínio das ferramentas tecnológicas disponíveis na escola e de suas
             linguagens;
        ● A capacidade de mediar conflitos;
        ● A promoção do diálogo entre os segmentos da comunidade escolar.
        Definidas as competências e habilidades do professor-mediador, procurou-se
ajustar as necessidades às condições concretas para a formação. O curso, assim, foi
desenvolvido em 16 horas, divididas em três ou quatro encontros de formação,
conforme a demanda das Diretorias Regionais de Ensino que inicialmente tiveram
interesse pela formação. Foram elas: Campo Limpo, Freguesia do Ó, Itaquera, Penha e
Santo Amaro.

11
   Entrevista concedida para a entidade Nos da Comunicação. Disponível em:
<http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=111&tipo=G>. Acesso: 28/06/2011.
Estrutura do curso
1º encontro – Projetos Educomunicativos: o que são, por que e como implementá-los
          O objetivo do primeiro dia do curso foi ressaltar as razões de se trabalhar com
projetos, mostrando o diferencial de um projeto educomunicativo no âmbito escolar.
Primeiramente, abriu-se uma discussão sobre o que seria um projeto, como trabalhar a
partir dessa metodologia e como implementar um projeto educomunicativo na escola.
          A seguir, foram realizados estudos de caso inspirados em situações reais vividas
em escolas da rede pública. Em grupos, os educadores deveriam refletir sobre possíveis
soluções para as situações-problema e socializar o resultado por meio de esquetes
teatrais12.
          Concluída essa etapa, os educadores, então, foram convidados a sistematizar as
soluções propostas e, dessa maneira, responder, de forma definitiva, as questões
levantadas no início do dia.13 Como tarefa da semana, propôs-se um trabalho de
diagnóstico junto às escolas por meio de questões como: qual modelo de ensino está
sendo reforçado pela forma como a comunicação acontece? Os usos das ferramentas
estão enfatizando o conteúdo, o resultado ou o processo? Tem permitido transformar
receptores passivos em produtores ativos de mensagens midiáticas?
2º encontro – A escola como ecossistema comunicativo, o papel do gestor de projetos
educomunicativos e os fluxos de comunicação na escola
          O segundo encontro iniciou-se com uma conversa sobre as necessidades e os
desejos de mudança identificados pelos educadores a partir do exercício de diagnóstico
realizado nas escolas. A partir dessa discussão, foi possível sistematizar o conceito de
Educomunicação, e identificar ações educomunicativas concretas ou em potencial nas
escolas, juntamente com os educadores e mediante o relato de suas próprias
experiências. Ao formador coube promover a reflexão e a construção compartilhada do
conhecimento, com formulação de conceitos a partir da observação crítica da realidade.
Em outras palavras, o papel do formador foi estimular o processo de abstração


12
    Fotos de esquetes teatrais foram disponibilizadas na internet. Para acessá-las, deve-se cadastrar gratuitamente no
site: < nasondasdoradio.ning.com>
13
   Cabia ao formador avaliar se as esquetes refletiam, de fato, o problema e se haviam sido identificados todos os
elementos envolvidos na situação. Era de extrema importância observar o uso de narrativas com enfoque nos recursos
materiais ou nas relações humanas para a resolução do problema, bem como o uso ou não, adequado ou não, das
mídias, e se fora levado em conta a necessidade de um planejamento adequado e o apontamento de instrumentos de
avaliação dos objetivos alcançados. Ademais, o mediador deveria observar se alguma articulação com o Programa
Nas Ondas do Rádio fora feita pelos grupos ao refletirem sobre os problemas.
(racionalização) sem deixar o grupo se pautar exageradamente pela emotividade, numa
espécie de “terapia em grupo”.
         Assim, a partir do conceito de ecossistema comunicativo - apresentado como
espaço (abstrato) de convivência e de trocas no qual ocorre a ação comunicativa, foi
delineado o perfil do professor-mediador: um sujeito que deverá promover a
democratização do acesso aos meios de comunicação, o estímulo às interações sociais
presencias e à distância, e o estudo amplo e contínuo das influências dos meios de
comunicação no ambiente escolar, tendo em vista a construção de um ecossistema
comunicativo aberto, criativo e no qual prevalecem as relações horizontais, em oposição
aos espaços rígidos, fechados e hierarquizados que marcaram a Educação no Brasil por
muitos anos.
         Na sequência, foi proposta a seguinte atividade: com o apoio da ferramenta
Microsoft Power Point, representar o ecossistema comunicativo da escola por meio de
um fluxograma, sinalizando os “locais” onde “ruídos” na comunicação são percebidos.
A partir do fluxograma, os educadores passariam a refletir sobre como as ferramentas da
comunicação poderiam se tornar aliadas na construção de um ecossistema
EDUcomunicativo de fato.


3º encontro – Por que e como escrever um projeto
         O terceiro dia de formação iniciou-se com uma reflexão sobre a atividade
desenvolvida no segundo encontro, isto é, o fluxograma. Durante o debate, o formador
assumiu o papel de traduzir os “ruídos” em necessidades objetivas, pontuais e balizadas,
de forma que pudessem ser atendidas por projetos.
         Depois de apresentar um trecho do longa-metragem francês “Entre os Muros da
           14
Escola”         , o formador, então, propôs aos educadores que pensassem em suas próprias
necessidades e, dentre elas, elegessem uma prioridade: melhorar o fluxo de informações
na escola? Melhorar as relações interpessoais? Diminuir a violência? Ampliar a
participação da comunidade? Outra?
         O grupo, então, foi levado a perceber a necessidade de um plano de ação, a fim
de minimizar problemas identificados em seus ambientes de trabalho. Esse plano deve
levar em conta a necessidade de negociação para garantir os recursos necessários, deve
considerar a participação efetiva dos estudantes, deve prever o diálogo como forma de

14
  O trecho exibido apresenta um educador que, angustiado com a indisciplina, o desinteresse e as dificuldades de
seus alunos, consegue estabelecer uma relação dialógica através de uma ação educomunicativa, e, assim, melhorar o
desempenho dos educandos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=WHkcfDjbsgM&feature=related>
mediar os conflitos, deve estabelecer mecanismos de avaliação do processo e dos
resultados. Em outras palavras, é preciso elaborar uma proposta de trabalho, documentá-
la e aprová-la junto à supervisão e ao Programa Nas Ondas do Rádio, e garantir as
condições mínimas para o alcance dos objetivos pretendidos.
       Com base nos conceitos discutidos e a partir do modelo disponibilizado pelo
formador, os educadores foram, então, encorajados a escreverem seus próprios projetos
e produzirem um teaser15 publicitário para divulgação do mesmo na escola.


4º encontro - Instrumentos de Avaliação, Gestão do conhecimento e Gestão dos
recursos e produtos da comunicação
         Inicialmente, os projetos e teasers produzidos pelos educadores foram
socializados e, com base nas informações por eles apresentadas, coube ao formador
falar da importância dos instrumentos de avaliação para acompanhar as várias etapas de
desenvolvimento de um projeto, aferir resultados, analisar o impacto de uma
intervenção, conferir o cumprimento de metas estabelecidas etc.
         Como base para a construção desses instrumentos, apresentou-se o conceito de
gestão educomunicativa: uma gestão ética e participativa. Dessa maneira, foi discutida a
necessidade da escola manter-se aberta e em contato permanente com a comunidade e a
sociedade como um todo. Foram apresentadas como ferramentas de gestão da
informação e da comunicação: email, listas de discussão, banco de dados, redes sociais,
comunidades de aprendizagem, entre outras. Afinal, não adianta apenas informar, é
necessário que se estabeleçam trocas em espaços que se pretendam educomunicativos.
         Partindo dessas premissas, os educadores foram orientados na elaboração de
instrumentos de avaliação tomando como ponto de partida seus próprios projetos e os
objetivos neles traçados. Vale ressaltar que foram disponibilizados um modelo de
avaliação e um tutorial explicativo de como criar um formulário online por meio da
ferramenta spreadsheet do Google.


Conclusão
         O curso “Gestor de Projetos Educomunicativos”, não só revelou a necessidade
de se criar espaços de discussão sobre as ações educomunicativas no âmbito da Rede
Municipal de Educação da cidade de São Paulo, como também confirmou a existência

15
  O teaser é um anúncio de curta duração, geralmente entendido como parte integrante de uma campanha publicitária
mais extensa. Ele busca, prioritariamente, despertar a curiosidade do interlocutor para uma novidade, geralmente
compreendido como primeira etapa de uma campanha publicitária.
de uma demanda pela legitimação de um profissional capaz de gerir projetos de
Educomunicação nas escolas.
       Os educadores puderam trocar experiências e construir coletivamente uma
percepção do papel do professor-mediador dentro e fora da sala de aula. Esse
profissional requer uma visão ampla do contexto em que está inserida a escola pública,
e da complexidade do envolvimento de toda a comunidade em ações voltadas para a
construção coletiva e solidária do conhecimento.
       O curso permitiu ainda que os educadores fizessem uma distinção entre um
projeto educomunicativo e um projeto de tecnologia educativa. Percebeu-se que um
projeto educomunicativo deve ir além do uso das tecnologias em si. Essas devem ser
utilizadas em prol da cultura da paz, da democracia e da liberdade responsável de
expressão.
       Isto significa construir espaços de encontro em que os diferentes pontos de vista
possam ser discutidos e negociados a favor de uma escola democrática e preocupada
com a resolução de seus problemas, pois o papel do
              ensino é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa
              condição e nos ajude a viver, e que fortaleça, ao mesmo tempo, um modo de pensar
              aberto e livre. (MORIN, 2003, p.11)



Referências bibliográficas

ANDRADE, Lílian B.P. de; ROMANCINI, Richard. Educomunicação e pedagogia de
projetos: abordagens e convergências. Trabalho apresentado no XXXII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação (INTERCOM), Curitiba, 4 a 7 de Setembro de
2009. Disponível em: <http://www.slideshare.net/FatimaCosta10/educomunicao-e-
pedagogia-de-projetos> Acesso em: 26/06/2011.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo:
Paz e Terra, 1999.
MELO, Teresa.O "ecossistema comunicativo" do educom.rádio. Disponível em:
<http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/68.pdf >. Acesso em: 26/06/2011.
MIDIAS NA EDUCAÇÃO. Módulo Introdutório - Integração de Mídias na Educação.
Etapa 1. Disponível em:
<http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/gestao/ges_basico/etapa_1/p7.ht
ml>. Acesso em: 26/06/2011.
MORAN, José Manuel. Os novos espaços de atuação do educador com as tecnologias.
Texto publicado nos anais do 12º Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de
Ensino, in ROMANOWSKI, Joana Paulin et al (Orgs). Conhecimento local e
conhecimento universal: Diversidade, mídias e tecnologias na educação. vol 2,
Curitiba, Champagnat, 2004, páginas 245-253. Disponível em
<http://www.eca.usp.br/prof/moran/espacos.htm>. Acesso em 26/06/2011.
MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p.11.
MOREIRA, Antonio & SILVA, Tomaz. Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo:
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SALVATIERRA, Eliany. Ecossistema cognitivo e comunicativo. Disponível em: <
http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/201.pdf >. Acesso em: 26/06/2011.
SALVATIERRA, Eliany S.; LAGO, Cláudia e LEÃO, Maria Izabel de A. A
democratização dos meios pelo projeto educom.radio: um sonho possível. Disponível
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SALVATIERRA. E.; LOURENÇO, Silene de A. G. Rádio e escola: a tecnologia a
serviço de ecossistemas comunicativos e do protagonismo juvenil. Disponível em:
<http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/radio/radio_intermediario/pdfs/ec
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SARTORI, Ademilde S.; SOARES, Maria Salete P. Concepção dialógica e as NTIC: a
educomunicação e os ecossistemas comunicativos. Disponível em:
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SOARES, Ismar de Oliveira. Planejamento e avaliação dos projetos de comunicação.
Disponível em <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/131.pdf>. Acesso em
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_________. Ecossistemas comunicativos. Disponível em:
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_________. Educomunicação - o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições
para a reforma do Ensino Médio. 1ªed. São Paulo: Paulinas, 2011.
_________. O perfil do educomunicador. Disponível em: <
http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/29.pdf >. Acesso em 26/06/2011.
STEFHANOU, Luis; MÜLLER, Lúci Helena; CARVALHO, Isabel Cristina de
M. Guia para elaboração de projetos sociais. 2ªed. São Leopoldo/RS: Sinodal, 2003.

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Programa educação para o futuro revisão 25-08
 

Da prática à reflexão: a formação de gestores de projetos educomunicativos nas escolas da rede municipal de São Paulo

  • 1. Confederación Iberoamericana de Asociaciones Científicas y Académicas de la Comunicación Da prática à reflexão: a formação de gestores de projetos educomunicativos nas escolas da rede municipal de São Paulo (Trabalho apresentado ao GT de Educomunicação do I Congresso Mundial de Comunicação Ibero- americana, realizado em agosto de 2011, na Escola de Comunicações e Artes da USP) 1 Silene de A G Lourenço 2 Paola Prandini 3 Maria Izabel de Araújo Leão 4 Alda Ribeiro 5 Carmen Lucia Melges Elias Gattás Resumo: Trata-se de uma discussão sobre a formação do “Gestor de Projetos Educomunicativos”, um novo (per)curso para os educadores da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Sua missão é identificar, estimular, planejar e implementar práticas educomunicativas no âmbito da escola, com o compromisso de promover um modo de pensar aberto e livre através de uma Educação para e pela Comunicação, do estímulo ao protagonismo infanto-juvenil e pela gestão e circulação democrática da informação e do conhecimento no espaço escolar. Essa formação foi bem avaliada pelos participantes do curso e, segundo seus próprios relatos, possibilitou a discussão e reflexão sobre as ações educomunicativas das escolas. Palavras-chave: Educomunicação, gestor de projetos, tecnologias da comunicação e da informação Abstract: This article discusses the course called "Projects Management in Educommunication", a new (per) course for teachers of schools in the city of São Paulo, Brazil. Its mission is to identify, encourage, plan and implement practices in Educommunication within the school, with a commitment to promote open thinking and free through Education and Communication, encouraging the children and youth leadership. The aim is to encourage the circulation of democratic information and knowledge in school. This training proved to be welcome by the participants of the course, which according to his own accounts, allowed for discussion and reflection of the actions in Educommunication at school. Key words: Educommunication, project manager, communication and information technologies 1 Doutoranda em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: silene.lourenco@gmail.com 2 Mestranda em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: paprandini@gmail.com 3 Mestre em Comunicação Social e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: izabelwiz@gmail.com 4 Mestranda da Pontificia Universidade Catolica de São Paulo. Pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (ECA/USP). Assessora do Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP). E-mail: alda_ribeiro@uol.com.br 5 Doutoranda em Ciências da Comunicação e pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação(ECA/USP). Assessora do Programa Nas Ondas do Rádio (SMESP).E-mail: caluga8@gmail.com
  • 2. Introdução As tecnologias da comunicação e da informação estão chegando às escolas e são poucos os que ainda apontam a necessidade de a escola se adaptar ao perfil das novas gerações, nascidas e imersas na sociedade da imagem e do som, e prontas, desde cedo, a interagir com suportes tecnológicos cada vez mais acessíveis e sofisticados. A integração das novas tecnologias aos processos pedagógicos, por sua vez, tendem a alterar as formas de ensinar e de aprender, conferindo um novo papel ao educador à medida que o educando ocupa o lugar central do processo de ensino- aprendizagem6. No entanto, o potencial de desenvolvimento de formas mais autônomas de aprendizado inerentes às novas tecnologias, e a possibilidade de construção compartilhada e colaborativa do conhecimento criada pelas ferramentas da Web 2.0 7, não garantem por si só as transformações almejadas. É preciso garantir que a inserção das novas tecnologias em espaços educativos, além de estimular novas formas de ensinar e aprender, reforce os valores solidários e democráticos necessários à construção de uma sociedade mais justa. Assim, a apropriação das novas tecnologias deve ampliar as possibilidades de comunicação entre professores e alunos e a humanização do espaço escolar; deve estimular a expressão comunicativa de crianças e jovens e o protagonismo juvenil, transformando simples expectadores em produtores criativos e originais de mídia. Esse processo exige, cada vez mais, a presença de gestores de recursos técnicos e humanos, bem como de produtos midiáticos originados dos exercícios de autoria na escola: profissionais que entendam o potencial educativo das mídias e a necessidade de a escola apropriar-se coletiva e criticamente dessas ferramentas, de maneira a fazer prevalecer os interesses sociais sobre os interesses privados e mercadológicos. Em outras palavras, um professor-mediador dos processos comunicativos ou 6 Para Moran (2004), “o professor, em qualquer curso presencial, precisa hoje aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula equipada e com atividades diferentes, que se integra com a ida ao laboratório para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio técnico-pedagógico. Estas atividades se ampliam e complementam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem e se complementam com espaços e tempos de experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes profissionais e informais. Antes o professor só se preocupava com o aluno em sala de aula. Agora, continua com o aluno no laboratório (organizando a pesquisa), na Internet (atividades a distância) e no acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aluno à realidade, à sua profissão (ponto entre a teoria e a prática)”. Disponível em <http://www.eca.usp.br/prof/moran/espacos.htm >. Acesso em 26/06/2011. 7 O termo Web 2.0 não é empregado aqui com referência à atualização das especificações técnicas da Internet, mas à mudança na forma como ela, cada vez mais, vem sendo encarada por usuários e desenvolvedores, ou seja, como ambiente de interação, colaboração e cooperação que engloba inúmeras linguagens e intencionalidades.
  • 3. educomunicador, conforme denomina o Núcleo de Comunicação e Educação da USP, desde 19978. Estes são os pressupostos que, em 2011, levaram a equipe de assessores do Programa Nas Ondas do Rádio, pertencente à Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo, a oferecer um novo (per)curso para os educadores da rede, possibilitando a reflexão sobre projetos e práticas por eles desenvolvidas. Trata-se da formação denominada “Gestor de Projetos Educomunicativos” ou, simplesmente, “Professor-Mediador”. Projeto Educom. Rádio e Programa Nas Ondas do Rádio O Programa Nas Ondas do Rádio é resultado do desenvolvimento do Projeto Educom.rádio – Educomunicação Nas Ondas do Rádio, que, em 2001, surgiu de uma demanda social, acrescida de vontade política, para diminuir a violência nas escolas. O projeto, destinado a atender as 455 escolas de Ensino Fundamental do município de São Paulo, propiciou a um grupo de aproximadamente 25 pessoas de cada uma das unidades, um curso de 100 horas de duração, oferecido aos sábados, ao longo de um semestre, mediante o qual a comunidade escolar entrava em contato com o conceito de Educomunicação: discutia as relações entre a comunicação e os temas transversais ao currículo escolar como multiculturalismo, protagonismo juvenil, saúde, meio ambiente, participação política, etc., e aprendia a manejar a linguagem radiofônica, usando-a para exercitar a capacidade de expressão dos indivíduos para atingirem seus objetivos de forma colaborativa. Em 28 de dezembro de 2004, a então Prefeita Marta Suplicy transforma o Projeto Educom.radio em Lei Municipal. De acordo com a Lei 13.941, cabe ao poder municipal criar programas para “desenvolver e articular práticas de Educomunicação, incluindo a radiodifusão restrita, a radiodifusão comunitária, bem como toda forma de veiculação midiática, de acordo com a legislação vigente, no âmbito da administração municipal”, além de “incentivar atividades de rádio e televisão comunitária em equipamentos públicos”. O governo municipal deverá, ainda, “capacitar, em atividades de Educomunicação, os dirigentes e coordenadores de escolas e equipamentos de cultura do Município”. 9 8 SOARES, Ismar de Oliveira. O perfil do educomunicador. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/29.pdf >. Acesso em 26/06/2011. 9 LEI Nº 13.941, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2004. Disponível em <http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt=29122004L 139410000&secr=&depto=&descr_tipo=LEI> . Acesso em 26/06/2011.
  • 4. A Lei Educom, como foi denominado o documento legal, foi regulamentada pelo Prefeito José Serra em 15 de agosto de 2005. Tanto o projeto de lei, de autoria do vereador Carlos Neder, quanto seu projeto de regulamentação, contaram com a assessoria do Prof. Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP e responsável pela implantação do Projeto Educom.rádio. No dia 15 de dezembro de 2009, o Secretário da Educação, Alexandre Alves Schneider, editou a Portaria Nº 5.792, definindo normas complementares e procedimentos para a aplicação da Lei Educom, através do “Programa nas Ondas do Rádio”, nas Escolas Municipais de Educação Infantil – EMEIs; Escolas Municipais de Ensino Fundamental – EMEFs; Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos – CIEJAs; Escolas Municipais de Educação Especial – EMEEs e nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio – EMEFMs. Ao se transformar em política pública, o Programa Nas Ondas do Rádio cria as condições para continuidade e ampliação da proposta, que se concretiza por meio de novos projetos nas escolas. A opção por projetos A opção por se trabalhar com projetos não é original. Ela está presente em muitas áreas de atuação profissional, inclusive a pedagógica, fazendo parte, cada vez mais, da cultura escolar. Nesse âmbito, especificamente, a ideia de projeto se concretiza por meio de atividades que se desenvolvem em torno da resolução de problemas. Em outras palavras, são experiências de trabalho em equipe motivadas por desafios que exigem ações coordenadas para que determinados objetivos sejam alcançados. A troca de conhecimentos e a cooperação entre os pares são, nesse sentido, necessárias, o que faz um projeto ser interdisciplinar por natureza. Essa tendência está diretamente relacionada com as transformações econômicas, políticas e sociais impulsionadas pelo avanço tecnológico que altera a ordem até então estabelecida e cria novos desafios para a humanidade. Estamos falando de uma sociedade marcada por um ritmo de vida acelerado e que tem cada vez mais acesso às inovações tecnológicas. Essas inovações estão alterando as noções de tempo e de espaço, abalando antigas crenças, tradições e gerando incertezas em relação ao futuro. Segundo Castells (1999, p. 69): As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Dessa forma, os usuários podem assumir o
  • 5. controle da tecnologia como no caso da internet (...). Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta da produção, não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo. A escola é, sem dúvida, uma das instituições mais atingidas por essas transformações. Com a perda do poder hegemônico sobre a transmissão do conhecimento – hoje as informações estão disponíveis e acessíveis a (quase) todos – a escola busca um novo sentido para a sua existência, sentido esse que deverá lhe conferir novamente legitimidade social. Essa busca tem sido marcada pela tentativa de corresponder às ansiedades e às necessidades das novas gerações, que crescem em contato com as tecnologias e são pressionadas - desde muito cedo - por um mercado de trabalho instável e, cada vez mais, competitivo. Essas mesmas gerações são convocadas a participar da construção de uma nova sociedade, tendo em vista a emergência com que certas questões precisam ser tratadas e, entre elas, a sustentabilidade do planeta. Nesse sentido, ficam evidentes as competências e habilidades exigidas pelos novos tempos. Além da busca permanente e autônoma por novos conhecimentos, as pessoas precisam estar aptas a tomar decisões rápidas e criativas diante de problemas complexos. Essa complexidade, por sua vez, exige trabalho em equipe e tomada de decisões conjuntas; em outras palavras, espírito de coletividade e cooperação. No entanto, essa realidade é vivenciada de forma contraditória, já que as transformações tecnológicas ocorrem no contexto da ordem capitalista internacional e são por ela impulsionadas. O capitalismo, por sua vez, é um sistema que estimula a guerra entre as nações, a disputa de mercado, o consumo desenfreado, a competição entre os indivíduos e a luta pelos interesses pessoais. A escola, neste contexto, se apresenta como instância mediadora que, através de uma educação humanista, pode ajudar crianças e jovens a desenvolverem uma visão mais crítica do mundo, buscando construir novos modelos que superem estas contradições. Isso significa prepará-los para além dos interesses e das necessidades do mercado; significa, pois, prepará-los para a vida de maneira a que possam se sentir confortáveis no mundo. Nesse sentido, surge a Pedagogia de Projetos, metodologia de ensino- aprendizagem que parte dos conhecimentos dos alunos e de suas experiências cotidianas para abordagem dos conteúdos acadêmicos. Essa abordagem, no entanto, deve partir de uma situação-problema vivida ou percebida e para a qual se busca entendimento e solução. Dessa forma, surge a concepção de projeto, isto é, um conjunto de ações
  • 6. planejadas e coordenadas para atingir determinado fim. Essas ações são baseadas no diálogo entre as experiências empíricas dos alunos e os conteúdos acadêmicos. Desse diálogo, surgem, então, novos conhecimentos. Assim, ao optar pela Pedagogia de Projetos, a escola deixa de ser o local de transmissão de conteúdo para ser um local onde o conhecimento é construído colaborativamente, com a intensa participação dos educandos. Nesse contexto, o aluno é estimulado a reconhecer o seu papel dentro da engrenagem social, percebendo seus potenciais diante das situações, ele também reconhecerá as suas possibilidades de ação. Partindo da comunidade local, os projetos objetivam mostrar também como as comunidades se enquadram dentro da sociedade, como as relações sociais se estabelecem. (Apud ANDRADE & ROMANCINI, 2009, p.3) O trabalho com projetos, portanto, exige a busca e a troca permanente de informações em torno das questões problematizadoras que lhes dão origem. Assim, trabalhar em equipe é uma necessidade. O trabalho em equipe, por sua vez, provoca o confronto de opiniões, o que exige respeito e flexibilidade entre os pares. A comunicação, portanto, assume um papel de destaque na Pedagogia de Projetos. Além disso, uma concepção democrática de educação deve promover a socialização dos conhecimentos construídos no âmbito da escola, criando a necessidade de se ter canais de divulgação e comunicação com a comunidade do entorno. Nesse ponto, percebemos a aproximação entre a Educomunicação e a Pedagogia de Projetos. A Educomunicação pode facilitar o desenvolvimento de projetos na medida em que estimula o protagonismo de crianças e adolescentes, promove o diálogo e desenvolve a capacidade de expressão. Assim, a educomunicação ajuda a construir a base das relações interpessoais na escola e a democratizar o conhecimento por meio da apropriação das tecnologias da informação e da comunicação. Por outro lado, quando o tema gerador de um projeto está intimamente ligado a problemas de comunicação na escola, então temos um projeto educomunicativo por excelência. Natureza dos projetos educomunicativos Entendemos por projetos educomunicativos iniciativas que tenham por objetivo promover o direito à liberdade de expressão e relações mais democráticas nas escolas. Para atingir esse objetivo, as ações educomunicativas precisam ser encaradas como exercícios pedagógicos, uma vez que a democracia - ainda em construção na nossa sociedade - requer novos aprendizados.
  • 7. Soma-se a isso a necessidade das escolas incorporarem as novas tecnologias da comunicação e da informação (TICs) aos processos de ensino-aprendizagem para corresponder às expectativas das novas gerações, tão familiarizadas com essas ferramentas e suas linguagens. A adaptação da escola a essa nova realidade, no entanto, não pode ser guiada pelas tendências de mercado, pois isso significaria tornar a escola refém dos interesses econômicos da indústria da informática e do audiovisual, conforme apontam Silva e Moreira (1995, p.33): [...] As novas tecnologias e a informática ilustram profundas transformações que estão se dando na esfera de produção do conhecimento técnico/administrativo. [...] não incorporar uma compreensão dessas transformações à nossa teorização curricular crítica significará entregar a direção de sua incorporação à educação e ao currículo nas mãos de forças que as utilizarão fundamentalmente para seus objetivos mercadológicos e de preparação de mão-de-obra adequada aos fins de acumulação e legitimação. Podemos afirmar, então, que um projeto educomunicativo é uma ação planejada a partir de certos princípios que, em conjunto, definem a sua natureza. Vejamos, a seguir, quais seriam esses princípios. 1) Educação para e pela Comunicação Uma vez que a educomunicação nasce da aproximação entre a comunicação e a educação, um projeto educomunicativo deve caminhar por via de mão dupla, promovendo a educação para a comunicação e a comunicação para a educação. Em outras palavras, um projeto de educomunicação na escola deve estimular a reflexão crítica sobre as mídias, por um lado, e a apropriação de suas ferramentas e linguagens por meio de exercícios de autoria, por outro, com incentivo à criatividade e autonomia dos sujeitos frente aos meios. Não se trata, pois, de reforçar a resistência diante das mudanças ou de estimular posturas preconceituosas em relação à mídia, mas de propor a incorporação das novas tecnologias à educação de forma criteriosa, tendo em vista o bem da coletividade e a humanização do espaço escolar. 2) Estímulo ao protagonismo infanto-juvenil O objetivo de estímular o protagonismo infanto-juvenil é desenvolver a iniciativa e a autonomia dos estudantes, tornando-os capazes de encontrar soluções próprias para enfrentar os problemas. A iniciativa e a construção da autonomia, por sua vez, passa pelo desenvolvimento da capacidade de expressão, que, aliás, é condição para o exercício do direito à liberdade de expressão. Assim, faz parte da natureza de um
  • 8. projeto educomunicativo o exercício do direito à liberdade de expressão dos educandos e a incorporação do erro (“ruído” na comunicação) como parte do aprendizado. 3) Gestão e circulação democrática da informação e do conhecimento A gestão educomunicativa é democrática por natureza. Tem por compromisso o estabelecimento de relações de poder horizontais em espaços educativos, em oposição às estruturas rígidas e verticalizadas que marcam a cultura escolar. Isso significa conquistar o reconhecimento do direito à voz e ao voto, tanto de educadores quanto de educandos, nos processos decisórios que influenciam a todos, considerando, ainda, em alguns momentos, a participação da comunidade do entorno. A horizontalidade das relações, por sua vez, deve contribuir para uma melhor circulação das informações, para a democratização do conhecimento, para a construção do saber de forma compartilhada e para uma convivência mais humana no espaço escolar. Note-se aqui que a complexidade é uma marca dos projetos educomunicativos. Em consequência, a natureza complexa desses projetos tem exigido a presença de educadores com capacidade de gestão de processos e ferramentas de comunicação, além de habilidade para mediação de conflitos. Como “educomunicador” é um nome ainda não legitimado no âmbito da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, continuaremos a chamar de professor- mediador esse profissional, cujo perfil, competências e habilidades são descritas a seguir. O perfil do professor-mediador O papel do professor-mediador seria o de identificar, estimular, planejar e implementar práticas educomunicativas no âmbito da escola, isto é, iniciativas pedagógicas nascidas da aproximação entre Comunicação e Educação, com o compromisso de promover a democracia e a liberdade de expressão no espaço escolar. Resumidamente, um sujeito capaz de: reconhecer o potencial educativo dos meios de comunicação, identificar problemas e soluções relacionados à comunicação no espaço escolar e promover a apropriação das novas tecnologias, tendo em vista a melhoria das relações e a construção de uma sociedade mais democrática.
  • 9. Embora tenha como uma de suas principais preocupações a democratização do acesso às novas tecnologias, o professor-mediador não se encaixa no perfil do educador tecnológico, mas sim do educador humanista10. Vejamos a diferença. Os educadores tecnológicos, encantados com as inovações, procuram ressaltar os avanços dos softwares, a velocidade da transmissão de dados e as soluções telemáticas. Estão preocupados em ampliar o número de alunos atendidos simultaneamente em ambientes virtuais de aprendizagem, reforçando uma concepção de educação com foco nos conteúdos. Nesse caso, a autoaprendizagem é estimulada, antes de tudo, com a intenção de se reduzir os custos da Educação por meio do ensino a distância. Consequentemente, as interações entre os sujeitos do processo ensino-aprendizagem – professor-tutor-aluno – são reduzidas ao mínimo possível. Os educadores humanistas, por sua vez, acreditam na construção – e não transmissão – do conhecimento. Essa construção se dá de forma compartilhada, por isso investem na formação de comunidades de aprendizagem, sejam elas presenciais ou virtuais, enfatizando a interação não apenas com o conteúdo, mas principalmente, entre os próprios sujeitos envolvidos no processo. A comunicação humana é, nesse caso, a base da educação aqui estabelecida. A partir do perfil traçado para esse profissional, procurou-se então identificar as competências e habilidades que deveriam ser desenvolvidas pelo mesmo. Competências e habilidades Primeiramente, percebeu-se que o professor-mediador deveria conseguir abstrair os princípios e valores que norteiam as práticas educomunicativas. O professor, tomado pelos problemas e desafios diários, muitas vezes não pára para refletir sobre sua prática e não se percebe como agente transformador do espaço escolar. Deixa de ser sujeito consciente e passa à condição de objeto do sistema educativo. Nessa condição, corre o risco de incorporar as tecnologias da informação e da comunicação à sua prática pedagógica sem critério e sem criticidade. Refletir sobre a presença das novas tecnologias na escola a partir do conceito de Educomunicação é o caminho – ou paradigma – oferecido aos educadores, para que entendam o papel que as tecnologias e a própria comunicação poderão assumir na escola e na comunidade, e a partir daí tomem suas decisões e façam suas próprias escolhas. 10 MIDIAS NA EDUCAÇÃO. Módulo Introdutório - Integração de Mídias na Educação. Etapa1. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/gestao/ges_basico/etapa_1/p7.html >. Acesso em: 26/06/2011.
  • 10. Segundo Ismar de Oliveira Soares, o que se busca com a educomunicação, é um esforço processual coletivo - envolvendo direção, professores e alunos de uma escola - no sentido da comunidade se apoderar não apenas das novas linguagens, mas principalmente dos conceitos e métodos inerentes ao planejamento e execução de propostas voltadas a criar um novo ambiente de comunicação em espaços educativos, aberto e criativo, mediante o uso das formas de expressão (como o teatro, o canto e dança) e/ou as tecnologias da 11 informação, como a imprensa, o rádio, o vídeo e a Internet. Da mesma forma, o professor-mediador deve conhecer o Programa Nas Ondas do Rádio desde sua origem, como demanda social que resultou em importante política pública, representando mais uma conquista na luta pela construção de uma sociedade democrática. A partir do histórico, dos objetivos e da legislação que o sustenta, saber o que fazer no âmbito da escola, assim como e por que fazer. Além da apropriação dos conceitos que embasam a Educomunicação e do amplo entendimento do Programa Nas Ondas do Rádio, entendem-se como competências e habilidades do professor-mediador: ● A apropriação crítica das novas tecnologias; ● A capacidade de promover o protagonismo infanto-juvenil e a competência comunicativa dos estudantes; ● A implementação de processos colaborativos de aprendizagem em oposição à comunicação e à educação verticalizadas; ● A gestão do conhecimento com ênfase nos recursos humanos e tecnológicos; ● A elaboração e implementação de projetos educomunicativos no contexto escolar; ● O domínio das ferramentas tecnológicas disponíveis na escola e de suas linguagens; ● A capacidade de mediar conflitos; ● A promoção do diálogo entre os segmentos da comunidade escolar. Definidas as competências e habilidades do professor-mediador, procurou-se ajustar as necessidades às condições concretas para a formação. O curso, assim, foi desenvolvido em 16 horas, divididas em três ou quatro encontros de formação, conforme a demanda das Diretorias Regionais de Ensino que inicialmente tiveram interesse pela formação. Foram elas: Campo Limpo, Freguesia do Ó, Itaquera, Penha e Santo Amaro. 11 Entrevista concedida para a entidade Nos da Comunicação. Disponível em: <http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=111&tipo=G>. Acesso: 28/06/2011.
  • 11. Estrutura do curso 1º encontro – Projetos Educomunicativos: o que são, por que e como implementá-los O objetivo do primeiro dia do curso foi ressaltar as razões de se trabalhar com projetos, mostrando o diferencial de um projeto educomunicativo no âmbito escolar. Primeiramente, abriu-se uma discussão sobre o que seria um projeto, como trabalhar a partir dessa metodologia e como implementar um projeto educomunicativo na escola. A seguir, foram realizados estudos de caso inspirados em situações reais vividas em escolas da rede pública. Em grupos, os educadores deveriam refletir sobre possíveis soluções para as situações-problema e socializar o resultado por meio de esquetes teatrais12. Concluída essa etapa, os educadores, então, foram convidados a sistematizar as soluções propostas e, dessa maneira, responder, de forma definitiva, as questões levantadas no início do dia.13 Como tarefa da semana, propôs-se um trabalho de diagnóstico junto às escolas por meio de questões como: qual modelo de ensino está sendo reforçado pela forma como a comunicação acontece? Os usos das ferramentas estão enfatizando o conteúdo, o resultado ou o processo? Tem permitido transformar receptores passivos em produtores ativos de mensagens midiáticas? 2º encontro – A escola como ecossistema comunicativo, o papel do gestor de projetos educomunicativos e os fluxos de comunicação na escola O segundo encontro iniciou-se com uma conversa sobre as necessidades e os desejos de mudança identificados pelos educadores a partir do exercício de diagnóstico realizado nas escolas. A partir dessa discussão, foi possível sistematizar o conceito de Educomunicação, e identificar ações educomunicativas concretas ou em potencial nas escolas, juntamente com os educadores e mediante o relato de suas próprias experiências. Ao formador coube promover a reflexão e a construção compartilhada do conhecimento, com formulação de conceitos a partir da observação crítica da realidade. Em outras palavras, o papel do formador foi estimular o processo de abstração 12 Fotos de esquetes teatrais foram disponibilizadas na internet. Para acessá-las, deve-se cadastrar gratuitamente no site: < nasondasdoradio.ning.com> 13 Cabia ao formador avaliar se as esquetes refletiam, de fato, o problema e se haviam sido identificados todos os elementos envolvidos na situação. Era de extrema importância observar o uso de narrativas com enfoque nos recursos materiais ou nas relações humanas para a resolução do problema, bem como o uso ou não, adequado ou não, das mídias, e se fora levado em conta a necessidade de um planejamento adequado e o apontamento de instrumentos de avaliação dos objetivos alcançados. Ademais, o mediador deveria observar se alguma articulação com o Programa Nas Ondas do Rádio fora feita pelos grupos ao refletirem sobre os problemas.
  • 12. (racionalização) sem deixar o grupo se pautar exageradamente pela emotividade, numa espécie de “terapia em grupo”. Assim, a partir do conceito de ecossistema comunicativo - apresentado como espaço (abstrato) de convivência e de trocas no qual ocorre a ação comunicativa, foi delineado o perfil do professor-mediador: um sujeito que deverá promover a democratização do acesso aos meios de comunicação, o estímulo às interações sociais presencias e à distância, e o estudo amplo e contínuo das influências dos meios de comunicação no ambiente escolar, tendo em vista a construção de um ecossistema comunicativo aberto, criativo e no qual prevalecem as relações horizontais, em oposição aos espaços rígidos, fechados e hierarquizados que marcaram a Educação no Brasil por muitos anos. Na sequência, foi proposta a seguinte atividade: com o apoio da ferramenta Microsoft Power Point, representar o ecossistema comunicativo da escola por meio de um fluxograma, sinalizando os “locais” onde “ruídos” na comunicação são percebidos. A partir do fluxograma, os educadores passariam a refletir sobre como as ferramentas da comunicação poderiam se tornar aliadas na construção de um ecossistema EDUcomunicativo de fato. 3º encontro – Por que e como escrever um projeto O terceiro dia de formação iniciou-se com uma reflexão sobre a atividade desenvolvida no segundo encontro, isto é, o fluxograma. Durante o debate, o formador assumiu o papel de traduzir os “ruídos” em necessidades objetivas, pontuais e balizadas, de forma que pudessem ser atendidas por projetos. Depois de apresentar um trecho do longa-metragem francês “Entre os Muros da 14 Escola” , o formador, então, propôs aos educadores que pensassem em suas próprias necessidades e, dentre elas, elegessem uma prioridade: melhorar o fluxo de informações na escola? Melhorar as relações interpessoais? Diminuir a violência? Ampliar a participação da comunidade? Outra? O grupo, então, foi levado a perceber a necessidade de um plano de ação, a fim de minimizar problemas identificados em seus ambientes de trabalho. Esse plano deve levar em conta a necessidade de negociação para garantir os recursos necessários, deve considerar a participação efetiva dos estudantes, deve prever o diálogo como forma de 14 O trecho exibido apresenta um educador que, angustiado com a indisciplina, o desinteresse e as dificuldades de seus alunos, consegue estabelecer uma relação dialógica através de uma ação educomunicativa, e, assim, melhorar o desempenho dos educandos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=WHkcfDjbsgM&feature=related>
  • 13. mediar os conflitos, deve estabelecer mecanismos de avaliação do processo e dos resultados. Em outras palavras, é preciso elaborar uma proposta de trabalho, documentá- la e aprová-la junto à supervisão e ao Programa Nas Ondas do Rádio, e garantir as condições mínimas para o alcance dos objetivos pretendidos. Com base nos conceitos discutidos e a partir do modelo disponibilizado pelo formador, os educadores foram, então, encorajados a escreverem seus próprios projetos e produzirem um teaser15 publicitário para divulgação do mesmo na escola. 4º encontro - Instrumentos de Avaliação, Gestão do conhecimento e Gestão dos recursos e produtos da comunicação Inicialmente, os projetos e teasers produzidos pelos educadores foram socializados e, com base nas informações por eles apresentadas, coube ao formador falar da importância dos instrumentos de avaliação para acompanhar as várias etapas de desenvolvimento de um projeto, aferir resultados, analisar o impacto de uma intervenção, conferir o cumprimento de metas estabelecidas etc. Como base para a construção desses instrumentos, apresentou-se o conceito de gestão educomunicativa: uma gestão ética e participativa. Dessa maneira, foi discutida a necessidade da escola manter-se aberta e em contato permanente com a comunidade e a sociedade como um todo. Foram apresentadas como ferramentas de gestão da informação e da comunicação: email, listas de discussão, banco de dados, redes sociais, comunidades de aprendizagem, entre outras. Afinal, não adianta apenas informar, é necessário que se estabeleçam trocas em espaços que se pretendam educomunicativos. Partindo dessas premissas, os educadores foram orientados na elaboração de instrumentos de avaliação tomando como ponto de partida seus próprios projetos e os objetivos neles traçados. Vale ressaltar que foram disponibilizados um modelo de avaliação e um tutorial explicativo de como criar um formulário online por meio da ferramenta spreadsheet do Google. Conclusão O curso “Gestor de Projetos Educomunicativos”, não só revelou a necessidade de se criar espaços de discussão sobre as ações educomunicativas no âmbito da Rede Municipal de Educação da cidade de São Paulo, como também confirmou a existência 15 O teaser é um anúncio de curta duração, geralmente entendido como parte integrante de uma campanha publicitária mais extensa. Ele busca, prioritariamente, despertar a curiosidade do interlocutor para uma novidade, geralmente compreendido como primeira etapa de uma campanha publicitária.
  • 14. de uma demanda pela legitimação de um profissional capaz de gerir projetos de Educomunicação nas escolas. Os educadores puderam trocar experiências e construir coletivamente uma percepção do papel do professor-mediador dentro e fora da sala de aula. Esse profissional requer uma visão ampla do contexto em que está inserida a escola pública, e da complexidade do envolvimento de toda a comunidade em ações voltadas para a construção coletiva e solidária do conhecimento. O curso permitiu ainda que os educadores fizessem uma distinção entre um projeto educomunicativo e um projeto de tecnologia educativa. Percebeu-se que um projeto educomunicativo deve ir além do uso das tecnologias em si. Essas devem ser utilizadas em prol da cultura da paz, da democracia e da liberdade responsável de expressão. Isto significa construir espaços de encontro em que os diferentes pontos de vista possam ser discutidos e negociados a favor de uma escola democrática e preocupada com a resolução de seus problemas, pois o papel do ensino é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude a viver, e que fortaleça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre. (MORIN, 2003, p.11) Referências bibliográficas ANDRADE, Lílian B.P. de; ROMANCINI, Richard. Educomunicação e pedagogia de projetos: abordagens e convergências. Trabalho apresentado no XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (INTERCOM), Curitiba, 4 a 7 de Setembro de 2009. Disponível em: <http://www.slideshare.net/FatimaCosta10/educomunicao-e- pedagogia-de-projetos> Acesso em: 26/06/2011. CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. MELO, Teresa.O "ecossistema comunicativo" do educom.rádio. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/68.pdf >. Acesso em: 26/06/2011. MIDIAS NA EDUCAÇÃO. Módulo Introdutório - Integração de Mídias na Educação. Etapa 1. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/gestao/ges_basico/etapa_1/p7.ht ml>. Acesso em: 26/06/2011. MORAN, José Manuel. Os novos espaços de atuação do educador com as tecnologias. Texto publicado nos anais do 12º Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, in ROMANOWSKI, Joana Paulin et al (Orgs). Conhecimento local e conhecimento universal: Diversidade, mídias e tecnologias na educação. vol 2, Curitiba, Champagnat, 2004, páginas 245-253. Disponível em <http://www.eca.usp.br/prof/moran/espacos.htm>. Acesso em 26/06/2011. MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p.11.
  • 15. MOREIRA, Antonio & SILVA, Tomaz. Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1995. SALVATIERRA, Eliany. Ecossistema cognitivo e comunicativo. Disponível em: < http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/201.pdf >. Acesso em: 26/06/2011. SALVATIERRA, Eliany S.; LAGO, Cláudia e LEÃO, Maria Izabel de A. A democratização dos meios pelo projeto educom.radio: um sonho possível. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/15.pdf >. Acesso em 26/06/2011. SALVATIERRA. E.; LOURENÇO, Silene de A. G. Rádio e escola: a tecnologia a serviço de ecossistemas comunicativos e do protagonismo juvenil. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/radio/radio_intermediario/pdfs/ec ossistemas.pdf >. Acesso em: 26/06/2011. SARTORI, Ademilde S.; SOARES, Maria Salete P. Concepção dialógica e as NTIC: a educomunicação e os ecossistemas comunicativos. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/86.pdf >. Acesso em: 26/06/2011. SOARES, Ismar de Oliveira. Planejamento e avaliação dos projetos de comunicação. Disponível em <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/131.pdf>. Acesso em 26/06/2011. _________. Ecossistemas comunicativos. Disponível em: <http://www.cesnors.ufsm.br/professores/carolcasali/projetos-em- educomunicacao/ecossistemas%20comunicativos.pdf >. Acesso em: 26/06/2011. _________. Educomunicação - o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições para a reforma do Ensino Médio. 1ªed. São Paulo: Paulinas, 2011. _________. O perfil do educomunicador. Disponível em: < http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/29.pdf >. Acesso em 26/06/2011. STEFHANOU, Luis; MÜLLER, Lúci Helena; CARVALHO, Isabel Cristina de M. Guia para elaboração de projetos sociais. 2ªed. São Leopoldo/RS: Sinodal, 2003.